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1 ASTECAS: SACRIFÍCIOS HUMANOS E SUA PERSPECTIVA SOBRE A MORTE Cynthia Thayse1 RESUMO: O estereótipo dos astecas sangrento e guerreiros brutais, há muito tempo frequentam as páginas de história. Mito e ficção fizeram a imagem dessa sociedade ficar na imaginação popular como assassinos em massa e canibais. Os invasores espanhóis ficaram perplexos ao descobrir o grande número de sacrifícios humanos realizados em seus templos, porém essa escala de assassinato é motivo de controversas. Portanto o presente trabalho mostra o comportamento asteca diante da morte, abrangendo suas crenças e rituais de sacrifício humanos. Palavras-chave: Sacrifício; Ritual; Asteca. 1. O Sacrifício Ao fazermos uma tentativa de pensar como os astecas da época. O sacrifício humano tinha como objetivo pagar a dívida que se formou. Os astecas acreditavam que o nosso mundo fora precedido por quatro outros universos, os Quatro Sóis: naui-ocelotl2, naui-eecatl3, nauiquiauitl4, naui-atl5. Portanto se não sustentasse o Sol com o sangue o mundo chegaria ao fim, era como alimentar os deuses. Como bem destaca Jacques Soustelle: Além dos sacrifícios humanos, oferendas de todo gênero acumulavam-se diante dos altares; tecidos e vestimentas, pássaros, bolos e espigas de milho, flores e folhagens. Os fogos que ardiam no cimo das pirâmides jamais podiam apagar-se, e por isso os fiéis constantemente traziam madeira. Além disso, os dignitários e sacerdotes escarificavam as pernas, o lóbulo das orelhas e a língua para oferecer seu sangue ao Sol. (SOUSTELLE, 1987, p. 75). Por isso era preciso garantir ao Sol, à Terra e a todas as divindades a engrenagem que fazia o mundo funcionar: o sangue humano. Dessa noção fundamental decorrem as guerras sagradas e a prática de sacrifícios humanos. As vítimas mais frequentes eram os prisioneiros de guerra, a literatura indígena cita inúmeros casos de prisioneiros aos quais se oferecia a salvação 1 Graduanda do curso em licenciatura em História da Universidade Estadual de Goiás – UEG (Cynthia@aluno.ueg.br ). 2 Significa quatro-jaguar, desapareceu em um gigantesco massacre, no qual os homens haviam sido devorados pelos jaguares. 3 Significa quatro-vento, onde fez soprar sobre esse mundo uma tempestade mágica, transformando os homens em macacos. 4 Significa quatro-chuva, onde fez submergir uma chuva de fogo. 5 Significa quatro-água, onde terminou em dilúvio que durou 52 anos. mailto:Cynthia@aluno.ueg.br 2 da vida, mas que exigiam morrer na pedra dos sacrifícios para garantirem a felicidade na vida eterna. Outras vítimas eram obtidas entre os escravos, principalmente pelos negociantes e artistas, pois ao não guerrear os compravam afim de oferecer em sacrifícios aos deuses. Por fim, outros ainda eram designados pelos sacerdotes, alguns se prestavam voluntariamente, onde o sacrifício era visto como honra. Também tinha mulheres que personificando deusas terrestres, dançavam e cantavam enquanto aguardavam a hora de serem mortas pelos sacerdotes. 1.1 O Ritual O processo de sacrifício mais comum envolve colocar a vítima em uma pedra. Bater com um machado para abrir seu peito, e o sacrificador arranca seu coração e presentea ao Sol. A pessoa sacrificada é então decapitada, e seu crânio é unido àqueles empilhados em uma estaca especial, o tzompantli6. As vítimas sacrificadas ao deus Xipe Totec e às deusas da vegetação eram esfoladas após a morte e então os sacerdotes vestiam suas peles. Outros foram amarrados com cordas a uma pesada placa de pedra e forçados a se defender com armas de artifício, de quatro guerreiros fortemente armados: o que os espanhóis chamavam de "sacrifício dos gladiadores". Algumas vítimas eram oferecidas aos deuses; outras representavam os próprios deuses, vestidos como eles, eram homenageados e incensados. O canibalismo ritual que encerrava essas macabras cerimônias tomava o sentido de uma comunhão. 2. Escala de assassinato Nos últimos três anos, um time de arqueólogos do Instituto Nacional de Antropologia e História7 concluiu que a descoberta é umas principais provas de como eram grandes os sacrifícios humanos feitos pelo povo asteca, representado na Figura 1 e 2, entre os séculos 14 ao 16. Detalhes do estudo foram publicados pela revista Science: A tzompantli tinha 35 metros de comprimento e até 14 metros de largura. O altar de crânios também tinha 5 metros de altura e possuía duas torres laterais de 1,7 metro de altura e 5 metros de diâmetro. A estrutura estava instalada em frente ao Templo Mayor e seus dois templos, um dedicado ao deus da guerra Huitzilopochtli e outro para o deus da chuva Tlaloc. Os arqueólogos estimam que milhares de pessoas foram sacrificadas, cerca de 180 crânios intactos e milhares de fragmentos. As vítimas homens eram 75% entre 20 e 35 anos, 6 Um altar em forma de duas torres formadas apenas por crânios humanos. 7 Liderada por Jorge Gomez Valdes. 3 provavelmente guerreiros. Outros 20% eram mulheres, enquanto 5% eram crianças. Segundo uma análise dos ossos, as vítimas nasceram em diversas na América Central, mas viveram por muito tempo em Tenochtitlan. Figura 1 - Torre de crânios descoberta Fonte: CNN Figura 2 - Um edifício de vida Fonte: CNN 4 Através disso elas podem ser a comprovação dos contos acerca da torre de crânios que chocou os conquistadores espanhóis e foi passada de geração em geração. 3. O imaginário sobre a morte Entre vários relatos o aspecto mais destacado é o ritual sanguinário de sacrifício e a crueldade de seus guerreiros. O fascínio de certos autores, parece não contextualizar outras características interessantes da sociedade. A morte é um fator biológico inerente a todos os seres vivos, mas somente os humanos pode dar significado. Para os astecas, a morte acontecia de forma diferente, e eles desenvolveram um sentimento especial ao enfrentar o fenômeno natural da morte e o viam como um espelho que refletia seu modo de vida e seus arrependimentos, acreditando que a morte iluminava a vida. Os astecas acreditavam que existiam cinco formas de morte, são elas: a morte comum, a morte dos guerreiros, a morte na pedra de sacrifícios, a morte relacionada à água e a morte de crianças pequenas. Apenas as quatro últimas proporcionavam a salvação incontestável. O Mictlán é para onde vão todos aqueles que morrem de causas naturais, como velhice, acidentes e a maioria das doenças. Um dos eventos mais nobres é a morte de um soldado no campo de batalha. Quem morre em batalha é salvo imediatamente. A morte na pedra dos sacrifícios era digna de salvação, assim como os guerreiros, enquanto as mortes relacionadas à água, parto, raios e doenças como gota, sarna, lepra, ácido úrico são considerados boas mortes. As mortes de crianças consideradas puras eram envoltas em magia porque os astecas acreditavam que iam para um jardim florido onde viveriam para sempre. A visão asteca da vida após a morte estava intrinsecamente ligada ao respeito pela natureza e a preservação da civilização. MARCILLY (1978): “Não é verdade, não é verdade que estamos nesta terra para viver. Nós aqui estamos para dormir e sonhar. Nosso corpo é uma flor. Como a relva que cresce na primavera, nosso coração se abre e floresce para depois fenecer”. Os astecas construíram um mito em torno da morte, sem medo da morte enfrentada que é encarada com naturalidade e embelezada por visões que a relacionam com a natureza. Isso é extremamente importante para a continuidade deste povo. 5 Referências: Os sacrifícios astecas. Incrível História, 2014 disponível em < https://incrivelhistoria.com.br/sacrificios-astecas/ > Acesso em: 02 de Jul. de 2014. Alimentando os deuses: Centenas de crânios revelam uma escala massiva de sacrifício humano na capital asteca. Revista Science, 2018 disponível em < https://www.science.org/content/article/feeding-gods-hundreds-skulls-reveal-massive-scale-human-sacrifice-aztec-capital > Acesso em: 21 de Jun. de 2018. Achado no México novo trecho da tzompantli, torre asteca de crânios humanos, UOL, 2020 disponível em < https://www.uol.com.br/nossa/noticias/afp/2020/12/12/achado-no-mexico- novo-trecho-da-tzompantli-torre-asteca-de-cranios-humanos.htm > Acesso em 12 de Dez. de 2020. SOUSTELLE, Jacques. A civilização asteca. 1 ed. Zahar, 1987. CERVERA, Marco Antônio. Breve história dos astecas. 1 ed. Rio de Janeiro, Versal, 2015. MARCILLY, Jean. A Civilização dos Astecas. Ed. Otto Pierre, Rio de Janeiro, 1978. https://incrivelhistoria.com.br/sacrificios-astecas/ https://www.science.org/content/article/feeding-gods-hundreds-skulls-reveal-massive-scale-human-sacrifice-aztec-capital https://www.science.org/content/article/feeding-gods-hundreds-skulls-reveal-massive-scale-human-sacrifice-aztec-capital https://www.uol.com.br/nossa/noticias/afp/2020/12/12/achado-no-mexico-novo-trecho-da-tzompantli-torre-asteca-de-cranios-humanos.htm https://www.uol.com.br/nossa/noticias/afp/2020/12/12/achado-no-mexico-novo-trecho-da-tzompantli-torre-asteca-de-cranios-humanos.htm
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