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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ FACULDADE DE HISTÓRIA DO TOCANTINS – FACHTO ROBSON SOARES LOPES “OS AFRO-SAMBAS”: O USO DA MPB EM SALA DE AULA Cametá/Pará 2021 ROBSON SOARES LOPES “OS AFRO-SAMBAS”: O USO DA MPB EM SALA DE AULA Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado a Faculdade de História como um dos requisitos para a obtenção do grau de bacharelado em História, sob a orientação do Professor Elias Garcia Fontes. Cametá/Pará 2021 ROBSON SOARES LOPES “OS AFRO-SAMBAS”: O USO DA MPB EM SALA DE AULA Data da Aprovação: ____/____/______ Conceito: __________________________ BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Orientador _____________________________________ Profª. XXXXXXXXXXXXX Membro da Banca Cametá/Pará 2021 RESUMO No âmbito educacional, é visível a dificuldade em lecionar assuntos relacionados à musicalidade devido a vários fatores. Visto que a música contribui para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e também expressivo, com isso, podemos questionar sobre: Como a música pode ajudar na relação ensino e aprendizagem dos alunos e professores? A música como elemento estimulador, pode ser utilizada para trabalhar as habilidades da língua e os componentes do sistema linguístico, bem como para promover interação, motivação e criar uma atmosfera de aprendizagem mais prazerosa e descontraída. Por ser uma linguagem acessível, a música possibilita a professores e alunos, independente do domínio da técnica musical, a possibilidade de trabalhá-la em sala de aula. O objetivo desta pesquisa é compreender como a música, mais especificamente a MPB no enfoque dos Afro-sambas, disco composto por Baden Powell e Vinicius de Moraes, pode ser utilizada como recurso didático de aprendizagem na disciplina de história e como ela pode ser utilizada na apresentação dos conteúdos programáticos, evidenciando assim, como a música pode influenciar o homem fisicamente e mentalmente, podendo contribuir para a harmonia pessoal e facilitar a integração entre o ensino-aprendizagem de história. PALAVRAS-CHAVE: Música. MPB. Afro-sambas. História. SUMÁRIO “OS AFRO-SAMBAS”: O USO DA MPB EM SALA DE AULA 1. CAPÍTULO: Os afro-sambas e a trajetória musical brasileira no século XX 1.1 Histórico da musicalidade negra no Brasil da primeira metade do século XX: Ritmos miscigenados, polca, valsa, lundum, batuques, chorinho, samba, boi bumbá. 1.2 Movimento negro: Anos 1920 e 1930: Identidade brasileira: Mario de Andrade 1.3 Congresso brasileiro de folclore: 1951 1.4 O samba e os ritmos afro brasileiros : Geração de 1960 e 1970 2. CAPÍTULO: Os afro sambas: Baden Powell; Vinícius de Moraes, Paulo César Pinheiro, Ruy Maurity 2.1 Os movimentos culturais dos anos 1960 e 1970 2.2 O samba e a arte negra engajada 3. CAPÍTULO: O uso dos afro sambas em sala de aula 3.1 Música como facilitador 3.2 Como trabalhar com a música em sala de aula INTRODUÇÃO Em janeiro de 1966, Baden Powell (1937-2000) e Vinicius de Moraes (1913- 1980) gravaram pelo selo Forma o LP Afro-sambas, contendo oito faixas compostas pela parceria entre 1962 e 1965. Outras músicas, como “Consolação” e “Berimbau”, que foram compostas no mesmo período, não fazem parte do disco lançado em 1966. No entanto, podemos adiciona-las no mesmo conjunto de composições que chamaremos de afro-sambas, por fazerem parte da mesma linha de criação e estarem relacionadas temática e esteticamente às músicas do LP Afro-sambas. No momento de gravação do disco, em 1966, elas já haviam sido lançadas por artistas como Elis Regina, Nara Leão e Geraldo Vandré. Nos afro-sambas, que surgiram durante o período de valorização da cultura nacional e popular e principalmente no período de consolidação da MPB, os artistas trouxeram ao cenário brasileiro uma série de músicas que, através de uma elaboração própria, tematizam elementos da cultura popular afro-brasileira, mas que também se inserem no processo de modernização técnica da música popular que se intensificou a partir de meados da década de 1950, especialmente com a bossa nova. Os afro-sambas são partes do processo de disseminação de uma importante vertente da música popular moderna brasileira, na medida em que surgiram como uma das segmentações da bossa nova, mas, ao mesmo tempo, significam um retorno a formas arcaicas, primitivas, que remetem a uma visão de brasilidade ancorada em nossa ancestralidade atávica e negra. Essa operação não se dá apenas na música composta por Baden Powell, mas também nas letras de Vinícius de Moraes, que, a partir de seu lirismo, conseguiu transitar pelo universo cultural-religioso afro-brasileiro explorando temáticas como o amor e a vida. Como objetivo geral temos a dissertar sobre formação dos Afro-sambas para a MPB e sua importância como benefício voltado para a história da música negra em si, além de tratar das dificuldades e desafios, caracterizando-o como de cunho teórico e prático para o bom andamento da continuidade das mesmas. Como objetivos específicos temos: a) Apresentar a história da arte negra no Brasil, com enfoque nas dificuldades e legislações pertinentes e como se dá na prática sua efetivação; b) Destacar a importância da formação de uma consciência sobre a história da arte negra, em especial no uso da música como fator didático preponderante para o ensino da história; c) Discutir sobre o quão primordial é a promoção de fatores que facilitem o ensino-aprendizagem de história, como a música dos afro-sambas e da MPB como um todo. Justifica-se a escolha do tema por se considerar que a questão ensino- aprendizagem de história está presente no contexto do estudante. Daí, a relevância do tema por se entender que para que se possa estabelecer uma solução no mínimo atenuante à problemática do déficit na aprendizagem de história do Brasil, necessitaremos tratar de aspectos culturais, históricos, ambientais e geográficos que podem ser explorados de forma interdisciplinar para o entendimento e enfrentamento da problemática. Quando fala-se em metodologias alude-se ao fato de que são enumerados as fontes e como se deu o desenvolvimento da pesquisa. Por pesquisa científica, que aqui é o enfoque desse trabalho, temos que: Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos, em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam esses métodos são ciências. Dessas afirmações, podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada da ciência, mas não há ciência sem emprego de método cientifico. (LAKATOS E MARCONI, 2003, p. 44). Sobre os materiais temos que será uma pesquisa de caráter básico, quanto à abordagem do problema será na modalidade qualitativa. Em relação aos objetivos serão de caráter descritivo, e quanto aos procedimentos técnicos teremos o estudo bibliográfico. Como já mencionado, essa pesquisa irá se basear também na pesquisa bibliográfica que constitui uma forma coerente e benéfica para que haja a compreensão sobre determinados e renomados autores e pesquisadores na área da ensino de história, mais precisamente da utilização de fatores didáticos que propiciem o ensino- aprendizagem. Certamente teremos também ênfase na pesquisa bibliográfica advinda de artigos científicos e revistas da internet que, por sua vez, enriquecerão a fundamentação teórica deste e de modo maior a pesquisa de campo que trará o enfoque necessário para se tratar da temática. 1. CAPÍTULO: Os afro-sambas e a trajetória musical brasileira no século XX Desde o períodocolonial brasileiro, entre os séculos XVI e XVIII, com a ocupação das terras brasileiras pelos colonizadores e a grande miscigenação que vinha ocorrendo, muitos ritmos musicais foram se misturando e dando origem a novos. Essas misturas musicais de sons africanos, indígenas e europeus foram de relevância para o surgimento da MPB1 anos mais tarde. A música sempre esteve presente no cotidiano das pessoas. Porém, o hibridismo cultural que ocorreu no período da colonização com a chegada de europeus e africanos ao Brasil, mais especificamente, demonstrou que os instrumentos utilizados para produzir a sonoridade dos ritmos tinham representações diferentes em cada cultura. Aqui ressalto sobre a ligação que os instrumentos africanos têm com a religiosidade, propriamente dita, e com a simplicidade com a qual são fabricados, em sua grande maioria com produtos retirados da natureza. A música popular brasileira então é resultado das misturas de ritmos e instrumentos africanos, europeus e indígenas. A música é uma das maiores formas de representação da Arte e Cultura no mundo. No Brasil, temos alguns ritmos que são conhecidos por terem apresentado ao mundo os artistas que tiveram sua participação na trajetória histórica musical brasileira, como Vinícius de Moraes, Baden Power, Gilberto Gil, Caetano Veloso, entre outros que 1 O debate sobre música popular brasileira já é um trabalho de fôlego na historiografia. Alguns debates são argumentados por Tinhorão, Paranhos, Napolitano e outros que tratam da MPB ou de músicas afro brasileiras propriamente ditas. No site http://www.memoriadamusica.com.br, é possível encontrar dados sobre a música popular brasileira. deixaram registrados importantes acontecimentos que repercutiram no âmbito artístico cultural da MPB2. Durante o século XX a música estabelece uma história extensa de ritmos que foram responsáveis por trazer à tona uma gama de tendências que propiciaram a criação de outros ritmos, que colaboraram para que esse fosse o momento histórico mais eufórico da cultura brasileira, especialmente da música. Já em meados do século XX, o samba começou a ganhar forma, dos grandes cortiços do Rio de Janeiro se iniciaram as misturas de batuques, pagodes e batidas de homenagens aos orixás. Um grande marco em 1917 foi a música “Pelo telefone” de Ernesto Santos, o Donga, essa música ficou marcada como o primeiro samba tipicamente brasileiro. Ai, ai, ai Dança o samba Com calor, meu amor Ai, ai, ai Pois quem dança Não tem dor nem calor 1.1 Histórico da musicalidade negra no Brasil da primeira metade do século XX As músicas sejam elas de qualquer ritmo, ainda hoje, se constituem como uma ferramenta que pode ser utilizada por pesquisadores que busquem compreender determinados costumes de tempos passados, principalmente nos períodos históricos em que a música, principalmente, se tornou uma arte de resistência, para demonstrar que as insatisfações de cunho social, religioso, econômico eram presentes e através de instrumentos e letras é possível, hoje, compreendê-las. Com a entrada dos colonizadores em terras brasileiras e o início do período escravagista a miscigenação foi ocorrendo e com ela a mistura de diversos elementos que foram introduzidos na culinária, nas paisagens das grandes cidades que tiveram suas edificações inspiradas em modelos estrangeiros e se refletiu nos aspectos culturais como a dança, teatro e a música. 2 Personagens ressaltados por Zuza Homem de Mello musicólogo, especialista na história da MPB, em https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/cultura/2018/12/659737-zuza-homem-de-mello-exibe- vitalidade-em-letra-e-musica.html. A polca não ganhou fama no Brasil logo de início, as pessoas se rebelavam de maneira drástica com esse estilo de música e com as danças desse caráter musical que se propagavam pela intérprete brasileira Chiquinha Gonzaga. Com base nos estudos realizados por Lira (1978), Diniz (1984) e Bôscoli (1999) sobre a compositora, Francisca Hedwiges Neves Gonzaga, conhecida e reconhecida como Chiquinha Gonzaga, nasceu em 17 de outubro de 1847 no Rio de Janeiro. Filha do militar, José Basileu Neves Gonzaga e de uma mulher mestiça, Rosa Maria de Lima, Chiquinha Gonzaga viveu sua infância no Rio de Janeiro, período em que a cidade passava por grandes transformações. Rio de Janeiro não somente passava pela modernização e urbanização, mas também, em virtude do fim do tráfico de escravos que era muito predominante na cidade, ganhava uma classe denominada de intermediária entre senhores e escravos, dentro da qual alguns indivíduos passaram a exercer funções na intelectualidade e também na arte. Diniz (1984) destaca que logo após a chegada da família real ao Brasil em 1808, as mulheres, que antes se restringiam a tomar conta exclusivamente da casa e dos seus filhos, passaram a frequentar os teatros e bailes de salão. Com esse novo papel para a mulher na sociedade, o de “dama da corte”, fez com que esta pudesse almejar seus sonhos e consequentemente adquirir novos aprendizados em sua formação, como a dança e o canto, além dos necessários para exercer suas funções de dona-de-casa e mãe. ... criam-se novas expectativas sociais em relação aos papéis femininos. Mais que dona-de-casa e mãe de família, a mulher da camada senhoril passa a exercitar o papel de dama de salão. Para garantir-lhe certo desembaraço no desempenho de nova função, a família patriarcal permite-lhe novos aprendizados. Isso em nada altera a sua posição social, que continua de submissão ao jugo do patriarca, mas agora já lhe é possível acrescentar ao ideal da educação doméstica o cultivo da dança, do canto e da conversação... A família Neves Gonzaga valorava positivamente a educação, vista talvez como um canal eficiente de ascensão social. (Diniz, 1999, p. 44, 45). A mesma autora ressalta que Chiquinha Gonzaga teve a educação nos moldes da época em que viveu, ou seja, a autora salienta que Chiquinha Gonzaga o tipo de mulher que a época exigia, a mesma estudou português, cálculo, idiomas estrangeiros e também o piano, este último ensinado pelo maestro Elias Lobo (1834-1891). Além do professor Elias Lobo, Chiquinha teve outras grandes influências em sua formação musical, como seu tio Antônio Eliseu, que lhe trazia as novidades musicais em suas visitas: o repertório popular e a moda musical da época, aos quais se encontrava diariamente exposta. Chiquinha Gonzaga teve papel importante para a mulher de sua época, possibilitou a abertura de diversas portas para as mulheres, sendo pioneira em inúmeros aspectos: foi a primeira mulher e pianista, a primeira mulher a escrever para o teatro no Brasil, a primeira regente, compôs a primeira música especialmente para o carnaval (Ó Abre Alas), além de ser a única mulher entre os 21 fundadores da SBAT(Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais). Além desses pontos ressaltados anteriormente a mesma foi ativista em vários movimentos sociais e políticos de sua época, tais como o movimento abolicionista e o republicano. Apesar da educação de forma denominada tradicional, sua vida foi atípica quando comparada às mulheres que vivenciaram a mesma época. Chiquinha casou-se e se separou por duas vezes. Após o termino de seu segundo casamento, o piano foi utilizado como meio de sustento, dando aulas e se lançando como compositora de polcas. Chiquinha compôs polcas, tangos, peças musicais, modinhas, marchas (aliás, ela teria sido a inventora do gênero). Temperada pelo ambiente musical dos “chorões”, entre os quais era uma presença assídua, sua trajetória atravessou o século e marcou o cenário musical brasileiro até o início do século XX. O choro acabou por galvanizar uma forma musical urbana brasileira, sintetizando diversos elementos da tradição e das modas musicais do século XIX. Nesse contexto se encontravam presenteo pensamento contrapontístico do barroco e o andamento e as frases musicais próprias da polca, os timbres instrumentais bem suaves e brejeiros, leves e melancólicos, e a sincopa que deslocava a acentuação rítmica “quadrada”, dando-lhe um detalhe sensual e até jocoso. Junto com a consolidação do choro. Em 3 de Julho de 1845, no teatro São Pedro, no Rio de Janeiro, esse ritmo foi interpretado pela primeira vez, a partir desse momento ela foi se propagando pelo Brasil como algo extraordinário elucida a criação, na corte do Rio de Janeiro, da Sociedade Constante de Polca, em 1846.A polca se juntou a outros estilos da música popular no período do século XIX e XX, para que pudesse permanecer até período dos discos mecânicos. O samba tipicamente brasileiro, surgiu da mistura de diversos ritmos e tradições culturais que estavam presentes no Brasil. Os primeiros registros do samba são datados no século XIX, através da miscigenação de batuques africanos e outros elementos musicais do Rio de Janeiro. Visto com um ritmo típico do Brasil, o samba brasileiro, possui descendência afro-baiana, com linhagem no lundu que era presente nos terreiros entre misturas de umbigadas e golpes de capoeira. O tambor, o surdo, o pandeiro, violão e cavaquinho junto a outros são os principais responsáveis por ritmarem o samba. O samba, assim como outros estilos musicais está em constante reinvenção, hoje temos várias ramificações desse gênero musical: como samba de roda, samba rock, dentre outros. O samba teve seus primeiros registros por volta dos anos 1860, partindo de uma mistura de batuques que foram trazidos pelos povos africanos que foram incorporados aos ritmos que se expandiam no Rio de Janeiro do século XIX. Passando para o século XX, em uma crescente migração de baianos para o Rio de Janeiro e assim esse ritmo musical acabou se tornando o maior símbolo de brasilidade. Passando para o século XX, com a saída de negros baianos para o Rio de Janeiro, o samba carioca tornou-se o maior símbolo de brasilidade. O primeiro samba que foi gravado foi “Pelo telefone” de Donga e Mauro de Almeida, e acabou sendo abraçado pela classe média. O samba brasileiro possui raízes afro-baiana, com passagem pelo lundu e capoeira. 1.2 Movimento negro: Anos 1920 e 1930: Identidade brasileira: Mario de Andrade A semana da arte moderna em 1922 atrelada as comemorações do centenário de independência do Brasilforam fatores responsáveis por difundir o rádio que começou a se popularizar3 e com ele as músicas também ganham maior abrangência. Como compositores e interpretes de maior expressividade nesse novo meio de comunicação, temos: Ary Barroso, Noel Rosa, Carmem Miranda, entre outros. Outro marco dentro da expressão cultural brasileira foi a Semana da Arte Moderna que ocorreu em fevereiro de 1922, que teve como marco o centenário da Independência do Brasil. No teatro Municipal de São Paulo foram realizadas diversas apresentações de teatro, músicas, poemas e reuniu diversos artistas que buscavam apresentar um novo panorama em torno da cultura do país. A ideia de progresso indefinido da Europa como centro do mundo desmoronou como um castelo de areia batido pelas ondas do mar. Foi então que começou a se delinear a ideia de que o futuro estava num novo continente – a América – agora na mira das profecias sociais. (...) Na época havia uma preocupação unânime: criar a nação. (VELLOSO. 2000, p. 28) 3 MENEGUEL, Yvonete Pedra; OLIVEIRA, Oseias de. O rádio no Brasil: Do surgimento à década de 1940 e a primeira emissora de rádio em Guarapuava. Nesse período os artistas buscavam, por meio de sua arte, propagar as ideias nacionalistas em torno de um Brasil que tinha sua própria cultura e não precisava se apoiar na cultura estrangeira, e que a mesma foi uma mescla de elementos culturais europeus e brasileiros, porém o reflexo que as misturas de ritmos negros e africanos lhe conferiram foi de total importância para que o país ganhasse autenticidade em diversos meios culturais. Um importante meio de divulgação que foi implantando tempos depois, foi o rádio que buscava concretizar a visão de um país moderno, possuidor de características própria, nesse sentido “[...] é necessário que se diga que, desde a Revolução de 1930, [...] a Rádio Nacional foi o canal exclusivo de informação e formação cultural do povo brasileiro, fazendo deste vasto paraíso tropical, a primeira grande aldeia global dos tempos modernos (SAROLDI; MOREIRA, 1984, p. 91). A primeira transmissão radiofônica oficial foi em 07/09/1922, em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, com um discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa. Um transmissor fabricado pela Westinghouse, de 500 watts, foi instalado no alto do Morro do Corcovado com sinais captados por 80 receptores importados especialmente para o evento. Nos dias seguintes, foram transmitidas óperas do Teatro Municipal. (ORTRIWANO, 1985, p. 13). É mister ressaltar que embora o rádio tenha realmente alcançado força de expressão sociológica basicamente a partir de meados da década de 30, mais especificamente a partir de 1933, considera-se que já a partir do final da década de 20 cada vez mais o rádio passou a atuar como agente de propaganda política, ideológica e cultural. (NASCIMENTO, 2002, p. 44). Mário Raul de Moraes Andrade (Mário de Andrade) foi um artista de grande expressividade durante a fase Modernista Brasileira, nascido em 9 de outubro de 1893 em São Paulo. Escrevia críticas para jornais e revistas com uma linguagem mais popular que fosse de fácil entendimento para os leitores já que tinha grande gosto pelos costumes folclóricos. Em fins da década de 30, durante o Estado Novo, uma grande censura foi imposta sobre os meios de comunicação, com o objetivo de realizar uma triagem sobre o que seria divulgado ou não. Tudo que fosse exposto para o público deveria passar por um “crivo” do Estado que decidiria se realmente iria para os veículos de comunicação e o que era divulgado sem as devidas medidas e que ferissem de alguma maneira a imagem do governo era tirado de circulação. Em 16 de Setembro de 1931 foi criada a Frente Negra Brasileira, na cidade de São Paulo que buscava proteger os direitos dos negros. Haviam outros envolvidos com a causa negra, porém, atuavam nas áreas de recreação. A FNB foi o movimento que auxiliou nas ações negras em São Paulo, dividida em departamentos que serviam de apoio social que lutava para que os negros ocupassem espaço no cotidiano brasileiro. Logo depois de instituída a FNB obteve uma rápida expansão e conseguiu se alcançar o Rio de Janeiro e os Estados da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Porém, devido as desavenças de cunho político que haviam, o movimento acabou por se enfraquecer. O líder Arlindo Veiga dos Santos era simpatizante do Movimento Patrianovista de direita e José Correia Leite era simpatizante do socialismo. A FNB era subdividida em vários departamentos, o esportivo, o musical, e o de instrução moral e cívica e assimtrabalhava perfeitamente. Buscava através de manifestações públicas levantarem a bandeira contra o racismo, discriminação e qualquer outra forma de ataques a negros. Tinha como principal meio de divulgação o jornal O Clarim da Alvorada, que propagava suas ideias. Devido as divergências entre seus líderes, em 1937 a Frente Negra Brasileira chegou ao fim. Figura 1 Página do jornal O Clarim da Alvorada. Fonte: http://www.palmares.gov.br/?p=52932 Em 1939 foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) que era responsável pelos setores de imprensa, teatro, divulgação, entre outros.O DIP assumiu um papel de relevância dentro do Governo de Getúlio Vargas, tendo em vista que sempre fazia exaltação a figura do então presidente e as políticas de trabalho que eram peças fundamentais entrea população da época. http://www.palmares.gov.br/?p=52932 Um dos principais focos do então presidente Getúlio Vargas, era exaltar a nação brasileira e como uma de suas ferramentas utilizou o samba que já era muito reconhecido no cenário musical brasileiro e conseguia alcançar todas as camadas da sociedade, desde a elite até as camadas mais populares. De acordo com Goulart 1990, p. 77 “O DIP forneceria a orientação técnica e doutrinaria aos serviços estaduais de impressa, radiofusão, diversões públicas, propaganda, publicidade e turismo reunidos no DEIP [...] 1.3 Congresso brasileiro de folclore: 1951 No I Congresso Brasileiro de Folclore, reunido no Rio de Janeiro, no ano de 1951, foi publicada em seusanais, a “Carta do Folclore Brasileiro”, dando publicidade “os princípios fundamentais, as formas de trabalho e as diretrizes” de forma a orientar os exercícios que envolvem o “Folclore Brasileiro”. Na Carta ficou instituído que o fato folclórico se constitui de “maneiras de pensar, sentir e agirde um povo, preservado pela tradição popular e pela imitação”. Além disso, infere que umfato é folclórico na medida em que não seja diretamente influenciado “pelos círculos eruditos einstituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico de uma orientação religiosa e filosófica” (CARTA, 1951). Contextualizando com o presente trabalho, temos à dissertar sobre uma seção da Carta em específico, cite-se a seção VII da Carta, onde o cancioneiro folclórico infantil é considerado “fator educativo”, umavez que desenvolve ao mesmo tempo o gosto pela música e o hábito do canto coletivo;fornece às aulas e à recreação, o material adequado e reforça o aproveitamento do elementotradicional. “Sua utilização deve dá ênfase às necessidades infantis de expansão, e também despertar o espírito de cooperação com o sentido de disciplina”. Na Carta, a Comissão Nacional do Folclore é orientada a divulgar amplamente nas “escolaspré-primárias e primárias” do Brasil, o material coletado sobre o cancioneiro folclóricoinfantil. Propõe também que as canções folclóricas sejam inseridas nos programas dessas escolas, em todo o território brasileiro, e que se encaminhem providências para que esta sugestão se transforme em lei. A concepção de que folclore e cultura popular são termos equivalentes, nos remete àetimologia da palavra folclore que nasce da união entre o Folk(povo) e Lore(saber). Em1846, o arqueólogo britânico William John Thoms, utilizou a palavra Folk-loreem uma cartaao jornal londrino The Atheneum, para designar as “antiguidades populares”, isto é, o “saberpopular” (CABRAL, 1954). A releitura da Carta de 1951 ampliou o espaço da educação nas relações com o folclore erecomendou o desenvolvimento de ação conjunta entre os Ministérios da Cultura e daEducação para garantir que o conteúdo do folclore e da cultura popular fosse incluído noensino de 1º e 2º Graus (atualmente ensino fundamental e ensino médio, respectivamente) e como disciplina específica do 3º Grau (hoje Educação Superior), “de forma mais ampliada, incluindo enfoque teórico e prático através do ensino de forma regular, de oficinas, de observações e de iniciação às pesquisas bibliográficas e de campo”. 1.4 O samba e os ritmos afro brasileiros : Geração de 1960 e 1970 Com a instauração do regime militar em 1964 surgiu o movimento de Música Popular Brasileira (MPB), entraram nesse rol todos os ritmos musicais, independentemente de seu posicionamento perante a conjuntura política do período. coube à música popular dos anos 1960, mais especificamente aquela dos festivais, dar continuidade ou pelo menos seguir com os mesmos passos da apropriação do folclore e a transposição não mais para o plano da erudição, mas para o plano da cultura de massa, o plano das músicas difundidas pelos rádios, disco e televisão, o qual cada vez mais define apropriadamente o conceito de “música popular” em termos contemporâneos. (TINÉ, 2008, p.23). Todos os elementos que fossem para veiculação midiática deveriam passar por um “crivo” do governo que seria o responsável por Por volta de 1965, houve uma redefinição do que se entendia como Música Popular Brasileira, aglutinando uma série de tendências e estilos musicais que tinham em comum a vontade de ‘atualizar’ a expressão musical do país, fundindo elementos tradicionais a técnicas e estilos inspirados na Bossa Nova, surgida em 1959. Naquele contexto foram exercitadas formas diversas de atuação de artistas e intelectuais que acreditaram na possibilidade de engajar-se politicamente, ao mesmo tempo que atuavam no mercado musical (...) Este processo que redimensionou e consagrou a sigla MPB pode ser visto como parcialmente determinado pelas intervenções culturais que tentaram equacionar os impasses surgidos em torno do nacional-popular, tomado aqui como uma cultura política. (NAPOLITANO 1999, p. 12) 2. CAPÍTULO: Os afro sambas: Bandem Power; Vinícios de Moraes, Paulo César Pinheiro, Ruy Maurity. Baden Powell de Aquino (1937-2000), pela dimensão musical e pela destreza instrumental que revelou tanto em termos de composição quanto de interpretação, enquadra-se na linhagem dos grandes violonistas brasileiros, como Sátiro Bilhar, Quincas Laranjeiras, João Pernambuco, Garoto e Bola Sete (Costa, 2000). Powell tinha estudado violão com o lendário violonista e professor Jayme Florence, o Meira (1909-1982), o mesmo que, nos anos de 1970, foi professor do violonista Rafael Rabello (1962-1995). Não demorou que Powell tinha desenvolvido no violão uma pegada de samba inconfundível, habilidade em que era capaz de reproduzir instrumentos de percussão tipicamente brasileiros, por exemplo, o repique, a caixa e o tamborim. Marcos Vinícius da Cruz de Melo Moraes, ou simplesmente Vinícius de Moraes (1913-1980) é um personagem que construiu fortes relações com a música popular ao longo de sua caminhada histórica. Uma de suas habilidades era conviver em por diferentes ambientes intelectuais o que fazia com que alcançasse diversas camadas sociais. Os escritos sobre Vinícius de Moraes estão cheios de acontecimentos marcantes sobre o poeta e seus gostos, paixões, casamentos, boêmia. Sua vida foi cheia de paixões e momentos marcantes. Em janeiro de 1966, Baden Powell e Vinicius de Moraes gravaram pelo selo Forma (gravadora independente da época) o LP “afro-sambas” contendo oito faixas compostas pela parceria entre 1962 e 1965. Nesse disco, considerado por muitos críticos e músicos uma obra seminal da MPB, os artistas trouxeram à público uma série de sambas que, através de uma elaboração erudita, tematizam elementos da cultura popular afro-brasileira. Na contra-capa do LP é Vinícius quem diz: Essas antenas que Baden tem ligadas para a Bahia e, em última instância, para a África, permitiram-lhe realizar um novo sincretismo: carioquizar, dentro do espírito do samba moderno, o candomblé afro- brasileiro, dando-lhe ao mesmo tempo uma dimensão mais universal. [...] É esta, sem dúvida, a nova música brasileira e a última resposta que dá o Brasil – esmagadora – à mediocridade musical em que se atola o mundo. Nesse texto, Vinícius apresenta os afro-sambas como sendo o resultado de um sincretismo, o produto do cruzamento de séries culturais distintas. Nesse contexto a música sacra do candomblé afro-baiano teria atingido a partir de uma recriação do samba moderno carioca, uma dimensão artística que atingiu o mundo. Nos “afro-sambas”, a partir da música de Baden, Vinicius de Morais desenvolve sua poesia concentrando-se na relação entre temas vitais como o amor, o sofrimento, a paz, a coragem e a luta. Onde o indivíduo, inserido no universo mítico dos Orixás do Candomblé, se afirma na resistência, pela vontade de amar, apesar dos desencontros da vida e das desilusões do amor. Do ponto devista musical, os “afro-sambas” consistem na criação de uma célula harmônicopercutiva, propícia à execução no violão, que sustenta um ritmo vigoroso, acentuado, com inspiração direta nos ritmos da Bahia. Se, por um lado, os ritmos são baseados na música folclórica afro, no plano harmônico, são utilizadas, muitas vezes, intricadas sequências harmônicas com a ocorrência de cromatismose dissonâncias, procedimento de inspiração nitidamente jazzística. Aqui encontramos um forte indício de aproximação entre o ideal modernista de Mário de Andrade e a prática composicional dos artistas estudados, pois, no modelo proposto por Andrade, a pesquisa musical folclórica deveria ser desenvolvida harmonicamente com base nas técnicas modernas disponíveis. Além dessa atribuição do material dos batuques do Candomblé, da Umbanda e das rodas de capoeira, no plano melódico, temos a ocorrência de frases pequenas que se desenvolvem em cadências recorrentes como num mantra ritual, essa é uma influência marcante do “afro-sambas”, e que lhe possibilita recriar a atmosfera místico-religiosa dos cultos afro-brasileiros. Os padrões rítmicos utilizados nos toques de berimbau na capoeira e no trabalho com os Orixás e entidades do Candomblé e da Umbanda foram uma referência musical básica na criação do afro-sambas. Outra referência, como já foi dito, foram os padrões melódicos, de origem gregoriana, mas presentes no canto ritualístico afro-brasileiro desde o início do processo de colonização. Paulo César Pinheiro nasceu em 28 de Abril de 1949 no Rio de Janeiro4, todas as suas obras publicadas já somam mais de 2 mil entre músicas, livros, peças de teatro, entre outras. Negro entoou um canto de revolta pelos ares No Quilombo dos Palmares, onde se refugiou. Fora a luta dos inconfidentes 4 Atualmente com 70 anos. Pela quebra das correntes. Nada adiantou. (Canto das três raças – Paulo César Pinheiro) Paulo César tem várias obras que se referem aos temas afros, e a música “Canto das três raças” é uma referência a ascendência de Paulo que possuía uma avó indígena, um pai cafuzo5e é branco. A música também expressa, em poucas estrofes, a trajetória do negro no Brasil, fazendo referências aos sofrimentos, cativeiros e aos quilombos que eram os refúgios dos escravizados e símbolo de resistência. Eu não temo quem me ataca Nem na luta nem no jogo Uso braço contra faca Perna contra arma de fogo Aprendi dessa maneira Encarar o desaforo Praticando capoeira Na pedreira são Diogo (Jogo de Dentro- Paulo César Pinheiro) Paulo tem dentre suas obras o disco “Capoeira de Besouro” que é uma homenagem a Manoel Henrique Pereira o Besouro Mangangá (1897 – 1924), que hoje ainda é uma figura marcante dentro da capoeira na Bahia, embora haja questionamentos sobre a vida de Besouro6, o que foi conhecido sobre ele deixa claro que sua trajetória foi marcada por mistérios, até sobre a real causa de sua morte pouco se sabe. Durante os primeiros anos da República no Brasil, a prática da capoeiragem foi reprimida pelo código penal com dura repressão, prisão de até 30 dias e a obrigatoriedade de assinar um termo que os obrigavam a “se ocupar” dentro do prazo de 15 dias. (LEAL) Rui Maurity de Paula Afonso, ou simplesmente Ruy Maurity (Paraíba do Sul, 12 de dezembro de 1949) éum compositor e cantor brasileiro, sua mãe foi a primeira violinista a fazer parte da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, e seu irmão é o pianista Antonio Adolfo. Aprendeu sozinho a tocar violão. No ano de 1970 venceu o Festival Universitário do Rio de Janeiro com a música "Dia cinco", que compôs junto com Zé Jorge. No mesmo ano, gravou seu primeiro LP, "Este é Rui Maurity". Foi no ano de 1971 que gravou o seu maior sucesso, “Serafim e seus Filhos”, que teve lançamento pelo LP "Em busca do ouro”. Três anos depois lançou o disco 5 Que descende de indígenas e negros. 6 Conquistou o apelido devido a sua agilidade para fugas https://pt.wikipedia.org/wiki/12_de_dezembro https://pt.wikipedia.org/wiki/12_de_dezembro https://pt.wikipedia.org/wiki/1949 https://pt.wikipedia.org/wiki/Cantor “Safra 74", que teve algumas de suas músicas incluídas nas trilhas sonoras das novelas "Escalada" e "Fogo sobre terra", da TV Globo. Em 1976 e 1977 lançou os LPs "Nem ouro nem prata" e "Ganga Brasil", que inclui a gravação do tema da novela "Dona Xepa", exibida pela TV Globo. Em 1978 gravou o disco "Bananeira mangará”. Com o tempo foi caracterizando cada vez mais a sua carreira com os temas e músicas regionais. Na década de 1980 gravou os discos denominados de: "Natureza" e “Aviola no Peito”, tem uma de suas músicas lembrada todo ano no réveillon “Marcas do que de foi”. Realizou ainda inúmeros shows em diversas cidades brasileiras. No ano de 98 lançou o CD que teve como nome “De coração”, distribuído atualmente pela Kuarup, no qual interpreta diversas parcerias com José Jorge. 2.1 Os movimentos culturais dos anos 1960 e 1970 Em 1960 com a popularização da televisão, a música ganhou um novo meio de propagação. A Tv Record criou um programa musical chamado “jovem guarda” e organizou o Festival de Música Popular Brasileira, nomes que ficaram reconhecidos através do programa de televisão e do festival de música foram: Milton Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Roberto Carlos, entre outros. Na década de 70 com ouve uma maior expansão das músicas populares, o que agitou o cenário nacional, nesse momento foi criada a Vanguarda Paulista, que durou pouco tempo, mas que foi de grande importância perante as manifestações artísticas do período. Com todos esses acontecimentos, o país sendo aberto comercialmente, permitiu que as manifestações internacionais ganhassem espaço e as variedades musicais permitiram a invenção de novos ritmos causando um enfraquecimento das questões de cunho nacional. Nos auges da década de 1960 o Brasil passou por grandes mudanças econômicas que se não superavam os problemas sociais que que o acompanhavam. Nesse momento o governo vigente se pautava no populismo, atravessou o breve governo de Jânio Quadros e terminou com João Goulart. O sujeito assume identidades diferentes em vários momentos e que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. São possibilidades contraditórias empurrando em diferentes direções, de uma maneira tal que as identificações estão sendo continuamente deslocadas. (SOARES. 2011) Para assumir a presidência João Goulart (Jango), enfrentou uma árdua tentativa dos militares de impedir sua posse presidencial, e com todas exigências a que foi submetido teve que assumir o governo sob um regime parlamentarista, o que o deixou com poderes limitados em suas mãos. Em 1963, um plesbicito devolveu o presidencialismo e fortaleceu o poder executivo, Jango se aproveitou da oportunidade e trouxe uma série de reformas ao país que já estavam previstas nas reformas de base. João Goulart não conseguiu se manter em um governo populista por muito tempo, devido a desconfiança dos opositores com relação as reformas de base. Após os vários desdobramentos no governo, em 31 de março de 1964, os militares tomam o poder e instauram um regime pautado na cassação de direitos políticos repressão aos movimentos de oposição e sindicais e censura nos meios de comunicação. Entre os anos 60 e 70 no Brasil, houveram expressivas mudanças nos aspectos sociais, políticos e principalmente nas manifestações culturais. Havia uma luta contra o regime que foi instaurado em 1964, contra as reformas na educação que foi um dos fatores para o fechamento do Congresso com o decreto do AI 5. O AI 5 instaurou uma grande censura e perseguiu os que manifestavam qualquer tipo de descontentamento contra o regime. Os artistas, nesse momento, estavam sob os olhares atentos do governo e suas manifestações artísticas não deveriam ser contrárias.As músicas que se espalhavam socialmente tinham como intuito maior reafirmar as raízes dos nossos ancestrais, expressões que são divulgadas pelos artistas e intelectuais da época, nesse momento os Afro-Sambas ganham espaço, como desdobramento da bossa nova. Como principais nomes dos Afro-Sambas é possível citar Baden Power e Vinícius de Moraes que de maneira musical buscaram conquistar espaço, porém outros artistas estavam engajados na tarefa de interpretar músicas que repassavam ideias que estavam, também, sendo veiculadas em meios de comunicações e artigos. Proibido, momentaneamente, de participar da vida política de seu país, coibido em seu contexto cultural e alijado de seus instrumentos de manifestação, o jovem brasileiro, estonteado, a princípio, nos primeiros momentos, anos após o sistema imposto em 1964, acabou por descobrir na música, principalmente, o instrumento para onde canalizar sua espontânea energia e ânsia de participação no contexto nacional. (Affonso Romano de Sant’Anna 2004: 159) A maioria das composições artísticas estavam ancoradas na corrente de pensamento que faria uma manutenção da singularidade brasileira, através dos espelhos que o passado deixou, proporcionando a verdadeira autenticidade nacional que foi desenvolvida após a década de 1960 do século XX, com a MPB. 3.3 O samba e a arte negra engajada O samba é um dos ritmos de maior expressividade quando se trata da identidade nacional brasileira, um ritmo que conseguiu atrair grande parte da população. Quando o país atravessa a “Era Vargas” há uma maior expressividade do rádio e das músicas que tinham diversos objetivos em meio às manifestações que vinham ocorrendo. Os sambas da época eram geralmente de exaltação dos presidentes, mostrando o lado bom do governo, mas havia as letras que serviam de instrumentos de resistência contra as diversas situações que os artistas estavam enfrentando no que dizia respeito a sua arte. 4. CAPÍTULO: O uso dos afro sambas em sala de aula Pode-se considerar o samba a maior manifestação social e a que mais representa o Brasil no mundo, porém, nem sempre foi deste modo. Isto foi tendo um progresso e a partir desse progresso foi se tornando aquilo que hoje é tido como a representação nacional. Por este motivo é de suma importância que os brasileiros entendam e saibam explicar sua origem e tenham pelo menos uma pequena noção de como é executado, qual a sua formação instrumental e alguns cantos de samba dentro de seus variados estilos: (...) na música popular ocorreu um processo (...) de “generalização” e “normalização”, a partir das esferas populares, rumo às camadas médias e superiores. Nos anos 30 e 40, por exemplo, o samba e a marcha, antes praticamente confinados aos morros e subúrbios do Rio, conquistaram o País e todas as classes, tornando-se um pão-nosso quotidiano de consumo cultural (CANDIDO, 1989 apud VIANNA, 2002, p. 29). Neste trabalho, buscou-se inserir o samba dentro da escola para que os alunos do ensino fundamental pudessem compreender de onde vem o samba, conhecer alguns de seus grandes compositores e intérpretes, além de parâmetros de distinção deste estilo, sobretudo, marcar o afro-samba como um divisor de águas na história da MPB em si. A problemática levantada foi de como conceber uma abordagem integradora de ensino informal utilizando o afro-samba em um espaço formal. Este procedimento iniciou-se do pressuposto de que a música geralmente é aprendida em ambientes informais, onde pessoas frequentam casas, comunidades, entre outros lugares como, por exemplo, “escolas de samba”. Nesses ambientes, os frequentadores aprendem através da imitação, ouvindo, repetindo os movimentos com os instrumentos característicos, cantando e improvisando versos em alguns momentos. Segundo Gohn (2003, p. 24) “o sistema educativo informal é aquele que ocorre na socialização cotidiana, nas famílias, nas igrejas, nos clubes, academias e outros espaços de convivência”. Neste contexto, faz-se a ligação com o tema geral deste: “o uso da MPB em sala de aula”. Segundo Arroyo: ao utilizarmos o termo “formal” para qualificarmos a educação musical diferentes significados poderão ser destacados, pois esse termo pode ter significações tais como: escolar, oficial, ou dotado de uma organização. Assim, a educação musical “formal” pode ser considerada tanto aquela que acontece nos espaços escolares e acadêmicos, envolvendo os processos de ensino e aprendizagem, quanto aquela que acontece em espaços considerados alternativos de música (ARROYO, 2000 apud WILLE, 2005, p. 40). Trabalhar alguns estilos dentro do universo do samba sabendo que nem todos os alunos têm o mesmo interesse em aprendê-lo é de fato um pouco mais delicado, tendo em vista o desafio de relacionar características musicais, históricas e comportamentais, viés ao qual se deu a interdisciplinaridade em nossa pesquisa. Os estilos focados nesta pesquisa foram a MPB e o samba e suas adjacências, que estão entre a variada gama que o samba apresenta. Além da prática em conjunto, a apreciação áudio visual é uma atividade bastante presente durante as intervenções e muito utilizada para mostrar um pouco da história do samba representadapor grandes nomes do gênero e claro devemos enfatizar a história de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Dentro deste contexto surge a interdisciplinaridade como uma ferramenta norteadora para a integração das diferentes áreas com o tema específico desenvolvido durante este trabalho. 4.1 Música como facilitador A música pode ser um excelente aliado nos processos de ensino de história. A música é umartefato cultural que auxilia o ser humano a estabelecer relações com o meio. As maneiras e objetivos com que esse artefato foi e é utilizado ao longo de nossa trajetória histórica são variáveis em seus contextos históricos e também sociais. No Brasil, a música é um dos objetos da cultura mais perceptível no cotidiano da sociedade. Assim é também com os alunos nas escolas. Diferentes pesquisas constatamque os alunos interagem entre si por música (Duarte, 2011; Soares, 2008).Entre adolescentes do fundamental II e ensino médio, a música define os grupose as amizades. Os educandos estabelecem fortes relações com a música e com os gêneros musicais independentemente da atuação do professor e do posicionamento da escola. Para nós, esse é um aspecto fundamental a ser analisado, e que definesobremaneira o sucesso ou fracasso da utilização da música em uma atividadedidática: compreender como os alunos interagem e se relacionam com as músicase os gêneros musicais. A vivência é a relação: por vivência entende-se a relação que cada criança ou adolescente consegue estabelecer com o meio e com os artefatos culturais com os quais se encontra engajado. A vivência de uma situação qualquer, a vivência de um componente qualquer do meio determina qual influência essa situação ou esse meio exercerá na criança. Dessa forma, não é esse ou aquele elemento tomado independentemente da criança, mas, sim, o elemento interpretado pela vivência da criança que pode determinar sua influência no decorrer de seu desenvolvimento futuro. (Vigotski, 2010, p.683-684). Com Vigotski verificamos que o meio é fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos. No meio em que vivemos podemos ter mais ou menos acesso aos bens culturais, ao conhecimento científico ou ao patrimônio histórico. No entanto, o meio não determina nosso desenvolvimento psíquico. Este é determinado pela vivência, pela relação que estabelecemos com o meio. O fato de que algumas crianças ouvem música erudita em casa não será um definidor de que irão ter apreço por esse gênero musical na adolescência ou na vida adulta. O apreço ou não, o gostar ou não gostar, irá depender da vivência: de como se sentem nessa relação com a música, das relações com os pais eirmãos nesses momentos, das lembranças suscitadas pelas músicas, enfim, do sentido que cada criança dá a esse objeto da cultura a partir da experiência vivida. Essa vivência pode ser diferente entre irmãos de faixas etárias diferentes: o irmão mais velho pode ter tido uma relação muito positiva com a música erudita, pois os pais sempre ouviram com ele e isso era algo positivo; com o segundo filho a relação poderá não ter sido a mesma, em virtude de problemas de saúde enfrentados pelos pais, por exemplo, tais lembranças lhe traz certa tristeza; por fim, o terceiro filho pode necessariamente não aceitar ouvir a música erudita porque sempre remete aos problemas que essa situação de saúde na família trouxeram. A vivência é uma categoria fundamental para pensarmos aspectos da didática escolar. No nosso caso, a categoria vivência é importante, pois nos ajuda a interpretar quais são as relações que os estudantes têm com a música, e assim pensar prospectivamente nas práticas de ensino de história que utilizam as músicas como recurso didático, fonte e objeto de estudo. É perceptivo que a música constitui parte do cotidiano de diferentes grupos sociais em contextos históricos diferentes. Não conhecemos grupos ou sociedades a- musicais. Somente para citar o caso brasileiro, são inúmeras as pesquisas historiográficas que demonstram a importância da música na formação da nossa sociedade. A música brasileira possibilita relações Inter étnicas e de classe social desde o período colonial (Napolitano, 2005), foi utilizada como forma de negar pressupostos hegemônicos do Estado (Paranhos, 2015), está inserida desde os anos 1970 à indústria do entretenimento, em suas sonâncias e dissonâncias (Hermeto, 2012). Na sociedade brasileira, as crianças têm contato com a música desde o nascimento, tomam o primeiro banho e são amamentadas com canções para bebês, as vezes tradicionais ou não, que fazem parte de nosso repertório desde a infância e que permanece conosco ao longo da vida. Por meio da música começamos a receber nossos códigos de cultura, evidenciando o nosso processo de humanização(Pino, 2005). Isso significa que a vivência que temos com as músicas é qualitativamente diferente da que temos com outros objetos da cultura. As músicas fazem parte de nossas experiências sensoriais mais profundas, de nossas lembranças, nossa memória, enfim, de nossas vivências. É preciso considerar esse aspecto ao elaborarmos atividades didáticas com música. Isso requer do professor a sensibilidade para compreender que essa fonte, objeto de estudo ou recurso didático, não pode ser inserida na sala de aula como se as interações subjetivas não interferissem na sua manipulação. Todos os alunos podem conhecer uma determinada música, mas a vivência de cada um com aquela determinada música é diferente. Uma mesma música festiva, independentemente do gênero, pode significar para uns a festa e também boas lembranças, para outros pode lembrar os dias em que os pais brigaram ou o dia em que um familiar ou amigo faleceu. A música está no meio, mas cada sujeito interage com ela de modo singular. Este é, a nosso ver, uma das principais dificuldades em se utilizar as músicas nas aulas de história: a incompreensão de que a música é um artefato cultural que desperta nos alunos diferentes vivências, e que, portanto, a não compreensão da relação que os alunos têm com a música pode limitar as possibilidades de aprendizagem sobre as músicas, a linguagem musical e o conhecimentohistórico ao qual se referem. Para Vigotski, ensinar é disponibilizar uma aprendizagem que possibiliteaos alunos o desenvolvimento pessoal, social e cognitivo (Vigotski, 2001a).Estamos na defesa de um ensino de história que possibilite aos alunos essedesenvolvimento. Como as demais disciplinas escolares, a história deve estara serviço dos processos de elevação das capacidades humanas de crianças eadolescentes. Não podemos aceitar que as crianças oriundas das classes sociaisdesfavorecidas estejam alijadas dos processos de produção do conhecimento (Libâneo, 2012), pois em nossa concepção, uma boa educação escolar não apenasreproduz ou transmite conhecimento, mas, sobremaneira, produzconhecimento. O conhecimento histórico escolar deve possibilitar às crianças e adolescentesa desnaturalização da vida e do cotidiano. Isso se torna possível namedida em que os alunos são incentivados a ter acesso ao conhecimento quenão têm. Mas no cotidiano é que se localizam as sensações e os sentimentosdos alunos, a sua vivência. Nesse sentido, a cultura cotidiana pode ser uma daschaves que nos permita inserir os alunos na história da humanidade. 4.2 Como trabalhar com a música em sala de aula Questões como a origem da música e as ramificações de seus estilos seguem como reflexão em pesquisas e debates até a atualidade. Neste sentido, seguimos na corrente de despertar algumas perspectivas referentes a delineamentos do universo da MPB, mais especificamente no uso do afro-sambas em sala de aula. Uma parte desta pesquisa teve como objetivo mostrar aos alunos de ensino fundamental a importância do afro-sambas no contexto da MPB, haja vista a carga crítica que esse estilo trás em suas letras. Priorizaram-se fatores norteadores e que facilitassem o processo de ensino e aprendizagem para a seleção de repertório. Prevaleceram músicas com uma relação histórica, além de considerar a realidade dos alunos. Segundo Torres et al. (2003, p. 64) “uma grande preocupação na escolha do repertório é a aplicação didática das obras e o interesse dos próprios alunos por ele. É necessário fazer uma opção por obras que os alunos possam executar com sucesso (...)”. Quando se pensa no ritmo do samba, logo é incluída a célula rítmica característica, a síncope, ou seja, notas tocadas fora do pulso que dão a sensação swingada, de acordo com a teoria musical européia difundida no Brasil. Esta não é umaproposta de trabalho simples se tratando de uma turma com vários alunos e, principalmente, que nunca tiveram aulas de música na escola ou sequer tiveram aulas de música em toda a sua vida. As principais abordagens musicais utilizadas como eixo norteador deste trabalho foram canções de compositores e intérpretes consagrados do samba, também focando a prática das levadas dos instrumentos e os estilos dentro deste gênero, como a Bossa Nova e o Partido Alto, mas primordialmente, como sugere o título deste: baseamo-nos nos Afro-sambas. A socialização entre alunos e professores deve ser feita de maneira criativa, onde o grupo de alunos deveser convidado a se deslocar até o auditório ou área equivalente para que todos se apresentem falando o seu nome e em seguida cantando ou falando o trecho de alguma música de livre escolha. Depois da socialização o projeto para as intervenções e então é apresentado baseando-se numa investigação em conjunto a partir do tema escolhido, a MPB. Para uma primeira aula, pensou-se em algo prático que pudesse englobar a turma inteira dentro das atividades na sequência das aulas, a cada intervenção deve ser demonstrado um novo afro-samba e suas implicações. A partir daí devem ser construídos conceitos e marcações a cerca de cada música. Para compreender o significado de gênero e estilos o Afro-samba foi colocado como um “sobrenome” e que se trata de um gênero musical. Como todo sobrenome possui um nome, no samba eles aparecem como estilos musicais, tais como, o pagode, o samba de breque, o samba-canção e assim por diante, dentre vários outros fazendo parte da mesma família. Este trabalho se focou na MPB. Nesta atividade a turma inteira deve participar cantando, segundo Gauthieret al. (1998) “as decisões dos professores quanto aos conteúdos a serem ensinados exercem uma influência considerável sobre o êxito dos alunos” (apud TORRES et al., 2003, p. 75). O nosso corpo é o principalinstrumento musical, pois o mesmo nos leva a executar e a sentir o pulso natural do ritmo da música. É muito importante que o aluno tenha a consciência de que o corpo humano é o instrumento mais prático e que muito pode ser desenvolvido através da música e utilização de possibilidades sonoras. Segundo Mariani Dalcroze: Observou que os movimentos naturais da criança – andar, correr, saltitar e balançar – expressam naturalmente elementos da música. O corpo passa, então, a ser um meio privilegiado para vivenciar a dimensão temporal da música, podendo a Rítmica ser entendida como uma estimulação motora por meio dos eventos musicais. (...) O movimento corporal é utilizado como meio de sensibilização e experimentação não somente do ritmo, mas de todos os elementos da linguagem musical, como a altura dos sons, os intervalos, as notas dos acordes, as estruturas harmônicas e cadências. As lições de Rítmica visam estabelecer as relações entre música e gesto, entre ritmo musical e expressividade do corpo. (MARIANI, 2011, p.41). Outras maneiras de estímulo podem ser através da utilização de recursos multimídia, na apreciação de vídeos sobre os estilos estudados durante a intervenção. Estes vídeos terão o papel de inter-relacionar a música com o meio social das pessoas que frequentam as rodas de MPB, além de observar as vestimentas, os locais onde são realizadas as reuniões musicais, as danças e a distinção entre alguns instrumentos. Dentre estes, objetos do uso cotidiano ganham funções instrumentais tornando-se bem alternativos. A partir destes vídeos, a turma pode observar ainda como e em que local é feito o ensaio e a confecção de uma canção. Para finalizar os procedimentos da intervenção, o grupo deve realizar uma apresentação baseada nos trabalhos feitos em sala durante as aulas. A turma deve executar três temas cantados à escolha do professor, acompanhado por palmas de samba de roda, acompanhado também por palmas do samba de roda e apresentação de canto de versos produzidos em sala. Além dos temas cantados, um grupo de alunos deve apresentar alguns instrumentos que compõem um afro-samba. Um grupo estudandoo afro-samba junto a um convívio social, contextualizado em um local formal de ensino, visa à preservação de suas características informais no método da educação musical em sala de aula. Segundo Swanwick (2003, p. 39), “o significado e o valor da música nunca podem ser intrínsecos e universais, mas estão ligados ao que é socialmente situado e culturalmente mediado”. Desta forma, fortificam a socialização musical e as práticas instrumentais como fatores formadores da própria vivência de uma organização comunitária social na música. REFERÊNCIAS BÔSCOLI, Geysa. A pioneira Chiquinha Gonzaga. Natal: Cultura,1999. BOSI, Alfredo. A dialética da colonização. 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