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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA 
DANIEL AUGUSTO PARO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONCEITO DE BANALIDADE DO MAL DE HANNAH ARENDT E 
MODERNIDADE DE ZYGMUNT BAUMAN NOS FILMES SOBRE O 
HOLOCAUSTO: UM ESTUDO A PARTIR DOS FILMES “TRIUNFO DA 
VONTADE” E “A LISTA DE SCHINDLER” 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2016 
 
DANIEL AUGUSTO PARO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONCEITO DE BANALIDADE DO MAL DE HANNAH ARENDT E 
MODERNIDADE DE ZYGMUNT BAUMAN NOS FILMES SOBRE O 
HOLOCAUSTO: UM ESTUDO A PARTIR DOS FILMES “TRIUNFO DA 
VONTADE” E “A LISTA DE SCHINDLER” 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao Curso de Relações Internacionais da 
Universidade do Sul de Santa Catarina como 
requisito parcial à obtenção do título de 
bacharel em Relações Internacionais. 
 
 
 
Orientador: Prof. Paulo Roberto Ferreira, Me 
 
 
Florianópolis 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, por todo amor e apoio. 
 
AGRADECIMENTOS 
É preciso compreender a extensão e o crescimento que acompanham uma 
graduação para perceber que não se trata de um grupo seleto de pessoas, mas sim uma grande 
gama de humanos que nos cruzam o caminho nesta etapa e nos acrescentam, ajudam e apoiam 
em sentidos acadêmicos e pessoais, muitas vezes os dois em conjunto. Portanto, entende-se que 
não é possível citar um a um as pessoas que plantaram sementes nestes quatro anos e, da forma 
mais justa e correta possível, gostaria de agradecer cada um que se aproximou, permaneceu ou 
se afastou neste tempo, pois todos continuarão para sempre em memórias especiais e muito 
cultivadas. Agradeço cada conversa, riso, debate, conselho, ajuda e a presença. Por fim, 
aproveito ainda para citar neste espaço pessoas e grupos que se tornam obrigatórios quando esta 
trajetória é posta em pensamento. 
À Universidade do Sul de Santa Catarina, que proporcionou imensurável apoio 
nesta caminhada e foi ator notável na construção do pensamento crítico e no encantamento 
pelos estudos. 
À cada professor que fez parte desta história e estará para sempre guardado nas mais 
inspiradoras memórias pelo aprendizado adquirido dia após dia, sempre com extrema sabedoria, 
vontade e amor pela profissão. O incansável esforço de cada um tornou esta experiência em 
algo único e de alto nível acadêmico, profissional e pessoal. Agradeço em especial ao meu 
orientador Paulo Roberto Ferreira pela disposição e pelas grandes reflexões através de 
enriquecedores debates a cada reunião acerca desta monografia, fornecendo um 
amadurecimento de ideias único. 
À minha família, por priorizar desde sempre meus estudos e por sempre me amar, 
entender, apoiar e lutar ao meu lado cada adversidade da vida. É com imensa felicidade que 
chego a este momento, sabendo que posso orgulhá-los e retribuir parte de tudo que me foi dado. 
Minha mãe Valdirene, ser único e intenso, com um amor pelo mundo que 
transborda e alcança todos que se aproximam. Um sorriso nos seus lábios é um afago em meu 
coração. Obrigado por tudo, desde o primeiro dia. Meu pai, Marco, pela compreensão e pela 
luta diária em suprir todas as necessidades minhas e de meu irmão, e pelo suor gasto para que 
meus estudos estivessem sempre em primeiro lugar, independentemente de qualquer obstáculo. 
Ao meu irmão, Marco Antônio Paro Júnior, que me ensina dia após dia a 
simplicidade da vida, e como é bela e única tal simplicidade. Às minhas tias Nana, Mari, 
Roberta e Val, por formarem uma família tão unida e especial. Meus primos, por sempre 
manterem vivo em minha memória o gosto da infância e da alegria. Meus amigos que fizeram 
 
parte dos mais importantes momentos e sempre estiveram ao meu lado. Também aos meus 
companheiros acadêmicos que ajudaram a tornar esta experiência em algo sempre alegre e 
prazeroso. 
Agradeço especialmente Júlio Cesar Ribeiro Mota Filho por me ensinar o prazer 
nos estudos, pelos incontáveis debates que tanto me fizeram mudar e evoluir. Por sempre me 
apoiar, ajudar e incentivar a ser a melhor versão de mim que posso ser. Sou eternamente grato 
a tudo que você é. 
Aos meus avós, Neusa Maria Francisco, pela alegria em viver e pelo amor 
incondicional, Manoel Francisco, pelo coração tão gigante e aberto, Antônia Carrasco, pela fé 
inabalável e pelo amor tão forte e poderoso que transcende as barreiras da distância. 
Ao meu avô Alcides Paro (in memoriam), por ter sido o maior entusiasta em meus 
estudos e por ter se feito sempre tão presente em nossas vidas. Será para sempre lembrado e 
amado por todos, e que este trabalho seja minha mais sincera e duradoura forma de 
agradecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Faz parte da própria natureza das coisas humanas que cada ato 
cometido e registrado pela história da humanidade fique com a 
humanidade como uma potencialidade, muito depois de sua efetividade 
ter se tornado coisa do passado”. 
 
Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt (2015, p. 295/296) 
 
RESUMO 
A presente pesquisa analisa o conceito de Banalidade do Mal de Hannah Arendt em conjunto 
com a Modernidade de Zygmunt Bauman aplicados em trabalhos cinematográficos ao redor do 
globo e da história. Além dos diferentes filmes abordados, dois recebem destaque para um 
maior aprofundamento da questão, sendo eles o reconhecido “A Lista de Schindler”, longa-
metragem norte-americano e o polêmico “O Triunfo da Vontade”, documentário de propaganda 
nazista. Ao analisar as teorias dentro dos filmes abordados, percebe-se a importância em 
reconhecer as ideologias e interesses presentes por trás de cada grande lançamento do cinema 
que tenta recontar um evento histórico. Utilizando como exemplo a forma com que o 
Holocausto judeu é retratado dentro de grande parte do cinema internacional, consegue-se 
salientar os reais perigos informados por Hannah Arendt e Zygmunt Bauman em suas 
contribuições. 
 
Palavras-chave: Hannah Arendt. Banalidade do Mal. Zygmunt Bauman. Holocausto. Cinema. 
 
ABSTRACT 
This paper analyzes Hannah Arendt’s Banality of Evil along with Zygmunt Bauman’s 
Modernity and apply them in recognized movies around the world and through history. Besides 
the different movies addressed, two of them will be deeper featured in the subject. They are the 
featured American movie “Schindler’s List” and the infamous nazi propaganda documentary 
“Triumph des Willens”. When the theories are put to test, it is remarkable the importance to 
recognize the ideologies and interests behind every great launch in cinema that tries to recount 
a historical event. Picking as an example the way that the jew Holocaust is treated in most of 
the movies, it becomes clear where lies the real threats and dangers that Hannah Arendt and 
Zygmunt Bauman told on their works. 
 
Keywords: Hannah Arendt. Banality of Evil. Zygmunt Bauman. Holocaust. Cinema 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1 - Culpados pela guerra! .......................................................................................... 39 
Figura 2 - O judeu como Satã. .............................................................................................. 40 
Figura 3 – Pôster do filme “O Judeu Eterno” (1940)............................................................. 42 
Figura 4 – A família tradicional nazista ................................................................................ 43 
Figura 5 – Quadro de segregação dos prisioneiros em Auschwitz, Polônia. .......................... 47 
Figura 6 - Escovas de cabelo e dente das vítimas de Auschwitz. Polônia, 1945. ................... 49 
Figura 7 – Câmara de gás no campo principal de Auschwitz, em 1945. ................................ 50 
Figura 8 – Pastilhas de Zyklon B em Majdanek, Polônia. .....................................................51 
Figura 9 – Crianças sobreviventes de Auschwitz, 1945. ....................................................... 52 
Figura 10 – Hannah Arendt na Universidade de Chicago. ..................................................... 55 
Figura 11 – “Eichmann em Israel”, ilustração por Daniel Zender. ........................................ 59 
Figura 12 - Águia prussiana e suástica nazista no pôster do filme “O Triunfo da Vontade”. . 70 
Figura 13 – A grandiosidade nazista em “O Triunfo da Vontade”. ........................................ 72 
Figura 14 – Leni Riefenstahl e Adolf Hitler durante as gravações de “O Triunfo da Vontade”.
 ............................................................................................................................................ 76 
Figura 15 – Pôster oficial do filme “A Lista de Schindler”. .................................................. 79 
Figura 16 – Do alto de sua varanda, Goeth brinca de tiro ao alvo com judeus no campo de 
concentração. ....................................................................................................................... 80 
Figura 17 – Steven Spielberg durante as gravações de “A Lista de Schindler”, 1993. ........... 82 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11 
2 NAZISMO NA ALEMANHA NACIONAL SOCIALISTA ....................................... 18 
2.1 ORIGENS DO ANTISSEMITISMO ........................................................................... 18 
2.2 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E O TRATADO DE VERSALHES ...................... 23 
2.1 PENSAMENTO DE HITLER...................................................................................... 30 
2.2 NAZISMO................................................................................................................... 34 
2.2.1 Fascismo .................................................................................................................. 37 
2.2.2 Ideologia, poder e propaganda ............................................................................... 37 
2.3 O NACIONAL SOCIALISMO DE HITLER ............................................................... 43 
2.4 HOLOCAUSTO .......................................................................................................... 46 
3 VIDA E OBRA DE HANNAH ARENDT .................................................................... 53 
3.1 EICHMANN EM JERUSALEM E A BANALIDADE DO MAL ................................ 57 
3.2 ZYGMUNT BAUMAN E A MODERNIDADE .......................................................... 63 
4 IDEOLOGIA NO CINEMA ........................................................................................ 68 
4.1 O TRIUNFO DA VONTADE ...................................................................................... 70 
4.2 A LISTA DE SCHINDLER ......................................................................................... 77 
4.3 A BANALIDADE DO MAL, O HOLOCAUSTO E O CINEMA ................................ 83 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 90 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 93 
 
 
 11 
1 INTRODUÇÃO 
A teoria da Banalidade do Mal de Hannah Arendt pode ser interpretada e projetada para 
diversos momentos da comunidade internacional onde o mal se faz presente, e é este fator que 
comprova a importância de sua análise na vida acadêmica. Sua súplica pela autorreflexão 
fomenta o desenvolver da presente pesquisa, que também demonstra a forma com que esta 
teoria pode ser encontrada em projetos cinematográficos dos mais diferentes cenários ao passar 
dos anos. Com uma abordagem secundária que irá enriquecer e sustentar os ensinamentos de 
Arendt, traz-se também o conceito de Modernidade criado por Zygmunt Bauman a fim de 
compreender de forma mais completa os acontecimentos do Holocausto e como estes 
acontecimentos são vistos e projetados no cinema. 
A vida e trajetória do homem em sociedade é, desde sua origem, cercada pela presença 
constante do mal1, que nasce e se fortalece a cada conflito, perseguição, morte e destruição sem 
vinculação à específica conjuntura internacional ou nacional e também sem distinção de 
localização, sendo presente em todos os cantos do globo e em todos os momentos. Tem-se mal 
definido por “tudo o que se opõe ao bem, tudo o que prejudica, fere ou incomoda, infortúnio, 
desgraça, tormento, mágoa, sofrimento” (MICHAELIS, 2009) e, entre as inúmeras definições 
acadêmicas temos os conceitos de Thomas Hobbes, Kant e Hannah Arendt. Para Kant, na sua 
obra que discute o mal moral, todo homem tem propensão para o bem e também para o mal, 
logo este possui limitações a alcançar um comportamento compatível com a moral religiosa 
(PINHEIRO, 2009, p.141). Para Hobbes, “a maldade está intrínseca à natureza humana, pois 
este é dotado de parcialidade, orgulho e vingança com os demais”, (HOBBES, 1651, p.136) 
logo para Hobbes, é necessário a existência de um governo e de leis para conservar o indivíduo 
de sua autodestruição (HOBBES, 1651, p. 276). Ainda quanto a definições, Hannah Arendt 
aborda também o intitulado “mal banal”, que é fruto da burocratização e massificação da 
sociedade, o que leva a não-reflexão dos indivíduos e consequentemente a práticas da maldade 
(ARENDT, 2015, p. 165-166). Independendo da definição usada, barbáries, perseguições e 
genocídios são grandes responsáveis por tecer o medo nas linhas da história e trazerem o mal à 
vida do indivíduo e toda a população. 
 
 
1 A ideia de mal apresentada baseia-se nas contribuições de Santo Agostinho ao afirmar que "o homem não foi 
programado deterministicamente nem para o bem, nem para o mal" (COSTA, 2002, p. 345), ou seja, o homem 
sempre será imputado de sua própria responsabilidade quando agir mal. Ao determinar-se que o homem age mal 
ao ir contrário da ordem das coisas criadas por Deus, entende-se a origem do mal no nascimento da imagem de 
Deus. Por fim, "a violência no cristianismo é desviada da natureza humana e se torna algo antinatural e imoral" 
(BELLEI; BUZINARO, 2010, p. 85). 
 12 
A presença deste mal contra a vida humana em maior escala destaca-se desde os tempos 
antigos até os dias de hoje, como por exemplo, o ano 755 na Rebelião de An Lushuan, a Guerra 
Civil Chinesa (1927 a 1937; 1946 a 1949), as Investidas Mongóis (1207 a 1472), a Guerra dos 
Trinta Anos (1618 a 1648), as Guerras Napoleônicas (1804 a 1815), a Guerra Civil Russa (1917 
a 1921), as duas grandes guerras mundiais do século XX e os conflitos no Oriente Médio nas 
últimas décadas. Entretanto, vale ressaltar que o mal entre os homens não se dá apenas em 
questões concernentes aos Estados, já que a controversa trajetória do mal e do medo tem em 
seu curso, ainda no século XIX, a crueldade da aniquilação indígena por colonos europeus 
durante a colonização da América, a escravidão, datada desde o Egito Antigo, a Inquisição, no 
extermínio dos considerados hereges na França do século XII e o trabalho forçado de africanos 
no imperialismo colonial. 
A presença do mal na Segunda Grande Guerra Mundial foi gestada antes mesmo do 
desdobramento do conflito, sendo o ano de 1933 emblemático para o desenvolvimento da 
ideologia nazista e consequentemente o antissemitismo alemão, que levou ao genocídio de 5 
milhões de judeus (HILBERG, 1985 apud HOBSBAWN, E. 1994, 57). É com a chegada de 
Adolf Hitler ao poder em uma Alemanha desmoralizada e destruída pós-Primeira Guerra 
Mundial que desponta uma das mais notáveis e inesquecíveis barbáries presenciadas pelo 
indivíduo em um mundo conectado e midiático. No conceito de Banalidade do Mal de Hannah 
Arendt, o totalitarismo do governo hitlerista e a burocratizaçãode suas ações tiravam do 
indivíduo a capacidade de reflexão frente à hostilidade presente nas ações nazistas. 
Entende-se por fim que com o Holocausto, mais uma vez o mal se tornou ator presente 
no cotidiano internacional, tocando pessoas de todas as idades, credos e regiões até os dias de 
hoje. 
Assim como a presença do mal, a arte e suas diferentes formas de representá-la para a 
sociedade (em menor ou maior escala) também acompanha a história do indivíduo desde o 
início de sua vida em comunidade. Exemplos desta forma de entretenimento e 
compartilhamento de informação são já vistos nos teatros de tragédia grega (550 a.C.), uma 
dramatização que representava contextos sociais, assim como a própria literatura, iniciada com 
a invenção da imprensa na Renascença e o lançamento do primeiro livro impresso no século 
XV, florescendo a circulação de ideias, além do grandioso número de livros editados e lançados 
desde tal invenção, sendo esta acompanhada na sequência pela fotografia, fenômeno importante 
para o surgimento do cinema no fim do século XIX. Como pode-se notar, os meios de 
comunicação, entretenimento e mídia evoluíram com o tempo, aumentando consequentemente 
 13 
seu raio de influência e poder até os dias atuais com a era eletrônica, que engloba a força de 
todos os meios apresentados e facilita a interconexão imediata com todos os cantos do globo. 
Com o surgimento e o ganho de força dos meios de entretenimento e comunicação no 
fim do século XIX e início do século XX, tais como o rádio, o telefone e o cinema, a informação 
foi mais facilmente compartilhada, engatilhando a globalização midiática e aproximando 
cidadãos aos acontecimentos mais chocantes da história atual, além de ter servido anteriormente 
para a propagação das ideologias da época (cinema nazista, norte-americano e soviético, como 
exemplo). Com estes meios a informação já chegava de forma mais rápida e acessível, durante 
a Segunda Guerra Mundial, nos lares de parte da população de todo o mundo e, descobertas as 
atrocidades cometidas contra judeus, comunistas, homossexuais, negros e ciganos ao fim da 
Guerra, o horror, o medo e a sensação pulsante e presente do mal na sociedade veio à tona de 
forma avassaladora. 
O sofrimento individual, a dor e o desespero de cada vítima – em destaque os judeus – 
dos campos de concentração durante a “Solução Final” nazista são considerados chocantes e 
bárbaros, sentimentos estes intensificados com a crescente força dos meios de entretenimento 
e comunicação da época, causando grande comoção e extrema curiosidade no ser humano. Com 
o grande interesse das massas em conhecer, entender e acompanhar os acontecimentos na 
Europa ocupada, surgem no cinema inúmeras obras cinematográficas que retratavam esta 
realidade das mais diversas diretrizes possíveis, como romance (The Reader, Estados Unidos e 
Alemanha, 2008), drama (Deutchland bleiche Mutter, Alemanha, 1980), comédia (La vita è 
bella, Itália, 1997) e filme propriamente de guerra (Idi i smotri, União Soviética, 1985), 
produzidos e filmados em diferentes países ao redor do globo. 
Destarte, levando-se em conta a riqueza de relatos sobre a Segunda Guerra Mundial 
presente na sétima arte, a investigação do presente objeto de estudo se apoia sobre esse material 
para analisar o conceito de Banalidade do Mal formalizado pela filósofa política Hannah 
Arendt. Por questões de delimitação do tema, a pesquisa é explorada através de duas obras 
cinematográficas emblemáticas em relação ao assunto, que recebem análise mais aprofundada 
enquanto outros trabalhos são citados e servem para conceber uma visão mais geral do tema. 
Estes são ‘’A Lista de Schindler’’ e ‘’Triunfo da Vontade’’, sendo o primeiro de grande acesso 
às massas e com conteúdo bastante difundido sobre o objeto de investigação, e o segundo feito 
como propaganda da ideologia nazista e aclamado tecnicamente pela crítica. A partir destes 
fatos, chega-se a pergunta de partida: Como o conceito de banalidade do mal de Hannah Arendt 
e a modernidade de Zygmunt Bauman são representados nos filmes sobre o holocausto, como 
por exemplo A Lista de Schindler e Triunfo da Vontade? 
 14 
Para melhor organização da pesquisa, tem-se como objetivo geral a análise do conceito 
de Banalidade do Mal de Hannah Arendt e de Modernidade de Zygmunt Bauman tanto nos 
filmes “A Lista de Schindler” e “Triunfo da Vontade” como em outros trabalhos 
cinematográficos ao redor do globo. A separação do tema em objetivos específicos 
compreende-se em duas questões, sendo estas, a descrição da ideologia nazista e sua aplicação 
na Alemanha de Adolf Hitler e a apresentação e definição dos pensamentos de Hannah Arendt 
e Zygmunt Bauman. Por fim, traz-se a identificação e análise dos conceitos abordados nos 
filmes “A Lista de Schindler” e “Triunfo da Vontade”, também analisados em outros trabalhos 
do cinema com o passar dos anos e em diferentes pontos do globo. 
O holocausto de milhões de judeus durante o governo do Terceiro Reich na Alemanha é 
assunto ainda vigente nos estudos acadêmicos de variados cursos, fato este que comprova sua 
relevância ainda imensurável na sociedade atual e a necessidade em analisar seus 
acontecimentos para refleti-los no presente, entender suas origens e aprender com suas 
consequências. 
É de grande importância para as Relações Internacionais como área de estudo o 
conhecimento sobre a teoria da Banalidade do Mal, criada pela filósofa política Hannah Arendt 
no pós-Segunda Guerra Mundial. Seja por sua polêmica diante o Holocausto de judeus em um 
mundo ainda abalado no pós-guerra, por sua coragem e aprofundamento filosófico ou também 
por sua presença que se renova a cada acontecimento histórico que exponha o mal para a 
sociedade internacional e nos atenta sobre os perigos de um governo totalitário e suas 
consequências. 
Ao considerarmos a força do cinema cada vez mais forte devido às suas representações 
sociais em forma de entretenimento e seu fácil alcance internacional, é de grande interesse 
analisar a forma prática como a Banalidade do Mal é exposta em projetos cinematográficos de 
todo o mundo para compreender a maneira com que o evento histórico é passado para os 
espectadores de algo, à primeira vista, pautado no entretenimento. 
Por não serem devidamente discutidas dentro dos cursos de Relações Internacionais, as 
teorias de Hannah Arendt e Zygmunt Bauman enriqueceriam o estudo de diversas matérias 
presentes em nossa passagem acadêmica, como a História das Relações Internacionais, os 
Direitos Humanos, o Direito Internacional Humanitário, a Geopolítica e as Relações 
Internacionais Contemporâneas. 
Na conjuntura internacional em que vivemos, com as práticas autoritárias e totalitárias de 
alguns governos tornando a presença do mal ainda presente na sociedade, reitera-se a extrema 
importância do entendimento tanto da teoria de Hannah Arendt quanto da teoria de Zygmunt 
 15 
Bauman. Uma maior maturidade acadêmica é primordial na análise e reflexão dos 
acontecimentos envolvendo o mal e, focando-se nas imigrações em massa para a Europa não 
só como consequência direta da presença do terrorismo no Oriente Médio, mas também da 
presença de Estados autoritários na região. Os reflexos econômicos negativos das imigrações 
causam também a ascensão de partidos políticos extremistas diante a revolta de uma população 
despreparada e sem autorreflexão, causando uma rachadura histórica marcada pela xenofobia e 
intolerância, onde percebe-se a atualidade de teorias criadas nos anos de 1960. 
Analisar a Banalidade do Mal que é representada continuamente no cinema mundial é de 
grande importância para o estudante de Relações Internacionais, pois permite que este 
compreenda e faça reflexão de ocasiões que causam o terror e demonstram o mal, expandindo 
sua capacidade de argumentação e autocrítica e intensificando seu conhecimento quanto aos 
maiores acontecimentos doglobo, tal como a Segunda Guerra Mundial. 
Além disso, a relevância do tema é também clara quando se cita a grande discussão em 
torno do lançamento do livro “Minha Luta” de Adolf Hitler, lançado originalmente em 1925, 
mas com publicação impedida há 70 anos, que agora cai em domínio público e divide opiniões 
quanto sua publicação. O tema também servirá para apontar a importância da reflexão dos 
indivíduos na sociedade, característica que eleva virtudes no mercado de trabalho ao apresentar 
uma classe que melhor debaterá e entenderá assuntos vigentes e impactantes na sociedade 
internacional. 
Por fim, o trabalho pretende contribuir para a formação de uma sociedade mais humana e 
reflexiva que tenha em sua base construções intelectuais herdadas de grandes pensadores. 
Ao respeitar a importância dos procedimentos metodológicos para chegar ao conhecimento 
pretendido neste trabalho, é necessário discutir e apontar as questões metodológicas que serão 
utilizadas para a criação do texto de pesquisa. De acordo com SIQUEIRA, et al (2008, p. 2-3), 
a pesquisa pode ser dividia em três concepções primordiais, iniciadas pelo princípio da busca 
pelo conhecimento, seguido do caminho propriamente dito, que é produzido através de 
instrumentos constituídos pela metodologia, e enfim o final, resultado só atingido com ajuda 
dos procedimentos anteriores. Conclui-se, portanto, que “é através da metodologia que se obtém 
o conhecimento; isto é, o método é o através do que se chega a todo conhecimento científico. 
” (SIQUEIRA, et al (2008, p.3). 
 Quanto a aplicabilidade, a pesquisa é classificada como básica, uma vez que tem como 
objetivo “gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática 
prevista”, (GERHARDT & SILVEIRA, 2009, p. 34). Ao analisar as teorias da Banalidade do 
Mal e a Modernidade, instigando a reflexão e interpretação instaurada a partir do Holocausto 
 16 
na Segunda Guerra Mundial, tem-se a abordagem do problema qualitativa, já que se trata de 
um fenômeno “melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte” e que deve 
ser “analisado numa perspectiva integrada” (GODOY, 1995, p. 21). 
 Quanto aos objetivos, o trabalho aborda a pesquisa explicativa que, de acordo com Gil 
(2009, p. 28), pode ir além de uma simples identificação da existência de relações entre 
variáveis, como no caso deste trabalho a teoria de Hannah Arendt e o cinema, também 
determinando a natureza desta relação. 
 O procedimento é conduzido através da análise documental no que tange a utilização de 
materiais cinematográficos para análise e demonstração de uma teoria política, como apontado 
por Sá-Silva, Almeida e Guindane (2009, p. 1): 
 
O conceito de documento ultrapassa a ideia de textos escritos e/ou impressos. O 
documento como fonte de pesquisa pode ser escrito e não escrito, tais como filmes, 
vídeos, slides, fotografias ou pôsteres. Esses documentos são utilizados como fontes 
de informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu conteúdo para elucidar 
determinadas questões e servir de prova para outras, de acordo com o interesse do 
pesquisador. 
 
Em acordo com esta definição, a análise documental feita através do cinema utiliza dois 
filmes importantes e aclamados, mesmo que por razões diferentes. Aproveitando sua qualidade 
técnica, ovação crítica, grande impacto e reconhecimento entre o público em geral, o filme “A 
Lista de Schindler”, norte-americano de 1993, consegue representar um cinema de massas pós-
Segunda Guerra Mundial, que possui maior respaldo orçamentário e bilheteria elevada. Já o 
filme “Triunfo da Vontade” de 1935, filmado, produzido e lançado durante o governo do 
Terceiro Reich na Alemanha nos anos que antecederam o estopim da Segunda Guerra Mundial, 
representa um trabalho técnico exemplar e reconhecido pela comunidade cinéfila mundial, 
mesmo sendo utilizado como modo de propagação da ideologia nazista na época e 
representando algo majoritariamente repudiado pela sociedade global. Ambos os filmes, de 
suas respectivas formas, conseguem demonstrar a forma como a Banalidade do Mal de Hannah 
Arendt é representada na sétima arte, independente de gênero, data do lançamento ou 
conjuntura do Cenário Internacional. 
 Porém faz-se o uso também da análise bibliográfica no que diz respeito ao levantamento 
de informações e propostas acerca da Banalidade do Mal de Hannah Arendt, uma vez que neste 
tipo de pesquisa, segundo Lima, Mioto (2007, p. 41): 
 
A leitura apresenta-se como a principal técnica, pois é através dela que se pode 
identificar as informações e os dados contidos no material selecionado, bem como 
verificar as relações existentes entre eles de modo a analisar a sua consistência. 
 17 
 
 Quanto sua estrutura, a pesquisa é dividida em cinco capítulos, iniciando por sua 
introdução que irá discorrer quanto ao tema abordado e a pergunta que guiará os capítulos 
conseguintes. Dentro da introdução encontra-se também as formas com que a pesquisa será 
desenvolvida, desde suas justificativas a metodologia utilizada. 
 Após a introdução ao tema, segue-se para o segundo capítulo, que concentra no 
entendimento abrangente acerca do nazismo na Alemanha Nacional Socialista e que se propõe 
a analisar de forma mais detalhada as origens do antissemitismo, a Primeira Guerra Mundial, o 
Tratado de Versalhes, o pensamento do líder nazista Adolf Hitler, o nazismo como um todo, 
dividido em subseções que relatam sua diferença com o fascismo e também a força da ideologia, 
do poder e da propaganda, o partido Nacional Socialista e, por fim, o Holocausto, a fim de criar 
fortes bases históricas na compreensão de todos os acontecimentos relatados durante o governo 
do Terceiro Reich. 
 O terceiro capítulo da presente pesquisa discorre sobre a vida e obra de Hannah Arendt, 
autora protagonista da análise proposta assim como o livro que lançou o conceito de Banalidade 
do Mal no mundo, “Eichmann em Jerusalém” e também uma apresentação à vida e o trabalho 
de Zygmunt Bauman e sua contribuição no entendimento do Holocausto com o conceito de 
Modernidade. 
 No quarto capítulo analisa-se a ideologia no cinema e faz-se então a verificação da forma 
com que os ensinamentos de Arendt e Bauman a respeito do Holocausto são vistos ou não nas 
obras “O Triunfo da Vontade” e “A Lista de Schindler”, tendo por fim uma subseção 
responsável por conectar a Banalidade do Mal com o Holocausto em diferentes obras do 
cinema. 
 Por fim, o último capítulo traz as considerações finais quanto ao tema onde é discutido 
quanto a todas as descobertas feitas durante a realização da presente pesquisa. 
 Dispostos dos meios utilizados para a realização da pesquisa, desde as bases necessárias 
para o recolhimento das informações de forma ordeira e eficaz até as indagações que fazem 
surgir o questionamento que coordena a trajetória da pesquisa, segue-se para a elaboração dos 
principais termos e temas, para que se possa, por fim, responder de forma completa as dúvidas 
acerca do tema abordado. 
 
 
 
 
 18 
2 NAZISMO NA ALEMANHA NACIONAL SOCIALISTA 
Nesta seção são analisados e discorridos os mais importantes pontos quanto à doutrinação 
nazista, sua ascensão e as diferentes crenças quanto à motivação para sua forte aceitação tanto 
entre a população alemã quanto a população dos países ocupados durante o expansionismo do 
Terceiro Reich. Além da apresentação dos fatores base para o ganho de força nazista com a 
finalidade de compreender a história alemã até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, maior 
atenção é dada para a causa judaica durante o período comandando por Adolf Hitler. A trajetória 
é feita desde as diferentes interpretações quanto à origem da questão antissemita até o 
entendimento diante da política de superioridade ariana implementada pelo governo alemão, 
que acarretou, durante a Segunda Guerra Mundial, no Holocausto de cerca de 6 milhões dejudeus. 
2.1 ORIGENS DO ANTISSEMITISMO 
 O antissemitismo sempre esteve presente na história da humanidade, sendo um elemento 
fundamental para a compreensão das atrocidades cometidas contra os judeus. Com o propósito 
de compreender e considerar tanto as ações quanto a ideologia nazista durante a Segunda Guerra 
Mundial, em destaque o polêmico holocausto judeu, torna-se necessário buscar nos elementos 
históricos não só a origem do termo, mas a questão da perseguição judaica como um todo. A 
atual seção possui o objetivo de esclarecer o entendimento quanto ao uso da palavra 
“antissemitismo” no decorrer dos anos e demonstrar a existência de divergências teóricas e de 
análises históricas quanto ao seu surgimento para que se possa, mais a frente, analisar o 
fortalecimento do ódio aos judeus dentro da Alemanha nazista, em especial os pontos usados 
pelo Partido Nazista e seu líder, Adolf Hitler. A importância de se destrinchar o termo serve 
como base para uma completa assimilação quanto à Banalidade do Mal de Hannah Arendt, 
teoria central da presente pesquisa. 
 Ao identificar e avaliar a origem do antissemitismo, é de suma importância abordar a 
definição do termo, que de acordo com Chanes (2004, p. 2), “são todas as formas de hostilidade 
manifestadas acerca dos judeus através da história”. Ainda quanto à definição, Dos Santos 
(2009, p. 5) afirma que o antissemitismo “significa algo ou alguém contrário, que combate, ou 
inimigo do povo semita, neste caso os judeus, embora nem só os judeus sejam semitas”, 
destacando o significado de semita sendo o “membro de um dos povos que, segundo a Bíblia 
(Gênesis, 10, 22-31), descendem de Sem” ou “membro de um dos povos do Sudoeste da Ásia 
 19 
que falam ou falaram línguas semíticas e que são hoje representados pelos hebreus, árabes e 
etíopes e em tempos antigos também o eram pelos babilônios, assírios, arameus, cananeus e 
fenícios” (MICHAELIS, 2009). 
 O termo foi apresentado pela primeira vez em 1879 por Wilhelm Marr “um alemão 
polemista que definia os judeus como algo que ele acreditava ser uma questão com bases raciais 
e não religiosas” (CHANES, 2004, p. 2), o que soa adverso, uma vez que o judaísmo é 
caracterizado como religião. Ressalta-se que o termo foi utilizado pela primeira vez muito 
depois do início dos conflitos em que a comunidade judaica se encontrou ao decorrer da história. 
 De acordo com uma linha de pensamento bastante vigente na história do antissemitismo, 
para entender a origem real do termo é necessário olhar para antes mesmo da primeira aparição 
de conflitos religiosos ou territoriais em que os mesmos se viam envolvidos, lembrando que, de 
acordo com Lindemann e Levy (2010, p. 14), o ódio por judeus “carece em ter alguma relação 
significativa com atividades reais ou pela natureza judaica”, o que torna a busca por 
informações complexa e árdua. 
 Na antiga Israel a população judaica, vivendo em sua própria terra natal e desenvolvendo 
sua própria civilização, encontrou rivalidades e até mesmo ações hostis, porém os litígios e 
enfrentamentos não são as determinantes claras quanto ao início do ódio aos judeus, uma vez 
que eram comuns dada a região em questão. É bastante provável que as primeiras agitações 
antissemitas ocorreram durante o período da primeira comunidade monárquica da Palestina, ou 
seja, já no sexto século A.C (CHANES, 2004, p. 25). 
 As primeiras manifestações antissemitas claras aparecem apenas na formação de uma 
Diáspora involuntária após a destruição do primeiro templo em Jerusalém e da dispersão de 
judeus no ano 586 A.C para além dos limites geográficos do mundo mediterrâneo (CHANES, 
2004, p. 25). A origem do conflito, além de territorial, pode também ser vista na base do 
comportamento conflituoso natural do ser-humano onde, segundo Mandelbaum (2012, p. 226): 
 
Os homens, nas suas múltiplas manifestações enquanto indivíduos, povos, cidadãos, 
religiosos, artistas, intelectuais, técnicos, políticos, etc., levam em consideração, como 
um alarme crítico, as profundas dificuldades que estão implicadas no trabalho de 
absorção do outro e as sérias consequências destrutivas que podem aflorar a partir de 
uma lógica que, quando menos esperamos, isto é, de forma inconsciente, salta, da 
lógica da razão para a lógica do reprimido. 
 
Isto é, Mandelbaum levanta também uma origem para além das questões territoriais ou 
religiosas, abordando as origens antissemitas dentro da conduta natural do homem em 
sociedade e sua dificuldade em aceitar o “outro”, no caso o judeu, dentro de seu cenário. Além 
 20 
da predisposição para repressão em momentos onde esta ideologia lógica é aflorada por uma 
comunidade. 
 Com o decorrer do tempo e a lenta e gradual dispersão da ideologia antissemita nas 
comunidades que conviviam com judeus, foi o padre e historiador egípcio Manetho no século 
III que disseminou a conhecida ideia que comparava judeus à leprosos que, sendo expulsos do 
Egito, se tornaram uma tribo de caminhantes misantrópicos (CHANES, 2004, p. 26). Sendo 
respeitado historiador e cidadão com credibilidade em Alexandria, o tema levantado por 
Manetho acompanhou a história do antissemitismo pagão que ressoam até os dias atuais. 
 A diferença judaica diante de outras religiões e sua história de infortúnios foi também 
fator utilizado por cristãos – religião dominante - do Segundo Século para a disseminação da 
ideologia considerada muitas vezes como separatista e preconceituosa, em destaque ideias 
como a de que “a destruição de Jerusalém e a desolação e exílio de suas terras eram 
consequência de uma punição divina pela morte de Cristo” e de que “os judeus estavam 
espalhados pelo mundo para servir como prova de sua miserável condição e da verdade do 
cristianismo” (CHANES, 2004, p. 28). Ainda, segundo Lindemann e Levy (2010, p. 18), a 
propaganda cristã contra judeus era tóxica e se aproveitava de emoções como o medo e o ódio 
para propagar imagens infecciosas contrárias a evidências, o que inclinava a população à 
violência. Exemplos dessas propagandas são as supostas afirmações cristãs sobre a “tendência 
judaica para a prática do canibalismo, poções de veneno e a propagação de pragas, ou até 
mesmo a drenagem do sangue de crianças não-judias para rituais judeus” (LINDEMANN; 
LEVY, 2010, p. 18). 
 O século IV, que marcou a eclosão definitiva da igreja cristã, fica também marcado 
como ponto fatídico da relação cristã-judaica. O triunfo da igreja trazia grande poder, influência 
e, mais importante, a exaltação do Cristianismo como igreja do Estado romano (CHANES, 
2004, p. 28), logo, o prestígio conquistado traduzira-se em maior impacto na disseminação de 
ideias e, consequentemente, crenças e rivalidades. Dentro dos ensinamentos bíblicos cristãos, a 
crucificação de Jesus foi aproveitada na disseminação da repulsa ao judaísmo, como lembra 
Dos Santos (2009, p. 17) ao afirmar que “durante o julgamento a multidão pede pela morte de 
Jesus, pela soltura de Barrabás e dizia a Pilatos ‘e seu sangue caia sobre nós e sobre nossos 
filhos’, a interpretação dada ao fato pressupõe que os judeus estavam se responsabilizando pela 
morte de Jesus”. Pode-se compreender, com tal passagem, uma possível origem para o 
antissemitismo dentro da própria Bíblia, e com isso os fundamentos utilizados para a 
propagação do mesmo. 
 21 
 A partir do ano 315, medidas antijudaicas foram promulgadas pelo imperador 
Constantino e por outros. Inicialmente moderadas, com o tempo as medidas começaram a 
incluir decretos proibindo a peregrinação para Jerusalém e a conversão ao judaísmo. Rabinos 
também foram proibidos de se encontrar no conclave (CHANES, 2004, p. 29), efetivando o 
antissemitismo dentro das leis na sociedade. 
 Analisando e discorrendo sobre a história judaica e sua dificuldade em ser introduzida 
na sociedade, principalmente com o aumento da influência cristã e o preconceito existente e 
alimentado com o decorrerdos anos, chega-se ao grande marco da história antissemita: A 
Primeira Cruzada. 
 Para Mandelbaum (2012, p. 235) a compreensão dos acontecimentos violentos 
presenciados nas Cruzadas está totalmente ligada aos valores da época, que forçavam a adesão 
de judeus à verdade da fé cristã para a concretização das melhores esperanças cristãs, o que 
afirmaria, por fim, não uma barbárie, mas um fenômeno lícito. 
 Aprofundando-se mais no assunto, Chanes (2004, p. 30) afirma que a Primeira Cruzada 
irá estabelecer um novo padrão na história do antissemitismo já que, daquele tempo em diante, 
as perseguições antijudaicas representavam um apelo contagioso muito mais perigoso, 
alimentado principalmente pelo estresse emocional da época e promovido pela religião, 
acarretando em uma psicose em massa. Pode-se comprovar tal concepção nas mortes de 
Jerusalém em 1099 e no massacre de Rhineland na primavera e verão de 1906. 
 Por fim, as heranças deixadas pelas Cruzadas estão alçadas na cada vez mais profunda 
inimizade entre judeus e cristãos, e principalmente na disposição das massas cristãs em aceitar 
infundados relatos sobre a comunidade judaica. 
 Entende-se, por fim, que o antissemitismo sempre esteve presente na sociedade em 
diversos momentos, regiões e situações diversas, portanto, encontrar um ponto específico para 
apontar seu surgimento seria improvável. Para CHANES (2004, p. 5): 
 
Historicamente, não existe período social ou político específico, ou condições que irão 
ascender ou disseminar o antissemitismo; antissemitismo tem sido um fator em muitas 
diferentes sociedades, sob diferentes condições políticas, religiosas, sociais e 
econômicas. 
 
Em contrapartida às abordagens aqui levantadas, a teorista política Hannah Arendt alerta 
sobre a necessidade em sempre desconfiar das ideias preconcebidas, afirmando que a sociedade 
não segregou os judeus de forma progressiva e sim eles mesmos que, desde o fim do século 
XVI, afastam-se dos grupos sociais e rejeitam integração em nome de uma eleição superior do 
seu próprio povo (VICENTE, 2012, p. 147). 
 22 
Aprofundando-se na questão judaica, Hannah Arendt aponta para o colapso da ordem 
feudal para fundamentar e discorrer quanto ao antissemitismo descrito como “moderno”. De 
acordo com a autora, o sentimento antijudaico só irá assumir relevância política em questões 
de maior importância governamental, ou também em questões onde os interesses grupais dos 
judeus conflitam com os interesses de classes que almejam o poder (ARENDT, 1979, p. 58). 
Para melhor entender o pensamento arendtiano, Vicente (2012, p. 146-147) relata que, 
nos séculos XVII e XVIII, os judeus, em especial a parcela mais rica, possuíam certa influência 
junto à monarquia pela sua posição latifundiária e comercial. Com o surgimento dos Estados-
Nações após a Revolução Francesa, cresce a necessidade de capital, e os intitulados “judeus da 
corte” veem seus direitos sendo ampliados juntos à troca de empréstimos, dispondo de sua 
posição de privilégios como grandes bancários e comerciantes. A situação, porém, muda no fim 
do século XIX à luz da expansão colonial, onde os judeus, que não participavam das 
colonizações, viam sua influência diminuir. No século XX, com a desintegração da comunidade 
judia e do Estado-Nação, os judeus passam a ser alvo de ódio. 
É importante entender para a presente pesquisa que o antissemitismo, de acordo com 
Arendt (1979, p. 59), “flamejou primeiro na Prússia, imediatamente após a derrota ante 
Napoleão em 1807, quando a mudança da estrutura política levou a nobreza à perda de seus 
privilégios e a classe média conquistou o direito à ascensão”, levando à mudança na estrutura 
semifeudal e o início de um Estado-Nação, que irá dar início ao Reich Alemão em 1871. 
Em suma, para Arendt, é esta perda de influência quase repentina que acaba por mostrar 
para o mundo o judeu como um indivíduo rico e desmembrado que vivia em isolamento do 
restante da sociedade, sempre em comunidades locais e com distância da comunidade cristã. 
De acordo com o pensamento de Arendt, a “mania” judaica de viver em isolamento e possuir 
forte privacidade em relação a outros grupos era fator chave para a ascensão da intolerância 
(SENNA, 2010, p. 153-154). 
Por fim, torna-se clara a existência de teorias e interpretações diversas dentro do meio 
acadêmico sobre as questões históricas acerca do antissemitismo. Intelectuais divergem em 
origens políticas, culturais e até religiosas, porém concordam ao assumir a importância da 
análise para compreender não apenas grandes marcos da história, como a Segunda Guerra 
Mundial, mas também situações do cotidiano atual. Para o presente trabalho, reitera-se a 
utilização da ideia levantada por Hannah Arendt para a definição da origem antissemita. 
 
 23 
2.2 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E O TRATADO DE VERSALHES 
Segue-se a história para o momento de eclosão da Primeira Guerra Mundial, marco 
histórico que influencia de forma direta o surgimento do Partido Nazista na Alemanha e a sua 
eventual ascendência e grande valia dentro do Estado. É de suma importância o entendimento 
quanto às motivações defendidas e debatidas sobre a ideologia nazista e suas relações com a 
Primeira Guerra Mundial, o que torna necessária a apresentação a seguir que busca a 
compreensão e clareza diante das pontes que se sustentam entre ambos os conflitos mundiais. 
A história sempre foi acompanhada não apenas por conflitos entre religiões, crenças, 
raças ou culturas, mas também conflitos entre Estados. Em sua grande maioria, tais litígios 
aconteciam de forma unilateral e, por absoluto, nunca envolviam grandes potências de 
diferentes continentes, porém a grande mudança no cenário de atritos internacionais irá 
acontecer no ano de 1914 quando se instala a Primeira Guerra Mundial, que envolve, pela 
primeira vez, todas as grandes potências mundiais, além de quase a totalidade de Estados 
europeus e também inaugura a dinâmica de conflitos que irão levar tropas a lutarem fora de 
suas regiões de origem (HOBSBAWN, 1994, p. 31). 
 O impacto do conflito é sentido quando se percebe que “a maioria dos beligerantes já 
tinha perdido mais homens em uma única batalha, ou mesmo em um único dia, do que em 
guerras inteiras travadas durante o século XIX ou antes” (SONDHAUS, 2013, p. 14), o que 
confirmou para a população que um evento sem precedentes estava sendo testemunhado. O 
caráter inédito do conflito faz com que o mesmo seja conhecido, até a eclosão da Segunda 
Guerra Mundial em 1939, como “A Grande Guerra”. 
As estruturas e complexas rivalidades pré-Guerra podem levantar pontos divergentes 
nos autores ao redor do globo, mas um fato não contestado é o estopim para a declaração do 
conflito no dia 28 de junho de 1914, quando “o bósnio-sérvio Gavrilo Princip disparou e acertou 
o príncipe-herdeiro do Império Austro-Húngaro e sua esposa, Francisco Ferdinando e Sophie 
Chotek, respectivamente” (AVILA, C. 2015), o que acarretou, trinta e sete dias depois, no início 
dos litígios. 
Sondhaus (2013, p. 59) relembra que o assassinato iniciou uma troca de declarações de 
guerra entre as grandes potências já a partir de 1º de agosto e, assim que o conflito direto se 
torna real, percebe-se uma corrida governamental de cada país envolvido na maquinação 
diplomática em defesa ou justificativa de suas ações e, mais importante, a culpa depositada no 
inimigo. Ressalta-se, nesta luta, o Império Austro-Húngaro contra a Sérvia, a Rússia contra o 
 24 
Império Austro-Húngaro, a Alemanha contra a Rússia, a França e a Grã-Bretanha contra a 
Alemanha. 
É também importante para a atual pesquisa compreender a trajetória alemã até a eclosão 
da Primeira Guerra Mundial, como por exemplo, desde os princípios de sua formação, com a 
finalidade de melhor analisar o contexto deste povo e suas inclinações que irão, no fim, 
desembocar no holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial.O desenvolvimento histórico alemão está pautado em uma tardia unificação nacional 
em um território que, até meados do século XIX estava dividido em 35 monarquias 
independentes e apenas 4 cidades livres. Ainda nesta conjuntura a Confederação Germânica era 
dominada pelo Império Austríaco, contrário à unificação da região por questões hegemônicas 
próprias que iriam contra as correntes nacionalistas e pró-unificação que cresciam desde as 
Guerras Napoleônicas. Entre os defensores da unificação da região estavam grandes industriais 
e comerciantes, que ansiavam por uma Alemanha fortemente posicionada no mercado 
internacional e acreditavam que as então atuais divisões dos Estados germânicos impediam o 
desenvolvimento do capitalismo. (PEREIRA, 2012, P. 39) 
 Ainda de acordo com Pereira (2012, p. 39-40), a Prússia, após o fracasso da revolução 
de 1848, foca-se na unificação alemã através da preparação de guerras, contando com uma 
aliança formada entre burguesia e grandes proprietários de terra, que excluía a Áustria, e a 
modernização do exército. Com a nomeação de Otto von Bismarck em 1862, a atenção volta-
se para o armamento da região como método de resolução dos conflitos territoriais e as questões 
liberais de voto da maioria são deixadas de lado. Seguindo o projeto de Bismarck, o processo 
de unificação da Alemanha se dá em três grandes conflitos, sendo eles a Guerra dos Ducados 
(1864) contra a Dinamarca, a Guerra Austro-Prussiana (1866) e a Guerra Franco-Prussiana 
(1870), esta última que irá dar a Guilherme I, então Rei da Prússia, a posição de imperador da 
Alemanha. A unificação se dá como completa em 1871 com o estabelecimento do Segundo 
Reich (1871 – 1918). 
 Para Pereira (2012, P. 40), a unificação da Alemanha traz três consequências primordiais 
na estrutura da região, sendo elas: 
 
O fim do equilíbrio europeu criado em 1815 pelo Congresso de Viena; a 
transformação da Alemanha numa das principais potências econômicas e militares da 
Europa, tornando-se rival da Grã-Bretanha e da França na corrida imperialista por 
colônias e mercados na África e na Ásia; e o desenvolvimento da “política de 
alianças”, que iria desembocar na Primeira Guerra Mundial. 
 
 25 
 As questões conflituosas da Europa pré-Primeira Guerra Mundial são também 
abordadas por Hobsbawm (2003, p. 432-433), que afirma a dificuldade, em 1880, em prever as 
coalizões do conflito que eclodiu em 1914, ressaltando exceções como a inimizade entre França 
e Alemanha, já predestinadas a se enfrentar em lados opostos. Como grande prova de tal 
predição, aponta-se a anexação alemã de Alsácia-Lorena em 1871. Já uma aliança facilmente 
percebida seria entre Alemanha e Áustria-Hungria, que se daria graças as ações de Bismarck 
após 1866, com intuito de manter o equilíbrio do novo Império Alemão. 
 Para Lee (1999, p. 1), a Alemanha é levada à Guerra por um governo civil comandado 
pelo quinto chanceler do Segundo Reich, que acaba se tornando uma ditadura militar em 1917. 
Apesar de derrotar a Rússia no Leste, o reich encontrou seu colapso na derrota no Oeste em 
outubro de 1918, tendo como fatores decisivos para a perda a entrada dos Estados Unidos no 
conflito e o paralisante bloqueio da marinha Real. A derrota que se aproximava fez com que o 
governo nomeasse um governo civil para negociar o armistício com os aliados. 
Ainda, de acordo com Sondhaus (2013, p.59): 
 
A guerra começou, em primeiro lugar, por causa da Sérvia, um pequeno e ambicioso 
país que até certo ponto se tornara refém de elementos nocivos em suas forças armadas 
e que, na busca de seus próprios objetivos nacionais, inflamou todo o continente; duas 
das potências mais fracas, Áustria-Hungria e Rússia, se comportaram com 
determinação pouco característica, enraizada em suas próprias dúvidas acerca de seu 
futuro status como grandes potências; os líderes austro-húngaros e alemães tinham 
noções incompatíveis sobre a guerra que desejavam – os alemães fazendo e 
conseguindo o que queriam às custas de seus aliados. 
 
Já para Hobsbawm o conflito generalizado era evitável, afirmando que “os problemas 
que separavam a França da Alemanha não tinham interesse para a Áustria, e os que 
representavam um risco de conflito entre Áustria e Rússia eram insignificantes para a 
Alemanha” (HOBSBAWM 2003, p. 433). Para o autor, a França não tinha reais brigas com a 
Áustria, nem a Rússia com a Alemanha e, por isso, os conflitos franco-alemães não eram 
considerados suficientes para uma guerra geral. 
 Levantam-se três problemas centrais para que o sistema de alianças viesse a causar um 
conflito internacional, como a situação do fluxo internacional, abalado pelos novos problemas 
e ambições entre as nações, a lógica do planejamento militar que congelou os blocos em conflito 
e a integração de uma nova grande nação, a Grã-Bretanha, a um destes blocos. Entre os anos de 
1903 e 1907, o Estado britânico se uniu ao lado antialemão, e a origem da Primeira Guerra 
Mundial pode ser melhor entendida quando se entende a ascensão do antagonismo anglo-
germânico (HOBSBAWM, 2003, p. 433). 
 26 
 De acordo com Hobsbawm (2003, p. 440) a Alemanha não representava perigo por 
tentar tomar a posição britânica de potência mundial, mas as unificações alemãs juntamente 
com o crescimento de sentimento nacionalista pautavam-se bastante no discurso antibritânico, 
firmado com o crescimento da classe média como nova nação. Destarte: 
 
O perigo residia antes em que um poder global exigia uma marinha global, e a 
Alemanha empreendeu (1897), portanto, a construção de uma grande esquadra de 
guerra, que tinha a vantagem incidental de representar não os velhos estados alemães, 
mas exclusivamente a nova Alemanha unificada. (HOBSBAWM, p. 440) 
 
 A guerra chega ao seu afim apenas em 11 de novembro de 1918 quando a Alemanha, 
sob uma nova e recém-formada república, é forçada a assinar um armistício (LEE, J. 1999, p. 
103). Por fim, o conflito “mobilizou 65 milhões de soldados e deixou um saldo de três Impérios 
desbaratados, 20 milhões de militares e civis mortos e 21 milhões de feridos” (CLARK, 2014, 
p. 15). 
 Com o término da Guerra, ascende-se também um questionamento internacional quanto 
a falhas diplomáticas para resolução do conflito, fazendo surgir, de todos envolvidos no 
conflito, acusações e motivações próprias. A Revolução Russa acusa o Imperialismo em sua 
totalidade enquanto os aliados criam sua tese que irá encontrar apenas um culpado para todo o 
conflito: A Alemanha (HOBSBAWM, 2003, p. 431-432). 
 Após a assinatura do armistício, as negociações pela paz foram conduzidas pelos aliados 
em Paris através do Conselho dos Dez, tendo como principais articuladores o presidente Wilson 
dos Estados Unidos, o primeiro ministro britânico Lloyd George e o premier francês 
Clemenceau. Um esboço preliminar dos programas que diziam respeito à Alemanha foi enviado 
para o governo alemão, mas nenhuma tentativa feita pela nova República alemã para mudar os 
termos definidos foi aceita (LEE, J. 1998, P.36). 
 O Tratado de Versalhes, assinado no dia 28 de junho de 1919 afirmava em seu artigo 
231 a responsabilidade alemã pela deflagração da Primeira Guerra Mundial e redefinia alguns 
territórios, além da desmilitarização e a compensação econômica pelas perdas dos vitoriosos no 
conflito. Entre os territórios perdidos pela Alemanha, estava Alsácia-Lorena, Eupen e 
Malmédy, Schleswig do Norte, Posen, Prússia ocidental, partes da Silésia do Sul e todas as 
colônias no exterior (LEE, J. 1998, P.36). 
Quanto a perda de território, ressalta-se a questão de Alsácia-Lorena, que marca a 
inimizade entre Alemanha e França, já percebida no comando de Bismarck sob o reino da 
Prússia, e sua aparente vingança pelo período napoleônico. Assim sendo, com o fim da Guerra 
 27 
Franco-Prussiana (1870 -1871), a França negocia sua rendição e, além do pagamento de cinco 
milhões de francos-ouro, vê-se amputada territorialmentena questão de Alsácia-Lorena, região 
rica em carvão e minério de ferro que iam ao direto encontro com o almejado crescimento 
econômico em nações que passavam pelo processo de industrialização (RIBEIRO, G. 2009, p. 
22). A derrota territorial francesa é acertada no Tratado de Frankfurt em 1871 e cria forte 
sentimento revanchista dentro do Estado (LEE, S. 1999, p. 3). 
Com o desfecho da Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Versalhes 
(1919), a França consegue de volta os direitos sobre a importante região de Alsácia-Lorena, 
como visto na Seção V intitulada Alsácia-Lorena e que irá do artigo 51 ao artigo 79. Como 
introdução à Seção V, lê-se: 
 
As altas partes contratantes, reconhecendo a obrigação moral de reparar o mal feito 
pela Alemanha em 1871, tanto aos direitos da França quanto as vontades da população 
de Alsácia e Lorena, que foram separados de seu país apesar dos solenes protestos de 
seus representantes na Assembleia de Bordeaux. (TREATY..., 1919, p. 77, tradução 
nossa)2 
 
 Ressalta-se, portanto, o escopo do Tratado de Versalhes em apresentar a Alemanha 
como causadora dos males em absoluto que assolavam os conflitos europeus, em destaque 
quando, ao retratar o Tratado de Frankfurt de 1871 em sua quinta Seção, aponta a ação de 
conquista de território do Estado como um “mal” feito pelos alemães. Entende-se, por fim, a 
perda de território alemã somada à total culpa depositada no Estado em questões que 
antecediam até mesmo o conflito em questão. 
 Comprova-se as interpretações apresentadas anteriormente na totalidade de artigos 
referentes à questão, mas traz-se para destaque o Artigo 52, que atesta: 
 
O governo alemão deverá entregar para o governo francês, sem atraso, todos os 
arquivos, registros, planos, títulos e documentos de todas as espécies a respeito de 
questões civis, militares, financeiras, judiciais ou outras administrações dos territórios 
reconquistados pela soberania francesa. Se qualquer um desses documentos, arquivos, 
registros, títulos ou planos forem extraviados, eles serão restaurados pelo governo 
alemão pela exigência do governo francês. (TREATY..., 1919, p. 77, tradução nossa)3 
 
 
 
2 The High Contracting Parties, recognising the moral obligation to redress the wrong done by Germany in 1871 
both to the rights of France and to the wishes of the population of Alsace and Lorraine, which were separated from 
their country in spite of the solemn protest of their representatives at the Assembly of Bordeaux. 
3 The German Government shall hand over without delay to the French Government all archives, registers, plans, 
titles and documents of every kind concerning the civil, military, financial, judicial or other administrations of the 
territories restored to French sovereignty. If any of these documents, archives, registers, titles or plans have been 
misplaced, they will be restored by the German Government on the 'demand of the French Government. 
 28 
 De acordo com Sondhaus (2013, p. 21) era unânime a crença, em 1919, quanto à 
responsabilidade alemã diante a Guerra e suas causas, mas ressalta-se também o veredito dado 
por acadêmicos alemães da década de 20 que culpava não a Alemanha, mas sim o sistema de 
alianças e as outras grandes potências. 
 A preocupação acadêmica alemã nos anos 20 em comprovar que o Estado não poderia 
ser individualmente punido pelo conflito afirma o sentimento nacional antagônico às decisões 
do Tratado de Versalhes4 e, para Lee (1998, p. 36, tradução nossa) “os termos causaram 
considerável ressentimento que abalou a economia entre 1921 e 1923”5. Ainda de acordo com 
Lee (1998, p. 37), nem todos os pontos do tratado poderiam ser definidos com base revanchista, 
já que as três prioridades seriam a garantia da Europa contra uma possível futura agressão 
alemã, o reestabelecimento da infraestrutura econômica dos aliados e o fortalecimento da 
estabilidade dos novos Estados-nação na Europa, pontos que não comprovariam o revanchismo 
sentido tanto por intelectuais alemães quanto pela população em geral. Em desacordo com o 
levantamento de Lee e as eventuais justificativas dadas pelos aliados, Keynes (1919, p. 37) 
afirma o caráter vingativo e denuncia uma transferência pelos vitoriosos de uma carga 
financeira insuportável para os ombros dos vencidos. 
Referente a questões financeiras, apontadas como outro fator de suma importância para 
a considerada humilhação alemã pós-Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes discorre 
desde seu artigo 248 até o artigo 263 (Parte IX) sobre o assunto, depositando sobre a Alemanha, 
mais uma vez, a culpa pelos infortúnios enfrentados durante o conflito mundial. Ressalta-se o 
artigo 249, que dirá: 
 
Deverá ser pago pelo governo alemão o total de custos de todos os exércitos dos 
Aliados e governos associados no território alemão ocupado da data da assinatura do 
armistício de 11 de novembro de 1918, [...] em geral, o custo de todos os serviços 
administrativos ou técnicos de trabalho necessários para a formação de tropas e para 
 
 
4 Ainda, ressalta-se a frágil situação econômica e moral alemã como base para os discursos de Adolf Hitler que 
viriam a conquistar grande parte da população. Após a derrota na Primeira Guerra Mundial e as imposições do 
Tratado de Versalhes, a decisão interna alemã em fortalecer os investimentos sociais causou, em 1930, um colapso 
financeiro, agravado pela crise americana em 1929 e consequentemente o protecionismo visto no cenário 
internacional da época, além também das taxas protecionistas específicas com os produtos alemães. A inflação, 
portanto, atingiu altos e assustadores números, sobrecarregando a população com moedas sem valor que, mesmo 
em grande quantia, mal conseguiam pagar produtos básicos como o pão. Hitler aproveita então o status de líderes 
comerciais – não tão atingidos pela grandiosa crise - de família judaicas para implantar na população alemã a ideia 
de culpa - e consequentemente, culpados - por seus infortúnios, além da promessa em resgatar a antiga glória alemã 
(CASTILLO, 2003). 
5 The terms caused considerable resentment whitin Germany and contributed to the spiralling inflation which 
undermined the economy between 1921 and 1923. 
 29 
manter seus números até força e preservando a sua eficiência militar. (TREATY..., 
1919, p. 159, tradução nossa)6 
 
 Destarte, Keynes, já no fim da Primeira Guerra Mundial apontava os perigos 
econômicos iminentes das decisões de Versalhes. Os erros, de acordo com o autor, estavam 
mais explícitos em duas questões básicas. Primeiro, na exigência do impossível por parte dos 
aliados, que desprezava os fatos em busca de uma finalidade utópica e que acabaria por, no fim, 
criando grandes perdas. Segundo, na concentração de temas políticos e busca de uma segurança 
ilusória que ignorava a unidade econômica europeia. Entre as péssimas perspectivas financeiras 
e econômicas da França e o egoísmo inglês diante as suas conquistas na guerra (obtenção de 
colônias, navios, e uma parte das reparações maior do que a lhe caberia por justiça), a Alemanha 
sai profundamente humilhada e passa a apresentar um quadro que facilmente poderia se mostrar 
preocupante no futuro para todo o cenário europeu e internacional (KEYNES, 1919). Em tom 
premonitório, Keynes pede apoio à inteligência francesa, que se viu fora das negociações de 
Versalhes, e deseja “que elas unam suas forças para evitar as desgraças que de outro modo nos 
ameaçam” (KEYNES, 1919, p. xxxvi). 
 Aprofundando-se na compreensão de humilhação alemã no Tratado de Versalhes, 
podem ser destacados pontos adicionais para melhor identificar os momentos específicos de 
atrito alemão pós-Primeira Guerra Mundial. 
 A Seção 1 da quinta parte do Tratado de Versalhes refere-se às cláusulas militares, outro 
ponto bastante abordado ao se falar do ressentimentoalemão diante o tratado. Para Lee (1998, 
p. 38), as forças britânicas, francesas, russas e italianas foram insuficientes para derrotar o 
exército do Segundo Reich, que só encontrou seu fracasso ao enfrentar a intervenção americana 
no litígio. A força do exército alemão se vê, por fim, limitada nos pontos defendidos pelo 
Tratado de Versalhes que seguirá do artigo 159 ao 179, onde destacar-se-á o artigo 160: 
 
(1) Até o dia, que não poderá passar de 21 de março de 1920, o exército alemão não 
poderá compreender mais do que sete divisões de infantaria e três divisões de 
cavalaria. Depois desta data, o número total de efetivos no exército dos Estados 
que constituem a Alemanha não poderá exceder o número de cem mil homens, 
incluindo oficiais e estabelecimentos de depósitos. O exército deverá ser devoto 
 
 
6 There shall be paid by the German Government the total cost of all armies of the Allied and Associated 
Governments in occupied German territory from the date of the signature of the Armistice of November 11, 1918, 
including the keep of men and beasts, lodging and billeting, pay and allowances, salaries and wages, bedding, 
heating, lighting, clothing, equipment, harness and saddlery, armament and rolling-stock, air services, treatment 
of sick and wounded, veterinary and remount services, transport service of all sorts (such as by rail, sea or river, 
motor lorries), communications and correspondence, and in general the cost of all administrative or technical 
services the working of which is necessary for the training of troops and for keeping their numbers up to strength 
and preserving their military efficiency. 
 30 
exclusivamente para a manutenção da ordem dentro de seu território e controle 
de fronteiras. (TREATY..., 1919, p. 115, tradução nossa)7 
 
E também percebido no artigo 173, que diz que “o alistamento universal obrigatório 
para serviços militares deverá ser abolido da Alemanha. O exército alemão só poderá recrutar 
por meio de alistamento voluntário. ” 
Ainda que se argumenta quanto a finalidade benéfica da diminuição do exército alemão 
em busca da paz e do fim dos embates territoriais na Europa, instiga-se o fato de o Estado do 
Segundo Reich ter sua força bélica reduzida apenas para fins de defesa de soberania dentro de 
seu próprio território e suas fronteiras. 
Nas leituras acadêmicas tanto atuais quanto do imediato pós-Primeira Guerra Mundial 
e pós-assinatura do Tratado de Versalhes, confirma-se uma certa divergência de pensamentos 
quanto à culpa total alemã dos conflitos e dos fortes impactos causados no Estado na década de 
20 e 30. Porém, reforça-se o fator primordial da pesquisa, holocausto e nazismo, que será 
melhor analisado com a comprovação do sentimento revanchista e pesaroso dentro da própria 
Alemanha, tanto entre as autoridades quanto entre seus próprios cidadãos, acerca das decisões 
dos vencedores da, até então, Grande Guerra. 
2.1 PENSAMENTO DE HITLER 
Entendendo as inclinações alemãs no pós-Primeira Guerra Mundial, torna-se de vital 
importância uma breve análise dentro dos pontos mais defendidos por Adolf Hitler e o porquê 
tais pontos conseguiram tanta relevância e renome dentro da sociedade alemã. 
 Ao analisar o pensamento do líder nazista, antes mesmo de sua ascensão ao poder na 
Alemanha de 1933, ressalta-se que “desde o início de sua carreira política, em meados do 
segundo semestre de 1919, o agitador sempre deixou claro que, após a tomada do poder, faria 
o possível para livrar-se das amarras do Tratado de Versalhes” (VOLKER, 2015, p. 416), já 
trazendo para o centro de seus discursos as incansáveis críticas ao Tratado. Comprova-se 
também o Tratado de Versalhes como um dos maiores interesses de Hitler quando, já em 
meados do segundo semestre de 1941, o líder ainda utilizaria a questão como argumento em 
 
 
7 (1) By a date which must not be later than March 31, 1920, the German Army must not comprise more than seven 
divisions of infantry and three divisions of cavalry. After that date the total number of effectives in the Army of 
the States constituting Germany must not exceed one hundred thousand men, including officers and establishments 
of depots. The Army shall be devoted exclusively to the maintenance of order within the territory and to the control 
of the frontiers. 
 31 
um de seus discursos, ao esbravejar que “é raro alguém declarar e registrar o que quer como eu 
tenho feito [...] e eu volto a registrar: abolição de Versalhes” (DOMARUS, 1965, p. 1659 apud 
VOLKER, 2015, p. 416). 
Hitler e sua ideologia extrema serão fortes impulsionadores da eclosão da Segunda 
Guerra Mundial, tornando fundamental a exploração de sua autobiografia para assimilar fatores 
motivadores do conflito e, singularmente, os reflexos de suas ideias preconceituosas dentro do 
Estado alemão, em uma ideologia que se tornou, por fim, massificada e largamente apoiada. 
Para uma análise satisfatória quanto a doutrinação e valores deturpados de Hitler, em especial 
durante sua ascensão na Alemanha em 1933, será utilizado o polêmico e autobiográfico livro 
“Minha Luta”, escrito em 1925. A autobiografia, ressalta-se, foi redigida por Adolf Hitler após 
sua prisão em fevereiro de 1924, que irá alça-lo como herói durante todo o processo de 
julgamento e terminará após 24 dias com a soltura do acusado (PEREIRA, 2012, p. 42). 
Também referente à busca pelo poder de Hitler, ressalta-se que a questão não pode, em 
quaisquer circunstâncias, ser levada na simplificação do termo e também das crenças de todo o 
nazismo. Adolf Hitler não pode ser resumido a megalomaníaco, propagandista ou manipulador, 
apesar de ser considerado todos estes termos. A importância de Hitler e seu poder de persuasão 
são sentidos em suas inabaláveis convicções quanto às questões de injustiça e de raças e, 
principalmente, suas próprias crenças e certezas quanto às melhores – e únicas – formas de 
resolver as questões que assolavam o povo alemão (KERSHAW, 2009). 
 Apesar de tratar-se de um livro preenchido com afirmações que podem levantar 
interminável discussão e análise, a presente pesquisa se pauta em passagens relacionadas a 
pontos já levantados para a ligação entre a derrota alemã na Primeira Guerra, em especial a 
ideia de humilhação amplamente defendida na população alemã, e o holocausto de judeus 
durante a Segunda Guerra, uma vez que “a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial foi, 
indubitavelmente, o fator decisivo para o surgimento do nazismo na Alemanha” (PEREIRA, 
2012, P. 55). 
 Para Kershaw (2009), a insaciável sede pelo poder monopolizado do líder do Terceiro 
Reich, Adolf Hitler, possuía um caráter evolutivo constante, o que seria exposto diretamente 
nas questões de conquista territorial vastamente defendidas durante seu governo e também 
expostas em sua polêmica autobiografia. 
A ideologia expansionista do nazismo como forma de governo e de Hitler como líder e 
herói da nação (sic) já é percebida em suas primeiras páginas, quando o autor afirma que “a 
Áustria alemã deve voltar a fazer parte da grande Pátria germânica [...] Povos em cujas veias 
corre o mesmo sangue devem pertencer ao mesmo Estado” (HITLER, 2016, p. 5). Entende-se, 
 32 
também, que a veia revanchista e de aliança entre a “raça superior” imposta por Hitler tem como 
via de ação a retomada de territórios que em algum momento da história já haviam pertencido 
ao Estado alemão. 
 Outro ponto levantado como primordial para a revolta alemã, aspecto este representado 
no trabalho de Hitler, é a diminuição do número militar alemão imposta pelo Tratado de 
Versalhes. Para Hitler (2016, p. 208), o exército deve ser considerado o fator mais eficiente da 
nação e as forças armadas devem voltar a aplicar o papel de escola do povo. A calúnia sofrida 
pelo povo alemão é uma verdade incontestável para o autor eo ódio dos inimigos era pautado 
no temor que o exército alemão causava no cenário internacional diante toda sua superioridade. 
Ainda, para Hitler (2016, p. 208), “não fosse essa força ameaçadora, a Intenção de Versalhes 
se teria realizado muito antes”, e “o que o povo alemão deve ao exército pode-se resumir nesta 
palavra: tudo. ” 
 Além do sentimento negativo dirigido ao Tratado de Versalhes, que irá por sua vez 
demonstrar a fúria e repulsa do povo alemão, atrelados ao sentimento de humilhação e perda, 
Hitler também adiciona ao seu texto e pensamento fortes posicionamentos contrários à certas 
partes da comunidade, assim como países e religiões. 
 Exclui-se a crença de que a origem antissemita de Hitler é atrelada a questões religiosas 
quando se observa o Führer alemão afirmar em sua biografia que, antes de subir ao poder, “só 
via no judeu o lado religioso. Por isso, por uma questão de tolerância, considerava injusta sua 
condenação por motivos religiosos” (HITLER, 2016, P. 46). O autor ainda se posiciona contra 
a imprensa antissemítica de Viena, afirmando que era mais “produto de mesquinha inveja do 
que o resultado de uma questão de princípios” (HITLER, 2016, p. 46). 
 Porém, com o passar do tempo, as inclinações do ódio de Hitler rendem-se, 
principalmente, ao Partido Social Cristão. As reflexões do Führer alemão são transmutadas aos 
poucos, através de argumentações que o faziam refletir quanto à causa antissemita, vista até 
então por ele como radicais. Com uma ida à Viena, Hitler afirma que se tornou grande entusiasta 
do Partido Social Cristão e seu fundador, Dr. Karl Lueger. Ao repensar sua trajetória, Adolf 
Hitler testemunha que suas convicções contrárias ao antissemitismo caíram por terra e agora se 
vê como grande apoiador do movimento social-cristão. (HITLER, 2016, P. 48) 
 Ao reafirmar a abertura de sua mente e de suas ideias quanto ao mundo, Adolf Hitler se 
posta contrário aos panfletos antissemitas já espalhados por Viena, já que as informações 
encontradas nos mesmos eram “apoiadas em argumentos superficiais e anticientíficos, que a 
ninguém convenciam” (HITLER, 2016, P. 48). O interesse no convencimento das questões 
 33 
antissemitas, já abordados pelo autor anteriormente, são confirmados durante toda a sua 
autobiografia. 
 A preocupação em manter uma apresentação antissemita inicialmente recheada de 
reflexões, dúvidas e temor à injustiça (sic) é logo deixada por Hitler e, logo, o autor discorre 
dos mais profundos preconceitos e ódio na questão judaica. Reafirmando que “não se tratava 
de uma questão religiosa, mas de raça” (HITLER, 2016, P. 49), o parâmetro de análise do futuro 
líder totalitário alemão se direciona às defendidas diferenças de raças e acentua a generalização 
da comunidade judaica em seu alicerce. As ofensas deferidas vão dos mais ilógicos pontos, 
como a afirmação de que judeus “não eram amantes de banhos e podia-se assegurar pela simples 
aparência” (HITLER, 2016, P. 49). Para Hitler (2016, p. 49), a imundície física, somada as 
nódoas morais, causariam a repulsa completa na comunidade alemã. 
 Conclui-se o pensamento de Hitler contrário à comunidade judaica na origem racial, 
utilizada durante todo seu governo nos mais diversos meios de propaganda. A repudia de Hitler 
à questão judaica, confirmada e clarificada em seu futuro governo, também se alinha com as 
passagens em sua autobiografia, que já condenava a atitude dita acovardada do judeu como um 
todo. Para o Führer alemão, os judeus eram “líderes da social-democracia”, comumente ligados 
à “prostituição e sobretudo com o tráfico branco” (HITLER, 2016, P. 51) e eram 
constantemente responsabilizados pela transformação que a sociedade da época enfrentava. 
 Resume-se o ódio de Hitler por judeus quando o mesmo afirma: 
 
O judaísmo provocou em mim forte repulsa quando consegui conhecer suas 
atividades, na imprensa, na arte, na literatura e no teatro. [...] Protestos moles já não 
podiam bastar. [...] Estava-se em face de uma peste espiritual, pior do que a 
devastadora epidemia de 1348, conhecida pelo nome de Morte Negra. E essa praga 
estava sendo inoculada na nação. (HITLER, 2016, P. 50) 
 
 Já em outra passagem, o autor indaga, em mais um surto de preconceito e ódio: 
 
Poderia haver uma sujidade, uma impudência de qualquer natureza na vida cultural 
da nação em que, pelo menos um judeu não estivesse envolvido? Quem, 
cautelosamente, abrisse o tumor haveria de encontrar, protegido contra as surpresas 
da luz, algum judeuzinho. Isso é tão fatal como a existência de vermes nos corpos 
putrefatos. (Hitler, 2016, p. 49) 
 
 A conspiração judaica para fins de dominação mundial, acreditada por Hitler e seus 
seguidores, pautava pontos como a edição de jornais influentes sendo feita por judeus que 
tentavam, de forma “superficial” e “banal”, exaltar civilizações como a francesa e depreciavam 
a imagem dos alemães. Também era acreditado por Hitler a dominação judaica na arte, literatura 
 34 
e teatro em peças “imorais” e “repelentes” (HITLER, 2016, P. 50-51). Para Adolf Hitler, a 
questão judaica encontrava suas bases em uma vontade combinada e acertada entre todos os 
judeus com fins de desmoralizar os alemães, assumir o poder de todos os meios influentes da 
comunidade e exaltar sua própria cultura em frente à deterioração das outras. 
2.2 NAZISMO 
A questão nazista é diretamente interligada com a trajetória de seu líder, Adolf Hitler, e 
das questões históricas presentes no curso percorrido pela nação alemã durante os anos que 
antecederam a Segunda Guerra Mundial. Para compreender a ascensão dos ideais radicais 
impostos pelo Nazismo dentro de toda a sociedade e também as motivações sociais para a 
aceitação populacional do governo ditatorial imposto pelo governo nazista, não se pode 
acreditar na demonização cultural e simplificação das definições de mal atreladas a todos que 
viviam durante o período na Alemanha. 
 De acordo com Capelato (1995, p. 86): 
 
O nazismo consagrou um estilo político que foi se configurando ao longo do séc. XIX 
para expressar a unidade do coletivo através de mitos e símbolos da nação. No início 
desse século, desenvolveu-se uma liturgia que permitia a participação do povo em 
cada culto e por esse caminho se deu a transformação da “multidão caótica” em 
movimento de massa organizado. 
 
As motivações ideológicas de Hitler, assim como suas ações, florescem não apenas por 
seu poder de persuasão e ideologia, mas sim pela preparação do terreno ideológico dentro da 
Alemanha nos anos anteriores à ascensão hitlerista. Como já comentado, a humilhação sentida 
dentro da Alemanha pós-Tratado de Versalhes é recebida como estopim de uma história de 
conflitos internos e externos em uma região que borbulhava com questões de humilhação e 
ódio, o que pavimenta e facilita o caminho posteriormente trilhado por Hitler e seus seguidores. 
(KERSHAW, 2009) 
 A unificação alemã, somada às inclinações pré e pós-primeira Guerra Mundial e o estado 
em que a população se encontrava diante das sufocantes imposições do Tratado de Versalhes 
fomentam os ideais extremistas e totalitários impostos pelo nazismo, que se pautou na ideia de 
uma Alemanha mais bela e purificada, onde o governo trabalharia diretamente para a 
população. Uma das grandes armas nazistas para a larga aceitação dentro da Alemanha 
(CAPELATO, 1995) está nos calorosos discursos de seus líderes, que se auto intitulavam 
 35 
profundos conhecedores quanto às razões para a assolação alemã, além da certeza inabalável 
quanto aos culpados para todos os males percebidos em solo europeu. 
 O grande plano nazista, pautado em uma busca incessante pela harmonia diante a ruína 
que todo o mundo enfrentava, dava aos seus líderes a vívida imagem de conhecimento quanto 
às causas, dando aos mesmos a “difícil” e “necessária” missão de erradicação da ameaça. 
 Para Fausto (1998, p. 141) “não é possível, pois, interpretar

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