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OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 AULA 16 COMPACTAÇÃO DOS SOLOS RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS EMPUXO DE TERRA TEORIA DE RANKINE TEORIA DE COULOMB ESCAVAÇÃO DE VALAS E ESCORAMENTOS RISCOS E SEGURANÇA NA EXECUÇÃO DE ESCAVAÇÕES TIPOS DE TALUDE E MÉTODOS DE ESTABILIZAÇÃO FORMAS DE MOVIMENTO DE MASSA CAUSAS DA MOVIMENTAÇÃO DE MASSAS E FATOR DE SEGURANÇA MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES INTRODUÇÃO ÀS BARRAGENS REBAIXAMENTO DE LENÇOL FREÁTICO TERRAPLENAGEM TIPOS DE MURO DE ARRIMO 06 17 28 37 49 60 74 83 98 109 121 134 148 162 173 41 OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 INTRODUÇÃO Desde o início da humanidade as edificações construídas para satisfazer as necessidades das pessoas envolvem a terra. A terra é o suporte de todas as construções e que garante a estabilidade de todas as partes da obra, sejam de concreto, asfalto, aço, madeira, polímeros, solo, rocha entre outras. Muitas vezes o solo não se encontra em características ideais e satisfatórias, tornando-se necessário aumentar sua resistência. Durante este curso de Obras de Terra serão abordados conceitos, informações, métodos, exemplos, estudos de casos e exercícios práticos que os futuros engenheiros enfrentarão na sua vida profissional. São então abordados métodos e controles de compactação dos solos, ensaios de resistência ao cisalhamento dos solos que envolvem as duas principais componentes: atrito e coesão, e o empuxo de terra que é uma ação horizontal produzida pelo maciço com metodologias de cálculo: Rankine e Coulomb. A escavações são outro tipo de obra usual no dia a dia da engenharia civil sendo apresentados os métodos de escavação, as formas de proteção, os riscos e segurança para execução das escavações. Através das escavações tem-se a formação dos taludes, que são superfícies inclinadas do terreno natural ou artificial e que necessitam garantia de estabilidade após a execução de cortes e aterros. Serão apresentados os principais métodos de estabilização. O incorreto gerenciamento destes taludes pode provocar os movimentos de massas conhecidos como queda de blocos, deslizamentos, corrida de massa e rastejo. As consequências que estes movimentos podem provocar são inúmeros e por isso é importante conhecer as causas desta movimentação. A partir do entendimento das causas e formas de ruptura do solo é possível adotar métodos de análises de estabilidade dos taludes, sejam eles para ruptura circular, planar ou taludes verticais (como usualmente de escavações). O engenheiro se depara muitas vezes com problemas quanto ao tipo de solo em que será executada a obra, como por exemplo os solos moles que apresentam baixam resistência e precisam de garantia de estabilidade. Uma breve introdução às barragens é apresentada neste curso. Sendo essas estruturas já adotados há muitos anos, tendo como principais finalidades a acumulação de água, líquidos e sólidos. A água é um elemento presente em diversas execuções de obras, mas OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 que se apresenta como problema e impossibilita muitas vezes o trabalho. Desta forma são apresentadas as formas usuais que se tem utilizado para realizar a expulsão desta água e possibilitar a construção das obras civis, sendo uma delas o rebaixamento do lençol freático. Alinhado a todos esses fatores e exemplos que o mundo da construção civil vai de encontro, não podemos deixar de mencionar a terraplenagem que está presente em todas as obras. Já que ela envolve a movimentação do solo e sua preparação da melhor forma para receber as construções. Finalizando este curso, são apresentados os diferentes tipos de muros de arrimo que são utilizados como estruturas de contenção do solo, presentes nas diferentes obras civis. Essas estruturas também necessitam de correta estabilização e métodos de cálculo que serão vistos no próximo curso. Bons estudos! OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 AULA 1 COMPACTAÇÃO DOS SOLOS A compactação dos solos é uma das principais atividades que se desenvolve em obras que envolvem o solo, ou seja, a terra. A maioria das obras na engenharia civil está apoiada e construída sobre o solo ou sobre as rochas. Desta forma, é necessário garantir que o solo seja resistente para não gerar problemas futuros nestas construções. A compactação em si é a redução mais ou menos rápida do índice de vazios de qualquer solo por processos mecânicos, com a principal finalidade de aumentar a rigidez do maciço e tornar o solo impermeável. Esta redução dos vazios ocorre com a expulsão ou compressão do ar que está presente nas partículas de solo. Difere do adensamento que é um processo de densificação, ou seja, ocorre a expulsão lenta de água dos vazios do solo. Assim, é importante lembrar do conceito de compressibilidade, que é a propriedade do material/corpo em mudar de forma ou volume quando são aplicadas forças externas, forças estas aplicadas por equipamentos mecânicos, e de permeabilidade, que é a capacidade de a água fluir de um ponto de maior carga para um de menor carga por diferença de gravidade. Os principais efeitos que se deseja atingir com a realização da compactação são: • Diminuir a permeabilidade do solo. • Aumentar a resistência (capacidade de suporte do solo). • Diminuir a compressibilidade do solo, o que ocorre após ter sido realizada a compactação. • Diminuir a absorção de água. 1.1 Exemplos da compactação no dia a dia Em geral a compactação é utilizada em aterros de estradas, pois após a execução da terraplenagem é necessário realizar compactação das camadas. Estas camadas abaixo da capa asfáltica englobam as bases, sub-bases e, por fim, a capa asfáltica em si. Cada camada deve ser corretamente compactada para que futuramente não surjam patologias no pavimento. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 Dentre os demais exemplos de execução de compactação podem ser citados: aterros sanitários, aterros construídos, muros de arrimo, barragens de terra. A compactação é também realizada em reaterros de valas escavadas a céu aberto e também no fundo de valas. As fundações são apoiadas no solo que devem anteriormente ser compactados e garantida sua estabilidade. Muitas vezes, após o recalque, a ruptura ou desestabilização de um talude de encostas naturais deve ser feita a recomposição por meio da compactação controlada do solo. 1.2 Equipamentos mecânicos Os equipamentos mecânicos são utilizados para realizar a compactação dos solos dentre eles temos os tipos compressores, de impacto, de vibração e de amassamento. 1.2.1 Equipamentos compressores Os equipamentos compressores são aqueles que exercem uma força externa vertical para realizar a diminuição do volume de vazios do solo. São conhecidos como rolo liso e rolo liso com vibração. O rolo de aço, como pode serverificado na Figura 1 abaixo, transmite a carga aplicada para máquina e a compressão atinge pequenas profundidades, com pouco contato entre a superfície e solo. Por isso é indicado para camadas inferiores a 15 cm e também para solos arenosos, pedregulhos ou de pedra britada. Já para solos moles, este rolo não é indicado, pois está sujeito a afundamento e não compactação. Figura 1 - Rolo liso. Fonte: https://www.ecivilnet.com/dicionario/o-que-e-rolo-compactador-liso.html https://www.ecivilnet.com/dicionario/o-que-e-rolo-compactador-liso.html OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 1.2.2 Equipamentos de impacto Os tipos de equipamentos por impactos, como o próprio nome diz, agem na compressão através do impacto e golpes consecutivos na superfície com a finalidade de nivelar a superfície irregular e deixar o solo uniforme. Estes golpes são pesos que caem de alturas pré-definidas. Em geral, são conhecidos como compactadores manuais, sendo utilizados, principalmente, os sapos mecânicos e os soquetes simples, conforme Figura 2 e Figura 3, respectivamente. São utilizados em pequenas obras e para todos os tipos de solo. Figura 2 – Sapo mecânico. Fonte: https://www.escolaengenharia.com.br/apiloamento/ Figura 3 – Soquete manual simples. Fonte: https://www.escolaengenharia.com.br/apiloamento/ https://www.escolaengenharia.com.br/apiloamento/ https://www.escolaengenharia.com.br/apiloamento/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 1.2.3 Equipamentos de vibração Esses equipamentos fornecem vibração para o solo, desta forma possibilitam o ajuste das partículas, diminuindo os vazios e aumentando a densidade. Os rolos podem ser de patas (Figura 4), conhecidos como pé-de-carneiro vibratório, ou lisos (Figura 5). Para a escolha do tipo de compactador é necessário identificar o tipo de solo, pois solos coesivos contam com uma presença maior dessas partículas, exigindo o uso do rolo pé-de-carneiro. A velocidade de trabalho dos rolos compactadores vibratórios é bem lenta. 1.2.4 Equipamentos de amassamento Nos compactadores por amassamento é aplicada uma força vertical com componente horizontal proveniente de efeitos dinâmicos. Desta forma, se garante uma compactação mais rápida e com menor número de passadas. Dentre eles estão os rolos pé de carneiro e os pneumáticos. 1.2.4.1 Rolo pé de carneiro O rolo pé de carneiro (Figura 4) é assim denominado devido as peças de aço do tambor serem em formas de patas. Com o peso do tambor e estas patas, ocorre um maior entrosamento entre as partículas compactadas e o pisoteamento do rolo leva ao entrosamento dos torrões do solo. Estes compactadores são indicados para todos os tipos de solo, exceto areia. As camadas devem ter geralmente 15 cm, sendo comumente adotado de 4 a 6 passadas do rolo em solos finos e em solos grossos de 6 a 8 passadas. Figura 4 - Rolo pé de carneiro. Fonte:http://www.terraplenagemguimaraes.com.br/wordpress/equipamentos/ aluguel-de-rolo-compactador/ http://www.terraplenagemguimaraes.com.br/wordpress/equipamentos/ http://aluguel-de-rolo-compactador/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 1.2.4.2 Rolo pneumático Os rolos pneumáticos (Figura 5) exercem pressão na área de contato com o solo e dependem da pressão dos pneus e o peso do compressor. Indica-se esta compactação para solos de granulometria fina e arenosa. Este método é muito eficiente em capas asfálticas, bases e sub-bases. Além disso, as camadas podem ter até 40 cm. Figura 5 - Rolo pneumático. Fonte: http://topcommaquinas.com.br/produto/rolo-compactador-pneumatico-xg6262p/ Anote isso Para a execução de trabalhos de compactação no campo devem ser levados em conta os seguintes fatores: • Tipo de solo. • Teor de umidade do solo, tendo que realizar o espalhamento de água ou o uso de aeradores para umedecimento ou secagem do solo. • Energia de compactação, que é o tipo de compactador. Sendo importante compactar o solo com a umidade ótima e peso específico seco máximo do solo, pois assim não há um gasto de energia desnecessário. • Espessura da camada compactada deve ser como recomendado, para que não fique mal compactado e irregular. http://topcommaquinas.com.br/produto/rolo-compactador-pneumatico-xg6262p/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 1.3 Curva de compactação A curva de compactação dos solos é resultante da redução de ar dos vazios, e está relacionada com a umidade dos solos, pois dependendo da quantidade de água, o ar consegue ser expulso mais facilmente ou não, podendo ficar preso na água, em forma de bolhas. Desta forma, a umidade da água é um parâmetro fundamental na compactação, assim como a energia de compactação. Para cada solo, sob uma energia de compactação, existem uma umidade ótima (hot) e um peso específico aparente seco máximo (γd) ideal para realizar a compactação em campo. Neste ponto máximo de inflexão da curva é onde o solo apresenta uma estrutura mais densa, com boa resistência, rigidez, baixa permeabilidade, solo mais trabalhável e menor teor de ar, de forma garantir o menor índice de vazios e maior massa específica seca na forma de umidade. Para se obter essa umidade ótima e o γd do solo a ser amostrado é necessário realizar o ensaio Proctor e através dos valores obtidos em pelo menos 5 amostras, deve ser plotado o gráfico conhecido como Curva de Compactação. Conforme Figura 6, no eixo y tem-se os valores de γd, que indicam o peso especifico aparente seco e no eixo x tem-se os valores de Wot, que representa a umidade ótima (hot). Figura 6 – Curva de Compactação dos Solos. Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Curva-de-compactacao_fig1_313703122 1.3.1 Ensaio Proctor O Ensaio Proctor foi padronizado em 1933, pelo engenheiro Ralph Proctor, e no Brasil foi padronizado pela NBR 7182, com a última atualização em 2020. O ensaio é realizado com uma porção de solo adicionada de uma quantidade de água, de modo a se obter um certo valor de umidade. Em seguida homogeneíza-se para desmanchar https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Curva-de-compactacao_fig1_313703122 OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 os torrões e distribuir bem a umidade e coloca-se o solo num molde cilíndrico, com dimensões padronizadas (1.000 cm³) até um terço da sua altura útil. O solo é compactado ao ser aplicado uma energia por impacto composto um soquete deixado cair com massa de 2,5 kg, de uma altura de 30,5 cm e por 26 vezes. O processo é repetido por mais duas vezes, totalizando três camadas. Em seguida, pesa-se o molde com o solo e obtém o peso úmido do solo e o seu peso específico natural. Já com o valor da umidade do solo obtido pode-se calcular o peso específico seco do solo. Com este resultado de peso específico seco e umidade, pode-se lançar o ponto no gráfico que resultará na curva de compactação, esta que é obtida com pelo menos mais 4 pontos variando-se a umidade. Na Figura 6 é possível identificar o formato característico da curva de Proctor, que envolve os conceitos pela quantidade de água e lubrificação. No ramo seco da curva, abaixo da umidade ótima, à medida que se adiciona água, as partículas de solo se aproximam com o efeito lubrificante da água. No ramo úmido (acima da umidade ótima), a água passa a existir em excesso, o que provoca um afastamento das partículas de solo e assim uma diminuição do peso específico seco. Na Figura 7 estão representados o soquete e o cilindro que são utilizados no ensaio de Proctor. Figura 7 - Soquete e cilindro utilizado no ensaio de Proctor. Fonte: https://alemdainercia.wordpress.com/2018/01/29/ superestrutura-rodoviaria-ensaio-cbr/ Na Tabela 1 é apresentado os diferentes tipos de ensaio de Proctor entre eles tem-se o normal variando a massa de 2,5 ou 4,5 kg, o ensaio intermediário e o Proctor modificado. A partir dotipo de ensaio realizado, na última coluna é apresentada a energia desprendida para a compactação. https://alemdainercia.wordpress.com/2018/01/29/ http://superestrutura-rodoviaria-ensaio-cbr/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 Designação Massa (kg) Altura de queda (cm) Número de camadas Número de golpes Volume do cilindro (cm³) Energia (kg. cm/cm³) Proctor Normal 2,5 30,5 3 26 1000 5,9 Proctor Normal 4,5 45,7 5 12 2000 6,2 Intermediário 4,5 45,7 5 26 2000 13,4 Proctor modificado 4,5 45,7 5 55 2000 28,3 Tabela 1 – Energias de compactação por impacto. Fonte: Faiçal (2010). 1.4 Energia de compactação A energia de compactação obtida pelo ensaio de Proctor tem como objetivo aproximar a compactação em laboratório com a realizada no campo. Desta forma, os ensaios em laboratório funcionam como ensaios de referência para a compactação de campo. Comparando diferentes tipos de solo observa-se que quanto maior a energia de compactação desprendida para um determinado tipo de solo, maior será o peso específico seco máximo do solo e menor sua umidade. Sendo o contrário verdadeiro, ou seja, quanto menor a energia de compactação, menor será o peso específico do solo e maior a umidade o solo terá. Esta energia de compactação apresentada na tabela acima é obtida através da fórmula: Em que: E = energia de compactação (Kg cm/cm3). P = peso do soquete. h = altura de queda do equipamento. N = n° de golpes (por camada). n = n° de camadas a serem realizadas. V = volume total de solo compactado. Vejamos um exemplo de aplicação referente à energia de compactação a ser adotada em campo. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 1.4.1 Exemplo 1 Quantas passadas de um compactador tipo “sapo” serão necessárias em uma camada de compactação com 0,20 m de espessura? Considerando que irá desenvolver uma energia de compactação igual à do ensaio Proctor Normal (soquete de 2,5 kg) em cada camada e o equipamento de compactação sapo tem as seguintes características (peso = 108,0 kg; altura de queda = 0,40 m, Φ = 0,32 m). Então, em laboratório foi realizado o ensaio de Proctor normal, com massa do soquete igual a 2,5 kg e obteve-se uma umidade ótima e peso específico seco máximo. Com estes parâmetros definidos foi determinado a energia de compactação desprendida em laboratório e que se deseja adotar em campo. Entretanto, em campo será utilizado o compactador tipo sapo com as características apresentadas e serão camadas de solo compactado de 20 cm, quantos golpes do sapo deverão ser dados para que o seja corretamente compactado como determinado em laboratório. Reorganizando os dados: E = 5,9 kg cm/cm³ (energia do Proctor normal) P= peso do soquete (sapo)= 108 kg h = 0,40 m (altura de queda do sapo) N =? (número de golpes por camada) n = 1 de 20 cm (número de camadas e espessura) V = volume que cada passada do equipamento sapo faz Deve-se obter o volume que cada passada do equipamento tipo sapo consegue compactar. Sendo: Volume = π.r².h Em que: R = raio do sapo que tem diâmetro de 32 cm, então equivale a 16cm H = altura da camada de solo a ser compactado = 20cm Volume = 3,14. (16)².20 Volume = 16.076,8 cm³ Agora podemos substituir na fórmula da energia: OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 N = 21,95, então adotamos 22 golpes. Ou seja, será necessário passar 22 vezes o sapo para que se atinge a energia de compactação ideal, como determinado em laboratório. Isto acontece na prática Quando se compacta um solo com a umidade abaixo da ótima, com o solo seco, existe um maior atrito entre as partículas, os grãos ficam duros e porosos dificultando o arranjo entre eles e consequente difícil redução dos vazios entre os grãos. À medida que a umidade aumenta, os agregados absorvem úmida, se tornam mais moles e possibilita a aproximação entre eles. Entretanto, isto tem um limite, na umidade ótima, se ultrapassar e a umidade estiver muito alta, a compactação não consegue expulsar o ar, pois os vazios estão preenchidos por água e saturados. Assim, na linguagem do campo diz que o solo está borrachudo, pois a energia aplicada é transferida para a água e não o material. O solo sofre um processo de cisalhamento. 1.5 Controle da compactação Então, para garantir que um solo seja corretamente compactado e com as especificações de acordo com o laboratório é necessário que se tenha um controle e gerenciamento adequado da compactação. Desta forma, evita-se que uma camada seja inadequadamente compactada e coberta com outra camada de solo. Uma das formas é comparar o peso específico do solo seco dado em laboratório com o obtido em campo, assim como a umidade para ver se ambos estão dentro dos limites especificados. O controle da compactação envolve verificar se o GC (grau de compactação) e Δh (variação da umidade) estão dentro dos limites especificados. É fundamental que em toda obras os solos sejam homogêneos e deve-se manter a umidade próxima da ótima através do uso de aeradores (perda de umidade) ou pelo aumento de umidade (a irrigação), assim como deve-se garantir que a espessura de cada camada lançada seja menor que 30 cm. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 1.5.1 Grau de compactação e umidade O grau de compactação (GC) é utilizado para controlar a compactação em campo, sendo dado pela seguinte expressão: Em que: γs Campo = peso específico do solo seco obtido no campo, ao estar realizando a compactação. γs máx = peso específico do solo seco obtido em laboratório para determinado tipo de solo. Após esta divisão, multiplica-se o valor por 100, para obter o GC em porcentagem. Este GC deve ser comparado com o valor indicado pelo projetista de acordo com o tipo de obra e exigência, ou seja, qual a margem de porcentagem que podemos ter aceitável para a compactação. Em geral adota-se no mínimo 95% do GC. Em relação a variação de umidade (Δh) tem-se que: Δh = hcampo – hótima Em que: hcampo = umidade do solo obtido em campo. hótima = umidade do solo obtido em laboratório. A margem de variação da umidade também é determinada. Então, por exemplo, especifica- se que para a execução da compactação deve-se ter uma umidade com variação máxima de – 2% ou +2%. Ao comparar os valores do campo e com a ótima, se estiver fora desta margem deve-se realizar os ajustes de umidade. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 AULA 2 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS Define-se como resistência ao cisalhamento do solo a máxima pressão de cisalhamento que o solo pode suportar sem sofrer ruptura. Os carregamentos externos aplicados na superfície ou a geometria da superfície da massa de solo contribui para o desenvolvimento de tensões cisalhantes, que podem chegar a valores próximos da máxima tensão cisalhante que o solo suporte e ocasionar a ruptura. Além disso, a resistência ao cisalhamento dos solos depende de dois parâmetros: atrito e coesão. 2.1 Finalidades da resistência ao cisalhamento dos solos A resistência ao cisalhamento é uma das propriedades fundamentais de comportamento dos solos, através dela é possível solucionar problemas da engenharia geotécnica. A resistência ao cisalhamento tem aplicação direta em projetos de estabilização de taludes, barragens, muros de arrimo, em fundações como sapatas e estacas. Conforme a Figura 8, podemos visualizar exemplos de aplicação usados na engenharia. Nos exemplos são indicadas em linhas tracejadas as curvas de ruptura, ao qual o solo perde a resistência ao cisalhamento ocasionando a ruptura. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 Figura 8 - Exemplos de aplicação da resistência ao cisalhamento dos solos. Fonte: Adaptado de https://pt.slideshare.net/FernandoEduardoBoff/14-resistencia-ao-cisalhamento Estes problemas de perda da resistência ao cisalhamento,além dos carregamentos externos aplicados ou devido à geometria são provenientes da má execução de aterros, falta ou ineficiência do sistema de drenagem interna e sem proteção, por exemplo, com cobertura vegetal pode também levar ao movimento de massa. Isto porque os solos normalmente resistem bem às tensões de compressão, porém têm capacidade limitada de suportar tensões de tração e cisalhamento. 2.2 A ruptura devido ao cisalhamento A ruptura é caracterizada pela formação de uma superfície de cisalhamento contínua na massa de solo. Uma camada de solo em torno da superfície de cisalhamento perde suas características durante o processo de ruptura formando a zona cisalhada. Verificar na Figura 9 o exemplo da superfície de cisalhamento e a zona fraca, ou seja, onde ocorre o cisalhamento. https://pt.slideshare.net/FernandoEduardoBoff/14-resistencia-ao-cisalhamento OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 Figura 9 - Superfície de deslizamento. Fonte: http://www.eng.uerj.br/~denise/pdf/resistenciacisalhamento.pdf 2.2.1 Formas de ruptura Existem principalmente duas formas de ruptura: a) Forma Plástica: o corpo de prova vai se deformando indefinidamente sob uma tensão constante. Exemplos típicos: argilas moles ou medias e areias fofas ou compactas. b) Forma Brusca ou Frágil: material se desintegra quando atingida certa tensão ou deformação. Exemplos típicos: argilas rijas e duras e areias compactadas. Na Figura 10 são representadas as formas de ruptura frágil e plástico em função da aplicação da tensão (eixo vertical) e tem-se a deformação característica de acordo com o material (eixo horizontal). http://www.eng.uerj.br/~denise/pdf/resistenciacisalhamento.pdf OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 Figura 10 - Gráfico de ruptura. Fonte: Elaborado pelo autor (2020) 2.3 Teoria da resistência ao cisalhamento A resistência ao deslizamento (Τ) é proporcional à força normal aplicada (N) em um corpo pode ser apresentada na Figura 11, segundo a relação: T = N x F Figura 11 - Forças aplicadas a um corpo. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/1612800/ Em que: F = coeficiente de atrito entre os dois materiais. N = força normal aplicada, representada pela letra grega “σ”. 2.3.1 Atrito O atrito é a interação entre duas superfícies na região de contato. A resistência devido ao atrito pode ser demonstrada por analogia com o problema de deslizamento de um corpo sobre uma superfície plana horizontal ou com inclinação. https://slideplayer.com.br/slide/1612800/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Assim, para solos a relação é descrita como: τ = σ x tg φ Em que: “φ” é o ângulo de atrito interno do solo. “σ” é a tensão normal. “τ” a tensão de cisalhamento. Se no atrito simples de escorregamento entre os sólidos o ângulo de atrito “φ” é praticamente constante, o mesmo não ocorre com os materiais granulares, em que as forças atuantes, modificando sua compacidade, mudam o ângulo de atrito “φ”, para um mesmo solo. O ângulo de atrito interno do solo depende do tipo de material e para um mesmo material, depende de diversos fatores (densidade, rugosidade, forma etc.). Assim, grande parte da resistência ao cisalhamento é devida ao atrito existente no solo. 2.3.2 Coesão Além do atrito existe uma interação/atração físico-química entre as partículas que também pode provocar resistência e varia conforme o tipo de solo. Assim, os solos argilosos e siltosos que têm essa propriedade de coesão, chamam-se coesivos. Os solos não-coesivos que são areias puras e pedregulhos, desmoronam facilmente ao serem cortados ou escavados, não apresentando esta interação. Portanto, apresenta coesão igual a 0. 2.3.3 Determinação dos parâmetros de resistência Então, para definir a resistência ao cisalhamento dos solos (Ƭ) leva-se em consideração a parcela referente ao atrito e a coesão, representado pela equação: Ƭ = c + σ.tg ø Em que: OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 “τ” a tensão de cisalhamento. c é a coesão. “φ” é o ângulo de atrito interno do solo. “σ” é a tensão normal. Conforme a Figura 12, podemos verificar que o ângulo de atrito interno do solo é obtido pela reta paralela ao eixo x que cruza a reta de cisalhamento e a coesão é dado pelo valor de intercepto no eixo y. No eixo y temos a tensão de cisalhamento (τ) e o eixo x é a tensão vertical normal (σ). Figura 12 - Reta de cisalhamento. Fonte: Caputo (2015) Anote isso É importante notar que estes parâmetros de coesão, ângulo de atrito interno do solo e a resistência ao cisalhamento são obtidos por ensaio de laboratórios. Sendo aplicadas tensões normais máximas que ocasionam o cisalhamento, desta maneira obtém-se a resistência máxima ao cisalhamento para determinado tipo de solo. 2.4 Ensaios de resistência ao cisalhamento Para a determinação dos parâmetros de resistência ao cisalhamento, coesão e atrito é necessário realizar ensaios para cada tipo de solo. Dentre estes ensaios temos, como principais: OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 • Compressão simples (uniaxial). • Cisalhamento direto. • Compressão triaxial. 2.4.1 Compressão simples (uniaxial) Este é o método mais simples e rápido para determinar a resistência ao cisalhamento de solos coesivos. O ensaio é realizado com o corpo de prova em uma prensa aberta, conforme mostrado na Figura 13. Figura 13 - Prensa utilizada no ensaio de compressão simples. Fonte: https://contech.eng.br/servicos/ensaios-em-solos/ensaio-de-compressao-simples Nesse ensaio é aplicada uma pressão axial (σ1), sem aplicação de pressões laterais (σ3). A carga é aplicada progressivamente, sendo traçada a curva tensão-deformação diretamente, por um dispositivo adaptado ao aparelho utilizado para esse ensaio. No mínimo são realizados três ensaios, ou seja, três repetições. 2.4.2 Cisalhamento direto Este ensaio é usado para solos arenosos e granulares. A amostra de solo é colocada em uma caixa de aço bipartida. O corpo de prova é carregado inicialmente com uma força vertical N, que corresponde a uma tensão normal (σ) na seção de área S correspondente a caixa (Figura 14). https://contech.eng.br/servicos/ensaios-em-solos/ensaio-de-compressao-simples OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 Figura 14 - Caixa de amostra para o ensaio de cisalhamento direto. Fonte: https://alemdainercia.wordpress.com/2019/04/10/o-ensaio-de-cisalhamento-direto/ Metade da caixa inferior permanece fixa enquanto a tensão normal (σ ) é mantida constante, aplica-se uma força horizontal (T) crescente na metade superior da caixa até romper o corpo de prova por cisalhamento. O equipamento acoplado fornece o valor da tensão de cisalhamento quando o corpo de prova rompeu. Então, repete-se o ensaio com várias tensões normais. Assim, para pelo menos 3 valores de tensões normais são obtidas 3 tensões de cisalhamento. Com estes dados traça-se o diagrama no gráfico da reta de ruptura. Entre os pontos das coordenadas T e σ traça-se a reta de ruptura entre os pontos, conforme Figura 15. Figura 15 - Reta de ruptura obtida no ensaio de cisalhamento direto. Fonte: Adaptado de Caputo (2015). A partir do gráfico da Figura 15 pode-se obter os valores da coesão e ângulo de atrito interno do solo. A partir das letras indicadas no gráfico é possível obter as seguintes informações das regiões: https://alemdainercia.wordpress.com/2019/04/10/o-ensaio-de-cisalhamento-direto/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 • Região I: nesta região os pontos de tensões que estão abaixo da reta de ruptura do solo podemos concluir que o solo se apresenta estável e com as tensões abaixo da máxima resistência ao cisalhamento do solo. • Região II: nesta região ou melhor os pontos de tensões que estão na reta de rupturado solo podemos concluir que o solo se apresenta em eminência de ruptura, pois está com a máxima tensão que o solo suporta. Se por ventura ocorrer um acréscimo de tensão o solo vai romper. • Região III: nesta região os pontos de tensões estão acima da reta de ruptura do solo podemos concluir que o solo não apresenta mais estabilidade, ou seja, já ocorreu a ruptura, pois extrapolou a máxima resistência de cisalhamento que o solo suporta. 2.4.3 Compressão triaxial O ensaio de compressão triaxial é teoricamente o mais completo e o mais utilizado. Nele, um corpo de prova cilíndrico é envolvido por membrana de látex impermeável e colocado dentro de uma câmara preenchida por água destilada. Durante o ensaio é aplicado uma pressão na água e desta forma o corpo de prova fica submetido à determinada tensão de confinamento (σ3). Conjuntamente se aplica uma tensão vertical (σ1) que aumenta constantemente. Isto induz o cisalhamento no solo levando até a ruptura ou deformação do solo. Figura 16 - Ensaio de compressão triaxial. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/295636/ Este ensaio obedece aos critérios de ruptura de Mohr-Coulomb. Assim, para determinada tensão confinamento σ3 (menor) há um valor de σ1 (tensão vertical maior) na ruptura. https://slideplayer.com.br/slide/295636/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Aumentando σ3 , a σ1 aumenta também e forma um outro círculo. Cada círculo representa o estado de tensões na ruptura do ensaio, como é possível observar na Figura 17. Figura 17 - Envoltórias de ruptura no ensaio de compressão triaxial. Fonte: Adaptado de Caputo (2015). A linha tangente aos arcos é definida como envoltória de ruptura de Mohr. Frequentemente associada a uma reta deve-se a simplificação de Coulomb: τ = c + σ tg φ Em que: τ = resistência ao cisalhamento. φ = ângulo de atrito interno do solo = inclinação da reta. σ = tensão normal (vertical). c = coesão. A partir do gráfico da Figura 17 após traçar os semicírculos, nos pontos de tangência dos arcos, ao rebatê-los para o eixo y é obtido a máxima tensão de cisalhamento. Assim como pela reta de ruptura tem-se os valores da coesão e ângulo de atrito interno do solo. A partir das letras indicadas no gráfico é possível obter as seguintes informações das regiões: • Região I: se os arcos traçados correspondentes às tensões aplicadas estiverem para baixo da envoltória de ruptura, podemos concluir que o solo se apresenta estável e com as tensões abaixo da máxima resistência ao cisalhamento do solo. • Região II: se os arcos traçados estiverem tangentes à envoltória de ruptura (reta), podemos concluir que o solo se apresenta em eminência de ruptura, pois está com a OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 máxima tensão que o solo suporta. Se por ventura ocorrer um acréscimo de tensão o solo vai romper. • Região III: se os arcos traçados estiverem para cima da envoltória de ruptura, ou seja, cruzando a reta, podemos concluir que o solo não apresenta mais estabilidade, ou seja, já ocorreu a ruptura, pois extrapolou a máxima resistência de cisalhamento que o solo suporta. Além disso, este ensaio triaxial permite algumas variações de amostragem, onde simula diferentes condições de solicitação nos maciços. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 AULA 3 EMPUXO DE TERRA Empuxo de terra é a ação horizontal produzido pelo maciço de solo sobre uma estrutura de contenção que se apoie ou esteja em contato. A ação horizontal é resultante das pressões laterais exercidas ao longo da estrutura de apoio, sendo que depende da interação entre o solo-estrutura. Tanto durante todas as fases das obras que se realizam com ou nos solos e mesmo após a obra pronta, é necessário que se saiba a distribuição das forças que atuam no contato solo-elemento estrutural, pois mudanças provocadas por deslocamentos horizontais alteram a distribuição dos empuxos de terra neste contato. 3.1 Importância do empuxo O empuxo de terra é comumente encontrado em obras de contenção. As obras de contenção são construídas com finalidade de estabilizar o maciço contra a ruptura e escorregamento, causado pelo peso próprio ou carregamento no maciço, sejam elas permanentes ou temporárias. • Aplicações permanente: represar solo instável (rodovia ou ferrovia), elevar o terreno com movimento mínimo e criar espaço subterrâneo. • Aplicações temporárias: os escoramentos de escavações para passagem de tubos/ cabos ou reparar serviços. Assim, conhecer o empuxo é fundamental para a análise e dimensionamento de diversas obras de contenção ou que contenham os solos e se tenha a pretensão de estabilizar como: muros de arrimo, cortinas em estacas prancha, cortinas atirantadas, obras subterrâneas feitas em solos: túneis, garagens subterrâneas, silos enterrados, encontros de pontes, movimentos de solos sobre estradas, paredes e outras diversas obras. A partir do cálculo do empuxo é realizado o pré-dimensionamento da estrutura e posteriormente a verificação da estabilidade. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 3.1.1 Presença da água É importante realizar a verificação da presença da água nos maciços de solo das obras, pois com a ação da água tem-se: • Diminuição da resistência do maciço. • Deve-se considerar o efeito da pressão vertical nos cálculos. • Sem correto sistema de drenagem, pode duplicar o empuxo atuante, pois o peso específico do solo aumenta. Ao realizar as obras de terra é importante prever, dimensionar e instalar corretamente os dispositivos de drenagem. Esses dispositivos podem ser sistemas superficiais e subsuperficiais. São exemplos de sistemas superficiais as canaletas transversais, longitudinais, dissipadores de energia, caixa coletora e cobertura vegetal. Já os exemplos de sistemas de drenagem subsuperficiais: drenos horizontais, trincheiras drenantes, filtros granulares e geodrenos. Isto está na rede Para entender melhor a ação do empuxo acompanhe o vídeo: “Muro de arrimo: entenda o empuxo de terra no muro de contenção”. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=_DWKL-tfFWg Como o exemplo do vídeo, quando se tem um talude natural e se deseja realizar uma construção, como no exemplo, uma residência, necessita-se cortar o maciço de solo. Este talude apresentava estabilidade, mas ao cortar necessita-se garantir a estabilidade através de estruturas de contenção, como o muro de arrimo. Desta maneira, é necessário entender as forças atuantes. Assim, as tensões verticais do solo exercem uma proporcionalidade no muro de arrimo em tensões horizontais. Como mostrado no vídeo, vemos que com a presença da água além do empuxo de terra exercendo no muro de arrimo tem que se levar em consideração o empuxo da água. Ao se realizar sistemas de drenagem eficientes, a água não exerce o empuxo e assim menos pressão estará agindo na estrutura de contenção. Com menos esforço atuante, o muro se torna mais barato e garante economia no dimensionamento e execução. https://www.youtube.com/watch?v=_DWKL-tfFWg OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 3.2 Distribuição de tensões do empuxo Como identificado no vídeo anterior, as tensões verticais que exercem no solo provocam as tensões horizontais. Uma vez que em situação inicial o maciço de terra apresenta estabilidade, mas ao sofrer interferência do ser humano se desestabiliza e necessita ser contido. 3.2.1 Tipos de tensões Um grande problema na mecânica dos solos é a determinação das tensões induzidas no solo completamente saturado, ou seja, com os vazios do solo totalmente preenchidos com água. Existem três tipos de tensão atuando ao longo da profundidade do solo: a) Tensão total (σ) do carregamento atuante, tal como a tensão inicial do solo somada ao peso da sobrecarga. b) Poro-pressão da água (u) nos vazios induzida pelo peso da água, cargaexterna ou ambos. c) Tensão efetiva (σ’) entre os grãos de solo, sendo a verdadeira causa da deformação. Estas tensões são dadas pela equação: σv’=σ - u Em que: σv’= tensão vertical efetiva. σv= tensão vertical total. u = poro-pressão da água. Assim, nos cálculos do empuxo serão levados em conta as tensões efetivas quando não houver a presença do nível d’água já que ao construir tais estruturas de contenção serão instalados sistemas de drenagem eficientes garantindo maiores economias. Além disso, essas tensões verticais efetivas exercem uma proporcionalidade com as tensões horizontais, sendo estas também efetivas através do coeficiente de empuxo (k). O coeficiente de empuxo varia em função da elasticidade do material de acordo com parâmetros geotécnicos do solo, ângulo de atrito, índice de vazios entre outros. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 3.3 Condições de movimentação Tanto durante todas as fases das obras que se realizam, com ou nos solos e mesmo após a obra pronta é necessário que se saiba a distribuição das forças que atuam no contato solo-elemento estrutural, pois mudanças provocadas por deslocamentos horizontais alteram a distribuição dos empuxos de terra neste contato. Então, o plano da parede está sujeito a três tipos de interação: • Repouso. • Ativo . • Passivo. Figura 18 - Condições de movimentação da parede. Fonte: Caputo (2015) No empuxo no repouso a estrutura não se movimenta, mas nem sempre a estrutura é travada e apresenta repouso absoluto. Dessa forma, surge assim a movimentação que acionam as resistências internas de cisalhamento, na horizontal dada pelo empuxo no estado ativo e passivo. 3.3.1 Empuxo no repouso No empuxo no repouso, como pode-se ver na Figura 19, o plano de contenção da estrutura não se movimenta, estando em equilíbrio perfeito com o solo absolutamente estável. O coeficiente de empuxo no repouso é denominado como K0. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 As estruturas que por sua natureza essencialmente rígida não possam ou não devam sofrer deslocamentos estão engastadas ou enterradas, tal como uma parede de subsolo em edifício (Figura 19). Figura 19 - Paredes de um subsolo de um edifício. Fonte: Gerscovich (2010). As estruturas estão em repouso e não se deslocam no plano quando não sofrem grandes variações de temperatura. Segundo Caputo (2015), o coeficiente de empuxo no repouso pode ser dado pelos seguintes valores conforme a tabela 2. Tipo de solo Valor de K0 Argila pré-adensada 0,70 a 0,75 Areia natural 0,50 Areia solta 0,40 Areia compactada 0,60 a 0,75 Argila pastosa 1,0 Água 1,0 Tabela 2 – Valores do coeficiente de empuxo no repouso (K0) de acordo com o tipo de solo. Fonte: Caputo (2015). Da mesma forma, o empuxo no repouso pode ser encontrado em função do tipo de solo, dado em função do ângulo de atrito interno do solo (Φ): K0= 1 – senΦ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 3.3.2 Empuxo ativo O empuxo no estado ativo desenvolve-se quando o solo age sobre a estrutura de contenção, ou seja, o solo desloca a estrutura e a parede se afasta. Esse fenômeno é chamado de distensão do solo. Desta forma, o maciço de solo se apoia sobre o muro, sofrendo uma distensão em virtude do deslocamento relativo que tende a ocorrer, conforme apresentado na Figura 20. Figura 20 - Condições do empuxo ativo. Fonte: Gerscovich (2010). Nesse caso, o maciço de solo está em situação iminente de ruptura. A tensão horizontal é dada em função da tensão vertical e o coeficiente de empuxo no estado ativo pela equação: σ h’=Ka*σv’ Em que: σh’ = tensão horizontal efetiva. Ka= coeficiente de empuxo ativo. σv’ = tensão vertical efetiva. 3.3.3 Empuxo passivo O empuxo passivo desenvolve-se quando a estrutura de contenção age pressionando o solo provocando o seu deslocamento em sentido contrário ao caso ativo. É o caso, por exemplo, da ação de tirantes executados para conter o deslocamento de um talude em OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 corte. O tirante “puxa” a face do talude comprimindo-o. Um exemplo é a fundação de pontes suportadas por esforços horizontais dos solos (Figura 21). Desta forma, a estrutura se movimenta ao encontro do solo causando compressão no maciço. E o maciço resiste à ação transmitida pelo muro. Figura 21 – Condições do empuxo passivo. Fonte: Gerscovich (2010). A tensão horizontal é dada em função da tensão vertical e o coeficiente de empuxo no estado passivo pela equação: σ h’=Kp*σv’ Em que: σh’ = tensão horizontal efetiva. Kp= coeficiente de empuxo passivo. σv’ = tensão vertical efetiva. 3.3.4 Empuxo Passivo x Ativo Em determinadas obras, a interação solo-estrutura pode englobar simultaneamente as duas categorias referidas: empuxo passivo e ativo. Como um muro-cais ancorado, como apresentado na Figura 22. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 Figura 22 - Muro-cais ancorado. Fonte: Gerscovich (2010) Outro exemplo clássico são as estacas prancha, onde uma parte da estaca está enterrada, ou seja, ancorada. Na parte inferior, ancorada, tem a ação do empuxo passivo e na parte superior, age o empuxo ativo onde o maciço de solo tende a desloca a estaca prancha para fora, note na figura abaixo. Figura 23 - Exemplo do empuxo ativo x passivo. Fonte: Gerscovich (2010) https://portalvirtuhab.paginas.ufsc.br/estaca-prancha/ https://portalvirtuhab.paginas.ufsc.br/estaca-prancha/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 Anote isso É importante lembrar os principais fatores que influenciam na determinação do empuxo são eles: • Nível d’água. • Sobrecarga aplicada à superfície do terreno: uniformemente distribuída, linear uniforme, concentrada. • Atrito solo-muro, resistência entre a estrutura e o muro. • Fendas de tração, aberturas que desenvolvem na crista do talude, provocando a entrada de água e desestabilização do talude. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 AULA 4 TEORIA DE RANKINE Dando continuidade à aula anterior que foi visto sobre o empuxo de terra existem algumas metodologias de cálculo e formas para se calcular o empuxo de terra e a sua distribuição de pressões ao longo do plano de contenção. Através da Teoria de Rankine é possível admitir o plano de deslocamento da estrutura e assim determinar o empuxo atuante. 4.1 Método de cálculo A Teoria de Rankine é um método clássico de cálculo no equilíbrio-limite, ou seja, admite que o deslocamento que a parede irá desenvolver é no estado limite plástico. Assim, na ruptura do solo, ocorrem infinitos planos de ruptura e a plastificação de todo o maciço. Considerando o solo em estado de equilíbrio plástico, são adotadas algumas condições para a aplicação desta teoria: • Solo homogêneo e não-coesivo. • Ocorre deformação uniforme em todos os pontos do maciço. • Superfície plana do terreno. • A estrutura de contenção em contato com o solo é vertical. • Não considera atrito solo-estrutura, ou seja, estrutura totalmente lisa. • Obedece ao critério de ruptura de Mohr. Além disso, o ponto de aplicação do empuxo está a 1/3 da altura da contenção, isto em relação ao solo. As trajetórias do estado-limite correspondente às tensões na ruptura são obtidas através do círculo de Mohr com os parâmetros de coesão e ângulo de atrito do solo. A fórmula de tensão de cisalhamento é dada por: Ƭ= c + σ.tg ф OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 Em que: Ƭ = tensão de cisalhamento. c= coesão. σ= tensão normal. ф = ângulo de atrito interno do solo. 4.1.1 Movimentação do plano Conforme a Figura 24, para o caso de um solo não coesivo (coesão = 0), temos que a ruptura por cisalhamento ocorre ao longo de um plano que forma um ângulo com o plano da maior tensão: principal. Na figurarepresenta-se então os planos de ruptura no repouso (1), estado ativo (2) e estado passivo (3). Figura 24 - Círculo de Mohr - planos de ruptura (solo não coesivo). Fonte: Caputo (2015). Observando a Figura 24, a variação do estado de tensões provoca movimentações no estado ativo e passivo a plastificação do maciço dá-se ao longo de planos definidos como nas figuras 25 e 26. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Figura 25 - Plano de ruptura no estado ativo. Fonte: Caputo (2015) e https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/16427/16427_3.PDF Figura 26 - Plano de ruptura no estado passivo. Fonte: Caputo (2015) e https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/16427/16427_3.PDF. No estado ativo, Figura 25, o plano de ruptura é dado na inclinação de 45+ e conforme a aplicação da tensão vertical (σv) é constante e a tensão horizontal (σh) diminui progressivamente. No estado passivo, Figura 26, o plano de ruptura é dado na inclinação de 45- e conforme a aplicação da tensão vertical (σv) é constante e a tensão horizontal (σh) aumenta progressivamente. Segundo Caputo (2015): Inicialmente observemos que no interior de uma massa de solo — considerada como um semiespaço infinito, limitada apenas pela superfície do solo e sem nenhuma sobrecarga — uma das tensões principais tem a direção vertical e o seu valor é dado pelo peso próprio do solo. A direção da outra tensão principal será, consequentemente, horizontal. Desta forma, tem-se o deslocamento horizontal em função de uma proporcionalidade da tensão vertical. https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/16427/16427_3.PDF https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/16427/16427_3.PDF OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Os cálculos, segundo a teoria de Rankine, não consideram o atrito entre o terrapleno e a parede, desta forma os resultados obtidos não correspondem à realidade, mas no empuxo ativo é válido adotar a teoria de Rankine pois admite maior segurança. Esta teoria é muito utilizada devido a fácil e rápida aplicação (CAPUTO, 2015). 4.2 Solos não coesivos Método clássico de cálculo atendendo as condições para a aplicação da teoria de Rankine na movimentação do estado ativo e passivo. 4.2.1 Empuxo ativo Admitindo que a parede AB afasta do terrapleno e a pressão horizontal diminui até alcançar valor mínimo, tem-se, então, que a tensão de distribuição é equivalente a (Figura 4): Ka.γ.h Em que: Ka = coeficiente de empuxo ativo. γ = peso específico do solo. h = altura da estrutura. A tensão vertical será a pressão principal maior. Continuando o deslocamento, AB deixará de apresentar continuidade e produz deslocamento na linha BC, formando um ângulo de (45°+ ) com a pressão principal menor. A partir desta relação assume-se que, para solos não coesivos, o Ka é equivalente a tg2(45- ). A expressão do empuxo ativo Ea é igual a área do triangulo ABD, que será: Ea = .γ.h 2.Ka OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 Figura 27 - Estado ativo. Fonte: Caputo (2015). 4.2.2 Empuxo passivo Admitindo que a parede AB produza o deslizamento, o empuxo deverá ser maior que o peso do terrapleno. Assim, a pressão horizontal é a maior e a tensão vertical é menor. Tem-se então que a tensão de distribuição é equivalente a (Figura 27): Kp.γ.h Em que: Kp = coeficiente de empuxo passivo. γ = peso específico do solo. h = altura da estrutura. Continuando o deslocamento, AB deixará de apresentar continuidade e produz deslocamento na linha BC. Que forma um ângulo de (45°- ) com a pressão principal maior. A partir desta relação assume-se que, para solos não coesivos, o Kp é equivalente a tg2. (45+ ) A expressão do empuxo ativo Ep é igual a área do triangulo ABD que será: Ep = .γ.h 2 Kp OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 Figura 28 - Estado passivo. Fonte: Caputo (2015). 4.2.3 Valores do coeficiente de empuxo Para diferentes ângulos de atrito do solo pode-se definir, segundo a Tabela abaixo, os valores de Ka e Kp. ф Ka Kp 0º 1,00 1,00 10º 0,70 1,42 20º 0,49 2,04 25º 0,41 2,47 30º 0,33 3,00 35º 0,27 3,69 40º 0,22 4,40 45º 0,17 5,83 50º 0,13 7,55 60º 0,07 13,90 Tabela 3 - Coeficientes de empuxo ativo e passivo. Fonte: Caputo (2015). Como se observa entre os três valores de K podemos escrever que: Ka < K0 < Kp OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 4.2.4 Superfície do terrapleno inclinada Em muitos casos o solo atrás do muro não está nivelado e pode apresentar inclinação acima da horizontal (Figura 29). Figura 29 - Empuxo em terrapleno com superfície inclinada. Fonte: Caputo (2015). Se a superfície livre do terrapleno tem uma inclinação β, os valores de empuxo serão dados por: Os seus pontos de aplicação ainda são no terço inferior da altura h. 4.3 Solos coesivos Como o solo não resiste a tensões trativas surgem trincas na região superior do terrapleno a uma determinada profundidade Z0. A pressão horizontal se anula, sendo negativa acima de z0 e positiva abaixo dessa profundidade. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 Teoricamente na profundidade da altura crítica não há empuxo (ele se anula), pois é compensado pela área de tração e compressão. Logo, pode-se fazer um corte sem necessidade de estrutura de contenção. Deve-se considerar a coesão (c) nos cálculos. Figura 30 - Empuxo em solos não coesivos. Fonte: Caputo (2015). 4.3.1 Empuxo Ativo Será dado pela expressão: Pela qual, a uma profundidade em que o empuxo se anula é denominado altura: 4.3.2 Empuxo Passivo Será dado pela expressão: E a profundidade critica pode ser encontrada como no ativo. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 4.4 Efeito da sobrecarga Pode ser considerado como uma altura equivalente de solo, h0, escrevendo-se h0=q/γ, sendo γ o peso específico do terreno. A pressão, numa profundidade z, será então Kγz + Kγh0. A resultante será aplicada acima do terço inferior da parede. 4.4.1 Terreno plano Para solos não coesivos adota-se a h0 = q/γ. Figura 31 - Sobrecarga em terreno plano. Fonte: Caputo (2015). 4.4.2 Solo inclinado A altura equivalente de solo é dada por: OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 Figura 32 - Sobrecarga em terreno inclinado. Fonte: Caputo (2015). 4.5 Influência da água Na maioria dos casos se realiza sistema de drenagem no terrapleno para que a água não desenvolva pressão neutra. Mas em casos que não seja possível e tenha a presença do lençol d’água, é necessário verificar a influência sobre o cálculo das pressões. Considerando-se a pressão total a soma da pressão efetiva e da água: σv=σv’ + u Em que: u= poro-pressão, da água. Para efeitos de cálculo: Considerar a soma do Empuxo do SOLO + ÁGUA Peso específico da água (γ água): cerca de 10 kN/m3 Peso específico solo saturado: ordem de 19 kN/m3 Entretanto, considera-se o solo em condições submersas por se referir à tensão efetiva do solo. Deve-se achar peso específico solo submerso para calcular o empuxo exercido pelo solo. γ sub = γ sat - γ água OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 Em que: γ sat = peso específico do solo saturado, ou seja, com todos os vazios preenchidos com água. γ sub = peso específico do solo submerso, ou seja, equivalente ao peso do solo saturado – peso da água . 4.6 Exercício exemplo Considere que um muro de arrimo com 6 metros de altura está suportando um solo, cujo peso específico é de 16 kN/m³, e esta areia apresente ângulo de atrito interno de 30°. Pela Teoria de Rankine qual é o valor de empuxo ativo sobre este muro? E qual é a resultante do empuxo no muro de arrimo? Listando as informações do enunciado: Altura (h) = 6 metros Peso especifico do solo (γ) = 16 kN/m³ Ângulo de atrito interno(ф) = 30º Temos que achar o coeficiente de empuxo ativo dado pela fórmula: Ka= tg2(45- ) Então: Ka= tg2(45- ) → Ka= 0,33 E depois achar o empuxo ativo pela fórmula substituindo os dados na equação: OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 Ea = γ h2 Ka Ea = .16.62.0,33 → 95 kN/m O ponto de aplicação é equivalente a 1/3 da altura (h), então 1/3 x 6 = 2 metros acima do solo. Resposta do exercício exemplo: o valor do empuxo ativo é 95 kN/m e o seu ponto de aplicação está localizado à 2 metros da base. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 AULA 5 TEORIA DE COULOMB Dando continuidade à aula anterior que foi visto sobre o empuxo de terra, existem algumas metodologias de cálculo e formas para calcular o empuxo de terra e a sua distribuição de pressões ao longo do plano de contenção. Através da Teoria de Coulomb é possível admitir uma superfície de ruptura do solo e assim determinar o empuxo atuante na estrutura de contenção. 5.1 Método de cálculo A Teoria de Coulomb é um método clássico de cálculo no equilíbrio-limite e que o maciço de solo se rompe segundo superfícies curvas, os quais por conveniência admitem-se planas. Então, para a aplicação da teoria de Coulomb considera-se: • Solo homogêneo. • Existência do atrito-solo. • Esforço proveniente da pressão do peso parcial da cunha de terra, que se rompe em superfícies curvas, mas que são admitidas planas. • A estrutura de contenção não precisa ser plana. • O terreno pode ser horizontal ou inclinado. Além disso, nada se afirma do ponto de aplicação do empuxo na estrutura de contenção, na prática adota-se entre 1/3 a ½ altura da estrutura. 5.1.1 Hipóteses A linha de ruptura forma uma cunha entre a superfície do terreno e a parede interna do muro. São admitidas as hipóteses que a superfície de escorregamento é plana e o plano de ruptura passa pela base do muro no ponto A, conforme Figura 33. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 Figura 33 - Cunha de ruptura. Fonte: o autor (2020). Desta forma, o esforço exercido no muro é proveniente do peso parcial de uma cunha de terra que desliza pela perda de resistência ao cisalhamento (ao longo de superfície curvada). Na prática é substituída por plano de ruptura, conforme a Figura 34, em A tem-se o estado ativo e em B o estado passivo. Figura 34 - Planos de ruptura. Fonte: Gersogovich (2010). 5.1.2 Equilíbrio limite Envolve a estabilidade como um todo da cunha de solo entre muro de contenção e o plano de ruptura, onde o equilíbrio limite da cunha de solo com seção triangular. Solução de limite superior de plasticidade, ocorrendo a ruptura do maciço acima do plano de ruptura escolhido quando o muro se afasta do solo ou insere nele. Conforme o exemplo da cunha no estado ativo (Figura 35). OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 Figura 35 - Exemplo da cunha de ruptura. Fonte: https://images.app.goo.gl/djnRJ4yNv4u3rBAG9 5.1.3 Considerações sobre a Teoria de Coulomb Esta teoria apresenta mais amplitude de cálculos e utilizações, pois considera condições irregulares de geometria do muro e do maciço/retroaterro, sem desprezar a resistência do muro e do solo. Possibilita também a incorporação sobrecarga concentrada ou distribuída e a existência de lençol freático, ou seja, a presença da água. Abrange ainda análise da estabilidade de taludes, escavações, barragens de terra e aterros e um estudo da estabilidade de muros de arrimo. É utilizado para análise de talude íngremes, qualquer tipo de superfície superior do terreno, sobrecarga e qualquer contenção em geral. 5.1.4 Influência do atrito solo-muro Ao considerar o atrito entre o solo e o muro (estrutura), isto significa que no plano do tardoz (estrutura de contenção) há o desenvolvimento de tensões de cisalhantes que exprimem uma resistência. O atrito do solo-muro (δ) é determinado pelo ângulo de atrito do solo (φ) admite-se segundo: • Terzaghi: ≤ δ ≤ φ; • Müller Breslau: δ = φ. https://images.app.goo.gl/djnRJ4yNv4u3rBAG9 OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 Segundo o manual de fundações e estruturas publicado em 1982 pela NAVFAC, temos valores típicos do ângulo de atrito na interface entre o solo e estrutura em função dos tipos de materiais conforme a Tabela 3 abaixo. Materiais de interface Ângulo de interface (δ) Massa de concreto contra Rocha sã 25 Grava limpa, mistura de areia e grava, areia grossa 29 – 31 Areia impa fina a mediana, areia siltosa mediana a grossa, grava siltosa ou argilona 24 – 29 Areia fina limpa, areia siltosa ou argila fina a mediana 19 – 24 Silte arenoso, silte não plástico 17 – 19 Concreto trabalhado contra Argila medianamente rígida, e rígida, e argila siltosa 17 – 19 Grava limpa, mistura de areia e grava, brita bem graduada com lascas 22 – 26 Areia limpa, mistura de grava e areia siltosa, brita dura de um tamanho só 17 - 22 Estacas de aço contra Areia siltosa, grava, ou areia misturados com silte ou argila 17 Silte arenoso fino, silte não plástico 14 Grava limpa, mistura de areia e grava, brita bem graduada com lascas 22 Areia limpa, mistura de grava e areia siltosa, brita dura de um tamanho só 17 Areia siltosa, grava ou areia misturados com silte ou argila 14 Silte arenoso fino, silte não plástico 11 Tabela 3 – Valores típicos do ângulo de atrito na interface solo-estrutura. Fonte: NAVAFAC (1982). 5.2 Solos não coesivos Levando-se em conta uma possível cunha de ruptura ABC para o estado ativo, em equilíbrio sob a ação de, conforme a Figura 36. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 Figura 36 - Forças atuantes no empuxo ativo. Fonte: Caputo (2015). Em que: P – peso da cunha, conhecido em grandeza e direção. R – reação do terreno, formando um ângulo φ com a normal à linha de ruptura BC. Ea – empuxo resistido pela parede, força cuja direção é determinada pelo ângulo δ de atrito entre a superfície rugosa AB e o solo arenoso. Podemos determinar Ea traçando-se o polígono de forças. Admitindo-se, então, vários possíveis planos de escorregamento, BCi, será considerada como superfície de ruptura aquela que corresponder ao maior valor de Ea, que é o valor procurado. Partindo das condições de equilíbrio das três forças P, R e Ea, deduzem-se as equações para os empuxos ativo (Ea) e passivo (Ep), este último correspondendo à superfície de deslizamento, também suposta plana, que produz o prisma de empuxo mínimo. A curvatura da superfície de ruptura tem aqui maior importância que no caso ativo e é tanto mais acentuada quanto maior for δ em relação a φ, o que torna admissível a aplicação da teoria de Coulomb para o cálculo do empuxo passivo, somente aos solos não coesivos, quando δ ≤ φ/3. 5.2.1 Empuxo ativo O empuxo ativo é dado pela fórmula: OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 Em que: γ = peso específico do solo. h = altura da estrutura . Ka= coeficiente de empuxo ativo. E o coeficiente de empuxo ativo temos pela fórmula: Em que: α = ângulo de inclinação do tardoz. β = ângulo de inclinação do terreno. δ = ângulo de atrito solo-muro. φ = ângulo de atrito do solo. Lembrando que se: α = 90° e β = δ = 0°, a Teoria de Coulomb se iguala a de Rankine. 5.2.2 Empuxo passivo O empuxo passivo é dado pela fórmula: Em que: γ = peso específico do solo. h = altura da estrutura . Ka= coeficiente de empuxo passivo. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55 E o coeficiente de empuxo passivo pela fórmula: Em que: α = ângulo de inclinação do tardoz. β = ângulo de inclinação do terreno. δ = ângulo de atrito solo-muro. φ = ângulo de atrito do solo. Levando-se em conta uma possível cunha de ruptura ABC para o estado passivo em equilíbrio sob a ação de, conformea Figura 37. Figura 37 - Forças atuantes no empuxo passivo. Fonte: Caputo (2015). 5.2.3 Soluções gráficas Existem outras soluções gráficas (Poncelet, Culmann) na literatura procurando resolver o problema do cálculo do empuxo. O método de Culmann procura determinar a resultante de empuxo para terrapleno com geometria irregular ou com carregamento externo, aplicado originalmente para solos não coesivos e leva em consideração o ângulo de atrito entre solo e muro. O valor do empuxo é determinado fazendo-se variar o ângulo de inclinação da superfície de ruptura, admitida OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56 plana. O maior valor deles é tomado como sendo a resultante de empuxo ativo procurada ou o menor como sendo a resultante de empuxo passivo. 5.2.4 Solos coesivos Na aplicação da teoria de Coulomb aos solos coesivos, além das forças R (atrito) e P (peso da cunha), devemos considerar ainda as forças de coesão, S, ao longo da superfície de deslizamento e de adesão, T, entre o terrapleno e a parede. 5.2.5 Empuxo ativo O problema consiste em procurar o máximo valor da força máxima, no caso como apresentado na Figura 38 o empuxo ativo (Ea) que, com as demais, feche o polígono das forças, as quais são conhecidas em grandeza e direção – P, S e T, e apenas em direção – R e Ea. Figura 38 - Forças atuante no empuxo ativo. Fonte: Caputo (2015). Neste caso faz-se necessário o cálculo da resultante diretamente pelo desenho do polígono de forças. Não há um coeficiente de empuxo K que corresponda à situação em análise, simplificando a sua determinação, como pode haver nos casos anteriores. Para a situação de empuxo passivo o procedimento deve ser o mesmo, considerando a posição da resultante Ep como já ilustrado. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57 5.2.6 Empuxo passivo No caso de empuxo passivo em solos arenosos quando δ ≥ φ/3 e em solos coesivos, a experiência tem mostrado que a superfície de deslizamento nas proximidades da parede tem diretriz nitidamente curva, pelo que a sua forma é suposta constituída por um arco de espiral logarítmica ou um arco de circunferência de círculo tangente a uma reta inclinada de 45 – com a horizontal. No que se segue consideraremos BC como um arco de circunferência de círculo. Figura 39 - Envoltória de ruptura no estado passivo. Fonte: Caputo (2015). 5.3 Ponto de aplicação do empuxo O ponto de aplicação do empuxo é obtido traçando-se pelo baricentro G1 da cunha ABC. Uma paralela ao plano de escorregamento BC é traçado até encontrar o paramento interno G2, que será, aproximadamente, o ponto de aplicação. Figura 40 - Ponto de aplicação do empuxo. Fonte: Caputo (2015) OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58 5.4 Exercício exemplo Considere que um muro de arrimo com 6 metros de altura está suportando um solo, cujo o peso específico é de 18 kN/m³ e esta areia apresenta ângulo de atrito interno de 30°. Além disso, o plano de inclinação da contenção faz 90° com a horizontal, e o terreno não apresenta inclinação, ou seja, faz 0° com a horizontal. O muro-solo apresenta atrito de 25 °. Pela Teoria de Coulomb, determine o empuxo ativo sobre este muro? E qual é a resultante do empuxo no muro de arrimo? Reorganizando as informações dadas do problema: α = ângulo de inclinação do tardoz → 90º β = ângulo de inclinação do terreno → 0º δ = ângulo de atrito solo-muro → 25º φ = ângulo de atrito do solo → 30º Ea= empuxo ativo ?? γ = peso específico do solo (kN/m³) → 18 kN/m³ h = altura (m) → 6metros ka= coeficiente de empuxo ativo → achar pela formula de Ka na teoria de coulomb Temos que achar o coeficiente de empuxo ativo dado pela fórmula: OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59 Então: Ka → 0,29 E depois achar o empuxo ativo pela fórmula, substituindo os dados na equação: Ea = γ h2 Ka Ea = 1/2.18.6 2.0,29 → 93,96 kN/m O ponto de aplicação é equivalente a 1/3 da altura (h), então 1/3 x 6 = 2 metros acima do solo. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60 AULA 6 ESCAVAÇÃO DE VALAS E ESCORAMENTOS Para iniciar este assunto sobre escavações de valas e escoramento é importante entender alguns conceitos e definições que os englobam, conforme o glossário abaixo: • Escavação: Remoção de solo, da superfície natural do terreno até a cota de projeto. • Vala: Abertura no solo, feita mecânica ou manualmente, com seção transversal definida, para a instalação de tubulações. • Escoramento: Estrutura para manter estáveis os taludes das escavações. • Esgotamento: Retirada da água da vala, para o desenvolvimento dos trabalhos dentro dela. • Fundo da vala: Parte inferior da vala, sobre a qual a tubulação é apoiada diretamente ou através de um berço adequado. • Profundidade da vala: Diferença de nível entre o fundo da vala e a superfície do terreno. • Reaterro da vala: Recomposição de solo desde o fundo da vala até a superfície do terreno. • Rebaixamento de lençol: Operação que tem por finalidade eliminar ou diminuir o fluxo de água do lençol freático para o interior da vala, através de sistema apropriado. Então, o que seriam as escavações e com quais finalidades são executadas na engenharia civil? As escavações de valas são realizadas principalmente em obras de saneamento, drenagem para construção e passagem de redes de gás e oleodutos. Assim como englobam grandes obras, como para construção de metros, galerias de água pluvial, execução de tubulões (fundações), subsolos de edifícios e obras em geral que são enterradas. A execução deste serviço é regida pela NBR 12.266 (ABNT, 1992) que define valas para tubulações de água, esgoto ou drenagem e estabelece critérios para o posicionamento e execução dos escoramentos. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61 6.1 Aspectos de dimensionamento Alguns aspectos geotécnicos devem ser observados ao serem realizadas as escavações e os escoramentos entre eles estão: • Propriedades do solo e/ou rocha. • Condições do nivel d’água. • Forma e dimensões das escavações. • Espaço disponível. • Situação das fundações vizinhas. • Estudo da estabilidade pela distribuição de pressões do terreno sobre as estruturas de contenção: o empuxo obtido pelas teorias de Rankine e Coulomb. Esses aspectos devem ser levados em conta tendo como principais objetivos: garantir condições para realização destes serviços e principalmente garantir a segurança dos trabalhadores. 6.2 Métodos de escavação Os métodos de escavação e técnicas dependem de alguns fatores que são regidos pela NBR 9.061/85 – Segurança de escavações a Céu Aberto (ABNT,1985). 6.2.1 Classificação dos materiais De acordo com os tipos de materiais e a sua classificação, é adotado o melhor processo para a sua escavação. Os materiais são classificados por categoria que está em função do tipo de material e o processo de escavação adequado, conforme a Tabela 4. OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62 Categoria Característica Material Processo 1a Mais fácil de ser retirado Areia, argila Escavação simples 2ª Retirado com certa dificuldade Argila rija, com predominância de pedregulho com diâmetro entre 0,15m a 1,00m Escarificação, eventualmente explosivos 3a Difícil de ser retirada Rocha ou blocos de rochas Emprego de explosivos Tabela 4 - Classificação dos materiais. Fonte: DNIT (2009). Na figura 41 abaixo pode-se verificar as características dos materiais. O primeiro da esquerda para direita é um material de primeira categoria, a imagem central representa material de segunda categoria e a última imagem, à direita um material de terceira categoria. Figura 41 - Tipos de materiais de acordo com a categoria. Fonte: https://pedreirao.com.br/o-que-sao-materiais-de-1-2-e-3-categorias-passo-a-passo/ 6.2.2 Manual A escavaçãomanual é realizada com o auxílio de ferramentas manuais e utilizando a força braçal humana. São indicadas para profundidades até 1,50 metro. Sendo indicada para solos mais brancos. https://pedreirao.com.br/o-que-sao-materiais-de-1-2-e-3-categorias-passo-a-passo/ OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63 Figura 42 - Escavação manual. Fonte: http://tstetecnologias.blogspot.com/2012/01/escavacao-em-solo-e-aberturas-de-valas.html 6.2.3 Mecânica As escavações mecânicas são aquelas realizadas com uso de equipamentos motorizados, como escavadeiras, retroescavadeiras, valetaradeiras ou pneumáticos. Deve-se atentar ao risco de tombamento do equipamento, portanto deverão ser verificados os pontos de apoio. Figura 43 - Escavação mecânica: retroescavadeira. Fonte: http://tstetecnologias.blogspot.com/2012/01/escavacao-em-solo-e-aberturas-de-valas.html http://tstetecnologias.blogspot.com/2012/01/escavacao-em-solo-e-aberturas-de-valas.html http://tstetecnologias.blogspot.com/2012/01/escavacao-em-solo-e-aberturas-de-valas.html OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64 Figura 44 - Escavação mecânica - valetadeira. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-2t94ztD00Dw/VGAR4u7ValI/AAAAAAAAAMA/ozF7vFk5NBg/s1600/100_0575.JPG 6.2.4 Taludada São escavações executadas com as paredes em taludes estáveis, podendo ter patamares (bermas ou plataformas), objetivando melhorar as condições de estabilidade dos taludes. O ângulo de inclinação depende das condições geotécnicas do solo. Nas escavações a céu aberto é sempre mais econômico prever a execução de taludes (sem ou com degraus) do que paredes verticais escoradas ou ancoradas, desde que a natureza do solo e as condições locais o permitam, isto é, desde que não haja perigo de deslizamento que possa afetar a estabilidade das construções vizinhas. Figura 45 - Taludes em bermas. Fonte: ABNT (1985) http://3.bp.blogspot.com/-2t94ztD00Dw/VGAR4u7ValI/AAAAAAAAAMA/ozF7vFk5NBg/s1600/100_0575.JPG OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65 Figura 46 - Escavação taludada. Fonte: http://www.alegre.es.gov.br/site/images/imagens/artigos/defesa-civil/recomendacoes-escavacoes.pdf 6.3 Proteções das escavações Além da escavação ser um método de proteção das escavações estas podem ser protegidas com estruturas denominadas de cortinas. Estas cortinas são escoramentos e materiais que protegem as paredes de valas contra os desprendimentos. Estas são denominadas conforme o método: • Cortinas com peças de proteção horizontal. • Cortinas estacas-pranchas. • Cortinas estacas justapostas. • Cortinas de concreto armado. • Cortinas de concreto armado ancoradas. As escavações podem ser protegidas também conciliando as paredes protegidas em taludes, conforme Figura 47. http://www.alegre.es.gov.br/site/images/imagens/artigos/defesa-civil/recomendacoes-escavacoes.pdf OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66 Figura 47 - Escavações com proteções mistas. Fonte: http://www.alegre.es.gov.br/site/images/imagens/artigos/defesa-civil/recomendacoes-escavacoes.pdf 6.4 Escoramentos Os escoramentos são estruturas utilizadas com a finalidade de manter estáveis as paredes das valas de solo com tendência ao desmoronamento, ou seja, protegendo os servidores. Isto porque os solos sem consistência têm a tendência de desmoronar provocado pelo peso próprio ou por cargas eventuais. Normalmente se usa escoramento em obras de saneamento, drenagem, construção de redes de gás e oleodutos. Deve ser aplicado para garantir a segurança dos trabalhadores e secundariamente para permitir que os solos sejam escavados até a profundidade de projeto. Na Figura 48 são indicados os principais elementos construtivos do escoramento: • Estacas-pranchas: peças verticais que recebem o empuxo de terra. • Longarinas: peças colocadas paralelamente ao eixo da vala e servem para transmitir os esforços às entroncas. • Entroncas: peças colocadas transversalmente às valas e servem para transmitir o empuxo de terra de um lado para outro. • Chapuz: peças para calçar as longarinas. • Ficha: parte do escoramento que fica cravada além da cota final de corte da vala. http://www.alegre.es.gov.br/site/images/imagens/artigos/defesa-civil/recomendacoes-escavacoes.pdf OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67 Figura 48 - Principais elementos do escoramento. Fonte: https://images.app.goo.gl/xXAoQqWncoiXMQRZ6 Independente da solução aplicada, a decisão para o uso do escoramento e a técnica deve levar em conta: • Profundidade da vala, de acordo com a NR 18. • Grau de estabilidade do solo, em função de estudos geotécnicos. • Cálculo das pressões máximas sobre o escoramento através do empuxo. 6.4.1 Escoramentos A NBR 12.266 - Projeto e execução de valas para assentamento de tubulação de água, esgoto ou drenagem urbana (ABNT, 1992) apresenta as especificações que devem ser obedecidas para o projeto e execução dos escoramentos, subdivididos em 4 tipos: o pontaleteamento, escoramento descontinuo, escoramento continuo e escoramento especial. 6.4.1.1 Pontaleteamento Escoramento do solo lateral da vala com tábuas na vertical, bastante espaçadas, e travadas transversalmente por estroncas. As tábuas devem ser espaçadas a 1,35 m. As estroncas de diâmetro de 20 cm, por sua vez, devem ter espaço vertical de 1 m. https://images.app.goo.gl/xXAoQqWncoiXMQRZ6 OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68 Figura 49 - Pontaleteamento. Fonte: http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=execucao_obras_esgoto.pdf 6.4.1.2 Contínuo Instalado com tábuas justapostas, sem espaçamento, esse escoramento também é travado por longarinas horizontais e por estroncas. As tábuas cobrem toda a superfície lateral da vala e são travadas umas às outras horizontalmente por longarinas em toda sua a extensão. O espaço vertical entre as longarinas é de 1 m, com estroncas espaçadas em 1,35 m entre si (deve haver uma estronca a 40 cm, pelo menos, de cada extremidade da longarina). A disposição das madeiras cobre toda a superfície lateral. O escoramento contínuo é adequado para solos arenosos e sem coesão. Figura 50 - Escoramento contínuo. Fonte: http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=execucao_obras_esgoto.pdf http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=execucao_obras_esgoto.pdf http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=execucao_obras_esgoto.pdf OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69 6.4.1.3 Descontínuo Com tábuas espaçadas entre si, travadas por longarinas horizontais e por estroncas. As tábuas devem ter 30 cm de espaço entre si. São travadas horizontalmente por longarinas em toda a sua extensão, com espaço vertical de 1 m entre si. São travadas com estroncas a cada 1,35 m (nas extremidades da longarina, a primeira e a última estroncas devem estar colocadas a 40 cm de cada extremidade). A disposição das madeiras não cobre toda a superfície lateral. O escoramento descontínuo é adequado para solos coesos e em cota superior ao nível do lençol freático, tendo pouco ou nenhuma presença de água. Figura 51 - Escoramento descontínuo. Fonte: http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=execucao_obras_esgoto.pdf 6.4.1.4 Especial O escoramento especial é feito com tábuas justapostas encaixadas (por meio de encaixe macho-fêmea). O conjunto é completado com longarinas e estroncas. As estacas-pranchas (6 cm x 16 cm) do tipo macho-fêmea são travadas horizontalmente por longarinas (8 cm x 18 cm) em toda a sua extensão, com estroncas espaçadas de 1,35 m a menos das extremidades das longarinas, de onde as estroncas devem estar a 0,40 m. As longarinas devem ser espaçadas verticalmente a 1 m. http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=execucao_obras_esgoto.pdf OBRAS DE TERRA ME. BETINA LUDWIG NAVARRO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70
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