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3ª Tarefa: Versão parcial do trabalho individual - Segunda Parte Aline da Silva Gongora Exame de decisão de tribunal internacional - Obligation to Negotiate Access to the Pacific Ocean (Bolivia v. Chile) “https://www.icj-cij.org/en/case/153” A. Contextualização da controvérsia No dia 1 de outubro de 2018 a Corte Internacional de Justiça de Haia, Holanda, proferiu sua sentença de mérito no caso Obligation to Negotiate Access to the Pacific Ocean (Bolivia v. Chile), em que julgou a demanda do Estado Plurinacional da Bolívia (Bolívia), apresentada para a Corte em 24 de abril de 2013, sobre as obrigações do Chile de negociar, de boa fé e efetivamente com a Bolívia, com o objetivo de se chegar a um acordo que conceda ao Estado Boliviano soberania plena ao acesso ao Oceano Pacifico1. No julgamento a Corte Internacional de Justiça determinou que o Chile não tem obrigações de negociar com a Bolívia ao acesso soberano no Pacifico e rejeitou as outras submissões finais apresentadas pelo Estado Plurinacional da Bolívia, mas acrescentou que essa decisao nao deve ser entendida como um impedimento para futuros diálogos entre os dois países. A demanda Boliviana era de que a corte reconhecesse oferecimentos que foram feitos de forma formal por representantes chilenos sobre negociação da criação de um corredor de soberania boliviana para a saída ao Oceano Pacico, e que teria criado uma “expectativa de direito”2. “Dessa forma o Chile teria assumido certos compromissos para negociar um acesso soberano ao mar com a Bolívia por meio de acordos, prática diplomática e declarações feitas por seus representantes do mais alto nível. Entre elas o governo boliviano destaca quatro: i) o Tratado de 1895; ii) a Ata Protocolizada de 10 de janeiro de 1920; iii) as Notas de 1950 que incluem as expressões vertidas por Agustín Edwards que foi Delegado do Chile perante a Sociedade das Nações e a nota n° 9 do Ministro de Relações Exteriores do Chile Horacio Walker Larraín, de 20 de junho de 1950; e iv) a negociação de Charaña, que inclui a Declaração Conjunta de Charaña, de 8 de fevereiro de 1975, e a nota de n° 686 do Ministério de Relações Exteriores do Chile, de 19 de dezembro de 1975.” (BARRIENTOS-PARRA, AGUILAR, 2017). O conflito entre os dois Estados em relação aos direitos sobre acesso ao Pacifico é antigo, datando de antes da independência dos países, desse modo se torna importante analisar 2 BARRIENTOS-PARRA, AGUILAR, 2017 1 International Court of Justice. Case Obligation to Negotiate Access to the Pacific Ocean (Bolivia v. Chile). Disponível em: https://www.icj-cij.org/en/case/153. os eventos históricos que marcaram os conflitos, a fim de entender o caso e a decisão apresentada pelo tribunal. Os conflitos territoriais entre Chile e Bolívia podem ser remetidos para sua independência em 1818 e 1825 e só se intensificaram nos anos que se seguiram, em que diversas disputas foram travadas e tratados foram assinados. O primeiro avaliado é o tratado de limites territoriais de 1866 e que foi confirmado em 1874 sobre as demarcações das fronteiras, em 1884 os países assinaram um pacto de pais que deu fim a Guerra do Pacifico, que foi marcada pela ocupação de áreas bolivianas pelo Chile. O Convênio sobre a Transferência de Território de 1895 tem parte importante nas demandas da Bolívia mesmo nunca tendo entrado em vigor, pois segundo apresentado pelo país, esse Convênio demonstra de forma clara a vontade política do governo chileno de lhe outorgar uma saída ao mar (BARRIENTOS-PARRA, AGUILAR, 2017). Já em 1904 as partes assinaram o Tratado de Paz e Amizade, que tem grande importância pois determina que todo território costeiro boliviano passa a ser do Chile, para a Bolívia sendo concedido amplo e livre direito de trânsito comercial nos portos do Chile3. “O Tratado segue vigente até hoje, mas a Bolívia acusa o Chile de não cumprir algumas de suas cláusulas - algo que o governo chileno nega.” (DEL`OLMO, GOMES, 2020). A Ata Protocolada de 1920 é um documento apresentado pelo governo Boliviano com o objetivo de argumentar sobre a contradição de diferentes governos chilenos que diziam não haver nem um assunto pendente em relação ao tratado de 1904 uma vez que a Ata reafirme uma vontade política de negociar a saída soberana ao mar para a Bolívia seguindo o tratado de 1895. Nos anos de 1948 e 1950 houve duas notas trocadas entre os governos do Chile e da Bolívia que expressavam a vontade de retomar as negociações, mas essas nunca seguiram adiante. Outro documento citado que expressa, de acordo com a Bolívia, as intenções de retomada para uma negociação do Chile é a Negociação de Charana de 1975, onde se discute a troca de concessão de território entre os dois países sul-americanos. No entanto, esses princípios citados deveriam se submeter a aprovação do Peru devido a tratados acordados previamente com esse país, como o governo peruano não aprovou as negociações foram encerradas. Esses casos apresentados ilustram um pouco da argumentação apresentada pela Bolívia, sobre o histórico dos dois países referente a tentativas de negociação de acesso soberano ao Oceano Pacifico, essa contextualização histórica do caso nos permite uma visão 3 Summaries of Judgments, Advisory Opinions and Orders of the International Court of Justice sobre os procedimentos que levaram a abertura do caso na Corte Internacional de Justiça em 24 de abril de 2013 e os processos adotados para o julgamento. B. Descrição da evolução do tratamento do caso em âmbito judicial Situada no Palácio da Paz, em Haia, na Holanda, surgiu em 1946 como substituta Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI), a Corte Internacional de Justiça (CIJ), segue o mesmo estatuto base de seu predecessor e é o principal órgão judicial da Organização das Nações Unidas (ONU), como instituído pelo artigo 92 da Carta das Nações Unidas “A instância judicial da Organização das Nações Unidas tem sua competência estabelecida por meio contencioso ou consultivo.”4 Os casos contenciosos que são disputas legais submetidas por Estados - como é o caso sendo estudado no presente trabalho - e os consultivos são pedidos de pareceres consultivos sobre medidas legais que podem ser apresentadas por agências especializadas ou por Órgãos da da ONU. A principal função da Corte é resolver conflitos jurídicos entre Estados membros da ONU, assim como emitir pareceres sobre questões jurídicas apresentadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas ou por órgãos e agências especializadas acreditadas pela Assembleia da ONU. Os idiomas oficiais da Corte são o Inglês e o Francês, e ela é mantida por um corpo administrativo que apoia 15 juízes que compõem a Corte, “O Estado-parte que não possua um juiz de sua nacionalidade no corpo da CIJ pode escolher um juiz ad hoc neste caso específico sob as condições listadas nos artigos 35 e 37 do Regulamento da Corte. As partes que estão atuando na defesa de um mesmo interesse podem eleger somente um juiz ad hoc, desde que nenhuma delas já possua um juiz de sua nacionalidade na CIJ”.(BRANDT e VIEIRA, 2009) Os juízes são eleitos por meio de maioria absoluta de votos pela Assembleia Geral e o Conselho de Segurança. Os juízes têm mandatos de nove anos. Os ritos do tribunal são compostos por duas fases, a primeira ehh um debate das questões preliminares, que devem levar um período máximo de três meses, e deve resolver sobre se o caso pode ser processado pela Corte ou nao, “As fontes usadas estão delimitadas pelo artigo 38 do Estatuto e são compostas por convenções internacionais, costumes e princípios gerais do direito internacional.”5 A segunda fase, composta por uma parte escrita e 5 BRANDT, VIEIRA, 2009 4 BRANDT, VIEIRA, 2009 outra parte oral e, seguem-se a apreciação e a deliberação das alegações das partes. Por último, o Tribunal segue para a elaboração de um parecer consultivo. De acordo com os artigos 59 e 60 da Corte Internacional de Justiça, as sentençascontenciosas têm caráter obrigatório, definitivo e irrevogável para os Estados envolvidos no caso. De acordo com o artigo 94 da Carta das Nações Unidas é obrigatória a execução das decisões da Corte, no entanto ela não possui poder para tomar medidas dentro de suas decisões, sendo este o caso, é papel do Conselho de Segurança decidir e tomar medidas para garantir que as sentenças da Corte Internacional de Justiça sejam executadas.6 No dia 24 de abril de 2013 o Estado Plurinacional da Bolívia instaurou um processo contra a República do Chile perante a Corte Internacional de Justiça relativo a disputa sobre as obrigações do Chile de negociar a soberania da Bolívia ao acesso ao Oceano Pacifico, segundo o processo apresentado o Chile além de não cumprir com essa obrigação se nega a aceitar a sua existência. “Com bases na jurisdição da Corte, a Bolívia invocou o Artigo XXXI do Tratado Americano de Soluções Pacíficas (Pacto de Bogotá), de 30 de abril de 1948”7. Em relação a esse tratado, o Chile o ratificou em 1967 enquanto a Bolívia só o ratificou em 2011, ambos os países realizaram a assinatura no ato de sua criação em 19488. O processo segue com a apresentação do Memorial pela Bolívia em 17 de abril de 2014, seguido por uma objeção preliminar do Chile em 15 de julho de 2014, essa interposição buscava verificar a legitimidade da Corte de Julgar o caso, baseando-se no Tratado assinado pelas partes em 1904, e no Artigo VI do Pacto de Bogotá, onde pede que seja excluída “da jurisdição do Tribunal as questões já resolvidas pelo acordo entre as partes, bem como os assuntos regidos por acordos internacionais.”9 Os procedimentos de mérito suspensos após essa objeção, a Bolívia apresentou uma declaração escrita sobre a exceção preliminar em 7 de novembro de 2014, que foram seguidas por audiências públicas em maio de 2015. A Corte se pronunciou em 24 de setembro de 2015 rejeitando a exceção preliminar apresentada pelo Chile e se julga apta a julgar o caso. Antes de começar a analisar as bases jurídicas, a Corte analisa o significado e o alcance das alegações apresentadas pela Bolívia, e pronuncia que os Estados apresentam uma obrigação, dentro do direito internacional, de conduzir negociações. Essa alegação é fundamentada no Tratado Americano de Soluções Pacíficas, mais especificamente no artigo XXXIII10, o Tribunal apresenta o 10 SABOYA DE QUEIROZ, 2017 9 DEL’OLMO, BRUHN PARMEGGIANI GOMES, 2021 8 SABOYA DE QUEIROZ, 2017 7 International Court of Justice. Case Obligation to Negotiate Access to the Pacific Ocean (Bolivia v. Chile). Disponível em: https://www.icj-cij.org/en/case/153. 6 BRANDT, VIEIRA, 2009 argumento de que uma obrigação de negociar não implica em uma obrigação de se chegar a um acordo, o pedido apresentado pelo governo boliviano são entendidas como se referindo a questão de caráter semelhante, nesse caso a Bolívia não estava pedindo a Corte que declare um acesso soberano ao mar, mas sim que o Chile tem obrigação de negociar para se chegar a um acordo referente a essa questão. Após um contra memorial do Chile em 13 de julho de 2016, foi autorizado uma resposta da Bolívia em 21 de março de 2017 seguida, em 15 de setembro de 2017, de uma tréplica do Chile. Depois de concluída essa primeira fase em que os argumentos das duas partes são apresentados de forma escrita, passa-se para a segunda fase de procedimentos orais, através de audiências públicas que tiveram lugar em março de 2018. Depois de todos os argumentos apresentados e os processos concluídos, e após analisar as bases jurídicas apresentadas pelos Estados sul-americanos, a Corte proferiu sua sentença de mérito em 1 de outubro de 2018 onde concluiu que nenhuma das bases apresentadas pela Bolívia estabelecia uma obrigação sobre o Chile para uma negociação de acesso soberano ao Oceano Pacifico. Referências AGUILAR, Sérgio Luiz Cruz; BARRIENTOS-PARRA, Jorge. A demanda da Bolívia vs. Chile na Corte Internacional de Justiça: A questão da saída para o Oceano Pacifico. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 71, pp. 341 - 374, jul./dez. 2017. BRANDT, Leonardo Nemer Caldeira; VIEIRA, Daniela Rodrigues. A Corte Internacional de Justiça: papel e perspectivas atuais. Cadernos Adenauer IX, n. 3, p. 148-158, 2008. Disponivel em <http://centrodireitointernacional.com.br/wp-content/uploads/2017/10/A-Corte-Internacional- de-Justi%C3%A7a-Papel-e-Perspectivas-Atuais.pdf>. Acesso em: 14 de maio de 2021. DEL’OLMO, F. de S.; BRUHN PARMEGGIANI GOMES, T. As vulnerabilidades sociais e econômicas no direito internacional: a questão boliviana e a necessidade de saída para o mar do Pacífico. Campos Neutrais - Revista Latino-Americana de Relações Internacionais, [S. l.], v. 2, n. 3, p. 21–32, 2021. Disponível em: https://periodicos.furg.br/cn/article/view/12329. Acesso em: 16 maio. 2021. International Court of Justice. Case Obligation to Negotiate Access to the Pacific Ocean (Bolivia v. Chile). Disponível em: <https://www.icj-cij.org/en/case/153>. Acesso em 16 de maio de 2021. http://centrodireitointernacional.com.br/wp-content/uploads/2017/10/A-Corte-Internacional-de-Justi%C3%A7a-Papel-e-Perspectivas-Atuais.pdf http://centrodireitointernacional.com.br/wp-content/uploads/2017/10/A-Corte-Internacional-de-Justi%C3%A7a-Papel-e-Perspectivas-Atuais.pdf https://www.icj-cij.org/en/case/153 PONTES, Jean Rodrigo Ribeiro de. Jurisdição e Corte Internacional de Justiça: Caso “Obrigação de Negociar Acesso ao Oceano Pacífico” (Bolívia versus Chile). Cosmopolitan Law Journal / Revista de Direito Cosmopolita, [S.l.], v. 4, n. 1 e 2, p. 104-126, mar. 2018. ISSN 2357-8440. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rdcuerj/article/view/31554>. Acesso em: 15 maio 2021.. SABOYA DE QUEIROZ, A. G. Disputas territoriais na América do Sul: análise crítica do acesso ao mar para a Bolívia. Fronteira: Revista De iniciação científica Em Relações Internacionais, 14 (27 e 28), 53-68, 2017. Disponível em <http://periodicos.pucminas.br/index.php/fronteira/article/view/12813> . Acesso em: 18 de maio de 2021. Summaries of Judgments, Advisory Opinions and Orders of the International Court of Justice. Obligation to Negotiate Access to the Pacific Ocean (Bolivia v. Chile). Disponível em <https://www.dipublico.org/cij/doc/229.pdf>, Acesso em 16 de maio de 2021. The Court. International Court of Justice. 2021. Disponível em <https://www.icj-cij.org/en/court>. Acesso em 15 de maio de 2021. https://www.dipublico.org/cij/doc/229.pdf https://www.icj-cij.org/en/court
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