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2
Índice
INTRODUÇÃO
I. NOME E SIGNIFICADO DOS ANJOS
ALGUMAS COMPREENSÕES SOBRE A REALIDADE DOS
ANJOS
1. Definição
2. A natureza dos anjos
3. Tipos de anjos
4. O estado dos anjos
4.1. Os anjos caídos
5. O trabalho dos anjos
5.1. A divisão dos anjos
A. O arcanjo
B. O serafim
C. O querubim
5.2. A função dos anjos
6. Anjos da guarda
II. ONDE BUSCAR O ENSINO SOBRE OS ANJOS
III. COMO OS ANJOS APARECEM NA BÍBLIA
IV. A DOUTRINA SOBRE OS ANJOS
V. A TAREFA DOS ANJOS
VI. O QUE A IGREJA ENSINA SOBRE OS ANJOS
ORAÇÕES
1. ORAÇÃO AO SANTO ANJO DA GUARDA
2. ORAÇÃO AO ANJO DA GUARDA
3. O PÃO DOS ANJOS
4. ORAÇÕES AOS SANTOS ANJOS
5. COMO REZAR O TERÇO DE SÃO MIGUEL ARCANJO
CONCLUSÃO
3
“Foi o orgulho que transformou anjos em demônios,
mas é a humildade que faz de homens anjos”.
Santo Agostinho
“Cada um de nós é um anjo de uma asa só.
Precisamos nos apoiar mutuamente
antes que possamos voar”.
Leo Buscaglia
“Dizem que, quando um sino toca,
um anjo vai para o céu.
Permita-me silenciar todos os sinos
para que anjos como você nunca voem
para longe de mim!”
Autor desconhecido
4
“Este pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu,
livrou-o de suas angústias todas.
O anjo do Senhor se acampa em volta
dos que o temem e os salva.
Provai e vede como é bom o Senhor;
feliz o homem que nele se abriga”.
(Sl 34,7-9)
Introdução
Os anjos estão sempre voltando... Como dizia Leo Buscaglia: “Cada um de nós é
um anjo de uma asa só. Precisamos nos apoiar mutuamente antes que possamos
voar”. Eles desceram dos altares e estão sendo escalados pelas pessoas para atuar no
palco da vida, ao lado delas, nas tarefas mais corriqueiras do dia a dia... Assim muitos
o entendem.
A maioria das pessoas está buscando um anjo consolador; uma amizade, um amor,
um momento sequer já poderá ser quase suficiente. “Dizem que, quando um sino
toca, um anjo vai para o céu. Permita-me silenciar todos os sinos para que anjos como
você nunca voem para longe de mim!” (autor desconhecido).
Estamos criando anjos que tenham a nossa medida e correspondam à nossa
necessidade. Procuramos anjos que falem, sintam e amem a gente de verdade. Nossa
carência é tão grande que somente os anjos podem nos socorrer.
A face mais autêntica dessa verdade está na crença nos anjos, nos títulos vendidos,
na pintura, na iconografia religiosa, nas inúmeras reportagens, no modo como as
pessoas acreditam e se expressam sobre os anjos...
Vamos, pois, meditar sobre os anjos.1
O salmista Davi, contemplando a bondade de Deus, assim se expressa: “Este
pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu, livrou-o de suas angústias todas. O anjo do
Senhor se acampa em volta dos que o temem e os salva. Provai e vede como é bom o
Senhor; feliz o homem que nele se abriga” (Sl 34,7-9).
Certa vez, Davi, perseguido pelo rei Abimelec, se fingiu de doido para fugir de
sua presença (cf. o tópico do Sl 34,1). Abimelec era filho do herói hebreu Gedeão,
que, depois da morte de seu pai, desejou tornar-se rei. De fato, aconteceu. Dominado
por sua crueldade, o impiedoso rei procurou exterminar todos os possíveis opositores.
Dentre os tantos, lá estava Davi!
5
Diante das mazelas da vida, das tantas religiões indefinidas, da impotência dos
homens, da grosseira superstição, da frieza social, das tantas ofertas de salvação, dos
reversos da história, das catástrofes climáticas e ecológicas, dos desmandos políticos
e outros fatores, a quem recorrer? Quem poderá olhar por nós, miseráveis filhos de
Eva?
Vivemos tempos difíceis, nos quais apenas a proteção divina poderá ser o nosso
socorro e atenção constante. É por isso que aparecem tantos “salvadores” com uma
mensagem de solução, de embalagem, de conforto e de saída para as dificuldades
existenciais. A maioria das pessoas só tem isso para se proteger e a quem recorrer.
Quando as forças humanas não resolvem os nossos problemas, a solução é apelar
às forças espirituais e cósmicas, quer sejam anjos, divindades, cromoterapia, ioga,
reiki, cabala, astrologia, duendes, cartas do baralho, prognósticos das cartas, tarôs,
búzios, limpeza do corpo áurico, chás miraculosos e uma parafernália de soluções
simples e acessíveis a todos e por um preço bem barato...
Muitos falam da e apelam à “batalha espiritual”. Infelizmente, sempre
relacionadas às insídias do demônio. Aqui não nos cabe julgar se é certa ou errada,
apenas a lembrança do fato. São Paulo, em vez disso, nos lembra e fala da “armadura
de Deus” (cf. Ef 6,10-12). Esses versículos nos ensinam três coisas: (1) podemos ser
fortes apenas no poder do Senhor; (2) é a armadura de Deus que nos protege; e (3)
nossa batalha é contra forças espirituais do mal presente no mundo.
Além de todas as enfermidades da superstição que ronda o ser humano, é grande a
quantidade de pessoas preocupadas com a vida do além. Com isso, o uso de talismãs,
defumadores, essências, banhos de descarga, perfumes contra inveja, sabonetes da
prosperidade, de patuás, descarrego, fluido comigo ninguém pode, apetrechos de
proteção não para de ser oferecido à população vulnerável às forças do inimigo.
Quando as pessoas não se cuidam na sua espiritualidade, o demônio faz a festa na
vida delas. Uma vida assertiva e cuidada é o melhor antídoto contra as feitiçarias
emergentes que surgem a cada dia. Muitos vivem quebrados em sua autoestima e
acabam atribuindo essa negatividade às forças malignas. Além de todos os problemas
de ordem social, profissional etc.
Para se livrar dessas forças antagônicas, a solução é se proteger e apelar às
energias espirituais. O uso de um talismã, de um anjo atrás da porta, de um
defumador, do sal grosso, do apelo ao corpo fechado e protegido pelos deuses do
além traz certo conforto àqueles que fazem uso desses artifícios.
As pessoas estão cansadas da mentalidade racionalista de nossas reflexões e
pregações, desconfiadas da emergência de uma nova política, da quase ausência de
homens probos. Desejam algo leve, suave e sem exigência. Querem o contato mais
próximo de seus pastores, padres, pais de santo e outros; procuram gurus que tenham
uma linguagem acessível e que digam o que elas querem ouvir. Nada de ficar
enrolando as pessoas.
A encomenda de um bálsamo, de um óleo miraculoso, de uma pedra de cristal, de
uma água miraculosa vinda de Jerusalém, de uma unção poderosa de um unguento
santo, de uma bênção, de um milagre instantâneo pode fazer a diferença para as
pessoas angustiadas e carentes de uma solução rápida e sedutora. Nesse caso, os anjos
6
poderão ser de grande valia e alívio.
O mito exerce, nesse momento, uma importância fundamental para solucionar os
problemas aparentemente demorados. Os deuses são criados e chamados para
apaziguar a aflição do homem diante do que ele não consegue compreender e
controlar. Nada é natural, tudo é sagrado. Assim pensam aqueles que acreditam
nessas forças cósmicas ou naturais.
Certamente que toda essa construção mental é feita através de ritos sagrados;
existe uma liturgia para isso se efetivar. Sem isso, nada aconteceria.
Deus dispõe seu anjo para nos ajudar. Quando Daniel terminou o jejum e o pranto
de vinte e um dias, o anjo do Senhor veio até ele e lhe disse que o príncipe do reino
da Pérsia, ou seja, um principado do inferno, havia-lhe resistido por vinte e um dias, e
que outro anjo, Miguel, um dos primeiros príncipes, tinha vindo para ajudá-lo. Assim,
ele obteve a vitória sobre os reis da Pérsia (Dn 10).
A questão dos anjos já teve seu tempo áureo na história da Igreja e da humanidade
(das religiões) como um todo. Seu tempo foi exaltado durante a alta Idade Média. Ali,
naquele tempo, falou-se demais sobre a doutrina dos anjos. Por anjos, entendiam-se
os espíritos supraterrestres, sem, contudo, exprimir a sua natureza, mas somente a sua
função ao serviço de Deus ou do demônio (como entendia Agostinho).
Em muitas religiões, os anjos são entendidos como seres pararreligiosos, estando
entre a divindade e os homens, como semideuses ou demônios. A figura do anjo
propriamente dita é uma exclusividade das fés judaica e cristã (e do islamismo).
No findar do segundomilênio, veio à tona, mais uma vez, a questão dos anjos.
A doutrina da cabala, dos magos, dos duendes, das superstições, da nova era, do
espiritismo e outros tiveram grande ascensão. No entanto, pouco restou de tudo isso,
além das perturbações dos espíritos menos conscientes. Nesses últimos anos
(décadas), a doutrina dos anjos ficou mediocremente escondida e restrita ao
movimento esotérico e aos movimentos de tipo intimista, como é o caso da renovação
carismática católica, das igrejas pentecostais e outras mais ligadas à tradição do
catolicismo popular.
É certo, todavia, que a religiosidade popular tem mantido firme a convicção de
que os anjos são nossos protetores de forma veraz e inconfundível. Por certo,
também, com muitos exageros e desvios doutrinários.
A figura do anjo na iconografia ganhou vários contornos e interpretações ao longo
dos séculos e de modo especial na era moderna.
A auréola é uma coroa ou anel dourado que circunda sua cabeça para indicar a
santidade. Toda divindade ou santidade tem essa representação. A auréola é o reflexo
da glória dos seres espirituais ou daqueles a quem se pretende santidade. Eles são,
assim, representados para indicar a diferença com relação aos demais seres criados
por Deus. Nada mais que uma distinção em função de sua tarefa.
Não se pode confundir aura com auréola. Aura é, no esoterismo, uma espécie de
“nuvem espessa” ou um “corpo de luz” que envolve a pessoa dotada de certas
características distintas dos demais. É, de certa forma, uma sensação parapsicológica
sobre a situação de alguém. Este efeito luminoso pode ser fotografado por máquinas
(kirliangrafia), e as pessoas que se dedicam a essa técnica são, em sua maioria, físicos
7
ou matemáticos, o que a isenta de qualquer misticismo ou mágica (sem autor
definido).
Os anjos são representados como seres alados, dando a ideia de voo, rapidez,
velocidade, movimento, da agilidade com que se deslocam entre o céu e a terra em
benefício dos homens. As asas os fazem velozes e prontos para se intercomunicarem:
Deus e os homens! Subsiste mais a ideia de ingenuidade que de razão ou de fé cristã.
Nada disso se encontra registrado nas Escrituras. Certamente que a criatividade dos
artistas tem contribuído bastante para alimentar essa iconografia caracterizada
(antropomorfizada) e para que, de certa forma, se deduza que os anjos são dotados
dessa característica física.
Na tradição veterotestamentária, o anjo é criado como “o mensageiro de Javé”,
aparecendo em várias ocasiões e circunstâncias, como veremos mais à frente. Essa é a
finalidade de nosso livro: situar os anjos na tradição cristã e entender que eles não são
frutos da invenção humana. Infelizmente, alguns pensam assim.
Meu intuito não é fazer um livro sobre a angelogia [ou angelologia, como alguns
chamam], mas apenas indicar aqueles elementos de espiritualidade para reforçar
nossa tradição religioso-espiritual sobre a doutrina dos anjos presentes nas Escrituras
e na tradição eclesial. Certamente sua aplicabilidade à distinção na vida cristã faz
toda a diferença.
Os anjos fazem parte da tradição judeu-cristã e a sua “devoção” faz eco nas
Escrituras Sagradas, não sendo nenhum demérito ao crescimento religioso ou
holístico acreditar nos anjos! O renovado interesse pelos anjos é bastante oportuno,
pois eles existem...
Sempre há alguma provocação!
1 Ao me propor a escrever este livro, encontrei, em minha biblioteca, uma série de estudos sobre os anjos.
Fiquei admirado pela quantidade de literatura que havia lido nesses longos anos de ministério. Tinha comigo,
além da experiência pastoral, os elementos suficientes para aprofundar minha reflexão. Vamos à literatura: a
revista IstoÉ publicou um oportuno estudo sobre “a volta dos anjos” em sua edição de 21 de dezembro de
2011, ano 35, nº 2197, p. 84-91; a Revista Família Cristã dedicou o número de setembro de 2012 ao tema dos
anjos. Fiz pesquisa em inúmeras leituras pela internet: Heinrich FRIES, Dicionário de Teologia, volume I,
Loyola; Johannes BAUER, Dicionário de Teologia Bíblica, Loyola; Bernard BARTMANN, Teologia
Dogmática, volume I, Paulinas; Michael SIGMAUS, A Fé da Igreja, volume II, Vozes; Mons. A. VICENT,
Dicionário Bíblico, Paulinas, 1969; Jean-Yves LACOSTE, Dicionário Crítico de Teologia, Paulinas/Loyola;
John L. McKENZIE, Dicionário Bíblico, Paulus; C. RUSCONI, Dicionário do Grego do Novo Testamento,
Paulus; C. WESTERMANN, O anjo de Deus não precisa de asas, Loyola, 2000; M. FOX e R.
SHELDRAKE, A física dos anjos, Aleph, 2008. Utilizei-me das seguintes traduções da fonte Bíblica: Bíblia
Sagrada, Edições da CNBB; Bíblia Sagrada - Edição pastoral, Paulus; Bíblia de Jerusalém, Paulus; Bíblia de
Estudos MacAthur, Sociedade Bíblica do Brasil; Novo Testamento – King James, Sociedade Bíblica Ibero-
americana; Bíblia do Peregrino, Paulus. Em todas as Bíblias, com o verbete Anjos. Alguns textos bíblicos em
grego e latim, mormente a Septuaginta e a Vulgata. Consultei algumas suratas (12,31; 21,10; 32,11; 41,3-4;
97,3-4 etc.) do Alcorão Sagrado.
8
I.
NOME E SIGNIFICADO DOS ANJOS
O que eles representam aos seres humanos
A palavra “anjo” (hebraico malak; grego angelos) significa “mensageiro”. Os
anjos são mensageiros ou servidores celestiais de Deus: “A qual dos anjos Deus disse
alguma vez: ‘Sente-se à minha direita, até que eu coloque seus inimigos como estrado
para seus pés’? Não são todos eles espíritos encarregados para um serviço, enviados
para servir àqueles que deverão herdar a salvação?” (Hb 1,13-14); criados por Deus
antes de existir a terra (Jó 38,4-7; Sl 148,2-5; Cl 1,16).
Embora não tenhamos um texto que defina a sua criação, no entanto, ele se insere
entre o final do segundo (“ao firmamento chamou de céu”) e terceiro dia (“[...] as
águas que estão debaixo do céu, para que apareça o solo firme – terra”) da criação (cf.
Gn 1,6-10; Sl 148,2-5).
Céu e terra, duas dimensões da vida humana. Segundo os estudiosos, mais de
cinco bilhões de anos os separam. Nesse ínterim, a criação estelar assume a terrena de
forma a surgir todas as galáxias, astros, órbitas etc. e todos os seres angelicais! Os
anjos são seres espirituais criados por Deus para ajudar os homens no serviço de
governar a terra e a sua criação.
Na carta do apóstolo Paulo aos Colossenses, é feita uma solene declaração em
relação a nosso Senhor Jesus Cristo: “Porque nele foram criadas todas as coisas, as
que há nos céus e as que há na terra, visíveis e invisíveis; sejam tronos, sejam
domínios, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por meio dele e para
ele”
(Cl 1,16).
Nesse texto são afirmadas importantes verdades. Em primeiro lugar, com a
expressão “todas as coisas”, Paulo se refere à totalidade da criação, a que existe nos
céus e a que existe na terra, visível e invisível. Portanto, refere-se não só ao homem,
aos animais, às plantas e às flores, mas também aos anjos, arcanjos, querubins e
serafins. Tudo foi criado em Cristo.
No Apocalipse, os anjos são descritos como mensageiros de Deus, questionadores
da verdade, libertadores de forças espirituais, guerreiros, portadores de oráculos,
guardadores de cidade, protetor das Igrejas, soldados nas batalhas espirituais,
anunciadores de juízo e adoradores incessantes na presença de Deus.
É travada a luta entre o bem e o mal; as forças do inimigo conflitam com as armas
da luz. Nela aparecem como um verdadeiro exército em batalha na defesa do seu
povo. Certamente, é o que mais cativa e conquista adeptos para a devoção aos anjos.
Muitos escreveram sobre esse conflito na literatura.1
A maioria das concepções e ideias que se tem sobre os anjos advém desse
texto/livro (Apocalipse) e de consequente reflexão. A descrição dos anjos presentes
9
no Apocalipse deveria ter essa característica devido às perseguições aos primeiros
cristãos. Na época, havia a necessidade de sentir a presença onipotente de Deus
enviando o anjo como guardião e protetor do seu povo. O apóstolo João o relata em
sua marginalização na ilha de Patmos (Ap 1,9).
Certamente, nada estranho para a época!Abre-se, com isso, a visão inaugural das
sete cartas...
ALGUMAS COMPREENSÕES SOBRE A REALIDADE DOS ANJOS
1. Definição
Eles não existem desde sempre, isto é, antes da criação. Estão na referência entre a
criação do céu e da terra (cf. Gn 1 e 2). Angelos (grego); malak (hebraico):
mensageiro, enviado. Seres celestiais sobrenaturais (ou seja, além da natureza como a
entendemos), um pouco acima dos homens em dignidade.
Estão a serviço de Deus. Intermediários entre Deus e os homens. Não estão soltos
nos ares nem fazem o que desejam. São ordenados por Deus para prestar culto de
adoração a Ele, vigiar o processo de expansão do Reino e o serviço de proteção aos
homens; é uma espécie de equipe de segurança em função do bem-estar dos filhos de
Deus. Não são íons que vagueiam, voláteis, ao nosso redor, como se entende no
esoterismo moderno, ou como abelhas à revoada em busca do néctar das flores.
Os anjos são seres espirituais mandados pelas e obedientes às ordens divinas (e o
que se perdeu foi Satanás).
Quanto à sua existência, para os católicos, o catecismo explica: “A existência dos
seres espirituais, não corpóreos, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de
anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a
unanimidade da Tradição” (CIC, 328). Os protestantes, acima de tudo, acreditam no
que a Escritura afirma, pois não tem a Tradição em seu favor.
Os anjos são espíritos não terrenos, conhecidos não pela sua natureza, mas pela
tarefa que desempenham a serviço de Deus ou do diabo (segundo entendimento de
Santo Agostinho). É verdade de fé que existe entre Deus e os homens um ou vários
intermediários aos quais chamamos anjos.
A Tradição lembra que eles nos são dados ao nascer. Talvez a reflexão possa ser:
podemos “perder” o nosso anjo da guarda? O pecado nos afasta do nosso anjo
protetor? São eles que se afastam ou somos nós quem nos afastamos deles? Certa vez,
ouvi uma campanha em uma igreja evangélica com a seguinte proposta: “Venha
trocar o seu anjo da guarda!” Seria possível tal façanha?
Para algumas mentes doentias, a troca dos anjos é pertinente e provocante. Mais
que uma questão religiosa, é um aceno às inovações de algumas igrejas ávidas de
novidades para atrair mais pessoas para as suas fileiras. Fogem, todavia, da verdade.
A sua função primária – a dos anjos – é servir ao Criador e não à criatura. O
Criador no-los dispõe a seu gosto e não por nossas necessidades imediatas ou
10
naturais. Aqui, não obstante as dúvidas, as pessoas entendem os anjos como anjos da
guarda ou de guarda.
As pessoas, em geral, não distinguem a natureza dos anjos da sua função. Para a
maioria, tudo é a mesma coisa. É certo que não faz muito sentido ficarmos
recriminando ou desejando acertar essa questão. Por detrás delas existe uma questão
de catequese que não foi muito bem resolvida ao longo dos séculos. Para a maioria
das pessoas, anjo é anjo em todas as circunstâncias. Não há distinção nem
diferenciação entre eles.
Acreditar nos anjos não diminui nem aumenta a nossa fé. É indiferente e também
não é objeto de salvação. Por via das dúvidas, é preferível acreditar. Se houvesse algo
de errado na crença, Jesus o teria dito e condenado, como fez em tantas outras
ocasiões a respeito de verdades que não foram reveladas (como é o caso de alguns
usos e costumes judaicos; cf. Mt 15,2). Sentir-se protegido é o que a grande maioria
das pessoas deseja.
Anjo é sinal de leveza, delicadeza de espírito, despreocupação, auxílio, proteção,
otimismo, realização humana, autoestima, ajuda em tempo de aflição e até mesmo de
“salvação” em momentos extremos.
Se o anjo da destruição – Satanás – traz tanta alegria e euforia para o povo, por
que não acreditar que o bom anjo do Senhor traz a serenidade necessária para aqueles
momentos caóticos que vivemos? Se a ideia que temos dos anjos é que eles são
mensageiros da luz e portadores de uma mensagem divina, qual é o problema de nos
ligarmos a eles?
O que não se deve, todavia, é orar para que os anjos nos protejam! Ora-se a Deus
para que nos envie a constante assistência do seu anjo protetor! Evoca-se a sua
proteção como afirma o catecismo: “Desde o início até a morte, a vida humana é
cercada por sua proteção e por sua intercessão. ‘Cada fiel é ladeado por um anjo
como protetor e pastor para conduzi-lo à vida’. Ainda aqui na terra, a vida cristã
participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens unida em Deus”
(CIC, 336).
O Papa João Paulo II, na Audiência Geral de 6 de agosto de 1986, acentuou que “a
Igreja confessa sua fé nos Anjos Custódios, venerando-os na Liturgia com uma festa
especial, e recomendando o recurso à sua proteção com uma oração frequente, como
na invocação ao ‘Santo Anjo do Senhor’”.
Na filosofia budista, existe um texto assim:
Nós somos aquilo que pensamos. Tudo o que somos nasce dos nossos pensamentos. Com o nosso
pensamento, construímos o mundo. Fale ou aja com uma mente impura, e os problemas o seguirão como a
carroça segue a parelha de bois. Nós somos aquilo que pensamos. Tudo o que somos nasce dos nossos
pensamentos. Com o nosso pensamento, construímos o mundo. Fale ou aja com uma mente pura e a
felicidade o seguirá como sua sombra, inabalável (O Dhammapada, capítulo I, livro clássico do budismo,
considerado escrito pelo próprio Buda).
O anjo da alegria acampa ao redor daqueles que desejam viver bem e em paz com
todos. Gabriel, quando se aproximou de Maria para trazer-lhe a oferta da salvação,
11
embora pesada como mensagem, deu-lhe conforto e alegria (cf. Lc 1,26s). Ela se
alegrou com a mensagem, e sua alma exaltou o Senhor.
Por que deram a Irmã Dulce o título de “o anjo bom da Bahia”? O leitor poderá
avaliar a necessidade de nos sentirmos protegidos e, diante das dores e desencontros,
encontrar uma palavra de conforto e proteção.
Felizmente, Deus sempre desperta [chama] alguém para esse serviço de caridade
no seio da Igreja e da sociedade. Podemos intuir a ação-resultado da presença dos
anjos em sua vida. Não somente valorizam a proteção angelical, mas dão
consentimento ao resultado da graça divina em ação.
Na gesta da caminhada em busca de libertação, o povo de Deus liderado por
Moisés se sente protegido por Ele através do seu anjo que vem em socorro do seu
povo.
Eis o que diz o Senhor:
Eu envio um anjo diante de ti, para te guardar no caminho e para te fazer entrar no lugar que Eu preparei.
Mantém-te atento na sua presença e escuta a sua voz. Não lhe causes amargura, porque ele não suportará a
tua transgressão, porque está nele a minha autoridade. Mas se escutares a sua voz e se fizeres tudo o que
Eu falar, Eu serei inimigo dos teus inimigos e serei adversário dos teus adversários, pois o meu anjo
caminhará diante de ti (Ex 23,20-23).
Os anjos recordam-nos que, no caminho da vida, não estamos sós. Deus não nos
abandona. Deus caminha conosco.
Na maioria das vezes, desejamos a presença do santo anjo do Senhor, mas poucas
vezes nos colocamos à disposição do mandato de Jesus: “Vá e evangelize a toda
criatura...”.
2. A natureza dos anjos
Quando falamos ou refletimos sobre os anjos, sempre aparece esta pergunta:
Quem criou os anjos? Eles existem mesmo ou é conversa dos padres? O padre nunca
fala sobre os anjos na minha igreja! Sempre ouvi dizer que cada pessoa tem um anjo
da guarda. Já ouvi dizer que isso é conversa de padre e de pastor. Quando eu era
criança, acreditava em anjos, mas, agora, não mais. Minha avó me ensinou a rezar ao
santo anjo aquela oração...
Há alguns anos (1998), apareceu o padre Marcelo com a música “Põe teus anjos
aqui”; fez grande sucesso devido a sua exibição, e as pessoas ficaram mais ligadas à
experiência dos anjos à sua volta. O texto era muito simples, mas tinha um apelo de
emergência; não trazia nenhuma novidade teológica ou mesmo pastoral; era apenas
bastante animado e rítmico.
Certamente era um texto confuso. Evocava-se a quem? Deus ou Cristo? O texto,
porém, era realista quanto ao cotidiano das pessoas; repleto de religiosidade popular.
Falava de espada,de cobrir, colocar os anjos no lugar certo, do inimigo tão temido,
do anjo na rua e em casa... Em todos os lugares...
12
Vejamos o conteúdo:
Senhor, põe teus anjos aqui. Senhor, põe teus anjos aqui. Com a espada desembainhada, Senhor, põe teus
anjos aqui. Não deixes que o inimigo escarneça e zombe de nós. Cobre, Senhor, com teu Sangue. Senhor,
põe teus anjos aqui. Senhor, põe teus anjos lá fora... Senhor, põe teus anjos na rua... Senhor, põe teus
anjos lá em casa...
O mesmo se pode comentar sobre o canto “Manda teus anjos”, do grupo Anjos de
Resgate. Veja a primeira parte com o refrão:
Manda teus anjos sobre nós e abençoa todos os que esperam em vós. Manda teus anjos pra nos ensinar a te
louvar e glorificar. Envia também teu espírito de paz e amor; o meu coração tem sede do meu Criador.
Envia, Senhor, os teus anjos pra nos resgatar, pra nos proteger de todo mal. Para nos guiar, Senhor.
Refrão: Manda teus anjos sobre nós e abençoa todos os que esperam em vós. Manda teus anjos pra nos
ensinar a te louvar e glorificar.
Agora, continuemos a observar os anjos no contexto da história da Igreja e da
Palavra de Deus.
A existência dos anjos é dogma, isto é, verdade de fé da Igreja. Trata-se de
verdade contida na Sagrada Escritura, proclamada nos Concílios Ecumênicos,
afirmada pela unanimidade dos Santos Padres e ensinada por todos os teólogos fiéis
ao magistério da Igreja. A definição dogmática deu-se no IV Concílio de Latrão,
realizado no ano de 1215. Antes desse Concílio, a existência dos anjos fora afirmada
e formulada no Concílio Ecumênico de Niceia I (ano 325), sob o pontificado do Papa
São Silvestre, cujo decreto (Dz. 54) explica claramente: “Creio em um só Deus, Pai
todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
A Bíblia não nos indica o momento de sua criação nem as circunstâncias em que
foram criados; no entanto, fala-se inúmeras vezes de suas intervenções diretas na
história da salvação e nos destinos da humanidade.
Conferindo alguns textos, como modelos para o nosso entendimento, visto que
nosso objetivo, neste livro, não é explorar a religiosidade sobre os anjos como fazem
os esotéricos e outros, ficaremos com alguns textos que o leitor poderá conferir em
sua Bíblia.
Foram criados por Deus (Sl 148,2-5; Cl 1,16) antes do homem (Jó 38,7 – estrelas
da alva); são espíritos e não têm natureza corpórea, ainda que tenham, no passado,
assumido formas antropomorfizadas (Hb 1,14). Não se casam, não se reproduzem (Lc
20,34-36); são seres individuais e não a personificação de Deus; têm poderes, mas
não os atributos de Deus: onisciência (Mt 24,36; 1Pd 1,12) ou onipotência (Sl 103,20;
2Ts 1,7; 2Pd 2,11); também não são seres humanos glorificados (ninguém “vira”
anjo) (1Cor 6,3, Hb 1,14) e podem ser imperfeitos (Jó 4,18) [nem mesmo a criança,
por menor que seja, pode virar anjo, embora as pessoas tenham a tendência de assim
pensar e acreditar. Não existem “anjinhos”, apenas anjos. Em nenhum lugar da Bíblia
se fala sobre essa transmutação. Como certa vez ouvi: “Cada vez que morre uma
13
criança, vem um anjo à terra, toma o menino em seus braços, estende as suas grandes
asas brancas e voa por todos os lugares que a criança amou durante sua vida!”
3. Tipos de anjos
Quando pensamos e refletimos sobre os anjos, certamente nos vem à lembrança
uma miríade ou uma parcela de anjos! Fica sempre aquela sensação de que são uma
espécie de enxame como o de abelhas ou de um cardume como de peixes a nos
rondar diária e constantemente.
Duas são as verdades a que devemos nos apegar para falar, refletir e acreditar
sobre os anjos: o que disse a tradição da Igreja através dos séculos e o que a
Revelação divina nos tem trazido como fonte segura e certa. Nada mais, embora
sejamos movidos por muitas superstições a respeito dos anjos.
A Igreja tem visto com muita reserva as chamadas “aparições” dos anjos a certas
pessoas. Mais que tudo, fica apenas o fenômeno da pareidolia como próprio para se
interpretar a maioria das aparições. O fenômeno da pareidolia é um estímulo vago e
aleatório de algum vulto, silhueta ou imagem de algo tido como sobrenatural etc.
Algumas pessoas mais sensíveis às experiências psicológicas de vez em quando
dizem ver vultos ou sentir alguma coisa diferente ao entrar em algum ambiente. O
mesmo pode acontecer com as supostas aparições de anjos; alguns dizem até mesmo
“falar a língua dos anjos”...
Certa vez, estava eu em atendimento às pessoas da comunidade quando apareceu
uma senhora bastante atormentada dizendo que naquela noite havia sonhado com os
anjos. Eles estavam em grande festa no céu e a tinham levado com eles para o grande
e divino concerto. Ali, em meio aos cantos divinos, misturada a e inebriada por uma
luz forte e intensa, ela se prostrava diante de Jesus e de Nossa Senhora, chorando
copiosamente. Quando acordou, o travesseiro estava todo molhado como se houvesse
chovido naquela noite.
Infelizmente, a maioria das pessoas acredita no que ouve e no que a religiosidade
popular ou o catolicismo popular nos tem ensinado sobre os anjos. A tradição
popular, os ensinamentos esotéricos nos têm passado uma ideia mágica e alheia ao
ensino das Escrituras.
As Escrituras nos ensinam que são uma multidão em número não revelado na
Bíblia (Ap 5,11). Estão organizados em exércitos (Rm 8,38; Ef 1,21; Cl 2,15).
Existem diversos tipos, mas a Bíblia não indica se existe hierarquia entre eles (Cl
1,16). Somente um anjo é chamado de anjo superior (arcanjo): Miguel (Jd 9).
Somente dois anjos são “nomeados”: Gabriel (Dn 8-9; Lc 1) e Miguel (Dn 10,12; Jd 9
e Ap 12,7). O terceiro, que é Rafael, faz parte da tradição escriturística do livro de
Tobias (que não é aceito pelo cânon protestante).
Os querubins são guardiões que Deus colocou à porta do Éden após a queda do
homem. Adornavam a arca da aliança e as cortinas do tabernáculo, simbolizando a
presença de Javé entre eles. Aparecem em Ezequiel, sustentando o trono de Deus.
Os serafins estavam em volta do trono de Deus na visão de Isaías (Is 6,2-3), não
havendo outras menções a respeito deles. Os judeus os consideravam uma ordem
14
superior de anjos.
Por sinal, os querubins e os serafins são os únicos descritos como tendo asas. Na
maioria das vezes, são apenas especulações que não trazem nenhum benefício à fé
cristã em relação aos anjos. Outros, apenas, desejam tumultuar a compreensão sobre a
existência dos anjos que deve ser modesta, humilde e muito simples. Crê-se naquilo
que a Escritura diz e pronto!
Tronos, domínios, principados e potestades: seres angélicos não descritos em
detalhes. Podem ser tanto bons quanto maus (se caídos). Alguns afirmam – sem base
– que a Igreja católica divide os anjos em três tríades, inclusive criando uma nona
categoria. Não existe base bíblica alguma para isso, e o Catecismo não trata dessa
questão/divisão: serafins, querubins e tronos; domínios, potestades e virtudes;
principados, arcanjos e anjos.
De fato, são apenas quatro as divisões ou ordens: serafim, querubim, arcanjo e
anjo. Esse outro modo de dividir e entender os anjos vem do antigo Pseudo-
Dionísio...
O apóstolo Paulo trata dessas expressões em suas cartas, bem como o livro do
Apocalipse. Mas não estão em ordem de batalha, como alguns querem.
Certos movimentos da Igreja tentam inventar determinadas alterações e, com isso,
criam incompreensões sobre os anjos! Principalmente quando se estimula, sobretudo,
a devoção aos anjos de forma a desvirtuar a própria doutrina católica. “As únicas
joias que embelezam a esposa de um Rei Crucificado são os espinhos e a Cruz”, disse
santa Gema Galgani ao seu anjo da guarda. Desde muito jovem, Gema via seu anjo,
conversava com ele e até mesmo rezavam juntos. Eram companheiros inseparáveis.
4. O estado dos anjos
Esse é o maior questionamento a respeito dos anjos. Mais que uma questão de fé,
é uma questão de curiosidade. Quando escrevia este livro, fui questionado por muitas
pessoas: escrevendo sobre anjos? Você acredita em anjos? Quem são os anjos? Para
que eles servem? Vocênunca falou sobre anjos, e agora...
Os anjos foram criados “santos”, puros e perfeitos (Gn 1,31-32). A carta de Judas
aconselha: “Quero lembrar-lhes também de que os anjos que não conservaram a sua
dignidade, mas abandonaram a própria moradia, o Senhor os mantém presos
eternamente nas trevas, para o julgamento do grande Dia” (Jd 6).
Alguns caíram, como nos lembra 2Pd 2,4: “De fato, Deus não poupou os anjos
que haviam pecado, mas lançou-os nos tenebrosos abismos do inferno, onde estão
guardados, à espera do dia do julgamento” (cf. Jd 6). Não se diz quando/como, mas
certamente antes da queda do homem, pois Satanás já estava presente nesse ponto.
Dos anjos caídos, Lúcifer tornou-se Satanás, o líder maior dos inimigos de Deus; os
demais (demônios) tornaram-se seus escravos.
Vamos buscar no catecismo da Igreja as luzes para o entendimento.
Os textos, a seguir, foram cotejados com os seguintes documentos: Cf. Jo 8,44; Ap
12,9; IV Concílio Lateranense em 1215; Dz 800; 2Pd 2,4; São João Damasceno; PG,
877C.; Mt 4,1-11.
15
Assim, está escrito (cf. nn. 391-392):
[§391] Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a
Deus, a qual, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo
decaído, chamado Satanás ou diabo. Segundo o ensinamento da Igreja, ele foi primeiro um anjo bom,
criado por Deus. De fato, o diabo e os outros demônios foram por Deus criados naturalmente bons; mas
eles, por si, é que se fizeram maus.2
[§392] A Escritura fala dum pecado desses anjos. A queda consiste na livre opção desses espíritos criados,
que radical e irrevogavelmente recusaram Deus e o seu Reino. Encontramos um reflexo dessa rebelião nas
palavras do tentador aos nossos primeiros pais: “Sereis como Deus” (Gn 3,5). O diabo é “pecador desde o
princípio” (1Jo 3,8), “pai da mentira” (Jo 8,44).
[§393] É o caráter irrevogável da sua opção, e não uma falha da infinita misericórdia de Deus, que faz
com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. “Não há arrependimento para eles depois da queda,
tal como não há arrependimento para os homens depois da morte”.
[§394] A Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama “o assassino desde o princípio” (Jo
8,44), e que chegou ao ponto de tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai. “Foi para destruir as obras
do diabo que apareceu o Filho de Deus” (1Jo 3,8). Dessas obras, a mais grave em consequências foi a
mentirosa sedução que induziu o homem a desobedecer a Deus.
[§395] No entanto, o poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo fato
de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de
Deus. Embora Satanás exerça no mundo a sua ação, por ódio contra Deus e o seu reinado em Jesus Cristo,
e embora a sua ação cause graves prejuízos – de natureza espiritual e indiretamente, também, de natureza
física – a cada homem e à sociedade, essa ação é permitida pela divina Providência, que com força e
suavidade dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande
mistério. Mas “nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28).
A prática de se recorrer ao catecismo nos dá a certeza de que não estamos
acreditando em falsas doutrinas, alheias ao pensamento da Igreja. Infelizmente,
algumas pessoas, inclusive de boa-fé, acreditam naquilo que chamamos de senso
comum.
Muitas pessoas se deixam levar por lendas, fábulas e fantasia a respeito dos anjos.
Na maioria das vezes, ficamos com uma visão infantilizada dos anjos, como se
fossem somente um apêndice a serviço dos homens apenas enquanto crianças. O
produto da fantasia deve ser relegado ao esquecimento. Muitas pessoas abandonam a
fé nos anjos pelo mecanicismo de sua ação no mundo.
É certo, todavia, que existe uma grande interrogação sobre como procedem os
anjos diante de tanta violência e escuridão espiritual das pessoas. Diante disso, como
nós os entendemos?
4.1. Os anjos caídos
Já dedicamos, acima, algumas linhas sobre essa reflexão. Aqui, desejamos apenas
completar, pois não é esse o nosso interesse ao escrever este livro.
É de fé que se entenda o seguinte: uma parte dos anjos afastou-se livremente de
Deus e permaneceu-lhe eternamente hostil.
É o que define o Concílio Lateranense: “os diabos e os outros demônios foram
criados por Deus, naturalmente bons, mas se tornaram maus por causa própria”
16
(Denzinger, §428).
O catecismo da Igreja assim o define:
(§391): Por trás da opção de desobediência de nossos primeiros pais há uma voz sedutora que se opõe a
Deus e que, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo
destronado, chamado Satanás ou diabo. A Igreja ensina que ele tinha sido anteriormente um anjo bom,
criado por Deus... Com efeito, o diabo e outros demônios foram por Deus criados bons em (sua) natureza,
mas se tornaram maus por sua própria iniciativa.
O Antigo Testamento já relata a existência dos espíritos maus, e Deuteronômio
(32,17) afirma que os israelitas sacrificaram aos demônios e não a Deus. O salmista
lembra que todos os deuses das nações são espíritos maus (Sl 95,5), o próprio Satã se
apresenta ao experiente Jó (1,6.9; 2,1) fazendo uma proposta desafiadora. O demônio
também está presente na vida de Davi (1Cr 21,1).
No livro de Tobias, o demônio é lembrado como Asmodeu (Tb 3,6; 6,8-19; 8,3;
12,3).
É possível que a influência das relações com os pagãos tenha contribuído para o
desenvolvimento da demonologia, a qual, de fato, justamente nos livros apócrifos,
assume grande importância. Neles, Satã é o príncipe deste mundo, e exerce, mediante
os demônios, um influxo físico maléfico sobre os homens, provocando doenças e
enfermidades.
É muito comum as pessoas religiosas atribuírem ao diabo todas as tentações, como
se ele fosse o culpado. Dizem que foram tentados pelo diabo; que não os deixa
sossegados; foram levados por ele a esse tipo de coisa; as coisas não dão certo devido
a essa força maligna que os provoca e atordoa... Espero que seja, apenas, uma questão
de linguagem e que as pessoas não estejam achando que tudo que há de ruim é fruto
do demônio, tirando, com isso, a responsabilidade humana.
Nessas últimas décadas, a satanalogia e o exorcismo estão em alta (cf. CIC § 517,
550, 1237 e 1673). Muitos arvoram o direito de cuidar das coisas de Satanás. Mexer
nesse mundo é por demais complexo e perigoso. Sabemos, todavia, que as forças do
mal lutam para aparecer. Todavia, aos cristãos, a única saída é viver na constante
busca da graça de Deus. Na oração do Pai-nosso, Jesus lembrava antecipadamente:
“livrai-nos do mal...”
Enfim, Satanás – adversário – se opõe a todos os desígnios de Deus (1Pd 5,8; Rm
8,38; Dn 10,12-13; Jó 1,12-13.19; At 10,38; Mt 4,3; Jo 13,27). [cf. CIC §397]:
O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de
sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisso que consistiu o primeiro pecado do
homem. Todo pecado, daí em diante, seria uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua
bondade.
O demônio também tem o poder de realizar maravilhas (2Cor 11,14-15 ), mas esse
poder é restrito pelo Espírito Santo (2Ts 2,7). O destino desses anjos já está definido:
17
“Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastem-se de mim, malditos.
Vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos’” (Mt 25,41). É o juízo
final! Infeliz daquele que se deixa atrair por ele.
Para sintetizar, vamos acordar seis pontos comuns para o nosso entendimento. A
natureza dos demônios é descrita nas Escrituras assim:
• São seres inteligentes (Mt 8,29,31; 1Tm 4,1-3; 1Jo 4,1 e Tg 2,19), possuem
características de ações pessoais, o que demonstra que possuem personalidade
(cf. Mc 1,24; Mc 5,6-7.8,16; Lc 8,18-31);
• São seres espirituais (Lc 9,38-39.42; Hb 1,13-14; Hb 2,16; Mt 8,16; Lc 10,17-
20);
• São considerados idênticos aos espíritos imundos,no Novo Testamento; aqueles
que Jesus expulsa e purifica;
• São entes numerosos (Mc 5,6-9): “Vendo Jesus de longe, o endemoninhado
correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: ‘Que há entre mim e ti,
Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te peço por Deus, não me atormentes!’ O
homem falou assim, porque Jesus tinha dito: ‘Espírito mau, saia desse homem!’
Então Jesus perguntou: ‘Qual é o seu nome?’ O homem respondeu: ‘Meu nome é
Legião, porque somos muitos’. E pedia com insistência para que Jesus não o
expulsasse da região”;
• São seres desprezíveis e perversos – baixos em conduta: “Um espírito o ataca e,
de repente, solta gritos e o sacode, e o faz espumar” – Lc 9,39 (Mc 1,27; 1Tm
4,1; Mt 4,3);
• São bajuladores e corteses (Mt 12,24-27). São seres de baixa ordem moral,
degenerados em sua condição, execráveis em suas ações, e sujeitos a Satanás.
Pelo visto, eles não são tão perversos quanto imaginamos, pois faz parte de sua
estratégia de atração se comportar de forma elegante para conquistar novos adeptos.
Um diabo mal apresentado não atrairia adepto algum. Disso também se conclui que a
maioria das pessoas tem uma ideia equivocada sobre o diabo. Como anjo de luz, com
efeito, deve trazer a aparente luz para seduzir as pessoas que se encontram fracas e
suscetíveis a essas forças demoníacas.
Eles também têm uma forma de se portar diante dos humanos. Nós chamamos a
isso de as atividades dos demônios. Vejamos os três modos que nos ensinam as
Escrituras:
• Apossam-se dos corpos dos seres humanos e dos irracionais (Mc 5,8.11-13);
• Afligem os homens mental e fisicamente (Mt 12,22; Mc 5,4-5);
• Produzem impureza moral: “Logo que Jesus saiu da barca, um homem possuído
por um espírito mau saiu de um cemitério e foi ao seu encontro. Esse homem
morava no meio dos túmulos, e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com
correntes. Muitas vezes, tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele
arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-
lo. Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se
com pedras” (Mc 5,2-5; cf. Ef 2,2).
Quando se tem a outra força de atração, que é Cristo, como luz e verdade, as
forças demoníacas ficam reduzidas a uma ninharia de fios desconectados da fonte...
18
Para isso ocorrer, mais que um desejo de proteção, há a necessidade de uma tomada
de decisão: aceitar Jesus como o Senhor!
5. O trabalho dos anjos
Os anjos foram criados para dar glória, honra e ação de graças a Deus. Essa é a sua
primeira atividade, ação e função. Talvez aqui esteja o equívoco de muitos em
atribuir aos anjos uma superatuação, como uma espécie de alternativa para Deus.
Os anjos foram criados em previsão para adorar a Cristo (Hb 1,6). Michael
Schmaus, teólogo da Igreja, assim esclarece: “No tempo da salvação que medeia
entre a ressurreição e a segunda vinda de Cristo, os anjos, obedecendo às disposições
divinas, prestam auxílio e atenção à Igreja, a toda a humanidade e a cada indivíduo
ordenado a Cristo”.
Foram criados para cumprir os propósitos de Deus. Servir a Javé é a mesma coisa
que respeitar o seu anjo e lhe obedecer, pois ele guiará o povo até a terra prometida.
Esse anjo ou mensageiro é provavelmente a pessoa do líder que ajuda o povo a
compreender e realizar o projeto de Deus (cf. Bíblia, Edição Pastoral, comentário):
Vou enviar um anjo na frente de você, para que ele cuide de você no caminho e o leve até o lugar que eu
preparei para você. Respeite-o e obedeça a ele. Não se revolte, porque ele leva consigo o meu nome, e não
perdoará suas revoltas. Contudo, se você lhe obedecer fielmente e fizer tudo o que eu disser, então eu serei
para você inimigo de seus inimigos e adversário de seus adversários (Ex 23,20-22).
O fato mais importante a ressaltar, no entanto, é que, no Novo Testamento, além
de citações pelo próprio Jesus Cristo, os anjos aparecem servindo-o, como após sua
tentação pelo diabo, na passagem do deserto, conforme Mateus 4,11: “Então o Diabo
o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e serviram a Jesus”. O catecismo
completa: “A tentação no deserto mostra Jesus, Messias humilde que triunfa sobre
Satanás por sua total adesão ao desígnio de salvação querido pelo Pai” (§ 566).
Além dessa passagem, outra intervenção direta é na ressurreição de Jesus, como a
da pedra que fechava o sepulcro, quando um anjo desceu do céu e a removeu,
conforme revelado em Mateus 28,1-2: “Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro
dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver a sepultura. De repente
houve um grande tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se,
retirou a pedra, e sentou-se nela”.
Os outros evangelistas citam igualmente a participação dos anjos, durante o
ministério de Cristo, como Lucas 1,11; Marcos 1,13 e João 1,51: “E Jesus continuou:
‘Eu lhes garanto: vocês verão o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo
sobre o Filho do Homem’”.
Os anjos também aparecem nas Cartas dos Apóstolos e nas revelações do
Apocalipse, onde são mencionados já no início do texto (veremos mais à frente).
A Igreja, em sua liturgia, exalta os anjos de forma a contemplar sua ação no meio
de nós. Na liturgia Eucarística, existe um prefácio especial dedicado aos anjos. O
Prefácio dos anjos (Missal Romano, p. 447):
19
Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em toda a parte, e não
cessar de engrandecer-vos, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso. É a vós que glorificamos, ao
louvarmos os anjos, que criastes e que foram dignos do vosso amor. A admiração que eles merecem nos
mostra como sois grande e como deveis ser amado acima de todas as criaturas. Pelo Cristo, vosso filho e
Senhor nosso, louvam os anjos a vossa glória, as dominações vos adoram e, reverentes, vos servem
potestades e virtudes. Concedei-nos também a nós associar-nos à multidão dos querubins e serafins,
cantando (dizendo) a uma só voz...
5.1. A divisão dos anjos
Já comentamos anteriormente sobre essa divisão. Aqui, cabe-nos traduzir com
outras palavras essa compreensão sobre a divisão e a função dos anjos do Senhor. Em
meus escritos, encontrei uma história mais ou menos assim descrita:
Um caminhão perdeu o freio em uma íngreme descida. O dono da mudança, que estava em cima, morreu
na hora; o irmão foi para o hospital; o restante dos passageiros ficou ferido. Uma garota de cinco anos que
estava no colo da mãe, ao lado do motorista, havia sumido. Todos estavam procurando a menina, quando
uma senhora apareceu e disse que viu o acidente, quando a porta do carro se abriu e a menina saiu voando.
Seguindo a trilha do caminhão, encontraram uma senhora com a criança nas mãos, chorando. Ela disse
que um homem alto, vestido de roupa branca lhe trouxe a criança e pediu que cuidasse dela. Quem era
aquele homem? (Sem data nem autoria.)
Em geral, todas essas histórias têm o mesmo tom de narração. O que sobressai é a
curiosa imaginação das pessoas, que, por sinal, é fértil.
Quantas são as fotos tiradas que acabam mostrando uma silhueta semelhante à de
um anjo ou coisa que o valha. É comum a certas pessoas que, ao narrar suas “visões”,
dizem ter visto uma forte luz vinda do céu em sua direção; outras alegam ter visto um
vulto invadido por uma sombra ou nuvem. Não estamos questionando se o fato é
verdadeiro ou não. Isso, de imediato, não importa. Importa a cena descrita com a
alcunha do que se deseja alcançar.
Para compreender a orquestração dos anjos:
A. O arcanjo
Anjos são seres espirituais que estão constantemente na presença de Deus. Eles
estão à vista do Senhor, sempre. A palavra “arcanjo” vem de uma palavra grega que
significa “principal dos anjos” ou “mais importante dos anjos”. Refere-se a um anjo
que aparenta ser o líder de outros anjos (cf. 1Ts 4,16).
Agora, vamos refletir sobre os arcanjos conhecidos: Gabriel, Rafael e Miguel.
Gabriel é mensageiro de boas- -novas, anunciador da misericórdia de Deus e
intérprete das revelações divinas (cf. Dn 8,16; 9,21; Lc 1,19-20.26). Miguel é um
anjode grande autoridade (Dn 12,1; 10,13; Jd 9; Ap 12,7-12). Rafael é o anjo da cura
divina, que nos conduz pela mão.
Gabriel significa homem de Deus. Aquele que trouxe a esperança para o povo no
anúncio a Maria de Nazaré. Miguel significa: quem é como Deus? É o chefe do
20
patronato celeste. Rafael é aquele que cura. É um arcanjo comum às religiões judaica,
cristã e islâmica, responsável por executar todos os tipos de cura. No mundo
protestante, no entanto, Rafael não é reconhecido como arcanjo.
Curiosamente, temos a conhecidíssima devoção a Nossa Senhora Desatadora dos
Nós. Pois bem. Prestaram atenção à descrição de sua imagem? Você já reparou na
figura ao lado? Ela está no quadro da Maria Desatadora dos Nós, bem abaixo dos pés
da santa, onde existem duas figuras pequeninas, sendo que uma delas toma a outra
pela mão e aponta para uma igreja ao alto de uma montanha.
Quem é? É o arcanjo são Rafael levando Tobias para o caminho certo, a fim de
que encontre Sara, sua futura esposa. Por quê? Porque Maria Desatadora dos Nós
intercede por nossos nós, concedendo inúmeras graças no matrimônio e na
reconciliação das famílias. Para isso, envia o arcanjo são Rafael para nos mostrar o
caminho certo.3
Esses arcanjos têm a função especial de atender ao trono divino nas suas
manifestações e cumprir as ordens e decretos divinos aqui na terra.
Vejamos algumas de suas tarefas (devido à extensão dos textos, conferir na
Bíblia):
• Proteger Israel (Dn 12,1);
• Lutar contra Satanás (Jd 9; Ap 12,7);
• Anunciar a Vinda de Cristo (1Ts 4,16);
• Nem todos os anjos são “mensageiros” (querubins e serafins assustariam as
pessoas);
• Adorar a Deus na sua presença (Mt 18,10; Hb 1,6; Ap 5,11);
• Assistir, proteger e guiar o povo de Deus (Gn 19,11; Sl 34,7; 9,11-12; Dn 3,28,
6,22; At 5,19; 8,26; 27,23-24);
• Interpretar a mensagem de Deus (Dn 7,16; 10,10-21; Zc 1,9.19);
• Executar os juízos de Deus (Gn 19,12-13; 2Rs 19,35; Ez 9,2-7; At 12,23);
• Assistir o ministério de Jesus (Lc 1,26-38; 2,13-14; Mt 4,11; Lc 22,43; Mt 28,2-
7; At 1,10-11).
A Bíblia identifica o arcanjo como “chefe” (significado de “arqui”). Apesar de ser
possível que existam outros (Gabriel pode ser um deles), Miguel é o único arcanjo
mencionado pelo nome: “Contudo, o arcanjo Miguel quando contendia com o diabo,
e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório
contra ele; pelo contrário, disse: ‘o Senhor te repreenda’ ” (Jd 9).
Miguel significa: quem é como Deus? Sabemos por Daniel (10,13) que Miguel é
“[...] um dos primeiros príncipes”. Essas autoridades angelicais estão constantemente
envolvidas em lutas em defesa do povo de Deus. Miguel contendeu com o diabo em
relação ao corpo de Moisés. Nós o vemos novamente batalhando com o diabo no
livro do Apocalipse: “Houve combate no céu. Miguel e seus anjos pelejaram contra o
dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos, todavia, não prevaleceram; nem
mais se achou no céu o lugar deles” (Ap 12,7-8).
Miguel parece ter um interesse muito especial pela nação de Israel. Durante a
grande tribulação, ele lutará em favor dos judeus: “Nesse tempo se levantará Miguel,
o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual
21
nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo, mas naquele tempo será salvo
o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro” (Dn 12,1).
Os católicos têm o hábito de chamar os arcanjos de santos. No entanto, não são
santos no sentido de canonizados, como se entende os demais homens e mulheres. É
apenas uma forma de respeito tratá-los com essa distinção. Os católicos ortodoxos os
chamam “Comandantes Supremos das Hostes Celestiais”.
Na religiosidade popular, e mesmo em alguns textos distribuídos da Bíblia,
encontramos quatro funções do arcanjo Miguel:
• Reconhecido como o chefe do exército divino, uma espécie de comandante geral
na batalha espiritual e, por isso, muito invocado nesse momento; líder das forças
celestes nessa luta contra as forças do mal, a sediar a Igreja e os seus eleitos;
• Lida com a morte; leva todas as almas dos falecidos para o céu; dá à alma a
chance de se redimir, atrapalhando a ação do diabo;
• Mede as almas; por isso, traz a balança bem equilibrada em suas mãos para
“medir e pesar” os pecados da humanidade; é o arcanjo da justiça;
• Patrono do povo escolhido e guardião e patrono da Igreja; é certo que, por esse
fato, muitas cidades receberam o nome desse arcanjo! Ele é celebrado na liturgia
da Igreja Católica, no dia 29 de setembro.
Miguel é descrito como arcanjo, o anjo patrono e guardião do povo de Israel, que
lutou contra o diabo (Dn 10,13-21; 12,1; Jd 9). O Apocalipse o descreve de forma
plástica e maravilhosa:
Aconteceu então uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o dragão. O dragão batalhou
juntamente com os seus anjos, mas foi derrotado, e no céu não houve mais lugar para eles. Esse grande
dragão é a antiga serpente, é o chamado diabo ou Satanás. É aquele que seduz todos os habitantes da terra.
O dragão foi expulso para a terra, e os anjos do dragão foram expulsos com ele (12,7-9).
No meio do capítulo 12, João escreve: “Por isso, faça festa, ó céu. Alegrem-se os
que aí vivem. Mas ai da terra e do mar, porque o diabo desceu para o meio de vocês.
Ele está cheio de grande furor, sabendo que lhe resta pouco tempo” (v.12).
No final do livro, em orações, o leitor encontrará o terço de São Miguel.
O livro de Enoque, apócrifo, dá o nome de sete arcanjos, a saber: Uriel, Rafael,
Raquel, Saracael, Miguel, Gabriel e Remiel. Segundo é dito ali, a cada um deles Deus
entregou uma província sobre a qual reinar. Os livros apócrifos não são considerados
inspirados pelo Espírito Santo e, por isso, não são aceitos pela Igreja cristã em geral.
O arcanjo Rafael é citado no livro de Tobias, que, infelizmente, não consta na Bíblia
protestante. O jovem Tobias é guiado em sua missão por seu pai, Tobit.
Enfim, a Igreja Católica considera esses três arcanjos poderosos intercessores dos
eleitos ao trono do Altíssimo. Durante as atribulações do cotidiano, eles costumam
nos aconselhar e auxiliar, além, é claro, de levar nossas orações ao Senhor, trazendo
as mensagens da Providência Divina.
B. O serafim
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Os serafins são uma categoria bem superior de anjos. No hebraico, serafim
significa “queimando, furioso” ou “exaltado, alto”. Eles ardem, em sua imensa
dedicação ao Senhor. Essa devoção fervorosa a Deus pode ter sido resultado da
elevada e exaltada posição no Trono. Isaías é o único escritor bíblico que menciona
essas criaturas fantásticas.
Eles são os adoradores supremos do divino trono de Deus. Estão eternamente em
sua presença em adoração. É o que veremos abaixo.
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as asas de suas
vestes enchiam o trono. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o
rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam e clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo,
Santo é o Senhor dos Exércitos, toda a terra está cheia de sua glória (Isaías 6,1-3).
Serafins eram entes celestiais que estavam em volta do trono de Deus, na visão de
Isaías. Tendo o profeta confessado ser homem de lábios impuros, um dos serafins
voou para ele levando na mão uma colher contendo uma brasa viva, que havia
tomado do altar com uma tenaz, e tocou com ela na boca do profeta, dizendo: “Eis,
aqui tocou esta brasa os teus lábios, e será tirada a tua iniquidade, e lavado será o teu
pecado” (v. 6).
A função do arcanjo serafim foi preparar o profeta para a missão. Feito isso, ouve-
se uma voz: “A quem enviarei” (...?). A única saída de Isaías foi dizer: “Aqui
estou...” (v. 8).
A Escritura nada mais diz a respeito dos serafins, senão o que contém essa
passagem. Quem eram eles? Os serafins eram uma ordem superior de anjos, segundo
o entendimento dos judeus. O cuidado que se tem é de não ficarmos focando as
lendas que envolvem esses seres espirituais próprios dos livros apócrifos e
pseudoepígrafos (H.Fries).
Diz-se que os serafins supervisionam o louvor a Deus. Eles proclamam sua
santidade. Podemos ser alçados até o lugar do trono de Deus, louvando e exaltando
sua santidade em nossa vida. Segundo a visão do profeta, eles são agentes de
purificação pelo fogo, têm forma humana, apesar de possuírem seis asas (cf. Is 6,1-7).
Entende-se que sejam os mais velhos e responsáveis pelo culto divino, quer no
céu, quer na terra. A liturgia celeste é por eles supervisionada, e a terrena tem seu
intento e ilustrada proteção.
São os responsáveis pela orquestra divina de exaltação, louvor e adoração.
São os maestros da divina orquestra que adora o Eterno Deus; são os regentes do
coral da orquestra divina a serviço do Todo-Poderoso, o Altíssimo Deus; são os
responsáveis pelo coro angelical de adoração ao Único e Imortal Deus; são os
responsáveis por fazer resplandecer a glória do Altíssimo.
Dessas reflexões, poderíamos retirar um ensinamento para as nossas equipes de
liturgia que, em alguns casos, estão mais para o show e o exibicionismo que para o
louvor e adoração. Além dos desentendimentos entre alguns grupos que, inclusive, se
autodenominam “ministério” de música.
O mesmo se poderia pensar dos atuais cantores gospel (padres, leigos, crentes) que
23
se exibem para vender seus produtos em nome do Evangelho, agindo de forma
desavergonhada ao vender suas músicas, tidas como inspiradas por Deus. O louvor
virou um produto rentável. Só se “evangeliza” com altos cachês... E, infelizmente, há
os pontos de venda: rádio, jornal, igrejas, livrarias, porta a porta e televisão. Tudo em
nome da evangelização.
C. O querubim
Nome do guardião que o Senhor pôs à entrada do Éden para impedir que nossos
primeiros pais se aproximassem da árvore da vida, depois de serem expulsos do
paraíso (cf. Gn 3,24). Os querubins estão associados à santidade e a Deus; daí a sua
importância em lugares estratégicos quando surgem nas Escrituras. Eles representam
o governo justo de Deus e são executores das ordens divinas.
Quando se construiu a Arca para o Tabernáculo, foram talhados dois querubins,
feitos de puro ouro, e colocados sobre a arca, com as faces voltadas um para o outro,
cobrindo-a com as asas estendidas (cf. Ex 25,18-20; 37,7-9). Informando: a arca é
coberta com uma bandeja para receber o sangue da expiação e ladeada por dois
querubins.
A primeira menção a uma ordem de anjos referiu-se à dos querubins. Vemo-os
guardando a entrada no Jardim do Éden, após a expulsão de Adão e Eva. “E, expulso
o homem, colocou querubins ao oriente do Jardim do Éden, e o refulgir de uma
espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3,24).
Completando a informação acima, a outra referência aos querubins e a descrição
destes acontece no relato da decoração do Tabernáculo. “Farás dois querubins de
ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório; os querubins
estenderão as suas asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; estarão eles de
faces voltadas uma para a outra, olhando para o propiciatório” (Ex 25,18-20).
Nem todos os anjos têm asas, mas os querubins – assim diz a palavra – as têm, e
elas cobrem o propiciatório. Eles parecem estar intimamente ligados à presença de
Deus e nossa redenção. Ezequiel os menciona no capítulo 10, bem como João, no
livro do Apocalipse, capítulo 4, chamando-os de “criaturas vivas”.
Esses querubins sustentavam o trono de Javé (cf. Ez 1,26-28; 9,3). Aqui o profeta
Ezequiel dá uma longa descrição da presença dos querubins.
Finalmente, o apóstolo João descreve, no Apocalipse, quatro animais com rostos
semelhantes aos já descritos (Ap 4,6-9). Em toda a Bíblia, os querubins são
apresentados como seres, entes animados, com a inteligência de homem, com a força
do boi, com a coragem do leão e com movimentos livres como a águia para dominar
o espaço. Eles representam uma ordem de anjos.
Os querubins foram retratados pelos pintores como anjinhos gorduchos com
asinhas transparentes às costas, nus e risonhos. Muito próprio da cultura renascentista
e para a nossa cultura barroca mineira, como os de Aleijadinho e outros do Brasil
colonial presentes nos altares de tantas igrejas históricas do interior de Minas Gerais.
Nas esculturas e mesmo nas pinturas sempre estão aos pés de Maria em atitude de
olhar complacente e amoroso.
24
Enfim, muitos apelam ao Salmo 91 (90) para se sentirem protegidos e amparados
por Deus. Esse salmo é uma meditação sobre a proteção divina àqueles que são fieis à
sua Palavra e ao plano divino (não foi escrito para toda e qualquer pessoa!
Certamente as pessoas têm dificuldade de entender isso). Assim reza o salmo:
“1Você que habita ao amparo do Altíssimo, e vive à sombra do Onipotente, 2diga a Javé: Meu refúgio,
minha fortaleza, meu Deus, eu confio em ti!
3Ele livrará você do laço do caçador, e da peste destruidora.
4Ele o cobrirá com suas penas, e debaixo de suas asas você se refugiará. O braço dele é escudo e
armadura.
5Você não temerá o terror da noite, nem a flecha que voa de dia, 6nem a epidemia que caminha nas
trevas, nem a peste que devasta ao meio-dia.
7Caiam mil ao seu lado e dez mil à sua direita, a você nada atingirá.
8Basta que você olhe com seus próprios olhos, para ver o salário dos injustos, 9porque você fez de Javé o
seu refúgio e tomou o Altíssimo como defensor.
10A desgraça jamais o atingirá, e praga nenhuma vai chegar à sua tenda, 11pois ele ordenou aos seus
anjos que guardem você em seus caminhos.
12Eles o levarão nas mãos, para que seu pé não tropece numa pedra.
13Você caminhará sobre cobras e víboras, e pisará leões e dragões.
14Eu o livrarei, porque a mim se apegou. Eu o protegerei, pois conhece o meu nome. Ele me invocará, e
eu responderei.
15Na angústia, estarei com ele. Eu o livrarei e glorificarei.
16Vou saciá-lo de longos dias e lhe farei ver a minha salvação.
Todos desejam ser protegidos por Deus, embora não tenham feito nada para que
isso aconteça. Enfim, vale a exortação do salmista.
5.2. A função dos anjos
Há aproximadamente – dependendo da tradução da Bíblia – 300 referências
bíblicas sobre anjos. O Novo Testamento traz mais de 120 referências no singular e
85 no plural. São criaturas de Deus que municiam a favor daqueles que são salvos:
“Não são todos eles espíritos encarregados para um serviço, enviados para servir
àqueles que deverão herdar a salvação?” (Hb 1,14). São agentes espirituais que nos
mantêm na ordem e segurança.
Os anjos executam muitas atividades na terra, cumprindo as ordens de Deus a
nosso favor. A seguir, estudaremos algumas referências bíblicas sobre o trabalho
sobrenatural que esses agentes celestiais realizam:
• Tiveram importante participação no Monte Sinai por ocasião da entrega da lei a
Moisés (cf. At 7,38; Gl 3,19 e Hb 2,2);
• Orientaram José e Maria na fuga para o Egito (cf. Mt 2,13: “Depois que os
magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse:
‘Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te
avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo’”);
• Regozijam-se por um só pecador que se arrepende (Lc 15,10);
25
• Observam o comportamento dos cristãos, quando celebram a liturgia (cf. 1Cor
11,10; Ef 3,10 e 1Tm 5,21: “Eu te peço com insistência, diante de Deus e do
Cristo Jesus e dos anjos eleitos, que observes estas normas, sem nenhuma
prevenção, nada fazendo por parcialidade”);
• São portadores da mensagem de Deus ao seu povo (cf. Zc 1,14-17 e At 10,1-8);
• são instrutores, trazendo orientações a mandado do Senhor aparecendo em sonho
a José (depois que os magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a
José e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica
lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo” (Mt
2,13 ) e (cf. Mt 2,19-20; Zc 1,9);
• agem por ordem de Deus em resposta às nossas orações (cf. Dn 9,21-23; At
10,4);
• confortam os que estão enfrentando problemas (cf. Gn 16,6-12; At 27,23-24:
“Esta noite apareceu-me um anjo do Senhor aoqual pertenço e a quem adoro. O
anjo me disse: ‘Não tenhas medo, Paulo. Deves comparecer diante de César, e
Deus concede a ti a vida de todos os teus companheiros de viagem’”).
Assim como os anjos assistiram Jesus na tentação e nos angustiosos momentos
vividos no Getsêmani (cf. Mt 4,11; Lc 22,43; Lc 23,4-6), eles protegem os que
temem ao Senhor (cf. Sl 34,7; Sl 91,11; At 12,7-10).
São auxiliadores/colaboradores: removeram a pedra do sepulcro, afastando um
problema que as mulheres teriam de enfrentar. Compare Mc 16,3 com Mt 28,2:
• Alegram-se com as obras de Deus (Lc 15,10; Jó 38,7);
• Executam a vontade de Deus (2Sm 24,16);
• São mensageiros de Deus aos homens (Gn 22,11; Gn 8,12; At 1,10);
• Protegem e livram os fiéis (1Rs 19,5-7; Dn 6,22; Sl 4,7);
• Auxiliam na morte (Lc 16,22);
• Realizam ações físicas (Mt 28,2);
• Realizam ações psicológicas (Lc 22,43);
• Virão com Cristo na segunda vinda (Mt 25,31).
É certo, todavia, que não acreditamos que eles sejam nossos substitutos nos
momentos de dificuldade que surgem na vida, embora alguns acreditem nisso. Somos
monitorados pela sua presença, mas não de forma mágica e inequívoca. Os anjos são
nossos assistentes, sim, mas de forma a obedecer a uma hierarquia divina: Jesus em
primeiro lugar.
O comportamento cristão em crer nos anjos está sujeito à pessoa de Jesus Cristo
como insubstituível. Apelamos à Igreja através da bimilenar tradição. O cristão
movido pela graça divina tem os anjos como companheiros inseparáveis na
caminhada rumo ao destino definitivo.
Infelizmente, sou da opinião de que a maioria das pessoas acredita nos anjos no
sentido reparador, protetor e alienante da vida cristã. É uma espécie de substituto em
relação à sua fraqueza emocional, social, política e religiosa. Parece-me que os anjos
nada acrescentam à caminhada de fé, que apenas sejam um suplemento espiritual;
algo mágico, acredita-se na sua inequívoca ação. Como nos lembra o teólogo C.
Westermann: “o anjo de Deus não precisa de asas”.
26
É o tema que segue...
6. Anjos da guarda
Seguindo a trilha de um antigo teólogo, B. Hartmann pergunta-se: “Que relação
tem os anjos com o mundo? A esse respeito, nada foi revelado”, afirma
enfaticamente; “somente é certo que alguns anjos foram postos junto aos homens para
protegê-los e assistir, o que é considerado na carta aos Hebreus como uma verdade
corrente” [“Não são todos eles espíritos encarregados para um serviço, enviados para
servir àqueles que deverão herdar a salvação?” – 1,14].
Hebreus 1,5-14 é um texto emblemático e está na referência a Cristo. O escritor da
Carta aos Hebreus nos diz que Deus indicou anjos para municiar os herdeiros da
salvação. O teólogo M. Shmaus completa a reflexão: “No tempo da salvação que
medeia entre a ressurreição e a segunda vinda de Cristo, os anjos, obedecendo às
disposições divinas, prestam auxílio e atenção à Igreja, a toda a humanidade e ao
indivíduo ordenado a Cristo. Não se pode exagerar nem subestimar esta operação dos
anjos”.
Em particular, a Escritura atribui ao ministério dos anjos os seguintes deveres:
transmite aos homens as instruções divinas e, inversamente, transmite a Deus as
orações dos homens (cf. Tb 12,12, Zc 1,12); protege os homens (cf. Gn 24,7; 48,16;
Ex 23,20; Tb 5,27; Jd 13,20); os anjos servidores (cf. Ex 14,19; Sl 91,11; Dn 6,22; At
12,7; 27,23).
Como é possível observar, não demos um destaque (nº 5 – trabalho dos anjos) ao
“anjo da guarda” como se este fosse diferente de arcanjo. Ambos são iguais; apenas a
missão é distinta. Se o destacássemos, ficaria entendido que teríamos cinco
nomenclaturas para anjos: querubim, serafim, arcanjo, anjo da guarda e anjo
propriamente dito.
Você é herdeiro da salvação? Está na guarita da fé? Então você tem anjos
especiais para você. Isso é o que afirma a Tradição da Igreja; o que foi registrado
pelos séculos afora não desejamos descartar, apenas ficar com uma reflexão para que
a pessoa não exagere naquilo em que se costuma crer. Existem muitas coisas que são
ditas pelas pessoas, mas não fazem parte da tradição cristã da Igreja.
A maioria das crenças sobre os anjos é proveniente de lendas e fábulas bem
montadas para iludir o leitor, fazendo-o crer naquilo que as Escrituras não afirmam.
A maioria das ideias sobre os anjos provém de textos apócrifos e pseudoepígrafes de
autores populares no período judaico e cristão tardio. Para citar alguns: Enoque
Etíope e o Eslavo, Apocalipse Siríaco de Baruque, livro de Enoque e dos Jubileus e
centenas de outros.
O catecismo da Igreja apenas diz: “Desde o início até a morte, a vida humana é
cercada por sua proteção e por sua intercessão. ‘Cada fiel é ladeado por um anjo
como protetor e pastor para conduzi-lo à vida’. Ainda aqui na terra, a vida cristã
participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em
Deus” (CIC, § 336).
Os anjos da guarda nos provam como Deus nos ama, e como está sempre fazendo
27
tudo para atender às nossas necessidades, preparando-nos e assistindo-nos em todas
as situações e circunstâncias. Essa é a esplendorosa mágica do amor comunicacional
de Deus. Certamente entende-se, também, que deve existir uma recíproca!
Pergunta-se com curiosidade: esses anjos ficam apenas observando o que
acontece? Não! Seriam uma espécie de vigia? Necessitamos de muita cautela ao
afirmar ou negar tal pensamento. Eles são enviados para ministrar-nos. O Salmo 34
nos revela uma das coisas que fazem em nosso beneficio: “O anjo do Senhor acampa-
se ao redor dos que o temem e os livra” (Salmo 34,7). Os esotéricos e místicos, em
geral, afirmam que nós os temos desde o ventre materno e de forma plasmada, isto é,
como forçando sua atuação em nossas vidas. “Um importante aspecto a ser
considerado é o dia da semana e o horário em que invocamos os anjos, pois cada um
tem dia e hora específicos em que se encontram mais próximos de nós em nosso
plano terreno. Isso facilita e fortalece a conexão com o anjo”.
O que os anjos fazem? Eles nos livram sempre que necessário. Também aqui
devemos ter cautela na afirmação. Aqueles que creem piamente poderão se
escandalizar e perder o pouco de fé que têm nos anjos. O Salmo 91,11 revela que é
sua missão proteger-nos em todos os momentos. Sua tarefa é cuidar de nós e dar-nos
proteção e guarida.
Pensemos: esse procedimento é válido também para os que não acreditam em
Deus e, menos ainda, nos anjos? Os descrentes também possuem seus anjos da
guarda? A crença nos anjos não é uma crença privada e reservada aos crentes? Aqui
está o nó da questão!
Os Israelitas tinham seu anjo da guarda. Foi ele quem os ajudou a entrar na terra
prometida. Deus disse que lutaria: “Enviarei um anjo diante de ti, lançarei fora os
Cananeus, e os Amorreus, e os Heteus e os Ferezeus, e os Heveus e os Jebuzeus” (Ex
33,2). De fato, esse texto é pequeno, porém eloquente demais.
Quando obedecemos a Deus, os anjos lutam por nós. Não gosto da figura que
deles pintam: cabelos louros, longos e harpa nas mãos. Não acredito que todos
carreguem harpa. Certamente, isso faz parte do folclore popular; os anjos exercem
fascínio no imaginário popular. Além da questão cultural e do gênio de artistas que se
esmeraram nessa arte. Poderíamos conferir: Rembrandt, Michelangelo (Capela
Sistina), Guido de Pietro (Fra Angelico), Sandro Botticeli, Edouard Manet, Rafael,
Aleijadinho e tantos outros que se aprimoraram nessa arte nos períodos renascentista
e barroco.
O que penso é que os anjos se mantêm sempre ocupados, protegendo-nos e
guardando-nos. Caso peculiar são os anjos de Rafael no quadro A Madona, onde eles
aparecem como que brincando ou se divertindo com a cena de Maria com o menino
Jesus no colo. Um atento, e outro, como uma verdadeira criança, nem se preocupando
com o fato. Absorto em seus questionamentos, talvez.
Você já leu, com atenção, a viagem de Paulo a Roma? Em certo momento, parecia
que o navio ia afundar (At 27). Contudo, um anjo veio e garantiu ao Apóstolo que
nenhuma vida se perderia naquela tempestade. De onde surgiu? Era o anjo da guarda
de Paulo. O anjo da guarda estavapresente ali, porquanto Paulo se encontrava no
navio, e todos se beneficiaram com a sua presença.
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Para completar a reflexão, poderíamos transcrever outras cenas/acontecimentos,
como a de São João Bosco (1815-1888) ou a de Fátima, em Portugal. Dentre tantas as
histórias reconhecidas e outras não, vamos nos valer da aparição do anjo da guarda a
santa Gema Galgani (1878-1903).
Desde que santa Gema Galgani nasceu, viu aparições do seu anjo da guarda antes
das aparições de Jesus e Nossa Senhora. Um dia, santa Gema saiu com um belo
relógio de ouro. Quando voltou e começou a tirá-lo, viu seu anjo da guarda, que disse
muito seriamente: “Lembre-se de que os enfeites da noiva de Cristo são apenas os
espinhos e a cruz”.
Seu anjo da guarda disse também: “Jesus te ama muito. Ama-o também. Gostas da
Mãe de Jesus? Saúda-a muitas vezes. Pois ela valoriza muito essa atenção e
infalivelmente retorna essas saudações oferecidas a ela. E se não sentires isso, sabe
que ela faz uma prova de tua inabalável confiança”.
Gema perguntou ao anjo por que tinha de ficar doente. Ele respondeu: “Se Jesus
aflige o teu corpo, é sempre para purificar a tua alma. Sê boa”.
Um dia, estavam falando mal de uma pessoa na casa. Gema também queria falar,
mas o anjo lhe deu uma repreensão severa: “Se não fores boa, não vou te deixar me
ver mais”.
Certo dia, o anjo disse a ela na igreja: “É desse jeito que ficas na presença de
Deus?”. E ela conta: “Meu anjo é um pouco severo, mas estou contente com isso.
Durante os últimos dias, ele me corrigiu muito frequentemente, umas três ou quatro
vezes por dia”.
Doutra feita, Gema cometeu um erro, e o anjo lhe disse: “Não tens vergonha de
cometer essas falhas na minha presença?”.
Outro dia, seu anjo da guarda a olhou e disse: “Pobre menina... Como és
imperfeita! Como precisas dos outros para manter uma constante vigilância sobre ti!
Quanta paciência eu devo ter contigo!”.
Um dia, Gema se deitou, e o anjo colocou a mão em sua cabeça, dizendo: “Dorme,
minha pobre criança...”.
Seu anjo da guarda falou sobre as agonias de Cristo: “Olha para o que Jesus sofreu
pelo homem. Considera uma por uma dessas chagas. É o amor que abriu todas. Veja
quanto o pecado é terrível, já que, para expiá-lo, tanta dor e tanto amor foram
necessários”.
O anjo também aconselhou:
Lembra-te de que aquele que verdadeiramente ama Jesus, fala pouco e suporta muito. Eu te ordeno, em
nome de Jesus, nunca dê a tua opinião a menos que ela seja pedida. Nunca insista em tua opinião, mas fica
em silêncio imediatamente. Quando tiveres cometido algum erro, acusa a ti mesma dele imediatamente
sem esperar que outros o façam. Lembra-te de guardar os teus olhos. Considera que os olhos mortificados
possuirão as belezas do Céu.
Certamente, santa Gema era dotada de uma extraordinária espiritualidade mística;
protegida pelo seu santo anjo da guarda, é conhecida como a “mocinha da graça”.
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1 E. SPOHR, A Batalha do Apocalipse. Da Queda dos Anjos ao Crepúsculo do Mundo, Verus. “Há muitos
e muitos anos, tantos quanto o número de estrelas no céu, o paraíso celeste foi palco de um terrível levante.
Um grupo de anjos guerreiros, amantes da justiça e da liberdade, desafiou a tirania dos poderosos arcanjos,
levantando armas contra seus opressores. Expulsos, os renegados foram forçados ao exílio e condenados a
vagar pelo mundo dos homens até o Dia do Juízo Final” (da sinopse).
2 O texto acima é do site do Vaticano (1992). Certamente um pouco diferente da tradução CIC Brasil –
Edição típica Vaticana – publicada pelas editoras Vozes e Loyola com a aprovação da Santa Sé. O texto que
tenho em mãos para conferir é do ano de 1999. Pode-se conferir a segunda edição de 1993, anterior, na qual as
editoras se comprometeram a rever a tradução da edição francesa.
3 “Nossa Senhora Desatadora dos Nós é uma devoção que surgiu em 1700, na cidade de Augsburgo, na
Alemanha. Um pintor desconhecido pintou a Virgem Maria inspirado na meditação feita por santo Irineu,
bispo de Lyon e mártir no ano 202, que, à luz do paralelismo escrito por são Paulo sobre Adão/Cristo, criou o
de Eva/Maria, dizendo: ‘Eva, por sua desobediência, atou o nó da desgraça para o gênero humano; ao
contrário, Maria, por sua obediência, o desatou!’ Esse quadro foi então colocado na pequena igreja de são
Peter am Perlach em Augsburgo e ali está até hoje, nessa igreja, cuidada pelos jesuítas locais. Ali foi onde
tudo começou, fonte dessa fé. A devoção a Maria Desatadora dos Nós, então, como vocês podem ver, já existe
há 300 anos!” (cf. Santuário de Campinas– SP).
30
II.
ONDE BUSCAR O ENSINO SOBRE OS ANJOS
Os anjos estão sujeitos ao governo divino, e o importante papel que têm
desempenhado na história do homem torna-os merecedores de referência distinta e de
um estudo peculiar, pois, nas Escrituras, encontramos a maior referência e fonte de
afirmação em sua fé.
As Escrituras são a fonte da qual emana toda a reflexão e credibilidade sobre os
anjos. Nada além dela oferece toda a compreensão sobre esses seres espirituais.
Pensar e refletir sobre “seres espirituais” já desafia a nossa mente; imaginem pensar
em anjos que povoam as nossas relações! Daí o devido cuidado em não criarmos
anjos segundo nosso gosto e preferência.
Já temos dado – compreendendo e aceitando isso – os maiores passos para essa
afirmação de fé: os anjos existem! Há a curiosa sensação de se desejar entender como
são os anjos! Daí cairmos no vislumbre imediato e inventarmos anjos para todos os
dias e etapas da vida.
Apenas, aqui, para referenciar mais uma vez, a palavra portuguesa anjo possui
origem no latim angelus, que por sua vez deriva-se do grego angelos. No idioma
hebraico, temos malak. Seu significado básico é “mensageiro” (para designar a ideia
de ofício de mensageiro). O grego clássico emprega o termo angelos para o
mensageiro, o embaixador em assuntos humanos, que fala e age no lugar daquele que
o enviou.
No Antigo Testamento, ele aparece mais de cem vezes; no Novo Testamento,
quase duzentas. Isso já é suficiente para entender a sua importância para a doutrina
Bíblica na fé dos anjos.
Vamos, de forma resumida, provocar com esses textos da Bíblia:
• Que servem e louvam a Ele [Ne 9,6: “Javé, tu és o único Deus! Fizeste o céu e o
mais alto dos céus, e todos os seus exércitos. Fizeste a terra e o que ela contém.
Fizeste os mares e o que neles existe. Dás vida a tudo isso, e o exército do céu te
adora”] (cf. Jó 1,6);
• São espíritos que ensinam [1Rs 19,5-7: “Deitou-se debaixo da árvore e dormiu.
Então um anjo o tocou e lhe disse: ‘Levante-se e coma’. Elias abriu os olhos e
viu bem perto da cabeça um pão assado sobre pedras quentes, e uma jarra de
água. Comeu, bebeu e deitou-se outra vez. Mas o anjo de Javé o tocou de novo, e
lhe disse: ‘Levante-se e coma, pois o caminho é superior às suas forças’”];
• Obedecem à vontade de Deus [Sl 103,20: “Bendigam a Javé, anjos seus,
executores poderosos de suas ordens, obedientes ao som de sua palavra”];
• Executam os propósitos de Deus [Nm 22,22-23: “Ao ver Balaão partir, a ira de
Javé se inflamou, e o anjo de Javé parou na estrada para impedi-lo de passar.
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Balaão estava montado na sua jumenta e seus dois servos o acompanhavam. A
jumenta viu o anjo de Javé parado na estrada e com a espada desembainhada na
mão. Então, desviou-se da estrada e se dirigiu para o campo.”];
• Celebram os louvores de Deus [cf. Jó 38,7; Sl 148,2: “Louvem a Javé, todos os
anjos, louvem a ele seus exércitos todos!”];
• Servem e louvam a Cristo [Fl 2,9-11: “Por isso, Deus o exaltou grandemente, e
lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome...”];
• Transmitem a vontade de Cristo [cf. Mt 2,13.20; At 8,26: “Um anjo do Senhor
falou a Filipe, dizendo: ‘Prepare-se e vá para o sul, pelo caminho que desce de
Jerusalém para Gaza; é o caminho que se acha no deserto’. Filipe levantou-se e
foi”];
• Obedecem à vontade de Jesus [Mt 6,10: “Venha o teu reino; seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu”];
• Executam os seus propósitos [Mt 13,39-42: “O inimigo que semeou o joioé o
diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos...”];
• Celebram os louvores de Cristo [Lc 2,13-14: “De repente, juntou-se ao anjo uma
grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: ‘Glória a Deus
no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados’”].
Ali, os anjos estão vinculados a eventos especiais, tais como: o modo da
concepção de Cristo (Mt 1,20-21), seu nascimento (Lc 2,10-12), sua ressurreição (Mt
28,5.7) e sua ascensão e segunda vinda (At 1,11).
A reflexão sobre os anjos nos proporciona segurança e orientação. Devemos
caprichar nessa reflexão, pois alguns se aventuram a escrever e refletir sobre os anjos
de forma bastante personalista e distinta da Palavra de Deus. Se pudéssemos dizer,
poderíamos afirmar que os anjos não são propriedade de todos no sentido genérico da
palavra. Seu assento está nas Escrituras, e para elas devemos voltar a nossa atenção.
No entanto, alguns místicos têm se apropriado desse tema com bastante maestria e
sucesso, embora sem o fundamento das Escrituras. Na religião cristã, acredita-se que
eles possam escolher entre o bem e o mal, daí existirem anjos bons e anjos caídos
(anjos maus). Baseado nas tradições do judaísmo e do cristianismo, o Islã
desenvolveu sua própria hierarquia angelical. Muitos de seus anjos, como os arcanjos
Miguel, Rafael e Gabriel, têm clara inspiração judaica e cristã.
32
III.
COMO OS ANJOS APARECEM NA BÍBLIA
M. Schamaus assegura que “a Sagrada Escritura não afirma explicitamente a
criação dos anjos. Contudo, estes aparecem na história da salvação como criaturas de
Deus, de modo particular como seus mensageiros e realizadores de sua vontade”.
Talvez seja este o desafio àqueles que desejam, a todo custo, uma prova plena de sua
existência.
Existem centenas de teorias sobre os anjos! Com certeza, o mundo da especulação
imaginativa é mais fértil e atrativo. Deixam admirados os que creem ou desejam crer,
todavia, repleto de incertezas “de fé”. Esse é um caminho que não tem fim. É um
constante recomeçar...
Os anjos foram criados em vista de Cristo, de modo que ele é o seu Senhor e sua
cabeça: “Ele é a imagem do Deus invisível, o Primogênito, anterior a qualquer
criatura; porque nele foram criadas todas as coisas, tanto as celestes como as
terrestres, as visíveis como as invisíveis: tronos, soberanias, principados e
autoridades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1,15-16).
São Paulo afirma que quem não tiver essa visão poderá significar um perigo, pois,
talvez, lhes conceda o posto que só por Cristo pode ser ocupado. Assim escreve:
“Tenho certeza de que nem a morte nem a vida, nem os anjos, nem os principados,
nem o presente nem o futuro, nem as potências, nem a altura, nem a profundeza nem
outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus, que está no Cristo
Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,38-39).
Por mais elevado que sejam os anjos, Cristo é superior a eles!
A Escritura fala dos anjos não para completar o nosso conhecimento sobre a
criação, mas por sua relação com o homem. “Neste ponto concreto, a Sagrada
Escritura é muito prudente” (Schmaus). Apesar disso, importa advertir que a teologia
medieval aproveitou o tratado sobre os anjos, que fazia parte da doutrina sobre a
criação, para resolver perguntas metafísicas e teóricas sobre essas criaturas
espirituais.
Santo Tomás de Aquino assim entende os anjos em vista do Cristo. São João da
Cruz entende os anjos na mesma perspectiva; aborda a teologia da redenção, da
humanidade resgatada, junto com os anjos. Na mesma trilha, segue outro teólogo:
Nicolau de Cusa.
Hildegarda de Bingen (Alemanha, 1098-1179), monja, ficou famosa por ter visões
espetaculares sobre a ação dos anjos. Os anjos desempenharam um importante papel
na experiência pessoal de Hildegarda. Soube situar os anjos no seu devido lugar e
escreveu: “O fogo original, a partir do qual os anjos ardem e vivem, é Deus em si
mesmo. Esse fogo é toda a glória da qual o mistério dos mistérios aparece. Os anjos
33
rodeiam Deus em seu fogo incandescente, pois eles são luz viva. Eles não têm asas
como os pássaros, mas ainda assim, são as chamas que pairam sobre o poder de
Deus”.
A ideia da atividade dos anjos, em relação aos homens, cresce no período pós-
exílico babilônico. É certo, todavia, que encontramos uma relação profunda da
influência com a cultura e o mundo babilônico, persa e outros.
Esse problema foi abordado por Pio XII em sua encíclica Divino Afflante Spiritu
(30 de setembro de 1943). Seria ingênuo admitir as aparições de anjos no Antigo
Testamento como simples miragens míticas ou simples símbolo da operação divina.
Em muitos textos do Antigo Testamento há uma relação estreita entre a ação do
“anjo do Senhor” com a ação do próprio Deus. Isso não fica claro no Antigo
Testamento, mas sim no Novo Testamento, com a ação de Cristo.
Somos todos chamados a exercer o profetismo, mas não devemos ficar esperando
uma “grande” revelação para que isso aconteça (cf. o texto de Ezequiel 1,4-13. O
texto é belo, porém longo e merece uma leitura atenta da profecia). Aqui é o próprio
Deus quem se manifesta, e não o mundo angélico. O texto poderá ser comparado ao
do Apocalipse 4,7.
No Antigo Testamento, os anjos são vistos em sua:
• Missão de mensageiros: “Ao anoitecer, os dois anjos chegaram a Sodoma. Ló
estava sentado à porta da cidade e, ao vê-los, levantou-se para os receber e
prostrou-se com o rosto por terra” (Gn 19,1);
• Por sua figura humana: “Levantando os olhos, Abraão viu na sua frente três
homens de pé. Ao vê-los, correu da entrada da tenda ao encontro deles e se
prostrou por terra, dizendo: ‘Senhor, se alcancei o seu favor, não passe junto ao
seu servo sem fazer uma parada’” (Gn 18,2-3);
• Príncipe dos exércitos celestes: “Ele respondeu: ‘Eu sou chefe do exército de
Javé, e acabo de chegar’. Então Josué prostrou-se com o rosto por terra e o
adorou” (Js 5,14).
No período pós-exílico, a literatura bíblica e os apócrifos dão aos anjos o título de
“filhos de Deus”, como é notório em Jó 1,6-12 e 2,1-7. Executam os serviços que
Deus lhes confia tanto em cada homem quanto na totalidade do povo (1Cr 21,14s) e,
por fim, mencionam-se nomes particulares: Rafael, Miguel e Gabriel (em diversos
livros).
A. Os anjos no Antigo Testamento
Devido à extensão dos escritos, em alguns vamos transcrever diretamente do texto
bíblico; os demais serão apenas indicados (outros já foram apontados nas páginas
anteriores) para que o leitor, se desejar, possa fazer a leitura e tirar as suas
conclusões.
• Um anjo socorreu Hagar (Gn 16,7-12: “Um anjo do Senhor encontrou-a junto à
fonte do deserto, no caminho de Sur, e disse-lhe: ‘Agar, escrava de Sarai, de
onde vens e para onde vais?’. Ela respondeu: ‘Estou fugindo de Sarai, minha
senhora’. E o anjo do Senhor lhe disse: ‘Volta para tua senhora e põe-te sob as
34
suas ordens’. E o anjo do Senhor acrescentou: ‘Multiplicarei a tua descendência
de tal forma que ninguém a poderá contar’.
Por fim o anjo do Senhor disse: ‘Olha, estás grávida, darás à luz um filho e o
chamarás Ismael, porque na tua aflição o Senhor te escutou. Ele será semelhante
a um jumento selvagem, sua mão estará contra todos, e a mão de todos contra
ele. Ele habitará separado de todos os seus irmãos’”).
Outros textos que se completam:
• Anjos anunciaram o nascimento de Isaque (Gn 18-15);
• E a destruição de Sodoma (Gn 18,16-33);
• Anjos destruíram Sodoma e salvaram Ló (Gn 19,
1-19);
• Um anjo impediu a morte de Isaque (Gn 22,11-12: “Mas o anjo do Senhor
gritou-lhe do céu: ‘Abraão! Abraão!’. Ele respondeu: ‘Aqui estou!’. E o anjo
disse: ‘Não estendas a mão contra o menino e não lhe faças mal algum. Agora
sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu único filho’”;
• Anjos guardaram Jacó (Gn 28,12; 31,1; 32; 48,16);
• Um anjo deu suporte a Moisés para redimir Israel (Ex 3,2: “Apareceu-lhe o anjo
do Senhor numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés notou que a sarça
estava em chamas, mas não se consumia”);
• Um anjo guiou Israel no deserto (Ex 14,19;23,20-23; 32,34);
• Um anjo dirigiu os esponsais (contrato de noivado) de Isaque e Rebeca (Gn 24,7:
“O Senhor, Deus do céu, tirou-me da casa de meu pai e de minha terra natal e me
jurou: ‘À tua descendência darei esta terra’. Ele mesmo enviará seu anjo diante
de ti e tu vais trazer de lá uma mulher para meu filho”);
• A Lei foi dada por anjos (Hb 2,2: “Pois se a palavra transmitida por meio de
anjos se mostrou válida, e toda transgressão e desobediência receberam sua justa
paga...”; e cf. At 7,38-53; Gl 3,19);
• Um anjo repreendeu Balaão (Nm 22,31-35);
• Um “príncipe do exército do Senhor” apareceu a Josué (Js 5,13-15);
• Um anjo repreendeu os israelitas por sua idolatria (Jz 2,1-5: “O anjo do Senhor
subiu de Guilgal a Boquim, e disse: ‘Eu vos tirei do Egito e vos introduzi na
terra que jurei dar a vossos pais, e vos prometi não romper nunca minha aliança,
que eu fiz convosco com a condição de não fazerdes aliança com os habitantes
desta terra, mas destruirdes seus altares. Vós, porém, não quisestes ouvir a minha
voz. Por que essa desobediência? Por isso, eu vos digo: não expulsarei esses
povos da vossa presença, eles serão vossos adversários e seus deuses serão vossa
ruína”. Quando o anjo do Senhor acabou de censurar assim a todos os israelitas,
estes puseram-se a chorar em alta voz...”);
• Um anjo assistiu Gideão a livrar Israel (Jz 6,11-40);
• Um anjo anunciou o nascimento de Sansão (Jz 13);
• Um anjo feriu o exército assírio (2Rs 19,35; Is 37,36);
• Um anjo acudiu Elias quando este fugia de Jezabel (1Rs 19,5-8: “E, deitando-se
no chão, adormeceu à sombra do junípero. De repente, um anjo tocou-o e disse:
‘Levanta-te e come!’. Ele abriu os olhos e viu junto à sua cabeça um pão assado
na pedra e um jarro de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. Mas o anjo do
35
Senhor veio pela segunda vez, tocou-o e disse: ‘Levanta-te e come! Ainda tens
um caminho longo a percorrer’. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força
desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o
monte de Deus”) – esse é um texto muito belo e edificante;
• Eliseu esteve cercado de anjos invisíveis (2Rs 6,14-17);
• Um anjo livrou Daniel dos leões (Dn 6,22-23: “Daniel falou: ‘Viva o rei para
sempre!’ Meu Deus mandou seu anjo para fechar as bocas dos leões e eles não
me incomodaram, pois fui considera do inocente diante de Deus da mesma
forma como também contra ti, ó Rei, nenhum crime cometi”);
• Anjos acamparam-se em redor do povo de Deus (Sl 34,7; 91,11);
• Anjos ajudaram Zacarias a escrever (Zc 1,8-9: “Tive uma visão à noite. Era um
homem montando um cavalo vermelho, parado num lugar escuro no meio de
murtas que estavam no fundo. Atrás deles estavam cavalos vermelhos, alazões e
brancos. Perguntei: ‘Quem são eles, meu Senhor?’ E o anjo que falava comigo
respondeu: ‘Vou mostrar-te quem são eles’); cf. Zc 2,3; 4,5 etc.
B. Os anjos no Novo Testamento
O Novo Testamento apresenta os anjos como mensageiros celestiais. Eles
transmitem aos homens as incumbências divinas. São ordenados para isso.
Certamente, é bastante diferente da ação dos anjos no Antigo Testamento. Quando
aparecem, apresentam-se com figura humana ou de jovem com brilhantes vestes
brancas.
Os anjos exercem uma crescente influência, pois a maioria das grandes
manifestações sobre a entrega daqueles mistérios da salvação é realizada através da
presença atuante do anjo do Senhor. De certa forma, eles têm uma presença cativante
que tem produzido o resultado que contemplamos atualmente.
Seria de bom tom afirmar que a maioria das contemplações e o que se pode
conhecer sobre os anjos é fruto das leituras que foram feitas através dos séculos,
tendo como referência o Novo Testamento.
As maravilhas veterotestamentárias não tiveram muita consistência nessa leitura.
De certa forma, parecem mais distantes da realidade do povo. Mesmo na dinâmica da
cultura, da pintura e dos escritos, a tendência foi se voltar às leituras do Novo
Testamento. Retirando-se as leituras avessas que se fizeram na Idade Média e alhures,
ficou impregnado certo misticismo e um esoterismo a todo risco.
Os anjos tiveram, no Antigo Testamento, presença marcante no período exílico
com a atuação dos profetas; depois da construção (ou reconstrução) do segundo
Templo, essa ação – narrada nas Escrituras – ficou deficiente ou reticente.
O teólogo e Rev. Augustus Nicodemus assim escreve: “Os cristãos não eram o
único grupo do primeiro século que acreditava na existência de anjos. A maioria das
seitas do judaísmo, berço do cristianismo, professava a crença nesses mensageiros
celestes, à exceção provável dos saduceus (At 23,8). O interesse dos judeus por anjos
havia crescido de forma notável durante o período intertestamentário, quando o
segundo templo foi construído, após o retorno do cativeiro babilônico. É provável que
36
esse aumento de interesse pelos anjos tenha ocorrido como resultado da ênfase nesse
período dada à ideia de que Deus havia se distanciado do seu povo, já que não havia
mais profetas. Na ausência de profetas, mensageiros oficiais de Deus ao seu povo,
surgiu a necessidade de outros mediadores da vontade divina. Os anjos vieram ocupar
esse espaço no judaísmo do segundo templo”.1
Se perguntarmos a qualquer pessoa, de cultura mediana ou popular, sobre os
anjos, as únicas referências e lembranças serão aquelas que envolvem personagens do
Novo Testamento, aliás por este ser mais lido e comentado.
No Novo Testamento, os anjos estão intimamente ligados à história da salvação:
anunciam a vinda de Cristo e o servem (cf. Mt 4,11); alegram-se pela conversão do
pecador (Lc 15,10); atuam no desenvolvimento da Igreja (cf. 1Cor 4,9; Ef 3,10);
oferecem a Deus as orações dos santos (cf. Ap 8,2-4); protegem os pequenos (cf. Mt
18,10); os apóstolos (cf. At 12,15); acompanham os justos, no momento da morte,
para Deus (cf. Lc 16,22); tomarão parte com Cristo no juízo final (cf. Mt 16,27;
13,39; 24,31; 25,31; 1Cor 15,52).
A presença e a atividade de anjos registrados nos evangelhos sinóticos (Mateus,
Marcos e Lucas) indicam invariavelmente a intervenção direta de Deus. Como
mensageiros fiéis de Deus, que têm acesso à presença divina (Lc 1,19; cf. 12,8; Mt
10,32; Lc 15,10), a visita ou a intervenção de um deles equivale a uma manifestação
divina. A encarnação e o nascimento de Jesus foram marcados pela presença de
anjos, indicando a participação direta de Deus no nascimento do Messias (Mt 1,20;
2,13-19; Lc 1,11; 1,26-38).
Embora os evangelhos não registrem quase nenhuma participação direta dos anjos
assistindo Jesus em seu ministério (o que poderia ter ocorrido, se Jesus quisesse, cf.
Mt 26,52), os anjos acompanharam o Senhor e se rejubilaram à medida que os
pecadores se arrependiam (Lc 15,10).
A maioria dos textos está relacionada a Jesus. Em geral, o nome que mais aparece
é Gabriel; Rafael, apenas no Antigo Testamento; e Miguel percorre todas as
Escrituras. Aqui, não estamos fazendo distinções sobre os anjos.
Como veremos nos modelos a seguir:
• Gabriel aparece a Maria (cf. Lc 1,26-38);
• Apareceu a José (Mt 1,20: “Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe
em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: ‘José, Filho de Davi, não tenhas
receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito
Santo’”);
• Anunciaram aos pastores (cf. Lc 2,8-15);
• Confortaram Cristo após a tentação (Mt 4,11: “Por fim, o diabo o deixou, e os
anjos se aproximaram para servi-lo”);
• Desciam e subiam sobre Ele (cf. Jo 1,51: “E Jesus continuou: ‘Eu lhes garanto:
vocês verão o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho
do Homem’”);
• Um anjo o confortou (cf. Lc 22,43: “Apareceu-lhe um anjo do céu, que o
confortava”);
• Um anjo rolou a pedra da tumba (cf. Mt 28,2: “De repente, houve um grande
37
tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a
pedra, e sentou-se nela”);
• Acompanharam na ascensão (cf. At 1,10-12: “Os apóstolos continuavam a olhar
para o céu, enquanto Jesus ia embora. Mas, de repente, dois homensvestidos de
branco apareceram a eles e disseram: ‘Homens da Galileia, por que vocês estão
aí parados, olhando para o céu? Esse Jesus que foi tirado de vocês e levado para
o céu virá do mesmo modo com que vocês o viram partir para o céu’”);
• Acompanharão na segunda vinda (cf. Mt 16,27: “Porque o Filho do Homem virá
na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo
com a própria conduta”).
Enfim, abaixo, segue um breve resumo de toda a manifestação dos anjos no Novo
Testamento.
Um anjo aparece três vezes em sonho a José (Mt 1,20; 2,13; 2,19).
O anjo Gabriel aparece a Zacarias, e depois a Maria, na anunciação (Lc 1). Um
anjo anuncia aos pastores o nascimento de Jesus, e é acompanhado por uma
“multidão do exército celeste”, louvando a Deus com música celestial (Lc 2,8).
Quando Jesus é tentado, e novamente durante a agonia no Getsêmani, anjos lhe
aparecem para fortalecer a sua alma (Mt 4,11; Lc 22,43). O versículo que diz que um
anjo desceu para agitar a piscina (João 5,4) é agora omitido como não sendo
verdadeiro. Nos textos mais importantes em manuscritologia bíblica, não aparece tal
episódio.
Um anjo desce para remover a pedra do túmulo de Jesus (Mt 28,2); os anjos são
vistos lá por algumas mulheres (Lc 24,23) e (dois) por Maria Madalena (João 20,12).
Um anjo liberta os apóstolos da prisão, dirige Filipe, aparece a Pedro em um
sonho, o liberta da prisão; fere Herodes; aparece a Paulo em um sonho (At 5,19; 8,26;
10,3; 12,7; 12,23; 27,23).
Uma vez que eles aparecem vestidos de branco, são tão deslumbrantes na
aparência a ponto de amedrontar os que os veem, por isso começam a sua mensagem
com as palavras “Não temais” (Mt 28,2-5).
1 Rev. Augustus Nicodemus Lopes, disponível em: <www.estudosgospel.com.br>. Um excelente estudo
sobre os anjos no Novo Testamento. Encontram-se poucos estudos bíblicos e teológicos do pensamento
protestante com assertiva e coerência no pensamento imparcial.
38
http://WWW.estudosgospel.com.br
IV.
A DOUTRINA SOBRE OS ANJOS
A doutrina sobre os anjos se chama angelogia ou angelologia (do grego angelos).
A falta desse estudo tem acarretado o surgimento de muitos ensinamentos – seitas,
heresias, doutrinas, ensinamentos, misticismo e esoterismo – adversos sobre os anjos.
Os anjos devem ter sido criados por Deus por volta do final do segundo dia da
criação (cf. Jó 38,1-11; Gn 6-10). Nada mais a dizer, pois os textos escriturísticos
nada nos revelam especificamente sobre isso ou além disso.
O estudo sobre os anjos tem sido banalizado nesses últimos séculos. Poucos têm
se interessado pelo tema, e, por vezes, aqueles que se interessaram não foram os
teólogos das cátedras. Na maioria das vezes, o tema ficou restrito aos pregadores
mais eufóricos e entusiasmados pelo assunto, que, por sinal, podiam render-lhe
alguns dividendos.
Com isso, o assunto acabou desembocando em temas adversos, como é o caso das
possessões demoníacas e outras manifestações eivadas de um paganismo ainda
atuante no seio das Igrejas (indistintamente). Os estudos cabalísticos também se
converteram em demanda melhorada da condução de alguns bruxos ou similares.
Bem poucos se aventuraram a relacionar os anjos à nova cosmologia, à física etc.
A maioria dos estudos sobre os anjos se voltou à especulação da mitologia, como
se o entendimento dos anjos se voltasse para essa esfera de reflexão. Ou, de forma
mais sarcástica, à escolástica. Mormente, esta tem especulado algumas trivialidades,
como a pergunta: Quantos anjos cabem na ponta de uma agulha? Um anjo poderia
estar em dois lugares ao mesmo tempo? Essas sutilezas terminaram por desinteressar
os teólogos sobre os estudos dos anjos.
Outros fatores, como é o caso do racionalismo, do misticismo, dos saduceus e do
espiritismo também fizeram desmerecer uma reflexão séria sobre os anjos.
A adoração dos demônios está na ordem das novidades religiosas dessas últimas
décadas. O espiritismo tem contribuído de forma assertiva sobre os anjos e de
maneira diferente daquela apresentada nos evangelhos.
O tão comentado filme “Anjos e Demônios”, baseado no livro de Dan Brown, tem
explorado o tema (personagens) dos anjos de forma a não contribuir com o
crescimento de seus leitores. É Hollywood espalhando desinformação!
Enfim, a Bíblia utiliza, em resumo, seis formas para apresentar os anjos:
• Filhos de Elohim (Deus) (Jó 1,6 e 2,1; Sl 29,1; 89,6);
• Santos (Sl 89,5-7);
• Vigias (Dn 4,13.7.23);
• Três Espíritos (Hb 1,14);
• Principados, poderes, tronos, dominações e autoridades (Cl 1,16; Rm 3,8; I Cor
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15,24; Ef 6, 12; Cl 2,15);
• Arcanjos (1Ts 4,16 e Jd 9).
Há algumas características que nos podem incomodar. Fiquemos atentos a esses
textos abaixo. Os anjos são seres pessoais dotados de:
• Inteligência – Dn 10,13-14: “Durante vinte e um dias o príncipe dos reis da
Pérsia me resistiu, porém Miguel, um dos príncipes supremos, veio em minha
ajuda. Eu o deixei lá enfrentando os reis da Pérsia, e vim explicar a você o que
acontecerá ao seu povo nos últimos dias, pois ainda existe para esses dias uma
visão”.
O texto deve ser lido no seu conjunto. Dn 10,1-11,1: a visão descreve a aparição
do anjo Gabriel, que transmite aos homens o que Deus quer revelar. Depois de dizer
que Deus se revela aos humildes, o anjo explica o motivo do seu atraso: estava
combatendo o anjo dos persas e tinha consigo Miguel, o anjo guardião de Israel. “O
conflito entre anjos é estranho para nós: conforme os antigos, cada povo era protegido
por um anjo, bom ou mau; quando as nações estavam em luta, os anjos também
lutavam entre si” (comentário da Bíblia Edição Pastoral).
• Emoções – Deus responde às interrogações de Jó. “Onde se encaixam suas bases,
ou quem foi que assentou sua pedra angular, enquanto os astros da manhã
aclamavam e todos os filhos de Deus aplaudiam?” (Jó 38,6-7).
• Vontade – Is 14,13-15: “Você pensava: ‘Vou subir até o céu, vou colocar meu
trono acima das estrelas de Deus; vou sentar-me na montanha da Assembleia, no
cume da montanha celeste. Subirei até as alturas das nuvens e me tornarei igual
ao Altíssimo’. E agora, aí está você precipitado na mansão dos mortos, nas
profundezas do abismo”.
• Não são oniscientes – Não lhes foi dado o poder do “adivinho” e, menos ainda,
de deduzir ao tempo final o seu destino. Mt 24,36: “Quanto a esse dia e essa
hora, ninguém sabe nada, nem os anjos do céu nem o Filho. Somente o Pai é
quem sabe”.
• Não são onipresentes – Dn 9,21-23: “[...] eu ainda estava fazendo a minha
súplica, quando Gabriel, o homem que eu tinha visto no começo da visão, veio
voando rápido para perto de mim. Era a hora em que se faz a oferta da tarde. Ele
chegou e falou comigo: ‘Daniel, eu vim dar-lhe uma explicação. Quando você
começou a sua súplica, foi pronunciada uma sentença e eu vim lhe contar,
porque você é querido. Preste atenção na mensagem e compreenda a visão’”.
• Não são onipotentes – Dn 10,13-14: “Durante vinte e um dias o príncipe dos reis
da Pérsia me resistiu, porém Miguel, um dos príncipes supremos, veio em minha
ajuda. Eu o deixei lá enfrentando os reis da Pérsia, e vim explicar a você o que
acontecerá ao seu povo nos últimos dias, pois ainda existe para esses dias uma
visão”.
Enfim, podemos terminar lembrando a função do arcanjo Gabriel (cf. Dn 8,15-27;
9,20-27; Lc 1,19-26). Foi encarregado de incumbências extraordinárias, para revelar
mistérios que se encontravam acima da compreensão humana.
Gabriel significa “Deus é forte”. Aparece como mensageiro da misericórdia e
promessas divinas. Além do anjo Gabriel, aparecem outros anjos nas Escrituras,
40
designados por Deus para tarefas específicas:
• Mensageiros do juízo (Gn 19,13; 2Rs 19,35);
• Com poder sobre o fogo (Ap 14,18);
• Com poder sobre as águas (Ap 16,5);
• Os sete anjos anunciadores de juízos (Ap 8,2);
• Anunciadores de nascimento de crianças (Gn 18,1-10; Jz 13,3).
41
V.
A TAREFA DOS ANJOS
Antes de tudo, é bom entender os anjos como auxiliares dos homens (homens e
mulheres adultos, crianças, jovens, idosos). Na maioria das vezes, o nosso
entendimentosobre os anjos caminha no sentido de que eles são apenas protetores
das crianças. Isso nos faz entender como a nossa concepção sobre os anjos e a sua
catequese está defasada.
Inclusive na iconografia não há um modelo de anjo protegendo um jovem ou um
ancião, por exemplo! Por aí caminha a nossa falta de compreensão a propósito da
tarefa dos anjos. O infantilismo a respeito da atuação dos anjos é um dos maiores
entraves para compreender a sua ação e tarefa.
Claus Westermann, exegeta do Antigo Testamento, da escola de Tubingüen, assim
descreve uma reflexão: “Se me perguntasse se já vi um anjo, não saberia o que
responder. Mas se a pergunta fosse ‘você já encontrou um mensageiro de Deus?’,
minha resposta seria sim incondicional. Em momentos particulares, Deus se aproxima
das pessoas de um modo tão próximo que se pode ouvir sua mensagem em palavras
humanas e sentir a mão que nos socorre como auxílio mandado pelo Senhor”.
Os anjos nos foram dados para nos proteger, isto é, são nossos guardiões e
defensores em segunda linha das bênçãos prometidas aos seus filhos; sendo que a
primeira é sermos filhos de Deus. Os anjos, todavia, não são objetos de nossa
salvação.
Na outra ponta da reflexão sobre os anjos estão os demônios. Eles formam uma
plêiade de criaturas espirituais, situados com diversos nomes e distinções. Os textos
bíblicos sobre essas criaturas são bastante sóbrios. Carregam uma série de nomes:
Azazel, Tilith, Belial, Malígno, Rahab. Na religiosidade popular, umbanda, literatura
de cordel, aparecem vários nomes: cão, canhoto, capa-verde, capeta, capiroto,
chifrudo, coisa-ruim, cramulhão, crinado, danado, demo, dos quintos, encardido,
espírito de porco, excomungado, ferra-brás, indesejado, sarnento, Satanás, sete-peles,
temba, tinhoso, tranca-rua, zarapelho etc.
Nesse quesito, em geral, as pessoas ficam perdidas e se confundem bastante; a
linguagem se torna imprescindível. Na maioria das vezes, essas ideias estão
misturadas às superstições, ao misticismo, ao espiritismo e a movimentos religiosos
sem formação teológica; sem contar, todavia, as inúmeras crônicas e histórias que
ouvimos sobre o diabo, Satanás etc.
Certamente, para o povo, faz pouca diferença; mas quando estamos tratando de
espiritualidade e de catequese, é muito bom que nos entendamos.
Quando o tema toca as pessoas – como é o caso da novela ou da dramaturgia –, a
relação da pessoa com “cara” de anjo se torna demônio pelo autor. Certamente, esse é
42
o fascínio que as novelas poderão exercer sobre seus ouvintes.
O caso típico foi a novela Anjo mau, com a atriz Glória Pires, da Rede Globo, em
1997. O filme dirigido pelo cineasta Joseph Ruben, O anjo malvado, em 1993, fez
sucesso com a figura de um menino, Mark Evans (Elijah Wood), um garoto que vai
morar com parentes quando perde a mãe. Lá ele descobre que Henry Evans
(Macaulay Culkin), seu primo, tem uma índole extremamente má e até mesmo
homicida. Mas como fazer os adultos acreditarem que uma criança possa ter uma
índole tão perversa?
Ou se alude ao Anjo da escuridão, do autor Sidney Sheldon, que narra, em forma
de romance, a dramática aventura de um menino cruel, uma mulher deslumbrante e
um homem disposto a tudo para descobrir a trama de um crime cruel: um rico
negociador de artes assassinado em sua luxuosa mansão em Hollywood Hills.
Outro caso – este, real – é o denominado O pequeno anjo dos velhinhos da
Colômbia, contado por Alveiro Vargas. Um menino de nove anos de idade montou
uma associação de proteção aos mais pobres e favelados. Decidiu cuidar dos mais
miseráveis e idosos. Depois de adulto e formado em medicina, continuou seu trabalho
em favor dos mais pobres.
Deveras curioso é o livro de Walcyr Carrasco, com o título O anjo de quatro
patas, que conta sobre um cão que devolve ao dono alegria de viver. A companhia de
um animal de estimação vem sendo, para muitas pessoas solitárias – mormente os
idosos – uma razão para viver.
Em geral, as pessoas associam o anjo a uma pessoa que realiza uma boa ação na
comunidade local; aquelas que fazem o mal serão associadas à ação do demônio. Isso
é e poderá ser entendido popularmente como certo, mas ainda não é o anjo que
evocamos nas Escrituras Sagradas.
Apenas para a nossa distinção:
1. Sobre Lúcifer. Aqui aparece a ideia sobre o anjo bom e o anjo mau. Tema
relevante e de difícil entendimento para as pessoas que não se familiarizaram com
uma catequese de discernimento sobre essas criaturas espirituais. Na outra ponta da
história sobre os anjos, evocados nas Escrituras, encontramos Lúcifer, que era o anjo
da luz. Querido e admirado por Deus. Privilegiado, diríamos. Era o “braço direito” de
Deus, um anjo de sua estima e confiança. Levado pela soberba, deixa-se levar pela
ilusão de que era grande coisa.
Cristo aplica a mesma imagem a Satanás, “caindo do céu como um relâmpago”
(Lc 10,18), e também o Apocalipse (9,1; 12,7-8). “O nome de Lúcifer tornou-se
assim o nome próprio de demônio, chefe dos anjos rebeldes” (Vincent).
Nesse particular, a compreensão sobre Lúcifer é bastante equivocada, dando a
entender que ele seja Satanás.
Entendendo os “anjos” maus: Lúcifer.
Lúcifer se ensoberbeceu por causa das virtudes que tinha (Ez 28,15-17) e decidiu,
dentro do seu livre-arbítrio, se rebelar contra a autoridade de Deus, querendo ficar em
seu lugar (Is 14,12-14).
Os outros anjos apoiaram Lúcifer em seu plano (Ap 12,3,4a-9 [essa passagem fala
de “um terço das estrelas do céu”, que se refere ao terço dos anjos criados por Deus
43
que se uniram a Lúcifer na rebelião]).
Aquele que é o portador da luz. A Bíblia escreve e fala sobre Lúcifer... Ez 28,12-
15:
Criatura humana, entoe uma lamentação contra o rei de Tiro, e diga: Assim diz o Senhor Javé: Você era
um modelo de perfeição, cheio de sabedoria e beleza perfeita. Você morava no paraíso, no jardim de
Deus, coberto de pedras preciosas de todas as espécies: rubi, topázio, diamante, crisólito, cornalina, jaspe,
lápis-lazúli, turquesa e berilo; e de ouro eram trabalhados seus pingentes e joias. Tudo isso lhe vinha
sendo preparado desde o dia da sua criação. Fiz de você um querubim protetor de asas abertas. Você
ficava na alta montanha de Deus, passeando entre pedras de fogo. Desde quando foi criado, você era
perfeito em todos os seus passos, até que se encontrou a maldade em você. De tanto negociar, você se
encheu de violência e pecados. Então eu o expulsei da montanha de Deus e o fiz perecer, ó querubim
protetor, no meio das pedras de fogo...
2. Sobre Satanás ou Satã. É aquele que personifica o mal; o acusador e o
adversário; a antiga serpente do Paraíso (Gn 2). A personificação de Satã aparece 37
vezes no Novo Testamento. Satã é o inimigo maligno por excelência (cf. Mt
13,19.38; At 13,10); é o tentador; chefe de uma máfia de comparsas; tenta até mesmo
a Jesus (Mt 4,1-10), assim como a Pedro e aos discípulos (Mt 16,23). Como nome
próprio, designa o demônio.
Zacarias mostra-o como o acusador (Zc 3,1-2); em outros textos, como o
Apocalipse, é visto como o grande dragão (Ap 21). No Novo Testamento, ele tira a
boa semente das almas (Mc 4,15). Foi ele quem se apossou de Judas (Lc 23,3). Paulo
lembra que algumas almas se entregam por si mesmas a ele (1Tm 5,15).
Na compreensão popular, essa ideia vai de tola a piada. Um ser pequeno, com
chifre e uma foice (ou cutelo) na mão, vestido de vermelho, representando as forças
do mal. São João o chama de o pai da mentira! Certamente, ao se apresentar nessa
figura, não faz tanto mal assim...
3. O sucesso maior fica por conta do diabo! No Novo Testamento, a palavra diabo
tem o mesmo sentido de demônio. Foi ele quem pecou desde o começo, nos lembra
João (1Jo 3,8), o que tenta Jesus no deserto (Mt 4,1-11), que procura fazer o mal aos
homens (Mt 13,39). Ele atormenta os possessos (At 10,38), foi quem arrastou Adão e
Eva ao pecado. Jesus Cristo veio para aniquilar as obras dele, e é para ele e seus anjos
que foi preparado o inferno (Mt 25,41).
O diabo é o malfeitor por excelência, e é chamado de o maligno, o mau (Mt 6,13).
É certa a sua derrotafinal e de seus anjos (Rm 16,20).
Diabo é aquele que é acusador e caluniador. É a figura mais cômica na
religiosidade e no catolicismo popular. Apenas após o século XIV é que o diabo
atingiu o auge da fama na Europa, sendo a Divina comédia, escrita por Dante
Alighieri, um marco para a época e um símbolo de seu triunfo. O declínio de sua
fama iniciou-se com o fim da modernidade, no século XVII.
Na Idade Média, o papel do diabo é mais de um servo familiar do que um invasor
que se apodera das pessoas. Particularmente, para as camadas populares, o diabo
medieval nem sempre é uma figura aterrorizante e, por vezes, é fácil enganá-lo. Essa
visão tipicamente medieval do diabo está bem estampada na assimilação que o
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catolicismo brasileiro fez dele. O filme O auto da Compadecida pode ilustrar bem a
facilidade em se enganar o diabo.
É interessante observar que muitas pessoas, na Antiguidade e na Era Moderna,
foram assistidas e possuídas por esses espíritos maus. A questão dos sete pecados
capitais; Santo Agostinho admite que eles leem os pensamentos dos humanos;
empedernecem o pecador, fazendo-o reticente à conversão; são associados às
enfermidades e doenças e situados no deserto, região da sede e da desolação estéril.
A Igreja cristã sempre conservou a tradição dos exorcismos e tem para isso um
ritual litúrgico religioso. Exorcismo é um meio empregado para expulsar os demônios
dos locais onde se julga estarem presentes. Em At 19,13, aparece a palavra exorcista.
As igrejas pentecostais têm muito presente esse hábito. O movimento carismático
dá muito valor a essa prática, pois veem demônio em tudo. Em geral, evocam a figura
de são Bento, com a oração: “A Cruz sagrada seja minha Luz. Não seja o dragão meu
guia. Retira-te, Satanás! Nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que tu me
ofereces. Bebe tu mesmo do teu veneno”.
Há também as chamadas missas de cura e libertação, que têm esse toque de
exorcismo contra as insídias do demônio. A fórmula do exorcismo se faz
empunhando uma cruz, e dizendo: “Eu te conjuro...”.
Enfim, como resumo, é sempre bom se firmar na doutrina da Igreja para crer
naquilo que se supõe acreditar. É importante esse ensinamento do catecismo sobre o
poder do demônio (aqui, também, o catecismo não faz uma acirrada distinção entre
Satanás e o diabo):
Contudo, o poder de Satanás não é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo fato de ser puro
espírito, mas sempre criatura: não é capaz de impedir a edificação do Reino de Deus. Embora Satanás atue
no mundo por ódio contra Deus e o seu Reino em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves danos –
de natureza espiritual e, indiretamente, até de natureza física – para cada homem e para a sociedade, essa
ação é permitida pela Divina Providência, que com vigor e doçura dirige a história do homem e do
mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas “nós sabemos que Deus
coopera em tudo para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,28) e (CIC § 395).
Confortavelmente, é bom ouvir Santo Agostinho, um dos Pais da Igreja,
escrevendo:
Os anjos estão conosco em toda hora e todo lugar, com muita atenção e incansável empenho nos auxiliam
e preveem nossas necessidades e se portam como mediadores entre nós e Deus, e elevando a Ele nossos
gemidos e suspiros... acompanhando-nos nas nossas viagens, eles vão e voltam conosco atentos e
observadores do nosso comportamento: se estamos sendo honestos e honrados em meio à maldade que
nos cerca e observando a nossa intenção no empenho da salvação eterna (Fonte:
<http://www.arcanjomiguel.net>).
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VI.
O QUE A IGREJA ENSINA SOBRE OS ANJOS
Já elencamos atrás alguns sedimentos doutrinários para essa compreensão. Aqui,
restam apenas algumas conclusões.
A doutrina dos anjos está ligada ao “mistério da piedade”, portanto, da fé cristã.
Os anjos são frutos da obra de Cristo! O único autor que se lança na reflexão é o da
carta aos Colossenses (cf. Cl 1,16, que trata das cinco potências angelicais ou das
cinco classes de anjos).
Vamos a algumas afirmações do catecismo:
• Princípio e definição de fé e da Tradição: “A existência dos seres espirituais,
não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma
verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a
unanimidade da Tradição” (nº 328).
• Presentes na História da salvação: “Eles aí estão, desde a criação e ao longo de
toda a História da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e
servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre,
protegem Lot, salvam Agar e seu filho, seguram a mão de Abraão, comunicam a
lei por seu ministério, conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e
vocações, assistem os profetas, para citarmos apenas alguns exemplos.
Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do
próprio Jesus” (nº 332).
• Na história de Jesus Messias: “Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do
Verbo Encarnado é cercada da adoração e do serviço dos anjos...” (nº 333).
• Encargo e natureza: “Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros
de Deus. Porque contemplam ‘constantemente a face de meu Pai que está nos
céus’ (Mt 18,10), são ‘poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som
de sua palavra’ (Sl 103,20)” (nº 329).
No catecismo da Igreja, podemos encontrar vários temas para estudo sobre a ação
dos anjos. Vamos colocar o tema e o número do catecismo para consulta (aquele que
desejar completar a reflexão).
A saber: anjo e natal (525 e 559); anjo e o céu (326, 1023-1039 e 1053); anjos
caídos (391-393, 414 e 760); anjos da guarda (336); anjos podem desviar-se (311);
guarda dos homens (336); identidade e encargos (329, 332-336); ordem cósmica e
guarda dos anjos (57); imagens nos altares (1192, 2131, 2502); existência como
verdade de fé (328); o anjo Gabriel anuncia (148, 2676); na anáfora (1352) e na vida
da Igreja (334-335).
A verdade de fé proposta pela Igreja sobre os anjos está, prioritariamente,
alicerçada na compreensão que o Novo Testamento faz sobre os anjos. Jesus está
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intimamente em contato com o mundo invisível dos anjos: na tentação, no Getsêmani,
na Parusia, no Reino de Deus, junto de Zacarias, com a Virgem Maria, com os
pastores etc.
Os anjos tomaram parte nos grandes acontecimentos da vida de Cristo, mas
continuam executores de ordens, das sentenças (Ap 6,2-8).
Ainda podemos encontrar cinco tipos ou modos de anjos no Novo Testamento:
• Anjos da luz. Os textos inerentes a esses anjos são do apóstolo Paulo. Esses são
os anjos bons (cf. 2Cor 11,14). Satã, às vezes, aparece como anjo bom para
enganar os justos (Mt 7,15);
• Anjo de Satanás. Satanás é tido como o chefe dos anjos maus porque estes
executam as suas ordens (Mt 12,26; Ap 12,7-9);
• Anjo do abismo. É um dos chefes dos demônios, e o seu nome é Abadon (Ap
9,11);
• Anjo exterminador. A Bíblia simplesmente o denomina o “anjo de Javé”. Castiga
com a peste os súditos de Davi (2Sm 24,15-17);
• Anjo das Igrejas. São múltiplas as interpretações. Em geral, refere-se aos bispos,
aos mensageiros e aos anjos enviados para nos proteger (cf. Ap 2-3).
No dia 29 de setembro, celebramos a festa dos Santos Anjos (melhor seria dizer os
Santos Arcanjos): Miguel, Gabriel e Rafael. Os anjos vêm de Deus e são enviados por
Ele para nos proteger, conforme está escrito em Hebreus 1,14.
Na Bíblia, anjo quer dizer mensageiro. São Miguel, cujo nome significa “quem
como Deus”, aparece lutando contra Satanás e protegendo os amigos de Deus. São
Gabriel, cujo nome quer dizer “força de Deus”, é aquele que traz a mensagem,
revelando o plano de Deus. São Rafael, cujo nome é traduzido como “Deus curou”,
aparece protegendo e acompanhando as pessoas.
A liturgia da palavra contempla as seguintes leituras para esse dia: Ap 12,7-12;
Salmo responsorial 137 e João 1,47-51.
Pseudo-Dionísio, autor desconhecido do século VI, apoiando-se em Proclo,
dividiu os anjos em nove coros, hierarquizando-os em três tríades de dignidade
crescente: 1ª hierarquia: serafins,querubins e tronos; 2ª hierarquia: dominações,
potências e virtudes; 3ª hierarquia: principados, arcanjos e anjos. Tal nomenclatura
celeste aparece em alguns textos escriturísticos, a saber: Ef 1, 21 e Cl 1,16.
Essa hierarquia celeste, em parte, é também encontrada no Missal Romano no
prefácio dos anjos: “Pelo Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, louvam os anjos a vossa
glória, as Dominações vos adoram, e reverentes, vos servem Potestades e Virtudes.
Concedei-nos também a nós associar-nos à multidão dos querubins e serafins,
cantando a uma só voz” (Missal Romano, p. 447).
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ORAÇÕES
Devocionário de proteção sobre os anjos
1. ORAÇÃO AO SANTO ANJO DA GUARDA
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Senhor Deus, todo-poderoso, criador do céu e da terra. Louvores vos sejam dados
por todos os séculos dos séculos. Assim seja.
Senhor Deus, que por vossa imensa bondade e infinita misericórdia, confiaste cada
alma humana a cada um dos anjos de vossa corte celeste, graças vos dou por essa
imensurável graça. Assim, confiante em vós e em meu santo anjo da guarda, a ele me
dirijo, suplicando-lhe velar por mim, nesta passagem de minha alma, pelo exílio da
Terra.
Meu santo anjo da guarda, modelo de pureza e de amor a Deus, sede atento ao
pedido que vos faço. Deus, meu criador, o soberano Senhor a quem servis com
inflamado amor, confiou à vossa guarda e vigilância a minha alma e meu corpo; a
minha alma, a fim de não cometer ofensas a Deus, o meu corpo, a fim de que seja
sadio, capaz de desempenhar as tarefas a que a sabedoria divina me destinou, para
cumprir minha missão na terra.
Meu santo anjo da guarda, velai por mim, abri-me os olhos, dai-me prudência em
meus caminhos pela existência. Livrai-me dos males físicos e morais, das doenças e
dos vícios, das más companhias, dos perigos, e nos momentos de aflição, nas
ocasiões perigosas, sede meu guia, meu protetor e meu guarda, contra tudo quanto me
cause dano físico ou espiritual.
Livrai-me dos ataques dos inimigos invisíveis, dos espíritos tentadores.
Meu santo anjo da guarda, protegei-me.
2. ORAÇÃO AO ANJO DA GUARDA
Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito
Santo. Nossa Senhora me cubra, com seu divino manto. Meu anjo da guarda, meu
bom amiguinho, leve-me sempre para o bom caminho. Amém!
3. O PÃO DOS ANJOS
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O hino Panis Angelicus é um canto católico dedicado à Sagrada Eucaristia.
Segundo a tradição, foi escrito no século XIII por Santo Tomás de Aquino, ao menos
a última estrofe, por ocasião da festa de Corpus Christi. Por ser antiquíssimo, tem
melodia lenta, solene e tocante. Caracteriza-se pelo seu estilo de música clássica.
Vários tenores já fizeram sucesso cantando esse hino em seus shows, como Luciano
Pavarotti, Andrea Bocelli, entre outros.
Em 1872, Cesar Franck musicou essa estrofe para voz de tenor, harpa, violoncelo
e órgão.
O canto é uma exaltação à Eucaristia, tendo os anjos como seus adoradores
perpétuos seguindo uma antiga tradição. A Sagrada Liturgia cristã contempla os anjos
nesse sentido de adoradores. As orações eucarísticas nos fazem meditar sobre essa
relação entre os anjos e a liturgia cristã. Antes do solene “Sanctus, sanctus et
sanctus”, o celebrante, de braços abertos, ora: “[...] Por ele, os anjos celebram vossa
grandeza e os santos proclamam vossa glória” (do Prefácio da Oração Eucarística II).
PANIS ANGELICUS
Panis angelicus
fit panis hominum;
dat panis coelicus
figuris terminum;
o res mirabilis!
Manducat Dominum
pauper, pauper
servus et humilis.
Pauper, pauper,
servus et humilis.
Pão dos anjos
torne-se o pão dos homens;
o pão do paraíso
fim de toda dúvida;
que maravilha!
Que consome a Deus
pobre, pobre,
humilde e servo.
Pobre, pobre,
humilde servo.
4. ORAÇÕES AOS SANTOS ANJOS1
4.1. Oração ao anjo da guarda I
“Vou enviar um anjo adiante de ti, para te proteger no caminho e para te conduzir
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ao lugar que preparei” [Ex 23,20].
Anjo santo, sob cuja tutela e custódia Deus me colocou, pela sua infinita bondade,
ilumina-me, defende-me, rege-me e governa-me. Amém.
4.2. Oração ao anjo da guarda II
Santo anjo, que velas por minha pobre alma e por minha vida, não me deixes – sou
um pecador – e não me desampares por causa de minhas faltas. Não deixes que o mau
espírito se aproxime de mim. E guia-me poderosamente, preservando meu corpo do
mal. Toma minha mão fraca e conduze-me pelo caminho da salvação.
4.3. Oração aos anjos de Deus
Anjo de Deus, que és o meu protetor, ilumina e protege a minha vida, guia os
meus passos em direção ao Senhor. Amém.
Anjo de Deus, és o meu protetor, ilumina, guarda, dirige e governa este que te foi
confiado pela piedade celeste. Amém.
4.4. Oração ao arcanjo São Gabriel
“O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a
uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o
nome da virgem era Maria” [Lc 1,26-27].
Ó glorioso arcanjo São Gabriel, chamado “a fortaleza de Deus”, “príncipe
excelentíssimo entre os espíritos angélicos”, “embaixador do Altíssimo” que
mereceste ser o escolhido para anunciar à santíssima Virgem a encarnação do divino
Verbo em suas puríssimas entranhas. Nós te suplicamos, roga a Deus por nós, pobres
pecadores, para que, conhecendo esse inefável mistério, consigamos experimentar do
fruto da divina redenção na glória celestial. Amém.
4.5. Oração ao arcanjo São Miguel
“Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o dragão”
[Ap 12,7].
Arcanjo São Miguel, defende-nos na luta, ampara-nos contra a perversidade e as
afrontas e, como príncipe da milícia celestial, lança ao inferno, com teu divino poder,
Satanás e os outros espíritos malignos que percorrem o mundo para a perdição das
almas [Papa Leão XIII].
5. COMO REZAR O TERÇO DE SÃO MIGUEL ARCANJO2
Reza-se na medalha o início:
V. Deus, vinde em nosso auxílio!
R. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos!
Glória ao Pai...
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Primeira Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos serafins, para que o Senhor
Jesus nos torne dignos de sermos abrasados de uma perfeita caridade. Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao primeiro coro de anjos
Segunda Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos querubins, para que o Senhor
Jesus nos conceda a graça de fugirmos do pecado e procurarmos a perfeição cristã.
Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao segundo coro de anjos
Terceira Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Tronos, para que Deus
derrame em nossos corações o espírito de verdadeira e sincera humildade. Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao terceiro coro de anjos
Quarta Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das Dominações, para que o
Senhor nos conceda a graça de dominar nossos sentidos e de nos corrigir das nossas
más paixões. Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao quarto coro de anjos
Quinta Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das Potestades, para que o
Senhor Jesus se digne de proteger nossas almas contra as ciladas e as tentações de
Satanás e dos demônios. Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao quinto coro de anjos
Sexta Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro admirável das Virtudes, para que o
Senhor não nos deixe cair em tentação, mas que nos livre de todo o mal. Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao sexto coro de anjos
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Sétima Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Principados, para que o
Senhor encha nossas almas do espírito de uma verdadeira e sincera obediência.
Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao sétimo coro de anjos
Oitava Saudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Arcanjos, para que o Senhor
nos conceda o dom da perseverança na fé e nas boas obras, a fim de que possamos
chegar a possuir a glória do Paraíso. Amém.
Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao oitavo coro de anjos
NonaSaudação
Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste de todos os anjos, para que
sejamos guardados por eles nesta vida mortal, para sermos conduzidos por eles à
glória eterna do Céu.
Amém. Glória ao Pai... Pai-nosso...
Três Ave-Marias... Ao nono coro de anjos
Ao final, reza-se: um Pai-nosso em honra de São Miguel Arcanjo. Um Pai-nosso
em honra de São Gabriel. Um Pai-nosso em honra de São Rafael. Um Pai-nosso em
honra de nosso anjo da guarda.
Antífona:
Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião
das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável
guia depois de Cristo; vós, cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos
livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei
pela vossa incomparável proteção que adiantemos cada dia mais na fidelidade em
servir a Deus. Amém.
V. Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo.
R. Para que sejamos dignos de suas promessas.
Oração
Deus, todo poderoso e eterno, que, por um prodígio de bondade e misericórdia
para a salvação dos homens, escolhestes para príncipe de vossa Igreja o gloriosíssimo
Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós vo-lo pedimos, de sermos preservados de
todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos
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possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da
vossa poderosa e augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso
Senhor. Amém.
1 Essas orações de forma variada e popular foram fornecidas pelo Pe. José Altino Brambilla, osb. A maioria
delas está presente na religiosidade popular de nosso povo do campo e os da cidade também se valem delas!
2 Em Portugal, numa aparição a uma ilustre serva de Deus, Antônia d’Astonoac, de coração dedicado ao
culto do glorioso São Miguel, este santo Arcanjo declarou-lhe que desejava que se fizessem em sua honra
nove saudações correspondentes aos nove coros dos anjos, que consistiriam na recitação de um Pai-nosso e de
três Ave-Marias em honra de cada um daqueles coros.
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CONCLUSÃO
Podemos dizer que chegamos ao fim do livro! Seguramente, ele não é a última
palavra dada e escrita sobre os anjos. O Papa Pio VI, em 1796, ensinou a mais
popular e mais singela oração sobre a invocação dos anjos em nosso benefício:
Santo anjo do Senhor,
Meu zeloso guardador,
Já que a ti me confiou
A piedade divina,
Sempre me rege, me guarda,
Me governa e me ilumina.
Amém.
Estamos, apenas, iniciando uma conversa sobre os anjos... De forma merecida, os
anjos nos inspiram algumas atitudes altruístas a respeito da valorização da pessoa
humana.
Teríamos muitas coisas para serem ponderadas, e não é o momento – ao menos
por enquanto. Ficamos com aquelas ideias mais elementares e simples... Outro dia
escreveremos mais sobre os anjos de forma a contemplar a Bíblia dos anjos!
Em nossa caminhada, através desses escritos, ponderamos aqueles elementos
essenciais à fé cristã a respeito dos anjos. O nosso destaque não foi feito com a
intenção de descrever ou de criticar as várias maneiras de entender e interpretar os
anjos presentes no mundo esotérico e místico. Apenas alguns acenos para as
distinções mais elementares. Refletir sobre o mundo da Bíblia.
Anjos são um assunto suprauniversal eivado de algumas superficialidades próprias
da falta de argumentação, de orientação e de formação. Mas isso também não tira a
sua verdade. Não desejamos dizer quem está certo ou errado, apenas acenar para essa
possibilidade e restringir a reflexão ao mundo da Bíblia.
Quando me propus a escrever sobre os anjos, alguém me perguntou: Você acredita
em anjos? De certa forma, fiquei meio em dúvida sobre o que responder. Mas lá no
fundo eu sempre acreditei em anjos.
Inclusive pela tradição de família; sempre, em minha casa, os anjos foram muito
bem estimados e lembrados. Embora não se soubesse, a contento, o que eles seriam
ao certo. Mas isso também tinha pouca importância.
Lembro-me que, na parede de meu quarto, existia aquele famoso quadro de um
belo anjinho protegendo uma criança que atravessava por uma ponte o pequeno
córrego. O anjo, todo eufórico, de asas abertas; a criança, sorridente e sentindo-se
protegida por seu anjo da guarda, seguia tranquila e certa de que nada de mau iria lhe
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acontecer.
Hoje – no meu entender – sentimos falta dessas cenas. Nossas crianças crescem
movidas por outros interesses. Não existem mais o córrego, a ponte, as árvores e os
deveres familiares de responsabilidades, que quase estão em extinção. Hoje os pais e
avós levam os filhos à escola. Parece que os anjos mudaram de nome!
As crianças são movidas pela internet e pelos jogos de videogame e outros mais
modernos. Não se fala mais em anjos, e as crianças não mais juntam as mãozinhas
para rezar o Santo Anjo nem a Ave-Maria e menos ainda o Pai-nosso!
A maioria acredita em Batman, Super-Homem, Scoobydoo, Snowboard show,
PakMan e em outros joguinhos criados para influenciar os nossos menores. O
mocinho exerce uma atração fatal. Os anjos perderam a sua referência na vida
familiar.
Certamente, criamos outros anjos para nos guardar dos incômodos da vida.
Viajamos de avião, de carro supermoderno e adaptado às necessidades do
comodismo; aos cegos deram um cão guia; às crianças, o motorista; no trânsito, o
guarda; assim, sucessivamente, os anjos parece que foram saindo do convívio
humano. Contudo, ficamos desprotegidos e indefesos; fazemos de tudo para nos
cercar de adequada segurança: cerca elétrica, alarmes, seguro e muitas superstições.
Lamenta-se a situação em que vivemos (social, política, religiosa etc.).
Mas esse é o mundo em que estamos situados, repleto de novos elementos da
modernidade; povoado por duendes e outros objetos, como discos voadores e naves
espaciais. Recentemente, tivemos a onda dos dinossauros, dos extraterrestres que
povoam a fantasia de nossas crianças, jovens e adultos.
Os anjos ficaram esquecidos ao relento de novos ares, como que entocados em
nossos esconderijos do subconsciente. De vez em quando, alguém se aventura a
desenterrá-los e tirá-los de seu esconderijo. Mas, de forma acanhada, eles aparecem
timidamente com novas roupagens que mais assustam que encantam.
Os anjos, antigamente, eram entendidos como bebês gorduchos e gostosos de
observar. Dava uma sensação de afetividade e alegria. Os nossos anjos de agora são
traquinas e cheios de malandragens. Parece que são vítimas da síndrome de anorexia,
em vez de serem anjos da fartura. Sumiram do nosso imaginário e apareceram em
forma de fantasma, para incomodar a todos.
Enfim, uma palavra de síntese da pena do papa Bento XVI:
Os anjos, diz o Evangelho, “serviam” Jesus (Mc 1,13); são o contraponto de Satanás. “Anjo” quer dizer
“enviado”.
Em todo o Antigo Testamento, encontramos essas figuras que, em nome de Deus, ajudam e guiam os
homens. Basta recordar o livro de Tobias, no qual aparece a figura do anjo Rafael, que ajuda o
protagonista em tantas vicissitudes. A presença reafirmante do anjo do Senhor acompanha o povo de
Israel em todas as suas circunstâncias boas e más.
No limiar do Novo Testamento, Gabriel foi enviado para anunciar a Zacarias e a Maria os alegres
acontecimentos que estão no começo da nossa salvação; e um anjo, cujo nome não se diz, adverte José,
orientando-o naquele momento de insegurança. Um coro de anjos trouxe, aos pastores, a boa notícia do
nascimento do Salvador; como também foram os anjos que anunciaram às mulheres a notícia gozosa da
sua ressurreição.
No final dos tempos, os anjos acompanharão Jesus em sua vinda na glória (cf. Mt 25,31). Os anjos servem
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Jesus, que é certamente superior a eles, e essa dignidade sua é aqui, no Evangelho, proclamada de forma
clara, ainda que discreta... (1º domingo de março de 2009).
Valorizemos nossos anjos da guarda, que, em meio à crise pela qual passamos,
podem nos consolar; não temos mais a quem recorrer. Que eles venham em nosso
auxílio!
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Direção editorial: Claudiano Avelino dos SantosAssistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes
Coordenação de desenvolvimento digital: José Erivaldo Dantas
Capa: Marcelo Campanhã
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Gasques, Jerônimo
Anjos: Deus cuida de nós / Jerônimo Gasques. – São Paulo: Paulus, 2013.
eISBN 978-85-349-3820-4
1. Anjos 2. Anjos - Cristianismo I. Título.
13-08236 CDD-235.3
© PAULUS – 2013
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 • São Paulo (Brasil)
Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5087-3700
www.paulus.com.br • editorial@paulus.com.br
eISBN 978-85-349-3820-4
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Scivias
de Bingen, Hildegarda
9788534946025
776 páginas
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Scivias, a obra religiosa mais importante da santa e doutora da Igreja
Hildegarda de Bingen, compõe-se de vinte e seis visões, que são
primeiramente escritas de maneira literal, tal como ela as teve, sendo, a
seguir, explicadas exegeticamente. Alguns dos tópicos presentes nas visões
são a caridade de Cristo, a natureza do universo, o reino de Deus, a queda do
ser humano, a santifi cação e o fi m do mundo. Ênfase especial é dada aos
sacramentos do matrimônio e da eucaristia, em resposta à heresia cátara.
Como grupo, as visões formam uma summa teológica da doutrina cristã. No
fi nal de Scivias, encontram-se hinos de louvor e uma peça curta,
provavelmente um rascunho primitivo de Ordo virtutum, a primeira obra de
moral conhecida. Hildegarda é notável por ser capaz de unir "visão com
doutrina, religião com ciência, júbilo carismático com indignação profética, e
anseio por ordem social com a busca por justiça social". Este livro é
especialmente significativo para historiadores e teólogas feministas. Elucida
a vida das mulheres medievais, e é um exemplo impressionante de certa
forma especial de espiritualidade cristã.
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Santa Gemma Galgani - Diário
Galgani, Gemma
9788534945714
248 páginas
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Primeiro, ao vê-la, causou-me um pouco de medo; fiz de tudo para me
assegurar de que era verdadeiramente a Mãe de Jesus: deu-me sinal para me
orientar. Depois de um momento, fiquei toda contente; mas foi tamanha a
comoção que me senti muito pequena diante dela, e tamanho o
contentamento que não pude pronunciar palavra, senão dizer, repetidamente,
o nome de 'Mãe'. [...] Enquanto juntas conversávamos, e me tinha sempre
pela mão, deixou-me; eu não queria que fosse, estava quase chorando, e
então me disse: 'Minha filha, agora basta; Jesus pede-lhe este sacrifício, por
ora convém que a deixe'. A sua palavra deixou-me em paz; repousei
tranquilamente: 'Pois bem, o sacrifício foi feito'. Deixou-me. Quem poderia
descrever em detalhes quão bela, quão querida é a Mãe celeste? Não,
certamente não existe comparação. Quando terei a felicidade de vê-la
novamente?
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62
DOCAT
Youcat, Fundação
9788534945059
320 páginas
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Dando continuidade ao projeto do YOUCAT, o presente livro apresenta a
Doutrina Social da Igreja numa linguagem jovem. Esta obra conta ainda com
prefácio do Papa Francisco, que manifesta o sonho de ter um milhão de
jovens leitores da Doutrina Social da Igreja, convidando-os a ser Doutrina
Social em movimento.
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Bíblia Sagrada: Novo Testamento - Edição
Pastoral
Vv.Aa.
9788534945226
576 páginas
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A Bíblia Sagrada: Novo Testamento - Edição Pastoral oferece um texto
acessível, principalmente às comunidades de base, círculos bíblicos,
catequese e celebrações. Esta edição contém o Novo Testamento, com
introdução para cada livro e notas explicativas, a proposta desta edição é
renovar a vida cristã à luz da Palavra de Deus.
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A origem da Bíblia
McDonald, Lee Martin
9788534936583
264 páginas
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Este é um grandioso trabalho que oferece respostas e explica os caminhos
percorridos pela Bíblia até os dias atuais. Em estilo acessível, o autor
descreve como a Bíblia cristã teve seu início, desenvolveu-se e por fim, se
fixou. Lee Martin McDonald analisa textos desde a Bíblia hebraica até a
literatura patrística.
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Índice
INTRODUÇÃO 5
I. NOME E SIGNIFICADO DOS ANJOS 9
ALGUMAS COMPREENSÕES SOBRE A REALIDADE DOS ANJOS 10
1. Definição 10
2. A natureza dos anjos 12
3. Tipos de anjos 14
4. O estado dos anjos 15
4.1. Os anjos caídos 16
5. O trabalho dos anjos 19
5.1. A divisão dos anjos 20
A. O arcanjo 20
B. O serafim 22
C. O querubim 24
5.2. A função dos anjos 25
6. Anjos da guarda 27
II. ONDE BUSCAR O ENSINO SOBRE OS ANJOS 31
III. COMO OS ANJOS APARECEM NA BÍBLIA 33
IV. A DOUTRINA SOBRE OS ANJOS 39
V. A TAREFA DOS ANJOS 42
VI. O QUE A IGREJA ENSINA SOBRE OS ANJOS 46
ORAÇÕES 48
1. ORAÇÃO AO SANTO ANJO DA GUARDA 48
2. ORAÇÃO AO ANJO DA GUARDA 48
3. O PÃO DOS ANJOS 48
4. ORAÇÕES AOS SANTOS ANJOS 49
5. COMO REZAR O TERÇO DE SÃO MIGUEL ARCANJO 50
CONCLUSÃO 54
68
	INTRODUÇÃO
	I. NOME E SIGNIFICADO DOS ANJOS
	ALGUMAS COMPREENSÕES SOBRE A REALIDADE DOS ANJOS
	1. Definição
	2. A natureza dos anjos
	3. Tipos de anjos
	4. O estado dos anjos
	4.1. Os anjos caídos
	5. O trabalho dos anjos
	5.1. A divisão dos anjos
	A. O arcanjo
	B. O serafim
	C. O querubim
	5.2. A função dos anjos
	6. Anjos da guarda
	II. ONDE BUSCAR O ENSINO SOBRE OS ANJOS
	III. COMO OS ANJOS APARECEM NA BÍBLIA
	IV. A DOUTRINA SOBRE OS ANJOS
	V. A TAREFA DOS ANJOS
	VI. O QUE A IGREJA ENSINA SOBRE OS ANJOS
	ORAÇÕES
	1. ORAÇÃO AO SANTO ANJO DA GUARDA
	2. ORAÇÃO AO ANJO DA GUARDA
	3. O PÃO DOS ANJOS
	4. ORAÇÕES AOS SANTOS ANJOS
	5. COMO REZAR O TERÇO DE SÃO MIGUEL ARCANJO
	CONCLUSÃO

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