Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cartografia Temática Cartografia Temática: fundamentos teóricos Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins Revisão Textual: Prof. Ms. Selma Aparecida Cesarin 5 • Cartografia Temática: fundamentos teóricos Neste módulo, em que trataremos dos fundamentos teóricos da Cartografia Temática, você terá acesso a diversos recursos. Não deixe de baixar o arquivo em PDF do material teórico. Assim, você poderá ter acesso às nossas discussões, onde quer que esteja. Veja o mapa mental que sintetiza e estrutura o assunto tratado neste módulo. Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar. Recorra, sempre que possível, às videoaulas e ao Power Point narrado para tirar eventuais dúvidas sobre o conteúdo textual. Participe do fórum de discussão proposto para o tema. No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar. Além disto, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema Cartografia Temática. · Neste conteúdo, trataremos dos fundamentos teóricos da Cartografia Temática, por meio da qual será possível perceber a significância dos assuntos tratados por ela na atividade profissional do professor de Geografia. Cartografia Temática: fundamentos teóricos 6 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos Contextualização Imagens que valem ouro Num passado não muito distante, quando o geólogo saía em busca de uma jazida mineral, sua única alternativa era ir a campo e gastar muita sola de botina para encontrar elementos que lhe dessem alguma indicação de que poderia existir, por exemplo, reservas de ouro ou de cobre no subsolo de um dado local. Graças ao sensoriamento remoto, porém, esse esforço tende a ser gradativamente menor. Pesquisadores da Unicamp vêm desenvolvendo tecnologias de uso de imagens de satélite para identificar locais onde há maior probabilidade da ocorrência de depósitos desses e de outros minerais. Atualmente, os cientistas estão aplicando a tecnologia para mapear áreas localizadas na Cordilheira dos Andes e na Patagônia Argentina, com resultados muito satisfatórios. O projeto de pesquisa, que caminha para a sua fase final, servirá para validar a metodologia desenvolvida pelos especialistas da Universidade, que mais tarde serão aplicadas também na busca de jazidas minerais em partes do território brasileiro. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto é conduzido por uma equipe do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, coordenada pelo professor Álvaro Penteado Crósta e composta também pelo professor Carlos Roberto de Souza Filho e pelo estudante de pós-graduação Diego Fernando Ducart. De maneira bastante simplificada, os pesquisadores procuram extrair o máximo possível das imagens geradas por satélite, de modo a facilitar a busca por jazidas minerais, que vão de metais, como ouro e cobre, a petróleo. Explicado dessa forma, o trabalho parece corriqueiro. Na prática, entretanto, ele envolve uma série de procedimentos extremamente complexos. Uma ferramenta fundamental para alcançar os objetivos traçados pelos cientistas é, obviamente, a imagem de satélite. O sensoriamento remoto não aponta a ocorrência de uma jazida, mas oferece evidências de sua existência. A equipe da Unicamp vem usando imagens geradas pelo satélite Terra, lançado pela Nasa, a Agência Espacial Americana, em 1999. O equipamento é dotado de um sensor denominado ASTER (sigla de Advanced Spacerborne Thermal Emission Reflection Radiometer), que possui 14 bandas espectrais, distribuídas entre as faixas visíveis ao olho humano e as invisíveis, que pertencem ao infravermelho. Algumas dessas bandas têm capacidade de identificar os espectros dos minerais presentes no solo terrestre, a partir da reflexão da radiação solar. Classificados tecnicamente como minerais de alteração hidrotermal, eles recebem esse nome porque foram formados há milhares ou até mesmo milhões de anos, pela ação das águas que brotavam do interior do Planeta a altíssimas temperaturas, em decorrência de processos vulcânicos. 7 Essas águas quentes, explica o professor Álvaro Crósta, circula entre as rochas do subsolo, dissolvendo e transportando vários metais. Em zonas mais próximas à superfície, essas soluções de alta temperatura reagem com as rochas existentes e produzem novos minerais, chamados, então, de minerais de alteração hidrotermal. Nesses mesmos locais, são geralmente depositados, de forma concentrada, os metais que se encontravam em solução. Ou seja, a presença dos minerais de alteração num determinado local oferece uma boa pista de que ali pode haver uma jazida metálica, muitas vezes com possibilidade de aproveitamento comercial. Pois bem, ao identificar as faixas de luz invisíveis ao olho humano, os pesquisadores do IG transformam esses espectros em imagens digitais coloridas, que são posteriormente sobrepostas a imagens em preto e branco, feitas pelo mesmo satélite. Assim, são gerados mapas que identificam, por meio de diferentes cores, a localização exata de cada mineral de alteração. Este documento serve para orientar a decisão das mineradoras sobre prosseguir ou não com trabalhos mais detalhados de exploração. De posse desse mapa, esclarece o professor do IG, as empresas podem enviar seus técnicos a campo para coletar amostras de rochas nos lugares indicados pelo sensoriamento remoto. O objetivo é verificar, por meio de análises geoquímicas, se elas contêm o metal desejado, numa proporção que justifique o investimento na sua extração. “Anteriormente, a avaliação que precede esta etapa era muito restrita, em vista dos altos custos envolvidos em percorrer grandes distâncias e cobrir regiões inteiras. Além disso, muitos dos locais com possibilidade de ocorrência de jazidas são remotos e de difícil acesso. Com o uso do sensoriamento remoto, essas dificuldades são bastante minimizadas”, afirma o professor do IG. O professor Álvaro Crósta esclarece que os pesquisadores optaram por desenvolver os estudos na Patagônia e no Peru porque estas áreas foram objeto de estudos anteriores de seu grupo de pesquisa, havendo, portanto, uma base de conhecimentos acumulada. Ademais, existia a disposição de empresas locais de colaborar com o projeto, fornecendo infraestrutura e auxílio nos trabalhos de campo. Por último, as duas regiões escolhidas para a investigação estão relacionadas à Cordilheira dos Andes, que apresenta grande potencial mineral: “São áreas cujas condições reais oferecem um cenário muito próximo do ideal para que a metodologia seja testada e validada”, acrescenta. Na Patagônia e no Peru, o interesse do setor produtivo recai sobre o ouro e o cobre, respectivamente. O professor Álvaro Crósta adverte que o sensoriamento remoto, embora seja valioso para orientar a exploração mineral, não aponta diretamente a ocorrência de uma jazida, mas oferece evidências de locais onde ela possa existir. Essa metodologia desenvolvida pela Unicamp para a Cordilheira dos Andes também não tem condições de ser aplicada, por exemplo, em regiões com vasta vegetação, como é o caso da Amazônia. Isso porque a floresta impediria que o sensor remoto, a bordo de um satélite, registrasse a “assinatura” espectral dos minerais de alteração hidrotermal: “Na Amazônia, as imagens de sensoriamento remoto podem ser usadas na busca de jazidas minerais, mas com outras abordagens metodológicas e sempre combinadas com outros tipos de informações, como os dados aerogeofísicos”, diz o pesquisador, mencionando ainda que essa é outra das áreas de pesquisa de seu grupo na Universidade, 8 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos “Mas em áreas em que a vegetação é esparsa e sobre as quais temos pouco conhecimento geológico, como partes das regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, o mapeamento de minerais de alteração hidrotermal por sensoriamento remoto pode ser empregado sem dificuldades. Tanto é assim que nosso grupo já estáiniciando um projeto no Nordeste, mais especificamente no Rio Grande do Norte”, revela. Segundo ele, o sensoriamento remoto ainda poder servir para procurar evidências indiretas da existência de outros tipos de jazidas minerais, como petróleo e gás natural. Embora essas substâncias não sejam encontradas na superfície, a ferramenta tem como identificar minerais presentes no solo que foram alterados por causa do contato com o gás ou o petróleo que estão no subsolo. Além disso, as imagens do satélite também conseguem detectar áreas de vegetação que foram igualmente alteradas pela ação desses compostos orgânicos. Os estudos que estão sendo desenvolvidos pelos pesquisadores do IG, afirma o professor Álvaro Crósta, estão no mesmo nível dos realizados em países como Canadá, Estados Unidos e Austrália, considerados os mais avançados nesse setor: “Graças a excelência da pesquisa nessa área, o Instituto tem formado profissionais de altíssima qualidade, que têm sido aproveitados por grandes empresas brasileiras, como a Vale do Rio Doce e a Petrobrás, além de empresas estrangeiras de mineração”, diz. O grupo já publicou dois artigos com os resultados dessa pesquisa em revistas internacionais e outros dois devem ser publicados brevemente. Fonte: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2005/ju296pag12.html 9 Cartografia Temática: fundamentos teóricos A Cartografia Temática atual é reconhecidamente uma ferramenta universal de representação gráfica. Dentre as suas finalidades, além dos produtos editoriais, de gerenciamento e de planejamento regional em geral, está o papel pedagógico exercido pelos mapas temáticos. Pode-se dizer que a Cartografia Temática difere da Cartografia Sistemática por suas características de responder às demandas da sociedade a partir do fim do século XVIII, quando a partir da edificação e mais tarde, hegemonização do sistema capitalista, tanto a divisão do trabalho físico quanto a divisão do trabalho intelectual atingiram a produção de mapas. O Quadro 1 Apresenta um comparativos sobre as diferenças entre a Cartografia Temática e a Sistemática, segundo alguns autores dedicados ao tema. Quadro 1. Concepções a respeito das diferenças entre Cartografia Temática e Sistemática (adaptado) Organização: Rosely Sampaio Archela, 1999 O contexto da origem da Cartografia Temática tem a ver com o momento em que os mapas passaram a informar sobre as potencialidades minerais do subsolo e do uso do solo; sobre os indicadores demográficos e sobre a regionalização da produção. Em síntese, a origem da Cartografia Temática está intimamente relacionada ao auge da divisão internacional do trabalho e da divisão territorial do trabalho. É nesta época que os mapas temáticos começaram a aparecer nos relatórios de viagens exploratórias, e não por acaso, também nos livros didáticos. Desta forma, os produtos da Cartografia Temática estão entre os recursos gráficos mais importantes entre as formas de linguagens humanas utilizadas para a representação de informações visuais. No presente texto trataremos das bases teóricas que fundamentam a produção cartográfica temática atual. O papel da semiótica na produção cartográfica Santaella (2003) afirma que o vocábulo Semiótica tem origem na raiz grega semeion, que quer dizer signo. Então, a Semiótica seria a ciência dos signos, ou ainda, a ciência de toda e qualquer linguagem. Muito além da língua mãe que utilizamos para nos comunicar verbalmente ou por escrito, segundo a autora, também nos comunicamos e nos orientamos através de imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes, objetos, sons musicais e gestos. 10 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos Para a autora, a Semiótica é a ciência que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como representação de significação e de sentido. No conjunto de possibilidades de linguagens possíveis, a Cartografia Temática é uma forma de comunicação visual monossêmica, ou seja, aquela que tem um único significado. Ao passo que a fotografia, a pintura, e as ferramentas da publicidade, por exemplo, são consideradas polissêmicas, isto é, são formas de comunicação que têm múltiplos significados (MARTINELLI, 2003). Estrutura da representação gráfica temática Os mapas temáticos, muito além do que representam os mapas sistemáticos e as meras habilidades de inventariar os objetos existentes no mundo real, que caracterizavam a cartografia antiga e que respondiam apenas à pergunta “Onde?”, atualmente devem responder também a outras questões como: • O que? Trata-se da demanda por informações sobre os aspectos qualitativos dos objetos a serem representados, ou, as relações de diversidade entre objetos e lugares. Nestes casos os dados e informações são do tipo nominal; • Onde ou quando? Busca por informações sobre as relações de ordem, hierarquia ou, sequência entre os objetos ou lugares; • Quanto? Diz respeito às informações quantitativas, ou seja, às proporcionalidades referentes aos objetos ou lugares. Aqui são empregados os intervalos, os índices, taxas e a serem representados. Nos dois últimos, tanto os dados quanto as informações são caracterizados como intervalos ou índices. Dados Os dados são uma representação simbólica (isto é, por meio de símbolos) nominável ou quantificável. Assim, tanto o alfabeto quanto os números reais, caso não estejam associados a entes são apenas e tão somente dados, pois não atribuímos a eles nenhum significado. Informação As informações são mensagens recebidas sob a forma dos dados. Uma mensagem torna-se informação quando o seu receptor consegue compreender o seu conteúdo, isto é, associar a ela, mentalmente, um significado. Por exemplo, uma tabela com nomes de cidades do mundo, temperaturas máximas e mínimas ocorridas num dado período, por tanto formada de dados, é interpretada por um leitor como contendo informações, apenas se ele for capaz de associar corretamente as cidades, suas localizações e se os valores da tabela associados às cidades, significarem localmente frio ou calor, especificamente para cada cidade. Assim esta tabela adquire o significado indicativo do clima, ou seja, do comportamento da atmosfera das cidades tais. 11 Cumpre notar o importante papel que os signos desempenham, então, na Cartografia Temática. O signo é uma forma de representação de um objeto ou lugar. O detalhe é que ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, ou, substituir outra coisa diferente dele, no caso, um objeto ou um lugar. Lembre-se, o signo não é o objeto ou lugar, ele apenas os representa. A título de exemplo, quantas são as formas de representação do objeto casa? (Santaella, 2003) Vejamos: • A palavra casa; • O desenho de uma casa; • A fotografia de uma casa; • A planta de uma casa; • A maquete de uma casa. São todos signos do objeto casa. Não são a própria casa, nem a ideia geral que temos de casa, mas cada um deles substitui, de certo modo, o objeto casa. Destarte, o signo é a união dos “significantes” (objetos ou lugar) e dos “significados” (ou conceitos dos objetos ou dos lugares). A emissão e a recepção de um signo configuram-se em uma estrutura ou um código de linguagem. O que queremos dizer é que quando o sujeito, no papel de emissor, transmite uma mensagem por meio de um sinal, gera um encoding, uma codagem ou uma codificação. Na outra ponta da conexão alguém, que exerce o papel de receptor, recebe o sinal e dele deduz uma mensagem. Esse sujeito processou um decoding, uma decodagem ou decodificação configurando a estrutura da linguagem. Um mapa é uma estrutura de representação visual codificada pelo autor, emissor, ou, o autor do mapa, que levou em conta todas as possibilidades de signos (encoding) considerados capazes de dar significado aos objetos ou lugares representados e que possam ser compreendidos ou “vistos” (decoding) por um usuário. Os processos fundamentais da percepção visualdos mapas podem ser estruturados segundo a lógica: identificação, reconhecimento e interpretação/leitura. É claro que entre a confecção do mapa pelo autor e a interpretação/leitura pelo usuário existe um caminho longo de coleta, tratamento, seletividade ou escolha, ajuste, codificação em forma de signos dos dados e informações. Nesse percurso, como é possível observar na Figura 1, surgem diversos “filtros”, frutos das vicissitudes decorrentes do processo que envolve a comunicação visual de informações. Além disto, devemos levar em conta as ideologias, culturas, questões morais e éticas dos sujeitos envolvidos no processo, incluindo o próprio leitor. A isto, damos o nome de ruídos que são as interferências que cada indivíduo envolvido no processo imprime na confecção dos produtos finais de um processo de construção de uma forma linguagem de representação visual que é são os mapas. 12 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos Figura 1. Processo de produção da linguagem cartográfica( adaptado) Organizado por Anderson (1982). Os ruídos decorrentes da interferência dos sujeitos podem ser um obstáculo para o leitor decifrar a mensagem existente no mapa, assim os filtros intelectuais funcionam como depuradores dos ruídos para que o produto final, que é o mapa, cumpra a sua função de informar geograficamente o seu leitor. Um tipo de ruído bastante comum nos mapas são as ideologias impregnadas nos mapas. As opções de ponto cardeal de referência, centralidade, meridiano de referência, embora considerados convencionais, são todos arbitrários, ou seja, são escolhas e dizem respeito às convicções. Na Figura 2 é possível observar um caso extremo de ideologia representada pelos mapas temáticos. Trata-se de uma ilustração ou charge sobre a visão estadunidense das geografias do mundo. Figura 2. Ilustração que faz alusão à visão dos EUA sobre a geografia do Mundo Adaptado de http://2.bp.blogspot.com/_6YVaqgVACFI/Sw5zUE11WUI/AAAAAAAAAF4/DW6gBuiV-W0/s1600/ WorldAsAmericaSeesIt-734390.jpg. Acessado em 27/04/2014. 13 Imagens como estas podem ser consideradas como uma exacerbação ideológica, pois exaltam um ou outro aspecto que possam existir nas realidades locais, mas que são representadas como sendo a própria geografia dos lugares tornando-se fonte de concepções estereotipadas nos leitores. Entretanto, nem sempre as distorções nos contornos e proporções dos mapas são exclusivamente devidas aos aspectos ideológicos inerentes aos mapas. As anamorfoses (Figura 3) são representações cartográficas aparentemente disformes de objetos e lugares que, refletida a partir de num determinado sistema óptico, produz uma imagem que expõe o contorno dos espaços representados de forma distorcida para realçar o tema. Nestes casos, tanto as proporções quanto as formas são alteradas de forma proporcional ao real mantendo-se as relações topológicas entre unidades contíguas e a estrutura do espaço representado. Figura 3. Anamorfose. Adaptada de FATEC, 2008 Adaptado de http://www.ensinoonline.com.br/provas/Fatecs%20(Faculdades%20de%20Tecnologia)/2008/images/FATEC%202008%20-%20 Portugues_img_18.jpg. Acessado em 28/04/2014. No caso da Figura 3 podemos dizer que se trata de um exercício dedutivo que é feito com os vestibulandos que, após anos de preparação no ensino fundamental e médio nos quais o candidato ao ingresso na universidade é exposto a um sem número de testes de identificação, reconhecimento e interpretação/leitura de toda sorte. 14 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos O objetivo em aplicar os tais testes é fazer com que o candidato seja capaz de reconhecer os múltiplos contrastes entre os países. Entretanto, tais contrastes devem ser bem escolhidos pelo autor do mapa, pois nem todos os atributos geográficos, quando transformados em mapas ficam tão aparentes e fáceis de reconhecer, como, por exemplo, as taxas de gênero masculino e feminino nas populações, que são praticamente idênticas variando alguns percentuais para mais ou para menos de país para país, inviabilizando o uso de um recurso como a anamorfose. Por outro lado, há contrastes são facilmente perceptíveis com o uso das anamorfoses. É o caso das diferenças entre a distribuição da riqueza entre os países no esquema 1 e as populações dos países no caso 2. Esta situação analisada mostra as vantagens e desvantagens dos métodos de representação gráfica visual. Em uma representação dita normal, haveria necessidade da utilização de um método de representação visual que permitisse dispor os valores desses atributos dos países. Como estes valores são sempre muito dinâmicos eles reduziriam o tempo de vida útil do mapa. Por seu turno, as anamorfoses não expressam os dados, mas a representatividade deles no todo o que facilita a identificação, reconhecimento e interpretação/leitura dos contrastes, graças às diferenças nas proporções da forma escolhida para a representação dos atributos, neste caso, por meio de retângulos proporcionais. Configuração da representação cartográfica temática Gerar um mapa implica em colocar no plano do papel as correspondências entre todos os elementos de uma mesma componente especial da informação e as posições dadas por um sistema de coordenadas, em geral, geográficas. Como a Cartografia Temática é uma forma de linguagem visual, o objetivo é a comunicação visual da informação. Assim, da mesma forma que consideramos inútil falar e não ser compreendido é inútil fazer um mapa que não pode ser “visto”. É fundamental que para que a informação fique mais clara possível, é necessário levar em conta alguns aspectos que “facilitem” a leitura do mapa. Se quantidade de informação existente no mapa não é muito grande a imagem é percebida mais rapidamente como uma totalidade, num rápido lance de olho sobre os signos dando respostas mais rápidas às questões do leitor. Por outro lado, quando a representação visual é muito complexa, resultado da sobreposição de signos, a leitura torna-se mais lenta obrigando o leitor a fixar um certo números de pontos, memorizá-los até que seja capaz de reintegrá-los e interpretar o jogo das informações que se encontram no mapa. As cores e os a mapas temáticos As cores são um recurso essencial para a confecção de mapas temáticos. Os aspectos qualitativos, de ordem e quantitativos são rapidamente percebidos por meio do emprego das cores nos mapas temáticos, também chamados de coropléticos. 15 A percepção humana das cores é uma propriedade do olho humano Figura 4 que é um mecanismo complexo desenvolvido para a percepção de luz. É composto basicamente por uma lente e uma superfície fotossensível dentro de uma câmara. A córnea e a lente ocular cuja função é focar os estímulos luminosos. A íris (parte externa colorida) comanda a abertura e o fechamento da pupila da mesma maneira que um diafragma. Figura 4. Esquema do olho humano Adaptado de http://photos1.blogger.com/x/blogger/6832/2931/1600/187188/olho.jpg. Acessado em 25/04/2014. A parte interna do olho é coberta pela retina. A retina é composta por milhões de células altamente especializadas que captam e processam a informação visual a ser interpretada pelo cérebro. A fóvea, no centro visual do olho, é rica em cones e bastonetes, ambos são tipos de células fotorreceptoras. As cores resultam da capacidade humana de perceber a fração espectral do espectro eletromagnético da Terra, chamada de visível. O que dá a sensação de cor e o reflexo de certos comprimentos de onda pelos objetos da superfície e que são detectados pelo olho humano. As cores que atingem o olho humano dividem-se em três tipos e respondem a comprimentos de ondas diferentes da luz. Temos cones sensíveis aos vermelhos R(red) (e laranjas), aos verdes G(green) (e amarelos) e aos azuis B(blue) (e violetas). Esta percepção foi considerada na definição do sistema luz conhecido como RGB. Neste sistema as cores estão agrupadas em: cores primárias aditivas e cores primárias substrativasFigura 5. As segundas são derivadas da composição dos pares das primeiras. O R e o G produzem o amarelo (yellow); o G e o B produzem o ciano e o B e o R produzem o magenta. Se compusermos todas as cores teremos a com branca. 16 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos Figura 5. Sistema cor Adaptado de http://3.bp.blogspot.com/-kmbr7JOhyys/UhbBuG72TQI/AAAAAAAABHo/hr2sFAEFUUQ/s1600/ cores+prim%C3%A1rias+substrativas+e+aditivas.jpg. Acessado em 28/04/2014. Já com a composição das cores substrativas, além da recuperação das aditivas, é possível gerar a cor preta. Este segundo processo caracteriza o sistema CMYK (cyan, magenta, yellow, black) utilizados na maioria dos aparelhos digitais de TV, monitores de computador e impressoras. Um outro sistema que está associado aos anteriores é o chamado HSV, ou sistema tom (hue), saturação (saturation) e valor (value). Vejamos como este sistema funciona. O contraste mede a separação entre valores de um determinado matiz. A Figura 6 mostra da esquerda para a direita: contraste baixo, normal e alto. Figura 6. Contraste da imagem Adaptado de http://www.ibrau.com.br/imagens/gxThemesContraste.jpg. Acessado em 24/04/2014. O brilho mede a quantidade de cor branca adicionada à cor. Na Figura 7 é possível observar, da esquerda para a direita, o brilho baixo, normal e alto. Figura 7. Brilho da imagem Adaptado de http://www.ibrau.com.br/imagens/gxThemesBrilho.jpg. Acessado em 24/04/2014. As duas situações anteriores definem a luminosidade dos objetos na imagem vista pelo leitor. 17 A saturação mede a quantidade de uma determinada cor presente na mistura. Na Figura 8 da esquerda para a direita temos a saturação mínima à saturação máxima. Figura 8. Saturação da imagem Adaptado de http://4.bp.blogspot.com/_6ioTr_ZyhiA/Rizii-hOIwI/AAAAAAAAABM/eDJyOk18FHY/s400/a4.jpg. Acessado em 24/04/2014. O tom (Figura 9) refere-se à maior ou menor quantidade de luz presente na cor. Quando se adiciona preto a um determinado matiz, este se torna gradualmente mais escuro, e essas graduações são chamadas escalas tonais. Para se obterem escalas tonais mais claras é necessário acrescentar a cor branca. Figura 9. Tom da imagem Adaptado de http://images.slideplayer.com.br/2/363666/slides/slide_11.jpg. Acessado em 24/04/2014. Se considerarmos todas as premissas anteriores podemos concluir que os mapas não são meras ilustrações com função decorativa. Os mapas têm sido frequentemente utilizados com esta finalidade, principalmente, no ensino de Geografia, respaldado pelos livros didáticos desta área. Cartografia Temática e eletrônica Figura 10. Agrupamento de pixels na tela de um smartphone Adaptado de http://www.osa-opn.org/opn/ media/Images/ImageOfTheWeek/12-12-03. jpg?width=1280&height=1024&ext=.jpg. Acessado em 28/04/2014. Nas últimas décadas, os sistemas de cores têm sido cada vez mais convertidos e aprimorados pela eletrônica na chamada tecnologia digital. Em sistemas digitais as cores são combinadas de forma que elas possam reproduzir a imagem real, mas em formato digital, ou seja, a eletrônica reconfigura as formas reais de modo que cada ponto de reflexão da luz, responsável pela transmissão da cor seja “clonado” digitalmente no aparelho. Quando vemos uma imagem digital composta, sem perceber estamos observando uma junção de incontáveis pontos de luz emitidos pelo objeto e imitado pelos sistemas RGB, CMYK e HSV. A Figura 10 é uma fotografia da tela de um smartphone moderno, o campo de visão da imagem real é da ordem de 0.21 mm por 0,17 mm. Nesta escala podemos observar um arranjo de pontos de luz colorida que compõem a tela do aparelho. Cada agrupamento de cores RGB é chamado de Pixel. 18 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos O Pixel é o menor elemento ao qual é possível atribuir uma cor. O conjunto de pixels, ou píxeis, forma uma a imagem digital completa. Observe na Figura 11 como o sistema é constituído. Figura 11. Detalhe de um pixel em fotografia digital Fonte: thinkstock/ gety image Suponhamos em uma visita ao zoológico tiramos uma fotografia de um animal em exposição, com o da Figura 11. O dia estava claro e a câmera captou parte da luz emitida pelo animal. Ao tirar a foto, cada pixel é capaz de copiar o tom das cores emitidas pelo animal reproduzido tornando a imagem real, a partir daí, eletrônica. Se ampliarmos a escala como no caso da imagem da direita da Figura 11 poderemos observar que os pixels “responderam” de forma específica a cada ponto de luz capturado pela tela da câmera. Em uma imagem digital cada Pixel é composto uma célula de três pontos do sistema RGB. Cada um destes pontos é capaz de exibir 256 tonalidades diferentes para cada uma das três cores. Combinando as tonalidades dos três pontos é possível exibir 16.777.216 cores. Daí entra o papel da resolução que é a capacidade do aparelho eletrônico reproduzir cores. Na maior parte dos casos os aparelhos eletrônicos de reprodução de imagem são avaliados pela resolução de imagem que são capazes de reproduzir e a unidade utilizada para isto é o Megapixel. Um Megapixel é equivalente a um milhão de pixels na tela do monitor ou da câmera fotográfica. Para ficar mais claro, quando dizemos que uma tela tem resolução de 1,3 megapixels, estamos considerando que as imagens resultantes terão aproximadamente 1.300.000 pixels, o que nada mais é que a multiplicação da largura pela altura da imagem, ou seja, uma imagem de 1.280 pixels de largura por 1.024 de altura, ou 108 mm x 87 mm, resultando em um total de 1.310.720 pixels. Atualmente a Cartografia Temática tem sido beneficiada pela evolução ocorrida nas técnicas aeroespaciais, especificamente nas ferramentas de sensoriamento remoto que tem substituído com sucesso as fotografias analógicas e a presença direta humana na coleta de dados para a confecção de mapas. 19 Material Complementar • Teoria das cores http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v18a33.pdf • Teoria da Semiótica http://www.cchla.ufpb.br/clv/images/docs/modulos/p8/p8_4.pdf • Teoria da Semiótica aplicada à Cartografia Temática http://www.scielo.br/pdf/bcg/v18n4/a07v18n4.pdf http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT5/tc5%20(91).pdf • Sobre o papel dos mapas como instrumentos de afirmação simbólica do poder http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Cartografia_simbolica_RCCS24.PDF • Cartografia Temática no ensino de Geografia h t t p : / / w w w. p r a c . u f p b . b r / a n a i s / I X E n ex / i n i c i a c a o / d o c u m e n t o s / a n a i s / 4 . EDUCACAO/4CCENDGEOCMT07.pdf • Sistemas digitais de tratamento das cores, Pixel e produção de imagem digital http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/ManuaisdeGeociencias/ Introducao%20ao%20Processamento%20Digital%20de%20Imagens.pdf http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v18a33.pdf http://www.cchla.ufpb.br/clv/images/docs/modulos/p8/p8_4.pdf http://www.scielo.br/pdf/bcg/v18n4/a07v18n4.pdf http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT5/tc5%20(91).pdf http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Cartografia_simbolica_RCCS24.PDF http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/iniciacao/documentos/anais/4.EDUCACAO/4CCENDGEOCMT07.pdf http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/iniciacao/documentos/anais/4.EDUCACAO/4CCENDGEOCMT07.pdf http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/ManuaisdeGeociencias/Introducao%20ao%20Processamento%20Digital%20de%20Imagens.pdf http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/ManuaisdeGeociencias/Introducao%20ao%20Processamento%20Digital%20de%20Imagens.pdf 20 Unidade: Cartografia Temática: fundamentos teóricos Referências ANDERSON, Paul. Cartografia Básica. Versão digital do próprio autor. 1982. ARCHELA, R. S. Análise da Cartografia Brasileira: bibliografia da cartografia na geografia no período de 1935-1997. São Paulo, 2000. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo. MARTINELLI, Marcello. Mapas de Geografia e Cartografia Temática.São Paulo. Contexto, 2003. SANTAELLA, Lucia. O que é Semiótica. Segunda edição. São Paulo, Brasiliense, 2003. SETZER, Valdemar W. Dado, Informação, Conhecimento e Competência. Folha Educação No. 27, out./nov. pp. 6 e 7, 2004. SOUSA, Jorge P. Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media. 2ª edição revista e ampliada. Porto, 2006 21 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Compartilhar