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A política de meio ambiente e a legislação ambiental 5AULA Meta da aula Apresentar os principais aspectos de uma política ambiental. ob jet ivo s Após o estudo desta aula, você deverá ser capaz de: reconhecer a importância da Política Ambiental; caracterizar os instrumentos de Política Ambiental; identifi car a Política Pública Ambiental no Brasil e a legislação correlata. 1 2 3 Pré-requisito Para melhor entendimento desta aula, é importante relembrar os aspectos relativos à Conferência de Estocolmo, estudados na Aula 1. 120 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental INTRODUÇÃO Nesta aula, vamos apresentar os principais aspectos caracterizadores da Política Ambiental e sua importância para que se possa atingir, numa perspectiva de envolvimento da sociedade como um todo, os objetivos de sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Inicialmente, faremos uma descrição da evolução do papel do Estado na condução das políticas públicas voltadas para o meio ambiente, destacando as fases histó- ricas do processo, bem como apresentando os seus principais instrumentos. Na sequência, faremos a apresentação da Política Ambiental no Brasil, com a sua base normativa e legal, descrevendo o estado em que se encontra a ação do governo em face da degradação do meio ambiente e os instrumentos de política aplicados. A CARACTERIZAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA POLÍTICA AMBIENTAL De acordo com Lustosa et al. (2003, p. 135), defi ne-se Política Ambiental como sendo o conjunto de metas e instrumentos que visam reduzir os impactos deletérios da ação humana sobre o meio ambiente. Uma Política Ambiental, portanto, é capaz de interferir nas ati- vidades dos agentes econômicos, sobretudo porque a forma pela qual ela é estabelecida vai infl uenciar outras políticas públicas, tais como a Política Industrial e a Política de Comércio Exterior. É crescente a importância da Política Ambiental em várias áreas de atuação dos gestores públicos e privados. Nos países desenvolvidos, as preocupações com o meio ambiente têm se refl etido principalmente no comércio internacional, com o advento de barreiras não tarifárias nas relações comerciais. Barreiras não tarifárias Instrumento de proteção comercial empregado por alguns países para evitar a concorrência estrangeira sobre a indústria domés- tica. As mais comuns são as cotas de importação (limi- tações sobre a quantidade importada) e as restrições de exportação (limitações sobre a quantidade exportada, geralmente impostas pelo próprio país exportador a pedido do país importador). A tabela a seguir apresenta as cotas de importação brasi- leiras para produtos da indústria têxtil chinesa. ?? C E D E R J 121 A U LA 5 Em virtude do fato de que cada país possui seus problemas ambientais específi cos, existem diferenças nos princípios e tipos de ins- trumentos de Política Ambiental adotados em cada um deles, embora existam aspectos gerais comuns a todos os países. Com a percepção de que os agentes econômicos produziam exter- nalidades negativas que os afetavam mutuamente, tais como a fumaça das fábricas e o esgoto lançado nas águas, emergiu a ideia de que a inter- venção estatal poderia mediar e resolver os confl itos daí originados. ?? Tabela 5.1: Cotas de importação brasileiras para produtos de indústria têxtil chinesaPreenchimento das CotasAcordo Brasil–China(janeiro – abril 2008) Veludos Cota: 696 ton. Tecidos Sintéticos Cota: 66.683 ton. Suéteres Cota: 1.403 ton. Seda Cota: 72 ton. Jaquetas Cota: 9.456 ton. Fios de Poliester Texturizado Cota: 25.435 ton. Camisas de Malha Cota: 2.691 ton. Bordados Cota: 397 ton. 0% 0,9% 0,6% 2,3% 0,2% 0,5% 0,1% 1,4% 1% 1% 3,2% 0,8% 2,2% 1,5% 98% 74%5,6% 15,0% 6% 13,2% 12,9% 7,2% 11% 7,7% 6,3% 4,2% 5% 8,2% 6,0% 11,5% 67% 87% 77% 83% 89% 87% 10% janeiro fevereiro março abril Cota nãopreenchida 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Fonte: https://www.trf4.jus.br/trf4/upload/editor/apg_work_2008_ABIT.ppt 122 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Nos países desenvolvidos, esse processo de intervenção estatal se deu em três fases distintas, que variaram conforme o país e a época de vigência, de tal maneira que, em diferentes países, elas podem ter ocorrido de forma concomitante no tempo. Numa perspectiva histórica, a primeira fase de intervenção estatal nas questões relativas ao meio ambiente estendeu-se do fi m do século XIX até o período anterior à Segunda Guerra Mundial. Essa fase se caracterizou pela disputa em tribunais, onde os agentes lesados pela ação poluidora sobre os recursos naturais entram em juízo contra os agentes poluidores ou devastadores do meio ambiente. Por exemplo, uma cidade localizada a jusante de um rio poderia litigar contra uma outra cidade situada rio acima, porque esta última lançava seus esgotos sem tratamento nas águas, enca- recendo o processo de conversão em água potável na primeira cidade. Não obstante, a longo prazo, essa disputa em tribunais mostrou- se bastante custosa, não apenas sob a ótica econômica como também sob o aspecto do tempo despendido na solução dos processos judiciais, não sendo incomum que, quando se resolvia determinado litígio, outros surgiam acerca da mesma questão já resolvida, só que com outros agentes, na mesma região. Nos anos 1950, iniciou-se uma segunda fase desse processo de intervenção estatal. Essa fase fi cou conhecida como a de políticas de comando e controle, que se caracterizava da seguinte forma: a) A imposição, pela autoridade ambiental estatal, de determina- dos padrões de emissão incidentes sobre a produção fi nal (ou sobre o nível de utilização de um insumo básico) do agente poluidor. Isso signifi ca que, para um dado volume ou nível de produção, o agente poluidor apenas poderia emitir uma certa quantidade de poluição. b) A determinação da melhor tecnologia disponível para permi- tir a redução da poluição e o cumprimento do padrão de emissão dos efl uentes poluidores (um efl uente é qualquer substância lançada no meio ambiente em decorrência da produção). O advento dessa política na ocasião pode ser explicado pelo elevado crescimento econômico dos países ocidentais no pós-guerra, que gerava cada vez maiores níveis de poluição. Os tribunais não seriam capazes de dar conta do elevado número de demandas indivi- duais promovidas por aqueles que se sentissem prejudicados com a poluição. Dessa forma, seria necessária uma intervenção maciça por parte C E D E R J 123 A U LA 5do Estado, que deixaria de apoiar disputas nos tribunais para se valer de instrumentos mais abrangentes vinculados ao Direito Administrativo. Não obstante, uma política estrita de comando e controle apre- senta algumas defi ciências sérias, tais como: implementação é demorada, em virtude das longas negociações • entre os agentes reguladores e as empresas, existindo a possibili- dade de os prazos se ampliarem ainda mais caso levem a questão para a esfera judicial; em razão das defi ciências de informação dos agentes regulado-• res, as tecnologias que estes determinam para reduzir as emis- sões, via de regra, são do tipo end-of-pipe, ou seja, os chamados equipamentos “fi nal de tubo”, tais como fi ltros, lavadores etc., e isso inviabiliza eventualmente o emprego de métodos mais efi cientes, obtidos a partir de alterações nos processos, nas matérias-primas, nas especifi cações de produtos etc.; regulamentação direta pode impedir a instalação de novos • empreendimentos em uma região já saturada, mesmo que a empresa nova queira pagar pela redução das fontes de polui- ção já existentes (o que ainda assim seria vantajoso para ela em razão da localização). Na tentativa de solucionar esses problemas acumulados ao longo do tempo, os países desenvolvidos atualmente encontram-se numa terceira fase de políticaambiental, que, de acordo com Lustosa (2003, p. 137), na falta de melhor nome, é defi nida como uma política mista de comando e controle. Nesse tipo de política ambiental, os padrões de emissão dei- xam de ser o objetivo fi nal da intervenção do Estado e passam a ser um instrumento, dentre outros possíveis, de políticas que empregam diversas alternativas e possibilidades para a consecução de metas acordadas socialmente. Assim, gradativamente são adotados padrões de qualidade dos corpos receptores (aqueles que recebem a poluição, tais como o ar e a água) como metas de políticas, bem como a adoção de instrumentos econômicos (complementares aos padrões de emissão) que têm o pro- pósito de induzir os agentes a combaterem a poluição e a moderarem o uso dos recursos naturais. 124 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Entrementes, Barbieri (2007, p. 72) nos traz uma visão complementar acerca do conceito de comando e controle. Segundo esse autor, os instrumentos de comando e controle são também denominados instrumentos de regulação direta, que têm por objetivo alcançar as ações que agri- dem o meio ambiente, limitando ou condicio- nando o uso de bens, a realização de atividades e o exercício de liberdades individuais, tudo em benefício da sociedade. Esses instrumentos são uma manifestação do poder de polícia dos entes estatais (União, estados e municípios, como no caso do Brasil), na forma de proibições, restrições e obrigações impostas aos indivíduos e organizações, com base na legislação. Dentre os instrumentos de comando e controle, os mais conhecidos são aqueles que impõem padrões ou níveis de concentração máximos aceitá- veis de poluentes. Esses padrões podem ser de três tipos: padrões de qualidade ambiental, padrões de emissão e padrões ou estágios tecnológicos. Os padrões de qualidade ambiental dizem respeito aos níveis máximos de poluição admitidos no meio ambiente e são, em geral, segmentados em ar, água e solo. Esses níveis são estabelecidos como médias aritméticas ou geométricas de concentração diária ou anual, de tal forma a permitir a incorporação de variações climáticas que afetam a dispersão e a concentração dos poluentes. Destaca-se que os padrões de qualidade ambiental se referem a um determinado segmento do meio ambiente. Por exemplo, pode ser estabelecido que a medida de 75 µg/m3 (setenta e cinco microgramas por metro cúbico) será o nível máximo de materiais particulados em suspensão na atmosfera. Nesse caso, haveria o entendimento de que a qualidade do ar estaria normal com respeito a esse poluente se a sua concentração, mensurada de acordo com uma metodologia defi nida na regulamentação, estivesse igual ou abaixo desse nível. Os padrões de emissão referem-se aos lançamentos de poluentes individualizados por fonte, seja ela fi xa ou estacionária, como são as fábricas e os estabelecimentos comerciais em geral, ou móvel, tal como veículos em geral. Dessa forma, os padrões de emissão estabelecem uma quantidade máxima aceitável de cada tipo de poluente por fonte emissora, Figura 5.1: Os instrumentos de comando e controle regu- lam padrões de emissões de poluentes na indústria. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gavin_Plant.JPG C E D E R J 125 A U LA 5como por exemplo 0,4 mg/l de chumbo na gasolina, ou ainda uma quan- tidade máxima por unidade de tempo, como por exemplo a quantidade de toneladas de CO2 lançadas na atmosfera por dia, mês ou ano. O padrão tecnológico a ser adotado pelas fontes poluidoras também é um instrumento de controle da poluição. O termo “tecnologia” abrange máquinas, instalações, ferramentas, materiais e outros elementos físicos de um estabelecimento ou uma unidade fabril, e ainda abrange também as práticas administrativas e operacionais, tais como a especifi cação e a seleção de materiais, a avaliação de fornecedores, os métodos de inspeção, o roteiro de produção, o planejamento da manutenção e o treinamento. Existe uma semelhança entre o padrão tecnológico e os padrões de emissão, uma vez que ambos se referem às fontes de poluição indivi- dualizadas. Contudo, existem diferenças substanciais. Quando o padrão é estabelecido com base em tecnologia, o Estado restringe as opções e direciona a escolha de equipamentos, instalações e práticas operacionais e administrativas, acabando por uniformizar os agentes produtivos que atuam num dado segmento. Por sua vez, no caso de padrões de emissão, apenas são estabelecidos os níveis máximos de poluição para as fontes, sem especifi car como esses níveis devem ser alcançados. Contudo, o estabelecimento de um padrão tecnológico é uma tare- fa complexa, haja vista que as tecnologias estão em constante evolução. Ademais, o desenvolvimento tecnológico representa a criação de ativos econômicos que são apropriados privativamente pelas entidades que os desenvolvem, de sorte que eles não estão imediatamente disponíveis para os demais agentes produtivos. Por esta razão, o padrão tecnológico a ser estabelecido deve considerar a tecnologia disponível. Geralmente esse padrão é defi nido por meio de consultas a especialistas, fornecedores de tecnologia e responsáveis pelas unidades produtivas, com vistas à verifi ca- ção do estado da técnica de determinadas atividades, bem como de quais tecnologias estão disponíveis. O objetivo das consultas é a busca de um consenso entre as partes quanto ao melhor padrão tecnológico disponível a ser adotado e elaborar critérios técnicos que devem ser observados. Os critérios técnicos são baseados em dois conceitos: o conceito de Melhor Tecnologia Disponível (BAT: best available technology) e o con- ceito de Melhor Tecnologia Disponível que Não Acarreta Custo Excessivo (Batneec: Best Available Technology Not Entailing Excessive Cost). O conceito Batneec é bastante empregado nos EUA e em alguns países da Europa para a fi xação de limites de emissão de poluentes. Esse 126 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental conceito procura evitar que se estabeleça como padrão uma tecnologia disponível que apresente um resultado adicional muito pequeno em relação às outras tecnologias, contudo com um custo proporcionalmente mais elevado. Além disso, esse conceito se preocupa em evitar que o custo adicional da implementação da melhor tecnologia não inviabilize os empreendimentos sob a ótica econômica. No Brasil, é muito comum o uso de padrões de qualidade e de padrões de emissão. Apenas no caso de ausência de padrões de emissão fi xados em normas legais é que são empregados padrões tecnológicos que aderem ao conceito BAT. O quadro a seguir resume esses conceitos: Existem ainda outros instrumentos de comando e controle, que são as proibições ou banimentos da produção, comercialização e uso de produtos e o estabelecimento de cotas de produção, comercialização ou utilização de materiais ou recursos. Não obstante, por volta dos anos 1960, já se constatava que a política pura de comando e controle voltada para o combate à poluição, com relação ao ar e à água, não apresentava resultados signifi cativos. Nos EUA, houve uma grande mobilização ambientalista e manifestações de contracultura, com protestos contra a Guerra do Vietnã e em prol de maiores liberdades civis. Finalmente, em 1970, ocorreu a promulgação do National Environmental Policy Act/ NEPA . Quadro 5.1: Instrumentos de comando e controle Padrões de qualidade ambiental Padrões de emissão Padrões tecnológicos Dizem respeito aos ní- veis máximos de polui- ção admitidos no meio ambiente e são em ge- ral segmentados em ar, água e solo. Esses níveis são estabelecidos como médias aritméti- cas ou geométricas de concentração diária ou anual, de tal forma a permitir a incorporação de variações climáticas que afetam dispersão e a concentração dos poluentes.Referem-se aos lança- mentos de poluentes individualizados por fonte, seja ela fi xa ou estacionária, como são as fábricas e os estabelecimentos co- merciais em geral, ou móveis, tal como veículos em geral. Os padrões de emis- são estabelecem uma quantidade máxima aceitável de cada tipo de poluente por fon- te emissora. Quando o padrão é estabelecido com base em tecnologia, o Estado restringe as op- ções e direciona a escolha de equipamen- tos, instalações e práticas operacionais e administrativas, acabando por uniformizar os agentes produtivos que atuam num dado segmento. O termo “tecnologia” abrange máquinas, instalações, ferramen- tas, materiais e outros elementos físicos de um estabelecimento ou uma unidade fabril, e ainda abrange também as práticas administrativas e operacionais, tais como a especifi cação e a seleção de materiais, a avaliação de fornecedores, os métodos de inspeção, o roteiro de produção, o planeja- mento da manutenção e o treinamento. Fonte: Do autor. C E D E R J 127 A U LA 5 Contracultura Trata-se de um ideário que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental. Justamente por causa disso, os adeptos da contracultura são pessoas que costumam se excluir socialmente e alguns se negam a se adaptar às visões aceitas pelo mundo. A contracultura desenvolveu-se na América Latina, na Europa e principalmente nos EUA, onde as pessoas buscavam valores novos. Na década de 1950, surgiu nos Estados Unidos um dos primeiros movimentos da contracultura: a Beat Generation (Geração Beat). Os beatniks eram jovens intelectuais que contestavam o consumismo e o otimismo do pós-guerra americano, o anticomunismo generalizado e a falta de pensamento crítico. Na década de 1960, o mundo conheceu o principal e mais infl uente movimento de contracultura já existente: o movimento hippie. Os hippies se opunham radicalmente aos valores culturais considerados importantes na sociedade: o trabalho, o patriotismo e o nacionalismo, a ascensão social e até mesmo a “estética padrão”. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Contracultura) ?? NEPA – Trata-se de uma política nacional de ambiente dos EUA, promulgada em 1º de janeiro de 1970 pelo presidente Nixon, que tem como instrumento a Análise de Impacto Ambiental (AIA). Essa política identifi ca ações obrigatórias sobre as quais é necessário realizar estudos de impacto ambiental antes de realizar recomendações sobre propostas de legislação e antes de iniciar quaisquer outras grandes ações federais que possam afetar signifi cativamente a qualidade do ambiente. Essa lei constitui um marco na história da gestão ambiental por parte do Estado, não tanto em razão de ter criado alguns instrumentos que se consagraram, como os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e os respectivos Relatórios de Impacto Ambiental (RIMAs), mas, sobretudo, em virtude do estabelecimento do Conselho de Qualidade Ambiental, órgão diretamente ligado ao Poder Executivo que tem a incumbência de elaborar anualmente, para o presidente dos EUA, um relatório ao Congresso acerca da situação do meio ambiente em todo o país. O advento dessa lei foi um enorme passo no sentido de o Esta- do assumir, em nome da coletividade, a efetiva gestão do bem público representado pelo meio ambiente, mantendo os cidadãos informados sobre a qualidade e as alterações ocorridas no mesmo. A sua aplicação desenvolveu o interesse da sociedade em se engajar no debate sobre o meio ambiente, passando a discutir os padrões de qualidade desejáveis e, num segundo momento, a estabelecê-los. 128 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Um outro estágio da gestão do meio ambiente é atingido com a paulatina adoção de instrumentos econômicos, que, ao lado dos padrões de emissão, incentivam os agentes a reduzir a descarga de efl uentes nos corpos receptores (ar e águas), bem como a usar com moderação os recursos naturais. A utilização de instrumentos econômicos é uma conse- quência das prescrições da economia ambiental e se integra naturalmente ao emprego dos padrões de qualidade ambiental relativos aos corpos receptores. Por exemplo, ao se estabelecer um padrão de qualidade para um trecho de rio, pretende-se induzir os agentes econômicos, tais como os consumidores, os agricultores e a indústria em geral, a moderarem o uso do recurso, tanto sob o aspecto da retirada da água quanto para o despejo de efl uentes, por intermédio de um dos dois instrumentos eco- nômicos à disposição: a cobrança de um preço (uma renda de escassez) pelo uso do recurso ou o estabelecimento de permissões negociáveis de utilização (são certifi cados que dão ao seu titular um direito e que podem ser negociáveis no mercado). Ambos os instrumentos vão permitir que sejam atingidos, a longo prazo, um total de uso do trecho do rio que não ultrapasse a sua capacidade de assimilação ou suporte. Assim, vai se confi gurando uma política mista, na qual os padrões de emissão são destinados ao combate da poluição derivada dos poluentes “de estoque”, tais como o chumbo e o mercúrio, enquanto os instrumentos econômicos são adotados para o caso dos poluentes “de fl uxo”, tais como os esgotos domésticos que se degradam naturalmente com o tempo e são assim assimilados. Dessa forma, fi ca destacado que a Política Ambiental é o instru- mento de que se vale o Estado para induzir ou forçar os agentes econô- micos a adotarem atitudes e procedimentos menos agressivos ao meio ambiente. Isso implica que sejam reduzidas as quantidades de poluentes nos corpos receptores e no ambiente em geral, ao mesmo tempo que seja reduzida a depleção (redução dos estoques) dos recursos naturais. Especifi camente no caso do setor industrial, os recursos naturais são transformados em matérias-primas e energia, provocando impactos ambientais iniciais, tais como desmatamentos, erosão do solo, emissão de gases poluentes, entre outros efeitos nocivos. Por sua vez, as matérias- primas e a energia constituem-se nos insumos da produção, que geram como outputs os produtos fi nais e os rejeitos industriais, tais como a fumaça, os resíduos sólidos e os efl uentes líquidos. C E D E R J 129 A U LA 5Participação do petróleo na matriz energética do planeta Terra Figura 5.2: Verifi camos que o aumento da participação de combustíveis fósseis, como o petróleo, aumentou o nível de degradação ambiental. Espera-se que ocorra uma mudança gradual para outras fontes de energia mais limpas. Fonte: www.unicamp.br/fea/ortega O atual padrão tecnológico da produção industrial usa de forma intensiva a energia e as matérias-primas. Ademais, não é possível que uma determinada tecnologia consiga aproveitar a totalidade dos insumos sem gerar resíduos após a produção. Se os rejeitos industriais forem lançados numa quantidade superior à capacidade de absorção do meio ambiente, ocorrerá a poluição. Esta, por sua vez, tem efeitos deleté- rios sobre o nível de bem-estar da população e sobre a qualidade dos recursos naturais, o que afeta a harmonia do meio ambiente e aumenta os dispêndios governamentais para o combate a uma série de doenças relacionadas com a poluição. Atualmente, a poluição do ar representa um dos grandes proble- mas dos centros urbanos e industriais, pois a excessiva concentração de poluentes causa graves problemas para a saúde humana, sendo responsável por uma série de doenças respiratórias, tais como bron- quite, gripe, alergias, entre outras. Os idosos e as crianças costumam ser as principais vítimas dessas enfermidades. Analogamente, em razão do grande uso da água pelo homem, a poluição hídrica também é um dos grandes problemas da atualidade, pois gera vários problemas de saúde, tais como o cólera, as doenças gastrintestinais, amebíase, esquistossomose etc. A fi gura a seguir apresenta alguns dos principais poluentes emitidos na atmosfera. Óleo Degradaçãodo meio ambiente Petróleo Solar Eólica Hidráulica 1900 2000 2100 130 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Figura 5.3: Fontes de poluentes atmosféricos. Fonte: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.portalsaofran- cisco.com.br/alfa/meio-ambiente-poluicao/imagens/poluicao-ambiental-16. jpg&imgrefurl=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-poluicao/ poluicao.php&usg=__FZt1s3qkEAbiNkjV6wGq3iRwHqU=&h=248&w=397&sz=17&hl= pt-BR&start=17&um=1&tbnid=aFP-mckU01uNhM:&tbnh=77&tbnw=124&prev=/ima ges%3Fq%3Dpoluentes%2Batmosfericos%26hl%3Dpt-BR%26rlz%3D1R2WZPA_pt- BRBR328%26sa%3DN%26um%3D1 Lustosa et al. (2003, p. 140) registram que, se todos os países do mundo resolvessem adotar o mesmo padrão produtivo usando com a mesma intensidade os fatores de produção, os recursos naturais iriam se esgotar rapidamente, tornando o planeta inabitável, em virtude do surgimento de uma série de problemas ambientais globais e locais. A poluição industrial, por sua vez, está ligada ao padrão de espe- cialização da economia ou à escala de produção. Isso signifi ca dizer que o grau de poluição de cada tipo de indústria vai depender das caracte- rísticas específi cas da indústria, bem como da sua escala de produção, pois, quanto maior for esta última, maior será a emissão industrial em termos absolutos. A seguir, apresentamos um quadro relacionando os tipos de indústrias com os respectivos poluentes emitidos: Poluentes primários Natural Fontes Móveis Estacionárias CO2 CO SO2 NO NO2 A maioria dos hidrocarbonetos A maioria das partículas em suspensão A maioria dos sais NO3 e SO 2- 4 Poluentes secundários HNO3 H2O2 PANS H2SO4 O3 SO3 C E D E R J 131 A U LA 5 É importante destacar que as doenças causadas pela poluição provocam perdas econômicas de toda ordem, seja com relação aos gastos diretamente relacionados com o tratamento das doenças, como também os dias de trabalho perdidos e a baixa produtividade, e ainda a produção sacrifi cada em virtude da morte dos trabalhadores e da mao de obra futura. Além dessas considerações de ordem econômica, existem os imperativos morais de preservação do planeta para as gerações futuras. Em face da acumulação de poluentes e resíduos, ao lado da concentração populacional nos centros urbanos, tornou-se imperativa a necessidade de sistematização das normas de conduta em relação ao meio ambiente. Quadro 5.2: Poluentes emitidos por espécie de indústria Tipo de poluente Tipo de indústria Agentes poluidores das águas Carga de matéria orgânica Metalurgia de não ferrosos; papel e gráfi ca; químicos não petroquímicos; açúcar. Sólidos em suspensão Siderurgia Agentes poluidores do ar Dióxido de enxofre (SO2) Metalurgia de não ferrosos; siderurgia; refi no de petróleo e petroquímica. Dióxido de nitrogênio (NO2) Siderurgia; refi no de petróleo e petroquímica. Monóxido de carbono (CO) Siderurgia; refi no de petróleo e petroquímica; metalurgia de não ferrosos; químicos diversos. Compostos orgânicos voláteis Siderurgia; refi no de petróleo e petroquímica; químicos diversos. Material particulado inalável Siderurgia; óleos vegetais e gordura para alimentação; minerais não metálicos. Fonte: Adaptado de Lustosa (2003). 132 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Nos dias 11 e 22 de julho de 2008, o jornal O Globo publicava as seguintes reportagens: Marcados para morrer Um terço dos recifes de corais do planeta está ameaçado de extinção. Afetados por mudanças climáticas, poluição e pesca predatória, muitos corais estão em perigo. Um terço dos recifes de corais de todo o planeta está ameaçado de extinção... Os pesquisadores apontaram como principais ameaças aos corais o aquecimento global e alterações locais decorrentes da pesca predatória e o declínio na qualidade das águas por causa da poluição e da ocupação desenfreada da zona costeira... (CARPENTER, 2008) Perigo sob as águas Destruição dos pantanais agrava o aquecimento global. Cada vez mais ameaçadas pela ação do homem, as áreas alagadas, naturais sorvedouros de CO2 e metano, podem liberar colossais quantidades de gases do efeito estufa na atmosfera, agravando os efeitos do aquecimento global... As áreas alagadas absorvem e retêm carbono, mode- ram os níveis de água e abrigam uma grande biodiversidade... 60% das áreas alagadas em todo o mundo foram destruídas nos últimos cem anos...(O Globo, 2008) A partir das duas reportagens e utilizando-se dos conteúdos debatidos até o momento, responda às questões abaixo: a) A superação dos problemas de degradação relatados nas reportagens do jornal pode ser alcançada por meio de acordos individuais entre um agente eventualmente lesado e o causador? b) Como seria possível reduzir esses problemas? Atividade 1 1 C E D E R J 133 A U LA 5 Responda se as afi rmações a seguir são verdadeiras ou falsas, justifi cando as respostas caso elas sejam falsas: a) Uma política de comando e controle estimula um constante aperfeiçoamento tecnológico para redução de emissão de efl uentes, principalmente pelo emprego de recursos do tipo “ fi nal de tubo”. ( ) verdadeiro ( ) falso b) A primeira fase de intervenção estatal nas questões relativas ao meio ambiente se caracterizou pela disputa em tribunais, onde os agentes lesados pela ação poluidora nos recursos naturais entravam em juízo contra os agentes poluidores ou devastadores do meio ambiente. ( ) verdadeiro ( ) falso c) A inércia em face dos fatos, ou seja, não agir diante desses problemas, seria uma boa estratégia? Respostas Comentadas a) Dificilmente acordos individuais e pontuais seriam capazes de envolver aspectos tão extensos e complexos como os problemas ambientais relatados, sobretudo por envolverem biomas que não são de propriedade privada, como os oceanos, ou mesmo em razão de suas características próprias, como as áreas alagadas, que eventualmente não se prestam para outras atividades econômicas e vão sendo aterradas. b) Problemas dessa magnitude, cujos impactos podem ameaçar inclusive a sobrevi- vência do homem no planeta, apenas podem ser solucionados ou mitigados por força de uma ação ampla e integrada, que só os governos são capazes de implementar, por meio de suas políticas públicas ambientais. c) A inércia em face da degradação não seria uma boa estratégia porque a destrui- ção dos biomas e a depleção dos recursos naturais acabariam provocando a extinção da própria espécie humana. Atividade 2 2 134 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental c) Na terceira fase de intervenção estatal no meio ambiente, os padrões de emissão deixam de ser o objetivo fi nal da intervenção do Estado e passam a ser um instru- mento, dentre vários outros possíveis, de políticas que empregam diversas alternativas e possibilidades para a consecução de metas acordadas socialmente. ( ) verdadeiro ( ) falso d) Os padrões de emissão são instrumentos de comando e controle, dizem respeito aos níveis máximos de poluição admitidos no meio ambiente e são em geral seg- mentados em ar, água e solo. ( ) verdadeiro ( ) falso Respostas Comentadas a) Falso. Em razão das deficiências de informação dos agentes reguladores, as tecnologias que estes determinam para reduzir as emissões, via de regra, são do tipo end-of-pipe, ou seja, os chamados equipamentos “final de tubo”, tais como filtros, lavadores etc., e isso inviabiliza, eventualmente, o emprego de métodos mais eficientes, obtidos a partir de alterações nos processos, nas matérias-primas, nas especificações de produtos etc. b) Verdadeiro. c) Verdadeiro. d) Falso. Os padrões de qualidade ambiental é que dizem respeito aos níveis máxi- mos de poluição admitidos no meio ambiente e são em geral segmentados em ar, água e solo. Esses níveis são estabelecidos comomédias aritméticas ou geométricas de concentração diária ou anual, de forma a permitir a incorporação de variações climáticas que afetam a dispersão e a concentração dos poluentes. Destaca-se que os padrões de qualidade ambiental se referem a um determinado segmento do meio ambiente. C E D E R J 135 A U LA 5O HISTÓRICO DA POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL NO BRASIL De acordo com Barbieri (2007, p. 97), o Estado brasileiro começou a se preocupar com o meio ambiente, de forma mais afi rmativa, a partir da década de 1930. Embora desde o início do século XX já existissem problemas ambientais sendo apontados, não havia a devida sensibilização da classe política acerca dessa questão. Destaca-se o ano de 1934 como sendo uma data de referência para a Política Pública Ambiental no Brasil, em virtude da promulgação de uma ampla legislação relativa à gestão de recursos naturais, representada pelos seguintes diplomas: Código de Caça, Código Florestal, Código de Minas e Código de Águas. Nessa mesma época, foi criado o Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro do Brasil. Nessa fase inicial, as políticas públicas buscavam alcançar efeitos sobre os recursos naturais por meio de gestões setoriais dirigidas para aspectos específi cos, tais como a água, as fl orestas e a mineração, e para esse fi m foram criados órgãos específi cos, tais como o Departamento Nacional de Água e Energia Elétrica e o Departamento Nacional de Recursos Minerais. Apesar dessas evoluções institucionais, os problemas mais agudos relativos à poluição apenas seriam sentidos a partir dos anos 1960, quando o processo de industrialização estava se consolidando. A despeito da ausência de repercussão imediata no Brasil das questões postas pela Conferência de Estocolmo, em 1972, o avanço da degradação ambiental forçou a adoção de uma nova postura por parte do governo brasileiro. Em 1973, o Governo Federal criou a Secretaria Especial de Meio Ambiente, ao mesmo tempo que eram criadas, na esfera estadual, algumas agências ambientais especializadas, tais como a Cetesb, em São Paulo, e a Feema, no Rio de Janeiro. Nessa segunda fase de intervenção estatal, os problemas ambien- tais ainda eram percebidos e tratados de forma isolada e localizada, com uma repartição do meio ambiente em categorias como solo, ar e água, e a manutenção da divisão até então praticada para os recursos naturais (água, fl orestas, recursos minerais etc.). Apenas no início dos anos 1980 é que essas questões foram consideradas generalizadas e interdependentes, de tal forma a merecerem uma abordagem mais integrada. O advento da Lei 6.938, de 1981, estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente e deu início a uma terceira fase, que representou uma 136 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental importante mudança no tratamento das questões ambientais, uma vez que procurava integrar as ações governamentais dentro de uma abordagem sistêmica. O objetivo declarado dessa legislação consistia na preserva- ção, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, com vistas a assegurar condições de desenvolvimento socioeconômico, os interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade humana. Assim, o meio ambiente, no seu conjunto, passou a ser considerado um patrimônio público, devendo ser protegido. Essa mesma lei instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisna- ma), que passou a ser responsável pela proteção e melhoria do meio ambiente e é constituído por órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Baseando-se nesse sistema, os governos estaduais criaram os seus respectivos Sistemas Estaduais do Meio Ambiente, com o propósito de integrar as diversas ações ambientais de diferentes entidades públicas nesse âmbito. Uma outra inovação importante trazida pela nova legislação foi o conceito de responsabilidade objetiva do poluidor. Em virtude dessa presunção de responsabilidade objetiva, um poluidor passou a fi car obrigado, a despeito da existência ou não de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades. O meio ambiente na legislação brasileira O advento da Constituição Federal de 1988 produziu um avanço considerável na matéria ambiental. Por força dessa Carta Magna, fi cou estabelecido que a defesa do meio ambiente seria um dos princípios a serem observados para as atividades econômicas em geral e incorporou o conceito de desenvolvimento sustentável no Capítulo VI, dedicado ao meio ambiente. O texto da Constituição assim se manifesta acerca do meio ambiente: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2007). Além do capítulo específi co para o meio ambiente, a Constituição de 1988 ampliou os mecanismos para a defesa da natureza, atribuindo a qualquer cidadão a prerrogativa de propor uma ação popular para proteger o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural. Não obstante, a Lei 6.938, de 1981, já havia preenchido uma lacuna legal sobre essa questão ambiental, quando estabeleceu os seguintes instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I. o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II. o zoneamento ambiental; III. a avaliação de impactos ambientais; IV. o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras; V. os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI. a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelos poderes públicos federal, estadual e municipal; VII. o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII. o Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de defesa ambiental; C E D E R J 137 A U LA 5 Barbieri (2007, p. 105) assinala que, embora os tributos ambientais não estejam expressamente defi nidos, tanto na lei da Política do Meio Ambiente, quanto na Constituição de 1988, eles existem de fato nos seguintes instrumentos: cobrança de tarifa em virtude do lançamento de despejo • industrial, com base nas características dos poluentes, em diversos estados da Federação; exclusão da cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR) das • áreas de matas nativas, desconsiderando-lhes o caráter de propriedade rural improdutiva; a instituição da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental • (TCFA), cujo fato gerador é o exercício do poder de polícia con- ferido ao IBAMA para o controle e a fi scalização das atividades potencialmente poluidoras e que usam recursos naturais; cobrança pelo uso de recursos hídricos, conforme prescreve • a Lei 9.433, de 1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos. Também se constituem em instrumentos econômicos as compen- sações fi nanceiras aos estados, Distrito Federal e aos municípios em razão do resultado da exploração econômica de petróleo, gás natural e recursos hídricos para fi ns de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, na plataforma continental, no mar territorial ou na zona econômica exclusiva, conforme prevê a Constituição Federal. IB A M A O Instituto Bra- sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, mais conhecido pelo acrônimo Ibama, é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). É o órgão executivo responsável pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e desenvolve diver- sas atividades para a preservação e a conservação do patrimônio natural, exercendo o con- trole e a fi scalização sobre o uso dos recursos naturais (água, fl ora, fauna, solo etc). Também cabe a ele realizar estudos ambientais e liberarlicenças ambientais para empreendimentos em nível nacional. Fonte: http:// pt.wikipedia.org/ wiki/ibama IX. as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; X. a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Ibama; XI. a garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando-se o poder público a produzi-las, quando inexistentes; XII. o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de recursos ambientais; XIII. instrumentos econômicos, como concessão fl orestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros. Verifi camos que os instrumentos de Política Ambiental que foram enunciados em I, II, III, IV, VI e IX são tipicamente de comando e controle. Já os instrumentos VII, VIII, X, XI e XII possuem um caráter administrativo ligado às atividades dos próprios agentes públicos. Por sua vez, os instrumentos V e XIII são de natureza econômica, que podem se efetivar sob a forma de incentivos fi scais, fi nanciamentos subsidiados e outros benefícios transferidos aos particulares. Verifi camos, portanto, que na Lei 6.938 predominam como instrumentos de política pública os de comando e controle e os administrativos. 138 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Outra grande inovação foi a promulgação da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 1998), que passou a estabelecer sanções admi- nistrativas e penais derivadas de atividades e condutas que causam dano ao meio ambiente. Essa lei amplia a tipifi cação dos crimes ambientais e consolida outros crimes que eram tratados no âmbito de outras leis, tais como os códigos de caça, de pesca e fl orestal. É costume se dizer no meio mais esclarecido da população que o Brasil possui atualmente uma legislação ambiental muito boa, com- pleta e até avançada. Contudo, o que falta para que seja atingida sua plena efi cácia é a sua total aplicação e fi scalização por parte dos órgãos governamentais encarregados de executá-las. Existe uma crítica com relação a essa última afi rmação, no sentido de que, apesar de o Brasil possuir uma legislação avançada, a mesma é centrada com muita ênfase sobre instrumentos de comando e controle. Ocorre que a Política Nacional do Meio Ambiente não apresenta um conjunto equilibrado de instrumentos públicos. A excessiva predominância dos instrumentos de comando e controle faz com que haja um desequilíbrio comparativamente à presença de instrumentos econômicos, e tal fato pode ser contrário a um objetivo de política muito importante: o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional dos recursos naturais e a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente. Isso ocorre porque os instrumentos de comando e controle, ape- sar de serem muito importantes para obrigar as empresas a adotarem providências para controlar a poluição, acabam induzindo a um com- portamento acomodado após o cumprimento das exigências legais, caso as mesmas não sejam atualizadas com frequência. Ademais, uma política baseada em instrumentos de regulamen- tação direta, como os de comando e controle, gera uma sobrecarga de trabalho sobre os órgãos de controle, que, mesmo quando se encontram bem aparelhados para o cumprimento da sua missão, via de regra estão aquém das efetivas necessidades de fi scalização. Encontramos em Lustosa (2003, p. 148) um quadro descritivo do ambiente institucional da Política Ambiental do Brasil. Esse ambiente ins- titucional é regulamentado nas três esferas de governo. No âmbito federal, existem três órgãos reguladores: o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). C E D E R J 139 A U LA 5 O Ministério do Meio Ambiente é o respon- sável pelo planejamento da Política Nacional do Meio Ambiente. O Ibama e o Conama estão vinculados ao MMA. O Ministro do Meio Ambiente é o presidente do Conama. O Conama é o órgão consultivo e deliberativo do Sis- tema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). O Conama é um órgão colegiado cujos membros são representantes da sociedade civil e do governo, que possuem envolvimento com as questões ambientais. Esse colegiado tem a fi nalidade de assessorar, estudar e propor as diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais. Ele é composto por dez câmaras técnicas permanentes e oito câmaras temporárias, que debatem acerca de questões relativas a gerenciamento costeiro, energia, controle ambiental, ecossistemas, recursos hídricos, recursos naturais e outros temas conexos. Compete ao Conama a determinação dos padrões de qualidade ambiental, que são baseados na experiência internacional (por exemplo, o padrão de qualidade do ar é determinado a partir de padrões internacionais, como os da Environment Protection Agency – EPA, a agência de proteção ambiental norte-americana). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno- váveis (Ibama) foi criado em 1989, assumindo direitos, créditos, obriga- ções e receitas dos órgãos reguladores que foram extintos na ocasião, tais como o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e a Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (Sudepe). Compete ao Ibama, no nível federal, a responsabilidade pelo controle e pela fi scalização de atividades capazes de ocasionar degradação ambiental. Esse órgão tem como base de avaliação para o licenciamento das ativi- dades que são efetiva ou potencialmente poluidoras a exigência de alguns instrumentos de gestão ambiental que devem caracterizar o objeto da avaliação. Os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e os Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA) são os principais instrumentos disponíveis para a avaliação dessas questões no âmbito da gestão ambiental. O Ibama concede licenças de três naturezas (planejamento, instalação e operação), e a elaboração dos estudos de impactos ambientais fi ca sob a responsabilidade de consultores independentes, que devem ser contrata- dos pelo proponente do pedido de licença. ?? 140 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Nas esferas estadual e municipal, o controle e a fi scalização das ati- vidades que têm impactos negativos sobre o meio ambiente competem aos órgãos estaduais e municipais. As multas e demais penalidades aplicadas aos agentes que violam os padrões estabelecidos de emissão são deter- minados de forma diferenciada pelas agências estaduais e municipais de controle. Além disso, não existe uma hierarquia entre as agências federais, estaduais e municipais, sendo cada uma delas independente das outras. Não obstante, esse modelo padece de uma série de problemas. Em primeiro lugar, há o fato de que as agências estaduais e municipais são bastante heterogêneas no tocante às suas estruturas e capacitações. Em geral, na maioria dos estados existe uma grande carência técnica, fi nanceira e de pessoal que impede uma ação efetiva. A crise fi nanceira experimentada pela administração pública no Brasil, combinada com a falta de apoio político, gerou um declínio na capacidade de ação das agências governamentais. A falta de atuação das agências estaduais, no Brasil, foi parcialmente coberta pelo crescimento do papel das agências municipais, sobretudo nas regiões metropolitanas. Contudo, essa multiplicidade de níveis adminis- trativos também costuma gerar confl itos de competência, com prejuízos para as populações envolvidas. Ademais, mesmo nos locais onde ocorreu um fortalecimento das agências ambientais, como no caso de São Paulo, a qualidade ambiental não necessariamente melhorou. A causa disso decorre da falta de investimentos em infraestrutura e serviçosurbanos, que são de outras competências administrativas, tais como o saneamento, o transporte público, a coleta de lixo e a habitação popular. Complementando esse quadro de elementos que comprometem a qualidade do meio ambiente, difi cultando a atuação das agências ambien- tais, é possível citar ainda a existência de grandes bolsões de pobreza, com a proliferação de favelas e outros ambientes degradados, bem como a adoção de padrões de consumo que agravam as más condições ambientais, tais como a ampliação de frota de automóveis. A questão é que, apesar de todos os avanços políticos e insti- tucionais pelos quais passou o Brasil nos vinte anos que sucederam o regime militar, os aspectos ambientais ainda estão pouco integrados na formulação de políticas públicas. Esse fato é agravado em virtude da falta de informações sobre a extensão e a relevância dos problemas decorrentes da degradação ambiental. A criação de uma base de dados C E D E R J 141 A U LA 5gerados a partir de indicadores ambientais poderia facilitar a integração das agências, defi nindo áreas e prioridades de ação. A constatação desse conjunto de problemas levou ao questiona- mento do atual modelo de gestão baseado nos instrumentos de coman- do e controle. Uma crítica inicial diz respeito ao fato de que a ação dos órgãos ambientais é reativa, de maneira que a expansão das suas atividades é decorrente do agravamento de problemas não resolvidos. Da mesma forma, os Estudos de Impacto Ambiental e os Relatórios de Impacto Ambiental são criticados como instrumentos de avaliação de impactos ambientais, em virtude da falta de clareza de seus critérios de enquadramento. Em regra, não se verifi ca a apresentação de alternativas tecnológicas e locacionais, e as áreas de infl uência levadas em conta são bastante restritas. Além disso, a prática de se permitir que o proponente do projeto em avaliação indique a equipe que vai realizar o trabalho compromete a isenção desta última, gerando o que se chama de confl ito de interesses, pois o contratado tenderá a favorecer quem o contratou, em detrimento do meio ambiente. Existem problemas também no campo da fi scalização, sobre- tudo no que diz respeito à falta de recursos humanos e fi nanceiros, em razão da crise nos diversos níveis estatais, bem como da fraca integração desses níveis. No caso da indústria, uma vez atingido o padrão de emissão, cessa o estímulo para que os agentes aperfeiçoem ainda mais os seus desempenhos na redução das emissões. Para os casos em que o padrão tecnológico de uma fábrica é anterior ao estabelecimento dos padrões ambientais, os custos de adequação podem ser muito altos, o que em alguns casos até inviabilizaria as operações da empresa, com graves custos sociais implicados. A doutrina de gestão do meio ambiente aponta como saída para esse impasse a adoção de instrumentos econômicos baseados no Princípio do Poluidor-Pagador, no qual as emissões passam a ser cobradas mesmo estando em conformidade com os padrões máximos, ao mesmo tempo que permite aos agentes emissores negociarem entre si os seus próprios limites de emissão, minimizando os impactos sociais do ajuste. 142 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental De acordo com Martins et al. (2003, p. 30), o Princípio do Poluidor-Pagador é uma das orientações básicas da cobrança pelo uso de recursos hídricos, sendo adotado pelos países fi liados à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com base nesse princípio, o agente social causador da poluição deve arcar com o custo da manutenção do meio ambiente dentro de parâmetros aceitáveis de qualidade. Está presente nesse princípio a ideia de que, ao ser apenado pelo uso deletério da água, o agente social seria induzido a adotar práticas menos danosas ao meio ambiente. Não obstante, a adoção de instrumentos econômicos permite até que um agente possa emitir além do limite estabelecido como padrão, desde que outros agentes decidam reduzir seus níveis de emissão por meio de compensações fi nanceiras. Essas compensações fi nanceiras podem ser diretas, por meio da venda de certifi cados de emissão (o agente paga pelo direito de poluir), ou indiretas, por meio da redução do imposto a pagar. Vimos assim que já ocorreu um grande avanço, desde que o homem resolveu desencadear medidas de proteção ao meio ambiente, mas faltam ainda muitos aperfeiçoamentos institucionais para que se possa efetiva- mente garantir a sustentabilidade no uso dos recursos naturais. Princípio do Poluidor-Pagador Trata-se do princípio do “poluidor que paga”. O pagamento pode assumir diferentes formas: a de investimentos necessários para adequar-se a normas mais severas, a de obrigação de recuperação, recicla- gem ou eliminação de produtos depois de seu uso, ou de uma taxa imposta às empresas ou consumidores que utilizem produtos antiecológicos, como é o caso de alguns tipos de embalagens.?? C E D E R J 143 A U LA 5 Com base no que estudamos sobre a política pública ambiental no Brasil e sua legislação, responda se as afi rmações a seguir são verdadeiras ou falsas, justifi - cando suas respostas caso sejam falsas: a) Num contexto de política ambiental que emprega instrumentos de comando e controle, o uso de tecnologias que mantêm os padrões de emissão de efl uentes nos níveis exigidos pela legislação funciona como um estímulo para as empresas aperfeiçoarem continuamente seus instrumentos de eliminação de resíduos. ( ) falso ( ) verdadeiro b) A adoção de instrumentos econômicos baseados no Princípio do Poluidor-Pagador possibilita que empresas possam poluir o meio ambiente, além de estabelecerem os padrões de emissão, desde que outros agentes reduzam suas próprias emissões e sejam compensados por isso. ( ) falso ( ) verdadeiro c) O fi m do Regime Militar e o avanço da democracia no Brasil marcaram a evolu- ção das Políticas Ambientais no país, que hoje atendem plenamente aos anseios da sociedade, no fi rme propósito de assegurar um desenvolvimento sustentável e a integridade do meio ambiente para as gerações futuras. ( ) falso ( ) verdadeiro d) O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foi criado em 1989, assumindo direitos, créditos, obrigações e receitas dos órgãos reguladores que foram extintos na ocasião, tais como o IBDF e a Sudepe. Compete ao Ibama, no nível federal, a responsabilidade pelo controle e pela fi scalização de atividades capazes de ocasionar degradação ambiental. O Ibama concede licenças de três naturezas: planejamento, instalação e operação. ( ) falso ( ) verdadeiro Atividade 3 3 144 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental Respostas Comentadas a) Falso. No caso da indústria em geral, uma vez atingido o padrão de emissão estabelecido pelo órgão ambiental, cessa o estímulo para que os agentes aper- feiçoem ainda mais os seus desempenhos na redução das emissões. Ou seja, cumprida a obrigação, não importa reduzir mais a poluição. b) Verdadeiro. c) Falso. Apesar de todos os avanços políticos e institucionais pelos quais passou o Brasil nos vinte anos que sucederam o regime militar, os aspectos ambientais ainda estão pouco integrados na formulação de políticas públicas. Esse fato é agravado em virtude da falta de informações sobre a extensão e a relevância dos problemas decorrentes da degradação ambiental. d) Verdadeiro. CONCLUSÃO Vimos que o Estado cumpre um papel fundamental para a proteção do meio ambiente, seja por imposição direta, por meio dos instrumentos de comando e controle, seja por estímulos ao comportamento dos agentes, por intermédio de instrumentos econômicos. A correta combinação de instrumentos, consubstanciada pela polí- tica ambiental estabelecida de forma coordenada pelas esferas de governo, proporcionaas condições para o manejo efi caz do meio ambiente. Tais ações, conforme vimos nesta aula, dependem de previsão legal. C E D E R J 145 A U LA 5 No dia 2 de julho de 2008, o jornal O Globo publicou a seguinte reportagem: Uma estrada no Rio de Janeiro vai parar no banco dos réus Justiça Federal processa por crime ambiental diretores, funcionária e a concessionária que administra a BR-040. Dois diretores, uma funcionária e a Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio (Concer), que administra a BR-040 (Rio-Juiz de Fora), estão sendo processados criminalmente pela Justiça Federal, acusados de crimes ambientais. As investigações começaram há dois anos, período em que a Polícia Federal constatou e fotografou a morte por atropelamento de vários animais, inclusive uma jaguatirica, principal- mente no trecho de estrada ligando a Reserva Biológica do Tinguá e a APA (Área de Proteção Ambiental) de Petrópolis... (LACERDA, 2008) Pergunta-se: Qual o fundamento jurídico de proteção ao meio ambiente que pode justifi car a iniciativa do Ministério Público Federal (MPF) na promoção da ação descrita pela reportagem? Lembre-se de que o Ministério Público é o orgão responsável pela tutela coletiva de direitos difusos da sociedade, como é o caso da proteção ao meio ambiente. Resposta Comentada Trata-se da tentativa de aplicar o conceito de responsabilidade objetiva do poluidor. Em virtude dessa presunção de responsabilidade objetiva, um poluidor passou a ficar obrigado, a despeito da existência ou não de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades. Nesse sentido, a Concer teria uma responsabilidade objetiva na morte dos animais em virtude de explorar comercialmente a rodovia. Nesse caso, a omissão quanto à preservação da fauna silvestre é que teria ensejado a ação do Ministério Público Federal. Atividades Finais 321 146 C E D E R J Gestão Ambiental | A política de meio ambiente e a legislação ambiental A Política Ambiental compreende o conjunto de metas e instrumentos que visam reduzir os impactos negativos da ação humana sobre o meio ambiente, sendo capaz de interferir nas atividades dos agentes econômicos, sobretudo porque a forma pela qual ela é estabelecida vai infl uenciar outras políticas públicas, como a Política Industrial e a Política de Comércio Exterior. A constatação de que os agentes econômicos produziam externalidades negativas que os afetavam mutuamente, como a fumaça das fábricas e o esgoto lançado nas águas, sugeriu a ideia de que a intervenção estatal poderia mediar e resolver os confl itos daí originados. Nos países desenvolvidos, esse processo de intervenção estatal se deu em três fases distintas, que variaram conforme o país e a época de vigência. Foi visto também que um dos principais instrumentos de política ambiental que os governos adotam são os instrumentos de comando e controle. Os instrumentos de comando e controle são também denominados instrumentos de regulação direta, que têm por objetivo alcançar as ações que agridem o meio ambiente, limitando ou condicionando o uso de bens, a realização de atividades e o exercício de liberdades individuais, tudo em benefício da sociedade. Dentre os instrumentos de comando e controle, os mais conhecidos são aqueles que impõem padrões ou níveis de concentração máximos aceitáveis de poluentes. Esses padrões podem ser de três tipos: padrões de qualidade ambiental, padrões de emissão e padrões ou estágios tecnológicos. Com relação à evolução histórica da Política Ambiental no Brasil, vimos que o ano de 1934 foi uma data de referência para a nossa Política Pública Ambiental, em virtude da promulgação de uma ampla legislação relativa à gestão de recursos naturais. Não obstante, as questões ambientais nesse período ainda eram percebidas e tratadas de forma isolada e localizada, com uma repartição do meio ambiente em categorias tais como solo, ar e água, e a manutenção da divisão até então praticada para os recursos naturais (água, fl orestas, recursos minerais etc.). Apenas no início dos anos 1980 é que essas questões foram consideradas generalizadas e interdependentes, de forma a merecerem uma abordagem mais integrada. R E S U M O C E D E R J 147 A U LA 5 O advento da Lei 6.938 de 1981 estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, o que representou uma importante mudança no tratamento das questões ambientais, uma vez que procurava integrar as ações governamentais dentro de uma abordagem sistêmica. Outro grande impulso no tocante ao aperfeiçoamento da Política Ambiental no Brasil ocorreu com a promulgação da Constituição Federal de 1988, quando fi cou estabelecido que a defesa do meio ambiente seria um dos princípios a serem observados para as atividades econômicas em geral, e foi incorporado no seu bojo o conceito de desenvolvimento sustentável no Capítulo VI, dedicado ao meio ambiente. Vimos também que uma outra grande inovação foi a promulgação da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 1998), que passou a estabelecer sanções administrativas e penais derivadas de atividades e condutas que causam dano ao meio ambiente. Por fi m, foi visto que hoje há a percepção de que o Brasil possui uma legislação ambiental muito boa, completa e até avançada. Contudo, o que falta para que seja atingida sua total efi cácia é a plena aplicação e fi scalização por parte dos órgãos governamentais encarregados de executá-la.
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