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TCC - Energia Elétrica no Brasil

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS – FGV 
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE 
EMPRESAS – EBAPE 
CENTRO ACADÊMICO E DE PESQUISA 
MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL 
 
 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO 
APRESENTADA POR 
 
JOÃO PAULO POMBEIRO GOMES 
 
 
 
 
 
TÍTULO 
 
“O CAMPO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL – DE 1880 A 2002” 
 
 
 
 
 
 
 
PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO 
 
MARCELO MILANO FALCÃO VIEIRA, Ph.D. 
 
 
 
 
 II
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
 
À minha esposa Cleusa e à 
minha filha Naia, pelo apoio, 
compreensão e pelos sacrifícios 
aceitos para a realização deste 
trabalho. 
 
 
 III
AGRADECIMENTOS 
 
 
A elaboração deste trabalho foi possível graças a algumas pessoas e organizações, as quais 
merecem meu especial agradecimento: 
 
Às Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás, empresa que me orgulho de trabalhar, e 
que sempre ofereceu a oportunidade de atualizar meus conhecimentos profissionais. O seu 
apoio, especialmente por parte da Diretoria de Administração, foi fundamental para a 
realização deste Mestrado. 
 
Ao meu professor e orientador acadêmico, Marcelo Milano Falcão Vieira, Ph.D., primeiro 
pelo privilégio de ter sido seu aluno, proporcionado-me a oportunidade de poder discutir e 
aprofundar temas de relevância para meu desenvolvimento pessoal e profissional e em 
segundo lugar pela sua competente orientação nesta dissertação, estando sempre disponível e 
afável para poder dirimir minhas dúvidas e questionamentos. 
 
Aos experientes e competentes profissionais que me concederam as entrevistas, pelos 
importantes comentários e conhecimentos que contribuíram para enriquecer este trabalho, 
inclusive, possibilitando sua validação. 
 
Ao Centro da Memória da Eletricidade do Brasil, principalmente, ao seu bibliotecário Edson 
Souza, pela presteza em obter as referências bibliográficas utilizadas neste estudo, que foram 
fundamentais para o desenvolvimento, validação e confiabilidade desta dissertação. 
 
 
 
 
 IV
RESUMO 
 
 
Como a energia elétrica é um bem essencial em nossa sociedade, este trabalho tem por 
finalidade analisar a evolução dos fatores históricos e institucionais que contribuíram para a 
formação e estruturação do setor elétrico brasileiro, desde do surgimento da energia elétrica 
no Brasil, em 1880 até ao final do ano de 2002. Esta análise se faz, a partir da descrição 
histórica linear, com cortes nos fatos determinantes, denominados incidentes críticos, quando 
são detalhados e analisados os principais atores sociais presentes, no campo de energia 
elétrica, naquela data. Neste estudo utiliza-se um modelo analítico baseado no referencial 
teórico proposto pela Teoria Institucional, mas ressaltando os elementos que possam 
compreender o fenômeno, dentro de uma ambiência de um país em desenvolvimento, onde 
está inserido o setor elétrico brasileiro. Nesse sentido, são apresentados, ao longo do período 
abrangido por este trabalho, os campos organizacionais nas datas definidas pelos principais 
incidentes críticos, bem como são identificados os recursos de poder utilizados pelos 
principais atores sociais envolvidos e quais seus principais interesses e graus de influência. 
Foi adotada uma metodologia qualitativa e, a pesquisa utilizou o método de análise de 
diversos documentos e de entrevistas em profundidade, semi-estruturadas realizadas com 
dirigentes do setor que participaram desta história, com a finalidade de fornecer a necessária 
confiabilidade e a credibilidade aos fenômenos estudados. Finalmente, o estudo demonstra os 
principais elementos, que ao longo a história do setor elétrico brasileiro, determinaram sua 
modelagem institucional, caracterizando o ambiente externo, como o principal fator que vem 
influenciando e determinando a trajetória do setor elétrico brasileiro, nomeadamente, quanto à 
disponibilidade dos recursos financeiros a serem investidos neste setor. Anualmente, a 
sociedade e o desenvolvimento econômico do país demandam mais disponibilidade de energia 
elétrica que se reflete nas altas taxas de crescimento de consumo. Esta situação acarreta a 
necessidade de permanentes investimentos para atender às necessidades do país. Em 
contrapartida, a falta de investimentos no setor, pode tornar-se um fator limitador, já que sem 
energia disponível o desenvolvimento do país fica comprometido, ou até, como já aconteceu 
no passado, houve a necessidade de realizar racionamento de energia elétrica. 
 
 
 
 
 V
ABSTRACT 
 
 
Since electric power is an essential element in modern society, this paper analyzes the historic 
and institutional factors that have contributed to the formation and organization of the 
Brazilian electric sector, from the time when it started to be used in this country until the end 
of year 2002. This analysis is based on a linear description of historic facts, giving emphasis 
to crucial events — or critical incidents, as they were called for the purpose of this paper. As 
to these happenings, the social actors who played an important role in the development of the 
Brazilian electric power sector were analyzed. An analytical model based on the theoretical 
references offered by the Institutional Theory was used. The study also highlights the 
elements that comprehend the development of the phenomenon in face of the ambivalence 
existing in a developing country, which is the case of the Brazilian electric power sector. The 
organizational fields that were established at the time determined by the main crucial 
incidents presented throughout the length of time covered by this study. The resources that 
the main social actors involved in the electric power sector may use by are also identified, as 
well as their main interests and level of influence these actors may have. Several documents 
were analyzed. The qualitative methodology was used. Also, many semi-structured in-depth 
interviews of the people who have made the history of this sector for reliability were 
conducted. Finally, this study includes the main elements that have shaped the institutional 
model of the Brazilian electric sector. It also characterizes the external environment as the 
element which has most influenced the sector and has also led its way throughout the different 
developmental phases, especially with respect to funding. The growing rates of power 
consumption indicate the need for a constant increase in the supply of electric power to meet 
the needs of society and economic development. This requires constant investment. Lack of 
investment is a limiting factor. Not only does it hinder the development of the country but it 
may also result in very unfortunate mishaps such as electric power rationing, such as the kind 
we had to endure a while ago. 
 
 
 
 
 VI
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8 
 1.1 Objetivos ..................................................................................................................... 13 
 1.1.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 13 
 1.1.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 13 
 1.2 Justificativas teórica e prática .................................................................................. 13 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 16 
 2.1 A abordagem institucional e o campo organizacional ............................................ 21 
 2.2 Legitimidade e isomorfismo na abordagem institucional .......................................24 
 2.3 O poder e o campo organizacional ........................................................................... 27 
 2.4 O modeloanalítico utilizado ..................................................................................... 31 
 
3. METODOLOGIA ............................................................................................................ 33 
 3.1 Perguntas de pesquisa ............................................................................................... 33 
 3.2 Definição constitutiva (DC) e operacional (DO) dos termos relevantes................ 33 
 3.3 Delineamento da pesquisa ........................................................................................ 35 
 3.4 Levantamento de dados ............................................................................................ 36 
 3.4.1 Entrevistas .......................................................................................................... 37 
 3.4.2 Perfil dos entrevistados ...................................................................................... 38 
 3.4.3 Outros depoimentos ........................................................................................... 39 
 3.5 Coleta e análise dos dados ........................................................................................ 40 
 3.6 Limitações do estudo ................................................................................................. 41 
 
4. HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO − 
 1880 A 2002 ..................................................................................................................... 43 
 
5. PRINCIPAIS INCIDENTES CRÍTICOS NA HISTÓRIA DO SETOR 
 ELÉTRICO BRASILEIRO – 1880 A 2002 .................................................................. 68 
 
6 – ANÁLISE DA FORMAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO SETOR 
 ELÉTRICO – 1880 A 2002 ........................................................................................... 84 
 6.1 Período de 1880 a 1930 – monopólio privado ......................................................... 84 
 6.2 Período de 1931 a 1945 – presença do Estado ........................................................ 90 
 6.3 Período de 1946 a 1962 – Estado indutor ............................................................... 96 
 6.4 Período de 1963 a 1979 – modelo estatal .............................................................. 105 
 6.5 Período de 1980 a 1992 – crise institucional ......................................................... 115 
 6.6 Período de 1993 a 2002 – modelo híbrido ............................................................. 122 
 6.7 Principais características do sistema elétrico brasileiro...................................... 133 
 
7. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 142 
 7.1 Resposta a perguntas de pesquisa ......................................................................... 142 
 7.2 O modelo institucional do setor elétrico o ambiente............................................ 147 
 7.3 Capital privado e capital estatal ............................................................................ 153 
 7.4 Produto Interno Bruto (PIB) e consumo de energia ............................................ 154 
 7.5 Sugestões para futuros estudos .............................................................................. 156 
 
 VII
8. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 158 
 
9. ANEXOS I – ROTEIRO DA ENTREVISTA ............................................................ 164 
 
10. ANEXOS II – QUADROS PARA A ENTREVISTA .............................................. 168 
 
11. ANEXOS III – RELAÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES SOCIAIS 
 E/OU ORGANIZAÇÕES PRESENTES NO CAMPO 
 ORGANIZACIONAL EM 2002 ..................................................... 177 
 
 
 
 
 
 8
1 - INTRODUÇÃO 
 
A importância da energia elétrica é cada vez mais evidente na forma de organização da vida 
das nações e dos indivíduos, num processo de valorização crescente dessa fonte de energia 
que vem desde o começo da sua exploração comercial nos EUA e na Europa, no final do 
século XIX. Apesar de atualmente ser um bem essencial à nossa sociedade, a energia elétrica 
tem sua importância pouco divulgada, principalmente, em relação aos fatos históricos e aos 
interesses políticos e econômicos que levaram o setor elétrico à sua atual configuração. 
 
A eletricidade já era conhecida, pelo menos, desde 1800, quando o físico italiano Alessandro 
Volta, ao realizar experiências em laboratório, criou a primeira bateria. Em 1831, quando o 
físico inglês Michael Faraday concebeu o princípio do dínamo, ele já provara anos antes que 
um efeito magnético produz uma corrente elétrica, uma descoberta fundamental para o 
desenvolvimento dos motores e geradores elétricos, dos trens e bondes elétricos, da 
iluminação pública, do telégrafo e do telefone. Faraday lançou o conceito de linhas de força 
elétrica, explicando o relâmpago, a eletrostática e a eletroquímica, numa época em que a 
questão principal era não apenas a produção de energia elétrica mas, especialmente, sua 
transmissão à distância. Cabe observar que para muitos autores o físico inglês é o pai da 
eletricidade (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988, 2004). 
 
A invenção do dínamo pelo engenheiro alemão Werner Siemens, em 1867, é considerado o 
marco inicial da história da indústria elétrica. Na mesma época, o engenheiro francês Aristide 
Berges instalou a primeira turbina movida por uma queda d’água, utilizando, pela primeira 
vez, a força hidráulica para gerar eletricidade (CENTRO DA MEMÓRIA DA 
ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988). 
 
Entretanto, a possibilidade de transmitir energia a longas distâncias só se tornou realidade 
entre 1881 e 1883, quando o francês Marcel Deprez utilizou a alta tensão para demonstrar a 
transmissão de energia elétrica. Em seguida, a criação do transformador elétrico pelo norte-
americano William Stantey, em 1885, permitiu a elevação e a redução da tensão, 
possibilitando a utilização da energia elétrica em grande escala (CENTRO DE MEMÓRIA 
DA ELETEICIDADE NO BRASIL, 1988, 2004). 
 
 9
A apresentação pública da lâmpada incandescente, inventada por Thomas Edison em 1879 − 
que substituiu a lâmpada de arco, com vantagens em termos de segurança, qualidade e 
economia −, foi fundamental para o desenvolvimento de um novo ramo industrial e resultou, 
em 1882, na inauguração da primeira usina elétrica do mundo, em Nova York, iluminando 
casas e escritórios em Manhattan, principal bairro comercial daquela cidade. Os estudos de 
Edison incrementaram as mais diversas pesquisas no campo da eletricidade e possibilitaram, 
entre outras coisas, os estudos dos raios catódicos, base do televisor e do radar. No entanto, o 
que permitiu a instalação de sistemas de iluminação nas casas, nas ruas e nas cidades, 
generalizando o uso da energia elétrica, foi a invenção da corrente alternada pelo físico 
iugoslavo Nikola Testa, em 1888 (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO 
BRASIL, 1988, 2004). 
 
Os últimos 30 anos do século XIX foram caracterizados não por um simples prolongamento 
da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra ao final do século anterior, mas por importantes 
inventos científicos − com a utilização de novas fontes de energia, como a eletricidade e o 
petróleo − e pelo aparecimento de novos setores industriais, como a indústria química, a 
siderurgia e a indústria elétrica. Esse período é conhecido por muitos historiadores e 
economistas como a Segunda Revolução Industrial (CENTRO DA MEMÓRIA DA 
ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988). 
 
Um dos aspectos mais importantes da Segunda Revolução Industrial foi a ligação entre a 
ciência e a técnica, o laboratório e a fábrica, pois aquele momento foi frutonão apenas da 
aplicação do conhecimento científico, mas, principalmente, do emprego de novos materiais e 
novas fontes de energia. Nesse sentido, deve ser salientado que, naquele período, nascia outra 
indústria com o mesmo potencial transformador das indústrias química e elétrica: a indústria 
do petróleo, fonte de energia equivalente ao carvão e à eletricidade (CENTRO DA 
MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988). 
 
No Brasil, a produção da energia elétrica começou no final do século XIX, quase 
simultaneamente ao início de sua exploração comercial nos EUA e na Europa, e dela 
participaram pequenas empresas privadas nacionais, bem como empresas pertencentes aos 
governos de pequenos municípios com alguma importância no cenário nacional (SAES, 
1986). 
 10
 
O desenvolvimento da economia cafeeira no estado de São Paulo − do período entre as duas 
últimas décadas do século XIX até o final da década de 1930 − foi um dos fatores 
fundamentais para o nascimento e a consolidação do setor elétrico brasileiro. O café 
impulsionou a expansão da malha ferroviária, a urbanização, o desenvolvimento do comércio 
e, principalmente, da indústria, e esse crescimento econômico estimulava o processo de 
eletrificação (SAES, 1986). 
 
No final do século XIX, o melhor aproveitamento da eletricidade foi facilitado no cenário 
internacional pelo desenvolvimento industrial e tecnológico, o que foi um estímulo à 
importação de capitais que financiaram a expansão da produção e da distribuição de energia 
elétrica no Brasil. Essa importação de capitais começou com investimentos norte-americanos, 
principalmente, nos serviços de iluminação pública e de transporte urbano. Nesse contexto, 
destaca-se a chegada ao país do grupo Light, em 1899, e da Amforp, em 1927, que pela sua 
intensa atuação marcaram a história do setor elétrico brasileiro até à década de 1960 
(CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2001). 
 
Durante esse período, cabe registrar como primeiro marco regulatório do setor elétrico 
brasileiro, a promulgação do Código de Águas, em julho de 1934 − instaurando uma nova 
ordem jurídica aplicável aos serviços de energia elétrica, através da regulamentação da 
indústria hidrelétrica −, e a criação, em 1939, do Conselho Nacional de Águas e Energia 
Elétrica (CNAEE), para tratar de todos os assuntos referentes ao setor. A criação das Centrais 
Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás) foi outro evento de importância histórica, pelas 
mudanças que acarretou na trajetória do setor elétrico nacional (CENTRO DA MEMÓRIA 
DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2001). 
 
A consolidação da presença do Estado no setor elétrico se deu a partir de 1964, no contexto 
das mudanças políticas ocorridas com a ascensão dos militares ao poder. Entre 1968 e 1974, 
durante o chamado “milagre brasileiro”, foram realizados vultosos investimentos em obras de 
infra-estrutura, quando a Eletrobrás teve papel fundamental no desenvolvimento do setor 
elétrico (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2001). 
 
 11
Esse modelo setorial com base no sistema Eletrobrás garantiu significativa expansão das áreas 
de geração e transmissão durante os anos 1960 até o final da década de 1970, quando o 
segundo choque do petróleo, em 1979, com a elevação da taxa de juros no mercado 
internacional e a aceleração inflacionária limitaram a capacidade de investimentos do Estado e 
do setor privado, gerando um princípio de tensão no setor (CENTRO DA MEMÓRIA DA 
ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). 
 
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, os conflitos entre interesses estaduais e 
federais se acirraram, culminando numa grave crise no setor elétrico. Essa crise se estendeu 
até março de 1993, quando foi promulgada uma lei que permitiu a conciliação de débitos e 
créditos entre todos os agentes envolvidos, com a finalidade de estancar a inadimplência das 
empresas de energia elétrica. Em face da gravidade do problema que atingiu as principais 
empresas do setor, pode-se afirmar que essa lei foi outro importante marco no setor elétrico 
brasileiro (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000,2002). 
 
A década de 1990 foi marcada por ampla política de redução da presença empresarial do 
Estado na economia. No setor elétrico, foram privatizadas concessionárias federais e estaduais 
de energia elétrica, bem como a reorganização do modelo institucional que incluiu a 
reformulação dos órgãos reguladores e a criação de novas entidades (CENTRO DA 
MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). 
 
O setor elétrico brasileiro, de sua origem até a final de 2002, caracterizou-se como um 
ambiente de relacionamentos organizacionais em constante mutação, dominado pela 
influência tanto de organizações privadas quanto de empresas estatais, e pelo papel atuante 
e/ou até contraditório (muitas vezes indefinido) exercido pelo Estado nas diversas etapas de 
sua história. 
 
Esta dissertação tem a finalidade de estudar as principais organizações que fizeram ou fazem 
parte do setor elétrico brasileiro − desde o aparecimento da energia elétrica no país, em 1880, 
até 2002 −, bem como suas principais influências e interesses nesse setor. Nesta pesquisa, são 
descritos os principais acontecimentos históricos relacionado ao setor elétrico brasileiro, os 
quais, em seguida, são analisados em conjunto com depoimentos de pessoas que participaram 
da história do setor. Na elaboração desta pesquisa foi utilizado um referencial teórico que 
 12
forneceu as principais diretrizes para análise dos dados pesquisados, uma vez que este estudo 
focou principalmente as organizações envolvidas na criação, formação e estruturação de tão 
importante setor da vida nacional. 
 
O conceito de campo organizacional, conforme DiMaggio e Powell (1991a), abrange um 
conjunto de organizações que formam uma determinada área da sua vida institucional, como 
seus clientes, fornecedores, concorrentes e agências reguladoras que atuam neste espaço e que, 
conseqüentemente, sofrem (direta ou indiretamente) as influências e o impacto de suas ações. 
Assim, uma empresa está em constante relacionamento com outras organizações, e essa 
interação pode influenciar o desenvolvimento das atividades dessas instituições ou, ainda, 
como descreve Carvalho e Vieira (2003b, p.12): 
 
A aplicação do conceito de campo organizacional pode indicar que o 
desempenho ou a trajetória de uma organização, ou de um grupo de 
organizações, estão vinculadas às diretrizes valorativas e normativas dadas 
por atores externos, que se inserem nos diferentes níveis das organizações, 
afetando a sua política e estrutura. 
 
O ambiente onde está imerso o setor elétrico brasileiro suscita diversas indagações e estimula 
a investigação aprofundada sobre o tipo de comportamento de todos esses atores durante a 
formação do referido setor e a respeito do papel por eles desempenhado. A energia elétrica é 
um valor incorporado à nossa sociedade e que está diretamente relacionado com o 
desenvolvimento econômico e social do Brasil; ou seja, a energia elétrica é um serviço 
essencial à nossa sociedade, e sua disponibilidade depende de um conjunto de fatores que 
devem estar permanentemente presentes, dos quais destacam-se, entre outros, os 
investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia, os marcos regulatórios 
consistentes, além do pessoal especializado preparado para administrar e operar o sistema 
elétrico. Pela relevância dessa questão para a sociedade brasileira, e levando em conta os 
interesses sociais, políticos e econômicos envolvidos, este estudo se propôs a responder à 
seguinte questão, que é a pergunta de pesquisa desta dissertação: 
 
“QUAIS OS ELEMENTOS QUE CONCORRERAM E QUAIS INFLUÊNCIAS 
TIVERAM NA FORMAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO CAMPO DA ENERGIA 
ELÉTRICA NO BRASIL?” 
 13
 
Para operacionalizar este projeto de pesquisa, apresentaram-se: 
 
1.1 Objetivos 
 
Para responder ao problema de pesquisaanteriormente referenciado, foi necessário definir os 
seguintes objetos de pesquisa: 
 
1.1.1 Objetivo geral 
 
Levantar, descrever e analisar quais os elementos que contribuíram e influenciaram a 
formação e a estruturação do campo organizacional da energia elétrica no Brasil. 
 
1.1.2 Objetivos específicos 
 
Para viabilizar esse objetivo geral foi necessário percorrer as seguintes etapas: 
 
a) definir o campo organizacional da energia elétrica no Brasil e identificar quais as 
organizações que fazem parte desse campo; 
b) identificar quais os elementos históricos e institucionais que foram fundamentais para a 
formação e estruturação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil; 
c) caracterizar os principais “incidentes críticos” que marcaram a história do campo 
organizacional e qual a sua relevância para a atual configuração do campo organizacional 
da energia elétrica; e 
d) identificar quais os principais atores sociais, seus papéis e recursos de poder na formação 
e estruturação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil. 
 
1.2 Justificativa teórica e prática 
 
Esta pesquisa justifica-se pela importância do setor elétrico para a sociedade brasileira. As 
peculiaridades desse sistema em relação aos sistemas elétricos de outros países são bem 
expressivas, especialmente, por sua extensão, que permite a interligação de quase todo o 
território nacional − ou seja, a energia produzida num determinada região do país pode ser 
 14
transportada e distribuída em outra região − e pela necessidade de geração de energia nova, já 
que o consumo cresce a taxas anuais elevadas, dentre outras características que serão 
abordadas. Cabe ainda ressaltar a necessidade de grandes investimentos, não apenas em 
geração, mas também em transmissão e distribuição, para que no futuro não se configure o 
mesmo cenário de falta de energia elétrica, com todas as conseqüências negativas resultantes, 
conforme já ocorrido no Brasil em outras épocas, e mais recentemente, em 2001. O 
conhecimento da história do setor elétrico brasileiro, sua formação, seus principais atores, 
influências, quais os interesses envolvidos ao longo do tempo e quais as principais mudanças 
estruturais e organizacionais que levaram à atual configuração são aspectos absolutamente 
relevantes a serem considerados para se entender esse importante setor. Compreender esse 
processo é a contribuição que este tipo de pesquisa pode oferecer para o desenvolvimento dos 
estudos organizacionais no país. 
 
Leite (1997) já alertou para a enorme diferença de consumo de energia entre os países 
desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, já que a questão energética para estes países 
assume um caráter de desafio se desejarem crescer de forma continuada e não aumentarem o 
fosso em relação aos desenvolvidos. Sem dúvida, essa é uma questão atual para o Brasil, com 
a sua necessidade de crescimento e, conseqüentemente, com sua permanente demanda por 
nova energia, para poder vencer esse desafio ainda longe de ser plenamente equacionado. 
 
Quanto à opção teórica escolhida, a abordagem institucional, ela é conseqüência da decisão de 
não se efetuar uma análise puramente econômica do setor elétrico brasileiro, mas de 
considerar outros elementos que transcendam uma análise organizacional elaborada pela 
forma tradicional, conforme descrevem Carvalho e Vieira (2003a, p.28): 
 
A perspectiva institucional abandona a concepção de um ambiente formado 
exclusivamente por recursos humanos, materiais e econômicos para destacar 
a presença de elementos culturais – valores, símbolos, mitos, sistemas de 
crenças e programas profissionais. 
 
Isso vai levar ao estudo dos campos organizacionais estabelecidos ao longo da formação do 
setor, já que, ainda segundo Carvalho Vieira (2003b), o conceito de campo organizacional é 
central para a análise institucional. 
 
 15
Como estão em questão organizações que compõem o setor de energia elétrica − que durante 
sua história sofreram e sofrem influência de todos os atores envolvidos −, também se faz 
necessário entender os interesses e as relações de poder envolvidos na formação do setor e de 
que forma contribuíram não apenas para essa formação, mas também para a sua estruturação. 
Com base no referencial teórico selecionado, a partir da teoria institucional, será feita uma 
análise, principalmente, da perspectiva de duas grandes questões. A primeira é quanto à 
legitimidade desta teoria em um país em desenvolvimento, cujos atores se comportam de 
forma diferente em relação a situações semelhantes ocorridas em países desenvolvidos onde 
nasceu e se consolidou essa teoria. A segunda questão refere-se ao estudo do setor elétrico 
brasileiro, que pelas características particulares, tem uma configuração e uma modelagem 
institucional não encontrada nos demais países, desenvolvidos ou não, o que desde já reafirma 
a relevância deste estudo. Deve ser ressaltado, ainda, a importância desta dissertação no 
âmbito do grupo de pesquisa do Observatório da Realidade Organizacional, o qual tem a 
análise das organizações como um de seus objetivos. 
 
 
 16
2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
Até à década de 1950, os estudos desenvolvidos na área organizacional estavam centralizados 
em abordagens estruturais e comportamentais (CARVALHO e VIEIRA, 2003a) e, 
conseqüentemente, não eram consideradas as relações de interdependência com o ambiente 
externo. A partir de 1960, surgiram novas correntes teóricas que já admitiam a relação entre 
as organizações e o ambiente onde atuam (MOTA e VASCONCELOS, 2002). Dessas teorias 
que foram formuladas admitindo a interação entre a organização e o ambiente, podemos 
destacar, dentre as mais referenciadas pela literatura especializada, a teoria geral de sistemas, 
a teoria da contingência estrutural, a teoria da dependência de recursos, a teoria de custos de 
transação, a teoria da ecologia populacional e a teoria institucional. 
 
A teoria dos sistemas olha a organização como um sistema aberto, não isolado, inserida num 
sistema social que interage com o meio ambiente, numa relação de intercâmbio e interação. 
No entanto, uma das suas principais questões, é a importância dada ao ambiente, 
negligenciando o papel dinâmico das contradições internas das organizações. A teoria da 
contingência estrutural preconiza que a organização necessita adequar sua estrutura e os 
fatores contingenciais − como por exemplo, sua estratégia, seu tamanho e suas incertezas, sua 
tecnologia - de forma contínua ao meio ambiente, o que ocasiona um permanente ajuste 
interno da organização. A teoria da dependência de recursos reconhece a dependência da 
organização em relação aos recursos de que necessita para sobreviver e crescer, e que se 
encontram no seu meio ambiente − o que a leva a estabelecer relações de troca com outras 
organizações −, como também ressalta a dependência da organização em relação ao meio 
ambiente. Por sua vez, a teoria de custos de transação enfatiza os custos necessários para 
negociar as trocas entre as organizações, o que gera uma maior dependência de recursos entre 
as organizações, ou seja, quanto maior for a dependência de recursos entre as organizações, 
maiores serão os custos de transação. Na teoria da ecologia populacional as organizações são 
consideradas altamente influenciáveis pelo ambiente em que se encontram, e quanto mais 
hábeis em se adaptarem ao meio ambiente, maior a probabilidade de sobrevivência (MOTA e 
VASCONCELOS, 2002). 
 
Dessa forma, os estudos sobre o conceito de ambiente e sobre as relações entre ambiente e 
organização se desenvolvem segundo duas perspectivas distintas e divergentes. Enquanto os 
 17
estudos de Pfeffer e Salancik (1978) defendem o ambiente como fator preponderante nas 
ações das organizações, outros, como McNeil e Perrow (1986), afirmam o contrário, 
argumentando que são as organizações que exercem influência sobreo ambiente 
(CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999). Contudo, a maioria desses estudos considera 
apenas questões técnicas e financeiras, descuidando dos fatores sociais e culturais como 
variáveis que, também, fazem parte do funcionamento organizacional. A questão do ambiente 
no âmbito da perspectiva institucional é ressaltada por Carvalho, Goulart e Vieira (2004, p.9) 
quando afirmam que: 
 
o ambiente representa não apenas a fonte e o destino de recursos materiais 
(tecnologia, pessoas, finanças e matéria-prima), mas também fonte e destino 
de recursos simbólicos (reconhecimento social e legitimação). Dito de outra 
forma, o reconhecimento social e a legitimação representam requisitos 
básicos para a obtenção dos demais recursos, tornando-se preponderante a 
função do ambiente institucional para algumas organizações. 
 
A partir da década de 1970, principalmente, com os trabalhos de Selznick e de Parsons, surge 
a perspectiva institucional que combate uma visão estritamente racional-funcionalista, e os 
aspectos cognitivo, político, cultural e simbólico passam a ser percebidos como fatores que 
influenciam o ambiente onde as organizações se inserem, sendo então incorporados à analise 
organizacional. Nesse sentido, Selznick é tido por muitos autores como o percursor dessa 
abordagem na área de administração (CARVALHO e VIEIRA, 2003b), já que ele reconhecia 
o caráter racional das organizações, tendo em vista que são orientadas a atingir seus objetivos, 
ao mesmo tempo em que sinalizava para a incapacidade das estruturas formais reprimirem o 
lado irracional do comportamento organizacional, uma vez que os indivíduos não agem 
baseados somente em seus papéis formais, assim como as organizações não funcionam apenas 
baseadas em suas estruturas formais (FACHIN e MENDONÇA, 2003). 
 
Sem dúvida a obra de Selznick (1972) contribui de forma fundamental para o 
desenvolvimento dessa teoria, quando fala da distinção entre a organização e a instituição. 
Enquanto a organização é apenas um sistema com regras e objetivos que têm tarefas, poderes 
e normas de procedimentos estabelecidos com algum critério oficialmente aprovado, a 
“institucionalização é um processo. É algo que acontece a uma organização com o passar do 
tempo, refletindo sua história particular, o pessoal que nela trabalhou, os grupos que engloba 
 18
com os diversos interesses que criaram, e a maneira como se adaptou ao seu ambiente.” 
(SELZNICK, 1972, p.14). As organizações se transformam em instituições, quando estas 
inserem um valor, ou seja, quando é produzida uma identidade distinta para a organização e 
quando o estágio de institucionalização já está fortalecido, onde hábitos e práticas são 
unificados em todos os aspectos da vida organizacional, dando-lhe uma integração com a 
sociedade que vai além da coordenação e dos comandos formais (SELZNICK, 1972). O 
processo de institucionalização está presente na trajetória da organização, quando esta vai 
assimilando, paulatinamente, os valores que vão transformá-la em uma instituição. 
 
Ao analisarem a obra de Selznick, Fachin e Mendonça (2003, p.34) afirmam que 
 
[a] obra seminal de Selznick dentro da teoria das organizações introduz uma 
visão de organização não somente inserida num ambiente, mas 
reconhecendo uma interação efetiva com o ambiente, pleno de símbolos e de 
valores que precisam ser levados em conta se a organização busca encontrar 
sua legitimidade, sua sobrevivência, seu equilíbrio. 
 
Esse ponto de vista é validado por Fonseca (2003), quando ela atribui a Selznick uma nova 
perspectiva à análise das organizações, ao rejeitar a concepção racionalista e passar a 
visualizar a organização como expressão de valores sociais, destacando sua relação com o 
ambiente. Assim, o ambiente passa na teoria institucional a ser contextualizado de uma forma 
muito mais ampla e relevante, servindo como base de análise para as relações 
interorganizacionais. 
 
Nas duas últimas décadas, a abordagem institucional vem obtendo um maior destaque no 
campo dos estudos organizacionais. Também vem sendo assinalada como uma contrapartida 
ao modelo racionalista (com seu foco nas exigências técnicas), ao direcionar sua atenção para 
a análise dos elementos de redes relacionais e de sistemas culturais que modelam e sustentam 
a estrutura e a ação das organizações (FONSECA, 2003), já que a partir dos pilares dessa 
teoria, tanto no “velho” como no “novo” institucionalismo, existe uma interação entre a 
organização e o seu ambiente − como a valorização da cultura na formação das organizações 
−, o que distingue a abordagem institucional das teorias de caráter racionalista, visto que 
abrange, entre outros aspectos, os fenômenos políticos, econômicos, sociais e culturais que 
 19
acabam formando o ambiente institucional (CARVALHO e VIEIRA, 2003b). Por esses 
motivos, pode-se afirmar que 
 
a perspectiva institucional pode ser tipificada como uma abordagem 
simbólico-interpretativa da realidade organizacional, apresentando uma 
posição epistemológica predominantemente subjetivista, em que é salientada 
a construção social da realidade organizacional. (FACHIN e 
MENDONÇA, 2003, p.29) 
 
Em função das contribuições teóricas, principalmente, dos economistas Thrstein Veblen, John 
Commons e Westley Mitchel e dos sociólogos Emile Durkheim e Max Weber, a abordagem 
institucional desenvolveu-se em três ramos das ciências sociais ou segundo três perspectivas 
distintas: a econômica, a política e a sociológica. A perspectiva econômica consiste em 
“inserir o processo econômico no marco de uma construção social manipulada pelas forças 
históricas e culturais...” (CARVALHO e VIEIRA, 2003a, p.25) que enfatizam regras, leis e 
sanções. A vertente política enfoca questões como a representação política e seu papel em 
relação à sociedade e qual a autonomia desta e em relação às instituições políticas 
(CARVALHO e VIEIRA, 2003a), dando ênfase às normas e valores que prescrevem como as 
coisas devem ser realizadas. No campo sociológico, principalmente a partir da década de 
1970, com os trabalhos de Meyer, Rowan e de Zucker, surge um novo institucionalismo que 
ressalta o papel das normas culturais e das normas profissionais no processo de 
institucionalização das organizações, onde o sistema simbólico e de construção de 
significados comuns são enaltecidos. As perspectivas econômica e política formam a base do 
que se denominou “velho institucionalismo” e a perspectiva sociológica foi a fonte do 
chamado “novo institucionalismo”. Os principais aspectos que diferenciam essas duas 
perspectivas estão representadas no quadro 2.1. 
 
 20
Quadro 2.1 
Dimensões do velho e do novo institucionalismo 
DIMENSÕES 
VELHO 
INSTITUCIONALISMO 
NOVO 
INSTITUCIONALISMO 
Conflito de interesses Central Periférico 
Fonte de inércia Interesses legais Imperativo da legitimação 
Ênfase estrutural Estrutura informal 
Papel simbólico da estrutura 
formal 
Inserção organizacional Comunidade local Campo, setor ou sociedade 
Natureza da inserção Cooptativa Constitutiva 
Lugar da institucionalização Organização Campo ou sociedade 
Dinâmica organizacional Mudança Persistência 
Formas-chave de cognição Valores, normas, atitudes 
Classificações, rotinas, 
documentos e esquemas 
Bases cognitivas da ordem Comprometimento Hábito e ação prática 
Objetivos Deslocados Ambíguos 
 Fonte: DiMaggio e Powell (1991a, p.13). 
 
 
Apesar dessas diferenças, a teoria institucional não corresponde a um corpo teórico único, já 
que representa uma contribuição dada por diversos autores, de diferentes épocas e múltiplos 
pontos de vista (ALVES e KOGA, 2003). Por isso, alguns autores consideram que não existe 
essa distinção entre o “novo” e “velho” institucionalismo, como assegura Selznick, já que o 
chamado “novo institucionalismo” não apresenta nenhuma novidade, nem em relação à 
sociologia tradicional, nem como “instituição” nem como “institucionalização”como são 
definidas (FACHIN e MENDONÇA, 2003). 
 
Ao efetuar uma rápida revisão histórica dessa teoria constata-se uma trajetória de rupturas e 
retomadas, tanto no quadro da teoria social como no quadro específico das instituições. 
Entretanto, submetida a questionamentos sistemáticos, a teoria institucional continua sendo 
capaz de possibilitar uma compreensão alternativas e útil dos fenômenos sociais em diferentes 
épocas e contextos, uma vez que tanto sob a ótica do “velho” ou do “novo” institucionalismo, 
tem possibilitado o necessário entendimento dos fenômenos sociais em suas diferentes 
 21
vertentes, seja a política, a econômica ou a sociológica (CARVALHO, GOULART e 
VIEIRA, 2004). 
 
Embora existam correntes que separam o “velho” e o “novo” institucionalismo, neste estudo 
foram destacados os pontos importantes que permitem expandir o potencial explicativo dessa 
teoria, sem que essa proposição se configure numa nova abordagem teórica. O que se 
pretende é apenas ressaltar os aspectos mais importantes da teoria institucional que vão 
fundamentar a moldagem analítica utilizada nesta pesquisa. 
 
Finalmente, deve ser destacado que esta pesquisa foca uma atividade desenvolvida 
exclusivamente no Brasil, que é o setor elétrico brasileiro. Esse setor tem entre suas principais 
atribuições a geração, a transmissão e a distribuição de energia elétrica à população e ao setor 
produtivo, e é fundamental que tal perspectiva seja levada em conta, para que a produção do 
conhecimento advindo deste estudo não seja uma mera reprodução de tantos outros trabalhos 
já realizados, com base em estudos empíricos de países desenvolvidos e elaboradas em 
variados ambientes externos. Por isso, para responder às perguntas da pesquisa colocadas 
nesta dissertação será levado em consideração que este fenômeno se produz no ambiente de 
um país em desenvolvimento com seus particulares aspectos políticos, econômicos, sociais e 
culturais, bem como de seus próprios valores. 
 
2.1 A abordagem institucional e o campo organizacional 
 
O conceito de campo organizacional é central para a análise institucional e envolve um 
conjunto de organizações que forma um reconhecido espaço na vida institucional. Nesse 
espaço interagem todos os atores relevantes, como os principais fornecedores, os 
concorrentes, as agências reguladoras e/ou o Estado, além de outras organizações que 
“produzem” serviços e produtos similares (DIMAGGIO e POWELL, 1991a). A estruturação 
do campo organizacional é o resultado das ações dos diferentes atores, que agem, dentre 
outros motivos, por relações de interesse, de influência ou de dependência, como também por 
pressão social. 
 
A importância do campo organizacional como elemento predominante na abordagem 
institucional está relacionada 
 22
a aplicação do conceito de campo organizacional pode indicar que o 
desempenho ou a trajetória de uma organização, ou de um grupo de 
organizações, estão vinculadas às diretrizes valorativas e normativas dadas 
por atores externos, que se inserem nos diferentes níveis das organizações, 
afetando sua política e estrutura. Assim, o conceito de campo organizacional 
está igualmente associado à idéia de que não apenas as relações de troca 
material, mas também as relações de troca simbólica, envolvem a 
sobrevivência organizacional. (CARVALHO e VIEIRA, 2003b, p.12) 
 
A configuração do campo organizacional é o resultado do embate entre os principais atores 
sociais que participam desse campo, que utilizam os recursos de poder que dispõem para 
atingir seus objetivos. Além disso, é onde a descoberta e a análise dos valores desses atores é 
o principal questionamento teórico (CARVALHO e VIEIRA, 2003b). O campo 
organizacional está compreendido num ambiente social mais amplo, que transcende o 
formalismo das estruturas organizacionais, mostrando com mais clareza quais os principais 
atores sociais e/ou organizações envolvidas, quais seus interesses e influências, de forma a 
poder entender a formação, a trajetória, a estruturação e a institucionalização do setor elétrico 
brasileiro. 
 
Carvalho e Vieira (2003b) propõem as seguintes etapas de formação de um campo 
organizacional, quando inicialmente o referido campo é composto de empresas isoladas e 
especializadas e que com o passar do tempo esse campo vai se estruturando, tendo em vista 
que as organizações vão gradualmente estreitando seus relacionamentos e aumentando seus 
níveis de interação, conforme se verifica na figura. 2.1. 
 
 23
Figura 2.1 
Etapas da formação de um campo organizacional 
 
Fonte: Carvalho e Vieira (2003b, p.19). 
 
Essas etapas sucedem-se ao longo do tempo e são validadas pelos seguintes indicadores de 
estruturação de campos organizacionais, de acordo com DiMaggio e Powell (1991b, p.65): 
a) aumento no grau de interação entre as organizações no campo organizacional; 
b) surgimento de estruturas de dominação e de padrões de coalizão claramente definidos; 
c) aumento no volume de informação com o qual as organizações dentro de um campo 
devem lidar; e 
d) desenvolvimento de uma consciência mútua entre os participantes de um grupo de 
organizações, sobre o fato de que estão envolvidos num empreendimento comum. 
 
 
Pode-se afirmar que a análise da formação e configuração de um campo organizacional exige 
uma visão interdisciplinar, onde os elementos históricos, antropológicos, sociológicos e 
econômicos exercem um papel fundamental na explicação da complexidade dessa análise 
(CARVALHO e VIEIRA, 2003b). Por isso, para entender o processo de institucionalização de 
formas organizacionais, deve-se primeiro compreender o processo de institucionalização e 
estruturação dos campos organizacionais, porque esse processo é uma etapa importante da 
análise institucional (DIMAGGIO, 1991). Por isso, foi feito neste estudo o levantamento 
histórico dos principais fatos ocorridos, para que se pudesse fazer uma análise institucional do 
setor elétrico. 
 24
 
Para Powell (1991, p.195), os “campos organizacionais são criados em diferentes épocas e 
sob circunstâncias distintas; assim eles evoluem de acordo com trajetórias divergentes em 
variadas velocidades”. Conforme já foi dito, essa questão também foi abordada nesta 
pesquisa, quando foram apresentadas diferentes configurações do campo organizacional, que 
coincidem com o final de determinados períodos da formação e estruturação do setor elétrico 
brasileiro. Posteriormente, são definidos e esclarecidos os motivos da escolha dessas datas. 
 
A dimensão política da abordagem institucional mencionada, principalmente, pelo trabalho do 
institucionalismo de Selznick (1972), é uma questão marcante e muito positiva para a análise, 
já que os principais atores sociais enfocados no campo organizacional do setor elétrico estão 
diretamente relacionados a funções governamentais, pois dentre outras importantes 
atribuições, desde 1934, o governo federal é o poder concedente dessa atividade essencial ao 
desenvolvimento do país. Os demais atores que atuam no campo organizacional também têm 
seus interesses, influências e relações institucionais, o que é mais um motivo para podermos 
analisar este estudo organizacional dessa perspectiva (VIEIRA et al, 2004). 
 
Com este estudo procurou-se identificar como ocorreu a formação e a estruturação do campo 
organizacional no setor de energia elétrica brasileiro, utilizando-se, dentre outros, do conceito 
de campo organizacional como uma das principais ferramentas de análise e de identificação 
dos elementos que concorreram para esse processo, já que serão apresentadas as diversas 
etapas de sua construção e/ou constituição. 
 
2.2 Legitimidade e isomorfismo na abordagem institucional 
 
Outra questão central na perspectiva institucional é a busca da legitimidade pela organização. 
O processo utilizado é o isomorfismo, o qual podemos definir como um mecanismo que leva 
as empresas, em contextosambientais semelhantes, a tornarem-se similares, no que diz 
respeito a suas estruturas e processos, e que também pode envolver crenças e valores. Nesse 
sentido, Carvalho e Vieira (2003a, p.33) enfatizam que 
 
a questão da homogeneidade de estruturas e ações das organizações tem sido 
tema de crescente interesse para a literatura especializada que, para abordar 
 25
esse problema, utiliza freqüentemente, como uma busca de legitimidade, os 
princípios institucionais que compreendem a similitude, ou seja, o 
isomorfismo. 
 
Assim, o isomorfismo traz vantagens para as organizações, uma vez que a semelhança de 
práticas entre as organizações favorece o seu funcionamento interno pela incorporação de 
regras socialmente aceitas (FONSECA, 2003), o que facilita a montagem das estruturas 
organizacionais, pois elas se moldam aos requisitos exigidos pelos demais atores do seu 
campo organizacional. 
 
Dessa forma, nos ambientes institucionais, a elaboração e a transmissão das técnicas, regras e 
procedimentos proporcionam às organizações a legitimidade de que necessitam para serem 
aceitas socialmente. Nesse caso, o controle ambiental incide sobre a adequação da forma 
organizacional às pressões sociais, resultando em isomorfismo institucional (FONSECA, 
2003). 
 
A perspectiva institucional reconhece as influências do ambiente nas estruturas e nos 
procedimentos da organização, o que a leva, para conseguir sobreviver, a se adaptar ao 
ambiente onde está inserida. Isso significa que não é suficiente o desempenho técnico da 
organização, traduzido na sua eficácia, mas que também é necessário que ela possua um grau 
de legitimidade traduzida pelas normas e valores do ambiente que a empresa consegue 
reproduzir. Para Perrow (1986) uma das principais contribuições da abordagem neo-
institucional à teoria das organizações é o destaque dado à influência do ambiente, quando 
coloca a legitimidade e o isomorfismo como fatores vitais para a sobrevivência das 
organizações. 
 
Para identificar os mecanismos pelas quais ocorrem as mudanças isomórficas nos campos 
organizacionais, DiMaggio e Powell (1991b, p.67-73) propõem o seguinte: 
a) isomorfismo coercitivo − resultante tanto de pressões formais quanto informais 
exercidas numa organização por outras organizações em relação às quais existe 
alguma dependência, bem como por expectativas culturais da sociedade onde a 
organização atua. Esse tipo de isomorfismo está relacionado com influências políticas 
e questões de legitimação; 
 26
b) isomorfismo mimético − resultante de respostas padronizadas às incertezas do 
ambiente, quando as organizações ainda não absorveram a tecnologia existente, 
quando seus objetivos são ambíguos ou quando o ambiente gera incertezas simbólicas. 
Essas organizações imitam as práticas e procedimentos que tiveram êxito em 
organizações similares, para se legitimarem em seu campo organizacional; 
c) isomorfismo normativo − associado à profissionalização, resulta do movimento 
coletivo de um conjunto de pessoas com a mesma ocupação que tentam definir 
condições e métodos de trabalho, visando estabelecer bases cognitivas e legítimas para 
a sua autonomia profissional. Dois aspectos desse tipo de isomorfismo são 
particularmente importantes. O primeiro é a influência de determinadas instituições de 
ensino no conhecimento formal da organização. O segundo é a criação de uma rede de 
profissionais originários da mesma instituição de ensino, o que tem como uma de suas 
conseqüências, a admissão de pessoas provenientes de uma mesma escola. 
 
Essa questão é tão importante na perspectiva institucional, que leva Meyer e Rowan (1991, 
p.50) a ressaltarem que as “organizações que omitem os elementos de estrutura legítimos do 
ambiente ou que criam estruturas próprias carecem de explicações legítimas e aceitáveis para 
as suas atividades.”, uma vez que a legitimidade está relacionada com o nível de apoio 
cultural recebido pela organização. Isso leva as organizações a competirem não apenas por 
recursos e consumidores, mas por poder político, legitimação institucional e reconhecimento 
social, bem como por oportunidades econômicas (DIMAGGIO e POWELL, 1991a). 
 
Os esforços para adaptar o ambiente institucional evoluem em duas dimensões. Primeiro, as 
organizações forçam suas redes de relacionamento mais próximas a se adequarem às suas 
estruturas e formas de relacionamento. Segundo, tentam estabelecer seus objetivos e 
procedimentos administrativos diretamente na sociedade como regras institucionais (MEYER 
e ROWAN, 1991). Outra maneira de uma organização se legitimar é aderindo à legislação 
vigente, pois isso define padrões de comportamento e a legitima perante não apenas seu 
ambiente, mas também diante da sociedade (CARVALHO, GOULART e VIEIRA, 2004). 
Como exemplo, podem ser consideradas como pressões isomórficas, as imposições 
econômicas dos organismos financiadores internacionais em relação aos seus tomadores de 
empréstimos. 
 
 27
2.3 O poder e o campo organizacional 
 
Na teoria institucional, um dos pontos de maior diferença entre o velho e o novo 
institucionalismo é a questão do poder, focada de forma muito mais explícita pelo velho 
institucionalismo do que pelo novo. 
 
O conflito de interesses, por exemplo, é central no velho institucionalismo e 
periférico no novo. Ora, o conflito de interesses é sempre resolvido por 
meio de estratégias de enfrentamento ou negociação. Ambas estão 
circunscritas pelo poder potencial e operacional dos agentes envolvidos. 
Isso conduz à questão da fonte de inércia ser dada pelos interesses (e, 
portanto, poder) no velho institucionalismo e pela legitimação no novo. 
(VIEIRA e MISOCZKY, 2003, p.58) 
 
O novo institucionalismo vê o poder sem conflito, porque aceita a dominação, em função da 
valorização da legitimidade como seu elemento central. Por sua vez, o velho institucionalismo 
tem uma visão de poder com conflito, já que são admitidas as disputas de poder no campo 
organizacional ou nas organizações. Quando ocorrem essas alterações de poder, interna ou 
externamente às organizações, também, se altera a configuração do campo, levando, 
inclusive, ao aparecimento de novas instituições (VIEIRA e MISOCZKY, 2003). Essa 
questão é particularmente importante na formação e estruturação do setor elétrico brasileiro, 
quando surgem novas organizações resultantes das alterações de poder no campo 
organizacional. 
 
Muitas teorias ignoram, outras abordam superficialmente e algumas tratam de forma mais 
abrangente a noção de poder. Contudo, as organizações estabelecem um poder que se 
apresenta de diversas formas e que possui diferentes origens. Ainda que este poder possa ser 
contestado, as organizações geralmente o utilizam (PERROW, 1986). Na análise institucional, 
as concepções de poder que a permeiam apresentam uma grande quantidade de elementos que 
estão dispersos, mas de evidente importância, tanto que a teoria das organizações está cada 
vez mais focada na interpenetração entre poder, instituições e eficiência. De certa forma, isso 
explica a ênfase especial da perspectiva institucional nas relações de autoridade 
interorganizacionais (CARVALHO e VIEIRA, 2003a). 
 
 28
O conceito de poder tem sido objeto de estudo dos mais variados autores, em face da sua 
importância nas relações sociais, para o entendimento de diversos fenômenos relacionados 
com o comportamento individual ou de um grupo de pessoas, à compreensão das decisões 
e/ou trajetórias das organizações ou de um conjunto de organizações, ou até, como ressalta 
Pagés et. al (1993) para a compreensão da dominação das grandes corporações, 
particularmente sobre os indivíduos que nela trabalham. 
 
Inicialmente, é citado o proeminente sociólogo Max Weber (apud GALBRAITH, 1999), para 
quem o poder “é a capacidade de uma ou mais pessoas realizarem sua própria vontade num 
ato comunal contra a vontade de outros que participamdo mesmo ato”. No entanto, esse é 
ainda um conceito linear de poder, o qual é entendido como a relação entre quem o exerce e 
aquele que sofre essa ação. 
 
Posteriormente, Bierstedt (apud BACHARACH e LAWLER, 1980) destaca que “poder é uma 
força ou habilidade para aplicar sanções. É uma força potencial, não se confundindo com o 
uso da força. O poder deve ser diferenciado da influência”. Nessa definição, destaca-se que o 
poder é eminentemente coercitivo, que impõe submissões; enquanto influência é uma ação 
que tem a adesão de quem está sendo influenciado. 
 
Em seguida, Kaplan (apud BACHARACH e LAWLER, 1980) descreve que “o poder é a 
habilidade de uma pessoa ou grupo de pessoas influenciarem o comportamento de outras; ou 
seja, mudar a probabilidade com que essas outras pessoas responderiam a um certo estímulo”. 
Este autor amplia o conceito de poder , que passa a ser uma competência de quem o exerce, 
para que haja a mudança de atitude de quem sofre a ação, para que este tenha o 
comportamento desejado por quem detém o poder. A influência passa a ser um fator 
fundamental para o exercício do poder, porque não só o poder coercitivo, a sanção ou outras 
formas autoritárias modificam a atitude de quem está sendo submetido ao poder Outros tipos 
de ação, como o convencimento e a insinuação, também podem ser empregados para se 
conseguir uma mudança de comportamento. 
 
Algumas análises sobre o poder nas organizações se concentram nas coalizões, quando grupos 
de indivíduos ou organizações têm interesses comuns, temporários ou não, ou seja, 
 
 29
as coalizões se formam à medida que as partes buscam promover seus 
próprios interesses. Procuram exercer o poder sobre outras coalizões e 
fomentar seus próprios interesses. As análises das coalizões sugerem que as 
organizações são altamente politizadas, havendo nelas alianças e arranjos de 
poder mutáveis. (HALL, 1984, p.102) 
 
Nessa situação, grupos de pessoas ou de organizações constituem pactos formais ou 
informais, com determinado objetivo que podem ser desfeitos quando uma ou mais 
organizações alterarem sua estratégia. 
 
Outra abordagem do conceito de poder já tem uma determinada finalidade (eminentemente 
empresarial), que é a de gerar resultados desejados por quem detém esse poder numa 
organização, mas que pode ser estendida a pessoas ou grupos de pessoas que tentam retirar 
(ou retiram) de outras os objetivos que desejam, quando asseguram que 
 
a capacidade de pessoas ou grupos extraírem de si próprios resultados 
valiosos de um sistema onde outras pessoas ou grupos tentam o mesmo ou 
preferem direcionar seus esforços para outros resultados. O poder é exercido 
para alterar uma distribuição inicial de resultados, para estabelecer uma 
distribuição desigual ou para alterar os resultados. (PERROW, 1986, 
p.259) 
 
Por sua vez, Carvalho (1998, p.5) afirma que “o poder interpretado sob o enfoque da 
aquiescência ou controle, enfatiza o predomínio da vontade de uns sobre a vontade de outros. 
Nesse caso, o poder implica inevitavelmente resistência e conflito, sobre os quais predomina a 
vontade do detentor do poder”, o que é explicitado quando ocorre de uma pessoa, grupo de 
pessoas, organizações ou coalizões exercerem o poder. Esse ponto expressa qual a questão do 
conflito, ou seja, qual a reação de quem está sofrendo essa ação, se de forma ativa 
(contrariando os interesses do detentor do poder) ou passiva (que gera a obediência), 
pressupondo-se que o sujeito submetido à ação aceita voluntariamente o poder exercido por 
outro. Nesse sentido, o conflito é uma oposição entre aqueles que têm interesse em manter 
e/ou perpetuar uma determinada situação de que se beneficiam e aqueles que têm interesse em 
alterar essa situação (Rocher, apud CARVALHO, 1988). 
 
 30
As organizações ou coalizões de organizações exercem seu poder, sua influência, em virtude 
de seus interesses no campo organizacional onde atuam, uma vez que 
 
cada campo prescreve seus valores particulares e possui seus próprios 
princípios regulativos. Esses princípios delimitam um espaço socialmente 
estruturado em que os agentes lutam, dependendo das posições que ocupam 
no campo, seja para mudar, seja para preservar seus limites e forma. Duas 
propriedades são centrais a essa definição. (1) Um campo é um sistema 
padronizado de forças objetivas, uma configuração relacional dotada de uma 
gravidade específica e que é imposta a todos os objetos e agentes que entram 
nele. Como um prisma refrata forças externas de acordo com a estrutura 
interna. (2) Um campo é, simultaneamente, um espaço de conflito e 
competição, um campo de batalha em que os participantes visam ter o 
monopólio sobre os tipos de capital efetivos e o poder de decretar 
hierarquias e uma “taxa de conversão” entre todos os tipos de autoridade no 
campo de poder (VIEIRA e MISOCZKY, 2003a, p.55), 
 
onde a luta pela sobrevivência e sucesso ou insucesso das organizações leva ao permanente 
conflito, de forma a que os objetivos e interesses de uma ou mais organizações se 
sobreponham ao de outras. 
 
Ao longo da formação e estruturação do setor elétrico brasileiro, identificou-se a configuração 
do seu campo organizacional em diferentes momentos, para que fossem analisadas as razões 
e/ou motivos pelos quais os principais atores sociais e/ou organizações alteraram suas 
posições, aumentaram ou diminuíram sua influência, investigando-se seus interesses. As 
diversas análises da configuração de diferentes campos organizacionais de um determinado 
setor, durante um certo período, são alguns dos principais instrumentos que contribuem para a 
análise das organizações que compõem esse campo. Ao realizar uma análise focada no poder, 
também foram identificados quais os grupos mais influentes e que, consequentemente, 
obtiveram e/ou obtêm maiores benefícios (PFEFFER e SALANCIK, 1978), num embate que 
tem o campo organizacional como palco. 
 
 
 
 31
2.4 Modelo analítico utilizado 
 
Neste estudo considerou-se que o conjunto de referências teóricas apresenta uma base 
consistente e abrangente para analisar a formação e a estruturação do setor elétrico brasileiro. 
A primeira consideração a ser feita sobre a opção por esse referencial teórico é quanto à 
abordagem institucional no ambiente, pois nenhum outro modelo de organizações levou tanto 
em consideração o ambiente e a interação organização-ambiente (PERROW, 1986) como um 
fator muito importante para a análise do campo organizacional do setor elétrico no Brasil. A 
análise do setor elétrico levou em conta o ambiente onde atuam seus principais atores sociais 
e/ou organizações, um dos fatores fundamentais para o conhecimento da formação desse setor 
imerso num país em desenvolvimento, cujas influências são diferentes daquelas de países 
onde os estudos empíricos contribuíram para o desenvolvimento da teoria institucional. Isso 
levou Meyer e Rowan (1991, p.47) a afirmarem que as “organizações negociam com seu 
ambiente nas suas fronteiras e imitam seu ambiente na sua estrutura”, enfatizando, também, a 
importância do ambiente na estrutura e nas ações empresariais. 
 
A escola institucional defende que a explicação do comportamento organizacional não está, 
essencialmente, na estrutura formal da organização, nas metas e objetivos anunciados, bem 
como na produção de bens e serviços, mas também nos processos forjados pelos grupos 
informais, nos conflitos entre grupos, na interação com os grupos externos, no esforço para 
ser reconhecido na estrutura do poder local, nas instituições legais e na comunidade 
(PERROW, 1986). Nesse sentido, as entrevistas realizadas e aqui apresentadas, realizadas 
com pessoas que participaram de grande parte da história do setor elétrico brasileiro, 
trouxeram as necessárias contribuições e informações, que vão adequar a história do setor 
elétrico ao referencial teórico apresentado, principalmente, quanto aos fatoresdestacados. 
Uma síntese da abordagem institucional, entre o “velho” e o “novo” institucionalismo, é o 
referencial básico proposto para a análise da formação e estruturação dos campos 
organizacionais do setor elétrico. Para analisar a questão do poder, presente em toda a 
formação desse campo, é possível afirmar que 
 
o velho institucionalismo parece aproximar-se mais da visão de poder com 
conflito, o que permite propor que as disputas de poder em um campo geram 
as instituições que, por sua vez, mantêm a ordem estabelecida por meio do 
compartilhamento de valores. A mudança ocorre quando os arranjos de 
 32
poder (internos e externos) no campo se modificam e geram novas 
instituições. (VIEIRA e MISOCZKY, 2003, p.59) 
 
Com a utilização desse modelo analítico, não se quer adotar um modelo único de análise. A 
intenção é buscar e empregar esses elementos para uma melhor compreensão do fenômeno 
estudado, sem perder o alcance e a pertinência de cada um deles, na ambiência de um país em 
desenvolvimento, com valores e características próprias, os quais têm de ser levados em 
consideração em qualquer pesquisa. 
 
 33
3 - METODOLOGIA 
 
De acordo com Gil (1989), a pesquisa é um procedimento racional e sistemático cuja 
finalidade é proporcionar respostas aos problemas que são propostos, quando não se tem 
informação suficiente para se conseguir essas respostas ou quando a informação disponível 
está desordenada, dificultando relacionar a informação com o problema proposto. A pesquisa 
começa com a formulação do problema e desenvolve-se ao longo de diversas etapas, quando 
ao final se apresentam os resultados da indagação. 
 
A partir da metodologia, parte fundamental de qualquer dissertação, é que se pode avaliar a 
validade, confiabilidade e aplicação de um trabalho, que são características que devem 
compor uma pesquisa qualitativa (VIEIRA, 2004), cuja metodologia vai ser utilizada nesta 
dissertação. Como a pesquisa do campo organizacional do setor de energia elétrica é pouco 
explorada, esta pesquisa foi realizada por meio de uma análise descritiva, já que se trabalhou 
com a descrição da realidade. 
 
3.1 Perguntas de pesquisa 
 
O principal problema desta dissertação foi decomposto nas seguintes perguntas de pesquisa: 
 
a) que organizações fazem parte do campo organizacional de energia elétrica no Brasil? 
b) quais os elementos históricos e institucionais que foram fundamentais para a formação 
e estruturação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil? 
c) quais os principais incidentes críticos que marcaram a história do campo 
organizacional, e de que forma têm relevância na sua configuração atual? 
d) quais os principais atores sociais, o papel desempenhado por eles e de que recursos de 
poder se valeram na formação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil? 
 
3.2 Definição constitutiva (DC) e operacional (DO) dos termos relevantes 
 
Para incluir um elemento para avaliar a exatidão da pesquisa qualitativa utiliza-se a definição 
constitutiva (DC), a qual se refere “ao conceito dado por algum autor da variável ou termo 
que se vai utilizar” (VIEIRA, 2004, p.19), e a definição operacional (DO), que menciona 
 34
“como aquele termo ou variável será identificado, verificado ou medido, na realidade.” 
(VIEIRA, 2004, p.19). Os principais conceitos utilizados nesta dissertação foram: 
 
a) campo organizacional 
DC: entendeu-se por campo organizacional “as organizações que, no seu conjunto, 
constituem um reconhecido espaço da vida institucional, onde interagem todos os 
atores relevantes, como os principais fornecedores, seus recursos, agências 
reguladoras e outras organizações que produzem serviços e produtos similares” 
(DIMAGGIO e POWELL, 1991a, p.64); 
 
DO: esse termo foi operacionalizado através da identificação e seleção das organizações 
atuantes no setor elétrico brasileiro, englobando, entre outras, as empresas geradoras, 
transmissoras e distribuidoras de energia elétrica, as entidades de classe, agências 
reguladoras e os consumidores. 
 
b) atores sociais 
DC: entendidos como os indivíduos ou organizações que conforme suas posições 
relativas, se enfrentam no campo, de forma relevante e por meios e fins diversos, 
mas contribuindo para a formação e estruturação do campo organizacional 
(BOURDIEU, 2000); 
 
DO: o termo foi operacionalizado para identificar os indivíduos ou organizações, seus 
interesses e recursos de poder, no sistema de forças que formam e estruturam o 
campo organizacional. 
 
c) poder 
DC: poder é a capacidade de pessoas ou grupos retirarem de si próprios resultados 
valiosos de um sistema onde outras pessoas ou grupos também tentam obter os 
mesmos resultados ou preferem despender esforços buscando outros resultados. O 
poder é exercido para alterar uma distribuição inicial de resultados, estabelecer uma 
distribuição desigual ou alterar resultados (PERROW, 1986, p.259); 
 
 35
DO: o termo será operacionalizado pela identificação do jogo de influências e dos 
conflitos protagonizados pelos atores do campo organizacional de energia elétrica na 
defesa de seus interesses. 
 
d) ambiente institucional 
DC: uma vez entendido como “o ambiente formado em sua totalidade por fluxos e 
intercâmbios técnicos, há que acrescentar um sistema de crenças e de normas 
institucionalizadas que juntos representam uma fonte independente de formas 
organizacionais racionais. Assim, o ambiente institucional representa um 
enriquecimento do que se compreende como ambiente técnico, ampliado ao domínio 
do simbólico” (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999, p.7); 
 
DO: o termo será operacionalizado pela identificação das estruturas simbólico-normativas 
e de poder presentes no campo de energia elétrica brasileiro. 
 
e) campo de energia elétrica brasileiro 
DC: entendido como o conjunto das organizações, publicas e/ou privadas que prestam 
serviços relacionados à geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no 
Brasil; 
 
DO: o termo foi utilizado para identificar as diferentes organizações que atuam no campo 
da energia elétrica brasileira, e que de alguma forma o influenciam. 
 
3.3 Delineamento da pesquisa 
 
Esta pesquisa teve por nível de análise o campo organizacional do setor de energia elétrica, já 
que apresenta estudos administrativos e organizacionais dos atores sociais que compõem esse 
campo e uma perspectiva de estudo histórico longitudinal, porque pesquisa o 
desenvolvimento do fenômeno ao longo do tempo. Também apresenta cortes transversais, já 
que são analisados os chamados “incidentes críticos”, que marcaram a história do fenômeno e 
que têm a necessária relevância para explicar a atual configuração do setor elétrico brasileiro. 
 
 36
Com base na abordagem qualitativa, este estudo compreende um levantamento histórico do 
campo organizacional do setor elétrico brasileiro e uma análise detalhada para identificar os 
fatos relevantes ocorridos durante sua formação e estruturação. Para que esta pesquisa fosse 
validada e preservada sua autenticidade, foram entrevistados indivíduos de notória 
competência na área de conhecimento deste estudo, que exerceram ou ainda exercem 
relevantes funções no setor elétrico e que participaram de alguns de seus principais 
acontecimentos. Para se assegurar da confiabilidade desses depoimentos, foram entrevistados 
indivíduos de diferentes áreas profissionais, com o objetivo de obter perspectivas 
diferenciadas do mesmo fenômeno. Além disso, recorreu-se ao testemunho de outras pessoas 
− também informantes originais de reconhecida competência −, publicados em livro, que 
combinados com a consulta a diversos outros documentos contribuíram para validar esta 
pesquisa. 
 
Cabe ainda salientar que em função da capacitação profissional dos entrevistados, um mesmo 
indivíduo pôde representar vários papéis, já que a maioria desses entrevistados, ao longo de 
sua trajetóriaprofissional, exerceu atividades em diferentes campos de atuação, como por 
exemplo, funções de governo ou cargos de direção em empresas estatais e privadas, conforme 
detalhado na apresentação do currículo profissional de cada um. 
 
3.4 Levantamento dos dados 
 
Considerando que este estudo abrange um período de mais de 100 anos, pois cobre os anos de 
1880 a 2002, para garantir-lhe a necessária validade, confiabilidade e credibilidade foram 
utilizadas duas principais fontes de depoimentos de pessoas participantes da formação e 
estruturação do setor elétrico brasileiro, visando abarcar todo o período em questão. Na 
primeira parte foram entrevistados dirigentes e ex-dirigentes do setor elétrico, cobrindo, 
principalmente, o período que vai de 1940 a 2002. Para complementar esse conjunto de 
entrevistas, também, recorreu-se a um livro que reúne depoimento dados num seminário 
promovido, em 1993, pelas Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás) com o apoio do 
Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, cujo propósito foi preservar a história do setor 
elétrico, narrada por algumas pessoas que moldaram essa história, desde a formação do setor 
elétrico brasileiro. 
 
 37
3.4.1 Entrevistas 
 
Foram feitas entrevistas em profundidade, semi-estruturadas, cuja finalidade foi obter os 
dados necessários para responder às perguntas de pesquisa propostas nesta dissertação. 
 
Os entrevistados foram escolhidos pela sua participação nos principais eventos do setor. Pela 
experiência e importância profissional dos entrevistados, somente foram colhidos os 
depoimentos de seis pessoas, número suficiente pela qualidade e quantidade dos dados 
fornecidos, já que outras fontes, posteriormente descritas, também foram consultadas. 
 
O mestrando conversou com cada um dos entrevistados, separadamente, e as entrevistas 
foram divididas em três partes, conforme o roteiro apresentado no anexo I – “Roteiro da 
entrevista”. Na primeira parte, o mestrando informou ao entrevistado o objetivo e a 
contribuição da entrevista para o trabalho de dissertação que estava elaborando. Na segunda 
parte, foi realizada a entrevista, sempre permitindo e incentivando o entrevistado a prestar 
qualquer comentário adicional, no momento que desejasse. Cabe observar que, nessa parte, o 
mestrando mostrou para o depoente várias representações gráficas de acontecimentos 
ocorridos no setor elétrico, os quais estão apresentados no anexo II – “Quadros para a 
entrevista”, para que o entrevistado pudesse comentar, concordar ou discordar quanto ao que 
estava sendo proposto, de acordo com as questões colocadas no roteiro. Finalmente, na 
terceira parte, foi solicitado ao entrevistado que fizesse suas considerações finais, comentando 
algum evento que julgasse importante para o esclarecimento de alguma questão. Isso também 
ajudou o mestrando, a formular novas perguntas que achasse necessárias para detalhar algum 
ponto eventualmente não esclarecido ou mesmo ainda não abordado. 
 
Todas os depoimentos foram gravados com autorização do entrevistado e tiveram uma 
duração mínima de uma hora e meia, com exceção de duas entrevistas que duraram duas 
horas e meia. Em duas ocasiões, o entrevistado pediu para desligar o gravador, para que 
pudesse fornecer dados que em sua opinião eram confidenciais. Ressalte-se, ainda, que 
inicialmente foi feita uma entrevista piloto para avaliar o roteiro e a forma de entrevista 
proposta. Depois de concluídas, as entrevistas foram transcritas para posterior análise, 
confirmação das anotações e recuperação de detalhes considerados pertinentes. 
 
 38
3.4.2 Perfil dos entrevistados 
 
Este item tem como finalidade apresentar as pessoas entrevistadas, com as principais funções 
exercidas, para dar a dimensão de sua importância na formação e estruturação do setor 
elétrico brasileiro. Em ordem alfabética elas são: 
 
Altino Ventura Filho − trabalha no setor elétrico há mais de 35 anos. Por mais de 22 
anos foi gerente da Eletrobrás, nas áreas de planejamento e engenharia, tendo coordenado 
vários comitês e projetos de relevância nacional e internacional. Por cinco anos foi 
diretor-técnico da Itaipu Binacional, período em que chegou a acumular a presidência, 
durante licença do presidente da empresa. Foi presidente da Eletrobrás em 2002, último 
ano do governo Fernando Henrique Cardoso, e participou do conselho de administração 
de várias empresas elétricas nacionais. Atualmente, é consultor do Ministério de Minas e 
Energia (MME); 
 
José Marcondes Brito de Carvalho − trabalha há mais de 35 anos no setor. Foi diretor 
da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e, de 1976 a 1990, foi primeiro diretor da 
área de operações da Eletrobrás, tendo sido o responsável pela implantação deste setor 
que é estratégico para o sistema elétrico brasileiro. Presidiu a Light e participou de 
conselhos de administração de importantes empresas, como Furnas, Cemig, Chesf e 
Cesp, dentre outras. Influiu de forma marcante na trajetória do setor, nomeadamente, na 
implantação da interligação nacional do sistema elétrico. Atualmente, é consultor na área 
de energia elétrica; 
 
Mario Bhering − trabalhou mais de 35 anos no setor. Foi membro da primeira diretoria 
da Cemig, quando a empresa foi criada em 1952. Presidiu a Eletrobrás de 1967 a 1975, 
no regime militar, e de 1985 a 1990, no governo Sarney. Na Eletrobrás integrou seu 
Conselho de Administração, de 1966 a 1990. Atualmente preside o Centro da Memória 
da Eletricidade, que tem como uma de suas finalidades a recuperação da história do setor 
elétrico. Dos entrevistados, é o que atuou mais tempo no setor elétrico brasileiro. 
 
Paulo Roberto Ribeiro Pinto − também trabalha há mais de 35 anos no setor elétrico. 
Foi diretor adjunto financeiro do DNAEE, chefe de gabinete do presidente da Eletrobrás 
 39
(no governo Collor), diretor financeiro da Chesf (1994-1995), diretor financeiro da 
Eletrobrás (1995-1999) e diretor financeiro de Furnas (1999-2001). Além disso, 
participou do conselho de administração de diversas empresas nacionais. Atualmente, 
exerce as funções de diretor de relações com o mercado da Light, empresa de distribuição 
de energia elétrica no Estado do Rio de Janeiro, privatizada em 2001; 
 
Ruderico Ferraz Pimentel − trabalha no setor elétrico há mais de 30 anos. Foi diretor de 
administração da Eletrobrás, de 1993 a 1995, presidente das Centrais Elétricas do Espírito 
Santo (Escelsa) − depois da privatização dessa empresa de distribuição estadual −, 
presidente da Fundação Eletros de Seguridade Social, presidente do conselho de 
administração da Escelsa e da Eletroacre. Atualmente é assistente da presidência da 
Eletrobrás, cargo que já ocupou em outras ocasiões. É Ph.D. pela Universidade de 
Londres e professor do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense 
(UFF), sendo um estudioso das questões do setor elétrico, já tendo publicado diversos 
trabalhos a respeito; 
 
Xisto Vieira Filho − trabalha no setor elétrico há mais de 30 anos. Foi diretor-geral do 
Centro de Pesquisas do Setor Elétrico (Cepel), diretor de operações da Eletrobrás, de 
1998 a 2000, secretário nacional de Energia (MME) e vice-presidente da empresa de 
energia norte-americana El Paso. Atualmente, participa do conselho de administração do 
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), é presidente da Associação Brasileira de 
Geradoras Termoelétricas (Abraget) e consultor de uma empresa de comercialização de 
energia. 
 
3.4.3 Outros depoimentos 
 
Para complementar as entrevistas realizadas, foram considerados os testemunhos que constam 
do livro Ciclo de palestras: a Eletrobrás e a história do setor de energia elétrica no Brasil, 
editado em 1995 pelo Centro da Memória da Eletricidade no Brasil. Trata-se do depoimentos 
de pessoas que também vivenciaram a história do setor, dos quais se destacam os de: 
 
José Luiz Lima − professor da Universidade

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