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arquitextos 069 01_ Breve introdução à Arquitetura da Escola Paulista Brutalista (1) _ vitruvius

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24/02/2022 22:32 arquitextos 069.01: Breve introdução à Arquitetura da Escola Paulista Brutalista (1) | vitruvius
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069.01 year 06, feb. 2006
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architexts ISSN 1809-6298
Breve introdução à Arquitetura da Escola Paulista
Brutalista (1)
Ruth Verde Zein
O que é, ou o que foi, a arquitetura da Escola Paulista
Brutalista? Trata-se talvez, dentro do panorama recente de
debates sobre a arquitetura brasileira moderna e
contemporânea, de um dos assuntos mais ventilados e menos
conhecidos, mais citados e menos bem estudados de que se tem
notícia. Trata-se, também, de um tema que deixou subitamente,
há cerca de uma década, de ser um assunto tabu, problemático e
enfaticamente negado por seus criadores e epígonos, para
ganhar foros de afirmação corriqueira, banalizada e vagamente
inconsistente, mas assumida também enfaticamente por uma nova
geração de arquitetos que busca se identificar com essa
arquitetura; tendo essa reviravolta ocorrido sem que nunca se
tenha chegado a claramente definir ou corretamente estudar
essa arquitetura. Em suma, crê-se vagamente saber do que é que
se trata quando se faz referência à Escola Paulista Brutalista
e, no entanto, não há quaisquer estudos amplos e sistemáticos
que a definam de maneira clara, tal situação dando vazão a
confusas, apressadas e levianas afirmações sobre o tema que
povoam publicações não acadêmicas e mesmo debates no seio das
universidades, e que pouco tem ajudado a valorizar
corretamente ou a compreender efetivamente essa arquitetura.
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Esse evidente deslize, essa superficialidade com que se aborda
o tema da arquitetura da Escola Paulista Brutalista, essa
pretensão que paira no ar de imaginá-la sabida e conhecida,
quando ela apenas foi apressadamente reduzida a ícone genérico
com data de validade indeterminada, sem jamais ter sido
seguramente verificada e definida, acentua a oportunidade e
mesmo a necessidade de abordá-la de maneira sistemática, de
reconhecê-la pelo cabedal de obras que criou e pelo conjunto
de conceitos e idéias que preferiu valorizar; e, muito
especialmente, para datá-la, inserindo-a no momento histórico
que a fundamentou e marcou, e cujas peculiaridades não
repetíveis parcialmente a justificaram – e que, não mais
vigendo, ou tendo-se alterado profundamente, obsta a que ela
possa seguir sendo considerada como plenamente vigente, embora
talvez permita que ela seja indebitamente revivida,
freqüentemente de maneira secundária e imagética.
O necessário, indispensável e ainda original – no sentido de
não ter sido ainda realizado – estudo sistemático dessa
arquitetura não pretende nem entronizar um mito, nem derrubá-
lo, mas para dar-lhe seu devido valor, superando uma visão
estagnada dessa arquitetura. Valorização que visa estabelecer
sua abrangência e seus limites, conceituais e temporais, de
maneira a escapar de uma falsa definição que vem marcando,
desde sempre e ainda, o tema: nem tudo que é paulista, nem
tudo que é de concreto, nem tudo o que foi feito naquele
momento (anos 1950-1970), nem tudo o que arroga o desejo de
filiar-se hoje em dia à lição dos mestres que a caracterizaram
é, foi ou será parte integrante da arquitetura da Escola
Paulista Brutalista, nem necessita sê-lo; e saltando à outra
ponta desse mesmo processo, tampouco se pode afirmar, sempre e
quando se estuda de maneira atenta os fatos, que tal
arquitetura e que tal escola jamais tenham existido – muito ao
contrário.
De fato, o primeiro óbice a superar quando se pretende estudar
a arquitetura da Escola Paulista Brutalista é a própria
legitimidade da afirmação de sua existência. Até porque, para
complicar exponencialmente a situação, a maioria dos autores
que poderia ter as suas obras englobadas, em algum momento
histórico, sob essa rubrica, freqüentementetende a negar mais
ou menos peremptoriamente sua eventual filiação ou
aproximação; e boa parte dos comentaristas que se debruça
sobre essas obras e esses arquitetos têm preferido até o
momento manter acesa essa intolerante negativa, em parte por
restringirem seus estudos às afirmações primárias de alguns de
seus autores, tomadas como fontes quase únicas e insuperáveis
de pesquisa – numa desesperada busca de autenticidade que
freqüentemente não se coaduna com os meros fatos à vista.
Entretanto, a pesquisa em arte – e em arquitetura também
certamente – não necessita em absoluto, nem deve ser sua
prioridade, restringir-se à opinião dos próprios artistas ou
de seus repetidores; e embora até o momento hajam predominado
as opiniões contrárias, há seguramente outras evidências a
favor de uma interpretação apoiando a existência de um
fenômeno, no seio da arquitetura brasileira, que bem pode ser
denominado de Escola Paulista Brutalista (2); e assim tais
opiniões discordantes não chegam a ser suficientes para
invalidar a priori o estudo e afirmação da existência e
importância da arquitetura da Escola Paulista Brutalista.
Mesmo assim, a atitude francamente antipática de uma parte de
seus autores e comentadores orgânicos lançou na rota de
pesquisa de quem deseja dedicar-se ao tema uma barreira de
escolhos que, de alguma maneira, é necessário remover antes
liberar e prosseguir no caminho (3).
Desde uma visão pluralista da arquitetura brasileira
Mesmo hoje, ou até muito recentemente, qualquer afirmação
colocando em questão, direta ou indiretamente, a pretensão à
existência de uma unidade formal, conceitual e histórica da
arquitetura moderna brasileira segue sendo problemática – e a
vontade de estudar, compreender e postular a relativa
autonomia da Escola Paulista Brutalista e de sua arquitetura
resulta, mesmo que assim não se deseje, em não ortodoxa, por
contrariar tal visão canônica. Mesmo levando em conta vários
estudos recentes de diferentes autores seguindo caminhos
favorecendo uma abertura contrária a essa interpretação
unicista, ainda não é tão simples nem tranqüilo postular
quaisquer tentativas em prol de uma visão pluralista da
arquitetura moderna e contemporânea brasileira.
Principalmente, quando se pretenda fazê-lo de maneira
equilibrada, ou seja: não visando em absoluto negar ou
desvalorizar a arquitetura moderna brasileira “clássica” do
período imediatamente anterior ao surgimento e afirmação da
Escola Paulista Brutalista (a primeira metade do século XX até
a inauguração de Brasília, em 1960); não pretendendo
restringir a arquitetura paulista apenas à sua tendência
brutalista; nem pretendendo (o que seria erro ainda mais
grave) imaginar a Escola Paulista Brutalista como fato a-
histórico emblemático, miraculosamente eternizado, ainda
presente de pleno direito e sem solução de continuidade já
Henrique Caruso
Almeida
069.08
As arquiteturas do
tempo de Louis I.
Kahn
Nicolás Sica
Palermo
069.09
Estudios de paisaje
para elevar la
qualidade de vida
en zonas de interés
suburbano
Graciela Gómez
Ortega and Omarky
Aguilar Labrada
069.10
Sóbrio, organizado
e conservador: o
escritório é a cara
do dono? Sobre
valores, símbolos e
significados dos
espaços
Cristiane Rose de
Siqueira Duarte,
Alice Brasileiro,
Ana Paula Simões
and Viviane Cunha
069.11
Habitação coletiva
e a evolução da
quadra
Mário Figueroa
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agora em pleno século XXI, meio século depois de sua afirmação
inicial.
Embora seja imprescindível postulá-la como afirmação básica, a
autonomia a arquitetura da Escola Paulista Brutalista é,
enquanto fato cultural (e como não podia deixar de ser) apenas
parcial e relativa. Para a ampla compreensão da arquitetura da
Escola Paulista Brutalista é indispensável tanto a análise e
afirmação de sua distinção quanto o reconhecimento de suas
semelhanças vis a vis outras tendências em jogo na arquitetura
paulista, brasileira e internacional daquele momento. Para
distinguir melhor os detalhes do panorama nesse jogo muito
entrelaçado de referências e dissonâncias, parece ser
necessário também se deter, com certo vagar, nos seus
“precedentes notáveis”: ou seja, no estudo dos exemplos
paradigmáticos significativos que alimentaram no berço essa
arquitetura, advindos maiormente da obra dos grandes mestres
da modernidade, tanto brasileiros quanto internacionais – até
porque tais referências terminam sendo marcos inescapáveis na
análise de toda e qualquer obra de arquitetura do século XX em
toda e qualquer parte do planeta. Essa complexa matriz de
referências aceita e negada, aproveitada e descartada, é
moldura indispensável para um reconhecimento aprofundado das
diferenças e peculiaridades da arquitetura da Escola Paulista
Brutalista – que só dessa maneira pode ter legitimamente
valorizado seu status de tendência original, de alto interesse
cultural no âmbito paulista, brasileiro, e possivelmente
internacional.
Situar a Escola Paulista Brutalista e sua arquitetura no seu
tempo histórico resulta, quase como conseqüência inevitável,
em sua relativização e na necessidade de compará-la com outras
tendências e caminhos que a precedem, justapõem, sucedem. Se
esse conjunto bastante variado de tendências, que pode ser e
está sendo estudado por muitos autores, configurando
relevantes aspectos do amplo caldo cultural arquitetônico
brasileiro do último século, chegará alguma vez a “recuperar”
um sentido de unidade, que aparentemente a arquitetura
brasileira já teve e que, com essa ampla licença de pesquisa e
análise parece estar se arriscando a perder – é questão
parcialmente em aberto. Ou talvez seja apenas uma pergunta mal
colocada: seria essa unidade uma característica efetiva ou
apenas o resultado de uma extrema seleção excludente?
Por esse caminho chegar-se-ia certamente a outros temas,
possivelmente tão relevantes quanto a tarefa de estudar a
arquitetura da escola paulista brutalista, temas que se
filiariam nem tanto a questões propriamente arquitetônico-
projetuais – relacionadas à forma, programa, tecnologia,
construção – mas a temas de ordem social e política:
basicamente, à problemática da caracterização de nossa
identidade cultural. Embora esse não tenha sido o alvo neste
trabalho, torna-se inevitável que, ao se assumir uma visão
pluralista da arquitetura brasileira do século XX (como
decorrência inapelável da vontade de efetuar um estudo
arquitetônico da Escola Paulista Brutalista como contribuição
cultural brasileira da maior relevância num certo momento
desse período) venha-se a não apenas questionar uma visão
histórico-arquitetônica possivelmente já estabelecida e
cristalizada em torno de uma “unidade” da arquitetura
brasileira, como também a questionar mais amplamente a
“identidade” da arquitetura e, por extensão, da cultura
brasileira.
É preciso, porém, levar-se em conta que, de fato, não será o
presente e limitado esforço de reconhecimento da relativa
autonomia e das peculiaridades da arquitetura da Escola
Paulista Brutalista que irá estilhaçar a “unidade” ou
questionar a “identidade” da arquitetura brasileira ao longo
do século passado: ambas já estavam de fato questionadas no
momento em que essa Escola se afirma, pelo próprio processo de
sua afirmação, a despeito dela – e o que resta é apenas
constatá-lo. Não é a pluralidade o conceito problemático e
disruptivo, mas sua indébita supressão até o momento que causa
esse tardio estranhamento.
Por outro lado, o reconhecimento da autonomia relativa da
arquitetura da Escola Paulista Brutalista só poderá fazer
naufragar uma possível “identidade” emblemática e cristalizada
da arquitetura brasileira se esta for entendida de maneiraessencialista, como fato dado e inquestionável, inato e a
priori, que subjaceria motu proprio e autonomamente à nossa
cultura – quase que uma enteléquia espiritual essencial;
enquanto, mais provavelmente, o conceito de “identidade” seja
menos uma essência e mais uma construção, a ser inventada e
renovada pelo menos uma vez, ou mais, a cada geração que
passa: a identidade cultural não é nem pode ser unívoca, não é
nem pode ser atemporal. Uma visão pluralista da arquitetura
brasileira resulta portanto ser, também, não essencialista,
construtivista, atenta ao particular e à diferença. Não nega a
possível existência de uma “identidade” de cunho regional e/ou
nacional, mas aposta na possibilidade de que ela seja um
constructo, passível de ser revisado e atualizado de diversas
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maneiras ao longo de um período temporal relativamente amplo;
e que no âmbito da arquitetura essas diversas construções
conceituais, muitas vezes superpostas e parcialmente
conflitantes, resultaram em distintas aproximações à idéia de
identidade nacional brasileira – que pelo teve na Arquitetura,
menos até meados do século XX, um importante fator para a sua
caracterização.
De qualquer maneira, seria improdutivo e insustentável negar
ou minimizar a importância da contribuição da arquitetura da
escola carioca e de seus principais autores e obras na
formulação dos paradigmas formais e conceituais da arquitetura
brasileira, e evidentemente, da própria arquitetura da Escola
Paulista Brutalista. Como seria, igualmente, inconsistente
negar a importância da contribuição dos grandes mestres da
arquitetura moderna do século XX na configuração de ambas. As
influências, em ambos os casos, não são impostas, mas
escolhidas, selecionadas por seus protagonistas nem tanto
aleatoriamente e muito mais por lhe serem atribuídas
pertinência e relevância; são assumidas nunca de forma
literal, mas sempre mixadas, descartadas e recriadas de
maneira livre e aberta. E, quando se estudam mais
pormenorizadamente os resultados desse caldo fervilhante –
inclusive, as arquiteturas da Escola Paulista Brutalista –,
tais precedentes notáveis, nacionais ou internacionais,
estarão sempre embasando, mas jamais serão totalmente
suficientes para explicá-las: contribuem, mas não
necessariamente tolhem, organizam marcos mas não impedem a
criatividade, nem sequer a originalidade. Esta, afinal, só
pode afirmar-se reconhecendo, e não negando, esse jogo
permanente de trocas e intercâmbios.
Há que se ir às coisas: revendo as obras
Quando se pretende estudar a arquitetura da Escola Paulista
Brutalista, embora seja necessário, a cada momento, lidar com
conceitos e idéias mais ou menos abstratos, totalmente ou
lateralmente pertinentes ao tema – realizando assim um sem
número de interfaces com uma ampla gama de disciplinas
paralelas e de conhecimentos adjacentes, sem os quais seria
impossível qualificar e compreender corretamente a ampla
complexidade dessa arquitetura – o foco principal do estudo
realizado, por livre definição e escolha, é o arquitetônico.
Com isso se pretende indicar que suas hipóteses, análises e
conclusões nasceram e foram alimentadas pelo conhecimento das
obras de arquitetura que se pretende reconhecer e valorizar,
através de parâmetros de conhecimento que são essencialmente
baseados no saber propriamente arquitetônico.
Entretanto, nunca é possível ver uma obra de arte ou de
arquitetura que já não esteja envolta em sua aura, que seja
puro objeto em si destituído de quantas camadas de
significados ali foram superpostas; ou, mesmo quando se
tratasse de algo jamais visto, das camadas de significação que
conformam nosso olhar, nunca inocente. Assim sendo, o esforço
do estudo realizado, enquanto proposição metodológica, não foi
o de eliminar radicalmente as crostas que se foram agregando
às obras ao longo do tempo por seus autores, usuários,
comentadores; mas em ser intransigentemente favorável a revê-
las em sua concepção de essencialidade arquitetônica. Ou seja,
buscou-se privilegiar a leitura e a análise das obras desde um
ângulo preciso, resultante das diversas forças internas e
externas que ajudam a moldar quaisquer arquiteturas: programa
a atender/geometria dos espaços; sítio geográfico e cultural
onde se situam/ relação com o lugar e com o entorno; materiais
e técnicas passíveis de serem empregados/ resultados
construtivos e tecnológicos; e por último, mas não menos
importante, precedentes arquitetônicos que se deseja aceitar
ou negar/ ênfases formais que se escolhe privilegiar – afinal,
os elementos mais relevantes na descrição e compreensão de uma
obra de arquitetura. Principalmente quando se deseja filiá-la
a uma determinada corrente, tendência ou escola, a um certo
modus operandi, a um possível “estilo” - aqui entendido em
sentido estrito, como conjunto de caracteres que diferenciam
das outras uma determinada forma expressiva.
A ampla revisão da arquitetura da Escola Paulista Brutalista
tomou por base o levantamento de todas as obras da arquitetura
paulista brutalista do período estudado (4); de organizá-las
de maneira sistemática numa linha do tempo coerente; de propor
um método para seu estudo e reconhecimento; e de aplicação
esse método, demonstrando claramente os resultados. O
levantamento de obras, por si só, já seria um trabalho
exaustivo de certa importância e valor. Mas, embora tenha sido
fundamental não é o foco principal do trabalho, que não trata
apenas de listar obras, mas de analisar de maneira abrangente
e ao mesmo tempo cuidadosa, o panorama que cada uma
individualmente, e todas elas, entre si, configuram e
qualificam, buscando prioritariamente distinguir quais dessas
obras podem ser, legitimamente consideradas como apresentando
uma proximidade e congruência, total ou ampla, com as
características dessa determinada e peculiar organização
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formal, espacial, construtiva e plástica, conforme
discriminadas ordenadamente nas premissas da tese (5).
A amplitude desse levantamento só foi conceitualmente possível
por se ter postulado, como requisição básica do estudo, o
status de relativa autonomia, ou ao menos de não superposição
congruente, entre a Arquitetura Paulista Brutalista e a Escola
Paulista Brutalista. Mesmo quando ambos os conjuntos em grande
medida se superponham, convém separá-los para deixar claras
algumas questões: as mesmas que, por nunca terem sido
devidamente consideradas e iluminadas, com muita freqüência
obscureceram o entendimento dessa arquitetura brasileira
paulista.
O motivo fundamental que anima essa distinção é didático:
postula-se a necessidade de distinguir entre a arquitetura e
seu discurso, entre a obra e seu criador, entre posturas
arquitetônicas e posturas políticas. Que essas dicotomias
sejam de difícil separação e, no limite, indissociáveis, não
significa que não possam ser tomadas uma a uma, com as devidas
cautelas. Esse cuidado permitiu realizar um amplo e não-
alinhado reconhecimento dessa arquitetura, que certamente
inclui, mas não necessariamente se esgota na obra de um grupo
limitado de excelentes criadores. Essa amplitude de visão não
tinha sido possível até o momento justamente por que o
entendimento da arquitetura da Escola Paulista Brutalista
seguia sendo vinculado, exclusivamente, a um ou outro grupo
político, a este ou aquele “discurso”, a este ou aquele
“dogma” filosófico ou sociológico, ou sendo atrelado a esta ou
aquela “história oral” de alguns de seus criadores; com tais
limitações essa arquitetura jamais chegava a ser vista em si
mesma, e sim sempre a partir da cor da lente, extra-
arquitetônica, que a focava; jamais chegava a ser vista em sua
importância própria, e sim apenas como mero “reflexo” de
outrosinteresses não arquitetônicos.
Evidentemente, a arquitetura não prescinde, para sua
realização, das âncoras na realidade política, social e
histórica, nem sua compreensão é possível isolada de onde,
quando e pelas mãos de quem nasceu. Mas, se bem seja criatura
de um contexto, a arquitetura segue existindo como fato
artístico, parcialmente transcendendo seu berço; segue
existindo em si mesma, mesmo quando esse pano de fundo de
origem lhe é tirado ou é naturalmente modificado pelo suceder
dos tempos.
Meio século depois de seu surgimento, a arquitetura da Escola
Paulista Brutalista pode e deve ser finalmente vista desde um
olhar com foco arquitetônico – embora não desinteressado do
mundo. Também a Arquitetura Paulista Brutalista precisa ser
reconhecida por seus valores universais, e ser liberada das
amarras conceituais que até hoje limitaram seu estudo; as
quais, a rigor, até agora mais ajudaram a esquecê-la do que a
celebrá-la, a confundi-la do que a esclarecê-la.
notas
1 
Este texto foi extraído da introdução à tese de doutoramento
da autora, “A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista 1953-
1973”, realizada no âmbito do PROPAR-UFRS, orientada pelo
Prof.Dr.Carlos Eduardo Dias Comas, apresentada e aprovada em
outubro de 2005 em Porto Alegre por banca formada pelos
professores doutores Josep Maria Montaner (ETSAB/Barcelona),
Paulo Bruna (FAU-USP/São Paulo), Carlos Guilherme Mota
(Mackenzie/São Paulo), Edson da Cunha Mahfuz e Caludio Calovi
(PROPAR/Porto Alegre). 
2 
As razões para a escolha desses termos denominativos foram
também minuciosamente analisadas na referida tese, na Parte II
(Premissas, bases conceituais, definição dos termos,
delimitação temporal).
3 
Essa tarefa também foi realizada na tese – nem tanto para a
demonstração de seu corolário, e muito mais para aplainar as
dúvidas que precedem a própria possibilidade de estabelecer a
sua hipótese inicial.
4 
Para dar maior abrangência e precisão à caracterização da
Arquitetura Paulista Brutalista foi realizado um amplo
reconhecimento sistemático da arquitetura brasileira em geral,
paulista em particular, realizada nas décadas de 1950 até
meados dos anos 1970, de maneira a encontrar e listar quais e
quantas são as obras que podem ser corretamente englobadas no
marco das realizações da Arquitetura Paulista Brutalista. A
releitura atenta, crítica e anotada da inteira totalidade das
24/02/2022 22:32 arquitextos 069.01: Breve introdução à Arquitetura da Escola Paulista Brutalista (1) | vitruvius
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publicações brasileiras especializadas de época (entre 1950 e
1975), bem como de várias dentre as principais publicações
especializadas internacionais foi sua fonte principal,
complementada pelos arquivos de obras de arquitetos
disponíveis ao acesso público, principalmente aqueles
depositados na biblioteca da FAU-USP, e de alguns arquivos
pessoais a que a autora teve acesso. No banco de dados assim
conformado constam quase 600 obras, relativas ao período 1950-
1975.
5 
Cf. Indicado no capítulo 2 da referida tese.
sobre o autor
Ruth Verde Zein é arquiteta FAU-USP (1977), Mestre (2000) e
Doutora (2005) em Teoria, História e Crítica da Arquitetura,
Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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