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FUNDAMENTOS DA LINGUAGEM VISUAL ~ EDITORA ~ intersaberes Adriana Vaz Rossano Silva O selo DIALÓGICA da Editora lnterSaberes faz referência às publicações que privi- legiam uma linguagem na qual o autor dialoga com o leitor por meio de recursos textuais e visuais, o que torna o conteúdo muito mais dinâmico. São livros que criam um ambiente de interação com o l<for - seu universo cultural, sociaf e de e1J ora- ção de conhecimentos - , possibiUtanão um real processo de interloc~ão par ue a comunicação se efetive. Sumário Apresentação ......................................................................................................................................................................................................... .9 Organização didático-pedagógica ......................................................................................................................................................... 13 Introdução .............................................................................................................................................................................................................. 17 1. A arte representa o mundo: os elementos da linguagem visual ................................. 21 1.1 O real, o abstrato e o simbólico: os diversos caminh os das artes visuais .......... .24 1.2 Pontos, traços e texturas: linhas que criam mundos ................................................................ .31 2. O geométrico e o orgânico: diferentes formas nas artes visuais ........................... 63 2.1 O que é forma? ................................................................................................................................................................ 66 2.2 O diálogo entre as formas ................................................................................................................................... 80 3. Cores para todos os lados: a cor e seus usos nas artes visuais .................................. 115 3.1 Qual é o nome dessa cor? Os diversos elementos da cor .................................................. 11 8 3.2 A dança das cores ..................................................................................................................................................... ..129 3.3 A cor nas artes visuais: usos e abusos .................................................................................................. ..146 4. O "D" da questão: o bidimensional e o tridimensional nas artes visuais ........................................................................................................... 165 4.1 Bi e trilegal: as formas bidimensionais e t ridimensionais .................................................. 168 4.2 Pontos de fuga e a ilusão de espaço ..................................................................................................... ..178 4.3 O mundo t ridimensional ...................................................................................................................................... 187 5. As artes sequenciais e suas possibilidades ....................................................................................... 215 5.1 Ritmos e movimentos visuais .......................................................................................................................... 218 5.2 Contando histórias com imagens ............................................................................................................... 237 6. O todo é mais do que a soma das partes? ......................................................................................... 263 6.1 A linguagem visual no processo criativo: o ana lógico e o digital na criação das formas .............................................................................. 266 6.2 Teorias e conceitos para a análise da obra de arte ................................................................. 286 Considerações fi nais ..................................................................................................................................................................................... .311 Referências ......................................................................................................................................................................................................... .313 Bibliografia comentada ............................................................................................................................................................................. .319 Respostas ........................................................................................................................................................................................................... .323 Sobre os autores .......................................................................................................................................................................................... .329 "Ver é uma experiência direta, e a utilização de dados visuais para transmitir informações representa a máxima aproximação que podemos obter com relação à verdadeira natureza da realidade". (Dondis, 2000, p. 7) 7 Apresentação A compreensão de qualquer linguagem passa pelo entendimento dos elementos que a formam. Nesse sentido, o presente livro tem como principal obj etivo auxiliar você, leitor, bem como o fut uro professor de Artes Visuais, a compreender os elementos que fazem parte da gramática da linguagem visual. Com esse objetivo como norte, o tema deste livro diz respeito aos fundamentos da linguagem visual . Nossa intenção é fornecer subsídios para a compreensão da imagem em seu aspecto formal e, para isso, trazemos exemp los de diversas manifestações das artes visuais (artes plásticas, design, ilustração, arquitetura, história em quadrinhos) de diferentes contextos históricos e geográficos, os quais analisamos procurando ident ificar os elementos formais que as compõem. Para uma compreensão didática do assunto, dis- cutimos os elementos visuais com o auxílio das ob ras de diversos teóricos e estudiosos de forma separada, mesmo sa bendo que dificilmente uma imagem apresenta apenas um desses elementos, mas é criada pela inter-relação destes. No primeiro capítulo, "A arte representa o mundo: os elementos da linguagem visual", apresentamos a compreensão da mensagem e das formas de representação na arte (o real , o abstrato e o simbólico), além de analisa r sepa radamente alguns dos elementos básicos da linguagem visua l ( ponto, linha, plano e textura), conceituando-os e exemplificando-os. No segundo capítulo, "O geométrico e o orgânico: diferentes formas nas artes visuais", t razemos a con ceituação e a diferenciação das várias formas visuais criadas pelo ser humano, além de estudar sua interação e a maneira como elas se organizam nas compo- sições visuais. No terceiro capítulo, "Cores para todos os lados: a cor e seus usos nas artes 9 10 visuais", buscamos entender o elemento cor por meio de sua definição, da compreensão de seus parâmetros básicos e de seus sistemas formativos. Constit ui-se também como objetivo desse capítulo o estudo das interações das cores, suas harmonias e diferenças de percepção, com diversos exemplos de seu uso nas artes visuais. No quarto capítul o, "O 'D' da questão: o bidimensional e o t ridimensional nas artes visuais", buscamos a compreensão dos limites ent re as artes de duas e de t rês dimensões, estudando a ilusão espacial da perspectiva e da rea lidade virtual, bem como os princípios básicos da forma escultórica. No quinto capítulo, "As artes sequenciais e suas possibili- dades", estudamos o movimento visual das formas de criação dessa ilusão nas imagens estáticas, bem como nos dedicamos ao estudo da arte sequencial da história em quadri- nhos, apresentandoseus elementos básicos. Por fi m, no sexto capítu lo, "O todo é mais do que a soma das partes?", ampliamos o estudo dos f undamentos visuais, abordado pela maioria das obras sob re o tema, discutindo a materialidade das artes visuais e realizando um estudo sobre os meios empregados na criação da imagem, além de um estudo de suas correntes teóricas: a Gestalt e o forma lismo. Organiza mos este t rabalho em uma série de tópicos que dividem os temas, o que fac ilita a ap reensão dos conceitos. No início de cada um dos capítulos, temos uma Introdução, que apresenta um roteiro dos te mas que abordamos em cada unidade e, no fi nal, na Síntese, há o resumo dos principais conceitos estudados. Também constam em cada capítulo t rês t ipos de atividades: as de autoava liação, que são questões sobre o conteúdo ap resentado no capítulo; as de reflexão, que são questões discursivas ou de sugestão de pesquisas para um aprofundamento nos temas abordados; e, por fi m, as práticas, que se constituem em exercícios de criação com base nos elementos estudados. No fi m da obra, temos ainda uma Bibliografia comentada, que faz uma pequena apresentação de alguns autores t razidos para o diálogo na obra, com a indicação da importância de sua leitura para você se apro- fundar no estudo que propomos neste livro. Por fim, convidamos você, leitor, a participar deste caminho para a compreensão dos fundamentos da linguagem visual, um dos pontos básicos para a formação como profes- sor de artes. Os autores 11 Organização didático-pedagógica Esta seção tem a fina lidade de apresentar os recursos de aprendizagem utilizados no decorrer da obra, de modo a evidenciar os aspectos didático-pedagógicos que nortea- ram o planejamento do material e como o aluno/leitor pode tirar o melhor proveito dos conteúdos para seu aprendizado. c...i .. c;or!Nn 1a1•c;or opost• e . ..,.ndoslo.,,rt..-,wbi;_ ,:t...,u•_.a.m•. c;r\itndooc.:IIW>.l~.,. c;Ofe<S:,,,d,a,n.;, das do: C:....,,._,elll- • O> OPflh •. Aléa, cb(0fOpo$1• , c.acb c;llfl-(Olff •,hir .. s" ..,'*lllN>uo1,1J h::o.Cf"sJo li.• t l gur;;, 3., , 1-,,,s o c:ltt10lo do, CON!I do s lue .... dM plj:-rltM t..Ms,-• t ~ ,de«lonslrilllÓOiliCOIH prm~ ..... ~11i5elefl:làNs.. Assim, po1e11N1plo.o wmdloi.ic«iee.MCU rvoblod.lpeli m6t"'idai mrH .. .ige u e il fll.iréa. , ·-os t.ifflw.i " mr m.ip1.- .,e11tilrdo 1•en nello, q..,ll!lo di110,• li""" INlbcilz;i~d.melfihlelt ellflOiol.i .i ditlOdfNQ.POf fim,IN105 ili COIH • n.álogn, lf,lll!Ktlo ilDw " \adono dn:'*> (f,S:Jl'.i )-2). VOlt ill'N"OOSi f.ililrdessH.i<;pKI05 .uwg:Jl'ICb,...te desteC.ipitJlo. 1'«01:i, ..amos\oef i!iprllldp;,s cuut«istkM Introdução ao capítulo "l•~J• ~ ..... _ ....... _ _ ,.. ____ , "l•~J .. , ........ .. ~ .............. aos. +•=• . ~ . . -=::::- '" Síntese Síntese 1w~1cciip't.Ao.entendNnoi1J11111o f-at..doo<t-W i ~wle,óemodofll.i6tspedlíco, -.,IHN!u mos """" drferenç;i Nitre ,_a e fM..,ato O fo...., ato feSJll,1 dil fOf'- e, ger.ilmeclte, p•Cdlemos o fooo.no po, w.i coolOMO. A formil lflOIC.i ..m wLme e o w..Jlffffldlmmto.A1'"'1, o ptttoclwllentopo,"1eoocb textura t!11111.1m.neudt: ......... ~,mos j fotlllil. Nl!!.W porto. d5a.tmos ili foMIM bldlfflMtkHl&II, INldo mmo(delfncli i oéfidt: W<lfl&,e ôelKilfllosotttJCloda\ formili 1ucl,meMOOfld!S~fil o (,1pl!Jlo4 O..t ronem •"'l'«lilnte .-.ilDofd.imos .iO bngocl,e,st eciJll!Ál loti mil\ propr.ed&d,t,aC0 .... 11tlYM di5fOfm.Se-S"1.MN'i5~filWObkf ..miObfilde .-1, ài"""-:,1, -,p1es,, .ilglil.i...o:t ,.,.....,,. ~i.,,...,.."" .,,_ .. a.brio • ) propor~.lo. 'lottt...ioda propo,,; J.o,com~1,1mo,;os"'lr.-e<.....nb'ocosda .,.~J.o"'r•.a como\do r•tiooJMlo...,rabd•a , pe,,:........,\o<t-"ilnto..iopro-,os_t.....,..do&mni;.,do\s.lo 1.-.d....,nta& par,;, o.,..,..,,~"° a,aO,o, tanlo do ;o-t,sta q..,..todo~d-,;,,sprofi..,,....,s ct-"'U!la.-o;;f ....... _jo,;;d,;, lng .... g--•-~.-.,..,~o;;<t-"il&poóemo~ oDt.,- óe r-a dtHta °" Hldlf'ft.a - Ci50 do .. ,. .. u.lNio, ' .. , ... óe modo COfll cHflt • o,. looc0011cHOlt • <t-"'""° " "'" mo~do propo~.lo Atividades de autoavaliação ( ) ,.f«m,;, te91 ~ocom ,;, noss,;, .,..,.,-o@Old,;, oot,dla...._ Ap~~,;,s f«mas po(,ne,oda v~ e do t..io.,, dKs....,..._;o..pod-osm.......,, Cf" l«mitS sJo,;,~os<,q,etos tMlmen«<>- Cf"~lo ) noss,;,v<llt,;, '"' Logo na abertu ra do capítulo, você é info rmado a respeito dos conteúdos que nele serão abordados, bem como dos objetivos que os autores pretendem alcançar. Você conta, nesta seção, com um recurso que o instigará a fazer uma reflexão sobre os conteúdos estudados, de modo a contribuir para que as conclusões a que você chegou sejam reafirmadas ou redefinidas. 13 ,. Atividades de autoavaliação $0Ófeo1KOcblngciagN1~&i.o~i1SWl.l1'e i illtef'll.l,:l,,,.1 m1uu: .11) A 1,..;.igem ~-1, IMlamente utJà.Mb jlOf ilíl6Us~stloos, po6ifum K IJÓOcb"61ónicbi11t eeieHbC:ooo.iCOOlOÓHNihOei1pilll .. il. b) Al,..;.igem~,w,;i1if1M1.ateoNquepe1W1.U ilOScl\,aiOSprof&soo-que 11ilbhmmm.11"1.agN1comp,fftloÓef osdNrentos fotfilosque.om«.,ÕHle c) ~~toscb .. .>.;,geon~"""'-po,tr;,ta,-doe.t.odo,;lili,~- .,........., ___ ..,""'lepi11i1 DKl "6o,;lili,lofm;,sft:,.""l\."',;lili,•lff .,.........,~10.,.fOfm;,s.;ibst r., t ;,ssJoest.>ditditspo,o.rtr.,steoN..,mlflo,1 d) Al .. -"lg-~-1,f...,;,k<,RitifthgiUlifi,rtj1-bp;tr,o;;,,1Bohd,edw,1sdo p;t~ildo.nlo Jolniwlo par., est"4;o" ;is..,;illlfest"',ilnirti:<tc"' il p,.-1• do -~. ÇonlomM1os..,lofesque~...a.,...,,s~ec.apll...,,...,ssJoi1SCi1r.><kri>t,c;,sque pod""'s" ;itril>Jicbs;wf'D"logr~I~ mlfl V(Wfdadri'o)"" 1 (f,.~ ;is .;,f,rm~;;,wg.-: ( )Ol"""togr:.tia,nJopode_coo_......,...,'*"'"''ºcbl .. J.18""'~.....,\ Atividades de autoavaliação Com estas questões objetivas, você tem a oportun idade de verificar o grau de assimilação dos conceitos examinados, motivando-se a progred ir em seus estudos e a se preparar para outras atividades avaliativas. 14 6o e) A \e~!Jf i \4Will ifaq.S.1 queff>91ew11Uosdife1entesmillfflilos, bemmmo .o aoac;lode padlôesb.se.oclosN1poo10s.,IWla. ecofK. Oi iwmdosdN!tiltos óepreeochilllentodocootornocb for"1& d)1ext.1r.o l&lilif~s;iqueli1extJ1iobcdipda!K-.idefror10~ Atividades de aprendizagem Questões para reflexão ,...,w..l\,.,_,.,_.,°"'S'" .. ••...-- 1"' '"'" ~.,._,.,._ • ......,.,_,,. .. ..,-..,.. ... ,_ , ... e....,_,.~ Atividades de aprendizagem Aqui você dispõe de questões cujo objetivo é levá- lo a analisar cri t icamente determinado assunto e a aproximar conhecimentos teóricos e práticos. Bibliografia comentada ..,.:,:..,1u,,.1,lt Artee~eK lo ,As.,111:""1.i pso:Oklgli cb~aoador&'UoP.a.ÀX CHg,oget.ullling,1991. O.utOO" fJOO.il111enti10SNlwon,ateu1i1cbCt1tolr,ew.ioti,ed,,onHS.ilobr.i 00111 §611!emdkc.r!irilg""1u~ld.ldescb~l'iloe iflld, lilsAipe,<cep;Jo>Aw.ildos ollfr10sa-161«:05,plW:~tme111epor"1eodoK!Jdodepintúli,dod15Mhoeib HC-,ftúfil.Pill.i N*-1 (1991), Oito de olll.ir o mJl'IÓOpro,,,.a ct,..e elllsleYll\.i ..,te 1,1Çiodepfllfllled.ldesWJl(1d.ispeloollj,etoei1a.,tJ1eudow,e,to~oob5ttlli. U1fim,ro<1110.iM11e outo1, pa1i1 w ro111p,tttld,N i obtil de arte, tbdeo.esa pensacb como - IOdo:s...i lorfll.i, ro1,cU1fog..,~o etc.;esw olJi,eti,,ouotlMl w -•~ilOnos.somodoôeHtúCb, osfu1W111t111osd.atoncciagM1~-L t....,;el,rn;;,borcbi1,..,l õ0c,icbl .. ~eon\lwal.,i,,t~<l""" .. a.ogemf.-, fec:IM"W<ka., ....... çJoh ........ e, po, il"'*>g\a, il OlilÇiodoiobl'b~ ........ , wsc;ett.ddoi- i,,sjBi4,_ Pl'.lf compa...çao,;,...,ta,1.;ossod., .;, .. .>;og.., ~•il à~....,. ep,opõo: .-, l'6lemi1b.ls.,;opa"'il ilpl~lziogM1 e il m.ip,--.1,,d,.. ~e ........... ...,._~,:1,11o<1o..,eaJo~-proli-<!""~tilm dess,iro-.,c;_1o_wusolic10S,W .... O•l .. l .i,OP"qdliti1 l'IC. Bibliografia comentada Nesta seção, você encontra comentários acerca de algumas obras de referência para o estudo dos temas examinados. J09 15 Introdução S omos constantemente rodeados porimagens (das mais diversas naturezas e cria- das pelos mais variados produtores), que comunicam mensagens com cód igos específicos (formais e de conteúdo). O nosso objet ivo consiste em instrumentalizar você, leitor, para entender a natureza formal da imagem, em especial da imagem de arte. Inicialmente, perguntamos: Do que é feita uma imagem? Que elementos devemos observar para compreendermos quais deles estruturam a imagem de arte? Neste livro, respondemos a essas questões com base na nossa experiência como professores que t rabalham com a leitura e a construção da imagem e na obra de autores que se dedicam a estudar a sintaxe da mensagem visual. Os elementos da linguagem visua l que constituem nosso repe rtório de análise, como o ponto, a linha, o plano, a textura, a cor, o volume e a perspectiva, organizam a "materia - lidade" da imagem, sendo esta entendida como as ob ras das artes visuais, da arquitetura, da comunicação visual ou do design. Para nós e para os autores trazidos para essa reflexão, a ling uagem visual pode ser apreendida, permitind o-nos compreender a natureza formal da imagem e, assim, entender o que a compõe. Entendemos que o alfabetismo visua l não é o mesmo que o verbal, pois a linguagem (escrita ou falada) é lógica, precisa e tem regras definidas. Nesse sentido, podemos nos perguntar: Considerando que a linguagem visual pode ser ensinada e não tem regras exa- tas, como podemos controlar a linguagem visual? Como podemos desenvolver a nossa capacidade de ver e de visualizar? Donis Dondis (2000) nos auxilia a entender a motivação deste livro, pois o conheci- mento da linguagem visual conduz ao alfabetismo visual , que permite ver, com- preender e produzir imagens, de modo que seu significado seja compartilhado com certa 17 18 universalidade. O seu método para o ensino da linguagem visual considera que a sintaxe visual não é simples, tem influência da Gestalt' , que trata da psicologia da forma, em que as partes de uma composição visual estão interligadas com o todo, assim como o todo depende de cada uma de suas partes. Assim, consideramos que a metodologia de Dondis foi estruturada de forma que os elementos básicos da linguagem visual e as técnicas manipulativas para a criação de mensagens visuais sejam requisitos necessários para que o comunicador visua l elabore uma composição de qualidade. Entendemos que cada obra de arte tem sua particularidade e que cada composição visual é única, logo, o conhecimento da linguagem visual permitirá ao artista, ao arquiteto, ao comunicador visua l ou ao designer compreender os elementos que compõem a imagem. No que diz respeito ao domínio dos elementos visuais, cada um deles tem ligação com o tema representado e, consequentemente, no exame da composição visual, não temos como sepa rar o nível representacional dos outros dois: o simbólico e o abstrato. Esses níveis da inteligência visua l não são percebidos separadamente pelo espectador, e o significado de uma composição visual pode estar condicionado à estrutura compositiva em seu conjunto. Isso significa que um acontecimento visua l associa forma e conteúdo, o qual, por sua vez, pode ser influenciado pelos elementos visuais que foram utilizados como parte constitutiva da imagem ou obra em questão. Outro autor que fundamenta nossa investigação, Wucius Wong (2001), estabelece uma lista de elementos para o desenho, os quais são articulados em conjunto. Apesa r de se dedicar ao estudo do desenho, seus princípios podem ser extrapolados para outras linguagens artísticas, como pintura, escultura, gravura, fotografia, história em quadrinhos. Na abordagem que adotamos aqui, entendemos que tanto o desenhista quanto o artista fazem uso da linguagem visual em suas criações; o que se altera é a finalidade de cada produto e o modo de consumi- lo. Assim como os autores que j á mencionamos, a abordagem de Bruno Munari (2001) a respeito da comunicação visual também nos serve de alicerce metodológico para este 1 Estudaremos a teoria da Gestalt no Capítulo 6. livro, pois o autor desenvolve um método de ensino dos elementos básicos do design e da li nguagem visua l, substitu indo a dicotomia entre belo e feio por correto e incorreto. Além disso, Muna ri distingue a comunicação visual casual da comunicação visual intencional: a diferença ent re elas é o modo pelo qual a mensagem é interpretada pelo receptor. Na comunicação casua l, sua interpretação é livre e, na intencional, sua inter- pretação deve coincidir com a intenção de quem produziu a imagem - ou seja, o emissor. Considerando que a comunicação visual ocorre por meio de mensagens visuais, que criam o elo entre o emissor e o receptor, Munari divide a mensagem visual em duas partes: uma é a informação propriamente dita e a outra é o suporte visual. Compõem o suporte visua l os seguintes elementos: textura, forma, estrutura, módulo e movimento - são eles que tornam a mensagem visível. Concordamos com Munari em considerar que devemos estudar separadamente as partes do suporte visua l para facilitar o ap rendizado, pois, na prática, no momento de produzir um desenho ou criar um objeto, a combinação ent re as partes que compõem o suporte visual não é tão simples. O fato de ela não ser simples implica que o designer ou o art ista entendam a complexidade da linguagem visual, j á que existe uma fronteira predefin ida ent re os elementos citados por Munari, até porque, muitas vezes, todos eles apa recem j untos. Em resumo, você, leitor, que está iniciando a leitura deste livro e tem inte resse em apreender os f undamentos da linguagem visual, deve rea lizar seu estudo tendo em mente que a gramática visual e sua linguagem são pensadas como um todo. Nesse sent ido, os elementos do desenho ou da li nguagem visua l apresentam relações visuais entre si, apesar de separarmos tais elementos para termos uma melhor compreensão didática do assunto. Dessa forma, destacamos que o estudo deste livro deve va loriza r a leitura tanto dos conceitos quanto das imagens, que são mais do que ilustrações, pois constituem parte fu ndamental para entendermos e apreendermos os fu ndamentos dos elementos visuais. Por fim, convidamos você a explorar a li nguagem visual e a ampliar sua capacidade de percepção das diversas mensagens visuais com as quais temos contato. A arte representa o mundo: os elementos da linguagem visual ,, O conteúdo deste capítulo está distribuído em duas seções: "O real, o abstrato e o simbó- lico: os diversos caminhos das artes visuais" e "Pontos, traços e texturas: linhas que criam mundos". Primeiramente, mostra- mos que a arte é uma forma de represen- tar o mundo e que, para tanto, os artistas escolhem diferentes modos de criar uma obra de arte, que pode ser figurativa, abstrata ou simbólica. Cada um desses modos de representação também resulta em gostos e percepções diferentes por parte do observador, o que ocasiona a variaçã o do grau de complexidade da obra em fun ção de sua semelhança com o mundo real. O fato de serem idênt i- cas à realidade explica por que grande parte do público prefere as obras figu- rativas em vez das obras abstratas por exemplo. Na sequência, abordamos os três elementos básicos da linguagem visual: o ponto, a linha e, por extensão, o plano. Mostramos suas ca racterísti- cas e seus recursos com positivos, com o intuito de elucidar que esses elementos 23 24 estão interligados e que a combinação deles resulta em uma variedade de arranjos visuais. Em relação ao tema textura, estudamos as texturas táteis e visuais, quando também mostramos os vá rios processos de criação de texturas, como o desenho e a pintura, e abordamos até as que são obtidas por fricção, mancha e processos fotográficos, entre outras técnicas. 1.1 O real, o abstrato e o simbólico: os diversos caminhos das artes visuais A ideia centraldeste tópico consiste em mostrar três modos de representar o mundo: o real, o abstrato e o simbólico, - o que significa que cada artista escolhe um caminho dentro das artes visuais. Vamos fazer um passeio por três períodos da história da arte: o da arte renascentista, o da arte abstrata e o da pop art. Aqui, vamos considerar que a arte representa o mundo e que podemos representar uma mesma imagem de diversas maneiras. De um lado, o artista escolhe seu modo de representar o mundo, definindo seu estilo artístico e sua técnica; de outro lado, o público realiza leituras e interpretações diferentes ao apreciar a obra de arte daquele artista, com base na sua percepção visual e no seu gosto. Assim, há, por exemplo, pessoas que prefe- rem as pinturas figurativas e não gostam das pinturas abstratas. Ad mitir que, em cada época e em cada geração, modificam-se os gostos do público e os modos pelos quais os artistas produzem permite-nos concordar com Ernest H. Gombrich (1909-2001), que, em seu livro Arte e ilusão, escreve: "as nossas reações e o nosso gosto devem, necessariamente, diferir das reações e do gosto das gerações passadas" (Gombrich, 2007, p. 51). Essa mudança do gosto nos revela que, na produção artística, cada obra de arte é criada em função de um contexto histórico e socia l. Nesse sentido, a leitura e a percepção de uma ob ra produzida no Renascimento por Leonardo da Vinci (1452-1519) diferem tanto da recepção da arte abstrata produzida por Wassiliy Kandinsky (1866-1944) quanto da pintura de Andy Wa rhol (1928-1987) da escola da pop art (arte pop). Devemos ter em mente que os art istas, pa ra representa rem o mundo e criarem suas obras, utiliza m os elementos da linguagem visual, considerando as possibili dades técnicas e de materiais que o momento histórico e social permite, de modo a desenvolver um estilo artístico próprio. Na busca de um estilo próprio, o conhecimento da linguagem visual e de sua gramática é essencial para diferentes profissionais que utilizam a criatividade em seu t rabalho. Nesse sentido, o processo de criação e seus recursos técnicos e visuais possi- bili tam diversos caminhos e escolhas tanto para os art istas quanto para os profissionais que desejam ut ilizar os f undamentos da li nguagem visua l para elaborar uma mensagem visua l e comunicá-la de modo eficaz. Ao retomar o tema cent ral deste tópico, Dondis (2000, p. 85), em seu livro Sintaxe da linguagem visual, classifica a anatomia da mensagem visual em t rês níveis: o repre- sentacional, o abstrato e o simbólico. O domínio de cada um desses níveis resulta no grau da chamada inteligência visual. Agora, começamos nosso estudo com o detalhamento de cada nível, com o objetivo de entender o que caracteriza cada um deles e a relação que guardam ent re si. O primeiro nível é o representacional: aqui, podemos dizer que a mensagem visual é concreta e real e que seu entendimento se baseia na experiência do cotidiano visual. O segundo nível é o abstrato, que t rata da mensagem visual pura, cuja compreensão está condicionada ao estudo dos elementos que a constituem. O terceiro é o nível simbó- lico: nesse caso, a mensagem visual é formada por sistemas de símbolos, e seu enten- dimento associa a forma e o conteúdo da imagem em questão (Dondis, 2000, p. 85-105). De acordo com Dondis (2000), o nível mais elementar é o representacional (figurativo) e o mais complexo é o abstrato. A composição representacional trata de 25 26 Figura 1.1 - Mona Lisa (La Joconde), de Leonardo da Vinci DA VINCI, Leonardo. Mona Lisa. 1503-1506. Óleo sobre madeira de álamo: color.; 77 x 53 cm. Museu do Louvre, Paris. modelos concretos e reais, enquanto a composição abstrata valoriza a gramá- tica visual e seus elementos básicos: o ponto, a linha e o plano. Nesse nível do desenvolvimento do alfabetismo visual, o mais importante não é o tema, mas a mensagem visual pura - ou seja, a subestrutura da composição. A diferença entre o representacional e o abstrato também é apresentada por Wong (2001) em seus estudos sobre a forma. Para esse autor, temos dois tipos de formas, as figurativas e as abstra- tas: "uma forma figurativa pode ser apre- sentada com realismo fotográfico ou com algum grau de abstração - contanto que não seja tão abstrata a ponto de tornar o tema irreconhecíve l. Se o tema não pode ser identificado, a forma é não figurativa" (Wong, 2001, p. 146). Assim, por exemplo, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci (Figura 1.1), obra produ- zida em óleo sobre madeira, entre 1503 e 1506, é figurativa. A perfeição do dese- nho e sua composição harmoniosa nos transmitem a sensação de que essa dama florentina, chamada Lisa, é feita de carne e osso e está viva, seja pela força do o lhar, seja pela sensação de tristeza em seu sorriso. Como exemplo de produção abstrata, apresentamos a primeira aquarela abstrata, do russo Kandinsky (Figura 1.2), primeiro artista a expor uma pintura sem nenhum objeto reco- nhecível. Essa obra ajusta-se à definição de Wong: "uma forma abstrata não tem um tema reconhecível. [ ... ] Uma forma abstrata expressa a sensibilidade do desenhista com relação a formatos, cores e composição, sem depender de elementos reconhecíveis" (Wong, 2001, p. 148) . Segundo o próprio artista, "a obra de arte já não deveria depender de condições externas, como o modelo da natureza. Em vez disso, o que determinava a gênese do quadro Figura 1.2 - Sem título (primeira aquarela abstrata), de Wassily Kandinsky KANDINSKY, Wassily. [Sem título]. 1910-1913. 1 lápis aquarela e t inta sobre papel, 49,6 x 64,8 cm. Coleção Particular, Paris. 27 28 Figura 1.3 - Violino e uvas, de Pablo Picasso PICASSO, Pablo. Violino e uvas. 19 12. 1 óleo sobre tela: color.; 50,6 x 61 cm. Museu de Ar te Moderna, Nova York. era a voz interior do artista" (Kandinsky, citado por Becks-Malorny, 2007, p. 55) . Ao teorizar sobre a arte abstrata, Gombrich (1999, p. 570) menciona que o termo abstrato não foi uma escolha ade- quada, pois a denominação melhor seria não objetiva ou não figurativa, tendo em vista que a importância da arte abs- trata está associada a outros períodos da história da arte, como o expressionismo e o cubismo. No caso do cubismo', os artis- tas pretendiam reformular a represen- tação e, com isso, resolver o paradoxo da pintura, que consistia em representar um objeto que tem profundidade em uma superfície plana, sem ut iliza r o recurso 1 Este movimento ar tístico engloba duas fases: a do cubismo analítico, que ocorreu de 1907 até 1912, e a do cubismo sintético, que se desen- volveu nos anos de 1912 e 1913. Basicamente, o analítico trabalha com a decomposição da for ma, enquanto o sintético agrega obj etos prontos cola- dos na pintura. Podemos dizer que, "considerado um divisor de águas na história da arte oc idental, o cubismo recusa a ideia de arte como imitação da natureza, afastando noções como per spectiva e modelagem, ass im como qualquer t ipo de efeito ilusório" (Enciclopéd ia l taú Cu ltural, 2016). ilusionista da perspectiva. A solução foi representar os objetos por seus fragmen- tos. Por essa razão, os temas escolhidos pelos artistas são familiares: guitarras, garrafas, fruteiras, etc., como fez o espa- nhol Pablo Picasso (1881-1973), na obra Violino e uvas, de 1912 (Figura 1.3). Ao analisar o tipo de composição visual adotada pelos artistas cubistas, Gombrich explica que, em alguns aspectos, o modo de representação cubista retoma as com- posições egípcias " em que um objeto era desenhado a partir do ângulo em que a sua forma ca racterística se destacava como o máximo de clareza" (Gombrich, 1999, p. 574) . A Figura 1.4 exibe a representação de O jardim de Nebamun, em que as árvores são percebidas com maior clareza, con- siderando o desenho da vista fronta l, e não da vista superior. Misturam-se emum mesmo plano os objetos observados em diferentes ângulos: a piscina está repre- sentada na vista superior, e as árvo res estão representadas na vista frontal. Figura 1.4 - O jardim de Nebamun O JARDIM de Nebamun. 1400 a.e. Mural de um túmulo em Tebas, color.; 64 x 74,2 cm. Museu Bri tânico, Londres. 29 30 Figura 1.5 - (a) Sopa Campbell's (detalhe) , de Andy Warhol; e (b) Marylin Monroe, de Andy Warhol. a) b) WARHOL, Andy. Marylin Monroe. 1967. Serigrafia sobre papel, 91 x 91 cm. Tate Gallery, Londres, Reino Unido. Para discutirmos o nível simbólico, notemos as Figura 1.5a e 1.5b, que nos mostram a imagem de uma lata de sopa Campbell e a imagem da atriz norte-americana Marilyn Monroe (1926-1962), respectiva mente. Para compreendermos essas pinturas feitas pelo norte-americano Andy Warhol, precisamos saber: por que o artista escolheu essas imagens? Quem comia e quem fabricava a sopa Campbell? Quem foi Marylin Monroe? Podemos dizer que essas obras são reais e simbólicas: reais porque reconhecemos que as imagens são figurativas, e simbólicas porque buscamos o significado da obra não apenas pelo seu aspecto formal, como fizemos na pintura abstrata de Kandinsky. Assim, podemos concluir que, em grau de dificuldade, o nível representacional é mais fácil, enquanto o nível abst rato é mais difícil. Por outro lado, compa rando os três níveis, o simbólico depende dos outros dois: isso significa que a leitura de uma obra de arte classificada como simbólica não separa a forma (imagem figurativa ou abstrata) do seu conteúdo ( personagens ou produtos divulgados pela mídia) e, portanto, sua compreen- são depende do valor histórico e cultural da imagem como um todo, em função da época em que foi produzida pel o artista. 1.2 Pontos, traços e texturas: linhas que criam mundos Conforme vimos anteriormente, Dondis (2000) nos explica que a linguagem visual é constituída de uma gramática própria e que os elementos da linguagem visual são como os elementos da linguagem escrita. Por exemplo, para escrevermos em português, é necessário que dominemos a estrutura da língua, as regras gramaticais e a sintaxe tex- tual, para que, assim, as letras formem palavras, orações e textos. Para Dondis (2000), a linguagem visual também é um texto que pode ser lido e analisado. 1.2.1 Pontos, pontinhos e pontões: o elemento fundamental Como já mencionamos, entre os elementos fundamentais da linguagem visual, temos o ponto, a linha, o plano e o volume. O ponto, do qual tratamos neste item, é o elemento básico e primordial do código visual. Contudo, iniciamos por perguntar: o que é um ponto? Podemos representar o ponto de muitas maneiras. Na geometria, ele pode ser repre- sentado como a união de duas retas, pelas coordenadas x, y e z de um sistema; assim, temos o ponto em seu aspecto teórico-conceituai. Conforme Christian Leborg (2013, p. 10), o ponto é um elemento que não se pode ver nem sentir: é um " lugar sem área". Para Frederi ck Malins (1988, p. 12), o ponto define posições e tensões no plano e no espaço. Para entendermos essa natureza do ponto, basta lembrarmos que, quando 31 • 32 Figura 1.6 - Ponto e suas posições no quadro de referência • Fonte: Adaptado de Malins, 1988, p. 14. Figura 1.7 - Ponto mostrado em duas molduras de referência • Fonte: Adaptado de Wong, 2001, p. 4(5. lil • • desejamos indi car em um mapa um ponto de interesse, muito provavelmente o fazemos com uma cruz ou algum outro sinal gráfico - essa marcação pode ser considerada um ponto . Na linguagem visual, o ponto pode se r um elemento que indica a posição como um centro de interesse ou de composição, como nos exemplos da Figura 1.6. Além dessa natureza conceituai, temos o que chamamos de ponto gráfico, que se constitui como um sinal gráfico. Conforme explica Wong (2001, p. 45), os elementos básicos da ling uagem visual ( ponto, linha e plano) são conceituais, mas, no momento em que se tornam visíveis, passam a ser considerados formas, ou seja, apresentam materialidade e são representados por algum tipo de sinal ou marca. Para esse autor, uma forma é um ponto quando tem pequena dimen- são em relação à moldura, considerando que "a pequenez, evidentemente, é relativa. Uma forma pode parecer razoavelmente grande quando confinada em uma moldura de referência dimi- nuta, porém a mesma forma pode parecer muito pequena quando inserida em uma moldura de referência bem maior" (Wong, 2001, p. 45). É o que vemos ilustrado na Figura 1.7. Ainda conforme Wong (2001), as características da representação do ponto são duas: a) Seu tamanho pequeno em relação à moldura ou quadro de referência, como podemos observar no desenho da Figura 1.7. b) Sua forma deve ser simp les, como podemos observar na Figura 1.8. Figura 1.8 - Formas de representação do ponto • X • • Fonte: Adaptado de Wong, 2001, p. 46. Outro autor que se dedica a estudar os elementos da linguagem visual é Kandinsky, que, em seu livro Ponto e linha sobre plano, contribuição à análise dos elementos da pintura, elabora uma teoria das formas em que postula a correspondência entre os elementos: o ponto e a linha, em um plano. Segundo ele, "ponto e linha são os dois elementos básicos necessá- rios a toda composição pictórica, suficientes para o desenho" (Kandinsky, 2005, p. XXI). Considerando essa ideia do autor, podemos pensar o ponto a partir de três desdobramen- tos: no primeiro, o ponto que produz uma linha, pois não tem uma tensão concêntrica (Figura 1.9); no segundo, o ponto resulta em uma superfície, percebido pelo aumento de proporção em relação ao plano (Figura 1.10); e, no terceiro caso, por acumulação, o ponto permite criar uma composição (Figura 1.11). Figura 1.9 - Ponto que produz uma linha, sem a tensão concêntrica Direção ---IIJJI~ . . ........... . Figura 1.10 - Ponto que resulta em uma superfície, pelo aumento de proporção em comparação ao plano 33 34 Figura 1.11 - Ponto que, por acumulação, permite criar uma "combinação ou composição" SILVA, Rossano. Pássaros (detalhe). 1994. Desenho em nanquim sobre papel: p&b; 17,8 x 28,3 cm. Acervo do artista, Curit iba. Figura 1.12 - Agrupamentos de pontos induzem a percepção da forma DD. • • ~g Fonte: Adaptado de Malins, 1988, p. 14. Ao definir a pintura e o desenho, Ma lins (1988, p. 12) os considera como uma série de marcações realizadas com diversos meios ou técnicas, como grafite, t intas e canetas, entre out ros. Para o autor, são marcas que produzem sinais visíveis e, de todas as marcas que podemos criar, o ponto é a mais sensível. Na Figura 1.11 , observamos que a ilus- t ração que apresentamos foi criada com a técnica de pontilhismo com uma caneta de tinta nanquim. Como podemos perce- ber, a forma da figura é criada pelo agru- pamento dos pontos. Conforme Malins (1988, p. 14), quando há t rês ou quatro pontos juntos, tendemos a vê-los agrupa- dos, criando uma forma; assim, apesar de os pontos não estarem unidos, eles criam a sensação de "fechar" um contorno na figura (Figura 1.12). Essa percepção ocorre pelo fenômeno do fechamento, estu- dado pela teoria da Cestalt, que analisa- remos no Capítulo 6 deste livro. Voltando à ilu stração do pássaro, o agrupamento dos pontos também cria a sensação de claro e escuro, causando a ilusão de que algumas partes estão banhadas pela luz, enquanto outras encontram-se na penumbra. Obse rvemos a Figura 1.13, que mostra uma esca la tonal composta pelo agru pamento de pontos. Figura 1.13 - Escala tonal composta pelo agrupamento de pontos . · . . . Fonte: Adaptado de Ching; Juroszek, 2010, p. 42. A escala tonal é a rep resentação que demonstra como uma cor ou uma textura vai do cla ro ao escu ro, idea lmente do branco ao preto, passando pelos tons de cinza. No caso da Figura 1.13, vemos como os pontos mais agrupados t ransmitem asensação de escuro, ao passo que, à medida que os pontos se afastam temos tonalidades mais claras - esse recurso permite ao desenhista dar a ideia de claro e escuro. Out ro efeito desse agrupamento, de acordo com Malins (1988), é que, pela repetição, os pontos produze m padrões e texturas gráficas (Figura 1.14), que são muito utilizados nas artes decorativas, no design de superfícies e na indústria têxtil. Figura 1.14 - Padrões gráficos criados por pontos • • • • • •• •• •• •• • • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• •• •• • • • • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• •• •• • • • • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• •• •• • • • • •• •• •• •• •• •• • • • • •• •• • • • • • • • • • • • • • • • • Fonte: Adaptado de Malins, 1988, p. 16. 35 Assim, apesar de ser um pequeno elemento, as possibilidades de criação do ponto são múltiplas. Agora, vamos ver como os outros elementos visuais podem criar formas. 1.2.2 Linhas para todos os lados: o grafismo visual Se pedíssemos para alguém fazer o desenho de uma folha, como essa pessoa o faria? É muito provável que, primeiramente, desenhasse o contorno da folha, que seria feito com uma linha formada por partes retas e curvas que, assim, definiria a forma básica da folha, como vemos na Figura 1.15. Conceitualmente, a linha pode ser compreendida como uma série de pontos. Além disso, para a geometria, a linha reta é um elemento infinito, enquanto o traço, definido por um início e um fim, seria um segmento de reta. Conforme Ellen Lupton e Jennifer C. Phillips (2014, p. 16), "a linha é uma série infinita de pontos. Entendida geometricamente, Figura 1.15 - Ilustração: foto da folha e desenho do contorno tem comprimento, mas não largura. É a conexão entre dois pontos ou o trajeto de um ponto em movimento". Para além do seu sentido conceituai, temos, como no caso do ponto, a linha gráfica, que apresenta um comprimento, mas também uma espessura ou, como escreve Wong (2001), uma forma que define sua materialidade, ou seja, os diferentes tipos de materiais (canetas, lápis, pincéis, programas gráficos, por exemplo) que criaram distintas formas de linhas com texturas e espessuras próprias. As classificações da linha se baseiam em seu movimento: reta, curva, em zigue-zague, contínua, interrompida, aberta e fechada, entre inúmeras possibilidades. Por sua extensão, Figura 1. 16 - Difere ntes tipos de traçados • ,:l//#J/#/1- ~ Ir« «L&-« ... ----- WXXX,CYXXX JIX>CXKJCJ<.Jf Ml!fjllllflWH/V -·~-· J,.,. ,-,g~ '"" ..... ..... , .. ~ ~ Figura 1.17 - Classificação das linhas Reta e curva Longa e curta ~ ----...,_,,, Estreita e larga Aberta e fechada ~ O Quebrada ~ Mista 37 a linha pode ser curta ou longa; e por sua espessura, estreita ou larga. A Figura 1.17 ap re- senta algumas das classificações possíveis. Diante de suas variações no desenho, os professores Luiz Antonio Gomes e Cla rice Machado (2006, p. 83) consideram a linha, e não o ponto, como o elemento gráfico primordial. Para esses autores, existem seis formas básicas de linhas: as linhas de constelação, de circunscrição, de configuração, de formação, de hachura e os t raços de ruskinagem (Figura 1.1 8). Figura 1.18 - Tipos de linha .. --····~ • • • • • • • • • • \ . .., ... -....... o •o Fonte: Adaptado de Gomes; Machado, 2006, p. 84. Não analisaremos a fundo os tipos de li nhas propostos por Gomes e Machado (2006), mas fazemos aqui apenas uma pequena descrição de sua classificação: a) Linha de constelação - nesse caso, como vimos na teoria de Malins, o agrupamento dos pontos cria a sensação de fechamento da forma. Aqui, o ponto cria a ilusão de definir um contorno, como, no exemplo, a figura de um círculo. Apesa r de os autores a considerarem um t ipo de li nha, sua forma se dá pelo agrupamento de pontos. b) Linha de circunscrição - vamos recordar o exemplo da fo lha na Figura 1.1 5. A li nha externa da figura é uma li nha de circunscrição, ou seja, ela define o contorno da figura, mas não estabe lece o que é a figura e o que é o fundo, o que será definido pela inclusão de uma textura ou de uma cor. e) Linha de configuração - há a "silhueta" da figura. Ela estabelece que a figura é a parte que recebe a cor, enquanto o fundo é a parte branca, ou seja, define um dentro e um fora, mas mostra apenas a parte externa do objeto. d) Linha de formação - para os autores, esse tipo de linha se caracteriza quando incluímos mais informações sob re o objeto representado, como cor, brilho ou textura dos materiais. No entanto, nesse caso, consideramos que já não se trata propriamente de uma linha, mas de outros elementos da linguagem visua l, como ve mos na sequência do livro. e) Linha de hachura - as hachuras são formadas por linhas paralelas e que se constituem como uma maneira de preencher uma forma ou criar efeitos de sombra, como os limites das linhas acabarem no contorn o, mesmo no caso de ele não estar presente, ou seja, as hachuras definem a forma e, por isso, voltaremos a falar delas em outro momento. f) Traços de ruskinagem - esse nome foi dado em homenagem ao escritor e desenhista lond rino John Ruskin (1819-1900). Para Gomes e Machado (2006), esse tipo de linha é traçada de maneira gestual, para va loriza r a luz, a sombra e os meios-tons da forma. Outro modo de analisar o elemento visual linha em uma composição é o seu uso. Assim, ao analisar a linha, Malins (1988, p. 26-45) destaca que sua função pode se dar como um elemento estruturador da forma. Ela não está completa mente visível, mas sua presença é implícita ou sua natureza é expressiva. Ao analisar a linha como um elemento visual ou como " linhas de força" de uma compo- sição, Malins (1988, p. 26-45) demonstra de que maneira esse elemento serve como uma espécie de "guia" da imagem. Nas duas Figuras 1.19, vemos a ação das linhas de construção na obra A primeira bailarina, do fran cês Edgar Degas (1834-1917). 39 40 Figura 1.19 - (a) A primeira bailarina, de Edgar Degas; e ( b) Esquema de linhas da obra A primeira bailarina DEGAS, Edgar. A primeira bailarina. 1876-1878. Pastel sobre monótipo: color.; 58 x 42 cm. Museu de Orsay, Paris. b) No esquema, foram enfatizadas as três linhas diagonais (em vermelho) que cortam a composição: uma criada pelo palco, outras duas indicadas pelos braços, pés e cabeça da bailarina; e uma linha vertica l (em azul), criad a pela figura do professor de balé, em pé e parcialmente coberto pelo cenário. As linhas ve rmelhas dão à composição um aspecto dinâmico e de movimento, pois linhas inclinadas tendem a dar essa impressão, diferente- mente de linhas horizontais e verticais. Ass im, temos a nítida impressão de que a bailarina está em movimento, ao passo que seu professor está imóvel, observando-a. O design gráfico também se utiliza dessas linhas para criar a diagramação de lay-outs, as quais são conhecidas como grids ou grades e são nosso objeto de estudo no Capítulo 2. Conforme a artista polonesa radicada no Brasil Fayga Ostrower (1920-2001), em seu livro Universos da arte (2004), as linhas não têm uma existência real no espaço, mas são uma abstração: sem dúvida, percebemos a linha do horizonte, assim como também percebemos linhas em figuras humanas ou em rostos. Mas fisicamente, essas linhas não existem. A pele de um rosto, por exemplo, não é composta de linhas. Quando alteramos nosso ponto de observação, elas desaparecem e dão lugar a outras linhas, tão incorpóreas quanto as primeiras. (Ostrower, 2004, p. 55-56) Ostrower (2004) também chama a atenção para a diferenciação entre dois estilos de composição: as lineares e as pictóricas. As primeiras se baseiam na linha co mo elemento principal, ou seja, a linha estrutura o desenho e a pintura; nela, o contorno ou as hachuras sãoos elementos principais. Por outro lado, na composição pictórica, o centro de interesse está nas manchas de cor, na luz e na sombra; aqui, a linha passa a ter um papel secundá- rio - como na obra de Degas (Figura 1.19a), a linha, nesse caso, é um elemento construtivo. Podemos ver outros exemplos de linha com aspecto construtivo na ilustração do arquiteto havaiano Francis Ching (1943-), em que há o uso da linha como elemento estru- turante do desenho (Figura 1.20) ou o seu uso para criar o efeito de luz e sombras por meio das hachuras (Figura 1.21). Além da natureza construtiva, a linha também tem ca racterísticas expressivas, embora, como sa lienta Ostrower, as composições lineares tenham um caráter mais intelectual, ao passo que as pictóricas são mais sensuais: "se compararmos, por exemplo, linhas com cores, sentimos de imediato o clima exp ressivo diferente. Enquanto a linha evoca toda 41 42 Figura 1. 2 0 - Linhas de construção do desenho Figura 1.21 - Linhas como textura e luz e sombra uma ambiência intelectual, a cor é antes de tudo sensual" (Ostrower, 2004, p. 56) . Apesar de a autora realizar essa distin- ção entre composição linear e pictórica, a linha apresenta, segundo Malins (1988), naturezas expressivas distintas. Na obra do austríaco Schiele (1890- 1918) (Figura 1.22), podemos perceber o uso do elemento linha: há um aspecto agressivo, resultado das linhas quebradas e grossas que dão forma ao casal e ao pano em que está deitado. Observemos o esquema criado na figura quando reti- ramos o elemento cor: enfatizamos as características lineares da obra, mais o tipo de linha utilizado por Schiele e a sua natu reza expressiva. Assim, cada com - posição transmite um tipo de sensação, que adquire materialidade por meio dos elementos da linguagem visual. Figura 1. 22 - (a) O abraço (Amantes li), de Egon Schiele; e (b) Esquema linear da obra O abraço (Amantes li) . a) SCHIELE, E. O abraço (Amantes li). 1917. Óleo sobre tela: color.; 98 x 169 cm. Galeria Belvedere da Áust ria, Viena. 43 Figura 1.23 - Três posições básicas da linha Fonte: Kandinsky, 2005, p. 51. Figura 1.24 - Processo de densificação resultante em superfície circular Fonte: Kandinsky, 2005, p. 52. Figura 1.25 - Tipos de ângulos e formas básicas Ângulo L- /\ agudo ~ ÂnguloL D reto - Triângulo equilátero Quadrado Ângulo obtuso -o e<,rnoo Fonte: Kandinsky, 2005, p. 64-65. 44 1.2.3 Da linha ao plano: a lição de Kandinsky Para Kandinsky (2005), o ponto que se torna linha ab re possibilidades de criação e de com- posição, resultantes da linha e de suas tipolo- gias. A linha produzida pelo ponto se desdobra em tipos-fontes de formas, como é o caso das linhas retas geométricas: horizontal, diagonal e vertical (Figura 1.23). Das três posições de uma linha em relação a um plano, a linha diagonal se revela na capa- cidade de constituir uma forma circular (uma superfície) por meio da sua rotação (Figura 1.24). Kandinsky utiliza esse mesmo princípio da obtenção do círculo para classificar os ângulos que derivam das linhas. Para o autor (Kandinsky, 2005), cada t ipo-fonte de linha, pela soma de suas tensões, resulta em três tipos de ângulos: agudo, reto e obtuso. Ainda, de acordo com ele, a combinação entre linhas e ângulos resulta nas três formas básicas: o triângulo equilátero, o quadrado e o círculo (Figura 1.25). Essas figuras são consideradas as t rês formas básicas que seriam os fundamentos de toda a criação da escola alemã de artes, arquitetura e design Bauhaus2 , instituição da qual Kandinsky foi professor e onde ele sistematizou sua teoria. Em 1923, Kandinsky (2005) propôs que essas t rês formas geométricas básicas cor- respondessem às três cores primárias, na seguinte relação: o t riangulo era amarelo, o quadrado era o vermelho, e o círculo rep resentava o azul. A teoria das formas do autor se baseia no ordenamento dos elementos, no qua l a correspondência entre eles está subordinada ao ordenamento, uma vez que os elementos são o material da arte. A teoria da forma pode ser entendida como um sistema construtivo, uma vez que o plano deriva da linha, a qual é resultante do ponto. Kandinsky também diferencia os conceitos de construção e de composição. A construção t rata da combinação racional dos elementos, é uma organização, e a composição "é a subordi- nação interiormente conforme a finalidade 1. dos elementos isolados e 2. da construção para o fim pictórico concreto" (Kandinsky, 2005, p. 29). Assim, pa ra Kandinsky (2005), pontos e linhas formam a composição, apoiados por um plano original, que é definido por dois pa res de li nhas horizontais e vert icais (Figura 1.26); nesse sentido, o plano é outro elemento fundamenta l da li nguagem visual, compreendido pelo autor como o seu suporte. Figura 1.26 - Linhas verticais e horizontais que fecham um plano D 2 Inaugurada por Walter A. Gropius em 1919, a Bauhaus encerrou suas atividades no começo da década de 1930 devido à intervenção dos nazistas em 1933. "Criada com a fusão da Academia de Belas Artes com a Escola de Artes Aplicadas de Weimar, Alemanha, a nova escola de artes aplicadas e arquitetura traz na origem um traço destacado de seu perfil : a tentativa de ar ticulação entre arte e ar tesanato. Ao ideal do ar tista ar tesão defendido por Gropius soma-se a defesa da complementaridade das di ferentes artes sob a égide do design e da arqui tetura" (Enciclopédia l taú Cultural, 2016). 45 Figura 1.27 - Deslocamento da linha que forma o plano Figura 1.28 - Linhas que se fecham e criam um plano ou uma forma /\ ?~ Figura 1.29 - Forma positiva e forma negativa Tal como Kandinsky, também Lupton e Phillips (2014) definem o plano como formado pela reta, ou seja, o plano é compreendido como uma superfície contínua bidimensional que se estende em altura e largura (Figura 1.27): "um plano é o trajeto de uma linha em movimento; ele é a linha com amplitude. Uma linha fecha-se para tornar-se uma forma, um plano delimitado" (Lupton; Phillips, 2014, p. 18). Nesse sent ido, quando uma linha se fecha, ela forma um plano ou uma forma, criada pelos seus limites (Figura 1.28). Para Ostrower, os planos, denominados por ela como superfícies, podem se apresentar de duas maneiras: fechadas ou abertas. As superfícies fechadas são " regu ladas pelas mar- gens, e as abertas pela articulação da área interior. Mais autônomas, as superfícies fechadas podem mover-se mais facilmente do que as abertas, que são freadas na faixa do contorno", embora, " na rea lidade, ao invés de superfícies tota lmente fechadas ou totalmente abertas, lidamos com uma infinidade de combinações intermed iárias e com ênfases variáveis" (Ostrower, 2004, p. 63). As formas fechadas delimitadas pelo contorno (linhas contínu as e fechadas) criam um espaço interior e um espaço exterior. Essas formas definem um espaço positivo e um espaço negativo (Figura 1.29). Na Figura 1.29, vemos uma forma fechada que define um plano, o qual, por sua vez, recebe o preenchimento da cor preta, tornando-se uma forma positiva. Por outro lado, a forma da direita que recebe a cor em seu entorno é uma forma negativa. Abordamos melhor a questão da forma no Capítu lo 2 deste li vro, definindo seus tipos e suas propriedades. Neste momento, voltamos à questão das formas positivas e nega- tivas, denominada também de relação figura e fundo. Essa relação define a percepção visual. Uma figura (forma) é sempre vista em relação ao que a rodeia (fundo) - as letras e a página, um edifício e seu terreno, uma escultura e o espaço dentro dela e em torno dela[ ... ] Uma forma preta num campo preto não é visível, pois sem separação e con traste, a forma desa- parece. (Lupton; Phillips, 2014, p. 85) Na Figura 1.30, podemos perceber facilmente a relação entre figura e fundo,na qual os ga lhos são as figuras, e o céu azul é o fundo. Figura 1.30 - Galhos de árvore contra céu azul, de Rossano Silva SILVA, Rossano. Galhos de árvore contra céu azul. 2015. Fotografia digital: color. Acervo do artista, Curit iba. 47 Figura 1.31 - Relação figura e fundo: estável, reversível e ambígua Fonte: Adaptado de Lupton; Phillips, 2014, p. 86. Conforme Lupton e Phillips (2014, p. 86), a relação entre figura e fundo pode assumir três características básicas: a estável, a reversível e a ambígua. Na estável, a relação entre figura e fundo é bem delimitada, pois o motivo e o fundo são percebidos de maneira direta, como na fotografia da Figura 1.30. A relação reversível , por sua vez, ocorre quando os elementos positivos e negativos atraem igua l e alternadamente a nossa aten ção. Por fim, a relação ambígua se dá quando não existe claramente uma relação entre positivo e negativo. Nesse caso, a figura encontra-se entrelaçada com o fundo, confundindo o observador, que não consegue estabelecer o que é a figura e o que é o fundo. Esses três aspectos são mostrados na Figura 1.31. Com o questionamento da pintura moderna, que abdica da representação da pers- pectiva renascent ista, temos representações que apresentam a relação ent re figura e fundo de forma ambígua. Como exemplo disso, trazemos, na Figura 1.32, a obra do francês Georges Braque (1882-1963). A arte cubista pretende mostrar um objeto sob diversos pontos de vista, negando a perspectiva tradicional que dest aca a relação entre a figura e o fund o. Com esses múlti- plos pontos de vistas, muitas vezes as representações cubistas misturam o motivo com seu ce nário. Outro elemento que auxilia essa percepção é a gama de cores próximas, que não cria um contraste perceptível entre o motivo principal da pintura (o violino e a paleta) e o seu fundo (cenário). Figura 1.32 - Violino e paleta, de Georges Braque BRAQUE, Georges. Violino e paleta. 1909. 1 óleo sobre tela: color.; 91,7 x 42,8 cm. Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York. , , 1.2.4 E poss1vel tocar? As texturas táteis e as texturas visuais Como vimos, toda forma e/ou plano apresenta um tipo de espaço, interno ou externo. Esse espaço, por sua vez, pode ser apenas delimitado pelas linhas que criam o contorno ou receber um preenchimento, como podemos ver na Figura 1.33. Nesse exemplo, podemos observar três maneiras de representar uma forma: na primeira, o quadrado e a fo lha estili - zada são definidos por uma cor só lida, que preenche todo o seu espaço positivo; na segunda, temos a representação feita apenas pelo contorno criado pelas linhas externas; e, por fim, na terceira, as for - mas recebem um preenchimento positivo rea lizado pelo cruzamento de linhas retas. A úl t ima maneira de preencher uma forma é o assunto deste tópico, pois chamamos esse tipo de preenchimento de textura. O que vem a ser a textura? Já ouvimos alguém se referir a um material como 49 Figura 1.33 - Maneiras de preencher uma forma 50 macio, liso ou áspero - isso é uma textura. Para compreendermos melhor esse conceito e enten- dermos como ele se enquadra nos elementos da linguagem visual, va mos realizar um pequeno exercício de memória e imaginação. Vamos pen- sar em um tronco de árvore: quando passamos a mão em sua superfície, esta nos parece lisa ou rugosa (áspera) ? Ainda com essa mesma ideia, pensemos em um tecido como o cetim: a sen - sação causada ao se passar a mão nessa super- fície é a mesma? Provavelmente, a maioria das pessoas responderá que o tecido é liso e que o tronco da árvore é áspero. A essa sensação tátil denominamos textura, característica que está relacionada ao sentido do tato, e com a qual podemos perceber a rugosidade ou maciez de uma superfície. Além da percepção tátil, a textura cria uma percepção visual: ao considerarmos as ima- gens em nossa memória, sabemos, mesmo sem tocar, que o tronco de árvore é mais áspero do que o tecido, pois a nossa aprendizagem sensorial nos fornece elementos para realizar essa análise. Assim, podemos entender que a textura é uma característica real dos objetos que nos cercam e que sua percepção nos auxilia a descrever e a caracterizar a superfície deles. Para os artistas, a representação das superfícies de diferentes materiais constitui um problema, uma vez que, por meio do desenho, é possível dar a impressão de diferentes tipos de superfícies e materiais, como pele, tecidos, metais, vidros e madeira. Classifica mos como textura tátil a que é percebida pelo tato, e ela pode ser natu- ral (tronco de ár vore, pedras, folhas, pele, cabe los, entre outros) ou artificial (metais polidos, tecidos, papéis, plásticos etc.). Por sua vez, a textura visual ou gráfica, que se caracteriza como um elemento de preenchimento da superfície, pode ser ut ilizada para tentar imitar texturas naturais e arti - ficiais, como na Figura 1.34, na qual o holandês Willem Kalf (1619-1693) criou uma natureza morta com diversos materiais, co mo vidro, tecidos e metais; ou para imitar a natureza, como na pintura Lebre jovem, do alemão Albrecht Dürer (1471-1528), como mostra a Figura 1.35. Figura 1.34 - Natureza morta com cântaro e romã, de Willem Kalf KALF, Willem. Natureza morta com cântaro e romã. 1640. 1 óleo sobre tela, color.; 104,5 x 80,6 cm. Museu J. Paul Get ty, Los Angeles. Figura 1.35 - Lebre jovem, de Albrecht Dürer DÜRER, Albrecht. Lebre jovem. 1502. 1 aquarela e guache sobre papel: color.; 25 cm x 23 cm. Galeria Albert ina, Viena. 51 52 Figura 1.36 - (a) Forma sem preenchimento, ( b) Forma com preenchimento de textura em positivo e (c) Forma com preenchimento de textura em negativo a) b) o Em ambas as obras, temos a ideia da imitação de materiais naturais ou artificiais, buscando t ransmitir ao espectador a impressão desses materiais. Afinal, ao observa r a pintura de Dürer, quem não tem vontade de passar a mão nos pelos da lebre? Contudo, as texturas gráfi cas não se limitam a tentar imitar os materiais; elas podem também ter outra natureza: a de criar padrões, pelo adensamento ou pela rarefação de um elemento (pontos, linhas ou formas) . Conforme menciona Bruno Munari (2001, p. 73-75), a textura é uma forma de sensibilizar ou preencher uma superfície, assim como a cor. Ainda segundo esse autor, "é muito interessante, por exemplo, ver as estruturas das coisas, mesmo na parte que está à superfície, aquilo que se chama 'textura', isto é, a sensibilização (natural ou artificial) de uma superfície, mediante sinais que não alterem sua uniformidade" (Munari, 2001, p. 11) . Assim, a textura tem como função preencher a forma, definindo os seus espaços positivo e negativo (Figura 1.36) . As texturas gráficas que não pretendem representar materiais, mas sim criar padrões, são classifi cadas em dois t ipos: as geométricas (formadas por figuras que apresentam construções geométricas feitas de linhas retas e curvas) e as orgânicas (que se inspi- ram em padrões naturais, vegetais, minerais ou animais e cuja construção é mais livre) . Apresentamos as duas espécies de textura na Figura 1.37. Figura 1.37 - Texturas criadas digitalmente: (a) orgânica e (b) geométrica a) _,,,_,a, tj 11'..,j._,..,._-,,._ .. U E § _..,_ _ _,~ ] _,_, .. , '!!. Para Wong (2001, p. 119), as texturas visuais são estritamente bidimensionais e são percebidas apenas pelo olhar, embora possam remeter a sensações táteis. Assim, ele nos apresenta t rês tipos de texturas visuais: a) Textura decorativa - nesse caso, a textura é um elemento acessório da forma, podendo ser retirada sem comprometer o desenho. Ela pode ser feita à mão ou com instrumentos e, visua lmente, apresenta um caráter uniforme (Figura 1.38a). b) Textura espontânea - define a própria forma, não podendo ser dissociada do desenho. Em outras palavras, a textura cria a forma. Ela pode ser feitaà mão ou de maneira acidental (Figura 1.38b). c) Textura mecânica - também não é subordinada à forma. Sua classificação ve m do seu meio de produção, que pode ser um processo mecânico, químico ou digital (Figura 1.38c). Figura 1.38 - Texturas (a) decorativa, (b) espontânea e (c) mecânica •) • 1 b) • i c) 53 Quanto à produção da textura visual , temos diversos processos que podem ser utilizados. Citamos, a seguir, alguns exemplos apontados por Wong (2001, p. 119-121): D D D Desenho e pintura - a textura é desenhada, criando pequenas unidades agrupadas para decorar uma superfície. Aqui, pode ser incorporada à própria característica do material ou do instrumento na produção da textura visual (vários tipos de pin cel, por exemplo, produzem marcas diferentes na superfície, as quais, por fim, criam texturas). Fricção - é colocado um papel macio em cima de uma superfície áspera ou entalhada e, com um lápis ou giz a friccionar, produzimos determinado tipo de textura. Esse procedimento foi utilizado pelos pintores surrealistas, sendo chamado também de frottage. Impressão - é utilizado um objeto que sirva como carimbo para produzir uma textura. Transferência - uma imagem pintada, ainda molhada, é transferida para outra superfície; esse processo também é conh ecido como monotipia. Pulverização ou salpicado - nessa técnica, uma tinta líquida é sa lpicada sobre uma superfície, produzindo uma textura espontânea ou decorativa. o Mancha ou tintura - uma superfície que apresente certo g rau de absorvência é manchada ou tingida com tintas ou pigmentos, produzindo uma textura espontânea. O processo de marmorização de papel pode ser classificado nesse t ipo. o Ranhura ou raspagem - uma superfície pintada é arranhada com alguma ferramenta para se obter uma textura. A técnica de pátina3 em madeira pode se r enquadrada nesse processo. o Queima ou defumação - a fumaça e o próprio ato de queimar produzem marcas que são usadas como texturas. o Processos fotográficos - apesar de não serem mais usuais, em virtude da substituição da fotografia analógica pela digital, é possível, por processos mecânicos, criar texturas a part ir de retículas. Além das técnicas elencadas por Wong, podemos incluir mais dois processos para o trabalho com texturas visuais. 3 "Camada de material especial, ou tratamento instrumental, que se aplica a uma superfície, para certos efeitos" (Dicionário Michaelis, 2015). 55 56 o Colagem - consiste em utilizar padrões impressos para compor figuras com recortes, aproveitando as imagens impressas ou a textura do próprio material. o Processos digitais - muitas vezes, programas gráficos Entre os processos descritos acima, gostaríamos de retomar a técnica de fricção ou frottage, cujo criador foi o artista alemão Max Ernst (1891-1976). Em 1925, Ernst teve a ideia de colocar uma folha de papel no chão de madeira de seu ateliê e copiar a sua textura, desenvolvendo o processo defrottage. Figura 1.39 - O evadido (folha XXX, Historie naturelle), de Max Ernst ERNST, Max. O evadido (folha XXX, Historie naturelle). 1926. 1 lápis sobre papel : p&b; 26 x 43 cm. Museu de Arte Moderna, Nova York Figura 1.40 - Movimento giratório, de Geraldo Barros BARROS, Geraldo. Movimento giratório. Série Foto- formas. ca. 1949. 1 montagem, gelatina/prata: p&b; 30,0 x 29,9 cm. Museu de Ar te de São Paulo, São Paulo. A obra O evadido (L'évadé) (Figura 1.39) pertence ao livro ilustrado História natural, publicado por Ernst em 1926, que atual- mente é parte de importantes coleções, incluindo a do Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York. O livro é com - posto por 34 desenhos, nos quais Ernst utiliza a técnica de frottage, colocando o papel em cima de vá rios materiais como tábuas de madeira, pedaços de barbante, malhas de arame, papéis amassados, cas- cas de pão. Em seguida, a superfície do papel é esfregada com um lápis ou giz de cera. Apesar de Ernst se r adepto do sur- realismo, o desenho O evadido nos remete à precisão das ilustrações científicas. Podemos dar outro exemplo do uso da textu ra na criação artística: a obra Movimento giratório (Figura 1.40 ), do artista paulistano Geraldo de Barros (1923-1998). Nela, Barros utilizou a fotografia de uma estrutura de concreto para realizar sua montagem. O artista fez uso da imagem de uma estrutura de concreto e, com recortes, girou e inverteu partes dessa imagem, criando um interessante efeito visua l de natureza abstrata. Síntese Podemos compreender a importância deste capítulo em razão da variedade de assuntos explorados e das diferentes abor- dagens utilizadas pelos autores. Vimos que, baseado nos elementos visuais ponto e linha, deriva-se o plano; e como modo de preenchê-lo, temos a textura. Outra questão importante para compreensão da arte é a forma que cada artista escolhe para representar o mundo, o que signi- fica que cada um tem estilo próprio. Devemos sempre ter em mente que as leituras das obras de arte estão condicio- nadas a épocas diferentes e resultam em interpretações distintas, uma vez que os observadores também têm seu próprio gosto e cada período histórico tem um repertório visual possível, condicionado às técnicas e aos materiais disponíveis. o vocabulário visual e seus conceitos é que permanecem iguais. Os elementos que analisamos aqui são o começo do estudo da li nguagem visual. 57 58 Atividades de autoavaliação ,. Sobre o uso da linguagem visua l, assinale a alternativa correta: a) A linguagem visua l é uni ca mente utilizada por artistas plásticos, pois é um estudo da história da arte e se relaciona com o desenho e a pintura. b) A linguagem visua l é uma teoria que permite aos diversos profissionais que trabalham com a imagem compreender os elementos formais que a compõem e produzir mensagens visuais. c) Os elementos da linguagem visual, por tratarem do estudo das mensagens visuais, servem unicamente para o estudo das formas figurativas das artes visuais, enquanto as formas abstratas são estudadas por out ras teorias, como a teoria da cor. d) A linguagem visua l é uma teoria antiga e é utilizada para a análise de obras do passado, não servindo para estudar as manifestações artísticas a partir do século XX. 2. Conforme os autores que estudamos neste capít ulo, quais são as características que podem ser atribuídas ao ponto gráfico? Indique com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a seguir: ( ) O ponto gráfico não pode ser considerado um elemento da linguagem visual, pois não tem existência real. ( ) Uma das ca racterísticas do ponto gráfico é ser pequeno em relação à sua moldura de referência. ( ) O ponto gráfico tem sua existência apenas na arte digital, pois é um elemento ut ilizado nos softwares de computação gráfica. ( ) O ponto gráfico pode criar uma composição por acumulação, sem a necessidade de outros elementos. ( ) O ponto gráfico se caracteriza por sua forma relativamente simples. 3. Sobre o uso da li nha na composição, indique se os conceitos a seguir são corretos (C) ou incorretos (1). ( ) A li nha te m uma natureza expressiva, que pode indica r sutileza ou agressividade. ( ) A li nha te m como função criar o contorno da figura e expressa r a intenção do art ista, mas não tem f unção estrutural na composição. ( ) A li nha, assim como o ponto, não tem existência real na composição: é uma abstração que serve apenas como guia para os art istas. ( ) Podemos considerar a linha como o movimento do ponto no espaço. 4. Em relação aos conceitos de figura e fundo, podemos dizer que as afirmativas a seguir são V (verdadeiras) ou F (fa lsas): ( ) Existem t rês tipos de relação ent re figura e fundo, que defi nem suas características: a estável, a reversível e a ambígua. ( ) Nos conceitos de figura e f undo, somente consideramos a forma quando elaocupa o espaço posit ivo, pois quando a figura está em negativo, o fundo passa a ocupar o papel de forma, existindo, nesse caso, apenas formas posit ivas. ( ) Os conceitos de figura e fundo se relacionam com o espaço definido pela forma, o que resulta rá em um espaço interno e outro externo. ( ) A pintura cubista mantém cla ra a divisão ent re figura e fundo, fato que não ocorreu com os pintores renascentistas. 5. O que define a textura visual? Assinale a alternativa correta: a) Textura visual é aquela obt ida por meios fotográficos, quando regist ramos uma textura tátil; assim, não podemos considerar aqui as texturas desenhadas ou criadas por outros meios. b) A textura visual tem como único obj etivo represent ar os dif erentes materiais na pintura, e seu uso se deu apenas nas obras figurativas. 59 60 c) A textura visual é aquela que representa os diferentes materiais, bem como a criação de padrões baseados em pontos, linhas e cores. Ela é um dos elementos de preenchimento do contorno da forma. d) Textura visual é apenas aquela textura obtida pela técnica de frottage. Atividades de aprendizagem Questões para reflexão 1. Observe a imagem a seguir. Figura 1.41 - Campo de trigo com ciprestes, de Vincent van Gogh VAN GOGH, Vincent. Campo de trigo com ciprestes. [e.a. 1888]. 1 lápis, caneta bambu e caneta tinteiro sobre papel. Museu Van Gogh, Amsterdã. Analise os pontos e as linhas dessa obra, descrevendo o uso dos elementos visuais ponto, linha e textura, feito por Van Gogh. 2. Pontilhismo é um termo utilizado nas artes visuais para descrever a técnica que utiliza os pontos como os principais elementos visuais para criar composições, mas também se refere a um movimento artístico francês do final do século XIX. Realize uma pesquisa sobre esse movimento, destacando suas características e os principais artistas dele participantes. Atividades aplicadas: prática ,. Exploração da técnica de frottage: A técnica defrottage (do francêsfrotter; em português, "friccionar") é um método surrealista de produção criativa, desenvolvido pelo artista alemão Max Ernst. Na frottage, o artista utiliza um lápis ou outra ferramenta de desenho para realizar uma fricção sobre uma superfície texturizada, criando um desenho. Com base na obra O evadido, de Ernst (Figura 1.39), crie uma composição aplicando a técnica de frottage. Escolha materiais que tenham uma textura tátil e, com um lápis ou giz de cera, aplique essas texturas na criação de uma imagem figurativa ou abstrata. Materiais: superfícies texturizadas, lápis, giz de cera e papel. 61 O geométrico A • e o organ,co: diferentes f armas nas artes visuais ,, P ara trat ar das formas nas artes v isuais, este ca pít ul o fo i estru - turado em dois tópicos: "O que é forma?" e "O diálogo ent re as formas". No primeiro tópico, começamos definindo forma e estudando sua t ipologia: formas figurativas e abstratas, orgânicas e geo- métricas, ent re out ras. Ainda nesse tópico, estudamos de que maneira a forma se relacio na com os outros elementos da linguagem visual, como o ponto, a linha e a textura. No segundo tópico, apresentamos os conceitos de simetria e assimetria, de equilíbrio e proporção, bem como suas possibilidades co mposit ivas. Uma composição visual com equilíbrio pode ser obtida de modo direto, utilizando simetria e repetição, ou de modo indireto, pelo recurso da assimetria. Esta trabalha co m a distribuição do peso visual e com a direção dos elementos visuais do objeto como um todo. Consideramos que a proporção e o uso de grades estruturais são outras maneiras de o art ista ou designer elabo- rar seu produto gráfico, e esse recurso técnico depende do processo criativo de 65 66 cada um. Para este livro, apresentamos as propriedades geométricas e alguns exemplos gráficos de proporção. Também apresentamos a ideia de proporção como uma proprie- dade compositiva que se define por comparação entre um ou mais elementos visuais que configuram um objeto visua l em seu conjunto, visto que a proporção nos remete à dimensão dos obj etos e à sua escala relat iva: alto ou baixo, pequeno ou grande etc. 2.1 O que é forma? O conceito de forma é algo muito natural em nossa experiência, especialmente o de forma tridimensional. Conforme explica Wucius Wong (2001, p. 138), em um sentido mais amplo, tudo o que é visível tem uma forma. É por meio dela que percebemos o mundo à nossa volta, e essa percepção pode ser visual ou tátil, bem como pode ser uma cons- tru ção intelectual ou cultural . Para Wong, de maneira mais ampla, primeiramente classificam-se as formas em: tridi- mensionais (aquelas que apresentam largura, comprimento e altura) e bidimensionais (aquelas que apresentam somente comprimento e largura) . Nesse momento, nos dedi- camos às formas bidimensionais, que são aquelas "constituídas por pontos, linhas e/ou planos sobre uma superfície plana" (Wong, 2001, p. 139). A superfície, que é o suporte da forma bidimensional, é também chamada de moldura de referência. Em um segundo momento, as formas são classificadas por Wong (2001, p. 146-148) em figurativas e abstratas. As formas figurativas são aque las que representam ele- mentos do mundo real, sejam formas naturais, sejam artifi ciais, assim como as formas ve rbais. Essas formas podem ser representadas de maneira rea lista ou com certo grau de abstração (dist orção ou simplifi cação), desde que ainda permita o reconhecimento do objeto. Por sua vez, as formas abstratas não apresentam um tema reconhecível. Como exemp lo, vamos observa r a sequência de obras do art ista holandês Piet Mondrian (1872-1944) inspiradas em árvores. A primeira é a Árvore vermelha, de 1908 (Figura 2.1). Nessa obra, Mondrian dá os primeiros passos no seu processo de abstração da forma: aqui, vemos uma árvore represen- tada por cores que não correspondem ao rea l. Em 1911 , ele pintou o quadro Árvore cinza (Figura 2.2), no qual dá mais um passo no sent ido da abstração. Cada vez mais a imagem figurativa da árvore cede lugar a uma composição abstrata, que valoriza as linhas formadas pelos galhos, não mais havendo a preocupação de se represen - tar figurativamente a árvore, chegando o pintor à tota l abstração na obra Macieira em flor, de 1912 (Figura 2.3). Po r fim, no quadro Macieira em flor, temos apenas a refe rência do t ítulo que nos ajuda a perceber a figura da árvore, pois Mondrian passou a se preocupar ape- nas em representar as linhas de movimento dos ga lhos e dos troncos, abandonando Figura 2 .1 - Árvore vermelha, de Piet Mondrian MONDRIAN, Piet. Árvore vermelha. 1908-1910. 1 óleo sobre tela: color.; 70 cm x 99 cm. Museu Municipal de Haia, Haia, Países Baixos. Figura 2 . 2 - Árvore cinza, de Piet Mondrian MONDRIAN, Piet. Árvore cinza. 1911. 1 óleo sobre tela, 79,7 x 109,1 cm. Museu Municipal de Haia, Haia, Países Baixos. 68 Figura 2.3 - Macieira em flor, de Piet Mondrian MONDRIAN, Piet. Macieira em flor. 1912. Óleo sobre tela: color.; 78 x 106 cm, Museu Municipal de Haia, Haia, Países Baixos. a forma figurativa em prol de uma pintura abstrata. Aliás, podemos definir tanto as represen- tações figurativas quanto as abstratas bidi- mensionais da mesma maneira. Retomando as proposições de Wong, temos sua defini- ção de forma: "todos os elementos visuais constituem o que geralmente chamamos 'forma'[ ... ] neste sentido, não é apenas uma figura que é vista, mas um formato de tama- nho, cor e textura definidos" (Wong, 2001, p. 44) . Ante riorm ente, afirmamos que o ponto e a linha gráfica têm uma forma, ou seja, uma dimensão, uma cor, uma tex- tura ou um formato dado por seu material e por seu modo de produção. Assim, para Wong (2001), existem diferentes tipos de formas bidimensionais ou planas, classifi- cadas da seguinte maneira: a) Formas geométricas
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