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3- Ezra - HERDEIROS DA MAFIA - Jessica D Santos

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Prévia do material em texto

Copyright© 2021 JESSICA D. SANTOS
Revisão: Andrea Moreira
Leitura Crítica: Luciana Rodrigues
Capa: Jessica Santos
Diagramação: Jessica Santos e Evilane Oliveira
___________________________________________
_______________
Dados internacionais de catalogação (CIP)
EZRA – HERDEIROS DA MÁFIA – LIVRO 3
1ª Edição
1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3.
Romance. Título I.
___________________________________________
_______________
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de
qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico,
inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo
ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor (Lei
9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação do autor, qualquer semelhança
com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela
autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde
1º de janeiro de 2009.
SUMÁRIO
NOTA DA AUTORA
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
Olá, tudo bem com você? Se chegou até aqui é por
ter interesse em conhecer a história do Ezra e Hailey, e eu
agradeço a chance que está dando ao meu livro. Vamos
bater um papo rapidinho?
No livro do EZRA, para você entender algumas
coisas, terá que ler os dois primeiros: KILLZ E AXL. Mas
por que está me dizendo isso, autora? É só para que eu
leia os anteriores? Não, é apenas para que você tenha
conhecimento de algumas coisas que aconteceram com o
EZRA E HAILEY nos livros anteriores e possa entender
direito a história deles, que é esta aqui. Alguns
acontecimentos no livro do Killz e Axl são muito
importantes, e se forem deixados para trás talvez você não
entenda muita coisa.
Saiba que o livro faz parte de uma série e eu sempre
deixo algumas lacunas propositalmente, que só devo
resolver nos livros seguintes, foi assim em KILLZ e em
AXL. Sinto-me no dever de alertá-los.
Neste livro você também encontrará pontas soltas,
essas que serão resolvidas no livro quatro, que conta a
história de Carter, mas não pensem que ficará assim
sempre, tudo irá se fechar.
As histórias dos irmãos Knight são entrelaçadas, peço
que leia com atenção e com a mente bem aberta para que
possa compreender o que desejo passar.
Obrigada por ter me dado um minutinho da sua
atenção, te desejo uma boa leitura e espero que goste do
livro!
Máfia é uma organização criminosa cujas atividades
estão submetidas a uma direção de membros, que sempre
ocorre de forma oculta e que repousa numa estratégia de
infiltração da sociedade civil e das instituições. Os
membros são chamados mafiosos.
Quando se fala de máfia, as pessoas relacionam o
tema com a Cosa Nostra, a máfia Italiana que se
desenvolveu na Sicília e, mais tarde, surgiu nos Estados
Unidos. Com o tempo, o termo deixou de se relacionar
apenas com a estrutura da máfia siciliana e passou a
abranger qualquer organização ou associação criminosa
que usa métodos inescrupulosos para fazer prevalecer
seus interesses ou para controlar uma atividade.
Desta forma, a série Herdeiros da Máfia aborda sua
própria máfia, com leis, códigos e condutas próprias,
criadas por mim, utilizando-me de licença poética. Não
espere ler este livro e ver nele qualquer estrutura verídica,
real ou influenciada pela Cosa Nostra, Yakuza ou qualquer
outra organização mafiosa conhecida.
AVISO
A história é um romance dark contemporâneo. Ele
contém cenas de violência sexual, linguagem imprópria,
agressão física e verbal. O livro é recomendando para
maiores de 18 anos. 
Se você é sensível com esse tipo de leitura não leia.
A autora não apoia e nem tolera esse tipo de
comportamento.
 
“O monstro coordena toda ação, mas é meu corpo
que executa e promove o pavor.”
Ezra James Knight era a sombra do homem que um
dia foi. Descobertas o fizeram se render à completa
escuridão. O coração que um dia bateu foi substituído por
um duro, frio e difícil de quebrar. Ezra optou por ser
inabalável, egoísta e cruel.
Sua vida estava em pedaços, mas jamais deixaria
que as pessoas o vissem tão machucado. Suas barreiras
se ergueram e ninguém seria capaz de derrubá-las. Muito
menos aquela que tanto mentiu e que agora dizia o amar: a
gêmea da mãe do seu filho.
Hailey Slobodin sempre esteve longe do submundo,
mas sua vida mudou após descobrir que tinha um sobrinho
e uma irmã gêmea. Porém, não houve tempo para
conhecê-la, a máfia acabou com esse desejo quando tirou
a vida de Scarlet, deixando-a com um buraco enorme em
seu coração e uma criança para criar. A mulher foi atrás de
vingança e proteção, mas ela não estava pronta para a
atração avassaladora e os perigos que uma aproximação
com Ezra poderia causar.
Duas pessoas corrompidas, mas de personalidades
diferentes. A única coisa que eles têm em comum é um
dilema: proteger quem ama, mesmo que para isso precise
passar por cima dos próprios princípios.
Passaram-se alguns meses desde a fatídica reunião
em que foram esclarecidos todos os porquês que levaram
a morte da minha irmã e tantas outras. Foi um período
muito tenebroso até chegarmos aqui.
Nos últimos meses, estou aguardando o retorno de
Ezra, que saiu da casa de Killz sem dizer para onde iria
assim que terminou a reunião. Agora estou em seu
apartamento, aguardando sua volta para poder jogar na
sua cara o quanto foi egoísta ter deixado seu filho para
trás.
Observo Dylan brincando no carpete com os
brinquedos que os tios haviam dado. Meu menino está
crescendo, uma criança muito dócil e inteligente, nem
acredito que já está com sete anos.
― Mãe, os carrinhos que tio Spencer me deu são os
mais bonitos ― fala meu menino, seus olhinhos brilhando
em minha direção.
Toda vez que ele me chama de mãe, meu coração
derrete e me seguro para não o encher de beijos, uma vez
que não é muito fã. Deve ter herdado a personalidade
ranzinza do pai.
― São sim, meu bem ― falo docilmente ao vê-lo
sorrir para mim. O nosso amor é recíproco.
Como o tempo passa rápido, penso, deixando uma
lágrima deslizar em minha bochecha. Eu o peguei no colo e
o vi crescer... cuidei dele desde os seus primeiros passos e
ouvi suas primeiras palavras. Fui mais mãe do que a minha
irmã, apesar de ela ter dado a ele todo auxílio que pôde até
seus últimos dias de vida, mas fui eu que estive ao lado de
Dy, dei amor e carinho, tudo que um filho precisa de uma
mãe.
Jamais pensei em ocupar o lugar de Scarlet na vida
do pequeno, contudo, quando meus olhos pousaram
naquele par de olhos verdes ― tão parecido com o do pai
― me encarando com uma certa curiosidade, eu meu
apaixonei, minhas pernas ficaram bambas e meu coração
bateu tão forte, que senti como se tivesse acabado de
correr uma maratona. Naquele instante eu descobri algo
que nunca havia passado por minha mente: meu desejo
enorme de ser mãe e proteger um serzinho tão lindo. O
que senti por Dylan foi amor à primeira vista.
Meu celular começa a tocar ao meu lado,
rapidamente eu o pego e vejo o nome de Alessa brilhando
na tela.
― Alô ― respondo e me afasto um pouco de Dy para
que ele não ouça a nossa conversa. Por mais que seja
pequeno, ele é muito inteligente.
― Olá. Tudo bom, Hailey? Liguei para saber como
vocês estão? ― Sua voz soa animada.
― Dy está brincando com os seus carrinhos ― meus
olhos pousam no pequenino brincando distraidamente ― e
eu estou bem, e você... Como está?
― Estou ótima! Hailey, na verdade, eu gostaria de te
fazer uma proposta.― Ela está com a voz séria agora.
― E o que seria, Alessa? ― Coloco uma mão na
cintura e mordo o lábio, ansiando a sua resposta.
― Pretendo ir à Rússia, estou avaliando tomar à
frente, como é o desejo de Viktoria. Segundo ela, o posto
de liderança foi designado a mim e... Você aceitaria
trabalhar comigo, caso eu faça isso? ― A pergunta me
surpreende, nem sei o que responder.
― Você... você... vai à Rússia? ― Faço uma careta.
― Pretendo ir. E se você aceitar ser minha melhor
amiga e conselheira, será mais fácil. Preciso de uma
pessoa que eu admiro e confio ― diz de maneira confiante.
― Obrigada por isso. Saber que você confia em mim
me deixa feliz... Mas tenho Dylan e pretendo voltar para a
minha casa o quanto antes ― falo as últimas palavras com
pesar.
― Voltar para a sua casa? Você já está em casa,
Hailey, sua casa agora é aqui, conosco. Com meu sobrinho
e meu irmão. ― Alessa parece estar sendo sincera e
carinhosa comigo, mas ainda não me acostumei com o fato
de ela ser irmã do Ezra. ― Sua morada é aqui em Londres,
sua vida está aqui.
― É estranho ouvir que... você e Ezra são irmãos. ―
Reprimo uma risada.
― Aos poucos estou me adaptando com a ideia.
― Faz um tempo que conversei com Ezra, e
chegamos à conclusão de que assim que Dy estiver mais
próximo dele, eu vou embora. ― Quase não consigo
completar a minha fala.
― Não pode, Hailey, o seu sobrinho precisa de você.
Além disso, eu preciso de uma amiga. Hai, você salvou a
minha vida, quase morreu por mim. ― Jogo a cabeça para
trás ao perceber o modo Alessa dramática ativado.
― Talvez eu esteja sendo egoísta ao deixar Dy, mas...
é horrível conviver com alguém por quem tenho um
sentimento platônico e que só me olha com amargura e
desprezo, Alessa. Eu me sinto magoada por tudo. Aprendi
a amar o ex da minha irmã gêmea através de uma mentira,
e isso tudo me consome, sabe? O seu irmão me fez apagar
aquela visão que eu tinha dele. Eu achava que Ezra era um
homem maduro, bem centrado, mas me enganei ― falo um
pouco mais baixo, enquanto limpo meu rosto molhado
pelas lágrimas.
― Dê uma chance para vocês, nem tudo está
perdido, querida.
― Nunca houve nós, Lessa. O Ezra está
irreconhecível ― confesso, decepcionada.
― Sabe de uma coisa, aceite minha proposta e logo
você mostrará a esse ogro quem manda ― fala, tão certa
de suas palavras, que até eu gostaria de acreditar nisso.
Quando abro minha boca para responder, fico
assustada ao ouvir a porta da sala sendo aberta com
brutalidade. Meu coração bate descompassadamente e
minhas mãos ficam trêmulas, mas um alívio desconhecido
me toma quando vejo que é Ezra. Porém, fico desesperada
ao notar que o homem está com a camisa branca
manchada de sangue.
― Oh meu Deus. O que houve, Ezra? Quem fez isso?
Ele está bem machucado, e meu desespero é tanto,
que mal ouço Alessa ao fundo, simplesmente finalizo a
chamada sem explicação, porque preciso ajudá-lo. Não
serei tão insensível em um momento como este.
― Onde estava? Quem fez isso com você? ― sondo-
o, correndo até ele, que cambaleia até conseguir se sentar
no sofá. Engulo meu orgulho e a vontade louca de deixá-lo
sozinho quando ouço sua risada sarcástica. Ele me odeia,
posso sentir. Mesmo assim, respiro fundo e procuro não
levar para o lado pessoal. ― Pelo menos me deixe cuidar
disso ― murmuro, evitando fazer contato visual.
Me ajoelho de frente para ele e toco em seu rosto
machucado. A sobrancelha esquerda tem um corte
profundo, o lábio inferior está partido e o olho direito está
começando a ficar roxo.
― Não toque em mim, sua cópia imprestável! Não
preciso da sua ajuda, porra! ― grunhe, apertando meus
pulsos com força e empurrando meu corpo para trás.
Paciência, Hailey. Paciência!
― Precisa sim! Pegue esse seu maldito orgulho e
enfie no rabo ― retruco, voltando a olhar os ferimentos. ―
Vou procurar alguma coisa para limpar isso.
― Você é surda, caralho? ― Ele parece embriagado.
Apesar da arrogância de Ezra, permaneço firme e
convicta do que devo fazer no momento, cuidar dos
ferimentos dele. Embora tenha muitos hematomas, o
desgraçado continua lindo. Merda, acho que sou
masoquista. Ele me machuca com palavras, mas eu me
continuo aqui, esperando-o.
Quando sinto as mãos dele tentando me afastar mais
uma vez, somos interrompidos pelo som da campainha.
Provavelmente é a Alessa, ela deve ter ficado preocupada.
Mas ela não poderia estar aqui em tão pouco tempo.
Quem será?
― Não ouse se levantar ― ameaço.
― Desde quando vadias me dão ordens? ― Ele
despreza as minhas palavras. ― Vá logo ver quem está
tocando essa merda barulhenta e pare de tagarelar.
Me afasto do abutre furiosamente, mesmo desejando
dar uns tapas na cara dele para ver se os ferimentos ficam
piores. Eu entendi que sou superior a Ezra em vários
aspectos, e essa ação poderia me levar para o mesmo
caminho da minha irmã. E eu não seria louca de correr o
risco de me afastar do meu Dylan, pelo menos, não
totalmente.
Abro a porta e me deparo com uma mulher, que
arregala seus olhos ao me ver.
― Sou Fergie ― ela estende a mão em minha
direção como se quisesse me cumprimentar, só que eu
recuso ―, eu trouxe Ezra. Ele estava impossível hoje e não
queria vir embora, mas consegui essa proeza. Ele vem se
mantendo bêbado há dias, e arrumou muitas brigas por aí.
Eu posso entrar para cuidar dele? ― pergunta de maneira
tão gentil, que fico desconfiada das suas intenções.
De que buraco essa garota saiu?
Fergie é linda, cabelos curtos e cor de caramelo,
olhos mel com um tom esverdeado, e, para completar, tem
a voz é melosa. A garota é supereducada, suponho que ela
tenha sido a razão de Ezra esquecer o caminho de casa.
― Como? ― Dou uma risada alta para esconder a
raiva que me corrói.
― A senhora é funcionária dele também? ―
questiona, tentando se fazer de inocente.
― Vai morar na porta, Slobodin? ― grita Ezra.
― Está vendo? Meu gatinho precisa de ajuda e você
está dificultando as coisas. ― A garota tenta passar por
mim.
― Menina, quem você pensa que é para invadir o
meu espaço? Dê o fora agora! ― ordeno, empurrando-a
para trás.
― E você quem é? Ah, sim. A tia do filho dele, irmã
do ex-amor... Nada mais que isso ― diz baixinho enquanto
me encara com o ódio refletido em seu olhar, como se o
que tivesse dito não passasse de um segredo que Ezra
havia soltado sem querer.
― De que buraco você saiu? Acha que sabe tudo da
minha vida? Você nem me conhece, pirralha! ― Desvio o
olhar para que ela não veja meus olhos marejados.
― Não preciso de muito para saber que é apaixonada
por ele ― declara, me fazendo olhar para trás e ver o
Knight jogado no tapete vermelho da sala.
Quando se tornou tão autodestrutivo? Eu nunca tinha
visto Ezra tão acabado.
― Fergie, não é? ― falo com desdém. ― O seu chefe
acabou de cair em um sono profundo e duvido que irá
acordar. Faz um favor para mim? Dá o fora, sua oferecida.
― Escute aqui, queridinha... Sabe com quem o seu
amor esteve esse tempo todo? ― a loira fala em um tom
de voz alterado.
― O sr. Knight é só o pai do meu sobrinho, mas estou
impressionada com a quantidade de informação que acha
que carrega. Felizmente, tenho que cuidar da minha vida
― retruco e me viro para entrar e fechar a porta.
― Alguma vez ele já lhe disse que arrastou uma
dançarina do palco pensando que era eu em uma boate?
Ele estava morrendo de ciúmes ― ela tenta me provocar
ao sorrir.
― Não tem motivo algum para ele me contar uma
história tão sem cabimento como essa, como eu disse, sou
somente a tia do filho dele. ― Tento soar firme, mas falho
miseravelmente. Essa revelação só demonstra a intimidade
entre os dois.
― Já pensou que talvez seja comigo que ele queira
ficar e não com você? Afinal, estivemos juntos nos últimos
meses. Sem contar que quando ele pronuncia seu nome,
deixa nítido o nojo que sente, mas, infelizmente, o coitado
não pode fazer nada, o pequeno Dy é muito apegado a
você. Por enquanto. ― Ela insinua algo que não quero
descobrir o que é.― Saia daqui agora, vagabunda! ― Eu seguro em
seu braço magro, mas ela se debate e consegue se livrar
do meu aperto.
― Até breve, Hailey Slobodin. ― Fergie dá ênfase ao
meu nome e segue até o elevador.
Simplesmente dou as costas para ela e fecho a porta
com força. Vou até Ezra, que resmunga algumas palavras
desconexas enquanto mantém seus olhos fechados.
Silenciosamente, eu me sento ao seu lado e começo a
acariciar seu cabelo castanho-escuro que agora está um
pouco mais comprido do que costuma usar. Por alguns
minutos, eu choro e sinto uma imensa vontade de arrancar
do meu coração o sentimento proibido que carrego desde o
dia em que comecei a fingir ser a minha irmã para
descobrir os culpados da sua morte. Quando vi Ezra pela
primeira vez, descobri que eu fraca, tanto que cheguei ao
ponto de amá-lo silenciosamente, e os sentimentos foram
aumentando conforme as visitas que ele fazia a Dylan iam
crescendo.
Me apaixonei pelos seus gestos nobres, e não pela
sua posição dentro da máfia. Às vezes, a vontade de fugir
é grande, sumir para bem longe e nunca mais poder
encará-lo, só que existe algo muito mais importante na
minha vida, e não me deixarei cometer uma loucura por um
sentimento não correspondido. Se for para suportar as
humilhações, assim o farei, mas será pelo meu sobrinho,
porque prometi a minha irmã que Dylan ficaria seguro e
seria amado enquanto eu vivesse.
Dois meses se passaram desde que voltei bêbado
para a casa, depois de um bom tempo longe de Hailey. Por
fim, decidi retomar a minha vida, ou o que restou dela.
Estou aguardando um investidor em meu cassino com o
qual me decidi reunir, e não consigo parar de pensar na
Slobodin e em todo mal que causei a ela. Definitivamente,
eu estava sendo um filho da puta, e, ainda assim, a mulher
permaneceu ao meu lado.
O que mais me irrita é o fato de ela não se importar
mais com o meu toque. Eu sempre percebi que a deixava
insegura, desconfortável com a minha presença, mas de
uns tempos para cá isso já não acontece mais,
provavelmente deve ter arrumado algum homem para
satisfazê-la.
Quem em sã consciência amaria mais o outro do que
a si mesmo?
Hailey me ensinou a importância de amar a si próprio,
me fez voltar à realidade e acordar para o que me espera.
Não será fácil, mas a minha missão precisa ser cumprida,
agora tenho um patrimônio a zelar, e além dos meus
irmãos, agora tenho uma irmã. Irmã essa que eu não vejo
há mais ou menos oito meses. Abandonei a minha família e
caí na vida, passei a não voltar para a casa desde a
reunião na mansão com meus irmãos, quem esteve comigo
todos os dias e noites foi Fergie Luther.
Fergie é um doce de mulher que tem uma paixão por
mim, e ainda é amiga do meu irmão caçula. De início,
antes da irmã de Scarlet aparecer, eu cheguei a sentir algo
pela garota, talvez o fato de ela ter um rosto angelical
soava tentador aos meus olhos. Por consequência, adotei
Fergie como minha propriedade e cuidei dela por muito
tempo, mas agora sou eu que recebo seus cuidados,
mesmo sabendo que ela tem segundas intenções comigo.
No entanto, não tenho em mente afastá-la de mim, mesmo
estando ciente de cada pensamento dela. Infelizmente,
estou completamente rendido aos encantos de Hailey.
De uma coisa eu tenho certeza, nunca irá existir uma
mulher que me interesse tanto e me deixe louco, não
enquanto houver Hailey Slobodin na jogada. Ela não
precisa saber disso, mas a diaba perseguidora provoca
sensações loucas em mim a ponto de me deixar intrigado e
revoltado por estar quase cedendo o que ambos
desejamos.
Estou há alguns minutos analisando a planilha de
gastos e investimentos dos últimos meses dos meus
negócios, que não poderiam estar indo melhor.
― Que maravilha!
Visualizo mais uma vez a linha que destaca os 30
milhões de libras, o faturamento dos últimos dois meses.
As acompanhantes que contratei estão fazendo com que
muitos velhos fodidos deixem um pouco de sua fortuna em
meu cassino. Cada dia que passa tem um cliente novo
atrás das minhas meninas, que não passam de uma
simples companhia para dar sorte para eles no jogo. Mas
as garotas, ao contrário de darem sorte, elas os distraem
para que percam cada vez mais. Minhas meninas são...
ousadas. Sempre saio no lucro, mas, claro, que sempre
tem um ou outro que questiona a sua perda, porém isso
não impede que o meu império cresça.
Ainda com um sorriso em meu rosto, atendo o
telefone que começa a tocar.
― Sr. Knight, o senhor Hays já chegou. Posso deixá-
lo entrar?
― Sim, Jenny, faça-o entrar ― falo ao fechar o Excel.
Ajeito minha gravata, em seguida desligo o computador,
não quero ninguém olhando as minhas coisas.
Em poucos segundos, ouço as batidas à porta do
meu escritório.
― Pode entrar ― ordeno.
O homem engravatado e de cabelos grisalhos entra
com uma valise nas mãos. Ele tem uma boa aparência e
parece bastante curioso com a minha presença.
― Sr. Knight, boa noite ― fala, empolgado. ― Achei
muito curioso o seu contato, nunca nenhum Knight fez esse
tipo de negócio, estou lisonjeado.
― Boa noite. Sente-se, por favor. ― Aponto para a
cadeira. ― Vamos logo ao que interessa.
― Claro, estou aqui apenas para lhe servir ― fala ao
se aproximar. O sr. Hays senta-se e, em seguida, pede
licença para colocar a maleta na mesa. ― Já aviso que o
senhor terá total liberdade de fazer uso das dependências
do empreendimento, como também testar todas as
mulheres que foram contratadas para trabalhar no local.
― Claro. Como falamos, a minha ideia é ter acesso
total às garotas que foram contratadas, testar uma a uma
para saber se o serviço prestado é de boa qualidade ou
não. Outra coisa, preciso que o senhor me mantenha
informado sobre o histórico de cada uma delas de tempos
em tempos. Não quero ter dor de cabeça com rebeldes no
futuro ― aviso para que depois eu não seja surpreendido.
― Muito menos ter problemas com identidade falsificada,
pois bem sabemos que nesse ramo o que mais
encontramos é menor se passando por mulheres adultas.
― Sim, senhor ― ele assente. ― Cuidarei para que
nada saia diferente do desejado.
Passo a mão em minha barba por fazer e encaro o
investidor que mexe na maleta e tira uma pasta, me
entregando em seguida.
― Este é o contrato. Eu o deixarei aqui, peço que leia
cada item das cláusulas e me envie as cópias assinadas
para que possamos finalizar a contratação de serviço.
― Certo. ― Abro a pasta e folheio o contrato, e de
relance olho uma ou duas cláusulas.
― O endereço do local está registrado no contrato,
dando livre acesso caso tenha interesse em conhecer de
imediato. As chaves do estabelecimento estão no local,
pois ele está em funcionamento. No estabelecimento, o
senhor pode procurar a madame Mae Harris, que no
momento é a responsável pelas meninas ― esclarece ao
fechar a maleta.
― Ok. É só isso? ― pergunto ao guardar o
documento na gaveta e trancá-la, guardando a chave em
meu bolso.
― Sim, senhor. Obrigado pela sua atenção e pelo seu
tempo. Gostaria de lembrar que o local tem um sócio
majoritário, e o senhor agora faz parte do conselho dos
sócios. Muito em breve marcaremos uma reunião para que
vocês se conheçam e possam trocar informações sobre os
empreendimentos. ― O homem se levanta e eu o
acompanho.
― Certo, aguardo seu contato. ― Me despeço do sr.
Hays, pego meu celular e vejo que Killz está me ligando,
mas decido ignorar ao guardar o aparelho no bolso.
Saio do meu escritório e sigo para o cassino para
verificar as salas de jogos. Encontro Alec no meio do
corredor me chamando, tudo que eu não preciso agora é
me encontrar com ele, então finjo não ouvir e sigo meu
caminho, mas como ele é insistente acaba me seguindo.
― E aí, cara, como você está? Você não me parece
nada bem ― fala ao se aproximar de mim perto do balcão
do bar.
― Estou ótimo, Alec. Agora pare de se meter na porra
da minha vida. ― Me viro para ele e lhe dou um olhar
mortal.
― Eu só quero o seu bem, Ezra. A maneira como
está agindo nãovai mudar em nada a sua vida. Você só vai
magoar ainda mais a sua família e seus amigos.
Olho para o chefe dos soldados da máfia Knight que
me encara não muito satisfeito com as minhas ações.
Foda-se ele, eu sei o que melhor para mim.
― Cai fora, Alec. Em momento algum pedi a sua
opinião. ― Fecho os punhos e semicerro os olhos.
― Certamente não, mas decidi que daria, gostando
ou não.
― Se já falou o que queria, pode levantar seu rabo
daí e dar o fora ― falo rispidamente ao fazer um sinal para
a bartender gostosa, que atende ao meu chamado sem
esconder o quanto deseja me dar a boceta. ― Um uísque
cowboy, por favor, Tasha. ― Aproveito a situação para
piscar para ela com malícia, que me serve com seus seios
quase à mostra no balcão do bar. Não resisto e dou um
beijo em cada um, dando um selinho em seus lábios,
fazendo com que a moça se afaste toda contente.
― Desde quando está comendo suas funcionárias?
― pergunta Alec, um tanto surpreso.
― Meu irmão comeu a dele, por que eu não posso
me divertir com as minhas também? ― Arqueio a
sobrancelha.
― Cara, você desceu no meu conceito. Quem diria
que o mais certinho dos Knight se tornaria um fodido! ―
esbraveja Alec, sua voz sobressaindo ao som do bar.
― Qual é a sua, caralho? Sou seu general, você me
deve respeito ― aviso, bebericando o copo de álcool.
― Você realmente é meu chefe, mas antes disso
você é meu amigo, e minha obrigação é alertar que as
suas atitudes estão bem controversas a sua real
personalidade. Acredito que jamais faria o que acabou de
fazer em seu juízo perfeito ― diz como se fosse o dono da
verdade.
― Essa é a última vez que você se mete em minha
vida. E se fizer isso novamente, sua entrada será proibida
em meu cassino. Te considero muito, Alec, mas quem
manda na minha vida sou eu e ninguém mais. Espero que
você não volte aqui, pelo menos não missão. Se for para
se divertir estarei disposto a liberar umas fichas para você,
como nos velhos tempos. ― Me levanto e dou as costas
para ele.
Ao deixar Alec sozinho no bar, eu me dirijo até o salão
onde está tocando uma música. Muitas pessoas estão pelo
local, mas duas mulheres curiosamente chamam a minha
atenção ― uma morena e uma loira ―, ambas com corpos
incríveis. Não consigo deixar de notar a sensualidade que
cada uma delas emana apenas com um mexer dos
quadris.
Me aproximo um pouco mais e noto os detalhes de
cada uma. A morena tem uma silhueta perfeita, cabelos
longos e achocolatados. Ela está com um vestido preto que
parece ter sido feito exclusivamente para o corpo dela. Já
loira chama muito mais a minha atenção. Ela
extremamente sensual, mesmo que eu ainda não tenha
visto seu rosto. O seu lindo vestido azul me deixa louco, o
decote profundo nas costas vai até a cintura, e é curto na
medida certa. Preciso descobrir quem é essa mulher, algo
me diz que a vi em algum lugar. Sem me importar com os
olhares curiosos, vou até a loira e toco a sua cintura. De
imediato, ela se vira e, para a minha surpresa e decepção,
é Hailey. Ela está muito sexy e deliciosa, do jeito que eu
gosto.
― O que faz aqui? ― Minha voz sai em um rosnado.
Praguejo baixinho ao notar que a mulher que está com ela
é Alessa, que parece desapontada assim que me encara.
Sem me importar, continuo olhando para a loira à minha
frente.
― Vim fazer o que todos vem fazer em um cassino,
Ezra ― a mulher me responde com ousadia. Ela passa a
língua nos lábios pintados de vermelho e depois me
encarar com a sobrancelha erguida, como se estivesse me
desafiando.
― Não me lembro de ter permitido a sua entrada em
meu estabelecimento ― falo, invadindo o seu espaço,
ficando mais próximo possível. ― Cadê o meu filho?
― Acredito que qualquer um que tenha dinheiro para
bancar um jogo ou seja lá o que você oferece aqui tem livre
acesso ― Hailey alfineta, jogando seus fios loiros para trás.
Eu não perco a oportunidade de olhar para os seus seios.
Porra de mulher gostosa. ― E o seu filho está em boas
mãos, não se preocupe. Eu prezo pelo bem-estar dele, ao
contrário do pai desnaturado que ele tem.
Engulo em seco com a sua declaração.
― Quando tiver um tempo irei vê-lo. Tenho trabalhado
muito ― declaro, olhando em seus olhos. Por um instante,
noto o quanto as minhas palavras a machucam.
― Só não tem tempo para o filho, para a família ―
ela praticamente resmunga, como se não quisesse que eu
ouvisse.
― O que disse?
― Nada, sr. Knight. Se me der licença, vou procurar
alguma coisa mais interessante do que ficar perto do
senhor ― fala, fazendo sinal para a minha irmã, que nem
mesmo olha para mim.
― Antes de ir, leve isso.
Hailey me olha confusa e tenta se afastar de mim,
mas eu a seguro e encaro seus olhos cristalinos e seus
lábios finos. Deslizo meus dedos em seu rosto e admiro
cada parte dele, sorrindo quando ouço a sua respiração
acelerar. Para provocá-la ainda mais, beijo o seu pescoço e
vou descendo.
― Me deixe ir... seu cretino... ― pede.
Balanço a cabeça negando e inspiro o seu perfume,
logo em seguida deslizo minha barba em seu pescoço ao
roçar meu nariz em sua pele cheirosa. Sua fragrância doce
me deixa louco.
― Está vendo como o seu corpo se rende ao meu
toque? ― sussurro, mordendo a ponta da sua orelha e
soltando devagar.
― Ah... é mesmo? ― Ela roça seus lábios nos meus,
logo depois mordisca minha boca e se afasta.
Filha da puta provocadora.
― É sim. Admita, Slobodin ― murmuro, já
perturbado.
― Quem tem que admitir alguma coisa aqui é você, e
não eu ― fala com escárnio.
Sentindo que vou enlouquecer, gemo de frustração ao
vê-la rir e tirar meus braços que estão ao redor da sua
cintura.
― Porra, Hailey, não faça isso ― brado.
― Quando quer me beijar sabe dizer o meu nome
corretamente, Ezra? Sinto muito, querido, mas enquanto
você me comparar com a minha irmã não vai conseguir
nada de mim. Quem sabe eu não fique com pena dessa
sua carência e lhe dê um beijo de consolo? ― diz, me
dando as costas e balançando sua bunda de um lado para
o outro, fazendo com que os babacas que estão jogando
poker na mesa mais próxima olhem para seus movimentos
sensuais.
Penso em ir atrás dela, mas sou impedido por Alessa,
que se coloca na minha frente.
― Preciso falar com você. Podemos ter uma
conversa civilizada ou vai continuar se comportando como
um bundão? ― fala, segurando meu braço.
Sua delicadeza encanta a todos, mas eu não estou a
fim de cair no jogo dela.
― Seja breve, o cassino está cheio e preciso ficar
atento para que ninguém arrume confusão e estrague
meus negócios ― falo, tirando sua mão do meu braço.
― Calma... não vim te cobrar nada, quero apenas
isso.
Fico surpreso quando ela me dá um abraço caloroso,
que há muito tempo não sei o que é.
Alguns meses se passaram sem que eu tivesse apoio
dos meus irmãos. Eu os ignorei como um covarde todo
esse tempo, mesmo tendo uma função importante dentro
da máfia. Apenas Hailey estava por perto quando eu
aparecia bêbado e machucado das brigas que eu
arrumava.
― Não faça isso, estamos em público e você é
casada. ― Tento afastá-la.
― Sou casada com seu irmão, e você é meu irmão. É
uma história confusa, mas estamos em família. ― Rindo
lindamente, ela me faz rir também. De toda essa confusão,
acabo de perceber que o único benefício que ganhei foi
ela, mas ainda não quero assumir essa realidade bruta.
― Pronto, você conseguiu o que queria, agora posso
ir embora. ― Retomo a minha postura anterior.
― Tudo bem ― Lessa fica constrangida ―, você
pode ir embora já que não quer ficar perto de mim. Eu vim
aqui essa noite só para te ver e saber se está tudo bem. Na
verdade... quero mais que isso, mas sei esperar. A hora
que você quiser, estarei a sua disposição, meu irmão. ―
Suas palavras acolhedoras me acertam como um soco no
estômago.
Não digo nada, só a encaro sem nenhuma expressão.
Eu sei que o meu comportamento gélido a afeta.
― Serei sempre a sua irmã, ainda é desconfortável e
bem estranho, mas... nunca tive ninguém e agora que sei
que o tenho,me conforta bastante. Quero que saiba que eu
o amo, apesar de sabermos recentemente da nossa
ligação ― Alessa termina de falar, com os olhos
marejados. ― Se quiser conversar pode me procurar.
Ela toca o meu ombro e eu faço um meneio de
cabeça antes de dar as costas e sair andando, deixando-a
sem dizer uma palavra sequer.
 
― Vamos lá, Hailey! Você está muito molenga! ―
grita Alessa, me golpeando na costela e me derrubando no
tatame.
Há dias estamos vindo ao galpão treinar, minha amiga
e eu decidimos que precisamos disso. Quanto mais
preparadas para uma luta, mais forte estaremos em nossa
viagem para a Rússia.
― Você está pegando pesado! ― reclamo, limpando
o suor na minha testa. 
― Nunca disse que pegaria leve ― diz ela,
posicionando os punhos. 
Seu cabelo achocolatado está preso em duas tranças
embutidas, assim como os meus. Minha amiga está tão
suada quanto eu, comprovando o nosso esforço nesse
treino. 
― Malvada! ― brinco, olhando seus movimentos
traiçoeiros. 
A distração de Alessa me ajuda, então eu a golpeio
com uma chave de braço. Não faço muita força para não
lesionar a articulação do seu cotovelo.
― Eu estava distraída, jogou sujo ― exclama Alessa,
se soltando dos meus braços.
― Vejo que hoje é o dia das garotas. ― A voz sexy e
divertida me faz fechar os olhos e suspirar. Mais uma prova
de que estou precisando de sexo.
― �������! Eu não acredito! ― O grito estridente da
minha amiga quase me deixa surda.
Ao me levantar, meus olhos recaem rapidamente
sobre dois homens gostosos que possuem o porte atrativo.
Eles parecem ter acabado de sair do exército, e suas
roupas fazem jus aos meus pensamentos. 
― O bom filho a casa torna ― fala o ex-segurança
dela, fazendo-a sorrir. ― Também senti sua falta.
― Por onde esteve? ― pergunta Alessa, arqueando
a sobrancelha escura. 
― Há alguns meses estive no Afeganistão, o general
Shabir Yusuke precisou dos meus serviços ― revela
Enrique enquanto coça a barba, seu sorriso o tempo todo
presente.
― Fui esquecido?
Fico de queixo caído ao ouvir a voz deliciosa do loiro
que acompanha o ex-segurança da minha amiga. Sem
vergonha alguma, eu faço uma inspeção no gato, que
parece ser bem atrevido. 
― Nunca, amigo. Oi, Hailey ― Enrique me
cumprimenta, sem graça e desviando os olhos em direção
ao amigo.
― Posso me apresentar sozinho, amigo ― o homem
corta Enrique, dando um passo à nossa frente. ― Me
chamo Joseph Rules, parceiro de guerra desse cara aqui.
É um prazer conhecê-la ― galanteia Joseph, me lançando
uma piscadela. 
― O prazer é todo meu. Sou Hailey Slobodin ― me
apresento, estendendo a mão em sua direção.
O safado sorri de lado e desliza seus lindos olhos
claros pelo meu corpo. 
― Gosto da sua ousadia, Hailey, vamos nos dar muito
bem. ― Ele retribui o aperto de mão dando um sorriso
malicioso... e que sorriso! Certamente muitas calcinhas
devem ficar molhadas, como a minha está agora.
― Rapazes, foi ótimo vê-los, mas preciso me trocar,
logo mais tenho um compromisso que ainda preciso
convencer a Hailey a ir comigo ― fala Alessa, me puxando
para perto dela.
Confusa, eu a encaro e sou recebida por seu olhar
feio. Só me faltava essa, Alessa com ciúmes de mim com o
loiro atrevido. 
― Tudo bem, depois nos falamos. Dessa vez prometo
não sumir sem explicar as razões ― o moreno fala sem
tirar os olhos de Lessa.
Ela sorri, acredito que esteja muito feliz com a volta
do amigo. 
Talvez seja burrice da minha parte estar de novo no
mesmo ambiente que Ezra. Começo a achar que ter me
deixado levar pela insistência da Alessa não foi uma boa
ideia, mas parece que quanto mais aquele desgraçado
finge não se importar, mas eu me preocupo com ele. Eu sei
que por trás daquela máscara ainda existe o homem
íntegro que ele era antes de descobrir toda a verdade
sobre mim e Scar.
― Já disse que você está linda? O meu irmão não
sabe o que está perdendo ― constata Alessa, me fazendo
rir.
― Ah, ele sabe sim. ― Ajeito meu vestido, que está
subindo a cada passo que dou em direção às mesas de
jogos. ― Mas é uma pena que não queira aproveitar a
minha disponibilidade.
― Nossa, que ousada está Hailey Slobodin. ― A
morena gargalha.
Só ela para me fazer sorrir nesses momentos de
angústia. Mais uma vez estamos no cassino, Alessa
acredita que se insistir, Ezra irá cair na real e voltará a ser
como era antes, o que eu duvido muito.
― Decidi o rumo que devo tomar em minha vida. ―
Lessa me ouve com atenção. ― Não existe só um homem
no mundo, além disso, sou uma mulher linda e jovem,
mereço conhecer novas pessoas.
― Estou de acordo, mas vocês se gostam e fariam
um belo casal ― solta ela, sem vergonha alguma.
― Ele me odeia, tem aversão a mim. Jamais quero
ser lembrada ou odiada pelo fato de as pessoas saberem
que Scarlet era minha irmã gêmea e acharem que sou
igual a ela, ou até pior.
― É complicada essa situação, Hailey, mas pense
comigo...
― A verdade dói, eu sei. Mas às vezes preferiria ter
morrido no lugar da minha irmã, assim ela estaria, quem
sabe, cuidando do filho. ― Suspiro com pesar.
― Por que pensa dessa maneira? Céus, foque aqui,
Hai! Scarlet está morta porque mereceu, fez mal para as
pessoas, traiu a nossa família. Ela cavou a própria cova ―
exclama a mulher furiosamente, seus olhos âmbar me
fuzilando.
― Não diga isso. Apesar de tudo, ela também era um
ser humano. ― O meu peito fica apertado, minha garganta
se fecha e meus olhos ardem, sinto que a qualquer
momento posso chorar. Ainda que eu e minha irmã não
tenhamos crescido no mesmo lar, e Scar não tenha sido
uma boa pessoa, ela não teve culpa de ter sido educada
por um homem cruel e sem caráter. Apesar dos pesares,
éramos gêmeas, ela era uma pequena parte de mim. A sua
dor de antes agora é minha, infelizmente, ter o mesmo
rosto da minha irmã é o que me leva a ser condenada
pelas pessoas ao meu redor, principalmente Ezra, que não
perde uma oportunidade de me punir com suas palavras
duras.
― No nosso mundo não existe esse lema, entenda
isso. Após a morte de Conan, eu aprendi a duras penas
muitas coisas e, acredite, foram muitas... Principalmente
quando soube que Viktoria e ele tiveram um caso. ― Sua
voz me tira dos meus pensamentos.
― Desculpe por me lamentar... entendo a sua dor ―
falo e desvio meus olhos dos dela.
― Vamos parar de pensar no passado. Foco no
presente!
Alessa me faz sorrir como ninguém.
― Tudo bem, chega de falar de coisas negativas. ―
Por fim, me dou por vencida. ― Aonde iremos? Parece que
ele não está por aqui. ― Olho o ambiente elegante e
movimentado com clientes vips e mulheres os
acompanhando circulando pelo local.
― Já sei onde Ezra se encontra ― diz, enquanto me
deixa para trás e caminha a passos largos até o bar. Alessa
é uma mulher linda, sua beleza atrai muitos olhares
masculinos, não é à toa que Axl mata e morre por ela.
Admiro o amor deles.
― Uma bela dama sozinha em um cassino é um bom
sinal.
Estremeço ao ouvir a voz maliciosa. Tenho certeza de
que não conheço essa pessoa, mas não tenho uma
sensação muito boa. Ignoro o desconhecido e me apresso
para ir atrás de Alessa, que conversa com um cara que
jamais vi em minha vida. Continuo andando até que o
homem de voz maliciosa pega em meu braço, me virando
para si e apertando meu corpo ao dele.
O que esse homem pensa da vida? Que sou uma das
acompanhantes do cassino?
Tento me afastar do seu aperto, mas não tenho
sucesso.
― Uma mulher gostosa como você precisa de um
homem viril como eu. Pode sentir meu volume
pressionando em seu corpo? ― fala ele.
Continuo me debatendo para afastar o louco de mim.
― O senhor pode, por gentileza, me largar? Ou
precisarei chamar a segurança para fazer com que você se
ponha em seu lugar? Não trabalho aqui nem tão pouco
estou disponível ― enfurecida, falo para o homem, que
solta uma gargalhada.
― Qualquer mulher aqui está disponível para mim, e
você não é diferente das outras ― em tom esnobe, ele
rebate.
Minha tentativa de amedrontá-lo falhou,pelo jeito.
Viro-me para trás e vejo Alessa vindo em minha direção
com um olhar furioso, presumo que algo esteja
acontecendo atrás de mim, uma vez que não consigo ver
nada, pois o corpo do maluco está bloqueando minha
visão.
Com mais ousadia ainda, ele aperta minha bunda e
eu soco seu peito com força, em uma nova tentativa de me
soltar. Rapidamente ele se afasta, então ouço a voz de
Ezra, só não consigo entender bem o que diz, pois me
encontro atordoada.
Ele puxa o homem com brutalidade, que acaba me
empurrando e me fazendo bater em uma mesa. Por sorte,
Alessa está perto o suficiente para me segurar e evitar a
minha queda. Tudo acontece rápido demais, poucas
palavras acaloradas e um Ezra furioso saca a Glock, como
se não se importasse com a plateia ao redor.
― Guarde isso agora! ― exclamo, preocupada.
Assustada, olho para Lessa, mas ela parece estar do lado
do irmão quando me segura para que eu não me envolva.
Já consigo ver o chão banhando de sangue, e as
mãos de Ezra sujas com ele.
― Hamilton e Emery, peguem esse senhor e o levem
para a sala. Quero ter uma conversinha com ele em
particular. ― O homem, que tem fúria nos olhos, coloca a
arma de volta no coldre e faz um sinal com a mão.
Dois homens aparecem, já preparados para qualquer
comando.
― Está louco? Você sabe quem sou eu? Não ousem
me tocar, seus fodidos! ― o desgraçado que não sei o
nome grita quando os homens de Ezra o pegam e o
arrastam para longe.
O que vai acontecer com aquele saco de merda eu
não sei, mas imagino que não será nada bom, pois os
olhos do Knight demonstram frieza.
Cacete, o que aconteceu com Ezra?
Ele me encara por alguns instantes sem dizer uma
palavra sequer. Murmúrios são ouvidos pelo salão de
jogos, porém, ninguém é capaz de recriminar a atitude
Ezra. Mas quem seria doido o suficiente para enfrentar um
membro importante da máfia inglesa? Eu não seria.
― Venha ― Alessa toca o meu ombro ―, precisamos
beber alguma coisa. Você está pálida demais ― conclui
com uma tranquilidade que me apavora. Ela realmente está
mudada, aceitou seu legado e poder herdado.
― E vocês duas, deem o fora do meu cassino, aqui
não é lugar para mulheres como vocês ― ordena Ezra,
então nos dá as costas e vai na mesma direção em que os
seguranças levaram o homem.
― Vamos embora daqui, a babá do Dylan deve estar
preocupada. E eu também enojei desse lugar.
Sei que ela só quer minimizar a minha dor, e
agradeço por isso.
Faz quinze minutos que espero a madame Harris,
odeio atrasar meus trabalhos por culpa de pessoas
irresponsáveis, precisarei ter uma conversa séria com ela
antes que eu inicie esse trabalho. Não desejo gastar tanto
e depois ter prejuízo, embora eu tenha dinheiro de sobra.
Não aceito trabalhar com pessoas irresponsáveis, e essa
madame não está me passando uma boa impressão.
Encosto minhas costas no espaldar da cadeira e
fecho os olhos, lembrando-me da noite anterior, quando
deixei todos os demônios que mantive enjaulados saírem
assim que aquele filho da puta ousou tocar em Hailey.
Perdi a cabeça totalmente. Minha fúria falou mais alto
dentro de mim. Ele pagou um alto preço por ter tocado no
que é meu.
Sinto-me possessivo em relação a ela. Sinto ciúmes
dela. Muito ciúmes. Eu o teria matado naquele salão, mas
consegui me controlar antes que eu desse um show.
Sinto um soco em meu estômago ao perceber que
fico descontrolado só de imaginar que outro homem pode
colocar as mãos nela.
― Me deixe ir... Por favor... Eu não sabia que ela era
sua mulher... Me perdoe! ― A forma como seus lábios
tremem me faz sentir a porra de um sádico.
O cuzão, que descobri se chamar Dener Mitchel, está
sentado na cadeira com as pernas e os braços presos com
correntes, chora e implora por clemência enquanto me
delicio com as lágrimas que rolam por seu rosto
ensanguentado.
― Por favor... não me machuquem mais... Eu já não
aguento mais. ― O homem cospe sangue, em seguida,
baixa a cabeça e chora.
Estou sentado a poucos metros dele, com meus
braços cruzados sobre o peito. Faço um gesto com mão
para meus soldados, que voltam a esmurrar o rosto do filho
da puta que ousou tocar em Hailey.
― Não... Faça isso... Tenho esposa, só me deixe ir ―
fala assim que meus homens param de atingi-lo.
― Não ouvi bem, sr. Mitchel. O que disse? ―
pergunto com escárnio antes de me levantar e seguir a
passos lentos até ele.
Hamilton e Emery se afastam assim que lanço um
olhar para eles.
― Minha esposa está grávida, não posso morrer. ―
Dener soluça, e eu não consigo segurar a risada amarga.
― Tem mulher, mas estava em meu cassino mexendo
com outra? Porra, você é muito fodido. Talvez eu arranque
seus olhos ou corte seu pau e enfie na sua boca, para
aprender que não deve olhar e nem ficar excitado com
mulheres que não te pertencem. O que você acha? ―
Enfurecido, seguro seu cabelo com uma mão e puxo sua
cabeça para trás enquanto a outra aperta seu pescoço com
força suficiente para que ele grite como um maricas.
 ― Por Deus, eu não sabia. Juro. ― O corpo dele
treme, assim como a voz que há pouco era firme e
soberba, quando atacou Hailey.
O que o medo e a dor fazem com uma pessoa.
― Me traga a faca. ― Emery faz o que mando. ―
Matar você será um favor à sua esposa e seu filho ―
afirmo com a voz sombria. Aperto com mais força seu
cabelo quase grisalho, e Dener arregala os olhos. ― Saiam
― ordeno aos dois homens que simplesmente assentem,
deixando-me com meu mais novo brinquedinho.
Passo a lâmina afiada em suas pálpebras
machucadas, fazendo um caminho lento até as bochechas,
desenhando padrões irregulares em sua pele como se ela
fosse a porra de uma folha de papel. O corpo do homem
chacoalha quando a lâmina alcança os lábios, cortando-o
em pequenas fatias verticais.
O líquido vermelho escorre por seu rosto e eu me
delicio com a cena, mas é a dor que enxergo através de
seus olhos que me acalenta e satisfaz. Eu poderia parar e
poupar a vida dele, mas não quero, na verdade, não
consigo. Estou faminto e minha fome só pode ser saciada
com o sofrimento do idiota. É insano, irracional. O demônio
em meu interior grita para ser libertado e se alimenta da
dor que provoca aos outros, assim como eu.
Só vou descansar quando derramar a última gota de
sangue de Dener Mitchel.
― Ahhh... Ahhhh... você é louco! ― ele grita.
― Sim, eu sou ― admito sem constrangimento, pois
é a verdade.
O fodido tenta inutilmente se libertar e me irrita pra
caralho. Ainda nem comecei e o babaca acha que pode
fugir do seu destino. Ele não vai.
A lâmina afiada segue rasgando sua pele até a
orelha, contorna o lóbulo, e como um maldito psicopata,
espero Dener abrir os olhos para cortá-la com um único
movimento. Ele grita desesperadamente, mas até nisso o
desgraçado é azarado. Apenas uma parte da cartilagem
despenca no chão, como um pedaço de merda. Sangue
jorra em cascata, sujando minha camisa limpa. Odeio essa
merda.
― Por que está fazendo isso? ― Sua voz é quase um
lamento de tão fraca.
― Para você aprender ― respondo friamente, usando
o aperto em seu cabelo para virar a cabeça de lado.
Preciso de um ângulo melhor, só assim vou finalizar essa
porra direito.
― Aprender o quê? ― sussurra. Lágrimas se
misturando ao sangue formam pequenas poças em seu
rosto.
― Os cinco sentidos.
Ergo o braço o suficiente para que o golpe seja eficaz,
de cima para baixo, jogando no chão o que restou da sua
orelha. Mais gritos, mais sangue, mais dor. O monstro não
parece satisfeito, no entanto. Ele quer se saciar e... porra!
Eu sou o único que pode dar o que ele quer.
― Audição, paladar, olfato, tato e visão ― murmuro,
enquanto Dener enfraquece e chora como um garotinho
assustado.
Seguro seu queixo com força, enfio a lâmina inteira
em sua boca e rasgo sua garganta, fatiando sua língua.
Seu corpo estrebucha e se contorce de dor, estimulando a
adrenalina que me deixa maluco. Trinco o maxilar, ansioso.
Meu braço se agita, empolgado, subindo poucos
centímetros acima da cabeçade Dener, apenas para
descer mais rápido, mais impetuoso e mortal.
Dois golpes rápidos perfuram seus olhos, espetando
com fúria um de cada vez. Dentro e fora, rápido e seco,
esbulhando os globos oculares que dilatam e sangram. O
monstro coordena toda a ação, mas é meu corpo quem
executa e promove o pavor.
A lâmina pintada de carmim se afunda em suas
narinas estreitas impiedosamente, ignorando o tamanho
desproporcional, rasgando e abrindo sua carne dura como
um bife malpassado.
Muito sangue. O fodido é uma fonte de líquido
vermelho. Denso e quente.
― Você podia ter olhado para a minha mulher, ouvido
o que ela tinha para falar, cheirado seu perfume e até sido
educado com ela ― vocifero, enquanto uso a barra da
camisa para limpar a faca. ― Mas não deveria ter tocado
no que é meu. Agora é tarde, porque nunca mais vai tocar
em porra nenhuma. E eu vou garantir isso.
Um a um, os dez dedos caem aos pés do monstro.
Tato, o último dos sentidos. Finalmente, o monstro
está alimentado. Pelo menos por enquanto...
Sou arrancado dos meus pensamentos quando a
porta preta é aberta. Passo a mão na barba e me ajeito na
cadeira.
― O que... ― A mulher me encara, surpresa por eu
estar sentado em sua cadeira.
Os olhos dela são verde-esmeralda, lindos. Seus
cabelos são encaracolados, cachos rebeldes, mas bem
cuidados. No geral, a mulher é linda, mas não é meu tipo,
acho que nenhuma é quando se está desejando pra
caralho outra, porém meu orgulho e instinto de proteção
falam mais alto.
― Sou Ezra James ― me apresento ao me levantar,
mesmo tendo a certeza de que ela sabe quem sou. Não
custa nada clarear a memória dela para que saiba com
quem está lidando.
Sento-me na cadeira à frente dela e arrasto minha
valise para o meu lado, enquanto madame Harris se
posiciona onde segundos atrás eu estava acomodado.
― Me perdoe pela demora, sr. Knight, tive um
imprevisto ― diz a mulher, em um tom profissional.
― Espero que isso não volte acontecer, não tolero
trabalhar com pessoas descompromissadas que acham
que podem chegar no horário que bem desejar ― falo
friamente, verificando as horas no relógio em meu pulso.
Madame Harris arregala os olhos.
― Tenho certeza disso, na noite anterior o senhor fez
questão de deixar isso muito claro ― declara, deixando
claro que entendeu meu recado. ― Mas podemos ir ao que
interessa?
― Já devíamos ter começado ― retruco, impaciente.
Pego minha maleta e a coloco sobre a mesa, abrindo-a e
tirando uma pasta em seguida.
― O sr. Hays me disse que quer algumas
informações sobre as meninas ― comenta, educadamente.
― O que quer saber? Estou à disposição.
Sem me conter, lanço um sorriso malicioso a ela
quando fixa seus olhos em mim.
― Quero saber tudo sobre elas, desde quais doenças
já tiveram até a última coloração de seus cabelos. Dossiê
completo de cada uma. ― Folheando minha pasta agora
aberta, pego o contrato para darmos início a nossa reunião.
― Não será um problema, já tenho esses dados. Tive
o cuidado de coletá-los assim que o sr. Hays me acionou
― fala, abrindo uma gaveta e tirando uma pasta cheia de
documentos. ― Aqui, pode conferir as informações das
minhas meninas, tem tudo o que precisa saber nesses
papéis, sr. Knight.
― Ótimo. Gosto de lidar com pessoas eficientes,
madame Harris. ― Abro a pasta e olho atentamente alguns
papéis.
Mesmo com a cabeça baixa, consigo sentir os olhos
da mulher sobre mim, mas simplesmente a ignoro e
continuo examinando o relatório, as fotos e fichas de
algumas meninas. Todas são lindas, parece que foram
escolhidas a dedo. Mas a minha curiosidade sobre as
garotas se detém mais na idade e nos exames que
andaram fazendo durante o período que estiveram dentro
do clube.
― Tudo certo, senhor? ― inquire, curiosa.
Não digo nada, só balanço a cabeça e volto a prestar
atenção nas folhas.
― Sim ― informo minutos depois, ainda concentrado
na pasta. ― Mas vou levar uma cópia de tudo isso.
― Claro! ― responde, tensa.
Distraído, volto para a página anterior que deixei
passar sem querer e me deparo com a foto de Fergie. A
imagem me faz lembrar o quanto a amiga do meu irmão
Spencer é linda, parece um anjo. Mas... espera. O que
Fergie Luther faz no catálogo do meu novo negócio? E por
que tem um nome diferente, assim como o sobrenome?
Algo está errado, muito errado.
― Madame, esse é realmente o nome dela? ―
pergunto, com os olhos fixos na ficha de Fergie, a garota
que venho protegendo há tempos, desde que chegou ao
meu cassino.
― Qual? ― indaga a mulher. Ergo a foto de Fergie e
ela balança a cabeça em concordância. ― Sim, ela se
cadastrou com essa identidade no clube, faz mais ou
menos cinco anos.
Porra, mil vezes porra. Fergie, aquela garota com ar
de inocente, que me conquistou por alguns meses com seu
passado triste, já tinha vínculos com coisas do submundo
há anos? Antes mesmo de nos conhecermos.
― Entendi. ― Pigarreio para não demonstrar que a
notícia havia me deixado surpreso. 
― Algum interesse por ela? Se estiver, podemos
deixá-la exclusiva para o senhor ― diz a mulher, atenciosa.
― Não. Não tenho nenhum interesse ― respondo
com grosseria. Com raiva, passo a mão em meu cabelo e
solto um xingamento baixo.
― Tudo bem ― fala, parecendo sem jeito e com o
tom de voz um pouco baixo. ― Mas o que me diz da ficha
das meninas? Está do seu agrado?
As perguntas da mulher só servem para me deixar
mais atordoado. Que caralho Fergie está fazendo na ficha
do clube?
― Não tenho tempo para me agradar com nada.
Quando eu voltar, quero conhecer as garotas
pessoalmente ― declaro, recolhendo o que me interessa, a
pasta.
― Soube que pretende ficar por aqui, então seja bem-
vindo à nossa casa ― a mulher deseja calorosamente.
― Você não é paga para especular a minha vida,
trataremos apenas de negócios. ― Lanço um olhar duro
para ela, que de imediato concorda.
― C... Claro. ― Assente, tentando não mostrar o
quanto ficou afetada com o que falei. ― As portas estarão
sempre abertas, senhor.
Ignoro o gesto de respeito da mulher e caminho para
fora da sala. 
Quando saio da sala da madame Harris, Dylan
aparece em meus pensamentos. Hoje eu o verei, por muito
tempo estive afastado do meu filho, que ainda é uma
criança e não tem culpa de nada. Ele deve sentir minha
falta, ou não, e eu o entendo, me comportei como um
covarde quando deveria ter feito meu papel de pai, mesmo
tendo agora uma posição que requer muita atenção.
Ao me aproximar do salão ouço vozes altas, então
mantenho meus passos silenciosos para ver o que está
acontecendo, e me deparo com uma cena que não me
agrada muito.
― Essa porra está errada! Quando o chefe chegar,
ele vai acabar com você ― grita um homem alto e gordo,
encostado no balcão. ― E fica esperta que ele pode enfiar
uma bala no meio dessa sua boca grande, vadia!
O homem está prestes a bater no rosto da jovem de
cabelos negros.
― Se atreva a fazer isso ― falo, com a expressão
endurecida ― e será a última vez que verá a luz do dia ―
acrescento.
Ele fixa seus olhos arregalados em mim, enquanto a
mulher fica com o corpo ereto, sequer se vira para me
encarar.
― Ezra James Knight? O que um Knight faz aqui? ―
ele gagueja enquanto o encaro.
― Da próxima vez que eu vir você levantando as
mãos para uma das garotas daqui, mando arrancar suas
mãos e enfiar dentro do seu rabo gordo. ― Ignoro
totalmente a sua pergunta ao ameaçá-lo.
― Me perdoe, senhor... Nunca mais toco em
nenhuma garota daqui. ― O homem abaixa a cabeça e
passa a mão em seu cabelo loiro-escuro.
Satisfeito, eu me aproximo mais das duas pessoas e
estranho quando a morena, que ainda se encontra de
costas para mim, começa a tremer.
― Saia daqui, garota ― ordeno.
― Sim, senhor ― ela sussurra, correndo para longe
com seu corpo trêmulo.
Por que essa mulher se rendeu tão rápido às minhas
ordens? Ela pareceu tão submissa. Não creio que já
tenham espalhado a notícia da minha sociedade no bordel,
há algo por trás disso tudo e eu irei descobrir.
― Comose chama? ― pergunto ao homem que
antes parecia ter coragem o suficiente para machucar uma
pessoa indefesa, mas agora está com a cabeça baixa.
― Matteo, senhor ― diz, levantando a cabeça e me
encarando.
― Como sabe quem sou? ― pergunto, cruzando os
braços sobre o peito.
― Quem não sabe dos irmãos Knight pelas
redondezas de Londres? Todos que sabem dos negócios
do submundo conhecem o senhor e a sua família. ― Ele
coça a barba, em seguida desvia os olhos para a garrafa
de bebida no balcão.
― Não te perguntei sobre a minha família, perguntei o
que sabe sobre mim ― rosno, espalmando as mãos na
madeira marrom e estreitando os olhos.
Quando vejo que a cor foge do seu rosto, eu tenho
vontade de rir. Ele está apavorado antes da hora, nem
mesmo estou irritado.
― Sei que o senhor, além de ser um Knight, é um
Ivanov. É herdeiro de duas máfias, evidentemente
poderoso ― revela, com a voz falha.
― Se sabe tanto de mim, leve isso como um aviso.
Jamais toque nas mulheres desse lugar, elas estão aqui
por livre e espontânea vontade. Não estão aqui para
apanhar, e sim para trabalhar. ― Lanço um olhar duro em
sua direção e vejo o medo atravessar seu rosto.
― Claro. Peço perdão mais uma vez. ― Matteo
balança a cabeça.
Vai ser um bom investimento, mas tenho consciência
que dará mais trabalho que o cassino, porém, estou
disposto a encarar o que vier, afinal de contas, sou Ezra
James Knight, herdeiro de Kurtz James Knight, um homem
que nunca fugiu de uma boa guerra.
― Espero que tenha entendido o meu recado, caso
contrário, serei obrigado a te ensinar como é que se bate
em alguém. ― Finjo um sorriso antes de dar as costas para
ele e sair do local.
Quando entrei no prédio, vi que os homens de Killz
estavam fazendo a segurança da noite. Com a cabeça
apoiada na porta do meu apartamento, tento tomar
coragem para enfrentar Hailey. Por alguns minutos fico com
a mão na maçaneta, mas sou surpreendido quando alguém
a abre, fazendo meu corpo ir para a frente.
― Oh, merda ― Hailey diz.
Desço meus olhos para os trajes dela e engulo em
seco, em seguida me recomponho. A mulher à minha
frente, com ou sem produção, faz qualquer homem ficar
louco, mas essa Hailey de agora me deixa de boca aberta
e cheio de ciúmes.
Encaro com fascínio a irmã de Scarlet. Com um
vestido curto da cor creme, que tem um decote em �, com
pedras por ele todo, e os cabelos loiros soltos com uma
certa ondulação... porra ela está maravilhosa. Seus lábios
pintados em um tom rosa-claro e olhos marcados com
grandes cílios realçam a beleza de seus lindos olhos. A tia
de Dylan me olha com seriedade, como se estivesse
questionando a minha presença no meu próprio
apartamento.
― Boa noite. Está de saída? ― Coço a nuca, ainda
olhando para ela, porém, não obtenho resposta alguma.
― Pai? ― Dylan grita e vem até mim.
Só quando ouço meu filho que percebo a presença da
minha irmã. Isso soa tão estranho.
― Oi, garotão. Senti saudades. ― Me agacho para
poder abraçá-lo.
― Alessa, o Dy já está pronto, preparei tudo para que
possa levá-lo ― avisa Hailey, ainda ignorando a minha
pergunta.
― Hailey, podemos nos falar em particular? Coisa
rápida. ― Dou um beijo na testa de Dylan, em seguida,
Alessa pega na mão dele sem me dizer uma palavra. Fico
grato pelo gesto dela em nos permitir falar sem meu filho
por perto
― Vamos ali, querido ― minha irmã fala ao se afastar
com o menino, que é minha cópia fiel quando eu era
pequeno.
― Ezra, depois de tantas tentativas de conversas
com você, somente hoje você decidiu tirar um tempo pra
falar comigo? Realmente, as pessoas são decepcionantes
― fala com atrevimento, jogando os cabelos para trás.
― Eu só quero conversar, Hailey. ― Fixo meus olhos
nos dela, que estão semicerrados em minha direção. Ela
está com raiva, conheço-a muito bem.
 ― Você tem dois minutos, minha carona está
chegando e não posso me atrasar ― conclui, andando até
o quarto de hóspedes.
Ela não me quer no quarto dela e não quer ir até meu
quarto também. Silenciosamente, caminho atrás dela sem
tirar os olhos da sua bunda maravilhosa.
 Caralho, essa mulher é gostosa demais. Puto
com meus pensamentos fodidos, passo a mão no rosto e
solto um palavrão baixinho.
Hailey abre a porta e fica de frente para o espelho,
então nossos olhos se cruzam por ele.
― Cinquenta segundos, Ezra. Seu tempo está
acabando, vai falar ou ficar admirando minha bunda
descaradamente? ― ela diz, cheia de raiva.
Ah querida, eu poderia fazer os dois, acredite. Penso
mil loucuras que desejo fazer com essa mulher, mas decido
tomar um caminho diferente.
― O que tenho a dizer é bem interessante. Posso me
aproximar de você ou corro risco de ser enforcado? ― falo
em tom sério, mas por dentro estou sentindo vontade de rir.
― Estamos próximos o suficiente ― fala, enquanto
me aproximo mesmo com a sua negativa.
― Você poderia se virar e me ouvir, loira? ― pergunto
em tom baixo ao mesmo tempo em que a vejo me desafiar
com seus lindos olhos claros por tê-la chamado de loira.
― Diga logo o que quer, e, por favor, se afaste um
pouco. ― Ela dá um passo para trás e abre as mãos na
frente do meu peito com a intenção de me afastar, sem
sucesso, claro.
Aproveito a sua tentativa e a pego pela cintura com
carinho, quebrando toda e qualquer barreira que havia
entre nós.
― Hailey, eu gosto de você. ― Acaricio sua pele por
cima do tecido.
Por algum tempo, ficamos nos olhando, mas Hailey
de repente fala:
― Gostar todos gostam, Ezra. Não estou entendendo
a sua mudança inútil, isso só prova a minha teoria. ― A
loira não contém a fúria na voz.
― Está enganada, não sabe dos meus motivos... Não
sabe por que não podemos ficar juntos. Ainda. ― Giro
nossos corpos e a empurro sobre a cama.
Caindo por cima dela, prendo seus movimentos e
sinto sua respiração ofegante enquanto nos encaramos
profundamente. Não perco tempo antes de a tomar com
um beijo desesperado, como se fosse o nosso último.
Acaricio seus braços com ternura, tentando
demonstrar o que não consigo colocar em palavras. Hailey
coloca as mãos em meus cabelos e as desliza para a
minha nuca e começa a retribuir o beijo intensamente. Ela
está tão inteira, tão entregue. Vagarosamente, subo o seu
vestido e paro quando Hailey me empurra para o lado. Não
crio resistência, acreditando que virá para cima de mim.
Ledo engano, a diaba se levanta e arruma a roupa e os
cabelos, depois se vira para mim.
― Retornarei por volta das quatro horas da
madrugada, se quiser conversar, esteja aqui nesse horário.
Afinal de contas, nada do que fez até agora me interessou
― fala, limpando os lábios borrados de batom.
― Caralho, Hailey! ― urro, frustrado enquanto
continuo deitado na cama, com as mãos no rosto.
Saindo rebolando, ela bate a porta com força e me
deixa furioso na cama, sem saber se devo ir atrás dela ou
ficar onde estou. Pego o celular do bolso e mando uma
mensagem de texto para Spencer.
“Mande três homens seguirem Hailey a distância para
que ela não note a presença deles.”
Ao terminar de enviar a mensagem, eu me levanto da
cama e só neste momento reparo a grande ereção. Porra,
a mulher me atiça e depois saí, me deixando de pau duro.
“Para quem não queria saber da gêmea está bem
possessivo, irmão.”
Essa é a resposta de Spencer. Desgraçado! Solto um
grunhido e digito para ele, com raiva.
“Vá se foder, Spencer. Só faça o que estou
mandando.”
Em poucos minutos tenho a reposta.
“Claro, chefe! Ah, o nome dele é Joseph.”
“O quê?”
Envio a mensagem com a sobrancelha franzida, sem
entender a sua resposta.
“A sua lerdeza não me surpreende. Quando perder a
Barbie gostosa, não venha choramingar para mim e Carter,
seu fodido”
Ignorando meu irmão, guardo o celular no bolso e
decido encarar Dylan e Alessa.
Pego um táxi na esquina do prédio de Ezra, eu não
dei o gostinho de dizer que sairia sozinha, na verdade, não
devo satisfações a ele.
Alessa sugeriu que eu tirasse uma noite para mim, de
início achei loucura, mas depoisde pensar melhor, decidi
que tentarei dar um rumo para a minha vida, que farei
novas escolhas, e nada melhor que uma noite para me
divertir.
― Senhora, chegamos ― diz o motorista, me tirando
dos meus pensamentos.
― Ah sim. Obrigada. ― Tiro o dinheiro da carteira e
entrego a ele antes de sair do carro. Respiro fundo, ajeito
meu cabelo e... Vamos lá, Hailey, essa noite é sua!
Atentamente, olho para o local na minha frente e sinto
o frio na espinha bater. Com as mãos trêmulas, engulo em
seco, depois fecho os olhos procurando forças para seguir
em frente.
A noite está fria e me arrependo por não ter trazido
um casaco, mas saí com tanta pressa, que não me lembrei
de nada, quer dizer, somente dos lábios de Ezra contra os
meus e aqueles lindos olhos esverdeados me encarando
como se quisesse mais de mim.
― Boa noite ― a mulher alta e elegante me aborda
na entrada do bar. ― A senhora tem reserva? ― Ela me
mede dos pés à cabeça.
― A sra. Knight me disse que o lugar é bom para
passar o tempo. ― Quando toco no nome da minha amiga,
a mulher arregala os olhos negros e depois dá um sorriso
sem graça ao me dar passagem.
― Sra. Aubrey ou Alessa? ― ela pergunta, curiosa.
Passo a língua entre os lábios e solto um riso baixo,
então me viro para encarar a morena, que me olha com a
testa franzida. Por que esse súbito interesse dela?
Ai, ai, eu sou muito desconfiada. Decido relaxar e
responder de uma maneira que cale a boca dela.
― Para você ter saído do lugar e me dado acesso,
acredito que só o sobrenome delas já basta para que eu
possa me divertir essa noite ― concluindo, dou as costas
para a interesseira, porque sei que ela não causará
problemas para mim, então sigo o meu caminho.
Quando enxergo a pequena pista de dança, abro um
sorriso e jogo os cabelos para trás ao me encaminhar para
o enorme balcão onde as pessoas conversam e riem alto.
Aproximo-me a fim de pedir uma bebida, mas alguém toca
no meu ombro.
― Quer dançar, loirinha gostosa? ― o homem
bêbado pergunta, encostando seus lábios nojentos em
minha orelha.
Puta que pariu. O que esses machos escrotos acham
que eu sou? Furiosa, eu me viro e semicerro os olhos,
pronta para fazer o filho da puta engolir as palavras, mas o
rapaz vestido com um avental marrom do outro lado do
balcão se manifesta, para a sorte do escroto, pois eu seria
capaz de arrancar suas bolas e fazê-lo engolir, uma por
uma.
― Brandon, deixe a moça em paz ― o barman pede.
O homem baixinho e barbudo solta uma gargalhada.
Deus, as confusões estão caindo de paraquedas no
meu colo ultimamente.
― Não estou a fim de dançar. Caia fora antes que eu
quebre sua cara, otário! ― retruco, me afastando mais do
homem.
― Ela é uma leoa, Andrew! ― Brandon, como o
barman o chamara, me olha com malícia.
― Está errado, eu sou uma cobra que a qualquer
momento pode dar o bote ― falo entredentes, fechando um
punho.
― Sr. Percy, deixe a senhora em paz ou serei
obrigada a mandar os seguranças o arrastarem para fora
daqui ― avisa a mesma mulher que me recepcionou na
entrada do bar.
O velho tarado recua rapidamente, sorrindo, só então
noto que falta um dente naquela boca.
― Obrigada. ― Agradeço a morena e dou alguns
passos para longe deles.
Começo a reparar ao meu redor e percebo que todos
estão me olhando com curiosidade, acabei sendo a atração
da noite sem querer.
― As coisas não poderiam estar melhores ― digo
baixinho ironicamente antes de colocar um sorriso falso no
rosto e respirar fundo.
Sinto alguém atrás de mim e viro meu rosto,
encontrando o velho encrenqueiro novamente.
― Por que ela é especial aqui? Por acaso é filha do
presidente? Me deixe ver... Ela é mulher de um dos
mafiosos que dizem ter por aqui, Lindy? ― Brandon ironiza
e ri, arrancando risada de alguns no salão.
A tal Lindy fica pálida e parece me pedir desculpar
com um olhar que me lança.
― Homem, você quer deixar a sua esposa viúva
antes da hora? ― ela pergunta, empurrando o homem para
longe de mim.
O que esses homens têm? Ficam insistindo mesmo
quando eu os rejeito. Eles realmente pedem para morrer.
Ignoro os burburinhos que preenche o local e sigo até o
balcão, sentando-me em uma das banquetas.
― Aquela vagabunda me traiu! Não seria nada
doloroso para ela que dissesse que uma loira gostosa me
chupou ― o bêbado diz, quase que gritando.
Finjo que nada está acontecendo, mas a minha
vontade é socá-lo até que fique sem o resto dos dentes. Só
que vou manter a calma, não quero sujar minhas lindas
mãos de sangue.
― Me dê uma bebida ― peço, passando a mão em
meu cabelo.
― Tem preferência, senhora? ― o barman pergunta.
Passo meus olhos pelas bebidas, mas não consigo
encontrar uma que me agrade.
― A mais forte que tiver por aí ― peço, engolindo a
raiva que ferve dentro de mim.
Alguns homens acham que as mulheres nasceram
para serem submissas, mas eu aprendi, na dor e na marra,
que devemos nos amar em primeiro lugar. E por mais que
tenhamos sentimentos e o cara seja um grande filho da
puta, devemos nos manter firmes e nos valorizar, porque
se não fizermos isso, quem o fará? Ninguém. Ter amor-
próprio é tudo.
Amo Ezra. Deus e a família dele sabem o quanto
meus sentimentos são verdadeiros, mas se for para ele ser
meu, será, porém, terá que mudar o seu comportamento e
ser homem o suficiente para poder me conquistar.
― Aqui ― diz o barman, me entregando o copo de
Cranberry Vodka.
― Isso me parece refrescante ― murmuro, ansiosa
pela bebida avermelhada que vem acompanhada por
algumas pedras de gelo.
― É uma das melhores. ― O rapaz se afasta quando
outro cliente o chama.
Ao levar o líquido a minha boca, me delicio com o
gosto, tanto que vejo algumas pessoas que estão próximas
me olhando com cara de espanto. Qual é? Uma mulher
não pode tomar algo forte e achar gostoso? Faça-me o
favor.
― Oh, porcaria. ― Meu celular vibra na bolsinha, e a
única coisa que me vem ao pensamento é meu menino
Dylan.
Na tela brilha o nome de Lessa.
“Deixei Dylan com o pai, recebi uma ligação de Axl
dizendo que era urgente. Tive que ir vê-lo, mas não se
preocupe que Ezra sabe cuidar do filho. Divirta-se, gata!”
Por um instante fico preocupada, mas releio a
mensagem e decido aquietar minha bunda no banco.
Há alguns meses fiz uma entrevista com uma babá
para o meu sobrinho, a coitada quase desistiu de trabalhar
para mim quando os Knight, exceto Ezra, vieram com
milhares de perguntas para cima dela, mesmo eu já
sabendo que tinham levantado a ficha da mulher. Mas, no
final das contas, consegui deixar Aurora mais tranquila e a
contratei para ficar com Dylan de duas a três vezes na
semana.
Sorrindo, digito para a minha amiga.
“Uma notícia boa essa noite. Te amo, garota”
Em poucos instantes, recebo a resposta dela.
“Verdade, amiga, mas e aí, como está você?
Encontrou algum gato para se divertir?”
Cubro a boca com a mão para abafar a risada ao
terminar de ler a mensagem que Alessa me enviou, e não
demoro muito para responder.
“Só encontrei um bêbado tarado, nada mais que isso.
É lamentável, eu sei (risos).”
Envio a mensagem, divertida, esperando por
resposta. Viro o rosto e noto que o bar está mais tranquilo,
parece que o senhor safado sumiu do mapa, alguém deve
ter dado um jeito nele.
Meu celular vibra, e eu o desbloqueio.
“Poxa, se eu soubesse teria mandando aquele amigo
gostoso do Rique ir aí te animar.”
Não contenho a risada alta, logo digito.
“Me respeite, sua safada! Cadê o seu marido, hein?”
Leio a resposta dela e me engasgo com a minha
própria saliva.
“Meu marido gostoso está tomando banho, acabamos
de transar, mas eu quero mais.”
Arqueio a sobrancelha e dou risada enquanto
escrevo.
“Deixe de ser nojenta! Não quero saber das suas
intimidades, eca.”
Só alguns minutos depois que meu telefone vibra, me
fazendo gargalhar com a sua resposta.
“Pelo amor de Deus, Hai! Quem não transa hoje em
dia? Você não é nenhuma virgem que eu sei!”
Reviro os olhos, mordisco o lábio inferior e volto a
teclar.
“Faztanto tempo que não sei o que é gozar de
verdade, amiga.”
Sem esperar a resposta dela, decido aproveitar a
noite e desligo o celular, guardando-o em minha bolsa em
seguida.
― Uma dama sozinha? Isso é pecado.
Fico toda arrepiada ao ouvir a voz extremamente sexy
e quente.
Joseph Rules. Que homem!
Não acredito que Alessa o mandou aqui. Tenho
certeza de que a safada estava me sondando para saber
se esbarrei no bonitão.
― O... Oi? ― gaguejo sem querer, girando meu corpo
no banquinho para admirar a beleza do homem.
Descaradamente, passeio meus olhos no corpo do
loiro. Ele veste uma calça jeans escura, um suéter mais
ajustado ao corpo cor vinho, marcando a sua musculatura.
Joseph arqueia a sobrancelha, em seguida, passa a mão
na barba por fazer. Não deixo de sorrir abertamente
quando sou pega.
― Não se lembra de mim? ― Ele finge estar triste,
mas em seguida sorri de lado, o que aumenta o meu
sorriso. ― Seu nome é Hailey, certo? ― O amigo de
Enrique me lança um olhar tão profundo, que juro que
estou respirando com dificuldade.
― Não conheço outra, meu bem ― brinco, e Joseph
inclina um pouco a cabeça para trás e dá uma gargalhada.
― Junte-se a mim, sr. Rules ― eu o convido, mostrando o
banco disponível ao meu lado.
― Corro o risco de ser morto? ― Joseph inquire,
brincalhão, olhando para os cantos do local. ― Ainda tenho
muitos desejos para realizar.
― Pensei que um verdadeiro soldado nunca fugia de
uma boa guerra ― falo, olhando bem em seus olhos. Em
momento algum ele foge do meu olhar, me olha como se
estivesse me desafiando.
Céus, acho que estamos flertando.
― Antes de entrar em campo preciso saber se ele é
minado ― o homem sussurra as últimas palavras com
segundas intenções.
― Wow, isso foi intenso! ― exclamo, realmente
envergonhada porque seus olhos queimam em cima de
mim.
Esse cara é bem corajoso, gosto disso. Ele me dá um
meio sorriso como se adivinhasse meu pensamento.
Constrangida, desvio meus olhos para uma mesa onde tem
algumas pessoas se divertindo. O homem me deixou tão
sem jeito, que nem tinha percebido que começou a tocar
uma música. Não reconheço a cantora, mas a voz é baixa
e extremamente sexy combina com o momento.
― Eu sou todo intenso, linda ― quando ele fala, sou
obrigada a encará-lo.
― Você não deixa nada passar, certo? ― brinco,
jogando a cabeça para trás e gargalhando.
― Por que deixar? Costumo ser bem direto, ficar de
rodeios não é comigo.
Nesse meio tempo, faço um sinal para o barman,
pedindo outra bebida. Neste instante, meu foco é outro.
― Gosto disso. ― Pisco para ele.
― Bom saber. ― Sorri de lado, em seguida muda de
assunto. ― Soube que em breve vai trabalhar com Alessa
Knight, parece que nos veremos com mais frequência. ―
Joseph passa os dedos pelos cabelos.
― Acho que sim. E agora que o Enrique está de volta,
a minha amiga se sente mais segura, a amizade deles é
linda ― confesso, sorrindo.
Ele assente, sério.
― Meu amigo sempre foi corajoso. ― Joseph elogia
Enrique, e rapidamente entendo o porquê.
― Conan se foi, mas deixou algo de bom para a
sobrinha ― comento baixinho, só para mim, talvez ele nem
saiba da história. ― Você não bebe? ― pergunto, só
percebendo agora que o barman não nos interrompeu para
entregar a minha bebida, ela simplesmente foi colocada ali.
― Não bebo. Só vim conhecer o lugar, ouvi falar
bastante daqui ― revela, abrindo um sorrisinho safado.
De repente, o ambiente fica pequeno para mim.
Nervosa, cruzo e descruzo as pernas algumas vezes.
― O que veio procurar em Londres? ― Minha
curiosidade aumenta, então pego meu copo e levo o líquido
a minha boca.
― Gosto de conhecer novos ares, e aqui foi uma boa
opção ― responde, seus olhos fixos em mim.
Coloco o copo no balcão, depois jogo meu cabelo
para trás antes de falar:
― Interessante, sr. Rules, temos aqui um aventureiro.
― Sorrio, interessada na nossa conversa.
― Já te disseram que quando sorri fica mais linda
ainda? Estou encantado por seu sorriso desde que nos
conhecemos. Por acaso é algum tipo de feiticeira,
senhorita?
Estou prestes a responder quando ouço um pigarreio
alto, e sem vontade de me virar para ver quem é, continuo
como estou.
― Atrapalho, senhores?
Quase caio para trás quando ouço a voz de Spencer,
o caçula dos Knight. O que ele faz aqui? Meu Deus... Nem
quero imaginar. Me viro e olho para o loiro que está com a
cara fechada, mas logo um sorriso perverso aparece.
Acabo de perder a paz que me restava.
― Você deve ser o Spencer James Knight ― diz
Joseph, se levantando e estendendo a mão para o irmão
de Ezra, mas o desgraçado recusa e toma o lugar que
antes era do amigo de Enrique.
― Me deixe sozinho com ela, sr. Rules ― Spencer
não pede, fala como se fosse uma ordem.
O mal-educado sequer olha para Joseph, porque está
muito ocupado me vigiando, como se a qualquer momento
eu fosse fugir. Maldito seja Ezra, desconfio que tenha um
dedo dele nessa história. Ignoro o idiota que agora me dá
um sorrisinho convencido e olho para o homem que parece
louco para socar a cara do Spencer.
― Claro, sr. Knight, com licença. Até logo, Hailey. ―
Joseph me olha como se estivesse pedindo desculpas,
mas logo se afasta.
Que porcaria! Alessa provavelmente enviou o lindo do
Joseph para me fazer companhia, mas então a sombra do
Ezra aparece para acabar com tudo. Com raiva, eu me
levanto e coloco a mão na cintura.
― O que você quer? Aquele cretino te enviou? ―
pergunto, furiosa por ele ter estragado a minha noite.
― Não posso afirmar algo que pode colocar minha
vida em risco ― Spencer debocha, piscando para mim.
Fico boquiaberta quando ele pega a bebida que era para
ser do meu acompanhante e toma de uma vez só. ― Que
delícia!
― Você é muito exibido, sabia? Parece que ser
babaca está no ��� de vocês! ― Cuspo as palavras,
revoltada.
― Especialidade dos filhos de Kurtz James Knight. ―
Ele me mede descaradamente com o olhar.
― Diga ao seu irmão que não preciso de babá, sei
me cuidar ― reclamo, fazendo sinal para que o barman me
traga outra bebida.
― O caso aqui não é esse, loira ― fala, com a
expressão endurecida. ― Eu sempre soube que era mais
corajosa que a sua irmã, não tem comparação, mas você
precisa entender que ainda temos um dos nossos inimigos
vivo por aí.
Balanço a cabeça em concordância, mas não abro a
boca para me pronunciar, simplesmente o observo.
― Lucke é capaz de qualquer coisa para atingir a
nossa família. Ainda que você não se sinta parte dela, você
é, e pior... você é o ponto fraco do meu irmão e não posso
permitir que nada aconteça a você. Hailey, você sabe que é
a fraqueza de Ezra, e se ele te perder ficará louco,
acredite. ― Sua voz sai meio sombria, me fazendo
estremecer.
Sem palavras, eu me remexo na cadeira e solto uma
respiração profunda.
― Tudo que sou hoje é graças àquele filho da puta
que ele é hoje. Sei que nada do que eu diga pode fazer
muito sentido para você, mas não posso deixar que fique
aqui exposta. Você tem duas opções, vem comigo ou eu
fico com você e podemos nos divertir. ― Ele sorri de lado e
eu reviro os olhos.
― Tudo bem, vou com você. ― Acabo cedendo ao
me lembrar que Dylan ainda precisa de mim, e morrer
agora não é a melhor opção.
Não faço isso por Ezra, faço pelo meu filho. Dylan é
meu filho do coração.
― Boa escolha, loira. Vamos dar o fora daqui. ―
Spencer estende a mão para que eu a pegue.
― Preciso pagar a conta ― falo, aceitando a sua
mão.
― Lindy, põe na minha conta, baby ― pede o safado,
piscando para a mulher que antes me olhava feio e agora
mudou totalmente o comportamento para ganhar uma
mísera atenção de um dos Knight.
― Pode deixar, querido ― diz, manhosa, batendo os
cílios.
― Que vaca! ― Reviro os olhos ao deixar o Knight
caçula para trás e seguir para fora do estabelecimento.
― Espere por mim, cunhadinha linda ― grita Spencer
para me provocar.
 Malditos sejam os Knight!
Saio do bar com Spencer, a noite tinha tudo para ser
ótima até ele aparecer. Entendo os seus motivos

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