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Poder, Política e Sociedade_2020

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EAD
 PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
 
 PROFA. ORG. ESP. MÔNICA LUZIA FORTE BELANI
PROFA. ESP. RAQUEL CRISTINA ABDALLA CHIARADIA 
http://unar.info/ead2
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
1 
 
Sumário 
UNIDADE 01 – SOCIOLOGIA POLÍTICA ....................................................................................... 2 
UNIDADE 02 – ESTADO ........................................................................................................... 14 
UNIDADE 03 – ELEMENTOS CONSTITUIVOS E CARACTERÍSTICAS DO ESTADO ...................... 22 
UNIDADE 04 – ESTADO E IDEOLOGIA ...................................................................................... 39 
UNIDADE 05 – SISTEMAS E IDEOLOGIAS ................................................................................. 44 
UNIDADE 06 – REGIMES DE GOVERNO E SISTEMAS ELEITORAIS ............................................ 58 
UNIDADE 07 – CIDADANIA ...................................................................................................... 71 
UNIDADE 08 – PODER ............................................................................................................. 84 
UNIDADE 09 – BIOPODER E BIOPOLÍTICA ............................................................................... 93 
UNIDADE 10 – PODER, DISCURSO, IDEOLOGIA E MANIPULAÇÃO ........................................ 102 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 113 
 
 
 
 
“O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, 
grossas, copiosas, transbordem do indivíduo, 
e se espraiem, estancando a sede dos outros. 
Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades” 
Gilberto Freyre 
 
 
 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
2 
 
UNIDADE 01 – SOCIOLOGIA POLÍTICA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
O objetivo desta unidade é apresentar a disciplina e buscar entendê-la 
como ciência e apresentar e discutir a teoria política e conceitos fundamentais. 
 
Conceitos importantes para compressão: 
 
- Política: é o processo social através do qual poder coletivo é gerado, 
organizado, distribuído e usado nos sistemas sociais. Na maioria das sociedades 
é organizada sobretudo em torno da instituição do Estado. O conceito de 
política pode ser aplicado virtualmente em todos os sistemas sociais nos quais o 
poder representa papel importante. 
 
- Sociedade: é um tipo especial de sistema social que, como todos os sistemas 
sociais, distingue-se por suas características culturais, estruturais e 
demográficas/ecológicas. Especificamente, é um sistema definido por um 
território geográfico (que poderá ou não coincidir com as fronteiras de Nações-
Estado), dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de 
vida comuns, em condições de autonomia, independência e autossuficiência 
relativas. É necessário especificar “relativa”, porque se trata de questões de grau 
no mundo moderno, de sociedades interdependentes. É seguro dizer, no 
entanto, que elas figuram entre os mais autônomos e independentes de todos 
os sistemas sociais. Outra característica distintiva das sociedades é que tendem 
a ser o maior sistema com o qual indivíduos se identificam como membros [...]. 
Sociedade é um conceito fundamental em sociologia porque é nesse nível que 
são criados e organizados os elementos mais importantes da vida social. 
Virtualmente todos os sistemas sociais de que participamos — da família e 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
3 
 
religião às ocupações e aos esportes — são, de certa maneira, subsistemas de 
uma sociedade que define seu caráter básico. Até mesmo grupos subversivos e 
revolucionários operam e se definem principalmente em relação a sociedades e 
suas instituições. Mas, importante como sejam, não devemos imputar-lhes 
características que não possuem. Esse fato é bem evidente na prática comum de 
falar em sociedades como se elas fossem pessoas, capazes de pensar, sentir, 
querer, necessitar e agir. Como sistema social, ela é em grande parte abstrata, 
mesmo que possa ser experimentada como tendo realidade concreta. 
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 A sociologia tem como objeto de estudo as interações sociais, processos 
e estruturas sociais. Assim como a ciência política, a sociologia política estuda as 
relações de poder. Como colocado pela Associação Brasileira de Ciência Política, 
“A Sociologia Política é um campo de pesquisa que reconhece tanto a 
especificidade das instituições e dos comportamentos políticos como a sua 
inevitável interação com outras dimensões da vida social”. 
 Portanto, não há como dissociar nosso olhar (mesmo que focado na 
política) da sociedade como um todo, pois se todas as relações são políticas, 
esta também é resultado delas. Sendo assim, para compreendermos a dimensão 
política de uma sociedade, é necessário buscar a forma com que suas 
instituições estão organizadas, o meio pelo qual o poder escoa por entre elas e, 
não menos importante, como as riquezas estão distribuídas. 
O homem, por ser um animal social, necessita do convívio em sociedade, 
mas este convívio nunca foi simples. Desde o início das primeiras comunidades 
ele se pautou em relações de poder, em padrões de comportamento coletivo, 
no estabelecimento de regras e normas etc., mediadas pela cooperação, pelo 
conflito e transformações. 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
4 
 
 A sociologia política nasceu influenciada pela história e pela filosofia, que 
nos auxiliou na construção do olhar sociológico sobre as relações e interações 
sociais. 
A filosofia nos traz inúmeros e interessantes debates sobre a natureza 
singular do homem; já nos escritos de Platão inicia-se a discussão sobre esta 
singularidade. Aristóteles afirma que o homem é um ser político pela sua 
capacidade de conviver em sociedade; para outros filósofos, esta convivência 
não seria natural, e sim resultado das necessidades de sobrevivência, mas de 
forma alguma uma convivência pacífica. 
Por isso, para os chamados contratualistas esse convívio em sociedade só 
é possível através de um “contrato social”, que retiraria o homem do chamado 
“estado natural”, no qual não se conhecia nenhuma organização política e 
formas de coerção sobre os indivíduos e a liberdade era ilimitada, o que por 
consequência fazia com que o ser humano se sentisse ameaçado pela liberdade 
do outro. Então, para resolver esse conflito e defender o homem e sua 
liberdade, pensando no bem comum, o ser humano aceitou submeter a sua 
liberdade às leis e ao Estado, o qual limita o exercício das nossas liberdades 
para que sejamos “livres”. Em outras palavras, o objetivo dos contratualistas é 
justificar o aparecimento do Estado como instituição histórica, podendo ser 
visto como o resultado de um “acordo” (contrato) entre os homens, proposto 
ou imposto. Muitos filósofos modernos trataram de debater sobre a 
ideia de transição do chamado “estado de Natureza” ao “estado de sociedade”. 
 
O conceito de estado de natureza tem a função de explicar a situação 
pré-social na qual os indivíduos existem isoladamente. Duas foram as principais 
concepções do estado de natureza: 
1. A concepção de Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado 
de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
5 
 
guerra de todos contra todos ou "o homem lobo do homem". Nesse estado,reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se 
protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as 
terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá 
alguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida 
não tem garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a 
única lei é a força do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para 
conquistar e conservar; 
2. A concepção de Rousseau (no século XVIII), segundo a qual, em estado 
de natureza, os indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o 
que a Natureza lhes dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, 
pelo grito e pelo canto, numa língua generosa e benevolente. Esse estado de 
felicidade original, no qual os humanos existem sob a forma do bom selvagem 
inocente, termina quando alguém cerca um terreno e diz: "É meu". A divisão 
entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao estado de 
sociedade, que corresponde, agora, ao estado de natureza hobbesiano da 
guerra de todos contra todos. 
O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau 
evidenciam uma percepção do social como luta entre fracos e fortes, vigorando 
a lei da selva ou o poder da força. Para fazer cessar esse estado de vida 
ameaçador e ameaçado, os humanos decidem passar à sociedade civil, isto é, ao 
Estado Civil, criando o poder político e as leis. 
A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de 
um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à 
posse natural de bens, riquezas e armas e concordam em transferir a um 
terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se 
autoridade política. O contrato social funda a soberania. 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
6 
 
Parte-se do conceito de direito natural: por natureza, todo indivíduo tem 
direito à vida, ao que é necessário à sobrevivência de seu corpo, e à liberdade. 
Por natureza, todos são livres, ainda que, por natureza, uns sejam mais fortes e 
outros mais fracos. Um contrato ou um pacto, dizia a teoria jurídica romana, só 
tem validade se as partes contratantes foram livres e iguais e se voluntária e 
livremente derem seu consentimento ao que está sendo pactuado. A teoria do 
direito natural garante essas duas condições para validar o contato social ou o 
pacto político. Se as partes contratantes possuem os mesmos direitos naturais e 
são livres, possuem o direito e o poder para transferir a liberdade a um terceiro, 
e se consentem voluntária e livremente nisso, então dão ao soberano algo que 
possuem, legitimando o poder da soberania. Assim, por direito natural, os 
indivíduos formam a vontade livre da sociedade, voluntariamente fazem um 
pacto ou contrato e transferem ao soberano o poder para dirigi-los. 
Para Hobbes, os homens reunidos numa multidão de indivíduos, pelo 
pacto, passam a constituir um corpo político, uma pessoa artificial criada pela 
ação humana e que se chama Estado. Para Rousseau, os indivíduos naturais são 
pessoas morais, que, pelo pacto, criam a vontade geral como corpo moral, 
coletivo ou Estado. A teoria do direito natural e do contrato evidencia uma 
inovação de grande importância: o pensamento político já não fala em 
comunidade, mas em sociedade. A ideia de comunidade pressupõe um grupo 
humano uno, homogêneo, indiviso, que compartilha os mesmos bens, as 
mesmas crenças e ideias, os mesmos costumes e que possui um destino 
comum. A ideia de sociedade, ao contrário, pressupõe a existência de indivíduos 
independente e isolados, dotados de direitos naturais e individuais, que 
decidem, por um ato voluntário, tornar-se sócios ou associados para vantagem 
recíproca e por interesses recíprocos. A comunidade é a ideia de uma 
coletividade natural ou divina, a sociedade, a de uma coletividade voluntária, 
histórica e humana. 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
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7 
 
CHAUÍ, Marilena. Estado de natureza, contrato social, estado civil na filosofia de Hobbes, Locke e Rousseau. Filosofia. 
São Paulo: Ática, 2000. 
 
 A forma com que nos relacionamos ou criamos a sociedade é política, 
pautada nas relações de poder, nas quais abrimos mão de algumas liberdades 
para garantirmos a “ordem social”. 
 Nesta e nas próximas unidades buscaremos definir alguns conceitos 
norteadores na compreensão do que entendemos por poder, política e 
sociedade, dando-nos, assim, pré-requisitos para discutir e analisar as relações 
de poder em nossa e outras sociedades. 
 
Política 
A política surgiu como uma atividade social desenvolvida pelos homens 
adultos nas cidades-Estado da Grécia antiga, onde os cidadãos se reuniam para 
decidir questões coletivas. A palavra política tinha relação com a prática cidadã, 
com a finalidade de obter o bem humano, praticado e alcançado, tanto pelo 
indivíduo quanto pelo Estado, de acordo com a concepção divulgada por 
Aristóteles. 
O ato de discursar foi fundamental para a construção das sociedades 
modernas e, principalmente, das democracias. Na Grécia Antiga, falar em 
público era considerado uma das mais importantes qualidades de um cidadão, 
pois ele podia contribuir para a sociedade de maneira mais efetiva com o 
debate de ideias, que era o pilar formador da sociedade grega. O poder da 
oratória, a capacidade de convencimento através do discurso era a prática 
política, o meio pelo qual se acessava o poder. 
O discurso, segundo Foucault, retrata aquilo pelo que se luta. O discurso 
está relacionado à conquista do poder, poder esse que é mantido pelo discurso. 
O poder pode levar à dominação de normas através de um discurso incisivo, 
que retrata a sua ideologia e pode ser mais forte que as leis que os comandam. 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
8 
 
 
Isso a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente 
aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo porque, 
pelo que se luta, o poder do qual nós queremos apoderar. 
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 13. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014. 
 
Com as grandes revoluções burguesas, política passou a significar o 
controle do Estado, mas foi Max Weber quem elaborou um conceito aceito até 
os dias de hoje, no qual a política é entendida como ter um papel de liderança 
no Estado e na luta por poder. Não há como entendê-la separando-a da ideia 
de poder. 
Nos Estados capitalistas modernos, a política pode tomar a forma de 
embates entre Estados, mediada pelas tecnologias e sistemas sofisticados de 
inteligência e ciência, como forma de reafirmar espaços de poder entre os 
povos. 
 Desde o princípio a política carrega em si uma dicotomia: o sentido de 
ser e existir para prover o bem-estar social, buscando a humanização das 
relações sociais; e a sua prática manchada pela ganância, corrupção e 
conspirações objetivadas para o ganho pessoal e obtenção de poder a todo 
custo. 
A política é um instrumento para resolver conflitos nas relações tanto 
individuais quanto estatais. Sendo ela a arte da negociação e do 
convencimento, acaba por promover meios para que o Estado e a sociedade 
regulem e organizem mudanças em relações com diferentes práticas sociais, 
legislações e políticas públicas. 
Podemos ver a política como o instrumento utilizado por indivíduos ou 
grupos para organizar, exercer ou conquistar o poder. E o Estado é a forma com 
que se exerce o poder sobre a sociedade, atuando na modernidade com a 
racionalização da gestão do poder. 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
Org. Prof. Mônica Luzia Forte Belani e Prof. Raquel Cristina Abdalla Chiaradia 
 
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É por isso que, quando se estuda ciênciapolítica ou sociologia política, 
busca-se compreender o Estado. De acordo com Max Weber, o Estado é o 
detentor legítimo do monopólio do uso da força; ele, e somente ele, possui o 
direito e o reconhecimento por parte da população de, em determinadas 
situações, praticar a violência, a qual é aceita com o intuito de manter a ordem e 
cumprir a lei. 
 
Devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade 
humana que, dentro dos limites de determinado território – a noção de 
território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado – reivindica o 
monopólio do uso legítimo da violência física. É, com efeito, próprio de nossa 
época o não reconhecer, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, 
o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado o 
tolere: o Estado se transforma, portanto, na única fonte do “direito” à violência. 
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Editora Cultrix, 1993 
 
 Podemos afirmar, a partir da posição de Weber, que o Estado se 
transforma em um projeto de poder a partir da legitimidade, isto é, de decidir 
quando, como e onde o uso da violência física deve ser aplicado (a autorização 
do uso da força contra um indivíduo, um grupo ou até mesmo um Estado) e, de 
forma mais implícita, a partir da dominação, já que existe um reconhecimento e 
legitimação de um grupo que está no poder, seja através da dominação 
tradicional, carismática ou legal. 
Mas nem tudo se resolve com violência, o Estado também se vale de 
outros meios para liderar e manter o poder. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Origem da sociedade 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
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10 
 
O homem é um ser social por natureza. A teoria naturalista afirma que a 
sociedade é fruto de um impulso natural do homem de viver em grupo, sendo a 
sociedade a condição natural para a vida humana. 
Há também os contratualistas que negam esse impulso e entendem a 
sociedade como o produto de um acordo de vontades, um contrato hipotético 
(fruto da vontade humana) celebrado pelos homens. 
A finalidade é uma das características da sociedade, é o ato de escolha, o 
objetivo consciente estabelecido que é o bem comum. É a tentativa de criação 
de condições que permeiam cada homem e cada grupo social o favorecimento 
do desenvolvimento integral da personalidade humana. Sendo a sociedade a 
encarnação da vontade do grupo, ela gera um poder social que vem da 
coletividade, da manifestação e do consentimento para o poder ser legítimo. 
Poder que vem do povo como manifestação de conjuntos ordenados, que 
reiteram permanentemente sua finalidade social, atuando de forma ordenada e 
organizada segundo suas normas, como a norma moral (reconhecida pela 
sociedade como desejável para convivência), a norma jurídica (elaborada pelo 
Estado e imposta a todos), e convenções sociais e costumes. 
Além da reiteração e da ordem, também é necessário que as ações do 
grupo sejam adequadas para atingir o fim almejado, o do bem comum. 
 O Estado é a personificação das normas sociais, a organização política, 
administrativa, jurídica de uma sociedade e do objetivo de realizar o bem 
comum público. 
 
O Estado como uma associação ou comunidade 
Aqui, o conceito de Estado toma-se coextensivo ao conceito de 
sociedade. Em outras palavras, as sociedades, em algum ponto de seu 
desenvolvimento histórico, existem como tais, somente em forma de Estados. 
Para este ponto de vista, o Estado abrange os habitantes de um dado território 
e requer instituições governamentais, administrativas e repressivas para 
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proteger tal associação das ameaças externas e do caos interno. Esta noção 
admite duas variantes. Por um lado, existe a associação vista de "baixo", quer 
dizer, o Estado emergindo de um acordo entre os membros de uma dada 
comunidade humana. Esta abordagem adquiriu sua mais pura formulação nas 
teorias do contrato social. Por outro lado, há a associação vista de "cima", uma 
associação de dominação na qual certos grupos controlam outros grupos 
dentro de um dado território. O representante mais importante dessa 
abordagem é Max Weber. 
ISUANI, Ernesto Aldo. Três enfoques sobre o conceito de Estado. Revista de Ciência Política, 1984, 27.1: 35-48. 
 
Formas de nascimento do Estado 
 Originária: surge do próprio meio, sem dependência de fator externo. 
 Derivada ou secundária: originada do fracionamento ou união de 
Estados. 
 Fracionamento: tem território e povo divididos. 
 União: dois ou mais Estados decidem se unir, formando um novo Estado. 
 Confederação: união de países independentes, autônomos subordinados 
a um governo central, sem abrir mão da soberania. 
 Federação: união nacional perpétua e indissolúvel das entidades 
federativas (estados-membros) com autonomia de governo e 
administrativa, que passa a constituir uma só pessoa (descentralização 
das competências do governo federal para os governos estaduais). 
 União pessoal: é o governo de dois ou mais Estados por um só monarca. 
 União real: união voluntária de caráter permanente de dois ou mais 
Estados formando um só. 
 
Formas estatais pré modernas 
A - Oriental ou Teocrático – é uma forma estatal definida entre as antigas 
civilizações do Oriente ou do Mediterrâneo, onde a família, a religião, o 
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12 
 
Estado e a organização econômica formavam um conjunto confuso, sem 
diferenciação aparente. Em consequência, não se distingue o pensamento 
político da religião, da moral, da filosofia ou de doutrinas econômicas. 
Características fundamentais: 
a) a natureza unitária, inexistindo qualquer divisão interior, nem territorial, 
nem de funções; 
 b) a religiosidade, onde a autoridade do governante e as normas de 
comportamento eram tidas como expressão de um poder divino, 
demonstrando a estreita relação Estado/divindade; 
B - Pólis Grega: caracterizada como: a) cidades-Estado, ou seja, a pólis como 
sociedade política de maior expressão, visando ao ideal da auto suficiência; b) 
uma elite (classe política) com intensa participação nas decisões do Estado 
nos assuntos públicos. Nas relações de caráter privado, a autonomia da 
vontade individual é restrita; 
C - Civitas Romana, que se apresentava assentada em: a) base familiar de 
organização; b) noção de povo restrita, compreendendo faixa estreita da 
população; c) magistrados como governantes superiores; 
D - Outras formas estatais da antiguidade, que tinham as seguintes 
características: a) não eram Estados nacionais, ou seja, o povo não estava 
ainda ligado por tradições, lembranças, costumes, língua e cultura, mas por 
produtos de guerras e conquistas; b) modelo social baseado na separação 
rígida das classes e no sistema de castas; c) governos marcados pela 
autocracia ou por monarquias despóticas e o caráter autoritário e teocrático 
do poder político; d) sistema econômico (produção rural e mercantil) baseado 
na escravidão; e) profunda influência religiosa. 
Principal forma estatal pré-moderna: o medievo 
Três elementos se fizeram presentes na sociedade medieval, somando-se 
para a caracterização de sua forma estatal: 
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13 
 
A - O cristianismo – base da aspiração à universalidade, isto é, a ideia do 
Estado universal fundado na pretensão de que toda a humanidade se 
tornasse cristã. Dois fatores, porém, influem nestes planos, a saber: 
1º) a multiplicidade de centros de poder e 2º) a recusa do Imperador em 
submeter-se à autoridade da Igreja; 
B - As invasões bárbaras – que propiciaram profundas transformações na 
ordem estabelecida, sendoque os povos invasores estimularam as regiões 
invadidas a se afirmar como unidades políticas independentes. Percebe-se, 
pois, que no Medievo a ordem era bastante precária, pelo abandono de 
padrões tradicionais, constante situação de guerra, indefinição de fronteiras 
políticas, etc.; 
C - O feudalismo – desenvolve-se sob um sistema administrativo e uma 
organização militar estreitamente ligados à situação patrimonial. 
Ocorre, principalmente, por três institutos jurídicos: 1º) vassalagem (os 
proprietários menos poderosos a serviço do senhor feudal em troca da 
proteção deste); 2º) benefício (contrato entre o senhor feudal e o chefe de 
família que não tivesse patrimônio, sendo que o servo recebia uma porção de 
terras para cultivo e era tratado como parte inseparável da gleba); 3º) 
imunidade (isenção de tributos às terras sujeitas ao benefício). 
Conjugados os três fatores, temos as características mais marcantes da 
forma estatal medieval: 
A - permanente instabilidade política, econômica e social; 
B - distinção e choque entre poder espiritual e poder temporal; 
C - fragmentação do poder, mediante a infinita multiplicação de centros 
internos de poder político, distribuídos aos nobres, bispos, universidades, 
reinos, corporações, etc.; 
D - sistema jurídico consuetudinário embasado em regalias nobiliárquicas; 
E - relações de dependência pessoal, hierarquia de privilégios. 
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14 
 
O modo de produção feudal se espalhou por toda a Europa. 
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política e teoria do estado. Livraria do Advogado, 2019. 
 
 
UNIDADE 02 – ESTADO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 O objetivo desta unidade é apresentar o Estado. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Conceitos importantes para compressão: 
Estado: A palavra estado vem do latim “status”, verbo stare, manter-se em pé, 
sustentar-se. Mas na Antiguidade Clássica, a expressão para designar o 
complexo político-administrativo que organizava a sociedade era “status rei 
pubblicae”, ou seja, situação de coisa pública, em Roma, e polis, na Grécia. Foi 
na Europa Moderna que surgiu a realidade política do Estado nacional. E com 
Maquiavel, o termo estado começou a substituir civitas, polis e res publica, 
passando a designar o conjunto de instituições políticas de uma sociedade de 
organização complexa. O sociólogo Max Weber afirmou, no início do século xx, 
que o Estado Moderno se definiu a partir de duas características: a existência de 
um aparato administrativo cuja função seria prestar serviços públicos, e o 
monopólio legítimo da força. 
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. Editora Contexto, 2005. 
 
 Existem inúmeras teorias sobre a origem do Estado. Os primeiros 
registros históricos sobre a existência de um Estado nos remetem às cidades-
Estado da antiguidade, nas quais os assuntos públicos deixaram de ser 
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15 
 
privilégio de pequenos grupos e da religião e passaram a ser tratados de forma 
pública. 
No entanto, a maioria dos pesquisadores concorda que a formação do 
Estado como conhecemos hoje surgiu na Idade Média, ainda de forma 
embrionária. À medida que o Estado foi consolidando suas fronteiras e 
demandas e a classe mercantil foi se fortalecendo, houve a necessidade de um 
representante que defendesse seus interesses e, assim, o poder passou a ser 
concentrado na figura do monarca. No Absolutismo, o monarca controlava todo 
o poder na tomada de decisões da nação. 
 
O Estado Absolutista 
A primeira forma do Estado Moderno surge da crise do sistema feudal, 
onde a nobreza e o clero detinham o poder e passavam a se defrontar com a 
nova classe em ascendência, a burguesia. O que caracteriza o Estado Absolutista 
é o poder do Rei, que aparece socialmente como exercendo o poder, mas que 
na realidade está submetido à burguesia. Diante das dificuldades da burguesia 
para assumir o poder, tornou-se necessário usar a figura do Rei como seu 
escudo para que o capitalismo se implantasse na sociedade sem provocar 
maiores contestações, principalmente dos grupos em decadência. Diante das 
mudanças que iniciavam na sociedade feudal, a burguesia nascente começou a 
alinhavar alianças políticas com os monarcas, num momento em que a crise 
feudal gerou uma série de disputas pelo poder. 
O Rei passou a assumir diretamente a administração econômica, a justiça 
e o domínio militar. Vale lembrar que não houve um modelo determinado na 
Europa, cada país teve seus conflitos diante das relações de poder existentes no 
período. Foram exatamente essas condições, de diferentes lutas entre os grupos 
que estavam em processo de decadência, que impediram uma tomada imediata 
do poder pela burguesia. Ela teve que, inicialmente, se unir ao Rei, para depois 
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16 
 
então tomar o poder diretamente. Por outro lado, a Igreja teve muitos conflitos 
com o poder nascente, mas não interessava ao Rei cortar relações diretamente 
com o poder religioso. Desta forma, mesmo com relações conflituosas, o Rei e o 
Papado mantiveram as relações no mesmo patamar de antes da crise feudal. 
No período absolutista surgem os primeiros elementos que viriam a 
caracterizar o Estado Moderno: 
• O primeiro deles é a divisão entre o Rei e o poder político do Estado. 
Embora defendesse os interesses públicos em detrimento de seus próprios 
interesses, em outros, seu interesse particular prevalecia. Mas os primeiros sinais 
da diferença entre o Rei e o público já se delineavam. Weber denomina de 
Estado Patrimonialista aquele em que não se faz a diferença entre o público e o 
privado. 
• Outro elemento visível foram os funcionários e demais agentes que 
contribuíam para administração do Estado, como Ministros, assessores e demais 
componentes, conferindo-lhe um caráter moderno. Inclusive os ministros 
responsáveis pela política econômica do mercantilismo já se destacavam e 
denominavam a política que haviam implementado. O Estado intervinha 
diretamente na formulação de uma política econômica, inclusive diretamente 
nas empresas, para que as medidas implantadas alcançassem seus objetivos. 
A nobreza participava em alguns cargos do Estado, mas exerciam suas 
funções de acordo com o que se exigia de um funcionário público. É o que 
Weber vai chamar de burocracia, a transformação do Estado Patrimonialista em 
Estado Burocrata, em que os funcionários assumem os cargos para exercer sua 
atividade racionalmente para atender os interesses públicos. 
• Para exercer as atividades de controle, surgem os funcionários 
especializados – o judiciário – estabelecendo limites bem definidos entre o 
público e o privado, segundo o direito romano. Além do mais, inicia-se a 
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17 
 
formação de um exército permanente, composto por nobres, mas que 
lentamente passou a incorporar componentes das camadas populares, pois se 
começa a levar em consideração a existência dos demais grupos na sociedade. 
MARTINS, Mário de Souza, Sociologia geral. Guarapuava: Unicentro, 2012. 
 
Estado significava ordem pública, mas Maquiavel, ao escrever seu livro “O 
Príncipe”, concebia o Estado como o domínio que o império exerce sobre o 
homem. 
A obra de Maquiavel retrata a formação do Estado moderno, que era 
embasado nos interesses do rei e da sociedade burguesa da época. Para ele 
tudo era justificável para a manutenção do Estado. A teoria política de 
Maquiavel é baseada no real; ele não pensa em Estados utópicos, mas procura 
as possibilidades efetivas para manter a ordem, ouseja, como o governante (o 
príncipe) deve fazer para ter o Estado em suas mãos e mantê-lo sob o seu 
domínio, sempre visando à estabilidade. 
 
Até então, os regimes eram julgados como puros ou corruptos [...]. A 
filosofia política era altamente normativa e presa a ideais. 
Maquiavel, entretanto, defendia que a política real não deveria se 
prender a ideais. Assim, os estudos acerca da política precisavam analisar a 
política como ela é, em vez de imaginar como ela deveria ser. 
Ele percebeu que a política real lida com a necessidade de sobrevivência 
e manutenção do poder e está enredada em conflitos de interesses em que a 
ética, particularmente a cristã, raramente tem vez. 
LEITE, Fernando. Ciência Política: da Antiguidade aos dias de hoje. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
 
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18 
 
Uma das frases mais famosas de Maquiavel é a de que “os fins justificam 
os meios”. Maquiavel afirma que, com a legitimação do poder, o Estado seria 
preservado, garantindo ao governante a estabilidade de seu governo, sua 
própria estabilidade e a manutenção no poder em que os fins justificam os 
meios. Este pensamento expressa uma queda da moralidade em relação aos 
princípios cristãos de sua época; para Maquiavel a política não deveria se 
enquadrar no moralismo piedoso, isso seria a ruína total. 
Outro fator que mantém o governante no poder é saber enfrentar suas 
dificuldades e oposições dos seus oponentes. Para Maquiavel o governante 
deve conquistar e se manter no poder. 
 
Não há dúvida, os príncipes se engrandecem quando superam as 
dificuldades e as oposições com as quais se enfrentam. 
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Penguim e Companhia das Letras, 2010. 
 
Era necessário ser um governante firme, que tome decisões sem titubear 
mesmo diante de mudanças em relação ao seu governo, não poderia ignorar o 
povo, a religião e os conceitos éticos da época. As suas atitudes refletem 
diretamente no seu governo e na sua posição de ser temido ou desconhecido. 
Para Maquiavel: 
 
“E é preferível ser temido a desconhecido, pois o mal, no terreno político, 
não é mal, mas – como qualquer outro – é o meio de alcançar um fim: a 
segurança do príncipe e, portanto, a segurança do Estado e, em última instância, 
a dos súditos”. 
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Penguim e Companhia das Letras, 2010. 
 
Maquiavel formava uma hierarquia de relação de poder e suas 
influências. Dizia ele que na área política o governante deveria ser temido por 
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19 
 
suas atitudes e governo a ser um desconhecido e fraco. Com isso, propunha 
que em primeiro lugar vem a segurança do príncipe, depois a segurança do 
Estado e por último a segurança do seu povo, colocando o príncipe acima de 
todos, do Estado e do povo. 
A consolidação do Estado perpassa pela sua formação, mas acima de 
tudo pela sua manutenção. Manter o Estado operante é, para ele, o maior 
problema depois de sua formação. Para essa operacionalização do Estado, é 
necessário a formação de leis que contribuam não só para o Estado, mas 
também para o povo. Quando as leis não conseguem manter o poder do 
príncipe existe ainda a utilização da força para consolidar assim o seu poder. 
O príncipe precisa de um exército forte do seu lado para que a 
dominação pela força seja consolidada. O príncipe com um exército forte e que 
siga fielmente suas ordens constitui a coluna vertebral da doutrina de 
Maquiavel. 
 
As armas fazem as boas leis, as boas leis asseguram a tranquilidade do 
principado porque garantem o pequeno contra a prepotência do grande. A 
armação interna da doutrina é este equilíbrio: o povo não se revolta, os grandes 
nada intentam contra o príncipe porque o sabem estimado pelo povo; e o povo 
são os muitos, grandes são os poucos. 
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Penguim e Companhia das Letras, 2010. 
 
Para ele, boas leis perpassam pelo exército forte do príncipe mantendo 
assim um Estado forte e um povo que não se rebela contra o seu governante. 
Um bom Estado para ter uma boa governabilidade deve estar embasado 
em boas leis, e essas leis devem favorecer a população e não ao Estado e seus 
seguidores. Para que isso se concretize, o Estado deve ter bons representantes, 
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20 
 
que não sejam mercenários e trabalhem em função do povo do país, esses 
representantes são os que elaboram as leis do Estado. 
 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
As teorias do contrato social 
Segundo os mais proeminentes teóricos do contrato social, os indivíduos 
concordam em criar uma entidade social para vencer as desvantagens de um 
real ou hipotético "Estado de natureza". Para atingir essa meta, executam um 
contrato pelo qual um "Estado civilizado" é ocasionado. Depois da "assinatura" 
do pacto, o novo Estado torna-se uma associação compulsória. Além do termo 
"Estado", outros termos são usados por diferentes autores para designar a 
entidade surgindo do contrato social. 
ISUANI, Ernesto Aldo. Três enfoques sobre o conceito de Estado. Revista de Ciência Política, 1984, 27.1: 35-48 
 
 De acordo com a teoria clássica sobre a concepção de Estado, Hobbes e 
Locke diziam que o Estado se originou de um acordo entre os indivíduos que 
buscavam uma forma de manter a si e as suas propriedades seguras. Thomas 
Hobbes, em sua obra mais importante, Leviatã, distingue duas categorias de 
Estado – O Estado racional, originário da razão humana, e o Estado real, 
baseado nas razões da força. Já para John Locke, ao Estado cabe regular as 
relações da vida social, reservando ao homem os direitos inerentes à 
personalidade humana, as liberdades fundamentais e o direito à vida. Para 
Rousseau, o Estado é fruto da vontade geral, que se sobrepunha à vontade do 
rei. Rousseau não reconhecia a existência da separação dos poderes, teoria 
desenvolvida por Montesquieu (legislativo, executivo e judiciário), posto que 
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21 
 
colocava, acima de todo poder, o poder da assembleia (aqui entendida como a 
vontade geral). 
Há ainda a Escola Histórica destacada por Maluf, segundo a qual o 
Estado é fruto da evolução histórica de uma determinada sociedade; e Leon 
Duguit (1859 –1928) afirma que o Estado se origina na diferenciação entre 
governantes e governados, sendo que os primeiros impõem sua vontade aos 
segundos através da força. 
 
Estado Moderno 
O Estado unitário dotado de um poder próprio, independente de 
quaisquer outros poderes – começa a nascer na segunda metade do séc. XV na 
França, na Inglaterra e na Espanha; posteriormente, alastra-se por outros países 
europeus, entre os quais a Itália. Por conseguinte, diz Gruppi que, desde seu 
nascimento, o Estado Moderno apresenta dois elementos que diferem dos 
Estados do passado, que não existiam, por exemplo, nos Estados antigos dos 
gregos e dos romanos. A primeira característica do Estado Moderno é essa 
autonomia, essa plena soberania do Estado, a qual não permite que sua 
autoridade dependa de nenhuma outra autoridade. A segunda é a distinção 
entre o Estado e a sociedade civil, que vai evidenciar-se no séc. XVII, 
principalmente na Inglaterra, com a ascensão da burguesia. O Estado se torna 
uma organização distinta da sociedade civil, embora seja a expressão desta. 
Uma terceira característica diferencia o Estado em relação àquele da Idade 
Média. O Estado medieval é propriedade do senhor, é um Estado patrimonial. O 
senhor é dono do território e de tudo o que nele se encontra (homens e bens). 
No Estado Moderno, pelo contrário, existe uma identificação absolutaentre o 
Estado e o monarca, o qual representa a soberania estatal [...]. É importante 
registrar que, naquilo que se passou a denominar de Estado Moderno, o Poder 
se torna instituição (uma empresa a serviço de uma ideia, com potência superior 
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22 
 
à dos indivíduos). É a ideia de uma dissociação da autoridade e do indivíduo 
que a exerce. O Poder despersonalizado precisa de um titular: o Estado. Assim, 
o Estado procede da institucionalização do Poder, sendo que suas condições de 
existência são o território, a nação, mais potência e autoridade. Esses elementos 
dão origem à ideia de Estado. 
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política e teoria do estado. Livraria do Advogado, 2019 
 
UNIDADE 03 – ELEMENTOS CONSTITUIVOS E 
CARACTERÍSTICAS DO ESTADO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
O objetivo desta unidade é apresentar os elementos que constituem o 
Estado e suas características. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
CARACTERÍSTICAS DO ESTADO 
No século XVIII surgiram as ideias liberalistas, influenciadas pelos ideais e 
conquistas da Revolução Francesa, que estabeleceu a máxima: todo governo 
que não provém da vontade nacional é tirania. Sendo assim, foram 
estabelecidas as características do Estado, a saber: 
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23 
 
 
Nacionalidade: é a característica que define um povo. Relaciona-se a 
alguns fatores legais, como o local de nascimento dos indivíduos e o processo 
de naturalização; e também está ligado à cultura de um povo construída 
historicamente. 
Finalidade: o propósito do Estado deve ser o bem comum: 
O bem comum [...] consiste no conjunto das condições para que as 
pessoas, individualmente ou associadas em grupos, possam atingir seus 
objetivos livremente e sem prejuízo dos demais. 
DE CICCO, Claudio; GONZAGA, Álvaro de A. Teoria Geral do Estado e Ciência Política. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Editora Revista dos tribunais, 2011. 
 
 Soberania: existe uma série de concepções acerca de soberania. Porém, 
historicamente ela assume uma definição prática após a Guerra dos Trinta Anos 
na Europa (1618 – 1648). O modelo de reinado religioso, herança da Idade 
Média, tornou-se insustentável, pois já não representava bem a realidade do 
povo europeu. Os reinados europeus reconheceram a necessidade de um 
acordo multilateral para garantir, principalmente, sua territorialidade. Os países 
passariam a reconhecer a existência uns dos outros, a importância da não 
intervenção e, sobretudo, a unidade jurídica. Portanto, um território seria 
Características 
do Estado 
Nacionalidade Finalidade Soberania 
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24 
 
unitário e indivisível. A soberania nacional emerge a partir do momento em que 
os países se reconhecem como Estado-nação, com território, população e um 
ordenamento jurídico específico. 
 É importante apresentar alguns dos conceitos mais importantes de 
soberania. 
 
O jurista francês Jean Bodin foi o primeiro teórico a sistematizar o 
conceito de soberania. Bodin conceitua a soberania como um poder supremo, 
absoluto, ilimitado e incontrastável exercido inicialmente pelas monarquias 
absolutistas. 
Para ele a soberania era um imperativo necessário à própria existência do 
Estado, que se torna independente na medida em que tem um Poder Legislativo 
supremo. 
O autor francês faz então, no século XVII, da soberania um elemento 
essencial do Estado, delineando suas características. A soberania é: una (seria 
contraditório que existisse mais de um poder supremo em um determinado 
âmbito territorial); indivisível (não pode ser dividida em sua essência, sob pena 
de deixar de existir, mas pode seu exercício ser repartido); imprescritível (atos 
do Estado originam relações jurídicas que se transferem de geração em 
geração; atividades dos governantes vigoram até serem alteradas); inalienável 
(soberania não pode ser cedida ou transferida). 
[...] 
Com a Revolução Francesa, assistimos ao surgimento de um novo 
conceito, o da soberania nacional. Preocupados em não permitir a volta das 
monarquias absolutistas e empenhados em não se permitir uma excessiva 
autoridade popular (que ocorria com a aplicação da ideia de soberania popular 
de Rousseau) os revolucionários franceses, tendo como um dos inspiradores 
Joseph Sieyès, lançam o conceito de soberania nacional. Dessa forma, 
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25 
 
..."povo e nação formam uma só entidade, compreendida organicamente como 
ser novo, distinto e absolutamente personificado, dotado de vontade própria, 
superior às vontades individuais que o compõem. A Nação, assim constituída, 
apresenta-se nessa doutrina como um corpo político vivo, real, atuante, que 
detém a soberania e a exerce através de seus representantes." (BONAVIDES, 1997, 
p. 132/133) 
Jellineck, em sua obra Teoria Geral do Estado, considera a soberania 
como um conceito criado pela Ciência Jurídica e pertencente à esfera do direito 
positivo, ou seja, situada no domínio jurídico. O citado autor define a soberania 
como o poder que o Estado tem de construir e fundamentar de maneira livre a 
sua ordem jurídica. 
[...] 
Trabalhando com a doutrina nacional, citemos o conceito de soberania 
de José Afonso da Silva. Para esse autor, soberania é o poder supremo 
consistente na capacidade de autodeterminação de um Estado, representando 
um dos fundamentos do próprio conceito de Estado. 
Diz o constitucionalista que a soberania significa poder político de um 
Estado que se caracteriza pelo fato de ser supremo (pois não está limitado por 
nenhum outro na ordem in terna) e independente (pois na ordem internacional 
não tem o Estado de acatar regras que não sejam voluntariamente aceitas, 
estando em pé de igualdade com os poderes supremos dos outros povos). 
(SILVA, 1999, p. 108) 
FABRIZ, Daury Cesar; FERREIRA, Cláudio Fernandes. Teoria Geral dos Elementos Constitutivos do Estado. Rev. 
Faculdade Direito Universidade Federal Minas Gerais, 2001, 39: 107 
 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO 
O Estado como conhecemos é uma instituição organizada social, política 
e juridicamente, que abrange um conjunto de indivíduos (população) que 
ocupam um determinado território e estão sob a autoridade de um governo. 
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26 
 
 
 
O Estado é uma instituição organizada internamente, geralmente 
amparada por uma constituição e/ou leis. Para existir, precisa ser constituído 
por alguns elementos: um governo reconhecido como legítimo internamente 
(pela população) e externamente (por outros Estados), uma população 
organizada socialmente e um território. 
Responsável pela organização da sociedade e pelo controle dela, é o 
único com autoridade para impor a ordem pela força, em concordância com a 
legislação vigente. A população que vive no território de um Estado é que dá a 
ele toda legitimidade de ação e controle. 
 
População 
População é um conceito que não deve ser confundido com povo. Este 
possui um sentido político, pois traz em si a noção de cidadania, de vínculo com 
a nação, estando ligado a esta por meio do status de nacionalidade. A 
nacionalidade é o vínculo de natureza jurídica, que qualifica o indivíduo a 
participar da vida do Estado, agindo consciente de sua cidadania. Já nação, por 
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27 
 
sua vez, traz em si os laços históricos e culturais de uma comunidade, 
manifestando este vínculo cultural emsuas tradições, crenças, costumes, 
linguagem e identidade. 
 
Rousseau, no Contrato Social, escrevendo sobre o corpo soberano que é 
formado pelo ato de associação, assim se referiu ao povo: "Quanto aos 
associados, recebem eles, coletivamente, o nome de povo e se chama em 
particular, cidadãos, enquanto partícipes da autoridade soberana, e súditos 
enquanto submetidos às leis do Estado." (ROUSSEAU, 1997, p. 70). Alerta o 
autor genebrino para a diferenciação dos dois termos, que expressam e devem 
expressar condições diferentes. As noções de súdito e cidadão se 
complementam. Nesse sentido, "um súdito é meramente um cidadão em seu 
caráter (ou papel) de alguém que vive ao abrigo da lei, de cuja autorização 
participou em seu caráter de cidadão." 
Ser um súdito, na acepção de Rousseau, é estar limitado por uma lei da 
qual também se é, indiretamente, o autor. De modo que o povo, para Rousseau, 
é o conjunto de pessoas que compõe a coletividade política, que formam o 
"corpo moral". Na qualidade de cidadão, o indivíduo expressa-se como 
elemento ativo na formação da vontade geral; enquanto súdito, submete-se a 
essa vontade geral. A igualdade de todos é assegurada pelo exercício dos 
direitos políticos, que somente é concedida aos nacionais ou nacionalizados, 
que se destacam como os componentes do povo. 
As concepções rousseaunianas implementaram os contornos de uma 
soberania que reside no povo, expressando a igualdade política de todos os 
cidadãos. 
FABRIZ, Daury Cesar; FERREIRA, Cláudio Fernandes. Teoria Geral dos Elementos Constitutivos do Estado. Rev. Faculdade 
Direito Universidade Federal Minas Gerais, 2001, 39: 107. 
 
 
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28 
 
Povo e Estado são complementares um ao outro; o Estado precisa do 
povo para existir. Quando o Estado exerce o poder, o povo também o exerce, 
pois ele faz parte do Estado. Sendo o povo um organismo investido de 
autoridade política e titular de direitos em face ao Estado, é dele (o povo) a 
origem do poder do Estado. 
 
Território 
Consideramos o Estado como uma organização jurídica detentora de 
soberania reconhecida pelo povo que ocupa determinado território. A 
territorialidade é o que limita a extensão do poder do Estado. 
 
O território terrestre é a forma mais básica de concepção territorial e 
abrange o solo e o subsolo. O solo consiste na base física em que se encontra a 
população do Estado, onde esta habita, vive, convive, interage, onde tem suas 
atividades normais do dia a dia, de labor, de produção, de extração de riquezas, 
de lazer, de obrigações e direitos etc. O território terrestre também consiste no 
espaço físico e delimitado em que o Estado exerce seu poder soberano, 
normalmente através das conhecidas funções soberanas, legislativa para 
elaborar o direito, executiva para executá-lo e judiciária para aplicá-lo. Oportuna 
a lembrança no sentido de que o solo não precisa ser contínuo. Dentro de seu 
conceito jurídico, o solo pode abranger o chamado solo insular, constituído de 
ilhas ou outras porções de terras situadas em regiões diversas, até mesmo em 
outro continente. 
PINTO, Kleber Couto. Curso de teoria geral do estado: fundamento do direito constitucional positivo. Editora 
Atlas SA, 2000. 
 
O território pode ser dividido em: 
1) Espaço territorial: através do solo e subsolo. 
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29 
 
 Solo: porção de terras delimitadas pelo mar e fronteiras internacionais. 
 Subsolo: porção de terras sob o solo com as mesmas delimitações 
territoriais do solo. 
2) Espaço fluvial: rios e lagos. 
3) Espaço aéreo: porção aérea proporcional ao território terrestre, mais o 
território marítimo. 
4) Espaço marítimo: mar territorial, plataforma continental, alto mar. 
Mar territorial 
 O mar territorial também se denomina domínio marítimo, águas 
territoriais, mar litoral, mar adjacente, águas nacionais, litoral flutuante, águas 
jurisdicionais e faixa litorânea. 
 É a faixa de mar que se estende desde a linha de base até uma distância 
que não deve exceder 12 milhas marítimas de largura, da costa, medidas a partir 
da linha de baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro, e sobre a qual o 
Estado brasileiro exerce sua soberania, com algumas limitações determinadas 
pelo Direito Internacional – Hildebrando Accioly, página 243, Ed. Saraiva, l2ª 
edição, l996. 
 Mas, como se sabe, o mar territorial do Brasil se alarga até uma faixa de 
200 milhas marítimas que se medem desde a linha de baixo-mar do litoral 
brasileiro, continental e insular – Enciclopédia Saraiva do Direito, Ed. Saraiva, vol. 
33. 
 Ao lado do conceito de mar territorial, encontramos os conceitos de zona 
de pesca, de zona contigua, de zona econômica exclusiva e a plataforma 
continental. Estas áreas são delimitadas em razão dos objetivos de cada Estado 
e da relativização do poder soberano de cada um deles. A zona de pesca, como 
adotada pelos Estados Unidos da América do Norte, protege o ecossistema 
marítimo, a riqueza de sua fauna e a atividade industrial pesqueira do Estado 
costeiro. A zona contigua, adotada pelo Brasil, constitui 12 milhas além do mar 
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30 
 
territorial. Somadas, estas milhas, portanto, chegam a 24. Em sua zona contígua, 
os poderes soberanos do Brasil são relativizados. Poderá́, p.ex., fiscalizar para 
evitar infrações relativas às leis e aos regulamentos aduaneiros, de imigração e 
sanitários, podendo mesmo reprimir infrações. Essa relativização dos poderes 
soberanos também ocorre na zona econômica, na qual são menores do que no 
mar territorial ou mesmo na zona contígua. Os poderes soberanos estão 
limitados à exploração, ao aproveitamento, à conservação e à gestão dos 
recursos naturais, vivos ou não, podendo, inclusive, regulamentar pesquisas, 
projetos e construções artificiais. 
 Plataforma continental, que é a planície de área variável existente em 
cada costa dos oceanos e que, por convenção internacional, vai até 200 milhas. 
PINTO, Kleber Couto. Curso de teoria geral do Estado: fundamento do direito constitucional positivo. Editora Atlas AS, 
2000. 
 
5) Espaço ficto: embaixada, navios e aeronaves. 
 Embaixadas: sedes de representação diplomática dos diversos Estados, 
que são consideradas parcelas do território nacional nos países 
estrangeiros. 
 Navios e aviões militares: são parte do Estado a que pertencem, em 
qualquer lugar que estejam. 
 Navio e aviões comerciais e civis: que esteja sobrevoando ou navegando 
em território não pertencente a outros Estados. 
 
Governo 
Não se pode confundir governo com Estado. Governo refere-se à 
representação regular de políticas, decisões e assuntos de Estado por parte dos 
servidores que compõem um organismo político, é o exercício de administração 
e governança. O Estado delega o direito de governo, pois quem detém o poder 
é o Estado. 
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31 
 
Governo é uma instituição do Estado responsável por organizar e 
administrar. É também transitório, pois sua administração normalmente é 
alterada por eleições. Um governo precisa ser independente, pois sem 
independência não há um governo soberano. 
Quanto à origem do governo pode ser De Direito ou De fato. Um 
governo constituído em conformidade com a lei fundamental do Estado e 
considerado legítimo é originário De Direito, mas um governo implementado e 
mantido por meio de fraude ou violência é originário De Fato. 
Quanto ao seu desenvolvimento, quando é legal, independente da 
origem, desenvolve-se em conformidade com a lei. Quando despótico, é 
conduzido pelo arbítrio de quem detémo poder, modificando-o de acordo com 
as vontades do detentor, sem observar a lei. 
Quanto à extensão do poder, quando é absolutista, concentra todos os 
poderes em um só órgão, sendo a vontade daquele que detém o poder a lei. 
Quando constitucional, toda sua forma e organização obedece e se desenvolve 
de acordo com uma constituição, assegurando a todos os cidadãos a garantia 
dos direitos fundamentais. 
 
FORMAS DE GOVERNO 
As formas de governo despertaram o interesse dos estudiosos desde a 
antiguidade. 
Existem três tipologias clássicas das formas de governo, de grande 
relevância, sendo elas: a de Aristóteles, de Maquiavel e de Montesquieu. 
 
A teoria da forma de governo Aristotélica 
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32 
 
Ao analisar algumas constituições, Aristóteles criou uma classificação das 
formas de governo com dois critérios: número de governantes e a moral, que 
classificou como pura e impura. Para ele, as formas puras que visavam o bem de 
todos eram: a monarquia, o governo de um; a aristocracia, o governo de poucos 
e a politeia, o governo de um povo. 
As formas impuras que beneficiam a um, ou apenas a um grupo são a 
tirania, oligarquia e a democracia. Para Aristóteles, quando um só homem 
ascende ao poder por meios ilegais, trata-se da tirania, sendo esta uma forma 
distorcida de monarquia. A oligarquia seria o governo de um grupo 
economicamente poderoso, como tivemos no Brasil durante a república 
oligárquica. A democracia, governo do povo, no qual a maioria exerce o poder, 
favoreceria preferencialmente os pobres. 
Aristóteles também ordena essas formas de governo de modo 
hierárquico. Assim como em Platão, o critério hierárquico é o mesmo: a forma 
pior é a forma degradada. Sendo assim, a ordem hierárquica seria: monarquia, 
aristocracia, política, democracia, oligarquia e tirania. A ordem hierárquica 
estabelecida por Aristóteles e Platão sugere que a democracia, estando em 
posição intermediária, seria a mais moderada. 
 
A teoria da forma de governo de Maquiaveliana 
Diferentemente de Aristóteles e Platão, para Maquiavel “todos os Estados 
que existem e já existiram são e foram sempre repúblicas ou monarquias”, são 
as únicas formas de governo reconhecidas por ele. Em sua classificação, a 
república seria a representação da vontade coletiva, correspondendo, assim, à 
democracia e à aristocracia. Já a monarquia é a vontade de um único indivíduo, 
um soberano, sendo este correspondente ao próprio reino. 
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33 
 
Para ele, a república é caracterizada pela temporalidade do poder e seu 
exercício é atribuído ao povo (vontade coletiva). Já a monarquia é marcada pela 
vitaliciedade do poder, que é confiado ao monarca ou rei (vontade de um só). 
Para Maquiavel, a ação política não é importante, mas sim os resultados, 
independentemente da forma de governo. Se os atos forem legítimos e usados 
para atingir um bem final, a forma será válida, não existindo, assim, formas de 
governo boas ou más; a estabilidade é a sua característica mais importante. 
 
A teoria da forma de governo de Montesquieu 
Segundo Montesquieu, a forma de governo é dividida em: 
 Republicana: o povo como um todo, ou somente parte dele, possui 
poder soberano; 
 Monárquica: só um governa, mas de acordo com leis fixas e 
estabelecidas; 
 Despótica: é aquela em que uma só pessoa, sem obedecer a leis e regras 
estabelecidas pela sociedade, realiza tudo por sua vontade e seus 
caprichos. 
Montesquieu se preocupa com o funcionamento do Estado, trazendo a 
honra nas monarquias, a virtude nas repúblicas, e o medo no despotismo. A 
virtude seria o amor da pátria e da igualdade. 
Para evitar o abuso de poder, este deve ser distribuído de modo que o 
poder supremo seja consequência de um jogo de equilíbrio entre diversos 
poderes parciais e não se concentre nas mãos de uma só pessoa. A saber, tal 
distribuição deve ser feita em uma tripartição de poderes: Legislativo, Executivo 
e Judiciário. 
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34 
 
Dentre as formas de governo existentes, tem-se a Monarquia e a 
República como as mais comuns. A distinção entre monarquia e república que 
mais resistiu ao tempo e chegou aos dias atuais é a maquiaveliana. 
Após as transformações históricas dos séculos XVIII, XIX e XX, o modelo 
monárquico perdeu força. A partir do momento que a monarquia se depara 
com a figura do Parlamento, constitucional ou parlamentar, perde o sentido 
maquiaveliano de “governo de um só”, inaugurando-se a forma “mista”, que 
agrega elementos monárquicos e republicanos. 
 
Monarquia - características 
 Vitalicidade: o monarca governa enquanto viver, ou enquanto 
conseguir governar, seu mandato é vitalício. 
 Hereditariedade: com a morte, perda ou motivo que impeça o 
monarca de governar, o direito e o poder de governar passa a ser 
de seu herdeiro, seguindo a linha de sucessão da realeza, 
tornando o cargo hereditário. 
 Irresponsabilidade: O monarca não precisa dar explicações ou 
justificar ao povo sobre suas ações, nem a nenhum órgão, pois ele 
é soberano. 
 
Tipos de Monarquia 
 Absoluta: o monarca possui todo o poder, sem limitações de nenhuma 
forma, seu poder é absoluto. 
 Limitada: as ações do monarca são limitadas por órgãos autônomos ou 
o monarca é submetido à soberania nacional. Ela se divide em: 
a) Monarquia limitada estamental: o rei descentraliza algumas funções, 
transferindo-as para nobres, membros da corte ou para órgãos que são 
ramificações do poder real (reinos feudais). 
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35 
 
b) Monarquia limitada constitucional: o poder executivo é exercido pelo 
monarca de acordo com as normas constitucionais, correlacionando-se 
com os poderes legislativo e judiciário. 
c) Monarquia limitada parlamentar: o rei não é chefe de governo, exerce 
apenas a função de chefe de Estado, seguindo as normas constitucionais. 
O poder executivo é exercido por um conselho de ministro, responsável 
perante o parlamento, podendo existir a figura do chefe de governo não 
pertencente à família real. 
 
República 
O ideal de Estado democrático é fruto do pensamento e das ideias que 
floresceram na Europa do século XVIII, fundamentados nos princípios da 
supremacia da vontade popular, da preservação da liberdade e da igualdade de 
direitos. O Estado democrático é aquele em que o povo governa e diante da 
enormidade do Estado moderno, a participação do povo no poder de forma 
democrática acabou se dando por meio de eleições. Segundo Bobbio (1998, p. 
1170), 
Na moderna tipologia das formas de Estado, o termo República se 
contrapõe à monarquia. Nesta, o chefe do Estado tem acesso ao supremo poder 
por direito hereditário; naquela, o chefe do Estado, que pode ser uma só pessoa 
ou um colégio de várias pessoas (Suíça), é eleito pelo povo, quer direta, quer 
indiretamente (através de assembleias primárias ou assembleias 
representativas). Contudo, o significado do termo República envolve e muda 
profundamente com o tempo (a censura ocorre na época da revolução 
democrática), adquirindo conotações diversas, conforme o contexto conceptual 
em que se insere. 
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, Vol. I. trad. Carmen C, 
Varriale et al.; coord. trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. Editora Universidade de 
Brasília. Brasília, 1998. 
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36 
 
 
Na República, o representante é escolhido através do sufrágio do povo, 
mas nãonecessariamente este foi e será universal para caracterizar sua forma. 
Suas características principais segundo Martins (2017, p.1996)1 são a 
temporariedade, isto é, possui um mandato por tempo predeterminado; 
eletividade, isto é, o representante é eleito pelos votos do povo; e 
responsabilidade, em que o Chefe do Governo é responsável por seus atos. 
Assim como as monarquias, há mais de um tipo de república; a diferença 
está na origem do poder. Quando parte da sociedade governa, trata-se de uma 
república aristocrática, quando todo o poder emana do povo, trata-se de uma 
república democrática. 
Aristocrática: Significa literalmente, governo dos melhores, uma elite 
privilegiada que detém o poder econômico, político e conhecimento governa. 
Democrática: todo o poder emana do povo. 
 República democrática direita 
Todos governam por meio de assembleias (Estado Ateniense). 
 República democrática indireta 
Existe através de eleições para representantes nos poderes legislativo, executivo, 
e em alguns países judiciário. 
 República democrática semidireta 
Assuntos legislativos cabem aos representantes eleitos, enquanto assuntos de 
importância nacional são decididos após o povo ser consultado por processos 
típicos da democracia direta, como: plebiscito, referendo, iniciativa popular, 
entre outros. 
 
1
 MARTINS, Flávio. Curso de Direito Constitucional. Revista dos tribunais. São Paulo, 2017. 
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37 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Adam Smith (1723 - 1790), pai do liberalismo econômico, revendo as 
proposições de Locke, preconizava a necessidade de manter no Estado o 
sentido ético, isto é, admite um Estado voltado para a realização do bem-estar 
coletivo, mas Smith considera que o Estado não pode intervir na economia de 
mercado. Concorrência passa a ser expressão corrente, a assegurar o equilíbrio 
entre o mercado, estimulando o progresso, resumindo o papel do Estado ao 
estabelecimento da justiça, à manutenção das instituições não lucrativas e ao 
controle de emissão de moedas. 
 
O Estado Liberal 
Surge após a Revolução Industrial como parte das explicações dadas 
pelo positivismo no período, é o conceito de Estado dominante no período, ou 
seja, naquele momento histórico, o Estado é a instituição que tem a função de 
distribuir os bens sociais de forma igualitária para todos os seus cidadãos. A 
revolução industrial cria o conceito de cidadão, que é o indivíduo pertencente a 
uma determinada comunidade e que, por ser membro dessa comunidade, 
possui determinados direitos independente da função ou posição que exercer 
na sociedade, e esses direitos devem ser oferecidos e defendidos a seus 
cidadãos. 
O que caracteriza o Estado Liberal é a fundação do mercado que, 
segundo os economistas liberais, deveria regular as relações econômicas da 
sociedade sem que houvesse a interferência do Estado. O mercado estaria 
agindo na sociedade civil. Desta forma, uma exigência básica do Estado Liberal 
seria a separação entre o público e o privado, que já tinha apresentado alguns 
elementos no Estado Absolutista, mas este ainda exercia grande influência no 
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38 
 
mercado. No Estado liberal essa separação torna-se fundamental. Nesse 
momento é que se dá efetivamente a tomada do poder do Estado pela 
burguesia. Com uma economia fortalecida, não houve dúvidas quanto ao 
rompimento do Estado Absolutista. As revoluções burguesas exigiam novas 
regras para regular o mercado e uma delas seria a de romper com o 
mercantilismo que impunha relações que não mais eram condizentes com o 
poder burguês. O Estado manteve-se limitado a atividades políticas devido a 
centralização dos poderes, apesar de não conseguir separar o político do 
econômico. Mas o burguês rejeitava o Estado e qualquer intervenção que ele 
sugerisse. Não se desejava destruir o Estado, afinal ele se tornara um 
instrumento da burguesia para regular as relações na sociedade civil, ou seja, 
manter o operariado dócil ao mundo burguês. 
Smith (2007) afirmava, em seu livro “Riqueza das nações”, a existência de 
uma mão invisível no mercado que contribuiria para que as relações se dessem 
sem que houvesse qualquer tipo de intervenção. A aparência que o mercado 
transmitia uma desordem que não correspondia a realidade era na verdade um 
ordenamento, uma lógica que o regulava, dispensando, portanto, qualquer 
forma de controle. Seria esta mão invisível que permitiria ao mercado organizar-
se por si mesmo. O mercado serviria tanto a vendedores quanto a compradores. 
A liberdade e a igualdade que foram promulgadas na Revolução Francesa como 
direitos do Homem estariam oferecidas na sociedade civil e ao Estado caberia 
somente proteger o funcionamento do mercado. A liberdade servia tanto para a 
venda da força de trabalho para os trabalhadores, quanto para o direito à 
propriedade para a burguesia. O sistema contemplava a todos sem exceção, 
porém, a liberdade para os trabalhadores era limitada à fome. Eles não tinham 
muita alternativa quando precisavam optar pelo trabalho, pois necessitavam 
sustentar a família. O Liberalismo não via desta forma, a concorrência é que 
move o mercado. Assim, nesta forma de governo, o Estado se apresenta como 
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39 
 
braço direito da burguesia, não só transmitindo o pensamento dominante como 
também controlando as manifestações que poderiam ameaçar o sistema. 
MARTINS, Mário de Souza, Sociologia geral. Guarapuava: Unicentro, 2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 04 – ESTADO E IDEOLOGIA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
O objetivo desta unidade é apresentar e discutir a relação existente entre 
Estado e ideologia através do pensamento de Althusser. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
O filósofo Louis Althusser desenvolveu duas vertentes para o 
funcionamento do Estado, a saber: os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE) e o 
Aparelho de Estado (AE). 
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40 
 
O Aparelho de Estado (AE) é um corpo centralizado, único e atua de 
maneira predominante através da repressão (física ou não). Estão englobados 
nessa definição, de acordo com Althusser, o governo, a polícia, as forças 
armadas, os tribunais, a justiça e seus dispositivos (as prisões, por exemplo), 
dentre outros. Já os Aparelhos Ideológicos do Estado (AIE) operam através da 
ideologia e são a questão central na análise de Althusser. Nesse momento, 
convém apresentar algumas definições acerca do conceito de ideologia para 
compreendermos melhor o funcionamento desses aparelhos. 
 
Um conjunto de ideias, opiniões ou concepções sobre algum tema ou 
discussão. Quando indagamos qual é a ideologia de um pensador, estamos nos 
referindo à doutrina, a um conjunto de ideias e posições diante de certos fatos. 
Também pode significar uma teoria, no sentido de organização dos 
conhecimentos para orientar a ação dos indivíduos ou instituições. Há, por 
exemplo, [...] a ideologia religiosa de uma igreja, que estabelece regras de 
conduta para os fiéis; a ideologia de um partido político, que estabelece uma 
concepção de poder e fornece orientações de ação aos seus militantes. 
Outro significado para o termo ideologia foi escrito por K. Marx e F. 
Engels (1979), que afirmam que, diante da tentativa dos homens de explicar a 
realidade, é necessário considerar as formas de conhecimento ilusório que 
levam ao mascaramento dos conflitos sociais. Segundo Marx, a ideologia 
adquire um sentido como instrumento de dominação de uma classe sobre outra 
ou de um gruposocial sobre outro. 
Isso significa que a ideologia influencia decisivamente nos jogos de 
poder e na manutenção dos privilégios que formam o pensar e o agir dos 
indivíduos na sociedade. 
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de 
Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007 
 
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41 
 
 Partindo dessas definições, Althusser elenca alguns Aparelhos 
Ideológicos de Estado: 
 Aparelho familiar; 
 Aparelho escolar; 
 Aparelho político; 
 Aparelho sindical; 
 Aparelho religioso; 
 Aparelho cultural; 
 Aparelho da Informação. 
 
 Como é possível perceber, esses AIE correspondem ao que chamamos de 
organizações ou instituições. Diferentemente dos Aparelhos de Estados, não 
atuam através da repressão ou da violência, mas sim de suas ideologias. Dessa 
forma, quando os Aparelhos Ideológicos de Estado não são capazes de manter 
a ordem, entram em ação os Aparelhos de Estado. 
 Cabe-nos questionar, agora, qual é ideologia que prevalece em uma 
sociedade. Retomando a tradição marxista, para Althusser, a ideologia 
dominante é a ideologia da classe dominante: 
 
 A unidade geral do Sistema de conjunto dos Aparelhos de Estado é 
garantida pela unidade da política de classe da classe que detém o poder de 
Estado e da Ideologia de Estado que corresponde aos interesses fundamentais 
da classe (ou das classes) no poder). 
ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. 
 
Para Althusser, os Aparelhos Ideológico de Estado (AIE) têm como função 
manter a base do sistema capitalista, isto é, das relações de exploração, 
reproduzindo as relações de produção. Cada Aparelho Ideológico de Estado 
tem sua própria peculiaridade na sua influência em relação aos indivíduos. Não 
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42 
 
podemos deixar de mencionar que, nesse sentido, os Aparelhos de Estado (AE) 
também atuam com a finalidade de conservar uma ordem pré-estabelecida: 
 
O papel desempenhado pelo Aparelho repressor de Estado consiste, 
essencialmente, enquanto aparelho repressor, em garantir pela força (física ou 
não) as condições políticas da reprodução das relações de produção que são, 
em última instância, relações de exploração. O aparelho de Estado não só 
contribui, em grande parte, para a sua própria reprodução [...], mas também, e 
sobretudo, garante, através da repressão (desde a mais brutal força física até às 
mais simples ordens e proibições administrativas, à censura aberta ou tácita, 
etc.), as condições políticas do funcionamento dos Aparelhos Ideológicos de 
Estado. 
ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. 
 
 Apesar da divisão dos aparelhos de Estados, todos eles funcionam 
simultaneamente, embora um elemento (a repressão ou a ideologia) seja 
predominante em sua atuação. Por exemplo, as forças armadas, embora 
consideradas um Aparelho de Estado, também agem através de sua ideologia, 
tanto para manter a coesão quanto para propagar seus valores. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 Althusser é um dos principais representantes da corrente de pensamento 
estruturalista francesa e foi um grande estudioso das ideologias. Ao longo de 
seus estudos, procurou estabelecer a relação entre a ascensão da burguesia e o 
desenvolvimento dos Aparelhos Ideológicos de Estado, especialmente o escolar. 
 Na visão do filósofo, com a instauração da ordem e do pensamento 
burgueses e o avanço do capitalismo, o Aparelho Ideológico religioso é 
substituído pelo escolar e este possui um papel determinante na reprodução 
das relações de produção e manutenção de um grupo no poder. 
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43 
 
 
Por que motivo o aparelho escolar é, de fato, o aparelho ideológico de 
Estado dominante nas formações sociais capitalistas e como funciona? 
[...] 
Esta [a escola] recebe as crianças de todas as classes sociais desde o 
Maternal e a partir daí, com os novos e igualmente com os antigos métodos, ela 
lhes inculca, durante anos e ano, exatamente no período em que a criança está 
mais “vulnerável”, imprensada entre o aparelho de Estado familiar e o aparelho 
de Estado escolar, “savoir-faire”2 revestidos pela ideologia dominante (língua 
materna, o cálculo, história natural, ciências, literatura), ou simplesmente a 
ideologia dominante em estado puro (moral e cívica, filosofia). Em determinado 
momento, por volta dos dezesseis anos, uma grande quantidade de crianças vai 
parar “na produção”: são os operários ou os pequenos camponeses. Uma outra 
parte da juventude continua na escola: e haja o que houver, avança ainda um 
pouco para ficar pelo caminho e prover os postos ocupados pelos pequenos e 
médios quadros, empregados, pequenos e médios funcionários, pequenos 
burgueses de toda a espécie. Uma última parcela chega ao topo, seja para cair 
no semi-desemprego intelectual, seja para fornecer, além dos “intelectuais do 
trabalhador coletivo”, os agentes da exploração (capitalistas, empresários), os 
agentes da repressão (militares, policiais, políticos, administradores, etc.) e os 
profissionais da ideologia (padres de toda a espécie, a maioria dos quais são 
“laicos” convictos). 
Cada parcela que fica pelo caminho é praticamente provida da ideologia 
que convém ao papel que deve desempenhar na sociedade de classe: papel de 
explorado (com “consciência profissional”, “moral”, “cívica”, “nacional” e 
apolítica altamente “desenvolvida”); papel de agente da exploração (saber dirigir 
e falar aos operários: as “relações humanas”), de agentes da repressão (saber 
 
2
 Tradução livre: saber-fazer. Ou seja, relaciona-se à habilidade, à capacidade de resolver, 
solucionar algo. 
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44 
 
dar ordens e se fazer obedecer “sem discussão” ou saber manipular a 
demagogia da retórica dos dirigentes políticos), ou de profissionais da ideologia 
(sabendo tratar as consciências com o respeito, isto é, o desprezo, a chantagem 
e a demagogia que convêm, acomodados às regras da Moral, da Virtude, da 
“Transcendência”, da Nação, do papel da Pátria no Mundo, etc.). 
ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 05 – SISTEMAS E IDEOLOGIAS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
O objetivo desta unidade é apresentar conceitualmente os regimes e 
ideologias. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Conceitos importantes: 
 
Modo de produção: combinação historicamente determinada de forças 
produtivas, isto é, de meios de produção entendidos em sentido amplo 
(inclusive a terra), conhecimentos técnico-científicos e práticas necessárias para 
PODER, POLÍTICA E SOCIEDADE 
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45 
 
utilizá-los; e de relações sociais [...] que regulam o modo e o uso dos meios de 
produção. 
GALLINO, Luciano. Dicionário de Sociologia. São Paulo: Paulus, 2005. 
 
 
 
 A partir dos conceitos acima, iremos discorrer neste momento sobre 
sistemas econômicos. 
 
CAPITALISMO 
O capitalismo surgiu na Europa nos séculos XVI e XVII. Podemos 
compreender, incialmente, que no capitalismo é fundamental a coexistência de 
trabalhadores, de meios de produção e de um grupo de pessoas que possui ou 
controla esses meios. Assim podemos definir da seguinte forma o capitalismo: 
 
Sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de 
produção, na busca racional do lucro através da produção e do comércio, no 
trabalho de indivíduos que só obtêm os meios de subsistência cedendo a 
própria força-trabalho

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