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SANEAMENTO Magnum Eltz Gerenciamento de resíduos sólidos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Classificar os resíduos sólidos. � Refletir a atual forma de gestão dos resíduos sólidos urbanos. � Identificar possíveis formas de tratamento de resíduos sólidos. Introdução Neste texto, você vai analisar conceitos, tecnologias e desafios no geren- ciamento de resíduos sólidos. Os resíduos sólidos são gerados por todos nós, que somos responsáveis pela sua separação e pela participação na coleta seletiva. Você vai estudar, além da coleta seletiva, que é um dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, outros princípios importantes para a gestão dos resíduos. Resíduos sólidos — definições gerais Os materiais sempre fizeram parte da história da humanidade, e a relação dos povos com eles muitas vezes foi determinante. O desenvolvimento da área de pesquisa de materiais acompanhou as novas necessidades da população, cujo dia a dia ficou mais complexo. A maioria da população está concentrada em aglomerados urbanos e precisa ter suprida sua necessidade de água, alimentos e uma infinidade de outros produtos e serviços. Além disso, há a necessidade de atender uma população mundial estimada em 7,5 bilhões de pessoas, o que significa que temos de explorar cada vez mais o planeta para garantirmos a própria sobrevivência (ROSA; FRACETO; MOSCHINI-CARLOS, 2012). Antes de iniciarmos a discussão a respeito de resíduos sólidos urbanos (RSU), é importante diferenciar as expressões “lixo” e “resíduos”. Segundo Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (2012) estabelecem as seguintes definições: � Lixo é todo e qualquer produto ou material que não tenha serventia; assim, o lixo deve ser disposto. � Resíduo é todo e qualquer produto ou material, proveniente de um processo, que ainda pode ter serventia, podendo ser reaproveitado por meio de reutilização ou reciclagem. � Resíduo sólido é o resíduo cuja composição não permite o escoamento livre. A quantidade de resíduos gerados é enorme, ocasionando a poluição das águas (superficiais e subterrâneas), do solo e do ar, já que, em muitos casos, esses materiais não são dispostos de forma ambientalmente correta. Veja na Figura 1 um aterro, que exemplifica a quantidade de resíduos sólidos gerada nas cidades. Figura 1. Exemplo da quantidade de resíduos sólidos urbanos gerados. Fonte: vchal/Shutterstock.com. Gerenciamento de resíduos sólidos2 Entre os fatores que influenciam na geração de resíduos sólidos urbanos, pode-se mencionar a economia do país (boom econômico e recessão); o número de habitantes da região; a área relativa de produção; as variações sazonais e condições climáticas; os hábitos e costumes da população; o nível educacional e poder aquisitivo; o tipo de equipamento e frequência de coleta; a segregação na origem; as leis e regulamentação específicas; e a tecnologia. Classificação de resíduos sólidos Os resíduos podem ser classificados quanto ao seu estado físico em resíduos gasosos, líquidos ou sólidos. Os resíduos gasosos são gerados pela queima de combustíveis ou materiais diversos, ou pelos processos produtivos. Os resíduos líquidos, por sua vez, são divididos da seguinte maneira: � Efluentes domésticos: efluente líquido gerado na atividade urbana, com carga poluidora essencialmente orgânica (como por exemplo os esgotos). � Efluentes industrias: gerados pela atividade industrial. Podem ser orgânicos ou inorgânicos. Os resíduos sólidos compõem o maior grupo de resíduos e são classificados conforme listado abaixo. � Resíduos sólidos industrias: gerados pela atividade industrial. Podem ser orgânicos, como os resíduos sólidos gerados em indústrias alimen- tícias, ou inorgânicos, gerados em indústrias que produzam metais, plásticos, entre outros. � Resíduos urbanos: incluem o resíduo domiciliar gerado nas residências; o resíduo comercial, produzido em escritórios, lojas, hotéis, supermer- cados, restaurantes e em outros estabelecimentos afins; os resíduos de serviços, oriundos da limpeza pública urbana; além dos resíduos de varrição das vias públicas, limpezas de galerias, terrenos, córregos, praias, feiras, podas, capinação. 3Gerenciamento de resíduos sólidos De acordo com o Senado Federal (BRASIL, 2018), os cerca de 7 bilhões de seres humanos espalhados pelo mundo produzem anualmente 1,4 bilhão de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU), o que gera em média de 1,2 kg por dia per capita. Quase a metade desse total é gerada por menos de 30 países, os mais desenvolvidos do mundo. Se o número parece assustador, um cenário ainda mais sombrio é traçado por estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial: daqui a 10 anos, serão 2,2 bilhões de toneladas anuais. Na metade deste século, se o ritmo atual for mantido, teremos 9 bilhões de habitantes e 4 bilhões de toneladas de lixo urbano por ano. � Resíduos de serviços de saúde: são os resíduos produzidos em hos- pitais, clínicas médicas e veterinárias, laboratórios de análises clíni- cas, farmácias, centros de saúde, consultórios odontológicos e outros estabelecimentos afins. Esses resíduos podem ser agrupados em dois níveis distintos: ■ resíduos comuns: compreendem os restos de alimentos, papéis, in- vólucros, etc.; ■ resíduos sépticos: constituídos de restos de salas de cirurgia, áreas de isolamento, centros de hemodiálise, etc. O seu manuseio (acon- dicionamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final) exige atenção especial, devido ao potencial risco à saúde pública que podem oferecer. � Resíduos de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviá- rios: constituem os resíduos sépticos, que podem conter organismos patogênicos e veicular doenças de outras cidades, estados e países, como materiais de higiene e de asseio pessoal, restos de alimentos, etc. � Resíduos agrícolas: correspondem aos resíduos das atividades da agricultura e da pecuária, como embalagens de adubos, defensivos agrícolas, ração, restos de colheita, esterco animal. A maior preocupação, no momento, está voltada para as embalagens de agroquímicos, pelo alto grau de toxicidade que apresentam, sendo alvo de legislação específica. � Resíduos da construção civil: resíduos de demolições, restos de obras, solos de escavações, entre outros. � Resíduos radioativos (lixo atômico): são resíduos provenientes dos combustíveis nucleares. Seu gerenciamento é de competência exclusiva da CNEN — Comissão Nacional de Energia Nuclear. Gerenciamento de resíduos sólidos4 Segundo a ABNT (NBR 10.004/2004), os resíduos sólidos são resíduos nos estados sólidos e semissólidos que resultam de atividades da comunidade. Essas atividades são de origem industrial, doméstica, de serviços de saúde, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Consideram-se também resíduos sólidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpo d’água, ou exijam, para isso, soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). Gestão dos resíduos sólidos urbanos O Brasil tem uma série de problemas associados aos resíduos sólidos urbanos (RSU). A sua geração tem crescido de forma acentuada em função da urbani- zação crescente nas últimas décadas, o aumento da renda e do consumo e de mudanças nos hábitos de vida da população. Os problemas são os mais diversos, como a falta de coleta seletiva em determinadas localidades e, principalmente, a destinação inadequada dos resíduos sólidos na maior parte do território nacional. Uma parcela significativa dos resíduos gerados é disposta de forma inadequada em “lixões” ou aterros controlados, gerando diversos problemas ambientais, além de problemassociais e de saúde para as famílias que vivem nesses ambientes (TONETO JÚNIOR; DOURADO; SAIANI, 2014). Em consonância às crescentes preocupações ambientais relacionadas à preservação dos recursos naturais e aos impactos e sociais ocasionados pelo crescimento econômico e pela geração de resíduos, foi sancionada, em 2 de agosto de 2010, a Lei nº. 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Essa legislação contém instrumentos importantes para per- mitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Entre os principais objetivos da gestão de resíduos sólidos urbanos, estão: � diminuir a quantidade de resíduos sólidos gerados; � diminuir a quantidade de material aterrado. 5Gerenciamento de resíduos sólidos Mas como esses dois objetivos podem ser atingidos? Basicamente, eles podem ser atingidos coma redução da geração de resíduos sólidos, promovendo o reaproveitamento por meio da reciclagem e da reutilização de materiais (com artesanato, por exemplo). Temos com isso uma série de benefícios, que incluem: � conscientização sobre a não renovação de recursos naturais e a neces- sidade de proteção ambiental; � menor exploração de recursos naturais; � economia de importação de matérias-primas; � geração de emprego e renda; � menor consumo de energia e água na fabricação; � custos de produção mais baixos na produção; � diminuição da poluição do ar, das águas e dos solos; � menor quantidade de resíduos aterrados e aumento da vida útil de aterros; � menor ocorrência de problemas ambientais. A Lei nº. 12.305/2010 estabelece a prevenção e redução da geração de resíduos pro- pondo a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação am- bientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Ela institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na logística reversa dos resíduos e embalagens pré- -consumo e pós-consumo (BRASIL, 2010). A Lei nº. 12.305/2010, em seu artigo 10, incumbe ao Distrito Federal e aos municípios a gestão integrada dos resíduos sólidos gerados nos respectivos territórios, sem prejuízo das competências de controle e fiscalização dos órgãos federais e estaduais do Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente), do SNVS (Sistema Nacional de Vigilância Sanitária) e do Suasa (Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária). Também incumbe ao ge- rador do resíduo sólido a responsabilidade pelo gerenciamento de resíduos (BRASIL, 2010). Gerenciamento de resíduos sólidos6 Coleta seletiva A coleta seletiva é a forma de gestão dos RSU mais utilizada no Brasil. Ela consiste em um mecanismo de recolha dos resíduos, os quais são classificados de acordo com sua origem e depositados em contentores indicados por cores. Dessa forma, os materiais que podem ser reciclados são separados do lixo orgânico (restos de carne, frutas, verduras e outros alimentos). O lixo orgâ- nico é descartado em aterros sanitários ou usado para a fabricação de adubos orgânicos (BARBOSA, 2014), conforme veremos mais adiante neste capítulo. A Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº. 275, de 25 de abril de 2001, estabeleceu um código de cores para diferentes tipos de resíduos na coleta seletiva. No padrão das cores dos contentores, os materiais que cada um deles recebe são (BRASIL, 2001): � azul: papéis e papelões; � verde: vidros; � vermelho: plásticos; � amarelo: metais; � marrom: resíduos orgânicos; � preto: madeiras; � cinza: materiais não reciclados; � branco: lixos hospitalares; � laranja: resíduos perigosos; � roxo: resíduos radioativos. A coleta seletiva representa a maneira ecológica mais adequada para o descarte de lixo. Associada à educação ambiental e ao desenvolvimento sus- tentável, a coleta seletiva evita a poluição do solo e das águas. O princípio que rege a coleta seletiva são os três Rs — reduzir, reutilizar e reciclar. Esse princípio ficou mundialmente conhecido pela sua aparição na Agenda 21, um documento elaborado por 179 países durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), conforme menciona Barbosa (2014). � reduzir: mudança de hábitos de consumo, reduzindo assim a prolife- ração de lixo; � reutilizar: reutilização de materiais, como sacolas de supermercado, potes de vidro e plástico, entre outros; 7Gerenciamento de resíduos sólidos � reciclar: com processos artesanais ou industriais, transformam-se ma- teriais usados em novos produtos. A Figura 2 apresenta a base de uma boa gestão de resíduos. Figura 2. Base de prioridades para uma boa gestão de resíduos. Redução da geração de resíduos Reutilização dos resíduos Reciclagem dos resíduos Destino Final correto De modo geral, a reciclagem tem por objetivo o reaproveitamento de um material beneficiado como matéria-prima para um novo produto. Entre as vantagens dessa prática, tem-se a diminuição do uso de recursos naturais (água e energia) que seriam consumidos na nova produção desses materiais, o aumento da vida útil dos aterros, a diminuição gastos públicos e a geração de renda para os catadores de material reciclável. Reciclagem Como os materiais são reciclados? Veja, a seguir, uma pequena descrição dos principais tipos de materiais que compõem os RSU, conforme menciona Barbosa (2014). � Vidro: este material pode ser reciclado ilimitadamente. Inicialmente, recebe uma lavagem para retirada das sujidades e, em seguida, passa por um processo de trituração. Os cacos são então aquecidos e fundidos a uma temperatura acima de 1.300°C. Após esse processo, garrafas, copos, entre outros, podem ser moldados e utilizados novamente. � Plástico: após a coleta, o plástico é lavado e enviado a um processo de descontaminação, permitindo a sua granulação. Os processos de seleção, moagem, lavagem e descontaminação seguem padrões específicos. Gerenciamento de resíduos sólidos8 � Metais: normalmente são 100% recicláveis, e o alumínio é o principal exemplo. O processo de seu reaproveitamento consiste na retirada de impurezas, como areia, terra e metais ferrosos, remoção das tintas e vernizes e, por fim, fundição do metal. Em um forno específico, ele fica em estado líquido, para depois se tornar laminado. São essas chapas que são transformadas em novas latas/produtos. � Papelão/papel: os papéis recicláveis são separados por tipo e vendidos para os “aparistas”, que transformam os papéis em aparas que são enfardadas e vendidas para as indústrias, onde o papel é cortado em tiras, colocado em um tanque de água quente e mexido até que forme uma pasta de celulose. Posteriormente, drena-se a água e retiram-se as impurezas. Em seguida, ele é despejado sobre uma tela de arame, a água passa e restam as fibras. O material é seco, prensado por pesados cilindros a vapor, alisado por rolos de ferro e enrolado em bobinas, passando então a ser papel novamente. � Pneus: ocorre inicialmente a separação da borracha vulcanizada de outros componentes, como metais e tecidos. Os pneus são cortados em lascas e purificados por um sistema de peneiras. As lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d’água e produtos químicos, como álcalis e óleos minerais, para desvulcanizá-las. O produto obtido pode ser então refinado em moinhos até́ a obtenção de uma manta uniforme ou extrudado para a obtenção de grânulos de borracha. O plástico é o resíduo mais abundante de todos, provoca diversos impactos ambientais e leva séculos para se de- compor. Existem inúmeras pesquisas que buscam encon- trar maneiras deacelerar a decomposição desse material; em uma pesquisa promissora, cientistas já determinaram a estrutura de uma enzima bacteriana que pode produzir plásticos biodegradáveis. Se quiser entender mais esse estudo, acesse e leia o artigo disponível no link a seguir. https://goo.gl/D9Mxkp 9Gerenciamento de resíduos sólidos Tratamento dos resíduos sólidos urbanos De acordo com Jardim, Yoshida e Machado Filho (2012), o manejo dos resíduos sólidos depende de vários fatores, entre os quais devem ser ressaltados a forma de geração, o acondicionamento na fonte geradora, a coleta, o transporte, o processamento, a recuperação e a disposição final. Portanto, deve-se criar um sistema dirigido pelos princípios de engenharia e técnicas de projetos, que possibilite a construção de dispositivos capazes de propiciar a segurança sanitária às comunidades contra os efeitos adversos dos resíduos. Veja a seguir os tipos de tratamento mais usuais dos resíduos sólidos urbanos que não podem ser reciclados. Aterros sanitários: consistem na forma de disposição final de resíduos sólidos urbanos, construídos dentro de critérios de engenharia e normas operacionais específicas, proporcionando confinamento seguro dos resíduos. A degradação da matéria orgânica ocorre de forma anaeróbica (sem presença de oxigênio). As etapas de construção e funcionamento de uma aterro sanitário são estas: � o lixo (material sem serventia) é lançado sobre o terreno e recoberto com solo do próprio local, de forma a isolá-lo do ambiente, formando câmaras/células; � pela própria movimentação das máquinas de terraplanagem na execução do aterro, o lixo é compactado e seu volume substancialmente reduzido; � nas câmeras ou células, a degradação tem início com a fase aeróbia. A biodegradação aeróbia cessa com o esgotamento do pouco oxigênio existente; � processa-se então a biodegradação anaeróbia, com a liberação de gás e uma substância escura, constituída pelos resíduos orgânicos apenas parcialmente biodegradados, denomina chorume; � o chorume se acumula no fundo das câmaras e tende a se infiltrar-se no solo, podendo alcançar o lençol freático, o que pode ocasionar sua contaminação. Assim, é fundamental realizar o revestimento adequado das câmaras; � a decomposição da matéria orgânica gera gás metano, que se acumula nas porções superiores das câmaras. Logo, deve-se instalar tubulações responsáveis pela drenagem e posterior queima ou beneficiamento e utilização do gás. Gerenciamento de resíduos sólidos10 Para a construção de aterros sanitários, existem normas específicas que tratam da captação e tratamento de gases e chorume. A Figura 3 ilustra o funcionamento um aterro sanitário. Figura 3. Exemplo de um aterro sanitário. Após os resíduos passarem por uma triagem, os resíduos não recicláveis são colocados em células/ câmeras (a) e o chorume (líquido proveniente da decomposição dos resíduos) é drenado para outros células, passando por tratamento (b). Fonte: Arquivo pessoal do autor (2018). (a) (b) 11Gerenciamento de resíduos sólidos Devido ao enorme volume de resíduos gerados no Brasil, atrelados aos altos custos financeiros para a implantação de um aterro sanitário, é muito comum o uso de aterros controlados como forma de disposição final dos resíduos sólidos. Conforme a NBR 8849, de 30 de abril de 1985, da ABNT, a qual acabou sendo cancelada em 15 de junho de 2015, aterro controlado é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais. Esse método utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1985). Com essa técnica de disposição é produzida, em geral, poluição localizada, não havendo impermeabilização de base (comprometendo a qualidade do solo e das águas subterrâneas), nem sistema de tratamento de percolado (chorume mais água de infiltração) ou de extração e queima controlada dos gases gerados. O aterro controlado é preferível ao lixão, mas apresenta qualidade bastante inferior ao aterro sanitário. Compostagem: é mais uma técnica idealizada para se obter mais rapidamente e em melhores condições a desejada estabilização da matéria orgânica (KIEHL, 1985). De acordo com Fernandes e Silva (2006), a compostagem pode ser definida como uma bioxidação aeróbia exotérmica de um substrato orgânico heterogêneo, no estado sólido, caracterizado pela produção de CO2, água, liberação de substâncias minerais e formação de matéria orgânica estável. Portanto, é um processo biológico e, para que se realize de maneira satisfa- tória, é necessário que alguns parâmetros físico-químicos sejam respeitados, permitindo que os microrganismos encontrem condições favoráveis para transformarem a matéria orgânica. A Figura 4 apresenta uma ilustração das células de um sistema de compostagem. Gerenciamento de resíduos sólidos12 Figura 4. Exemplo de um sistema de compostagem. Os resíduos orgânicos ficam em células para serem decompostos (a); o chorume (líquido proveniente da decomposição dos resíduos) é drenado para outras células, passando por posterior tratamento (b); os resíduos, após determinado período, resultam em adubo (a). Fonte: (a) e (b) Arquivo pessoal do autor (2018) e (c) MR. KHATAWUT/Shut- terstock.com. (a) (b) (c) 13Gerenciamento de resíduos sólidos Levando-se em conta que mais da metade dos resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil são orgânicos, a compostagem apresenta diversas vantagens, como, por exemplo, a economia do aterro sanitário, o aproveitamento agrícola da matéria orgânica, a reciclagem de nutrientes para o solo e a eliminação de agentes patogênicos. Além disso, é considerado um processo ambientalmente seguro. Existem dois métodos de compostagem: � método natural: o material é disposto em pilhas e a aeração é realizada por revol- vimentos periódicos; o tempo de compostagem varia entre 4 a 6 meses; � método acelerado: a aeração é forçada por tubulações perfuradas ou em reatores rotatórios; o tempo de compostagem varia de 2 a 3 meses. Incineração: os resíduos são reduzidos a cinzas e gases decorrentes de sua combustão (queima). Por meio de instrumentação e controle, a combustão pode ser otimizada, de modo a diminuir a quantidade de matéria parcialmente oxidada, reduzindo os inconvenientes da disposição dos resíduos sólidos restantes, das emissões gasosas e da fuligem. É muito importante conhecer a carga que alimentará o sistema e cuidar as emissões atmosféricas. O vídeo disponível no link a seguir apresenta um caso de incineração como forma de tratamento de RSU, confira: https://goo.gl/oq9MK1 1. No que tange aos resíduos sólidos, analise as alternativas e marque o item correto. a) Os resíduos são caracterizados como tudo aquilo que não tem mais utilidade e não apresenta nenhum valor. b) A maior parte dos resíduos produzidos pela população de alta renda é de origem orgânica. Gerenciamento de resíduos sólidos14 c) A crescente produção de resíduos não é prejudicial ao meio ambiente, visto que ocorre a coleta desse material. d) O resíduo recebe classificação de acordo com sua fonte geradora e composição do material, havendo a necessidade de tratamento específico para cada tipologia. e) A população não deve se preocupar em reduzir a produção de resíduos, visto que esse material é reciclado. 2. No artigo 33 da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, fica obrigatória a logística reversa para agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes e eletroeletrônicos. Considerando as informações acima e o contexto da situação dos produtos após o uso pelo consumidor, a logística reversa recomenda, em relação a esses produtos, que se faça o: a) envio para aterros sanitários sem a atuação do poder público. b) envio para aterrossanitários sem a participação dos fabricantes e comerciantes. c) envio para o serviço público de limpeza urbana. d) encaminhamento para aterro de resíduos perigosos. e) envio por parte dos consumidores para os comerciantes ou distribuidores, os quais deverão efetuar a devolução aos fabricantes ou aos importadores dos produtos e das embalagens. 3. A maioria das cidades brasileiras não adota soluções apropriadas para a destinação final dos resíduos sólidos, o que causa muitos problemas para a saúde da população e para o meio ambiente. Com relação aos diferentes métodos de tratamento de resíduos sólidos urbanos, é correto afirmar: a) os aterros sanitários podem ser um abrigo de transmissores de doenças, como ratos e moscas. b) a incineração tem como vantagem o baixo investimento. c) a grande vantagem de um aterro sanitário é que o lixiviado percola no solo, evitando contaminação das águas. d) a decomposição aeróbia da matéria orgânica no aterro sanitário resulta em elevada produção de metano. e) a biodigestão anaeróbia é o processo de decomposição de matéria orgânica por bactérias em meio onde há ausência de oxigênio. 4. Assinale a alternativa que NÃO condiz com os tipos de coleta. a) Coleta seletiva é o termo utilizado para a coleta dos materiais que podem ser reciclados. b) A coleta convencional deve coletar apenas os rejeitos e o material orgânico. c) É necessária a segregação dos resíduos na origem. d) O rejeito deve ser encaminhado juntamente com a coleta seletiva. e) A coleta seletiva é um dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. 5. A Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta a classificação dos resíduos sólidos. Aponte a categoria de resíduos que está INCORRETA. 15Gerenciamento de resíduos sólidos a) Resíduos domiciliares são originários das residências urbanas. b) Resíduos de limpeza urbana são aqueles originados da varrição de ruas. c) Resíduos sólidos urbanos engloba os resíduos domiciliares, de serviços de limpeza urbana e os gerados em estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços. d) Resíduos de serviços de saúde são aqueles gerados em estabelecimentos prestadores de serviços de saúde. e) Resíduos de construção civil incluem os gerados em reformas e demolições. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 8849: apresentação de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos: procedimento. São Paulo: ABNT, 1985. Cancelada em 15 jun. 2015. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10004: classificação de resíduos. São Paulo: ABNT, 2004. BARBOSA, R. P. Resíduos sólidos: impactos, manejo e gestão ambiental. São Paulo: Érica, 2014. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº. 275, de 25 de abril de 2001. Estabelece o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva. DOU, Brasília, DF, 117-E, seção 1, p. 80, 19 jun. 2001. BRASIL. Lei nº. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, DF, 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 06 jun. 2018. BRASIL. Senado Federal. Aumento da produção de lixo tem custo ambiental. Em discussão, Brasília, DF, n. 22, set. 2014. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/ emdiscussao/edicoes/residuos-solidos/mundo-rumo-a-4-bilhoes-de-toneladas-por- ano>. Acesso em: 27 maio 2018. FERNANDES, F.; SILVA, S. M. C. P. Manual prático para a compostagem de biossólidos. Londrina, PR: UEL, 2006. Disponível em: <https://www.finep.gov.br/images/apoio-e- financiamento/historico-de-programas/prosab/Livro_Compostagem.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2018. JARDIM, A.; YOSHIDA, C.; MACHADO FILHO, J. V. Política nacional, gestão e gerenciamento de resíduos sólidos. Barueri, SP: Manole, 2012. Gerenciamento de resíduos sólidos16 KIEHL, E. J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba, SP: Agronômica Ceres, 1985. ROSA, A. H.; FRACETO, L. F.; MOSCHINI-CARLOS, V. (Org.). Meio ambiente e sustentabi- lidade. Porto Alegre: Bookman, 2012. TONETO JÚNIOR, R.; DOURADO, J.; SAIANI, C. C. S. (Org.). Resíduos sólidos no Brasil: oportunidades e desafios da Lei Federal n 12.305 (Lei de Resíduos Sólidos). Barueri, SP: Minha Editora, 2014. Leituras recomendadas IBRAHIN, F. I. D. Análise ambiental: gerenciamento de resíduos e tratamento de efluen- tes. São Paulo: Érica, 2015. NASCIMENTO NETO, P. Resíduos sólidos urbanos: perspectivas de gestão intermunicipal em regiões metropolitanas. São Paulo: Atlas, 2013. 17Gerenciamento de resíduos sólidos Conteúdo:
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