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1 Disciplina: Gestão dos sistemas e serviço de saúde Autora: M.e Mariana Martins Garcia Revisão de Conteúdos: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica: Esp Murillo Hochuli Castex Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Mariana Martins Garcia Gestão dos sistemas de serviço de saúde 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chantagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Revisão de Conteúdos Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica Murillo Hochuli Castex Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA GARCIA, Mariana Martins. Gestão dos sistemas de serviço de saúde / Mariana Martins Garcia. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 69 p. ISBN: 978-85-5475-394-8 1.Intervenções. 2. Planejamento. 3. Organização em saúde. Material didático da disciplina de Gestão dos sistemas de serviço de saúde – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio ..................................................................................................... 08 Aula 1 – Planejamento e programação em saúde ...................................... 09 Apresentação da Aula 1 ............................................................................ 09 1.1 – Desenvolvimento do planejamento em saúde ........................... 09 1.2 – Método CENDES-OPAS ............................................................ 10 1.3 – Planejamento estratégico ........................................................... 11 1.4 – Processos de planejamento e programação .............................. 13 1.4.1 – Processo de planejamento .................................................... 13 1.4.2 – Programação em saúde ......................................................... 14 1.4.3 – Processo e diagnóstico ........................................................... 14 1.5 – Diagnóstico situacional............................................................... 14 1.5.1 – Estimativa Rápida Participativa .............................................. 15 1.6 – Desenho do plano e avaliação do planejamento ........................ 18 1.6.1 – Desenho do plano ................................................................... 18 1.6.2 – Avaliação do planejamento...................................................... 19 Conclusão da aula 1 .................................................................................. 21 Aula 2 – Sistemas de saúde e organização de serviços............................. 22 Apresentação da aula 2 ............................................................................. 22 2.1 – Sistemas de saúde e sistemas de proteção social .................... 22 2.1.1 – Conceito de sistemas de saúde .............................................. 22 2.1.2 – História da proteção social ...................................................... 23 2.1.3 – Proteção social no Brasil ......................................................... 25 2.2 – Tipologias de sistema de saúde ................................................. 26 2.2.1 – Socialdemocratas ou institucional redistributivo ...................... 26 2.2.2 – Corporativistas ou meritocráticos ............................................ 27 2.2.3 – Assistencial ou residual ........................................................... 28 2.3 – Reformas dos anos 1990 e as novas formas de organização de saúde ......................................................................................................... 28 2.3.1 – Constituição Federal de 1988 ................................................. 28 2.3.2 – Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 .................... 29 2.3.3 – Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011 ............................. 32 Conclusão da aula 2 ................................................................................... 32 Aula 3 – Organização das redes de atenção à saúde e Financiamento ..... 33 Apresentação da Aula 3 ............................................................................ 33 6 3.1 – Conceitos fundamentais ............................................................. 33 3.1.1 – Condições de saúde ................................................................ 34 3.1.2 – Perfil demográfico do país ...................................................... 36 3.1.3 – Redes de atenção à saúde (RAS) ........................................... 38 3.2 – Funções e perfil assistencial ...................................................... 38 3.2.1 – Estrutura operacional das redes de atenção à saúde e suas funções ...................................................................................................... 39 3.2.1.1 – Pontos de atenção à saúde secundários e terciários ........... 39 3.2.1.2 – Centro de comunicação localizado na atenção primária à saúde ......................................................................................................... 39 3.2.1.3 – Sistemas de apoio ................................................................ 40 3.2.1.4 – Sistemas logísticos .............................................................. 40 3.2.1.5 – Sistema de governança da rede ........................................... 40 3.2.2 – Perfil assistencial .................................................................... 41 3.3 – Fundamentos e diretrizes da Regulação da atenção e Regulação do acesso ................................................................................ 41 3.3.1 – Regulação em saúde ............................................................... 42 3.3.1.1 – Regulação de sistemas de saúde ........................................ 43 3.3.1.2 – Regulação da Atenção à saúde ........................................... 43 3.3.1.3 – Regulação do Acesso às assistências .................................. 44 3.4 – Financiamento e respectivos mecanismos de repassedo SUS.. 46 3.4.1 – Lei 8.142/90 ............................................................................. 46 3.4.1.1 – Tripartite ............................................................................... 47 3.4.2 – Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012 .............. 47 3.4.3 – Portaria 3.992, de 28 de dezembro de 2017 .......................... 49 Conclusão da aula 3 .................................................................................. 49 Aula 4 – Auditoria dos serviços de saúde e gestão do trabalho e educação na saúde .................................................................................................... 50 Apresentação da aula 4 ............................................................................. 50 4.1 – Auditoria dos serviços de saúde ................................................. 51 4.1.1 – História da Auditoria em saúde ............................................... 51 4.1.2 – Sistema nacional de auditoria .................................................. 52 4.1.3 – Atividades de auditoria no componente estadual ..................... 55 4.2 – Gestão do trabalho e educação na saúde ................................... 56 4.2.1 – Secretaria de Gestão do trabalho e da educação na saúde (SGTES) .......................................................................................... 57 7 4.2.1.1 – Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em saúde (DEGERTS) .................................................................................... 57 4.2.1.2 – Departamento de Gestão da Educação na saúde (DEGES). 58 4.2.1.3 – Política Nacional de Educação permanente ......................... 59 4.2.1.4 – Programa de Qualificação e Estruturação da Gestão do trabalho e da Educação no SUS (ProgeSUS) ........................................... 59 Conclusão da aula 4 ................................................................................... 60 Conclusão da disciplina ............................................................................. 62 Índice Remissivo ........................................................................................ 63 Referências ............................................................................................... 67 8 Prefácio Na a disciplina de Gestão dos sistemas e serviços de saúde, será enfatizado o planejamento, que é a base para qualquer gestão de sistemas. Os movimentos sociais fazem parte da história do ser humano e possibilitaram a evolução da proteção social. Essa evolução levou ao desenvolvimento de alguns tipos de sistemas de saúde diferentes no mundo e, no Brasil, também teve sua evolução até chegar ao Sistema Único de Saúde. Falando de SUS, vamos conhecer a estrutura do nosso sistema hoje, com base nas legislações que entraram em vigor durante os anos e compreender, também, essa forma de estrutura integrada e horizontal, chamada de Redes de Atenção à Saúde, e a forma de financiamento e repasse de recursos a partir das três esferas de governo. Por fim, vamos continuar em outras áreas de gestão pública, a Auditoria dos serviços em saúde e a gestão do trabalho e educação em saúde. Cada um com sua especificidade, se enquadram nos princípios do SUS quanto à descentralização e demais princípios. 9 Aula 1 – Planejamento e programação em saúde Apresentação da aula 1 Quando se fala em planejamento, nosso primeiro pensamento é a elaboração de um plano, a elaboração de normas e até quais recursos financeiros serão necessários. É claro que tudo o que foi dito é necessário, porém, o processo de planejamento vai além. É necessário observar a situação atual e verificar qual seria a situação ideal e, depois, iniciar a elaboração do plano e suas atividades para sair da situação real e chegar até a situação ideal. Assim, a primeira questão a se pensar é: onde queremos chegar? Quais objetivos queremos alcançar? Para que seja possível entender melhor, serão aprofundados os passos do processo do planejamento. 1.1 Desenvolvimento do planejamento em saúde Para Refletir Alice – Poderia me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui? Gato – Isso depende muito do lugar para onde você quer ir. Alice – Não me importa muito onde. Gato – Nesse caso, não importa por qual caminho você vá. Diálogo do livro Alice no País das Maravilhas (CARROLL, 1865) O diálogo entre Alice e o gato, citado acima, mostra a importância do planejamento, pois, se não temos metas e objetivos, ficamos à mercê das circunstâncias e dificilmente conseguiremos chegar a algum lugar. É claro que planejar não garante totalmente atingir os objetivos, mas nos leva mais próximo. Assim, podemos dizer que planejar reduz os riscos de incertezas. Da mesma forma, não basta o plano mostrar a situação ideal, é necessário mostrar os motivos de hoje não ser a situação ideal e descrever como chegar aos objetivos estabelecidos de forma possível. 10 No decorrer dos anos, o planejamento em saúde passou por mudanças. Inicialmente se utilizava o modelo normativo (CENDES-OPAS) e, depois, foi aprimorado, chegando ao desenvolvimento do planejamento estratégico em saúde. Vamos entender essa evolução. 1.2 Método CENDES-OPAS Foi desenvolvido entre 1962 e 1963 pelo Centro de Estudos do Desenvolvimento (Cendes), da Universidade Central da Venezuela, para suprir as situações apresentadas na Reunião de Punta Del Este, em 1961. Essa instituição elaborou um documento denominado “Problemas Conceptuales y Metodológicos de la Programação de la Salud” encomendado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Esse documento serviu para dimensionar as necessidade e recursos a serem destinados à saúde. Curiosidade Na Reunião de Punta Del Este (1961), encontravam-se ministros de Estado dos países da América Latina, que estabeleceram um amplo programa de auxílio financeiro internacional (Aliança para o Progresso). Para ter acesso a esses auxílios, os países teriam de elaborar programas de desenvolvimento ligados aos setores: econômico, reforma agrária, habitação, educação e saúde. Esse planejamento trouxe metodologia de gerenciamento de recursos para desenvolver ações com maior efetividade, ou seja, estabeleceu critérios objetivos para orientar a eleição das prioridades. Porém, esse método era elaborado por um planejador (técnico responsável por elaborar os planos) cuja função central era tomada de decisões utilizando bases racionais e objetivas, traçando tarefas precisas e limites cronológicos. Contudo, esse indivíduo não estava ligado diretamente à realidade local, focava o planejamento onde se deve chegar, mas não era capaz de identificar os imprevistos que podem ocorrer durante a execução do plano. Dessa forma, o planejamento era basicamente normativo, ou 11 seja, por meio de normas, com prioridades definidas de forma racional, baseadas em critérios definidos no próprio método. Esse desenho de planejamento normativo acabou sendo criticado no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, quando inicia o desenvolvimento de planejamentos estratégicos. 1.3 Planejamento estratégico O planejamento estratégico começa a ser estudado na década de 1970, período histórico no qual países da América Latina estavam iniciando os regimes autoritários. Os técnicos que elaboravam os planejamentos normativos passaram a rever esse processo e começaram a buscar uma nova forma de elaborar os planejamentos em saúde. Importante Os próprios planejadores, que iniciaram no método CENDES- OPAS, observaram as falhas existentes na visão do planejamentonormativo e evoluíram o método de planejamento em saúde, tornando-se especialistas e, hoje, referência em planejamento estratégico. Nesse primeiro momento, se faz críticas ao planejamento normativo, pois ele vem da transposição do planejamento econômico para a saúde, sem considerar as nuances dessa área. Na metade da década de 1980, inicia a produção de novos métodos, dos quais existem três vertentes básicas, que são: � Planejamento Estratégico-Situacional (PES): elaborado por Carlos Matus na Venezuela. Matus percebe o fracasso do modelo normativo e formula o PES, no qual o ator que planeja faz parte da realidade e interage com outros atores que também planejam. Esse é o método mais usado nos governos para elaboração de planejamento em saúde até os dias de hoje. 12 � Pensamento Estratégico de Mário Testa, na Argentina. Testa identifica que o poder de decisão não deve estar em apenas um âmbito, mas insere a necessidade do poder social e a articulação entre poder técnico, poder administrativo e poder político. � Enfoque Estratégico da Planificação em Saúde, elaborado na Escola de Medellin, na Colômbia, tendo sua linha de estudos voltada a órgãos internacionais de saúde como OPAS e OMS. No enfoque estratégico, o planejamento é feito por atores com interesses específicos e visões distintas da realidade, por estar inserido na realidade concreta. Dessa forma, cada perspectiva trará maior noção da realidade e melhor mediação entre plano e ação. No Brasil, as reformas de saúde, na década de 1970, foram influenciadas pelos movimentos populares de redemocratização, resultando em uma outra visão do planejamento em saúde e contribuindo com a construção do campo científico de Saúde Coletiva no Brasil. Além disso, as abordagens de planejamento estratégico em saúde trouxeram uma nova perspectiva para a programação em saúde, que serão abordadas logo mais. Por ter atividades mais complexas e com mais atores sociais envolvidos, o Planejamento Estratégico continua a fazer parte das organizações de saúde públicas e privadas. Para isso, é necessário seguir um processo que vai desde a identificação dos problemas até a avaliação dos resultados obtidos. Vocabulário Atores sociais: são os membros de um grupo que atuam em uma determinada situação e são capazes de transformá- la. Para isso, é necessário que o ator tenha capacidade de intervenção, controle ou capacidade de mobilizar os recursos necessários ao plano e sua aplicação,” (MS M. d., 1999) 13 1.4 Processos de planejamento e programação Existem diversas abordagens e métodos de planejamento em saúde, que são diferentes em relação às etapas, conceitos e marcos teóricos. Porém, devido à complexidades e dinâmica do setor saúde, não existe um método de planejamento específico que possa ser usado como uma receita de bolo. Na verdade, quem planeja deve observar e identificar os métodos que se encaixam naquele momento, podendo utilizar mais de um para elaboração do planejamento estratégico. 1.4.1 Processo de planejamento O planejamento Estratégico Situacional (PES) compreende que o futuro não é determinístico, dessa forma, o processo de planejamento engloba explorar o presente e o futuro para dar racionalidade às ações que serão elaboradas. Por isso, as ações devem ser avaliadas continuamente e, quando necessário, readaptadas de acordo com os problemas encontrados. Durante o planejamento, os atores envolvidos devem dimensionar suas atividades tanto a longo quanto a curto prazo. É claro que o grau de incerteza aumenta à medida que o período de tempo é maior e, dessa forma, as metas e os objetivos perdem suas características quantitativas e passam a ser mais qualitativos. Contudo, a característica dinâmica do PES permite a flexibilidade do plano para se adaptar aos imprevistos que podem aparecer. A configuração do PES é dividida em quatro momentos básicos: � Momento explicativo: observar os problemas presentes e identificar as oportunidades para a ação. Deve-se definir QUAIS problemas e POR QUÊ ocorrem; � Momento Normativo: definimos os objetivos, as metas, as atividades que serão realizadas e os recursos necessários; � Momento estratégico: estabelecemos os cursos das ações para quem consigam superar as dificuldades e expressando o que pode e o que deve ser feito para superar os obstáculos; 14 � Momento tático-operacional: esse é o momento de colocar em prática o que foi planejado. Em geral, o momento tático tem curto prazo, determinando o conjunto de ações para concretizar os objetivos fixados nos momentos anteriores, por isso, na saúde pode ser entendido como programação. 1.4.2 Programação em saúde O objetivo principal da programação em saúde é determinar o conjunto de ações para alcançar os objetivos e metas descritos no momento estratégico, maximizando os recursos necessários. Esse momento tem ações bem definidas e possíveis de se quantificar, para poder avaliar se prazos e metas foram cumpridos. É a execução propriamente dita, por isso, as metas e objetivos devem estar bem claras, para que os problemas cotidianos possam ser resolvidos com tomadas de decisões mais precisas, quando necessário. No Brasil, a programação em saúde atua na combinação da medicina preventiva e curativa, dessa forma, as atividades nos serviços de saúde estão articuladas ao trabalho comunitário e à atenção médica individualizada, sendo influenciadas pelo modelo da história natural da doença. 1.4.3 Processo de diagnóstico Iniciamos o planejamento com a identificação dos problemas atuais e qual a situação do futuro que queremos, em seguida, verificamos os fatores que geram esses problemas e, a partir dessa identificação, definimos metas e objetivos para alcançar as mudanças desejadas. 1.5 Diagnóstico situacional A identificação dos problemas atuais é chamada de diagnóstico da situação. Analisamos de forma mais profunda todas as informações encontradas e utilizamos os conhecimentos e experiências dos atores sobre a realidade em questão, buscando os fatores que levam a essa realidade. Assim, identificamos a 15 forma mais eficaz de atuar sobre a situação atual para chegarmos até a situação futura considerada ideal. Além disso, deve-se avaliar, dentre os problemas existentes, quais devemos dar prioridade para intervir. É necessário verificar quais dados são importantes e devem ser coletados, pois, à medida que os dados não são utilizados, a coleta deles se torna perda de tempo, e a falta de dados necessários pode dificultar a elaboração e implementação do planejamento. O diagnóstico, como parte do processo de planejamento, é considerado um instrumento para identificar problemas e verificar as estratégias de intervenção, sendo uma ferramenta base para a tomada de decisão. Construímos hipóteses iniciais e, à medida que implementamos as propostas podemos encontrar as lacunas e redirecionar as atividades. Por ser um processo com muitos detalhes, é comum que grande parte do processo de planejamento seja a etapa de diagnóstico. 1.5.1 Estimativa Rápida Participativa Um dos métodos utilizados para o processo de diagnóstico é a Estimativa Rápida Participativa (ERP), no qual se identificam as necessidades de saúde de grupos distintos, em conjunto com os administradores de saúde e a própria população. As vantagens desse método são o baixo custo, a rapidez com informações específicas da população definida e a sua simplicidade. Para que seja realizado, é necessária a coleta de dados pertinentes e que reflitam as condições locais e suas situações específicas, envolvendo a comunidade na identificação de seus próprios problemas e na busca de soluções para eles, conciliando o conhecimento teórico com o saber prático e facilitando a tomada de decisão. A partir dessa coletade dados, podemos identificar as condições de vida da população e a maneira como se distribui pelo território, evidenciando os problemas que a afetam e seus determinantes sociais, econômicos e ambientais. Quando transportado para o mapa territorial, temos, como resultado, um mosaico identificando as necessidades específicas dos grupos existentes e podemos fazer sua divisão em áreas menores, denominadas “microáreas de risco”. Assim, essa 16 identificação das particularidades evidencia quais são as áreas de maior prioridade e permite orientar o planejamento das ações de saúde alcançando resultados mais efetivos. A ERP utiliza, fundamentalmente, três fontes de dados: � Registros escritos, tanto de fontes primárias quanto de secundárias; � Entrevistas com informantes-chave; � Observação de campo. Cada etapa deve ser feita de forma cuidadosa e precisa para garantir o sucesso do planejamento, por isso, as fontes de dados devem ser confiáveis e precisas. Em geral, a organização do ERP se faz em três etapas: � Coleta e sistematização dos dados das diferentes fontes: preparação dos questionários; seleção e treinamento dos pesquisadores; organização da exploração do campo; � Sistematização da área: divisão empírica da região em microáreas para a distribuição das equipes em campo; � Trabalho de campo: inicia-se a observação do território e as entrevistas com os informantes-chave, além da análise dos dados estatísticos. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Na cartilha Planejamento em saúde, desenvolvida pelo Instituto Para O Desenvolvimento Da Saúde – IDS, é apresentado um passo a passo detalhado de como colocar em prática a ERP, que vamos ver em nossa aula, de forma resumida. Vale a leitura dessa e de outras cartilhas elaboradas para gestores municipais de serviços de saúde. Para iniciar essa atividade, devemos fazer um cronograma com as atividades que devem ser realizadas e o tempo necessário para serem 17 desenvolvidas, podendo ser em semanas ou dias. Algumas das atividades que podem estar nesse cronograma são: � Seleção dos membros da equipe; � Treinamento dos membros da equipe; � Reconhecimento inicial do campo; � Definição das microáreas de risco e das necessidades de saúde; � Observação de campo; � Seleção dos informantes-chave; � Análise dos dados existentes; � Elaboração dos questionários; � Aplicação dos questionários; � Análise do conjunto de dados coletados das distintas fontes. Essas atividades não precisam ser realizadas nessa ordem, nem seguir apenas essas atividades. Durante o processo de diagnóstico, devemos abrir possibilidade para visualizar o que realmente é necessário utilizando, como base o conhecimento dos atores envolvidos. Para realizar a coleta de informações, é necessário formar uma equipe, de preferência, multissetorial, para enriquecer o trabalho que será realizado pois, assim, terá uma análise por diversos pontos de vista. Capacitar essa equipe para que consiga ter atenção e sensibilidade para observar os detalhes das microáreas, mas também escolher profissionais que tenham perfil como disposição para aprender, saber ouvir os entrevistados e ter bom senso na análise das informações. Para a escolha das informações, é necessário que esses profissionais consigam identificar, dentro da comunidade, indivíduos capazes de representar o ponto de vista coletivo. Em geral, esses indivíduos já têm um papel importante nessa comunidade, como professores, líderes comunitários, pastores, padres, benzedeiras, donos de comércio local etc. Porém, ter esses indivíduos para auxiliar não descarta a necessidade da equipe profissional ser treinada e qualificada para estar atenta à área em análise. Após essa visita de campo, é possível elencar os dados que devem ser coletados, a forma que será desenvolvido o questionário, qual perfil dos 18 indivíduos que serão entrevistados etc. Por isso, a elaboração do questionário faz parte desse processo diagnóstico e sua aplicação na comunidade também. O próximo passo é analisar os dados agrupando os semelhantes como, por exemplo, perfil demográfico da população, informações sobre saneamento básico, qualidade dos serviços de saúde etc. Dessa forma, conseguimos seguir com o planejamento, iniciando o desenho do plano. 1.6 Desenho do plano e avaliação do planejamento Com os dados em mãos, conseguimos identificar as prioridades da microárea, avaliando a situação atual e elaborando as intervenções necessárias para chegar a situação ideal. Importante Existem dois pontos importantes em relação aos problemas encontrados. Primeiro que, em geral, um problema é consequência de outro problema, então, a coleta de dados deve ser profunda o suficiente para identificar a causa raiz. Dessa forma, a equipe responsável deve conseguir explicar o problema encontrado e suas causas para conseguir dar continuidade no planejamento. 1.6.1 Desenho do plano Chegamos, então, à definição das estratégias de intervenção. Existem várias estratégias de intervenção para cada problema identificado, por isso, quanto mais aprofundado for o processo diagnóstico, conseguimos encontrar de forma mais precisa as causas desses problemas e, consequentemente, elaborar o planejamento de forma mais eficaz. Além disso, é importante ter em mente que para cada problema encontrado deve ser feito apenas um plano de intervenção. Dessa forma, o número de planos está relacionado com o tempo que a equipe tem para desenvolver as atividades, por isso, busca-se identificar e selecionar os problemas de maior impacto primeiro. Na literatura, você encontrará o termo plano de ação para esse conjunto de projetos. 19 Com as metas e objetivos definidos, as atividades elaboradas e com o cronograma de intervenção estabelecido, é necessário fazer os cálculos dos recursos que serão utilizados, desde materiais simples como papel e caneta, até quantos profissionais serão necessários, fazendo um balanço entre os recursos que temos na situação real e os recursos necessários para chegar à situação desejada. Para a elaboração das metas e objetivos, podemos contar com a ajuda de especialistas na área desejada, mas não podemos esquecer da participação dos atores para a tomada de decisão, pois, estes atores conhecem o ambiente em que serão implantadas as atividades, tendo conhecimento suficiente para identificar o que pode ou não dar certo. Além disso, podemos buscar experiências de outras instituições, ou até mesmo outros países podem nos dar uma direção, mas não podemos afirmar que conseguiremos propor as mesmas atividades, pois cada área tem suas particularidades e necessidades, dessa forma, o estudo se faz necessário, mas devemos utilizar como orientação e não como uma norma pronta que deve ser seguida à risca. Com as estratégias de intervenção traduzidas em metas e objetivos e elaboradas as atividades necessárias relacionadas em um cronograma e os recursos previamente calculados, devemos relacionar os indicadores para avaliar os resultados encontrados. Dessa forma, conseguimos verificar se as ações estão tendo as respostas esperadas ou se é preciso adaptá-las para chegar aos resultados estabelecidos, fazendo, então, a avaliação do plano. 1.6.2 Avaliação do planejamento Essa avaliação tem como objetivo nortear as atividades em andamento, monitorando os resultados encontrados e comparando com os resultados considerados na situação ideal, mas também, para justificar as atividades desenvolvidas. Ou seja, mostrar para os gestores que os valores investidos nesse planejamento estão sendo bem utilizados. Contudo, devemos lembrar que 20 essa retroalimentação de informação serve, primeiramente, para os ajustes necessários para os objetivos propostos. Saiba Mais Alguns autores descrevem avaliaçãocomo algo momentâneo, com o uma “foto” da realidade, em geral, feita após um tempo determinado da implantação das ações. Já o monitoramento é descrito como uma atividade permanente que dura um período de tempo mais prolongado, verificando o comportamento em vários momentos, que não são, necessariamente, excludentes. Você pode monitorar as atividades durante a implantação, verificando as tendências para adaptá-las e depois fazer uma avaliação mais profunda dos resultados encontrados. A construção de um modelo de avaliação está relacionada com o desenho do plano e os indicadores escolhidos, mas, via de regra, buscam responder questões como: � As intervenções propostas são coerentes com os problemas encontrados? � Os resultados esperados serão alcançados se os objetivos também forem alcançados? � Os indicadores propostos medem de forma efetiva os resultados esperados? � Os problemas identificados serão impactados pelas atividades/ações propostas? Em que medida? Conseguimos observar que elaborar um planejamento não é seguir simples normas ou diretrizes, é necessário muito estudo, tanto de conhecimentos científicos como da rotina do local que será modificado. Dessa forma, para um bom planejamento e programação em saúde, é necessário um acompanhamento durante toda a elaboração e implantação das ações, para que seja possível 21 identificar e intervir, quando necessário, a fim de alcançar os resultados esperados. Conclusão da aula 1 Com base no que já vimos, podemos entender que planejar é um processo para determinar qual caminho seguir para sairmos da situação atual e chegarmos até a situação desejada. Para isso, conhecer a rotina do local que será implantado o plano é de extrema importância e, portanto, é necessário que os atores que fazem parte do dia a dia estejam integrados nas tomadas de decisões relacionadas ao planejamento. Definir as atividades que devem ser tomadas e identificar potenciais imprevistos para combatê-los também faz parte do processo de diagnóstico, o qual tem extrema importância para coleta de dados. Com esses dados em mãos, devemos desenhar o plano com metas e objetivos claros, para desenvolver as ações necessárias para se chegar à situação considerada ideal. Durante a implantação das ações, devemos fazer a avaliação dos resultados utilizando indicadores previamente escolhidos, para que consigamos obter os resultados esperados, seja mantendo as atividades ou modificando-as conforme a avaliação dos indicadores. Atividade de Aprendizagem Quando pensamos em planejamento já se visualiza um grande trabalho, com diversas tarefas e vários atores envolvidos. Então, para treinarmos o conceito de planejamento, imagine que você deve fazer uma festa de aniversário para uma criança de 10 anos. Lembre-se que deve descrever todas as atividades; quem será responsável por cada uma delas, e fazer um cronograma para não se perder. 22 Aula 2 - Sistemas de saúde e organização de serviços Apresentação da aula 2 Nesta aula vamos entender o que são Sistemas de Saúde e proteção social, como ocorre a evolução e implantação deles pelo mundo, além de conhecer como foi a evolução do nosso Sistema Único de Saúde (SUS). 2.1 Sistemas de saúde e sistemas de proteção social A busca por sistemas de serviços de saúde pelo ser humano acontece desde o momento em que ele percebe a necessidade de proteger sua saúde e tratar as suas doenças. Dessa forma, o cuidado consigo e com os demais faz com que o homem busque cada vez mais conhecimento sobre as doenças e as formas de prevenção e tratamento. Inicialmente, o principal tratamento era isolar o doente para que outros não manifestassem a mesma doença, mas atualmente a compreensão de que os processos patológicos são mais complexos e multicausais fez o ser humano elaborar de forma mais complexa esses cuidados. Diante disso, surgem os sistemas de saúde. 2.1.1 Conceito de sistemas de saúde A definição de Sistemas de Saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde é: o conjunto de atividades cujo propósito primeiro é promover, restaurar e manter a saúde de uma população. Independentemente do tipo, os sistemas de saúde têm como objetivos: � O alcance de um nível ótimo de saúde, distribuído de forma equitativa; � A garantia de uma proteção adequada dos riscos para os cidadãos; � O acolhimento humanizado dos cidadãos; � A garantia da prestação de serviços efetivos e de qualidade; � A garantia da prestação de serviços com eficiência. 23 Para chegar até os sistemas de saúde que existem hoje, historicamente, há uma grande luta pelo cuidado da saúde de toda a população. Isso ocorre em diversos países em diferentes momentos, iniciando com ideias relacionadas à proteção social. 2.1.2 História da proteção social A busca do ser humano pela proteção social é muito antiga, tendo como origem a Grécia e a Roma antigas. Nessas civilizações a proteção social tinha a característica de pater familiae, ou seja, o patriarca como principal responsável pela proteção dos seus familiares. Hoje pensamos em família como a pequena instituição de pais e filhos, mas naquela época, a constituição familiar era mais ampla, reunindo avós, irmãos, pais, filhos, sobrinhos e os cônjuges, quando havia, sendo todos comandados pelo homem mais velho com vigor físico. Os que não tinham essa proteção familiar nem tinham condições de se sustentar, dependiam de ajuda através da caridade praticada pelos mais ricos. Em 1601, na Inglaterra, a Lei dos Pobres (Poor Relief Act) constitui o marco em relação a assistência social, pois regulamenta a instituição de auxílios e socorros públicos aos que deles necessitavam. Essa lei descreve que os juízes da Comarca poderiam cobrar o imposto de caridade, pago pelos que possuíam terras, repassando esses valores, por meio dos inspetores nomeados pelos juízes para as paróquias da região que passaria, então, aos mais necessitados. Continuando nessa tendência de cuidado do menos favorecido, a Convenção Nacional francesa, de 1793, elabora a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na qual o artigo 21 descreve o auxílio público como uma dívida sagrada, sendo obrigação da sociedade o amparo aos cidadãos infelizes, disponibilizando trabalho aos que poderiam trabalhar e assistência aos incapacitados. MContudo, foi com o crescimento do capitalismo que ocorreu a evolução da proteção social. Com o fortalecimento das indústrias e pressão dos próprios empregados, alguns empresários buscavam garantir cobertura dos principais riscos e necessidades de seus empregados, em alguns casos, com moradia e educação mínima para os filhos dos trabalhadores. 24 Importante Percebam que, com o passar do tempo, a proteção social e assistencial deixa de ser apenas uma questão de princípio do ser humano e passa a ser institucionalizada. O Estado passa a ter responsabilidade pela gestão e organização da proteção social com a iniciativa de trabalhadores independentes, que não aceitavam essa supremacia das indústrias sobre sua existência. Com a cobertura dos riscos relacionados ao trabalho nas indústrias, esse trabalho passa a ser mais atraente e a população sem renda começa a se tornar assalariada. Em cada país essas mudanças aconteceram em momentos e características diferentes, de acordo com os regimes de governo existentes. Entretanto, em todos, o Estado acaba tomando parte desse cuidado social em amparo à sua população. Curiosidade A proteção social em que empregados e empregadores contribuem, e apenas eles recebem os benefícios é chamado por alguns autores de sistema Bismarckiano de previdência, já o sistema denominado Beveridgiano tem como característica a universalidade, sendo destinado a todos os cidadãos. No final da II Guerra Mundial, essacobertura estatal passa a ser mais abrangente, vai além da assistência à saúde e renda durante a velhice. A inclusão de cuidados e renda na doença e na invalidez também surgem, além da garantia de renda em caso de desemprego, e, em alguns países, acontece a inclusão do cuidado com as crianças, habitação e até reciclagem da mão de obra desempregada. Em geral, o custeio dessa proteção era tripartite, ou seja, dividida entre as três partes envolvidas: empregado, empregador e governo. 25 2.1.3 Proteção social no Brasil Entendemos como foi a evolução da proteção social no mundo, no Brasil não foi muito diferente. A proteção social inicia com as Santas Casas de Misericórdia, fundadas pelo padre jesuíta José de Anchieta e administradas pela igreja Católica. Em 1795, é criado o plano Oficial da Marinha para os órfãos e viúvas, podendo ser considerado a introdução do conceito de pensão por morte. Dom Pedro de Alcântara, em 1821, publicou um decreto que concede aos mestres e professores a possibilidade de se aposentar, desde que completassem 30 (trinta) anos de serviço. Nos anos de 1800, surge o início do pensamento sobre a aposentadoria com o Montepio (1808) e a Mongeral (1835), ambos organizados por servidores públicos. Eram o início de uma previdência privada, assim, os indivíduos se associavam e contribuíam para um fundo comum que realizava pagamento de benefícios em casos de morte e invalidez, mas eram exclusivos aos funcionários públicos. O marco da proteção social no Brasil vem com a Lei Eloy Chaves, relacionada à previdência social, em 1923. Nesse Decreto Legislativo, ocorre a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP) para os empregados das empresas ferroviárias. A partir desta, surgem outras leis previdenciárias para outros setores, existindo um CAP para cada empresa, que administrava e organizava a participação de seus empregados. Já em 1930, ocorre a unificação de várias CAPs, criando diversos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP) também relacionadas ao tipo de trabalho como marítimos, comerciários, bancários etc. Nessa situação, já estavam vinculados às autarquias públicas de âmbito nacional, e, com a Constituição Federal de 1934, o custeio passa a ser tripartite, inserindo a participação do Estado além do empregado e do empregador. Porém apenas na Constituição de 1946 se destaca a cobertura em casos de invalidez, morte, velhice, maternidade e doença, inserindo a expressão “Previdência Social”. A unificação dos IAPs acontece em 1966 com o Decreto-Lei n. 72, de 21 de novembro, dando origem ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Até aqui, a movimentação social estava focada na proteção social relacionada a emprego e suas garantias, mas começaram a perceber as dificuldades em 26 relação à assistência médica, por isso, em 1977, foi criado o Instituto Nacional de Assistência Medica da Previdência Social (INAMPS). Já em 1990, o INPS é modificado e se torna o atual Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Importante Pode até parecer estranho estarmos falando sobre proteção social em um capítulo sobre sistemas de saúde, mas, nessa época, a assistência à saúde era exclusiva aos trabalhadores e seus dependentes. A população que não tinha emprego era amparada pelas casas de caridade. Foi com a Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Saúde que essa situação começou a mudar. Essas mudanças veremos mais adiante. 2.2 Tipologias de sistemas de saúde A evolução dos sistemas de saúde em cada país está relacionada com a evolução da proteção social. Dessa forma, cada país tem seu sistema de saúde organizado de acordo com a modalidade de intervenção do governo no financiamento, na condução da regulação dos setores assistenciais e na prestação dos serviços de saúde. Os tipos mais encontrados de sistemas de saúde são: � Social-democratas ou institucional redistributivo; � Corporativistas ou meritocráticos; � Assistencial ou residual. 2.2.1 Social-democratas ou institucional redistributivo Esse perfil de sistema tem caráter universal e financiado por impostos, tendo como alicerce o princípio da cidadania, garantindo acesso a todos, incluindo os que não têm renda, sendo substituído a contribuição de empregadores e empregados pelos impostos. 27 O Estado é responsável pela prestação dos serviços de saúde, sendo proprietário da grande maioria dos hospitais e ambulatórios e os funcionários têm cargo público. Os serviços privados que podem existir acabam sendo contratados pelo próprio serviço público que consegue, assim, regulamentar e controlar os custos desse setor. Dentre os países que possuem esse sistema de saúde estão: o Reino Unido, Espanha, Dinamarca, Suécia, Grécia, Finlândia, Portugal e Itália. Importante Em países socialistas, os sistemas de saúde são financiados e centralizados no Estado com acesso universal. Apesar de ter características semelhantes ao modelo institucional redistributivo, não é possível comparar, pois nesses países não é possível desenvolver um setor privado de saúde. 2.2.2 Corporativistas ou meritocráticos São sustentados pela contribuição dos empregadores e dos empregados, podendo contar com recursos de impostos em alguns casos. Têm origem nas Caixas organizadas pelos profissionais, assim, a assistência médica fica diretamente relacionada à capacidade financeira do indivíduo, levando a uma diferenciação dos cuidados. Para Refletir O que passa pela sua cabeça quando pensa em assistência à saúde apenas para pessoas empregadas? Parece desigual? Lembre-se de que esse perfil de sistema de saúde existe em países desenvolvidos como a Alemanha. Nesses países, praticamente toda a população está empregada, ou seja, quase 100% da população está coberta pelo sistema. E agora, continua parecendo desigual? 28 2.2.3 Assistencial ou residual O principal exemplo desse tipo de sistema encontra-se nos Estados Unidos, onde o Estado se responsabiliza pelos mais necessitados e, parcialmente, aos aposentados, deixando que cada indivíduo compre seus serviços de saúde. Nesse contexto, as pessoas que possuem renda, mesmo que insuficiente para pagamento de plano de saúde, não estão cobertas pela assistência governamental. 2.3 Reformas dos anos 1990 e as novas formas de organização de saúde Vimos a importância da luta social por medidas de proteção social no mundo e no Brasil e sua evolução. A partir de agora, vamos entender como aconteceu a evolução de proteção de saúde e quando deixou de ser vinculada à população com emprego e passou a ser universal. Pesquise Entre as décadas de 1970 e 1980 houveram grandes eventos importantes para a evolução de conceitos em saúde pública, dentre eles estão: � “Declaração de Alma Ata” – OMS - 1978 � 8ª Conferência Nacional de Saúde – 1986 São marcos importantes que valem a pesquisa para aprofundar seu conhecimento. 2.3.1 Constituição Federal de 1988 Para conseguir chegar às mudanças do sistema de saúde, temos que começar pela Constituição Federal de 1988, que trouxe a base para a criação do SUS. 29 Também conhecida como “Constituição cidadã”, ela traz pontos referentes à saúde inspirados na 8ª Conferência Nacional da Saúde e estabelece os direitos dos usuários, os deveres do estado e as diretrizes da organização do sistema, entre outros fundamentos do SUS. No capítulo II, o artigo 196 define que "a saúde é direito de todos e dever do Estado". Além disso, a Constituição prevê acesso universal e igualitário aos serviços e ações de saúde, bem como regionalização e hierarquização, descreve, também, sobre participação social, descentralização e participação de cada esfera de governo. Para regulamentar o Sistema Único de Saúde (SUS), a Constituição Federal descreveu a necessidadede leis complementares e ordinárias, por isso, foi criada a chamada Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) e o Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que veremos a seguir. Além dessas, foram criadas a Lei 8.142/90, a Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000 e a Lei Complementar nº 14. Mas elas estão relacionadas ao financiamento dos serviços, por isso, vamos deixá-las para o tópico específico. 2.3.2 Lei Federal n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990 Essa Lei dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e de outras providências. Além disso, ela regula as ações e serviços de saúde em todo o território nacional, determinando o funcionamento não apenas dos serviços públicos, mas também os privados, que têm caráter complementar e/ou suplementar nesse sistema. Para Refletir A Lei 8.080/90 permite a existência da iniciativa privada nos serviços de saúde como complemento ao serviço público. Considerando os dias de hoje, é isso que acontece? Por 30 que a realidade não condiz com o proposto na legislação? Esse modelo de sistema de saúde foi considerado como um novo modelo com três características que o definem: � Nacional: ser um sistema único para todo o país; � Descentralização: o gestor desse sistema é o executivo do município, com suporte estatual e federal; � Novas formas de gestão: participação de vários atores, como os prestadores de serviços, trabalhadores, gestores e usuários. Ela reforça o direito à saúde universal, sendo dever do Estado prover essas condições por meio da elaboração e execução de políticas econômicas e sociais, para acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde. Essa legislação foi incrementada com outras legislações deixando-a mais ampla e robusta, como, por exemplo, relacionada ao cuidado da saúde indígena, ao direito da parturiente de ter um acompanhante em todo o processo, entre outras. Vocabulário Parturiente: que ou quem está em trabalho de parto ou que acabou de parir. Após a criação do SUS, houve a necessidade de implementar ações utilizando normas e portarias ministeriais, como as Normas Operacionais Básicas (NOBs) e a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS), como instrumentos de regulamentação do SUS. Porém, mesmo com essas normas, haviam vários problemas principalmente relacionados ao financiamento das ações de saúde definindo de forma clara as 31 funções de cada esfera de governo. Por isso, foi criado em 2011, o Decreto n. 7.508 para regulamentando as atividades do SUS. Tabela 1. Legislações que incrementam a Lei 8.080/90 Legislação Cabeçalho da Legislação Decreto nº 1.651, de 28 de setembro de 1995 Regulamenta o Sistema Nacional de Auditoria no âmbito do Sistema Único de Saúde. Lei nº 9.836, de 23 de setembro de 1999 Acrescenta dispositivos à Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, que "dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, à organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e de outras providências", instituindo o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena Lei nº 10.424, de 15 de abril de 2002 Acrescenta capítulo e artigo à Lei 8.080, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento de serviços correspondentes e dá outras providências, regulamentando a assistência domiciliar no Sistema Único de Saúde. Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005 Altera a Lei 8.080, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Lei nº 12.401, de 2011 Altera a Lei 8.080, para dispor sobre a assistência terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do SUS. Lei nº 12.466, de 24 de agosto de 2011 Acrescenta arts. 14-A e 14-B à Lei 8.080, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e de outras providências”, para dispor sobre as comissões intergestores do Sistema Único de Saúde (SUS), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e suas respectivas composições, e dar outras providências. Lei nº 12.864, de 24 de setembro de 2013 Altera a Lei 8.080, incluindo a atividade física como fator determinante e condicionante da saúde Lei nº 12.895, de 18 de dezembro de 2013 Altera a Lei 8.080, obrigando os hospitais de todo o País a manter, em local visível de suas dependências aviso informando sobre o direito da parturiente a acompanhante. 32 Lei nº 13.097, de 19 de janeiro de 2015 Altera o arts. 23 e 53 da Lei 8.080, permitindo a participação de empresas ou de capital estrangeiro na assistência à saúde. Fonte: elaborada pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 2.3.3 Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011 Esse decreto regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde, regulamentando o planejamento da saúde, a assistência à saúde, à articulação interfederativa, entre outras providências. Esses elementos estão descritos na lei 8.080/90, pois esse decreto foi estabelecido para regulamentar a Lei, trazendo maior clareza em vários aspectos e propondo dispositivos para colocar em prática e organizar o sistema. Dentre as mudanças que esse decreto trouxe, a mais impactante está na estrutura dos níveis de atendimento. No início do SUS, falava-se em três níveis de atenção: primária (considerada porta de entrada), secundária e terciária. A diferenciação vinha de acordo com os níveis de complexidades. Essa complexidade está atrelada às tecnologias aplicadas, porém, essa visão aparenta uma simplicidade na atenção primária e a única possibilidade de entrar no SUS, se dá por meio dela. Contudo, essa nova legislação traz uma nova visão e um novo conceito nessa estrutura, chamado de “Redes de Atenção à Saúde”, que veremos com mais detalhes na próxima aula. Podemos perceber que as manifestações sociais trouxeram muitos benefícios em relação à proteção social e criação de sistemas de saúde em diversos países. No Brasil, não foi diferente, essas manifestações deram força para a criação de um sistema de saúde universal, independente de profissão e de estar ou não empregado, o que é necessário em países com desigualdade social, como temos aqui. Conclusão da aula 2 Nessa aula vimos que o ser humano busca por cuidado e por cuidar dos seus semelhantes, levando a luta por direitos relacionados à saúde e à 33 necessidade de uma posição dos governos, mesmo que a posição seja intervir apenas nos casos de extrema pobreza, como nos Estados Unidos. No Brasil, temos a intervenção do Estado com a Constituição Federal de 1988, e posteriormente com a Lei 8.080/90. Como todo processo de implantação, leva tempo, ao longo dos anos temos legislações que atualizam a Lei Orgânica e, apenas em 2011, temos o Decreto 7.508 que regulamenta a Lei 8.080, que traz mudanças de estruturas e conceitos relacionadas aos níveis de atenção. Atividade de Aprendizagem Na Lei 8.080 estão descritos os princípios do SUS. Dentre eles, 3 são considerados doutrinários, os quais conferem legitimidade ao SUS: a universalidade, a integralidade e a equidade. Para aprofundar seus conhecimentos, pesquise sobre esses três princípios, o que significam e de que forma impactam na proteção social. Aula 3 – Organização das redes de atenção à saúde e Financiamento Apresentação da aula 3 Como vimos nas aulas anteriores, o desenvolvimento do cuidado em saúde evoluiu muito, tanto em relação ao planejamento,quanto em relação à proteção social. Vamos aprofundar mais o nosso conhecimento continuando a falar sobre como funciona o sistema de saúde do nosso país, o SUS, sua estrutura e sua forma de financiamento. 3.1 Conceitos fundamentais A inserção do conceito de Redes de Atenção à Saúde vem de estudos relacionados com a forma de observar a doença, as características da população, 34 as mudanças que aconteceram nos últimos anos e a estruturação do sistema de saúde. 3.1.1 Condições de saúde. O termo doença é muito utilizado no nosso dia a dia, mas ele é mais comum quando estamos analisando a etiopatogenia, principalmente em estudos epidemiológicos. Nesses estudos as doenças são divididas, em geral, em transmissíveis e doenças crônicas não transmissíveis. Vocabulário Etiopatogenia: estudo do que provoca uma doença, uma patologia, análise especializada das causas que ocasionam o desenvolvimento de certas doenças. Porém, na atenção à saúde, essa classificação não é a mais completa, pois algumas doenças transmissíveis têm característica de longo período podendo necessitar de tratamento pela atenção à saúde, semelhante às doenças consideradas crônicas e não transmissíveis, ou seja, não se enquadram em nenhum dos dois. Além disso, essa forma de caracterizar a situação se baseia apenas nas doenças, mas existem condições fisiológicas que necessitam de cuidados profissionais, mas não são consideradas doenças, como a gravidez ou cuidados ao recém-nascido. Dessa forma, Mendes (2011) define condições de saúde como “as circunstâncias na saúde das pessoas que se apresentam de forma mais ou menos persistente e que exigem respostas sociais reativas ou proativas, eventuais ou contínuas e fragmentadas ou integradas dos sistemas de atenção à 35 saúde”. A condição de saúde pode ser: condições agudas e condições crônicas, sendo baseada no tempo de duração dessa situação do paciente. Para Refletir Quando se fala de doença, o foco do profissional é o tratamento, tendo, então, um modelo curativo de atenção. Quando mudamos o foco para a condição de saúde do paciente, mudamos também a forma de atuação, com isso, é necessária a mudança no sistema de saúde, que passa de modelo fragmentado para um integrado. Conseguem perceber a necessidade de passarmos de um modelo curativo para um modelo mais complexo? As Condições de saúde agudas, em geral, são manifestações de doenças transmissíveis de curso curto, como gripe, apendicite, ou ainda as condições de causas externas, como os traumas. Em geral, essa condição de saúde tem como características: � Iniciam-se repentinamente; � Apresentam uma causa simples e facilmente diagnosticada; � São de curta duração; � Respondem bem a tratamentos específicos, como os tratamentos medicamentosos ou as cirurgias. Nesses casos, o diagnóstico deve ser rápido e preciso, sendo necessário conhecimento e experiência do profissional. Após o tratamento, a pessoa restabelece a saúde, podendo voltar à sua rotina de vida. Quando falamos em condições de saúde crônica, é comum pensar em doenças como diabetes e câncer, porém, existem outras condições como gestação, manutenção do ciclo de vida (acompanhamento do recém-nascido, monitoramento da capacidade funcional do idoso), deficiência física (amputação, cegueira etc.) que também são consideradas condições de saúde crônicas, pois 36 também exigem cuidados dos profissionais da saúde, principalmente da atenção básica. Essas condições agudas, não tratadas de forma correta, podem se tornar condições crônicas. O início da condição de saúde crônica, em geral, tende a ser mais lento, bem como sua evolução, com múltiplas causas, como hereditariedade, estilo de vida, exposição a fatores ambientais e a fatores fisiológicos. Por terem longa duração, podem reduzir a capacidade funcional do paciente e, consequentemente, afetar a qualidade de vida dele. Essa condição pode apresentar, em determinado período de sua história, eventos agudos, chamamos então de agudização da condição crônica. Vocabulário Agudização: é quando o portador de doença crônica não é cuidadoso e apresenta um quadro agudo. Exemplo: paciente portador de diabetes que apresenta uma hiperglicemia sofre uma agudização. 3.1.2 Perfil demográfico do país. O perfil das condições de saúde no Brasil vai desde a necessidade do tratamento e cura de condições infectocontagiosas, que aparecem em países em desenvolvimento, até o acompanhamento de doenças crônicas. Isso se dá devido à modificação do perfil demográfico, às mudanças nos padrões de consumo e nos estilos de vida, a urbanização acelerada e as estratégias mercadológicas em nosso país. É possível perceber, não só no Brasil, mas em todo o mundo, que a taxa de nascimento está diminuindo e a expectativa de vida está aumentando. Com isso, as mudanças no perfil das condições e, consequentemente, a necessidade de mudar a estrutura e a forma de atendimento na atenção à saúde, principalmente, a atenção básica, deixam de ter foco apenas curativo, e passam a focar na prevenção e no tratamento das condições crônicas. 37 Perfil demográfico da população brasileira (2017) Fonte: IBGE: < https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-age Ncia-de-noticias/noticias/20980-numero-de-idosos-cresce-18-em-5-anos-e-ultra passa-30-milhoes-em-2017> No gráfico conhecido como pirâmide demográfica, pode-se observar que a taxa populacional de crianças é menor que a de adolescentes, e que a taxa da população de idosos acima de 80 está equivalente à de idosos entre 75 e 80 anos. Esse novo perfil demográfico aparece com a diminuição da taxa de mortalidade relacionada a doenças infecciosas em pacientes mais jovens e jovens adultos, juntamente com a maior exposição aos fatores de risco associados às doenças crônicas e o aumento da população idosa e da expectativa de vida, por isso, as doenças crônicas tornam-se mais prevalentes. Além disso, temos uma baixa taxa de fecundidade e natalidade, ou seja, estão nascendo menos crianças. O aumento da prevalência de doenças crônicas reduz as atividades de trabalho do portador, podendo até levar à falta de emprego. Consequentemente, a sociedade em geral sofre com perda de produtividade e de qualidade de vida. A atenção básica focada no modelo curativo vem, historicamente, do perfil demográfico e epidemiológico que existia no Brasil durante a criação do SUS. 38 Porém, esse perfil se modifica com o tempo, e por isso é necessária uma nova estruturação na atenção à saúde. 3.1.3 Redes de atenção à saúde (RAS) Com a visão de se implantar um sistema de saúde mais integrado, as redes de atenção têm a finalidade de aproximar os níveis de diversas complexidades e substituir a organização piramidal fragmentada. A própria Organização Mundial de Saúde recomenda para os países a implantação de modelos de assistência mais integrados entre si. O modelo tradicional trabalha com níveis de atenção focados na complexidade, principalmente tecnológica, de modo que acaba sendo fragmentado com foco nas condições agudas ou agudização das condições crônicas. Esse modelo é conhecido pela sua característica piramidal. O novo modelo de atenção tem uma característica horizontal, tendo a unidade básica como centro, em geral, a porta de entrada do usuário, mas não exclusiva. Dessa forma, a atenção básica coordena a rede e o cuidado central da comunidade, sendo estratégico para garantir acesso equitativo aos serviços de saúde e responsável pelo cuidado do usuário do sistema durante todo o processo de tratamento e acompanhamento. Além disso, cada ponto, com sua densidade tecnológica, não tem necessariamente uma ordem e nem grau de importância, sendo todos igualmente importantes para atender as necessidadesdo usuário. Essa estruturação horizontal fortalece e, em alguns casos, modifica as funções de cada área, bem como seu perfil assistencial. 3.2 Funções e perfil assistencial Esse modelo de atenção à saúde traz uma mudança na visão dos níveis de atenção e solidifica suas funções e o perfil da assistência à saúde. Isso para melhorar o atendimento, seguindo os novos padrões descritos pela OMS e se adaptando ao novo perfil dos usuários. 39 3.2.1 Estrutura operacional das redes de atenção à saúde e suas funções A estrutura operacional das redes de atenção à saúde possui cinco componentes importantes: � Pontos de atenção à saúde secundários e terciários; � Centro de comunicação localizado na atenção primária à saúde; � Sistemas de apoio; � Sistemas logísticos; � Sistemas de governança da rede. 3.2.1.1 Pontos de atenção à saúde secundários e terciários São os pontos na rede que ofertam os serviços especializados e têm uma complexidade tanto tecnológica quanto profissional. Dentre os existentes, podemos citar como exemplo os centros ambulatoriais especializados, os lares abrigos, os centros de apoio psicossocial, entre outros. Podem se apresentar dentro dos hospitais por serem centros de alta densidade tecnológica, podendo abranger vários pontos da rede de atenção à saúde. 3.2.1.2 Centro de comunicação localizado na atenção primária à saúde É o nó central da rede, o qual gera o fluxo e o contrafluxo do sistema de serviços de saúde, tendo como local a atenção primária que pode ser a unidade de saúde ou, ainda, a própria equipe de atenção primária. Isso porque faz parte da equipe estratégica de saúde da família ir até a comunidade, dessa forma, ela mesma insere o usuário no sistema de saúde e segue com o seu acompanhamento. Para ser considerada como centro de comunicação, a atenção primária deve ter papel resolutivo na grande maioria dos problemas de saúde da população, organizar e coordenar os fluxos e contrafluxos das pessoas pelos pontos da rede, além de se responsabilizar e corresponsabilizar pela saúde desse usuário em qualquer ponto de atenção que esteja. 40 3.2.1.3 Sistemas de apoio Serve exatamente como apoio aos demais pontos da rede, sendo lugares institucionais que prestam serviços comuns a esses pontos de atenção à saúde. Podem estar relacionados ao apoio diagnóstico e terapêutico, como diagnóstico por imagens, endoscopias, exames laboratoriais, entre outros. Dentro desses sistemas de apoio há, também, os sistemas de informação com os bancos nacionais, regionais e locais, além da assistência farmacêutica relacionada à logística do medicamento e das ações relacionadas ao uso racional, elaboração de protocolos e a farmacovigilância. Vocabulário Farmacovigilância: ciência e atividades relativas à identificação, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou quaisquer problemas relacionados ao uso de medicamentos. 3.2.1.4 Sistemas logísticos São considerados soluções tecnológicas que garantem a organização do fluxo e contrafluxo utilizando as tecnologias de informação. A utilização do cartão do usuário para identificação, o prontuário clínico, o sistema de acesso e os sistemas de transportes fazem parte desse componente da rede de atenção à saúde. 3.2.1.5 Sistemas de governança da rede Esse último componente permite a gestão dos demais, envolvendo diferentes procedimentos, estratégias e atores para desenvolver essa atividade. Essa governança é realizada de forma compartilhada e interfederativa, para 41 melhores resultados econômicos e sanitários. Deve ser feita pelas comissões Intergestores das três esferas de governo. 3.2.2 Perfil assistencial O modelo assistencial identificado nas redes de atenção à saúde trata o usuário a partir da atenção básica e o acompanha por todo o processo, isso inclui desde o atendimento hospitalar até o acompanhamento domiciliar. O atendimento primário à saúde, ou atendimento básico, consiste em um conjunto de estratégias para a assistência integral e contínua às famílias e à comunidade, incluindo ações multiprofissionais. O Programa Saúde da Família (PSF), e seu núcleo de apoio, traz essa característica de forma evidente. Esse programa foi criado em 1994, hoje é conhecido como Estratégia de Saúde da Família (ESF), tendo como característica a ampliação da forma de abordagem aos problemas de saúde por meio de ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, além, também, da reabilitação das condições de saúde e seus agravos. Curiosidade A introdução dos conceitos do PSF acontece em 1991, com a criação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). O início da reforma no setor saúde serviu para aumentar o acesso ao sistema de saúde, com ações de prevenção e promoção da saúde. 3.3 Fundamentos e diretrizes da Regulação da atenção e regulação do acesso O sistema de saúde busca garantir o acesso universal, igualitário, efetivo e com serviços de qualidade, para isso, é necessário regulamentar o processo e as ações de atendimento, sendo feita pelo Estado por meio da prestação de serviços de saúde, da regulação e do financiamento das ações e serviços de saúde. 42 3.3.1 Regulação em saúde A regulação do sistema de saúde tem por finalidade garantir a organização das redes e do fluxo assistencial, garantir a equidade, o acesso dos usuários, disponibilidade e otimização dos recursos, sendo considerada um instrumento de gestão. A instituição da Política Nacional de Regulação do SUS acontece a partir da Portaria n.1.559, de 1 de agosto de 2008, organizando os processos de regulação de três formas: � Regulação de Sistemas de Saúde; � Regulação da Atenção à Saúde; � Regulação do Acesso à Assistência. Portaria n.1.559, de 1 de agosto de 2008 Institui a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde - SUS. [...] Art. 3º A Regulação de Sistemas de Saúde efetivada pelos atos de regulamentação, controle e avaliação de sistemas de saúde, regulação da atenção à saúde e auditoria sobre sistemas e de gestão contempla as seguintes ações: I - Elaboração de decretos, normas e portarias que dizem respeito às funções de gestão; II - Planejamento, Financiamento e Fiscalização de Sistemas de Saúde; III - Controle Social e Ouvidoria em Saúde; IV - Vigilância Sanitária e Epidemiológica; V - Regulação da Saúde Suplementar; VI - Auditoria Assistencial ou Clínica; e VII - Avaliação e Incorporação de Tecnologias em Saúde. [...] 43 3.3.1.1 Regulação de Sistemas de Saúde Tem por objetivo definir as macrodiretrizes para regulação da atenção. Está baseada nos princípios e diretrizes do SUS, executando ações de monitorando, fiscalizando, avaliando, auditoria, avaliação e vigilância dos serviços de saúde das três esferas de governo através da elaboração de normas e diretrizes. Dessa forma dá suporte a organização do sistema de saúde otimizando os recursos disponíveis, qualificando a atenção e o acesso da população às ações e aos serviços de saúde As ações relacionadas à Regulação de Sistemas de Saúde, estão descritas no art 3 º da Portaria 1.559/08 que vimos anteriormente. 3.3.1.2 Regulação da Atenção à Saúde Para garantir a prestação de serviços à população por meio de ações e serviços de saúde a partir da definição de estratégias dinâmicas de monitoramento, controle, avaliação, auditoria e atendimento à assistência à saúde no âmbito do SUS, conforme pactuação estabelecida no Termo de Compromisso de Gestão do Pacto pela Saúde. Vocabulário Pactuação: Ação ou efeito de pactuar, estabelecer um pacto, um acordo ou contrato com; parceria. A Portaria 1.559/08 descreve também as ações relacionadas à Regulação da Atençãoà Saúde, como podemos ver a seguir: 44 Portaria n.1.559, de 1 de agosto de 2008 Institui a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde - SUS. [...] Art. 4º A Regulação da Atenção à Saúde efetivada pela contratação de serviços de saúde, controle e avaliação de serviços e da produção assistencial, regulação do acesso à assistência e auditoria assistencial contempla as seguintes ações: I - cadastramento de estabelecimentos e profissionais de saúde no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - SCNES; II - cadastramento de usuários do SUS no sistema do Cartão Nacional de Saúde - CNS; III - contratualização de serviços de saúde segundo as normas e políticas específicas deste Ministério; IV - credenciamento/habilitação para a prestação de serviços de saúde; V - elaboração e incorporação de protocolos de regulação que ordenam os fluxos assistenciais; VI - supervisão e processamento da produção ambulatorial e hospitalar; VII - Programação Pactuada e Integrada - PPI; VIII - avaliação analítica da produção; IX - avaliação de desempenho dos serviços e da gestão e de satisfação dos usuários - PNASS; X - avaliação das condições sanitárias dos estabelecimentos de saúde; XI - avaliação dos indicadores epidemiológicos e das ações e serviços de saúde nos estabelecimentos de saúde; e XII - utilização de sistemas de informação que subsidiam os cadastros, a produção e a regulação do acesso. [...] 3.3.1.3 Regulação do Acesso à Assistência Tem por objetivo garantir acesso aos serviços de saúde mais adequados às necessidades da população, por meio de atendimentos como consultas, urgência, apoio diagnóstico, leitos e terapias. Consiste, então, na qualificação e ordenação do fluxo de acesso às ações e serviços de saúde, otimizando os 45 recursos disponíveis, promovendo a integralidade e a equidade no acesso e utilizando, para isso, diretrizes operacionais e protocolos de regulação. Por fim, as ações relacionadas à Regulação do Acesso à Assistência estão relacionadas com seus objetivos e também descritas na Portaria 1.559/08: Portaria n.1.559, de 1 de agosto de 2008 Institui a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde - SUS. [...] Art. 5º A Regulação do Acesso à Assistência efetivada pela disponibilização da alternativa assistencial mais adequada à necessidade do cidadão por meio de atendimentos às urgências, consultas, leitos e outros que se fizerem necessários contempla as seguintes ações: I - regulação médica da atenção pré-hospitalar e hospitalar às urgências; II - controle dos leitos disponíveis e das agendas de consultas e procedimentos especializados; III - padronização das solicitações de procedimentos por meio dos protocolos assistenciais; e IV - o estabelecimento de referências entre unidades de diferentes níveis de complexidade, de abrangência local, intermunicipal e interestadual, segundo fluxos e protocolos pactuados. A regulação das referências intermunicipais é responsabilidade do gestor estadual, expressa na coordenação do processo de construção da programação pactuada e integrada da atenção em saúde, do processo de regionalização, do desenho das redes. [...] Após leitura e comparação das ações de cada forma de regulação, podemos perceber que elas se enquadram nos objetivos para o qual foram designadas, sendo abrangentes de acordo com a possibilidade e se complementando para a regulação do sistema de saúde como um todo. Principalmente na Regulação de Sistemas de Saúde, podemos observar que existem ações relacionadas à regulamentação do financiamento e é a partir dele que se pode desenvolver as atividades das outras ações de regulação, por isso, vamos entender como funciona o financiamento e o repasse financeiro do SUS. 46 3.4 Financiamento e respectivos mecanismos de repasse do SUS “A saúde é direito de todos e dever do Estado...” Esse é o início do art 196 da Constituição Federal de 1988, e o questionamento que fica é, se o Estado deve fornecer acesso à saúde, como ampliar o acesso e como ele pagará por isso? Por isso, no parágrafo 1 do artigo 198 está descrito que o “Sistema Único de Saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes”, trazendo, assim, a responsabilidade das três esferas de governo em relação ao financiamento da saúde. Para regulamentar o SUS foram criadas, em 1990, a Lei 8.080 e a Lei 8.142, sendo esta última relacionada à participação da comunidade na gestão do SUS e descrevendo as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. 3.4.1 Lei 8.142/90 Criada logo após a Lei 8.080/90, a Lei 8.142/90 se destaca em dois aspectos, em primeiro lugar, a participação social na gestão SUS e, em segundo, dispõe sobre as transferências intergovernamentais dos recursos financeiros. Curiosidade Essa Lei inicia descrevendo sobre a participação da comunidade, sobre os conselhos e as conferências de saúde com a participação de múltiplos atores sociais. Vale a leitura dela na íntegra! Essa legislação descreve a alocação dos recursos do Fundo Nacional de Saúde, atividades relacionadas às ações em saúde, de forma regular e 47 automatizar os municípios, estados e Distrito Federal. Isso para garantir a universalidade e integralidade do SUS. 3.4.1.1Tripartite Fica evidente na legislação a participação em financiamento e em ações de serviços de saúde das três esferas de governo, levando a essa característica tripartite de financiamento, sendo feita transferência fundo a fundo do Governo Federal para o Município. Quando os Municípios entenderem ser vantajoso, podem estabelecer consórcios para a execução das suas ações em saúde, remanejando entre si os recursos. Dessa forma, Municípios pequenos podem complementar suas ações em saúde com o auxílio das cidades vizinhas e ajudá-las em suas ações. Para que esse repasse aconteça, o Município deve se enquadrar nos critérios descritos no artigo 35 da Lei 8.080/90. Porém, esse artigo não estava regulamentado em 1990, sendo alterado apenas nos anos 2000, com a Emenda Constitucional n. 29, de 13/9/2000. Essa Emenda definiu os percentuais mínimos a serem aplicados nas ações e serviços de saúde de 2000 até 2004, havendo um aumento real nos investimentos em saúde, porém, ela não define quais e o que são consideradas ações e serviços de saúde, gerando alguns problemas de interpretação e investimento. Por causa dessa dificuldade, foi criada a Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012, que dispõe sobre os investimentos de cada esfera de governo. 3.4.2 Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012 Essa lei dispõe sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pelas esferas de governo em ações e serviços públicos de saúde, estabelecendo os critérios de rateio e transferência, normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde. Além disso, ela define o que deve ser considerado gastos em saúde, fixando os percentuais mínimos pelas três esferas da seguinte forma: 48 � União aplicará o valor do ano anterior, acrescido da variação nominal do PIB (Produto Interno Bruto) dos dois anos anteriores à Lei; � Estados devem aplicar 12%; � Municípios devem aplicar 15%. Esses recursos devem ser aplicados em ações e serviços públicos de acesso universal, igualitário e gratuito. Sendo esses: � Atenção integral e universal; � Desenvolvimento científico e tecnológico; � Compra e distribuição de medicamentos; � Gestão do sistema público de saúde, como salários e operação das unidades de saúde; � Entre outras. Importante ressaltar
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