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DESCRIÇÃO A atuação nos tribunais superiores e seus respectivos recursos. PROPÓSITO A compreensão do funcionamento dos tribunais superiores, bem como de seus recursos é questão fundamental para um entendimento mais amplo de todas as nuances que compõem o ordenamento jurídico brasileiro, em especial, pelas limitações legislativas e jurisprudenciais impostas para o seu acesso. Limitações essas que, se bem compreendidas, tornam indubitavelmente mais fácil o caminho até esses tribunais. PREPARAÇÃO Antes de iniciarmos o conteúdo, tenha em mãos a Constituição Federal do Brasil e o Código de Processo Civil. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar as competências dos tribunais superiores, bem como as formas de utilização do Recurso Ordinário Constitucional MÓDULO 2 Analisar os obstáculos para utilização dos recursos de índole extraordinária MÓDULO 3 Identificar o procedimento dos Embargos de Divergência Foto: rafastockbr / Shutterstock.com INTRODUÇÃO O estudo sobre tribunais superiores e suas diversas peculiaridades é de inegável relevância, uma vez que tais Cortes têm, dentre diversos deveres, o de nortear o entendimento jurídico no país. Nessa linha, inclusive, é porque são editadas súmulas, são firmados precedentes e teses, as quais devem ser obedecidas pelos tribunais ordinários no país. Para que os processos que tramitam nos graus ordinários de jurisdição cheguem até os tribunais superiores, eles devem necessariamente preencher determinados requisitos, pois a tais Cortes não é imposto o dever de reanalisar toda e qualquer demanda. Isso porque, se fosse conferido a todo e qualquer processo o direito de acesso aos tribunais superiores, fatalmente, ocorreria inviabilização material da prestação jurisdicional extraordinária. Nessa medida, ganha-se importância compreender quais são as ações e os recursos que podem ser ajuizados/interpostos junto às Cortes extraordinárias, pois, assim, torna-se possível melhor atuação dos operadores. No mesmo sentido, importa também entender as peculiaridades e os requisitos para o exercício de cada medida, para que, de sua utilização, decorra a melhor prestação jurisdicional possível, atendendo aos anseios daquele que faz uso de tais mecanismos extraordinários junto aos tribunais superiores. Tais mecanismos, dentre os quais estão o Recurso Especial, o Recurso Extraordinário, o Recurso Ordinário Constitucional e os Embargos de Divergência, são meios pelos quais é possível ter acesso a tribunais superiores, caso preenchidas suas hipóteses de cabimento e seus requisitos, como mencionado. A fim de melhor compreensão dos requisitos necessários para atuação em tais tribunais, permite-se que o operador consiga escapar a eventuais limitações impostas a ele, permitindo verdadeiro acesso à jurisdição extraordinária. MÓDULO 1 Identificar as competências dos tribunais superiores, bem como as formas de utilização do Recurso Ordinário Constitucional. O STF E SUA COMPETÊNCIA A atuação nos tribunais superiores é comumente relacionada ao ajuizamento dos recursos: Recurso Extraordinário (STF) Recurso Especial (STJ) É certo que esses recursos encontram maior evidência e comandam a atuação concreta de Cortes extraordinárias. Contudo, também é certo que esses tribunais não se limitam a julgar tais recursos, sendo sua competência muito mais abrangente e com funções inegavelmente mais importantes do que a simples apreciação de recursos. Diferentes são as formas de se atuar nos tribunais superiores, assim como diversas são as suas competências, ainda que umas sejam mais comuns que outras. O espectro de atuação do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça diferem (o primeiro encontra maior amplitude, visto que sua competência se expande para outras áreas que não a da justiça comum, como a seara trabalhista). No entanto, ainda assim, há também larga escala de atividade desse último. Ambos têm sua existência e competência prevista pela Constituição Federal, possuindo, igualmente, referência legislativa infraconstitucional, como se vê no Código de Processo Civil (art. 1.029 e seguintes). SAIBA MAIS O Código de Processo Civil exerce especial função no que toca aos Tribunais superiores, uma vez que estabelece questões e procedimentos fundamentais para a adequada utilização dos mecanismos processuais que dizem respeito a tais Cortes. O Supremo Tribunal Federal tem como função a guarda da Constituição Federal. Isso significa que o STF deve zelar pela correta interpretação e aplicação da Carta Magna, mantendo-a livre de violações e de leituras inadequadas. Cabe, portanto, ao STF determinar como se dá adequada exegese da Constituição Federal, de acordo com aquilo que está estabelecido no seu texto. Foto: Shutterstock.com DICA Sendo a Constituição uma carta aberta, é possível falar em normas explícitas, as quais estão positivadas, mas também de normas implícitas (exemplo clássico é o duplo grau de jurisdição), o que torna ainda mais fundamental o papel interpretativo exercido pela Corte suprema. É certo que a interpretação das normas constitucionais evolui e se altera com o transcorrer do tempo, sendo dever do Supremo Tribunal Federal transportar e adaptar ao seu tempo tal interpretação, a fim de atender à natural evolução social. ART. 101 DA CF/88 Prevê a composição do Supremo Tribunal Federal. ART. 102 DA CF/88 Prevê as competências do Supremo Tribunal Federal. Vale lembrar que o Supremo Tribunal Federal cumpre, dentre outras competências, processar e julgar ações diretas de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade (ADI e ADC) de lei ou ato normativo federal (inciso I, a), infrações penais comuns do presidente da República e outras autoridades (inciso I, b). Vale destacar ainda que se trata de uma competência especial fixada em razão da função exercida por ditas autoridades. Constituem exemplo do foro denominado Ratione Personae (Default tooltip) . Tal competência é instituída não pelo interesse daquele que é julgado, mas sim pelo interesse público. Considerando a relevância dos cargos ocupados, é do melhor interesse da nação que sejam julgados pela mais alta Corte da nação. Compete ao STF apreciar litígio com Estados estrangeiros (inciso I, e), conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer outros conflitos entre tribunais superiores (inciso I, o), dentre outras diversas searas de atuação, as quais estão previstas no dispositivo mencionado. O inciso I do art. 102 aponta que as hipóteses presentes nas alíneas do mencionado dispositivo são situações denominadas de competência originária do Supremo Tribunal Federal, ou seja, que tais demandas serão diretamente ajuizadas e julgadas pela Corte suprema, não passando previamente por qualquer outro tribunal do país. ATENÇÃO Nessas hipóteses, o STF fará papel de primeiro e segundo grau de jurisdição, pois, sendo a Corte de mais alta hierarquia no país, não há outro Tribunal a qual possa se recorrer. É possível visualizar que as competências atribuídas ao Supremo Tribunal Federal, ainda que amplas, são de inegável relevância para o país. Nas palavras de Gilmar Ferreira Mendes e Lênio Streck (2018): PRESUME O LEGISLADOR QUE OS TRIBUNAIS DE MAIOR CATEGORIA TENHAM MAIS ISENÇÃO PARA JULGAR OS OCUPANTES DE DETERMINADAS FUNÇÕES PÚBLICAS, POR SUA CAPACIDADE DE RESISTIR, SEJA À EVENTUAL INFLUÊNCIA DO PRÓPRIO ACUSADO, SEJA ÀS INFLUÊNCIAS QUE ATUAREM CONTRA ELE. A PRESUMIDA INDEPENDÊNCIA DO TRIBUNAL DE SUPERIOR HIERARQUIA É, POIS, UMA GARANTIA BILATERAL, GARANTIA CONTRA E A FAVOR DO ACUSADO. (CANOTILHO et al., 2018, p. 1.365) Conforme dispõe o inciso II do art. 102, cabe ainda ao STF julgar em Recurso Ordinário: Imagem: Shutterstock.com O habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos tribunais superiores, se denegatória a decisão. Imagem: Shutterstock.com O crime político. Não se encerra, no entanto, as atribuiçõesdo STF nos dois primeiros incisos do mencionado dispositivo constitucional. Há ainda o inciso terceiro, que apresenta quais as demandas cabem a Corte suprema julgar em Recurso Extraordinário. As hipóteses referidas em tal inciso são as seguintes: Contrariar dispositivo desta Constituição. Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. Julgar válida lei local contestada em face de lei federal. O último inciso foi adicionado pela Emenda Constitucional nº 45, que também trouxe novo requisito para admissibilidade do Recurso Extraordinário, a chamada repercussão geral. Tais são as hipóteses destinadas ao STF para apreciação de Recursos Extraordinários, restando firmada, em tais hipóteses, a competência de Corte recursal do Supremo Tribunal Federal. ATENÇÃO A Corte suprema é a última instância jurisdicional prevista em nosso ordenamento, não cabendo recurso a nenhum outro tribunal. Como facilmente se vislumbra das hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário, necessariamente, deve existir o debate constitucional na demanda. Considerando que em ponto específico será mais detidamente referido, a ofensa à Constituição deve ser direta, não reflexa. De todo modo, certo é que, inexistindo alegação de violação à Constituição ou mesmo debate constitucional, não há hipótese de cabimento de Recurso Extraordinário. ATENÇÃO Aqui, cabe um esclarecimento. Seria possível alegar que a alínea 'd' não trata de tema constitucional. Tal interpretação, no entanto, revela-se equivocada, uma vez que se está a debater questão de competência legislativa, cuja normatização está inserida dentro do contexto constitucional. Melhor esclarecem Gilmar Ferreira Mendes e Lênio Streck (2018) quando ensinam que: “quando se discute a validade de lei local em face de lei federal, estar-se-á em face de uma querela relacionada à competência, cuja matéria está regulada na Constituição Federal” (CANOTILHO et al., 2018, p. 1.387). Em linhas gerais, a atuação na esfera do Supremo Tribunal Federal se dá dessa forma, dentro dos limites e ditames estabelecidos pelo art. 102 da Constituição Federal. Existem, no CPC (Default tooltip) , diversos dispositivos que fazem menção ao STF, no entanto, apenas a Constituição está autorizada a determinar e a limitar o âmbito de atuação de tal Tribunal. Foto: Shutterstock.com A vinculação dos tribunais de inferior hierarquia às decisões proferidas pela STF, além de ser uma decorrência lógica do fato de tal Corte ser a intérprete e salvaguardadora da Constituição, também encontra positivação no CPC, mais especificamente, no art. 927, I. Esse dispositivo determina que os juízes e os Tribunais observarão as decisões do Supremo Tribunal Federal em casos de controle concentrado de constitucionalidade, em que o Tribunal realiza a verificação da constitucionalidade em tese, não no caso concreto. Existem regramentos procedimentais infraconstitucionais que trazem maior especificidade, em especial, às formalidades e aos requisitos aos quais devem obedecer ao ajuizamento dos Recursos Extraordinários. A própria Corte cria limites para a atuação, na criação de súmulas e enunciados, e nesse sentido, o CPC, em seus dispositivos também o fazem. O STJ E SUA COMPETÊNCIA CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE javascript:void(0) É também chamado de “controle abstrato”. O Superior Tribunal de Justiça, assim como o Supremo Tribunal Federal, compõe um dos tribunais de jurisdição extraordinária dentro da organização judiciária brasileira estabelecida pela Constituição Federal. Sua atuação, no entanto, não está vinculada diretamente à violação de normas constitucionais, papel reservado ao STF, mas sim a dar a correta interpretação à legislação federal, bem como manter estável e coerente a jurisprudência. Foto: Shutterstock.com Em linha semelhante ao STF, o qual é defensor da Constituição, o STJ também possui papel de importância ímpar dentro do ordenamento brasileiro, visto que a ele é dada a incumbência de determinar o rumo da jurisprudência. Cabe ao Superior Tribunal de Justiça estabelecer quais são os caminhos que os Tribunais Estaduais e os Tribunais Regionais Federais devem seguir, a fim de trazer maior segurança jurídica e estabilidade à jurisdição pátria. Sendo a segurança jurídica um dos pilares a serem defendidos dentro da ordem jurídica, é necessário que exista maior previsibilidade sobre os rumos da jurisprudência pátria e, ao STJ, cabe tal tarefa, conferindo os nortes a serem seguidos pelos tribunais de inferior hierarquia. Igualmente ao STF, o Superior Tribunal de Justiça tem prevista sua existência e competência na Constituição Federal, mais especificamente, no art. 105 da Carta Magna. ATENÇÃO Verdadeiramente, as previsões trazidas ao STF são repetidas na sua lógica para o STJ, no entanto, adaptadas ao âmbito de atuação da Corte superior, de forma distinta da Corte suprema. O inciso I do art. 105 dispõe daquilo que é de competência originária do Superior Tribunal de Justiça, ou seja, aquelas demandas que se iniciam diretamente nesse tribunal, não passando por nenhum outro previamente. São exemplos de demandas de competência originária do STJ de julgar (alínea a) nos crimes comuns, os governadores dos estados e do Distrito Federal, e nestes e nos de responsabilidade: Imagem: Shutterstock.com Os desembargadores dos tribunais de justiça dos estados e do Distrito Federal. Imagem: Shutterstock.com Os membros dos tribunais de contas dos estados e do Distrito Federal. Imagem: Shutterstock.com Os membros dos tribunais regionais federais, dos tribunais regionais eleitorais e do trabalho. Imagem: Shutterstock.com Os membros dos conselhos ou tribunais de contas dos municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais (alínea d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos, dentre diversas outras. O inciso II estabelece, por sua vez, as hipóteses em que caberá ao STJ o julgamento de Recurso Ordinário. Mais notório, no entanto, é quanto ao disposto no inciso III do art. 105 da Constituição Federal, o qual delimita a competência do Superior Tribunal de Justiça para apreciação de Recurso Especial. São hipóteses para apresentação de dito recurso, segundo a redação do destacado dispositivo: HIPÓTESES Julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Como se vê, limitadíssimas são as hipóteses para ajuizamento de Recurso Especial junto ao STJ. E não poderia ser diferente, pois a ampliação desordenada de hipóteses de cabimento tornaria ainda mais morosa a prestação jurisdicional dessa Corte, vez que sobem para sua análise e julgamento demandas de todos os estados da nação. A criação de tribunais superiores não advém da ideia de criar mais um grau de jurisdição para uma eterna revisão dos julgados, em razão da constante insatisfação das partes com as decisões apresentadas. A limitação de hipóteses, tanto para Recurso Especial quanto para Recurso Extraordinário, obedece à lógica de que apenas determinados casos merecem ser reexaminados quanto à interpretação do direito, seja ele de caráter constitucional (STF) ou de caráter federal (STJ), por gozar de uma relevância acima daquela considerada ordinária e que é apreciada pelos tribunais de justiça e pelos tribunais regionais federais. O PAPEL DOS RECURSOS DE CARÁTER EXTRAORDINÁRIO (RECURSO ESPECIAL E RECURSOEXTRAORDINÁRIO) Como é possível perceber, as hipóteses para atuação junto aos tribunais superiores encontram guarida apenas nas hipóteses previstas na Constituição Federal e são hipóteses específicas e limitadas. Isso ocorre porque tais Cortes não constituem grau de jurisdição ordinário. ATENÇÃO A subida do processo do tribunal de origem para os tribunais superiores deve ser, e é, a exceção, jamais a regra. Uma série de requisitos devem ser obedecidos a fim de autorizar a inconformidade a ser apreciada pelos tribunais superiores. Como estabelece o art. 926 do Código de Processo Civil, a jurisprudência deve se manter estável, íntegra e coerente. E um dos papéis exercidos pelos tribunais superiores, cada qual em sua esfera, é de trazer os precedentes para que a jurisprudência assim se mantenha. DICA Os conceitos de precedente e jurisprudência não se confundem. São, efetivamente, tribunais que ditam como o direito deve ser interpretado, seja sob o ponto de vista constitucional, seja sob o ponto de vista da legislação federal. Importante destacar, no entanto, que isso não significa imobilizar o entendimento dos tribunais ordinários e acabar com a independência dos magistrados, mas sim estabelecer linhas mestras a serem seguidas e que devem ser adaptadas ao caso concreto. O art. 927 determina que os juízes e os tribunais deverão observar súmulas vinculantes editadas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, acórdãos proferidos em incidente de assunção de competência ou de Recurso Especial/Extraordinário de caráter repetitivo. Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2019) bem explicam: É CLARO QUE É DESEJÁVEL QUE A JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA E DOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS SEJA UNIFORME E SEGURA (TANTO É ASSIM QUE SE PREVEEM INCIDENTES VOLTADOS À OBTENÇÃO DE SEGURANÇA, COMO O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS E O INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA), ASSIM COMO É EVIDENTE QUE ESSAS CORTES TÊM - A PARTIR DA EXISTÊNCIA DE PRECEDENTES SOBRE O CASO QUE DEVEM JULGAR - O DEVER DE APLICÁ-LOS SEM QUEBRA DE IGUALDADE. NO ENTANTO, A FUNÇÃO DESSAS CORTES ESTÁ LIGADA JUSTAMENTE À EXPLORAÇÃO DOS POSSÍVEIS SIGNIFICADOS DOS TEXTOS JURÍDICOS A PARTIR DO CONTROLE DA JUSTIÇA DO CASO CONCRETO (A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO É APENAS UM MEIO PARA CHEGAR-SE AO FIM CONTROLE DA JUSTIÇA DO CASO CONCRETO). (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2019, p. 1.047) É possível vislumbrar que, para a atuação nas Cortes superiores, é necessária a compreensão do contexto de competência aos quais estão ligados tais tribunais, bem como o papel dos recursos a que estão destinados a apreciar, a fim de garantir estabilidade ao sistema judiciário pátrio, conferindo, assim, maior segurança jurídica a todos os jurisdicionados. O RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL: SEUS REQUISITOS RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL O especialista Guilherme Porto fala sobre o cabimento do Recurso Ordinário Constitucional, sua competência e as questões mais relevantes do tema. RELEMBRANDO Como já visto, cabe ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça julgar Recurso Ordinário. As hipóteses de cabimento de dito recurso estão previstas nos arts. 102, II e 105, II, da Constituição Federal, respectivamente. O Recurso Ordinário Constitucional é assim denominado exatamente porque está previsto seu cabimento no texto constitucional. Há, no entanto, dispositivos complementares dentro do Código de Processo Civil, mais concretamente no art. 994, V e no art. 1.027. Nessa linha, diz o texto do último dispositivo referido: ARTIGO 1027 DO CPC Serão julgados em recurso ordinário: I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de injunção decididos em única instância pelos tribunais superiores, quando denegatória a decisão; II - pelo Superior Tribunal de Justiça: a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País. Algumas particularidades do Recurso Ordinário Constitucional merecem destaque. A primeira delas concretiza-se na noção de que, em tais casos, tanto Supremo Tribunal Federal quanto Superior Tribunal de Justiça atuam como Cortes de julgamento ordinário e não de caráter excepcional, como, usualmente, é o papel que lhes é destinado. Isso ocorre porque, nas hipóteses de julgamento do Recurso Ordinário Constitucional, fazem as vezes do tribunal de segundo grau de jurisdição. E a partir de tal ideia, algumas consequências práticas relevantes são dignas de nota. Primeiramente, os fatos poderão ser rediscutidos em sede de Recurso Ordinário. Trata-se de exceção à regra de que, nos tribunais superiores, não há mais possibilidade de revisão fática, apenas debate de direito. Isso ocorre em razão do antes afirmado de que, na hipótese do Recurso Ordinário, o tribunal superior está fazendo as vezes de Tribunal de segundo grau de jurisdição. Seguindo a mesma linha, também é possível o reexame das provas, circunstância vedada, por exemplo, em sede de Recurso Extraordinário e Recurso Especial. Como regra, nas Cortes extraordinárias, não há mais debate sobre a produção probatória. No caso do Recurso Ordinário Constitucional, não se aplicam, portanto, as súmulas 7 (STJ) e 279 (STF), as quais referem que, em sede de Recurso Especial e Recurso Extraordinário, respectivamente, não serão reavaliados os fatos nem as provas. SÚMULAS 7 (STJ) A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial. javascript:void(0) javascript:void(0) 279 (STF) Para simples reexame de prova não cabe Recurso Extraordinário. Outra importante observação, especificamente quanto aos requisitos para interposição do Recurso Ordinário Constitucional, é que, diferentemente dos Recursos Especial e Extraordinário, prescinde de prequestionamento. Tal dispensa apenas atende à lógica de, na hipótese, estarem os tribunais superiores atuando como tribunal de segundo grau e não como tribunais excepcionais. Tampouco é preciso demonstrar repercussão geral, requisito essencial para o Recurso Extraordinário. É certo que o Recurso Ordinário, comparado às demais competências das Cortes superiores, possui caráter de excepcionalidade, especialmente se cotejado numericamente em relação aos Recursos Especiais e Extraordinários. Isso se dá porque as hipóteses de cabimento de Recurso Ordinário são mais restritas e particulares e, por conseguinte, transformam o seu ajuizamento mais rarefeito em relação às demais competências dos Tribunais. É possível afirmar, e vale o destaque, que o Recurso Ordinário guarda semelhanças com o Recurso de Apelação, inclusive se aplicando algumas das normativas da própria Apelação ao Recurso Ordinário. Quer isso dizer que o Recurso Ordinário possui regime jurídico próprio, mas que é complementado pela aplicação das regras da apelação em algumas circunstâncias especiais. O RECURSO ORDINÁRIO TEM REGIME JURÍDICO PRÓPRIO, MAS RECEBE, COMO DITO, O INFLUXO DE ALGUMAS REGRAS DA APELAÇÃO. A EXEMPLO DA APELAÇÃO, É UM RECURSO SEM QUAISQUER LIMITAÇÕES COGNITIVAS, DOTADO DE AMPLO E IMEDIATO EFEITO DEVOLUTIVO, DE FUNDAMENTAÇÃO LIVRE, SEM QUALQUER VINCULAÇÃO A ALGUM TIPO DE ARGUMENTO, TEMA OU EXIGÊNCIA ESPECÍFICA. (DIDIER JR; CARNEIRO DA CUNHA, 2016, p. 294) Como regra, o Recurso Ordinário será ajuizado de uma decisão proferida por um Tribunal de Justiça ou por um Tribunal Regional Federal, quando este possui competência originária para julgar ações constitucionais específicas, como presentes nos art. 102, II e 105, II da CF e 1.027 do CPC. Em tais hipóteses, o recurso deve ser dirigido ao presidente ou vice-presidente do tribunal que proferiu a decisão recorrida. VOCÊ SABIA Existem hipótesesem que o Recurso Ordinário será ajuizado diretamente de uma decisão de primeiro grau, ocorrendo verdadeiro salto jurisdicional, ou seja, de um juiz singular diretamente para um dos tribunais extraordinários, não passando pelo colegiado federal. Aqui, a hipótese de “salto jurisdicional” ocorre apenas em sede de juízo federal, não estadual. Em tal situação, ao Recurso Ordinário é conferido o regramento procedimental da apelação, sendo o recurso interposto junto ao juízo que proferiu a sentença, o qual determinará a apresentação de contrarrazões, posteriormente, encaminhando ao Superior Tribunal de Justiça para processamento e julgamento. Deve, portanto, o Recurso Ordinário respeitar igualmente o regime da Apelação, dentre o qual se encontra o princípio da dialeticidade, o qual impõe o diálogo entre decisão recorrida e recurso, sob pena de inviabilizar a análise adequada do recurso. Tal hipótese encontra fundamento legal no art. 105, II da CF e no art. 1.027, II, b do CPC, quando há o envolvimento de Estado estrangeiro ou organismo internacional de um lado e município ou pessoa residente ou domiciliada no país de outro. ATENÇÃO É ainda de se realçar o que se destaca no art. 1.027, §1º. Isto é, se a decisão combatida for interlocutória do tipo agravável (respeitando o rol do art. 1.015, CPC), o Recurso Ordinário deverá, necessariamente, obedecer ao regramento aplicável ao agravo de instrumento. Na hipótese em que o recurso está a combater uma sentença, deve obedecer às regras de admissibilidade aplicáveis ao Recurso de Apelação, como mencionado. Sempre deve obedecer ao prazo de 15 dias úteis para seu ajuizamento, seguindo o regramento geral dos recursos estabelecido pelo Código de Processo Civil. Idêntico prazo aplica-se para as contrarrazões ao Recurso Ordinário. Ainda que se aplique alguns dos regramentos do Recurso de Apelação ao Recurso Ordinário, não há unanimidade, ao menos em sede doutrinária, quanto à aplicação automática ou não de efeito suspensivo. Na hipótese de não concessão automática, é necessária a formulação de requerimento específico ao tribunal ao qual foi dirigido o recurso no período que fica entre a interposição e a distribuição. De todo modo, é de se registrar que o STJ já decidiu por aplicação de efeito suspensivo ao Recurso Ordinário no AgRg na MC 1.296/CE. É ainda de se iluminar que o Recurso Ordinário, tanto no Supremo Tribunal Federal quanto no Superior Tribunal de Justiça, pode ser ajuizado quando decorrida uma decisão denegatória em mandado de segurança. ATENÇÃO Há, no entanto, uma diferença ampliativa de competência do Supremo Tribunal Federal em relação ao Superior Tribunal de Justiça, visto que também cabe a utilização do Recurso Ordinário, quanto ao primeiro, quando existir decisão denegatória em habeas data e mandados de injunção (1.027, I), hipóteses inexistentes para o STJ. Como se vê, as hipóteses de Recurso Ordinário são limitadas e privativas para determinadas circunstâncias. No entanto, em nada diminui sua importância e relevância dentro do ordenamento jurídico pátrio, tanto que previsto primeira e principalmente dentro da Constituição Federal, encontrando, posteriormente, regramento infraconstitucional. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE O RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL É CORRETO AFIRMAR: A) Trata-se de uma exceção, vez que, na hipótese de ajuizamento de Recurso Ordinário, tanto STF quanto STJ atuarão como tribunais originários e não extraordinários. B) O Recurso Ordinário Constitucional possui apenas previsão constitucional. C) Em sede de Recurso Ordinário Constitucional, os fatos não podem ser rediscutidos. D) As provas produzidas não podem ser reavaliadas no Recurso Ordinário Constitucional. E) Nenhuma das normativas referentes ao Recurso de Apelação se aplicam ao Recurso Ordinário Constitucional. 2. AS COMPETÊNCIAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ESTÃO DETERMINADAS DENTRO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SOBRE TAIS COMPETÊNCIAS, É CORRETO AFIRMAR: A) As ações julgadas contra presidente ou vice-presidente da República encontram foro especial para atender ao interesse da parte. B) Ao STF é destinado, exclusivamente, julgar em Recurso Extraordinário a declaração de inconstitucionalidade de lei federal. C) Inexistem hipóteses em que o Supremo Tribunal Federal fará o papel de tribunal de primeiro grau de jurisdição. D) A alínea b do inciso III do art. 102, CF foi inserida pela Emenda Constitucional nº 45/2004. E) Só é cabível o ajuizamento de Recurso Extraordinário quando existir violação direta da Constituição Federal. GABARITO 1. Sobre o Recurso Ordinário Constitucional é correto afirmar: A alternativa "A " está correta. O Recurso Ordinário Constitucional é, de fato, uma exceção dentro do sistema jurídico, uma vez que atua em hipóteses específicas, determinadas pela Constituição Federal. Nessas hipóteses, o papel exercido pelos tribunais extraordinários será análogo à de um tribunal ordinário, podendo, inclusive, revisar fatos e provas. 2. As competências do Supremo Tribunal Federal estão determinadas dentro da Constituição Federal. Sobre tais competências, é correto afirmar: A alternativa "E " está correta. A alternativa é a única que está de acordo com as competências conferidas ao STF. O próprio Código de Processo Civil, no seu art. 1.033, determina que, no caso de o tribunal considerar a ofensa reflexa, deverá remeter o processo para o Superior Tribunal de Justiça. MÓDULO 2 Analisar os obstáculos para utilização dos recursos de índole extraordinária. QUESTÕES GERAIS E COMUNS AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO E AO RECURSO ESPECIAL RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO O especialista Guilherme Porto fala sobre o cabimento dos Recursos Especial e Extraordinário, indicando as características comuns entre eles. A Constituição Federal estabelece todas as competências conferidas aos tribunais superiores. Dentre tais competências, estão: Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Marcella Jurczik Competência de julgar o Recurso Extraordinário (art. 102, III e alíneas). Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Marcella Jurczik Competência de julgar o Recurso Especial (art. 105, III e alíneas). No entanto, não restam limitadas à Constituição Federal as normativas referentes aos recursos superiores. O Código de Processo Civil dedica diversos de seus dispositivos aos recursos de índole extraordinária (1.024 - 1.041), em que determina a forma e os procedimentos a serem seguidos para uma adequada utilização de tais meios de impugnação à decisão de última ou de única instância. As duas espécies recursais referidas compartilham diversas caraterísticas em comum. RELEMBRANDO Ambos são recursos de caráter extraordinário (em sentido amplo), ou seja, há uma excepcionalidade inerente em sua própria natureza. Por isso, não constituem um terceiro grau de jurisdição, em que se busca um rejulgamento por meio de uma nova avaliação dos fatos e do direito. Possuem objetivo muito claro, qual seja, a manutenção da unidade de interpretação do Direito em âmbito nacional (STF — matéria constitucional; STJ — dispositivo de lei federal). Como se trata de recursos excepcionais, a consequência é apenas natural à conclusão de que nem todas as demandas estão aptas a subirem para os tribunais superiores. Para que a demanda faça jus a uma nova apreciação em sede especial ou extraordinária, uma série de circunstâncias especiais devem ser demonstradas para que ultrapassem as diversas barreiras existentes dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Ambos os recursos devem respeitar o prazo geral estabelecido pelo Código de Processo Civil, ou seja, devem ser interpostos em até 15 dias úteis. Sempre devem ser direcionados à presidência ou à vice-presidência do tribunal de onde se origina a decisão impugnada (art. 1.029, CPC). Na petição recursal, devem constar: A exposição do fato e do direito. A demonstração do cabimento do recurso. As razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisãorecorrida. Após o recebimento da petição do Recurso Especial ou Extraordinário, será a parte recorrida intimada para também em 15 dias apresentar contrarrazões (art. 1.030, CPC). Cumpridas tais etapas, no art. 1.030, em seus incisos, são apresentadas diferentes possibilidades as quais podem estar submetidos os Recursos Extraordinário e/ou Especial, quais sejam: I – NEGAR SEGUIMENTO a) Negar seguimento a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral; b) Negar seguimento a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos. II – ENCAMINHAR O PROCESSO Encaminhar o processo ao órgão julgador para a realização do juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos. III – SOBRESTAR O RECURSO Sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional. IV – SELECIONAR O RECURSO Selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036. V – REALIZAR O JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE Realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos; b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação. Como se vê, o destino do recurso interposto pode ser uma das hipóteses acima numeradas, todas dependendo da profundidade do recurso, da matéria debatida e do preenchimento dos requisitos a eles estabelecidos. Trata-se da primeira etapa do juízo de admissibilidade, realizada pelo tribunal de origem (Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal). Caso admitido o recurso na Corte a quo, novo exame, agora definitivo, sobre a admissibilidade, será realizado nas Cortes extraordinárias. Isso demonstra que o juízo de admissibilidade realizado pelo tribunal de origem não possui efeito vinculante, pois pode ser revisado pelo tribunal superior. Trata-se de raro caso de duplo juízo de admissibilidade por tribunais diferentes. Contudo, uma vez não seja o recurso destinado a subir aos tribunais superiores, pois inadmitido no Tribunal de Justiça Estadual ou no Tribunal Regional Federal, ainda é possível apresentar inconformidade quanto a tal ponto. Caso o recurso não seja admitido com base no inciso V, é possível o ajuizamento de Recurso de Agravo, previsto no art. 1.042, CPC. Já das decisões proferidas com base no inciso I e III do art. 1.030, é possível ajuizamento de Agravo Interno. Na hipótese de Agravo com previsão no art. 1.042 (cuja negativa de seguimento encontra base no inciso V, art. 1.030, CPC), o recurso será remetido para apreciação dos tribunais superiores, ou seja, caberá ao próprio STJ ou STF a palavra final quanto à admissibilidade do recurso. De outro lado, nas hipóteses de Agravo Interno (incisos I e III, art. 1.030, CPC), a revisão da decisão se dará no próprio tribunal de origem. Para além de requisitos formais, os quais necessariamente devem ser atendidos, sob pena de inadmissibilidade, os próprios tribunais extraordinários consolidam determinadas circunstâncias que devem ser atendidas para análise do recurso em súmulas. Diversas delas ditam o comportamento processual necessário para que se chegue aos tribunais superiores. São as Cortes que tratam estritamente de questões de direito, não avaliando mais os fatos, os quais restam consolidados com a interpretação dada pelos juízes originários. Nessa linha, foram editadas as súmulas 7 (STJ) e 279 (STF), as quais ditam que, nos Recursos Especial e Extraordinário, não serão reavaliados os fatos, tampouco serão revisitadas as provas. Trata-se de uma consequência natural decorrente do propósito para o qual foram estabelecidos tais tribunais, qual seja, defender a estabilidade e a coerência do ordenamento. Nesse raciocínio, os tribunais superiores apenas avaliam se o direito está adequadamente aplicado, não reinterpretando ou reavaliando os fatos. Na linha das limitações à interposição dos recursos de índole extraordinária, só podem ser acionadas destacadas Cortes a partir de decisões de última ou única instância. Quer isso dizer que apenas após encerrados todos os recursos ordinários é que podem ser interpostos ou Recurso Especial ou Recurso Extraordinário. Nessa linha, estão as súmulas 281 (STF) e 207 (STJ). Não é possível um salto jurisdicional para acesso aos tribunais superiores por meio do Recurso Extraordinário ou Recurso Especial. Necessariamente, devem ser ultrapassados todos os passos jurisdicionais ordinários para que, posteriormente, seja concedido acesso a Cortes superiores. SAIBA MAIS Não necessariamente deve ser final a decisão que faz jus ao acesso a Cortes superiores. O exaurimento de recursos ordinários pode ser aplicado também às decisões interlocutórias. A decisão interlocutória, seja ela positiva ou negativa, também é capaz de gerar acesso aos tribunais extraordinários. Para que seja possível buscar os tribunais superiores em tais casos, também é necessário que não existam mais recursos possíveis nos tribunais a quo. É nesse sentido que caminha a súmula 86 do STJ, a qual expressamente estatui a possibilidade de interposição de Recurso Especial contra acórdão proferido no julgamento de agravo de instrumento. Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini (2016) bem explicam o ponto quando referem que: NÃO É PRECISO QUE A DECISÃO RECORRIDA SEJA O PRONUNCIAMENTO FINAL DO PROCESSO. NÃO SÃO APENAS AS DECISÕES COM VALOR DE SENTENÇA QUE PODEM SER ALVO DE RECURSO ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIO. TAIS RECURSOS SÃO TAMBÉM CABÍVEIS CONTRA AS DECISÕES DE CARÁTER INTERLOCUTÓRIO, DESDE QUE EXAURIDOS OS RECURSOS ORDINÁRIOS EM CARÁTER AMPLO. (WAMBIER; TALAMINI, 2016, p. 602) Outra barreira determinada através de súmula é a impossibilidade de interposição de Recurso Extraordinário ou Recurso Especial para mera rediscussão de cláusula contratual. As súmulas 454 (STF) e 5 (STJ) tornam inviável o acesso aos tribunais superiores apenas para que as partes discutam novamente a interpretação das cláusulas de um contrato. Diferente, no entanto, é a violação da Constituição ou de lei federal relativa à validade ou à eficácia de cláusulas contratuais. Em tais hipóteses, preenchidos os demais requisitos, é possível a admissão dos recursos excepcionais. Ambos os recursos compartilham do requisito de admissibilidade conhecido como “pré- questionamento”. Trata-se da necessidade de discussão e manifestação no acórdão recorrido da questão constitucional ou federal. Quer isso dizer, não tendo sido discutido ou referido na decisão alvo dos recursos em debate, estes não poderão ser admitidos. Constitui-se em ônus obrigatório das partes provocar previamente o debate, a fim de que se possibilite o acesso aos tribunais superiores. ATENÇÃO É necessário o efetivo enfrentamento da matéria pelo tribunal de origem para que seja considerada a questão, e, por conseguinte, apta a ser apreciada em sede de Recurso Especial e/ou Extraordinário. Não significa, no entanto, menção expressa a artigo de lei federal ou da própria Constituição, mas simdo objeto jurídico de debate. Tal requisito encontra suporte na súmula 282, do Supremo Tribunal Federal, a qual se aplica também ao Superior Tribunal de Justiça. Nessa linha: REVÊ-SE APENAS O QUE FOI EFETIVAMENTE DECIDIDO SOBRE O DIREITO FEDERAL INFRACONSTITUCIONAL OU CONSTITUCIONAL, E NÃO PROPRIAMENTE O MODO COM A DECISÃO INCIDE SOBRE A ESFERA JURÍDICA DAS PARTES. (WAMBIER; TALAMINI, 2016, p. 610) O Código de Processo Civil de 2015 trouxe importante evolução na questão do pré- questionamento, visto que tal requisito, durante largo espaço de tempo, foi utilizado como forma de barrar indevidamente recursos que atendiam aos requisitos necessários para serem apreciados em sede de jurisdição extraordinária. Foto: Shutterstock.com Materializa-se tal evolução no art. 1.025 do CPC, o qual estabelece que a oposição de Embargos de Declaração é suficiente para o pré-questionamento da matéria, ainda que, na decisão, o tribunal indevidamente deixe de se manifestar sobre a questão debatida. Trata-se de efetiva consagração da ideia de conferir preferência ao julgamento de mérito (princípio da primazia do julgamento de mérito — art. 4º, CPC), que permite a superação de vícios formais para que seja dada verdadeira e adequada prestação jurisdicional. DICA Tal referência importa a fim de que seja superada a “jurisprudência defensiva”, mecanismo que se utilizava de vícios formais para não conhecimento de recursos. Outro importante mecanismo legal que também navega a favor da primazia do julgamento de mérito é o que vem previsto no parágrafo 3º do art. 1.029, o qual determina que o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou ainda determinar sua correção, caso não o repute grave. Tal dispositivo bem adapta os recursos excepcionais a toda lógica construída ao longo do Código de Processo Civil, qual seja, dar preferência, sempre que possível, a um julgamento que verdadeiramente solucione o conflito, ou seja, um julgamento de mérito, evitando assim decisões de caráter meramente processual. No entanto, a falta de pré-questionamento é considerada um vício insanável e, por sua gravidade, não pode ser desconsiderada ou corrigida. Cabe ainda referir que tanto Recurso Especial quanto Recurso Extraordinário possuem, naturalmente, efeito devolutivo. Trata-se de condição natural e intrínseca a qualquer recurso, vez que seu objetivo, por natureza, é devolver a matéria para reapreciação. É claro que a devolução no caso dos recursos de caráter extraordinário se limita à questão da violação constitucional ou à violação de lei federal. Não serão devolvidos, efetivamente, os fatos, os quais, como já dito, não serão reavaliados. Circunstância diversa se dá no que toca ao efeito suspensivo, uma vez que tanto o Recurso Extraordinário quanto o Recurso Especial não têm, em seu conteúdo, efeito suspensivo automático. Consequência direta de tal circunstância é a possibilidade da execução provisória do direito reconhecido até aquele momento pelo vencedor. Contudo, a inexistência de efeito suspensivo automático não significa que a tais recursos não possa ser agregado tal efeito. É absolutamente possível conferir aos recursos excepcionais o efeito suspensivo por meio da técnica da tutela provisória. Tal hipótese se extrai da regra geral presente no parágrafo único do art. 995, CPC, a qual expressamente dita que: “A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se dá imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso”. Ainda, o pedido de concessão de efeito suspensivo encontra respaldo legal no art. 1029, parágrafo 5º, o qual determina para quem deverá ser dirigido tal pleito a depender do momento do pedido: I — AO TRIBUNAL SUPERIOR RESPECTIVO No período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo. II — AO RELATOR Se já distribuído o recurso. III — AO PRESIDENTE OU AO VICE-PRESIDENTE DO TRIBUNAL RECORRIDO No período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037. Importa observar o momento do pedido, uma vez que deverá ser dirigido a diferentes autoridades judiciárias. É possível que seja dirigido o pedido de tutela provisória, tanto ao tribunal de origem quanto ao próprio tribunal superior. De todo modo, em qualquer das hipóteses previstas no art. 1029, parágrafo 5º, faz-se necessário o preenchimento dos requisitos específicos para concessão da tutela provisória, previstos no art. 300, CPC, quais sejam, a probabilidade do direito, bem como o risco ao resultado útil do processo. SAIBA MAIS Há uma exceção quanto à existência de efeito suspensivo automático nos recursos superiores: quando os Recursos Extraordinário ou Especial são interpostos contra decisão que julga incidente de resolução de demandas repetitivas, caso que, excepcionalmente, será conferido o efeito suspensivo automático (art. 987, parágrafo 1º). Por fim, três questões procedimentais ainda pendem de esclarecimento. Imagem: stock.adobe.com A primeira refere-se à possibilidade de apresentação de Recurso Especial Adesivo, bem como Recurso Extraordinário Adesivo. Imagem: stock.adobe.com A segunda refere-se ao preparo do Recurso Especial e do Recurso Extraordinário. Ambos os recursos necessitam do pagamento das custas como requisito de admissibilidade, sob pena de reconhecimento de sua deserção. O recolhimento do preparo deve ocorrer no tribunal de origem dentro do prazo de interposição do recurso, nos termos do art. 1.007, do Código de Processo Civil. Não feito o preparo ou sendo esse insuficiente, terá a parte, na pessoa de seu advogado, a possibilidade de complementar o pagamento no prazo de 05 dias, conforme dicção expressa do parágrafo 2º do art. 1.007, CPC. Imagem: stock.adobe.com A terceira refere-se à necessidade de interposição simultânea do Recurso Extraordinário e do Recurso Especial. A questão importa, vez que, não raro, a decisão recorrida possui fundamento constitucional e, também, de lei federal. Neste caso, os dois recursos devem ser ajuizados, pois, como diz o enunciado 126 do STJ, “é inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário”. No entanto, nas hipóteses em que há a necessidade de ajuizamento de ambos os recursos, isso não quer dizer que devam ser interpostos simultaneamente, uma vez que não há exigência legal que dite tal comportamento. Portanto, há possibilidade de ajuizamento de um e depois o outro, desde que respeitado o prazo de 15 dias úteis, comum aos dois recursos. De tal afirmação, decorre logicamente a conclusão de que devem ser apresentados em petições autônomas. SOBRE O RECURSO EXTRAORDINÁRIO Ainda que Recurso Extraordinário e Recurso Especial compartilhem, como visto, diversos requisitos de admissibilidade, bem como questões procedimentais em comum, é certo também que cada qual possui suas particularidades, as quais merecem e devem ser exploradas. Será cabível Recurso Extraordinário de decisão de última ou única instância em que exista a violação da Constituição Federal, conforme preceitua o art. 102, III, a. Trata-se da hipótese mais comum de Recurso Extraordinário. ATENÇÃO É necessário referir que a violação à Constituição que possibilita o ajuizamento de Recurso Extraordinário é a contrariedade direta. Não se admite, portanto, interposição de Recurso Extraordinário quando a ofensa for considerada reflexa. Quer isso dizer que o texto constitucional deve ser vilipendiado de forma frontal. Nessa linha,cabe ainda referir o quanto dispõe o art. 1.033 do Código de Processo Civil, que se refere à possibilidade de envio do Recurso Extraordinário ao Superior Tribunal de Justiça para que seja apreciado como Recurso Especial, caso seja considerada a ofensa constitucional como reflexa. Isso importa em permitir melhor aproveitamento do ato, consagrando a ideia de primazia de julgamento do mérito, na linha do princípio da fungibilidade. Caso se apresente tal hipótese, caberá ao relator determinar a intimação do recorrente para que proceda as necessárias adequações ao recurso para que possa, então, ser apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça. Ao Recurso Especial, é conferida semelhante possibilidade, no art. 1.032, a qual será tratada em ponto próprio. Contudo, a possibilidade de ajuizamento de RE não se limita a tal hipótese ao quanto estabelecido na alínea a. Vejamos outras hipóteses: HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 102, III, B, DA CF O art. 102, III, b, determina ser cabível a apresentação de Recurso Extraordinário quando houver a declaração de inconstitucionalidade de lei federal. A hipótese de cabimento é relativamente simples e não requer maior aprofundamento. Basta que o pronunciamento judicial de última ou única instância declare a lei federal como inconstitucional que estará aberta a possibilidade de interposição do Recurso Extraordinário, transportando ao Supremo Tribunal Federal a responsabilidade de chancelar ou corrigir a decisão, através da decisão que vier a proferir dentro do Recurso. HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 102, III, C, DA CF A seguinte hipótese de cabimento de Recurso Extraordinário encontra previsão no art. 102, III, c, da CF. Estipula o dispositivo que há possibilidade de interposição de Recurso Extraordinário quando a decisão de última ou única instância julga válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição. Ou seja, existindo decisão que afirme, positivamente, a constitucionalidade da lei ou ato do governo local, cabível é o recurso, a fim de que a interpretação dada pelo tribunal ordinário seja confirmada ou reinterpretada pelo Supremo Tribunal Federal. HIPÓTESE PREVISTA NA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº45/2004 Por fim, há a hipótese mais recente, trazida pela Emenda Constitucional nº 45/2004, constante na alínea d, do inciso III, art. 102, da CF. Quando a decisão de última ou única instância julgar válida lei local contestada em face de lei federal, há a possibilidade de ajuizamento do Recurso Extraordinário. Ou seja, quando o tribunal afirma que a lei local é válida em contraste à lei federal, o tribunal apto a definitivamente encerrar o debate será o Supremo Tribunal Federal ao apreciar eventual Recurso Extraordinário. Vale lembrar que a Constituição nesse ponto foi alterada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, como referido, para que fosse cabível o Recurso Extraordinário e não o Especial, o que, em primeiro momento, poderia saltar aos olhos como típico caso de Recurso Especial. Isso porque, ao debater lei federal, a questão de fundo é a distribuição constitucional de competência para atividade legislativa. Nessa linha, temos que: SE A LEI LOCAL ESTÁ SENDO CONTESTADA EM FACE DA LEI FEDERAL, É PORQUE SE SUSTENTA QUE ELA TRATOU DE MATÉRIA QUE, POR DETERMINAÇÃO CONSTITUCIONAL, HAVERIA DE SER DISCIPLINADA PELO LEGISLADOR FEDERAL. (WAMBIER; TALAMINI, 2016, p. 605) A REPERCUSSÃO GERAL COMO REQUISITO ESPECÍFICO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO A Emenda Constitucional nº 45/2004 não apenas acrescentou nova hipótese de cabimento de Recurso Extraordinário, como também trouxe um novo requisito de admissibilidade a ser preenchido pelo recorrente. Trata-se da denominada repercussão geral, que encontra previsão expressa no parágrafo 3º, do art. 102 da Constituição Federal. O tema também encontra tratamento infraconstitucional, especificamente, dentro do Código de Processo Civil, no art. 1.035. RESUMINDO Em linhas gerais, a repercussão geral é requisito que determina que, para conhecimento e apreciação do Recurso Extraordinário, é necessário que se demonstre que existem questões econômicas, políticas, sociais ou jurídicas que ultrapassem os interesses subjetivos do processo em si (parágrafo 1º do art. 1.035), ou seja, que se caracterize como mais abrangente que o simples interesse da parte. Para que seja possível interpor o Recurso Extraordinário, é necessário superar o princípio egoístico do interesse próprio, é necessário que haja alguma relevância para além daquilo que é discutido concretamente naquele processo específico. Nessa linha, uma vez não demonstrado que no processo existem questões relevantes para além do debate interpartes, não será reconhecida a repercussão geral e o Recurso Extraordinário não superará barreira necessária para sua apreciação e julgamento. Em algumas circunstâncias, a própria lei conhece a existência de repercussão geral, ou seja, há verdadeira presunção legal de repercussão geral. EXEMPLO Constitui exemplo de tal circunstância hipótese prevista no 1.035, parágrafo 3º, I – quando acórdão recorrido contrariar súmula ou jurisprudência dominante do STF ou II – quando tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal nos termos do art. 97 da CF (somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público). A petição de Recurso Extraordinário deve conter parte específica que trate sobre o tema, sob pena de não ser admitido pela ausência de requisito essencial. Vale lembrar, igualmente, que a análise da existência de repercussão geral é de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, conforme dicção do art. 1.035, parágrafo 2º. Portanto, não cabe ao presidente ou ao vice-presidente do Tribunal de origem se manifestar sobre a existência ou não de tal requisito. Uma vez reconhecida a repercussão geral, todos os processos que tenham a mesma questão de direito serão suspensos por determinação do relator da demanda em que existiu tal reconhecimento (parágrafo 5º, art. 1.035). ATENÇÃO A negativa de existência de repercussão geral só pode ocorrer por 2/3 dos integrantes do STF, ou seja, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal. Não pode apenas o relator ou mesmo a turma inadmitir o Recurso Extraordinário pela inexistência de repercussão geral. No entanto, havendo manifestação do Plenário no sentido de inexistência da referida repercussão, em assim sendo, tal decisão será exportada a todos os demais processos que foram sobrestados na origem e que serão indeferidos de forma liminar. Claro, tal entendimento se aplica apenas àqueles casos considerados idênticos. O reconhecimento da repercussão geral, no entanto, prescinde de apreciação do Plenário. A turma a qual foi distribuído o Recurso Extraordinário pode conhecer do recurso por reputar presente o requisito, contanto que haja um mínimo de quatro votos favoráveis ao conhecimento da inconformidade extraordinária. DICA É possível a admissão do amicus curiae naqueles casos em que há análise de repercussão geral. Tal possibilidade se justifica uma vez que a questão pode, efetivamente, ultrapassar o interesse subjetivo do processo, tendo repercussões mais amplas, razão pela qual é absolutamente razoável permitir a intervenção do chamado “amigo da corte”, para que traga, de forma justificada, seu conhecimento à lide, permitindo maior e melhor compreensão da controvérsia. Os casos sobrestados pela repercussão geral, em tese, possuem o prazo de um ano para serem julgados. No entanto, trata-se de prazo impróprio, não havendo qualquer preclusão decorrente do descumprimento de referido prazo. SOBRE O RECURSO ESPECIAL Outra espécie do gênero dos recursos de índole extraordinária é o Recurso Especial. Cabe ao Superior Tribunal de Justiça a apreciação de tal recurso, sempre decorrente de decisão de última ou única instância dos Tribunais Regionais Federais oudos Tribunais de Justiça dos Estados. As hipóteses de cabimento do Recurso Especial estão previstas no art. 105, III, da Constituição Federal, nas alíneas a, b e c. HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 105, III, A, DA CF A hipótese mais comum de interposição de Recuso Especial encontra-se, efetivamente, na destacada alínea a, do art. 105, III, CF. Trata-se de cenário em que há contrariedade ou negativa de vigência a tratado ou lei federal. Verdadeiramente, negar vigência significa deixar de aplicar, enquanto contrariar significa mal interpretar ou mal aplicar. Quando uma das duas circunstâncias acima ocorrer pelo Tribunal originário, a porta estará aberta para a interposição de Recurso Especial. É de se destacar que o próprio STJ lançou o enunciado 518, no qual determina não dar azo ao ajuizamento de Recurso Especial, alegação de violação ao enunciado de súmula. Traduz-se tal entendimento da seguinte forma: se a decisão contrariar texto de súmula, não basta a parte demonstrar que o acórdão deixou de aplicar o quanto previsto em súmula, mas sim terá de demostrar concretamente que o acórdão, ao deixar de aplicar a súmula, violou tratado ou lei federal. Apenas assim é que encontrará espaço para ver-se admitido o Recurso Especial. HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 105, III, B, DA CF Hipótese diversa é encontrada na alínea b, pois é possível a interposição de Recurso Especial quando julgar-se válido ato de governo local contestado em face de lei federal. Não há de se confundir a situação aqui presente com aquela prevista no art. 102, III, d. Isso porque a questão aqui debatida é a mera legalidade do ato do governo frente à lei federal, se há contrariedade ou não à lei federal. HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 102, III, C, DA CF Por fim, a última hipótese de cabimento de Recurso Especial é a prevista na alínea c do art. 102, III. Refere mencionado dispositivo que cabe Recurso Especial, quando a decisão der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Neste particular, algumas importantes considerações não podem deixar de ser referidas. A divergência que dá azo à interposição do Recurso Especial é a divergência entre tribunais distintos, não divergência interna. Ou seja, se há entendimentos dissonantes em um mesmo tribunal, tal situação, como regra, não autorizará o ajuizamento da inconformidade (súmula 13, STJ). De outro lado, se tal divergência se der entre tribunais estaduais ou federais diversos, em tal situação restará caracterizada a incidência do quanto previsto na alínea c. Também se aplica a alínea c, autorizando-se a interposição de Recurso Especial quando existir divergência jurisprudencial entre um tribunal estadual/federal com o próprio STJ. ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 Deve ser realizado o cotejo analítico entre as decisões divergentes, demonstrando-se, concretamente, onde está contida a divergência de entendimento para que o Superior Tribunal de Justiça possa, então, cumprir com sua precípua função de manter uníssono e coerente o entendimento jurisprudencial pátrio. Ademais, ainda que evidente, vale destacar que cabe à parte demonstrar que o entendimento que está equivocado é aquele do qual está recorrendo, demonstrando ser o julgado do outro tribunal o que adequadamente interpretou o direito. Os casos que devem ser trazidos para o cotejo devem ser iguais ou análogos, permitindo, assim, um tratamento isonômico das situações. O art. 1.029, parágrafo 1º do CPC, destaca como se dará a comprovação do dissídio, cabendo ao recorrente trazer a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado. Inclusive, em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. Ainda cabe destacar a incidência do princípio da fungibilidade no que tange aos Recursos Especial e Extraordinário. Tal possibilidade encontra expressa previsão no art. 1.032 do Código de Processo Civil, o qual dispõe ser possível a conversão do Recurso Especial que versa sobre questão constitucional em Recurso Extraordinário. Tal hipótese melhor atende à ideia de preservação dos atos processuais, bem como caminha ao encontro da ideia da primazia de julgamento do mérito e do princípio da cooperação. Caso o relator entenda que o Recurso Especial de fato verse sobre questão constitucional, concederá o prazo de 15 dias para que o recorrente logre demonstrar a existência de repercussão geral e expressamente fale sobre o tema constitucional. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE O RECURSO EXTRAORDINÁRIO, É CORRETO AFIRMAR: A) Trata-se de Recurso cuja previsão de existência está somente no Código de Processo Civil. B) Para o ajuizamento do Recurso Extraordinário, não há necessidade do recolhimento de custas. C) O Recurso Extraordinário, em regra, não possui efeito suspensivo. D) O não reconhecimento da repercussão geral pode ser realizada pelo tribunal a quo. E) A admissibilidade do Recurso Extraordinário é realizada de modo definitivo pelo tribunal a quo. 2. SOBRE O RECURSO ESPECIAL, É CORRETO AFIRMAR: A) O Recurso Especial, diferentemente do Recurso Extraordinário, está apto a reavaliar os fatos, conforme refere a súmula 7 do STJ. B) O Recurso Especial pode ser ajuizado por dissídio jurisprudencial, desde que tal divergência venha de tribunais diferentes. C) Em nenhuma hipótese o Recurso Extraordinário pode ser recebido como Recurso Especial. D) O Recurso Especial pode ser ajuizado per saltum, ou seja, diretamente de uma sentença de primeiro grau. E) Para demonstração do dissídio jurisprudência, é suficiente a transcrição das ementas do acórdão paradigma e do acórdão recorrido. GABARITO 1. Sobre o Recurso Extraordinário, é correto afirmar: A alternativa "C " está correta. Por se tratar de um recurso de índole extraordinário, no qual não há mais debate sobre os fatos, nem mesmo sobre as provas, para que exista efeito suspensivo, é necessário, como regra, demonstrar a necessidade da concessão de tal efeito, com o preenchimento dos requisitos da probabilidade do direito e do perigo de dano. 2. Sobre o Recurso Especial, é correto afirmar: A alternativa "B " está correta. Sendo o STJ o tribunal responsável pela manutenção da unidade, da coerência e da estabilidade da jurisprudência dentro do ordenamento jurídico brasileiro, sempre que existir entendimentos distintos por tribunais diferentes de assuntos semelhantes, cabe ao Superior Tribunal de Justiça unificar o entendimento, solucionando a divergência e ditando as linhas a serem seguidas naquele caso. MÓDULO 3 Identificar o procedimento dos Embargos de Divergência CABIMENTO EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA O especialista Guilherme Porto fala sobre o cabimento dos Embargos de Divergência, tratando, inclusive, do que é a divergência. Os Embargos de Divergência, diferentemente dos Recursos Especial e Extraordinário, encontram fundamento exclusivamente dentro do Código de Processo Civil, não decorrendo inicialmente de ditames constitucionais. Primeiramente, é previsto como recurso no art. 994, IX, do CPC. Posteriormente, possui maiores especificações nos art. 1.043 e 1.044 do referido diploma processual. Os Embargos de Divergência cumprem papel de singular importância dentro do ordenamento jurídico brasileiro, especialmente em um contexto em que há um dever de manutenção de integridade e coerência da jurisprudência. Tal afirmação se dá dentro de uma conjuntura específica, qual seja, de que os Embargos de Divergência são de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, não cabendo sua oposição em qualquer outro tribunal estadual ou Tribunal Regional Federal. Têm função exclusiva de uniformizar a jurisprudência interna dessas Cortes, buscando terminar com qualquer divergência quepossa existir. RELEMBRANDO Novamente, cabe lembrar que tais tribunais têm como uma de suas principais missões prezar pela segurança jurídica, trazer maior previsibilidade e estabilidade ao ordenamento jurídico, especialmente, através da consolidação de entendimento de modo vertical, ou seja, dos tribunais superiores para os demais. Tal objetivo vê sua concretização com a unidade da jurisprudência. A previsão dos Embargos de Divergência, como já referido, encontra positivação no art. 1.043, do Código de Processo Civil, com duas hipóteses possíveis: HIPÓTESE I Em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito. HIPÓTESE II Em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia. Para que sejam cabíveis os Embargos de Divergência, é necessário que exista uma dissonância entre uma decisão colegiada proferida pela turma do Supremo Tribunal Federal (em caso de Recurso Extraordinário) ou turma ou seção do Superior Tribunal de Justiça (em caso de Recurso Especial) e uma decisão conflitante proferida anteriormente por alguma dessas Cortes. Importa destacar que a divergência deve ser interna corporis, ou seja, dentro do mesmo Tribunal. Claro, os embargos só podem ser opostos contra um acórdão que tenha julgado Recurso Extraordinário ou Recurso Especial. ATENÇÃO Não cabem Embargos de Divergência de uma decisão unipessoal (monocrática), devendo sempre decorrer do órgão colegiado. Como regra, os Embargos de Divergência são cabíveis quando a decisão paradigma decorreu de turma ou seção diversa de onde foi proferido o acórdão recorrido. Contudo, sobre o tema, há exceção prevista no sistema processual. Tal excepcionalidade encontra sustentação no parágrafo 3º do art. 1.043, o qual destaca que os embargos poderão ser opostos em relação a acórdão proferido pela mesma turma, se sua composição tiver sido alterada em pelo menos metade de seus integrantes. A exceção faz sentido, uma vez que a mudança de grande número de componentes, não raro, acaba por alterar o entendimento do órgão jurisdicional. Tais questões são bem explicitadas por Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha (2016). Dizem os destacados autores que: OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA CABEM QUANDO A DECISÃO DA TURMA ESTIVER DIVERGINDO DA DECISÃO TOMADA POR OUTRA TURMA (OU DA MESMA, NO CASO E ALTERAÇÃO DE MAIS DA METADE DE SUA COMPOSIÇÃO), POR SEÇÃO OU PELA CORTE ESPECIAL, OU QUANDO A DECISÃO DA SEÇÃO ESTIVER DIVERGINDO DA DECISÃO TOMADA POR OUTRA SEÇÃO OU PELA CORTE ESPECIAL (NO CASO DO STJ) OU QUANDO A DECISÃO DA TURMA ESTIVER DIVERGINDO DA OUTRA TURMA (OU DA MESMA, NO CASO DE ALTERAÇÃO DE MAIS DA METADE DE SUA COMPOSIÇÃO) OU DO PLENÁRIO (NO CASO DO STF). NO ÂMBITO DO STJ, SE A DECISÃO DA TURMA ESTIVER DIVERGINDO DE OUTRA TURMA QUE INTEGRA A MESMA SEÇÃO, OU ESTIVER DIVERGINDO DA PRÓPRIA SEÇÃO, ESTA É QUE IRÁ JULGAR OS EMBARGOS. SE A DIVERGÊNCIA FOR COM A TURMA QUE INTEGRE OUTRA SEÇÃO, OU COM DECISÃO PROFERIDA POR OUTRA SEÇÃO OU PELA CORTE ESPECIAL, CABE A ESTA (CORTE ESPECIAL) JULGAR OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA; SE A DECISÃO DA SEÇÃO DIVERGIR DE OUTRA SEÇÃO OU DA CORTE ESPECIAL, SERÁ ESTA A JULGAR OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. NO ÂMBITO DO STF, AO PLENÁRIO COMPETE JULGAR OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA, ESTEJA A TURMA DIVERGINDO DA OUTRA TURMA, DELA MESMA OU DO PRÓPRIO PLENÁRIO. (DIDIER JR.; CARNEIRO DA CUNHA, 2016, p. 390) DEMONSTRAÇÃO DE DIVERGÊNCIA Para que seja aceito o comentado recurso, cabe ao embargante demonstrar a existência de uma divergência atual, ou seja, não pode ser uma dissonância de entendimento já superada. Nessa linha, estão as súmulas 168, do STJ (não cabem Embargos de Divergência quando a jurisprudência do tribunal se firmou no mesmo sentido do acordão embargado) e 247 do STF (o relator não admitirá os embargos da Lei nº 623, de 19 de fevereiro de 1949, nem deles conhecerá o Supremo Tribunal Federal quando houver jurisprudência firme do Plenário no mesmo sentido da decisão embargada). Sobre os requisitos para ajuizamento de tal inconformidade, Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha (2016) novamente sintetizam aquilo que até aqui foi relatado: EM RESUMO, PARA QUE CAIBAM OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA, É PRECISO QUE: A) TENHA HAVIDO DECISÃO COLEGIADA (ACÓRDÃO), NÃO SENDO POSSÍVEL INTERPOR EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA CONTRA DECISÃO ISOLADA DO RELATOR; B) O ACÓRDÃO TENHA SIDO PROFERIDO POR ÓRGÃO FRACIONÁRIO – TURMA DO STF E TURMA OU SEÇÃO NO STJ; C) ESSE ACÓRDÃO TENHA DECIDIDO UM RECURSO ESPECIAL OU UM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. (DIDIER JR.; CARNEIRO DA CUNHA, 2016, p. 388) É de se destacar, ainda, que a divergência não necessariamente deve dizer respeito ao mérito da disputa. É possível a oposição de Embargos de Divergência por divergência de cunho processual (essa é a previsão expressa do parágrafo 2º do art. 1.043). No caso de os Embargos de Divergência decorrerem de uma questão processual, não há necessidade de o mérito ser correlato entre os casos cotejados, mas apenas à questão processual que deve guardar similaridade entre si (a qual deve ser analiticamente demonstrada). Contudo, sendo o conflito de entendimento decorrente do mérito, há de se demonstrar a semelhança fática entre os casos. Isso importa em dizer que há necessidade do cotejo analítico entre as demandas para que seja possível a oposição dos Embargos de Divergência. Assim como na hipótese do art. 105, III, c, em que há necessidade de cotejo analítico para conhecimento do Recurso Especial com base no dissídio jurisprudencial, o mesmo requisito aplica-se aos Embargos de Divergência. Trata-se de uma lógica sistemática natural, uma vez que, se a parte busca demonstrar incoerência interna, demonstrando que, em casos semelhantes, ocorreram decisões conflitantes, é necessário que tal conflito seja concretamente demonstrado. Na linha da necessidade de cotejo analítico entre acórdão paradigma e acórdão recorrido, importa referir que não é suficiente a mera transcrição de ementas. O parágrafo 4º do art. 1.043 determina expressamente que o recorrente deverá mencionar as circunstâncias que assemelham ou identificam os casos confrontados. Isso porque, não raro, as ementas não refletem adequadamente todos os detalhes do caso, sendo insuficiente sua mera transcrição, como regra. ASPECTOS PROCEDIMENTAIS Sobre o procedimento, ainda cabe tecer alguns esclarecimentos de cunho prático. Os Embargos de Divergência seguem a regra geral dos prazos, sendo de 15 dias úteis o tempo para sua interposição. Idêntico é o prazo para apresentação das contrarrazões. Particularidade que merece destaque diz respeito à resposta aos embargos. Usualmente, as partes são intimadas para apresentar resposta ao recurso imediatamente após sua interposição. Tal regra, no entanto, não se aplica aos Embargos de Divergência. O referido recurso segue regramento próprio neste particular, devendo, antes da intimação da parte para apresentar contrarrazões, ocorrer o sorteio do relator. E o relator observará se os requisitos para admissibilidade estão presentes. Caso entenda pela inadmissibilidade do recurso, será possível o ajuizamento de Agravo Interno para que o colegiado traga nova apreciação sobre a inconformidade. Assim como os recursos de índole extraordinária (Recurso Especial e Recurso Extraordinário), os Embargos de Divergência não possuem efeito suspensivo automático, no entanto, a concessão de tal efeito pode ser conferida se demonstrada a probabilidade do direito (no caso, de provimento do recurso) e se, igualmente, for demonstrado o risco de dano de difícil reparação. O caput do art. 1.044 do Código de Processo Civil estabelece que “no recurso de embargos de divergência, será observado o procedimento estabelecido no regimentointerno do respectivo tribunal superior”. Assim, no Superior Tribunal de Justiça, os Embargos de Divergência encontram positivação nos art. 266 e 267 de seu regimento interno. Já a disciplina dos embargos, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, está hoje disposta nos arts. 330 a 336 de seu regramento interno. Por fim, cabe ainda referir que a oposição de Embargos de Divergência no Superior Tribunal de Justiça suspende o prazo para interposição de Recurso Extraordinário, conforme clara dicção do parágrafo 1º do art. 1.044 do Código de Processo Civil. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA, QUAL A ASSERTIVA CORRETA? A) Os Embargos de Divergência podem ser ajuizados nos Tribunais de Justiça Estaduais e nos Tribunais Regionais Federais. B) Os Embargos de Divergência possuem previsão constitucional. C) Os Embargos de Divergência são recursos que visam compatibilizar a jurisprudência do STJ com a do STF. D) O objetivo dos Embargos de Divergência é uniformizar a jurisprudência dentro dos próprios tribunais superiores quando seus órgãos colegiados possuem entendimentos diferentes. E) São cabíveis Embargos de Divergência de decisões monocráticas. 2. SOBRE OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Após o ajuizamento dos Embargos, a parte contrária será imediatamente intimada para apresentar contrarrazões. B) Os Embargos de Divergência possuem efeito suspensivo automático. C) Os Embargos de Divergência podem tratar apenas de tema processual. D) Não há necessidade de realização do cotejo analítico entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma. E) Nos Embargos Divergentes que tratam de questão unicamente processual, o mérito do acórdão paradigma e do acórdão recorrido necessitam ser correlatos. GABARITO 1. Sobre os Embargos de Divergência, qual a assertiva correta? A alternativa "D " está correta. Os Embargos de Divergência têm como precípua missão acabar com divergências internas dentro dos tribunais superiores, uma vez que não podem tais Cortes, que determinam o entendimento federal e constitucional, terem divergências internas sobre questões idênticas. 2. Sobre os Embargos de Divergência, assinale a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. O Código de Processo Civil estabelece em seu art. 1.043 que os Embargos de Divergência podem tratar de tema exclusivamente processual. Isso se dá porque as turmas ou seção dos tribunais superiores podem possuir entendimentos diversos a respeito de determinados temas de caráter exclusivamente processual, sendo necessário unificar também tal compreensão. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Após delineados os pontos fundamentais dos recursos aos tribunais superiores, estamos em condições de afirmar quais são o cabimento e os requisitos para interposição de: Recurso Especial, Recurso Extraordinário, Recurso Ordinário Constitucional e Embargos de Divergência. O acesso aos tribunais superiores, sobretudo no caso dos Recursos Especial e Extraordinário, envolve diversos requisitos de admissibilidade que, muitas vezes, não estão previstos expressamente no ordenamento jurídico. É preciso ter muita atenção na oferta dos recursos a tais Cortes, como forma de exercer a garantia do acesso à jurisdição dos tribunais superiores a fim de se concretizar os direitos fundamentais dos jurisdicionados. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS CANOTILHO, J. J. G.; MENDES, G. F.; SARLET I. W.; STRECK, L. L.; LEONCY, L. F. (coordenadores). Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. DIDIER JR., F.; CARNEIRO DA CUNHA, L. Curso de Direito Processual Civil. v. 3. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2016. MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Código de Processo Civil Comentado. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. WAMBIER, L. R.; TALAMINI, E. Curso Avançado de Processo Civil. v. 2. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. EXPLORE+ Para maior aprofundamento na matéria de recursos aos tribunais superiores, leia: RODRIGUES, M. A. Manual dos recursos: ação rescisória e reclamação. 1. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. MARINONI, L. G.; MITIDIERO, D. Recurso Extraordinário e Recurso Especial. Do Jus Litigatoris ao Jus Constitutionis. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2019. CONTEUDISTA Guilherme Athayde Porto
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