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SOCIOLOGIA DO TRABALHO
Unidade II
5 GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA, AS CRISES MUNDIAIS E O TRABALHO
Caro aluno, há um dinamismo cada vez maior no desenvolvimento econômico, científico, cultural, 
enfim, de tudo que diz respeito a nós, humanos, você e eu, por isso que nos últimos 30 anos, como já 
vimos, muitas mudanças aconteceram, propiciadas principalmente pelo grande desenvolvimento da 
microeletrônica, que trouxe consigo grandes inovações, inclusive no âmbito organizacional do mundo 
empresarial, e uma integração sem precedentes entre países do mundo, cujo processo foi chamado de 
globalização. Esse conceito surgiu na década de 1980 nas escolas de administração dos Estados Unidos.
Embora possa parecer um conceito novo, a conexão entre diferentes nações já existia, e sua primeira 
onda, segundo Barbosa (2004), ocorreu entre 1870 e 1914, com o advento da tecnologia do barco a 
vapor e a consequente redução das barreiras tarifárias, substituindo o barco a vela e diminuindo os 
custos do transporte. A segunda onda aconteceu no Pós-guerra, entre 1945 e 1990. Entre 1950 e 1980, 
houve a integração da Europa, América do Norte e Japão, porém os países em desenvolvimento não 
participaram dessa integração. A terceira onda refere-se ao processo de globalização da atualidade e 
provavelmente tem origem em princípios da década de 1990, quando então abrange países do terceiro 
mundo e aqueles que compunham a ex-União Soviética. E a quarta revolução industrial, ou a chamada 
Globalização 4.0, no século XXI, surgiu a partir do universo digital e tem como foco valores sociais e 
ambientais nos quais as empresas deverão se desenvolver, incluindo a ação que leve em conta possíveis 
mudanças sociais e ambientais a partir de suas ações.
As características da globalização no século XXI estão assentadas principalmente na informatização, 
capaz de veicular notícias e acontecimentos em tempo real, assegurando que empresas com suas fusões 
e aquisições, ampliem suas conquistas no mercado internacional, e que pessoas, movimentos sociais e 
governos nacionais e locais estejam conectados a uma grande rede mundial de informações.
No atual estágio desse processo, pode-se considerar que as características da globalização são as de 
uma grande expansão do fluxo de informações, atingindo todos os países de forma a afetar as empresas, 
os indivíduos e os movimentos sociais em função da aceleração das transações econômicas em um 
mundo onde as distâncias geográficas e temporais diminuem de forma acentuada.
Pode-se constatar, a seguir, as diferentes denominações dadas a esse processo, isto é, como ele pode 
ser desmembrado. Veja os nomes fornecidos a tal processo de interconexão planetária: segundo Dreifuss 
(1996), esse fato pode ser chamado de globalização nos aspectos referentes à economia nas esferas 
tecnológica, de produção, das finanças e do comércio. Esses aspectos atingem de forma desigual os países. 
Já as mudanças no âmbito da sociedade, da cultura e da política sugerem o termo de mundialização 
para a homogeneização de comportamentos, consumo e estilo de vida, e de planetarização para o 
contexto político-estratégico e para o deslocamento do poder em escala transnacional.
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Unidade II
Para Barbosa (2004), a globalização não significa uniformidade ou homogeneização. Ele separa o 
processo de globalização em cultural, político, econômico e social.
No aspecto cultural, a produção visando ao consumo de massa é cada vez mais movimentada 
pelos meios de comunicação como televisão, jornal, cinema, internet, gravadoras de música e esporte, 
ultrapassando as fronteiras nacionais. Hoje é possível assistir a um show musical acontecendo em outro 
país, em tempo real. Pode-se visualizar uma palestra sobre educação em qualquer universidade dos EUA e 
Europa. Acompanhar um jogo de futebol em um país distante. Há muitas possibilidades. Mas é preciso se 
capacitar, aprendendo a utilizar essas tecnologias e a falar bem um idioma internacional, como o inglês.
Já no aspecto político, segue mais devagar e pode ser representada pela Organização das Nações Unidas 
(ONU), sendo também influenciada pela redução das fronteiras e pela velocidade dos fluxos econômicos e 
de informação, pois a mudança na política de governo de um país pode afetar os interesses das empresas 
transnacionais, em casos como o da Grécia, de cuja crise econômica o impacto afetou as bolsas de valores de todo 
o mundo. No plano político, a globalização carrega em si a ideologia neoliberal e a difusão do ideal democrático.
A seguir, pode-se verificar a importância do aspecto econômico da globalização nos aspectos 
econômico e social, neste, a globalização é responsável pelo aumento dos fluxos internacionais de 
mercadorias, capitais e informações. Barbosa (2004) identifica quatro esferas no plano econômico, 
como segue.
Esfera comercial
É formada pelos Tigres Asiáticos Hong-Kong, Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul, na década de 1980, 
que ampliaram o mercado externo e interno.
Esfera financeira
Teve início nos anos 1970, quando as esferas produtiva e comercial viviam um momento de 
expansão, rompendo com rígidas determinações dos governos e conquistando os espaços das demais 
esferas, sendo o campo mais avançado da mundialização. Pode ser chamada de capitalismo de cassino 
pela integração tecnológica das bolsas de valores e pela emergência do dinheiro global como cartões 
de crédito, moedas virtuais, entre outros. Conta com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o 
financiamento do desenvolvimento dos países globalizados.
 Observação
O FMI foi criado em 1944 pelo acordo de Bretton Woods. Tornou-se um 
organismo financeiro da Organização das Nações Unidas (ONU), com sede 
em Washington, nos EUA. Sua missão é corrigir desequilíbrios financeiros nos 
balanços de pagamentos dos países-membros capazes de comprometer o 
equilíbrio do sistema econômico internacional por meio de auxílios que preveem 
medidas econômicas ortodoxas de controle fiscal e cortes em gastos públicos.
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Esfera produtiva
Diz respeito à integração das estruturas produtivas domésticas à estrutura internacional. Está 
vinculada a questões tecnológicas, de organização industrial e de investimentos internacionais. 
Quando uma empresa multinacional entra em um país, pode reduzir custos de marketing, inovação, 
pesquisa e lançamentos de novos produtos, além de conseguir rapidamente fatias de mercado de seus 
concorrentes. Promove, assim, a difusão de padrões tecnológicos e de modelos de organização industrial, 
internacionalização das estruturas de mercado e da competição empresarial. O ciclo produtivo pode 
ser feito em um ou em mais países, desde que sejam obtidas vantagens competitivas. Seus lucros são 
remetidos aos países de origem.
Esfera tecnológica
Evoluiu durante a Segunda Guerra Mundial, promovendo um novo padrão de desenvolvimento, 
gerando a modernização e a automatização da produção industrial, acelerando o processo de 
fabricação e permitindo diversificar a produção. Ao favorecer o processo produtivo, a informatização 
dos escritórios, e imprimir maior rapidez aos meios de transporte e de comunicação, acelerou as 
relações econômicas, dando maior abertura para que o capitalismo ingressasse em uma maior fase 
de desenvolvimento.
De modo geral, hoje assistimos à emergência de uma classe capitalista transnacional global capaz de 
ultrapassar as organizações nacionais de trabalhadores e países periféricos.
Ao mesmo tempo em que o processo de globalização tem proporcionado aumento da produção, do 
comércio e de investimentos internacionais, esses benefícios não atingem todos os países. A internet, 
por exemplo, traz oportunidades para uns, porém continua inacessível para outros, contribuindo com 
o aumento do fosso existente entre os países ricos e os pobres. Estes últimos, aliás, sofrem não pela 
falta de recursos humanos ou materiais, mas pelo desemprego, pela destruição das suas economias 
de subsistência e pela diminuição dos salários, quese dá em escala mundial. Nesse aspecto, por conta 
do isolamento necessário e imposto durante a pandemia de 2020, foram fechados estabelecimentos 
empresariais, inclusive as escolas, decorrente disso, caro aluno, você teve e tem oportunidade de perceber 
a existência desse fosso representado pelos estudantes que ficaram à margem do ensino remoto por não 
terem computador, telefone celular ou internet.
Uma vez ditas essas informações acerca da globalização, é imprescindível que se desenvolva uma 
boa compreensão sobre as questões do desemprego, que pode aumentar, principalmente por fatores 
como falta de qualificação profissional, baixa escolaridade, subemprego e precarização e/ou desemprego 
estrutural ou conjuntural.
Além dos fatores citados, vivemos em um contexto de crescentes inovações tecnológicas poupadoras 
de mão de obra, que impactam as mudanças das formas de trabalho industrial com a robotização, 
a automação e a informatização, promovendo, por consequência, o desemprego conjuntural nos 
momentos de crise do sistema capitalista e ampliando a tendência global de escassez do emprego 
formal e de ampliação do informal amparado por lei.
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Unidade II
Apesar de todo o desenvolvimento oportunizado pelo processo de globalização, o atual modo de 
acumulação capitalista viveu e vive grandes crises, como o estouro da bolha imobiliária dos Estados 
Unidos iniciada em meados de 2007, gerada pelas hipotecas concedidas sem as necessárias garantias, 
em uma engrenagem financeira especulativa capaz de desvincular o valor dos bens a que se referiam em 
sua origem. A crise envolveu bancos e investidores não só norte-americanos, como de demais países 
do mundo. Vale mencionar que essa crise não atingiu plenamente o Brasil, embora tivesse influência 
residual nos países emergentes. Os bancos brasileiros tinham solidez e eram bem supervisionados pelos 
órgãos públicos afins, além de a legislação brasileira não permitir esse tipo de jogo de papéis que levou 
bancos tradicionais de outros países a um excesso de otimismo e, em seguida, à falência. Nossos bancos 
estavam bem protegidos.
 Observação
A Bolha Imobiliária foi uma crise econômica que começou a ser 
gerada em 2007 e explodiu em 2008. Teve origem nos EUA, no mercado 
imobiliário. Ela afetou o mundo inteiro, gerando instabilidade nos 
mercados, atingindo a Europa, provocando a queda de líderes políticos 
e ameaças à zona do euro. As manifestações populares foram às ruas 
em luta contra o empobrecimento. Os países afetados recorreram ao FMI 
para suportarem a crise.
Entretanto, os países emergentes foram gradualmente sendo atingidos tanto pela crescente 
dificuldade de obtenção de crédito bancário e empresarial como pela queda de preço das commodities 
(matérias-primas e alimentos) de exportação, que em 2008 tinham ótimo preço, mas que terminaram 
com recessão, desemprego e ameaça de deflação.
Atualmente, ainda há elevado nível de endividamento público americano, fragilidade das instituições 
financeiras em vários países e desaceleração da economia mundial.
Além disso, a economia brasileira começou a viver uma profunda crise, em 2015, tanto econômica quanto 
política. Para controlá-la, alguns ajustes nos gastos públicos foram votados, da mesma forma questões 
que envolvem emprego, como a terceirização dos meios e dos fins, alterações no salário-desemprego e 
diminuição da carga de impostos trabalhistas para as firmas que não demitirem seus empregados.
Estamos assistindo a uma forte tendência de menor crescimento mundial, desemprego, instabilidade 
e protecionismo, pois quase todas as regiões do mundo estão desacelerando o crescimento e algumas 
entrando em recessão. Os EUA crescem menos, da mesma forma as principais economias emergentes, 
como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) – é preciso reverter essa tendência global para 
evitar maiores transtornos.
Apesar de toda essa crise – de fato, talvez como resultado dela – as estimativas apontam para uma 
grande concentração de riquezas nas mãos de poucas pessoas. Isto é, 1% das pessoas mais ricas do 
planeta tende a deter mais riquezas que 99% da população mundial.
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Ficou difícil retomar um crescimento sustentável e a geração de empregos. Todos esses fatores 
foram ampliados com o impacto que viria a ser causado pela crise econômica mundial agravada pela 
Covid-19, em 2020.
Entre as medidas tomadas para amenizar a crise de 2008/2009, o governo dos EUA socorreu o sistema 
financeiro dando estímulos fiscais, sendo que, em 2015, a economia já havia voltado aos números 
pré-crise de 2008, com crescimento do PIB e diminuição do desemprego. Ainda assim, a recuperação 
econômica caminhou até 2017.
Então, aluno, veja que para amenizar e suportar a crise, os governos do EUA e da Europa ajudaram 
empresas a evitar a falência e deram início a políticas de estímulos aos mercados globais.
Na Europa, perceba, que países que já estavam em crise e endividados, como a Grécia, Irlanda, Portugal, 
Itália, Espanha e Chipre, receberam reforços, mas tiveram que implantar medidas de austeridade não 
populares. Posteriormente, eles conseguiram pagar suas dívidas e o bloco voltou a ter certa estabilidade 
econômica, até a crise promovida pela Covid-19, em 2020.
A China sofreu com a queda na demanda global e para minimizar seus efeitos, estimulou projetos de 
infraestrutura e de consumo familiar.
A Rússia entrou em crise com a queda do barril de petróleo, seu carro-forte, em 2008, mas teve 
melhora quando o barril voltou a subir a partir de 2009, mantendo um crescimento nos anos futuros.
O Brasil não sentiu a crise de 2008/2009 e teve um crescimento de 7,5%, em 2010, mas houve 
esgotamento da política de crédito, tendo como posterior consequência a redução do consumo, piora nas 
contas públicas, queda no preço das commodities, crise política, retração econômica e grande recessão.
O Brasil começa a viver as crises política e econômica já em 2014 com a retração da atividade 
econômica e a consequente queda na produção, aumento do desemprego, queda da renda familiar, 
falências de empresas, entre outros acontecimentos.
Fez parte da crise econômica, a crise política, que levou ao impeachment de Dilma Rousseff. 
Ela ficou no governo de 1º de janeiro de 2011 a 12 de maio de 2016, quando foi afastada de forma 
temporária, e, definitivamente em 31 de agosto de 2016, em razão de seu impeachment, tendo seu 
vice-presidente Michel Temer assumido a presidência.
A crise econômica se instala com o fim da alta dos preços das commodities, impactando nas exportações 
e reduzindo a oferta de capital estrangeiro ao Brasil, porém mais grave que esses acontecimentos foi o 
fato de a nova matriz econômica pregar grande presença do Estado na economia; redução da taxa de 
juros; gastos estatais mais elevados; subsídios e intervenção em preços, levando a uma situação fiscal 
insustentável, promovendo o aumento do risco-país, gerando redução de investimentos e consumo 
entre 2015 e 2016.
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Unidade II
Será que tudo poderia melhorar? Sim, um pouco, pois, em 2017, a economia parecia se fortalecer, 
e, após várias quedas, o PIB chegou a subir 1%, sinalizando o término da recessão técnica, mas não da 
crise, devido à continuidade do nível alto de desemprego e das incertezas econômicas e políticas.
É importante que você compreenda que, até o momento, neste século, o mundo já viveu duas grandes 
crises econômicas, sendo que a primeira, a crise financeira de 2008, não permitiu recuperação a níveis 
anteriores à crise para todos os países; quando, em 2020, sobreveio o impacto da segunda grande crise: 
a sanitária, provocada pela pandemia do coronavírus, Covid-19, verificada em 150 países, com milhares 
de mortos e impacto negativo na economia mundial e, consequentemente, no Brasil, com perspectivas de 
destruição de nossa economia. As orientações dos bancos mundiais (Banco Mundial, Fundo Monetário 
Internacional) e da OCDE-Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico foramas de 
priorizar a contenção da pandemia, visando o salvamento de vidas; estimular a economia, evitando 
assim o caos econômico e social, fazendo emergir novamente a importância do Estado em detrimento 
dos movimentos neoliberais. É importante destacar que a economia brasileira não vinha em um patamar 
adequado desde 2015, segundo Mattei (2020, p. 3), “como é o caso do PIB que em média, apresentou 
taxa de crescimento negativa da ordem de 1,90% ao ano entre 2015 e 2019”.
Apesar das reformas ditas como necessárias para melhorar nossa economia, elas não surtiram o 
efeito desejado, isto é, a criação de muitos postos de trabalho, além do que, no segundo trimestre de 
2020, o Brasil apresenta uma taxa de desocupação de 13,3%, considerando que as perspectivas não são 
otimistas, podendo ser ainda maior, no futuro. Caro aluno, veja que nem sempre o remédio prescrito 
é o que vai curar, pois foram tantas promessas de melhorias nos níveis de emprego, possíveis pela 
flexibilização das relações de trabalho, mas que não trouxeram os propagados postos de trabalho a mais.
Na sequência, demonstraremos um pouco mais sobre todo esse cenário internacional pós-1970 e as 
relações capital-trabalho inerentes.
5.1 A reestruturação produtiva e seu impacto no mundo do trabalho
Você considera que o espaço local é afetado pelo que acontece no mundo? Para que possa 
compreender como o espaço local é influenciado pelo movimento mundial do capital, segue uma 
análise do desenvolvimento econômico mundial a partir da década de 1970, por sua relação direta com 
as transformações que incidirão sobre o mundo do trabalho.
O início da transformação parte do final da década de 1960, quando o mundo vive mudanças 
estruturais que revolucionam o modelo de acumulação capitalista. Em vez do desenvolvimento 
econômico e social baseado em um Estado forte, comprometido com políticas de bem-estar social e melhor 
distribuição de renda, essas transformações visavam à implantação de um Estado mínimo, que garantisse 
as bases necessárias a uma economia mais dinâmica do ponto de vista da acumulação capitalista.
Importantes mudanças no âmbito da cultura contribuíram com essas transformações pela 
visibilidade que jovens e minorias obtiveram a partir das manifestações de 1968. Na década de 1970, 
no âmbito econômico, o desenvolvimento da tecnologia e da microeletrônica viabilizou a globalização 
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SOCIOLOGIA DO TRABALHO
da economia. Todas essas mudanças implementaram transformações cujas consequências ainda hoje 
requerem esforços para serem compreendidas.
O capital sempre se reinventa, pois as novas tecnologias, aliadas à economia globalizada, deram à 
acumulação capitalista ferramentas poderosas contra as quais o tempo e o espaço já não são obstáculos 
(HARVEY, 2008). Ao mesmo tempo, contribuíram para a superação da crise gerada durante a chamada “Era 
de Ouro” (HOBSBAWM, 1995), caracterizada por um período de expansão econômica entre 1945 e 1973.
Entenda, caro aluno, que essa expansão foi possibilitada pelo desenvolvimento tecnológico como 
produto de pesquisas científicas durante as guerras mundiais e durante a Guerra Fria (CASTELLS, 1999; 
HOBSBAWM, 1995), que se acelerou com a desregulamentação da economia feita principalmente por 
governos neoliberais.
A abertura econômica inicia-se na década de 1970, intensificando-se com Reagan, nos EUA, e 
Thatcher, na Inglaterra, e prossegue nos decênios subsequentes. Na doutrina neoliberal, o Estado deve 
intervir somente para garantir a livre competição, tendo como característica a ampla abertura financeira, 
comercial, fiscal e monetária (MORAES, 2001).
Como o modo de acumulação capitalista começou a se reinventar e a mudar? Foi com o desenvolvimento 
de políticas visando à abertura econômica que ocorreu no contexto em que determinados fatores de 
descontentamento começaram a se manifestar, principalmente no mundo desenvolvido, entre 1965 e 
1973. Destaca-se a deflação, devido, entre outras coisas, da rigidez no âmbito da produção, das relações de 
trabalho e da saturação dos mercados provocada pela multinacionalização do capital. Desse modo, Europa 
e Estados Unidos foram obrigados a buscarem novos mercados para a exportação de seus produtos, 
provocando a aceleração da inflação nos EUA e pondo fim ao acordo de Bretton Woods.
Olha a força da economia norte-americana, capaz de gerar um acordo mundial relativo à economia. 
Sim, firmou um acordo na conferência de mesmo nome, realizada em julho de 1944, na cidade de Bretton 
Woods, situada em New Hampshire, nos EUA. Ele previa o Sistema Bretton Woods de organização econômica 
internacional, ou seja, um pacote de regras de relações comerciais e financeiras entre países industrializados, 
adotado também por alguns países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Veja que interessante, o dólar 
passou a ser uma moeda padrão nas negociações internacionais e nas reservas mundiais.
 Observação
O sistema Bretton Woods reforça o imperialismo norte-americano ao 
estabelecer o dólar como moeda padrão do sistema financeiro internacional 
e a principal da reserva mundial.
Não é uma demonstração de força da economia norte-americana? Sim, visando dar um certo 
equilíbrio à situação econômica mundial, ficou estabelecido o abandono do padrão-ouro para a adoção 
do padrão dólar, que passou a ser a principal moeda de reserva mundial. Foi criado um fundo responsável 
por manter a estabilidade do sistema financeiro internacional – o FMI – e promover a reconstrução 
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Unidade II
dos países atingidos pela Segunda Guerra Mundial. Além disso, criou-se o Banco Internacional para a 
Reconstrução e o Desenvolvimento, ou somente Banco Mundial. Esses bancos continuam ditando as 
regras nas economias dos diferentes países até hoje.
O desenvolvimento da economia internacional dos países ricos e dos emergentes pressionou a 
demanda por ouro. Em decorrência da inflação criada pela fixação do preço do ouro, minando a base 
do sistema de Bretton Woods, observou-se um sinal de seu esgotamento ao final da década de 1960, 
que culminou com o fim de sua vigência em 1971, com a proibição da conversão de dólar em ouro pelo 
presidente dos EUA, Richard Nixon (BECK, 1999; SEVCENKO, 2001).
Concomitantemente a esse processo, os países em desenvolvimento implementaram políticas de 
substituição de importação. O chamado modelo de substituição de importação (MSI) defendia um Estado 
que promovesse a industrialização por meio da concessão de crédito e da intensificação de instrumentos 
cambiais. Além disso, ele estabelecia restrições quantitativas e tarifárias, operava como um empreendedor 
(no sentido de eliminar os principais pontos de estrangulamento da economia) e gerenciava os recursos 
cambiais, evitando sobreposição de picos de demanda por divisas e crises cambiais recorrentes.
O MSI, proposto pela Comissão de Estudos para a América Latina (Cepal), pressupunha o 
esforço de industrialização por meio da proteção aduaneira e da ação do Estado. A lógica do MSI 
desenvolveu-se a partir de choques externos que abalaram a capacidade de importação dos países 
primário-exportadores, como restrições do Balanço de Pagamentos, deixando ao governo o papel 
de promover o processo de substituição de importação pela produção local. Assim, o objetivo seria 
fomentar o aumento da demanda interna e da renda, com o crescimento das importações de insumos 
e bens de capital, resultando em novas crises de divisas, e dando, a partir disso, início a um novo 
ciclo de substituição de importação, em um movimento espiral. Essa teoria defende que a constante 
superação dessas contradições se encontra na essência da dinâmica do processo (CASTRO, 2005).
Ajustes foram necessários, daí a desregulamentação que se seguiu propiciou o reaquecimento das 
economias mundiais que, nas assim chamadas “Décadas Perdidas” de 1980 e 1990 (HOBSBAWM, 1995), 
entre altos e baixos, e de forma diferente entre países pobres e países ricos, foram se reajustando 
às novas condições econômicas globais. As maneiras comoas economias dos países desenvolvidos 
e em fase de desenvolvimento foram fazendo esse ajuste ao mercado global refletiram-se em cada 
sociedade, ao produzir padrões de inclusão e de exclusão diferenciados nos diferentes segmentos 
da sociedade, bem como grandes transformações no mundo do trabalho.
 Observação
“Década perdida” refere-se à estagnação econômica ocorrida nas 
décadas de 1980 e 1990, com retração da produção industrial, aumento 
do desemprego, menor crescimento econômico, crises econômicas, 
crescimento dos índices de inflação, elevação da dívida externa, volatilidade 
dos mercados, problemas de solvência externa abaixo do crescimento do 
PIB, entre outras adversidades.
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SOCIOLOGIA DO TRABALHO
Desse contexto, emerge uma sociedade global, que transforma não somente a si mesma, mas as 
condições pelas quais a economia se desenvolve. Além disso, é nessa conjuntura que as questões sobre 
a regulamentação das relações do trabalho são engendradas. Dessa forma, caro aluno, começa aí o 
desmantelamento dos direitos trabalhistas globais.
Com o advento da crise econômica instalada a partir de meados da década de 1960, estendendo-se 
até a década de 1970, os países credores começaram a cobrar empréstimos, ficando, por conta disso, as 
décadas de 1980 e 1990 conhecidas como “décadas perdidas”. Essa crise sem precedentes diminuiu a 
capacidade de geração de empregos, aumentando o desemprego e a informalidade.
Como é possível observar, com o fim do fordismo e início do toyotismo, há a formação de 
redes empresariais globais que começam a dispersão das etapas de produção por diversos países, 
principalmente da América Latina e Ásia, promovendo uma nova divisão internacional do trabalho, 
composta de exportadores de bens industrializados. Juntando-se a isso a alta industrialização do Japão, 
a produção crescente e a necessidade de exportação de todos os países produtores, acirrou-se uma 
competição em que o mundo capitalista foi levado a uma crise de consumo nunca vista. As crises do 
capital são cíclicas.
Para melhorar a crise, os blocos econômicos pareceram uma boa opção, será? Contudo, não bastasse 
a crise de consumo, a transferência de sedes empresariais para paraísos fiscais promoveu também uma 
grande crise fiscal, que provocou o fim do tratado de Bretton Woods. Em função desses fatos, os governos 
tiveram que se adequar às novas circunstâncias da economia global, e as empresas tiveram que reduzir 
seus custos, o que originou a intensificação dos blocos econômicos para garantir o livre comércio e o 
consumo das mercadorias dos países membros.
 Observação
Toyotismo é um modelo de produção japonês, criado por Taiichi 
Ohno e implantado nas fábricas de produção de automóveis Toyota, 
no período pós-Segunda Guerra Mundial, voltado para uma demanda 
de mercado menor. Trata-se de um sistema diferente do fordismo e do 
taylorismo. Tem como ideal produzir somente o necessário, flexibilizando a 
produção em pequenos lotes, com qualidade, e de forma diversificada, com 
consequente redução dos estoques. Nesse modelo, o trabalhador deve ser 
participativo e polivalente.
Como você imagina que é essa nova acumulação capitalista, a acumulação flexível?
A acumulação flexível foi uma forma de superação das crises do capitalismo representada pelo 
amadurecimento do modo de acumulação que o antecedeu. Ela se apoia no desenvolvimento tecnológico, 
que permitiu maior mobilidade à expansão capitalista, cujo avanço aprofunda o desemprego e reduz 
o emprego com carteira assinada. Dessa forma, aumenta-se o trabalho em tempo parcial, temporário, 
subcontratado e precarizado (POCHMANN, 2000).
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Unidade II
 Observação
De acordo com Harvey (2008), acumulação flexível é um modelo de produção 
e acumulação fundamentado em maior flexibilidade dos processos, produtos, 
padrões de consumo, mercados e organização do trabalho.
Inicia-se, então, uma reorientação econômica que requer redução do tempo de giro na produção e 
no consumo, a consequente redução da contratação do emprego industrial e o aumento do emprego 
nas áreas de serviços, distribuição e transportes, entre outros, levando a uma transformação da 
estrutura ocupacional.
Na década de 1980, em países como EUA e Inglaterra, cresceram rapidamente as economias “negras”, 
“informais” ou “subterrâneas” e houve “uma crescente convergência entre sistemas de trabalho ‘terceiro 
mundistas’ e capitalistas avançados” (HARVEY, 2008, p. 145).
A nova economia tem a necessidade de constante inovação tecnológica para sua expansão e, 
portanto, de constante aprendizagem. Nela, para obter um emprego bem remunerado, são necessários 
investimentos em conhecimento e capacitação (PAIVA, 1995) capazes de propiciar a ampliação das 
habilidades técnicas e a adaptabilidade tanto gerencial como de empreendimentos. Nessa economia 
pode haver o aumento da desigualdade de renda na medida em que o acesso ao conhecimento não se 
dá de forma homogênea entre as diferentes sociedades e mesmo dentro de cada sociedade. Vai ficando 
cada vez mais difícil para o trabalhador que não se recapacita, não?
A “Era de Crise” inicia-se em um cenário de desenvolvimento tecnológico, de ampliação do 
conhecimento em vários setores – inclusive na agroindústria – que passou a substituir a mão de obra 
por máquinas, o que contribuiu para o aumento da concentração urbana e de trabalhadores informais. 
Mais que isso, o ingresso massivo da mulher no mercado de trabalho e o seu aprimoramento educacional 
possibilitaram a sua participação na luta por direitos sociais e a ampliação para si de postos de trabalho 
e mercados de consumo.
Essas mudanças na sociedade começaram a configurar, no mundo desenvolvido, a necessidade de 
transformações na economia, impulsionadas por um novo mercado composto de pessoas liberalizadas 
em busca de produtos diferenciados. Os países em desenvolvimento, por sua vez, viviam um cenário de 
explosão demográfica, regimes militares, analfabetismo, luta pela reforma agrária e pela industrialização, 
embora parte deles já estivesse inserida na nova divisão internacional do trabalho.
No mundo capitalista, tanto os países desenvolvidos quanto os que estavam em vias de 
desenvolvimento fizeram uso das novas tecnologias de comunicações e de transportes, inserindo-se, 
assim, em uma produção de escala mundial, e acelerando a globalização da economia. Enquanto 
isso, o mundo socialista viu seu sistema econômico, social e político ruir em fins da década de 1980. 
Excetuando-se a economia chinesa, 1990 mostrou-se uma década de crise, com lento crescimento 
econômico no geral.
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A crise capitalista impacta negativamente na qualidade de vida. Durante as décadas de crise, as 
recessões econômicas contribuíram para o aumento da pobreza e do desemprego, gerando instabilidade, 
em especial, entre 1974 e 1975, 1980 e 1982, e no fim da década de 1980 (HOBSBAWN, 1995). 
Aprofundaram-se as desigualdades social e econômica nos países ricos – especialmente nos países 
pobres, pressionados pelo pagamento da dívida externa que haviam contraído durante a fase de 
crescimento econômico.
O capitalismo é dinâmico, verifique que Castells (1999) considera que a globalização da economia 
foi uma resposta a mais para essa crise do capitalismo. Dela surgiu uma nova economia, estruturada em 
redes globais, e possibilitada pelo desenvolvimento da tecnologia apropriada pelas grandes empresas. 
Dessa maneira, visava-se à promoção da produtividade e da competitividade, algo que se encontra hoje 
presente na estrutura produtiva como fator fundamental para a continuidade da dinâmica capitalista.
Em contrapartida, Santos (2002) considera que a globalização traz efeitos excludentes, que estão 
gerando impactos importantes nas discussões políticas e acadêmicas acerca do rumo da economia 
mundial, mais particularmente após os protestos de Seattle, no final de 1999. A visibilidade e a 
influência da crítica à globalização deram-se de forma tão expressiva que as organizações internacionais,promotoras do processo de globalização, viram-se obrigadas a reconhecer, pelo menos nas declarações 
oficiais, os efeitos perversos do referido processo.
Havia aproximadamente 100 mil pessoas em manifestação nas ruas de Seattle, nos EUA, onde se 
realizava a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). Elas pediam maior transparência nas 
negociações e faziam reivindicações das mais diversas:
•	 maior responsabilidade social e ambiental das empresas multinacionais;
•	 regras comerciais com inclusão de normas para garantir que o livre comércio não prejudicasse a 
natureza nem os direitos básicos trabalhistas;
•	 monitoramento dos impactos comerciais dos transgênicos, da destruição do ambiente, do 
trabalho infantil, da violação dos direitos dos trabalhadores, da crescente insegurança de emprego, 
entre outras coisas.
A participação de brasileiros esteve representada por organizações como a Central Única dos 
Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a Organização dos Advogados 
do Brasil (OAB) e ONGs ligadas a redes internacionais lá presentes. Uma das maiores reivindicações 
era a quebra do protecionismo dos países ricos, que prejudicava a economia dos países em vias de 
desenvolvimento por meio de um aprofundamento de seus contrastes sociais e da aceleração da destruição 
de seus ecossistemas (GONÇALVES, 2005). Será que houve alguma mudança nessas reivindicações 
em 2020?
Santos (2002) considera que esse reconhecimento é o nascimento de um consenso que visa à 
retomada do crescimento e à superação dos problemas econômicos e da pobreza na América Latina, 
ainda que não ataque o “Consenso de Washington”. O Consenso, aliás, foi assim chamado por refletir o 
56
Unidade II
pensamento de especialistas em instituições financeiras internacionais e em grupos de estudo que se 
localizavam em Washington, analisando propostas de:
•	 reforma tributária;
•	 desregulamentação da economia;
•	 liberalização das taxas de juros;
•	 taxas de câmbio competitivas;
•	 revisão das prioridades dos gastos públicos;
•	 maior abertura ao investimento estrangeiro direto;
•	 fortalecimento do direito à propriedade;
•	 livre comércio doméstico;
•	 enxugamento do setor público; controle da inflação;
•	 aumento de produtividade;
•	 privatização das empresas estatais.
Em 2011, Europa, EUA e Ásia viveram momentos de retração econômica. Na Europa, o grande 
problema foi a crise grega, cuja ajuda monetária internacional previa demissão em massa, redução 
salarial, privatizações e aumento de impostos.
Portugal, nesse contexto, tem sua classificação de risco rebaixada, e Itália e Espanha lançam pacotes 
de austeridade. EUA têm grande endividamento do Estado e uma economia deficitária. A China, embora 
em franco crescimento, reduz a velocidade de sua expansão econômica e aumenta o juro e o aperto 
monetário. Desse modo, o resto do mundo sofre por conta de seu menor crescimento.
O cenário econômico mostra-se agravado pela desaceleração econômica chinesa, pela estagnação de 
parte da Europa e pelo menor impulso da economia norte-americana. Tudo isso influencia negativamente 
o crescimento econômico brasileiro, gerando desemprego.
Em 2015, o mundo viveu uma crise global que enfraqueceu o sindicalismo europeu, com a perda 
de mais de seis milhões de empregos durante a recessão. Em 2014, a Irlanda e Portugal congelaram o 
salário-mínimo, a Grécia o cortou em 22%, a Espanha e outros países europeus flexibilizaram as demissões 
coletivas ou sem justa causa. Então, optou-se pelo desmantelamento da proteção social visando à redução 
dos custos do trabalho, enfraquecendo o poder de barganha dos sindicatos. As consequências foram 
57
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
cortes de salários, cancelamento de serviços públicos, aposentadorias e salários mínimos cortados, mercado 
de trabalho flexibilizado e negociações coletivas descentralizadas.
O que se pode constar então? Que, em 2020, somando uma crise que o mundo capitalista não havia 
superado totalmente, isto é, a crise financeira de 2008, surge a crise sanitária causada pela pandemia 
da Covid-19, destruindo economias e com isso inúmeros postos de trabalho, em especial, no Brasil, que 
já vinha de uma economia fragilizada no final de 2019, precisando submeter os setores da economia 
ao fechamento e submissão à quarentena, para evitar mais contágios e mortes. Em agosto de 2020, 
quando do início da reabertura das empresas, muitas haviam falido e o desemprego aumentando 
substancialmente.
5.1.1 A economia brasileira e as relações capital-trabalho
Anteriormente, verificamos a trajetória da economia mundial sobre a qual foi se desenhando a 
economia nacional. Deste ponto em diante, haverá informações sobre o tema do desenvolvimento 
da economia nacional, aproximando-a da realidade vivida pelos trabalhadores que, embora fora dos 
sistemas formais de trabalho, constituem elementos importantes para a acumulação capitalista. 
E são muitos. Você conhece alguém que trabalha nessas condições?
Abordaremos o período que engloba o final da década de 1960 até meados da segunda década do 
século XXI. Para explicá-lo, será preciso recorrer à análise de períodos anteriores.
5.1.1.1 Antecedentes históricos da economia brasileira e do trabalho
Agora daremos um passeio pela história da economia brasileira e do trabalho. Vamos começar.
Resumidamente, no Brasil, dos anos 1930 aos 1940, ampliou-se o emprego industrial.
 Lembrete
Esse aumento do emprego se deu principalmente em função da política 
de substituição de importação adotada por Getúlio Vargas, tomada graças 
à disponibilidade de maquinário no mercado internacional – devido à crise 
de 1929 – que foi adquirido para incrementar a industrialização brasileira.
Nos anos 1950, o mesmo não acontece, pois o aumento dos empregos industriais é relativamente 
pequeno, devido à entrada de tecnologia poupadora de mão de obra no mercado. Em 1950, já subsistiam 
áreas de baixa industrialização, com modalidades produtivas modernas e arcaicas, como o artesanato, 
que, no Nordeste, empregava a mão de obra feminina e informal (POCHMANN, 2003).
Entre 1960 e 1970, o setor industrial cresceu, mostrando um desenvolvimento associado ao novo 
caráter da sociedade dependente. Nessas décadas, assiste-se, no Nordeste, a uma expansão da mão de 
obra masculina e à diminuição da feminina, além da manutenção da informalidade. Isso decorre da 
58
Unidade II
substituição da produção artesanal pela fabril, operada pela indústria localizada no próprio Nordeste, 
ou da crise na economia local gerada pelas manufaturas advindas do sul, principalmente de São Paulo. 
Nesse processo, perderam-se quase 50 mil empregos artesanais (POCHMANN, 2003).
Nesse período, a indústria e os componentes modernos do setor de serviços não apresentaram 
um dinamismo suficiente para incorporar a força de trabalho disponível, obrigando uma quantidade 
ponderável de trabalhadores a se refugiar em ocupações marginais e informais, que também eram 
relevantes para o processo de acumulação em economias como a nossa, que se desenvolviam à base 
de altas taxas de exploração do trabalho. Sim, o trabalho informal é importante para a acumulação 
capitalista. Leia e construa sua opinião.
No Brasil, como em vários países, no final da década de 1960, viveu-se a organização de movimentos 
estudantis que protestavam contra a ordem social estabelecida, mas que foram sufocados pela Ditadura 
Militar. O processo de urbanização das grandes cidades estava em curso, e as mulheres lutavam por 
melhor inserção no mercado de trabalho.
A economia foi se expandindo como resultado da implantação do Plano de Metas, no governo 
de Juscelino Kubitschek, que teve em seu bojo a proposta de vários projetos de desenvolvimento 
econômico. O plano visava, entre outras coisas, atacar seus pontos de estrangulamento, localizados 
principalmente nos setores de energia e transporte, na perspectiva de que isso melhorasse o desempenho 
da economia brasileira.
As questões ligadas aodesenvolvimento econômico nasceram nesse contexto, e começaram, a 
partir daí, a fazer parte das políticas econômicas brasileiras que, desde 1930, já se realizavam por meio 
da atuação de um Estado intervencionista, modernizador e promotor da regulamentação do trabalho. 
Consequentemente, tudo isso afetou o mercado de trabalho por meio da implantação da legislação 
trabalhista e das organizações sindicais, em 1943, por Getúlio Vargas. É a partir dessa regulamentação que 
a noção de trabalho informal vai se colocando, sempre em contraponto ao trabalho formal.
5.1.1.2 Políticas econômicas e o trabalho pós-guerra
O Brasil segue sua trajetória de desenvolvimento, cujo processo, em seu aspecto econômico, criou, 
em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), suporte fundamental para a 
economia brasileira.
Em 1956, Juscelino Kubitschek criou o Conselho de Desenvolvimento, que tinha como objetivos 
localizar os setores passíveis de crescimento e promover a ampliação dos setores de infraestrutura 
básica, como energia, transportes, indústria de base, alimentação e educação. Essas medidas eram parte 
do Plano de Metas, que permitiu o crescimento da economia brasileira (VILLELA, 2005).
Em 1951, foi instalada a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU), que elaborou 41 projetos 
econômicos setoriais para resolver os problemas da economia brasileira, entre eles, os dos setores de 
energia e transporte e a criação do futuro Banco Nacional do Desenvolvimento, fundado em 1952. 
Também contribuíram para a causa os trabalhos do Grupo Misto, formado pela Cepal e pelo BNDES. 
59
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
Em 12 de fevereiro de 1956, foi instituído, por Juscelino Kubitschek, o Conselho de Desenvolvimento, 
ligado diretamente à Presidência da República, que elaborou 30 objetivos ou metas específicos, 
distribuídos em cinco setores já citados, denominados “Plano de Metas”.
Para a infraestrutura do país, o caminho seguido foi o de uma expansão do sistema rodoviário e 
de disponibilização de energia que, de fato, foram alavancas por serem necessárias ao crescimento da 
produção brasileira e importantes meios para o processo de substituição de importação.
A expansão do sistema rodoviário e da indústria automotiva, como continuidade a uma política 
econômica que teve início em 1930, deu-se com o início da construção de estradas inter-regionais, 
que uniam as diferentes regiões do Brasil em torno de uma produção e consumo de âmbito nacional, 
principalmente, nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, que recebiam a mão de obra necessária à 
referida expansão. Percebe por que há tantos veículos circulando pelo país? Certamente foi essa opção 
que priorizou a rodovia em detrimento da ferrovia.
Todo esse processo foi muito importante para o assentamento de trabalhadores, porém, não acabou 
com a pobreza, o subemprego, o desemprego e a informalidade. Esta última, em particular, aumentou 
ainda mais a partir dos anos 1950, situação agravada pelo êxodo rural crescente nas décadas de 1960 e 
1970, gerando um excedente de mão de obra naquele momento útil à acumulação capitalista.
5.2 A economia brasileira e o trabalho a partir de 1970
5.2.1 O fim da década de 1960 e a década de 1970
No período de 1968 a 1973, a economia brasileira cresceu à razão de um PIB médio de 11,5% a.a. 
O período ficou conhecido como o “milagre brasileiro”, que foi possibilitado pela facilidade de obtenção 
de empréstimos externos. Cresceram as exportações de produtos e as importações de capital e de 
petróleo – bem como de seus derivados – para dar sustentabilidade à expansão da indústria brasileira.
No referido período, foram alcançados os objetivos de combate à inflação, crescimento econômico 
e melhoria das contas externas graças à expansão das exportações e à substituição de importação de 
mercadorias. A economia brasileira cresceu, seu parque industrial se diversificou, sua força de trabalho 
aumentou e, no final da década de 1970, constava entre as maiores economias do mundo, embora ainda 
fosse muito dependente e subordinada à importação de bens de capital e de petróleo.
Crescer com endividamento externo não é uma boa medida, pois as condições de crescimento da 
economia brasileira mostraram grande fragilidade, uma vez que nos âmbitos industrial e financeiro, no 
período de 1968 a 1973, a economia demonstrava falta de suporte adequado, ao mesmo tempo em que 
estava baseada, principalmente, no endividamento externo. Essa vulnerabilidade ficou evidenciada com 
o Choque do Petróleo, em 1973, cujo desdobramento gerou a crise da dívida externa, que perdurou de 
1974 a 1984. Essa dívida era de US$ 600 milhões em 1967, e passou a ser de US$ 2,1 bilhões em 1973 
(HERMANN, 2005b).
60
Unidade II
5.2.2 As décadas de 1970 e 1980: crescimento por substituição de importação e o trabalho
Adentraremos um pouco mais em nossa história. Sim, pois a partir de meados da década de 1970, 
o crescimento permanecia fincado no modelo de substituição de importação, durando até meados 
da década de 1980, quando se mostrou inviável por ser sustentado pelo endividamento externo. 
Mesmo assim, a economia brasileira cresceu entre 6,7 a 8% a.a. até o final da década de 1970. 
Porém, junto ao vigor que a economia adquiriu, elevou-se a inflação e pioraram as contas públicas e 
externas, indicando a necessidade de finalização desse modelo de crescimento.
Na época, o ajuste externo foi acompanhado da promoção de investimentos públicos e privados, 
necessários à geração de desenvolvimento. Para tanto, atacaram-se os gargalos da economia, como 
infraestrutura, bens de produção de capital, insumos, energia, exportação, ampliação da malha 
ferroviária, da rede de telecomunicações e da infraestrutura, tudo isso em detrimento da produção e da 
comercialização agrícola voltadas para o mercado interno e a exportação.
Bem, caro aluno, sem petróleo, sem desenvolvimento, preço alto, inflação alta, aumento da dívida, 
vem crise econômica e desemprego. Dessa forma, o choque do petróleo em 1973 fez com que os países 
industrializados aumentassem seus juros, o que resultou na contração das atividades econômicas nos 
anos subsequentes. Isso provocou o desequilíbrio dos países em desenvolvimento pela defasagem 
entre os preços de suas exportações e das importações, causando deficits comerciais. Para os países 
membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), por outro lado, a elevação do preço 
do combustível propiciou grande elevação de suas receitas e a consequente entrada dos petrodólares, 
principalmente no mercado financeiro internacional, contribuindo para o financiamento da dívida dos 
países em desenvolvimento, entre eles, o Brasil.
O crescimento econômico por financiamento externo foi interrompido com o segundo choque do 
petróleo, em 1979, agravado pelo aumento das taxas básicas de juros, redundando em uma recessão 
que durou até o início dos anos 1980. A recessão afetou as possibilidades de novos empréstimos e as 
importações dos países industrializados, assim como proporcionou a elevação da dívida externa feita a 
taxas flutuantes e uma inflação de 93% a.a. Isso implicou perdas salariais e alterações, com reajustes 
que deixaram de ser anuais para se tornarem semestrais. Configurou-se, então, a “crise da dívida”, que 
provocou a moratória do México em 1982, estreitando ainda mais a obtenção do capital externo pelo 
Brasil, o que perdurou até o final da década de 1980 (HERMANN, 2005a).
A crise da dívida gerou vários acordos entre o Brasil e o FMI para a resolução de problemas da economia 
externa, que impuseram maior rigor à política monetária brasileira, já restritiva. Esses problemas foram 
minimizados, em meados da década de 1990, com a renegociação da dívida externa, promovendo a 
estabilização do câmbio e dos preços.
Relativamente ao trabalho, no período de 1970 a 1984, houve aumento de pessoal empregado no 
setor privado de 41,7%, em 1970, para 52,2%, em 1980; e no setor público, de 7,3%, em 1970, para 8,8%, 
em 1980. Emcontrapartida, caiu a proporção de autônomos de 33,8% para 25,2%, e de não remunerados, 
de 9,9%, para 5,3%. O aumento foi possível devido a vários fatores: expansão, embora descontínua, da 
economia nacional; elevação da industrialização e renovação do parque industrial brasileiro. A partir 
61
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
de 1980, o cenário se transformou com o desajuste e o esgotamento do modelo de crescimento da 
economia. Após os choques do petróleo, houve aumento das taxas de desemprego, da precarização 
do trabalho e da informalização (HERMANN, 2005b).
O ciclo de industrialização brasileira fomentado no pós-guerra persistiu até a década de 1980, quando o 
pico do setor formal de trabalho absorveu 55,6% da PEA. O setor de subsistência e os desempregados 
correspondiam a 43,4% da PEA, acompanhando e possibilitando esse desenvolvimento. No início da 
década de 1980, a economia brasileira entrou na chamada “década perdida” (HERMANN, 2005b).
O êxodo rural contribuiu para o aumento da concentração populacional nas cidades. O processo 
de urbanização concentrou também a pobreza e o crescimento das favelas, cuja população se 
ocupava nas atividades precárias, informais, provocando o inchaço do setor de comércio e serviços. 
É importante destacar que:
 
Até o início dos anos de 1980, o fenômeno hoje identificado como trabalho 
“informal” era classificado principalmente como subemprego. De todo 
modo, a utilização do termo “informalidade” vem, desde meados da década 
de 1980, se sobrepondo ao termo subemprego, já que este último seria uma 
das formas da “informalidade” (NORONHA, 2003, p. 125).
O inchaço do setor de comércio e serviços foi atribuído ao aumento das atividades que compõem 
a economia informal, tanto para homens como para mulheres e adolescentes em atividades precárias. 
A atividade de prestação de serviços é um bom exemplo do destino de parte dos trabalhadores do 
setor formal, que perderam seus empregos e não conseguiram outro, nem mesmo em atividades menos 
rentáveis (SOARES, 2001).
Na década de 1980, para a estabilização da economia e, principalmente, para o combate à inflação, 
foram lançados, sem sucesso, o “Plano Cruzado”, em 1986, o “Plano Bresser”, em 1987, e o “Plano 
Verão”, em 1989, impactando as questões do trabalho. Afinal, era preciso combater aquilo a que se 
assistiu durante os anos 1980, a saber, o início da desestruturação do mercado de trabalho. Houve a 
diminuição do número de ocupações no setor agrícola da economia, estagnação do setor industrial, 
inchaço do setor de comércio e serviços, acompanhado do aumento do desemprego, da precarização 
das novas ocupações e da informalidade, embora fosse mantida a taxa de assalariamento. A quantidade 
de empregos assalariados mudou, aumentando o número de trabalhadores sem registro em carteira e 
as ocupações não assalariadas de conta própria. No setor de serviços, elevou-se o número de ocupações 
formais e informais.
Segundo Pochmann (2001a), essa desestruturação do mercado de trabalho foi consequência do 
abandono do projeto de industrialização nacional e da adoção de políticas que visavam a um melhor 
engajamento do Brasil no contexto econômico internacional. Relativamente à desigualdade social, 
somente a partir de meados da década de 1980, pôde-se obter a elaboração de estudos específicos 
(como a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio – PNAD), que mostraram um crescimento mal 
distribuído na renda média anual de 1,2%, com os 10% mais ricos apropriando-se mais dessa renda do 
62
Unidade II
que os mais pobres, que obtiveram um declínio de 1,4% (RAMOS; MENDONÇA, 2005). A concentração 
de renda parece que sempre fez parte da economia em nosso país.
5.2.3 Os anos de 1990 a 2007: os planos econômicos, o processo de estabilização 
econômica e o trabalho
No início dos anos 1990, sob a presidência de Fernando Collor de Melo, primeiro presidente eleito 
pelo voto direto após anos de ditadura militar, a economia brasileira teve outro direcionamento visando 
à menor participação do Estado. Esse enxugamento estatal deu-se por meio de desestatização e 
de maior liberdade tarifária. Isto é, adotaram-se o câmbio livre e a liberação gradual da política de 
importação para que os produtos nacionais pudessem suportar a abertura da economia nacional. Apesar 
de a preocupação maior ser controlar a inflação, foram lançados os Planos Collor I e II, que também não 
atingiram as metas esperadas, o que culminou no impeachment do Presidente Collor, em 1992. Itamar 
Franco o substituiu e deu início ao processo de estabilização que pôs fim à indexação da economia 
com a criação da Unidade Real de Valor (URV), em 1994 (CASTRO, 2005). Carto aluno, você consegue 
perceber como a implantação de um projeto de governo liberal começou a ser engendrada no país? Será 
que tudo isso é bom para o trabalhador? Faça sua análise com base no decorrer das explicações a seguir.
Em 30 de junho de 1994, foi lançado o Plano Real, que conseguiu dar maior estabilidade à economia 
brasileira. Ele foi decretado e desenvolvido no governo de Itamar Franco, entre maio de 1993 e março de 
1994, pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e sua equipe. Esse plano foi aplicado em 
três etapas, a primeira visava ao ajuste fiscal, objetivando a eliminação da inflação, pois se considerava 
que os gastos públicos eram sua principal causa – embora, no decorrer de seu desenvolvimento, as 
contas públicas piorassem, o que, mesmo assim, não impediu a contenção da inflação. A segunda 
visava à criação de uma Unidade Real de Valor (URV) como padrão estável, cuja ideia já fazia parte da 
proposta de André Lara Resende e Pérsio Arida – a proposta Larida. A terceira criava regras de emissão 
e lastreamento do real, garantindo sua estabilidade, o que se tornou possível pelo uso do câmbio e dos 
juros, ferramentas fundamentais para o controle dos preços em tempos de grande liquidez no mercado 
internacional (CASTRO, 2005).
Nesse cenário, é preciso mudar. O cenário no qual se desenvolveram as políticas econômicas 
no período de 1990 a 1994 foi o do esgotamento do Estado desenvolvimentista em detrimento da 
implantação de ajustes que visavam a eximir o orçamento do Estado de certos encargos. Almejava-se 
a privatização das empresas estatais e dos serviços públicos, com a criação de novas regulamentações 
legais, a fim de diminuir a interferência dos poderes públicos sobre a iniciativa privada. Além disso, 
esperava-se que o Estado fosse responsável pelas atividades produtivas, disciplinadas pelo próprio 
comportamento do mercado, cuja mundialização financeira impunha-se na década de 1980. Essas 
regulamentações foram efetuadas sob a tutela do FMI, do Banco Mundial, da Organização Mundial 
do Comércio e do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt) (GONÇALVES, 2003).
A flexibilização das relações de trabalho provocou a limitação do assalariamento, da possibilidade do 
emprego permanente e da proteção a que os trabalhadores tinham direito. Esse quadro também afetou 
a informalidade do trabalho: “O trabalho informal ganha importância e é cada vez menor o percentual 
63
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
de trabalhadores que contribui para o instituto de previdência social e que possui carteira assinada” 
(CAMARGO, 2006, p. 16).
A média anual da taxa de “desemprego aberto” entre 1991 e 2002 nas regiões metropolitanas 
brasileiras teve uma tendência crescente nos anos 1990. Houve relativa estabilidade dessa taxa entre 
1993 e 1996, sendo que, entre 1990 e 1995, foram eliminados 450 mil postos de trabalho na indústria. 
Os trabalhadores, então, migraram para o setor de comércio e serviços da economia e, principalmente, 
para o setor informal. Esse tipo de desemprego, a partir desses dados, mostra uma tendência de aumento 
até o final de 1997, particularmente forte em 1998, que se manteve em 1999, começando a declinar a 
partir de 2000, por conta do crescimento econômico, cuja trajetória começa a se alterar em 2015, em 
decorrência da crise econômica e política que se instalou noBrasil.
Como é possível apreender, o Brasil vai mudando, mas será para melhor? Responda tendo como 
base as questões econômicas e de trabalho. Também, na década de 1990, houve a implantação de 
reestruturação produtiva nas empresas brasileiras. Isso se deu como resposta às crises dos países 
desenvolvidos, em especial a dos EUA, tendo como motivo a falta de demanda por produtos fabricados 
em larga escala, as altas taxas de juros impostas pelos próprios EUA e o constante aumento da inflação. 
A crise gerou uma mudança da estrutura produtiva, caracterizada por investimentos em tecnologia 
da informática, telecomunicações, microeletrônica e robótica, além da modernização dos setores 
automobilístico, petroquímico e de maquinaria.
Essa nova estrutura fundamentou-se na produção de escopo, com equilíbrio na relação 
demanda-produção, o que impediu a formação de estoques e excedentes de produção, caracterizando-se 
pela racionalização do trabalho, produtividade máxima com gasto mínimo, e perfeita eficiência da 
empresa. Essa eficiência se dá na economia, no reaproveitamento dos materiais utilizados na produção 
e na qualificação dos trabalhadores, motivados por meio de acordos de cooperação e distribuição de 
lucros entre eles e os empresários (POCHMANN, 2004).
Como resultado dessas implantações, desenvolveram-se novas formas de organização do trabalho, 
com ideais de flexibilização, individualização das remunerações e incorporação da produção enxuta 
e terceirizada. Entretanto, cresceu o número de organizações não governamentais e de comunidades 
solidárias que se encarregavam de suprir o papel do Estado, que se mostrava esvaziado e à parte da 
resolução de problemas relativos à educação, pobreza, habitação, saúde, cultura etc. (MORAES, 2001).
Em 1990, o perfil de distribuição da renda agravou-se, acentuando a concentração da riqueza. 
O número de pobres no Brasil, nessa época, era de 39,2 milhões de pessoas, correspondendo a 27% 
da população total. Além disso, 22% da população brasileira viviam em situação de indigência, sendo 
metade desse número composto de jovens que, na sua maioria, não estudavam nem trabalhavam 
(MORAES, 2001). A reestruturação da economia brasileira engendrou, assim, o aumento de trabalhadores 
temporários, de meio período, freelancers, autônomos, via correio eletrônico (e-mails), contratados 
e representantes independentes, além daqueles com ocupações com ganhos flutuantes atrelados a 
índices de desempenho (DOWBOR, 2002).
64
Unidade II
Quando as crises econômicas rondam o Brasil, isso é ruim para a geração de postos de trabalho, 
concorda? Entre 1995 e 1998, a economia brasileira foi afetada pelas crises do México, em fins de 1994; 
da Ásia, em 1997, abarcando a Tailândia, a Coreia do Sul, a Indonésia e a Malásia; e, em 1998, da Rússia. 
Por meio dessa série de turbulências econômicas, houve redução dos empréstimos internacionais, 
obrigando o governo a antecipar os ajustes previstos, pois a política de juros elevados não se mostrava 
eficiente na contenção da especulação contra o real. Desse modo, a situação fiscal teve uma piora, 
levando o governo a fazer um acordo com o FMI, em 1998, que, em conjunto com alguns países, liberou 
verbas para o Brasil.
A condição para a concessão de empréstimo implicava a promoção de um aperto fiscal e de um 
aumento gradativo do PIB. As medidas tomadas para alcançar esses objetivos enfrentaram problemas 
de credibilidade, no que concerne à manutenção do real não desvalorizado e à não aceitação, pelo 
Congresso Nacional, da proposta de taxação dos inativos em fins de 1998. O resultado foi a fuga de divisas 
internacionais, diminuindo as reservas e obrigando o governo a desvalorizar o câmbio em janeiro de 1999. 
Essa ocorrência deu-se já no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e, contrariamente ao 
esperado, não gerou inflação (GIAMBIAGI, 2005). É sempre assim, o aperto fiscal ajuda a resolver os 
problemas econômicos, e sempre foi assim no Brasil.
Esse desajuste foi contido por Armínio Fraga, nomeado para presidente do Banco Central. 
Ele elevou a taxa de juros básica, trocou a âncora cambial para um regime de metas de inflação, 
promoveu a negociação com o FMI e a ampliação da meta de superávit primário para o período de 1999 
a 2002 e, além disso, providenciou a contenção fiscal necessária. Como podemos notar:
 
Com a adoção do sistema de metas de inflação, o Conselho Monetário 
Nacional (CMN) ao definir um “alvo” para a variação do IPCA, passou a balizar 
as decisões de política monetária do Banco Central (BC) tomadas todos os 
meses pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Este toma decisões acerca 
da taxa Selic com base em um modelo no qual a hipótese adotada quanto à 
taxa de juros gera um certo resultado da inflação, nos termos desse modelo. 
Assim, teoricamente, se a variação dos preços resultante de incorporar às 
equações uma hipótese correspondente à taxa de juros Selic vigente na 
época se mostrasse inferior à meta, o BC estaria em condições de reduzir 
os juros, enquanto, se a inflação estimada fosse superior à meta, o BC 
deveria subir os juros. O sistema de metas trabalha com uma margem de 
tolerância acima ou abaixo da meta, para acomodar possíveis impactos 
de variáveis exógenas, procurando evitar grandes flutuações do nível de 
atividade. A meta inicial fixada para 1999 foi de 8% – com tolerância de 2% 
acima ou abaixo do alvo – e nessa mesma oportunidade adotaram-se metas 
de 6% para 2000 e de 4% para 2001, passando, a partir de então, a se definir 
a meta para o ano t no mês de junho de (t-2). A inflação se manteve dentro 
do intervalo previsto em 1999 e 2000, mas se situou muito acima do teto 
em 2001 e, particularmente, em 2002 (GIAMBIAGI, 2005, p. 178).
65
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
 Observação
A economia endógena julga importante a contribuição para o 
crescimento econômico os investimentos internos e em capital humano, 
inovação e conhecimento.
Já a economia exógena considera os fatores econômicos que têm origem 
no exterior.
A partir de 1999, o país começou a retomar o crescimento econômico, obtendo um bom resultado em 
2000, mas negativo em 2001, em decorrência da crise da energia. Entre os motivos da crise, podem ser 
mencionadas a ausência de investimentos necessários à cobertura do crescente aumento do consumo 
de energia e a baixa quantidade de chuvas naquele ano. Nesse cenário, o governo promoveu um ajuste 
na demanda de energia que prescrevia um corte de 20%. Contudo, a situação se normalizou em 2002, o 
que não impediu o aumento de tarifa para a compensação das perdas empresariais em função do ajuste.
Contribuíram para o aumento do risco país a crise de energia, a crise da Argentina – que implicou a 
diminuição do fluxo de capitais para o Brasil –, e, juntando-se a esses dois fatores negativos, o atentado 
de 11 de setembro contra os EUA, que abalou o mundo. Todo esse cenário negativo comprometeu o 
crescimento econômico, que permaneceu baixo, apesar das taxas de juros mais elevadas. De qualquer 
maneira, mesmo com todos esses percalços, houve melhoria na balança comercial e na conta-corrente, 
resultando em um PIB de 4% entre 1998 e 2002 (GIAMBIAGI, 2005).
Em vista do que leu até aqui, é possível afirmar que as políticas sociais melhoraram muito? 
Você pode verificar, na sequência, a criação de vários programas sociais. Por exemplo, no período de 
1995 a 2002, houve progresso nas políticas sociais com a ampliação e criação de programas sociais, 
como a garantia do salário-mínimo a idosos e deficientes não participantes do INSS, além dos programas 
Bolsa-renda, Bolsa-alimentação, Auxílio Gás e bolsas de estudo.
Olha o Brasil se modernizando: a década de 1990 assistiu, como já visto, a políticas econômicas 
que contribuíram com a modernização da economia brasileira, dando-lhe maior competitividade 
e estabilidade. Houve também aumento de 1,2% a.a. na renda per capita do brasileiro, distribuída 
desigualmente, mesmo com o constante aumento da dívida pública, principalmente noperíodo de 
1994 a 2002. Nessa mesma década, apesar da desvalorização do câmbio, houve, no geral, um pequeno 
aumento da renda média, contribuindo para a melhoria do bem-estar social e para o declínio da pobreza. 
De todo modo, a queda dos salários e da renda média real e uma piora no desemprego de 1994 a 1998, 
que só voltou a melhorar entre 1998 e 2002, denotavam a pobreza que atingia um terço da população 
brasileira, conforme pode ser verificado no gráfico a seguir. Convém registrar, ainda, que a desigualdade 
pontual de renda aumentou (RAMOS; MENDONÇA, 2005).
66
Unidade II
Como pode ser observado no gráfico a seguir, entre 1982 e 1990, houve diminuição da renda média 
do brasileiro, e entre 1995 e 2002, ocorreu aumento da renda média, fato possível pela adoção dos 
programas sociais anteriormente referidos.
1982/1995 1984/1997 1986/1999
Rendimento médio mensal real das pessoas de 10 anos ou mais 
de idade, ocupadas com remuneração de trabalho Brasil
1982 - 1990 1995 - 2003
1988/20011983/1996 1985/1998 1987/2000 1989/2002 1990/2003
Figura 13 – Rendimento médio mensal nos períodos de 1982 a 1990 e 1995 a 2002
Essa desvalorização se mostrou necessária para promover o equilíbrio externo, embora tenha 
resultado em um PIB baixo de 1996 a 2002.
1º trimestre 1996
2,5
PIB a preços de mercado - taxa acumulada por trimestre
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
1º trimestre 2002
0,7
Figura 14 – PIB nacional, variação percentual anual (média móvel de 6 anos)
A melhora da economia é capaz de evoluir a oferta de postos de trabalho? Vamos ver: ao analisar 
as questões do trabalho, Pastore (1998a) destaca que é necessário um crescimento econômico gerador 
de postos de trabalho. Para que possa originar postos suficientes, a economia tem que apresentar 
crescimento mínimo do PIB de 5,5% a.a. – o que significa que, não alcançando-o, acarretará a existência 
de um deficit de empregos. No entanto, para Pastore (1998a), não é só o crescimento econômico o 
responsável pelos problemas do emprego, mesmo porque, segundo ele, no período de 1991 a 1996, 
houve aumento de novos postos de trabalho no mercado informal, queda do emprego formal nos 
diferentes setores da indústria – conforme o gráfico a seguir – e a redução do assalariamento com 
67
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
carteira assinada. Veja, caro aluno, como é preciso ter muito crescimento econômico para poder gerar 
novos postos de trabalho.
O gráfico na sequência mostra uma queda de pessoal empregado entre 1991 e 2006, não somente 
por conta do fraco crescimento econômico, mas pela abertura comercial desordenada entre 1990 e 
1996, que, com o aumento das importações, acabou influenciando, também ao longo dos anos que se 
seguiram, a perda de postos de trabalho nas indústrias e favorecendo a criação no setor de serviços que 
abriga maior número de trabalhadores informais.
1992
0,6
1
Emprego toral - sem carteira Emprego toral - com carteira
1,4
1,8
1995 1997 1999 2002 2004 2006 2008 20111993 1996 1998 2001 2003 2005 2007 2009 2012
Figura 15 – Evolução do emprego total na indústria – com e sem carteira
Para Pastore (1998a), a abertura comercial feita de maneira desordenada entre 1990 e 1996, a 
valorização do real e o decorrente aumento das importações contribuíram para a menor geração de 
empregos. A tudo isso é preciso que se some a elevação dos gastos sociais possibilitados pela Constituição 
de 1988. O autor considera ainda que tudo sugere que o Brasil precisa de alterações contemplando as 
diferenças regionais nas suas leis trabalhistas e que estas possibilitem menor rigidez para que o mercado 
de trabalho gere mais empregos formais, dentro das novas formas de trabalho que possam se apresentar. 
Pastore, sempre defendeu a flexibilização das relações de trabalho para geração de novos postos, mas 
mesmo com as reformas trabalhistas e previdenciárias, até hoje, isso não aconteceu, como isso pode ser 
explicado? Continue lendo e refletindo sobre a condução da economia e do trabalho em nosso país para 
poder ter uma visão mais definida.
Dessa forma, os trabalhadores não assalariados são caracterizados por exercerem suas ocupações 
como autônomos e em atividades de pequena escala na produção de bens ou serviços, sem carteira 
assinada, na informalidade e sem remuneração. Eles compõem o chamado setor informal ou setor não 
estruturado, ambos os conceitos foram utilizados ao longo deste trabalho.
Em análise estrutural sobre o trabalho formal e informal na economia brasileira no período de 1992 
a 2001, Camargo (2006, p. 5) conclui que, a partir de 1990,
68
Unidade II
[...] houve redução da capacidade de gerar empregos para cada um milhão 
de reais da produção. Os dados mostram que, apesar da proporção de 
trabalhadores informais na economia ser superior à dos trabalhadores na 
formalidade, o setor informal foi o responsável por cerca de 60% dos postos 
de trabalho gerados no período estudado.
Esse fato é oriundo, basicamente, da queda de empregos na indústria e do crescimento da oferta 
de trabalho nos serviços, nos quais a informalidade tem grande ocorrência (DUPAS, 1999). É dentro da 
reestruturação produtiva brasileira dos anos 1990 que se encontra boa parte das explicações para o 
comportamento do mercado de trabalho no tocante à perda de postos no setor industrial e à migração 
desses trabalhadores para o setor informal da economia brasileira.
O Brasil continua a mudar, será que para melhor no tocante ao trabalho? Vamos ver: a reestruturação 
produtiva começou com o esforço de modernização da economia e o combate à inflação na década de 
1990, porém foi caracterizada pela ausência de uma política industrial, comercial e social que alterasse 
as relações de trabalho. Assim, foi responsável pela baixa qualidade dos postos de trabalho, pelas baixas 
qualificação e remuneração de mão de obra e pela falta de postos de trabalho. Na década de 1990, 
houve queda de 26% no número de trabalhadores com carteira assinada, que perderam 4% dos postos 
de trabalho; houve aumento de 40% dos sem carteira, que obtiveram 4,5% dos postos (DUPAS, 1999).
O desemprego afeta várias sociedades, no caso da sociedade brasileira, profundamente. Medidas 
para atenuá-lo devem ser pensadas e aplicadas nos âmbitos do governo, das empresas e dos próprios 
trabalhadores. Entre elas, é preciso que haja:
•	 aprimoramento do sistema educacional, objetivando o acesso ao emprego;
•	 capacitação e recapacitação de trabalhadores;
•	 reestruturação fiscal e burocrática a fim de que sejam abertos caminhos para uma economia e 
uma sociedade menos amarrada e mais fluida;
•	 revisão da política econômica, com reformas estruturais que possibilitem o afrouxamento da 
rigidez orçamentária;
•	 investimentos em infraestrutura portuária, aeroportos, energia elétrica; além de melhora 
substancial das estradas de rodagem.
Enfim, trata-se de medidas que permitiriam o maior crescimento do PIB brasileiro, que estava aquém 
do ritmo mundial, e que poderia trazer consequências positivas para o mercado de trabalho. Você, aluno, 
já percebeu se melhora na economia gera empregos?
O processo de globalização, sob o aspecto tecnológico, propiciou a integração do mundo em 
redes globais por permitir, instantaneamente, a geração de informações. Sob o aspecto empresarial, 
possibilitou a instalação de empresas em qualquer país, pois seu capital não tem pátria e seu interesse 
69
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
maior é a lucratividade. Sob o aspecto financeiro, representa os grupos empresariais dominantes e 
donos do capital financeiro mundial (BECK, 1999).
Os aspectos tecnológico, empresarial e financeiro da globalização necessitam de um Estado 
favorável à manutenção de seus interesses, e a não intervenção nos rumos da economia. Pelo contrário, 
qualquer intervenção dessa ordem deve servir para o desenvolvimento de políticas que visem à 
desregulamentação, à liberalização, às privatizações e à flexibilização das relações institucionais do 
trabalho. Trata-se de uma lógica neoliberal.
Nessa novadivisão internacional do trabalho, os países centrais, sede das empresas transnacionais, 
investem em pesquisas e tecnologia que acabam gerando melhores e mais bem-remunerados postos 
de trabalho. Eles transferem para os países periféricos os processos produtivos que oferecem postos de 
trabalho mais simples e menos remunerados, ou, ainda, os postos que requerem trabalhadores altamente 
capacitados para trabalharem em plantas de fábricas de tecnologia sofisticada.
Singer (1997), analisando o processo de globalização, afirma que ele pode ser positivo, quando 
bem-conduzido pelo Estado, e negativo, quando se apoia no neoliberalismo econômico, que tem 
como base a eliminação das restrições e do controle dos intercâmbios – o que é o caso do Brasil. No 
âmbito mundial, a globalização financeira desregulamenta as economias nacionais dos países pobres 
e sem projeto de crescimento econômico, que se fragilizam, e não têm força suficiente para competir 
com os países ricos. Estes, para além de tudo, mantêm parte de seu mercado protegido, ampliando a 
insegurança e os riscos financeiros aos países em desenvolvimento. Como exemplo, foi possível verificar 
nos jornais de agosto de 2020, que o presidente dos EUA diminuiu a cota de importação de aço do 
Brasil. Isso é protecionismo, que implementa a produção interna e gera trabalho local, lá nos EUA, e 
consequentemente os diminui aqui, em nosso país.
É necessária a formulação de políticas econômicas que proporcionem aos países pobres condições 
de produzirem competitivamente. Na atual divisão internacional do trabalho, deve também ser 
viabilizada a socialização dos custos e dos benefícios, pois os países pobres participam de forma 
marginal da globalização, arcando com o aumento do desemprego, com o baixo poder de compra 
e com o desaquecimento de suas economias. Aliás, esses fatos podem ser condições resultantes das 
regulações econômicas impostas, no sentido de evitar altos índices de inflação, fato este que por si só 
também causa recessão.
O Brasil insere-se nesse processo nos anos 1990. Ao optar pelo desenvolvimento de políticas 
neoliberais como forma de resolver a crise econômica e obter maior competitividade internacional, 
acabou por contribuir com o crescimento do desemprego, o aumento da economia informal e a 
pauperização e precarização do mercado de trabalho, pois se tornava necessária a redução do custo 
Brasil (BOSCO, 2003), o que gerou aumento de produtividade e diminuição do emprego industrial.
Vale ressaltar, caro aluno, que sempre houve desemprego e informalidade na economia brasileira 
e a globalização não é a sua causa exclusiva. Todavia, no momento, ela contribui efetivamente para 
a manutenção e até mesmo para a ampliação desse quadro na medida em que não há propostas de 
políticas adequadas ao desenvolvimento tecnológico que acompanhem a demanda internacional.
70
Unidade II
A descentralização da produção enfraqueceu o poder dos sindicatos e aumentou o poder de controle 
sobre os trabalhadores. São exigidas novas competências no que toca à versatilidade, nas quais passam 
a existir outros processos de trabalho substituindo a produção em série pela flexibilização da produção.
Veja, aluno, como o novo impacta no trabalho. Na flexibilização, aliás, há a exigência de uma 
especialização flexível, de novos padrões de produtividade e de adequações da produção à lógica do 
mercado, tais como terceirização, subcontratação, empresa rede e reconcentração baseadas em pequenas 
empresas, trabalho independente de profissionais ou consultores, bem como outras formas de gestão 
de trabalho que visem ao controle de qualidade, à gestão participativa e à qualidade total em busca da 
produção enxuta (BOSCO, 2003).
Entre essas novas formas, tem-se a ampliação do sistema Toyota, que prioriza o consumidor e cuja 
produção obedece à demanda sob medida, incorporando o just in time. Nele, os custos de estoque 
devem ser evitados, o que pode favorecer o aumento, nas estradas, do fluxo de caminhões destinados 
ao transporte de mercadorias.
 Observação
Just in time (“na hora certa”) é um sistema de administração da produção 
no qual nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora 
certa. Auxilia a redução de estoques e custos, configurando-se como um 
dos principais pilares das fábricas e do sistema toyotismo de produção.
Em 1990, adotou-se um modelo econômico cuja viabilização, entre outras coisas, fez com que as 
privatizações operassem como fonte de verbas a serem canalizadas para abater a dívida e dar sequência 
à internacionalização econômica brasileira, o que gerou a perda de 17,1% dos empregos assalariados 
formais, em um total de 3,2 milhões perdidos na década de 1990 (POCHMANN, 2001a).
A estabilização monetária e a capitalização de recursos internacionais tornaram-se possíveis 
a partir de 1994. A ancoragem da moeda em dólar permitiu a internacionalização dos custos e dos 
preços do mercado interno a partir de 1994, com política econômica de combate à inflação por meio 
também de elevadas taxas de juros e valorização cambial. A abertura implementou a redução das tarifas 
de importação não acompanhadas da implementação à exportação, o que gerou déficit na balança 
comercial e na conta de serviços de pagamento coberto por endividamento externo, cujo processo 
continuou no período de 1995 a 1999 (POCHMANN, 2001a).
A opção por desregulamentar e abrir o setor comercial – sem um planejamento que possibilitasse 
forte inserção do Brasil no novo mundo das tecnologias e sem o desenvolvimento de políticas industriais 
e agrícolas – provocou a diminuição das exportações de produtos manufaturados, o aumento das 
exportações de produtos primários e a ampliação da dependência externa do Brasil. A falta de 
planejamento do desenvolvimento regional resultou em pouca expansão da economia nacional, 
introduzindo disputas internas na proposição de medidas, principalmente as fiscais, que pudessem atrair 
empresas transnacionais, sem que isso acrescentasse algo à economia do país. Parece que sempre faltou 
71
SOCIOLOGIA DO TRABALHO
um bom planejamento para o desenvolvimento econômico do Brasil. Acompanhe o desenrolar de nossa 
história econômica.
No âmbito internacional, as grandes organizações transnacionais, ao buscarem instalar seus setores 
produtivos em regiões do globo onde existem vantagens comparativas, além da especialização produtiva 
promovida geralmente pelo Estado, dão início a uma nova divisão internacional do trabalho. Com ela, 
aprofunda-se a concentração e centralização do capital, afetando a produção nacional. Na medida 
em que essa produção não se encontra suficientemente preparada para enfrentar a competição daí 
decorrente, principalmente no âmbito tecnológico, o resultado que se tem é o agravamento das 
questões de emprego e a ampliação da informalização do trabalho. Falta muito investimento para que 
possamos ter um desenvolvimento tecnológico interno adequado, capaz de melhorar nossa economia.
Em seus locais de origem, as grandes organizações produtivas tiveram seus processos de reorganização 
e reestruturação fundamentados em redes de subcontratações vinculadas à unidade produtiva principal. 
Isso se deu por meio da adoção de novas formas organizacionais e gerenciais que substituíram o processo de 
produção em massa por novos métodos de produção, entre eles o toyotismo – ou produção enxuta, o 
downsizing e a customização – cuja filosofia, com grande uso de tecnologia e produção diversificada, 
veio, em parte, para o Brasil a partir da década de 1990, com a abertura econômica. Essa forma de 
produção contribuiu para a geração de excedentes de desempregados, subcontratados e trabalhadores 
temporários e para o consequente aumento do trabalho informal (SILVA, 1999).
 Observação
Downsizing, em português, significa “achatamento”. Trata-se de uma 
técnica de conhecimento mundial que tem como objetivo a eliminação de 
processos desnecessários e responsáveis pelo engessamento da empresa, 
interferindo na tomada de

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