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CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA NO CAMPO DA EDUCAçâO EM CIèNCIAS

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CAMINHOS DA
PESQUISA QUALITATIVA
NO CAMPO DA
EDUCAÇÃO
EM CIÊNCIAS:
PRESSUPOSTOS,
ABORDAGENS E
POSSIBILIDADES
ORGANIZADORES
Valderez Marina do Rosário Lima
João Batista Siqueira Harres
Marlúbia Corrêa de Paula
CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA 
NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS: 
PRESSUPOSTOS, ABORDAGENS E POSSIBILIDADES
Chanceler
Dom Jaime Spengler
Reitor
Evilázio Teixeira
Vice-Reitor
Jaderson Costa da Costa
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Carla Denise Bonan
Editor-Chefe
Luciano Aronne de Abreu
Beatriz Correa P. Dornelles
Carlos Alexandre Sanchez Ferreira
Carlos Eduardo Lobo e Silva
Eleani Maria da Costa
Leandro Pereira Gonçalves
Newton Luiz Terra
Sérgio Luiz Lessa de Gusmão 
CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA 
NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS: 
PRESSUPOSTOS, ABORDAGENS E POSSIBILIDADES
Valderez Marina do Rosário Lima
João Batista Siqueira Harres
Marlúbia Corrêa de Paula
Organizadores
PORTO ALEGRE
2017
© EDIPUCRS 2017
CAPA Thiara Speth
DIAGRAMAÇÃO Camila Borges
REVISÃO DE TEXTO Susana Azeredo Gonçalves
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Loiva Duarte Novak CRB 10/2079 
Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, 
especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. 
Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta 
obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características 
gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, 
do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas 
(arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
C183 Caminhos da pesquisa qualitativa no campo da educação em
ciências [recurso eletrônico] : pressupostos, abordagens
e possibilidades / organizadores Valderez Marina do
Rosário Lima, João Batista Siqueira Harres, Marlúbia Corrêa
de Paula. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 
2018.
Recurso on-line
Modo de acesso: http://www.pucrs.br/edipucrs/ 
ISBN 978-85-397-1060-7
 1. Pesquisa qualitativa. 2. Educação – Metodologia.
3. Pesquisa – Metodologia. I. Lima, Valderez Marina do Rosário.
II. Harres, João Batista Siqueira. III. Paula, Marlúbia Corrêa de.
CDD 23. ed. 001.42
EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS
Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33
Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 
Porto Alegre – RS – Brasil
Fone/fax: (51) 3320 3711
E-mail: edipucrs@pucrs.br
Site: www.pucrs.br/edipucrs
“A ideia de um método que contenha princípios firmes, imutáveis e 
absolutamente obrigatórios para conduzir os negócios da ciência depara 
com considerável dificuldade quando confrontada com os resultados da 
pesquisa histórica. Descobrimos, então, que não há uma única regra, 
ainda que plausível e solidamente fundada na epistemologia, que não 
seja violada em algum momento” (FEYERABEND, 2007).
SUMÁRIO
9 APRESENTAÇÃO
11 PREFÁCIO
15 INTRODUÇÃO
19 DA NOITE AO DIA: TOMADA DE CONSCIÊNCIA DE 
PRESSUPOSTOS ASSUMIDOS DENTRO DAS PESQUISAS SOCIAIS
ROQUE MORAES
57 A PESQUISA ACADÊMICA COMO ELEMENTO DE FORMAÇÃO 
DO PROFESSOR-PESQUISADOR
EMERSON SILVA DE SOUSA
ISABEL CRISTINA M. DE LARA
JOÃO BATISTA S. HARRES
77 UM OLHAR SOBRE TIPOS DE PESQUISAS QUALITATIVAS: 
CONTRIBUIÇÕES PARA PESQUISADORES NO CAMPO DA 
EDUCAÇÃO
DEISE NIVIA REISDOEFER
ROSANA MARIA GESSINGER
93 INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS EM PESQUISAS: 
QUESTIONAMENTOS E REFLEXÕES
ALESSANDRO PINTO RIBEIRO
ROSANA MARIA GESSINGER
111 NARRATIVAS E PESQUISA EDUCACIONAL: ALGUNS 
QUESTIONAMENTOS
VALDEREZ MARINA DO ROSÁRIO LIMA
ROSANA MARIA GESSINGER
127 METANÁLISE COMO POSSIBILIDADE PARA A PESQUISA NA 
ÁREA DA EDUCAÇÃO
VALDEREZ MARINA DO ROSÁRIO LIMA
LUCIANA RICHTER
135 MOVIMENTOS DA ESCRITA: PESQUISA, ENUNCIAÇÃO E AUTORIA
JULIANA BATISTA PEREIRA DOS SANTOS
PRISCILA MONTEIRO CHAVES
ISABEL CRISTINA MACHADO DE LARA
153 A PESQUISA REALIZADA NA ACADEMIA: CONSIDERAÇÕES 
INICIAIS
JERONIMO BECKER FLORES
JOÃO BATISTA SIQUEIRA HARRES
159 PESQUISA BASEADA EM DESIGN COMO MÉTODO 
INVESTIGATIVO NO ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
THAÍSA JACINTHO MÜLLER
171 MICHEL FOUCAULT E A ANÁLISE DO DISCURSO
KETLIN KROETZ
SOLANGE CARVALHO DE SOUZA
JOSÉ LUÍS SCHIFINO FERRARO
183 CAQDAS COMO FERRAMENTA NA PESQUISA QUALITATIVA
MARLÚBIA CORRÊA DE PAULA
LORÍ VIALI
GLENY TEREZINHA DURO GUIMARÃES
209 SOBRE OS ORGANIZADORES E AUTORES
APRESENTAÇÃO
O conjunto de textos que compõe esta obra tem sua gênese em estudos 
versando sobre a relação métodos qualitativos de pesquisa e produção 
acadêmica, realizados por professores e doutorandos do Programa de 
Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Questionamentos e reflexões 
iniciais do grupo foram o substrato para debates, reflexões e aprendi-
zagens realizados durante o período 2016−2017. Neste tempo, além de 
apropriação teórica, a análise e a apreciação crítica de materiais produ-
zidos foram realizadas de forma intensa e sistemática pelos envolvidos 
no diálogo. Estabelecemos uma rede cuja comunicação ora se fazia de 
modo virtual ora de modo presencial, para acompanhamento coletivo de 
cada um dos textos produzidos. 
Ao dar relevo à elaboração colaborativa, trabalhamos em coerência 
com pelo menos dois pressupostos importantes aos pesquisadores do 
Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática. 
O primeiro, o educar pela pesquisa, assume a pesquisa como trabalho 
conjunto de produção/reconstrução de conhecimento e deposita na 
interação entre sujeitos, mais experientes e menos experientes, o mote 
para o desenvolvimento do pensamento autônomo e da autoria de ideias 
e argumentos renovados. O segundo, a qualidade da produção científica, 
percebe a consistência interna da produção como um elemento essencial. 
Essa consistência pode ser obtida, dentre outros cuidados acadêmicos, 
por meio da revisão crítica efetuada por colegas. Nesta troca, que é um 
movimento gradativo, as contribuições dos demais investigadores per-
CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS10
mitem que o pesquisador responsável por um estudo promova sínteses 
mais consistentes e mais claras ao longo do processo.
O material ora apresentado, além de expressar o amadurecimento 
intelectual do grupo, explicita o conteúdo emergente das muitas sessões 
de discussão sobre princípios e métodos da pesquisa qualitativa. Neste 
sentido, entendemos que as temáticas apresentadas no conjunto de capí-
tulos contribuem para a formação de novos pesquisadores, ajudando-os 
tanto na busca de melhores formas de abordar seus objetos de estudo 
quanto na capacidade de promover, ao longo da investigação, os ajustes 
necessários ao aprimoramento do desenho estabelecido preliminarmente. 
Os organizadores 
Valderez Marina do Rosário Lima 
João Batista Siqueira Harres 
Marlúbia Corrêa de Paula
PREFÁCIO
A escrita pode ser considerada a maior invenção humana de todos os 
tempos, pois sem ela não seríamos capazes de chegar onde chegamos. 
Muito provavelmente, a origem da escrita está associada a marcas esca-
vadas na argila molhada pelos Sumérios, há cerca de 3 mil anos a.C. De 
lá para cá, a evolução dos sistemas de escrita é imensurável. 
Não é difícil imaginar um mundo sem escrita. A título de exemplos, 
seria um mundo sem livros, sem revistas, jornais, enciclopédias, cartas, 
e-mails,receitas de bolos; não haveria tecnologias como lápis, canetas 
esferográficas, computadores, telefones, internet, naves espaciais, longe-
vidade. Seria um mundo sem pesquisa, sem teses, dissertações e artigos. 
Seria um mundo com raro conhecimento.
Entretanto, tudo o que se escreve – as palavras e as frases – não é 
transparente: necessita ser compreendido. E há muitas possibilidades de 
compreensão. Isso ocorre com outras manifestações humanas, como os 
desenhos, as pinturas e as esculturas. 
Aquele ou aquela que compreende se compreende, construindo possibili-
dades de si mesmo(a). Nesse sentido, compreender é tomar posição a favor de 
algo. Pesquisar é, pois, construir compreensões e defendê-las, tomar posições.
Deste modo, esta obra, organizada pelos professores Valderez Lima 
e João Harres, apresentam posições e abordagens sobre a pesquisa quali-
tativa, nas perspectivas metodológica e analítica, o que pode possibilitar 
reflexões e escolhas pelos pesquisadores no campo da Educação em 
Ciências e Matemática, incluindo-se mestrandos e doutorandos.
CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS12
Destaca-se o texto inédito deixado pelo saudoso amigo Roque Moraes 
sobre os pressupostos filosóficos e epistemológicos para a escolha do 
modo de investigar. Esse texto é produto do seu próprio esforço em 
compreender esse rico e complexo tema sobre a escolha de abordagens 
e tipos de pesquisas, pois ele costumava dizer que, para compreender 
algo, necessitava escrever. Foi o que sempre fez. Assim, foi muito positivo 
encontrar esse texto dando início a este livro.
Os demais capítulos, oferecidos por professores e doutorandos do 
Programa também contribuem para que pesquisadores respondam às 
questões: Que modo de pesquisar é o mais adequado para as minhas indaga-
ções? Que modo de analisar as informações disponíveis é mais coerente com 
o problema e com os pressupostos filosóficos e epistemológicos da pesquisa? 
Como respostas a esses questionamentos, são possibilitadas discussões 
e releituras sobre abordagens metodológicas como pesquisa etnográfica, 
pesquisa narrativa, estudo de caso, história de vida, pesquisa participante. 
Também são apresentados modos de produção de dados e informações, 
por meio de textos bibliográficos, documentos, observação, entrevista, 
questionários, formulários, imagens e vídeos. São tratados ainda nesta 
obra modos de análise, com destaque para a análise de discurso (AD) e 
para a Metanálise qualitativa. Análises realizadas por meio de ferramen-
tas tecnológicas e softwares específicos, cujo uso tende a se expandir no 
campo da pesquisa educacional e das ciências sociais em geral, também 
são tratadas em dois capítulos.
Observa-se nos textos o forte apelo à escrita como modo de apro-
priação e compreensão do objeto sob investigação. Isso porque a função 
primeira de quem pesquisa é o seu próprio aprender. Se pesquisa para 
aprender. E as palavras são sempre o que fica das ações, sensações e 
experiências. Por isso, escrever é preciso1.
1 Referência à bela obra de Mário Osório Marques, Escrever é preciso: o princípio da pesquisa, 
Editora Unijuí.
VALDEREZ M. DO ROSÁRIO LIMA | JOÃO BATISTA S. HARRES | MARLÚBIA C. DE PAULA 13
Por fim, a partir dos temas contidos nos capítulos, esta obra, além de 
apresentar contribuições para quem pesquisa em Educação em Ciências 
e Matemática, mostra parte do importante trabalho que é realizado no 
Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da 
PUCRS, no campo metodológico e analítico das investigações. Por tudo 
isso, recomendo a leitura atenta deste livro.
Maurivan Güntzel Ramos 
Agosto de 2017.
INTRODUÇÃO
A pesquisa qualitativa na contemporaneidade ocupa lugar privilegiado 
em estudos na área da educação devido a sua potência para responder 
às necessidades dos processos educativos, alinhados com as demandas 
da sociedade atual. Na área de ensino de ciências não é diferente. Os 
estudos qualitativos destacam-se pela convicção dos pesquisadores de 
que o avanço da produção está relacionado aos esforços empreendidos 
para compreender, em profundidade, aspectos específicos da realidade 
escolar. Deste modo, os pesquisadores ocupam-se, em linhas muito amplas, 
de temas vinculados à formação de professores de ciências, à aprendiza-
gem dos estudantes em disciplinas desta natureza, a situações de ensino 
organizadas pelos professores, ao mesmo tempo em que não perdem de 
vista que essas temáticas são afetadas, e afetam, os contextos políticos, 
econômicos, sociais e culturais em que são produzidas. Não é possível, 
pois, pesquisar nesta área pretendendo estabelecer relações lineares de 
causa e feito entre os acontecimentos investigados, posto que os objetos 
de estudo são ações e interações entre seres humanos e, portanto, trazem 
a marca da imprevisibilidade e da complexidade. 
A fim de acolher distintas perspectivas que integram o fenômeno 
estudado, delineamentos de pesquisas qualitativas caracterizam-se por 
serem múltiplos e flexíveis. A assunção deste paradigma confere aos 
pesquisadores a prerrogativa de organizar projetos escolhendo entre 
diferentes tipos de pesquisa, de instrumentos de coleta de informações 
e de métodos de análise. Tais escolhas, por vezes, tornam desafiadora 
a tomada de decisão. O enfrentamento dos desafios e a superação das 
CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS16
dúvidas solicitam, prioritariamente, uma reconfiguração dos entendi-
mentos sobre pesquisa, reconstrução essa que pode ocorrer por meio de 
participação, discussão e estudos sobre princípios e métodos do paradigma 
qualitativo de investigação.
O ponto que distingue esta obra das demais publicações sobre pesquisa 
qualitativa é exatamente o fato de as temáticas do livro terem se originado 
em discussões e estudos de um grupo de pesquisadores com variados 
níveis de experiência em suas trajetórias acadêmicas e profissionais. À 
exceção do primeiro texto, do professor Roque Moraes, a organização 
dos capítulos, discriminados a seguir, expressa novas compreensões 
sobre pressupostos teóricos e múltiplas possibilidades metodológicas 
reconstruídas do grupo.
O Capítulo 1 apresenta o texto do professor Roque Moraes, no qual o 
autor desenvolve profunda reflexão sobre a influência que os pressupos-
tos dos pesquisadores exercem nas escolhas de abordagens e nos tipos 
de pesquisa por eles assumidos. São destacadas as visões de mundo e 
de realidade, além de posições filosóficas e epistemológicas, como in-
fluenciadoras das decisões tomadas pelo investigador no delineamento 
de seus estudos.
O Capítulo 2 expõe a pesquisa acadêmica como elemento de forma-
ção do professor-pesquisador. Além da caracterização da formação, trata 
sobre a qualidade da pesquisa acadêmica e a elaboração de dissertações 
e teses durante a formação do professor-acadêmico.
O Capítulo 3 discute alguns tipos de pesquisa qualitativa, apontando 
potenciais de cada uma delas para auxiliar a compreender temáticas do 
campo específico da educação. Pesquisa etnográfica, estudo de caso, 
história de vida, pesquisa participante e grupo focal são os tipos tratados. 
Além de definições e peculiaridades, são também mencionados alguns 
exemplos de temáticas possíveis de serem investigadas.
O Capítulo 4 aborda a eleição de instrumentos de coletas de dados 
levando em conta tipos de pesquisa predominantes e discorrendo sobre 
VALDEREZ M. DO ROSÁRIO LIMA | JOÃO BATISTA S. HARRES | MARLÚBIA C. DE PAULA 17
bibliografias, documentos, observação, entrevista, questionários e for-
mulários, fotos e vídeos como fonte de dados.
O Capítulo 5 caracteriza a pesquisa narrativa tendopor referência 
cinco questionamentos que dão título às seções: o que é narrativa? Como 
a narrativa se inscreve no contexto da pesquisa qualitativa? A pesquisa 
narrativa tem potencial para produzir conhecimento na área de educação? 
Como se utilizam as narrativas no campo da educação? Como se analisam 
os textos narrativos?
O Capítulo 6 adota a metanálise como um tipo de pesquisa e discorre 
sobre sua adequação a estudos em educação. A apresentação das etapas 
necessárias ao encaminhamento da investigação é ilustrada por meio 
dos movimentos definidos em um estudo realizado por uma das autoras.
O Capítulo 7 explora os movimentos da escrita a partir dos concei-
tos de pesquisa, enunciação e autoria. O texto apresenta importante 
discussão sobre escrita de trabalhos acadêmicos, situando a elaboração 
da tese como oportunidade para o sujeito assumir, além da autoria do 
texto, a autoria de sua formação como pesquisador, como produtor de 
novos conhecimentos.
O Capítulo 8 trata de aspectos a serem observados sobre o desen-
volvimento de pesquisas científicas. Aborda também diferentes tipos de 
escrita acadêmica.
O Capítulo 9 focaliza a pesquisa baseada em design, propondo esta 
organização como possibilidade investigativa no ensino de ciências em 
matemática. São discutidos princípios essenciais deste tipo de estudo e 
são apresentados alguns exemplos de utilização, com destaque para o uso 
deste delineamento em pesquisas que envolvem ferramentas tecnológicas.
O Capítulo 10 analisa o discurso, aqui tratado como ferramenta 
metodológica, e discorre inicialmente sobre as possibilidades de uso da 
Análise de Discurso em pesquisas no âmbito da educação. Em continuidade, 
aborda a Análise de Discurso (AD) na perspectiva de Foucault (1996) e, 
utilizando as proposições de Veiga-Neto e Rech (2014), expõe algumas 
orientações para a organização de estudos desta natureza.
CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS18
O Capítulo 11 apresenta, não por acaso em último capítulo, um tema 
que tem sido abordado, no Brasil, com perceptível timidez, uma vez que 
são relativamente modestas as pesquisas por meio de editores de textos 
dos computadores com os resultados obtidos por meio do uso de softwares. 
A partir de estudo empírico é analisado como o uso de softwares pode, 
ou não, condicionar a realização da análise textual.
Os capítulos, do primeiro ao último, percorrem em seus temas 
diferentes vieses da pesquisa qualitativa − suas necessidades, suas 
características e seus percursos. Assim, cada leitor poderá encontrar no 
livro esclarecimentos sobre algumas questões que com frequência surgem 
no cotidiano dos pesquisadores, em seus itinerários de investigação.
DA NOITE AO DIA: 
TOMADA DE CONSCIÊNCIA DE PRESSUPOSTOS 
ASSUMIDOS DENTRO DAS PESQUISAS SOCIAIS
ROQUE MOR AES
No presente texto, pretende-se focalizar e discutir questões pertinentes 
à escolha de abordagens e tipos de pesquisas. Argumenta-se no sentido 
de que esta escolha não é dependente apenas da problemática focaliza-
da, mas se integra num conjunto de pressupostos e preconcepções do 
pesquisador. Dentre esses, estão sua visão de mundo e de realidade, suas 
posições filosóficas e epistemológicas, enfim os paradigmas em que o 
pesquisador se insere. Procuramos também explicitar nossa convicção 
de que é essencial esses pressupostos, que seguidamente estão apenas 
implícitos nas decisões do pesquisador em relação a sua pesquisa, serem 
explicitados para que os leitores tenham uma compreensão mais fidedigna 
das investigações realizadas e de seus resultados.
O encaminhamento do texto dá-se a partir de questões filosóficas 
amplas, concepções de realidade, modos de acesso ao conhecimento e 
paradigmas. A partir disso move-se no sentido de discussões mais espe-
cíficas, envolvendo as abordagens e os tipos de pesquisas. É nessa última 
parte que se concentra o texto.
ROQUE MORAES20
Visão de mundo e realidade
Os modos de fazer ciência dos pesquisadores e os resultados de suas 
pesquisas refletem sua visão de mundo, suas concepções de realidade e 
seus paradigmas. Quer se entenda isto num sentido de posse individual 
de teorias e crenças, quer num sentido de imersão em um discurso co-
letivo e cultural, essas ideias prévias são decisivas na forma em que os 
fenômenos são percebidos e interpretados.
Os paradigmas que orientam o olhar do pesquisador refletem-se nos 
modos em que concebe a realidade. O mundo, os fenômenos naturais e 
sociais podem ser interpretados de diferentes perspectivas, o que deno-
minamos diferentes concepções de realidade.
Dentre os modos de conceber a realidade, a partir de proposta de 
Lincoln e Guba (1985) podemos destacar quatro diferentes entendi-
mentos: realidade objetiva, realidade percebida, realidade construída e 
realidade criada. 
A ideia de uma realidade objetiva é uma concepção ingênua, sem 
reflexão filosófica, derivada do senso comum. As coisas são o que pare-
cem. O que vemos e percebemos é a realidade. A realidade é simples e 
única. O mundo não é problematizado, mas aceito tal como parece se 
manifestar. Pode-se afirmar que essa ideia de realidade é pré-crítica, não 
tendo ainda o sujeito assumido seu papel de agente de conhecimento, 
seu papel de sujeito epistêmico, não se compreendendo como sujeito 
participante na construção de sua realidade. Essa concepção deriva de 
um realismo ingênuo, segundo o qual o mundo que conhecemos existe 
independentemente do nosso conhecimento dele. Para quem pensa assim, 
pesquisas intensas permitem uma aproximação cada vez maior entre os 
nossos conhecimentos e o que a realidade efetivamente é.
A concepção de realidade percebida compreende a realidade também 
como objetiva, única e existente independentemente do homem, mas da 
qual sempre se terá um conhecimento apenas e necessariamente parcial, 
tendo em vista sua complexidade. Nessa concepção, nossa compreensão 
DA NOITE AO DIA 21
da realidade vem de nossas percepções, e por isso nossa compreensão 
e apreensão do mundo nunca é algo global. Requer esforço e pesquisa 
para seja descoberto em seus detalhes, o que precisa ocorrer de forma 
gradativa. Ainda que a realidade esteja aí e possa ser captada de forma 
objetiva, ela pode ser percebida de diferentes ângulos e em diferentes 
profundidades. A pesquisa científica, neste sentido, é uma forma de 
descobrir novas perspectivas da realidade. Descobrir aqui significa tirar 
o pano de cima, desocultar algo que já está dado pronto. Entretanto, por 
mais que se pesquise a realidade, nunca se terá acesso integral a ela, só 
àquilo que conseguimos perceber.
Já quem aceita que a realidade é construída argumenta que não tem 
sentido falar de uma realidade independente do homem. Nesse sentido, 
ainda que se admita a existência de algo concreto lá fora, a realidade é 
uma construção humana, nunca acabada e permanentemente reconstru-
ída. Nessa posição ontológica, as diversas realidades construídas devem 
aproximar-se das entidades tangíveis a que se referem, não no sentido de 
atingir uma descrição única, mas no sentido da possibilidade de diferentes 
interlocutores poderem interagir e se compreenderem mutuamente. Nessa 
visão, realidade é o conjunto de nossas crenças e teorias, conscientes ou 
implícitas, nossas e dos que conosco convivem. Realidade é discurso. A 
realidade é construída na linguagem. A verdade em relação a ela é atingida 
pelo consenso de uma comunidade ou pela aceitação daquilo que já está 
estabelecido. Claramente, o pesquisador que assume essa perspectiva já 
se constitui em participante do processo de construção do conhecimento 
que tem. Assume-se como sujeito epistêmico.
Finalmente,conceber a realidade como criada é assumir uma visão 
em que realidades não existem prontas como tais, mas são criadas na 
interação dos observadores com os objetos que criam. “Realidade é me-
lhor entendida como uma função de onda estacionária que não se realiza 
a não ser que algum observador a ative” (Lincoln e Guba, 1985, p.85). 
Neste sentido, em cada momento, há sempre infinitas possibilidades de 
a realidade se apresentar. A forma assumida em cada momento depende 
ROQUE MORAES22
da relação do observador com os entes com que interage. O observador 
cria realidades. É uma concepção de realidade derivada da teoria quântica 
e da relatividade.
Nas pesquisas atuais, especialmente na área social, os pesquisadores 
tendem a compreender a realidade como construção. Entretanto, gran-
de parte da pesquisa conduzida no denominado paradigma dominante 
fundamenta-se na concepção de realidade percebida, sendo objetivo 
da pesquisa a descrição e explicação de uma realidade já dada e pronta.
O que é importante salientar neste momento é que, mesmo o pes-
quisador não tendo consciência disto, sempre estará assumindo uma con-
cepção de realidade, e o modo como a concebe se reflete no seu trabalho. 
A modernidade tentou separar ciência e filosofia. Hoje, cada vez mais os 
cientistas voltam a se aprofundar na filosofia. Há uma aproximação cada 
vez maior entre essas duas formas de conhecer.
Materialismo e idealismo
Se examinarmos com cuidado as concepções de realidade descritas 
anteriormente, podemos perceber no implícito das descrições dois 
movimentos filosóficos que acompanharam o homem ao longo de sua 
história: o materialismo e o idealismo.
Estas visões têm se confrontado ao longo da história para tentar 
construir e explicar nosso conhecimento do mundo. De acordo com 
Hessen (1987), Sócrates e Platão podem ser considerados como iniciado-
res de uma tradição filosófica fundamentada na concepção do espírito; 
já Aristóteles foi iniciador do movimento fundamentado na concepção 
do universo. Essas duas concepções têm ressurgido num movimento 
pendular, ora com ênfase em uma, ora em outra. 
O materialismo assume a matéria como o ponto de partida. O início 
de tudo está na materialidade. Todo conhecimento origina-se na matéria. 
O homem, ao entrar em contato com o mundo material, pode conhecê-lo 
e descrevê-lo. Nisto podem assumir papel central os sentidos ou a razão. 
DA NOITE AO DIA 23
No primeiro caso, surge o empirismo; no segundo, o racionalismo. Ambos 
pressupõem um mundo objetivo acessível ao conhecimento do homem e 
existente independentemente do ser humano. As concepções de realidade 
objetiva e percebida carregam esta perspectiva materialista e realista. 
O idealismo assume o espírito como ponto de partida do conhecimento. 
Numa valorização primordial da subjetividade, o idealismo põe em dúvida 
a existência de um mundo material, ou não vê sentido em considerá-lo. 
Para ele existem apenas idealizações das coisas. No mito da caverna, 
Platão descreve como o ser humano está preso às sombras das coisas. 
Não lhe é acessível a materialidade como tal e por isso seu conhecimento 
é sempre idealizado. No idealismo, a realidade são as construções que o 
espírito ou a consciência humana elabora. Mesmo que não coincidentes, 
a concepção de uma realidade construída carrega subjacente uma pers-
pectiva derivada do idealismo. 
Alguns movimentos filosóficos pretendem assumir uma posição 
intermediária entre materialismo e idealismo. Um desses é a fenomenolo-
gia. Numa perspectiva fenomenológica, assume-se que só temos acesso 
aos fenômenos, ou seja, àquilo que se manifesta. Não conhecemos nem 
podemos conhecer diretamente o que eventualmente existe, ainda que 
admitamos sua existência. Somente temos acesso às manifestações dos 
entes materiais e sociais. Somente temos acesso aos fenômenos e, a partir 
deles, construímos o que conhecemos sobre eles.
Ao envolver-se em suas pesquisas, o investigador de algum modo se 
posiciona em relação ao materialismo e ao idealismo. Mesmo que de forma 
implícita, a partir de pressupostos presentes em suas opções metodoló-
gicas e paradigmáticas, em toda pesquisa fazem-se opções. Para que os 
resultados de uma pesquisa possam assumir seu significado máximo, é 
importante que o pesquisador tenha clareza sobre os pressupostos que 
assume em suas pesquisas. Também, num sentido ético, é importante 
que todos os envolvidos em uma pesquisa conheçam os pressupostos 
das pesquisas em que são sujeitos.
ROQUE MORAES24
Argumenta-se, neste texto, que é importante o pesquisador social ter 
clareza e explicitar as posições filosóficas que assume em suas pesquisas, 
sejam elas materialistas ou idealistas.
Os paradigmas
Os diferentes modos de conceber a realidade, a forma de entender as 
possibilidades de generalização, os modos de compreender a inserção dos 
valores do pesquisador na sua pesquisa e a forma de aceitar a relação entre 
pesquisador e objeto da pesquisa podem ser utilizados para definir o que 
denominados paradigmas. Os paradigmas, de algum modo, refletem as 
visões de mundo. Baseando-se nesses indicadores, Lincoln e Guba (1985) 
apresentam três paradigmas diferentes que se manifestaram ao longo da 
história: pré-positivista, positivista e pós-positivista.
A demarcação histórica desses paradigmas, assim como a de qualquer 
paradigma, é problemática. Isso se dá, em primeiro lugar, porque eles co-
existem de algum modo, mesmo no presente. Além disso, um paradigma 
não é algo tão simples a ponto de um único fato histórico poder definir 
seu início ou seu término − vai se estabelecendo gradativamente e, do 
mesmo modo, vai sendo substituído.
Assim, mesmo que o termo positivismo surja com Compte, o para-
digma positivista já começa a manifestar-se com Galileu, Bacon, Newton, 
mas com aportes mais decisivos de Locke, Hume, J. S. Mill e Mach, além 
de outros. Da mesma forma, o paradigma pós-positivista é um conjunto 
de concepções que emergem num contexto ainda dominado pelo po-
sitivismo, mas procurando superá-lo. Destaca-se nisso Husserl, com a 
Fenomenologia, no início do século XX.
Quais seriam então algumas das características dos três paradigmas 
apontados anteriormente? Como poderiam ser descritos? Ainda que 
pretendendo nos basear nos quatro indicadores paradigmáticos pro-
postos por Lincoln e Guba (1985), vamos incluir um outro elemento: a 
DA NOITE AO DIA 25
consideração do sujeito humano em cada um deles na sua relação com a 
verdade e com o conhecimento.
Neste sentido, o pré-positivismo pode ser caracterizado como uma visão 
de mundo, um conjunto de concepções em que o homem ainda não se assumiu 
como ser de conhecimento. A verdade vem de fora, de um ser superior. Vem 
de Deus ou dos deuses, ou de sábios e filósofos marcantes, como o próprio 
Aristóteles. É absoluta. O único papel dos sujeitos humanos é interpretar essa 
verdade. Nesse paradigma, o entendimento de realidade é ingênuo. Não 
tem sentido falar dos valores do pesquisador, já que valores são divinos, são 
dados. A relação pesquisador e objeto do conhecimento é alienada, já que o 
conhecimento sempre é dado pronto por uma força superior. Pode apenas 
ser descrito, comentado e refletido. Finalmente, no pré-positivismo não faz 
sentido falar em generalização, já que todo conhecimento já é dado pronto, 
válido, generalizado. Vale sempre e para qualquer instância.
Gradativamente ao longo da história, especialmente a partir do 
Renascimento, o homem assume-se como ser de conhecimento, e a ci-
ência se encaminha para o positivismo. O sujeito começa a participar do 
processo de construção de conhecimento, mesmo que isto ainda possa 
ser de forma alienada,ou seja, assumindo uma posição de neutralidade 
ou objetividade no processo.
Segundo Martinez (1994, p. 14): 
A ideia central da filosofia positivista sustenta que fora de nós 
existe uma realidade totalmente dada, acabada e plenamente 
externa e objetiva, e que nosso aparato cognitivo é como um 
espelho que reflete dentro de si, ou como uma máquina foto-
gráfica que copia pequenas imagens desta realidade exterior.
O paradigma positivista caracteriza-se por uma concepção de re-
alidade objetiva. Tem seus fundamentos na generalização estatística a 
partir de hipóteses causais fundadas no determinismo, numa interação 
ROQUE MORAES26
pesquisador-pesquisado neutra e objetiva e numa pesquisa isenta de 
valores. Esses fundamentos têm sido cada vez mais questionados.
Finalmente, o paradigma pós-positivista encaminha a pesquisa cien-
tífica no sentido de superar os pressupostos positivistas. A concepção 
de realidade passa a ser essencialmente a construída. A relação pesqui-
sador-pesquisado é de implicação mútua, ou seja, é superada a relação 
alienada. Supera-se a generalização estatística, e os valores passam a 
serem considerados como constituintes intrínsecos de todo o processo 
de pesquisa, sobrepujando-se assim a ideia de neutralidade.
Nessa construção de uma nova visão paradigmática transforma-se no-
vamente o lugar do sujeito no processo, ainda que isso se dê de forma gra-
dual. De centro do processo, o sujeito passa a ser parte de um todo maior, o 
contexto das relações com outros seres num mundo complexo. É o sujeito no 
contexto, o sujeito ecologicamente localizado. Essas novas relações manifes-
tam-se especialmente pelos movimentos ecológicos, pelo pós-estruturalismo 
e pós-modernismo. No modernismo, o sujeito, de modo especial o homem, 
masculino, é o centro da atenção. A modernidade constitui-se especialmente 
em torno do andropocentrismo. No pós-modernismo, já não o é. Necessita 
ser considerado juntamente com outros seres, numa relação biossimbiótica. 
As ideias sobre paradigmas foram propostas inicialmente por Kuhn 
(1978), em seu famoso livro A Estrutura das Revoluções Científicas. O 
conceito de paradigma tem sofrido, a partir disso, diversas interpretações. 
Muitas e diferentes categorizações de paradigmas têm sido propostas, 
além da que apresentamos a partir de Lincoln e Guba (1985). Mais recen-
temente, o sociólogo e filósofo português Boaventura de Souza Santos 
tem produzido e publicado a partir de uma outra forma de conceber pa-
radigmas na ciência. Esse autor apresenta dois paradigmas, o paradigma 
dominante e o paradigma emergente, que abordaremos a seguir.
Fazendo sua reflexão a partir da modernidade, o autor caracteriza 
o paradigma dominante como aquele que dá origem à ciência moderna. 
Suas principais características, a partir de Boaventura Santos (2000), são: 
a objetividade e neutralidade do processo de produção do conhecimento 
DA NOITE AO DIA 27
científico; a matemática como instrumento privilegiado de análise, como 
lógica de investigação e como modelo de representação da estrutura da 
matéria, derivando-se daí a ênfase na quantificação; a redução da com-
plexidade pela fragmentação da realidade, focalizando separadamente 
relações de variáveis a serem posteriormente generalizadas em forma de 
leis; a ênfase na causalidade formal, sempre no sentido de possibilitar a 
previsão e o controle; o modelo mecanicista das ciências naturais como 
ideal para todas as ciências; e finalmente o caráter antropocêntrico, sexis-
ta e de valorização do homem ocidental europeu, com desvalorização 
de outras perspectivas. Esse paradigma leva a valorizar cada vez mais a 
ciência como conhecimento válido por excelência em prejuízo dos outros.
O mesmo autor, ao caracterizar o paradigma emergente, o descreve a 
partir de um conjunto de movimentos que se associam com a superação da 
modernidade. Caracterizando o novo paradigma como um conhecimento 
prudente para uma vida decente (Boaventura Santos, 1996, p. 37), o autor 
defende que esse não deve ser apenas um paradigma científico, mas também 
um paradigma social. Argumentando que a modernidade enfatizou demasia-
damente o domínio da regulação, com prejuízo do domínio da emancipação, 
o autor entende que o paradigma emergente deve promover um equilíbrio 
dinâmico que penda para a emancipação, investindo preferencialmente na 
participação e solidariedade, possibilitando a superação da colonização 
típica do paradigma dominante. A superação do conhecimento-regulação, 
com sua valorização da ordem, implica reafirmar o caos como forma de 
saber, e não de ignorância (SANTOS, 2000, p.79). 
O autor enfatiza ainda o caráter autobiográfico do conhecimento-
-emancipação (SANTOS, 2000, p.84), com superação da neutralidade e 
objetividade e a imersão do pesquisador naquilo que estuda. Isso levará 
à compreensão de que todo conhecimento científico-natural é científi-
co-social (p.89) e à superação da dicotomia ciências naturais/ciências 
sociais sob a égide das ciências sociais (SANTOS, 2000, p.92). 
A emergência do novo paradigma implica ainda revalorização da re-
tórica, enquanto arte de persuasão pela argumentação (SANTOS, 2000, 
ROQUE MORAES28
p.96). Passando a conceber o conhecimento não como verdade lógica e 
formal, mas como conhecimento prudente e argumentado, o autor defende 
uma retórica dialógica, encaminhando para a superação de polarizações 
sexistas, classistas e étnicas, no sentido de uma multiculturalidade e de 
assumir-se uma relação biossimbiótica com outros seres do meio. 
Tendo em perspectiva uma primeira ruptura epistemológica, propos-
ta por Bachelard, caracterizando o movimento do senso comum para a 
ciência, o paradigma emergente representa uma segunda ruptura epis-
temológica, direcionando para uma qualificação do senso comum, tendo 
sempre como referência a emancipação dos sujeitos. Todo conhecimento 
científico visa constituir-se em senso comum (1996, p.55).
Em síntese, o paradigma emergente significa um movimento de 
superação da agenda de modernidade. Caracteriza o movimento pós-mo-
derno com uma nova agenda, descrito pelo autor como movimento de um 
conhecimento prudente para uma vida decente (SANTOS, 1996, p. 37).
Portanto, em uma pesquisa, explicitar o paradigma em que o pes-
quisador se insere é elemento essencial para a compreensão do trabalho 
em andamento. Ajuda ao leitor localizar a posição do investigador em 
relação a todo um conjunto de pressupostos em termos de concepção 
de ciência, de realidade, de homem e de verdade. Por isso, novamente 
enfatiza-se a importância de sua explicitação dentro do processo da 
pesquisa, e especialmente no relatório.
Abordagens de pesquisa
Ao examinar as pesquisas, especialmente na área das ciências sociais, 
podemos encontrar trabalhos que se inserem numa diversidade de 
filosofias, concepções de realidade e paradigmas. A seguir, apresentam-
-se, em forma do que denominamos abordagens de pesquisa, algumas 
categorias ou modos amplos de organizar as pesquisas, cada uma delas 
tendo características próprias e assumindo conjuntos específicos, ainda 
que eventualmente superpostos, de atributos e opções paradigmáticas 
DA NOITE AO DIA 29
e metodológicas. O conjunto de abordagens não pretende esgotar as 
possibilidades de pesquisa na área. Pretende apenas possibilitar uma 
visão abrangente de possibilidades, de modo a servir de orientação na 
seleção de opções de encaminhamento, quando do planejamento e 
concretização de pesquisas.
A sequência apresentada vai, de algum modo, de pesquisas que se 
enquadram no paradigma dominante, de cunho positivista, até pesqui-
sas que se encaminham para o paradigma emergente, sempre segundocategorização de Boaventura Santos (1996, 2000). Num extremo, estão 
as abordagens empírico-indutivas e racionalista-dedutivas. No outro, 
estão as abordagens narrativo-históricas e discursivo-interpretativas. 
Intermediariamente, apresentam-se algumas abordagens de pesquisa que, 
mesmo não superando inteiramente o paradigma dominante, evidenciam 
diferentes movimentos no sentido de uma nova visão paradigmática. Estão 
neste grupo as abordagens fenomenológico-compreensivas, etnográfi-
co-culturais e naturalístico-construtivas e crítico-dialéticas.
Abordagem empírico-indutiva
A abordagem empírico-indutiva concebe que o conhecimento origina-se 
numa realidade material. O conhecimento vem de fora para dentro. Os 
objetos materiais produzem sensações que são captadas pelos nossos 
sentidos e, a partir disso, são convertidos em conhecimento. Os sujeitos 
são receptores passivos e devem assim permanecer. Precisam saber 
aprender a observar os fenômenos de forma objetiva, sem interferir neles.
Esta abordagem tem no denominado método científico clássico sua 
forma de atuação: das observações derivam-se hipóteses, que são então 
colocadas a teste para confirmação. Daí surgem generalizações que, su-
ficientemente confirmadas, constituem as leis da natureza.
A abordagem empírica-indutiva vai da parte para o todo. Fragmenta 
a realidade focalizando nela conjuntos limitados de elementos, proprieda-
des, ou seja, de variáveis. O estudo cumulativo de diferentes relações de 
ROQUE MORAES30
variáveis possibilita então, num processo aditivo, chegar ao todo. Neste 
sentido, concebe-se que o todo é a soma das partes. Carrega uma visão 
cartesiana de que quanto mais se divide o problema melhor se consegue 
solucioná-lo, de que quanto mais se fragmenta a realidade melhor se 
consegue explicá-la.
A abordagem empírico-indutiva procura chegar às verdades por meio 
da indução. Vai do particular ao geral. Observa instâncias particulares dos 
fenômenos e, a partir delas, infere relações gerais. A generalização indutiva 
é o produto de uma grande quantidade de observações de determinadas 
relações. De uma relação de variáveis que se repetem reiteradamente 
surge uma generalização indutiva, e generalizações que se mantêm por 
muito tempo constituem as leis científicas.
Para que o processo indutivo possa ter validade, é importante que o 
pesquisador seja objetivo. Precisa ser neutro no sentido de não interferir 
com suas subjetividades nas manifestações da natureza. Daí a impor-
tância de educar os sentidos para não distorcer os dados da realidade. 
O pesquisador precisa saber captar estes dados sem distorcê-los. As 
observações necessitam ser objetivas, e a pesquisa precisa ser isenta de 
valores do pesquisador.
Naturalmente, na abordagem empírico-indutivista, o pesquisador 
concebe a realidade como dada e pronta. Essa abordagem funda-se numa 
concepção objetiva e ingênua de realidade, no máximo de realidade 
percebida. Nas pesquisas, esta realidade manifesta-se tal como é. O que 
vemos e percebemos é uma manifestação de como a realidade é. Isto, 
entretanto, requer que exercitemos nossa observação de modo a não 
nos deixarmos influenciar pelos nossos ídolos, conforme já recomenda-
va Francis Bacon, um dos fundadores do empirismo. Nossos ídolos são, 
essencialmente, nossos conhecimentos prévios, nossas preconcepções 
sobre os fenômenos que investigamos.
O método na abordagem empirista-indutivista é constituído essen-
cialmente de observação, hipóteses e comprovação. As verdades atingi-
das se solidificam na medida em que se comprovam de forma reiterada. 
DA NOITE AO DIA 31
Neste sentido, a neutralidade e a quantificação constituem elementos 
essenciais do método.
Qual é o papel da linguagem nesta abordagem? É essencialmente um 
modo de comunicação dos resultados. Serve apenas como instrumento 
para expressar os resultados atingidos. Nisso inclui-se um exercício 
permanente de neutralidade. É importante que os resultados não sejam 
distorcidos pela linguagem, o que exige seguidamente, definições ope-
racionais de termos capazes de garantir a neutralidade da linguagem.
Dentre os movimentos científicos e filosóficos associados a esta 
abordagem estão o empirismo, o indutivismo e o positivismo. O empi-
rismo valoriza o dado concreto, a manifestação da realidade material. 
O indutivismo enfatiza um conhecimento que se dá pelo acúmulo de 
informações particulares. A partir de dados coletados de forma neutra 
e objetiva inferem-se leis gerais que estariam subjacentes aos dados 
observados. Já o positivismo integra empirismo e indutivismo. Positivo 
é aquilo que se manifesta diretamente, não importando o que está por 
trás do que se manifesta.
Mesmo que esta abordagem de pesquisa possa hoje soar um tanto 
estranha em relação a algumas de suas posições, especialmente nas ciências 
sociais, não só ela constituiu, ao longo da história, movimentos significa-
tivos e marcantes, como a concepção de pesquisa que traz subjacente 
ainda é intensamente presente em diferentes contextos. Livros-texto 
para o ensino das ciências têm possivelmente nela majoritariamente seus 
pressupostos. A formação de professores também em grande parte ainda 
é marcada pelo empirismo. Historicamente não poderiam deixar de ser 
apontados alguns expoentes importantes: Francis Bacon, um monge inglês 
que, no século XVI, no Novum Organum, divulgou e defendeu as ideias 
empiristas; Augusto Compte, que, no século XVIII, cria o positivismo; e 
um grupo de filósofos e cientistas do século XX, o denominado círculo de 
Viena, especialmente Schlick e Carnap, mostrando que esta abordagem 
também teve defensores em tempos bem próximos.
ROQUE MORAES32
Abordagem racionalista-dedutiva
Enquanto o empirismo concebe a origem do conhecimento fora do sujeito e 
funda nos sentidos e na indução a sua produção, o racionalismo entende que o 
conhecimento tem sua origem no interior do ser humano. O conhecimento ori-
gina-se dentro do sujeito e é essencialmente dependente da razão. Suspeitando 
dos sentidos, o racionalista enfatiza a dedução racional como forma de chegar 
ao conhecimento. Tendo claros os limites da indução, o racionalismo escolhe a 
dedução como forma de chegar a verdades absolutas e certas, pois somente 
a lógica dedutiva possibilita chegar a verdades inquestionáveis.
Ainda que, em sua origem, em Descartes, a verdade absoluta se funda-
mente em Deus, gradativamente as deduções propostas pelo racionalismo 
se fundam em teorias previamente construídas. A verdade é produzida por 
processos racionais e dedutivos, e novas hipóteses vêm de teorias por dedu-
ção lógica. Nas suas versões mais atuais, o racionalismo assume as teorias 
como precedendo qualquer observação sensorial, sendo elas a origem de 
novas hipóteses e das explicações científicas. O avanço de teorias não se 
dá pela observação de fatos, mas pelo exercício racional teórico.
Ainda que o racionalismo surja numa concepção objetiva de realidade, 
ao longo de sua história assume gradativamente uma concepção de rea-
lidade que pode ser percebida a partir de diferentes perspectivas. Neste 
sentido, a realidade racionalista, mesmo que seja entendida como já dada, 
realista, é compreendida em uma grande diversidade e complexidade, 
exigindo uma investigação permanente para sua explicação mais completa. 
Há um mundo material e um mundo das ideias. As teorias necessitam ser 
testadas e validadas frente a uma realidade concreta. Nessa confrontação, 
na visão de Popper (1975), dá-se a falsificação das teorias que não se 
sustentam. Nesse processo, as teorias jamais são comprovadas, sendo 
aceitas aquelas que resistem à falsificação. Assim, a verdade, ainda que 
sempre provisória,surge da confrontação de hipóteses teóricas com os 
dados da realidade concreta e objetiva.
DA NOITE AO DIA 33
Mesmo aceitando a impossibilidade de uma neutralidade teórica, o 
racionalismo defende a procura de uma objetividade e do controle dos 
valores dentro da pesquisa. O pesquisador deve exercitar uma neutrali-
dade ideológica em suas pesquisas, procurando uma objetividade em sua 
relação com os objetos que investiga. Nessa procura de neutralidade, os 
participantes de pesquisas, mesmo os humanos, são tratados como objetos.
O método racionalista por excelência é o experimental. Em sua 
essência, consiste na testagem de hipóteses produzidas racionalmente 
a partir de teorias. Em Popper (1975), o método toma a denominação 
hipotético-dedutivo. Deduzida uma hipótese a partir de uma teoria, ela 
necessita ser testada empiricamente por confrontação com a realidade. 
Nisso enfatizam-se o controle rigoroso de variáveis, a quantificação, a 
seleção criteriosa de amostras a partir de populações pertinentes e a 
generalização estatística com inferências da amostra para a população.
Na abordagem racionalista-dedutiva, especialmente em sua versão 
falsificacionista mais proeminente, substitui-se a ideia de comprovação 
pela de falsificação. Submetem-se as hipóteses a testes tentando demons-
trar sua falsidade, pois os resultados dos testes nunca comprovarão sua 
validade. Eles procuram provar apenas sua falsidade, nunca sua verdade. 
Neste sentido, o que se sustenta, o que não é provado falso, é sempre 
uma verdade provisória, mantida até que seja suplantada por outra ver-
dade com maior resistência a ser falsificada. Teorias neste sentido são 
construtos que resistem à falsificação.
Também na abordagem racionalista-dedutiva a linguagem é apenas 
entendida como um modo de comunicação, seja do processo da pesqui-
sa, seja de seus resultados. Não deve interferir no processo, e exige um 
controle cuidadoso no sentido de sua neutralidade. Constitui apenas 
instrumento de comunicação. Nessa procura de neutralidade, insiste-se 
em que os resultados e relatórios de pesquisa sejam escritos em terceira 
pessoa, de forma impessoal. Não se admite que a subjetividade se imiscue 
na expressão dos resultados, muito menos os valores do pesquisador.
ROQUE MORAES34
Dentre os movimentos científicos e filosóficos que se relacionam com 
esta abordagem podemos apontar o racionalismo cartesiano de Descartes 
no século XVI, com reflexos na ciência até nossos dias. Assim como outros 
racionalistas, Descartes foi matemático, além de filósofo. Da mesma forma 
o foi Newton, que fundamentou seu trabalho numa visão racional derivada 
da matemática, o cálculo infinitesimal. Outro expoente mais próximo é Karl 
Popper, no século XX, com seu racionalismo crítico. Fundamentadas num 
materialismo realista e crítico, as ideias de Popper estão subjacentes a grande 
parte das iniciativas de pesquisa atuais, especialmente nas ciências físicas. Para 
diferentes autores, constituem uma nova versão do positivismo, o neopositi-
vismo, o qual carrega a maioria dos pressupostos que sustentam o positivismo: 
neutralidade axiológica, concepção de realidade, fragmentação da realidade 
em relações causais e possibilidade de generalização independentemente de 
contexto. Todos esses pressupostos têm sido intensamente questionados 
por novos paradigmas que procuram superar o positivismo e suas variantes.
Dentre os expoentes − tanto cientistas como filósofos − que podem 
ser associados ao racionalismo-dedutivista estão, além de Descartes e 
Popper, já referidos, Newton, Einstein, Lakatos, entre outros. Cada um 
deles apresenta características específicas, não sendo necessariamente 
representantes “puros” dessa abordagem.
Conforme já salientado, essa abordagem é mais característica das 
ciências físicas, genericamente denominadas as ciências duras. Ainda 
que ao longo do século passado diferentes disciplinas sociais tenham 
tentado enquadrar-se nesta abordagem, as dificuldades que isso sem-
pre representou deram origem à valorização de outros pressupostos, 
originando as bases de um novo paradigma, denominado emergente por 
Boaventura Santos. Para sua emergência o movimento fenomenológico 
foi, sem dúvida, decisivo. É nessa abordagem que entraremos a seguir.
DA NOITE AO DIA 35
Abordagem fenomenológico-compreensiva
Contrastando com as duas abordagens anteriores, voltadas para explicar 
o mundo por meio da investigação de relações causais, a abordagem 
fenomenológica visa à compreensão da realidade. No sentido da fenome-
nologia, a verdade manifesta-se em forma de essências dos fenômenos, 
essências essas que precisam ser atingidas por intuição. Essa intuição 
não representa um processo racional e ordenado, tal como a indução e a 
dedução. Ocorre em forma de inspirações repentinas, “insights” intuitivos 
que revelam os aspectos essenciais dos fenômenos, não em suas partes, 
mas no todo. Enquadra-se, nesse sentido, num processo auto-organizado.
A fenomenologia, pretendendo localizar-se entre o materialismo e o 
idealismo, admite a existência de um mundo material “lá fora”. Entretanto, 
entende que os entes concretos não nos são acessíveis. Somente temos 
acesso aos fenômenos, àquilo que se manifesta aos sujeitos. Por esta razão, 
a realidade da fenomenologia é sempre uma realidade construída, um 
conjunto de representações que nós fazemos a partir de nossa interação 
com os fenômenos. Nossa construção é sempre transcendente, resultante 
de nossas intuições. O transcendental não nos é acessível.
A fenomenologia, em seu exercício de construção de compreensão, 
exercita uma atitude fenomenológica, uma abertura e atenção aos fe-
nômenos tal como se apresentam à nossa consciência. O fenomenólogo 
pratica constantemente um direcionamento reflexivo para os fenômenos 
que investiga, procurando colocar entre parêntesis seus conhecimentos e 
teorias prévios. Nisso pretende um retorno às coisas mesmas, um retorno 
ao mundo da vida em toda sua riqueza e subjetividade.
Ao focalizar um retorno ao mundo da vida, ao mundo da experiência 
original, a fenomenologia pretende examinar a realidade de uma pers-
pectiva interior, superando nisto a pretensa neutralidade do positivismo 
e das abordagens indutivista e racionalista. Nessa perspectiva, conforme 
coloca Merleau Ponty, nada é mais objetivo do que aquilo que nos é mais 
subjetivo. Assim, a fenomenologia, ao enfatizar o sujeito, ao examinar os 
ROQUE MORAES36
fenômenos a partir da perspectiva interior dos sujeitos, admite, desde 
logo, que é impossível a separação de valores e pesquisa. Toda pesquisa 
fenomenológica é sempre impregnada de valores.
O método fenomenológico, não sendo um caminho racionalizado, é 
carregado de incertezas e riscos. A intuição em que se fundamenta não 
pode ser garantida racionalmente, tal como ocorre em uma generalização 
indutiva. Entretanto, podemos favorecê-la por meio de uma impregnação 
intensa nos fenômenos que investigamos. Quanto mais nos envolvemos 
com um fenômeno, quanto mais nos impregnamos nele, quanto mais nos 
saturamos dele, maiores são as possibilidades de termos intuições sobre 
suas essências. Mas esta impregnação não é do tipo teórico, mas do tipo 
vivencial, já que as essências se encontram na existência.
O método fenomenológico atinge essências sempre de forma gra-
dual e incompleta. O fenômeno nunca se esgota. Por isso, precisamos 
nos mover em círculos, procurando a cada volta um aprofundamento 
maior no fenômeno. É o círculo hermenêutico. A cada retorno podemos 
descrever, interpretar e compreender com maior profundidade os fenô-
menos que investigamos.
A abordagem fenomenológica e compreensiva direciona-se prefe-rencialmente para aspectos qualitativos do fenômeno. Pretende sempre 
focalizá-lo em sua totalidade, sem fragmentá-lo. Não escolhe fragmentos, 
ou seja, relações entre variáveis, para estudar. Por isso, também não uti-
liza análises estatísticas, especialmente as do tipo inferencial. Em outras 
palavras, não tem pretensões de generalizar. As essências do fenômeno 
sempre se referem ao todo e dispensam generalizações. Nisso está in-
cluída a superação de amostragens estatísticas, utilizando, ao invés disso, 
amostras intencionais e direcionadas, escolhendo preferencialmente 
aqueles sujeitos que demonstrem mais condições para nos possibilitar 
um envolvimento intenso com os fenômenos investigados. Não impor-
tam amostras aleatórias, mas grupos de sujeitos com vivências intensas 
nos fenômenos, sujeitos que também têm condições de manifestar suas 
experiências vivenciais com competência.
DA NOITE AO DIA 37
Como coloca Heidegger (2000), a linguagem é a alma do ser. Assim, 
a fenomenologia valoriza de forma intensa a linguagem como modo de 
expressão dos fenômenos. Desse modo, nessa abordagem, a linguagem 
tem um significado muito especial. Não serve apenas para comunicar 
novas compreensões uma vez atingidas. Serve, muito mais, como modo 
de acesso aos fenômenos e às suas essências. Por essa razão, a abordagem 
fenomenológica tem, nas interações linguísticas, tais como entrevistas 
em profundidade, suas formas preferenciais de coletar informações. É por 
meio da linguagem que se dá a impregnação nos fenômenos.
A fenomenologia como movimento filosófico próprio surge no início 
do século XX. Seu fundador foi Husserl, um filósofo matemático. Com seu 
retorno ao mundo vivido, com seu foco nas coisas mesmas, ele pretendeu 
dar um novo fundamento à ciência. Nesse foco original, destaca-se também 
o trabalho de Merleau-Ponty. A valorização do homem como centro do 
processo do conhecer logo se associa com o existencialismo, especialmente 
com Heidegger. Tanto a fenomenologia quanto o existencialismo têm 
fundamento dialético, no sentido de conceberem a realidade como em 
permanente movimento e histórica, ainda que não no sentido marxista. 
Nesta linha, a fenomenologia teve uma influência decisiva a partir de Sartre, 
que a integrou ao existencialismo e à dialética. Finalmente, essa corrente 
filosófica também se aproxima de uma perspectiva hermenêutica, ênfase 
trabalhada especialmente por Gadamer (1984) na obra Verdad y Método.
Abordagem etnográfico-cultural
A etnografia carrega um significado etimológico de descrição do estilo 
de vida de um grupo de pessoas acostumadas a viver juntas (MARTINEZ, 
1994, p. 29). A abordagem etnográfico-cultural, tendo uma raiz fenome-
nológica, organiza-se a partir do estruturalismo e dos estudos antropoló-
gicos. Pretende chegar ao conhecimento e a verdades científicas a partir 
do estudo das culturas e das linguagens culturais. Sua verdade emerge 
da interação social. Nesse processo de construção de conhecimentos, 
ROQUE MORAES38
utiliza-se tanto a indução quanto a dedução e especialmente a intuição. 
Os estudos etnográficos são em sua essência pesquisas que têm como 
base a linguagem e os costumes de grupos culturais.
A abordagem etnográfico-cultural fundamenta-se em uma concepção 
de realidade construída. As próprias culturas são modos de compreender 
realidades construídas socialmente dentro de certos grupos. Nesse senti-
do, esse tipo de pesquisa pretende compreender e descrever diferentes 
realidades, tal como elaboradas socialmente dentro de certos grupos 
− realidades construídas histórica e intersubjetivamente. Em tudo isto a 
linguagem desempenha um papel primordial.
Pretendendo uma compreensão e descrição de culturas, a abordagem 
etnográfico-cultural necessita trabalhar procurando sempre colocar-se 
na perspectiva do outro. Nisso assume uma base fenomenológica de 
valorização do sujeito e de sua subjetividade. Tendo em vista esses 
elementos, os estudos etnográficos exigem uma aproximação muito es-
treita com as culturas que pretendem compreender, o que é conseguido 
especialmente a partir de dois métodos: a observação e a entrevista. A 
observação etnográfica é essencialmente participante, e a entrevista é 
sempre aprofundada, com retorno reiterado aos mesmos interlocutores 
para um gradativo impregnar-se na cultura em foco.
Pelo que acaba de ser posto, a abordagem etnográfico-cultural su-
pera a pretensão positivista da neutralidade. Focalizando a perspectiva 
dos sujeitos e informantes, esta abordagem valoriza de modo especial 
a subjetividade e intersubjetividade. Nisso estão presentes os valores 
culturais e sociais o tempo todo. Ainda que em determinados momentos 
de uma pesquisa etnográfica se exija o afastamento do pesquisador do 
contexto de sua pesquisa, em nenhum momento isso implica pretensão 
de neutralidade. Mesmo assim, é importante enfatizar que, nesse tipo de 
estudo, na expressão de seus resultados, o pesquisador sempre pretende 
falar sobre uma determinada cultura, distinguindo-se neste sentido de 
pesquisas de caráter mais participativo, em que o pesquisador se mani-
DA NOITE AO DIA 39
festa mais diretamente como componente efetivamente participante do 
grupo com que produz sua pesquisa.
Os estudos etnográficos inserem-se na proposta de compreender. 
Não têm, por isso, pretensões explicativas, nem intenções de focalizar 
relações causais lineares. Ao invés disso, procuram compreender as 
tramas de inter-relações entre diferentes temas, domínios e conceitos 
(SPRADLEY, 1980) que constituem a cultura investigada. Seu objetivo é 
essencialmente qualitativo, focalizando sempre a perspectiva do todo, 
ainda que com consciência de que os significados atingidos serão sempre 
parciais, podendo constantemente ser construídos novos sentidos. Cada 
compreensão e descrição atingida representa um patamar estrutural 
atingido pelo pesquisador, sempre com possibilidade de ser superado.
Os estudos etnográficos têm, na linguagem, uma forma preferencial 
de acesso às culturas que se propõem a investigar. A fala dos sujeitos e 
informantes culturais constitui elemento central da abordagem, ainda que 
complementada com observações intensas e aprofundadas no sentido 
de compreender e delimitar de modo mais completo as compreensões 
construídas. Neste sentido, tendo na fenomenologia seu fundamento, 
nesses tipos de pesquisa a linguagem representa muito mais do que a 
possibilidade de expressar os resultados das pesquisas. É elemento cons-
tituinte da compreensão que vai sendo construída ao longo do processo.
Conforme já apontado, pesquisas dentro da abordagem etnográfi-
co-cultural têm na fenomenologia, na antropologia e no estruturalismo 
seus referenciais filosóficos. Entre alguns dos expoentes que merecem ser 
citados, além das referências a fenomenólogos já anteriormente feitas, 
está especialmente Levy Strauss, um dos fundadores do estruturalismo. 
Além dele, também merece ser referido o trabalho de Spradley, o qual 
sistematizou formas de pesquisa nessa abordagem.
ROQUE MORAES40
Abordagem naturalístico-construtiva
A abordagem naturalístico-construtiva pretende chegar à compreensão 
dos fenômenos e das problemáticas que investiga examinando-os no 
próprio contexto em que ocorrem. Fundamentada numa epistemologia in-
terativa construtiva, pretende chegar ao conhecimento por aproximações 
gradativas baseadas na indução analítica. Um envolvimento intenso nos 
fenômenos ajuda a reunir informações sobre os objetos de pesquisa. Essas 
informações, submetidas a um processo de análise indutivo, possibilitam 
a gradativa explicitação de categorias e de uma estrutura compreensiva 
dos fenômenos, resultando daí suadescrição, interpretação e teorização.
A abordagem naturalístico-construtiva assume uma realidade cons-
truída pelos sujeitos. Partindo da impossibilidade de acesso e chegando 
ao concreto, procura trabalhar com mundos humanos, representados 
por construções linguísticas e discursivas. Por isso, focaliza de maneira 
especial os modos de percepção dos sujeitos que envolve, trabalhando 
especialmente com seus conhecimentos tácitos. Nisto também se incluem 
os conhecimentos, as crenças e os valores do próprio pesquisador.
A valorização dos conhecimentos tácitos e implícitos dos sujeitos, 
assim como a opção por focalizar os fenômenos no próprio contexto em 
que ocorrem, carrega consigo o pressuposto da imersão da pesquisa nos 
valores dos participantes. Nesta perspectiva, a neutralidade é impossível. 
Todas as falas já estão impregnadas de teorias e ideologias, mesmo que não 
haja consciência disto por parte de todos os envolvidos. Esta superação da 
neutralidade no sentido positivista aparece especialmente pela admissão 
do pesquisador como principal instrumento de coleta de informações.
A abordagem naturalístico-construtiva, por sua valorização dos 
conhecimentos tácitos dos envolvidos, sejam eles os participantes ou 
o próprio pesquisador, enfatiza a impossibilidade de um olhar teórico 
objetivo e neutro. Ao contrário, pode-se compreender este tipo de pes-
quisa como visando à explicitação de teorias implícitas que os sujeitos 
construíram anteriormente de modo inconsciente, aplicando-se isto 
DA NOITE AO DIA 41
tanto aos envolvidos na pesquisa quanto ao pesquisador. As teorias, de 
algum modo, são reconstruídas a partir de manifestações linguísticas dos 
participantes. Das informações coletadas são produzidas, pelo esforço 
analítico do pesquisador, categorias emergentes. Essas, por sua vez, são 
estruturadas em forma de teorias emergentes, expressões formalizadas 
e abstratas de concepções teóricas tácitas já construídas implicitamente 
pelos sujeitos da pesquisa.
Dentre os elementos-chave desta abordagem estão o exame de ocor-
rências naturais dos fenômenos, com valorização dos contextos em que 
ocorrem; a utilização do próprio pesquisador como principal instrumento 
de pesquisa, valorizando-se especialmente seu conhecimento tácito no 
sentido de aproximação gradativa aos fenômenos; o uso de metodologias 
qualitativas e de modo especial a indução analítica, método pelo qual uma 
comparação constante entre as informações coletadas possibilita a emer-
gência gradativa de categorias e teorias. As pesquisas nesta abordagem 
constituem essencialmente estudos de caso, não tendo pretensões de 
generalização estatística, mas visando principalmente à compreensão 
dos fenômenos investigados.
Desse modo, o método característico dessa abordagem envolve 
uma impregnação aprofundada nos fenômenos para a obtenção de suas 
descrições e interpretações. Das informações reunidas especialmente 
por meio de entrevistas aprofundadas são construídas categorias e hi-
póteses de trabalho que, de modo reiterativo, são aperfeiçoadas e com-
plementadas até atingir-se a clareza desejada nas construções teóricas 
assim produzidas. O planejamento é emergente, com uma definição de 
amostra por processos de saturação. Finalmente, os resultados atingidos 
são negociados com os envolvidos, estabelecendo-se dessa forma uma 
validação das teorias emergentes dentro do próprio ambiente natural 
em que se dá a construção. Emerge daí um novo tipo de extensão dos 
resultados a outros contextos − a generalização naturalística.
Nas caracterizações feitas até esse momento, fica evidente o papel 
e o sentido da linguagem nessa abordagem. Ela não representa apenas 
ROQUE MORAES42
uma forma de expressar os resultados, mas é fundamental na constitui-
ção das compreensões construídas ao longo do processo. A linguagem 
e o discurso são formas preferenciais de acesso aos fenômenos e às pro-
blemáticas focalizados. A análise de informações linguísticas constitui a 
forma de chegar à compreensão dos fenômenos, construindo-se a partir 
das informações coletadas as categorias e teorias utilizadas na descrição 
e interpretação dos objetos de pesquisa.
A abordagem naturalístico-construtiva, que também poderíamos 
denominar genericamente abordagem qualitativa-construtiva, tem raízes 
evidentes na fenomenologia, representadas pelo respeito aos sujeitos e 
seus modos de compreender os fenômenos. Outro movimento filosófi-
co-epistemológico evidentemente presente é o construtivismo. Proposta 
originariamente por Lincoln e Guba (1985), esta abordagem mostra uma 
aproximação muito grande com inúmeras pesquisas que têm sido con-
duzidas dentro da educação e ciências sociais sob o enfoque qualitativo. 
Abordagem histórico-narrativa
A abordagem de pesquisa que denominamos histórico-narrativa constitui 
um modo de pesquisa que pretende chegar a novos conhecimentos por 
meio da narrativa, descrição e interpretação de histórias vivenciadas 
pelos sujeitos participantes, incluindo sempre o próprio pesquisador. É 
uma abordagem essencialmente qualitativa que, além de pretender su-
perar o reducionismo do paradigma dominante, se opõe ao formalismo 
excessivo de diferentes abordagens qualitativas. Nesse sentido, as inter-
pretações e teorizações mais aprofundadas são solicitadas aos próprios 
leitores, sempre no sentido de uma maior diversidade de possibilidades 
de compreensão dos fenômenos. Entre os leitores, se incluem todos os 
participantes da pesquisa.
A abordagem histórico-narrativa concebe a realidade como cons-
truída pelos sujeitos. Esta construção dá-se preferencialmente a partir 
da sucessão de pequenas histórias, em que são valorizados os aspectos 
DA NOITE AO DIA 43
subjetivos da vivência humana. No seu exercício de superação da “grande 
narrativa”, a narrativa do paradigma dominante, segundo terminologia de 
Clandinin e Connelly (2000), enfatiza-se uma perspectiva multicultural, 
em que a história é escrita a partir de um encadeamento de pequenas 
narrativas, sempre com ênfase nas perspectivas dos sujeitos envolvidos.
A abordagem histórico-narrativa parte da consideração dos sujeitos 
com seus valores e teorias. Representando um resgate histórico, bio-
gráfico e autobiográfico, este tipo de pesquisa está sempre imerso em 
valores, exigindo inclusive do próprio leitor este tipo de envolvimento. 
Pesquisas desta natureza solicitam uma parceria empática dos participan-
tes, procurando o pesquisador entrar no pensamento ou na percepção 
dos envolvidos, concretizando isto a partir da narrativa de suas histórias 
vivenciadas, com valores, ideologias e contexto. Segundo Clandinin e 
Connelly (2000), trata-se de uma objetividade de profundidade, supe-
rando pretensas objetividades e neutralidades do paradigma tradicional, 
a grande narrativa. A superação deste paradigma, com pretensão de 
uma visão única e uniforme, conduz a uma multiplicidade de narrativas 
dependentes das culturas, dos valores e de outros aspectos que indivi-
dualizam ou particularizam as histórias de diferentes grupos. Nisso, essa 
abordagem insere-se decisivamente na pós-modernidade.
Tendo em vista sua ênfase em construir novas compreensões dos 
fenômenos a partir da perspectiva do outro, essa abordagem de pesquisa 
não assume previamente um referencial teórico. As histórias vivenciadas 
são interpretadas a partir de sua descrição, e não a partir de teorias pre-
viamente assumidas. Isso não significa que o pesquisador não necessite 
explicitar com clareza suas pré-concepções teóricas e ideológicas, mas 
que ele deve procurar também mostrar como essas pré-concepções 
poderão influir nas suas próprias interpretações.
Ao recusar enquadrar asexperiências dos participantes em quadros 
referenciais adotados a priori, a pesquisa histórico-narrativa pretende 
superar o formalismo característico de muitas pesquisas. A recusa de in-
terpretar as vivências e histórias dos envolvidos a partir de teorias formais 
ROQUE MORAES44
adotadas antes do exame das histórias também se reflete nos modos de 
interpretação. Em geral, neste tipo de pesquisa não se adianta interpre-
tações e teorizações aos leitores, mas deixa-se ao leitor a interpretação 
e teorização, ainda que o pesquisador também possa exercer este papel 
de leitor. Neste sentido, a pesquisa procura valorizar a multiculturalida-
de e respeitar os diferentes modos de compreensão dos leitores e dos 
participantes de uma pesquisa.
Um dos elementos-chave da abordagem histórico-narrativa são 
as histórias de vida como forma de resgatar dados para a análise. Este 
tipo de pesquisa constitui uma forma de caracterizar os fenômenos da 
experiência humana vivida, incluindo os sentimentos que envolvem os 
seres humanos em suas trajetórias de experiências vivenciadas. Nisso 
valoriza-se uma atitude fenomenológica de respeito às subjetividades 
dos envolvidos e do próprio pesquisador.
Além do foco nas vivências e histórias de vida dos sujeitos envolvidos, 
essa abordagem caracteriza-se por adotar a narrativa como modo de 
investigação e expressão dos resultados. Neste sentido, explora como 
elementos centrais a continuidade, interação, temporalidade, ação e 
contexto (CLANDININ e CONNELLY, 2000).
A abordagem histórico-narrativa é essencialmente qualitativa, pro-
curando qualificar a experiência vivida dos sujeitos participantes. Pode 
valorizar a descrição, compreensão e interpretação, procurando sempre 
ampliar a consciência em relação aos fenômenos que investiga, tanto do 
pesquisador como dos sujeitos envolvidos.
Metodologicamente, essa abordagem concentra-se na reunião, or-
ganização e apresentação de histórias vivenciadas pelos sujeitos partici-
pantes em relação a um fenômeno foco. O direcionamento da pesquisa é 
estabelecido dentro do processo, não pressupondo questões de natureza 
teórico-formal como ponto de partida. Neste sentido, a evolução da 
pesquisa exige uma intensa impregnação nas histórias e no contexto em 
que se concretizam, tentando organizá-las para uma narrativa clara e 
coerente. Nisso, o processo se volta tanto ao passado quanto ao presente, 
DA NOITE AO DIA 45
além de fazer prospecções ao futuro. Além desses movimentos para trás 
e para frente, o pesquisador também procura movimentar-se para fora 
e para dentro do fenômeno, segundo sugestões de Clandinin e Connelly 
(2000), significando o para fora uma ampliação horizontal no fenômeno 
e o para dentro um aprofundamento no sentido vertical.
A impregnação nos fenômenos investigados exige e possibilita uma 
grande diversidade de formas de acesso às histórias dos sujeitos participan-
tes. Nisso incluem-se entrevistas não estruturadas, informações obtidas 
por meio de observação participante ou não, diários, documentos, fotos, 
materiais escritos como normas e regulamentos, relatos a partir de cartas, 
históricos de vida, notas de campo, entre outros. Na coleta desses tipos 
de informações, o foco são sempre histórias que os sujeitos participantes 
vivenciaram em relação aos fenômenos sob investigação. De algum modo 
no processo de coleta de material são produzidas narrativas que depois 
são integradas na produção do texto narrativo da pesquisa. 
A organização desses relatos históricos se dá de diversas formas: 
apresentações orais, representações dramáticas, além, evidentemente, 
do relato narrativo escrito. Em todas elas, o autor da narração não arrasta 
até o território de sua mente o leitor, mas sai ao seu encontro. Enfatiza-
se sempre a importância de deixar ao próprio leitor a abertura para suas 
próprias interpretações, não lhe sendo imposta uma visão unilateral 
referente ao fenômeno.
Na abordagem histórico-narrativa, está evidente a valorização da 
linguagem como constituinte das compreensões a serem atingidas na 
pesquisa. A pesquisa narrativa produz uma história a partir de um discurso 
explícito ou implícito dos participantes. Autor e leitor se envolvem em 
processos linguísticos de narração, interpretação e compreensão dos 
fenômenos estudados. Desse modo, entendemos que a linguagem se 
faz presente ao longo de todo o processo de pesquisa nesta abordagem. 
É constituinte das histórias e da compreensão construída, além de ser 
elemento fundamental na comunicação dos resultados.
ROQUE MORAES46
A pesquisa narrativa encontra-se associada a muitas áreas do conhe-
cimento, como teoria literária, história, antropologia, etnografia, artes, 
filosofia, psicologia e linguística. De todas elas extrai seus pressupostos 
e encaminhamentos metodológicos.
A abordagem histórico-narrativa constitui uma abordagem relativa-
mente recente de pesquisa qualitativa. Aproxima-se decisivamente dos 
movimentos pós-modernos e pós-estruturalistas por sua valorização da 
multiculturalidade, com foco em questões de gênero, raça e valorização 
da diversidade cultural. 
Abordagem crítico-dialética
A abordagem de pesquisa crítico-dialética pode ser descrita como voltada 
para a produção de novos conhecimentos por meio da lógica dialética. 
Essencialmente fundamentada na crítica, parte sempre do questiona-
mento de um conhecimento existente no sentido de sua superação. Daí 
surgem antíteses, novas formas de conceber o mesmo conhecimento que, 
uma vez validadas, constituirão as novas teses. Por essa sua natureza, o 
conhecimento resultante dessa abordagem será mais caracterizado por 
sua veracidade do que por sua verdade absoluta, pelo certo ao invés do 
verdadeiro (SANTOS, 2000). Em suas versões pós-modernas, concen-
tra-se cada vez mais no discurso, não só como modo de constituição do 
conhecimento como do próprio sujeito cognoscente. O conhecimento 
neste sentido é dado pelo discurso e o sujeito tem papel muito reduzido 
em sua constituição, ainda que possa envolver-se na sua reconstrução.
Tendo em vista seu fundamento dialético, essa abordagem de pesquisa 
concebe a realidade como em constante movimento, em um contínuo vir 
a ser. Tal como o próprio discurso, a realidade constitui uma construção 
coletiva, expressando o resultado do movimento contraditório das forças 
que nele intervém. Nessa abordagem, portanto, assume-se uma realidade 
construída pelos sujeitos, ainda que não individualmente. Estando imer-
sos nesse movimento desde que nascem, os indivíduos, seguidamente 
DA NOITE AO DIA 47
não tem consciência das forças e pressões que comandam e direcionam 
suas ações. Exige-se nesse sentido uma conscientização possibilitando 
uma transformação das realidades dadas para formas mais avançadas 
e socialmente aceitáveis. Por isso essa abordagem sempre é crítica em 
relação à realidade e tem como meta sua transformação.
Tomar consciência é superar a alienação dos sujeitos. Isso implica su-
perar a representação objetiva de realidade que seguidamente é inculcada 
nos sujeitos pelo discurso. É tomar consciência das forças ideológicas 
que estão por trás de qualquer discurso, implicando valores e verdades 
que, de modo geral, não são questionados. Assumir essa abordagem de 
pesquisa, portanto, é superar a neutralidade, aproximando pesquisador 
e pesquisados, residindo nisso sua qualidade política. Esta imbricação 
de valores no processo da pesquisa, fundada na opção dialética crítica, 
também implica o respeito a diversificados pontos de vista de diferentes 
sujeitos envolvidos. Isso tem sido valorizado especialmente em alguns 
tipos de pesquisa, como a pesquisa participante e a pesquisa-ação.

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