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Teoria da H
istória
Código Logístico
58434
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6259-1
9 788538 762591
É este o percurso que esta obra busca seguir: um caminho 
por intermédio daqueles que buscaram – entre os séculos 
XVIII e XX – definir e conceituar a história. São apresentados 
historiadores, filósofos, sociólogos, filólogos e teóricos políticos 
que, cada um à sua maneira, se propuseram a contemplar esse 
conhecimento milenar, por meio do qual se tenta inventariar 
os homens no tempo e entender seu significado, seu sentido e 
seu lugar.
Em tempos de dispersão e fragmentação da informação, 
no qual as pessoas mal conseguem se manifestar, opinar e 
refletir, o leitor é convidado a se desvencilhar do imediatismo 
e da hiperconectividade para conhecer as formas pelas quais 
a história foi contemplada, direcionando o olhar sobre o seu 
objeto de estudo e tentando compreender como ocorreu a sua 
construção.
Esta obra busca apresentar diferentes matizes e olhares 
atentos sobre a história, para que o leitor também possa, por 
intermédio deles, inspirado por eles ou até mesmo para superá-
-los, construir a sua própria concepção de história.
Teoria da História
IESDE BRASIL S/A
2019
Andréa Carneiro Lobo
Eucléia Gonçalves Santos
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L782t Lobo, Andréa Carneiro
Teoria da história / Andréa Carneiro Lobo, Eucléia Gonçalves 
Santos. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019.
142 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6259-1
1. Historiografia. 2. História - Filosofia. I. Santos, Eucléia 
Gonçalves. II. Título.
19-55980
CDD: 907.2
CDU: 930.1
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: gameover2012/Silmairel/DenKuvaiev/iStockphoto
Andréa Carneiro Lobo
Doutora e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em 
Imagens, Linguagens e Ensino de História e graduada em História (Licenciatura e Bacharelado), 
também pela UFPR. Possui experiência em ensino de História, Metodologia Científica e Filosofia 
para alunos de graduação em Direito e História, com ênfase em história do pensamento ocidental, 
atuando especialmente na análise do pensamento filosófico contemporâneo (Nietzsche, Benjamin, 
Foucault, Deleuze) e teoria da história. É autora de livros didáticos nas áreas de história, filosofia, 
política e arte.
Eucléia Gonçalves Santos
Doutora e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e graduada 
em História pelas Faculdades Integradas Católicas de Palmas (Facipal). Tem experiência de en-
sino de História para alunos de cursos de graduação, especificamente em História da Educação, 
Patrimônio Histórico e História Regional, História do Direito e História da Comunicação. Realiza 
pesquisas nas áreas de história das ciências, história do Brasil e história contemporânea, com ên-
fase em história intelectual. Atua principalmente nos seguintes temas de pesquisa: história da edu-
cação no Brasil, história intelectual, construção da nação, raça e identidade nacional, trajetórias e 
biografias intelectuais, interpretações do Brasil.
Sumário
Apresentação 7
1 O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 9
1.1 O conceito de história em Vico 9
1.2 Herder: a história como o espaço da formação do espírito do povo 14
2 Filosofias da história no século XIX 23
2.1 A razão na história em Hegel 23
2.2 O materialismo histórico em Marx e Engels 28
2.3 A necessária relação entre a história e a vida em Nietzsche 31
3 A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 37
3.1 Ranke, a Alemanha e a construção do método histórico 37
3.2 Michelet e a história como narrativa da nação 43
3.3 Burckhardt e as possibilidades de uma História Cultural 45
4 A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 53
4.1 O entreguerras e a desconstrução das “certezas” do século XIX 54
4.2 A Revista Annales e a proposta de uma História Econômica e Social 55
4.3 A história como problema: inovações metodológicas e epistemológicas 58
4.4 Marc Bloch: Apologia da história 64
5 A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 69
5.1 O Instituto de Pesquisa Social e a Alemanha entreguerras 69
5.2 Teoria crítica: conceito 73
5.3 A ideia de história como redenção em Walter Benjamin 77
6 A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 85
6.1 O contexto da Guerra Fria e a emergência do revisionismo marxista 87
6.2 Nova Esquerda Inglesa: contexto, conceitos e expoentes 92
6.3 E. P. Thompson e a ideia de uma “história vista de baixo” 96
7 A História Cultural e a Nova História Cultural 103
7.1 A trajetória dos estudos em História Cultural 103
7.2 A História Cultural no bojo dos estudos da Escola dos Annales 107
7.3 A Nova História Cultural: Roger Chartier, Lynn Hunt e Jacques Revel 109
8 História e poder: abordagens contemporâneas 117
8.1 A história e o pensamento político 118
8.2 Os intelectuais e o poder 122
8.3 História intelectual e história do pensamento político: novas abordagens 126
Gabarito 135
Apresentação
A origem do termo teoria está vinculada à palavra grega theoreîn cujo significado seria: 
“olhar através de”. Em sua obra Ética a Nicômaco, o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) relacionava 
a teoria a uma bem-aventurança: a arte da contemplação, de olhar com atenção. O filósofo opunha 
o conhecimento teorético ao prático, afirmando que o primeiro era desinteressado e especulativo. 
Teorizar pode ser entendido, então, como o ato de olhar com atenção para “algo”, buscando, no 
plano racional e cognitivo, criar conceitos que expressem o que esse algo é.
É este o percurso que buscaremos seguir nesta obra: um caminho por intermédio daqueles 
que buscaram – entre os séculos XVIII e XX – definir e conceituar a história. Você será apresentado 
a historiadores, filósofos, sociólogos, filólogos e teóricos políticos que, cada um à sua maneira, se 
propuseram a contemplar esse conhecimento milenar, por meio do qual se tenta inventariar os 
homens no tempo e entender seu significado, seu sentido e seu lugar.
Em tempos de dispersão e fragmentação da informação, no qual mal conseguimos 
nos manifestar, opinar e refletir, convidamos você a se desvencilhar do imediatismo e da 
hiperconectividade para conhecer as formas pelas quais a história foi contemplada, direcionando o 
olhar sobre o seu objeto de estudo e tentando ver como ocorreu a sua construção.
Você perceberá que antes mesmo de a história se constituir como uma ciência, ela era uma 
forma de conceber a existência e a ação humana no tempo, ainda que dispersa em textos de literatos, 
estudiosos da arte, filósofos e eruditos. Notará, igualmente, que a história-conhecimento também 
tem uma trajetória repleta de diferentes definições. 
Este saber, que em seu processo de institucionalização (ainda no século XIX) ocupou-se em 
inventariar o Estado-nação, narrou o que acreditava ser “o” passado e sofreu mudanças no século 
XX. Visto sob o viés da cultura, o saber histórico buscou entender como os homens representam e 
significam o vivido, o imaginado e o criado. Esse mesmo saber, visto sob um viés social, se interessou 
pelas camadas populares, evidenciando um olhar de “baixo para cima” para tornar possível uma 
“história vista de baixo”. Houve, ainda, quem enfatizasse as relações/disputas de poder e as formas 
de opressão do presente para dar visibilidade e voz aos oprimidos do passado, com o objetivo de 
mudar os rumos de uma tradição de opressão e criar possibilidades de emancipação e redenção.
A história é um constructo linguístico, um discursoque manifesta o devir, fluxo intermitente 
dos acontecimentos relacionados ao percurso humano no tempo. Esse discurso não apresenta uma 
tonalidade única: ele se expressa por meio de diferentes olhares, com diferentes matizes, sem que 
nenhum deles possa ser considerado “o verdadeiro olhar” sobre a história. A escrita forjada por 
esse saber é também histórica, pois o conjunto de fenômenos que compõe cada época a influencia. 
O que buscamos aqui é apresentar a você alguns desses matizes e olhares atentos sobre a 
história, para que você também possa, por intermédio deles, inspirado por eles ou até mesmo para 
superá-los, construir a sua própria concepção de história.
Boa leitura!
1
O século XVIII e a história, 
entre o Iluminismo e o Romantismo
A partir de agora, iniciamos nosso percurso acerca do pensamento sobre a história na 
modernidade, partindo do século XVIII até o século XX.
Neste primeiro capítulo, abordamos a forma que a história, como conhecimento, tornou-se 
objeto de interesse e discussão entre teóricos e filósofos do século XVIII, passando a adquirir um 
contorno próprio e, aos poucos, diferenciando-se da filosofia e das ciências naturais.
Esse tipo de conhecimento – o qual até então encontrava-se disperso entre textos de 
epistemologia e teoria da ciência – atraiu o interesse de filósofos ligados a dois movimentos 
diferentes no século XVIII: o Romantismo e o Iluminismo. Os textos escritos por esses teóricos, 
sobre a história, se inserem em um contexto de tentativa de compreensão do homem, do 
conhecimento e do tempo, contexto esse permeado por uma noção de temporalidade linear e 
progressiva, a qual, segundo acreditavam os adeptos da ciência moderna, levaria ao progresso.
Inicialmente, vamos conhecer a compreensão a respeito da história oriunda do pensamento 
romântico, partindo de um filósofo cujo pensamento é tido, ao mesmo tempo, como expoente e 
crítico do Iluminismo, e precursor do Romantismo: o italiano Giambattista Vico (1668-1744).
Na sequência, abordamos como se desenvolveu uma filosofia da história permeada pela 
ideia de que a história local – relativa ao modo como cada povo se desenvolve no tempo – é a 
chave para ter acesso à alma do povo, em oposição a uma ideia iluminista de história, mediante a 
análise do pensamento de Johann Herder (1744-1803). O objetivo é conceber, na atualização do 
pensamento acerca da história no século XVIII, as raízes da concepção moderna de história.
1.1 O conceito de história em Vico
Giambattista Vico nasceu em Nápoles, filho de um modesto livreiro, fator que, desde 
muito cedo, lhe proporcionou o contato com as letras e os autores. Tendo aprendido letras e 
estudos clássicos com preceptores jesuítas, estudou os filósofos antigos (entre os quais, Platão e 
os epicuristas) e contemporâneos. Atuou como tutor de filhos de famílias nobres e graduou-se 
Doutor em Lei Canônica e Civil na Universidade de Nápoles, instituição na qual ocuparia a cadeira 
de Professor de Retórica até o fim da sua vida (JOANILHO, 2004).
Tendo frequentado tanto os círculos de estudos do pensamento epicurista antigo quanto 
os do pensamento cartesiano moderno, por volta de 1695 viveu a perseguição que essas ideias 
sofriam no contexto da inquisição católica – ainda muito forte e presente ao fim do século XVII 
na Itália –, e acabou se afastando do cartesianismo. Por outro lado, nesse mesmo período, Nápoles 
vivia uma espécie de pequeno renascimento cultural, o qual ficou conhecido como Risorgimento, 
caracterizado por um intenso debate literário-filosófico-científico (JOANILHO, 2004).
Teoria da História10
Ao assumir a cadeira de Retórica, em 1699, passou a sistematizar as suas primeiras obras, 
em sua maioria, escritas com base nos discursos que preparava para se dirigir aos alunos no início 
de cada ano escolar. No entanto, sua principal e definitiva obra é Ciência Nova, publicada pela 
primeira vez em 1725, e que depois de mais duas revisões, foi publicada em sua terceira versão no 
ano de sua morte, 1744 (JOANILHO, 2004).
Uma das principais ideias de Vico presente nessa obra e que o tornou precursor de um 
método histórico para uma história cultural – o qual seria posteriormente aperfeiçoado por 
historiadores como o francês Jules Michelet (1798-1874) e o suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) 
– é a percepção que ele trouxe para a filosofia, de que os homens estão imersos na sua época e 
contexto social, disso dependendo suas aptidões, habilidades, instituições, engenhos e linguagem 
(JOANILHO, 2004).
Permeado pelos debates filosóficos e acadêmicos de sua própria época, em sua obra Ciência 
Nova mostra-se ciente das questões filosóficas de seu tempo – principalmente, do debate entre 
os partidários de uma “antiga ciência” e os defensores de uma “nova ciência” (estes, imbuídos 
dos preceitos trazidos pelo cartesianismo) – e se posiciona frente a tais debates, expressando-se 
favorável à valorização de determinados campos da pesquisa científica que, em sua opinião, estavam 
sendo oprimidos e sufocados pela expansão do pensamento cartesiano (JOANILHO, 2004).
No centro da “querela dos antigos e modernos”, situava-se mais próximo à defesa da 
superioridade dos modernos sobre os antigos. Para ele, estes eram “a juventude do mundo” 
(MATEUS, 2013), enquanto aqueles dispunham, além do conhecimento acumulado de tempos 
anteriores, ferramentas totalmente novas para se apropriar desse conhecimento (JOANILHO, 
2004).
Para os defensores de um saber dito “moderno”, entre eles o dramaturgo francês Bernard 
de Fontenelle (1657-1757), os antigos – sobretudo gregos e latinos – e seus saberes constituíram a 
infância do conhecimento. Mas, uma vez que ele muda conforme o tempo passa e é cumulativo, 
tende a adquirir uma feição cada vez mais aperfeiçoada, fato que se comprovava mediante a 
constatação das inovações técnicas e dos avanços científicos daquele contexto – Europa de fins do 
século XVIII (JOANILHO, 2004).
Essa percepção de um “tempo que passa”, encontrava-se, ela também, influenciada pela 
expansão de uma inovação técnica desses anos de transição do século XVII para o XVIII: a difusão 
do relógio mecânico com pêndulo e ponteiro para a visualização da passagem dos minutos. 
A impressão de uma maior precisão na contagem do tempo intensificou a percepção de que ele 
fluía intermitentemente, assim como as ações humanas (JOANILHO, 2004). À noção de 
conhecimento cumulativo se coadunava a noção de progresso, presente, por exemplo, nos 
postulados de uma “filosofia da História”, manifesta no pensamento de Francis Bacon (1561-1626).
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 11
A Figura 1 mostra um exemplo desse tipo de relógio.
Na querela entre antigos e modernos, podemos afirmar que Vico 
se aproxima mais dos que defendem a ciência moderna, mas entende o 
conhecimento da sua época como “melhor” não porque representaria a 
acumulação de conhecimentos anteriores ou porque a sua época seria melhor 
do que as demais: pelo contrário, para Vico, cada época tem seus próprios 
valores, especificidades e saberes. Contudo, ele entende o conhecimento de 
seu tempo como melhor por ser permeado por uma perspectiva mais racional 
se comparado a épocas anteriores (JOANILHO, 2004).
Ainda acerca da forma como concebia o conhecimento, vale destacar 
que Vico perseguia uma ideia de “conhecimento total”, ou, segundo Joanilho 
(2004, p. 73), aquilo que o filósofo Michel Foucault chamava de mathêsis1, um 
conhecimento sem interrupções, que passaria e abrangeria as várias ciências, 
vindo da matemática, passando pela filosofia, medicina, astronomia e assim 
seguiria seu fluxo, como se a ideia fosse o caminho a ser percorrido e os 
diferentes saberes, os vários percursos ao longo desse caminho (JOANILHO, 
2004). A chave que daria acesso a um desses saberes possibilitaria o acesso a 
todos os outros.
O ponto crucial a partir do qual esse conhecimento total poderia ser 
acessado, a “chave mestra”, era a linguagem. O núcleo de sua teoria sobre atotalidade do conhecimento era, portanto, a palavra, pois, por meio dela e do 
estudo sobre os nomes que as civilizações dão às coisas e às ideias (a filologia) 
é que se pode conhecer a história.
Para Vico, a verdade é o conhecimento das causas. E o homem só consegue conhecer 
verdadeiramente – ou seja, conhecer por meio das causas – aquilo que ele mesmo produziu e 
criou. Não é possível ao homem ter acesso ao conhecimento verdadeiro da física ou da natureza 
por intermédio de suas causas, pois não se tratam de criações humanas. Já a matemática, que é 
uma invenção humana, é possível de se constituir em objeto de conhecimento. Assim como a 
matemática, as artes, a literatura e a história eram possíveis de serem conhecidas, por se tratarem 
de criações humanas.
Dentre os saberes criados pelos homens, a história estaria em um grau mais elevado 
porque, para conhecê-la, necessitamos de um conhecimento a mais: a imaginação. Por meio dessa 
faculdade, aquele que se dedica à história poderia perscrutar o porquê das ações humanas, suas 
motivações e intenções. Ou seja: por meio da história, se poderia chegar às causas que fariam dos 
homens aquilo que eles são, uma possibilidade de conhecimento verdadeiro (por intermédio das 
causas) acerca da condição humana (JOANILHO, 2004).
1 O termo e sua interpretação nos são apresentados por Foucault na obra As Palavras e as Coisas. Para saber mais, 
consulte: FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
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Figura 1 – Relógio de pêndulo 
antigo, usado no interior de 
residências
A descoberta do relógio de 
pêndulo pelo físico holandês 
Christiaan Huygens (1629-1695) 
em 1656 permitiu uma maior 
precisão na contagem do tempo.
Teoria da História12
Embora o homem desconheça a causa do seu próprio ser – porque ele também não cria 
a si mesmo –, ele pode, por meio da história (valendo-se da razão, mas também da imaginação) 
conhecer as intenções de suas ações, aproximando-se, assim, da possiblidade de entender o sentido 
da sua existência.
Vico entende o conhecimento por meio da história como o conhecimento verum est factum 
(o verdadeiro é feito), ou seja, o verdadeiro é o feito, são as ações; essa seria a única maneira de se 
conhecer aquilo que somos (ou que nos tornamos). De outros saberes – como a física e a astronomia, 
que se voltam para objetos naturais e não criados pelo homem –, só podemos ter um tipo de 
conhecimento, que Vico denominou como certum. Em outras palavras, desses conhecimentos 
podemos ter apenas algumas certezas, mas não atingir a verdade sobre eles, porque desconhecemos 
suas causas (JOANILHO, 2004).
Mas voltemos à compreensão que Vico manifestava sobre o conhecimento histórico e porque 
ela foi tão original em sua época. Segundo ele, ao se buscar entender a condição humana por meio 
da história, seria possível constatar que essa existência fora caracterizada por três grandes eras: a 
Era dos Deuses, a Era dos Heróis e a Era dos Homens. Ele chegou a essa constatação com base em 
um estudo minucioso de obras literárias e filosóficas da Antiguidade, exercício que demandou um 
profundo conhecimento da linguagem e dos seus significados em diferentes épocas. De acordo 
com ele, por meio da linguagem (criação humana) pode-se inferir o que pensavam os homens em 
cada época, suas perspectivas acerca do mundo e suas ações.
Sua teoria sobre as “eras” era também a demonstração empírica de seu argumento, segundo 
o qual pode-se conhecer as causas sobre a existência humana por meio do estudo da linguagem e 
da história.
Joanilho (2004, p. 78) sintetiza cada uma dessas fases e suas características:
A primeira começa logo após o dilúvio, quando os homens se espalham 
pelo mundo e acabam perdendo sua humanidade. Vivendo como animais, 
se aterrorizam com os trovões e tempestades e atribuem esses fatos às 
manifestações das divindades. Buscam lugares altos e protegidos, estabelecendo-
-se e deixando de ser nômades. Não há leis e impera os mais fortes. Os mais fracos 
buscam auxílio e proteção com estes, tornam-se servos e inicia-se a segunda 
era, a dos heróis. Os servos, por sua vez, entram em conflito com os senhores, 
que se tornaram aristocratas e reivindicam leis e igualdade. Com a concessão 
de direitos, os plebeus se aproximam dos nobres e surgem as democracias ou 
repúblicas populares, iniciando-se a idade dos homens.
A essência humana é uma só, mas se manifestou de maneira diversa em cada uma dessas 
fases, ou seja, a cada uma dessas “eras”, os homens apresentaram um tipo de natureza diferente, 
a saber: poética, criativa ou divina; heroica; e uma natureza humana, na terceira fase. Barros 
(2010, p. 39) assim descreve a esse respeito:
A cada uma dessas idades corresponde uma natureza humana diversa, ou seja, 
diferentes características humanas. A primeira natureza é “poética”, “criativa” 
ou “divina”, por que a imaginação, exercendo um papel predominante, cria uma 
visão religiosa do mundo que afeta todas as instituições sociais. Os homens 
vivem sob o domínio dos sacerdotes e de suas interpretações da vontade 
dos deuses. A segunda fase é “heroica”, por que reconhece e honra a Força, o 
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 13
Valor e o Heroísmo, fazendo destes princípios as bases dos estatutos sociais, 
econômicos, legais e políticos. É a era da fundação das cidades, das conquistas 
marítimas e das guerras heroicas, como a Guerra de Tróia. A terceira natureza 
é “humana”, por que os homens já possuem a capacidade de raciocinar sobre as 
coisas e compreender sua verdadeira natureza. Surgem então os legisladores tais 
como Moisés, Zoroastro e Hermes Trimegistro.
Vico deduziu essas três naturezas humanas a partir do modo como os seres humanos em 
cada época expressaram, por meio da linguagem, seu modo de pensar, de ser, de estar no mundo e 
de compreendê-lo também.
Na era dos deuses, a escrita era hieroglífica e perpassada principalmente pelo temor que 
os homens tinham em relação aos deuses. Por esse motivo, ela era essencialmente metafórica e 
poética, e se manifestava, inclusive, nos textos legais do período. Já na era dos heróis, a linguagem 
adquire um caráter narrativo, épico, demonstrando uma certa consciência dos homens em relação 
a si mesmos e ao universo, embora os tempos ainda fossem de violência e de horror. Os textos 
expressam essa violência, manifestando a crise das leis poéticas da era anterior – as leis passam a 
ser mais duras, pois são deturpadas para legitimar a dominação da aristocracia sobre os plebeus.
A partir das lutas desses últimos por maiores direitos e participação política, se desenvolvem 
governos mais participativos (as repúblicas) nos quais as leis, mais brandas e justas, manifestam, 
em uma linguagem permeada pela racionalidade e equilíbrio, um maior conhecimento do homem 
sobre si mesmo (JOANILHO, 2004).
O problema é que ao atingir certa estabilidade a partir dessa era, os homens tendem a se 
perder nos excessos, no luxo, na vaidade, na luxúria, colocando a perder tudo o que conquistaram, 
recaindo ciclicamente em um nova era de barbárie, da qual só conseguem sair à medida que 
aprendem com seus erros e sofrimentos. O pensamento do filósofo italiano manifesta, assim, uma 
compreensão de história não necessariamente cíclica, mas espiral. Lembremos que Vico desenvolve 
seu raciocínio em uma época na qual a ideia de progresso e de tempo linear ainda está em gestação, 
o que posiciona o seu pensamento entre uma ideia cíclica e uma ideia linear de temporalidade, uma 
espécie de meio-termo.
Mas, se a condição humana tem uma essência que é mais ou menos comum, e que se apresenta 
em diferentes naturezas e fases, para onde caminha a espiral da história humana? Segundo Joanilho 
(2004), para Vico, é em direção a Deus que caminham os homens. A história humana é a realização 
da vontade divina, para a qual os homens de fato se encaminham – ainda que não tenham total 
conhecimento disso. A história é o caminho do desconhecimentopara o conhecimento, do errado 
para o certo e do finito para o infinito, processo no qual, por meio dos acontecimentos, é despertada 
a consciência dos homens sobre seu sentido no tempo, conforme destaca Joanilho (2004, p. 84):
Para Vico, a história não é idealista. O intelecto não a apreende abstratamente, 
mas de modo imanente, ou seja, vivendo-a no tempo. A partir dessas formulações 
podemos compreender que o homem tomou para si o tempo. Ele é o soberano 
da sua própria história e a Providência é a fonte de inspiração, por isso aquela é 
processual. Uma longa cadeia de acontecimentos que despertam a consciência 
no ser de sua existência.
Teoria da História14
Em outras palavras, para Vico, a história não é algo que tenha fim, mas o fim manifesta-se em 
seu próprio processo: ela é a trajetória dos homens em busca de si mesmos, de seu autoconhecimento 
e aperfeiçoamento ao longo do tempo.
A seguir, vamos ver como o pensamento de outro filósofo, que viveu no século XVIII, 
também se debruçou sobre o sentido e a finalidade da história, contudo, de modo distinto ao 
de Vico.
1.2 Herder: a história como o espaço da 
formação do espírito do povo
Dentre aqueles que se dedicaram a pensar a história no século XVIII, o filósofo Johann 
Herder foi o que mais teve influência sobre o conceito de história que se consolidaria no século 
seguinte, influenciando também na construção moderna de noções como povo, cultura e Estado.
Ainda que originais sob vários aspectos, suas ideias sobre história e povo encontram-se 
situadas em um contexto intelectual mais amplo, surgido na Alemanha do século XVIII, e que 
se estendeu para as primeiras décadas do século XIX, conhecido como Romantismo. Por isso, 
antes mesmo de tentarmos compreender o pensamento de Herder acerca da história, é necessário 
“mergulharmos” no mundo obscuro, denso e forte da estética e do pensamento romântico.
1.2.1 O (primeiro) Romantismo alemão
Observe com atenção a obra de Caspar David Friedrich (1774-1840), pintor envolvido com 
o movimento romântico alemão.
Figura 2 – Nascer da Lua no Mar, de Caspar David Friedrich (1822).
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Fonte: FRIEDRICH, Caspar David. Nascer da Lua no Mar. Óleo sobre tela: 55 x 71 cm. Nationalgalerie, Berlim.
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 15
Note que os personagens representados estão de costas para nós, expectadores, e que se 
encontram absortos contemplando o nascer da lua no horizonte, enquanto embarcações deslizam 
em meio ao mar calmo, permeado por tonalidades escuras de azul, verde e cinza. Na cena 
representada, os elementos naturais (céu, pedras, mar, terra) ocupam um espaço muito maior que 
os seres humanos (em primeiro plano) e as coisas materiais por eles criadas (os barcos), mostrando 
a pequenez da condição humana diante da natureza.
Note também que a intenção de Friedrich não foi que o expectador do seu quadro 
vislumbrasse o nascer da Lua: o artista parece querer que a atenção se volte para a contemplação e 
a perplexidade dos personagens do seu quadro diante do nascer da Lua. É como se ele quisesse que 
nós víssemos o deslumbramento daquelas três pessoas diante da natureza. Elas estão em silêncio, 
parecem interiorizadas, ensimesmadas, pensativas, e esse estado de interiorização é provocado 
pela observação atenta, silenciosa e respeitosa da imensidão e do poder da natureza circundante.
Temos em uma única obra alguns dos elementos mais representativos do Romantismo: 
o apelo à interiorização e à imaginação; a evocação à atitude contemplativa; a valorização da 
natureza (especialmente do seu lado mais obscuro, noturno, silencioso, quase sombrio); o desprezo 
à técnica, à vida urbana e ao progresso, e a evocação ao lado espiritual, imaginativo, do ser humano 
em oposição à razão. Esses elementos se manifestaram entre os expoentes do Romantismo, 
sobretudo do chamado “Primeiro Romantismo”, surgido na Alemanha do final do século XVIII, 
tanto nas artes plásticas quanto na literatura, na filosofia e no pensamento acerca da história.
Sobre o “Primeiro Romantismo” alemão, podemos afirmar que surgiu no bojo do 
pensamento de filósofos como Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) e Immanuel Kant (1724-1804), 
sobretudo nas brechas abertas pelo chamado “criticismo kantiano” e ao questionamento acerca dos 
limites da razão, em um ambiente intelectual ainda bastante influenciado pelo Iluminismo.
No interior do sistema filosófico kantiano, suas “três críticas” – como ficou conhecido o 
conjunto formado pelas obras Crítica da Razão Pura, de 1781; Crítica da Razão Prática, de 1788, e 
Crítica do Juízo (1791) – chamaram a atenção para as possibilidades e, sobretudo, para os limites 
da razão, apontando que suas faculdades fazem mais perguntas do que essa mesma razão é capaz 
de responder (SOUZA, 2017).
Sua teoria sobre o sujeito transcendental propôs que o sujeito (e não o objeto) é o centro em 
torno do qual gravita o conhecimento. Para o filósofo, esse mesmo conhecimento diz muito mais 
sobre aquele que conhece do que propriamente sobre o objeto. O sistema kantiano representou um 
abalo significativo na tradição filosófica – principalmente em um determinado ramo da filosofia 
conhecido como metafísica – ao indicar que a razão é incapaz de dar conta de questões essenciais 
da existência humana.
Ainda que Kant possa ser considerado um expoente do pensamento iluminista, 
principalmente em virtude de seu manifesto “Resposta à pergunta: que é o esclarecimento” (1783), 
suas ideias abriram caminho para algumas das principais críticas ao pensamento iluminista, 
conforme destaca Souza (2017, p. 2-3):
Teoria da História16
O sistema filosófico proposto por Kant através das três críticas provocou uma 
verdadeira mudança de perspectiva na filosofia. O sujeito transcendental passa 
a ser o centro das investigações filosóficas, não mais o objeto. Uma das grandes 
questões que atravessa a filosofia kantiana é uma questão epistemológica: O que 
é possível conhecer através da razão? A resposta a essa questão epistemológica se 
encontra na esfera ontológica: o homem é habitado por uma razão que não lhe 
fornece instrumentos suficientes para responder a todas as perguntas, ou seja, a 
capacidade de questionar é infinitamente superior à capacidade de responder. Ao 
problematizar os limites da razão, Kant acaba por evidenciar a insuficiência da 
razão para solucionar as questões metafísicas que permeiam a existência humana. 
O sistema filosófico kantiano anuncia, de certa forma, o fim do iluminismo. 
O movimento iluminista, que se inicia em França e se espalha pela Europa no 
século XVIII, tinha a razão como o motor do progresso humano, um progresso 
conquistado por uma via positivista e, de certa forma, mecanicista.
Admirador e continuador do trabalho iniciado por Kant, Fichte buscou no interior do 
sistema filosófico kantiano (sobretudo em suas “três críticas”) um elemento comum que permeasse 
o criticismo e que pudesse servir de base para uma “filosofia científica” kantiana. Esse elemento 
sólido, que perpassaria todo o sistema kantiano e se tornaria a base do pensamento fichteano, é 
aquilo que Fichte chamou de “Eu”, isto é, ato originário que fundamenta toda filosofia (SOUZA, 
2017).
Em suma, esses dois postulados – a certeza de que há limites para o que a razão consegue 
conhecer; o “Eu” é algo que não pode ser totalmente conhecido e compreendido, mas constitui a 
referência filosófica originária – acabaram se constituindo como os instrumentos por meio dos 
quais o movimento romântico – se contrapondo às pretensões iluministas assentadas sobre o 
domínio da razão – propôs novas bases para pensar o conhecimento filosófico, científico, as artes, 
a literatura e a história.
Em suas origens, portanto, o Primeiro Romantismo alemão emergiu, por um lado, como 
uma reação ao Iluminismo, mas, ao mesmo tempo, não teria sido possível sem ele. Foi também 
antecedido – e influenciado – por um outro movimento igualmente surgido na Alemanha: o Sturm 
und Drang(Tempestade e ímpeto)2.
Em busca de uma definição do Romantismo, nos valemos das palavras de Baumer (1977, p. 23):
Na verdade, o Movimento Romântico foi tanto uma revolução como uma contra- 
-revolução [sic]. De fato, pode considerar-se como o primeiro grande protesto 
contra o “mundo moderno”, isto é, a civilização científico-racional que começara 
a formar-se no século XVII, e que assumira grandes proporções no século XVIII.
Ainda sobre o Romantismo, assim se refere Baumer (1977, p. 26):
Que era, essencialmente, o Romantismo? É mais fácil dizer o que não era ou 
a que se opunham os românticos europeus. John Stuart Mill, que não era um 
2 Movimento literário nascido na Alemanha cujo nome foi inspirado na peça homônima do dramaturgo Friedrich Klinger 
(1752-1831), estreada em 1776. Uma das principais características do movimento era a crítica à influência da cultura 
francesa na cultura literária alemã. Seus expoentes eram escritores que se propunham a resgatar aspectos literários locais 
(ligados ao folclore nacional alemão), e da poesia homérica e bíblica, contra o Classicismo e aquilo que denominaram 
como preciosismo da métrica, e combater a influência francesa na cultura alemã. Acreditavam que a criação poética, mais 
do que uma criação racional, deveria ser originada do impulso irracional. Dentre seus principais expoentes, destacaram-se 
Johann von Goethe (1749-1832), amigo de Klinger, Friedrich Schiller (1759-1805) e Jacob Lenz (1751-1792).
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 17
romântico mas um observador atento e simpatizante, pôs o seu dedo infalível 
no que os românticos não gostavam. O romantismo, afirmou ele num ensaio 
sobre Armand Carrel (1837), representavam uma reacção “contra a estreiteza do 
século XVIII”. (...) Os românticos consideravam esse mundo demasiado estreito, 
por causa de sua devoção, segundo julgavam, ao pensamento geométrico e à 
aliada doutrina do neoclacissismo, ou ainda ao empirismo lockeano. O espírito 
geométrico, embora metafisicamente posto de parte, tentava sujeitar toda a vida 
à razão, e assim mecanizá-la e humilhá-la. O Neoclacissismo, desejando, do 
mesmo modo, procurar modelos ideais da natureza, impunha regras universais 
e rígidas à arte e aos artistas. O Empirismo melindrava pela razão oposta, porque 
era demasiado céptico e limitava terrivelmente o conhecimento humano ao 
mundo das aparências.
No campo estético, podemos afirmar que o Romantismo foi uma reação à tendência 
neoclássica (surgida por volta de 1750) e que buscava resgatar preceitos relacionados à arte 
da Antiguidade Clássica Greco-Romana. No campo das ideias, principalmente o Primeiro 
Romantismo, manifestou-se como um ataque ao ideal de homem e de conhecimento racional 
proposto pelo Iluminismo, evocando, no homem, sua condição espiritual, irracional, sobrenatural 
e sua busca pelo eterno no infinito, sendo que esse infinito pode ser perscrutado no próprio interior 
do homem.
Mergulhado em suas próprias profundezas, o homem do Romantismo busca, ainda, a 
reconciliação com a natureza circundante, e com sua própria natureza, por meio da atitude 
intuitiva, contemplativa e imaginativa. A revista alemã Athenäeum, lançada pelos irmãos August e 
Friedrich Schlegdel, pode ser considerada um dos epicentros a partir do qual as ideias românticas 
se expandiram, afetando outros literatos e filósofos, entre eles, o poeta Georg Philipp Friedrich 
von Hardenberg (chamado de Novalis); o poeta e filósofo Friedrich von Schiller e o dramaturgo 
Ludwig Tieck. Na filosofia, destacaram-se os nomes de Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher e 
Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling. Na música, os destaques foram Ludwig van Beethoven e 
Johannes Brahms.
Vejamos, agora, de que forma o pensamento do filósofo e escritor alemão Johann Herder, 
influenciado por preceitos do Primeiro Romantismo, manifesta um entendimento acerca da 
história permeado pela noção de história como processo por meio do qual se forma o espírito de 
um povo, isto é, um processo em que cada povo se forma e se torna único no tempo e no espaço.
1.2.2 A ideia de história em Herder
“Cada nação e também cada época [...] tem em si o centro de sua 
felicidade, tal como cada esfera tem o seu centro de gravidade”. 
(HERDER apud BAUMER, 1977, p. 52)
Johann Gottfried Herder (1744-1803) nasceu em Morag, atual Polônia, e faleceu em Weimar, 
na Alemanha. De família humilde, estudou filosofia, teologia e literatura em Königsberg, onde 
teve contato com o filósofo iluminista Immanuel Kant (1724-1804), do qual foi por um tempo 
discípulo, vindo a discordar, posteriormente, da ideia kantiana de história. Foi ordenado pastor 
protestante e mudou-se para Riga, onde atuou como pregador e professor. Foi nestes primeiros anos 
de magistério que publicou sua primeira obra importante: Fragmentos sobre uma nova literatura 
Teoria da História18
alemã, de 1767, com apenas 23 anos de idade. Nela, defende a originalidade da literatura alemã 
em sua procedência popular e rechaça a influência da literatura francesa.
Em 1769, após uma viagem até a França – onde teve contato com Jean-Jacques Rousseau 
(1712-1778) e com os enciclopedistas –, escreveu uma das principais obras inspiradoras do 
movimento Sturm und Drang, a saber, Fragmentos, suas Silvas Críticas, na qual exalta a arte nacional, 
o individualismo e o sentimento. Publicaria ainda outras obras relativas à origem da língua alemã 
em 1772, e, entre 1778 e 1779, As Vozes dos Povos em Cantos, na qual arrola ao lado de seus próprios 
poemas, textos de Homero, de Goethe, de livros da Bíblia e alguns poemas populares, denotando a 
influência do classicismo em seu pensamento e também a tentativa de evocar e valorizar a literatura 
e a língua como expressões de identidade dos povos.
As obras que nos interessam mais diretamente são dois ensaios nos quais escreve sobre a 
história: Também uma Filosofia da História para a Formação da Humanidade, de 1774, e Ideias 
para uma Filosofia da História, escrita entre 1784-1791, essa última inacabada. Abordamos, agora 
a ideia de história que se deslinda nesses dois livros de Herder e como se constituiu uma das bases 
teóricas do historicismo.
Segundo Baumer (1977), as teorizações de escritores românticos como Herder, encontram-
se inseridas em um projeto maior, relativo à forma como concebiam o indivíduo, a sociedade e 
as relações desta última com o Estado. Por isso, não é incomum encontrarmos poetas, filósofos 
e historiadores românticos envolvidos com textos que serviriam de inspiração para diferentes 
correntes políticas, desde o socialismo, passando pelo anarquismo e pelo nacionalismo, embora 
eles não tenham necessariamente pretendido isso.
Dentre as ideias manifestadas por esses autores, está o conceito de organismo social, segundo 
o qual, o Estado formaria (ou deveria formar) um conjunto orgânico e uma unidade moral 
relativamente à sociedade que representa. Essa ideia aparecia como uma possiblidade de reação 
ao eventual caos ocasionado pelos movimentos revolucionários instigados pelas ideias iluministas, 
que traziam consigo, segundo esses mesmos pensadores, a dissolução dos laços por meio dos quais 
os indivíduos tinham consciência de si, de sua origem e de seu lugar. Tal concepção ficou marcada, 
também, pela crítica desferida aos pensadores iluministas, que, em sua apologia à razão, pareciam 
ignorar os problemas sociais (BAUMER, 1977).
Os românticos alemães (especialmente Herder e Fichte), em suas formulações sobre ciência 
política, atacavam a forma “geométrica” pela qual os iluministas concebiam o Estado e propunham, 
em vez disso, uma ciência política assentada em uma “base biológica”. Segundo esses pensadores, os 
Estados, em seu processo de constituição, seguiriam um ritmo que se assemelharia à constituição 
de outros elementos da natureza (como as árvores) e a história seria o processo por meio do qual 
essa coisa orgânica (o Estado) se formaria, ao longo do tempo. Desse modo, os Estados seriam 
formações históricasda natureza (BAUMER, 1977).
É importante considerar que o modo como esses estudiosos compreendiam o Estado está 
associado ao conceito de povo ou nação, frisando-se, também, que a própria ideia de povo como 
elemento constitutivo do Estado é uma ideia romântica, mais especificamente do romantismo 
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 19
alemão. Ao termo volk (povo), Herder acrescentou a palavra geist (espírito, alma), originando-se 
dessa junção volksgeist (alma do povo).
Essa ideia de povo ou nação como base constitutiva do Estado – formando com ele um 
único organismo social – não invalidava a forte defesa do individualismo, característica constante 
do pensamento desses teóricos românticos. A nação não anulava o indivíduo, mas era ela também 
concebida como um grande indivíduo, algo único em relação às demais nações. Existiria, portanto, 
uma “individualidade”, uma unicidade das nações, a qual se expressaria, segundo Herder, na alma 
de cada povo, por meio da sua linguagem, literatura e religião (BAUMER, 1977).
Essa “alma” e seus aspectos constitutivos se formariam ao longo do tempo, sendo a história o 
estudo capaz de inventariar os povos no tempo. Tal ideia se desenvolveu em Herder, quando ainda 
na juventude empreendeu a viagem de Riga, na Letônia, até a França. A experiência resultou na obra 
Fragmentos da Literatura Alemã (1767) e trouxe a certeza de que cada lugar carrega as peculiaridades 
de sua gente, e que, assim como a natureza, cada volk expressa a diversidade da existência humana.
Notemos que, segundo Baumer, para Herder a origem do Estado não é um contrato – como 
defendia, por exemplo, o filósofo político inglês John Locke (1632-1704) –, e sim, o povo, um 
organismo vivo, dinâmico, que nasce, cresce e se desenvolve no tempo. Sendo um organismo 
vivo, cada povo tinha direito a ser o que era, isto é, não ser dominado e nem controlado por 
nenhum outro povo. Por isso, Herder defendia uma espécie de “direitos culturais” (o termo cultura 
ainda não era empregado nessa época) de todos os povos, especificamente o povo alemão3.
O jeito único de cada povo, sua “alma” ou “espírito”, se desenvolveria no tempo, desde o 
passado até o presente, e o estudo que permitiria acompanhar e inventariar esse desenvolvimento 
seria a história. Vemos que a noção romântica de história destoa e, até mesmo, se opõe ao 
pensamento iluminista acerca da história. Isso pode ser percebido, sobretudo no texto de Kant, 
Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita, de 1784.
No texto em questão, Kant trata de um desenvolvimento histórico universal e cosmopolita 
da razão no sentido do seu progresso, projetando esse desenvolvimento de um estágio menos 
desenvolvido, quase selvagem no passado, para um aprimoramento ascendente a se realizar no 
futuro. Enquanto iluministas, como Kant, concebem no futuro a direção para a qual caminham os 
homens; românticos, como Herder, se voltam para o passado, concebendo em tempos pretéritos 
a origem daquilo que faz com que cada povo seja único. A Herder interessa menos o caráter 
cosmopolita e universal da razão e mais o aspecto único e diferenciado de cada volk, manifestado 
em seu volksgeist.
Essa quase devoção dos românticos – em especial, de Herder – ao passado se justificava 
também em virtude de uma crítica aos filósofos iluministas, os quais, segundo Herder e Jules Michelet 
(historiador francês que vamos conhecer no Capítulo 3), haviam submetido a história à filosofia, o 
passado ao futuro e, em nome da razão, realizado uma fenda abrupta entre presente e passado.
3 É importante lembrar, no entanto, que a Alemanha não formava, naquele contexto (fim do século XVIII), um Estado 
unificado, mas vários Estados independentes, vários territórios limítrofes habitados por pessoas que tinham, em sua 
maioria, uma mesma origem étnica e eram falantes de uma mesma língua. Dentre esses Estados, o maior, mais forte 
militarmente, era o Estado prussiano.
Teoria da História20
A empatia romântica da história está contida, de facto na concepção orgânica 
da sociedade. [...] Os românticos, vivendo numa época de rápidas mudanças, 
viram a loucura de cortar completamente com o passado, de acreditar mais na 
razão nua do que na história. Aprenderam a venerar os seus antepassados mais 
do que a lamentá-los, a ver, na noção histórica, uma sociedade com a qual se 
podiam identificar mesmo enquanto crescia. (BAUMER, 1977, p. 51)
Em virtude de seus posicionamentos no que tange ao passado e à história, Herder é 
considerado por teóricos como Baumer (1977) um dos precursores e até mesmo fundadores do 
historicismo, tendência a partir da qual o pensamento europeu passou a conceber a dinâmica das 
sociedades como algo que tem uma origem em um passado e se realiza ao longo do tempo, e 
que pode ser compreendida à luz do estudo dos vestígios deixados no espaço por essas mesmas 
sociedades.
Herder, por exemplo, buscava entender a trajetória do povo alemão, seu “fazer-se” no tempo, 
estudando reminiscências populares da literatura alemã. Entedia a história como uma espécie 
de luta entre forças espirituais para fazerem frente e resistirem diante de forças consideradas 
materiais, algo que o idealismo do filósofo alemão Georg Hegel (conforme veremos no Capítulo 2) 
desenvolveu plenamente.
Para compreender verdadeiramente uma outra época ou até mesmo um outro país em uma 
outra época, é necessário, afirmava Herder, mergulhar profundamente nele e “senti-lo dentro de 
nós” (HERDER apud BAUMER, 1977, p. 52). O filósofo e literato alemão, assim como demais 
teóricos românticos, via em todas as épocas passadas algo de bom e buscava reabilitá-las diante 
do presente, mas não se mostrava muito otimista em relação ao seu próprio tempo. Sua predileção 
pelo passado, em especial pela Idade Média, contrastava com o desprezo que nutria por sua própria 
época, permeada pela obsessão iluminista da razão e do progresso.
Finalmente, resta destacar que à noção de progresso iluminista como guia da trajetória 
da razão que ilumina o homem no tempo, Herder opôs a noção de humanität, presente em seu 
segundo e inacabado ensaio Ideias para uma Filosofia da História, escrito entre 1784 e 1791.
Por Humanität Herder entendia uma espécie de princípio de direção que conduzia cada 
povo através do tempo, uma meta, invisível e espiritual, à qual os povos, cada um à sua maneira, 
caminham. A função de uma filosofia da história seria, ao reconhecer esse princípio, educar a 
humanidade em direção a sua essência, que é permeada pela razão, mas também pela liberdade.
Humanität era um valor ou um princípio de direção, que cada cultura abordava 
do seu próprio modo especial, e talvez nunca perfeitamente realizável por 
qualquer cultura da Terra. Herder pensava ainda em termos de uma meta, e de 
progresso em direção a essa meta. (BAUMER, 1977, p. 55)
Assim compreende o ser, aquilo que cada povo é, como devir, um processo orientado por 
um sentido, que não é o progresso e sim o encontro com a própria essência humana, manifestada 
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 21
de maneira diferente e colorida em cada povo. O devir é o desenvolvimento pleno daquilo que, 
de alguma forma, já existe em potencial em cada um de nós e, de maneira mais completa, no 
meio social em que nos encontramos inseridos. Aquilo que cada povo carrega dentro de si e que 
constitui, ao mesmo tempo, seu princípio originário e sua meta.
Pensemos agora: de que forma as ideias de Herder ressoam em nossos dias atuais? Em nossa 
própria época e sociedade? Estamos, de fato, a caminhar para a nossa essência, e é ela algo realizável?
Considerações finais
Neste primeiro capítulo, iniciamos nossa viagem na história do pensamento a respeito da 
história na Modernidade. A primeira parada foi na Itália dos séculos XVII e XVIII e na Alemanha 
do final do século XVIII. Nesses dois períodos e locais distintos, pudemos entrar em contato 
com dois teóricos que pensaram a história – a partirda linguagem e da literatura, e também da 
filosofia –, contribuindo, cada um a seu modo, para a renovação do pensamento sobre a história. 
Confrontamos o posicionamento romântico com a visão iluminista da história e pudemos perceber, 
nos postulados de pensadores românticos (notadamente em Herder), os preceitos que constituíram 
a base do moderno historicismo.
Ampliando seus conhecimentos
• BERLIN, Isaiah. As raízes do Romantismo. Trad. de Isa Mara Lando. São Paulo: Três Estrelas, 
2015.
O livro do filósofo alemão Isaiah Berlin (1909-1997) é fruto de seis conferências feitas 
por ele em 1965 na National Gallery of Art, de Washington, Estados Unidos. Apresentado 
pelo autor como uma “Introdução” ao movimento que, segundo ele, constituiu a maior 
mudança já provocada na consciência do Ocidente, o livro aborda alguns dos principais 
expoentes do pensamento e da arte romântica, tais como Herder, Fichte, Schelling, Blake 
e Byron, destacando a herança política, estética e intelectual do movimento, bem como 
sua contribuição ao desenvolvimento de valores hoje considerados fundamentais às 
democracias, como tolerância, liberdade e pluralismo de ideias.
• KIERKEGAARD na tela. Isaiah Berlin e o Romantismo alemão: em busca de uma definição. 
Vídeo 1. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=16b3z3R9yRA. Acesso em: 5 
fev. 2019.
No vídeo em questão, o professor de filosofia Jean Vargas comenta sobre o livro de Isaiah 
Berlin, As Raízes do Romantismo. O vídeo auxilia a entender o conteúdo do livro do 
filósofo alemão sobre o Romantismo.
Teoria da História22
Atividades
1. Escreva sobre o conceito de história em Vico e como esse conceito dialoga e se posiciona 
frente à querela entre os defensores da “Ciência Antiga” e os defensores da “Ciência Moderna” 
no final do século XVII.
2. Aponte e explique a diferença central entre a forma como o Iluminismo concebia a história 
e a sociedade e a forma como o pensamento romântico concebia esses temas.
3. Explique a concepção de Humanität de Herder e destaque em que sentido ela destoa e difere 
da noção de progresso do pensamento iluminista.
Referências
BARROS, Ivan Kowaleski Figueira de. A concepção de História em Giambattista Vico. 101 f. Dissertação 
(Mestrado em História) – Programa de História Social, Departamento de História, Universidade de São 
Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-13102010-
145444/pt-br.php. Acesso em: 2 fev. 2019.
BAUMER, Franklin. O mundo romântico. In: BAUMER, Franklin. O pensamento europeu moderno. Os séculos 
XIX e XX. Lisboa: Edições 70, 1977. p. 23-57. v. 2.
JOANILHO, André Luiz. Vico: o tempo e a História. Mediações: revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 9, 
n. 2, p. 67-84, 2004. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/9025. 
Acesso em: 31 jan. 2019.
MATEUS, Samuel. A querela dos Antigos e dos Modernos: um mapeamento de alguns topoi. Cultura [on-line], 
Lisboa, v. 29, p. 179-200, nov. 2013. Disponível em: https://journals.openedition.org/cultura/1124. Acesso em: 
21 fev. 2019.
SOUZA, Cláudia Franco. A filosofia do primeiro romantismo alemão: a questão do fragmento. Revista 
Simbiótica, Vitória, v. 4, n. 2, p. 1-10, jul./dez. 2017. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/simbiotica/
article/view/19606/13142. Acesso em: 21 fev. 2019.
2
Filosofias da história no século XIX
Neste capítulo, vamos conhecer as principais filosofias do século XIX que influenciaram 
a construção do conhecimento sobre o passado. Considerando que o conhecimento histórico 
almejava, naquele século, tornar-se uma disciplina acadêmica, trata-se de um importante momento 
de influências e questionamentos sobre o que é a história, como se constitui o conhecimento 
histórico e qual a função da história para a sociedade.
Vamos ver como o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) instaurou 
a razão na história e constituiu o conceito de história como devir. Depois, vamos analisar as 
contribuições de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) – as quais provocaram 
uma reviravolta no conceito de história como trajetória material do homem no mundo –, e como 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) clamou por uma história a-histórica, de libertação do homem 
e de intensificação da vida.
Você já se perguntou qual é a importância da filosofia para a história? Já parou para pensar 
que as diferenças entre essas duas áreas nem sempre foram perceptíveis e, principalmente, já se 
questionou como se constitui um campo de conhecimento sobre o passado e as ações humanas 
no tempo? Será que o homem elabora suas ações primeiro mentalmente (nas ideias, na reflexão) 
e depois as realiza na prática? Ou é o mundo material e a vida prática que organizam nossos 
pensamentos, ideias e reflexões? Você já refletiu sobre a importância da memória e das lembranças 
para a nossa vida e para a vida da sociedade? Estas são as principais questões que buscamos analisar 
e debater ao longo deste capítulo, pois foram esses questionamentos que os filósofos do século XIX 
lançaram para o passado, isto é, a possibilidade das ações humanas no tempo se tornarem um 
objeto de estudo específico.
2.1 A razão na história em Hegel
Hegel foi um dos nomes mais influentes do pensamento ocidental do século XIX. Herdeiro 
de alguns aspectos do romantismo europeu, o filósofo superou diversos sistemas de pensamentos 
presentes no seu tempo. Suas teorias e ideias influenciaram toda uma geração. Havia, de um lado, 
os que defendiam a perspectiva hegeliana e, de outro, os que a atacavam. Mas o certo é que o 
desenvolvimento da filosofia, sobretudo na Alemanha do século XIX, não ficou indiferente às 
ideias do filósofo.
Interferindo em diversos campos do saber, particularmente em aspectos filosóficos, 
artísticos e religiosos, o conhecimento histórico também foi uma das preocupações hegelianas. 
O entendimento da vida – objeto de estudo da filosofia ocidental – passaria impreterivelmente, 
segundo Hegel, pela compreensão e pelo esclarecimento daquilo que coordenaria os acontecimentos 
históricos. Nesse sentido, Hegel buscava “uma mão” que guiaria o desenvolvimento dos fatos ao 
longo dos tempos.
Teoria da História24
Para o filósofo, a história “é o desenvolvimento do Espírito no Tempo, assim como a Natureza 
é o desenvolvimento da Ideia no Espaço” e “o propósito do Espírito é conhecer a si mesmo” 
(HARTMAN, 2001, p. 21). Para entendermos Hegel, é necessária a compreensão de três conceitos 
básicos da sua filosofia: ideia, natureza e espírito. Vamos abordar, a partir de agora, cada um deles.
Hegel não irá propor a existência de uma natureza dominante, mas de uma unidade cósmica 
do mundo, composta pela ideia (vontade de Deus) e pela natureza (manifestação da vontade de 
Deus no espaço). Essa unidade, contudo, é contraditória e manifesta-se de maneira dialética: 
o perfeito e o imperfeito; o racional e o irracional. A síntese dessas contradições se desenvolve no 
espírito. O espírito é o resultado da dialética, isto é, aquilo que, ao ser desafiado, permanece.
Toda a perspectiva filosófica hegeliana se situa na tentativa de demonstrar que o sentido 
da existência humana é o desenvolvimento do espírito, ou seja, da capacidade de identificarmos 
a contradição do mundo, de desafiarmos essa contradição e de testar as ideias. O espírito que se 
conscientiza da unidade contraditória que forma o mundo toma consciência de si mesmo e de 
sua própria natureza. Essa consciência se manifesta no tempo, assim como a ideia se manifesta 
no espaço e no espírito humano por meio do anseio de liberdade. O espírito humano busca a 
autoconsciência de si mesmo e de sua potencialidade; já a matéria, seu oposto, tem a sua substância 
fora de si. O espírito, assim, gira em torno de si mesmo.
Nesse sentido, o processo histórico seria o campo no qual esse processo se efetiva: a 
conscientização do espírito rumo a sua liberdade. É importante observar que, para Hegel, todo 
esse processo se realizano mundo das ideias. Trata-se do pensamento buscando a contradição e 
identificando a si mesmo, tomando forma e consciência no espírito.
Segundo a perspectiva hegeliana, a consciência se efetivaria no mundo das ideias, tomaria 
consciência de si e depois atuaria no mundo real. O processo ininterrupto de contradição e síntese 
guiaria os fatos históricos, sendo, com efeito, a “mão” que conduziria os acontecimentos ao longo 
dos tempos. Essa “mão” é a razão, a qual governa o mundo. A função da filosofia estaria, segundo 
Hegel (1997, p. 37), em “conceber o que é, porque o que é a razão”.
A razão, como tomada de consciência do espírito, guiaria as ações humanas que se 
desenvolveriam em uma temporalidade, em uma cronologia (de antes, de depois, de subsequente 
e de consequente). Para Hegel, esse elemento é fundante da realidade no pensamento. De acordo 
com Hartman (2001, p. 16), “as leis da lógica, como as da mente divina, são a Razão”. Assim, a 
conclusão que Hegel chegou é a de que “tudo que é real é racional e tudo que é racional é real” 
(HARTMAN, 2001, p. 16).
Para Hegel, tudo o que existe, só existe porque conseguimos pensar sobre sua existência. 
O pensar vem antes do existir. Assim, não há nada incognoscível para o pensamento: uma vez 
pensado, passa a existir. Deus existe na medida em que pensamos e construímos esta existência no 
nosso pensamento. Deus, portanto, é uma ideia que existe na medida em que pensamos e 
racionalizamos sobre ela. Em resumo, “o pensamento divino progride segundo suas próprias leis, 
que são as leis do mundo” (HARTMAN, 2001, p. 17), uma vez que são pensadas pelos homens.
 incognoscível: 
que não se pode 
conhecer pela razão 
e inteligência.
Filosofias da história no século XIX 25
Essas considerações são imprescindíveis para entendermos o que é história para Hegel e, 
principalmente, qual é a sua função naquele universo teórico. Importante observar que o filósofo 
afirma a possibilidade da progressão do pensamento divino, ou seja, há movimento e mudança, 
tendo em vista que o homem está na natureza e no tempo. Esse processo de mudança e de 
racionalização seria a base do processo histórico. As transformações das ideias no tempo sempre 
ocorrem no sentido de tomar cada vez mais consciência de si. Assim, Hegel inaugura a ideia de 
história como um movimento rumo à evolução, introduzindo uma noção de progresso.
O homem, situado em seu contexto imediato, observa e analisa os caminhos percorridos 
pela ideia até o momento presente. A história seria, como exemplificou Hartman (2001, p. 17), 
“a autodeterminação da ideia em progresso, o autodesenvolvimento do Espírito em Progresso”. 
O momento presente seria, portanto, a realização máxima (porém não absoluta) da consciência.
O homem, a natureza e a cronologia tornam a ideia compreensível e determinada a uma dada 
existência. A materialização da ideia, por sua vez, se processa em um determinado contexto social. 
Hartman (2001, p. 18) enfatiza que, “ao pensar cada vez mais sobre o mundo e, nesse processo, 
desenvolvendo cada vez mais sua consciência ele [o espírito do Homem] faz a Ideia, ou seja, o 
Próprio divino pensador, cada vez mais consciente de Si Mesmo”.
Como esse processo se efetiva ao longo das gerações, ou seja, no tempo – no antes, no 
agora e no devir –, e como os homens estão organizados em estados, agrupamentos e em nações, 
o processo que torna o homem consciente de si mesmo é o processo histórico. É na história que 
esse processo se realiza.
2.1.1 O Estado hegeliano e sua importância para a história
Uma das mais significativas alterações que o pensamento de Hegel proporcionou sobre o 
entendimento da história foi situar o processo histórico em uma realidade social (a nação, o Estado) 
e demonstrá-lo como um processo dinâmico (as gerações, a cronologia, o tempo). Além disso, 
o filósofo atribuiu ao devir histórico a formação de uma consciência de si mesmo e de seu entorno. 
Em linhas gerais, é no processo histórico que se observa o que é eterno, e é no ato de observar as 
mudanças que identificamos o que permanece. Nesse ponto, torna-se importante apresentar mais 
uma importante ideia hegeliana para o entendimento da história: a importância do Estado.
De acordo com o filósofo, o espírito se desenvolve, isto é, toma consciência de si, no tempo. 
Ele passa por diversos estágios até chegar a sua forma mais acabada, o Estado. Por que o Estado? 
Porque, segundo Hegel, o espírito humano é universal, ou seja, o espírito livre de um deve 
significar o espírito livre de todos. É por meio do Estado que a ação é realizada de acordo com 
uma vontade comum, racionalmente válida porque é universal, dotada de objetivos universais. 
O espírito do mundo, incorporado no povo, é o espírito do povo (o Estado). Ele existe em cada 
indivíduo. Como os indivíduos vivem em sociedades, o espírito do mundo passa a ser o princípio 
do povo, o espírito nacional, que é racional e universalmente válido. Esse espírito nacional deve 
estar acima de todo e qualquer interesse individual dos homens. Para que se assegure a sua 
universalidade, ele deve ser organizado sob a forma de leis, que nada mais representam do que 
a objetividade do espírito.
Teoria da História26
Por Estado ou nação Hegel entende, portanto, uma cultura ou civilização, uma organização 
de liberdade. Vale notar que, segundo essa perspectiva, o Estado, racionalizado e objetivo, se torna 
uma condição para o exercício da liberdade. Mas, o que Hegel entendia por liberdade? Vamos nos 
ater melhor a este conceito.
A liberdade, para o filósofo, é a capacidade de o espírito conhecer-se a si mesmo e de estar 
contido em si. O maior esforço que o espírito faz é o de conhecer-se a si mesmo e conhecer a 
sua própria natureza: “o avanço do mundo é o avanço da consciência de liberdade”, afirma Hegel 
(2001, p. 65). Entretanto, essa liberdade não se desenvolve de maneira aleatória, ela ocorre de modo 
organizado; por isso, só é possível nos Estados organizados.
Ora, se a história é o desenvolvimento da consciência de si mesmo realizada pelo espírito no 
tempo, se o ápice dessa racionalização é a liberdade, e ainda, se a liberdade só é possível no Estado, 
então não existe história “a menos que haja Estados organizados” (HARTMAN, 2001, p. 27). 
Os Estados organizados seriam aqueles nos quais prevaleceria a elaboração de leis, portanto um 
“estado constitucional”. Essas leis, elaboradas por competentes funcionários do Estado, deveriam 
garantir a organização da coletividade e o meio em que as questões particulares seriam resolvidas. 
A garantia da liberdade passaria, assim, pelo cumprimento das leis.
Outra característica do Estado hegeliano é a soberania. Para o filósofo, o chefe de Estado 
deve estabelecer relações com outros países e zelar pelo território. O que vemos surgir a partir das 
ideias hegelianas é o conceito de Estado nacional moderno europeu.
Um Estado entra na história por ter atingido a consciência de si objetivamente, mas pode 
sair da história se conquistado por outro povo. Nos casos de guerra ou de conquista, o primeiro 
Estado (conquistado) perde sua independência e soberania, já o segundo (que conquista) entra 
para a história. Neste tipo de situação está presente a ideia de devir em Hegel.
Hegel também fundou, dentro da concepção de Estado, a sua concepção de homem: o herói. 
Entre o homem de moralidade relativa ou social (o cidadão) e o homem de moral absoluta 
(o indivíduo) estaria o herói histórico “em quem o exclusivamente individual se funde com 
o universalmente social” (HARTMAN, 2001, p. 36). Desse modo, se o Estado que entra para a 
história é aquele que incorpora o ideal máximo do momento, o herói é o homem que incorpora o 
Estado em si e tem como objetivo a satisfação dos seus ideais, que são os ideais do Estado.
Em contraposição à imagem do herói hegeliano, aparece a figura da vítima, cujo indivíduo 
não tem a percepção nem a energia do herói, e sua moral é a da situação privada. Enquanto o herói 
é o sujeito da história,a vítima é o objeto e sofre um “apagamento”.
Identificando o herói como o indivíduo histórico, convém salientar que, para Hegel, não é 
ele quem faz a história, ele a executa. Para o filósofo, “a força que move a História é a dinâmica das 
Ideias” (HARTMAN, 2001, p. 18). Cabe ao historiador conhecer a dialética da ideia para empregá-
-la à história e seu estudo.
2.1.2 Hegel e a escrita da história
Após a compreensão dos conceitos hegelianos, é importante apresentar a análise realizada 
pelo filósofo sobre como a história foi escrita na Alemanha do século XIX. Além de realizar essa 
Filosofias da história no século XIX 27
análise, Hegel propõe uma maneira de escrevê-la. Primeiramente, o filósofo afirmou, na sua obra 
A Razão na História (1837), que na época empregavam-se três métodos: história original, história 
reflexiva e história filosófica.
Brevemente, a história original pode ser apontada como a que foi escrita por Heródoto de 
Halicarnasso1, ou seja, um gênero de historiadores que descrevem ações e imagens das quais são 
contemporâneos, transferindo aquilo que se observava externamente para as construções mentais. 
História e historiador seriam, nesse tipo de relato, do mesmo domínio, produtos do mesmo 
tempo. Por viverem o espírito dos acontecimentos, os historiadores dessa vertente não estavam 
preocupados em transcendê-los.
A história reflexiva seria aquela que transcende o presente, se não no tempo, pelo menos 
no espírito. Para Hegel, ela se subdivide em quatro outros tipos: universal, pragmática, crítica e 
fragmentária. Destas subdivisões, nos importa mais a história fragmentária, em virtude de ser o 
tipo que mais se aproxima daquela que se mostra como ideal para o filósofo.
A história reflexiva de tipo fragmentária, adota, segundo Hegel, pontos de vista específicos 
sobre as áreas do conhecimento (história da arte, religião, por exemplo), relacionando-as com 
enfoques universais. Com base na percepção de que a ideia é o guia dos povos e do mundo, e que 
o espírito é o que sempre orientou e orienta as transformações, a perspectiva histórica proposta 
por Hegel consiste nas possibilidades que emergem da relação entre o específico e o conjunto das 
transformações ocorridas na história de um povo.
Trata-se da síntese entre o universal e o particular, efetivada no Estado e na liberdade do 
espírito que se tornou autoconsciente de si no tempo. Conforme ressalta Hartman (2001, p. 17), 
“como o Espírito é livre, por sua natureza interior, a História é o progresso da liberdade”.
Entretanto, foi na perspectiva da história filosófica que o filósofo apresentou a sua grande 
contribuição para a escrita da história. Para Hegel (2001, p. 51), o método da história filosófica 
consiste em uma “contemplação ponderada da História”.
Ao longo do tempo, os homens agiram manifestando objetivamente a subjetividade do 
espírito. As ações humanas, mesmo quando movidas por paixões ou quando buscam satisfazer 
interesses individuais nos seus instintos e vontades mais primitivos, apresentam um elemento de 
ponderação. Essa ponderação é a manifestação do espírito, que se torna observável na história e 
à qual Hegel chamou de razão. Portanto, ao se analisar a história, o estudo deve ser conduzido na 
tentativa de identificar e entender a manifestação da razão.
Segundo Hegel, uma das limitações da história seria a de subordinar os fatos à realidade, 
o que limitaria a capacidade de observação e compreensão dos fatos. Ao buscar entendê-los, 
contudo, a ação do filósofo superaria esse risco. Nesse sentido, Hegel (2001) propõe como melhor 
método para o entendimento da história aquele que não subordina os fatos históricos a um enfoque 
1 Heródoto de Halicarnasso (484-425 a. C) é considerado um dos autores mais importantes da Grécia Antiga e um dos 
primeiros a registrar narrativas com o intuito de preservá-las para a posteridade. Em virtude de seus registros e por sua 
consideração dada à história como um problema filosófico, Heródoto é considerado um dos primeiros historiadores que 
se tem conhecimento. Em sua obra encontram-se registros cuidadosos sobre a geografia dos lugares, e narrativas sobre 
guerras e conflitos vivenciados pelos gregos. Para saber mais, ver: PRADA, Maurício (org.). Os historiadores: clássicos da 
História v.1 – de Heródoto a Humboldt. São Paulo: Ed. PUC-SP; Vozes, 2013. v. 1.
Teoria da História28
apriorístico dado pelo presente, mas, ao contrário, faça da história (que é a história da razão) uma 
lei do mundo. Em linhas gerais, a lei do mundo dá sentido e impulso aos fatos, à razão.
Assim, a filosofia nos mostra que a razão é, ao mesmo tempo, parte, conteúdo e forma 
infinita, cuja ideia se manifesta no real por meio de uma imagem. Esse processo é o que faz com 
que a razão exista subjetivamente e objetivamente no espírito humano, por intermédio da ideia e 
da ação.
Hegel (2001) propõe que o desejo pela compreensão racional da história deva ser uma 
característica no estudo das ciências, mas reconhece a dificuldade contida nesse exercício. Para 
ele, os historiadores têm sérias limitações, porque estariam sempre buscando interpretar os fatos 
à luz do presente e não à luz da razão. Superar as limitações das próprias ideias e buscar a razão 
que move o mundo é a tarefa da história por excelência. Hegel percebeu que essa ação precisava 
ser separada da filosofia porque era um exercício particular do conhecimento. Ele apresentou os 
primeiros passos para a construção da história como um campo autônomo do saber e indicou como 
caminho para se produzir o conhecimento histórico a objetividade em oposição à subjetividade, a 
razão em oposição à alienação.
2.2 O materialismo histórico em Marx e Engels
Quando Hegel morreu, em 1831, Karl Marx tinha apenas 13 anos de idade e Friedrich 
Engels tinha 11. Era impossível para os jovens Marx e Engels imaginar a importância e a influência 
que o pensamento daquele filósofo exerceria nas suas vidas. Entretanto, o sistema de pensamento 
hegeliano e suas perspectivas de ideia, natureza, liberdade e razão influenciaram definitivamente 
o pensamento europeu do século XIX e permaneceram por um longo período provocando 
e construindo admiradores e críticos. Dentre esses, situamos os dois intelectuais que vamos 
analisar agora.
Marx e Engels são dois dos nomes mais importantes para o pensamento ocidental do 
século XIX, pois influenciaram definitivamente a escrita e a compreensão da história. Marx 
nasceu em uma família de classe média, na cidade de Trévis, atual Alemanha, enquanto 
Engels, nascido na cidade de Barmen, também nesse país, era filho de um rico industrial que 
trabalhava no ramo têxtil.
Marx se dedicou à carreira universitária, formando-se em Filosofia, ao passo que o jovem 
Engels foi convocado para trabalhar nas indústrias do pai. Mesmo atuando ativamente no ramo 
industrial, Engels era um autodidata e estudava economia, política, filosofia, línguas e história. 
A experiência que Engels vivenciou, ao participar da vida da classe operária na indústria paterna, 
lhe despertou no espírito uma profunda percepção da sociedade do seu tempo, particularmente no 
que se refere à formação da classe operária inglesa.
Engels passou a publicar panfletos que denunciavam a miséria dos trabalhadores e as 
profundas desigualdades sociais presentes naquele contexto. A relação entre ele e a classe operária 
foi intensa, fazendo-o participar de reuniões, encontros e movimentos de resistência à situação 
apriorístico: 
de apriorismo, 
convicção intelectual 
a respeito da 
existência de 
conhecimentos de 
natureza a priori.
Filosofias da história no século XIX 29
a que os operários estavam subjugados. Um dos resultados desta relação foi a escrita de uma das 
obras mais emblemáticas sobre a situação da classe operária na Inglaterra do século XIX2.
Marx tomou caminhos diferentes. Ele foi um intelectual e estudante dedicado, e, ainda 
jovem, teve acesso, na Universidade de Hulboldt (Berlim), a um grupo conhecido como os “Jovens 
hegelianos”.Esse grupo, composto de estudantes e professores, dedicava-se à análise crítica da 
obra de Hegel, fato que não representava a negação do pensamento hegeliano, mas sua ampliação, 
revisão, ponderação e ataques às principais ideias e doutrinas do filósofo. Marx fez parte desse 
grupo, tornando-se fortemente influenciado pela perspectiva hegeliana de mundo. Todavia, à 
medida que formulava as suas próprias análises, foi se afastando do grupo.
A formação de um pensamento autônomo e a construção das principais ideias de Marx 
emergiram durante o encontro com Friedrich Engels, no ano de 1844. Marx o conhecia por meio 
da leitura de um texto que fora publicado em um jornal da época. A escrita original de Engels teria 
impressionado o jovem Marx, que, por toda a sua vida, teria declarado a importância que aquele 
artigo exercera na formação das suas ideias.
O que Engels proporcionou ao pensamento de Marx foi a apresentação da real situação da 
classe operária na Inglaterra do século XIX. Marx era, até o momento do encontro com Engels, 
um jovem idealista. Ele estava centrado nas ideias e teorias dos livros, procurando, por meio da 
teoria, alterar a prática. Engels propiciou a Marx a percepção de que antes da formação das ideias 
há um mundo material, no qual as ideias se formam. Essa perspectiva vai se fortalecer e lapidar 
nos trabalhos conjuntos dos autores, constituindo um dos conceitos mais importantes do século 
XIX: o materialismo histórico, noção que influenciou definitivamente a percepção sobre o mundo.
2.2.1 A concepção materialista da história
A concepção que Marx e Engels deram para a história decorreu de um longo processo de 
percepção e análise do mundo e das teorias presentes no século XIX. Contudo, algo é fundamental: 
é preciso compreender o movimento de ideias e o contexto social que os filósofos presenciavam.
A primeira base para a concepção materialista da história originou-se da filosofia hegeliana. 
A teoria foi desenvolvida com base na releitura de Hegel e na crítica àquele pensamento, bem 
como na apresentação de uma nova proposta. Conforme vimos, a concepção de história em Hegel 
se referia ao desenvolvimento da ideia e da tomada de consciência do espírito; a seu turno, Marx 
e Engels propuseram que a história deveria ter como ponto de partida a análise dos indivíduos 
reais, das suas ações, práticas e condições materiais, ou seja, das suas reais condições de existência 
(MARX, 1998).
Em linhas gerais, para Marx e Engels a história dos homens é a história material dos homens, 
isto é, sobreviver no mundo, satisfazer necessidades básicas (comer, morar, vestir) e enfrentar as 
intempéries. Os homens precisam transformar a matéria prima disponível no espaço natural em 
2 Trata-se da obra A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, publicada por Engels em 1845.
Teoria da História30
materiais úteis à sobrevivência. Ao realizar essa transformação, eles estabelecem relações com o 
mundo material (tudo o que está no seu entorno) e entre si (uns com os outros).
O esforço dispensado para transformar a natureza gera produtos, benfeitorias, técnicas, 
saberes e conhecimentos. Para Marx e Engels, é na ação material, no processo palpável de 
transformação das matérias primas que os homens criam, estabelecem e desenvolvem outras ações 
(como ideias, saberes e técnicas). Nesse sentido, os filósofos estabelecem que a história dos homens 
é, necessariamente, a história de como os homens se relacionaram com os bens materiais e se 
relacionaram entre si ao longo dos tempos.
Com base nessa premissa, Marx e Engels elaboraram dois conceitos fundamentais do seu 
pensamento: o de forças de produção e o de relação de produção. Segundo Raymond Aron, forças 
de produção é a capacidade dos homens de transformar a natureza, as quais contêm em si relações 
de produção, “isto é, um certo modo de organização da cooperação dos homens” (ARON, 2005, 
p. 212). Nas forças de produção estão contidas as relações de produção e estes dois elementos, 
organizados de distintas maneiras, nas diversas sociedades, no transcorrer dos tempos, organizam 
e definem ideias, sentimentos, desejos, leis e intuições sociais3.
Nesse sentido, o princípio, a base e o fundamento da história é o homem, alertaram Marx e 
Engels. Um homem real, que age sobre o mundo material (mundo natural), transformando-o de 
acordo com suas capacidades físicas e mentais. Um homem que persegue suas metas, estabelece 
objetivos e adquire conhecimentos para otimizar as suas ações. No desenvolvimento da atividade 
humana, estaria também o desenvolvimento da história (ARON, 2005).
Uma vez satisfeitas as primeiras necessidades, os homens fazem nascer outras: “a ação e o 
instrumento já adquirido para essa satisfação levam a novas necessidades, e essa produção de novas 
necessidades é o primeiro fato histórico” (MARX; ENGELS, 2007, p. 33). O que Marx e Engels 
querem enfatizar é que a história nasce a partir do momento em que superamos nossas condições 
animais de existência. O fato histórico marca o início da humanização do homem. A família, por 
exemplo, seria uma produção mais elaborada do homem, já superando suas condições animais.
Na história, se revelariam as reais condições de existência humanas. O que os homens são 
não viria de uma ideia anterior, mas se constituiria no processo histórico por meio das relações 
estabelecidas na produção material da sociedade. Aquilo que os indivíduos são depende das suas 
condições materiais de existência e do lugar que eles ocupam no processo produtivo da sociedade. 
Essa constatação relaciona-se com outros conceitos desenvolvidos por Marx e Engels, como 
burguesia, proletariado e luta de classes4.
3 Marx chamou esses elementos de superestrutura, em contraponto a infraestrutura. A infraestrutura, segundo Marx, é 
a base da sociedade, ou seja, o conjunto das relações de produção e as forças produtivas. A infraestrutura é uma espécie 
de produtos gerados a partir das bases materiais (as relações de produção e as forças produtivas). Eles não têm forma 
material. São “as ideologias políticas, concepções religiosas, códigos morais e estéticos, sistemas legais, de ensino, de 
comunicação, o conhecimento filosófico e científico, representações coletivas de sentimentos, ilusões, modos de pensar, 
concepções de vida” (QUINTANEIRO, 2002, p. 37)
4 Marx e Engels denominaram proletário o individuo que, sem possuir meios de produção (matéria-prima e instrumentos 
de trabalho), vendia sua força de trabalho para o burguês, proprietário desses meios. Da relação entre o proletariado e a 
burguesia, nasceria a luta de classes, pois os interesses entre um e outro são sempre antagônicos.
Filosofias da história no século XIX 31
Na primeira obra que escreveram juntos, O Manifesto do Partido Comunista (1848), logo no 
primeiro capitulo os autores afirmam que:
Até hoje, a História de todas as sociedades é a História das lutas de classes. Homem 
livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação 
e aprendiz; em resumo, opressores e oprimidos, estiveram em constante 
antagonismo entre si, travando uma luta ininterrupta, ora aberta, ora oculta — 
uma guerra que terminou sempre ou com uma transformação revolucionária 
de toda a sociedade ou com a destruição das classes em luta. (MARX; ENGELS, 
1996, p. 66, grifos nossos)
Vale notar que, nesse primeiro escrito, antes de desenvolverem as bases definitivas do seu 
pensamento, a afirmação feita por eles é a de que a história da humanidade é a história da relação 
dos homens entre si. O papel ocupado pelo homem na história é essencialmente construído com 
base nas condições reais da sua existência. Trata-se, assim, da definição do lugar social do homem 
e não mais da sua condição natural de existência.
À luz desta perspectiva, o indivíduo se constituiria nas relações contraditórias e conflituosas 
estabelecidas entre ele e o mundo material, pois, é nessa dinâmica ininterrupta e ativa que os 
homens produzem e reproduzem a si mesmos e ao mundono qual vivem.
A análise do passado, permitiria, então, não apenas identificar as condições reais de existência 
e a maneira como elas se constituíram, mas, sobretudo, demonstrar quais interesses, ideologias e 
discursos definiram os rumos que a luta de classe tomou em seu desenvolvimento real.
Com Marx e Engels, vemos o combate a ideias metafisicas ou abstratas sobre a realidade, 
o homem e a sociedade. Os dois autores alemães clamam por uma percepção material da história 
que se afaste de qualquer abstração e identifique o homem real considerando as suas condições 
reais de produção material e ideológica do mundo.
Ainda sobre o conceito de história, cumpre enfatizar uma das ideias mais caras a esses 
autores – a objeção a qualquer mundo imaginário: “a consciência não determina a vida, mas a vida 
determina a consciência” (MARX; ENGELS, 2007, p. 415). Para Marx, o termo vida referia-se às 
condições econômicas nas quais os homens reais se encontram, quer tenham consciência delas ou 
não. Portanto, o real agente da transformação social não é a razão ou as ideias, mas a luta de classes.
“Marx fez descer a teoria hegeliana do céu para a terra” (BAUMER, 1977, p. 92-93), afirmou 
Franklin Baumer, alertando que, embora esses autores tenham se posicionado de maneira diferente 
de Hegel, eles ainda mantiveram a crença de que a história trabalha inexoravelmente para o 
progresso, pela libertação das classes trabalhadoras e por uma sociedade sem classes.
2.3 A necessária relação entre a história e a vida em Nietzsche
Ainda a respeito das filosofias do século XIX e as suas influências no pensamento sobre 
a história, vamos conhecer a perspectiva de um dos maiores filósofos deste século: Friedrich 
Nietzsche.
Teoria da História32
Nietzsche também nasceu, viveu e morreu na Alemanha e foi influenciado pela obra de 
Hegel. Foi um dos filósofos mais polêmicos do seu tempo e, podemos dizer, da história da filosofia. 
Autor de uma vasta obra intelectual, Nietzsche inovou tanto na maneira de pensar a filosofia quanto 
na de escrevê-la. É autor de frases chocantes, que repercutiram e ecoaram ao longo do tempo, como 
a que se referiu à morte de Deus ou à possibilidade de se filosofar a marteladas5.
O que Nietzsche queria exemplificar com suas metáforas, nem sempre compreendidas, era o 
mal-estar do seu tempo. O filósofo foi o porta-voz de um tempo de intensas e profundas mudanças, 
no qual a ciência condenara Deus à morte e a continuidade da vida só parecia ser possível ao se 
romper os valores até então estabelecidos. Nietzsche captou o clima da sociedade ocidental daquele 
momento: de um lado, a euforia com as conquistas técnicas e científicas e, de outro, o vazio que se 
materializaria com a Primeira Grande Guerra, ocorrida entre 1914 e 1918.
No campo da história, o filósofo levou a cabo a sua perspectiva de “filosofar a marteladas” e 
reivindicou a quebra de todos os padrões relativos às formas de pensar e escrever sobre o passado 
até aquele momento. É importante salientar que Nietzsche não estava preocupado em fornecer 
uma historiografia propriamente dita, mas em analisar a cultura histórica que triunfou no seu 
contexto. Pretendia criticar, insuflar e analisar a maneira como a história era praticada. Ou seja, o 
padrão escolhido pelos modernos para narrar os fatos do passado.
Um dos escritos mais famosos do filósofo no campo da escrita da história é o texto intitulado 
“Sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida”, publicado na obra II Consideração 
Intempestiva, de 1874. Nesse texto, Nietzsche elaborou uma profunda crítica ao modelo, ao sentido 
e à função que a história adquiriu na Alemanha daquele momento.
Conforme apresentamos, com Hegel, a história desvinculava-se da filosofia e requisitava 
um campo específico do saber, que deveria ser produzido por meio da academia (universidades) e 
dos limites acadêmicos. Igualmente, havia o movimento que pretendia tornar o saber histórico um 
campo da ciência, isto é, um saber científico pautado em métodos claros, em objetos específicos e 
na objetividade pretendida pelas ciências.
Nietzsche se posiciona contra todo esse movimento de coisas. Na contramão, portanto, 
tanto do movimento que pretendia tornar a história uma disciplina autônoma quanto da pretensão 
científica de abordar todos os campos dos saberes, ele propõe uma história a-histórica, ou seja, 
uma história que não se prenda nem à memória, nem ao passado, mas que sirva à vida e ao 
presente. Nesse sentido, um dos primeiros conselhos dado pelo filósofo aos seus contemporâneos 
foi a recomendação do valor ao esquecimento:
Toda ação exige esquecimento, assim como toda vida orgânica exige não 
somente a luz, mas também a escuridão. Um homem que quisesse sentir as 
coisas de maneira absoluta e exclusivamente histórica seria semelhante aquele 
que fosse obrigado a se privar do sono, ou a um animal que só pudesse viver 
ruminando continuamente os mesmos alimentos. É, portanto, possível viver, e 
5 “Deus está morto!” é a frase citada na obra A Gaia Ciência, de 1882, reaparecendo e tornando-se famosa na obra 
Assim Falou Zaratustra, de 1883. A ideia de filosofar a marteladas surgiu na obra Crepúsculos dos Deuses, de 1889, que 
tinha por subtítulo “como filosofar a golpes de martelo”.
Filosofias da história no século XIX 33
mesmo ser feliz, quase sem qualquer lembrança, como o demonstra o animal; 
mas é absolutamente impossível viver sem esquecimento. (NIETZSCHE, 2005, 
p. 72-73)
Vivenciando o seu tempo presente, Nietzsche percebeu que o passado ganhava destaque 
à medida que os Estados nacionais modernos se constituíam. Como vimos, o Romantismo, 
o Idealismo e o Cientificismo atribuíam ao passado uma função prática de explicar, definir e 
legitimar o presente. Nietzsche, em contrapartida, chamava a atenção para o fato de que a vida 
seria impossível se fosse controlada e coordenada pelo passado.
Se o passado se tornasse um grilhão, tal como o homem moderno o estava concebendo, 
a humanidade estaria condenada a não fazer nada de novo, como “um animal que só pudesse viver 
ruminando continuamente os mesmos alimentos” (NIETZSCHE, 2005, p. 73).
A comparação com o animal de rebanho foi utilizada longamente pelo filósofo, remetendo 
não só à ruminação, mas também ao fato de que o animal é um ser a-histórico, logo, feliz. Segundo 
Nietzsche, o animal não diferencia o tempo, não separa todas as coisas em passado, presente e 
futuro, não se lastima com o que já ocorreu, não prevê o futuro e não se desespera com o que 
está acontecendo. O animal, que não tem sentido histórico, vive inteiramente e intensamente o 
momento.
Nietzsche ironiza, então, o homem moderno, asseverando que, embora possua amplo 
sentido histórico e a sua adoração pelo passado seja, em razão da sua humanidade, superior ao 
animal, falta-lhe a plenitude deste. O animal do rebanho é completamente absorvido pelo presente 
(sem sucessão de antes e depois), enquanto o homem moderno está condenado ao passado. Para 
onde quer que vá, os grilhões do passado se arrastam com ele, impossibilitando sua liberdade e 
controlando os seus passos6.
Teria o homem moderno alguma possibilidade de libertar-se dessa condenação representada 
pela memória? Nietzsche (2005) apresenta como antídoto a faculdade de esquecer, sugerindo, com 
isso, que o esquecimento seria o alento necessário ao homem histórico. Mas, qual seria o papel da 
história? Ela não teria nenhuma utilidade para o filósofo? Seguramente sim, porém, não deveria 
tornar o homem escravo do passado. A história, para Nietzsche, deveria servir à vida, ao momento 
presente. Vamos analisar um pouco essa questão.
No texto que dá alicerce a essa análise, Nietzsche (2005) identifica três tipos de história, 
praticadas durante o tempo em que viveu o filósofo: história monumental, tradicionalista e 
crítica. A cada uma delas, ele identificou aspectos que poderiam ser úteis à vida do homem e 
indicou aqueles que eram nocivos.
6 Anna Hartmann Cavalcanti, no artigo “Nietzsche,a memória e a História: reflexões sobre a Segunda Consideração 
Extemporânea”, apresenta uma análise do trecho em que Nietzsche compara o homem ao animal. Trata-se de uma 
provocação ao texto de Arthur Schopenhauer (1788-1860), intitulado “Sobre História”. Nesse texto, há um elogio à 
capacidade humana de recordar e memorizar. Segundo Schopenhauer, esta capacidade nos tornaria superiores aos 
animais, os quais estariam condenados a viver do momento presente e do processo instintivo. Nietzsche apresenta o 
exato oposto a essa tese, alegando que a memória é a nossa maior condenação, aquilo que nos castiga a viver atado 
ao passado e, por isso, a ser menos que os animais. A esse respeito, ver: CAVALCANTI, Anna Hartmann. Nietzsche, a 
memória e a história: reflexões sobre a Segunda Consideração Extemporânea. Philósophos, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 77-105, 
jun./dez. 2012. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/philosophos/article/view/18860/pdf. Acesso em: 1 mar. 2019.
Teoria da História34
Dentre o que era nocivo, Nietzsche (2005) aponta os perigos que a consideração 
monumental da história provoca nos homens do presente. Segundo ele, quando consideramos 
o passado como o território dos grandes feitos, somos influenciados a ter uma ideia distorcida 
da capacidade humana de produzir grandes obras. O homem do presente que se deslumbra 
com um passado monumental deixa de viver para buscar aquilo que uma vez foi possível, pois 
considera que feitos grandiosos também poderão emergir em outros momentos.
A ideia de impossível fica limitada e a memória do fato grandioso se torna a obsessão do 
homem do presente. A história monumental apresenta os homens e os feitos do passado como 
dignos de admiração e de imitação. Nada de novo acontecerá ao homem que apenas imitar o que 
já foi consagrado.
A categoria tradicionalista tinha por base a cultura, os costumes e as tradições dos povos. 
Trata-se, em alguma medida, de uma crítica à perspectiva hegeliana de história, que entendia o 
Estado como o nível máximo do desenvolvimento do espírito. Nietzsche (2005), por sua vez, critica 
essa categoria pelos mesmos motivos da história monumental: o homem fica preso aos costumes e 
tradições do passado, como se carregasse pedras para todos os lugares que fosse. Uma história que 
valoriza apenas o que já foi, que busca incessantemente as origens, anularia a capacidade de criar 
coisas novas.
Na consideração crítica da história, o filósofo trata do momento em que o homem toma 
consciência de que “todo o passado merece ser condenado” (NIETZSCHE, 2005, p. 96). Trata-se, 
portanto, do momento em que se efetiva o julgamento da história. É a análise de uma história que 
não está condenada ao historicismo, ao passado e à memória.
É importante salientar que, para Nietzsche, esses três tipos de história contêm em si mesmas 
“venenos e remédios”. De tudo, é necessário analisar o que serviria à vida, ou seja, “avançar contra 
os descaminhos do sentido histórico, contra o gosto desmedido pelo processo, em detrimento do 
ser e da vida” (NIETZSCHE, 2005, p. 45).
O filósofo propõe a seus contemporâneos que o sentido da vida não deve ser buscado no 
passado e na memória, mas dentro de si mesmo. Nietzsche desafia o seu leitor a definir por si 
mesmo o sentido da existência, a ousar. Para ele, na medida em que a história pretendeu ser ciência 
e buscar a verdade como sentido último da narrativa, deixou de servir à vida. Todavia, o verdadeiro 
objetivo do conhecimento não é outro senão o de servir à ação e à vida prática. Nessa perspectiva, 
o filósofo nos convida a refletir sobre o sentido a-histórico, ou seja, uma história não histórica.
“O elemento histórico e o elemento a-histórico são igualmente necessários para a saúde de 
um indivíduo, de um povo, de uma cultura” (NIETZSCHE, 2005, p.74). O que o autor propõe, 
em síntese, é a ponderação da primazia do elemento histórico, a “febre” que atacava os modernos. 
O antídoto para esta “doença” seria de dois tipos: o elemento a-histórico e o elemento supra-histórico.
Por elemento a-histórico Nietzsche compreendia a capacidade de esquecer, de abster- 
-se de criar temporalidades, de suprimir o pensamento em torno de sucessões e anterioridades; 
por supra-histórico, o filósofo entendia um impulso que lança o olhar no devir, que transcende 
as realidades momentâneas, que se concentra naquilo que é imortal e imutável, isto é, a arte e a 
religião (NIETZSCHE, 2005).
Filosofias da história no século XIX 35
Finalmente, convém amarrar as amplas divagações do pensamento nietzschiano sobre a 
história. De todas as contribuições que esse filósofo deixou, a proposta de pensar a história não 
apenas com base na memória, mas também na ausência de temporalidades e no devir nos parece 
ser as mais instigantes para o historiador.
Nietzsche nos instiga a pensar que o trabalho do historiador não está preso ao passado, 
mas trafega além das temporalidades e se situa, inclusive, na ausência do tempo. A história 
serviria à vida se equilibrasse três impulsos: o impulso memorialístico, a ausência do tempo e 
a possibilidade de lançar-se ao que é imortal. Essas três dimensões juntas e interligadas dariam 
o verdadeiro sentido à história. Não se trata de uma história preocupada com a narrativa 
da memória, tampouco presa aos grilhões do passado, mas uma história que permitisse ao 
homem tornar-se autor de suas definições.
Considerações finais
Segundo Baumer (1977, p. 13), “se alguma vez o conceito de século falhou, foi no século 
XIX”. Com isso, o autor nos alerta para a diversidade de ideias, posturas, identidades, desafios 
e de possibilidades que estes cem anos proporcionaram. Foi um período difícil de catalogar 
com um rótulo ou um único jargão em virtude das intensas transformações por que passou. 
As instabilidades e o constante fluxo das mudanças ditavam o ritmo desse período. No campo das 
ideias e, particularmente, no campo historiográfico, não foi diferente.
O século XIX se iniciou com a busca pelo eterno e o infinito a partir de Hegel. Passou pela 
brusca ruptura do mundo idealista para a árida seara das condições materiais da existência humana, 
de uma história como luta, contradição, antagonismo, e finalizou com o próprio fim da história, 
proposto por Nietzsche. Esse fim não é um desaparecimento, mas sim o fim de uma história que 
anulava o homem e monumentalizava os fatos.
A contribuição das filosofias do século XIX para a historiografia foram definitivas. Foi nesse 
século que a história adquiriu autonomia como campo específico do saber e passou a ser apropriada 
pelos Estados nacionais emergentes, legitimando as ações de um povo, seja pela construção dos 
mitos nacionais, seja pela definição de modelos de homem.
Ademais, foi nesse mesmo século que emergiu a constatação, por meio da perspectiva 
marxista, de que a história é o palco da luta de classes, o espaço privilegiado da burguesia e a arma 
estratégica de dominação do proletariado. Tratou-se, principalmente, de um momento no qual as 
críticas lançadas às práticas historiográficas proporcionaram a reinvenção da história, a ampliação 
de seus métodos e de seus objetos, a capacidade crítica em relação a sua escrita e aos objetivos 
contidos nesse processo.
Ampliando seus conhecimentos
• SCHORESKE, Carl. Viena fin-de-siécle. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
A obra do historiador estadunidense Carl Schoreske retrata a intensa vida intelectual e 
científica da segunda metade do século XIX em Viena (atual Alemanha). O autor fornece 
Teoria da História36
um amplo panorama do século XIX por meio das vanguardas artísticas e intelectuais da 
época, apresentando, de maneira detalhada, esse que foi um dos séculos mais intensos 
da história. Schoreske investiga – por meio da arte, da literatura e da psicologia – o 
surgimento de ideias revolucionárias, analisa a vida da aristocracia austríaca e desvenda 
o nascimento dos principais sistemas de ideias do século XIX. Tendo como documentos 
principais obras de arte (músicas,sinfonias, literatura, arquitetura), o autor faz um amplo 
mergulho naquilo que foi a Alemanha em um dos seus momentos mais áureos, no que diz 
respeito à produção de ideias.
Atividades
1. Segundo a perspectiva hegeliana, em que consiste a contribuição da razão na história? Explique.
2. Em que consiste o conceito de materialismo histórico proposto por Marx e Engels? Como 
esse conceito revolucionou a escrita da história? Justifique.
3. Segundo Friedrich Nietzsche, quais são os três impulsos imprescindíveis para a análise do 
passado e como eles devem ser utilizados pelo historiador?
Referências
ARON, Raymond. O Marxismo de Marx. São Paulo: Arx, 2005.
BAUMER, Franklin L. O pensamento europeu moderno. Volume II: Séculos XIX e XX. Lisboa: Edições 
70, 1977.
HARTMAN, Robert. Introdução. In: HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. A razão na história: uma introdução 
geral à filosofia da História. São Paulo: Centauro, 2001.
HEGEL, Georg W. F. “Prefácio” dos Princípios da filosofia do direito. In: HEGEL, Georg W. F. Princípios da 
filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HEGEL, Georg W. F. A razão na história: uma introdução geral à filosofia da História. São Paulo: Centauro, 
2001.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis: Vozes, 1996.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
NIETZSCHE, Friedrich. II Consideração Intempestiva: sobre a utilidade e os inconvenientes da História 
para a vida. In: NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre História. Trad. de Noéli Correia de Melo Sobrinho. 
Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005.
PRADA, Maurício (org.). Os historiadores: clássicos da História v.1 – de Heródoto a Humboldt. São Paulo: 
Ed. PUC-SP; Vozes, 2013. v. 1.
QUINTANEIRO, Tânia. Um toque dos clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.
3
A construção da disciplina histórica 
no pensamento oitocentista
A tentativa de desvencilhar a escrita histórica das chamadas filosofias da história, manifestas, 
sobretudo, no pensamento de filósofos como Vico, Herder e Hegel, ganhou impulso com os 
esforços de três autores: o alemão Leopold von Ranke (1795-1886) – fundador da Escola Histórica; 
o francês Jules Michelet (1798-1874) – maior nome da Escola Romântica de Historiografia; e o 
suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) – um dos primeiros representantes de uma “história cultural” 
entre as décadas de 1820 e 1860.
Esses estudiosos, cuja formação inicial não era em história – pois tratava-se ainda de um 
campo em construção na Europa das décadas de 1820 e 1830 –, consolidaram as bases de uma 
história-ciência e serviram de inspiração para uma geração de historiadores, principalmente em 
relação à pesquisa de fontes e à escrita historiográfica.
Assim, neste capítulo vamos explorar aspectos relativos à escrita desses historiadores, 
bem como sobre as temáticas a que deram vazão. Além disso, vamos conhecer o modo pelo qual 
cada um contribuiu para o processo de institucionalização da história como ciência ao longo do 
século XIX, estabelecendo aproximações e diferenças metodológicas/epistemológicas entre eles. 
O objetivo é entender como foi construída a concepção moderna de história, diferenciando-a das 
anteriormente estudadas e enfatizando algumas tendências do fazer histórico oitocentista.
3.1 Ranke, a Alemanha e a construção do método histórico
Até a primeira metade do século XIX, a Alemanha não constituía um Estado unificado: ela 
mais parecia com uma “colcha de retalhos”, com dezenas de pequenos e médios reinos instáveis 
independentes. A exceção era o território da Prússia, que despontava como uma grande potência 
militar, econômica e política.
Entre os representantes da burguesia prussiana havia dois interesses em jogo: a vontade de 
realizar a unificação germânica e a necessidade de encaminhar a modernização econômica sem os 
riscos de uma revolução popular. O objetivo era realizar uma revolução liberal sem participação 
popular e excessiva extensão de direitos.
A Figura 1, a seguir, mostra o mapa da Alemanha antes, durante e depois do processo de 
unificação. Em 1818, a Alemanha ainda não constituía um império unificado: eram territórios 
independentes entre si, falantes de língua alemã e com características étnicas comuns. Como 
mencionado, a Prússia constituía o mais rico, poderoso e estável dos territórios, e buscava a 
integração como forma de fortalecimento político-militar. A pesquisa e o ensino de história seria 
uma das estratégias do Estado prussiano para solidificar uma consciência cívica entre os vários 
territórios em torno de um único império.
Teoria da História38
Figura 1 – Alemanha antes e durante o processo de unificação
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A área em destaque correspondia ao Império prussiano; os demais territórios foram anexados entre 1871 e 1918 e 
formaram posteriormente o II Reich (O Estado Alemão) até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 39
Figura 2 – Alemanha atual
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Em um contexto internacional, caracterizado pela afirmação dos Estados-Nação, a unificação 
era considerada a única solução para que a Alemanha competisse em pé de igualdade com os 
demais Estados europeus. Nesse sentido, é possível perceber a apropriação e adaptação política 
do conceito de nação – advindo do pensamento romântico e manifesto na obra de autores como 
Fichte e Herder – com finalidades ideológicas.
Para tanto, a burocracia estatal prussiana passou a financiar projetos de pesquisa e estudos que 
comprovassem a unicidade do povo germânico, reafirmando, assim, a necessidade da unificação 
política e militar de algo que já constituía uma unidade cultural. É nesse contexto que se desenvolve 
a obra e o pensamento de Ranke.
Filólogo de formação, Leopold von Ranke escreveu em 1824 a obra História das nações 
latinas e teutônicas de 1495 a 1514. Apesar de suas bases filológicas, essa obra pode ser considerada 
uma das primeiras a desenvolver uma perspectiva de história como ciência, em virtude do método 
desenvolvido tanto nesse texto quanto em trabalhos posteriores.
Ranke contribuiu para a consolidação do historicismo – concepção moderna de história –, 
dando a esse campo um status de ciência humana, com metodologia e objeto próprios, inaugurando, 
também, a profissionalização do historiador.
Segundo o historiador Hayden White (1995), é atribuído a Ranke o mérito de ter instituído 
as bases epistemológicas do método histórico e firmado o conhecimento histórico com uma base 
empírica, por isso científica e objetiva (de acordo com os critérios de objetividade e ciência da 
primeira metade do século XIX). Desse modo, podemos no perguntar: qual é a ideia de história 
formulada por Ranke em seus escritos? Como sua escrita, ainda que permeada por uma pretensão 
objetivista, revela e manifesta intencionalidades (as quais procurava ocultar de maneira obstinada)? 
Vejamos a seguir.
Teoria da História40
3.1.1 A busca da unidade pelo estudo das particularidades
Já em sua primeira obra, publicada em 1824, Ranke evidenciava sua intencionalidade como 
historiador: estudar a trajetória das nações – no caso, da constituição da nação alemã – em sua 
unidade (WHITE, 1995). O autor entendia que isso só era possível por meio do entendimento das 
particularidades, isto é, o conhecimento histórico era entendido por Ranke como algo que avança 
do particular ao geral.
A unidade (o geral) seria proveniente do estudo minucioso dos acontecimentos únicos, 
singulares, por meio dos quais a análise poderia avançar para as generalizações. Esse estudo 
objetivava a busca por coerências formais mínimas que permitissem a compreensão do todo, da 
unidade, meta que orientava a escrita histórica de Ranke.
Essa concepção insere-se em um contexto mais amplo, chamado de historicismo, movimento 
que tem suas raízes no romantismo alemão do século XVIII. De acordo com Wehling (1973, 
p. 179),“entendamos por Historicismo, de modo genérico, o movimento romântico, particularista 
e evolucionista que abarca quase todas as formas de expressão científica do século XIX, presente 
inclusive em pensamentos antagônicos da segunda metade do século”.
O historicismo era “romântico” por duas razões: (i) a ida ao passado como uma tentativa 
de inventariar os “valores puros” de um povo; (ii) a rejeição ao racionalismo filosófico da 
história, com suas leis e sua tentativa de sujeitar a história a um sentido filosófico maior que 
ela. Nas palavras de Wehling (1973, p. 179), “romântico, em suas origens, num duplo sentido: 
a ida ao passado como fator emocionalista (os valores puros, as grandes obras e a sensibilidade 
criadora estão em qualquer ponto do passado) e a oposição ao racionalismo filosófico, com 
suas leis e seu direito natural”.
Por meio dessa metodologia, Ranke acreditava que não se corria o risco de se perder nos 
detalhes, nem de que o processo histórico se obscurecesse, tornando-se uma gama infinita de 
acontecimentos singulares. Os detalhes estudados em sua unicidade e sua relação com o universal 
propiciariam o estudo da unidade das nações: compreender o todo sem perder de vista as exigências 
da pesquisa histórica (WHITE, 1995).
Em outras palavras, para Ranke, o historiador deve evocar nas fontes primárias 
determinadas realidades singulares. Essas realidades não se repetem e não se confundem com 
o atípico, o qual inviabilizaria qualquer tentativa de sistematização textual. De acordo com 
Wehling (1973, p. 180):
O aspecto particularista do Historicismo interessa-nos, no que diz respeito 
ao pensamento de Ranke, como consequência metodológica: a busca do 
singular, do único e do não necessariamente típico (e não simplesmente 
do atípico, que corresponderia ao caos na informação e à falência do 
conhecimento histórico) [...] [pressupõem que] os dados que o historiador 
encontra relatam uma determinada realidade, única, singular, que não se 
repete e que possui numa perspectiva sub specie aeternitatis valor próprio e 
semelhante a outras épocas e situações.
A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 41
White (1995) denominou essa compreensão como “o processo histórico como comédia”. 
No entanto, qual a razão dessa designação? Segundo o autor, o mythos cômico servia de base 
aos textos escritos por Ranke, nos quais uma profusão de detalhes encaminha o enredo para atos 
individuais como partes de um drama universal, macrocósmico. A história assim se deslinda, isto 
é, se elucida, como um campo de conflitos e ações individuais que culminam para desenlaces 
harmoniosos, visto que o natural é suplantado pela estabilidade e justiça do social.
O mythos cômico serviu de estrutura de enredo para a maioria das obras 
históricas de Ranke e de arcabouço dentro do qual cada uma dessas obras 
poderia ser encarada como um ato individual de um drama macrocósmico. 
Esse mythos permitiu a Ranke concentrar-se nos detalhes individuais das cenas 
que narrava, mas proceder com resoluta autoconfiança através da profusão de 
documentos à seleção segura daqueles que eram significativos e daqueles que 
eram insignificantes como testemunho. (WHITE, 1995, p. 179)
Para escrever seus textos, Ranke desenvolveu um método rigoroso, amparado no conceito 
de objetividade das ciências físico-naturais, mas com as especificidades próprias da narrativa 
histórica. A objetividade estaria garantida pela não interferência do sujeito – o pesquisador. 
Para que o objeto estudado viesse à tona em sua realidade, o sujeito deveria interferir o mínimo 
possível, e, de preferência, não imprimir qualquer opinião/juízo de valor. Em Ranke, esse objeto 
era o passado; o historiador/sujeito representaria o presente. Para que o passado viesse a lume por 
meio da seleção criteriosa de determinadas fontes (e o desprezo de outras), o historiador deveria 
permanecer oculto em seu estudo (WEHLING, 1973; WHITE, 1995).
Isso não significa que o autor desprezasse qualquer tentativa de interpretação. Ranke era 
crítico às ditas “filosofias da história” e acreditava que a própria lógica da história já seria, em si, 
uma forma de interpretação. Em suas palavras, “a História compreensiva é, na minha opinião a 
verdadeira filosofia da História” (RANKE, 1954 apud WEHLING, 1973, p. 184). A respeito de 
uma possível interpretação da história imanente ao próprio texto histórico, Wehling (1973, p. 184) 
ressalta:
Outro aspecto a destacar é a questão da interpretação, ou compreensão 
(verstandene Geschichte) em Ranke. Narrar a História “como realmente foi” 
(no sentido agora depurado) não significa deixar de lado qualquer interpretação, 
como o fizeram tantos historiadores da segunda metade do século, a quem se 
aplica a crítica de Carr. Em Ranke, coexistiram e tiveram consequências no 
seu trabalho a noção herderiana do Zeitgeist; a religião, embora sem o sentido 
de interferência do transcendente que tomou em Hegel ou Niebuhr; o papel 
superior do Estado, como entendido por todo o século XIX (e as oposições 
seriam minoritárias todo o tempo, e difusas – anarquistas e marxistas). Nada, 
porém, que se transformasse numa metafísica, isto é, nada que não fosse inerente 
ao próprio mundo dos fenômenos perceptíveis em si (como os fatos políticos) 
ou por suas consequências (como as ideias).
Ranke não desprezava o fato de a história ter um sentido, mas o entendia como algo 
intrínseco, que permeava a história e não a conduzia, diferentemente de Hegel (como vimos no 
Capítulo 2). No entanto, é impossível negar que Hegel – com suas contribuições sobre o papel 
Teoria da História42
superior do Estado – e Herder – com o desenvolvimento do conceito de zeitgeist, ou espírito de 
cada época – influenciaram as ideias de Ranke.
Em Ranke, o processo histórico se diferenciava do processo total do mundo. Enquanto o 
processo total do mundo é caótico, o campo histórico é estável, uma vez que é conduzido por 
Deus. Deus constituía os homens individualmente, os quais, combinados de diferentes formas em 
diferentes unidades, constituíam os povos. Estes, para a satisfação de seus intentos mais elevados, 
se configuram em instituições como a religião e o Estado, fundamentais para a operacionalização 
de proposições mais benéficas e a instituição da nação. Deus imprimiria nos homens a tendência 
de se organizar em nações com o objetivo de atingir a estabilidade e a ordem, desvencilhando-se 
do desregramento (WHITE, 1995).
No entanto, Igreja e Estado, por vezes, excederam os limites de sua esfera de atuação para 
além dos limites para os quais foram criados, resultando desta situação guerras civis e entre nações. 
Desse processo emergiram tentativas de uma Igreja e de um Estado universais, fato que pode ser 
observado, por exemplo, na extensão do poder da Igreja Católica no Ocidente medieval e do Sacro 
Império Romano Germânico. Como resultado, a expressão de cada povo (ou o que hoje chamamos 
de cultura) recrudesceu e definhou no medo e na intolerância (a chamada “idade das trevas” ou 
Idade Média). Somente com o renascimento artístico-científico e com o advento das reformas 
religiosas é que se tornou propício o desenvolvimento da ideia de nação com seus Estados e religiões 
próprias, fenômeno que representava uma fase qualitativamente nova no processo histórico. E qual 
seria essa fase? O próprio momento em que Ranke vivia, no qual ocorria a formação dos Estados-
-Nação, inclusive na Prússia.
Metodologicamente, Ranke é considerado o primeiro historiador científico, uma vez 
que buscou dissociar a escrita histórica tanto de um viés literário quanto filosófico, arrolando e 
anexando a seus textos fontes primárias, algo até então inédito. Além disso, o autor inovou ao 
diferenciar as fontes primárias das consideradas de segunda mão (escritos sobre as fontes) e ao 
submeter à crítica textos de outros historiadores. Essa metodologia, que acabaria se tornando 
modelo de cientificidade para outros historiadores, seguia as seguintes etapas:• a identificação das fontes primárias;
• a rejeição de qualquer interpolação;
• a crítica das fontes secundárias, procurando desdobrá-las e encontrar nelas as 
informações primárias;
• a crítica dos historiadores, procurando situá-los em sua época, e não lhes 
dando, como até então, um ilimitado crédito de confiança. Seguiu, entretanto, 
com muito mais gosto as três primeiras etapas, já que ali estava a criação 
histórica. (WEHLING, 1973, p. 183)
Em que pese suas pretensões – de criar um método científico de base empírica, imparcial e 
objetivo –, Ranke considerava confiável e digno de pesquisa apenas fontes escritas e oficiais (relativas 
ao Estado e à Igreja). O autor se dedicou a analisar a trajetória das instituições, e, notadamente, a do 
A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 43
Estado no tempo. Por esta razão, as obras de Ranke acabaram se tornando parciais, na contramão 
daquilo que ele próprio defendia.
Na mesma época, outra perspectiva sobre a escrita histórica se desenvolvia na França por 
intermédio dos estudos de Jules Michelet, assunto que vamos discutir a seguir.
3.2 Michelet e a história como narrativa da nação
Jules Michelet nasceu em Paris, na França que veria a ascensão e queda de Napoleão e a 
Revolução Francesa (1789-1799). Tinha origem humilde, oriundo do povo, o qual defendeu em 
suas obras. Filho de um tipógrafo modesto, fez sua formação acadêmica em Letras, ministrando 
aulas particulares no início de sua carreira, até ser nomeado, em 1830, professor de Clémentine, 
princesa e filha de Luís Filipe, rei da França (que naquela época vivenciava um período de 
restauração monárquica).
Em 1834 passou a exercer também o cargo de chefe da “Seção histórica dos arquivos 
nacionais” franceses e teve acesso aos documentos que serviriam de base para a escrita de sua 
grande obra: História da França, cujos tomos I e II foram publicados no ano anterior (RABELO, 
2011). Em 1838, passou a ministrar aulas no Collège de France, contudo – em razão de suas ideias 
liberais e atuação política –, foi preso em 1851 e afastado dos cargos públicos, passando a se dedicar 
unicamente ao ofício de historiador, o qual cumpriu até sua morte, em 1874.
Diferentemente de Ranke e sua alardeada imparcialidade, Michelet manifestou e declarou 
sua parcialidade, expressa no nacionalismo e defesa dos ideais liberais (RABELO, 2011). Além 
disso, sua escrita – embora orientada no sentido da abordagem de fenômenos reais –, se fazia 
de acordo com suas próprias palavras, balizada pelas emoções em consideração àquilo que 
denominava eterna justiça (WHITE, 1995).
Embora tenha negado ser um romântico, Michelet pode ser considerado aquele que 
deu à concepção romântica de mundo um aspecto científico, demonstrando que é possível 
compreender o mundo por meio de uma “sensibilidade poética criticamente autoconsciente” 
(WHITE, 1995, p. 161), sem desconsiderar o conflito inerente ao que é humano e que constitui 
a base do processo histórico.
Ao contrário de Herder, Michelet não compreendia o processo histórico como uma espécie 
de harmonia, a qual conduziria a humanidade em diferentes formas de existir (seus diferentes 
povos) à benevolência e ao equilíbrio. Para ele, o processo histórico é permeado pela luta e pelo 
conflito, fatores que conduziriam a humanidade a inversões cataclísmicas.
Por meio dessas inversões, os homens seriam dispostos em campos opostos, mas não 
necessariamente antagônicos. Desse processo, constituído de tensão e luta, se desenrolaria o 
percurso revolucionário, no qual todas as diferenças – manifestas nas instituições e valores – seriam 
dissolvidas em nome da busca pela unidade do todo (WHITE, 1995). Ademais, os mais violentos e 
belicosos dos homens tornariam-se defensores da paz.
Teoria da História44
A revolução seria o modo pelo qual tensões e diferenças se diluiriam na busca pela equidade, 
que tornaria possível a justiça e o amor verdadeiros (WHITE, 1995). Contudo, o processo cuja 
base informaria essa fusão não seria dialético. Michelet não concebia o processo histórico como 
dialético, mas como uma tensão, na qual a fusão de uma abstração em outra sucederia em uma 
espécie de identificação constituída de uma única essência.
É dessa maneira que Michelet narra e compreende o processo histórico na obra História da 
Revolução Francesa (1847). Segundo White (1995, p. 168, grifos do original):
Em seu entusiasmo pelos acontecimentos que descrevia, Michelet dissolveu 
todo o senso de diferença entre os homens, instituições e valores. Sua metafórica 
identificação de coisas que parecem ser diferentes pôs de lado qualquer senso das 
diferenças entre coisas, que é, para começar, o momento mesmo para o emprego 
da metáfora. Toda diferença foi dissolvida em sua apreensão da unidade do 
todo. [...] Essas fusões de uma abstração com outras não foram conquistadas 
dialeticamente; foram meramente declaradas. Mas não foram vividas por 
Michelet nem como abstrações nem como fusões, mas como identificações da 
única essência que tanto a substância da história quanto a causa em cujo nome 
Michelet trabalhava como historiador.
Os princípios abstratos do amor, da graça e da justiça – dissolvidos nas tensões humanas e 
levados ao extremo no processo revolucionário – são identificados com os elementos concretos 
da nação, da graça e da revolução, com destaque para o povo/nação, protagonista do processo 
histórico em Michelet.
Segundo White (1995), é dessa forma que – diferentemente de Ranke – Michelet consagra a 
concepção de história como metáfora, posta em enredo como uma “estória romanesca”. O processo 
histórico, assim como em um enredo romanesco, embora seja permeado pela tensão, desenvolve-
-se para consolidar a eterna justiça e concebe a natureza unitária das partes em conflito como a 
coerência que encaminha essas partes a se fundirem, isto é, a se identificarem com o todo. A escrita 
de Michelet era extremamente metafórica, apesar de o autor, assim como Ranke, buscar a verdade 
objetiva e vigorosamente.
Vejamos no trecho a seguir, sobre a tomada da Bastilha, como esses dois aspectos – o povo 
como protagonista e o forte tom metafórico – se manifestam:
Eram cinco e meia. Um grito sobe da Grève. Um grande rumor, de início distante, 
irrompe, avança, aproximando-se com a rapidez, o fragor da tempestade... 
A Bastilha foi tomada! Nessa sala já repleta entram de súbito mil homens, e 
dez mil empurravam atrás. O revestimento de madeira estala, os bancos 
tombam, a barreira é empurrada sobre a mesa, a mesa sobre o presidente. Todos 
armados, de maneiras estranhas, alguns quase nus, outros vestidos de todas 
as cores. Um homem era carregado sobre os ombros, coroado de louros; era 
Élie; todos os despojos e prisioneiros ao redor. À frente em meio a esse fragor 
em que não se teria ouvido um raio, marchava um jovem, recolhido e muito 
religioso; levava suspensa e ficada em sua baioneta uma coisa ímpia, três vezes 
maldita, o regulamento da Bastilha. As chaves também eram carregadas, essas 
chaves monstruosas, ignóbeis, grosseiras, gastas pelos séculos e pelas dores dos 
homens. [...] A Bastilha não foi tomada, é preciso dizê-lo, entregou-se. Sua má 
reputação perturbou-a, tornou-a louca e a fez perder o espírito. (MICHELET, 
1989, p. 164-165)
A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 45
Em Michelet, os protagonistas do processo histórico não são necessariamente homens 
que ocupam cargos de notoriedade, que assinam documentos e têm sua vida biografada. 
Ainda que mencione figuras de destaque, o autor faz questão de registrar e exaltar em sua 
obra a presença de homens e mulheres comuns, anônimos e numerosos, considerando-os 
protagonistas e dando-lhes voz.
Essas questões estão diretamente relacionadas ao ofício do historiador e ao seu papel na 
sociedade. Para Michelet (1989), o historiador carrega o dever moral de “guardião da memória 
dos mortos”, pois escreve em nome deles e lhes dá voz. Como exemplo, podemos citar um dos 
momentosmais emblemáticos da Revolução Francesa, ocorrido em 14 de julho de 1789, quando 
as mulheres invadiram a Bastilha para libertar os prisioneiros.
Ao narrar este tipo de acontecimento – que mostra a trajetória daqueles que ao longo 
da história foram silenciados ou esquecidos –, o historiador pode “ouvir as vozes dos mortos” 
e dar vida aos seus silêncios, permitindo que eles “falem”. O historiador, desse modo, torna-se 
um instrumento de justiça, permitindo que os mortos, finalmente ouvidos e entendidos, possam 
repousar em paz:
os mortos repousarão tranquilos em seus túmulos. [Só então] começarão a 
compreender seu destino, a modular suas dissonâncias numa harmonia mais 
suave, a dizer a si mesmo e em voz baixa as últimas palavras de Édipo: “Sede 
felizes por todo o tempo que há de vir”. As almas são saudadas e apaziguadas. 
Permitem que se fechem nas urnas. [...] Preciosa urna de tempos esquecidos, os 
sacerdotes da história – com que unção, com que solicitude eles a vão carregando 
e passando adiante! [...] como carregariam as cinzas do próprio pai ou do filho. 
O filho? Mas não são eles mesmos?. (MICHELET apud WHITE, 1995, p. 169)
Contudo, ainda podemos nos perguntar: é possível ao historiador “dar voz aos mortos” e 
propiciar que “falem” por intermédio de seus textos? É possível ao historiador compreender o que 
diziam aqueles silenciados em sua própria época?
Esses questionamentos nos remetem a alguns dos ideais que têm instigado gerações de 
historiadores, como Michelet, e filósofos que se debruçaram sobre o sentido da história1.
3.3 Burckhardt e as possibilidades de uma História Cultural
Dentre os historiadores que influenciaram o século XIX, destaca-se Jacob Burckhardt. 
Nascido na cidade de Basileia, Suíça, Burckhardt era filho de pais protestantes. Seu pai, que gostava 
de colecionar coisas, tinha habilidades artísticas e escreveu um livro sobre a história da sua cidade. 
Era também apaixonado pela pesquisa e pastor protestante, vocação que não seria seguida pelo 
jovem Jacob.
1 Em um contexto diferente, na Alemanha do ano de 1940, o filósofo Walter Benjamin retomaria esta temática, como 
veremos no Capítulo 5.
Teoria da História46
Tendo ingressado no curso de Teologia da Universidade da Basileia aos 20 anos de idade, 
logo se desinteressou do curso e passou a cursar História na Universidade de Berlim em 1839, 
local em que teve a oportunidade de conviver e aprender com mestres como Leopold von Ranke 
e Gustav Droysen (1808-1884). Em suas cartas, Burckhardt confessaria mais tarde que, embora 
admirasse Ranke como historiador, não nutria simpatia por ele como pessoa.
A maior influência no período inicial de formação do jovem Burckhardt estaria, isto sim, no 
contato que teve com um jovem historiador da arte chamado Franz Kugler (1808-1858) – do qual 
se tornou discípulo e amigo. Em 1845, atuou como editor do jornal conservador Basler Zeitung, 
função que exerceu a contragosto por apenas dois anos. Em 1847, foi convidado a auxiliar Kugler 
na tarefa de reeditar manuais de história da arte e da pintura, experiência que influenciou sua 
concepção de história e o interesse pelas manifestações artísticas e culturais.
Em 1851, Burckhardt foi convidado a ministrar um curso de “Introdução ao estudo de 
História” na Universidade da Basileia; a partir de 1858, tornou-se professor titular dessa mesma 
universidade, encantando gerações sucessivas de alunos, entre eles Friedrich Nietzsche, o qual se 
tornaria depois professor da mesma instituição e amigo de Burckhardt.
Em 1855, Michelet publicou a obra História da Revolução Francesa, a qual foi lida por 
Burckhardt e causou nele forte impressão. Cinco anos depois, em 1860, o historiador suíço lançou 
aquela que é considerada a sua obra prima: A Cultura do Renascimento na Itália: um ensaio.
Nessa obra, Burckhardt (2009) busca compreender o Renascimento artístico, cujo apogeu 
se verificou na Itália do século XV e meados do XVI. Esse período – caracterizado por mudanças, 
renovações e redefinições sobre o lugar do homem diante do mundo – se consolidou como uma 
nova forma de pensamento e de consciência, que teve como influência o interesse pelos valores 
estéticos e filosóficos da antiguidade greco-romana clássica.
Para Burckhardt (2009), dois aspectos foram determinantes para essa renovação: a busca 
dos ideais de perfeição e beleza, permeados pela ideia do bem – integrante da tríade das ideias 
platônicas: verdade, beleza e bem. Com base na premissa de que por meio do belo é possível 
contemplar a verdade e o bem, a busca dos ideais de perfeição e beleza durante o Renascimento 
representou a celebração da capacidade humana de se superar nos planos individual, social 
e artístico (BURCKHARDT, 2009). É nesse contexto que se afirma a ideia de indivíduo, algo 
com existência singular, que não pode ser diluído e é único. Essa noção, segundo o autor, era 
inexistente na Idade Média:
Na Idade Média, [...] o homem reconhecia-se a si próprio apenas como raça, 
povo, partido, corporação, família ou sob qualquer outra das demais formas 
do coletivo. Na Itália, pela primeira vez, tal véu dispersa-se ao vento; desperta 
ali uma contemplação e um tratamento objetivo do Estado e de todas as coisas 
deste mundo. Paralelamente a isso, no entanto, ergue-se também, na plenitude 
de seus poderes, o subjetivo: o homem torna-se um indivíduo espiritual e se 
reconhece como tal. (BURCKHARDT, 2009, p. 25)
A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 47
A Figura 3, a seguir, refere-se à pintura Adoração dos magos, do artista renascentista italiano 
Domenico Ghirlanadaio (1449-1494), feita entre 1485 e 1488. Essa obra, diferentemente das 
pinturas medievais, manifesta a individualidade e o aspecto singular de cada personagem; é possível 
observar diferentes idades, semblantes, tipos de cabelo e personalidades. Importante ressaltar que 
o artista retratou a si mesmo nessa obra: o personagem de cabelos castanhos, no centro, e que 
parece olhar para o expectador, é um autorretrato de Ghirlandaio. A evocação do que é individual 
e único em cada pessoa, segundo Burckhardt (2009), é uma das características centrais da estética 
e do pensamento renascentista.
Figura 3 – Adoração dos magos, pintura do artista renascentista italiano Domenico Ghirlandaio
Fonte: GHIRLANDAIO, Domenico. Adoração dos magos. 1485-1488. 1 têmpera sobre madeira. 285 cm x 243 cm. Galeria Spedale degli 
Innocenti, Florença.
Teoria da História48
Em razão do estudo sobre o Renascimento na Itália e o desenvolvimento de metodologias 
diferenciadas – presentes em outras obras, como Reflexões sobre a História (1868) –, Burckhardt é 
considerado um dos precursores da História Cultural, tendência historiográfica que se afirmaria 
no século XX.
Segundo Paula Vermeersch (2003), a ideia de arte em Burckhardt e a noção de cultura 
a ela atrelada distanciava-se da influência de teóricos como Hegel, que entendia a arte e outras 
manifestações do homem como parte do Estado e a verdadeira expressão do espírito no mundo. Por 
outro lado, essa concepção foi influenciada pelo pensamento de Arthur Schopenhauer (1788-1860) 
com a obra O mundo como vontade e representação (1819). Burckhardt compartilhava da crítica 
do filósofo sobre uma filosofia da história; segundo Schopenhauer, essa noção seria impossível por 
uma razão simples: enquanto a filosofia se ocupa com a tentativa de entender a essência do mundo, 
a história o entendia como devir, isto é, como o puro fluir sem fim dos acontecimentos.
Nas palavras de Vermeersch (2003, p. 219-220), um procedimento filosófico da história 
inviabilizaria a própria história:
Em primeiro lugar, Schopenhauer negava a existência de uma Filosofia da 
História, porque consistia numa contradição irreconciliável: a Filosofia trata 
da essência do universo, enquanto a História o faz com o devir, a torrente sem 
fim dos acontecimentos. E a essência não participa desse devir, e vice-versa, 
pela própria definição dos dois fatores. Um dos primeiros pontosapontados 
por Burckhardt em suas Reflexões sobre a História é justamente a recusa da 
Filosofia da História. Para ele, a Filosofia se afigura como subordinadora e 
atemporal, enquanto a História é a coordenação dos elementos retirados do 
passado. A principal ruptura de Burckhardt em relação à historiografia anterior 
é a da negação de um sentido intrínseco aos acontecimentos.
A recusa em dar um sentido intrínseco aos acontecimentos do passado diferenciou 
metodologicamente Burckhardt dos historiadores de sua época (VERMEERSCH, 2003). Contudo, 
há ainda outra característica interessante na escrita de Burckhardt: uma forte dose de ironia. Seu 
texto é irônico na medida em que não vê nada em desenvolvimento no curso da história: nenhum 
sentido, realização ou propósito. Para Burckhardt, as coisas2 se aglutinam formando tecidos, ora 
com maior, ora com menor intensidade, como grandes forças que simplesmente avançam em 
direção a uma colisão, seja no presente seja no futuro do historiador.
De tempos em tempos, condições favoráveis (sociais, econômicas) se conciliam com o 
gênio – espírito que, entre outras coisas, inspirava as artes – e tornam propícia uma explosão de 
criatividade, a qual, partindo das artes, se expande e toma conta do pensamento, atingindo até 
mesmo áreas como a política e a religião (WHITE, 1995). Foi o que ocorreu, por exemplo, durante 
o renascimento italiano.
2 Partindo do pressuposto de que Burckhardt foi influenciado por Schopenhauer, é possível entender que as coisas 
sobre as quais o filósofo discorre são fenômenos tanto sociais quanto naturais.
A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 49
Segundo Peter Burke (2004), a obra de Burckhardt é parte de um primeiro esforço da 
historiografia em abordar a temática da cultura como objeto de estudo.
Burckhardt compreendia cultura como alta cultura, isto é, o conjunto das expressões mais 
elaboradas no campo das artes, da filosofia e das letras, posteriormente consideradas emblemáticas 
e por meio das quais o gênio manifestou o espírito dessa mesma época. Apesar de ser também 
artista amador e conviver/trabalhar com historiadores da arte, o autor se diferencia desses 
historiadores, tanto em relação a seu estilo de escrita quanto em relação ao conteúdo abordado. 
De acordo com Burke (2004), Burckhardt estava preocupado com as conexões entre as diferentes 
artes e o contexto em que elas foram possíveis, buscando entender o que Hegel e outros filósofos 
chamaram de zeitgeist (espírito de uma época).
O historiador acreditava, ainda, que por meio do estudo das manifestações artístico- 
-literárias e filosóficas era possível “ler” mentes; em outras palavras, Burckhardt acreditava que era 
possível ter acesso ao pensamento de uma determinada época, em uma tentativa de conhecer seus 
elementos culturais.
Iniciando pelas influências da cultura clássica sobre a arte renascentista, Burckhardt aborda 
em sua obra aspectos da Grécia Antiga e do Ocidente Europeu nos primeiros séculos da Era Cristã 
até chegar na Itália dos séculos XIV-XV e na obra do pintor flamengo Peter Paul Rubens (1577- 
-1640), já no limiar entre os séculos XVI e XVII. Valendo-se da análise de fontes primárias ignoradas 
por Ranke (em virtude de não serem oficiais), Burckhardt estudou obras de arte, textos literários e 
documentos oficiais. Em sua obra, o autor preferiu, em detrimento de grandes acontecimentos, dar 
ênfase a elementos constantes, que podem ser percebidos no florescimento de uma cultura passada 
(BURKE, 2004).
São exemplos de elementos constantes, personalidades dinâmicas, que se elevam sobre 
uma concepção mundana de realidade e sobre os demais homens de seu tempo em razão de seu 
aspecto visionário, cujos atos, impregnados de ímpeto e vontade criativa, são capazes de submeter 
e revigorar o pensamento, tornando possível o surgimento de novas ideias (WHITE,1995).
Segundo Burke (2004, p. 18, grifos do original), conceber a expressão cultural de uma época 
a alguns personagens isolados pode estar relacionado à compreensão de indivíduo em Burckhardt:
Em seu livro mais famoso, por exemplo, Burckhardt descreveu o que chamou 
de individualismo, competitividade, autoconsciência e modernidade na arte, 
literatura, filosofia e até na política da Itália renascentista. Em História Cultural 
da Grécia, publicado postumamente, Burckhardt voltou a esse tema, marcando 
o lugar da luta (agon) na vida da Grécia Antiga, na guerra, na política e na 
música, assim como nas corridas de carros ou nos Jogos Olímpicos. Enquanto o 
primeiro livro enfatizava o desenvolvimento do indivíduo, o último sustentava a 
tensão entre, de um lado, o que o autor chama de “individualismo incorrigível” 
e a paixão pela fama e, de outro, a exigência de que o indivíduo se subordine 
à cidade.
Teoria da História50
Em linhas gerais, para Burckhardt, de tempos em tempos, o gênio se manifesta em alguns 
indivíduos, proporcionando mudanças estéticas e filosóficas em uma sociedade. Contudo, não 
existiria o desenvolvimento progressivo desse tipo de mudança e nem algo que garantisse, no 
curso da história, sua permanência. Pelo contrário, para o autor, a tendência seria a de que a 
opressão – oriunda da religião e da política – sufocasse e oprimisse manifestações de criatividade e 
sensibilidade artística (WHITE, 1995).
A visão sobre a condição humana e a história, presente em Burckhardt, pode ser 
compreendida como ironia. Segundo White (1995), a ironia – também já pensada por Vico 
– é um dos principais tropos por meio do qual é possível construir um protocolo linguístico: 
ela consiste na habilidade de dizer uma coisa e denotar outra, ou, ainda, em uma reflexão que 
se vale de uma máscara de verdade, que se manifesta em uma postura cética em relação ao 
conhecimento e ao mundo. Nesse modo de falar e de escrever, é subjacente uma compreensão 
sobre o fraturamento da estrutura social e da crise da figura do herói como o guardião do que 
há de mais belo e sublime na condição humana. Trata-se de uma espécie de anti-heroísmo, uma 
antítese do Romantismo.
Em resumo, são as principais contribuições de Burckhardt: estudar o pensamento de uma 
determinada época para conhecer seus elementos culturais; analisar fontes históricas diversas; 
destacar personalidades em razão de seu aspecto visionário e alertar a opressão emanada da religião 
e da política, prejudicial às manifestações de criatividade e sensibilidade artística. Dentre esses 
fatores, podemos aprender que a história não conduz à esperança, à ação e nem ao aprimoramento 
do indivíduo. Aliás, não há como prever por meio dela nem mesmo se o homem irá permanecer 
como espécie, em uma constatação quase melancólica sobre a trajetória humana no tempo.
Considerações finais
Neste capítulo, abordamos aspectos relativos à compreensão do fazer historiográfico de três 
expoentes da historiografia oitocentista: o alemão Leopold Von Ranke, o francês Jules Michelet e 
o suíço Jacob Burckhardt.
Apesar de terem sido praticamente contemporâneos e de primarem pela crítica às fontes 
secundárias e o apreço pela análise de fontes primárias, os três apresentaram significativas diferenças 
entre si. Uma delas é em relação à escrita do texto histórico: observamos um estilo romanesco em 
Michelet, traços cômicos em Ranke e elementos satíricos em Burckhardt (WHITE, 1995).
Sobre a compreensão do que seria a história, todos eram contrários a qualquer tentativa de 
estabelecimento de uma filosofia da história. Em Ranke, a história é entendida como um campo de 
conflitos e ações individuais que culminam em desenlaces harmoniosos, uma vez que é conduzida 
por Deus. Em Michelet, ela é compreendida como um processo permeado pela luta e pelo conflito, 
elementos que conduzem a humanidade a inversões cataclísmicas e à revolução. Finalmente, 
em Burckhardt não se observa uma compreensão de história guiada por um sentido, seja ele 
harmonioso ou conflituoso: as coisas simplesmente tendem a se aglutinar, formando tecidos sociais 
cujas expressões– arte, filosofia, religião, política – podem aflorar com maior expressividade e 
criatividade ou podem tender para a colisão, seja no presente seja no passado.
A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 51
Ampliando seus conhecimentos
• BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. Trad. de Sérgio 
Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Publicada originalmente em 1860, a obra discute o renascimento italiano e busca entender 
as origens do individualismo moderno, priorizando o estudo de fontes até então ignoradas 
por outros historiadores, como textos literários e obras de arte. Em razão desta discussão, 
Burckhardt é considerado pelo historiador Peter Burke um dos primeiros representantes 
de uma historiografia cultural clássica.
Atividades
1. Aponte as principais características do estudo histórico em Leopold von Ranke e tente 
estabelecer relações com o contexto político no qual o autor desenvolveu o seu método 
histórico.
2. Por que, segundo Hayden White, o estilo do texto de Jules Michelet pode ser considerado 
romanesco?
3. Jacob Burckhardt é considerado por historiadores contemporâneos, como Peter Burke, um 
dos precursores da chamada História Cultural. Qual é a compreensão de cultura contida nas 
obras de Burckhardt?
Referências
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. Trad. de Sérgio Tellaroli. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2009.
BURKE, Peter. O que é História Cultural? Trad. de Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
MICHELET, Jules. A história da Revolução Francesa. Trad. de Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1989.
RABELO, Agnaldo Wanderson Santos. Michelet, desesperança e fúria na Idade Média: nasce a feiticeira. 
In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS INQUISITORIAIS, ago. 2011. Anais... Salvador: UFRB. 
Disponível em: http://www3.ufrb.edu.br/simposioinquisicao/wp-content/uploads/2012/01/Agnaldo- 
Rabelo.pdf. Acesso em: 7 abr. 2019.
VERMEERSCH, Paula. Jacob Burckhardt e suas reflexões sobre a história. História Social, Campinas, n. 10, 
p. 215-138, 2003. Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/view/334/289. 
Acesso em: 2 abr. 2019.
WEHLING, Arno. Em torno de Ranke: a questão da objetividade histórica. Revista de História, São Paulo, v. 46, 
n. 93, p. 177-200, 1973. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/131940/128085. 
Acesso em: 10 abr. 2019.
WHITE, Hayden. Meta-História: a imaginação histórica do século XIX. Trad. de José Laurenio de Melo. São 
Paulo: Edusp, 1995.
4
A Escola dos Annales e a ideia 
de história-problema
Você já se perguntou qual é a função da história? Para que serve o trabalho do historiador? 
Ou, ainda, qual é o objeto próprio da história? Com o que ela deve se preocupar? De maneira 
superficial, quando nos deparamos com essas questões, as respostas parecem óbvias, como dizer 
que a história é o estudo do passado. Entretanto, conforme avançamos e aprofundamos nossos 
conhecimentos, percebemos que não é tão simples assim. Essas questões sempre motivaram e 
incomodaram diversos intelectuais na busca por uma resposta.
Nos primeiros anos do século XX, esses questionamentos ficaram ainda mais pertinentes. 
O clima proporcionado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) colocou em evidência diversas 
certezas que o homem ocidental havia produzido e sobre as quais se amparava. O conflito, que deixou 
um número de mortos e de feridos sem precedentes (HOBSBAWN, 2003), proporcionou novas 
perspectivas para a humanidade e para a história. Seria mesmo o futuro um lugar do progresso e 
da felicidade, como acreditaram os homens do século XIX? Seria a história a narrativa dos grandes 
feitos e das grandes conquistas da humanidade? Estaria o tempo dividido em passado, presente 
e futuro de maneira estanque e cronometrada? As datas encerrariam a alma do acontecimento 
vivido, em toda a sua complexidade?
Essas questões atingiram o campo historiográfico e lançaram inquietações sobre o modo 
como a história era produzida e a quem ela servia. Novas possibilidades para se pensar a história 
foram lançadas. Novos métodos de abordagem foram sugeridos e novas temporalidades foram 
requeridas.
A passagem do século XIX para o século XX foi um dos momentos mais significativos da 
história. Toda a virada de século provoca ideias fortes, como as de fim do mundo ou de entrada 
em uma nova era. Naquele momento específico, no entanto, um clima sombrio pairava sobre o 
mundo. Tratava-se do fantasma da Primeira Guerra, que viria a se efetivar nos primeiros anos do 
século XX. Além disso, os homens e mulheres que viveram esse momento estavam eufóricos com 
o desenvolvimento das ciências e das tecnologias.
No campo da história, foi nas primeiras décadas do século XX que aconteceu um dos mais 
revolucionários e importantes movimentos que alteraria tanto a função da história frente as outras 
ciências sociais, quanto definiria novos métodos, epistemologias e objetos para o trabalho do 
historiador. Trata-se do movimento que ficou conhecido como Annales. É sobre esse movimento 
que vamos estudar neste capítulo.
Teoria da História54
4.1 O entreguerras e a desconstrução das “certezas” do século XIX
“É assim que o mundo acaba, sem estrondo, num gemido”.
(ELIOT, 2018)
Toda a expectativa com a entrada do século XX e a crença de um futuro grandioso foram 
frustradas para a maioria dos europeus que vivenciou os primeiros anos do novo século. O poeta 
T. S. Eliot (1888-1965) traduziu essa frustração no poema “A terra devastada”, de 1922, com o 
qual descreveu que o fim daquele mundo de sonhos não veio com ruídos estrondosos, mas em 
um gemido silencioso e individual de dor, vergonha, morte e devastação da terra e das esperanças 
(ELIOT, 2018).
O final do século XIX e os primeiros anos do século XX foram de significativas mudanças 
– não só nos aspectos sociais, culturais e econômicos, mas, também, na compreensão dos homens 
sobre seu papel no mundo. Esse período trouxe, a um só tempo, as vantagens incomparáveis da 
eletricidade e a devastação sem precedentes da Primeira Guerra Mundial.
Dentre as inúmeras causas dessas transformações, a mais notável e, sem dúvida, mais 
importante, foi o rápido desenvolvimento tecnológico – que alterou a maneira como as coisas eram 
feitas, produzidas e inventadas – e o período que antecedeu e em que ocorreu a Primeira Guerra 
Mundial. A percepção dessa contradição – entre o progresso intenso proporcionado pelas novas 
tecnologias e a sensação de regressão ao que havia de mais primitivo no ser humano (representado 
pelo desenrolar de um conflito mundial) – colocou o homem diante de uma nova visão do mundo, 
dele mesmo e do tempo histórico.
As ideias de progresso e de retrocesso se conflitavam e ofereciam ao homem a possibilidade 
de questionar o tempo, o processo histórico e, principalmente, a ideia que tinha se consolidado no 
século XIX de história como progresso, do futuro como um tempo melhor e mais evoluído. Além 
disso, a possibilidade de questionar a linearidade do tempo permitiu repensar a noção de que 
passado e presente eram estágios inferiores de evolução e progresso em relação ao futuro.
Segundo o historiador Eric Hobsbawn, o século XX iniciou com uma imensa riqueza 
de recursos e de conforto1. Para ele, “o mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionária 
em avanço constante” (HOBSBAWN, 1994, p. 22). Era fato que os avanços nas comunicações, 
no transporte, na medicina e os recursos destinados à agricultura proporcionaram abundância 
de alimentos, informações e conforto. Por outro lado, o que havia no ar não era um clima de 
comemoração, mas de inquietação.
Segundo Hobsbawn (1994, p. 22), “houve, a partir de 1914, uma acentuada regressão dos 
padrões tidos como normais nos países desenvolvidos e nos ambientes da classe média e que 
1 Eric Hobsbawm (1917-2012) é um dos maiores historiadores contemporâneos. Sua obra analisa a formação do 
século XX em suasdiversas dimensões. Uma de suas maiores preocupações foi com a formação dos Estados-nação e 
o desenvolvimento das tradições. Em finais da década de 1950, Hobsbawm passou a integrar a corrente historiográfica 
conhecida como Nova Esquerda Inglesa e, a partir daí, elaborou uma revisão do marxismo ortodoxo e revolucionou a 
prática da escrita da história. Dentre suas obras mais famosas, se destaca a Era dos extremos, na qual se dedicou a analisar 
os eventos mais importantes do século XX, seguida de outros títulos como A era das revoluções, A era dos impérios e A era 
do capital.
A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 55
todos acreditavam piamente que estivessem se espalhando para as regiões mais atrasadas e para as 
camadas menos esclarecidas da população”.
O impacto que a possibilidade da destruição total do mundo provocou foi sentida de 
maneira ainda mais abrupta. Para os contemporâneos, que estavam informados sobre os perigos 
do momento, a sensação era de “fim de mundo”2.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, permaneceu um rastro de sangue e de incertezas. 
O mundo saiu do conflito envergonhado com a própria capacidade de produzir desgraças. O clima 
era de reflexão. A ascensão das ciências proporcionava uma nova maneira de interpretar o real.
Entre acadêmicos e intelectuais havia certo incômodo e, por vezes, certa vergonha em 
interpretar o mundo da maneira como se vinha fazendo. A sensação de que algo precisava ser 
mudado, de que novos caminhos precisavam ser traçados, era uma característica que ligava os mais 
diversos e distintos setores dos saberes sobre o homem. As ciências humanas e sociais assumiram a 
função de reinventar a trajetória social do homem no mundo. Era urgente entender o que ocorrera 
e evitar que se repetisse.
Foi nesse clima de mudança, transformação, inquietude e necessidade de revisar os caminhos 
da humanidade – tanto os já vividos quanto os que ainda viriam – que surgiu um dos movimentos 
mais importantes dentro da escrita da história: a Escola dos Annales.
Foi juntamente com o desenvolvimento e a consolidação de outras áreas no campo acadêmico 
– como geografia, psicologia, economia, ciência política, antropologia, estatística etc. – que a prática 
da história precisou revisar seus cânones, limites, importância e função. A Escola dos Annales 
foi uma tentativa de delimitar o campo de estudo historiográfico, sinalizar suas singularidades e, 
principalmente, forçar uma importância social singular e específica.
4.2 A Revista Annales e a proposta de uma História Econômica 
e Social
O que ficou conhecido como Escola dos Annales ou movimento dos Annales foi um 
apanhado de ideias, novas perspectivas e novas possibilidades lançadas ao campo historiográfico 
por dois jovens professores de história da Universidade de Estrasburgo, na França, no ano de 1929. 
A proposta apareceu pela primeira vez por meio de um periódico acadêmico chamado Annales: 
revista de História Econômica e Social, tendo como diretores Marc Bloch (1886-1944) e Lucien 
Febvre (1978-1956).
Os Annales, como ficou conhecido o movimento, não corresponde a uma escola propriamente 
dita, mas a uma nova maneira de entender, interpretar, analisar e produzir o estudo sobre os 
homens no tempo. Tendo como líderes esses dois historiadores, a revista contava em seu comitê 
editorial com outros historiadores antigos e modernos, um geógrafo, um sociólogo, um economista 
e um cientista político.
2 Hobsbawn descreve em sua obra uma crônica escrita por Karl Kraus (1874-1936), que descrevia os momentos que 
antecederam a eclosão do conflito mundial, cujo título é Os últimos dias da humanidade. A esse respeito ver: HOBSBAWN, 
Eric. Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 30.
Teoria da História56
Bloch e Febvre pretendiam revolucionar o campo historiográfico, alterar a maneira como 
a história era vista e produzida por determinadas correntes de pensamento. Ambos haviam 
presenciado a Primeira Guerra Mundial e viviam, tal como seus contemporâneos, o clima de 
inquietude próprio daquele momento. Como mencionado, dentre todas as consequências que a 
guerra produziu, uma delas foi a certeza de que não era possível dar continuidade àquele mundo 
sombrio. Os novos tempos, que se reconstruíam sobre o sangue daqueles que lutaram, exigiam 
modos novos e inéditos de interpretação.
Ao longo dos tempos, sobretudo a partir do século XVIII e principalmente no século XIX, 
a escrita da história foi se tornando um importante elemento para a formação das nações e para 
a legitimação dos governos. Conforme salienta Peter Burke (1991), embora houvessem tentativas 
significativas e importantes para que a abordagem da história fosse além das narrativas tradicionais, 
a imagem diante das outras ciências sociais ainda era a da história política, cuja abordagem 
centrava-se em personagens “importantes” e lançava mão de fontes oficiais.
Nesse sentido, a iniciativa de Bloch e de Febvre era a de demarcar a importância da história 
nesses novos tempos e salientar que a narrativa sobre generais, presidentes, duques ou reis não 
contentava as aspirações das novas gerações e muito menos a importância do papel da história 
para as sociedades. A intenção dos autores era declarar o fim de uma história que se inspirava no 
acontecimento em si, e passasse, então, a pesquisar questões que incomodavam o tempo presente e 
que deveriam ser investigadas por um método cientificamente guiado de análise do passado.
O processo que culminou na primeira grande guerra, bem como as percepções que os 
primeiros anos do século XX deixaram nos espíritos daqueles que presenciaram o conflito, alertava 
que uma história de proezas, progresso, orgulho nacional ou de construção de monumentos para 
“grandes homens” já não dava conta do que se observava no entorno. A indignação, as incertezas e 
o vazio dos que voltaram das batalhas ditava o ritmo dos novos tempos.
Nesse sentido, fazia-se necessário dar nome, voz e vida àquilo e àqueles que até então tinham 
sido ignorados pela historiografia tradicional ou, ainda, que pouco tinham sido abordados como 
objetos do historiador. O objetivo da revista era estabelecer uma história que se diferenciasse 
daquela praticada e defendida pela corrente positivista, adepta da narrativa dos fatos e da história 
das instituições ou das nações, e da cientificista alemã, que conferia especial atenção aos documentos 
oficiais do Estado, vendo-os como objetos que falavam por si só, excluindo a possibilidade 
da crítica.
Assim, os jovens professores franceses deram ênfase à necessidade de relatar uma história 
feita por homens de carne e osso, que viviam uma temporalidade diferente daquela ditada pelos 
calendários e pelo ritmo dos relógios.
Tratava-se da proposta de uma história que abordasse todo o desenrolar da vida humana 
nas suas atitudes e atividades banais, rotineiras, despretensiosas e que, no fundo, alteravam os 
tempos e proporcionavam uma nova percepção da vida em sociedade. Seus idealizadores 
alertavam, principalmente, para a necessidade de uma história que dialogasse com as outras 
A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 57
áreas do conhecimento, mas que, ao mesmo tempo, não perdesse sua particularidade. A proposta 
dos Annales era a de demarcar o campo historiográfico e o trabalho do historiador, bem como 
revolucionar a pesquisa histórica do momento.
Segundo Burke (1991, p. 8):
A necessidade de uma história mais abrangente e totalizante nascia do fato de 
que o homem se sentia como um ser cuja complexidade em sua maneira de 
sentir, pensar e agir, não podia reduzir-se a um pálido reflexo de jogos de poder, 
ou de maneiras de sentir, pensar e agir dos poderosos do momento.
As contribuições (e pretensões) de Block e Febvre influenciaram de maneira definitiva a 
escrita da história e as perspectivas das ciências sociais como um todo. Essa iniciativa foi tão importante 
para a historiografia, que Burke (1991) denomina o movimento dos Annalescomo “a revolução 
francesa da historiografia”, isto é, um divisor de águas entre uma história antiga e tradicional e uma 
nova história, feita por meio da interdisciplinaridade e pela aplicação de um problema.
O movimento de ideias dos Annales teve três fases distintas bem definidas, no entanto, inter-
-relacionadas. Na primeira fase (1929-1945), os autores se debruçaram em uma análise crítica da 
situação da historiografia até o momento em que ela deu corpo a pretensões e anseios que pairavam 
sobre o ofício do historiador. Mesmo considerando e admirando produções historiográficas que 
iam além da história política, as outras ciências sociais ainda viam a história como um lugar 
de produções caracterizadas pela narrativa política, pela perspectiva das fontes oficiais e pelo 
acontecimento situado no tempo3.
Essa primeira fase do movimento dos Annales foi caracterizada, também, por uma história 
econômica e social. As produções feitas apontavam para um estudo das estruturas econômicas, 
subjetividades, mentalidades e crenças (sociais, religiosas, políticas), garantindo um valor especial 
às descrições e análises geográficas. O salto que os Annales representou em relação à prática da 
história foi o de incorporar conceitos e saberes de áreas como psicologia, antropologia e economia. 
Um desses conceitos bastante utilizado foi o de psicologia coletiva, que consiste na análise dos 
hábitos e costumes que perpassaram os tempos, manifestados em novos formatos, sem mudar, no 
entanto, a essência da ideia, mesmo com a mudança dos séculos.
Essa percepção proporcionou a inserção de novas temporalidades para a análise da história. 
Não se tratava mais de demarcar a data do evento e de elaborar uma narrativa do fato com base em 
fontes oficiais. A prática da história precisava sair da superfície, se estender por um longo período, 
observar mudanças e permanências, identificar a importância das determinações geográficas e 
entender como o homem superava essas determinações e criava técnicas inéditas. Para dar conta 
dessas tarefas, era fundamental dialogar com outras áreas do conhecimento, elaborar estudos 
comparativos entre regiões distintas e, principalmente, elaborar um problema, que seria respondido 
por meio da condução de uma investigação científica da história.
3 Segundo Burke (1991), são exemplos destas tentativas de uma nova historiografia: Edward Gibbon (1737-1794) ao 
escrever a obra Declínio e queda do Império Romano (1776); Jules Michelet (1798-1874), com a obra História da Revolução 
Francesa (1847); Jacob Burkhardt (1818-1897), com a obra História da arte; Leopold von Ranke (1795-1886), que escreveu 
Sobre a reforma e a contrarreforma, Sobre arte e literatura (1834-1836); e as revistas Historische Zeitschrift (1865), Revue 
Historique (1876) e English historical review (1886).
Teoria da História58
Nesse sentido, a primeira fase da revista ficou marcada pelo fator inédito e ousado. Os líderes 
dos Annales se destacaram no universo intelectual francês da época e chegaram a influenciar a 
produção historiográfica em diversos países. Com o movimento dos Annales, a história ganhou 
importância e se definiu frente às outras ciências, contando com um número significativo de 
defensores e entusiastas. Alunos de Bloch e Febvre deram continuidade às ideias dos mestres e 
também inovaram, acrescentaram e se destacaram com novas propostas e novos conceitos.
A segunda fase ou segunda geração dos Annales, formada a partir de 1945, destacou-se pela 
inserção dos “rebeldes” ao establishment, isto é, os teóricos considerados revolucionários foram 
absorvidos pelo sistema e se tornaram a regra das produções historiográficas acadêmicas. Nessa 
segunda geração se destacou o trabalho e a liderança de Fernand Braudel (1902-1985). Influente 
sobretudo entre as décadas de 1960 e 1970, por meio dos estudos de Braudel foram acrescentados 
novos conceitos e metodologias à prática da história.
Por fim, a chamada terceira fase ou terceira geração é a mais difícil de definir, uma vez 
que abarca uma variedade de métodos, conceitos e objetos. Os nomes de destaque deste terceiro 
momento, cujo início se dá na década de 1980, são Jacques Le Goff (1924-2014) e Pierre Nora 
(1931-). Essa fase é considerada o momento de maior repercussão dos Annales em outros países 
e de maior diversidade de produções. Foi quando a chamada história das mentalidades teve um 
considerável crescimento, fomentando debates acadêmicos e intelectuais. Com Le Goff, a Escola 
dos Annales passou a ser conhecida como História Nova.
4.3 A história como problema: inovações metodológicas 
e epistemológicas
A publicação da revista Annales foi um divisor de águas entre o estudo de história realizado 
até 1929 e os estudos que viriam a ser desenvolvidos após essa data. Mesmo que já existissem 
diversas publicações de caráter diferenciado da história considerada tradicional, é fato que os 
Annales alteraram as ideias, visões, percepções e o ofício do historiador.
“Filha do seu tempo”, para usar uma das expressões mais recorrentes de Febvre para se referir 
à história, a revista Annales era devedora, conforme salienta Burke (1991), do rico clima intelectual 
que predominava na Universidade de Estrasburgo e da efervescência das ciências sociais. O século 
XIX proporcionou a cientifização dos saberes e o século XX os consolidou. As especializações, 
disciplinas acadêmicas e cursos universitários possibilitavam a descoberta e a contribuição de 
diversos e diferentes saberes.
Em outras palavras, a busca das especializações proporcionava a ampliação dos campos 
de estudos. À medida que a sociologia, a psicologia e a ciência política se firmavam como um 
campo independente e autônomo de saberes, suas contribuições proporcionavam a ampliação 
de outros campos. Tratava-se de um afunilamento que garantia o aprofundamento dos diversos 
saberes. Nesse contexto, a contribuição das ciências sociais foi imprescindível para o movimento 
dos Annales.
A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 59
Na esteira da consolidação dos novos campos dos saberes, a velha história precisou se 
reinventar. As especificidades das áreas mencionadas acima lançaram para o historiador novos e 
instigantes desafios. Afinal, frente à ascensão das diversas ciências sociais, qual era a especificidade 
do trabalho do historiador? Em que medida ele era útil? Para que ele servia? Buscando tanto 
responder a essas questões – e convencer os seus pares sobre a importância da história – 
quanto reivindicar uma metodologia científica de pesquisa, Bloch (2001, p. 24) foi enfático ao 
afirmar que “a história é busca, portanto, escolha. Seu objeto não é o passado: a própria noção 
segundo a qual o passado enquanto tal possa ser objeto de ciência é absurda. Seu objeto é o homem, 
ou melhor, os homens, e mais precisamente “homens no tempo”.
A perspectiva de um método científico dedicado ao estudo dos homens e mulheres e suas 
vidas em sociedade, inseridos no tempo, foi uma das mais radicais contribuições feita pelos 
Annales. Como mencionado, de todas as alterações produzidas na escrita da história à inserção da 
interdisciplinaridade, a noção de que a investigação deveria partir de um problema – causado pelas 
especificidades do momento presente do historiador – e a ideia de temporalidade se tornaram 
definitivamente um novo jeito de pensar o ofício do historiador.
Segundo Reis (1997, p. 58), o conceito de temporalidade foi determinante. Foi por meio 
dessa noção que todas as outras abordagens se tornaram possíveis para os Annales:
A principal proposta do programa dos Annales foi a interdisciplinaridade e 
as suas três gerações, apesar de suas divergências e descontinuidades, fizeram 
uma história sob a influência das ciências sociais. Entretanto, esta aliança entre 
história e ciências sociais seria uma proposta inexequível se não fosse sustentada 
por um novo olhar temporal. Esta interdisciplinaridade seria incompatível 
com a temporalidade “acontecimental”, do único, singulare irrepetível, linear, 
progressista e teleológica da dita “história tradicional”. Nós consideramos, 
portanto, que não foi propriamente a interdisciplinaridade a grande mudança 
epistemológica produzida pelos Annales, mas aquilo que a tornou possível: 
a nova representação do tempo.
Desde a primeira geração dos Annales, o conceito de tempo demandava estudos e 
problematizações. Foi com Bloch e Febvre que foi introduzida a ideia de uma temporalidade que 
não poderia ser reduzida ou aprisionada ao tempo cronológico, a datas e fatos. Para eles, trata-se 
de tempo múltiplo, que se manifesta além de elementos factuais.
As ações do homem que importavam para os teóricos daquela geração eram aquelas 
situadas em seu tempo, entretanto, não se tratava da história dos homens situados no passado. 
Dito de outro modo, Bloch e Febvre apresentaram uma nova maneira para o entendimento 
do tempo, que se situava além da história linear. Para os autores, o tempo e as temporalidades 
são muito mais complexos do que essa redução. Os tempos se inter-relacionam, se imbricam, 
se sobrepõem. As ideias, ações humanas e mentalidades não seguem a temporalidade de um 
calendário; ao contrário, elas permanecem, se alteram, se modificam, se formam e transformam-
se em uma temporalidade própria.
Teoria da História60
Foi, entretanto, com a segunda geração dos Annales – liderada por Fernand Braudel – que 
se forjou o conceito de longa duração, uma perspectiva sobre o tempo histórico que perpassava os 
séculos e priorizava os longos períodos.
Segundo Cracco (2009, p. 9), com Braudel “rompe-se com a ideia de tempo revolucionário da 
modernidade” e parte-se para a “busca de uma explicação estrutural da história – mais consistente, 
menos impressionista”. Trata-se
da necessidade de uma desaceleração da história, trazendo para o mundo dos 
historiadores o conceito de “estrutura social”, ainda que modificado, negando 
a atemporalidade de alguns modelos de sociólogos e antropólogos. Assim, 
priorizando a longa duração, sem negar o evento, Braudel passa a pensar a 
história em termos de “dialética das durações”. (CRACCO, 2009, p. 9-10)
Por “dialética das durações”, Braudel definiu a possibilidade de ligar, articular e relacionar 
os diferentes tempos da história. Nada está demarcado ou inserido em um momento específico, os 
tempos históricos são múltiplos. Os acontecimentos do presente são resultados das mentalidades, 
sentimentos e atitudes que se relacionam com outros tempos, tanto do passado quanto do futuro. 
Por isso, um evento só pode ser entendido por meio de sua conjuntura, isto é, os diversos elementos 
e implicações que o tornaram possível.
Diante dessa radical mudança de perspectiva, não era mais possível sustentar a tradicional 
história narrativa. O fato e o feito se tornavam muito mais complexos do que pareciam. Era 
necessário identificar outros elementos na ação humana. As fontes não eram mais a expressão da 
verdade, tal como o fato ocorreu, como pretendia a escola cientificista. Tornava-se fundamental 
uma rigorosa crítica ao documento. “Documentos são vestígios”, afirmava Bloch (2001, p. 8), por 
isso era necessário questioná-lo, situá-lo e identificá-lo por meio de suas condições de produção, 
“fazê-lo falar” – conforme definiu Febvre (1989) – e, principalmente, buscar na trajetória humana 
respostas para questões do tempo presente, isto é, do momento em que o historiador estava situado. 
A pesquisa da história precisava partir de um problema e não de um fato. Segundo Reis (1997, 
p. 60, grifos do original):
Como um “nó-górdio-passado-presente”, a sociedade será considerada como 
coisa, permanência, continuidade inerte, repetição constante do mesmo, tendência 
à rotina e ao repouso do cotidiano. Sem utopias finais, sem Razão absoluta final 
que a obrigue a acelerar-se. Este nó-passado/presente deverá ser desatado como 
se desmonta uma bomba, i.é., de forma lenta, gradual, técnica, informada, 
serena e prudente.
Febvre, em uma palestra proferida em 1941 para jovens estudantes da École Normale 
Supérieure, alertou para a complexidade do ofício do historiador:
A história é a ciência desse acordo que se realiza, dessa harmonia que se 
estabelece perpetuamente e espontaneamente em todas as épocas, entre as 
condições diversas e sincrônicas de existência dos homens: condições materiais, 
condições técnicas, condições espirituais. É aí que a história encontra a Vida. 
Para fazerem história, virem resolutamente as costas ao passado e antes de mais, 
vivam [...]. Historiadores, sejam geógrafos. Sejam juristas, também, e sociólogos, 
e psicólogos. (FEBVRE, 1989, p. 32)
A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 61
O entendimento das temporalidades, do modo que Bloch e Febvre propunham, e que 
se solidificou na segunda geração dos Annales – com Braudel e o conceito de longa duração –, 
estava de acordo com o que as novas ciências estavam proporcionando para os saberes humanos. 
A psicologia, a física e o direito ensejavam análises que superavam a ideia de tempo cronológico. 
O tempo presente, nessa perspectiva, era reflexo de uma série de estruturas temporais oriundas de 
tempos remotos (como ideias e crenças) e que permaneciam em estruturas da chamada psicologia 
coletiva.
A ideia de temporalidade que os Annales proporcionou foi uma das mais radicais e complexas 
mudanças propostas pelo grupo, segundo a qual, “o presente se liga ao passado e o passado ao 
presente de tal forma que o passado se torna presente e o presente se imuniza contra a sua sorte que 
é tornar-se passado. Presente e passado ligados, abole-se a sua diferença e o que esta representa: 
a temporalidade” (REIS, 1997, p. 59).
A persistência de que a história servia ao presente foi enfatizada nas três gerações. Para os 
teóricos, cada presente evocava determinado passado de maneira inédita e de acordo com as 
questões que se lançava do presente. O passado era um território a ser sempre visitado e revisitado. 
A escrita da história precisava ser considerada como um documento do momento em que o 
historiador escrevia.
Nesse sentido, o passado deixa de ser o território do historiador, uma vez que o tempo 
presente é o que de fato importa, pois é o tempo do vivido, o tempo da ação. Ao selecionar eventos 
marcados pelo contexto, mas acionados por estruturas e permanências sincrônicas, anteriores 
ao momento mais imediato, Bloch afastava-se da história tradicional e inaugurava uma nova 
epistemologia para a história, ou seja, uma nova maneira de compreender o conhecimento sobre 
os homens no tempo (BLOCH, 2001).
Além de teorizar sobre o processo de escrita da história, os membros do movimento dos 
Annales levaram a cabo suas premissas na escrita de suas próprias obras. Dentre essas produções, 
destacam-se Os reis taumaturgos (1924), de Bloch, e O problema da incredulidade no século XVI: a 
religião de Rabelais (1942), de Febvre.
Em Os reis taumaturgos, Bloch colocou em prática os argumentos que foram posteriormente 
sintetizados em forma de teoria na revista dos Annales. Importante ressaltar que essa obra é 
anterior ao seu protagonismo na escrita do periódico acadêmico. Nela, o autor apresenta a 
interdisciplinaridade de suas abordagens e uma história-problema, a qual não se baseia em um 
fato ou em uma personalidade específica, mas se preocupa em responder a uma questão posta 
pelo momento em que o historiador está vivendo; por fim, o autor discute a ideia ampliada da 
temporalidade.
A grande questão que motivou a obra de Bloch foi a tentativa de entender os motivos que 
garantiram a permanência de uma crença muito difundida na França e na Inglaterra no período 
medieval, segundo a qual os reis tinham o poder de curar doentes acometidos pela escrófula 
(adenite tuberculosa), conhecida, na época, como “mal dos reis”. Para responder a esse problema, 
o autor utilizou-se de conhecimentos geográficos – para descrever as regiões onde a crença era 
Teoria da História62
mais difundida –; sociológicos – ao empregar conceitos comoconsciência coletiva, mentalidade 
coletiva e representações coletivas, provenientes dos estudos de Émile Durkheim (1858-1917) –; 
antropológicos – no que se refere à abordagem da religião ou do que ele chamou de consciência 
primitiva, e para a comparação entre a crença na Europa e ideias semelhantes em tribos de lugares 
distantes –; e psicológicos – sobre a permanência da crença e da cura4.
Nessa obra, Bloch fez um cuidadoso estudo sobre a região da França e da Inglaterra, locais 
em que essa crença era comum. Além disso, o conceito de nação (ou mesmo de região) foi ampliado; 
o processo que envolvia a ação do rei em colocar as mãos sobre os doentes e o ritual que se seguia a 
esse ato foi analisado; e, principalmente, foi examinada a permanência dessa crença mesmo quando 
o conhecimento cartesiano, racional ou científico avançava ou quando a cura não se efetivava. 
Em quase nada a fé e a crença dos doentes e de seus familiares eram abaladas. Para Bloch, tratava-
-se de uma fé que se mantinha, acima de tudo, como uma expressão do poder político do monarca 
(BURKE, 1991).
O autor percorreu diversos arquivos e fez a análise de muitos documentos. No que tange 
ao caráter inédito da obra, destacou-se a utilização dos conceitos de outras disciplinas sociais e 
a possibilidade de contar uma história situada na época medieval sem estar preso a esse período. 
Bloch transitou pelos séculos, perseguindo o seu problema inicial, naquilo que ele identificava como 
permanência ou simultaneidade, mantendo o propósito de “descrever e analisar a mudança” (REIS, 
2000, p. 60). A obra inaugurou o que iria se denominar mais tarde de história das mentalidades5 e 
apresentou, pela primeira vez, a possibilidade de uma história de longa duração.
Lucien Febvre, por sua vez, em O problema da incredulidade no século XVI: a religião de 
Rabelais, seguindo os preceitos defendidos pelos Annales, questionou se seria possível a François 
Rabelais (1494-1516), literato e médico francês, ser um ateu? Em outras palavras, existiria a 
possibilidade de um homem do século XVI descrer de Deus?
Segundo Burke (1991), o possível “ateísmo” de Rabelais fora denunciado por seus 
contemporâneos. Partindo da história-problema e da interdisciplinaridade, Febvre fez uma 
minuciosa investigação sobre o termo ateu no contexto em que François Rabelais vivia. O autor 
concluiu que, naquela época, esse vocábulo não era sinônimo de alguém que não acreditava em 
Deus. De acordo com o historiador, ao analisar as estruturas de pensamento nas quais Rabelais 
estava imerso, era impossível não crer em Deus. Suas piadas e ironias eram reflexo do humor 
sarcástico do período, inclusive toleradas pelo clero.
4 Você pode ver análise detalhada em: BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929-1989: a revolução francesa da 
historiografia. São Paulo: Unesp, 1991. p. 23-25.
5 A chamada história das mentalidades vai ser uma preocupação dos historiadores a partir dos anos de 1960 e 1970 
e o conceito de longa duração foi acrescentado por Fernand Braudel na sua magistral obra O Mediterrâneo e o Mundo 
Mediterrâneo à Época de Felipe II, tese defendida em 1947 e publicada dois anos depois em dois volumes. A esse respeito 
ver: Burke (1991) e REIS, José Carlos. A Escola de Annales. A Inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 63
Intentando desvendar o pensamento por meio da linguística, dos conceitos e das palavras 
(e utilizando como uma das fontes a literatura), Febvre contribui para a história das mentalidades, 
visto que ele tentou investigar as estruturas de pensamento possíveis no século XVI, defendendo 
enfaticamente que era impossível para um homem daquele período descrer de Deus ou ser ateu, 
no sentido moderno do termo.
A palavra ateísmo existia na Idade Média e continuou a existir na modernidade. Entretanto, 
segundo Febvre, com sentidos completamente diferentes. Para desespero dos historiadores, Bloch 
(2001, p. 24) afirma: “os homens não costumam mudar de vocabulário a cada vez que mudam 
de hábitos”.
Do mesmo modo que Bloch fez em Os Reis Taumaturgos, Febvre demonstrou por meio de 
seu trabalho a escrita da história que defendia: uma história que partisse de questões do presente, 
servisse à vida, buscasse responder problemas, se valesse de diversas fontes (e as questionasse) e 
a fizesse “falar”. Era necessária uma história de longa duração, que investigasse estruturas sociais, 
formas de pensamentos, crenças, ideias que permaneciam ao logo do tempo e mentalidades 
coletivas, para estabelecer comparações com outras épocas e sociedades.
Essas obras são apenas dois exemplos de como foi sendo conduzida a escrita da história por 
meio das ideias propostas pelos Annales. É fato que muitas importantes obras foram realizadas pelo 
grupo, influenciando decididamente a escrita da história e o trabalho do historiador. A influência 
dos Annales, com as devidas transformações e contribuições de cada geração, chega até os dias 
atuais.
Com os Annales, a história se tornou um estudo cientificamente conduzido sobre os homens. 
Segundo Febvre (1989, p. 30):
Os homens, únicos objetos da história – de uma história que se inscreve no 
grupo das disciplinas humanas de todas as ordens e de todos os graus, ao 
lado da antropologia, da psicologia, da linguística, etc.; uma história que 
não se interessa por não sei que homem abstrato, eterno, de findo imutável e 
perpetuamente idêntico a si mesmo, mas pelos homens sempre tomados no 
quadro das sociedades de que são membros, pelos homens membros dessas 
sociedades, numa época bem determinada do seu desenvolvimento, pelos 
homens dotados de funções múltiplas, de atividades diversas, de preocupações e 
de aptidões variadas, que se mesclam todas, se chocam, se contrariam e acabam 
por concluir entre si uma paz de compromisso, um modus vivendi que se chama 
a Vida.
Por meio das inovações que os Annales proporcionaram e o trabalho de investigação dos 
homens no tempo, é possível constatar a complexidade das ações humanas, o caráter inédito de seus 
pensamentos, sua capacidade de inovação, transformação e transmutação de ideias e mentalidades. 
É possível esclarecer, principalmente, que o passado não é o território no qual a ação se localiza 
de maneira estanque e acabada, mas, ao contrário, ele deve ser sempre explorado e revisitado, e, 
continuamente, submetido a uma nova interpretação.
Teoria da História64
4.4 Marc Bloch: Apologia da história
““Papai, então me explica para que serve a história”. Assim, um garoto, 
de quem gosto muito, interrogava há poucos anos um pai historiador. 
Sobre o livro que se vai ler, gostaria de poder dizer que é minha resposta. 
Pois não imagino, para um escritor, elogio mais belo do que saber falar, 
no mesmo tom, aos doutos e aos escolares. Mas simplicidade tão apurada 
é privilégio de alguns raros eleitos. Pelo menos conservarei aqui de bom 
grado essa pergunta como epígrafe, pergunta de uma criança cuja sede de 
saber eu talvez não tenha, naquele momento, conseguido satisfazer muito 
bem. Alguns, provavelmente, julgarão sua formulação ingênua. Parece- 
-me, ao contrário, mais que pertinente. O problema que ela coloca, com a 
incisiva objetividade dessa idade implacável, não é nada menos do que o 
da legitimidade da história”. (BLOCH, 2001, p. 9)
Esse longo excerto, feito na introdução da obra Apologia da história ou o ofício do historiador, 
escrita por Bloch em 1944 – quando ele se encontrava preso pela Gestapo (polícia da Alemanha 
nazista), por quem foi torturado e fuzilado por sua participação na Resistência Francesa6 –, traduz 
de maneira enfática tanto o momento limítrofe vivido pelo autor quanto o seu anseio em responder 
a uma questão que o perseguiu por toda a sua vida profissional: para quê, afinal, serve a história?
A referida obra ficou inacabada. No dia 16 de julho de 1944, Marc Bloch foi fuzilado 
pelos nazistas e, com isso, sua escrita foi abruptamente interrompida. Esse fato, no entanto, não 
impediuque seus escritos fossem encontrados e publicados, proporcionando a leitura de um 
dos depoimentos mais apaixonados em relação à tarefa do historiador, porém, ao mesmo tempo, 
um dos escritos mais racionais e metodológicos em relação ao que os Annales defendiam para a 
historiografia.
Apologia da história ou o ofício do historiador foi escrito enquanto Bloch encontrava-
-se “isolado, longe da família e das notícias que falavam do destino a um só tempo trágico e 
desastroso da França” (SCHWARCZ, 2001, p. 10). Trata-se de uma das obras mais importantes 
sobre os métodos, objetos e documentação histórica. Um ensaio precioso para a compreensão do 
movimento dos Annales.
Dedicado ao seu amigo Lucien Febvre, a obra não trouxe respostas simples ou superficiais 
para a escrita da história. Nela, isto sim, Bloch apresenta ao historiador as dificuldades de sua 
tarefa, a complexidade de suas análises e, principalmente, a importância política de suas ideias.
Segundo Schwarcz (2001, p. 12), “Bloch defendeu a autonomia da reflexão e a ideia de que 
a responsabilidade e a necessária militância não são sinônimos de fórmulas acabadas e índices 
milagrosos”. Tomar partido, defender ideias, representa posições e escolhas políticas, alertava o 
autor em um dos momentos mais políticos de sua trajetória.
6 Resistência Francesa é o nome atribuído ao movimento organizado por grande parte da população francesa que, 
a partir de 1940, não aceitou a rendição da França frente à ocupação nazista. Quando diversas regiões do país foram 
tomadas pelo exército de Adolf Hitler, grande parte da população se mobilizou, recusando-se a se render. O processo 
durou de 1940 até 1945 e envolveu diversas personalidades, mobilizações e estratégias de ataques aos nazistas. 
As motivações para manter-se em processo de resistência eram justificadas tanto como uma reação nacional contra 
a ocupação estrangeira quanto como uma luta política e moral contra o nazismo, contra os fascismos e em defesa da 
liberdade. Para saber mais, ver: ROLLEMBERG, Denise. Resistência: memória da ocupação nazista na França e na Itália. 
São Paulo: Alameda, 2016.
A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 65
A obra, em sua totalidade, é uma defesa do trabalho do historiador e da importância da 
história. Escrita em um momento de ataques provenientes das outras ciências sociais7 ou quando 
parecia que cada disciplina poderia fazer a sua própria história, bastando para isso apenas o cuidado 
com o método, Bloch defendeu enfaticamente o ofício do historiador.
Segundo Le Goff (2001, p. 16), Bloch pretendeu demarcar de maneira bastante didática “as 
distâncias do historiador em relação a sociólogos ou economistas cujo pensamento lhe interessa, 
mas onde enxerga também perigos para a disciplina histórica”. Os perigos a que o autor se refere 
era o fato de que com a consolidação das disciplinas sociais, cada especialista estava conduzindo os 
trabalhos históricos referentes ao seu campo do saber. Por exemplo, os sociólogos realizavam um 
trabalho de “história da sociologia” ou os psicólogos praticavam aquilo que chamavam de “história 
da psicologia”.
Em Apologia da história ou o ofício do historiador, Bloch pretende não apenas esclarecer 
as práticas de trabalho e os objetivos científicos do ofício do historiador, mas, ainda, “assinalar o 
que deve ser a história e como deve trabalhar o historiador” (LE GOFF, 2001, p. 16). Por meio da 
leitura da epígrafe que abre esta seção, é possível notar que Bloch alertava para o fato de que uma 
das funções do historiador é a de saber comunicar: tanto para os doutos quanto para os simples. 
Nessa afirmativa reside uma das grandes preocupações do autor e da própria escola dos Annales, a 
de que a história fosse útil à vida presente.
Sobre o ensino de História nas escolas, em uma passagem da obra Combates pela História, 
Febvre ironizou seus tempos de estudante, recordando-se que a maior nota em história ia para o 
aluno que decorasse e repetisse o maior número possível de detalhes de um acontecimento.
Segundo o autor, “dir-se-ia que fazer história para eles, era aprender senão todos os 
pormenores, pelo menos o maior número possível de pormenores [...]” (FEBVRE, 1989, p. 28). 
Para Bloch (2001, p. 17), essa era uma história inútil. A função primordial do historiador seria a de 
“difundir e explicar seus trabalhos”. O problema maior da história não estava restrito aos métodos 
e às abordagens, mas tratava-se também de “um problema cívico e mesmo moral” (LE GOFF, 
2001, p. 17). A função do historiador seria, portanto, muito mais a percepção e a sensibilidade em 
analisar seu próprio tempo do que em conhecer eventos do passado.
A obra de Bloch está diretamente relacionada ao momento pessimista em que viveu. 
Em diversas passagens, nota-se a angústia do historiador frente aos novos tempos. Ele deixou claro 
o medo de que a História, como disciplina, viesse a desaparecer ou entrasse em descrédito.
Era urgente, portanto, resgatar o fazer histórico, tornando-o inteligível e atrativo. Para tanto, 
o desejo do cientificismo não deveria retirar a poética requerida pelo fazer historiográfico. “Evitemos 
retirar de nossa ciência sua parte de poesia” (BLOCH, 2001, p. 19).
Outro elemento fundamental reiterado em Apologia da História foi a defesa de que a 
historiografia deveria contemplar o homem em sua totalidade. Segundo Le Goff (2001, p. 20), 
7 Estes ataques se referiam à crescente evolução do conhecimento científico e à possível exclusão da história como 
campo do conhecimento. Além disso, havia os ataques efetivados por Paul Valery, para quem seria impossível que a 
história pudesse investigar determinadas questões e, por isso, seria apenas um exercício mental. Havia, ainda, o perigo de 
que a sociologia e a economia tomassem o lugar da história (BLOCH, 2001).
Teoria da História66
“Bloch recusa uma história que mutilaria o homem (a verdadeira história interessa-se pelo homem 
integral, com seu corpo, sua sensibilidade, sua mentalidade, e não apenas suas ideias e atos) e que 
mutilaria a própria história, esforço total para apreender o homem na sociedade e no tempo”.
Para dar conta de tantas funções e especificidades, o historiador precisa realizar um 
trabalho coletivo, em equipe. Um historiador sozinho em seu gabinete, olhando tudo de cima, 
não conseguiria dar conta da “história ampla, profunda, longa, aberta, comparativa [...]. Isolado, 
nenhum especialista nunca compreenderá nada senão pela metade” (LE GOFF, 2001, p. 26). A obra 
de Bloch delimita os passos que o historiador deve seguir para dar conta do estudo sobre o homem 
na duração temporal.
Por fim, convém lembrar que Apologia da História é uma obra fiel àquilo que 
Bloch desenvolveu ao longo da sua curta carreira acadêmica, podada precocemente pela guerra. 
O autor deixou claro que o objeto da história não era o passado, mas o homem: “O bom historiador 
é como o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está sua caça” (BLOCH, 2001, 
p. 20). É a vida humana, isto é, os homens em suas multiplicidades, com todas as suas qualidades/
defeitos e como matéria orgânica, psicológica e espiritual que constitui o objeto de interesse do 
historiador.
Considerações finais
Tanto a história quanto a sua escrita são campos do saber que estão em constante 
modificação. Mudanças sociais, políticas e culturais influenciam diretamente a maneira como os 
homens compreendem seus objetos, funções e sua atuação política. Dessa maneira, modificações 
na sociedade repercutem em mudanças na história.
O movimento dos Annales foi a resposta que os homens do início do século XX deram aos 
“novos tempos”. A compreensão sobre o tempo histórico e a sucessão dos acontecimentos tanto 
presentes quanto futuros se alteraram; a utopia de um futuro como progresso ruíra. Os Annales, 
portanto, foram a síntese teórica das transformações, traduzidas para a escrita da história.
O movimento influenciou significativamente a historiografia e produziu uma história 
maisprofunda, ampla, engajada e, principalmente, mais preocupada com o momento presente. 
A alteração no objeto da história – que deixou de ser exemplificado pelo passado e passou a ser 
definido pelo homem – proporcionou a inserção de elementos até então inéditos, como crenças, 
ideias, mentalidades, ações, utopias, falhas, medos, risos e a linguagem como investigação histórica.
A mudança da percepção sobre documentos proporcionou uma inter-relação entre o método 
histórico e os outros métodos científicos. Esse fato retirou o historiador da “torre de marfim” da 
qual ele analisava o passado e obrigou-o a realizar um trabalho em equipe, valendo-se de conceitos 
e metodologias das ciências parceiras.
Por fim, a temporalidade sofreu pertinentes intervenções: passado, presente e futuro 
passaram a dialogar, se inter-relacionar e a se sobrepor. O tempo se tornou o da duração ou da 
A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 67
longa duração. Os Annales propunham que o historiador fosse do presente para o passado e do 
passado para o presente, seguindo um “método retrospectivo”. De acordo com essa perspectiva, o 
passado explica o presente e o presente explica o passado porque o presente não é a ruptura abrupta 
do passado, mas a sua continuação, reinvenção e modificação.
Com base nessas propostas, o historiador ganhou um papel eminentemente político e moral. 
A história requisita a postura firme do historiador, uma percepção aguçada sobre o seu tempo 
presente, e o conhecimento da implicação dos seus atos.
Ampliando seus conhecimentos
• HISTÓRIA: o ofício do historiador. Univesp, 25 mar. 2015. Vídeo (29 min. e 6 s.). 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=deVwuwS5Gqg&list=PL7Gd-vyL4 
-JhIQIszrO6y0DWMgxtI4BxG. Acesso em: 8 mar. 2019.
Neste vídeo, que compõe uma série de entrevistas realizada em 2015 pela professora Maria 
Helena Capelato, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/
USP), ela discorre sobre o ofício do historiador do ponto de vista dos Annales e da Nova 
História. As entrevistas elucidam diversas questões sobre a escrita da história e o trabalho 
do historiador ao longo dos tempos, situando os desafios e a ampliação do mercado de 
trabalho que o mundo atual apresenta para esse profissional.
• Annales: Historie, Sciences Sociales. Disponível em: http://annales.ehess.fr/. Acesso em: 
8 mar. 2019.
A Annales: revista de História Econômica e Social foi o primeiro periódico que lançou as 
bases do movimento que ficou conhecido como Escola dos Annales. O primeiro número 
foi publicado em 1929 e continuou até pelo menos 1994, ou seja, nas três gerações do 
movimento a revista manteve-se como a espinha dorsal da proposta. O nome da revista, 
seus líderes, editores e algumas de suas propostas mudaram ao longo dos tempos. 
Neste site, disponível em francês e inglês, constam todos os números da revista, além 
de informações sobre o movimento, seus membros e defensores, bem como o acesso ao 
vasto acervo. Vale a pena visitar a homepage para conhecer o formato do material e as 
informações recentes sobre o movimento.
Atividades
1. Em que medida o clima que predominou nos primeiros anos do século XX influenciou a 
formação do grupo e do movimento dos Annales? Exemplifique.
Teoria da História68
2. Considere o seguinte trecho de Marc Bloch, proferido na obra Apologia da história ou o 
ofício do historiador: “O historiador não pode ser um sedentário, um burocrata da história, 
deve ser um andarilho fiel a seu dever de exploração e de aventura” (BLOCH, 2001, p. 21). 
Com base nessa citação, quais elementos propostos pelos Annales podem ser identificados? 
Justifique.
3. Elabore um glossário com os seguintes termos: história-acontecimento (événementielle), 
temporalidade, longa duração e história-problema.
Referências
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929-1989: a revolução francesa da historiografia. São Paulo: Unesp, 
1991.
CRACCO, Rodrigo Bianchini. A Longa Duração e as estruturas temporais em Fernand Braudel: de sua tese 
O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na época de Felippe II até o artigo História e Ciências Sociais: 
a longa duração (1949-1958). 115f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual Paulista Júlio 
de Mesquita Filho, Assis, 2009. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/93349/
cracco_rb_me_assis.pdf?sequence=1. Acesso em: 8 mar. 2019.
ELIOT, T. S. Poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
FEBVRE, Lucien. Viver a História. In: FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa: Presença, 1989.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
LE GOFF, Jacques. Prefácio à edição Francesa da obra Apologia da história ou o ofício do historiador. 
In: BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
REIS, José Carlos. Os Annales: a renovação teórico-metodológica e “utópica” da história pela reconstrução 
do tempo histórico. SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E 
EDUCAÇÃO NO BRASIL”, 4, 14 e 19 dez. 1997, Campinas. Anais... Campinas: HISTEDBR, 1997. Disponível 
em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario4/trabalhos.htm. Acesso em: 22 
abr. 2019.
REIS, José Carlos. A Escola dos Annales: a inovação em história. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Apresentação à edição brasileira da obra Apologia da história ou o ofício do 
historiador. In: BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
5
A Escola de Frankfurt e a concepção 
de história como redenção
“A enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta e idiotiza 
as pessoas ao mesmo tempo”. (ADORNO; HORKHEIMER, 1969, p. 3)
Entre as décadas de 1920 e 1930, na Alemanha, desenvolveu-se um núcleo de pesquisa 
multidisciplinar denominado Instituto de Pesquisa Social, ligado, em um primeiro momento, à 
Universidade de Frankfurt. A chamada Escola de Frankfurt tinha como um de seus projetos a 
crítica ao conceito de esclarecimento – do modo como compreendia Immanuel Kant, no século 
XVIII –, atualizando-o por meio de contribuições teóricas advindas do pensamento marxista e 
freudiano. Alguns de seus idealizadores buscavam também uma teoria crítica da sociedade, 
pensada por meio da dialética e da totalidade. Pelo fato dessa perspectiva nortear os estudos de 
alguns dos seus mais proeminentes estudiosos, o cerne do pensamento desse grupo ficou também 
conhecido como teoria crítica.
Uma das pretensões do grupo de Frankfurt era compreender como seria possível a 
emancipação humana em um contexto permeado pela industrialização, massificação cultural, 
repressão sexual e sociedade de massas. Com esse propósito, desenvolvem-se estudos 
interdisciplinares com áreas como filosofia, sociologia, psicanálise e história, as quais têm como 
objeto de estudo as seguintes temáticas: política, sociedade, cultura, história, ética e estética.
É no bojo dos estudos frankfurtianos sobre história que se insere o pensamento de Walter 
Benjamin. Em seu texto Sobre o conceito da História (1987), o autor discute a história como 
possibilidade de redenção – tanto dos oprimidos do passado quanto dos oprimidos do presente – 
intermediada pelo historiador. É justamente sobre esses temas que vamos estudar neste capítulo.
5.1 O Instituto de Pesquisa Social e a Alemanha entreguerras
A chamada Escola de Frankfurt floresceu no período situado entre a Primeira (1914-1919) e 
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Alemanha. O país, em grave crise econômica e política, 
buscava curar as feridas da guerra e do Tratado de Versalhes1, imposto pelas potências vencedoras 
1 O Tratado de Versalhes foi um acordo de paz assinado em 28 de junho de 1919 entre os países que se enfrentaram 
diretamente durante a Primeira Guerra Mundial. Neste cenário, havia de um ladoa aliança entre Alemanha e Áustria- 
-Hungria e, do outro, a aliança entre França e Inglaterra, que contou também com o apoio russo (até 1917) e, indiretamente, 
dos Estados Unidos. A aliança franco-britânica, vencedora do conflito, impôs, por meio do tratado assinado na cidade 
francesa de Versalhes, pesadas restrições à Alemanha, considerada a principal causadora da guerra. Entre as restrições 
impostas destacam-se: a devolução do território da Alsácia-Lorena à França (que havia sido incorporado à Alemanha 
após o término da guerra franco-prussiana em 1871); a proibição de rearmamento das fronteiras alemãs; a limitação do 
exército alemão ao mínimo necessário à sua defesa interna (a guarda prussiana foi mantida); a reparação, por parte da 
Alemanha, dos danos econômicos provocados pela guerra etc. Após o término da Primeira Guerra, o Império Austro- 
-húngaro se desfez e de seu desmembramento nasceram novos países, como Áustria, Hungria, Romênia, Iugoslávia e 
Tchecoslováquia.
Teoria da História70
do conflito, e dar prosseguimento ao frágil governo republicano de base liberal estabelecido em 
1919, situado na cidade de Weimar. Vamos abordar a seguir, ainda que brevemente, este contexto.
A experiência republicana na Alemanha pós-guerra foi instituída em meio a um violento 
conflito civil entre os anos de 1918 e 1919. Esse conflito interno ocorreu em virtude do 
enfraquecimento do governo imperial de Guilherme II (1859-1941) e do avanço dos ideais de 
uma revolução comunista, travestido em uma mobilização de comitês populares de trabalhadores 
em greve.
Partidários do socialismo, esses conselhos populares de base proletária eram favoráveis à 
revolução aos moldes da revolução bolchevique russa, a qual estourou em 1917. Entre as lideranças 
dos conselhos populares destacava-se o grupo dos espartaquistas, liderado por Rosa Luxemburgo 
(1871-1919) e Karl Liebknecht (1871-1919). Por outro lado, em meio à convulsão social interna e às 
pesadas restrições impostas pelos países vencedores da guerra à Alemanha, despontava o Partido 
Social Democrata, cuja sigla em alemão era SPD. O partido, que se afirmava de orientação social 
e democrática, constituiu para o segmento burguês a alternativa a uma revolução socialista depois 
que Guilherme II abdicou e fugiu do país. O partido contava também com o apoio de muitos 
líderes de comitês populares e de parte do proletariado alemão.
Após o Armistício da Alemanha assinado em Copenhague, Dinamarca, em novembro 
de 1918, Philipp Scheidemann (1865-1939), líder socialdemocrata, extinguiu oficialmente 
o Império Alemão – conhecido como Segundo Reich – e proclamou a República. Foi definida 
uma nova capital para a Alemanha, na cidade de Weimar, e foi dado início ao processo para a 
institucionalização do governo republicano com a convocação de eleições gerais em janeiro de 
1919. Em meio a paralizações de trabalhadores e à organização de comitês populares, o SPD saiu 
vencedor, obtendo 11 milhões de votos contra apenas 2 milhões e 300 mil obtidos pelos grupos 
ligados à esquerda socialista, alguns deles dissidentes do SPD e outros ligados a comitês populares, 
como a Liga Espartaquista.
Tendo a maioria expressiva dos votos, o SPD fez do seu líder, Friedrich Ebert (1871-1925), 
o chefe do poder executivo do novo governo. Ebert se aliou ao Marechal Paul von Hindenburg 
(1847-1934), líder dos oficiais prussianos, expoente do grupo reacionário e contrário aos comitês 
populares de esquerda. Apesar de aprovar algumas reformas, o governo socialdemocrata não foi 
capaz de conter a insatisfação popular e, ao contrário do que pregava – a paz, e não o autoritarismo 
–, o governo de Ebert foi cruel com os opositores, conforme destaca Sylvia Lenz de Mello (1996, 
p. 102):
Embora o novo chanceler, Friedrich Ebert, declare no Parlamento, em nome do 
Partido Social Democrata, que a Alemanha ruma em direção à paz, saindo de 
um Estado autoritário para um Estado popular, na prática a situação difere do 
discurso. As reformas sociais empreendidas de maneira assaz cautelosa e não 
radical, como na Rússia revolucionária, não conseguem conter a insatisfação 
popular.
No poder, Ebert e Hindenburg procederam a um verdadeiro expurgo aos grupos de 
orientação socialista, entre eles, A Liga Espartaquista. Como reação aos desmandos de Ebert, o 
grupo desencadeou uma greve geral dos trabalhadores em Berlim, mas foram derrotados; seus 
A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 71
líderes, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, foram assassinados em janeiro de 1919 (MELLO, 
1996). A perseguição aos grupos que representavam a resistência socialista prosseguiu em outras 
regiões do país, sufocando qualquer forma de oposição.
Rosa Luxemburgo (Figura 1) foi uma das mulheres mais expressivas do seu tempo. Líder da 
Liga Espartaquista, Luxemburgo fez oposição ao governo socialdemocrata instituído em Weimar 
em 1918. Ela também foi uma importante propagadora dos ideais revolucionários socialistas na 
Alemanha e fundadora do Partido Comunista do país.
Figura 1 – Rosa Luxemburgo
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As pesadas restrições econômicas e militares impostas pelos países vencedores da Primeira 
Guerra Mundial por meio do Tratado de Versalhes e aceitas pelo governo de Ebert provocaram 
reação negativa entre os alemães, reação que seria habilmente direcionada pelo Partido Nacional 
Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como partido nazista. O partido político 
de extrema direita foi criado em fevereiro de 1920 e seu principal líder foi o ex-combatente da 
Primeira Guerra Mundial, Adolf Hitler (1889-1945).
Após seis anos no poder, Ebert morreu em 1925, e o Marechal Hindenburg, já com 78 anos 
de idade, assumiu o comando político do país com o cargo de chanceler. Entre 1925 e 1933, em 
meio a uma crise econômica de escala mundial – a qual tornou ainda mais difícil a situação dos 
trabalhadores alemães –, o partido nazista crescia em preferência entre os alemães. Em janeiro de 
1933 Hindenburg entregou o cargo de chanceler a Hitler; nas eleições de março do mesmo ano, os 
nazistas assumiram a maior parte das cadeiras do parlamento alemão.
Teoria da História72
A partir de então, o programa do partido, antes desenvolvido paralelamente ao governo, 
foi transformado em plataforma política oficial (ARENDT, 2012), valendo-se, para isso, de uma 
polícia política (Gestapo) e de milícias paramilitares, como as SA (Sturmabteilung – divisão de 
assalto do partido nazista), extintas em 1934 e substituídas pelas SS (sigla para o termo alemão 
Schutzstaffel, que em português pode ser traduzido por “tropa de proteção”).
Entre suas principais características, os ideários do partido nazista foram fortemente 
marcados pelo antissemitismo – discriminação, segregação, perseguição e extermínio sistemático 
dos judeus que viviam em território alemão –, pelo militarismo e pela defesa da revanche da 
Alemanha contra os países que a tinham humilhado no Tratado de Versalhes (especialmente a 
França). Defendia também o imperialismo por meio da expansão do que Hitler denominava espaço 
vital alemão e que previa a anexação de territórios nos quais existissem pessoas de etnia germânica. 
Ademais, esses pontos do programa foram permeados por um forte discurso racista, que apregoava 
a superioridade da raça germânica sobre as demais e a necessidade de uma “higiene” racial para a 
depuração da raça pura alemã frente àquelas consideradas inferiores (ARENDT, 2012).
A Figura 2, a seguir, é um pôster nazista de propaganda antissemita e antissoviética escrito em 
lituano, datado de 1941, quando a Alemanha já se encontrava em guerra contra a União Soviética. 
O título do cartaz diz: “Um judeu é seu eterno inimigo”. Na parte inferior são proferidas ofensas ao 
líder soviético Josef Stalin (1878-1953), chamando-o, assim como aos judeus, de canalha. Observe 
o aspecto caricato e quase diabólico pelo qual os judeus são retratados, de modo a disseminar asco, 
horror e raiva contra eles.
Figura2 – “Um judeu é seu eterno inimigo”, pôster de propaganda antissemita e antissoviética promovido 
pelo Partido Nazista (1941).
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A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 73
Foi em meio a esse panorama político, permeado por agitações sociais, crises econômicas 
e ascensão do nazismo, que intelectuais alemães (filósofos, sociólogos, psicanalistas, historiadores 
e economistas) inspirados por uma releitura do marxismo e ligados à Universidade de Frankfurt, 
fundaram, em 1924, o “Instituto de Pesquisa Social”.
O IPS foi dirigido primeiramente por Karl Grünberg (1861-1940), de origem austríaca e 
marxista convicto. Grünberg escreveu sobre história, economia e sociologia e atuou também como 
advogado; em seus escritos, se mostrava um pesquisador e defensor da história e da causa operária. 
Afastado da direção por problemas de saúde, foi sucedido no cargo pelo cientista social, filósofo 
e economista Friedrich Pollock (1894-1970) e depois pelo filósofo e sociólogo Max Horkheimer 
(1895-1973), um dos mais expressivos expoentes do instituto.
Horkheimer dirigiu o IPS até 1933, quando o órgão foi invadido e fechado à força pela 
Gestapo, polícia política nazista. Nesta época, documentos referentes à gestão dos três primeiros 
diretores desapareceram em função de sua invasão e fechamento. Durante a gestão de Horkheimer, 
a pesquisa desenvolvida pelo instituto assumiu de fato as feições de uma escola de pensamento. 
O intelectual é também considerado o principal formulador do programa que seria conhecido 
posteriormente como teoria crítica.
Ao longo da década de 1930, em virtude das perseguições promovidas pelo governo nazista 
– em razão da orientação marxista e origem judia de alguns membros –, intelectuais ligados à 
Escola de Frankfurt migraram primeiramente para Genebra e depois para Paris. Quando a França é 
invadida pelos nazistas, o grupo de Frankfurt emigra para os Estados Unidos, dando continuidade 
às pesquisas no continente americano.
Entre os principais expoentes da primeira geração da Escola de Frankfurt, situam-se o 
próprio Max Horkheimer, os filósofos Theodor W. Adorno (1903-1969) – um dos fundadores 
do IPS – e Herbert Marcuse (1898-1979), o psicanalista Erich Fromm (1900-1980) e o sociólogo 
Leo Löwenthal (1900-1993). Entre os expoentes da segunda geração, destaca-se o filósofo Jürgen 
Habermas (1929-). Após o término da Segunda Guerra Mundial e a queda do nazismo, Marcuse, 
Fromm e Löwenthal continuam nos Estados Unidos, enquanto Horkheimer, Adorno e Pollock 
retornam para Frankfurt, fazendo ressurgir, em 1950, o IPS.
Vejamos, a seguir, alguns dos principais aspectos da chamada Teoria Crítica da Escola de 
Frankfurt.
5.2 Teoria crítica: conceito
Dentre as principais contribuições da teoria crítica, podemos citar o desenvolvimento de 
uma interpretação de caráter marxista, porém, também multidisciplinar – pois considerava as 
contribuições de outras ciências, como sociologia, filosofia, psicologia social e psicanálise – da 
sociedade industrial e de fenômenos sociais contemporâneos.
Os teóricos dessa vertente propunham uma filosofia histórico-social em que uma nova 
sociedade só seria possível por meio de uma outra concepção de indivíduo, que seria reconciliado 
Teoria da História74
com uma natureza não repressora, emancipado de sua condição de alienação (não somente 
econômica e política, mas também cultural) e consciente de sua atuação no processo histórico 
(WOLKMER, 2007). Segundo Wolkmer (2007), os teóricos da Escola de Frankfurt buscavam 
entender como seria possível a reconciliação entre o sujeito social, a natureza não repressora e a 
história.
Os estudos dos intelectuais ligados à Escola de Frankfurt transitavam entre temas que iam 
desde filosofia, política, economia e sociologia até discussões sobre ética e estética. Esses estudos 
eram permeados por uma perspectiva investigativa de base sociopsicológica orientada teoricamente 
pelo marxismo – de modo crítico e atualizado – e conceitos oriundos da teoria psicanalítica de 
Sigmund Freud (1856-1939). De acordo com Wolkmer (2007), esses estudos visavam à tomada 
de consciência dos sujeitos ao longo da história e à ruptura com as formas de opressão, dominação 
e marginalidade a que foram submetidos.
Dentre os temas pensados pelos expoentes da primeira geração e sistematizadores da 
teoria crítica, destaca-se a questão da massificação cultural. Afinal, como é possível ao sujeito 
se reapropriar de sua capacidade de pensar – e, dessa forma, ser livre, emancipado – em meio à 
massificação cultural promovida pelo capitalismo que tende a transformar em produto até mesmo 
expressões artísticas, as quais poderiam representar um espaço possível de liberdade?
Esse questionamento perpassa a obra publicada originalmente por Adorno e Horkheimer, 
intitulada Dialética do Esclarecimento: fragmentos Filosóficos (1947), na qual é desenvolvida a noção 
de indústria cultural. Vejamos agora como o conceito de esclarecimento (aufklärung em alemão), 
da forma como foi concebido por Kant, é atualizado – mais do que criticado – pelos filósofos 
frankfurtianos.
Ao problematizar o conceito do aufklärung kantiano, os autores denunciavam o processo 
de autodestruição do esclarecimento, tal como tinha sido pensado pelo filósofo iluminista, 
evidenciando a relação entre esse processo e o avanço da sociedade industrial e de massas, do 
domínio da técnica sobre a natureza e da extensão desse domínio sobre a cultura.
Considerando a liberdade na sociedade inseparável do pensamento esclarecedor, Adorno 
e Horkheimer afirmavam que o pensamento sobre o esclarecimento vivia um processo de 
recrudescimento, o qual era preciso encarar de maneira crítica. Um dos principais fatores a 
ameaçar o pensamento esclarecedor, segundo os filósofos, seria a “disposição enigmática das 
massas educadas tecnologicamente a deixar dominar-se pelo fascínio de um despotismo qualquer” 
(ADORNO; HORKHEIMER, 1969, p. 3).
A causa da recaída desse pensamento sobre o esclarecimento e do próprio pensamento 
esclarecido deveria ser buscada, portanto, no processo de paralização relacionado ao temor da 
verdade em curso. Não se tratava apenas da consciência racional, como apregoavam os iluministas, 
mas, sobretudo, da forma pela qual essa consciência aparece na realidade, ou aquilo que se faz com 
ela. O avanço da sociedade industrial e o domínio da técnica sobre a cultura seria um dos principais 
fatores a impedir essa consciência e sua efetivação prática.
A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 75
Segundo os autores, se, por um lado, o aumento da produtividade econômica cria as 
condições para um mundo, em tese, mais justo; por outro, confere aos aparatos técnicos de 
reprodutibilidade material e aos grupos que os controlam uma considerável superioridade sobre 
o restante da população. Nesse sentido, os poderes econômicos anulam o indivíduo na mesma 
proporção em que aumentam o poder da técnica sobre a natureza, atingindo níveis antes nunca 
imaginados (ADORNO; HORKHEIMER, 1969). A possibilidade do esclarecimento se esvai 
quando o acesso ao conhecimento é substituído por bens culturais produzidos em larga escala – de 
acordo com os ditames da lógica industrial – e distribuídos para fins de consumo. Para Adorno e 
Horkheimer (1969, p. 3), “a enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta 
e idiotiza as pessoas ao mesmo tempo”.
Diante desse quadro, a questão levantada pelos filósofos não consiste em pensar a cultura 
como valor, mas enfatizar a necessidade de o esclarecimento tomar consciência de si mesmo, sob 
pena de a consciência ser reduzida à própria existência em uma sociedade urbana, industrial, de 
consumo e de massa.
O fato de que o espaço higiênico das fábricas e tudo o que acompanha isso 
[...] levem a uma liquidação estúpida da metafísica, ainda seria indiferente, 
mas que eles próprios se tornem, no interior de todo social, a metafísica, a 
cortina ideológicaatrás da qual se concentra a desgraça real não é indiferente. 
(ADORNO; HORKHEIMER, 1969, p. 4, grifo nosso)
No processo em que o modo de existência pautado pelo trabalho e pelo consumo se torna o 
ideal de vida a ser atingido, a massificação de meios de comunicação, como o rádio, o cinema e a 
televisão, bem como a transformação dos produtos desses aparatos técnicos em bens de consumo, 
adquirem um papel fundamental. Isso não ocorre apenas em razão desses meios reduzirem a 
dimensão estética da obra de arte à lógica do mercado e do consumo fácil, mas por difundirem um 
ideal de vida como a própria configuração da verdade.
A regressão do esclarecimento à ideologia, que encontra no cinema e no 
rádio sua expressão mais fluente. O esclarecimento consiste aí, sobretudo, no 
cálculo da eficácia e na técnica de produção e difusão [...] a ideologia se esgota 
na idolatria daquilo que existe e do poder pelo qual a técnica é controlada. 
(ADORNO; HORKHEIMER, 1969, p. 4)
Para Adorno e Horkheimer (1969), a diversidade de informações assépticas, vendidas como 
entretenimento por meio dos meios de comunicação de massa – cinema, rádio e TV –, ao mesmo 
tempo em que excita, distrai e idiotiza as pessoas, tomando-lhe o tempo da reflexão e dificultando 
o processo do esclarecimento. Uma forma de alienação que se vale de uma “arte” e de uma “cultura” 
enlatadas.
Segundo os autores, essa “cultura”, produzida em escala industrial e comercializada sob a 
forma de “bens culturais”, teria como único objetivo o consumo por parte das massas, ao mesmo 
tempo, excitando e idiotizando as pessoas. Isso ocorreria em meio a uma enxurrada de informações 
precisas e superficiais, conferindo um ar de semelhança a tudo, inclusive aos bens culturais 
adquiridos, consumidos e descartados como velhas latas de conserva após um breve tempo de uso.
Teoria da História76
Do mesmo modo que os moradores são enviados para os centros, como 
produtores e consumidores, em busca de trabalho e diversão, assim também as 
células habitacionais cristalizam-se em complexos densos e bem organizados. 
A unidade evidente do macrocosmo e do microcosmo demonstra para os 
homens o modo de sua cultura: a falsa identidade do universo particular. Sob 
o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica, e seu esqueleto, a 
ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se delinear [...] O cinema 
e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de que não 
passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a 
legitimar o lixo que propositalmente produzem. (ADORNO; HORKHEIMER, 
1969, p. 57)
Os padrões que norteiam essa produção advêm da necessidade de seus consumidores: as 
massas urbanas. Por isso são aceitos e consumidos sem resistência e não têm a menor pretensão de 
incitar a reflexão e o esclarecimento. O mesmo solo em que se expande o poder da técnica sobre 
a natureza é o terreno no qual os economicamente mais fortes exercem sua ingerência sobre a 
sociedade. Racionalidade técnica e racionalidade da dominação social são os dois lados de uma 
mesma moeda.
Segundo Adorno e Horkheimer (1969), a atitude do público que favorece o sistema 
da industrialização e padronização da cultura é parte desse mesmo sistema. Os produtos 
mecanicamente diferenciados acabam por se revelar como sendo a mesma coisa: bens de consumo 
que precisam ser difundidos, alardeados, propagandeados, consumidos e logo descartados.
Nesse sentido, os meios técnicos tendem à uniformização – a televisão, por exemplo, se 
tornou uma síntese do cinema e do rádio –, e, até em seu lazer, as pessoas devem se orientar por 
essa unidade que caracteriza a produção. Isso exige duas coisas dos expectadores/ouvintes: de um 
lado, a percepção rápida e competência específica para se adequar às técnicas de transmissão – 
para não perder a sequência dos fatos/informações que se desenrolam diante de seus sentidos; de 
outro, a anulação de uma atividade mental crítico-reflexiva, tensão que se torna tão automatizada 
ao ponto de não permitir sequer a imaginação (sobretudo em relação à programação dos canais 
televisivos).
Isto é estrategicamente pesquisado e planejado para funcionar exatamente desta maneira, 
em perfeita consonância com a lógica da produção industrial e da mercantilização dos bens. São 
as regras do mercado que ditam as regras da produção e da distribuição de bens culturais nas 
sociedades capitalistas contemporâneas (ADORNO; HORKHEIMER, 1969).
A vida acaba por ser percebida e vivida pela experiência do consumo dos bens, também 
culturais. Quanto maior a precisão técnica no processo de sua fabricação, maior a ilusão de que 
a vida real é um prolongamento da ficção enlatada. A vida não deve mais se distinguir dos filmes 
(destinados às massas) que não deixam espaço para a fantasia, imaginação, reflexão e divagação. 
Apenas adestram os expectadores (ADORNO; HORKHEIMER, 1969).
O texto forte e combativo de Adorno e Horkheimer – concebido nos anos de 1940 e 
reeditado nos anos de 1960 – foi inspirado por um cenário assustador: as massas determinando a 
produção de uma cultura enlatada cujo consumo as idiotizava e impedia, progressivamente, seu 
A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 77
esclarecimento, ou, aquilo que Kant (2010) sabiamente conceituava, em 1784, como “a capacidade 
de pensar por si próprio”.
E em nossa sociedade atual, quais são os fatores que nos alienam? Quais fatores impedem 
nosso pensar autônomo e esclarecimento, e, dessa forma, nossa liberdade? O que nos oprime? 
Percebemos as diferentes formas de opressão que nos atravessam e moldam cotidianamente? 
Como é possível pensar estratégias de resistência?
Enquanto você reflete e busca respostas a esses questionamentos, vamos direcionar nossa 
discussão para um filósofo vinculado ao Instituto de Pesquisa Social, embora oficialmente tenha 
sido negligenciado pela Universidade de Frankfurt. Trata-se de Walter Benjamin (1892-1940), que, 
em sua obra Sobre o conceito da História (1987), aborda o problema da opressão e o papel do 
historiador como aquele que pode redimir os oprimidos do passado e do presente.
Apesar de sua tese de livre-docência, intitulada Origem do drama trágico alemão, escrita 
entre 1924 e 1925, ter sido rejeitada pela Universidade de Frankfurt, Benjamim aproximou-se dos 
estudiosos do IPS e atuou como colaborador da revista do instituto por algum tempo. É sobre ele, 
e mais especificamente sobre sua concepção de história, que vamos estudar a seguir.
5.3 A ideia de história como redenção em Walter Benjamin
“Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se total-
mente do seu passado”. (BENJAMIN, 1987a, p. 223)
Diferentemente da parte do grupo de Frankfurt que conseguiu deixar a Alemanha e se asilar 
com segurança nos Estados Unidos, o filósofo, ensaísta, tradutor e teórico literário Walter Benjamin 
infelizmente morreu na cidade de Port Bou, na Catalunha, fronteira entre França e Espanha, em 
1940. Sua morte é envolta em mistério, sendo a tese mais aceita a de que Benjamin se suicidou 
com uma alta dose de morfina durante a noite do dia 26 de setembro, com receio de ser capturado 
pela Gestapo e ser encaminhado para um campo de concentração, uma vez que além de ser um 
intelectual de esquerda, era também judeu. Uma morte triste e trágica, como também fora a maior 
parte da sua vida. No plano intelectual, Benjamin também ficaria conhecido como um teórico 
melancólico influenciado fortemente por vertentes como o romantismo alemão, o marxismo e o 
messianismo judaico.
5.3.1 O filósofo da melancolia
Conhecido como o filósofo da melancolia, Walter Benjamin nasceu em Berlim, no ano de 
1892, no seio de uma rica família judia. Do pai antiquário, herdou o gosto pelas coleções, dentre 
as quais tinha especial predileção pelos livros. Benjamin também se considerava um “colecionador 
de citações”, chegando a conjecturar a possibilidade de escrever um livro apenas com base nelas.
Estudou filosofia na Universidade de Freiburg,em Brisgóvia, e doutorou-se em 1919, 
com apenas 27 anos de idade, na Universidade de Bern. Sua tese de Doutorado intitulava-se 
O conceito de crítica de arte no romantismo alemão. Desde a adolescência, interessava-se por grupos 
de orientação socialista, assim como pelo marxismo. Atuou como tradutor e crítico literário; 
Teoria da História78
em filosofia, dedicou-se aos estudos sobre estética, debruçando-se sobre movimentos como o 
Romantismo e o Drama Barroco Alemão.
Uma de suas obras mais complexas foi escrita entre 1924 e 1925 para ser submetida à cadeira 
de livre docência na Universidade de Frankfurt. Apresentada inicialmente para a cadeira de 
literatura alemã, a tese foi recusada; depois, foi apresentada novamente, desta vez para a cadeira 
de estética, e mais uma vez, recusada. Assim terminava, antes mesmo de começar, a carreira 
acadêmica de Benjamin (ROUANET, 1984).
Como um entusiasta do marxismo, mas também crítico quanto à sua operacionalização, 
o filósofo desejava conhecer a experiência real do socialismo. Desejava também viver sua paixão 
com a atriz e diretora de teatro letã Asja Lācis (1891-1979), à qual dedicou a obra Rua de mão única 
(1928). Após o fracasso de sua carreira acadêmica, decidiu viajar para Moscou, enfrentando as 
dificuldades do frio, da língua e da já crônica falta de dinheiro. Conseguiu os parcos recursos para a 
viagem com o editor Martin Buber (1878-1965), mediante a promessa de que escreveria um artigo 
sobre sua experiência na capital russa.
A experiência em Moscou, como quase tudo na vida de Benjamin, não foi exatamente um 
sucesso. Lācis estava internada em um sanatório, em virtude de problemas nervosos, e acabou 
trocando Benjamin pelo diretor e crítico de teatro Bernhard Reich (1892-1972), de quem nunca se 
separou. A experiência com o comunismo real também o decepcionou e de lá voltou sem se filiar 
ao Partido Comunista. Da viagem e da obrigação de escrever o artigo para Buber nasceu a obra 
O diário de Moscou (1986), a qual só foi publicada postumamente.
Envolto em dificuldades financeiras que só pioraram com a ascensão do nazismo na 
Alemanha e com as perseguições aos judeus, Benjamin se exilou em Paris no ano de 1935, passando 
a ter seus gastos custeados por uma bolsa do Instituto de Pesquisa Social que recebeu até sua 
morte. Fazia também trabalhos como tradutor, sendo o mais desafiador deles a tradução para o 
alemão da obra Em busca do tempo perdido (1913) do escritor francês Marcel Proust (1871-1922). 
Considerada uma das mais importantes obras da literatura mundial de todos os tempos, o romance 
é também um dos mais longos já escritos: está organizado em sete volumes. Uma tarefa penosa, 
sobretudo porque a origem meio judaica de Proust o tornaria um autor maldito na Alemanha e 
depois na França ocupada pelos nazistas.
Em Paris, escreve alguns de seus mais belos textos, nos quais busca estabelecer 
ressonâncias entre a Paris do século XIX e a Berlim da década de 1930. Dentre os autores de sua 
predileção, destaca-se o poeta simbolista Charles Baudelaire (1821-1867), sobre o qual escreveu 
Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo, publicado pela primeira vez no ano de 2010.
Quando os nazistas ocupam Paris, Benjamin busca refúgio na fronteira com a Espanha, 
para tentar fugir de uma mais do que provável morte terrível nas mãos da Gestapo. No entanto, ao 
encontrar a fronteira com a Espanha fechada, Benjamin suicida-se. No dia seguinte, os oficiais da 
fronteira liberam a fronteira para que os demais refugiados pudessem seguir em direção a Portugal; 
a proibição valeu por um único dia, o dia em que Benjamin tirou sua vida. Seu último texto, escrito 
em 1940, intitula-se Sobre o conceito da História e só foi publicado postumamente. Nele, o autor 
A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 79
aponta sua concepção sobre o homem, o tempo, a história e o papel do historiador. É sobre essas 
ideias que vamos abordar a seguir.
5.3.2 O conceito de história como redenção em Walter Benjamin
As reflexões sobre a história, seu sentido, função e significado perpassam a obra de 
Benjamin de uma maneira geral: sua obra A origem do drama barroco alemão (1989), por exemplo, 
aponta o modo pelo qual as expressões do teatro alemão barroco, no século XVII, encontravam-se 
perpassadas por uma ideia de “história como destino”. Além da influência de movimentos estéticos 
(artístico-literários) como o Barroco e o Romantismo, sua concepção de história foi moldada pelo 
entendimento marxista sobre o materialismo dialético e da luta de classes como motor da história. 
Há ainda que se destacar a influência do misticismo judaico, especialmente no que tange à ideia 
de redenção.
Benjamin entende a sua própria época – a Modernidade – como um tempo de degradação 
e de destruição do homem, do tempo e da história (PEREIRA, 2008). O que isso significa? 
Segundo Pereira (2008), em determinados textos de Benjamin, a Modernidade é interpretada 
como um experiência alheia e distanciada da tradição, e que, por isso, tende a descaracterizar a 
dimensão humana em seus mais variados aspectos: estético, metafísico, religioso etc. No cerne 
dessa descaracterização está o fluxo intermitente do “progresso” da sociedade industrial e da 
urbanização, cujo ritmo avança na velocidade das máquinas e o movimento tende a impregnar as 
relações sociais e os saberes, fazendo sucumbir o que é humano.
Essa ideia manifesta-se em obras como Rua de mão única, na qual aforismos parecem tentar 
traduzir a angústia de quem sente a modernidade em seu ímpeto destrutivo e busca no instante o 
que é único, e que, embora desvaneça, pode ser percebido e captado pelo olhar sensível.
Em relação à experiência poética de Baudelaire em sua obra As flores do mal (1857), 
Benjamin ressalta, em Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo, a representação poética 
do aspecto avassalador da Modernidade sobre a vida humana como forma de resistência e de luta, 
ainda que desigual, entre o lírico e o capitalismo.
Essa ideia é reiterada no início da obra A Modernidade e os modernos (2000); por intermédio 
de Baudelaire, Benjamin recupera a figura do esgrimista, com a qual Baudelaire gostava de associar 
a figura do artista, cuja arma seria o pincel, os golpes e os traços de tinta sobre a tela. Benjamin 
conduz o leitor a comparar o próprio Baudelaire a um esgrimista que, valendo-se de sua pena e dos 
golpes representados por suas palavras, tenta de maneira heroica duelar contra seu próprio tempo 
(BENJAMIN, 2000).
A experiência da vida moderna, fugaz e avassaladora, tende a destruir o tempo e, dessa 
forma, a experiência e a história. Mas Benjamin (1987a) concebe uma forma de redimi-los e salvar 
o homem do mundo por ele mesmo criado. Essa “possível” redenção faz oposição à modernidade, 
ou seja, é direcionada para a tradição. A tradição representa o mundo em dissolução, o que está 
sucumbindo, mas cujos destroços ainda são perceptíveis e nos quais, tal qual um morador de uma 
casa em ruínas, o homem pode reencontrar-se com aquilo que o constituiu e que não pode ser 
destruído. A casa em ruínas é a própria vida deste homem:
Teoria da História80
Esquecemos há muito tempo o ritual sob o qual foi edificada a casa de nossa 
vida. Quando, porém, ela está para ser assaltada e as bombas inimigas já a 
atingem, que extenuadas, extravagantes antiguidades elas não põem a nu ali 
nos fundamentos! Quanta coisa não foi enterrada e sacrificada sob fórmulas 
mágicas, que apavorante gabinete de raridades lá embaixo, onde, para o mais 
cotidiano, estão reservadas as valas mais profundas. Em uma noite de desespero 
eu me vi em sonho a renovar tempestuosamente amizade e fraternidade com 
o primeiro companheiro de meu tempo de escola, que já há decênios não 
conheço mais e de quem mesmo nesse instante mal me lembrava. Ao despertar, 
porém, ficou claro para mim: o que o desespero, como uma explosão, tinha 
posto à luz do dia, era o cadáver desse homem, que estava emparedado lá,parecendo dizer: quem mora aqui agora não deve assemelhar-se a ele em nada. 
(BENJAMIN, 1987b, p. 12-13)
Mas para que a tradição possa fazer resistência à modernidade, é preciso, como diria 
Benjamin, “arrancá-la ao conformismo”, ou, “escovar a história a contrapelo” (BENJAMIN 
apud PEREIRA, 2008, p. 151, grifos do original). Isso significa conceber a história de uma 
forma diferente da qual o historicismo concebia. O historicismo representa a história contada 
pelos vencedores sobre os vencidos, ou seja, aquilo que Benjamin chama, orientado por uma 
compreensão marxista, de classes dominantes. Isso é percebido na tese de número seis de 
sua obra Sobre o conceito da História: “o perigo ameaça tanto a existência da tradição como 
os que a recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como 
seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer 
apoderar-se dela” (BENJAMIN, 1987a, p. 224).
À medida que o historicista escreve somente a história do ponto de vista daqueles que 
venceram, oprimiram e dominaram, acaba por contribuir para que esse estado de dominação 
se perpetue: “o historiador tradicional estabelece, exatamente desse modo, uma relação 
de empatia com os vencedores, uma espécie de identificação afetiva que só faz da suposta 
“distinção” da classe privilegiada o sinal, a marca indelével de sua natureza atroz” (PEREIRA, 
2008, p. 151, grifos do original).
Ao escrever a história dos que venceram, os historiadores acabam por reiterar a opressão não 
apenas dos oprimidos do passado, mas do presente também. Redimir os mortos do passado é ouvir 
a voz dos que foram silenciados, para que também eles descansem em paz (BENJAMIN, 1987a). 
Por isso, a ideia de redenção, inspirada no misticismo judaico, se combina à teoria do materialismo 
histórico-dialético. A redenção se faz pela via material, pelo entendimento de que a luta de classes 
ocorre sob as condições materiais e é no contexto dessa luta que se efetiva a opressão. Compreender 
a história de maneira dialética é entender as bases materiais da opressão e as possibilidades de 
redenção (PEREIRA, 2008). Essa possibilidade se faz pela compreensão da história não como 
apologia aos que venceram, mas como rememoração.
A rememoração pressupõe a transformação ativa do presente, tendo por intermédio o 
passado. Ela ocorre por meio da tomada de consciência do historiador materialista-histórico de 
que o presente é algo único, irrepetível e irrecuperável, mas é nesse tempo, no tempo do instante, 
que o historiador pode redimir a si e aqueles que o antecederam, e evitar que a opressão continue 
a existir no futuro.
A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 81
Ao buscar estabelecer com o passado uma relação de rememoração, o historiador pode 
despertar lá (no passado) e aqui (no presente) as centelhas da esperança que o historicismo 
teima em apagar. No que consiste esta esperança? Ela traduz-se no fato de que, libertos do 
conformismo, os oprimidos do presente se reconheçam nos oprimidos do passado e, ao redimi-
los e dar-lhes visibilidade, o historiador possa fazer com que eles sejam enxergados e redimidos 
também no presente.
Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela se 
apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha 
consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que 
a recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, 
como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao 
conformismo, que quer apoderar-se dela. (BENJAMIN, 1987a, p. 224)
Desse modo, a articulação do passado não é ação do historicista, que acredita transpô-lo tal 
qual ele foi. Articular historicamente o passado é percebê-lo no presente como reminiscência em 
momentos de perigo. Estas lembranças aproximam o historiador do passado. O perigo que ameaça 
a tradição, impedindo-a de ser redentora, é o mesmo que ameaça o presente: o de que o inimigo 
continue a vencer. Só assim o historiador poderá evocar do passado, no passado e no presente 
as centelhas da esperança e explodir o continuum da história: “o dom de despertar no passado as 
centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os 
mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer” 
(BENJAMIN, 1987a, p. 224-225).
É nesta tarefa que o misticismo judaico e a ideia de redenção se encontram com o materialismo 
histórico e é neste instante que o historiador, assim como o messias da tradição judaica, pode ser o 
instrumento da redenção e da salvação.
Considerações finais
Neste capítulo, foi possível compreender o contexto político da Alemanha entreguerras, 
o processo pelo qual se deu a crise do império e a instituição do governo republicano, período em 
que foi fundado o Instituto de Pesquisa Social (IPS). Ligado à Universidade de Frankfurt, foi por 
meio do IPS que surgiu o movimento popularmente conhecido como Escola de Frankfurt.
Além disso, estudamos alguns dos principais expoentes da Escola de Frankfurt e discutimos 
o conceito de teoria crítica por meio da revisão do conceito iluminista de esclarecimento. Vimos 
também as possibilidades de emancipação humana em meio à sociedade industrial e de massas, 
permeada, dentre outros fatores, pela industrialização e pela mercantilização da arte e da cultura.
Por fim, conhecemos a vida e obra de Walter Benjamin – filósofo ligado à Escola de Frankfurt 
– e verificamos de que modo o teórico estabeleceu sua crítica à modernidade e compreendeu a 
história como possibilidade de redenção.
continuum: que 
perdura sem 
interrupção; 
constante.
Teoria da História82
Ampliando seus conhecimentos
• A INDÚSTRIA cultural hoje | Fabio Akcelrud Durão. 2013. 1 vídeo (21 min.). Publicado 
pelo canal TV Boitempo. Disponível em: https://youtu.be/aTLZq7NcVq0. Acesso em: 12 
abr. 2019.
O documentário apresenta uma entrevista com Fabio Akcelrud Durão, professor de 
Teoria literária da Universidade de Campinas (Unicamp), concentrando-se em discutir 
a atualidade do conceito de indústria cultural, elaborado por Horkheimer e Adorno em 
1947. Durão problematiza, entre outras coisas, a difusão acelerada da informação por 
meio de ferramentas cibernéticas.
Atividades
1. Explique com suas palavras de que maneira a teoria crítica atualiza, na medida em que 
submete à crítica, o conceito de esclarecimento iluminista.
2. Aponte a relação entre indústria cultural e alienação da sociedade de massas, segundo o 
entendimento de Adorno e Horkheimer.
3. Segundo Walter Benjamin, de que modo a história pode se manifestar como possibilidade 
de redenção?
Referências
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1969. Disponível em: https://nupese.fe.ufg.br/up/208/o/fil_dialetica_esclarec.pdf. Acesso em: 16 abr. 2019.
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arte e política. Trad. de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1987a.
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de Rubens Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa. São Paulo: Brasiliense, 1987b.
BENJAMIN, Walter. Diário de Moscou. Trad. de Hildegard Herbold. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
BENJAMIN, Walter. A modernidade e os modernos. Trad. de Heindrun Kreiger Mendes da Silva, Arlete de 
Brito e Tania Jatobá. Rio de Janeiro: Boitempo, 2000.
KANT, Imannuel. O que é o esclarecimento? In: KANT, Imannuel. Textos seletos. Trad. de Floriano de Souza 
Fernandes. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
A Escola de Frankfurt e a concepção dehistória como redenção 83
MELLO, Sylvia Lenz de. República de Weimar: Alemanha 1919-1933. História & Ensino, Londrina, n. 2, p. 101-
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PEREIRA, Marcelo de Andrade. Repensar o passado – recobrar o futuro: história, memória e redenção em 
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ROUANET, Sérgio Paulo. Apresentação. In: BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Trad. de 
Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984.
WOLKMER, Antônio Carlos. Novos marcos na historicidade do Direito. In: WOLKMER, Antônio Carlos. 
História do Direito no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
6
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção 
de uma história vista de baixo
A formação de uma tradição historiográfica inglesa recebeu, assim como em outros países, 
forte influência das correntes de pensamento do modelo empirista do século XVIII, sendo 
acentuada pelo método positivista do século XIX. Da mesma maneira que outros países da Europa, 
a partir do século XIX a história nacional surgiu como uma maneira de legitimar a existência do 
país. Como visto no Capítulo 1, essa história era pautada sobretudo no romantismo.
Dentre as singularidades que a historiografia inglesa apresentou, destacou-se primeiramente 
a longa tradição empirista e positivista, caracterizada pelo amor ao fato e às descrições, o privilégio 
das fontes oficiais e o entrelaçamento com a construção recorrente do liberalismo mítico, o qual 
apregoava a liberdade como uma característica principal desde os primeiros anglo-saxões. Ao lado 
disso, encontrava-se ainda presente a tradição humanista nos moldes renascentistas, fator relevante 
para os estudiosos oitocentistas, que consideravam a história fundamental para a formação moral, 
religiosa, social e, principalmente, política do homem britânico (DE DECCA, 1992; HOBSBAWM, 
1987).
Os anos finais do século XIX e início do século XX viveram um verdadeiro abalo na forma 
como a história era escrita, narrada e contada. As ideias do fin de siècle, as críticas à cultura 
ocidental elaboradas por Friedrich Nietzsche, a sociologia de Émile Durkheim, a psicanálise de 
Sigmund Freud e, principalmente, o estrondo causado pelas obras de Karl Marx e Friedrich Engels 
influenciaram de maneira significativa o campo historiográfico.
Entretanto, nesses momentos de ebulição, a historiografia inglesa ficou quase indiferente às 
bruscas mudanças que se processavam em outros países europeus. Os avanços do marxismo, da 
psicanálise e da sociologia clássica não atingiram o campo historiográfico inglês, o qual permanecia 
fiel ao modelo empirista e positivista. A tradição liberal era muito mais forte do que a crítica ao 
modelo industrial.
As primeiras mudanças significativas no campo historiográfico inglês ocorreram após a 
Primeira Guerra Mundial, quando o liberalismo inglês e a tradição empirista dos historiadores 
foram questionadas frente às novas ideias. A exemplo do que aconteceu em outros países – como 
na França com os Annales e na Alemanha com a Escola de Frankfurt –, na Inglaterra esse impacto 
refletiu pouco a pouco no fortalecimento de uma tradição marxista que, principalmente no pós-
Segunda Guerra Mundial1, foi questionada.
1 A Segunda Guerra Mundial foi um conflito bélico de proporções globais, que envolveu grande parte das nações 
mundiais, e estendeu-se de 1939 até 1945. Segundo Hobsbawm (1995), a Segunda Guerra Mundial foi uma continuação 
dos conflitos que se iniciaram em 1914, com a Primeira Guerra Mundial. A esse respeito, ver: HOBSBAWM, Eric. Era dos 
extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Teoria da História86
O movimento que alterou profundamente a escrita da história na Inglaterra e repercutiu no 
campo historiográfico de outros países ficou conhecido como Nova Esquerda Inglesa, e iniciou-se 
no ano de 1956 como uma resposta a um tipo de historiografia e análise social levada a cabo por 
intelectuais de vertente marxista. Trata-se de um grupo interdisciplinar, heterogêneo, com ideias e 
propostas diferenciadas, mas que congregavam entre si a necessidade de uma revisão do chamado 
marxismo vulgar ou marxismo ortodoxo.
Alguns indivíduos que formaram o grupo eram membros do Partido Comunista da Grã- 
-Bretanha (PCGB) e ficaram decepcionados com os rumos práticos que a teoria de base marxista 
estava tomando no processo da Guerra Fria (1947-1991). Assim, o grupo defendia a necessidade de 
se criar uma nova via, um novo caminho, traçar novas propostas para o futuro, uma vez que as duas 
perspectivas vigentes e atuantes no conflito – o capitalismo liberal e imperialista e o socialismo 
real – não estavam dando conta da construção das utopias e sonhos de uma sociedade mais justa, 
conforme ansiavam os intelectuais de vertente socialista.
Foi desse modo que ocorreu um processo de inovação nos conceitos tradicionais, tratados 
muitas vezes pela intelectualidade marxista como dogmas. A Nova Esquerda propôs uma nova 
análise do social, um outro olhar sobre a perspectiva política e a construção de novos anseios 
de futuro. Parecia claro aos intelectuais envolvidos com o movimento que, para mudar o futuro, 
era necessário mudar o passado. Nesse sentido, a proposta da Nova Esquerda se deu em diversos 
âmbitos das ciências humanas e sociais e atingiu em cheio o campo historiográfico. Para dar conta 
dessas propostas, a Nova Esquerda Inglesa investiu em revisões dos conceitos até então utilizados 
pelo marxismo. Dentre eles, os conceitos de revolução e de classe social foram os que sofreram as 
alterações mais drásticas.
Um dos nomes mais expressivos no campo historiográfico da Nova Esquerda Inglesa foi o de 
Edward Palmer Thompson (1924-1993). E. P. Thompson, como ficou conhecido, foi um combativo 
historiador inglês, filiado ao Partido Comunista Britânico. Em 1946, fez parte de um grupo de 
estudos históricos marxistas ao lado de nomes expressivos da historiografia, como Christopher 
Hill (1912-2003), Eric Hobsbawm (1917-2012), Perry Anderson (1938-), Rodney Hilton (1916- 
-2002) e Donna Torr (1883-1957). Com o desenvolvimento da Guerra Fria, Thompson criticou a 
experiência stalinista e rompeu com o partido2. Ele se tornou um ferrenho defensor dos direitos 
humanos, dos direitos dos trabalhadores e atuou como pacifista antinuclear e contra as políticas 
neoliberais do final da década de 1980 (HALL, 2014).
A defesa de E. P. Thompson tinha como objetivo resgatar e revisitar a formação da classe 
operária por meio de novos recortes, fontes e teorias. A inovação apresentada pelo historiador 
referiu-se ao resgate das experiências dos indivíduos que constroem a história, da investigação 
2 Josef Stalin (1878-1953) foi um revolucionário russo que governou a União Soviética após a morte de Lenin. Stalin 
esteve envolvido em toda a estrutura política do Partido Bolchevique e com o processo revolucionário que originou a 
implantação do projeto comunista na Rússia. Entretanto, a partir da década de 1930, ele se tornou um ditador, rompendo 
com diversos princípios da revolução proposta pelo marxismo-leninista. Aliado às ideologias fascistas da Alemanha 
nazista e da Itália fascista, Stalin implementou um regime de terror, perseguição, punição, práticas de extermínio e de 
trabalho forçado para aqueles que fossem considerados inimigos do partido. A esse respeito, ver: KOTKIN, Stephen. 
Stálin: paradoxos do poder, 1878-1928. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 87
sobre as concepções que tinham sobre o mundo e da identificação dos anseios que os uniam. Para 
tanto, ele apresentou a proposta de uma história na qual as classes populares fossem protagonistas. 
A essa nova abordagem, deu-se o nome de “história vista de baixo”e é justamente sobre ela que 
vamos conhecer neste capítulo.
6.1 O contexto da Guerra Fria e a 
emergência do revisionismo marxista
Como já visto, o pensamento de Marx e Engels influenciou de maneira profunda a sociedade 
ocidental no século XX. Embora tenham vivido no século XIX, os dois intelectuais ganharam 
repercussão teórica e prática no século seguinte. A conceituação e aprofundamento de análise 
daquilo que ficou conhecido como materialismo histórico, a apresentação de uma sociedade 
dividida entre burgueses e proletários, a afirmação de que para se entender o mundo social era 
necessário compreender a dinâmica e o funcionamento da vida econômica – eixo no qual se 
estabelecia a experiência marxista – contribuíram para novas análises no campo historiográfico/
social.
O desenvolvimento das ideias de Marx e Engels teve resultados práticos revolucionários. 
Dentre esses, o mais significativo foi, sem dúvida, a Revolução Russa ocorrida em 1917 e os 
desdobramentos que esse evento provocou no mundo como um todo.
A Figura 1 é um retrato da manifestação de rua que ocorreu em Petrogrado, Rússia, em 
4 de julho de 1917, durante a Revolução Bolchevique. Liderada por Vladimir Ilyich Ulyanov 
(1870-1924), popularmente conhecido como Lenin, a Revolução Russa foi inspirada nos ideários 
marxistas.
Figura 1 – Manifestação de rua em 4 de julho de 1917, na cidade de Petrogrado, Rússia. As tropas do 
Governo Provisório dispararam com metralhadoras contra os que resistiam a sua instituição.
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Articulados com ideais revolucionários que consistiam no fim de uma sociedade burguesa 
e capitalista e o surgimento de uma nova sociedade (por meio de uma revolução radical do 
proletariado contra a burguesia) pautada no socialismo, formaram-se na Rússia grupos políticos 
cujo eixo girava em torno de uma possível transformação social, baseada nas propostas de Marx e 
Engels. Um desses grupos, que se tornou o mais famoso, foi liderado por Lenin e recebeu o nome 
de Partido Bolchevique.
As condições políticas, sociais e culturais da Rússia nos primeiros anos do século XX eram 
lamentáveis. Havia uma grande massa de operários e camponeses em situação de miséria, submetida 
ao poder de uma aristocracia de terras, que era legitimada pelo governo czarista de Nicolau II 
(1868-1918). A situação de carência, que se arrastava desde séculos anteriores, se agravou com a 
participação russa na Primeira Guerra Mundial. A pobreza da população se intensificou, criando 
um terreno fértil de reivindicações e anseios por mudanças.
Foi neste clima que as ideias de Marx e Engels chegaram ao país. A perspectiva de uma 
revolução que pusesse abaixo a aristocracia e instalasse condições mais igualitárias de vida se 
alastrou rapidamente sob a liderança do partido bolchevique. Além da opressão política, o povo 
russo vivia a exploração econômica. Diante desse quadro, as manifestações se tornaram frequentes, 
enfraquecendo o poder do governo e criando um solo fértil para o enraizamento de ideias que 
prometiam mudanças radicais.
Segundo Hobsbawm (1994, p. 67):
A Rússia, madura para a revolução social, cansada de guerra e à beira da 
derrota, foi o primeiro dos regimes da Europa Central e Oriental a ruir sob 
pressões e tensões da Primeira Guerra Mundial [...]. A fragilidade do regime se 
revelou quando as tropas do czar, mesmo os leais cossacos de sempre, hesitaram 
e depois de recusaram a atacar a multidão revoltosa, e passaram a confraternizar 
com ela. Quando, após quatro dias de caos, elas se amotinaram, o czar abdicou, 
sendo substituído por um governo liberal provisório.
O excerto de Hobsbawm nos dá a exata medida do clima que pairava na Rússia pré-
revolucionária. A mobilização da população pela mudança e por um mundo mais libertário, 
democrático e igualitário era o motor que impulsionava os movimentos, levantes e resistências.
Segundo Hobsbawm (1994), grande parte da população russa não distinguia o teor das 
ideias dos diferentes partidos que assumiam o protagonismo da revolução. O que parecia imediato 
para o povo era a alteração de uma ordem injusta por novas possiblidades da vida social. Foram 
necessários apenas “quatro dias espontâneos e sem liderança na rua” para pôr fim a um império, 
afirmou Hobsbawm (1994, p. 67). Segundo o autor, esse fato comprova que a Rússia estava tão pronta 
para a revolução social, que “as massas de Petrogrado imediatamente trataram a queda do Czar 
como uma proclamação de liberdade, igualdade e democracia direta universais” (HOBSBAWM, 
1994, p. 67).
A direção, portanto, que o movimento tomou, sendo acolhido pelo partido bolchevique, 
criado sob a leitura da obra de Karl Marx e Friedrich Engels, definiu o teor da mudança social: a 
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 89
Rússia passou a representar o primeiro país do mundo a levar a cabo as propostas de revolução 
proletária e de realização da revolta do proletariado. A Revolução Russa representava uma radical 
afronta ao mundo capitalista e uma pioneira defesa do socialismo.
Na medida em que a revolução se consolidou, ela também cresceu e se expandiu. De acordo 
com Hobsbawm (1994, p. 63), a crença que pairava sobre Lenin e os membros do partido era de 
que “a vitória bolchevique na Rússia era basicamente uma batalha na campanha para alcançar 
a vitória do bolchevismo numa escala global mais ampla”. O sonho do internacionalismo era a 
base de formação dos partidos comunistas, que se alastraram pelo mundo. A crença de que era 
possível enfrentar o capitalismo em suas diversas fragilidades e implementar um mundo sem a 
propriedade privada guiou o sonho de diversos militantes do partido. Esses também são elementos 
indispensáveis para entendermos aquilo que ficou conhecido como Nova Esquerda, bem como a 
influência desse processo para a historiografia.
O fim da Primeira Guerra também foi o estopim para a Segunda Guerra Mundial. O período 
entre guerras (de 1918 a 1939) ficou conhecido pelo crescimento dos partidos populares engajados 
pela luta trabalhista e guiados pela vitoriosa experiência russa – que englobou outras repúblicas, 
dando origem em 1922 à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) –, bem como de 
ascensão dos chamados fascismos, isto é, o endurecimento dos discursos nacionalistas, bélicos, 
conservadores e intolerantes com determinados grupos sociais.
A divisão do mundo em diferentes utopias para o futuro foi também um motor da guerra. 
O desenvolvimento do socialismo real na Rússia inspirava militantes de todo o mundo a se 
mobilizarem para a realização da revolução em seu próprio país. Os trabalhadores, engajados 
e conscientes de seu papel revolucionário, se sentiram pela primeira vez protagonistas de suas 
histórias.
Por outro lado, o mundo capitalista se sentia ameaçado pelo crescimento e mobilidade 
dos trabalhadores em torno do sonho socialista. As crises econômicas decorrentes da Primeira 
Guerra Mundial proporcionaram o desespero de alguns grupos econômicos e políticos frente a 
um futuro imprevisível. A busca por um líder forte, que combatesse a desordem e apresentasse a 
possibilidade de “salvamento”, também foi uma característica do período entreguerras e resultou 
em partidos conservadores e radicais, como o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores 
Alemães, popularmente conhecido como Partido Nazista, na Alemanha, e o Partido Nacional 
Fascista, chamado de fascismo, na Itália.
A expansão da revolução russa para uma escala global mobilizou os sucessores de Lenin. O 
combate a esse avanço mobilizou as forças liberais capitalistas, lideradas pelos Estados Unidos da 
América. Grande parte do século XX, portanto, viveu sob a égide da Guerra Fria, na expectativa do 
avanço e do recuo do capitalismo ou do socialismo.
A intelectualidade que presenciou esse momento se posicionou de maneiras variadas. Havia 
os defensores do liberalismo econômico capitalista de um lado, e, de outro, os queentendiam o 
avanço do socialismo como a única alternativa para a consolidação de um mundo mais justo e 
Teoria da História90
igualitário. A luta de classes, o fim do capital, a ascensão e protagonismo do proletariado frente às 
forças capitalistas de produção mobilizou os chamados intelectuais marxistas, que foram ganhando 
cada vez mais força e espaço dentro das universidades, particularmente nos cursos de ciências 
humanas.
As ideias de Marx e Engels estavam presentes em toda a Europa desde antes da Revolução 
Russa. Contudo, foi após 1917, e com o avanço leninista tomando conta do leste europeu, que esse 
movimento de ideias se firmou e se consolidou.
A influência marxista é reconhecida como propulsora de um relativo avanço no trato 
historiográfico. No entanto, é de reconhecimento quase geral o fato de que em diversos países 
o marxismo ganhou ares de ortodoxia e de dogmas, fazendo com que conceitos presentes nas 
primeiras obras de Marx se tornassem inflexíveis e inquestionáveis. Esse fato deu origem a uma 
doutrinação entre os anos de 1920 e 1950 que pode ser comparada ao positivismo do século XIX. 
A ela deu-se o nome de marxismo vulgar ou marxismo ortodoxo.
Segundo Hobsbawm (1998), o chamado marxismo vulgar3 tinha algumas características 
que o tornaram obsoleto frente ao avanço dos novos tempos. São elas:
• a interpretação meramente economicista da história;
• a defesa de um modelo de base e superestrutura, interpretado como simples relação de 
dominância e dependência da base econômica para a superestrutura, tendo como fator 
intermediário o interesse de classe e a luta de classes;
• a consideração de que existem leis históricas e a inevitabilidade histórica;
• a seleção de temas específicos da investigação histórica, sempre derivados de interesses 
associados à teoria marxista;
• a observação sobre o limite da historiografia, contido no próprio método, sendo que tanto 
historiadores marxistas quanto positivistas assinalavam como fim último da história a 
busca pela “verdade”.
O grande problema provocado pelo marxismo vulgar foi o fato de que o rompimento com o 
empirismo e com o positivismo do século XIX – proporcionado pelos estudos marxistas – resultou 
em um processo semelhante. Em outras palavras, a escrita da história se tornou presa a dogmas 
e teorias, ficou engessada em protocolos e ficou cega para qualquer elemento que não estivesse 
predeterminado pelo método marxista de escrita da história.
Não há dúvida, afirma Eric Hobsbawm (1990), que o pensamento marxista representou um 
avanço na análise do fenômeno social (proposto por meio dos conceitos de base e superestrutura). 
O reconhecimento das sociedades como sistemas de relações entre os homens, determinadas 
pelo capital, ou a análise estrutural-funcionalista, ou, ainda, o reconhecimento da existência de 
3 Sobre a crítica feita por Eric Hobsbawm ao marxismo vulgar, ver:
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
HOBSBAWM, Eric. A outra história: algumas reflexões. In: KRANTZ, Frederick (org.). A outra história: ideologia e protesto 
popular nos séculos XVII a XIX. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 91
contradições em todas as sociedades, são peculiaridades que demonstram a validade do caráter 
historicista e evolucionista da teoria de Marx4.
Embora Hobsbawm (1990) reconheça a teoria marxista como um dos modelos mais 
completos de análise do fenômeno social, é necessário, segundo o autor, considerar suas limitações 
e reformular (sem “matar”) seus conceitos, voltando sempre ao próprio Marx para não enquadrar 
mecanicamente os conceitos marxistas, simplificando-os ou generalizando-os.
Mesmo elaborando uma crítica às apropriações indevidas das teorias marxistas, Hobsbawm 
(1990) é enfático em assumir que os resultados da historiografia marxista clássica possibilitaram 
a sofisticação da escrita da história no século XX. Os estudantes apaixonados pela teoria marxista 
na década de 1930 e 1940 produziram importantes obras nas décadas seguintes (1950 e 1960). 
Aliás, foram esses estudantes que provocaram o revisionismo da ortodoxia marxista, entenderam 
as limitações de um modelo teórico ser utilizado como dogma e enfatizaram, ainda, os riscos 
que o afastamento da academia em relação à realidade das experiências históricas gerava para a 
historiografia.
As revoltas e rebeliões protagonizadas pelos países periféricos e a falência dos modelos 
hegemônicos (do capitalismo ou do socialismo real) produziram um descongelamento do debate 
historiográfico, provocado em grande parte pelos resultados da Guerra Fria. Como já salientado, 
no campo da historiografia a influência do marxismo foi definitiva. Entretanto, à medida que a 
configuração da revolução russa se alterava, se afastando cada vez mais dos ideais revolucionários 
da classe trabalhadora e adquirindo feições do fascismo e da ditadura – nos moldes da opressão 
que se dizia combater –, a intelectualidade marxista passou a questionar os propósitos do partido 
comunista e a reavaliar os desdobramentos práticos daqueles preceitos teóricos.
Parecia que um precipício enorme separava a teoria marxista da prática socialista ou dos 
efetivos resultados que se buscava com uma análise marxista de sociedade. O ideal da construção 
de um mundo mais justo e igualitário, pautado nos interesses do proletariado, afastava-se a passos 
largos da teoria e resultava em uma disputa acirrada pelo poder a qualquer custo. Foram essas 
constatações que proporcionaram um movimento político e intelectual de revisão da esquerda, 
ou seja, de crítica e de análise das bases que formavam a ideologia e a defesa socialista do mundo.
4 Segundo Hobsbawm (1990), é necessário considerar que o chamado “caráter evolucionista” da teoria de Marx 
diz respeito às interpretações que se fizeram das obras desse intelectual. A influência que a teoria de Charles Darwin 
exerceu sobre os estudos realizados nas ciências sociais foi significativo, sendo transferido para outras análises. Muitos 
intérpretes de Marx reduziram a história das sociedades à história da transição de um modelo econômico tradicional para 
o modelo capitalista, considerando-a um estágio superior e desejável do desenvolvimento econômico, fato que causou 
sérios problemas às interpretações de caráter marxista. Outras teorias – como a estrutural-funcionalista – negaram a 
historicidade do desenvolvimento e da queda dos sistemas sociais, criados e destruídos com base nas contradições 
internas entre as classes sociais, e os analisaram como dados, algo construído historicamente e, por que não dizer, 
progressivamente. Essa teoria tomada por si só, sem contextualizar ou elaborar análises críticas sobre ela, provocou 
danos irreversíveis à escrita da história. Não é possível entender Marx sem situá-lo no seu tempo, nos lembra Hobsbawm 
(1990), afirmando que para Marx, um homem do século XIX, a evolução era um dado inquestionável. Pautado nessa 
ideia, que era recorrente no momento da sua escrita, Marx e Engels afirmaram que a sociedade capitalista era uma etapa 
para atingir o socialismo e esse uma etapa para o comunismo, em uma clara escala evolutiva. Os interprétes da obra de 
Marx retiraram o fator contextual de suas ideias e muitos equívocos foram cometidos, como a ideia de que na “hierarquia 
social” algumas sociedades seriam mais adiantadas do que outras, ou a ideia de que para atingir a revolução proletária 
era necessário forçar a revolução burguesa para proletarizar o campo (teoria leninista), entre outros. Deu-se ênfase ao 
caráter consecutivo das etapas necessárias como se o modelo marxista pudesse se encaixar na formação e organização 
de todas as sociedades, não levando em consideração que a análise de Marx é datada e precisa dialogar com o contexto 
no qual ela foi escrita.
Teoria da História92
Na esteira das críticas, a escrita da história se mostrou como uma ferramenta fundamental 
de transformação dos preceitos e conceitossob os quais se assentava a visão marxista de mundo. 
A esse processo deu-se o nome de Nova Esquerda (New Left) e foi protagonizado por um grupo 
de intelectuais britânicos, por meio de uma revista, a New Left review, publicada pela primeira vez 
em 1960.
6.2 Nova Esquerda Inglesa: contexto, conceitos e expoentes
Segundo Hall (2014), importante idealizador do movimento que ficou conhecido como Nova 
Esquerda Inglesa, a busca por uma terceira via para analisar, interpretar e “guiar” o mundo ocidental 
após a Segunda Guerra Mundial, surgiu em um momento de impasse, quando nem a crença nas 
democracias liberais capitalistas e nem a esperança no socialismo real estavam a contento. Dois 
eventos caracterizados pela brutalidade e desumanidade culminaram na indignação final com os 
rumos políticos da sociedade: a invasão da Hungria pelo exército soviético e o ataque ao Canal de 
Suez, realizado por Israel com o apoio das forças da França e da Inglaterra, ambos ocorridos no 
ano de 1956.
Segundo Hall (2014, p. 214):
Os socialistas do período “pós-Hungria”, pareceu-nos, deveriam levar em seus 
corações o sentimento de tragédia que a degeneração da Revolução Russa no 
stalinismo representou para a esquerda no século XX. A “Hungria” pôs fim 
a determinado tipo de inocência socialista. Contudo, por outro lado, “Suez” 
sublinhou a enormidade do equívoco em crer que a redução da Union Jack em 
algumas ex-colônias, necessariamente, tivesse assinalado o “fim do imperialismo”, 
ou que os ganhos reais do Estado de bem-estar social e da ampliação da afluência 
material significaram o fim da desigualdade e da exploração. “Hungria” e “Suez”, 
assim, foram liminares, experiências de marcação de fronteira; simbolizaram a 
dissolução da Idade do Gelo política.
A Nova Esquerda Inglesa era um grupo interdisciplinar, formado basicamente nos espaços 
universitários e por isso ficou rotulada como uma perspectiva academicista de revisão do marxismo. 
Conforme o marxismo se consolidava como uma corrente de pensamento e como uma ação 
política, diversos estudantes e professores universitários se uniram à causa do movimento operário, 
voltando-se para análises que privilegiassem esse viés. Entretanto, as decepções com a experiência 
stalinista, segundo Hall (2014), causaram arrefecimentos. O engessamento das análises propostas 
pelo marxismo ortodoxo e as definições dogmáticas do marxismo vulgar descontentavam os mais 
críticos. De acordo com Hall (2014), a Nova Esquerda surgiu como uma terceira via, uma tentativa 
de humanizar o socialismo e definir um novo lugar entre as duas possibilidades prevalentes. A 
Nova Esquerda representava a possiblidade de uma nova experiência história, de dar novos rumos 
ao futuro e a revisitar novos lugares no passado “em direção a um novo projeto socialista” (HALL, 
2014, p. 215).
Nesse sentido, o que a Nova Esquerda assinalava era uma possibilidade de revisão do 
marxismo e das bases do socialismo. Segundo seus idealizadores, a apropriação que até então se 
tinha feito da obra de Marx e Engels se afastava dos ideais da base, da experiência do trabalhador 
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 93
e das reais condições de uma revolução, o que resultava em conceitos dogmáticos, engessados e 
distantes do universo da luta real. Tornava-se urgente revisar esses conceitos, voltar para as bases, 
resgatar as experiências reais dos trabalhadores e humanizar os propósitos da revolução (HALL, 
2014).
A decepção política de uma grande parte de filiados ao Partido Comunista da Grã-Bretanha 
(PCGB) veio a partir da década de 1950, mais especificamente com as denúncias realizadas por 
Nikita Khrushchev (1894-1971), ex-secretário geral do Partido Comunista da União Soviética, 
sobre os crimes e atrocidades cometidas pelo stalinismo. O discurso de Khrushchev motivou um 
grupo de outros intelectuais ligados ao comunismo a abandonar o partido e a iniciar uma série 
de críticas às ações movidas pelos membros do partido. Os dissidentes fundaram uma revista 
que objetivava tanto atacar as ações do partido (que consideravam prejudiciais) quanto definir as 
pautas para uma revisão da esquerda na Inglaterra. Segundo Dworkin (2014, p. 95-96):
A “Nova Esquerda Britânica” era um grupo heterogêneo de ex-comunistas 
(grupo ligado a The Reasoner), de desafetos dos adeptos do Trabalhismo e de 
estudantes universitários socialistas (grupo Universities and Left Review) que 
ajudaram a renovar a teoria e a prática socialista. Eles se juntaram no contexto 
das crises de Suez e Hungria em 1956 e eles se fortaleceram a partir de um 
compromisso compartilhado com a Campanha pelo Desarmamento Nuclear 
(CND) do final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960. Os militantes da 
Nova Esquerda tentaram criar uma política socialista democrática enraizada 
na tradição inglesa, mas sem ficar emperrada pelas ortodoxias do passado, 
reconhecendo as mudanças econômicas e culturais do pós-guerra. Eles nunca 
conseguiram criar uma organização permanente, mas eles criaram um novo 
espaço político na esquerda, e seu projeto foi importante para o desenvolvimento 
de estudos radicais sobre cultura e historiografia no Reino Unido. Sua revista 
New Left Review (NLR) publicada pela primeira vez em 1960 ainda é produzida 
atualmente e está entre as mais prestigiosas revistas intelectuais de língua Inglesa 
da esquerda.
A linha revisionista – conforme defendiam os adeptos da nova esquerda – referia-se a 
analisar os “múltiplos marxismos” e buscar alternativas voltadas à humanização da prática, ou 
seja, menos teoria e mais experiência humana. Embora pautada em múltiplas divergências sobre 
os rumos que a esquerda deveria tomar, alguns elementos eram comuns ao grupo dissidente. Um 
deles referia-se à necessidade defendida de “uma transformação mais radical e mais estrutural 
da sociedade” (HALL, 2014, p. 225). Além disso, era unânime a perspectiva de que se tornava 
necessário uma “visão mais alargada” sobre o político, que rompesse com a divisão entre o que era 
de âmbito público e o que era privado.
Por fim, uma das maiores mudanças propostas pela Nova Esquerda – intimamente atrelada 
a esses fatores – foi a importância que deveria ser dada ao discurso sobre a cultura. Hall foi um dos 
maiores defensores e criadores do conceito de estudos culturais dentro da Nova Esquerda Inglesa. 
Segundo ele, “o discurso da cultura nos parecia fundamentalmente necessário para qualquer 
linguagem na qual o socialismo pudesse ser reescrito. A New Left, portanto, deu os primeiros 
e vacilantes passos no sentido de colocar questões de análise política cultural no centro de sua 
política” (HALL, 2014, p. 225).
Teoria da História94
Nesse sentido, as delimitações gerais do programa da Nova Esquerda indicavam grandes e 
abertos caminhos a seguir: a transformação mais radical e humanizada da sociedade; a ampliação 
do universo político (que estivesse além da experiência econômica); a valorização de novos 
personagens históricos; o alargamento do conceito de cultura; e a valorização dos estudos culturais 
na estrutura marxista de sociedade.
Os historiadores da Nova Esquerda trilharam o caminho historiográfico em um marxismo 
remodelado com ênfase nas análises psicológicas, literárias e, sobretudo, sociológicas, abordagens 
que assustaram os mais ortodoxos. Por meio da Nova Esquerda, as classes oprimidas – relacionadas 
com a história das sociedades como um todo – tiveram um enfoque inédito e abrangente. São 
exemplos desse novo enfoque as obras de Thompson, Hobsbawm e Hill, que revolucionaram e 
aperfeiçoaram os conceitos de revolução e de classe social, ampliando as próprias perspectivas da 
análise marxista.
6.2.1 As contribuições da Nova Esquerda Inglesa: o conceito de revolução
Segundo a teoria marxista ortodoxa, as grandes mudanças sociais que levariam à ruptura e 
edificação de novos sistemas ocorreriam sob a forma de revoluções. Assim, para romper com um 
sistema agrário tradicional, a burguesia faria sua revolução einstalaria o capitalismo industrial de 
uma vez por todas, tomando o poder por meio dos aparelhos ideológicos e burocráticos do Estado. 
Uma vez dicotomizadas as relações do capital e do trabalho, bem como as contradições entre a 
burguesia e o proletariado – a partir do momento em que esse último deixasse de ser apenas classe 
em si para se tornar também classe para si, consciente de seu papel revolucionário, uma vez que é 
a síntese de todas as contradições –, se faria a revolução proletária e seria instalada a ditadura do 
proletariado. O processo revolucionário continuaria até o fim da sociedade de classes e a instituição 
do comunismo, que almeja uma sociedade sem classes.
Esse esquema geral da revolução foi aperfeiçoado por escritos posteriores de Marx, nos 
quais ele próprio reconhecia a existência de outras classes entre a burguesia e o proletariado e a 
complexidade dos elementos que compunham a revolução. Entretanto, historiadores marxistas 
ortodoxos tendiam a olhar para a história procurando enxergar o operariado como o agente 
revolucionário por excelência e ignorando quaisquer outros tipos de resistência e rebeldia.
Nas décadas de 1950 e 1960 surgiram focos de resistências ao modelo capitalista vigente. Esses 
grupos não eram vistos pelos marxistas ortodoxos como revolucionários, porque se manifestavam 
em países chamados periféricos, economicamente dependentes e industrialmente atrasados. 
São exemplos os movimentos de guerrilha, nos quais camponeses unidos aos trabalhadores das 
fábricas e ao operariado urbano resistiram e enfrentaram o sistema opressor. Esses grupos não 
correspondiam aos ideais de classe revolucionária ideal, tal como concebida pelos marxistas 
ortodoxos, ou seja, o proletariado unido e consciente do seu papel de transformação social.
Um exemplo de situação em que essas ideias se tornaram práticas é a Revolução Cubana, 
ocorrida na década de 1950, na qual os líderes revolucionários de inspiração marxista ortodoxa 
levaram a cabo suas ideias em um conflito intenso com a elite dominante e angariaram o proletariado 
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 95
para a revolução. Dois líderes destacaram-se nesse processo: o argentino Ernesto “Che” Guevara 
(1928-1967) e os irmãos cubanos Fidel Castro (1926-2016) e Raúl Castro (1931-).
Figura 2 – O argentino Ernesto “Che” Guevara e os irmãos Fidel e Raúl Castro, líderes da Revolução 
Cubana, a qual instituiu o comunismo como forma de governo no país. Década de 1950.
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Essa evidência e distanciamento entre a teoria e a prática do marxismo fizeram os estudiosos 
da Nova Esquerda Inglesa repensar a dialética entre revolta e revolução, retornando a determinados 
movimentos do passado, os quais, a princípio, não foram vistos como revolucionários pela esquerda 
ortodoxa.
As novas preocupações consistiam em considerar as revoltas e rebeliões populares, ocorridas 
nas sociedades em vias de industrialização e modernização, como uma forma de protesto consciente 
contra situações novas de exploração e de miséria. De acordo com essa nova perspectiva, os 
protestos eram atos conscientes por parte dos trabalhadores, das suas reais condições sociais, das 
transformações impostas pela classe política ou burguesa e tinham por objetivo evitá-las, atrasá-
-las ou simplesmente fugir delas por meio de crenças messiânicas ou milenaristas, assim como 
literaturas ou líderes religiosos populares. Esses movimentos, segundo o grupo, precisavam ser 
recuperados com um novo olhar, que não era mais o da revolução radical, mas da resistência. 
Hobsbawm (1975), um dos membros da Nova Esquerda Inglesa, chamou esses movimentos de 
“pré-políticos” por preocuparem-se em quebrar a ordem existente sem mudar as estruturas de 
maneira radical. O teor inédito dessa avaliação foi que segmentos sociais considerados até então 
como conservadores – como os camponeses – foram vistos como revolucionários5.
5 Exemplo desse novo olhar foi a obra de Christopher Hill (1983) sobre os camponeses nos anos da revolução 
burguesa. Hill examinou os relatos de camponeses do século XVII e percebeu que eles tinham plena consciência dos 
males que a política dos cercamentos traria para a sua classe social e lutaram contra ela tendo uma participação paralela 
a dos grupos burgueses que lutavam contra o parlamento e o rei. Com relação ao “banditismo social”, Hobsbawm (1975) 
faz comparações entre Robin Hood, da Inglaterra, que roubava dos ricos para dar aos pobres, tendo plena consciência da 
injusta distribuição de rendas e da desigualdade social, lutando, à sua maneira, por seu grupo. Dessa forma, o revisionismo 
marxista proposto pela Nova Esquerda Inglesa olhava para a história por meio de outro viés, que proporcionava ver as 
ações de Lampião, por exemplo, como uma reação à ordem social hegemônica e, por isso, revolucionária e não um ato 
irracional ou sem engajamento político – conforme a visão dos marxistas ortodoxos. Novos termos, como banditismo 
social, movimentos pré-políticos e rebeldes primitivos foram utilizados por Hobsbawm (1975) para tentar compreender a 
racionalidade e especificidade dos movimentos e ações populares pelo viés marxista mesmo quando esses movimentos 
ocorreram fora de sociedades industrializadas e não operadas pelo agente histórico transformador da sociedade – o 
operário. A esse respeito, ver: HOBSBAWM, Eric. Bandidos. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1975; HILL, Christopher. 
A revolução inglesa de 1640. Lisboa: Presença, 1983.
Teoria da História96
Os representantes da Nova Esquerda Inglesa ampliaram o conceito de revolução. Para eles, a 
revolução não emergiria apenas do operariado consciente de seu papel revolucionário – que ergueria 
as armas contra o capitalismo em busca da transformação radical da sociedade –, mas poderia ser 
identificada em ações por meio das quais um grupo, consciente de seu papel de submissão frente a 
outro, criaria estratégias de resistência contra o sistema opressor. Isso demonstrava a existência de 
uma identidade de classe e de identificação cultural comum.
O foco naquilo que Eric Hobsbawm (1975) chamou de rebeldia primitiva consistia em uma 
forma de entender como os excluídos de todos os tempos e de todas as sociedades manifestavam 
seu repúdio à dominação. A mudança da ênfase no operário como o agente revolucionário 
e a ampliação para as diversas resistências proporcionaram trabalhos em que outros sujeitos 
históricos foram contemplados. Segundo esse novo olhar, percebeu-se que nas américas os agentes 
revolucionários contra a ordem estabelecida e o sistema capitalista manifestavam-se em guerrilhas 
camponesas. Na Europa, a missão era assumida por estudantes de classe média que se mostravam 
conscientes do autoritarismo que afetava todos os setores sociais. Essas constatações abriram um 
leque de possibilidades para a pesquisa histórica no campo do social, antes ignorado ou desprezado 
pelos historiadores.
Além do conceito de revolução, outra alteração significativa promovida pela Nova Esquerda 
Inglesa foi em relação ao conceito de classe social. Essa redefinição surgiu na historiografia pela 
primeira vez na obra A formação da classe operária inglesa, escrita por E. P. Thompson, em 1963.
6.3 E. P. Thompson e a ideia de uma “história vista de baixo”
O britânico Edward Palmer Thompson é um dos historiadores mais importantes do século 
XX. Seu prestígio, que vai além dos escritos que influenciaram (e influenciam) historiadores de 
todo o mundo, diz respeito também a sua pessoa e trajetória de vida. O autor representa nas suas 
experiências de vida o percurso da política, da ação social, da militância e da escrita da história do 
seu tempo.
Thompson nasceu em uma família de classe média em Oxford, Inglaterra, em 1924. Seu 
pai era romancista, poeta, historiador e defensor da libertação da Índia das forças imperialistas. 
Segundo DennisDworkin (2014, p. 93), “a casa dos Thompson era um lugar de discussões políticas 
e acadêmicas estimulantes frequentada por “alguns dos mais interessantes homens da geração 
anterior”, incluindo Tagore, Gandhi, Nehru e outros militantes e escritores indianos”6.
Tal fato é importante para entendermos a proposta de história realizada por Thompson e sua 
identidade militante. O contato de Thompson com um grupo de intelectuais que realizava críticas 
ao governo e, principalmente, ao imperialismo, construiu no historiador as primeiras impressões 
políticas, que se fortaleceram ao longo da sua trajetória. Além do contato de E. P. Thompson com 
o grupo de escritores e líderes políticos indianos, outra grande influência no pensamento dele foi a 
6 Para saber mais a respeito, ver: DWORKIN, Dennis. E. P. Thompson: Historiador militante, militante historiador. Trad. 
de Aparecida Darc de Souza e Rinaldo José Varussa. História & perspectivas, Uberlândia, n. especial, p. 91-113, jan./jun. 
2014. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/view/27927/15389. Acesso em: 12 
mar. 2019.
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 97
de seu irmão Frank Thompson que, na tentativa de resistir àquilo que julgava injusto na sociedade 
capitalista e imperialista britânica, filiou-se ao Partido Comunista, em 1936. Thompson seguiu 
os passos do irmão e também entrou para o partido, considerando-o como uma possibilidade de 
resistência aos tempos difíceis que vivenciavam, particularmente em função do crescimento do 
fascismo na Europa.
Enquanto Thompson ainda era estudante de história em Cambridge, ocorreu o desenrolar 
da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), para a qual Thompson alistou-se no exército e serviu 
como comandante de tropa de tanque, na Itália e na França. Segundo Dworkin (2014, p. 94), “as 
impressões mais fortes de Thompson sobre seus anos no exército foram o espírito antifascista dos 
homens, sua adesão aos princípios socialistas e democráticos e ao seu anti-imperialismo resoluto”.
Ainda durante os anos de formação universitária, em Cambridge, Thompson tornou-se mais 
militante, atuando de maneira prática junto aos grupos e movimentos da juventude britânica. Em 
uma dessas atuações, Thompson auxiliou a juventude popular da então Iugoslávia na construção de 
uma ferrovia de cento e cinquenta milhas, ligando Samac, na Eslovênia, a Sarajevo. Posteriormente, 
inspirado pela “Frente Popular Antifascista”, Thompson reatualizava a crença de que era possível 
construir um mundo onde o “eu” e o “meu” fossem substituídos pelo “nosso” (DWORKIN, 2014).
Aos 24 anos, Thompson se tornou professor na Universidade de Leeds. Posteriormente, 
foi para a Universidade de Warwick, ambos importantes espaços acadêmicos do Reino Unido. 
Ele, ainda, lecionou esporadicamente em universidades estadunidenses como Pittsburgh, Rutgers, 
Brown e Dartmouth College. Além do universo acadêmico, Thompson conciliava sua atuação 
militante. Em Leeds, participou de um projeto que pretendia abrir as portas da universidade para 
a comunidade em geral, conhecido como Projeto extramuros ou Educação Extra Muros, que tinha 
como premissa fazer a universidade “se abrir” para além do mundo acadêmico.
Como participante do projeto, Thompson dava aulas de História e de Literatura para 
trabalhadores jovens e adultos. Nessa experiência, o historiador conseguiu ressignificar autores e 
literatos na perspectiva da Nova Esquerda, isto é, resgatou as experiências culturais e o socialismo 
humanizado. Thompson também escreveu a biografia de Willian Morris (1834-1896). Foi na 
busca pelas experiências culturais, vivências, utopias e sonhos do século XIX que Thompson releu 
Willian Blacke (1757-1827), Charles Dickens (1812-1870), Joana Southcott (1750-1814), autores 
citados posteriormente em suas obras e artigos de cunho histórico. A experiência do contato com 
os trabalhadores foi indispensável para a elaboração de suas obras e para a formulação da história 
vista de baixo.
Segundo Bosi, Souza e Morais (2018), os alunos de Thompson na Universidade de Leeds 
eram trabalhadores manuais, bancários, funcionários de escritório, profissionais da seguridade 
social e professores da rede de ensino não universitária7. Dessa experiência resultou sua concepção 
original e, por vezes, divergente, sobre a Nova Esquerda e os rumos da política.
7 Para aprofundar seus conhecimentos sobre a experiência educacional de Thompson, ver: BOSI, Antônio de Pádua; 
SOUZA, Aparecida Darc de; MORAIS, Sérgio Paulo (org.). E. P. Thompson: história, educação e presença. São Paulo: Edições 
Verona, 2018.
Teoria da História98
Em 1963, Thompson lançou a sua obra de maior impacto no campo historiográfico: 
A Formação da Classe Operária Inglesa. Nessa pesquisa, o historiador colocou em prática leituras, 
experiências e interlocuções com os trabalhadores e o revisionismo da esquerda ortodoxa tão 
apregoado pelos defensores da Nova Esquerda. Trata-se, ainda hoje, de uma das obras mais 
importantes da historiografia. Foi nesta obra que Thompson redefiniu o conceito clássico marxista 
de classe social.
6.3.1 O conceito de classe social
Assim como revolução, o conceito de classe social é reconstruído pelos historiadores da Nova 
Esquerda Inglesa. A mudança significativa nesse conceito apareceu de maneira significativa na 
obra A Formação da classe operária inglesa. O próprio título da obra de Thompson em inglês, The 
Making of the English Working Class, já sugere o redimensionamento do conceito, propondo por 
meio da expressão making a ideia do “fazer-se”, ou seja, a classe social não existe aprioristicamente 
e não está dada. Ela se constitui, se faz em um processo e só existe como conceito.
Segundo Thompson (1987), a classe operária se faz juntamente com o processo de formação 
do capitalismo e da classe dominante. A classe acontece quando alguns homens de semelhantes 
ocupações e posições sociais se encontram no mesmo lado, isto é, submetidos a um sistema ou 
controlando o sistema. Para que ocorra a submissão é necessária uma estrutura de opressão. É 
nessa relação de contradição e luta de interesses que a classe social se constitui como identidade e 
constatação de interesses em comum por um grupo específico. Assim, classe é algo que se constitui 
orgânica e historicamente no interior das relações sociais. Para Thompson (1987, p. 11):
Normalmente existe uma tentação generalizada em supor que classe é uma 
coisa definida matematicamente, como uma coisa [...] Se lembrarmos que classe 
é uma relação, e não uma coisa [...] “Ela” não existe, nem para ter um interesse 
ou uma consciência ideal, nem para se estender como um paciente na mesa de 
operações de ajuste.
O mais importante para o autor não era a definição estática, apriorística e enquadrada de 
classe social, mas a identificação do processo que proporciona aos homens uma determinada 
identidade, determinados interesses em comum, uma estrutura cultural compartilhada por 
experiências e vivências semelhantes. Nesse sentido, “a questão é como o indivíduo veio a ocupar 
esse “papel social” e como a organização social específica (com seus direitos de propriedade e 
estrutura de autoridade) aí chegou. Estas são questões históricas” (THOMPSON, 1987, p. 11).
Em A formação da classe operária inglesa, “Thompson demonstrou o processo pelo qual as 
pessoas que trabalham atingiram a autoconsciência e como isso foi expresso, acima de tudo, em 
ação política” (WADE, 2014, p. 158). Essa redefinição foi, segundo Wade (2014), uma inovação e 
uma crítica à concepção das relações de produção encontrada na sociologia burguesa e na ortodoxia 
marxista. A obra rejeitou uma definição estática de classe e defendeu a premissa de que classe é um 
relacionamento e um processo. Para Thompson (1987, p. 13), “uma classe é o que se define como 
tal por sua ação histórica”.
Ainda sobre consciência de classe, Thompson (1987) informa que se a classe é definida pelos 
homens quando vivem sua história,é a maneira como vivem que expressa ao mesmo tempo sua 
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 99
classe e sua consciência de classe. A Nova Esquerda Inglesa se propôs a resgatar o universo cultural 
e pragmático dos grupos populares, isto é, aqueles que não apareciam na história oficial. “Classe 
é uma formação tanto cultural como econômica”, afirmou Thompson (1987, p. 13), ressaltando a 
importância dos estudos culturais para o entendimento desse conceito.
Tanto os movimentos messiânicos feitos por camponeses no Brasil nos primeiros tempos da 
República quanto a maneira que os operários se organizaram na I e II Internacionais Socialistas, 
ou, ainda, o modo que as donas de casa protestaram contra o aumento do trigo na França 
revolucionária de 1789 são sinais evidentes de consciência de classe, ou seja, do pertencimento a 
um dado segmento social, com interesses e identidades em comum.
Segundo Dworkin (2014, p. 99):
Thompson reconheceu que a classe se baseava em relações de exploração na 
produção. Entretanto, sua ênfase recaía sobre a consciência da classe: como estas 
relações eram manuseadas em termos culturais, incorporadas em tradições, 
sistemas de valores, ideias e formas institucionais. Para Thompson, as classes, 
enquanto relação com as outras, mudavam ao longo do tempo e na sua relação 
com outras classes: elas eram o resultado, e não a causa da luta de classes.
Com base nessas conceituações, é possível afirmar que a redefinição de classe social efetivada 
por pesquisadores da Nova Esquerda Inglesa proporcionou mudanças no estudo das ciências 
sociais, particularmente na história. A Nova Esquerda Inglesa tinha, nas camadas populares (e não 
somente no operariado inglês), seu objeto de estudo.
Por esse motivo, o movimento ficou conhecido como aquele que se propunha a realizar uma 
história vista de baixo, isto é, que dá lugar a indivíduos comuns que constroem a história e o seu 
próprio lugar no mundo. A maior dificuldade para os historiadores dessa vertente era encontrar 
fontes para esse tipo de análise. Quase não há fontes que registrem os passos e as intenções e 
modificações feitas pelas classes populares. Essas pistas se encontram em outros documentos: 
registros civis e criminais, relatos paroquiais de casamentos e batizados, fotos, folhetos, alguma 
literatura, vestimentas e relatos orais. É necessário “espremer” os documentos para identificar a 
presença desses grupos nos relatos.
Na introdução de A formação da classe operária inglesa, Thompson (1987, p. 13) define o seu 
objetivo da seguinte maneira:
Estou tentando resgatar o pobre tecelão de malhas, o meeiro luddita, o tecelão do 
“obsoleto” tear manual, o artesão “utópico” e mesmo o iludido seguidor de Joana 
Southcott, dos imensos ares superiores de condescendência da posteridade. 
Seus ofícios e tradições poderiam estar desaparecendo. Sua hostilidade frente ao 
novo industrialismo poderia ser retrógrada. Seus ideais comunitários podiam 
ser fantasiosos. Suas conspirações insurrecionais podiam ser temerárias. Mas 
eles viveram nesses tempos de aguda perturbação social, e nós não. Suas 
aspirações eram válidas nos termos de sua própria experiência; se foram vítimas 
acidentais da história, continuam a ser condenados em vida, vítimas acidentais.
O aspecto inédito e original na citação de Thompson refere-se a sua ironia em relação a 
esses personagens “deslocados”, “obsoletos”, “sonhadores”, que tinham sido vistos pelo marxismo 
ortodoxo como irracionais, alienados ou sem importância revolucionária. O autor afirma que todos 
Teoria da História100
faziam parte do processo revolucionário e congregavam elementos culturais em comum. Negar o 
processo, fugir dele ou buscar esperança em um futuro messiânico também era uma estratégia de 
enfrentamento do capitalismo.
Uma das grandes críticas realizada por Thompson foi direcionada àquilo que ele denominou 
de frieza intelectual e distanciamento das experiências reais. O autor lançou uma série de críticas 
a seus pares acadêmicos e aos defensores do marxismo ortodoxo, chamando atenção para o fato 
de que as “experiências reais” são vividas apenas e tão somente pelos que executam o processo 
histórico: os trabalhadores. Sem abandonar as teorias de Marx e Engels, Thompson iniciou sua 
perspectiva de sociedade e ressaltou a importância da história para a vida presente. Para ele, não 
se tratava de uma crítica a Marx e Engels, mas aos marxistas. Thompson é, segundo Michael Löwy 
(2000, p. 66), “um marxista romântico”.
Considerações finais
A influência das teorias de Marx e Engels para o desenvolvimento das ciências sociais como 
um todo foi significativa. Os desdobramentos da Revolução Russa, as utopias que alimentaram 
o sonho de uma sociedade mais justa e mais igualitária se esfacelaram com o desenvolvimento 
do socialismo real e com a experiência stalinista. O dogmatismo com que os conceitos marxistas 
foram considerados por um grupo demonstrou as limitações do modelo e levou a revisões de 
conceitos e abordagens, bem como à elaboração de novas utopias.
O movimento que ficou conhecido como Nova Esquerda Inglesa revolucionou a 
historiografia. Com base na crítica e no revisionismo ao “marxismo vulgar”, o grupo, formado por 
intelectuais de diversas áreas das ciências humanas, apresentou novas propostas para as análises 
sociais, privilegiando as experiências dos indivíduos na sociedade (seja em um contexto histórico, 
seja nas manifestações culturais).
No campo historiográfico, Thompson e Hobsbawm promoveram uma ampla revisão 
dos conceitos de revolução e classe social, inserindo documentos, abordagens, relatos, fontes e 
novas análises sobre a atuação das classes populares no tempo em que viviam. Diversas ações e 
grupos foram resgatados com o sentido de serem revolucionários, visto que insurgiam contra um 
sistema que julgavam injusto ou no qual se sentiam oprimidos e subordinados. Essas inovações 
proporcionaram o resgate e a inserção de experiências inéditas, como cangaceiros sertanejos, 
camponeses, ludistas, seguidores de crenças milenaristas (como a de Joana Southcott), utópicos, 
românticos, escritores de cartas e de literaturas. A todos, Thompson devolveu o sentido da ação 
transformadora de mundo, atribuiu a eles uma identidade coletiva, moldada por interesses e 
crenças em comum, e identificou a formação de um amplo universo simbólico compartilhado.
Para o autor:
O passado humano não é um agregado de histórias separadas, mas uma soma 
unitária do comportamento humano, cada aspecto do qual se relaciona com 
outros de determinadas maneiras, tal como os atores individuais se relacionavam 
de certas maneiras (pelo mercado, pelas relações de poder e subordinação etc.). 
Na medida em que estas ações e relações deram origem a modificações, que 
se tornam objeto de investigação racional, podemos definir essa soma como 
A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 101
um processo histórico, isto é, práticas e estruturadas de maneiras racionais. 
(THOMPSON, 1981, p. 51, grifos do original)
Para a Nova Esquerda Inglesa, a experiência histórica é coletiva e permeada por diversas 
ações humanas, as quais reúnem-se em torno de interesses comuns e alteram o curso dos fatos. 
O poder de transformação estava justamente nesse substrato comum, que ancorava sonhos, utopias, 
crenças e projeções de futuro. Era na consolidação coletiva desses anseios que a história se fazia. 
Quando o presente entendia o passado como revolucionário, o historiador não alterava os fatos do 
passado, porque eles já estavam dados. Contudo, o historiador altera o presente para mostrar que 
as mudanças são possíveis e que elas vêm da união dos anseios coletivos em busca do bem comum.
Ampliando seus conhecimentos
• O JOVEM Karl Marx. Direção: Raoul Peck. Roteiro: Raoul Peck; Pascal Bonitzer. Califórnia 
Filmes, 2017. 1 filme (118 min.), son., color.
Exibido no Festival de Cinema de Berlim no ano de 2017, o filme O jovem Karl Marx contaa história dos primeiros anos de Marx logo após concluir seus estudos universitários. 
Recém-casado, Marx precisou exilar-se em Paris, França, cidade na qual conheceu seu 
grande amigo Friedrich Engels e tomou contato com as lutas operárias, com a formação 
das comunas e com o socialismo utópico. É um filme interessante para o conhecimento 
do contexto que despertou em Marx os anseios da luta operária. Além disso, a obra 
permite conhecer as contradições que a análise descontextualizada do pensamento 
de Marx provocou em diversos estudos de intelectuais marxistas, bem como retrata o 
encantamento que as utopias do século XIX representaram para os jovens intelectuais 
daquele momento. É um filme que proporciona uma viagem ao contexto das revoluções 
de 1848, o que requer um expectador com olhares críticos e atentos.
• DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São 
Paulo: Brasiliense, 1995.
A obra da historiadora Maria Odila Leite da Silva é um retrato da influência que a Nova 
Esquerda Inglesa exerceu sobre os historiadores brasileiros, particularmente a partir da 
década de 1980 na Universidade de São Paulo. Considerando o conceito ampliado de 
classe social e de revolução, a autora investiga o cotidiano de mulheres pobres da cidade de 
São Paulo – quitandeiras, padeiras, escravizadas e libertas – com o intuito de identificar 
entre elas um substrato comum de luta, identidade e percepção de sua condição social. 
Trata-se de uma ênfase a personagens até então secundários para a historiografia em uma 
análise política, social e cultural. Segundo a autora, uma nova percepção de classe social 
proporcionou o resgate das experiências dessas mulheres por meio de suas vivências, da 
vida pública, do trabalho, do lazer e da família. Além disso, Silva investigou as percepções 
coletivas dessas mulheres, particularmente aquelas construídas em relação ao trabalho, ao 
controle exercido pelas classes dominantes e às possíveis resistências frente às expectativas 
que se constituíam para elas.
Teoria da História102
Atividades
1. Identifique as principais diferenças entre os princípios defendidos pelo marxismo vulgar (ou 
marxismo ortodoxo) e as propostas da Nova Esquerda Inglesa.
2. Qual é o significado e as implicações da abordagem metodológica de “uma história vista de 
baixo”? Justifique.
3. Quais são as inovações propostas por E. P. Thompson na obra A formação da classe operária 
inglesa e como elas repercutiram na historiografia como um todo?
Referências
BOSI, Antônio de Pádua; SOUZA, Aparecida Darc de; MORAIS, Sérgio Paulo (org.). E. P. Thompson: 
história, educação e presença. São Paulo: Edições Verona, 2018.
DE DECCA, Edgar. Rebeldia e revolução na história social. In: BRESCIANE, Maria Stela et al. Jogos da 
Política: imagens, representações e prática. São Paulo: ANPUH; Marco Zero, 1992.
DWORKIN, Dennis. E. P. Thompson: Historiador militante, militante historiador. Trad. de Aparecida Darc 
de Souza e Rinaldo José Varussa. História & perspectivas, Uberlândia, n. especial, p. 91-113, jan./jun. 2014. 
Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/view/27927/15389. Acesso em: 
12 mar. 2019.
HALL, Stuart. Vida e época da primeira New Left. Trad. de Lucas Amaral de Oliveira e Weslei Estradiote 
Rodrigues. Plural, São Paulo, n. 21, v. 2, p. 214-234, jul./dez. 2014. Disponível em: http://www.revistas.usp.
br/plural/article/view/97221/96270. Acesso em: 12 mar. 2019.
HILL, Christopher. A revolução inglesa de 1640. Lisboa: Presença, 1983.
HOBSBAWM, Eric. Bandidos. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1975.
HOBSBAWM, Eric. Mundos do Trabalho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HOBSBAWM, Eric. A outra história: Algumas reflexões. In: KRANTZ, Frederick (org.). A outra história: 
ideologia e protesto popular nos séculos XVII a XIX. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
KOTKIN, Stephen. Stálin: paradoxos do poder, 1878-1928. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.
LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. In: BENSAÏD, Daniel; LÖWY, Michael. Marxismo, modernidade 
e utopia. São Paulo: Xamã, 2000.
THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de 
Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. v. 1.
WADE, Matthews. Escolas de experiência: 1956, a New Left e a formação da classe operária inglesa. Trad. 
de Gabriel Alves Damaceno. História & perspectivas, Uberlândia, n. especial, p. 115-158, jan./jun. 2014. 
Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/view/27928/15390. Acesso em: 
12 mar. 2019.
7
A História Cultural e a 
Nova História Cultural
“A cultura, definida como a capacidade de pensamento simbólico, é parte da 
verdadeira natureza do homem. A cultura não é suplementar ao pensamento 
humano, mas seu ingrediente intrínseco”. (LEVI, 1992, p. 146)
O que você entende por cultura? Você já parou para pensar na amplitude que o termo cultura 
contempla? É possível uma história da cultura? Em que consiste uma historiografia cujo objeto 
principal é a cultura?
Segundo Edward Tylor (1832-1917), “a cultura compreende todo o complexo que inclui o 
conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes, e todos os outros hábitos e capacidades 
adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (TYLOR, 1976 apud LARAIA, 2005, p. 25). 
Com base nessa definição, formulada na segunda metade do século XIX – mais precisamente no 
ano de 1871 –, a cultura passou a significar um amplo repertório de abordagens por vezes genéricas 
e generalizantes, fato que contribuiu para as críticas lançadas a Tylor no século seguinte.
De qualquer modo, o conceito de cultura tornou-se um objeto dos estudos da história. 
Diversos historiadores se preocuparam com as manifestações da vida do homem em sociedade. A 
primeira abordagem historiográfica foi realizada por estudiosos do século XIX, entre eles, o suíço 
Jacob Burckhardt. Com base em estudos pioneiros como o de Burckhardt, a história cultural ganhou 
corpo, densidade e profundidade. Todavia, em diversos momentos ela teve pouca repercussão e 
perdeu terreno para o que a Escola dos Annales chamou de mentalidades. Posteriormente, no final 
da década de 1970, há o resgate do que ficou conhecido como Nova História Cultural.
Demonstrar a trajetória da noção de cultura e o modo como esse conceito se tornou um 
campo próprio da história é o objetivo das nossas investigações neste capítulo.
7.1 A trajetória dos estudos em História Cultural
A história cultural é, segundo José D’Assunção Barros (2003, p 145), “aquele campo do 
saber historiográfico atravessado pela noção de ‘cultura’”. Entretanto, o termo cultura é bastante 
polissêmico, além de ter sido debatido e modificado ao longo do século XIX. Segundo o antropólogo 
Roque Laraia (2005, p. 25), esse termo advém do vocábulo germânico kultur:
No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur 
era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, 
enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações 
materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor 
no vocábulo inglês Culture, que tomando no seu amplo sentido etnográfico 
é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, 
costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem 
como membro de uma sociedade.
Teoria da História104
Segundo Laraia (2005), foi apenas no final do século XIX – com a publicação da obra Cultura 
primitiva (1871), de Edward Tylor – que se forjou a noção mais próxima do que a antropologia 
cultural compreende como cultura. Nesse sentido, partindo do princípio de que a história cultural 
tem como tema principala noção de cultura, é possível afirmar que essa é uma abordagem bastante 
recente para os estudos históricos.
Considerando a dificuldade em conceituar esse termo e, principalmente, a amplitude de 
significados e de abordagens, percebemos que os estudos em história cultural de alguma forma 
acabaram envolvidos em polêmicas, como o questionamento sobre a possibilidade de se estudar 
os aspectos culturais das sociedades humanas ao longo dos tempos e sobre o que seria um melhor 
entendimento desse conceito.
Por um longo tempo e “orientando-se por uma visão muito restrita de cultura” (BARROS, 
2003, p. 145), diversos historiadores do século XIX não consideravam a vida do povo e das camadas 
populares como manifestações culturais e ignoravam objetos materiais como parte da cultura de 
um povo. Para eles, a cultura era somente uma manifestação erudita, que emanava de sábios, 
artistas e elites.
Com um repertório muito reduzido sobre cultura, diversas manifestações humanas da vida 
em sociedade foram negligenciadas pelos estudos historiográficos tradicionais. Até meados do 
século XIX não se considerava a cultura como uma substância na qual todos estão inseridos e com 
a qual compartilhamos e contribuímos.
Como fruto desta compreensão de história e de cultura, tivemos, segundo Barros (2003, 
p. 146), “uma história [cultural] elitizada, tanto nos sujeitos como nos objetos estudados”. Foi 
apenas com a ampliação do significado e da compreensão da noção de cultura, realizada por 
antropólogos e teorias semióticas da cultura em meados do século XX, que essa situação começou 
a se alterar. Pesquisas relativas à literatura, obras de arte e música já ocorriam no século XIX, 
mas os historiadores ignoravam a possibilidade de estudar como manifestações culturais contos 
populares, músicas folclóricas e a linguagem do camponês ou do trabalhador.
Nesse sentido, consideramos a divisão elaborada por Peter Burke (2008) – no que se refere a 
uma possível cronologia – como um guia para entendermos a trajetória dos estudos históricos no 
âmbito da cultura. De acordo com o autor, estes momentos não são estanques, mas se interlaçam: 
“a história [da cultura] pode ser dividida em quatro fases: a fase “clássica”; a da “história social da 
arte”, que começou na década de 1930; a descoberta da história da cultura popular, na década de 
1960; e a “nova história cultural”” (BURKE, 2008, p. 10).
Por período clássico, Burke (2008) refere-se a 1800 até 1850. Segundo o teórico, tratou- 
-se do momento em que a arte, a literatura, a filosofia, os conhecimentos científicos e a música 
foram tomados como fontes para construir “o retrato de uma época” (BURKE, 2008, p. 10). Os 
historiadores daquele período partiam de suas próprias paixões pela arte para escrever livros na 
tentativa de entendê-las melhor, “colocando-as em seu contexto histórico” (BURKE, 2008, p. 11).
Dentre as obras escritas nessa época, se destacam A cultura do Renascimento na Itália (1860), 
escrita por Jacob Burckhardt e O outono da Idade Média (1919), de Joham Huizinga (1872-1945). 
A História Cultural e a Nova História Cultural 105
Pioneiras nos estudos da História Cultural, essas obras manifestam a paixão de seus autores pelos 
trabalhos artísticos de Rafael de Sânzio (1483-1520) e dos irmãos van Eycke, respectivamente. 
Evidentemente, outras obras foram escritas nesse período, contudo, Burke (2008) nos apresenta a 
base de criação dessas pesquisas. Segundo ele, tratava-se de investigar uma obra de arte por meio 
de análises contextualizadas, que apresentavam o universo no qual os artistas estavam inseridos ao 
compor suas obras e quais elementos desse universo eles retratavam.
Burckhardt e Huizinga utilizavam como método a leitura das obras de arte não na sua 
especificidade ou singularidade, mas como meio para expressar o “espírito” de uma época, segundo 
a expressão hegeliana. Desse modo, o trabalho do historiador se diferenciava, por exemplo, de um 
crítico de arte em virtude da abrangência de sua análise e pelas inter-relações que fazia entre uma 
e outra expressão artística.
Em um ensaio publicado em 1929, Huizinga explicou o método utilizado pelos historiadores 
e por ele em particular. Segundo Burke (2008, p. 12):
Huizinga declarava que o principal objetivo do historiador cultural era retratar 
padrões de cultura, em outras palavras, descrever os pensamentos e sentimentos 
característicos de uma época e suas expressões ou incorporações nas obras de 
literatura e arte. O historiador, sugeria ele, descobre esses padrões de cultura 
estudando “temas”, “símbolos”, “sentimentos” e “formas”.
Essa definição retrata o modo como os trabalhos do período clássico eram conduzidos e, 
principalmente, apresenta as principais noções do que o historiador cultural buscava em suas 
análises, diferenciando-as, por exemplo, da história social ou política.
A Figura 1 mostra a pintura Madona do Grão Duque 
(1505-1506), de Rafael Sanzio. Como mencionado, entre 
os historiadores que no século XIX ousaram discutir 
sobre cultura, Jacob Burckhardt, na obra A Cultura do 
Renascimento na Itália: um ensaio (1860), abordou a alta 
cultura renascentista com enfoque na obra de Sanzio.
O historiador cultural era, portanto, aquele que 
perseguia os “padrões de cultura”, estudando temas, 
símbolos, sentimentos e formas. Em Outono da Idade 
Média, Huizinga escreveu sobre o medo da morte entre os 
homens do período medieval.
A abordagem dos sentimentos era inédita no campo 
historiográfico. Essa tarefa, que não era das mais fáceis, 
fez a história cultural receber muitas críticas, nas quais 
se denunciava que não era possível “captar” elementos 
culturais ou sentimentos de modo que pudessem ser 
narrados. Por não importarem tanto para a sociedade de 
modo geral, essas abordagens eram consideradas menos 
úteis.
Figura 1 – A Madona do Grão Duque (1505-1506), 
de Rafael Sanzio.
SANZIO, Rafael. Madona do Grão Duque. 1505-1506. 
1 óleo sobre madeira, 84cm x 55 cm. Galeria Palatina, 
Florença.
Teoria da História106
O segundo momento dos estudos culturais – denominado por Burke (2008, p. 10) de 
“história social da arte” – manifestou algumas das principais contribuições para a história cultural 
das ciências sociais. Trabalhos como os de Max Weber (1864-1920), sobre o espírito do capitalismo 
e a ação desse ethos sobre a formação da sociedade moderna ocidental, ou de Norbert Elias 
(1897-1990), sobre a sociedade de corte europeia, trouxeram a possibilidade de análise dos hábitos, 
costumes, ideias, crenças, artefatos e representações de uma sociedade. Nesse período, situado 
nas primeiras décadas do século XX, os estudos culturais se tornaram populares em diversos 
países, principalmente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Alguns grupos de estudo, círculos 
e institutos de estudos culturais – como o Instituto Warburg, fundado na cidade de Hamburgo, 
Alemanha – representaram a guinada nos estudos culturais.
A partir da década de 1960 surgiram abordagens referentes à cultura das classes populares 
(BURKE, 2008). O protagonismo da classe operária e a abordagem de uma história “vista de baixo” 
realizada por E. P. Thompson (1981; 1987), na Inglaterra, proporcionou que os modos de vidas, 
objetos, ideias, crenças e representações relativas ao povo e aos trabalhadores fossem objeto de estudo 
dos historiadores. A guinada representada pelos estudos de Thompson e da Nova Esquerda Inglesa 
foi significativa, uma vez que constituiu um novo campo de estudos: a história da cultura popular.
Se os contos, cantigas, mitos e o folclore já constituíam um importante campo de estudos 
para antropólogos e etnólogos, até a segunda metade do século XX essas abordagens não faziam 
parte dos trabalhos historiográficos. Hobsbawm e Thompson foram os primeiros historiadores 
a tratarem sobre o lugar ocupado pela cultura na formação e estruturação das bases políticas, 
econômicas e sociais de um povo. A obra História social do Jazz (1959), de Hobsbawm, foi, segundo 
Burke (2008), uma das primeirasa fazer uma abordagem sobre grupos populares criadores de 
arte. Contudo, foi em A formação da classe operária inglesa (1963) que Thompson apresentou 
uma complexa abordagem cultural, dando especial atenção para alegorias, símbolos, práticas e 
rituais que compunham o dia a dia da classe trabalhadora inglesa, atentando para o sentido e o 
significado de cada ação e as implicações que esses atos provocavam no mundo político e social em 
um contexto permeado pela industrialização.
O amplo movimento liderado por Thompson influenciou historiadores em todo o mundo. 
Dentre as repercussões que a abordagem culturalista ou dos estudos culturais provocou no interior 
da história, destacamos o movimento que ficou conhecido como Nova História Cultural. A 
última etapa descrita por Burke (2008) se situa justamente nos estudos que deram origem a esse 
movimento, representado principalmente por historiadores franceses ligados à Escola dos Annales.
Como visto no Capítulo 4, os Annales representaram um dos movimentos mais significativos 
da historiografia. Ele foi inovador em suas abordagens e pesquisas históricas por meio do estudo 
das mentalidades. Sua primeira geração produziu pesquisas inéditas até então, entretanto, segundo 
críticos, a abordagem das mentalidades tomava as ações humanas de maneira homogênea, sem 
considerar variações culturais ou manifestações individuais relativas a produções artísticas, 
crenças, símbolos e rituais. O movimento que pretendeu ampliar e ressignificar a abordagem das 
mentalidades para práticas ou representações dentro da Escola dos Annales ficou conhecido como 
Nova História Cultural. São essas aproximações e especificidades que vamos estudar a seguir.
A História Cultural e a Nova História Cultural 107
7.2 A História Cultural no bojo dos estudos da Escola dos Annales
Como já estudado, o movimento historiográfico que recebeu o nome de Escola dos Annales 
ficou conhecido por se opor a uma narrativa histórica tradicional.
Outra característica importante da Escola dos Annales foi a interdisciplinaridade. A 
interdisciplinaridade proporcionou a aproximação entre história e ciências sociais por meio de 
descrições etnográficas realizadas por estudiosos que investigavam culturas diferentes.
Por meio das inovações trazidas pelos Annales, sentimentos, visões de mundo, práticas e 
hábitos fortalecidos pela tradição se tornaram objetos de estudo dos historiadores. Dois exemplos 
dessas abordagens podem ser comprovados nas obras Os reis taumaturgos (1924) e O problema 
da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais (1942), de Marc Bloch e Lucien Febvre, 
respectivamente.
Nessas duas obras, notamos a tentativa de análise histórica de elementos referentes à cultura do 
povo francês. É possível afirmar que os Annales aprofundaram a abordagem cultural – que já estava 
sendo produzida por Burckhardt e Huizinga e sociólogos como Weber – no campo da história.
No entanto, os fundadores da Escola dos Annales não utilizaram a palavra cultura para definir 
suas abordagens historiográficas. Segundo Burke (2008, p. 8, grifos do original), “a tradição francesa 
é distinta, entre outras coisas, por evitar o termo “cultura” – pelo menos até época bem recente – e por 
dirigir o foco, em vez disso, para civilisation, mentalités collectives e imaginaire social”.
As abordagens alusivas à cultura eram tratadas por mentalidades, termo que se generalizou 
nas abordagens do movimento. Entretanto, segundo Barros (2003), essa noção contemplava sempre 
o agir coletivo, isto é, as crenças coletivas de um determinado grupo. Para Burke (2008, p. 8), a 
contribuição mais notável dos Annales – e nos estudos iniciais de Bloch e Febvre – foi a elaboração 
de uma “história das mentalidades, sensibilidades ou “representações coletivas””.
Contudo, a abordagem desses aspectos não se restringiu à primeira geração dos Annales; 
ela se intensificou, ampliando e especializando-se, nas gerações seguintes. Com Fernand Braudel, 
maior expoente da segunda geração, aspectos da cultura material foram privilegiados (civilisation 
matérielle); na terceira geração foram privilegiadas análises relativas à “imaginação social” (BURKE, 
2008, p. 8).
Foi somente com a terceira geração que os estudos relacionados à antropologia, à etnografia 
e à análise do termo cultura foram sistematizados efetivamente. Segundo Barros (2010, p. 20), a 
partir de 1968 aconteceu uma grande reviravolta nas abordagens historiográficas dos Annales:
Enquanto isto, outros avaliam o ano de 1968 como ponto de partida de novos 
tempos, ele mesmo produtor de rupturas importantes. De todo modo, a data se 
tornou emblemática. Evidencia-se também uma mudança na historiografia – o 
que, aliás, é a questão principal a ser aqui considerada – e isto não apenas no 
que se refere à Escola dos Annales ou mesmo à historiografia francesa. Os novos 
tempos começavam a trazer um novo padrão historiográfico, novas aberturas, 
retornos e possibilidades, e também incertezas para os historiadores no que se 
refere à natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento 
histórico na sociedade. Entre os “retornos historiográficos”, há a retomada da 
narrativa, do político, da biografia, aspectos que haviam sido de alguma maneira 
Teoria da História108
reprimidos ou secundarizados pelo padrão historiográfico anterior, e que agora 
reemergiam com inesperado vigor. Entre as novidades, postula-se a possibilidade 
de examinar a história de acordo com uma nova escala de observação – atenta 
para o detalhe, para as microrrealidades, para aquilo que habitualmente escapa 
ao olhar panorâmico da macro-história tradicional – e é a esta nova postura 
que se passou a chamar de Micro-História. Intensifica-se também o olhar do 
historiador sobre o seu próprio discurso, e o fazer historiográfico, mais do que 
nunca, será ele mesmo um objeto privilegiado de estudo. De igual maneira, o 
principal das preocupações historiográficas parece se deslocar para o âmbito da 
cultura, de modo que a História Cultural passa a ocupar uma posição central no 
grande cenário das modalidades historiográficas.
Fruto dos novos tempos, a terceira geração tomou elementos culturais como a base de suas 
pesquisas. Entretanto, sua grande inovação foi situar a cultura dentro de um aparato maior – que 
inclui economia, sociedade e política – e atrelá-la a uma série de condicionantes.
A análise das práticas e crenças individuais tornou possível o resgate das biografias de um 
modo inovador. A defesa de que o indivíduo não existe só, de que ele representa uma coletividade e 
que por meio dele emergem forças sociais, ideias, representações e imaginários de âmbito coletivo 
foi uma das abordagens que deu origem à micro-história.
Influenciado pela Escola dos Annales, o historiador italiano Carlo Ginzburg (1939-) é 
autor de uma das obras que se tornou ícone da micro-história e do resgate da biografia, O queijo 
e os vermes (1976). Nela, o historiador investiga a trajetória de Menocchio, um moleiro medieval 
condenado pela inquisição. O estudo permitiu ampliar a noção que se tinha dos elementos culturais 
do medievo: Mennochio, um homem de ofício simples, tinha acesso a livros condenados pela Igreja 
e, com base em leituras muito próprias e singulares, desenvolveu um amplo substrato de ideias e 
percepções sobre o contexto que vivia.
Na mesma esteira, o historiador francês Georges Duby (1919-1996) publicou uma biografia 
de Joana D’Arc (1412-1431) e a historiadora estadunidense Natalie Davis (1928-) escreveu a obra 
O retorno de Martin Guerre (1984). No campo da micro-história, o francês Emmanuel Le Roy 
Ladurie (1929-) publicou Montaillou: Cataros e Católicos numa aldeia Occitânica (1975). Essas 
obras – produzidas entre a década de 1970 e início da década de 1980 – mostram a intensidade, 
quantidade e qualidade das pesquisas no âmbito cultural.
Foi também na terceira geração dos Annales que surgiu um dos aspectos mais importantes 
dos estudos culturais: a noção de práticas e representações.Para Barros (2003, p. 161), “de alguma 
maneira, a noção de ‘representação’ pretende corrigir aspectos lacunares que aparecem em noções 
mais ambíguas, como por exemplo, a de ‘mentalidades’”.
Do ponto de vista da Nova História Cultural – desenvolvida pela terceira geração –, as 
representações correspondiam aos modos de pensar e sentir da coletividade, porém não apenas 
isso. O entendimento sobre como esses elementos agem no indivíduo era tão importante quanto 
a percepção do coletivo. A construção de uma catedral, a elaboração de uma obra literária, a 
criação de um poema, entre outros, são ações repletas de representações coletivas, contudo, há 
também uma contribuição singular, própria da maneira como cada indivíduo recebe e interpreta 
as percepções do coletivo.
A História Cultural e a Nova História Cultural 109
Segundo Jacques Le Goff (1994, p. 11), as representações referem-se a “todas e quaisquer 
traduções mentais de uma realidade exterior percebida”. Trata-se de uma capacidade própria 
do indivíduo de abstrair a realidade por meio de ideias, imaginários e percepções. A percepção 
abstrata de um universo de símbolos e ideias compartilhadas pelo coletivo, dotada de sentido e 
alusiva a um conjunto de práticas, singularizou a prática da Nova História Cultural, representada 
por estudiosos como Roger Chartier (1945-), Lynn Hunt (1945) e Jacques Revel (1942-).
7.3 A Nova História Cultural: 
Roger Chartier, Lynn Hunt e Jacques Revel
Como visto, a Nova História Cultural foi o fortalecimento, revigoramento e ampliação de 
uma abordagem dos estudos dos elementos culturais, praticados desde o final do século XIX. Porém, 
foi apenas nas últimas décadas do século XX que essa vertente se tornou mais precisa e evidente.
Segundo Chartier (2005, p. 13), a terceira geração dos Annales alterou a base do movimento 
com o objetivo de garantir uma “resposta à insatisfação sentida face à história cultural francesa 
dos anos 60 e 70, entendida na sua dupla vertente de história das mentalidades e de história serial, 
quantitativa”.
Movida pela ânsia por mudanças e de respostas à história que se praticou durante a primeira 
e segunda geração dos Annales, a Nova História Cultural possibilitou a ampliação e expansão dos 
objetos historiográficos em uma escala nunca antes vista na historiografia. Este feito se refere à 
inserção de novos objetos de estudo, como elementos da cultura letrada e popular, representações 
e práticas discursivas, ações intelectuais, instituições sociais, entre outros.
Além de se beneficiar das contribuições da Escola dos Annales, a Nova História Cultural 
usufruiu do aporte de correntes historiográficas que se desenvolveram ao longo do século XX, 
como a Escola de Frankfurt e a Nova Esquerda Inglesa. Esse fato proporcionou um olhar mais 
abrangente sobre a construção das realidades históricas. Segundo Barros (2003, p. 148, grifo 
no original):
A nova História Cultural interessar-se-á pelos sujeitos produtores e receptores 
de cultura — o que abarca tanto a função social dos ‘intelectuais’ de todos 
os tipos, até o público receptor, o leitor comum, ou as massas capturadas 
modernamente pela chamada ‘indústria cultural’ (esta que, aliás, também pode 
ser relacionada como uma agência produtora e difusora de cultura). Agências 
de produção e difusão cultural também se encontram no âmbito institucional: 
os sistemas educativos, a imprensa, os meios de comunicação, as organizações 
socioculturais e religiosas.
Além da preocupação de entender quem são os sujeitos produtores e receptores, a Nova 
História Cultural preocupa-se com os meios pelos quais essa cultura é produzida e difundida. 
Não basta, portanto, identificar os sujeitos, é necessário investigar as condições de produção e sua 
transmissão. Nesse processo estão implicados tanto os que produzem cultura quanto os que são 
marginalizados no percurso. Nele, também é possível observar práticas consideradas aceitáveis e 
outras compreendidas como inaceitáveis. Em linhas gerais, são estabelecidos critérios legítimos de 
construção de imagens mentais sobre determinadas práticas enquanto que outras são excluídas.
Teoria da História110
Neste jogo cultural entre produtores e o produto, encontra-se a “matéria-prima” do processo, 
isto é, o conteúdo que compõe a cultura. Segundo Barros (2003, p. 148), esse conteúdo tem como 
elementos as “‘visões de mundo’, os sistemas de valores, os sistemas normativos que constrangem os 
indivíduos, os ‘modos de vida’ relacionados aos vários grupos sociais, as concepções relativas a estes 
vários grupos sociais, as ideias disseminadas através de correntes e movimentos de diversos tipos”.
Os historiadores franceses Jacques Revel e Roger Chartier são dois nomes significativos 
das novas abordagens dentro da história cultural. A partir da década de 1980, Revel e Chartier, 
juntamente com André Burguière (1938-) e Bernard Lepetit (1948-1996), propuseram mudanças 
teóricas e epistemológicas tão significativas e críticas que alguns autores os consideram a quarta 
geração dos Annales (SILVA, 20013).
Segundo Silva (2013), Revel é um dos representantes mais atuantes do debate historiográfico 
e epistemológico na França. Sua contribuição refere-se à especificação e incentivo da “nova história”, 
debatendo abertamente as crises e oscilações das pesquisas históricas a partir da década de 1980. 
Para a autora, Revel foi um precursor da antropologia histórica e um defensor da relação entre 
história e ciências sociais.
Dentre as atuações de Revel, Silva (2013) destaca os estudos dos aspectos afetivos, do 
universo mental, do psiquismo coletivo e dos sistemas de civilização. Revel mistura antropologia 
e filosofia e estuda temáticas como o medo da morte, a sexualidade, a família e os modos de vida.
Em 1978, Revel publicou juntamente com Chartier e Le Goff a obra A Nova História. Nela, 
os autores inauguram a renovação na Escola dos Annales e defendem a incorporação de novos 
paradigmas dentro do movimento, ressaltando “a necessidade de se levar em conta não mais as 
estruturas, a longa duração e os grupos sociais, mas as ‘escalas de análises’, os ‘atores individuais’ e 
a ‘escrita da história’” (SILVA, 2013, p. 26).
Revel detém-se em uma análise mais particular, isto é, direcionada para a micro-história. 
Com essa perspectiva, seria possível investigar as vidas dos indivíduos e por meio delas analisar 
toda uma época, da mesma maneira que seria possível examinar aspectos culturais, crenças, visões 
de mundo de um indivíduo para entender as apropriações culturais e resistências que se dão em 
escala individual, proporcionando um entendimento mais abrangente sobre a cultura.
As inovações propostas por Revel se tornaram paradigmas historiográficos com Chartier. 
A trajetória de Chartier, no âmbito da intelectualidade francesa, incluiu a aproximação com o 
sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002), cujos debates uniram história cultural e história política. 
Outra parceria foi com o historiador Michel de Certeau (1925-1986), considerado um dos maiores 
propagadores de uma história antropológica, campo de estudo que objetiva decifrar normas 
culturais por meio de ações e práticas imersas na rotina e na vida cotidiana (BARROS, 2005).
Para Chartier (1990, p. 16-17), a história cultural “tem por principal objeto identificar o 
modo como em diferentes lugares momentos uma determinada realidade social é construída, 
pensada, dada a ler”. A realidade é compreendida sempre em uma relação dialógica entre todos os 
sujeitos sociais com a matéria-prima cultural. Por meio dessa perspectiva, Chartier (1990) rompeu 
com a possível linha que separava cultura popular de cultura de elite.
A História Cultural e a Nova História Cultural 111
O historiador pensou a cultura como prática, isto é, as ações realizadas por todos os homens 
mediante determinadas condicionantes sociais. Dentre suas principais teorias, encontramos a 
abordagem das práticas de leitura. Nesta pesquisa, Chartier (1990) demonstrou, por exemplo, 
que todosos indivíduos participam do processo de construção de um livro. A elaboração de 
uma obra envolve debates, ações e trabalhos em que toda uma coletividade participa de algum 
modo no resultado final. O historiador se preocupou em evidenciar “que indivíduos não letrados 
também participam da cultura letrada através de práticas culturais diversas (leitura coletiva, 
literatura de cordel), ou como, ao contrário, dá-se a difusão de conteúdos veiculados através da 
oralidade” (BARROS, 2005, p. 130-131). Ele também elaborou e aplicou os conceitos de práticas e 
representações e, com isso, estabeleceu um novo marco teórico para as abordagens sobre a cultura.
Segundo Chartier (1990), a cultura está sempre relacionada de um lado com as imagens que 
temos de determinados objetos, visões, imaginários culturais e, de outro, com as implicações que 
aquele universo mental tem com as práticas propriamente ditas. Nesse sentido, do mesmo modo 
que as práticas geram imagens e noções, essas imagens e noções geram práticas, em uma relação 
recíproca e infindável. Em outras palavras, o universo cultural é composto de representações que 
geram ações.
Representações são o ato de “ver uma coisa ausente” ou “exibição de uma presença”, noção que, 
segundo Chartier (1990, p. 20), é mais complexa que a ideia de mentalidade. Assim, caberia à história 
cultural compreender as práticas que constroem o mundo como representação. De acordo com 
Barros (2003, p. 157), “tanto os objetos culturais seriam produzidos ‘entre práticas e representações’, 
como os sujeitos produtores e receptores de cultura circulariam entre estes dois polos, que de certo 
modo corresponderiam respectivamente aos ‘modos de fazer’ e aos ‘modos de ver’”.
As práticas culturais não se restringem a uma produção oficial (por exemplo, leis) ou ao 
conhecimento produzido e difundido nas escolas. Elas se referem a uma gama de ações reais e a 
práticas corriqueiras, como comer, beber, conversar, amar ou odiar. As representações que temos, 
por exemplo, sobre como se comportar na mesa, acarretam em práticas sobre como e o que comer e 
influenciam a escolha de determinados alimentos e a construção de utensílios para certas ocasiões.
Nesse sentido, as práticas e representações são complementares e se retroalimentam “em um 
emaranhado de atitudes e gestos no qual não é possível distinguir onde estão os começos (se em 
determinadas práticas, se em determinadas representações)” (BARROS, 2005, p. 133).
A abordagem que privilegiou as representações proporcionou uma variedade de análises para 
as abordagens históricas. Na esteira desses estudos foram feitas pesquisas sobre a representação que 
os escritores viajantes tinham da natureza, sobre animais domésticos em determinadas sociedades, 
sobre o trabalho, sobre o feminino, sobre as mulheres (como deusas, prostitutas, mães ou feiticeiras) 
e representações sobre o outro (dos judeus pelos gentios, dos negros pelos brancos, dos indígenas 
pelos colonizadores etc.) (BURKE, 2005).
Para Chartier (1990, p. 17), as representações fazem parte de “um campo de concorrências 
e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação”. Isto é, as 
representações entram em conflitos entre si para anunciar o mundo. Nesse sentido, as representações 
Teoria da História112
são construídas no conflito social por meio de apropriações de determinados grupos de poder ou 
instituições sociais. Por outro lado, os sujeitos históricos sempre constroem resistências a esses 
poderes e formulam novas representações sobre o complexo cultural no qual estão inseridos.
O conceito de cultura está atravessado por noções, percepções e apropriações de poder. 
Assim, a ideia de apropriação é imprescindível para entendermos as práticas e representações que 
formam e dão sentido à vida social.
Para Chartier (1990, p. 25), há vinculação intrínseca entre as “modalidades do agir e do 
pensar”. Esses atos são regulados por “laços de interdependência” e pelas “estruturas de poder”. 
Isso significa que a interpretação que temos sobre o mundo é sempre mediada e determinada 
por um variado conjunto de aspectos sociais, culturais e institucionais. A isso o autor chamou de 
apropriação.
Quando lemos um texto, por exemplo, sua compreensão depende de fatores como o 
domínio que temos da língua escrita e do vocabulário utilizado pelo autor, o tempo que dispomos 
para a leitura, conhecimentos prévios, formato da obra e o poder inventivo que o texto manifesta. 
Esses elementos – que condicionam a compreensão final da obra – são as apropriações que foram 
realizadas sobre o texto. Eles são imprescindíveis para a noção que criaremos sobre a obra e 
influenciam o modo como faremos a difusão do conteúdo compreendido. Cabe ao historiador 
identificar esses condicionantes (editora, autor, redação do manuscrito, designer gráfico, etc.) 
(CHARTIER, 1990).
Além de Chartier, outra historiadora de destaque nesta nova fase foi Lynn Hunt, cuja 
preocupação principal foi a relação entre cultura e política (BURKE, 2005). Dentre as produções 
de Hunt, destaca-se a obra Política, cultura e classe na Revolução Francesa (1984), cujo objetivo 
principal foi identificar as mudanças das “regras do comportamento político” surgidas nesse 
período. Segundo Hunt (1984), a revolução proporcionou o aparecimento de novas práticas 
simbólicas relativas ao universo político francês. Símbolos, rituais e coreografias tradicionais 
foram alterados.
A historiadora identificou que havia diferenças de participação de homens e mulheres nessa 
nova cultura política. Além disso, segundo Burke (2005, p. 91), Hunt constatou que havia uma 
lógica nas coreografias das festas públicas – como na utilização do “uso do cocar tricolor ou do 
barrete vermelho da liberdade” – e na mudança da linguagem, usando o “familiar tu ou citoyen(ne) 
para simbolizar igualdade e fraternidade” entre os indivíduos.
O estudo de Hunt (1984) foi feito com base na interconexão entre os elementos políticos e 
ressignificações culturais. A autora mostrou que um universo está intimamente relacionado a outro 
e a cultura age no terreno sólido proporcionado por fatores como economia, política e revolução.
Na obra A invenção dos direitos humanos (2007), Hunt investigou o longo processo de 
mudanças no imaginário francês que culminou na Declaração universal dos direitos do homem e do 
cidadão (1789).
Segundo a historiadora, a construção da ideia de direitos universais ocorreu em uma ampla 
rede que combinou leituras de romance, escritas de cartas e difusão dos jornais. A subjetividade, 
A História Cultural e a Nova História Cultural 113
que garantiu a construção de uma ideia de indivíduo, perpassou todo o século XVIII e não era 
autoevidente. Dessa forma, essas ideias foram fruto de um longo processo de mudanças no 
imaginário sobre os indivíduos e suas presenças no mundo.
Na década de 1990, Hunt escreveu A Nova História Cultural (1995), uma das obras mais 
importantes do movimento. Nela, a autora apresenta os domínios da Nova História Cultural, suas 
possibilidades de abordagem e de diálogo para a construção de uma área mais abrangente e crítica. 
Por meio de textos escritos por diversos pesquisadores, Hunt desafiou os paradigmas da história 
tradicional ao propor pesquisas que elucidem o modo que os homens, ao longo dos tempos, 
pensaram, agiram, sentiram, escreveram e sonharam em sociedade.
A obra apresentou a linguagem, o poder e os rituais como objetos de estudo. O objetivo 
da autora foi demonstrar os avanços da área e o quanto o universo do historiador foi ampliado 
ao abranger campos como linguística e antropologia (HUNT,1995). Os desafios das pesquisas no 
âmbito da história cultural são evidenciados, mas também evidenciam o quanto esse é um terreno 
rico e complexo para a pesquisa histórica.
Considerações finais
A história cultural compreende um dos campos mais férteis da pesquisa histórica. 
A amplitude desta área favorece a realização de pesquisas inéditas, que lançam luz sobre aspectos 
davida coletiva e singularidades dos sujeitos, instituições, escolas tradicionais, mídia e produção 
de saberes.
Em uma sociedade na qual a produção dos saberes está cada vez mais capilarizada, a 
visibilidade de uma porção de indivíduos está em evidência, sobretudo em razão de suas produções 
artísticas e intelectuais.
Entender a cultura por meio das práticas, representações e apropriações que a sua 
produção, divulgação e universo de sentidos envolve é uma das estratégias para desvendarmos 
e decodificarmos elementos presentes em nossa sociedade, como a política, a ciência, as lendas 
e as práticas religiosas. Em virtude dessas questões, é possível afirmar que os estudos da história 
cultural nunca foram tão contemporâneos quanto hoje.
Ampliando seus conhecimentos
• FERREIRA, Marieta de Moraes. Entrevista com Jacques Revel. Estudos Históricos, Rio de 
Janeiro, v. 10, n. 19, p. 121-140, 1997. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/
index.php/reh/article/view/2037/1176. Acesso em: 22 mar. 2019.
Esta entrevista – realizada por Marieta de Moraes Ferreira, no ano de 1997, na cidade 
de Paris, França – é uma conversa bastante informal com um dos historiadores mais 
importantes do campo historiográfico francês. Além de conhecermos um pouco mais 
sobre sua trajetória dentro dos estudos históricos, Revel revela momentos importantes 
e elucidativos da virada crítica da revista Annales: história e ciências sociais, efetivada na 
Teoria da História114
década de 1980. O historiador descreve suas pesquisas e narra sua atuação no periódico 
juntamente com outros nomes de destaque, ressaltando os fatores determinantes para a 
ressignificação da história cultural.
• HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
Esta é uma das obras mais importantes da Nova História Cultural. Para a sua elaboração, 
Hunt reuniu um grupo amplo e heterogêneo de pesquisadores, temas e abordagens, os 
quais possibilitam perceber a história cultural como ação prática. Em A Nova História 
Cultural vemos a complexidade da recuperação da dinâmica das ações humanas do 
passado e o quanto a história precisa estar atenta a outras disciplinas para ampliar as 
interpretações próprias do campo. A obra se divide em duas partes: na primeira, são 
discutidos os modelos de história cultural; na segunda, destacam-se novas abordagens. 
Os artigos incluem estudos sobre Michel Foucault, Hayden White e análise de obras de 
arte renascentistas.
Atividades
1. Leia o excerto a seguir, de Peter Burke, presente em sua obra O que é História Cultural?:
O que é história cultural? A pergunta foi feita publicamente há mais de um 
século, em 1897, por um historiador alemão pioneiro e de certo modo também 
um dissidente, Karl Lamprecht. Para o bem ou para o mal, a questão ainda 
espera uma resposta definitiva. Nos últimos tempos, foram apresentadas aos 
leitores histórias culturais da longevidade, do pênis, do arame farpado e da 
masturbação. As fronteiras do tema certamente se ampliaram, mas está ficando 
cada vez mais difícil dizer exatamente o que elas encerram. (BURKE, 2005, p. 8)
Segundo Burke, por que está cada vez mais difícil definir história cultural? Justifique.
2. Quais são as contribuições que a Escola dos Annales agregou à história cultural?
3. Defina práticas e representações de acordo com a perspectiva de Roger Chartier e identifique 
as suas relações.
Referências
BARROS, José D’Assunção. História Cultural: um panorama historiográfico. Textos de História, Brasília, DF, 
v. 11, n.1-2, p. 145-172, 2003.
BARROS, José D’Assunção. A História Cultural e a contribuição de Roger Chartier. Diálogos, Maringá, 
v. 9, n. 1, p. 125-141, 2005. Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/
view/41422/21738. Acesso em: 22 mar. 2019.
BARROS, José D’Assunção. A Escola dos Annales: considerações sobre a história do movimento. História 
em reflexão, Dourados, v. 4, n. 8, p. 1-29, jul./dez. 2010. Disponível em: http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/
historiaemreflexao/article/viewFile/953/588. Acesso em: 22 mar. 2019.
A História Cultural e a Nova História Cultural 115
BURKE, Peter. O que é História Cultural? Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
DUBY, Georges. Problemas e métodos em História Cultural. In: DUBY, Georges. Idade Média, idade dos 
homens: do amor e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
LE GOFF, Jacques. O imaginário medieval. Lisboa: Estampa, 1994.
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São 
Paulo: Ed. Unesp, 1992.
SILVA, Helenice Rodrigues da. Jacques Revel. Cultura Histórica & Patrimônio, Alfenas, v. 2, n. 1, p. 22-34, 
2013. Disponível em: https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/cultura_historica_patrimonio/
article/view/02_art_v2n1_hrsilva/104. Acesso em: 22 mar. 2019.
THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de 
Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. v. 1.
TYLOR, Edward. Cultura primitiva: los orígenes de la cultura. Madri: Editorial Ayuso, 1976.
8
História e poder: 
abordagens contemporâneas
Você já parou para pensar no poder que tem as palavras? Você já foi influenciado pela leitura 
de uma obra? Você já mudou suas ideias e ações após o contato com uma literatura ou após ouvir 
o depoimento de um especialista? Sobre essas questões, Isaiah Berlin (1958 apud LOPES, 2002, 
p. 45, grifos do original) nos lembra que:
Há mais de cem anos, o poeta alemão Heine advertiu os franceses para não 
subestimarem o poder das ideias: os conceitos filosóficos, alimentados pela 
tranquilidade de um gabinete de professor, poderiam destruir uma civilização. 
Ele falou da obra Crítica da Razão Pura, de Kant, como sendo a espada que 
decapitou o deísmo europeu, e descreveu as obras de Rousseau como sendo 
a arma manchada de sangue que, nas mãos de Robespierre, destruiu o Ancien 
Régime; e profetizou que a fé romântica de Fichte e de Schelling algum dia se 
voltaria, com terrível efeito, pela mão dos seus seguidores alemães, contra a 
cultura liberal do Ocidente. Os fatos não desmentiram totalmente esta predição; 
mas se os professores puderem realmente manejar este poder fatal, não poderá 
acontecer que outros professores, e apenas eles, possam desarmá-los?
As obras de um autor podem levar às ações, conforme descreveu Berlin (1958 apud LOPES, 
2002)? Que poder têm os intelectuais? O que move nossas ações políticas? Uma obra escrita há 
mais de três séculos pode ser considerada atual para o nosso tempo? Um autor do passado pode 
“dar lições” para o momento presente?
Essas foram as mesmas indagações que a crítica historiográfica renovada – sobretudo a Escola 
dos Annales – lançou para a análise historiográfica das ideias políticas e das obras consideradas 
clássicas do pensamento político e para a atuação dos intelectuais na sociedade.
Nesse sentido, pretendemos identificar algumas das respostas lançadas a esses 
questionamentos, com o intuito de preservar e reavivar a história das ideias políticas do ostracismo. 
Para dar conta desses desafios, a história das ideias políticas e a história intelectual precisaram se 
reinventar, buscando em outras disciplinas novas ferramentas de análises.
Dentre essas contribuições, apresentamos neste capítulo duas, que se processaram nas 
abordagens relativas à história das ideias políticas e da história intelectual. São as contribuições 
dos historiadores Quentin Skinner (1940-) e Reinhart Koselleck (1923-2006). Ambos trouxeram 
para as análises historiográficas do pensamento político contribuições da filosofia da linguagem e 
da linguística,inferindo que um texto histórico só pode ser analisado por meio das contribuições 
e ferramentas produzidas por essas outras disciplinas.
Desse modo, este capítulo tem por objetivo identificar os principais caminhos propostos 
pelos teóricos Skinner e Koselleck, uma vez que esses dois autores representam abordagens atuais, 
muitas vezes polêmicas, no que se refere à historiografia das ideias políticas e dos intelectuais.
Teoria da História118
8.1 A história e o pensamento político
Os diversos movimentos historiográficos ocorridos a partir das primeiras décadas do 
século XX, como a Escola dos Annales (França), a Escola de Frankfurt (Alemanha) e a Nova 
Esquerda Inglesa (Inglaterra), tiveram como características comuns a condenação da história 
factual, do evento histórico, dos “grandes homens” e de uma história institucionalizada, formal, 
que emanava das estruturas políticas vigentes e daqueles que detinham o poder.
Na esteira da crítica contundente à história dos poderosos, acrescentou-se na historiografia 
novas fontes e abordagens, cujo foco era a realização de uma nova história que privilegiasse a 
inserção de novos personagens, sobretudo das camadas populares, e perspectivas das pessoas 
simples.
Como já mencionado, houve uma condenação àquilo que se definia como história 
política, normalmente caracterizada pela narrativa dos feitos daqueles que exerciam a política 
como atividade profissional por meio de instituições oficiais do governo, e da utilização de 
fontes/documentos originários de despachos parlamentares produzidos por uma elite e poderosos 
da sociedade1.
Segundo Edgar de Decca (2002, p. 10), é necessário atentar para o fato de que “do ponto 
de vista da nova historiografia, a quebra do paradigma se dava quando se abandonava a história 
política em nome das mentalidades, da história cultural, das resistências”. A história política, 
do ponto de vista dos movimentos revisionistas, foi vista como um retrocesso, uma abordagem 
ultrapassada e um problema a ser superado nas abordagens e estudos históricos.
A escrita da nova história se afastava, portanto, daquilo que era considerado campo político, 
porque se acreditava que as ideias vigentes em uma sociedade eram necessariamente ideias da 
classe dominante e ressoavam as ideias oficiais. Em substituição à história das ideias, se valorizou 
“a história cultural e das mentalidades que, segundo a nova compreensão, tinha como foco as 
dimensões coletivas e inconscientes das manifestações do pensamento, do que as individualidades” 
(DE DECCA, 2002, p. 11).
1 É interessante esclarecermos o conceito de política. De maneira geral, falamos sobre política o tempo todo. Lemos, 
ouvimos e nos referimos à política em diversas situações. Falamos sobre uma política dos meios de comunicação, do 
mercado, das escolas/educacional etc. Em outros momentos, comentamos sobre a política como profissão, aqueles que 
elegemos para o governo e o comando da sociedade, para executar e formular leis. Esse conceito é utilizado, portanto, 
para definir tanto o comportamento de determinados grupos quanto para ressaltar habilidades profissionais (senadores, 
governadores, deputados etc.) ou capacidades de diálogos e realização de negócios (diplomatas, empresários, clientes 
etc.).Todas estas definições, utilizadas amplamente pelo senso comum, são coerentes, entretanto, nos importa a 
definição filosófica da política, a qual se refere a uma expressão da vida em sociedade, isto é, da vida coletiva. Só existe 
política onde há mais de duas pessoas e onde há a necessidade do debate, do diálogo, do convencimento, da busca pela 
melhor maneira de viver e conviver coletivamente. Quando as primeiras definições de política surgiram na Grécia, por 
volta do século V a. c., tinha-se por objetivo modificar o modo como os conflitos eram resolvidos: da briga, guerra e da 
luta corporal para o debate, argumentação e convencimento por meio da palavra, do discurso e da retórica. Nesse sentido, 
adotamos a definição elaborada pela filósofa Hannah Arendt (1906-1975), para quem a política seria a atividade humana 
fundamental que diferencia os homens dos outros animais. O ato de falar, argumentar e convencer é o fundamento da 
política, e tem como origem a pluralidade de perspectivas que levará à construção de um consenso comum, coletivo e 
público, cuja finalidade é o bem do coletivo. A política se definiria, portanto, como uma atividade fundamental para a 
vida em sociedade, baseada no estabelecimento de regras, comportamentos e tomadas de decisões que permitem aos 
homens a vida em conjunto. Para saber mais a respeito, ver: ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2004.
História e poder: abordagens contemporâneas 119
Foi a partir da década de 1970 e, sobretudo, nos anos de 1980, que se redefiniram os estudos 
renovados no campo da história política. O primeiro passo para essa mudança ocorreu na tentativa 
de alterar o campo do “político”, na sua acepção mais dura, para a história das ideias políticas, 
em uma perspectiva mais relativa. Segundo Marcos Antônio Lopes (2002, p. 15), isso foi possível 
em virtude de uma “importante injeção de consciência histórica nos estudos sobre o pensamento 
político”.
Segundo José D’Assunção Barros (2008, p. 2), o ressurgimento da história política refere-se a 
um “desenvolvimento lógico e estrutural da Historiografia e de sua inserção no contexto da história 
recente [...] do que de uma simples moda historiográfica que retorna para compensar seus anos de 
relativo eclipse”. Nesse sentido, é relevante a ponderação feita por Rafael Clemente (2011, p. 46):
Se a história política foi alvo de críticas, que a bem da verdade auxiliaram 
em sua renovação, ela soube também se apropriar de muitas características 
de outros campos do saber, a exemplo de seus contatos com a economia, a 
psicologia e o que hoje chamamos de ciência política. Uma história que se 
tornou relevante para as ciências humanas não deve ser alvo só de revisões e de 
um alto grau de criticidade, mas deve reconhecer também o que os historiadores 
do político fizeram para que seus objetos fossem vistos pela sociedade como 
uma ferramenta utilizável na constante construção do homem político, enfim, 
do homem em sociedade.
A perspectiva de que a história política precisava de uma renovação e não de uma extinção, 
foi retomada a partir da década de 1970 e particularmente nos anos de 1980. Dentre os teóricos 
mais importantes para essa redefinição, está o historiador francês Jean-François Sirinelli (1949-), o 
qual alegou que “a história das ideias políticas é inseparável da história de uma sociedade e de uma 
cultura” (SIRINELLI, 1996, p. 264). A abrangência que se desejava dar à história política voltava-se 
para a valorização de que as ideias políticas se constituem na inter-relação entre contexto e cultura 
e, o mais importante, tratava-se da defesa de um campo que investigasse as ideias que circulam em 
uma sociedade, proveniente de determinadas instâncias, por meio das quais seja possível identificar 
ressonâncias e exercícios de interferência social.
Não bastava, portanto, analisar um indivíduo ou uma ação isolada. As ideias dialogavam com 
o amplo universo cultural e social no qual surgiam e era necessário voltar-se a esses elementos para 
o entendimento do significado das ideias. Ignorar o poder, suas estruturas e discursos políticos, as 
ideias das elites, as estratégias dos governos e a literatura que circulava e influenciava os círculos 
sociais era negligenciar um aspecto fundamental da vida em sociedade.
As novas sugestões indicavam para estratégias que valorizassem o resgate das ideias e do 
pensamento político, mas que não se baseassem na narrativa linear e na supervalorização do 
sujeito político ou da hegemonia da visão elitista de mundo. Tornava-se necessário encontrar 
caminhos para que o pensamento e as ideias de cunho político fossem resgatadas sem romper com 
o paradigma da criticidade e da análise contextualizadae estrutural da sociedade.
Foi na tentativa de retomar os estudos históricos no campo das ideias políticas, das 
estratégias de poder e das ações das elites que Sirinelli (1996) definiu o campo da história política. 
Segundo Lopes (2002, p. 15), Sirinelli identificou a história das ideias políticas como “uma região 
Teoria da História120
de fronteiras entre a história dos intelectuais, a história da cultura política e, em sentido mais 
amplo, a história das ideias”. Essa definição, acolhida amplamente pelos historiadores, esclareceu 
a possiblidade de novas abordagens no campo dos estudos políticos, apresentou a amplitude do 
campo e, principalmente, alertou para a ausência de limites definidos.
Fazer a história política era pensar as ideias que circulavam na sociedade, entender a atuação 
dos intelectuais com base em suas posições, definições e estudos e era, ainda, analisar a estrutura de 
poder que sustentava, definia e organizava o universo teórico da vida pública.
Segundo Lopes (2002), Sirinelli chama a atenção dos historiadores para o fato de que 
a história política ou história das ideias políticas recebeu amplas críticas das novas correntes 
historiográficas, isso porque essa fronteira esteve por muitos anos “encoberta por uma cortina de 
fumaça” (LOPES, 2002, p. 16). Em função dessa ausência de esclarecimento, ocorreram equívocos, 
visto que a história dos intelectuais, das ideias políticas e da cultura política eram tratadas como 
três domínios totalmente estranhos e distintos entre si.
A principal proposta de renovação do campo da história política foi realizada, portanto, 
no sentido de ampliar as fronteiras de estudo e relacionar os diversos domínios do político em 
uma abordagem que contemplasse pelo menos três campos do saber político: produção intelectual, 
ideias políticas e estruturas de poder.
Sirinelli (1996 apud LOPES, 2002, p. 19) ainda formulou uma crítica à história política 
vigente até então, alegando que o ataque realizado pela nova história é legitimo, visto que a história 
das ideias políticas abrigara-se por muito tempo no estudo “dos grandes compositores” em vez de 
se dedicar à orquestra ou à recepção do público.
Essa crítica anuncia os novos propósitos da história das ideias políticas: o de analisar e 
dar especial atenção às composições, cujo trabalho requer uma ampla rede de “colaboradores” 
e personagens, bem como a percepção e importância da reação do público, ou seja, a maneira 
como as ideias políticas são recebidas, interpretadas e utilizadas pelo público contemporâneo a 
essas mesmas ideias. A definição de Sirinelli (1996 apud LOPES, 2002) apresenta a reviravolta das 
abordagens, do método e das fontes nos estudos do campo político.
Lopes (2002) chama a atenção para o fato de que a história das ideias políticas é uma 
disciplina acadêmica desde o século XIX e não uma novidade que surgiu nas últimas décadas. O 
que dificultou a notoriedade desse campo de pesquisa foi que, ao longo da sua formação, careceu 
de corpo próprio, sendo muitas vezes um acessório da filosofia política. Até a década de 1930 
houve certo impulso no campo, com a apreciação de obras literárias de caráter político para além 
da literatura de modo geral.
A história das ideias políticas ganha corpo e destaque a partir do momento em que ocorreu 
a valorização de textos e obras consideradas como contribuições para o pensamento político. 
Trata-se, portanto, de um campo que nasce atrelado ao campo da história intelectual, visto que 
a preocupação dos primeiros historiadores políticos era com um saber específico, proveniente de 
pensadores que se dedicaram às análises do mundo político.
História e poder: abordagens contemporâneas 121
Para que a história das ideias políticas se efetivasse como um campo do saber histórico, era 
necessário considerar que obras literárias, ensaios e pareceres de intelectuais retratavam uma ação 
que estava além da própria obra e impactava no mundo público. Contudo, essa percepção não foi 
reconhecida desse modo por um longo tempo. Ao analisar, por exemplo, as obras de Rousseau, 
Montesquieu, Hobbes e Maquiavel, é possível notar que as observações daqueles que analisavam 
essas obras se centravam no estilo da escrita, nas descrições dos personagens, na relevância do 
contexto, mas muito raramente nos impactos da circulação das ideias desses autores ou alterações 
na percepção do universo social. A literatura não era vista como uma fonte histórica para ideias 
políticas e os autores, em sua maioria, eram estudados unicamente pela filosofia.
O grande movimento que se produziu na historiografia foi caracterizado, então, pela 
introdução de uma nova abordagem para as ideias e estratégias políticas pelo viés da análise 
histórica, fato que o diferenciou da filosofia e da teoria política. Essa pretensão era desafiadora, 
visto que almejava romper com o amálgama que caracterizava a história política e singularizar 
a abordagem, a ponto de diferenciá-la de outros campos do saber. Segundo Ricardo Silva (2017, 
p. 137), o debate que se efetivou preconizava “uma crescente demanda por um estilo de teorização 
mais atento à historicidade tanto do fenômeno político quanto da própria reflexão teórica sobre a 
vida política”.
Talvez um dos aspectos mais difíceis dessa tarefa tenha sido o esforço em tentar distinguir 
as ideias do pensamento político daquilo que a Escola dos Annales definia como história das 
mentalidades. Essa definição é fundamental para caracterizar o novo campo historiográfico, as 
metodologias adotadas e a escolha das fontes. Nesse sentido, Lopes (2002, p. 24) as diferenciou com 
base nos seguintes elementos:
A história das mentalidades procura abordar os sentimentos difusos das 
coletividades, enquanto a história do pensamento político se interessa pelas 
expressões do pensamento formal, organizado ou sistematizado de maneira 
coerente por cabeças bem pensantes, ou seja, por mentes privilegiadas, 
principalmente se atentamos para épocas anteriores ao século XIX, e para o 
caráter restrito da cultura letrada.
A pretensão da história do pensamento ou das ideias políticas mostrava sua singularidade: 
uma análise com base em determinadas fontes do pensamento, particularmente aquelas que se 
reconhecem como definidoras desse tipo de abordagem, como documentos que registraram 
(e registram) um pensamento político formal organizado exatamente para definir política, vida, 
estratégias e análises políticas. Em última instância, referia-se ao pensamento de um grupo 
específico: o dos intelectuais.
A história do pensamento objetivava selecionar “pensamentos clássicos” dentro da esfera 
do mundo público. Nesse sentido, uma das fontes privilegiadas é a literatura intelectual de aspecto 
político, isto é, obras clássicas do pensamento político. A história política se relaciona, portanto, 
de maneira íntima com a história intelectual. Para tanto, recorre-se à produção intelectual de uma 
determinada época, inferindo sobre aquilo que se considera uma obra clássica.
Desse ponto de vista, a história das ideias políticas está diretamente relacionada com uma 
esfera de poder, visto que a produção e circulação de ideias alteram o mundo público.
Teoria da História122
8.2 Os intelectuais e o poder
A história intelectual, outra vertente dos estudos historiográficos, ganhou destaque nos 
estudos teóricos e históricos na França a partir da Nova História Cultural, isto é, a terceira geração 
dos Annales.
Como já visto, a Escola dos Annales produziu uma verdadeira revolução na maneira como 
se escrevia a história. As críticas lançadas por seus integrantes referiam-se ao que era considerado 
retrógrado, atrasado e obsoleto na escrita da história, sobretudo a história narrativa que glorificava 
e privilegiava grandes fatos e grandes homens.
A primeira geração dos Annales foi bastante combativa nesse sentido e desconsiderou 
qualquer abordagem individualista ou personalista em função do coletivo, privilegiando as 
mentalidades em detrimento das ideologias.As novas abordagens colocavam na berlinda a história 
política e a história intelectual, esta tradicionalmente realizada por meio de biografias nas quais o 
intelectual era visto como um indivíduo grandiloquente, de destaque em sua sociedade e portador 
da razão e da verdade, cujas ideias indicariam o governo dos homens.
A função dos intelectuais no mundo público e a influência das suas ideias em torno de 
uma causa refletia-se nas ciências humanas desde um longo tempo. O conceito de intelectual e as 
indagações sobre a sua relevância social emergiram como uma problemática a partir do chamado 
Caso Dreyfus2.
A Figura 1, a seguir, refere-se à ilustração da capa do Petit Journal, publicado em 13 de 
janeiro de 1895 em Paris, acompanhada da legenda “O Traidor”. O oficial do exército francês 
Alfred Dreyfus foi condenado por traição em virtude de denúncias infundadas motivadas por 
perseguições antissemitas (ele era judeu). Intelectuais se mobilizaram para provar a inocência de 
Dreyfus e denunciar a injustiça de que fora alvo.
2 O evento político que ficou conhecido como Caso Dreyfus ocorreu na França no ano de 1894. Trata-se da condenação 
por alta traição inferida ao oficial de artilharia do exército francês Alfred Dreyfus (1859-1935). Ao que consta, o acusado 
sofreu um processo fraudulento e baseado em documentos falsos, provavelmente em função de sua origem judaica. Por 
meio desses documentos, Dreyfus foi condenado à prisão perpetua na Ilha do Diabo, na costa da Guiana Francesa. Apesar 
de muitas das provas terem sido consideradas insuficientes e comprovadamente falsificadas, o processo prosseguiu. 
Após três anos da condenação, houve uma revisão do processo justamente em função da suspeita de falsificações. Um 
grupo de jornalistas, escritores e artistas se mobilizou na defesa de Dreyfus, alegando que o caso deveria ser analisado 
com justiça, mobilizando questões como antissemitismo, nacionalismo e a legitimidade do Estado e das forças amadas 
francesas. A atitude do grupo ficou conhecida como “atuação intelectual”, isto é, uma atuação crítica e consciente em 
defesa da justiça, da verdade, da idoneidade e contra as arbitrariedades do Estado. O momento trouxe para a história 
francesa um novo processo de atuação política, proveniente de um grupo de intelectuais. Por esse nome passou-se a 
compreender um grupo cuja tarefa seria a de esclarecer a população, apresentar fatos e histórias de maneira neutra e 
que, guiado pela razão, pela teoria e pelo conhecimento, teria por função publicizar opiniões e posicionamentos, no intuito 
de guiar ou de instruir a população. A esse respeito, ver: BEGLEY, Louis. O Caso Dreyfus: Ilha do Diabo, Guantánamo e o 
pesadelo da história. São Paulo: Companhia das Letras, 2010; e RODRIGUES, Helenice. O intelectual no campo cultural 
francês: do Caso Dreyfus aos tempos atuais. Varia história, Belo Horizonte, v. 21, n. 34, p. 395-413, jul. 2005. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/vh/v21n34/a08.pdf. Acesso em: 14 mar. 2018.
História e poder: abordagens contemporâneas 123
Figura 1 – A degradação de Dreyfus, ilustração de Henri Meyer e capa do Petit Journal, Paris, 13 de janeiro 
de 1895.
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A atuação do grupo acarretou em um novo evento na sociedade francesa da época: 
a constatação de que a opinião proferida por determinados indivíduos da sociedade mobilizava 
e influenciava a opinião de outros segmentos sociais. De acordo com Helenice Rodrigues (2005, 
p. 395),
em uso até o final da década de 1970, [a acepção] intelectual define-se menos 
em função de uma profissão, de um produtor do saber e da cultura, possuindo 
uma certa notoriedade em sua área de conhecimento do que em função de seu 
engajamento, ou seja, de sua atuação política no espaço público.
Segundo a autora, o aparecimento dessa função pública, protagonizada por um grupo 
específico que se engajava em torno de um propósito e influenciava o andamento dos fatos, foi 
constatado e registrado pela primeira vez na França, se corporificando de diferentes maneiras em 
outros países. Após o caso Dreyfus, uma série de outras ações semelhantes surgiram em diferentes 
lugares do mundo, demonstrando que a ação intelectual estava investida de poder. Para Rodrigues 
(2005, p. 397):
Tendo se investido de uma missão: esclarecer o sentido da História, o intelectual 
engajado, do pós-guerra, se posiciona em momentos cruciais (guerras, 
descolonização, crises sociais e políticas). Em nome de uma “consciência crítica” 
seu discurso visa a uma necessária “moralização do mundo”.
Teoria da História124
A constatação da ação dos intelectuais despertou novos olhares sobre os materiais por 
eles produzidos. Artigos de jornais, revistas, obras de arte, poesias, literatura e escritos políticos 
passaram a ser identificados por intermédio da perspectiva da atuação política engajada, isto é, 
por meio da premissa de que os registros realizados pelos intelectuais causavam interferências, 
mudanças e direcionamentos na vida prática, em decisões políticas, atuações governamentais, 
influências de voto, escolhas culturais etc.
Entretanto, mesmo com essa constatação, a investigação sobre a atuação dos intelectuais 
na sociedade e suas inferências políticas não despertava interesse dos historiadores durante 
a prevalência da Escola dos Annales, da história crítica de Frankfurt ou, ainda, entre os 
revisionistas da Nova Esquerda Inglesa. Mesmo sendo realizada de maneira esporádica, ao 
abordar uma produção intelectual ou as ideias de determinado indivíduo histórico, não era o 
viés da história intelectual que prevalecia, mas a abordagem de uma história das mentalidades 
ou da própria história cultural.
Alguns elementos dificultavam o reavivamento da história intelectual e o combate às críticas 
lançadas pelos Annales: em primeiro lugar, o termo intelectuais referia-se sempre a algo muito 
vago, difícil de conceituar e de delimitar e, principalmente, ser identificado com as mudanças 
sociais propriamente ditas; em segundo lugar, a intelectualidade era normalmente associada a 
um grupo privilegiado, que recebeu instrução formal em épocas onde o estudo era sinônimo de 
classes favorecidas socialmente. Para os Annales e para a Nova Esquerda Inglesa, o propósito maior 
das investigações históricas deveria se centrar na história das camadas populares, daqueles que 
haviam sido esquecidos pela historiografia oficial. Por fim, em termos quantitativos, os intelectuais 
representariam um número reduzido de indivíduos, os quais – quando se tornam possíveis de 
serem identificados – não apresentam coesão. Esses, dentre outros, são os principais fatores que 
explicam o porquê do não interesse dos estudos históricos considerados críticos (RODRIGUES, 
2005).
Durante o auge da Escola dos Annales na França ou das novas abordagens realizadas na 
Alemanha e na Inglaterra, tanto a história intelectual quanto a história política sofreram um longo 
período de ostracismo. Foi a partir da década de 1970 que se tornou possível voltar a pensar em uma 
história intelectual e política. Entretanto, a reabilitação desses campos requeria novas abordagens, 
olhares e métodos de análise.
A partir dessa década, diversos teóricos apontaram para a importância do resgate crítico 
da atuação dos intelectuais na sociedade, bem como da identificação das ideias políticas de 
uma determinada época. Nesse sentido, Antoine Rioux (1998) apresentou um dos primeiros 
elementos teóricos para o reavivamento da história intelectual ao afirmar que só é possível fazê-la 
no intercruzamento entre o político e o cultural. Essa perspectiva amplia a abordagem em 
torno da intelectualidade, demonstrando a amplitude das atuações intelectuais, visto que não é 
possível analisar os trabalhos e escritos sem situá-los no contexto histórico, social e cultural no 
qual foram produzidos e sem considerar a atuação política, pública e efetiva que as ideias dos seus 
autores representaram.
História e poder: abordagens contemporâneas125
Após novas definições sobre a importância do papel do intelectual na sociedade, surgiram 
diversas pesquisas que buscavam mapear tanto o conceito de intelectual quanto a importância e 
relevância de sua atuação para o mundo público. Esses estudos buscavam delimitar o lugar social 
do intelectual, o lugar que eles atribuíam a si mesmos, as representações e análises do fenômeno 
político, as articulações entre a esfera política e a esfera pública. Estes são alguns exemplos das 
novas abordagens conferidas à história intelectual a partir da década de 1970 e nas décadas de 1980 
e 19903.
Outro aspecto que merece consideração sobre os intelectuais é a sua relação com o poder. 
Embora pareça óbvio que, ao interferir nas instâncias deliberativas da sociedade, influenciar o 
rumo das decisões políticas e formar imagens, ideias e representações da realidade, a atuação do 
intelectual já é claramente uma intervenção de poder, essa relação passou por inúmeros debates.
Norberto Bobbio (2002) foi um dos autores que se encarregou de mapear essa relação, 
fazendo um retrospecto da atuação intelectual em diversas sociedades. Dentre os elementos mais 
conflitantes da relação entre o intelectual e o poder está o tênue limite entre poder e política. 
Normalmente, a relação de poder presente na ação do intelectual reflete no mundo público, 
tornando-se uma ação política. Por outro lado, nenhuma ação política é neutra, elas são carregadas 
de significados.
Ao elencar os principais pensadores que trataram essa relação, Bobbio (2002) listou 
quatro pensadores entre a década de 1920 e a década de 1950. A primeira análise refere-se às 
considerações de Julien Benda (1867-1956), que, na obra A traição dos clérigos (1927), definiu a 
função do intelectual: “os intelectuais têm a missão de defender e promover os valores supremos da 
civilização, que são desinteressados e racionais; na medida em que subordinam a sua atividade aos 
interesses contingentes, às paixões irracionais da política traem sua missão” (BENDA, 1927 apud 
BOBBIO, 2002, p. 32).
Segundo a perspectiva de Benda (1927 apud BOBBIO, 2002), qualquer engajamento 
político corromperia a atuação do intelectual, a qual deveria ser neutra, racional e desinteressada. 
Essa abordagem ficou famosa sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, quando se pretendia 
estabelecer limites sobre a natureza do engajamento político e social do homem de cultura 
(BOBBIO, 2002).
Na Alemanha, o parecer mais contundente sobre a relação entre o intelectual e a cultura foi 
realizado por Karl Mannheim (1893-1947). Parafraseando Mannheim, Bobbio (2002) esclarece 
que a atuação do intelectual é definitiva para a formulação de imagens e representações do mundo 
e da sociedade. A função do intelectual seria a de fazer a síntese dentre uma imensa quantidade 
de coexistência de ideias, ideologias e visões de mundo que formam a sociedade, mas são sempre 
parciais, representativas de um ponto de vista específico e carregado de interesses:
3 São referências importantes sobre as novas abordagens conferidas à história intelectual: PÉCAUT, Daniel. Os 
intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação. São Paulo: Ática, 1990; MICELI, Sérgio. Intelectuais à brasileira. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2007. No campo teórico: SILVA, Helenice Rodrigues da. Fragmentos de história intelectual: 
entre questionamentos e perspectivas. São Paulo: Papirus, 2002.
Teoria da História126
Segundo Mannheim, essa síntese só pode ser obra de uma categoria que, 
diferentemente de todos os demais agrupamentos que produzem ideologias 
sociais, não tem uma composição de classe e está desancorada da sociedade, 
desvinculada de interesses e funções específicas. Esta categoria, não classe, é a 
dos intelectuais. (BOBBIO, 2002, p. 32)
Semelhante a esse pensamento, o espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) via na figura do 
intelectual a função de direcionar as massas. O intelectual seria o farol que guiaria as populações 
desprovidas de discernimentos para viver/atuar no mundo público e deveria assumir a função de 
educar politicamente as massas (BOBBIO, 2002).
Por fim, Bobbio (2002) buscou na obra do italiano Benedetto Croce (1866-1952) sua última 
reflexão sobre o tema. Para Croce (1932 apud BOBBIO, 2002), a função da intelectualidade 
era a defesa da cultura e dos bens culturais contra o esfacelamento e pisoteamento promovido 
por políticos –que não compreendiam a importância dos valores culturais. Assim, caberia aos 
intelectuais “a função política de afirmar o valor da liberdade” (BOBBIO, 1997, p. 33). Neste 
aspecto, a função do intelectual se separava do papel do político, porque o intelectual tinha noção 
e discernimento sobre a importância da cultura para a manutenção de uma sociedade.
De maneiras diferentes, as abordagens realizadas pelos teóricos que pretendiam mapear tanto 
o conceito de intelectual quanto as consequências da relação entre a intelectualidade e o mundo 
público na primeira metade do século XX, apontavam para um intelectual descorporificado, que 
atuava nas “alturas” do pensamento e imune às conjunturas políticas e sociais de seu contexto.
Segundo essa perspectiva, o intelectual deveria ficar separado da sociedade, quase que em 
uma redoma de vidro, se possível em um topo mais alto que os outros homens, para observar tudo, 
fazer anotações e definir o que era melhor para a vida coletiva. Caberia aos intelectuais, e só a eles, 
as definições de conceitos caros à sociedade, como liberdade, democracia, igualdade, justiça etc.
Era justamente contra essa ideia de intelectualidade que a historiografia renovada – Escola 
dos Annales, Escola de Frankfurt e Nova Esquerda Inglesa – lançava suas críticas. Se parecia óbvio 
que havia uma atuação por meio dos intelectuais, se os textos provenientes desse grupo circulavam 
na sociedade e influenciavam as ideias, a abordagem sobre eles, entretanto, era quase impossível, 
pois eles não participavam do mundo dos “mortais”, eles faziam parte do seleto grupo de “grandes 
homens”.
A história das ideias políticas ou da nova história política precisou revisar esses aspectos e 
apresentar abordagens que tornassem possíveis análises no campo intelectual e político sem cair nos 
amálgamas por meio dos quais estavam sendo condenados. É justamente sobre essas abordagens 
que vamos estudar no próximo item.
8.3 História intelectual e história do pensamento político: 
novas abordagens
De acordo com Bentivoglio (2010, p. 114), “pode-se dizer que atualmente as pesquisas 
relacionadas à História das Ideias se dividem, sobretudo, em duas abordagens fundamentais: a 
collingwoodiana da Escola de Cambrigde e a koselleckiana da Escola de Bielefeld”.
História e poder: abordagens contemporâneas 127
Segundo Silva (2009, p. 302):
A chamada Escola de Cambridge de história do pensamento político, com 
Quentin Skinner e John Pocock à frente, passou a propugnar o estudo das ideias 
políticas mediante a aplicação de uma rigorosa metodologia contextualista 
baseada no pressuposto da irredutibilidade do contexto linguístico ao contexto 
social. Na Alemanha, assistia-se ao aperfeiçoamento da tradição da história dos 
conceitos (Begriffsgeschichte), consubstanciada no imenso esforço de Reinhart 
Koselleck e seus colaboradores.
Esses dois movimentos são os mais representativos no que se refere a “estimularem uma 
inflexão historicista na Teoria Política” (SILVA, 2009, p. 302). A característica comum a esses dois 
movimentos, além da renovação das abordagens da história intelectual e da história política, é 
que ambos desenvolveram suas teorias da história sob a influência do movimento intelectual da 
chamada virada linguística nas ciências humanas. Ainda, os dois movimentos rejeitam a perspectiva 
de que o universo da linguagem seja um mero reflexo da realidade material, além de destacarem 
os efeitos do tempo sobre a constituição e transformação dos conceitos políticos. Por meio dessas 
renovações, passou-se a compreender a “ teoria política como uma arena dedisputas em torno do 
significado, das crenças, conceitos e ações linguísticas” (SILVA, 2009, p. 302).
A abordagem collingwoodiana tem como representantes Quentin Skinner (1940-) e John 
Pocock (1924-). Segundo esses teóricos, política e intelectualidade são instâncias inter-relacionadas 
e precisam ser analisadas na mesma perspectiva. O intelectual é o autor das ideias e por isso precisa 
ser analisado juntamente com a sua obra. Em outras palavras, um documento que influenciou 
(e ainda influencia) as ações e definições de uma sociedade foi escrito por um indivíduo em 
particular, para um contexto particular e com propósitos particulares.
Assim, são chamadas de obras clássicas aquelas que influenciaram as ideias políticas em uma 
determinada época ou que ressoam ao longo dos tempos. A proposta da leitura dos clássicos do 
pensamento político se afastava do campo da teoria política e da filosofia, adentrando na abordagem 
historiográfica do contextualismo linguístico. Segundo essa corrente, para se fazer a leitura dos 
clássicos era necessário lançar-se em uma “hermenêutica de tipo romântica, que persegue em 
terreno movediço a suposta intenção do autor subjacente à confecção das obras” (LOPES, 2002 
apud DE DECCA, 2002, p. 24).
Nesse sentido, segundo a abordagem contextualista, era necessário partir do texto clássico, 
mas ir além dele, encontrando no contexto histórico as motivações, intenções e pretensões do autor. 
Para Skinner e Pocock, o texto é, antes de tudo, um ato de fala que dialoga com seus contemporâneos 
e está carregado de intenções que só poderiam ser decifradas além dele, mergulhando no contexto 
no qual a obra e o pensamento foram produzidos.
Segundo De Decca, esse enfoque tinha como grande mérito o fato de “evitar uma história 
das ideias sem sujeitos, anacrônica e completamente descarnada” (DE DECCA, 2002 apud LOPES, 
2002, p. 24). O texto deixa de ser um documento estático e passa a representar um ato de fala. 
O autor está dialogando com seus contemporâneos, concordando com alguns, discordando de 
outros, por vezes sendo irônico e, principalmente, revelando conflitos subjacentes à realidade 
que vive.
Teoria da História128
Desse modo, não basta a análise do texto e de aspectos biográficos do autor, é necessário 
identificar os atos de fala. Em outras palavras, cabe ao historiador a reconstituição de uma “sala de 
visitas”, na qual deve-se organizar os personagens para se perceber por meio deles com quem o texto 
dialoga, as intenções dos discursos, os objetivos explícitos do texto (semânticos), bem como os que 
assumem funções implícitas (força locucionária) que se deixam entender de outras maneiras.
O modelo teórico proposto por Skinner (2010) orienta que o historiador deve questionar as 
motivações do autor em formular seus argumentos e identificar a natureza das disputas nas quais 
ele toma parte ao escrever uma obra. A teoria política não é um mero “sistema geral de ideias, mas 
uma intervenção polêmica nos conflitos ideológicos do seu tempo” (SKINNER, 2010, p. 14).
Com isso, Skinner (2010) pretendia retirar os textos e os autores “das alturas do pensamento” 
e situá-los no contexto político no qual estavam inseridos, identificando seus aliados/inimigos e 
indicando seu posicionamento. Da mesma maneira, o intelectual não é alguém à parte, mas um 
elemento ativo, de carne e osso, com falhas e qualidades. Suas ideias são construídas no embate 
cotidiano, com intenções e interesses. Às chamadas obras clássicas, consideradas atemporais e 
universais, o autor alerta para o erro do anacronismo.
Skinner (1988 apud LOPES, 2002, p. 42) alerta para o fato que embora um autor tenha tido 
“a ambição de falar ‘trans-historicamente’, seu trabalho foi endereçado a um público limitado e 
precisamente identificável”, isto é, o público para quem a obra se dirigiu no contexto em que foi 
escrita. Segundo o autor, esse aspecto muitas vezes é mais importante que o próprio texto, pois as 
intenções o tornam portador de significados que estão além da linguagem escrita.
Skinner procurou romper com os limites entre análise textual e análise linguística. Segundo 
João Feres Júnior (2005, p. 67), a proposta mais ousada e perigosa de Skinner foi justamente a 
indistinção entre a comunicação oral e textual, ou melhor, “com a premissa de que uma teoria 
desenhada para a análise dos atos de fala pode ser simplesmente aplicada, sem maiores adaptações, 
à interpretação de textos”.
Segundo o contextualismo linguístico, a proposta para a análise histórica do pensamento 
político infere que além de um texto estar carregado de intenções que precisam ser identificadas por 
meio dos atos de fala, também é possível ao historiador analisá-lo por meio de uma reconstituição 
de uma conversa, na qual estão presentes o autor do texto, sua audiência e seus interlocutores.
Para Feres Júnior (2005, p. 657), o conhecimento da intenção do autor ao proferir um ato 
de fala é um exercício não apenas de identificar o enunciado propriamente dito, mas identificar a 
força que move o significado do enunciado4.
4 A realização deste exercício consiste, segundo Feres Junior (2005), em transpor a linguagem escrita para uma 
linguagem oral. “O que está sendo dito por Skinner é que o entendimento do conteúdo comunicativo do enunciado não se 
restringe ao conteúdo propriamente semântico do que é dito. O que sobra, isto é, aquilo que está a mais, é exatamente a 
intenção dada pelo autor ao ato. Por exemplo, a frase “feche a porta” pode ser proferida com intenções diversas, de ordem, 
conselho, súplica, ironia etc. Portanto, tanto para o falante quanto para sua audiência, o entendimento correto dessa 
intenção é crucial para a compreensão correta do ato” (FERES JÚNIOR, 2005, p. 658). Nesse sentido, Skinner transpõe 
o modelo de entendimento da comunicação oral previamente delineado para o problema da interpretação de textos, 
esforçando-se para separar o significado convencional do texto, que é dado pelo contexto linguístico no qual ele está 
inserido, da força ilocucionária (força intencional) propriamente dita.
História e poder: abordagens contemporâneas 129
Ao relacionar análise linguística com análise histórica, a proposta de Skinner (2010) é 
desafiadora. Para ele, somente o inter-relacionamento do texto com o contexto e a identificação 
das intenções dos autores permitiria um resgate mais autêntico do significado de um texto político. 
De acordo Feres Júnior (2005, p. 659):
Como consequência dessa transposição teórica, Skinner conclui que, somente 
dessa maneira (compreendendo os dois aspectos da comunicação), é possível 
entender aquilo que “o autor, ao escrever na época em que escreveu, para a 
audiência que ele pretendeu alcançar, poderia na prática ter a intenção de 
comunicar ao proferir um dado enunciado”.
Por meio dessa perspectiva teórica, o modelo da comunicação falada proporcionaria ao 
historiador “o resgate perfeito do conteúdo comunicativo original imprimido ao texto” (FERES 
JUNIOR, 2005, p. 659). Dessa maneira, a metodologia proposta é a da identificação das intenções 
do autor, com uma abordagem linguística para a análise do texto escrito.
Paralelo ao movimento da Escola de Cambridge – liderado por Skinner e Pocock –, outro 
movimento que pretendia alterar a abordagem ortodoxa dada à história política foi apresentado 
por Reinhart Koselleck (1923-2006), denominado história dos conceitos políticos ou história 
conceitual – Begriffsgeschichte (KOSELLECK, 2006).
Segundo essa abordagem, as palavras sofrem mudanças de sentido ao longo dos tempos, 
por isso precisam ser investigadas pelo historiador. Tomar um conceito por meio do significado 
que ele tem no tempo presente é desconsiderar a mutabilidade da língua, afirmava o historiador 
alemão. Aquilo que Heródoto entendia por história ou o que Aristóteles compreendia por política 
ou democracia teve sentidos distintos dos que surgiram durante o feudalismo ou nos dias de hoje 
(KOSELLECK, 2006).
Segundo Koselleck (2006), o historiador não podeignorar estas alterações no sentido do 
termo, uma vez que elas se tornam primordiais para a compreensão de textos políticos ou para a 
tentativa de análise da história. Essas indicações conduziram a uma delimitação metodológica mais 
precisa, visto que ao investigar um determinado conceito “tornou-se possível investigar também 
o espaço da experiência e o horizonte de expectativa associados a um determinado período”. Em 
outras palavras, a investigação de um conceito proporciona a possibilidade de determinar e analisar 
“a função política e social desse mesmo conceito” (KOSELLECK, 2006, p. 104).
De acordo com Júlio Bentivoglio (2010, p. 114):
Partindo da premissa de que existe uma relação visceral entre História e 
linguagem, e reconhecendo a mutabilidade das palavras, Koselleck realizou 
subsídio decisivo a este debate inaugurando uma abordagem sobre a História das 
Ideias que se funde a uma verdadeira teoria da história. E a desenvolve a partir de 
alguns aspectos basilares: o problema da consciência histórica, sua articulação 
por meio do conceito de experiência e fazendo recurso à hermenêutica filosófica 
que integrados perfazem uma História Social dos Conceitos.
O projeto de Koselleck (1992) consistiu na elaboração de uma obra que englobasse 
diversos conceitos políticos, relacionando-os aos contextos nos quais circularam e indicando os 
sentidos sociais que tinham. Para tanto, era necessário recorrer a recursos proporcionados pela 
Teoria da História130
interdisciplinaridade – como a filosofia e a linguística –, além da necessidade de uma equipe de 
especialistas em cada período histórico, com o objetivo de definir de modo mais preciso as diversas 
significações de um mesmo conceito, que poderiam variar num mesmo período (em grupos sociais 
distintos) ou em períodos diferentes.
Segundo Marcelo Jasmin (2005), uma das maiores críticas que se fazia à história das ideias 
ou à história política era a baixa contextualização que se dava às ideias e conceitos utilizados 
no passado, principalmente em textos clássicos. Essa atitude resultava em anacronismos “e na 
insistência da metafísica da essencialidade das ideias” (JASMIN, 2005, p. 28). Diversos intelectuais 
liam os textos escritos em séculos passados como se estivessem dizendo sobre os seus próprios 
tempos. Koselleck era contra essa simplificação das ideias políticas: para ele, ideias e conceitos têm 
uma historicidade que não pode ser desconsiderada.
Para a efetivação do método da abordagem conceitual, Koselleck (1992) definiu alguns 
aspectos importantes do ponto de vista teórico. No artigo “Uma história dos conceitos: problemas 
teóricos e práticos” (1992), o historiador referiu-se ao próprio termo conceito como primordial 
para a abordagem. Diferenciar conceito de palavra é o primeiro ponto do método.
Embora o conceito se expresse por meio de palavras, ele é mais que palavras – conceitos 
são palavras que têm mais a dizer porque é possível fazer associações. Por essa razão, os conceitos 
carregam sentidos que são relevantes para a investigação e para a qual “seria necessário um certo 
nível de teorização e cujo entendimento também é reflexivo” (KOSELLECK, 2006, p. 103).
Nesse sentido, conceito seria sempre fato e indicador, porque além de expressar elementos 
que fazem parte da língua falada naquele momento, ele também indica algo que se situa além 
da língua (KOSELLECK, 2006). Assim, todo conceito atua sobre uma realidade concreta 
que o torna compreensível; caberia ao historiador selecionar os que teriam algo a dizer sobre 
determinada realidade, bem como aqueles que carregam sentidos que se situam além do tempo no 
qual estão inseridos.
A história dos conceitos aborda definições e relações que a língua trava com o contexto 
no qual ela é pronunciada, bem como o modo que determinadas ideias são frutos da realidade 
imediata e como as palavras continuam as mesmas, alterando seus sentidos e significados. Trata-se 
de afirmar que “a história mostra que novos conceitos, articulados a conteúdos, são produzidos/
pensados ainda que as palavras empregadas possam ser a mesmas” (KOSELLECK, 2006, p. 140).
A esse respeito, o autor chamou a atenção para o fato de que os conceitos carregam sentidos 
que se sobrepõem como que em camadas, ao longo dos tempos. Em outras palavras, um conceito 
está sempre em uma relação temporal de significados. O sentido imediato do termo está carregado 
dos sentidos que o conceito significou em outros tempos, na relação imediata com a semântica e o 
contexto do presente.
Fazer a história dos conceitos é realizar uma pesquisa transversal, ou seja, perseguir 
determinada noção e a forma como ela se manifestou ao longo do tempo. O foco do historiador 
passa a ser o conceito nas suas acepções linguísticas e metalinguísticas, ou seja, suas relações com o 
contexto histórico, filosófico, político e cultural nos mais diversos momentos históricos.
História e poder: abordagens contemporâneas 131
Considerações finais
A história das ideias políticas e a história intelectual ganharam um destaque significativo 
a partir da década de 1990. O reavivamento dos debates sobre o futuro do mundo político 
proporcionou investigações inovadoras sobre as produções históricas sobre esse tema.
Dentre as diversas inovações, as propostas de Quentin Skinner e Reinhart Koselleck estão 
entre as mais utilizadas em virtude das sugestões teóricas e pelos resultados obtidos. A utilização 
do campo da teoria linguística uniu as duas propostas e deu novos impulsos aos discursos políticos.
Para Skinner (2010), a história das ideias políticas deve se concentrar no estudo prático 
de discursos, textos e ideias, considerando que os textos históricos só adquirem sentido quando 
analisados em sua dimensão de fala. A análise deve considerar os escritos como atos de fala, 
carregados de intenções que estão além do texto e dirigidos a ouvintes específicos que tomam 
parte em conflitos específicos.
Skinner (2010) se debruçou sobre o período moderno, revisitando clássicos do pensamento 
político como Thomas Hobbes e Nicolau Maquiavel. O objetivo do autor foi reconstituir o contexto 
linguístico no qual esses dois autores estavam inseridos quando produziram duas das mais famosas 
obras do pensamento moderno, Leviatã (1651) e O Príncipe (1532), respectivamente.
As análises de Skinner (2010) trouxeram elementos cruciais para a análise das obras de 
Hobbes e Maquiavel. O autor investigou as intenções, com quem esses filósofos dialogavam e 
como constituíram suas ideias, dentro dos limites de seu contexto e dialogando com seus amigos 
e inimigos.
Para Koselleck (1992; 2006), a história das ideias políticas pode ser investigada por meio dos 
conceitos, isto é, do conteúdo semântico dos conceitos sociais e políticos. O historiador publicou 
no fim década de 1970 a obra Conceitos Históricos Básicos: léxico histórico sobre linguagem político-
-social na Alemanha, considerada uma das contribuições de maior envergadura dentro da história 
dos conceitos. Ele procurou mapear os principais conceitos empregados na Alemanha entre a 
segunda metade do século XVIII e primeira metade do século XIX.
O período compreendido entre 1750 e 1850 foi o de maior transformação na história política 
da Alemanha (SILVA, 2002). O projeto, que contou com a participação dos historiadores Otto 
Brunner e Werner Conze, resultou em um imenso dicionário, publicado em 1972 e 1997, em nove 
volumes. De acordo com Silva, (2009, p. 303), “cada verbete deu origem a extensas monografias, 
com mais de 50 páginas em média, algumas ultrapassando as 100 páginas”.
A percepção sobre o tempo se dá em uma perspectiva “entre o espaço da experiência e o 
horizonte das expectativas” (KOSELLECK, 2006, p. 326). Os conceitos carregam, desse modo, o 
plasma da experiência histórica. Os diversos sentidos adquiridos ao longo da experiência histórica 
demonstram as expectativas dos homens, configuradas nos sentidos semânticos dos termos, e sua 
imediata relação com a realidade.
Tanto a propostade Skinner quanto a de Koselleck foram inovadoras no campo historiográfico 
das ideias políticas. Em diversos países há grupos de estudo sobre o contextualismo linguístico e 
Teoria da História132
a história dos conceitos. Além disso, há diversos projetos de pesquisa em andamento, incluindo 
diversas universidades brasileiras5.
Ampliando seus conhecimentos
• FORMA de vida. Entrevista com Quentin Skinner: primeira parte. Disponível em: https://
formadevida.org/qskinner1fdv4/. Acesso em: 15 mar. 2019.
Entrevista concedida por Quentin Skinner à revista Forma de vida, do Programa em 
Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal. 
A entrevista foi realizada pela professora Teresa Bejan, na casa do historiador, em Londres. 
Nela, o autor explicou o método do contextualismo linguístico aplicado à análise de 
textos clássicos do pensamento político e da história intelectual. Skinner falou de maneira 
bastante informal sobre sua trajetória acadêmica, motivações para a pesquisa da história 
das ideias políticas, influências intelectuais e o impacto de suas propostas metodológicas 
para a história e para a teoria literária.
• NEVES, Lúcia M. Bastos Pereira das; NEVES, Guilherme Pereira das. Constituição. In: 
FERES JUNIOR, João (org.). Léxico da história dos conceitos políticos no Brasil. Belo 
Horizonte: Ed. UFMG, 2009.
Obra inspirada na perspectiva metodológica de Koselleck, realizada por diversos 
historiadores brasileiros sobre a história dos conceitos políticos. Sugere-se a leitura do 
conceito constituição para averiguar o modo como ele foi concebido no Brasil desde o 
início da colonização portuguesa e suas alterações ao longo dos tempos, até chegar à 
atualidade. Trata-se de um esforço considerável feito por Feres Junior e seus colaboradores 
para aplicar a história conceitual ao contexto brasileiro. Léxico da história dos conceitos 
políticos no Brasil é uma obra elucidativa e explicativa sobre a história dos conceitos 
na prática.
5 As influências da história dos conceitos políticos é bastante significativa nas universidades brasileiras e em grande 
parte da América Latina. No Brasil, um dos maiores expoentes é o professor João Feres Júnior, da Universidade Federal de 
Minas Gerais (UFMG). A obra Léxico da História dos conceitos políticos do Brasil (2014) é uma das mais importantes desse 
modelo teórico e metodológico realizado pelo pesquisador.
Além disso, há o Proyecto Iberoamericano de Historia Conceptual (Iberconceptos). A proposta deste grupo, iniciado 
por Feres Júnior, Javier Fernández Sebastián e Vicente Oieni, é “de se fazer uma história conceitual dos países de fala 
espanhola e portuguesa na Europa e na América” (FERES JÚNIOR, 2014, p. 9). O grupo conta com pesquisadores de 
diversas instituições brasileiras (USP, UFRJ, UFF, UFMG etc.) e colaboradores da Argentina, Colômbia, Chile, Espanha, 
México, Peru, Portugal, Uruguai, Venezuela e países do Caribe e da América Central. Sobre esse assunto, ver: Jasmin 
(2005), Feres Júnior (2014) e Roiz (2014).
História e poder: abordagens contemporâneas 133
Atividades
1. Identifique e justifique as principais críticas lançadas à história política e à história 
intelectual pelos movimentos renovadores da historiografia, ocorridos na primeira metade 
do século XX.
2. Descreva as principais características da teoria e do método sugerido por Quentin Skinner e 
identifique suas singularidades frente às outras propostas metodológicas.
3. Considerando a proposta teórica de Reinhart Koselleck em sua totalidade, quais seriam as 
principais dificuldades para a elaboração da história dos conceitos?
Referências
ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
BARROS, José D’Assunção. História Política: dos objetos tradicionais ao estudo dos micropoderes, do 
discurso e do imaginário. Escritas, Araguaína, v. 1, p. 1-26, 2008. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/
periodicos/index.php/escritas/article/view/1278/8103. Acesso em: 15 mar. 2019.
BEGLEY, Louis. O Caso Dreyfus: Ilha do Diabo, Guantánamo e o pesadelo da História. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2010.
BENTIVOGLIO, Júlio. A história conceitual de Reinhart Koselleck. Dimensões, Vitória, v. 24, p. 114-134, 
2010. Disponível em: http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2526/2022. Acesso em: 18 mar. 
2019.
BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade 
contemporânea. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.
CLEMENTE, Rafael Willian. História política e a “Nova História”: um breve acerto de contas. Cadernos 
UniFoa, Volta Redonda, n. 16, p. 45-51, ago. 2011. Disponível em: http://web.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/ 
16/45.pdf. Acesso em: 15 mar. 2019.
DE DECCA, Edgar. Prefácio. In: LOPES, Marcos Antônio. Para ler os clássicos do pensamento político: um 
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Gabarito
1 O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo
1. No debate entre os partidários de uma “antiga ciência” e os defensores de uma “nova ciência”, 
Vico se posicionamais próximo à defesa da superioridade dos defensores de uma ciência 
nova, não por considerar o conhecimento de sua época melhor, mas por entendê-lo como 
mais racional se comparado a épocas anteriores, embora também considerasse que certos 
conhecimentos antigos encontravam-se sufocados pela expansão do pensamento cartesiano, e 
que esse processo precisaria ser analisado de maneira crítica e cautelosa. Em relação à história, 
a originalidade do seu pensamento foi a percepção por ele trazida à filosofia, de que os homens 
estão imersos em sua própria época e contexto, e disso dependem suas habilidades, aptidões, 
engenhos e linguagem. Enquanto criação humana, a história é um saber que nos dá acesso 
às causas, aos porquês da ação humana, suas intenções e motivações, possibilitando buscar 
o conhecimento verdadeiro sobre a condição humana e sua constituição ao longo do tempo.
2. Uma das mais expressivas manifestações do pensamento iluminista acerca da história encontra-
-se no texto do filósofo alemão Immanuel Kant intitulado Ideia de uma História universal de um 
ponto de vista cosmopolita, de 1784. Nele, o filósofo aborda a questão da história analisando-a 
por meio do desenvolvimento de algo considerado universal no homem: a razão. A trajetória da 
razão no homem, partindo de uma condição primitiva para um desenvolvimento progressivo, 
seria o alvo de uma compreensão cosmopolita de uma filosofia da história cujo olhar se projeta 
para o futuro, vislumbrando um progresso cada vez maior da razão. A essa concepção se opõem 
filósofos românticos, como Herder, os quais se voltam para o passado porque veem nele não 
a origem pouco desenvolvida da razão, mas as raízes daquilo que faz com que cada povo se 
torne único do devir dos tempos: o seu espírito. A Herder interessa menos o caráter cosmopolita 
e universal da razão e mais o aspecto único e diferenciado de cada povo (volk), o qual se expressa 
em uma espécie de “alma” ou “espírito” de cada povo: o volksgeist.
3. O conceito de Humanität, presente no segundo ensaio de Herder sobre a história, expressa um 
princípio, uma meta, um sentido ou uma direção existente em cada povo e que o conduz por 
meio do tempo de maneira invisível e espiritual, porém reconhecível no sentido de sua própria 
essência. Difere da noção iluminista de progresso porque não representa uma superação de uma 
condição menos desenvolvida para uma condição mais adiantada, mas o reconhecimento e o 
aprimoramento daquilo que, de alguma forma, já existe em potencial em cada povo. Perceber esse 
princípio e essa meta, e por meio dela educar a humanidade em direção a sua própria essência – 
permeada pela razão, mas também pela liberdade –, seria a principal função de uma filosofia da 
história segundo o entendimento de Herder.
2 Filosofias da história no século XIX
1. O pensamento hegeliano de que a razão é a “mão” que governa o mundo alterou profundamente o 
sistema de pensamento até então predominante sobre o passado da humanidade. Durante grande 
136 Teoria da História
parte da Idade Média, prevaleceu a noção de destino e de condenação do homem, em particular, e 
da sociedade de uma maneira geral. O pensamento hegeliano organizou as ideias insurgentes em um 
método específico e conferiu a elas um sentido: o sentido histórico era o da evolução do espírito rumo a 
sua liberdade. Essa evolução se processava por meio da dialética (da contradição) e da busca pelo eterno, 
pelo imutável. Nesse sentido, a história da humanidade passa a ser pensada por meio da organização 
racional do mundo (um mundo social), a qual tende cada vez mais a organizar a vida civil, e toma a 
sua forma mais acabada com a constituição do Estado regido por leis e por um governo competente. 
O Estado seria o fim último da razão, nele se efetivaria o ideal de liberdade. Quanto mais racional uma 
sociedade, mais livre ela seria e, nesse sentido, mais evoluída. A história se tornava o registro desse 
processo de racionalidade do espírito ao longo dos tempos.
2. O materialismo histórico é o conceito elaborado por Karl Marx e Friedrich Engels para explicar a 
sociedade. Em contraponto à perspectiva hegeliana de que a sociedade se situava, antes, no nível 
das ideias, para depois interferir na vida prática, os filósofos inverteram essa lógica, afirmando que 
tudo o que existe se efetiva primeiro na vida material, nas condições materiais da existência. Assim, a 
vida real, o homem real (um homem biológico, com necessidades muito semelhantes aos dos outros 
animais) e o mundo real (dotado de potencialidades e recursos materiais) forneceriam a formação 
das ideias. Não há nada na consciência que não tenha passado antes pelas condições materiais 
da existência, afirmaram os dois autores em diversas passagens de sua obra. Essa constatação é o 
que se denominou materialismo histórico, pois Marx e Engels inverteram a perspectiva hegeliana, 
afirmando que, para se conhecer a história dos homens, é necessário investigar o modo como 
organizaram a vida por meio dos aparatos reais, como transcenderam as necessidades mais básicas 
e iniciaram a formação de novas necessidades. Seria, portanto, o trabalho, as relações de produção 
e os meios de produção os elementos que guiariam o processo histórico. Cada sociedade, ao longo 
dos tempos se organizou de uma maneira, constituindo suas singularidades. Todas, no entanto, 
estabeleceram, evoluíram, modificaram e se transformaram em torno das suas relações materiais.
3. Nietzsche apresentou uma das ideias mais originais sobre a história do seu tempo e forneceu uma 
análise crítica da produção historiográfica. Por meio de polêmicas, como lhe era característico, o 
filósofo defendeu a ideia de que a história praticada no seu tempo era mais doentia do que vital 
aos homens. A “doença” que Nietzsche identificou era aquela que impedia os homens de esquecer 
e despertava ideias de grandezas ou, ainda, os forçava a reverenciar tradições passadas, cegando-os 
para o novo. Por meio da crítica, Nietzsche propõe como “remédio” para o homem com “overdose 
de história”, o esquecimento. Mas tudo se deveria esquecer? Segundo o filósofo, não. Seria necessário 
esquecer aquilo que amarrava os homens ao passado ou o que lhes fornecia um peso desnecessário 
para viver. A história deveria ser praticada por meio de três impulsos: o do esquecimento (de tudo o 
que é desnecessário à vida), o de abster-se de pensar em temporalidades (o impulso a-histórico) e a 
possibilidade de pensar além da história (o elemento supra-histórico). Se o homem soubesse dosar 
esses três impulsos, ele criaria uma história que serviria ao presente, que estaria aberta às novas e 
múltiplas possibilidades da criação humana e almejaria aquilo que é imortal. Isto é, a história serviria 
ao homem e não o homem serviria à história.
Gabarito 137
3 A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista
1. Um dos principais responsáveis pela institucionalização da história como disciplina acadêmica, 
Leopold von Ranke deu um contorno acadêmico aos escritos históricos e instituiu as bases 
epistemológicas do método histórico, buscando um estudo científico e objetivo – de acordo com os 
critérios de objetividade e ciência da primeira metade do século XIX. Desde seus primeiros escritos, 
Ranke buscava deixar claro a sua intencionalidade como historiador, embora ele mesmo afirmasse que 
ela não deveria aparecer no texto histórico. O autor tinha como intuito estudar a trajetória das nações, 
especialmente a alemã, por meio das particularidades. Para tanto, compreendia o conhecimento 
histórico como algo que avança do particular ao geral e concebia que essa ação só seria considerada 
cientifica se tivesse por base fontes primárias – documentos escritos e oficiais da época estudada. Por 
utilizar somente documentos oficiais e ter parte de seus estudos financiados pelo governo prussiano, 
Ranke acabou sendo influenciado por seu próprio contexto, escrevendo uma interpretação possível 
do passado, não do povo, mas do Estado-Nação

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