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Origem e evolução histórica dos atos de empresa e do direito empresarial ou Pequeno empresário: microempreendedor, microempresa, empresa de pequeno porte EIRELI. A história do comercio é muito antiga e seu inicio teve registro na Idade Antiga, como por exemplo, os fenícios. Em Roma existiam algumas regras para o comercio, porém não se pode considerar um direito comercial, pois essas regras faziam parte do direito privado, ou seja, comum. A primeira fase do direito comercial surge com as cidades e o fortalecimento do comércio marítimo. Na Idade Média o poder se concentrava nas mãos da nobreza que aplicava regras gerias a todos. Na mesma época o direito canônico ganhava força e era totalmente contra o lucro, não atendendo os anseios da classe burguesa. Os comerciantes então tiveram que se organizar para criar suas próprias regras, seu próprio direito que foi surgindo com a própria atividade comercial. Nessa época surgem as corporações que ganham certa autonomia com a nobreza feudal. Cada corporação tinha seus costumes e não existia a participação do estado. Começam então a surgir os primeiros institutos jurídicos, como os títulos de crédito (letra de câmbio), as sociedades (comendas), os contratos mercantis (contrato de seguro) e os bancos. Somente os membros das corporações tinham direito ao direito comercial, era um direito feito pelos comerciantes e para os comerciantes. O direito comercial transformou o direito, pois o direito comum foi modificado por um direito específico. Após esse período do Renascimento Mercantil, o comércio foi crescendo, principalmente em função das feiras e dos navegadores. Com o aumento da atividade mercantil, o direito comercial também foi sendo ampliado, abrangendo negócios realizados entre mercadores matriculados e não comerciantes. Com o passar do tempo as corporações foram perdendo o poder de regulamentar as atividades mercantis, pois os Estados estavam requerendo esse direito e as corporações foram substituídas pelo poder Estatal. Em 1804 e 1808, são editados, na França, o Código Civil e o Código Comercial agora destinado a disciplinar as relações jurídico-comerciais. Desaparece o direito comercial como direito profissional e corporativista, surgindo em seu lugar um direito comercial posto e aplicado pelo Estado. O Código Civil napoleônico era um corpo de leis que atendia os interesses da nobreza fundiária, pois estava centrado no direito de propriedade, o Código Comercial era para a burguesia comercial e industrial, valorizando a riqueza mobiliária. Com a divisão do direito privado foi necessário estabelecer um critério que limitasse as relações ocorridas no dia a dia dos cidadãos, limitasse a incidência do direito comercial. Para isso a doutrina francesa criou a teoria dos atos de comércio, que tinha como função essencial atribuir a quem praticasse os denominados atos de comércio, a qualidade de comerciante, o que era pressuposto para a aplicação das normas do Código Comercial. O direito comercial regularia as relações jurídicas que envolvessem a prática de alguns atos definidos em lei como atos de comércio. Não envolvendo a relação destes atos, seria regido peãs normas do Código Civil. A definição dos atos de comércio era atribuída ao legislador, o qual optava ou por descrever as suas características básicas, ou por enumerar, num rol de condutas típicas, que atos seriam considerados de mercancia. Antes o direito comercial era definido pela qualidade do sujeito e passa a ser definido pelo objeto. Surgiram nas doutrinas estrangeiras duas formulações sobre os atos de comércio: circulação de bens ou serviços e intermediação para troca. Em resumo a teoria da intermediação para troca foi predominante e que todos os atos de comércio possuíam uma característica em comum: a função de intermediação na efetivação da troca. Esse sistema era muito criticado, pois nunca conseguiu definir satisfatoriamente o que são atos de comércio. Existiam algumas atividades que não estavam na lista desses atos por terem sido desenvolvidas posteriormente, como a prestação de serviços e o direito não consegue acompanhar o desenvolvimento social, tecnológico etc. Outras atividades por razões históricas, políticas e até religiosas. Outro problema era a aplicação da teoria dos atos de comércio, era o referente aos chamados atos misto, ou seja, em uma atividade comercial o ato era comercial somente para o vendedor e para a outra parte o ato era civil, porém nesses casos eram aplicadas as normas Comerciais. Apesar de todos esses problemas a teoria francesa dos atos de comércio foi adotada por quase todas as codificações, inclusive a do Brasil. A insuficiência da teoria dos atos de comércio iria forçar o surgimento de outro critério, uma vez que elas não abrangiam atividades econômicas tão ou mais importantes que o comércio de bens, tais como a prestação de serviços, a agricultura, a pecuária e a negociação imobiliária. O surgimento deste novo critério somente apareceu em 1942, mas de cem anos após a edição dos códigos napoleônicos, em plena 2ª Guerra Mundial. Durante muito tempo o Brasil não possuía legislação própria, aplicando-se as leis de Portugal, as chamadas Ordenações do Reino. Após a vinda de D. João VI ao Brasil e com abertura dos portos às nações amigas o comércio aumentou, fazendo com que fosse criada a “Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação”, a qual tinha, entre outros objetivos, tornar viável a ideia de criar um direito comercial brasileiro. Em 1832, foi criada uma comissão coma a finalidade de criar um direito comercial brasileiro, então e 1834, a comissão apresentou ao Congresso um projeto de lei que, foi promulgado em 15-06-1850. Tratava-se da Lei 556, o Código Comercial brasileiro. Os códigos editados nos anos 1800, por influência da codificação napoleônica definiu o comerciante como aquele que exercia a mercancia de forma habitual, como sua profissão. O regulamento 737/1850 definiu o que era mercancia, porém as prestações de serviços, negociação imobiliária e atividades rurais foram esquecidas. Em 1875, o Regulamento 737 foi revogado, mas o rol enumerativo dos atos de comércio continuou sendo levado em conta. Outros dispositivos legais, tais como, letras de câmbio e notas promissórias, também definiam os chamados atos de comércio no Brasil. O caminho para uma tentativa de conceituação dos atos de comércio foi extremamente tortuoso. No Brasil os atos de comércio era dividido em três classes: atos de comércio por natureza, que compreendiam as atividades típicas de mercancia, como a compra e venda, as operações cambiais, a atividade bancária; atos de comércio por dependência ou conexão, que compreendiam os atos que facilitavam ou auxiliavam a mercancia propriamente dita e atos de comércio por força ou autoridade de lei. A doutrina brasileira também não conseguiu atribuir um conceito aos atos de comércio. “problema insolúvel para a doutrina, martírio para o legislador, enigma para a jurisprudência”. Brasílio Machado. Após 1942 é que o direito comercial entra na terceira fase de sua etapa evolutiva, superando o conceito de mercantilidade e adotando o critério da empresarialidade. O que define a autonomia e a independência de um direito é o fato de ele possuir características, institutos e princípios próprios. Se a unificação foi conseguida, ela foi apenas no âmbito formal, pois ainda existia o direito comercial e o civil como disciplinas autônomas e independentes. O direito civil continua a ser um regime de direito geral de direito privado, e o direito comercial continua a ser um regime jurídico especial de direito privado. O mais importante é que o direito comercial deixou de ser, o direito do comerciante ou o direito dos atos de comércio, para ser o direito da empresa, o que abrange uma gama muito maior de relações jurídicas. A teoria daempresa faz com que o direito comercia não se ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma atividade econômica: a forma empresarial. Qualquer atividade econômica, desde que seja exercida empresarialmente, está submetida a disciplina das regras do direito empresarial. Empresa tem quatro perfis distintos quando transposto para o direito: perfil subjetivo (pessoa física ou jurídica), o empresário, perfil funcional (Atividade econômica organizacional), perfil objetivo (patrimonial), estabelecimento empresarial e o perfil corporativo (núcleo social organizado em função de um fim econômico comum). A ideia do perfil corporativo está ultrapassada, porém os dos perfis subjetivos, objetivos e funcionais se referem a três realidades distintas: o empresário, o estabelecimento empresarial e a atividade empresarial. O direito possui várias expressões para se referir à empresa nos seus perfis subjetivos (empresário) e objetivo (estabelecimento empresarial), mas não possui uma para o seu perfil funcional. Empresa é uma atividade econômica organizada. Quando quisermos fazer menção à empresa no seu perfil subjetivo, o correto é usar a expressão empresário, no seu perfil objetivo, o correto é usar a expressão estabelecimento empresarial e no seu perfil funcional, o correto é usarmos a expressão empresa. Depois da teoria dos atos de comércio e da afirmação da teoria da empresa o direito empresarial é absorvido com o sentido técnico jurídico de atividade econômica organizada. Empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada e o estabelecimento empresarial é um complexo de bens usado para o exercício de uma atividade econômica organizada. É em torno da atividade econômica organizada, que vão gravitar todos os demais conceitos fundamentais do direito empresarial. Apesar dos problemas da teoria francesa dos atos de comércio, essa teoria foi adotada pelo direito brasileiro, porém não se conseguia justificar algumas atividades econômicas e de suma importância para o mercado, como a prestação de serviço, a negociação imobiliária, a agricultura e a pecuária. A jurisprudência também não estava satisfeita com a teoria dos atos de comércio e começava a demonstrar sua simpatia com a teoria da empresa. Devido a isto, vários juízes concederam concordata a pecuaristas e garantiram a renovação compulsória de contrato de aluguel a sociedades prestadoras de serviços. A jurisprudência estava afastando o critério da mercantilidade e adotando o da empresarialidade para fundamentar suas decisões. No decorrer do tempo foram criadas legislações que se aproximavam mais da ideia da teoria da empresa, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor, pois o conceito de fornecedor é amplo, englobando tudo e qualquer exercente de atividade econômica. Também como exemplo existiu a Lei 4.137/1962, já revogada, que coibia o abuso de poder econômico no Brasil. A passagem da teoria dos atos de comércio para a teoria da empresa não foi algo que aconteceu de repente, simplesmente em razão de uma alteração legislativa. Foi o resultado de um processo lento e gradual, que se consolidou, com a entrada em vigor do Código Civil de 2002. O novo Código Civil brasileiro derrogou grande parte parte do Código Comercial, resta hoje apenas a segunda parte, relativa ao comércio marítimo. O Código Civil de 2002 trata, no seu Livro II, Título I, do “Direito de Empresa”, desaparecendo a figura do comerciante e surgindo a figura do empresário. O direito brasileiro se afasta definitivamente da teoria dos atos de comércio e incorpora a teoria da empresa ao nosso ordenamento jurídico. Não se fala mais em comerciante e sim em empresário que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Existe a necessidade de estabelecer um critério que delimite o âmbito de incidência do direito empresarial e esse critério é justamente a teoria da empresa. O Código Civil definiu apenas o conceito de empresário que é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, então, empresa é uma atividade econômica organizada com a finalidade de fazer circular ou produzir bens ou serviços. Empresa sendo algo abstrato não é sujeito de direito, sendo sim o empresário que pode ser pessoa física (empresário individual) ou pessoa jurídica (sociedade empresária). Foi a Lei 10.406/2002 que instituiu o novo Código Civil em nosso ordenamento jurídico e completou a transição do direito comercial brasileiro que abandonou a teoria francesa dos atos de comércio para adotar a teoria italiana da empresa. O Direito Comercial e a Disciplina da Atividade Econômica. Existem dois sistemas de disciplina da economia: o francês e o italiano, O sistema francês antecede ao italiano. O sistema francês surgiu em 1808 com a entrada do Code de Commerce conhecido pó Código Mercantil napoleônico. Já o sistema italiano surge depois de mais de um século, em 1942, quando é aprovado o Codice Civile. O sistema francês é a teoria dos atos de comércio, o direito comercial deixou de ser apenas o direito de uma certa categoria de profissionais, organizados em corporações próprias para se tornar a disciplina de um conjunto de atos que, poderiam ser praticados por qualquer cidadão. Existiram normatizações muito antigas, como o Código de Hammurabi, porém não existiu um conjunto de normas sobre o comércio. A partir da segunda metade do século XII, com os comerciantes e artesãos se reunindo em corporações de artes e ofícios, é que se inicia o primeiro período histórico do direito comercial. As corporações constituíam jurisdições próprias cujas decisões eram fundamentadas principalmente nos usos e costumes praticados por seus membros. Essas jurisdições eram aplicáveis apenas aos comerciantes associados à corporação. No processo de unificação nacional da Inglaterra e da França, a Inglaterra absorve a jurisdição das corporações mercantis pelos tribunais da Common Law e na França as corporações dos comerciantes, perdem competência jurisdicional para tribunais do estado nacional, mas continua a existir um direito fundado nos usos e costumes dos comerciantes e apenas aplicável a eles. O direito de tradição inglesa, não conhece distinção entre atividades comerciais e civis. O direito comercial é a transformação em disciplina jurídica aplicável a determinados atos e não a determinadas pessoas, relaciona-se não apenas com o princípio da igualdade dos cidadãos, mas também com o fortalecimento do estado nacional ante os organismos corporativos. A partir da adoção da teoria dos atos de comércio, qualquer cidadão pode exercer atividade mercantil e não apenas os aceitos em determinada associação profissional. Depois do Código napoleônico apareceram város outros códigos com menor influência, mas que deixaram sua marca: o código mercantil de 1807, o código bela de 1811, o espanhol de 1829, o português de 1833, o italiano de 1882 e os de países sul-americanos. Inicialmente os atos comerciais foram classificados em quatro categorias:compra para revenda, operações bancárias, empresas e seguros. Muitas atividades não faziam parte dos atos do comércio, por exemplo, a negociação de imóveis por que era relacionada a um caráter sacro. Em 2000, foi editado o novo Code de Commerce na França, que manteve a teoria dos atos de comércio e contemplou duas categorias: os atos de comércio pela forma e os pela natureza. Em 1942 passa a vigorar o Codice Civile que traria uma teoria para substituir a teoria dos atos de comércio. A teoria da empresa é vista como a consagração da tese da unificação do direito privado, porém essa teoria apenas desloca a fronteira entre os regimes civil e comercial. No sistema francês, excluem-se atividades de grande importância econômica,como a prestação de serviços, agricultura, pecuária, negociação imobiliária e o sistema italiano se reserva uma disciplina específica para algumas atividades de menor expressão econômica, tais como as dos profissionais liberais ou dos pequenos comerciantes. O conceito de empresa é como sendo uma atividade, e o objetivo essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de bens ou serviços gerados mediante a organização dos fatores de produção. É definido então quatro perfis na empresa: subjetivo, funcional, patrimonial (ou objetivo) e corporativo. O primeiro a empresa é vista como empresário, que exerce a atividade, o segundo é a atividade que a empresa exerce, o terceiro corresponde ao estabelecimento e o corporativo a uma instituição. Em 1808 foi decretada a Carta Régia que criou condições econômicas irreversíveis. Foram criados outros atos importantes para o comércio, como o Alvará de 1º de abril, permitindo o livre estabelecimento de fábricas e manufaturas; o de 23 de agosto, instituindo o Tribunal da Real Junta do Comercio, Agricultura, Fabrica e Navegação; e o de 12 de outubro, criando o Banco do Brasil. No Brasil após a partida de D. João VI para Portugal, com o crescimento econômico, o imperador D. Pedro II em 1850 aprovou o Código Comercial brasileiro, projeto iniciado 17 anos antes. No mesmo ano foi editado o Regulamento 737, que no seu artigo 19 define as atividades sujeitas à jurisdição dos Tribunais do Comércio. Mesmo com a extinção dos Tribunais do Comércio, em 1875 o regulamento 737 continuou em vigor. Somente após os anos 1960 é que o direito brasileiro inicia o processo de aproximação ao sistema italiano. Após várias tentativas de elaborar um código comercial separado do código civil, somente em 2002 o novo código civil entra em vigor com várias mudanças. O Código Civil define empresário como o profissional exercente de atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Exclui do conceito de empresário o exercente de atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo que conte com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se constituir o exercício da profissão elemento de empresa. O direito brasileiro não esperou a entrada em vigor do Código Civil, ele já vinha adotando a teoria da empresa. O Código de Defesa do Consumidor, de 1990, trata os fornecedores independentemente do gênero de atividade em que operam, submetendo a mesmo tratamento jurídico os empresários do ramo imobiliário, industriais, prestadores de serviços, banqueiros e comerciantes. O Código de Defesa do Consumidor, a Lei de Locações e a Lei do Registro do Comércio foram editadas sem nenhuma inspiração na teoria dos atos de comércio. Conclusão: Analisando as duas doutrinas conclui-se que o comercio é uma atividade extremamente antiga e que foi ganhando atenção no decorrer dos anos e das necessidades das pessoas. Os comerciantes lutaram pelo seu direito até que conseguiram editar normas para regular suas atividades. As diversas mudanças que ocorreram no mundo contribuíram para que a atividade comercial tivesse normas para sua realização. Mesmo após diversas mudanças e adaptações ainda não se chegou ao modelo ideal para o direito comercial. Bibliografia: Ramos, André Luiz C. Direito Empresarial Esquematizado. 4.ed. São Paulo: Ed. Método, 2014. Coelho, Fábio U.Curso de Direito Comercial. 16ª.ed. volume 1. São Paulo. Ed. Saraiva, 2012.
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