Buscar

Literatura Brasileira Contemporânea - livro texto

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Literatura Brasileira 
Contemporânea
1ª edição
2018
Literatura Brasileira 
Contemporânea
3
Palavras do professor
Olá, estudante! Na disciplina Literatura Brasileira Contemporânea, você 
saberá de que forma se dava o processo criativo de nossos autores ao 
compor suas narrativas e suas poesias, levando em conta os momentos 
histórico, social e cultural que vivenciavam, além de como se dava a cons-
trução de suas obras em relação aos aspectos estilísticos e a forma como 
eles utilizavam a palavra, tornando suas criações universais. 
Como professores de literatura, somos de suma importância para a for-
mação de nossos alunos leitores, afinal, o gosto por ler se aperfeiçoa na 
escola. No entanto, as aulas de literatura vão além disso, já que, muitas 
vezes, podem servir para qualificar as pessoas a compreenderem melhor a 
si mesmas e ao mundo que as rodeia.
Bom aproveitamento!
1
4
Unidade 1
Geração de 1945: 
Romance de Clarice Lispector e 
Guimarães Rosa, além da Poesia 
de João Cabral de Melo Neto
Para iniciar seus estudos
Convidamos você, a partir de agora, a saber um pouco mais sobre os 
principais movimentos literários do nosso país que teceram a literatura 
tal qual a concebemos hoje, principalmente o que teve início no ano 
de 1945, época em que os autores trilhavam um caminho em busca da 
experimentação e múltiplas possiblidades temáticas em suas obras, con-
siderando aspectos sociais e políticos que os influenciaram em suas pro-
duções artísticas, chegando a tornar a nossa literatura reconhecida inter-
nacionalmente.
Objetivos de Aprendizagem
• Conceituar Literatura.
• Apresentar, brevemente, os diversos movimentos da Literatura 
Brasileira.
• Indicar a relevância do conhecimento dessa base para o estudo 
dos textos contemporâneos.
5
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
1.1 Um pouco de história e o Modernismo no Brasil 
O mundo estava em plena crise após a industrialização – o setor da indústria como fonte de renda e de aber-
tura de mercados sustentando a economia – e, diante disso, buscavam-se soluções para minimizar os prejuízos 
da crise, principalmente em razão da improdutividade nos processos de produção e da diminuição nos lucros. 
Assim, muitos passaram a crer nas ideias de Marx e Engels, dois teóricos alemães que preconizavam um modo 
socialista de viver, no qual deixaria de existir a propriedade privada, transformando-se em propriedade coletiva, 
isto é, de todos, em oposição à opressão pela qual passavam as classes menos abastadas da sociedade.
Contudo, em alguns lugares do mundo, ainda tentava-se manter o capitalismo, tornando o Estado controlador 
da economia, cujo nome ficou conhecido como Neocapitalismo. Desse modo, a intervenção estatal continuaria 
garantindo a propriedade privada e os lucros; logo, as sociedades estavam divididas: ora capitalistas, ora socialistas.
No Brasil, vivia-se a era Vargas (entre 1930 e 1945), período marcado pela ditadura, em que havia censura aos 
meios de comunicação e uma inatividade política, pois o poder estava centralizado nas mãos do presidente 
Getúlio Vargas. No entanto, três leis foram criadas e promulgadas: a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o 
Código Penal e o Código de Processo Penal, que até hoje vigoram.
Já o cenário cultural brasileiro na era Vargas teve como destaques na literatura, objeto de nosso estudo, vários 
autores que trabalhavam a identidade brasileira, formada por diferentes indivíduos e costumes; assim, o campo 
literário focou no regionalismo, ao recontar histórias que aconteciam por diversas regiões do país. Entretanto, 
como Vargas detinha o poder, muitos artistas não podiam se expressar livremente, muito menos fazer alguma 
crítica ao governo, por conta da censura que existia.
Depois do fim da era Vargas, em 1945, juntamente com a renovação política, se fixou uma renovação artística, 
que surgiu no ano do centenário da independência, em 1922, época em que uma boa parte da população ainda 
era marginalizada. Com isso, um movimento novo começou a despontar culturalmente, denominado Moder-
nismo, tendo como marco inicial a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, no mês de fevereiro de 
1922, que contou com a participação de muitos artistas antes desconhecidos, mas que se tornaram influentes 
dos que vieram depois.
Nesse ínterim, revistas e manifestos foram criados, tendo uma forte inclinação em defesa de um patriotismo 
versus exportação; primitivismo versus erudição; e na poesia, propunha-se o verso livre, sem o apego a regras; a 
livre associação de ideias; uma valorização do cotidiano realizada com irreverência; um olhar mais voltado para 
o presente, o progresso e as inovações; a predominância de um coloquialismo nas produções tanto poéticas 
quanto em prosa; e a presença do humor como deboche para criticar posturas sociais. 
6
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
Figura 1.1: Representação de patriotismo
Legenda: A imagem representa o patriotismo como um dos temas principais do modernismo brasileiro.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
O modernismo apresenta-se em três fases. A primeira fase, inspirada nas vanguardas europeias, aproximava a 
arte da brasilidade, cujos temas eram nacionalistas, de toda gente brasileira, com uma pitada de ironia. Veja um 
trecho do poema escrito por Manuel Bandeira, autor com destaque na primeira fase, que incorpora o tom irônico 
e um tema do cotidiano:
Poemeto irônico
O que tu chamas tua paixão,
É tão-somente curiosidade.
E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade [...].(FARACO; MOURA, 1998, p. 267).
Já a segunda fase modernista, a chamada Geração de 30, foi marcada pela afirmação dos valores modernos, ins-
taurados na Semana de Arte Moderna, cujos temas centrais tinham caráter social, cultural e econômico, havendo 
também a influência da psicanálise de Freud, que, na prosa, tinha como objetivo desvendar o mundo interior das 
personagens. Leia, a seguir, um poema de Cecília Meireles, autora renomada da segunda fase modernista, que 
reflete uma preocupação com a fugacidade do tempo, a solidão humana e certa melancolia existencial:
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o me sonho naufragar.
7
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio. [...]. (FARACO; MOURA, 1998. p. 315).
Na terceira fase modernista, que equivale ao período entre 1945 (marcando o fim da Segunda Guerra Mundial) 
e 1960 (ano em que Brasília foi inaugurada), época chamada de pós-modernista, a perdurar até os dias atuais, 
alguns artistas se sobressaíram na cena cultural brasileira, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e João Cabral 
de Melo Neto, cujas obras apresentaram tendências novas na prosa e na poesia:
• Prosa psicológica: iniciada na segunda fase, ganha maior profundidade e complexidade ao narrar os con-
flitos internos do ser humano, cujo maior expoente foi Clarice Lispector.
• Prosa urbana: centra-se nos conflitos vividos pelo homem urbano.
• Prosa regionalista: traz uma nova roupagem na linguagem, contendo neologismos, expressões colo-
quiais e regionais, cujo maior expoente foi Guimarães Rosa. 
• Poesia universal: dispensa a irreverência das fases anteriores e se propõe a um rigor mais formal, erudito, 
seguindo métricas mais rigorosas, cujo maior expoente foi João Cabral de Melo Neto.
Obtenha mais conhecimento sobre a Semana de Arte Moderna que deu inícioao movimento 
modernista. Clique aqui: <http://semana-arte-moderna.info/>. 
Neologismos: Adoção de palavras novas ou sentidos diferentes dados às palavras. 
8
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
1.2 O que é literatura?
Antes de nos limitar a conceituar literatura, devemos compreender o processo de transição pelo qual ela per-
passou aqui no Brasil, uma nação colonizada por portugueses e influenciada também por outros povos, carac-
terizando-se como uma tradição importada, ao mesmo tempo em que se tentava uma nativização, ao valorizar 
as coisas nacionais. Assim, percebemos que a literatura brasileira se constituía pela tradição europeia e por uma 
busca identitária. 
Nativização: Relativo ao que é nativo, pertencente a uma nação. 
Identitária: Relativo à identidade. 
Desse modo, a consciência literária – entendida, aqui, como a maneira de vivenciar e experimentar aspectos da 
totalidade e do próprio mundo interior – é direcionada para dois polos: seguir as tendências europeias e firmar-se 
na tradição local.
Esse enfrentamento vivenciado na literatura traz um movimento curvilíneo e contínuo de exaltação e de pessi-
mismo, o qual advém do século XIX e permanece até agora, qualifica a nossa sociedade como uma nação em curso.
Figura 1.2: Nação em curso, em desenvolvimento
Legenda: O Brasil desenvolvendo a sua própria identidade, 
a sua autoestima, comparado aos demais países já desenvolvidos.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
9
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
Entretanto, a origem da literatura pode ser compreendida, conforme comenta Coutinho (1968, p. LIX), da 
seguinte forma:
A literatura, como a dança, como o canto, como a música, não podem deixar de ter sido diferen-
tes também desde o início, quando os habitantes que os expressava era um homem novo desde 
o início, logo que aqui botou o pé, e criou nova atitude, novos hábitos culinários, novo sistema 
de convivência com os outros homens, a fauna, a flora, e teve que lidar com novos tipos de ani-
mais e comer novas frutas, existentes numa natureza diferente, diante da qual caiu em verdadeiro 
êxtase. Se outros eram o homem e a sociedade, diversos deveriam ter sido e foram a literatura e 
demais artes [...].
Podemos complementar, ainda, que a literatura surge ao mesmo tempo em que existe uma sociedade que vive 
e sente, porque tanto as pessoas quanto ela envolvem aspectos históricos, culturais e estéticos. Por isso, a litera-
tura é um instrumento de intervenção social. 
No que tange à estética, que se caracteriza como uma mediação entre a natureza individual e a universal, e que 
também é ponte entre a percepção e os conceitos, na literatura, ela detém um espaço peculiar, porque, pela 
estética, se descobrem momentos únicos de expressão que produzem uma dada perspectiva diante da realidade.
Um fato curioso sobre a literatura é ela ser definida como manifestação; no entanto, o signi-
ficado dessa palavra está atrelado à política, já que reflete sempre um ato coletivo a favor ou 
contra a alguma causa. Logo, caberia mais à literatura a noção de arte, como sendo um tipo 
de linguagem desta. 
Também podemos situar a literatura entre nós desde o tempo de Aristóteles, filósofo grego, que se ocupou em 
estudar e desvendar a arte poética de sua época e, assim, se aprofundou em diversas teorias, dentre elas a da 
mimese, uma técnica adotada na poesia épica, desde Platão, que consiste na arte da imitação, contudo, enca-
rada por Aristóteles de forma diferente da de Platão, já que este a via como algo depreciativo, por afastar-se da 
verdade, ou do estado ideal, por ser uma cópia do real. Já para Aristóteles, o conceito de mimese está relacionado 
à capacidade criadora vinculada às ações contidas na poesia, e não nos versos.
Era a poesia o gênero com maior destaque literário na época de Aristóteles, cuja característica principal advém da 
qualidade universal que a imitação ou mimese possibilita, ao criar ficção a partir do que é verossímil.
Porém, não há uma só definição a respeito da literatura, e nem podemos detectar o seu caráter, ora ficcional, ora 
documental (baseado em fatos provenientes da realidade). 
Verossímil: Próximo ao real, ao que é verdadeiro, possível. 
10
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
1.3 Breve explanação dos movimentos literários
Você já deve ter escutado a frase: “Tudo tem um começo, meio e fim”, certo?! Na literatura também é assim, e 
apresentar um panorama dos principais movimentos literários nos ajuda a entender como chegamos até aqui, 
em nosso momento atual. Por isso, a partir de agora, uma síntese das principais correntes da literatura será 
demonstrada, de forma a contribuir com seus estudos e lhe situar sobre a importância de compreender o pro-
cesso de produção artística para a prática da leitura, principalmente. 
Quadro 1.1: Divisão dos principais movimentos literários no Brasil
Período colonial: Quinhentismo (XVI) Barroco (XVII).
• Literatura jesuíta – catequese de índios 
Padre José de Anchieta (catequizador) 
Sermões – gênero textual predominante
• Literatura de informação – descobrimento do Brasil 
Pero Vaz de Caminha 
Cartas
• Oposição entre o material e o espiritual
• Poesia crítica e satírica
Ascensão burguesa: Arcadismo (XVIII) Romantismo (XIX)
• Objetivismo e razão
• Temas: campo, natureza, 
idealização do amor
• Cláudio Manoel da Costa, Marília de Dirceu, 
Basílio da Gama 
• Individualismo, nacionalismo
• Idealização da mulher, sonho
• José de Alencar, Castro Alves
• O Guarani, Suspiros Poéticos
Declínio do Romantismo: Realismo (XIX) Parnasianismo (XX)
• Realidade social, conflitos urbanos
• Linguagem coloquial
• Aspecto psicológico
• Crítica social, ironia
• Machado de Assis, Aluízio de Azevedo, Raul 
Pompeia
• Temas clássicos
• Rigor formal
• Poesia descritiva
• Olavo Bilac, 
Raimundo Correa
Período de transição: Simbolismo (XIX) Pré-Modernismo (XIX e XX)
• Linguagem abstrata e sugestiva
• Misticismo, religião
• Temas: Morte, sonho, mistério
• João da Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraens
• Regionalismo, positivismo
• Monteiro Lobato, Lima B., Augusto dos Anjos, 
Euclides Augusto dos Anjos, Euclides
11
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
Semana de Arte Moderna: Modernismo (1922/1930) 
• Linguagem com humor
• Temas do cotidiano, urbanos
• Liberdade de criação
• Mario de Andrade, Oswald de A.
• Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira
Legenda: Relação dos movimentos literários brasileiros, suas características e principais autores.
Fonte: Faraco e Moura (1998).
Para você ter uma noção de como as produções artísticas amadureceram no sentido de representarem as vozes 
emudecidas da sociedade, vejamos um trecho do conto Urupês, de Monteiro Lobato, autor pré-modernista, o 
qual já denunciava a marginalização de alguns indivíduos da sociedade brasileira que viviam em péssimas condi-
ções, por conta das desigualdades sociais:
Pobre Jeca Tatu! Como é bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filó-
sofo... Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e nisto vai longe. 
Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram na toca e gargalhar 
ao joão-de-barro [...] Mobília nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão 
batido [...] Nenhum talher [...] Nada de armário ou baús. A roupa, guarda-a no corpo. Só tem dois 
aparelhos; uma que traz no uso e outro na lavagem. [...] Seus remotos não avós gozaram maiores 
comodidades. Seus netos não meterão quartaperna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso. 
(LOBATO, [s. d.], p. 3)
Vamos, agora, rever alguns aspectos importantes da era moderna, a fim de compreendermos o momento atual, 
uma vez que o movimento modernista rendeu grandes e contínuos desdobramentos na forma de se fazer arte e 
literatura até hoje. 
Bem no início, antes de o modernismo ser efetivamente reconhecido entre nós, fazer e consumir literatura ainda 
era algo relativo à academia (literária) e restrita à elite; contudo, certos autores já manifestavam o desejo de uma 
renovação, como Monteiro Lobato, Euclides da Cunha e Lima Barreto, artistas pré-modernistas. 
Essa vontade, com o passar do tempo, foi só se intensificando, principalmente em função das influências euro-
peias, que já prenunciavam e dedicavam uma boa parte do conteúdo literário para buscar o novo, acompa-
nhando as transformações que ocorriam na sociedade, como o avanço da tecnologia e da ciência, culminando 
na valorização das máquinas e de um olhar voltado para o futuro, o progresso.
Porém, tudo isso ocorreu em meio às crises capitalista e financeira, subitamente instaladas na sociedade, resultando 
em duas guerras mundiais e levando as pessoas a se sentirem incertas quanto ao futuro. Nesse ínterim, surgem 
movimentos de vanguarda, refletindo o súbito desejo de viver o presente, por conta de não saber do amanhã.
Dentre os principais movimentos estão: o futurismo, iniciado na Itália, o qual promovia a velocidade e o uso da 
tecnologia; o dadaísmo, servindo de resposta à guerra, entendida, segundo os dadaístas, como algo absurdo e 
ilógico, e suas obras de arte refletiam exatamente isso; o cubismo, manifestado na pintura, em que os artistas 
fragmentam a realidade e a remontam por meio de figuras geométricas; e o surrealismo, que sobrepõe a fantasia 
ou a ilusão à razão, retratando tudo o que vem à mente, sem se atentar para o que é coerente.
A partir daí, existe um contínuo despertar de artistas, intelectuais e pensadores em relação à liberdade de criação 
e de expressão, com forte desejo de uma emancipação, valorizando o que é nacional.
12
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
 Lembre-se de acessar o Fórum Desafio e deixar sua contribuição. 
É importante incluirmos o período que registrou, no país, uma diversidade grande nas obras literárias, em razão 
do amadurecimento no processo criativo dos autores, tanto na prosa quanto na poesia. Nomes como o de Gui-
marães Rosa, Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto se evidenciam, então, na cena literária brasileira. Esse 
período ficou conhecido como Pós-Modernismo.
Com mais expressividade na prosa, Guimarães Rosa reinou totalmente, adotando uma linguagem primitiva, quase 
em desuso, além de criar novas palavras e inserir outras peculiares das regiões onde se passavam suas histórias. As 
expressões coloquiais e regionais recolhidas das falas do sertanejo de Minas e da Bahia recriam a forma de estrutu-
rar uma narrativa, tais como: alembrar – cê – tororoma (corrente de chuva forte), entre outras. A sua obra mais famosa 
é “Grande Sertão Veredas”, escrita em 1956 e reconhecida internacionalmente. O gênero ao qual pertence tal obra 
é o romance regionalista, mas pouco semelhante aos que eram criados no pré-modernismo, porque continha um 
quê de originalidade, aproximando a narrativa da oralidade, reinventando-a com maior clareza.
Na obra de Guimarães Rosa, alguns aspectos da narrativa também devem ser comentados, como a não linea-
ridade do enredo, em que, em alguns momentos, há a interrupção daquilo que é contado para ser inserido um 
tempo psicológico no qual se relatam breves passagens da vida da personagem protagonista e narrador, o can-
gaceiro Riobaldo, com observações interessantes sobre a vida, que recebem um sentido universal, porém, sendo 
o enredo espaçado entre o sul de Minas, sul da Bahia e Goiás. 
A obra, que é narrada em primeira pessoa, traz um relato de Riobaldo tão intimista, ao refletir dúvidas e ques-
tionamentos sobre o próprio ser humano, que, embora apresentada em uma linguagem renovada e específica, 
possibilita uma superação do regional para valores que são globais. Vejamos um pequeno trecho:
Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. [...] Contar seguido, alinhavado, 
só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento quee eu real tive, de alegria 
forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido 
desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. (ROSA, 2001, p. 114-115)
Assista ao vídeo em que Maria Bethânia lê trechos de “O Grande Sertão Veredas”, nos quais 
Riobaldo fala sobre seu sentimento por Diadorim. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?time_continue=1&v=oOdGvuzQjbA>. 
Já Clarice Lispector se destacou com seus romances intimistas, ao realizar uma análise, embora introspectiva, 
sobre a existência humana, revelando as angústias e os conflitos próprios do ser.
13
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
Figura 1.3: Estátua de Clarice Lispector
 
Fonte: Wikipedia.
Um dos romances mais prestigiados da autora é “A Hora da Estrela”, publicado em 1977.
Leia um trecho dessa obra que evidencia uma análise introspectiva de si mesmo: Se tivesse a tolice de se pergun-
tar “quem sou eu?” cairia estatelada e em cheio no chão. É que “quem sou eu?” provoca necessidade. E como 
satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto. (LISPECTOR, 1977, p. 36)
Outro autor bastante relevante na literatura pós-modernista é João Cabral de Melo Neto, com grande destaque 
na poesia, pela objetividade com que escrevia de forma breve e concisa, mas seguindo um rigor formal e estético, 
sempre inspirado na realidade. 
Seu poema mais famoso é “Morte e Vida Severina”, veja um trecho: 
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida: 
na mesma cabeça grande 
que a custo é que se equilibra, 
no mesmo ventre crescido 
sobre as mesmas pernas finas 
e iguais também porque o sangue, 
que usamos tem pouca tinta. (MELO NETO, 1998. p. 2).
Todos os três autores aqui citados fazem parte da geração que ficou conhecida como Geração de 1945, por conta 
do ano em que teve início uma nova maneira de produzir literatura, com um apuro e rigor formal menos apegado 
ao da geração anterior, a de 1930. Algumas obras desses autores, como “Morte e Vida Severina”, por exemplo, 
foram parar em peças de teatro.
14
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
1.4 A base da literatura para entender o mundo 
contemporâneo
É muito comum, hoje, assim como em tempos de outrora, mal compreendermos do que é realmente feita a nossa 
produção literária contemporânea, ainda mais se não demos conta de perceber alguns autores e conteúdos da 
disciplina de literatura que são tão importantes para a formação de leitores e escritores – e pensar que esse tipo de 
apagamento já acontecia na época em que Antonio Candido escreveu seu artigo “A Literatura Brasileira”, em 1979: 
Será possível a um contemporâneo dizer o que está acontecendo de realmente importante na lite-
ratura de seu país? Muitas vezes o que há de importante não aparece no momento em que ocorre; 
está nos níveis escondidos, nas correntes subterrâneas, nos gritos sem eco. Permitam-me, pois, falar 
apenas sobre o que estou vendo na literatura atual do Brasil, colocando esta palestra sob a égide de 
um aforismo de Murilo Mendes: “Poucos homens atingem sua época”. (CANDIDO, 1979, p. 5)
De certo modo, é preciso incluir nos conteúdos escolares obras e autores que delineiam o que concebemos como 
mundo contemporâneo, cujo significado que versa nos dicionários equivale tanto ao que se iniciou em uma 
mesma época (remota) comoao que existe de atual. Isso quer dizer que, já no passado, se discutia sobre con-
temporaneidade, mesmo sem vivê-la como agora. Questões como o indivíduo ser fruto de seu período histórico 
e, ao mesmo tempo, desejoso de uma emancipação permearam essas discussões e, por mais irônico que seja, 
permanecem como temática nos dias de hoje também.
Para complementar, vale incluir a noção de contemporaneidade, segundo o pensamento de Giorgio Agamben, 
em seu ensaio “O que é o contemporâneo?”:
Somente quem percebe no mais moderno e recente os índices e as assinaturas do arcaico pode 
dele ser contemporâneo. Arcaico significa: próximo da arké, isto é, da origem. Mas a origem não 
está situada apenas num passado cronológico: ela é contemporânea ao devir histórico e não 
cessa de operar neste, como o embrião continua a agir nos tecidos do organismo maduro e a 
criança na vida psíquica do adulto. A distância – e, ao mesmo tempo, a proximidade – que define 
a contemporaneidade tem o seu fundamento nessa proximidade com a origem, que em nenhum 
ponto pulsa com mais força do que no presente. (AGAMBEN, 2009, p. 69)
Desse modo, podemos compreender que tudo tem um início, uma origem, sendo algo dessa origem ainda 
assunto ou questão do presente, do atual, que se volta ao passado quando existe uma correspondência que 
assim o permita, levantando discussões acerca do que até este momento não foi resolvido, ou melhor, não foi 
entendido e superado.
Muitas dessas questões que abatem a nossa época têm resquícios no passado, pois o homem continua sendo 
dominado por outro homem, em uma dinâmica predatória de nossa sociedade capitalista. Além disso, a organi-
zação econômica baseada na propriedade coletiva falhou, resultando em Estados burocráticos e com imensos 
abismos sociais. Tal desconforto chegou à literatura, motivando autores a produzirem narrativas e poesias com 
base em temas sociais, além de ruminar no quanto tais fatos atingiam o psicológico das pessoas. Dois desses 
representantes são Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.
Entretanto, na literatura, também sempre houve uma forte tessitura para evidenciar os desalentos subjetivos, 
que partiam de universos internos, os quais serviam para refletir outros não muito bem resolvidos. Uma das auto-
ras que mais ganhou notoriedade nesse assunto foi Clarice Lispector.
Esses autores pertenceram à terceira geração modernista, denominada de Geração de 1945, e apresentaram 
uma proposta diferente daquela que vinha sendo feita na literatura, ao inovarem tanto o gênero do romance 
quanto a forma com que a linguagem era usada, conforme complementa Antonio Candido:
15
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
O grande impacto renovador de Clarice Lispector nos anos 40, e o de Guimarães Rosa nos anos 
50, parece ter desnorteado um pouco a ficção brasileira. Imitá-los seria difícil, porque apresen-
tam fórmulas demasiado pessoais, sem a racionalização teórica que permite transmiti-las, como 
as que serviam de base à difusão das inovações poéticas. Além disso, tanto um quanto outro se 
caracterizam por desromancizar o romance, puxando-o da prosa para a poesia, do enredo para 
a sugestão, da coerência temporal para a confusão do tempo. E isto tudo era mais ou menos 
difícil de incorporar a um gênero que, ao contrário da poesia, é objeto da demanda relativamente 
grande por parte do público, o que obriga manter certa comunicabilidade.
Por outro lado, era genuinamente difícil continuar escrevendo como se aqueles dois grandes 
escritores não tivessem existido, porque eles abalaram os padrões anteriores: os do romance de 
análise, que Clarice Lispector dissolveu no caleidoscópio das impressões, ou os do romance regio-
nal, que Guimarães Rosa despojou das suas cômodas muletas, o pitoresco e o realismo. Sem con-
tar que ambos abalaram e questionaram a linguagem da ficção. (CANDIDO, 1979, p. 10).
No entanto, os três escritores podem ser considerados contemporâneos, pois suas obras possuem indícios da 
atual crise dos valores da modernidade, posto que, só a partir dos anos 1950, as produções artísticas se caracteri-
zavam pelo amadurecimento de questões como a valorização da cultura nacional e a busca por uma identidade.
Podemos visualizar, também, em algumas obras desses autores, as mudanças que com eles ocorreram em rela-
ção aos procedimentos linguísticos, ao processo criativo e à própria temática destacada na geração de 45. Deli-
mitaremos, então, cada uma dessas características presentes em algumas obras dos autores analisados.
Na obra de Clarice, “A Paixão Segundo G. H.”, lançada em 1964, o modo de narrar é diverso do normalmente 
realizado na época, pois não há um enredo tradicional. Logo no início, a narradora (que tem as iniciais G. H.) 
declara que não tem nada a dizer, uma vez que viver não é relatável. A obra trata do sentido existencial, em que a 
narradora está diante do paradoxo entre a perda e a busca pela própria identidade. 
De fato, as histórias de Clarice raramente têm um enredo, um começo, meio e fim, segundo os 
cânones narrativos tradicionais. Muitas vezes ela chamou a atenção para isto, afirmando que, na 
verdade, não era uma escritora, mas, sim, uma sentidora, uma intuitiva: registrava o que sentia, 
através da palavra escrita: um veículo como veículo como qualquer outro. (ABDALA JR.; CAMPE-
DELLI, 1998, p. 131).
Para que você compreenda melhor Clarice e sua influência na contemporaneidade, que 
possui relação com a capacidade da autora em escolher um tema qualquer do cotidiano e 
conscientizar-se da própria existência, assista ao vídeo que comenta “A Paixão Segundo G. 
H.”, disponível aqui: <https://www.youtube.com/watch?v=EyHRiKVnpkE>. 
Já em Guimarães Rosa, podemos perceber como prosa e poesia se fundem, porque os seus textos contêm ima-
gens fáceis de imaginar, figuras de linguagem e certo ritmo que denota uma obra poética. Veja um exemplo no 
conto “O burrinho pedrês”, que transmite um ressoar entre as sílabas de cada verso e, também, incorpora à figura 
do animal o sentimento do amor:
16
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
Um boi preto, um boi pintado,
cada um tem sua cor.
Cada coração um jeito
de mostrar o seu amor. (ROSA, 1908-1967, p. 37).
Em Rosa, também nos é possível notar como as diversas e fragmentadas construções narrativas e identitárias, 
qualidades que se veem em nosso mundo contemporâneo, estão presentes tanto no conto “Sagarana” quanto 
em “O Grande Sertão Veredas”, cujas personagens se prendem à terra não por vontade própria, mas pela falta 
de condições para efetuar eventuais mudanças de vida. Por isso, o regionalismo latente em Guimarães Rosa é 
importante na literatura: porque esta acompanha a história e a integra, além de representar uma classe que até 
hoje sofre pelas mazelas sociais.
O autor escreve de forma ímpar, transmitindo em sua narrativa o espaço onde ela se passa e, ao mesmo tempo, 
apresenta aspectos universais, como o amor proibido, o sentido da existência, as batalhas contra a subordinação, 
o conflito entre diabo e Deus, a realidade e a fantasia, caracterizando-se como uma narrativa modernista e tam-
bém regionalista: “Conto o que fui e vi, no levantar do dia. “[...] Contei tudo. Agora estou aqui quase barranqueiro. 
[...] Sei de mim? Cumpro” (ROSA, 1978, p. 460). 
Outro autor, não menos importante – pelo contrário, um poeta de mão cheia –, que enriqueceu as vias introdu-
zidas pelo modernismo com novas perspectivas, diferentes e inéditas, foi João Cabral de Melo Neto. Esse autor, 
diferentemente de outros pertencentes às gerações modernistas anteriores, não retratava o que colhia de infor-
mações sobre quem ainda estava à margem da sociedade, mas se incluía nessa margem; nitidamente, foi um 
escritor provinciano. Em “Morte e Vida Severina”, Neto toma aperspectiva de um retirante que deseja chegar à 
cidade, sem, no entanto, conseguir, posto que, se chega, permanece nas periferias da cidade grande, à margem.
O poeta Neto também imagina uma nação brasileira marginal, não descoberta, com base em um dado da história, 
em que se relata que, antes de Pedro Álvares Cabral, em nossas terras veio o conquistador espanhol Vicente Yañez 
Pinzón, que decidiu não desbravar a região desconhecida. Partindo desse episódio, o poeta Neto fez um poema: 
Vicente Yáñez Pinzón: 
 
Ele o primeiro a vê-lo e a vir, (na barra do Suape) ao Brasil, 
não deixou lá quandos nem ondes: só anos depois confessou-se. 
 
Porque aquela que então confessa “a terra de mais luz da Terra” 
não prendeu muito tempo os pés do homem de Palos de Moguer, Moguer, da clara, Andaluzia, 
caiada em Cádiz, em Sevilha? 
 
Ele se foi só por que não? Por ver-se na demarcação de Portugal? ou porque aquela luz metal, que 
corta e encandeia, 
acabaria enceguecendo mesmo o andaluz mais sarraceno? 
 
17
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
Ele, talvez, nessa luz tanta 
Tenha pressentido a arma-branca 
com que em tudo se expressaria a gente de lá, algum dia. 
(MELO NETO, 1994, p. 415)
O poeta contradiz a história e aponta o conquistador espanhol, que aqui chegou antes de Cabral, como sendo da 
mesma época em que se deu o processo do descobrimento de nossas terras pelos portugueses. E disso também 
deriva a importância do passado, cujas vozes silenciosas ecoam em um eventual momento presente, no qual um 
escritor brilhante como João Cabral de Melo Neto põe essas vozes a falar. 
Por outro lado, há contrapontos entre esses três grandes autores aqui comentados, relativos ao modo de cons-
truir suas obras artísticas, que veremos a seguir.
Comecemos, pois, pelo último poeta analisado, João Cabral de Melo Neto, um pernambucano que iniciou suas 
atividades na diplomacia, tendo viajado pelo mundo, e que também integrou a Academia Brasileira de Letras 
desde 1968. Para o autor, a poesia era uma construção, como uma casa, que se planejava de fora para dentro, 
e dizia que não conseguia escrever um poema de modo espontâneo. Também achava uma chatice a história de 
mundo interior (FARACO; MOURA, 1998), o que contrasta com o perfil de Clarice Lispector.
Assim, podemos afirmar que o que caracterizava o estilo de João Cabral de Melo Neto era um raciocínio e uma 
lógica sem se deixar levar pelo sentimentalismo. Logo, a sua poesia se voltava mais para os elementos concretos 
da realidade, dando maior atenção à forma do poema, à sua composição.
Em sua obra mais famosa, “Morte e Vida Severina”, embora a temática seja a de denúncia social, o poeta João 
Cabral de Melo Neto se diferenciava de Guimarães Rosa, ao retratar a situação do homem nordestino sem expres-
sar arroubos sentimentais.
Já Guimarães Rosa, um mineiro que trabalhou na área da medicina e da diplomacia e que também fez parte da 
Academia Brasileira de Letras, em sua obra “Grande Sertão: Veredas”, publicada em 1956, a questão do regio-
nalismo ultrapassa o problema decorrente do espaço físico ou social do sertão, pois existem também questões 
eternas do ser humano, que independem do tempo e do lugar, mediadas pela figura do sertanejo, mas não qual-
quer um, e sim, o que é atemporal, universal, levando a uma reflexão sobre a vida, o medo, a união e a revanche, 
características estas que diferenciam Rosa dos demais escritores da literatura brasileira. Leia um trecho sobre 
esse tipo de reflexão filosófica comum na obra de Rosa:
[...] O senhor me crê? E foi então que eu acertei com a verdade fiel: que aquela raiva estava em 
mim, produzida, era minha sem outro dono, como coisa solta e cega. As pessoas não tinham 
culpa de naquela hora eu estar passeando pensar nelas. Hoje, que enfim eu medito mais nessa 
agenciação encoberta da vida, fico me indagando: será que é a mesma coisa com a bebedice de 
amor? Toleima[...]. (ROSA, 1986, p. 169).
Já Clarice Lispector, uma autora ucraniana, mas viveu no Rio de Janeiro, cursou Direito e trabalhou como jor-
nalista, também produziu romances, contos, crônicas e até literatura infantil, mas era nítida em suas obras a 
sondagem psicológica do indivíduo, em que, por meio de seus escritos, analisava os dramas existenciais e toda 
a repercussão dos fatos no indivíduo, utilizando, para isso, a técnica do monólogo para a apreensão do aspecto 
introspectivo das personagens que retratava.
Outro grande diferencial da obra de Clarice foi uma ruptura com a linearidade da narrativa, pois seu foco era o 
fluxo de consciência das personagens, baseado na memória e na emoção, sem atentar para a ordem cronológica 
dos fatos e ideias apresentadas. Veja um trecho de “Mal-estar de um anjo”, que transcreve essa introspecção: 
“Estará ela se aproveitando de mim?”, indaguei-me na velha dúvida se devo ou não deixar que se aproveitem de 
mim” (LISPECTOR, 1984, p. 27). 
18
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 1 - Geração de 1945: Romance de Clarice Lispector 
e Guimarães Rosa, além da Poesia de João Cabral de Melo Neto
O mais interessante de estudarmos esses três autores é que eles pareciam visionários, pois já produziam suas 
obras com formas de expressão hoje condizentes com o mundo acelerado em que vivemos, onde tudo é instan-
taneamente consumido para ceder lugar ao que é novo. 
Suas contribuições para a contemporaneidade são muitas. Dentre elas, podemos indicar a aproximação entre a 
prosa e a poesia, ou seja, uma coexistindo na outra; uma narratividade baseada na sugestão dos acontecimen-
tos; e a mescla de tempos na narrativa, sem obedecer à linearidade, servindo de inspiração a outros artistas que, 
assim como eles, hoje, repensam as coisas do mundo, de modo a não passarem despercebidas pelo leitor.
19
Considerações finais
Para concluir, estudante, vamos recapitular alguns assuntos desta uni-
dade para lhe ajudar a sistematizar o seu pensamento sobre o que você 
estudou até aqui.
• Vimos que as pessoas sempre se posicionaram entre uma visão 
capitalista e outra socialista, em que a primeira gera lucro, ser-
vindo-se de mão de obra, e a segunda, defende uma igualdade de 
direitos, em que todos possuam bens e não passem necessidades, 
problema este muito sentido em regiões do interior do país.
• Temas como o nacionalismo e o regionalismo se mantiveram 
entre os destaques não só nas conversas sociais, mas também 
no meio cultural, inspirando artistas a denunciarem as injustiças 
sofridas por determinados grupos da sociedade, além de ajudar as 
pessoas a lidarem com os seus conflitos internos.
• Essa ausência de distanciamento dos artistas perante a reali-
dade vivida por muitos acentuou-se ainda mais na fase moderna, 
ganhando, assim, três movimentos literários em destaque: o pré-
-modernismo, o modernismo e o pós-modernismo.
• O pré-modernismo pode ser entendido como uma aceleração 
para efetivar os ideais modernistas, baseado em uma nova teoria 
estética explícita na literatura e demais artes, e em uma revogação 
do que se via e se vivia no presente.
• No modernismo, fixou-se a temática regionalista, e a produção 
artística era mais documental, ao expor a realidade brasileira, sem 
tentar ocultá-la para fins de embelezamento.
• O pós-modernismo tem como características a reflexão e um 
questionamento peculiar sobre a linguagem no limiar entre o 
rigor formal e a inovação para atingir fins de denúncia. 
• Autores como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e João Cabral de 
Melo Neto se destacaram da geração de 1945 em diante, sendo 
reconhecidos até hoje pelo trabalho apurado e renovador dos 
ideais modernistas, cada um com seu propósito reintegrador do 
sujeito diante de si mesmo e desse sujeito diante da sociedade.
20
• Vimos que todos esses movimentos literários, conectados e sendo 
constantemente atualizados na história, ajudam a definir o que é 
contemporaneidade, a qualdeve ser bem compreendida vincu-
lada à origem, ao inacabado, ao preexistente.
Referências
21
ABDALA JR., B.; CAMPEDELLI, S. Y. Tempos da literatura brasileira. São 
Paulo: Círculo do Livro, 1998.
AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: 
Argos, 2009. 
CANDIDO, A. A literatura brasileira em 1972. Artes em revista, ano 1, p. 
5-16, 1979. Disponível em: <http://revista-iberoamericana.pitt.edu/ojs/
index.php/Iberoamericana/article/viewFile/3206/3388>. Acesso em: 26 
abr. 2018. 
COUTINHO, A. Prefácio da segunda edição. In: ______. (Org.). A literatura 
no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Sul Americana, 1968-1971.
FARACO, C. E.; MOURA, F. M. Literatura brasileira. 14. ed. Ática: São 
Paulo, 1998.
KERDNA. Semana de Arte Moderna. Disponível em: <semana-arte-
moderna.info>. Acesso em: 7 mai. 2018.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1977.
______. Para não esquecer. 3. ed. São Paulo: Ática, 1984.
LOBATO, Monteiro. Urupês. Fabio Mesquita. Universidade Tecnológica 
Federal do Paraná. (UTFPR). Disponível em: <http://paginapessoal.utfpr.
edu.br/fabiomesquita/textos/obras-literarias/Monteiro%20Lobato%20-
-%20Urupes.pdf/view>. Acesso em: 7 mai. 2018.
MELO NETO, J. C. de. Morte e Vida Severina. Cultura Brasileira. Apoio 
Gratuito ao Estudioso e ao Pesquisador desde 1998. p. 2. Disponível em: 
<http://www.culturabrasil.pro.br/zip/mortevidaseverina.pdf>. Acesso 
em: 25 abr. 2018.
22
______. Obra completa: volume único. Organização de Marly de Oliveira. 
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
PEDRO PROGRESSO. Maria Bethânia | Grande Sertão Veredas [Dia-
dorim]. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_
continue=1&v=oOdGvuzQjbA>. Acesso em: 26 abr. 2018.
ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 
1978.
______.; ______. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1986.
______.; ______. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 
______. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. 
TEM QUE LER. “A paixão segundo G.H.”, de Clarice Lispector. 2018. Dis-
ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EyHRiKVnpkE>. Acesso 
em: 11 jul. 2018.
WIKIPEDIA. Clarice Lispector. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Clarice_Lispector_statue.jpg>. Acesso em: 10 jul. 2018.
Literatura Brasileira 
Contemporânea
1ª edição
2018
Literatura Brasileira 
Contemporânea
26
2Unidade 2
As vanguardas de 1950 e 1960: 
Poesia Concreta, Poesia Práxis, 
Poema/Processo
Para iniciar seus estudos
Olá, estudante! A seguir, apresentaremos as características mais notá-
veis do Modernismo, definindo-o e dando uma atenção especial para as 
décadas de 1950 e 1960. Comentaremos o estilo dos principais autores 
que se destacaram no movimento literário denominado de concretismo, 
o qual estimulou outras tendências, além de demonstrar a contribuição 
dessa fase para o cenário cultural brasileiro.
Objetivos de Aprendizagem
• Aprofundar o tema dos movimentos literários, com foco no 
Modernismo.
• Apresentar os expoentes desse movimento, assim como suas 
obras.
• Indicar a importância do movimento para a cena cultural da época.
• Demonstrar a influência dos contextos social, histórico e cultural 
sobre o Modernismo.
27
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
2.1 Contexto sócio-histórico cultural do Modernismo
A corrente modernista no Brasil permeou o cenário literário no período entre 1922 e 1945; no entanto, após essa 
época, ganhou traços mais intensos que o caracterizaram. Mas, antes de apresentar a você o cenário cultural que 
prenunciou o modernismo no país, é importante lhe situar quanto ao contexto sócio-histórico desse período, 
para compreender melhor o rompimento com o século anterior. 
Entre os anos de 1894 e 1930, o Brasil vivia a denominada “política do café com leite”, cujo poder econômico 
se concentrava nas mãos de pequenos grupos de agricultores, mais abrangente nas regiões de Minas Gerais, 
Rio de Janeiro e São Paulo. Nesse ínterim, no país chegavam milhares de imigrantes vindos da Itália e do Japão, 
estabelecendo-se nas lavouras de café e nas indústrias paulistas. No entanto, os problemas começaram a apare-
cer, pois havia exploração de trabalhadores, principalmente estrangeiros e negros, que prestavam serviços para 
os proprietários rurais.
Mais tarde também, após a Primeira Guerra Mundial, a mão de obra passou a ser empregada nas fábricas, uma 
vez que a comercialização de produtos advindos de outros países estava prejudicada, desfavorecendo os barões. 
Contudo, alguns grupos sociais insatisfeitos com os rumos da política e da economia do país – intitulados anar-
quistas – estimularam uma greve geral que acometeu São Paulo. Ao fim de 1929, com a Queda da Bolsa de Nova 
Iorque, a exportação do café, principal produto que assegurava a economia no país, declinou até meados de 
1930, mas, com a era Vargas, o Estado passou a adotar medidas protetivas para que os produtores de café não 
ficassem vulneráveis, tornando-se, assim, detentor da economia.
O governo do presidente Getúlio Vargas teve muita censura, com a intenção de barrar ideias e ações que o con-
trariavam – afinal, o país vivia uma ditadura, e quem mais sofria com isso eram os artistas, que mal tinham a 
liberdade de se expressar.
Entretanto, a ditadura de Vargas durou até 1945, em função da pressão militar e a da imprensa; porém, em 1950, 
ele conseguiu se reeleger, adotando uma postura mais democrática e até concebendo em seu governo ministros 
de outros partidos políticos, orientando sua administração econômica na aproximação com o capital estrangeiro, 
no desenvolvimento das indústrias e no princípio do nacionalismo, tendo criado a Petrobrás, em 1953.
Durante o seu mandato, Vargas sofreu inúmeras denúncias de corrupção e estava sendo investigado, e isso era 
acompanhado pela imprensa – que se manifestava como opositora ao seu governo. Mais uma vez, pressionado a 
renunciar, ele decidiu por suicidar-se, em 1954, pondo fim à era Vargas.
Esses contextos histórico, político e social marcaram o início da Era Moderna no país, em pleno século XX, apre-
sentando diferentes visões de mundo e tendências artísticas variadas, com forte influência europeia. Dentre os 
temas em foco no âmbito cultural estavam o cotidiano nacional, o caráter social e a linguagem simples e direta, 
parecida com a oral. 
Mas, já em 1922, aspectos da literatura modernista se faziam notar, com a Semana de Arte Moderna, um período 
de sete dias dedicado a levar para o público uma variedade de tendências artísticas que já eram um sucesso na 
Europa, cuja iniciativa procedeu do pintor Di Cavalcanti.
Os ideais modernos e uma nova forma de pensar e fazer arte, consolidando a consciência brasileira no processo 
criativo, assim como a livre pesquisa estética e uma ruptura com os antigos padrões (uma elite intelectualizada 
que seguia os moldes europeus) permeavam o eixo Rio de Janeiro e São Paulo aqui no Brasil – com os expoentes 
Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida, em São Paulo, e Graça Aranha, Manuel Bandeira, 
entre outros, no Rio de Janeiro –, expandindo-se, depois, a outros estados, e permanecendo até 1960.
28
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Sobre o nascimento da Era Moderna, vale a pena consultar a obras de Afrânio Coutinho, 
“Enciclopédia de Literatura Brasileira”. 
2.2 Características modernas
Podemos começar apontando os aspectos básicos da literatura moderna, que, logo de início, teve a classe artís-
tica entusiasmada com a implantação da República, em 1889, expressando um forte anseio por romper com os 
padrões anteriores do século XIX, que ainda continham um caráter de academismo e erudito, revolucionando, 
assim, o cenário literário, trazendo à tona a valorização do sujeito nacional, suas raízes; o jeito rural de ser, com 
toda a ambientação regional; e a retomadada temática do cotidiano, favorável a um despertar de si mesmo e 
uma melhor compreensão de mundo.
Academismo: No sentido do presente texto, equivale a imitar o que era tendência entre os 
intelectuais da época, que também se inspiravam em artistas estrangeiros. 
O tema do regionalismo – concebido na literatura como o lugar de costumes e tradições regionais –, pondo em 
foco o sertanejo, foi uma das primeiras evidências acerca do modernismo, aparecendo tanto nos textos escritos 
quanto na pintura. 
29
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Figura 2.1: Representação do sertanejo
Legenda: Semblante de duas pessoas com vestimentas sertanejas. 
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Desde que o Modernismo adentrou no cenário brasileiro, era visível a contradição entre os ideais nacionais por 
uma legitimidade literária, enfim, artística, e um processo criativo semelhante ao das potências mundiais. Foi 
exatamente esse último contraste que suscitou, no Brasil dos anos 1920 e 1930, uma iniciativa mais inclinada a 
atualizar tanto a forma quanto o conteúdo na arte, primando por uma estética renovada, inspirada nas vanguar-
das da Europa, destacando-se, principalmente, nas artes plásticas.
As vanguardas europeias, tais como o cubismo, as ideias futuristas, o surrealismo e o dadaísmo, movimentavam 
o clima artístico parisiense e caracterizavam um movimento chamado de art déco.
O cubismo, surgido primeiro na pintura, fragmentava a realidade e a remontava por meio de figuras geométricas; 
na literatura, utilizava-se do verso livre, do senso de humor e da inventividade no uso das palavras, e também 
havia uma disposição gráfica bem diferente dos poemas.
O ideal futurista propunha uma indiferença em relação ao passado e um olhar voltado para as invenções tecno-
lógicas e todos os aspectos dinâmicos da realidade – pioneirismo esse liderado pelo italiano Marinetti.
O surrealismo, idealizado pelo francês André Breton, em 1924, sugeria a fantasia, o sonho, a loucura e o hábito 
de escrever por impulsividade, sem o preparo, a fim de registrar o que viesse à mente, sem a preocupação com a 
lógica ou o racionalismo.
Já o dadaísmo propôs a negação total da lógica, da cultura em resposta à guerra, como em um protesto, cujo líder, 
romeno Tristan Tzara, optou pelo nome “dadá”, retirado do dicionário para identificar essa iniciativa como um nada, 
em que não há teoria nem beleza. Veja um poema no formato de receita, elaborado pelos dadaístas da época:
Receita de poema dadaísta
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você
 [Deseja dar a seu poema.
30
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras
 [que formam este artigo e meta- as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que as
 [palavras são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de
 [uma sensibilidade graciosa, ainda
 [que incompreendido do público. (FARACO; MOURA, 1998, p. 254).
Artistas brasileiros, como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, entre outros, visitavam a capital 
francesa vanguardista como turistas estrangeiros, permanecendo pouco tempo ali, mas retornando com as novi-
dades trazidas de lá.
Em 1924, Oswald de Andrade, por meio do Manifesto Pau-Brasil – em referência à primeira riqueza exportada do 
país (o pau-brasil), cuja capa Tarsila do Amaral assinou –, tinha a proposta de aliar as novidades da arte europeia 
e o nativismo brasileiro, apontando o Carnaval como um acontecimento religioso da raça brasileira, com uma 
língua sem erudição e mais natural, incentivando a invenção na arte e retomando a importância da imprensa. No 
ano posterior, o mesmo autor lançou um livro de poemas com título idêntico ao do manifesto.
Pau-brasil: Uma espécie de árvore da nossa Mata Atlântica. 
Outro manifesto bem famoso foi o “Antropófago”, em 1928, por conta de ser o mais radical de todos, cuja pro-
posta era o retorno ao primitivismo, sem o comprometimento social, político, econômico ou religioso, signifi-
cando uma antropofagia intensa e unificadora. Uma obra que reflete as ideias desse manifesto é Macunaíma”, 
de Mário de Andrade, lançada na mesma época.
31
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Antropofagia: É um tipo de ritual em que pessoas comem partes do corpo de outras (similar 
ao canibalismo). 
Agora, convém analisarmos, na tabela a seguir, as características principais da poesia no primeiro momento da 
era modernista da literatura brasileira.
Tabela 2.1: Particularidades na poesia modernista
Verso livre Associar ideias
Cotidiano Presente
Humor Nacionalismo
Similar à prosa Irreverência
Fonte: Faraco e Moura (1998, p. 262-263).
Vejamos um exemplo de poema criado por Oswald de Andrade que abrange essas características, com predomí-
nio do humor e da irreverência:
Senhor feudal
Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia. (FARACO; MOURA, 1998, p. 263).
A prosa, embora sem muito destaque no período pré-modernista e na 1ª fase, também indicou algumas inova-
ções, tais como: a utilização de períodos curtos e uma proximidade maior com a poesia e com a linguagem colo-
quial. Um exemplo que contém tais características é um texto em prosa de Oswald de Andrade, o qual se apro-
xima da linguagem poética: “O vento batia a madrugada como um marido. Mas ela perscrutava o escuro teimoso. 
Uma longe claridade barrou a esquerda na evidência lenta de uma linha longa” (FARACO; MOURA, 1998, p. 264).
No entanto, esse primeiro momento do modernismo apenas figurava uma linguagem e arte decorativas que refle-
tiam, embora de modo atenuante, uma expressão excêntrica que teve início em 1920 e durou até o ano de 1930. 
32
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Quando a literatura brasileira entrou em contato com a modernidade pelo viés europeu, o 
indivíduo passou a ter uma visão de cidadão do mundo, que culminou em uma mudança 
acelerada de comportamento e no modo de fazer arte. 
2.3 A relevância do Modernismo
Após a empolgação com as novidades modernas internacionais que inspiraram os artistas brasileiros a renova-
rem o próprio jeito de fazer arte e literatura nos anos 1920, mas ainda convivendo com certa pressão diante da 
realidade local onde se encontravam, a evocá-los para as suas tradições e contradições, fez surgir outro enten-
dimento, que resultou em uma ruptura com o tipo de arte vinda de outro país e com um forte apelo às caracte-
rísticas nacionais. 
Desse modo, a compreensão foi a de que o país precisava resgatar a própria dignidade, por meio da linguagem 
e da sua cultura popular. Logicamente, sob a influência das transformações político-econômicas que se confi-
guravam no país e em razão da instauração do governo de Getúlio Vargas em 1930, evidenciou-se um processo 
criativo baseado em temas sociais. Sobressaíram-se na cena literária. nesse período, autores como José Lins do 
Rego, Érico Veríssimo e Graciliano Ramos.
Dos autores de prosa da segunda fase do Modernismo, José Lins do Rego é quem mais revela, em suas obras, 
imagens de sua memória infanto-juvenil, que ocorreram no engenho de seu avô, sendo tal característica res-
ponsável por torná-lo conhecido como o “menino de engenho na cidade grande”. 
Engenho: Local onde é produzida a cana de açúcar. 
Inclusive, uma desuas obras mais populares se intitula “Menino de engenho” (1932), na qual abordava a vida 
nesses estabelecimentos agroindustriais e o processo de transição dos engenhos para as usinas, além da deca-
dência das famílias que habitavam nesses espaços. Leia um trecho da obra, em que o autor comenta que o can-
gaceiro Antônio Silvino, de má fama, fez uma visita ao engenho de seu avô: 
Não havia, porém, perigo de espécie alguma. Antônio Silvino vinha ao engenho em visita de cor-
tesia. Um ano antes ele estivera na vila de Pilar noutro caráter. Fora ali para receber o pagamento 
de uma nota falsa que o coronel Napoleão lhe passara. E não encontrando o velho, vingara-se 
nos seus bens com uma fúria de vendaval. Sacudiu para a rua tudo o que era da loja, e quando 
não teve mais nada a desperdiçar, jogou do sobrado abaixo uma barrica de dinheiro para o povo. 
33
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Mas com meu avô, o bandido não tinha rixa alguma. Naquela noite viria fazer a sua primeira visita. 
(TUFANO, 1990, p. 97).
Já Érico Veríssimo, escritor gaúcho, destacou-se mais como romancista da temática urbana, pois retratava a 
cidade e personagens, sob a ótica de problemas existenciais em uma sociedade em crise. Mas, em meados dos 
anos 1950, o autor deixou de se fixar no momento presente para reconstituir as origens e os fatos da formação 
social do Rio Grande do Sul. Veja um fragmento do primeiro volume da trilogia “O tempo e o vento”, “O conti-
nente”, no qual são narrados cento e cinquenta anos de história do Rio Grande do Sul (RS), em que aparece a 
personagem central, o capitão Rodrigo, que disputava com a família liderada pelo patriarca Amaral:
Um certo capitão Rodrigo
Antes de começar o ataque ao casarão, Rodrigo foi à casa do vigário.
–Padre! – gritou, sem apear. Esperou um instante. Depois: – Padre! – A porta da meiágua abriu-se 
e o vigário apareceu.
– Capitão! – exclamou ele, aproximando-se do amigo e erguendo a mão, que o Rodrigo apertou 
com força.
– Foi só pra saber se vosmecê estava aqui ou lá dentro do casarão. Eu não queria lastimar o amigo 
[...]
- Muito obrigado, Rodrigo, muito obrigado. – O padre Lara sacudiu a cabeça, desalentado. – Vos-
mecê vai perder muita gente, capitão. Os Amarais são cabeçudos e têm muita munição.
– Eu também sou muito cabeçudo e tenho muita munição.
–Por que não espera o amanhecer?
Rodrigo deu de ombros:
–Pra não deixar esfriar. (VERÍSSIMO, 1995, p. 314).
Graciliano Ramos, por sua vez, é famoso pela sua prosa regionalista, tratando não só do drama vivido na ambien-
tação de algumas regiões de seca e desigualdade social do Nordeste, como também o universo interior de suas 
personagens. No entanto, com a obra “Vidas Secas”, um romance narrado em terceira pessoa, o autor escreve de 
forma concisa, sem atentar para o sentimentalismo, pressupondo uma denúncia acerca da opressão e violência 
vivenciada pelo homem do sertão.
34
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Figura 2.2: Representação do sertão
Legenda: A imagem da seca no sertão, com cactos.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Diante das informações apresentadas, podemos notar que o movimento do modernismo do período de 1930 a 
1945 teve a sua importância em nossa sociedade, em virtude do amadurecimento com que os autores da época 
trabalhavam em suas obras, tanto na poesia quanto na prosa, ao identificar a realidade brasileira e adentrar no 
mundo íntimo do povo brasileiro, distanciados dos anos precedentes, quando havia certa libertinagem no pro-
cesso criativo, sendo tudo permitido, como forma de experimentação na arte em geral.
Com base nas informações obtidas até então, você percebe que a direção que os artistas da 
arte moderna escolheram, desde o seu início, em 1922, com a Semana de Arte Moderna, até 
o fim da década de 1930, teve como característica principal, sobretudo, uma preocupação 
de retomar as origens do povo brasileiro, bem como apontar mudanças importantes na eco-
nomia e no dia a dia do país. 
35
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
2.4 Destaques no Modernismo entre os anos 1950 e 1960 
A partir de 1956, metade da década de 1950, surgiu uma novidade artística denominada de concretismo, e, par-
ticularmente na poesia pertencente ao campo literário, foi lançada a revista “Noigrandes”, título extraído de uma 
canção provençal, sem um significado exato, mas compreendida como a poesia em progresso, cujos fundadores 
foram os irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos e o amigo Décio Pignatari. Além disso, o concretismo 
teve presença marcante também nas artes plásticas, como a pintura, por exemplo. 
Observe-se que o poema que segue traz também uma representação visual, pois o texto está construído de 
forma a referir um ovo e um novelo, palavras centrais do poema. 
Figura 2.3: Poema concretista de Augusto de Campos
Fonte: Faraco e Moura (1998, p. 381).
Desse modo, os concretistas propuseram o fim do verso e da sintaxe tradicional, produzindo uma poesia mais 
visual, próxima à vida moderna da época, em que se consumia tudo de modo rápido e instantâneo para dar 
espaço ao novo, evidenciando, também, o crescimento dos meios de comunicação de massa. 
Para que você possa perceber melhor como essa novidade na poesia era construída, convém mostrarmos, aqui, 
também um exemplo de poema de Décio Pignatari, em que o autor faz uma desmontagem e remontagem das 
palavras, disponibilizando-as em vários sentidos:
36
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Quadro 2.1: Exemplo de poesia concreta
 COCA-COLA
BEBA COCA COLA
BABE COLA
BEBA COCA
BABE COCA CACO
CACO
COLA
 CLOACA 
Imagem: Palavras aparentemente soltas: Coca-cola, beba coca cola, babe 
cola, beba coca, babe coca caco, caco, cola, cloaca. 
Fonte: Tufano (1990, p. 157). 
O que percebemos nesse poema? Uma antipropaganda sobre a Coca-Cola, pois o autor resume todas as palavras 
que dispersa na construção de seu poema em CLOACA, que significa esgoto.
Então, nas décadas de 1950 e 1960, os poetas passaram a se posicionar mais sobre assuntos do cotidiano, comu-
nicando de forma mais simples e direta, além de abordar os problemas enfrentados pelo homem comum. Um dos 
autores com forte relevância foi Ferreira Gullar, o qual iniciou sua atividade como escritor seguindo o grupo dos 
concretistas, mas que, depois, adotou a poesia social. Leia um de seus poemas:
Maio 1964
Na leiteira a tarde se reparte
 em iogurte, coalhadas, copos
 de leite
 e no espelho meu rosto. São
quatro horas da tarde, em maio.
Tenho 33 anos e uma gastrite. Amo
a vida
 que é cheia de crianças, de flores
 e mulheres, a vida,
esse direito de estar no mundo,
 ter dois pés e mãos, uma cara
 e a fome de tudo, a esperança [...]. (BOSI, 1964, p. 65-66)
37
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Assim que Ferreira Gullar integrou o grupo concretista, incorporou aos seus textos uma sub-
jetividade que não era comum a esse movimento bastante prescritivo e visual e, assim, tor-
nou-se destacado no meio literário. 
Dentre as características do concretismo, podemos elencar algumas das mais predominantes:
• a comunicação visual sobressai da comunicação verbal;
• recurso gráfico das palavras (poema desenhado);
• melhor aproveitamento do espaço de produção do poema;
• rejeição do lirismo;
• poema-objeto, produzido como se fosse um quadro;
• possibilidade de leituras múltiplas, com base na disposição horizontal, vertical e diagonal do poema.
Contudo, embora o concretismo tenha alcançadosucesso em nível internacional, relacionando a palavra ao 
objeto, no Brasil, não conseguiu agradar toda a sociedade, mas inspirou tendências um pouco contrárias à sua 
proposta, mas próximas.
Vejamos, a seguir, as tendências estimuladas pelo concretismo, apesar de designarem outra apropriação para a 
palavra.
• Poesia-Práxis: liderada pelo poeta Mário Chamie, essa tendência depositava, na palavra, um modo de 
indicar o conhecimento de mundo, com forte indício social. Leia um poema de Chamie:
Agiotagem
 um
 dois
 três
 o juro: o prazo
o pôr/o cento/o mês/o ágio
 porcentágio.
 dez
 cem
 mil
38
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
 o lucro: o dízimo
o ágio/a moral/ a monta em péssimo
 empréstimo.
 muito
 nada
 tudo
 a quebra: a sobra
a monta/o pé/o cento/a quota
 haja nota
 agiota. (FARACO; MOURA, 1998, p. 383-384).
Esse formato de poesia se desenrola em um poema derivado, mas relacionado a algum contexto que o motivou. 
O próprio Chamie (1962, p. 114) comenta isso: “As palavras são corpos vivos. Não vítimas passivas do contexto”. 
• Poema/Processo: nessa tendência, a palavra é desprezada, e o que há são signos visuais, pois o intuito 
não é realizar uma leitura, apenas visualizar. 
Figura 2.4: Representação de um poema/processo
Legenda: Representação de um poema/processo com figuras geométricas diversas. 
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
39
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
• Poesia Social: essa tendência teve uma expressão política e também foi uma reação à poesia concreta, 
incorporando o verso e se baseando em temas da realidade social do país. Dentre os autores destacados, 
têm-se: Affonso Romano Sant’ Anna, Thiago de Melo e Ferreira Gullar.
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena. (FARACO; MOURA, 1998, p. 383-384).
 Você tem a tarefa de discutir sobre como a poesia concreta se fundamentava na fugaci-
dade do novo tempo que se instaurava, em que tudo acontecia de modo acelerado, mas 
com um olhar para o futuro. 
40
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
2.5 Contexto histórico-político-social de 1960 e sua literatura
Agora, daremos continuidade a nosso estudo, mas com um enfoque mais voltado à literatura da década de 1960, 
apresentando a você um panorama histórico-cultural desse período, para, depois, comentarmos sobre os auto-
res que ganharam notoriedade na época.
Em 1960, Brasília foi inaugurada e se tornou a capital do Brasil, cujo presidente, na época, era Jânio Quadros, 
sendo sucedido – em função de uma crise de oposição do governo – por João Goulart, em regime parlamenta-
rista. No entanto, em janeiro de 1963, um plebiscito nacional recuperou o regime presidencialista com Goulart 
governando. 
Regime parlamentarista: É o país representado por um membro da Câmara dos Deputados, 
que recebe o título de Primeiro-Ministro. 
Entretanto, João Goulart foi derrubado por um golpe militar liderado pelo general Castelo Branco, que, por sua 
vez, assumiu o poder do país. Porém, em 1965, foram abortados os partidos políticos, sendo propostas eleições 
indiretas para o cargo de presidente, instalando-se, a partir daí, uma sequência de manifestações promovidas 
por entidades estudantis em oposição aos governos, que seguiam sendo presididos por marechais e generais, 
fortalecendo a censura e a repressão.
Já quase no final da década de 1960, aconteceu o Tropicalismo, que permeou a música popular como um con-
ceito baseado no anarquismo, com toques de humor, ironia e paródia, demonstrando, na arte musical, uma 
colagem de fragmentos do cotidiano, a crítica aos ditos intelectuais da época, e como a comunicação das massas 
adentrava no território nacional e seduzia a todos, sem, no entanto, mudar, de fato, a realidade brasileira. 
Como principal expoente do Tropicalismo na literatura, que inspirou compositores das mais variadas vertentes 
artísticas, como a música, as artes plásticas, o cinema etc., com trechos retirados e transformados do gênero da 
poesia e do teatro, tem-se Oswald de Andrade. 
Caetano Veloso, por exemplo, inspirou-se no movimento modernista denominado antropofágico, criado pelo 
autor literário, para anunciar a proposta da tropicália, que era a de devorar a cultura vinda de fora e não se fechar 
a ela, por meio da música campeã de festival: Alegria, alegria. Veja um trecho:
O sol se reparte em crimes,
espaçonaves, guerrilhas,
em Cardinales bonitas, eu vou.
Em caras de presidentes,
em grandes beijos de amor
41
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Em dentes, pernas, bandeiras,
bomba e Brigitte Bardot. (JORDANI, 2012, [s. p.]). 
Notamos que Caetano Veloso incorpora, na letra de sua música, elementos futuristas (“espaçonaves”) e moder-
nos, como os ícones de beleza universal, da Itália e da França, obtendo fama internacional: “Cardinales” e “Brigite 
Bardot”. Além, é claro, da tensão do mundo atual em que se vivia.
Acesse o link, a seguir, e saiba mais sobre a relação entre Tropicalismo e Antropofagia. Dispo-
nível em: <http://tropicalia.com.br/leituras-complementares/2584>.
Anarquismo: Posição política que se opõe ao poder exercido pelo Estado, defendendo a ideia 
de uma sociedade independente dele. 
Heloísa Buarque de Holanda analisa o resultado do tropicalismo, quando chegou ao seu fim, levando a uma 
radicalização:
A loucura passa a ser vista como uma perspectiva capaz de romper com a lógica racionalizante da 
direita e da esquerda. E a experiência da loucura não é apenas uma atitude �literária� como foi por 
tanto tempo na história da literatura. Nesse momento, a partir da radicalização do uso de tóxicos 
e da exacerbação das experiências sensoriais e emocionais, vimos um sem-número de casos de 
internamento, desintegrações e até suicídios, bem pouco literários. (HOLANDA, 1992, p. 69).
Entretanto, de acordo com o também crítico literário Affonso Romano Sant´Anna (1978), os poetas se aproveita-
ram da força que a música estava tomando durante os festivais de canções e os programas especiais de televisão 
para cumprir um papel diferente na poesia, passando, então, a investir na música popular brasileira por meio 
de ensaios, poemas, participação em júris de festivais. Além disso, as escolas também acolheram tal produção 
artística como sendo um produto passível de ser esteticamente analisado, pela interferência da grande indústria 
cultural, como a mídia televisiva.
42
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
Assista ao vídeo em que o cantor Gilberto Gil analisa a música “Cálice”, de Chico Buar-
que, que foi proibida de ser tocada na década de 1960, por conta da censura. Para com-
preender melhor de que forma os artistas se posicionavam contra a realidade imposta que 
vivenciavam na época, não deixe de assistir. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=8CnSiaP-jL4>. 
Na literatura, os autores produziam em meio a um clima de reprimenda e ditadura – por isso as produções artísticas 
dessa época não são extensas. No entanto, alguns escritores que já tinham feito o seu nome nas fases modernas 
anteriores ainda estavam trabalhando a todo vapor; um exemplo é Clarice Lispector,que, assim como Guimarães 
Rosa, transformou aspectos fundamentais na ficção – como uma prosa com ar de poesia, uma narrativa sugestiva, 
um enredo não linear, mas uma mescla de tempo e de espaço –, incorporando novo impacto na literatura.
Antonio Candido (1987), em seu ensaio, afirma o diferencial na prosa proposto por esses dois autores que con-
tinuaram, depois de 1945, a fazer sucesso e a servir de embasamento a outros artistas: “Isso tudo era mais ou 
menos difícil de incorporar a um gênero que, ao contrário da poesia, é objeto de uma demanda relativamente 
grande por parte do público, o que obriga a manter certa comunicabilidade” (CANDIDO, 1987, p. 186).
 Outra autora que merece ser citada é Lygia Fagundes Telles, que obteve reconhecimento internacional em Can-
nes, em 1969, com o conto “Antes do Baile Verde”, tratando do tema da insatisfação humana. A autora seguia a 
linha introspectiva de Lispector, porém, explorando com maior intensidade o universo feminino sob uma pers-
pectiva moderna, já que se iniciava a luta pelos direitos da mulher nessa época, abordando abertamente temas 
como o amor, o adultério, as drogas etc. Também mesclou a realidade urbana com um realismo fantástico. Veja-
mos um trecho de “O direito de não amar”, de Lygia Fagundes Telles, em que trata do tema da rejeição no amor:
Se o homem destrói aquilo que mais ama, como afirma Oscar Wilde, a vontade de destruição 
se aguça demais quando aquilo está amando um outro. O egoísmo, sem dúvida o traço mais 
poderoso de qualquer sexo, transborda então intenso e borbulhante como água em pia entu-
pida, artérias e canos congestionados na explosão aguda: Nem comigo nem com ninguém. Deste 
raciocínio para o tiro veneno ou faca, vai um fio. (TELLES, 2010, p. 118).
Figura 2.5: Lygia FagundesTelles
Fonte: Wikipedia.
43
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
E, assim, além dos romances que preenchiam as produções literárias, gêneros como o conto e a crônica começa-
ram a se tornar evidentes também, ocupando espaço até na imprensa, em que se destacaram escritores como a 
própria Lygia Fagundes Telles, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. 
Já Drummond, embora escrevesse crônicas para o Correio da Manhã, cuja atividade durou até 1968, tornou-
-se notável por sua poesia, permeando-se em diferentes nuances temáticas. Mas é válido pontuarmos que esse 
brilhante escritor não permanecia indiferente às mazelas reais; em suas primeiras obras, o autor manifestava 
um pessimismo do homem diante da vida, encarando-a como um vazio. Veja um exemplo extraído do poema 
“Enterrado vivo”:
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência. (TUFANO, 1990, p. 109).
Depois, o poeta desenvolveu uma poesia participante para se integrar ao seu tempo, mas adotou uma postura 
conformada com as injustiças sociais; contudo, a sua escrita sempre foi simples e despojada. Segue um poema 
do livro “A rosa do povo”:
Nosso tempo
Este é tempo de partido
Tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
Viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pós na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
Da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
Na pedra [...]. (FARACO; MOURA, 1998, p. 297).
Rubem Braga trabalhou em suas prosas aspectos do cotidiano, por meio do gênero crônica, e o fazia com uma 
linguagem simples, coloquial, revelando memórias de sua infância e juventude, além de depositar traços de 
melancolia e lirismo, realçando a veracidade dos dramas que relatava. A seguir, leia um trecho da crônica “O 
padeiro”, na qual o autor se vale da crítica que subestima a figura profissional do padeiro, que se declara como 
“ninguém” diante da riqueza:
44
Literatura Brasileira Contemporânea | Unidade 2 - As vanguardas de 1950 e 1960: Poesia Concreta, 
Poesia Práxis, Poema/Processo
O Padeiro
Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento, ele apertava a campainha, mas, para não 
incomodar os moradores, avisava gritando:
— Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera 
bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, 
e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera 
dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era 
ninguém [...]. (ANDRADE et al., 1989, p. 63-64).
Então, podemos analisar como os autores de literatura – cuja maioria dessa época também trabalhava na 
imprensa, divulgando seus textos por lá – tinham um pensamento voltado para os temas nacionais e sociais, con-
fortavelmente depositados nas crônicas, gênero esse relevante pelo caráter – considerado, ao mesmo tempo, 
literário e jornalístico.
Desse modo, a poesia na década de 1960 é marcada pelo concretismo, pela poesia práxis e, logo depois, pelo 
poema social, que ruminou ao terreno da prosa, cujas obras possuíam um engajamento político que iam de 
encontro com a ditadura. 
45
Considerações finais
Agora que chegamos ao final desta unidade, retomaremos as principais 
abordagens realizadas, para consubstanciar o seu conhecimento e faci-
litar a sua compreensão sob a literatura do período entre as décadas de 
1950 e 1960:
• Notamos como a Era Moderna se iniciou por um inconformismo, 
o qual, ao longo dos anos posteriores, se tornava mais intenso por 
conta dos regimes de poder totalitários instaurados no país.
• A literatura, como outras formas de arte, respondeu ao clima 
tenso que se sentia no país, por meio de manifestos, cujas finali-
dades eram indicar a insatisfação social com os rumos que esta-
vam sendo impostos no país e gerar transformações culturais.
• As décadas de 1950 e 1960 foram uma continuação dos anos 
1930 e 1940, porém, mais intensas no novo jeito de pensar e fazer 
arte brasileira, sendo esta carregada de temas subjetivos que leva-
vam o homem a compreender a si mesmo a realidade vivida.
• Na poesia, tendências inovadoras começaram a se destacar na 
cena literária, como o poema-objeto (concretismo) e a poesia 
práxis, refletindo a aceleração do desenvolvimento tecnológico 
expressivo, como a popularidade da mídia televisiva.
• Já na prosa, o gênero da crônica ganhou notoriedade, compondo 
também o cotidiano da imprensa, como um instrumento de 
denúncia dos problemas sociais que atingiam o povo brasileiro, 
levando à reflexão.
• A música, com seu viés questionador e crítico em relação à dita-
dura, cujo resultado era a censura no país, também serviu de ins-
piração para os autores literários que produziam suas poesias e 
prosas baseadas em trechos musicais da época. 
Referências
46
ANDRADE, C. D. de et al. Para gostar de ler: Vol I - Crônicas. 12. ed. São 
Paulo: Ática, 1989.
BOSI, A. (Org.). Os melhores poemas de Ferreira Gullar. São Paulo: Glo-
bal, 1964.
CANDIDO, A. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 
1987.
CHAMIE, M. Lavra Lavra. São Paulo: Massao Ohno, 1962.
COUTINHO, A. Enciclopédia de literatura brasileira. 2. ed. São Paulo: 
Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Departamento 
Nacional do Livro; Academia Brasileira de Letras, 2001.
FARACO, C. E.; MOURA, F. M. Literatura brasileira. 14. ed. Rio de Janeiro: 
Ática, 1998.
JORDANI, F. Em “Antropofagia”, Caetano explica origem da tropi-
cália no Modernismo. 2012. Disponível em: <https://www1.folha.uol.
com.br/livrariadafolha/1048428-em-antropofagia-caetano-explica-
-origem-da-tropicalia-no-modernismo.shtml>. Acesso em: 15 de jun. 
2018. 
HOLANDA, H. B. de. Impressões de viagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
PERRONE, C. A. Pau-Brasil, Antropofagia,

Continue navegando