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As cidades e as reformas urbanas no século XIX

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HISTÓRIA DA 
ARQUITETURA E 
URBANISMO V (IDADE 
CONTEMPORÂNEA) 
Jana Cândida Castro dos Santos
As cidades e as reformas 
urbanas no século XIX
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever o movimento da reforma urbana na Europa.
 � Identificar os projetos de reforma urbana no Brasil.
 � Reconhecer a herança da reforma urbana.
Introdução
Os avanços tecnológicos abriram caminho para mudanças técnicas 
e estéticas, fazendo surgir a cidade industrial do século XIX. Ao longo 
de todo esse século, assiste-se a uma forte migração do campo para 
a cidade, e consequente aumento da população urbana. Esse intenso 
aumento demográfico, por sua vez, exige respostas do espaço urbano 
em termos de habitações, novos equipamentos e serviços urbanos. Por 
meio de princípios higienistas e de embelezamento das grandes capitais, 
as reformas urbanas buscaram solucionar o caos instalado nas cidades. 
Neste capítulo, você verá a descrição do movimento da reforma ur-
bana na Europa e identificará projetos de reforma urbana no Brasil, de 
modo a reconhecer a herança da reforma urbana.
Cidade do século XIX e movimento de reforma
Revolução Industrial e cidade
A Revolução Industrial do século XIX teve um forte impacto nas cidades e 
no modo de habitá-las. Na arquitetura, notam-se mudanças em relação aos 
procedimentos construtivos e técnicos, assim como em relação às exigências 
arquitetônicas, enquanto que, na cidade, vemos o aumento dos problemas 
urbanos e transformações da paisagem. São deste período, conhecido como 
o século da indústria e do progresso, as invenções revolucionárias: a má-
quina a vapor, o motor das indústrias, a força dos barcos e locomotivas, o 
dínamo – responsável por gerar eletricidade e tornar possível o abastecimento 
da população através da rede pública –, o telégrafo, o telefone, entre outras 
(ALONSO PEREIRA, 2010).
Na segunda metade do século XIX, a Europa se vê imersa em uma vida 
moderna, onde o progresso se vincula à materialização de locomotivas, projetos 
urbanísticos, bondes e rede pública de eletricidade. Para Alonso Pereira (2010, p. 
204), é “[...] quando os fundamentos socioeconômicos e arquitetônicos fixados 
anteriormente alcançam seu adequado desenvolvimento e manifestação”; e 
neste caso se refletem também no campo do urbanismo e dos ideais urbanos.
A locomotiva e a rodovia revolucionam os sistemas de comunicação urbanos 
e interurbanos, e com isso são definidas novas portas da cidade e uma nova 
forma de organizar o tráfego urbano. Neste contexto vemos novas necessidades, 
formas de vida urbana e de arquitetura.
As redes públicas urbanas (gás e eletricidade), em seguida, também impac-
tam o meio urbano, visto que “[...] permitem a iluminação de ruas e praças, 
e com isso a vida noturna das cidades, convertendo Paris — e, por extensão, 
todas as grandes capitais — em ville lumière (cidades iluminadas)”, segundo 
Alonso Pereira (2010, p. 204). Por fim, cita-se o telégrafo e o telefone, que 
trazem revoluções no campo das comunicações.
Neste período também tem destaque a criação do elevador. Siemens constrói seu 
primeiro elevador em 1881, generalizando a invenção hidráulica de Elisha Otis (1853), 
que permite a edificação em altura e torna possível o aparecimento de novas tipologias 
edificatórias (industriais, comerciais e residenciais) e, finalmente, dos grandes arranha-
-céus construídos pelos arquitetos americanos (ALONSO PEREIRA, 2010).
As cidades e as reformas urbanas no século XIX2
Com as novas invenções, volta-se a pensar a cidade em função da máquina, 
da circulação e dos transportes (ALONSO PEREIRA, 2010). Como exemplos 
do urbanismo com caráter científico, racional e progressista, consequência da 
Revolução Industrial, temos:
 � Cidade linear (Soria): modelo de cidade concebido pelo urbanista es-
panhol Arturo Soria y Mata no final do século XIX, construído como 
um bairro experimental em Madrid, na Espanha, entre 1894 e a década 
de 1920, formado a partir de um eixo central.
 � Cidade motorizada (Hénard): Eugène Hénard foi um urbanista francês 
dedicado ao desenvolvimento da cidade de Paris. Entre suas ideias 
destaca-se a de “perímetro de radiação”; para ela seria necessária uma 
via circular que recolhesse as circulações radiais, amenizando o trânsito 
em sentido centro-periferia.
 � Cidade industrial (Tony Garnier): proposta pelo arquiteto francês Tony 
Garnier no início do século XX, com ênfase na setorização do espaço 
urbano.
 � Cidade nova (Sant’Elia): Antonio Sant'Elia propôs desenhos de grande 
impacto para a Città Nuova (Cidade Nova), com ênfase nos princípios 
futuristas. Seu modelo de cidade, desenhado por volta de 1912, exaltava 
arranha-céus, passarelas e vias suspensas para veículos.
Com a Revolução Industrial surgem os progressos técnicos, os novos 
materiais e a industrialização da construção, assim como as novas maneiras 
de pensar, construir e reformar as cidades.
Cidade do século XIX 
Com as mudanças técnicas e estéticas, mencionadas anteriormente, vemos um 
novo tipo de cidade surgir – a cidade industrial do século XIX, primeiramente 
devido ao aumento demográfico. Ao longo de todo o século XIX, se assiste 
a uma forte migração do campo para a cidade; a população urbana durante o 
período é praticamente triplicada, o que exigiu respostas do espaço urbano 
em termos de habitações, novos equipamentos e serviços.
3As cidades e as reformas urbanas no século XIX
Dados do aumento demográfico
 � Século XVIII: aproximadamente 180 milhões de habitantes.
 � 1800 a 1914: aproximadamente 450 milhões.
Durante o século XIX, a população europeia se torna duas vezes e meia maior 
(ALONSO PEREIRA, 2010).
Enquanto isso, a revolução econômica traz consigo novos projetos e infra-
estruturas industriais, também levando ao crescimento dos núcleos urbanos. 
Juntas, as revoluções demográfica e econômica trazem consequências que se 
manifestam ao longo do século sem que exista no primeiro momento instru-
mentos capazes de gerenciar o crescimento e ordenar a distribuição territorial. 
Alonso Pereira (2010, p. 209) revela que:
Na metade do século, a insuficiência dessas expansões interiores chega a forçar 
uma expansão exterior de duas formas distintas: a expansão espontânea em 
forma de subúrbios e bairros próximos ao assentamento urbano inicial, e a 
expansão planejada em forma de ampliações de cidades e planos urbanísticos.
Vê-se que há duas formas de crescimento das cidades em razão das migra-
ções originadas pela industrialização. Por um lado, as expansões planejadas 
ordenam os assentamentos burgueses e conseguem orientar a urbanização 
dos novos espaços, ao contrário da espontânea. Em decorrência, temos os 
contrates entre os bairros burgueses e as favelas e bairros dos proletariados. 
E são exatamente em meio a essas contradições – indústria e burguesia – que 
são geradas as primeiras alternativas urbanas.
A cidade do século XIX se modela às novas infraestruturas viárias e de 
transporte, das quais temos a locomotiva e os bondes, enquanto o traçado 
viário, separando o público e o privado, passa a constituir o princípio gerador 
da trama urbana. As ruas antigas, antes geralmente estreitas e irregulares, dão 
lugar a novas ruas, largas e regulares, passando pelos bairros novos e antigos. 
As novas ruas atuam como articulações entre a cidade e seus distintos bairros.
As cidades e as reformas urbanas no século XIX4
A ampliação da cidade se une à transformação e reforma da parte histórica, em que 
as novas intervenções acarretam rupturas no tecido urbano a partir de demolições de 
prédios em massa. São previstos novos eixos a atravessar a cidade para “[...] conectar 
suas estruturas fundamentais e tornar habitáveis os recintos antigos” (ALONSO PEREIRA, 
2010, p. 210).
A cidade europeia do século XIX vai se moldando e unindo as novas malhas 
às históricas, formando um mosaico urbano a partir de diversas peças, como 
revela Alonso Pereira (2010).
Reformas urbanasNo período marcado por expansões e intervenções urbanas nas capitais eu-
ropeias, Paris se torna um modelo arquitetônico e urbano de difusão interna-
cional, fundamentado no Plano de Haussmann. Georges Eugène Haussmann 
(1809–1891), conhecido principalmente como Barão Haussmann, foi prefeito 
do antigo departamento do Sena (que na época incluía os atuais departamentos 
de Paris, Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis e Val-de-Marne), entre os anos 
de 1853 e 1870. Haussmann foi responsável pela reforma urbana de Paris, 
seguindo determinações de Napoleão III, e tornou-se assim muito conhecido 
na história do urbanismo e das cidades.
O plano previa a remodelação da cidade unida ao seu crescimento através 
do traçado urbano e novos equipamentos. O novo sistema viário (Figura 1) 
indicava grandes bulevares e articulação das vias, tanto aproveitando as exis-
tentes como criando outras, ora em zonas de expansão, ora rompendo o tecido 
histórico. Além disso, a atuação de Haussmann acarretou, segundo Alonso 
Pereira (2010, p. 211), “[...] a divisão administrativa da cidade em bairros 
e distritos” e previa “[...] a adoção de cada um dos equipamentos urbanos 
correspondentes: prefeituras, escolas, igrejas, mercados etc.” (ALONSO 
PEREIRA, 2010, p. 211).
5As cidades e as reformas urbanas no século XIX
Figura 1. A Paris de Haussmann, modelo arquitetônico e urbano.
Fonte: Alonso Pereira (2010, p. 211).
É preciso destacar que os equipamentos propostos e os seus edifícios 
correspondentes foram locados em lotes especiais de maneira a isolá-los como 
edificações singulares e convertê-los assim em monumentos. E em relação 
ao tecido residencial urbano, os edifícios privados obrigatoriamente deviam 
harmonizar-se com os vizinhos, articulando-se com eles de acordo com os 
critérios de unidades, seguindo as leis municipais.
Enquanto Paris adotou uma expansão orgânica, através da conjugação de 
artérias radiais e anelares, as metrópoles latinas optaram por opor uma malha 
ortogonal ao traçado irregular das cidades. Nesse âmbito havia dois esquemas 
reguladores — centralização e descentralização. A maioria dos planos adotava 
a primeira opção — “[...] considerando a cidade herdada como centro da nova 
trama urbana” —, como explica Alonso Pereira (2010, p. 212), enquanto outros 
elegiam a trama autônoma — “[...] conectada, mas não subordinada à anterior” 
(ALONSO PEREIRA, 2010, p. 212).
As cidades e as reformas urbanas no século XIX6
Entre os tantos casos de ampliações, como Atenas e Madri, Turim e Bilbao, 
o do Plano de Cerdà (1859) para Barcelona (Figura 2) é um exemplo paradig-
mático, em vista de suas previsões para o futuro crescimento da cidade e da 
modelagem da Teoria Geral da Urbanização do autor. O engenheiro urbanista 
catalão propôs “[...] uma organização policêntrica com bairros diferentes 
que gozam de autonomia entre si e com a Barcelona histórica” (ALONSO 
PEREIRA, 2010, p. 212). A partir da relação com a memória da cidade é 
que Cerdà constrói uma nova malha viária personalizada, propõe avenidas 
ortogonais ou diagonais, em consonância com a história urbana.
Figura 2. O plano de Cerdà — exemplo paradigmático das ampliações do século XIX. À 
direita, a cidade antes da ampliação; ao lado, a implantação na malha urbana existente 
de Barcelona.
Fonte: Alonso Pereira (2010, p. 212).
Teoria Geral da Urbanização 
Com modernidade extrema, nessa teoria Ildenfonso Cerdà imagina a cidade de dentro 
para fora. Em primeiro lugar, ele define o elemento primário: a quadra, cujo agrupamento 
determina o bairro, e estes, por sua vez, definem o setor urbano, cada um em torno 
de seus correspondentes centros de bairro e distrito. A cidade será a soma desses 
setores urbanos vertebrados linearmente por uma avenida principal e equipados 
convenientemente na escala metropolitana (ALONSO PEREIRA, 2010).
7As cidades e as reformas urbanas no século XIX
Já no caso da cidade americana do século XIX, temos em geral o desen-
volvimento de sistemas hipodâmicos construídos a partir de um traçado em 
tabuleiro xadrez, com extraordinária regularidade para resolver o aumento 
demográfico. Dentre os exemplos, temos Buenos Aires e Chicago, mas tem 
destaque a ilha de Manhattan em Nova York (Figura 3). Sua superfície, similar 
à da ampliação de Barcelona, é atravessada por grandes avenidas longitudinais 
combinadas a 150 ruas transversais separadas de forma uniforme. As ruas 
definem quadras iguais, que, por sua vez, permitem inúmeras possibilidades 
de construção urbana, segundo Alonso Pereira (2010).
Figura 3. Entorno da cidade de Nova York e construção da ilha de Manhattan.
Fonte: Alonso Pereira (2010, p. 213).
O esquematismo presente na maioria dos planos de expansão do século 
XIX foi criticado, e isso abriu caminho para uma renovação da cidade e da 
arquitetura. Nesse contexto temos a publicação de Construção de cidades 
segundo princípios artísticos, de Camillo Sitte, em 1889 — nesta obra Sitte 
expõe suas teorias urbanísticas abordando a dimensão estética das cidades para 
além das necessidades funcionais, e exaltando a construção da cidade a partir 
da visão do cidadão - e o início dos preparativos para a Exposição Universal 
de Chicago realizada em 1893. Nas palavras de Alonso Pereira (2010, p. 213), 
As cidades e as reformas urbanas no século XIX8
“[...] ambos assinalam, no âmbito internacional, o ponto de partida dessa nova 
visão urbana que une monumentalidade e o pitoresco e propõe conjuntamente 
a dignificação da cidade: a cidade como obra de arte, como ideal arquitetônico 
e urbano”. Esse ideal se difunde por toda parte até 1900, quando os métodos 
que nortearam a expansão urbana do século XIX começam a ser repensados 
e a cidade passa a ser vista como um organismo complexo.
Sistema hipodâmico: plano urbanístico utilizado pelos gregos, no qual a cidade era 
traçada com ruas paralelas e perpendiculares a uma grande avenida.
Reformas urbanas no Brasil
O movimento de ação reformadora que se difundiu pelas cidades europeias 
teve seu impacto também na América do Sul. No Brasil, as reformas urbanas 
começaram a ser discutidas desde o último quartel do século XIX e foram 
postergadas até o século seguinte.
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro, capital do país, adentrava o século XX com uma estrutura 
urbana ainda colonial marcada por ruas estreitas e sinuosas, adaptadas ao 
terreno acidentado, com arquitetura e equipamentos urbanos compatíveis 
com a herança dos tempos coloniais. Desde o século XIX, a capital carioca 
era vista como foco de doenças e desordem na ocupação do espaço urbano, 
pois convivia ainda com a falta de infraestrutura urbana – “[...] como falta de 
água, esgotamento sanitário ineficiente, calçamento precário, deficiência de 
iluminação, além de um porto sensivelmente inadequado à movimentação de 
mercadorias que por ele transitavam” (AZEVEDO, 2008, p. 9). Na Figura 4, 
uma foto do Rio de Janeiro em 1865.
9As cidades e as reformas urbanas no século XIX
Figura 4. Rio de Janeiro em 1865, então capital do Império do Brasil.
Fonte: Leuzinger ([ca 1865]).
Combinados a esses problemas urbanos, tem-se um forte crescimento da 
população carioca durante a segunda metade do século XIX, com destaque 
para a virada do século. As causas desse crescimento são variadas: o fim da 
escravidão, o crescimento e a diversificação das camadas médias urbanas e o 
grande contingente de imigrantes estrangeiros. Somente uma grande reforma 
urbana no Rio de Janeiro daria cabo de tantos problemas urbanos, que já se 
refletiam nas esferas política e econômica. Desse modo, Azevedo (2008, 
p. 11) revela:
A reforma urbana do Rio de Janeiro vinha, portanto, entre outros ofícios, 
buscar angariar a simpatia do regime entre a opinião pública brasileira e 
a população da capital federal, dado fundamental para a conquista da boa 
governança, uma dificuldade patente durante a primeira década da República.
As cidades e as reformas urbanas no século XIX10
Assim, buscando equacionar tanto os objetivos cariocas comoos objetivos 
nacionais, a reforma urbana foi dividida em duas frentes, uma sob comando 
do governo federal e outra sob responsabilidade do municipal. A primeira se 
responsabilizaria pela reforma e ampliação do porto, das áreas próximas e pela 
construção de três avenidas para que as mercadorias pudessem ser escoadas (a 
saber, a atual Avenida Rodrigues Alves, à margem do porto, a atual Avenida 
Francisco Bicalho e a atual Avenida Rio Branco). O restante da cidade ficou a 
cargo da reforma urbana municipal, cujo responsável foi o engenheiro Pereira 
Passos, nomeado prefeito da cidade em 1902.
Pereira Passos, nascido em 1836, formou-se em engenharia pela Escola Militar do 
Largo de São Francisco e, logo após, vai para a França influenciado pelo pai, que 
pretendia corrigir-lhe o rumo assumido pela escolha de uma profissão com baixo status 
social no Brasil do século XIX. Em Paris, acompanhou parte da grande reforma urbana 
de Haussmann e atuou como engenheiro auxiliar em obras de estradas férreas no 
interior da França. Após alguns anos, retorna ao Brasil, onde desenvolve uma carreira 
como engenheiro no serviço público imperial até assumir a chefia da Comissão de 
Melhoramentos da cidade do Rio de Janeiro, em 1874 (AZEVEDO, 2008).
A reforma carioca — em termos de sua arquitetura e equipamentos urbanos, 
arranjo viário e urbanístico — buscou referências na capital e na cultura fran-
cesa de modo geral, sem almejar uma cópia da reforma urbana de Haussmann, 
como alerta Azevedo (2008) em sua pesquisa. Na concepção urbanística, 
Pereira Passos primou pelo resgate da dimensão de totalidade da cidade e 
de seu caráter orgânico, que é ameaçado frente ao crescimento acelerado 
das urbes modernas do século XIX. A Figura 5 é uma fotografia de 1909 da 
Avenida Central, idealizada por Pereira Passos.
11As cidades e as reformas urbanas no século XIX
Figura 5. Avenida Central. À esquerda, o Theatro Municipal; à direita, a Escola Nacional 
de Belas Artes (foto de Marc Ferrez [1909]). Pereira Passos idealizou e realizou a Avenida 
Central, com 1.800 metros de comprimento e 33 metros de largura, a atual Avenida Rio 
Branco, um dos mais importantes logradouros da cidade ainda hoje a exercer o papel de 
centro econômico e administrativo. É considerada um dos marcos de sua administração.
Fonte: Ferrez ([ca 1909]).
Para Passos, o intuito era “[...] interconectar as diversas regiões da urbe, 
facilitando e estimulando a circulação entre elas, a fim de que a cidade possa 
não só ser pensada, mas também funcionar como um todo orgânico”, além 
de preservar o centro histórico da cidade em termos urbanos e arquitetônicos 
(AZEVEDO, 2008, p. 15).
Para saber mais detalhes sobre a reforma urbana do Rio de Janeiro, leia o artigo “A 
reforma Pereira Passos: uma tentativa de integração urbana”, de André Nunes de 
Azevedo (2015).
As cidades e as reformas urbanas no século XIX12
Salvador
Muitos autores reconhecem Paris como uma referência para as diversas re-
formulações de cidades pelo mundo, entre elas algumas brasileiras. Além da 
cidade do Rio de Janeiro, são consideradas como uma influência recebida de 
Haussmann as reformas realizadas em Salvador e Belém.
No início do século XX, Salvador era o retrato de uma cidade suja, com 
deficiência de moradias e transportes, onde cortiços e outros tipos de moradias 
insalubres eram construídos de maneira desordenada e precária. A Figura 6, 
a seguir, mostra o Pelourinho em 1900. Segundo Britto, Mello e Matta (2017, 
p. 112):
As moradias nesta época eram, em sua grande maioria, sobrados e casas 
térreas, com a precariedade de higiene e muitas vezes em ruínas, habitadas 
normalmente por ex- escravos alforriados à procura de oportunidade de 
trabalho no centro urbano. Salvador possuía um grande fluxo de população 
e sua estrutura colonial prejudicava tal processo. As epidemias de doenças 
como tuberculose, febre amarela, cólera, febre tifoide eram constantes, a 
cidade necessitava de mudanças. A elite na época se envergonhava com tal 
situação e passou a idealizar uma cidade “civilizada”, o que ajudou a reforma 
acontecer, assim como a visão econômica, que tinha como objetivo ligar o 
porto de Salvador a outras áreas, através de meios de transportes rápidos, 
confortáveis e baratos
Figura 6. O Pelourinho em 1900.
Fonte: Salvador Bahia, Brazil, street scene ([ca 1900]).
13As cidades e as reformas urbanas no século XIX
As primeiras intervenções em Salvador foram realizadas na parte baixa 
da cidade com o objetivo de ampliar sua área, reformar o porto, melhorar sua 
circulação e salubridade. Em relação à rede viária existente, foi melhorada a 
ligação entre a parte alta e a parte baixa da cidade, e implantada uma ferrovia. 
Na malha urbana - caracterizada por ruas estreias e sinuosas, herança colonial 
- foram abertas ruas largas, onde as vias principais eram pavimentadas. Nelas 
foram incluídos serviços de água, de esgotamento, iluminação e transporte 
público. Deve-se ressaltar que, aqui, segundo Porto e outros autores (2007, 
p. 2716), “[...] a diferença é que a malha se alarga, mas não há mudança no 
traçado urbano”. Na Figura 7, vemos uma imagem de Salvador em 1875.
Figura 7. Salvador em 1875.
Fonte: Lindemann ([ca 1875]).
As grandes reformas na capital baiana foram propostas por José Joaquim 
Seabra (1855-1942), governador da Bahia entre os anos de 1912 a 1916 e depois 
de 1920 a 1924, com o objetivo de promover o progresso e a modernização de 
Salvador, para transformá-la em uma potência do Brasil. Para representar a 
modernidade, antigos logradouros e prédios antigos foram arrasados, elegendo-
As cidades e as reformas urbanas no século XIX14
-se novos espaços. A Avenida Sete de Setembro é um exemplo das novas 
construções. Nas palavras de Britto, Mello e Matta (2017, p. 112), Joaquim 
Seabra almejava “[...] o embelezamento da cidade e a instalação do progresso 
a qualquer custo, mesmo que fosse preciso derrubar monumentos e edifícios 
que faziam parte do patrimônio histórico da cidade”. As reformas tiveram 
início entre 1912 e 1916, seguindo até a década de 1940, em vista da higiene, 
funcionalidade, fluidez e novas tipologias arquitetônicas, como revelam os 
autores.
Belém
No caso de Belém, as reformas urbanas foram assumidas pelo intendente 
municipal Antônio Lemos, que assumiu o posto em 1897, no auge da economia 
da borracha. Naquele período a maior parte dos investimentos se voltou para os 
sistemas viário urbano, de saneamento e de iluminação pública. A exemplo da 
capital francesa, Belém estava passando por um processo de “embelezamento 
estratégico”, nas palavras de Porto e outros autores (2007). Lemos exaltava os 
palacetes como o padrão edilício a ser reproduzido ao longo do espaço urbano 
(CRUZ, 1973 apud PORTO et al., 2007), como se vê na Figura 8.
Figura 8. Palacete Bibi Costa.
Fonte: Porto et al. (2007, p. 2716).
15As cidades e as reformas urbanas no século XIX
Durante a administração de Lemos, o bairro chamado “Marco” foi me-
lhorado, com a abertura de novas vias no sentido nordeste-sudeste, de modo 
a adequar-se à intensificação do tráfego (Figura 9). Segundo Porto e outros 
autores (2007, p. 2716), as ruas principais abertas apresentavam 44 metros 
de largura, enquanto as transversais, 22 metros, configurando uma malha 
ortogonal e regular, onde as quadras mediam 125 x 250 metros. O plano de 
urbanização do bairro também compreendia os parques e áreas verdes, a 
exemplo da reforma feita no Bosque Rodrigues Alves.
Figura 9. Avenida Tito Franco (atual Avenida Almirante Barroso), via de saída da cidade 
de Belém.
Fonte: Porto et al. (2007, p. 2716).
Antonio Lemos ainda adotou um código de posturas para determinar 
normas para as novas construções, o que acabou retirando a população de 
renda mais baixa do centro da cidade. A legislação proibia a permanência e a 
construção de “barracos” nos bulevares construídos. No entanto o código foi 
mais abrangente no bairro do Marco, caracterizando-o de maneira diferente 
do restante da cidade.Desse modo, o bairro do Marco foi considerado como 
“[...] a primeira obra de planejamento urbano realizada em Belém” (PORTO 
et al., 2007, p. 2716).
As cidades e as reformas urbanas no século XIX16
Herança da reforma urbana
Herança “haussmaniana”
A partir das reformas empreendidas na capital francesa entre os anos de 1853, 
a cidade se tornou a “Paris de Haussmann”. Os melhoramentos no espaço 
urbano se deram com a execução de redes de iluminação, esgoto, transporte 
público, abertura de vias, construção de parques e edifícios públicos baseados 
em princípios higienistas. As reformas foram guiadas por três princípios 
básicos: “[...] circulação acessível e confortável dentro da cidade; eliminação 
da insalubridade nos bairros densos; revalorização e reenquadramento dos 
monumentos, unindo-os através de eixos viários”, de acordo com Porto e 
outros autores (2007, p. 2715).
Na metrópole francesa do século XIX, o espaço público passa a ser va-
lorizado em decorrência da abertura de bulevares, construção de praças e 
superação do então traçado urbano medieval. Adotam-se novas retículas 
viárias, que permitem um tráfego fluido pelo centro da cidade. O quarteirão 
ganha permeabilidade, enquanto que para suprir o déficit habitacional são 
construídas casas populares. Mas é importante ressaltar que as reformas de 
Haussmann almejavam uma cidade moderna, burguesa, mesmo que para isso 
fosse necessário pôr abaixo centenas de edifícios. As reformas trouxeram 
vias amplas e aspectos mais salubres para a cidade industrial, no entanto, 
acentuaram a segregação social, tal como enfatizam Porto e outros autores 
(2007), com a criação de quarteirões para os ricos e outros para os pobres.
As reformas encabeçadas por Haussmann acabaram criando um molde para 
a melhoria do espaço urbano, como afirmam os autores — “[...] abertura de 
grandes avenidas, demolições de velhas edificações, higienização da cidade e 
implantação de serviços urbanos” (PORTO et al., 2007, p. 2715), tornando-se 
uma grande influência para as remodelações das cidades europeias, assim 
como para as brasileiras.
Herança de Cerdá
Além da herança das reformas encabeçadas por Haussmann, devemos res-
saltar também a herança deixada por Cerdà, um dos primeiros teóricos do 
urbanismo da época moderna. Salienta-se que Cerdà, segundo Debrassi 
(2006), foi responsável por introduzir o conceito de urbanização, com o intuito 
de instaurar uma nova ciência dos estudos das cidades, de onde se derivou 
mais tarde a disciplina Urbanismo, como hoje a conhecemos. Juntamente 
17As cidades e as reformas urbanas no século XIX
aos parâmetros inovadores do plano de reformas para Barcelona, Cerdà 
apresenta uma extensa produção gráfica no campo do urbanismo, a partir 
de diferentes detalhes que permitem construir uma cidade. Para Francoise 
Choay, a obra de Cerdà é “[...] a certidão de nascimento e o arquétipo das 
teorias do urbanismo”, e por isso sua grande importância (CHOAY, 1985 
apud DEBRASSI, 2006, p. 74). Assim podemos concluir que o arquiteto que 
conceituou o plano regulador de Barcelona deixa uma importante herança, 
já que também traz à luz o termo “urbanismo”, e se coloca como o primeiro 
teórico da disciplina como ciência.
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19As cidades e as reformas urbanas no século XIX

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