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A EVOLUÇÃO DA QUÍMICA DO SÉCULO XVI AO SÉCULO XIX (1)

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1ª PARTE: A QUÍMICA DO SÉCULO XVI AO SÉCULO XVIII 
 
CAPÍTULO I: A QUÍMICA NO SÉCULO XVI 
 
O século XVI testemunhou mudanças profundas na sociedade europeia. A 
descoberta de novas terras com tantas coisas novas e insuspeitadas aguçou o 
sentimento de que o conhecimento dos antigos, fossem eles filósofos pagãos da 
antiguidade ou doutores cristãos do medievo, era limitado e havia muito mais para 
se conhecer do que se supunha até então. A dúvida sobre as certezas herdadas do 
passado teve um papel fundamental na construção da Revolução Científica que se 
desencadeou a partir do século XVI. Novas explicações tinham que ser buscadas 
fora dos arcabouços tradicionais, para dar conta de tanta novidade que aparecia. 
Simultaneamente, a ocupação e colonização de vastos continentes levou a uma 
gigantesca expansão das atividades manufatureiras na Europa, numa escala nunca 
vista. Com efeito, para a tarefa de colonização global era preciso dispor de 
quantidades imensas de armas e munição, inúmeros tipos de instrumentos 
metálicos, fossem de ferro, bronze ou outros metais e ligas, usados na agricultura, 
na construção de edifícios e em várias outras atividades, objetos os mais variados 
de cerâmica, vidro, couro, quantidades imensas de papel, e assim por diante. A 
atividade mineira e metalúrgica desenvolveu-se de forma intensa na Europa Central, 
sobretudo nas regiões de cultura germânica. Tudo isto produziu um importante 
corpo de conhecimento sobre os metais, sua obtenção, propriedades, etc, assim 
como a descoberta de novos metais, desconhecidos dos antigos. A comunicação 
entre pessoas e povos se intensificou pela rápida difusão da imprensa a partir de 
meados do século XV. Também a comunicação física entre pessoas aumentou, 
pelas viagens por todo o planeta, pelas constantes guerras, sobretudo as guerras 
de religião, advindas da quebra da hegemonia papal no Ocidente com as reformas 
da religião cristã em suas diversas modalidades. Muitas doenças novas, 
contagiosas ou não, difundiram-se rapidamente, como a sífilis, no primeiro caso, e 
a avitaminose C, ou escorbuto, no segundo. A medicina começou a mudar bastante 
nessa época, levando consigo a química. 
 O começo da chamada "Longa Revolução Química", que duraria dois séculos 
e meio, data da primeira metade do século XVI, e teve dois eixos principais. O 
primeiro, nascido na primeira metade do século, começou com o químico e médico 
prático suíço Filipe Teofrasto Paracelso (1493-1541). Paracelso tinha um profundo 
senso místico e acreditava que a função da química era curar as doenças humanas. 
Ele fundou aquilo que se convencionou denominar iatroquímica, ou química 
medicinal. Para ele, a função do químico era preparar compostos específicos para 
curar as doenças. Ele foi o introdutor do conceito de etiologia das doenças, isto é, 
cada doença tem sua causa própria. Para ele, as causas eram todas químicas, por 
isso era com a química que as doenças deviam ser curadas. O corpo humano era, 
na sua concepção, um verdadeiro laboratório químico, onde um sem-número de 
reações eram processadas continuamente. Ele se insurgiu contra a teoria galênica, 
vinda da antiguidade clássica, em que a doença era encarada como uma 
perturbação no equilíbrio dos "humores" existentes no corpo humano. Havendo, por 
exemplo, excesso do humor sangue, o médico devia executar uma sangria no 
paciente. Estando este debilitado pela doença, muitas vezes o tratamento piorava a 
situação. Os medicamentos eram em geral de origem vegetal e se apresentavam 
como "panacéias", misturas às vezes bastante heterogêneas contendo dezenas de 
ingredientes. O conceito paracelsista de etiologia da doença levou a uma busca por 
medicamentos precisos para cada enfermidade. Paracelso também ampliou o leque 
de substâncias a usar, ao propor e praticar a síntese de novos medicamentos 
sintéticos de natureza inorgânica, em geral sais contendo mercúrio, ouro, antimônio, 
arsênio, enxofre e outros elementos. É bem verdade que muitos desses compostos 
são altamente tóxicos, mas alguns foram utilizados até o século XX, como o 
calomelano, ou cloreto mercuroso, sintetizado e descrito por Paracelso. Há um 
aspecto em sua química, contudo, mantidas as devidas ressalvas, que o aproxima 
de uma química medicinal extremamente moderna, qual seja a química medicinal 
inorgânica. Esta teve seu marco inicial em meados dos anos 60 do século passado, 
com o advento do uso da cisplatina, ou cis-diaminodicloroplatina(II), um composto 
totalmente inorgânico, no tratamento de vários tumores cancerosos. A partir daí 
este ramo da química medicinal se desenvolveu com grande vigor e hoje ocupa um 
lugar de grande importância nos programas de pesquisa no mundo inteiro. 
 É com Paracelso que se inicia uma nova fase nos estudos da matéria e suas 
transformações. A antiga preocupação dos alquimistas com a transmutação 
elementar é deixada de lado como algo totalmente desimportante. O papel da 
química agora é entender o funcionamento do corpo humano e produzir 
medicamentos em laboratório para combater enfermidaddes específicas. A química 
chega a se confundir por vezes com a medicina ou a farmácia. A doutrina química 
volta-se para a arte de curar, dando à química um caráter ancilar à medicina, numa 
situação que perduraria até finais do século XVII. 
 Em contraposição, a química dos mineradores e metalurgistas, daqueles que 
denominaríamos muito mais "engenheiros" hoje em dia, não se preocupa tanto com 
doutrinas e sim com resultados. É uma atividade empírica, pragmática, que busca 
produzir cada vez mais e melhor, com redução de custos e aumento de 
produtividade. Assim, podemos reconhecer nitidamente no século XVI duas 
vertentes distintas na atividade química. A primeira é representada pelos 
iatroquímicos, seguidores em maior ou menor grau das doutrinas paracelsistas, e 
cuja maior preocupação é a preparação de medicamentos químicos para a cura das 
doenças humanas. A segunda vertente, dos mineradores e metalurgistas, não se 
preocupa tanto com doutrinas, e sim com o aumento e a melhoria de seus resultados 
práticos. 
 Paracelso, em que pesem seus méritos, foi também um grande polemista, 
tendo feito inimigos em vários sítios por onde passou. Em virtude dessas inimizades 
e da oposição que elas lhe granjearam, muitas de suas obras só puderam ser 
publicadas após sua morte. A leitura de seus textos é difícil, pela linguagem às vezes 
confusa e pelo grande misticismo que os permeia. 
 A Figura 1 mostra o frontispício da obra de Paracelso intitulada De Vita Longa, 
dividido em cinco "livros", ou capítulos, publicada em Basiléia em 1566, embora a 
data não apareça no frontispício. A obra é um texto de medicina recheado de 
prescrições para remédios químicos. 
 A Figura 2 apresenta a portada de um segundo livro de Paracelso, numa 
compilação de Leon Suábio, que contém ainda uma biografia do médico suíço e um 
catálogo de suas obras. Este segundo livro se intitula Philosophiae et Medicinae 
Utriusque Universae Compendium (Compêndio de toda a Filosofia e Medicina), 
tendo sido também publicado em Basiléia, porém em 1568, como se pode ler 
claramente no frontispício. Esta obra amplia a anterior e está encadernada 
juntamente com a primeira numa capa de pergaminho de época. A composição 
deste livro é certamente bem anterior à data de publicação, pois um dos prefácios 
que antecedem o texto é de autoria do famoso humanista da Renascença Erasmo 
de Roterdam, (1466-1536), falecido em Basiléia pouco antes de Paracelso, que 
morreria em Salzburg, onde está sepultado. 
 O prefácio do humanista holandês, reproduzido na Fig. 3, começa com uma 
dedicatória reveladora da admiração de Erasmo pelo autor: "Ao muito perito nas 
coisas médicas, doutor Teofrasto Eremita, Erasmo de Roterdam". Ao final, vem a 
assinatura: "Erasmo de Roterdam, por sua própria mão". 
Figura 1. Paracelso, De Vita Longa, Basiléia, 1566. Figura 2. Paracelso, Philosophiaeet Medicinae Utriusque 
Universae Compendium, Basiléia, 1568. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3. Prefácio de Erasmo de Roterdam ao livro 
de Paracelso Philosophiae et Medicinae 
Compendium 
Figura 4. Lazarus Ercker, frontispício de 1672, ostentando o 
título Aula Subterranea Domina Dominantium Subdita 
Subditorum, Frankfurt 
 
Como exemplo da outra vertente da química do século XVI, apresenta-se 
aqui um livro que foi um dos primeiros compêndios de química analítica e 
metalúrgica. Seu autor, Lazarus Ercker, viveu entre 1530 e 1594 na Alemanha e na 
Boêmia. Em 1574 ele publicou em Praga sua grande obra, intitulada Beschreibung 
allerfürnemisten mineralischen Ertzt und Berckwercksarten, que pode ser traduzido 
como Descrição dos principais métodos de de mineração e tratamento de minérios. 
O livro teve uma edição posterior, em 1672-1673, organizada por Christianus 
Berwardus, que acrescentou um segundo frontispício (donde as duas datas de 
publicação mencionadas, cada uma correspondendo a um dos frontispícios). Esta 
edição saiu à luz em Frankfurt. O primeiro frontispício do livro, de 1672, está 
mostrado na Fig. 4 e se intitula Aula Subterrânea Domina Dominantium Subdita 
Subditorum, ou Aula Subterrânea, Senhora dos Dominantes, Súdita dos Súditos). O 
segundo frontispício do mesmo livro, do ano seguinte, é uma belíssima gravura com 
aspectos do que se discute no livro e com alegorias. Este segundo frontispício tem 
o título de Aula Subterranea alias Probier Buch Herrn Lazari Erckers (Aula 
Subterrânea, aliás Livro de Ensaios do Senhor Lazarus Ercker). Como o livro de 
Ercker é uma obra composta no século XVI, optou-se por sua colocação no presente 
capítulo, mesmo que a edição aqui mostrada seja do século XVII. 
 Berwardus também acresentou à obra de Ercker sua própria composição, 
intitulada Interpres Phraseologiae Metallurgicae, ou Intérprete da Fraseologia 
Metalúrgica. A edição de Berwardus mantém todas as belíssimas xilogravuras da 
primeira edição, num total de 41 pranchas, das quais muitas ocupam praticamente 
uma página inteira do fólio. Estas gravuras mostram minas, laboratórios, 
equipamentos variados, fornalhas, em cenas populadas por personagens usando 
roupas do século XVI. Além da beleza desta edição, o presente exemplar ainda se 
encontra encadernado numa folha em pergaminho de um antifonário do século XVI. 
Na impossibilidade de apresentar todas as gravuras do livro, mostram-se aqui 
algumas delas, que ilustram como este é ao mesmo tempo um livro técnico e uma 
obra de arte. 
 
Figura 5. Lazarus Ercker, frontispício de 1673, com o título Aula Subterranea alias Probier Buch Herrn Lazari 
Erckers, Frankfurt 
 
 
Fig. 6. Introdução aos 5 "livros" em que se divide a obra de 
Ercker 
Fig. 7. A mineração do cobre, de Ercker 
 
 
 
Fig. 8. A mineração do chumbo, de Ercker Fig. 9. A mineração do ouro, de Ercker 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 10. O tratamento do minério, de Ercker 
Fig. 11. O laboratório para ensaios com minério de ouro, de 
Ercker 
 
 Embora o século XVI tenha testemunhado, como já foi dito, o 
aparecimento de duas vertentes da química independentes da alquimia, está 
ainda se manteve viva e ativa pelo menos até o final do século XVII. Por isto, 
existem muitos livros do que se poderia denominar uma alquimia tardia, alguns 
dos quais bastante interessantes. Mesmo no século XVIII, pelo menos em sua 
primeira metade, produziram-se várias obras de alquimia, a qual, todavia, foi 
desaparecendo lentamente com o extraordinário progresso da química dos 
setecentos. 
 A Figura 12 mostra o frontispício de um desses livros de alquimia tardia, 
"De Veritate et Antiquitate Artis Chemicae et Pulveris", ou "Da Antiguidade e 
Verdade da Arte da Química e do Pó". O livro é de autoria do médico e 
alquimista Robertus Vallensis e foi publicado em Leiden, na Holanda, em 1593, 
como se pode ler na portada. É também interessante reparar no subtítulo da 
obra, "sive Medicinae Philosophorum vel Auri Potabilis", que se traduz como "ou 
da Medicina dos Filósofos ou do ouro Potável". O livro é uma coletânea de textos 
de muitos escritores do assunto desde a antiguidade, com comentários do 
autor. É interessante observar uma mudança que já se havia operado há 
bastante tempo, pela qual as palavras alquimia e química são usadas 
indiferentemente com o mesmo sentido. O livro é uma verdadeira história da 
alquimia, ou pelo menos uma resenha de um grande número de autores sobre 
o assunto, desde o Antigo Testamento, chegando à Grécia e à Roma clássicas, 
e atravessando toda a Idade Média, tanto por seus autores islâmicos como 
latinos. Uma curiosidade interessante é que Isaac Newton possuía um exemplar 
deste livro em sua biblioteca, que compreendia um bom número de obras de 
alquimia. 
 A Figura 13 reproduz as duas primeiras páginas do livro de Robertus 
Vallensis, com um poema encomiástico sobre o autor e o início do prefácio da 
obra. Este começa com uma descrição da origem por ele atribuída ao vocábulo 
química, aludindo à grande habilidade dos antigos artesãos alexandrinos na arte 
de fundir e trabalhar metais: "O nome da arte química foi tomado do vocábulo 
grego chemeia, que significa fusão." 
 
Fig. 12. Frontispício do livro de Robertus Vallensis, De Veritate et Antiquitate Artis Chemicae et Pulveris, Leiden, 
1593 
 
 
Fig. 13. Prefácio do livro de Robertus Vallensis, 1593 
 
 
CAPÍTULO II: A QUÍMICA NO SÉCULO XVII 
 O século XVII testemunhou uma enorme expansão das atividades químicas, 
continuando o fenômeno registrado na centúria anterior. Tanto as atividades 
empíricas foram incrementadas, como a química medicinal também ganhou 
enorme impulso, começando a penetrar as universidades, sobretudo dos países 
germânicos, desde o início dos anos seiscentos. Pela primeira vez, então, a 
química passa a ser uma matéria estudada nas academias, mas como uma 
disciplina ancilar à medicina. Por isto se pode afirmar que só é possível estudar a 
evolução da química se considerarmos o conjunto de várias atividades. Entre 
estas, a medicina e a farmácia têm um papel capital. Muitas obras químicas se 
tornam gradualmente menos obscuras, comparativamente à maioria dos textos 
alquímicos anteriores, ou mesmo a autores como Paracelso. Esta tendência, 
todavia, coexistiu com uma continuidade na prática da alquimia e da publicação de 
textos alquímicos. Basta lembrar o caso de Isaac Newton, um devotado alquimista 
ao longo de boa parte de sua vida, ao mesmo tempo em que desenvolvia a física 
e o cálculo infinitesimal. No século XVII surgiram químicos que deram à luz obras 
de grande abrangência e que influíram bastante sobre seus sucessores, como 
Johann Rudolph Glauber (1604-1670), Jan Baptist van Helmont (1577-1644) e 
Robert Boyle (1627-1691). O século XVII na exposição começa com a obra de um 
químico francês, Jean Béguin (1550-1620), autor de um livrinho que granjeou 
enorme popularidade e teve inúmeras edições. Trata-se do livro 
intitulado Tyrocinium Chymicum, cuja primeira edição data de 1610. A edição 
mostrada aqui é de 1659, o que mostra a durabilidade da obra no apreço dos 
químicos da época. A razão disto é que Béguin produziu um verdadeiro manual de 
laboratório, com a preocupação de dar um grande número de receitas para a 
preparação de medicamentos, sem muitas veleidades teóricas, o que permitiu a 
longevidade do livro. Todavia, ele mostra grande meticulosidade em citar um 
grande número de autores, sejam do passado, como Paracelso, ou 
contemporâneos, como Hartmann. Sua química medicinal é por ele referida como 
quimiatria, outra versão do termo iatroquímica, muito em voga na época. No 
prefácio, Béguin dá uma profissão de fé naquilo que ele considera o objetivo da 
química: "E seguramente o médico não produz nada de importância de que a 
quimiatria não seja grande parte". 
 As Figuras 14 e 15 mostram,respectivamente, a gravura que ilustra a página 
de abertura do livro de Béguin e o frontispício do mesmo. 
 
Figs. 14 e 15. Página de abertura e frontispício de Tyrocinium Chymicum, 
de Jean Béguin, Genebra, 1659 
 Um outro autor de grande importância no Século XVII foi Jan Baptist van 
Helmont, médico e químico flamengo, que viveu e trabalhou em Bruxelas e suas 
imediações. Ao se designar philosophus per ignem, ou filósofo pelo fogo, van 
Helmont queria dizer que se considerava acima de tudo um químico, pois as 
operações principais levadas a cabo nos laboratórios eram conseguidas por meio 
do fogo, como as destilações, no caso dos líquidos, ou as calcinações, no caso 
dos sólidos. Van Helmont foi um importante adepto da química medicinal e a ele 
se atribui a criação da palavra gás, da palavra caos, de origem grega, que 
expressaria a "desordem" inerente a um gás, que não tem nem forma nem volume 
definidos. 
 Muitos autores trabalharam com o conceito da conservação da matéria, muito 
antes de Lavoisier expressá-lo claramente ao final do século XVIII. Van Helmont 
talvez seja o mais conhecido, por causa de seu experimento do salgueiro. Ele 
tomou uma tina cheia de terra e pesou-a meticulosamente, obtendo um valor de 
200 libras. Nessa tina plantou uma muda de salgueiro de 5 libras. A partir daí regou 
a planta apenas com água pura de chuva durante 5 anos. Ao cabo desse tempo, 
retirou o salgueiro e verificou que a tina com a terra seca continuava pesando 200 
libras. O salgueiro havia crescido e agora pesava 269 libras e 3 onças. A 
interpretação helmontiana do ocorrido foi que a diferença na massa do salgueiro 
era devida à água adicionada, que se havia transmutado nos materiais que 
compunham a árvore. Embora a conclusão, em termos da reação ocorrida não 
satisfaça a um químico moderno, a preocupação quantitativa e o uso implícito do 
princípio de conservação da matéria sim. Van Helmont foi também um autor 
prolífico e teve seu filho Francisco Mercúrio como seguidor. 
 
 A Fig. 16 reproduz a portada do 
magnífico fólio de sua grande obra, 
intitulada Ortus Medicinae (A Origem da 
Medicina), publicada postumamente por 
seu filho em 1667. 
 O livro busca abranger toda a 
medicina da época, tratando-a sob um 
ponto de vista químico. Na página de rosto, 
de grande beleza, veem-se acima os 
retratos de van Helmont e de Francisco 
Mercúrio, este modesta-mente atrás do 
pai. A portada é ladeada por brasões 
heráldicos e conta ainda com duas 
alegorias femininas na parte de baixo, com 
inscrições latinas que podem ser traduzidas 
como "a natureza que pare" e a "sabedoria 
que nutre". 
Fig. 16. Frontispício de Ortus 
Medicinae, de Jan Baptist van Helmont, 
4ª edição, Louvain, 1667 
 
 A figura 16 reproduz, portanto, o frontispício do livro Ortus Medicinae, de van 
Helmont. Serão abordados agora três químicos do século XVII cujas edições aqui 
apresentadas saíram à luz no século XVIII. São eles, respectivamente, Robert 
Boyle (1627-1691), Johann Joachim Becher (1635-1682) e Nicolas Lémery (1645-
1715). 
 Robert Boyle foi uma figura singular na Inglaterra do século XVII. Amigo 
pessoal de Newton, sócio fundador da Royal Society, ele circulava entre cientistas 
devotados à matemática, à física e à astronomia, que incluíam, além do próprio 
Newton, Robert Hooke, Edmond Halley, Christopher Wren e muitos outros. A 
ciência boyliana, empírica ou não, caracteriza-se por uma ausência quase total de 
matemática, ao contrário daquela de seus amigos. Boyle escreveu sobre uma 
enorme variedade de assuntos em química e em física, além de incursões pela 
filosofia e pela teologia. Ele deu seu nome à lei que diz que a uma temperatura 
constante a pressão e o volume de um gás são inversamente proporcionais. Em 
química sua obra mais importante é sem dúvida "The Sceptical Chymist", obra 
marcadamente anti-paracelsista, publicada em 1661 em inglês, e não em latim 
como era mais comum. Um ano antes, em 1660, saíra sua obra denominada "New 
Experiments Physico-mechanical, Touching the Spring of Air and its 
Effects". Desses estudos sobre a elasticidade do ar surgiu sua lei dos gases 
referida acima. Boyle apresentou também uma teoria corpuscular que muitas 
vezes se considera como precursora da Teoria Atômica de Dalton, do início do 
século XIX. As partículas constituintes da matéria podem rearranjar-se de várias 
maneiras, de sorte que a transmutação elementar é possível. O ajuste das 
diferentes partículas de matéria explicaria a afinidade química, conceito bastante 
influenciado pela física newtoniana. 
 As figuras mostradas são da primeira coletânea póstuma das obras de Boyle, 
publicada em três volumes, em 1725, por Peter Shaw. A coleção traz um bom 
número de ilustrações, realizadas com esmero e maestria. A Figura 17 traz o 
frontispício do primeiro volume, enquanto a Figura 18 mostra a gravura do 2º 
volume que ilustra sua bomba de vácuo original. 
 
Fig 17. Frontispício do 1º volume (de um total de três) 
de The Philosophical Works, Robert Boyle, Londres, 1725 
Fig. 18. A bomba de vácuo original de Boyle, 2º 
vol. de "Works", Londres, 1725 
 
 O próximo autor a ser considerado é Johann Joachim Becher, médico e 
químico alemão do século XVII. Becher admitia três classes de "terras", que 
constituíam as diversas substâncias químicas. Os compostos eram formados 
por diferentes proporções de cada "terra", as quais eram denominadas por ele 
como "gorda", "vítrea" e "fluida". A primeira dava à substância a propriedade da 
combustibilidade, a segunda correspondia à propriedade da solidez e da 
incombustibilidade, como na maioria das rochas, e a terceira correspondia à 
fusibilidade e ao brilho metálico. Becher foi conselheiro comercial do Imperador 
Leopoldo I em Viena, e foi essencial no estabelecimento de várias manufaturas 
químicas no Império dos Habsburgo. Ele escreveu muitos livros sobre os assuntos 
mais diversos, como química, economia, matemática e mineração. Sua obra 
química mais influente, a Physica Subterranea, está aqui representada. O livro 
teve uma primeira edição em 1667 e várias edições posteriores. A edição aqui 
apresentada é a última, de 1738, e foi organizada por seu discípulo, o também 
médico e químico Georg Ernst Stahl (1660-1734), do qual nos ocuparemos mais 
adiante. Stahl foi também o autor do prefácio desta edição. 
 A Figura 19 mostra a portada do livro, com uma bela mas enigmática gravura 
repleta de simbolismos de sabor alquímico. Em seguida, a Figura 20 mostra o 
frontispício em preto e vermelho do livro, o qual é apresentado por Stahl, à época 
também já falecido. 
 
 
Fig. 19. Johann Joachim Becher, portada de Physica 
Subterranea, plena de alegorias alquímicas 
Fig. 20. Johann Joachim Becher, frontispício 
de Physica Subterranea, Leipzig, 1738 
 
 O último autor do século XVII abordado nesta resenha é o francês Nicolas 
Lémery, autor de um dos livros mais longevos e vendidos da época, o Cours de 
Chymie. Sua primeira edição saiu em 1675, e a ela se seguiram várias edições 
francesas, assim como traduções em latim, inglês, alemão, holandês, italiano e 
espanhol. A edição mostrada aqui é a última, de 1757. Trata-se de uma edição 
póstuma, organizada pelo químico Théodore Baron d´Hénouville (1715-1768). 
Curiosamente, a morte de Baron em 1768 abriria uma vaga na Academia das 
Ciências de Paris, que viria a ser preenchida pelo jovem Lavoisier. 
 Voltando ao livro de Lémery, seu texto é direto e claro, razão pela qual se 
tornaria tão popular. Ele respondia muitas das perguntas feitas na época, como se 
pode ver em sua definição de ácido: "...eu direi que a acidez de um licor consiste 
nas partículas de sal pontudas, as quais estão em agitação; e não creio que se me 
possa contestar que o ácido não tenha pontas, pois todas as experiências o 
mostram; basta prová-lopara sentir esta sensação: porque ele faz comichões na 
língua semelhantes ou muito parecidas com aquelas que se receberiam de alguma 
matéria cortada em pontas muito finas..." 
 O livro de Lémery traz ainda uma bela gravura inicial, representando um 
químico em seu laboratório, e uma sequência de pranchas desdobráveis ao final, 
com ilustrações de equipamentos e operações de laboratório. 
 A Figura 21 mostra o frontispício do livro, ao passo que a figura 22 apresenta 
a gravura que representa o laboratório. A Figura 23 reproduz o trecho em que 
aparece sua definição de ácido, que contém várias outras "evidências" para 
sustentar seu conceito. Finalmente, a Figura 24 corresponde a uma das pranchas 
desdobráveis do final do livro. 
 
 
Fig. 21. Nicolas Lémery, Cours de Chymie, 
Paris, 1757 
Fig. 24. N. Lémery, Cours de Chymie, 
instrumentos de laboratório 
 
 
Fig. 22. N. Lémery, Cours de 
Chymie, O Laboratório do Químico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III: A QUÍMICA NO SÉCULO XVIII 
 
 O século XVIII começou com uma química mais amadurecida, distinguindo-
se não só da alquimia moribunda como daquela química totalmente subordinada 
à medicina e à farmácia. Aqui já se vê uma ciência da natureza de pleno direito. 
Sua melhor expressão foi a formulação da Teoria do Flogisto pelo químico e 
médico alemão Georg Ernst Stahl, seguidor de Becher. Stahl, um médico e 
professor de medicina, tratava a química como uma ciência independente, sem 
nenhuma sujeição à medicina. Ele considerava a existência de uma distinção 
fundamental entre a química de laboratório e aquela que ocorria nos seres vivos. 
A Teoria do Animismo, mais tarde denominado Vitalismo, surgiu com ele e durou 
até o século XIX. Muito já se escreveu sobre sua teoria mais famosa, a do flogisto, 
de modo que só se falará dela aqui de forma breve. A partir do conceito becheriano 
de "terra pinguis", ou "terra gorda", um dos componentes dos compostos químicos, 
de acordo com Becher, Stahl desenvolveu o conceito de inflamabilidade, ou 
"flogisto", do grego, para denominar aquilo que se desprende quando uma 
substância arde. A madeira, o azeite, o carvão são todos materiais ricos em 
flogisto, pois queimam-se quase totalmente, restando apenas um pequeno resíduo 
de cinzas. Os metais também se "queimam", embora o termo apropriado neste 
caso seja que eles se calcinam, originando "cais", aquilo que mais tarde Lavoisier 
viria a denominar óxidos. A teoria de Stahl foi a primeira teoria química de 
aplicação ampla, capaz de explicar um enorme número de fenômenos. Se um 
metal, ao se calcinar, perde flogisto, então se se conseguir devolver flogisto ao 
produto da calcinação, a cal, será possível regenerar o metal original. Esta é a 
reação de redução, familiar a todos os metalurgistas. Por exemplo, tanto a cal de 
ferro ou de estanho, quando aquecidas com carvão, dão os metais respectivos. 
 Então a teoria de Stahl era capaz de explicar muitos fenômenos, 
compreendendo tanto as reações diretas como as inversas. Por isso ela logrou 
aos poucos uma enorme aceitação e dominou toda a química da maior parte do 
século XVIII, até ser substituída pela química lavoisiana no último quartel do 
século. A Teoria do Flogisto foi publicada por Stahl em várias de suas obras desde 
o final do século XVII. Todavia, a versão francesa de seu livro de 1718, traduzida 
pelo enciclopedista Barão Dietrich d´Holbach (1723-1789) com o título de Traité du 
Soufre, ou Tratado do Enxofre, publicada em 1766, é considerada por muitos a 
melhor exposição da Teoria do Flogisto feita por seu autor. Ele está apresentado 
aqui na Figura 25. 
 
Enquanto Stahl desenvolvia seus 
trabalhos na Universidade de Halle e 
mais tarde na Corte de Berlim, seu 
contemporâneo Herman Boerhaave 
(1668-1738) pontificava na Universidade 
de Leiden, na Holanda. Também 
professor de medicina e química, 
Boerhaave divergia de seu colega 
alemão ao defender a iatrofísica, uma 
interpretação mecanicista para o 
funcionamento do corpo humano, com 
uma profunda influência de Newton. 
Todavia, num ponto os dois convergiam, 
ao considerarem a química como uma 
ciência autônoma da natureza, e não um 
ramo da medicina. Apresenta-se aqui na 
Figura 26 a primeira tradução inglesa da 
obra de Boerhaave, intitulada A New 
Method of Chemistry, publicada em 
1727. 
 
Figura 25. Georg Ernst Stahl, Traité du 
Soufre, Paris, 1766 
 
 Logo após os primeiros anos do século XVIII a química passou a ser 
dominada pelo estudo dos gases, constituindo a chamada "química pneumática". 
Foi graças a esses estudos que a ciência química pôde desenvolver-se e chegar 
a um estado que podemos reconhecer como bastante "moderno" nas últimas 
décadas do século. 
 
Um marco decisivo na química 
pneumática foi a descoberta, em 
1756, por Joseph Black (1728-
1799), professor de química e 
medicina na Universidade de 
Edimburgo, do ar fixo, que 
conhecemos como dióxido de 
carbono. Black descobriu, ao 
investigar a magnesia alba, ou 
carbonato de magnésio, que ela 
efervescia ao ser posta em 
ácidos, e o ar liberado coincidia 
com aquele produzido nas 
fermentações levadas a cabo 
nas cervejarias. 
Fig. 26. Herman Boerhaave, frontispício de A New Method of Chemistry, Londres, 1727 
 
 Ele mostrou de forma inequívoca que se tratava de um gás diferente do ar 
atmosférico e pela primeira vez ficou demonstrada a existência de um gás distinto 
do ar. 
 O nome ar fixo foi cunhado por Black em virtude de aquele ar estar fixado 
num sólido, a magnesia alba, e poder ser liberado por uma ação química. Com o 
decorrer do século XVIII vários outros gases foram descobertos: o ar inflamável, 
ou hidrogênio, por Henry Cavendish (1731-1810), em 1766; o ar mefítico, ou 
nitrogênio, por Daniel Rutherford (1749-1819), em 1772; e o ar do fogo, por Carl 
Wilhelm Scheele (1742-1786), em 1772, chamado em 1774 de ar 
desflogisticado por Joseph Priestley (1733-1804), e de ar vital, mais tarde 
oxigênio, por Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794), em 1776. Em suma, havia 
uma grande atividade em vários países europeus envolvendo o estudo dos gases. 
 Uma obra de grande importância nesse desenvolvimento da química dos 
gases foi a publicação de Joseph Priestley (1733-1804) intitulada Experiments and 
Observations on Different Kinds of Air, publicada em três volumes em 1777. O 
químico inglês foi um dos mais notáveis experimentalistas do século XVIII, tendo-
se notabilizado em muitas áreas, sobretudo na química pneumática. Ele 
aperfeiçoou os métodos para a obtenção de vários gases e foi um dos 
descobridores do oxigênio, como se relatará mais adiante. Ele o obtinha pela 
decomposição térmica do óxido de mercúrio, um método de laboratório muito 
conhecido até hoje. Um pormenor curioso da carreira de Priestley foi a reação que 
ele executou ao fazer dois gases, a amônia e o cloreto de hidrogênio, passarem 
por um longo tubo de vidro, cada gás vindo de uma extremidade. 
 
 Ao se encontrarem no meio do tubo, 
os dois gases reagiam, originando 
um pó branco, o cloreto de amônio. 
Esta foi a primeira vez que se obteve 
um sólido diretamente a partir de 
dois gases, mostrando de vez por 
todas que os gases são tão 
materiais como os sólidos e os 
líquidos, ou seja, retirando-lhes 
qualquer estatuto particular como se 
fossem alguma classe especial da 
matéria. 
Aqui se mostram, nas Figuras 27 a 
30, o frontispício da edição de 1790 
do livro de Priestley sobre os gases, 
juntamente com três das belas 
pranchas que ilustram a obra, 
ilustrações que estão todas 
agrupadas no volume 1. 
Fig. 27. Joseph Priestley, frontispício de Experiments and Observations on Different Kinds 
of Air, Londres, 1790. 
 
 
Fig. 28. Priestley, 1790, vol 1, Prancha I 
 
Fig. 29. Priestley, 1790, vol.1, Prancha II, mostrando parte do laboratóriodo químico inglês 
 
Fig. 30. Priestley, 1790, vol.1, Prancha VIII 
 Como ilustração de que a química da segunda metade do século XVIII já 
estava bastante desenvolvida e bem próxima de nós, até mesmo antes do final da 
revolução lavoisiana, mostra-se aqui um livro monográfico sobre o estanho, em 
que a química deste elemento é analisada extensamente. O livro, 
intitulado Recherches Chimiques sur l´Étain, de autoria de Pierre Bayen (1725-
1798) e Louis Charlard (? - 1798) surgiu de um projeto de pesquisa encomendado 
pelo governo francês, que desejava saber se era verdade que o estanho usado 
nos utensílios usados à mesa pelos soldados do exército continha arsênio, como 
se propalava. Os autores executaram um magnífico projeto de investigação, que 
os levou a demonstrar a inexistência de arsênio no estanho. 
 
Toda a investigação e seus resultados 
foram publicados nesse livro 
interessantíssimo, cujo frontispício é 
dado na Figura 31. 
Um importante químico sueco do 
século XVIII foi Torbern Olof Bergman 
(1735-1784). A ele se deve a distinção 
das substâncias em orgânicas e 
inorgânicas. Entre sua vasta 
bibliografia, mostra-se aqui a tradução 
francesa de sua obra 
intitulada Manuel du Minéralogiste; ou 
Sciagraphie du Règne Minéral 
Distribuée D`Après L´Analyse 
Chimique, publicada em 1792, em 
dois volumes. O livro trata não apenas 
de mineralogia, mas é um tratado 
bastante abrangente de química 
inorgânica. 
Fig. 31. Bayen e Charlard, frontispício de Recherches Chimiques sur l´Étain, de Paris, 
1781 
 
 
É preciso lembrar que a 
palavra fóssil na época designava 
qualquer mineral existente na terra. 
Por isso diz Bergman em seu livro: 
 "Dá-se o nome de Reino Mineral às 
substâncias fósseis que se encontram 
na terra, que não possuem nenhuma 
estrutura orgânica, ou que a tenham 
perdido, como as petrificações. São 
necessários caracteres particulares 
para reconhecer os fósseis, distingui-
los entre si no espaço e no tempo; e 
chama-se Mineralogia a ciência que 
define seus caracteres." 
 A Figura 32 mostra o frontispício 
do volume 1 da obra de Bergman. 
Fig. 32. Torbern Bergman, Manuel du Minéralogiste, ou Sciagraphie du Règne Minéral, 
Distribuée D`Après L´Analyse Chimique, vol. 1, Paris, 1792 
 
 Muito próximo de Bergman encontramos um outro notável químico sueco, um 
dos maiores experimentalistas do século XVIII, Carl Wilhelm Scheele (1742-1784). 
Este modesto boticário, lutando a vida inteira com a pobreza que o assolava, 
conseguiu, não obstante, construir um edifício magnífico de realizações científicas 
de primeira grandeza. Sem mencionar os inúmeros compostos por ele 
descobertos, basta apontar sua experiência de 1772, em que ele descobriu que o 
dióxido de manganês, ao ser aquecido, libera um ar, por ele denominado ar do 
fogo, com propriedades inusitadas. Este ar fazia com que uma brasa ardesse até 
consumir-se completamente e o carvão em pó se inflamasse espontaneamente. 
Scheele também produziu o mesmo ar por uma série de reações químicas, como 
o aquecimento do óxido de mercúrio, do carbonato de prata, do nitrato de 
magnésio e do nitrato de potássio. Como ele só viria a publicar seus resultados 
vários anos mais tarde, por muito tempo não foi considerado o verdadeiro 
descobridor do oxigênio. 
 
Em 1774 Priestley obteve o mesmo ar 
de Scheele e logo publicou seus 
resultados, e Lavoisier, a partir de 1776, 
mostrou o que era aquele novo gás e 
sua importância essencial na reação de 
combustão, assim como muitas de suas 
outras propriedades. Por isso, não faz 
muito sentido opor os três na busca da 
paternidade da descoberta do oxigênio, 
e sim estabelecer que esta foi uma 
descoberta conjunta dos três eminentes 
químicos. Os experimentos de Scheele 
foram publicados em 1777, e aqui se 
mostra a tradução francesa de seu livro 
seminal, o Traité Chimique de L´Air et 
du Feu, dado à luz em 1781, cujo 
frontispício está na Figura 33. 
Fig. 33. Carl Wilhelm Scheele, Traité Chimique de L´Air et du Feu, Paris, 1781; note-se a 
tradução para o francês dos prenomes do autor 
 
 Nas últimas décadas do século XVIII a química estava portanto em plena 
efervescência, com uma plêiade de grandes nomes, alguns deles já abordados 
aqui, produzindo trabalhos brilhantes. Destes, o nome mais celebrado é o de 
Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), pela abrangência de sua obra e pelo rumo 
novo que ele imprimiu à química, assim como por sua enorme influência sobre o 
pensamento químico. A mudança na química ao final do século XVIII, contou com 
um grande número de protagonistas, mas teve em Lavoisier seu ator mais 
destacado. Este fenômeno histórico é conhecido como Revolução Química. Na 
verdade, ela foi a culminação daquele longo processo iniciado no século XVI com 
Paracelso, mas que teve em Lavoisier seu grande final. O que, pois, constituiu a 
obra do químico francês? Como já escrevi em outra ocasião, Lavoisier encarnou o 
auge de um longo processo de transformação da química, desde que ela se 
distanciou da alquimia, no século XVI, emergindo como uma ciência autônoma, 
sobre bases empíricas e racionais, no início do século XVIII. Em que consistiu esse 
processo e qual é sua importância? Lavoisier não foi um descobridor de novas 
substâncias, o que surpreende muitas pessoas. Ele soube mostrar como as 
substâncias interagem, o que é preciso para que as interações ocorram e o que 
acontece nessas interações. Ele dotou a química de uma enorme coerência 
interna, mostrando que é essencial descrever os fenômenos não só 
qualitativamente como quantitativamente. Para isso tornou-se um mestre nas 
determinações de massa e de volume. Conseguiu resolver de uma vez o grande 
enigma do século XVIII e de todos os séculos anteriores sobre a natureza da 
combustão. Mostrou que este fenômeno está ligado a inúmeros outros de natureza 
semelhante, como a oxidação dos metais, a respiração dos animais, a redução 
dos minérios a metais, a síntese e a decomposição da água. Estabeleceu uma 
forma operacional para o princípio de conservação da matéria e um conceito 
moderno de elemento químico, retirando o caráter elementar de misturas como o 
ar atmosférico ou de compostos como a água. Foi um pioneiro da química 
orgânica, da físico-química e da análise química; criou com Laplace a calorimetria 
e delineou alguns aspectos da química biológica. 
 A ênfase lavoisiana em medir e pesar tudo levou-o a bater de frente com a 
teoria stahliana do flogisto, substituíndo-a pela teoria da combustão pelo oxigênio, 
que é a nossa teoria atual. De acordo com Stahl, como se viu, o processo de 
combustão ou de calcinação consiste na perda de flogisto pelo corpo que arde ou 
que se calcina. Enquanto os químicos se contentassem com explicações 
qualitativas apenas, a teoria funcionava. Ora, alguns materiais, como o carvão ou 
a madeira, ardem com diminuição de massa, ao passo que o antimônio, o estanho 
ou o chumbo se calcinam dando um produto mais pesado. Como conciliar estes 
dados com a idéia de que em todos esses casos havia a perda de alguma coisa, 
o flogisto? Lavoisier inovou, pois além de levar em conta os aspectos qualitativos, 
também pesou meticulosamente todos os reagentes e produtos, fossem eles 
sólidos, líquidos ou gases. Assim fazendo, resulta que a combustão ou a 
calcinação levam sempre a um aumento de massa. Sua conclusão foi de que no 
processo algo se liga quimicamente ao corpo que arde. Suas pesquisas o levaram 
a demonstrar que aquilo que se une ao corpo inflamável é o oxigênio, que 
representa cerca de 21% do ar atmosférico. Finalmente estava resolvido o enigma 
multimilenar da natureza da combustão. 
 
Lavoisier publicou dezenas de comunicações 
nas Memórias da Academia das Ciências de 
Paris. Também deu à luz dois livros muito 
importantes, os Opuscules Physiques et 
Chimiques, de 1774, e o Traité Élémentaire 
deChimie, de 1789, este em dois volumes. 
Ele também foi co-autor, junto com Guyton 
de Morveau, Claude Louis Berthollet e 
Antoine de Fourcroy, do Méthode de 
Nomenclature Chimique, publicado em 1787, 
de que em boa parte resulta a nomenclatura 
inorgânica que usamos ainda hoje. A obra 
dos quatro químicos franceses buscava 
estabelecer normas mais gerais e racionais 
para uma nomenclatura química sistemática, 
em substituição à caótica nomenclatura 
então usada. Ã Figura 34 mostra o 
frontispício do livro com a nova nomenclatura 
química que se propunha. 
Fig. 34. Morveau, Lavoisier, Bertholet 
(sic) e de Fourcroy, Méthode de 
Nomenclature Chimique, Paris, 1787 
 
 
No século XIX, durante o Segundo 
Império, o governo de Napoleão III 
decidiu honrar a memória ultrajada 
de Lavoisier publicando suas obras 
completas. Isto foi feito entre 1862 e 
1868 sob a supervisão do químico 
Jean Baptiste Dumas (1800-1884), 
resultando em quatro volumes muito 
bem cuidados e com ilustrações 
primorosas, que reeditam os livros e 
as memórias de Lavoisier. A estes 
quatro volumes seguiram-se mais 
tarde, em 1892-1893, mais dois 
volumes, publicados sob a respon-
sabilidade de Louis Édouard 
Grimaux (1835-1900), historiador da 
química e biógrafo de Lavoisier. 
Fig. 35. Retrato de Lavoisier, Oeuvres, vol. 1, 1864 
 
 
A Figura 35 reproduz a belíssima 
gravura com o retrato de Lavoisier que 
abre o primeiro volume de suas obras 
completas, conhecidas como Oeuvres. 
A Figura 36 reproduz o frontispíco do 
primeiro volume das Oeuvres, de 1864. 
As datas de publicação não seguem 
necessariamente a sequên-cia dos 
volumes. 
Fig. 36. Lavoisier, Oeuvres, frontispício do primeiro volume, que contém o Traité 
Élémentaire de Chimie 
 
 A seguir serão mostradas mais algumas das excelentes ilustrações que 
acompanhavam as edições originais das obras de Lavoisier em vida e que foram 
fielmente reproduzidas na edição póstuma do século XIX. 
 A Figura 37 consiste no desenho feito por Madame Lavoisier, ilustradora de 
todo o Traité e colaboradora científica do marido, para a Prancha VI do livro, que 
reproduz o calorímetro inventado por Lavoisier e Laplace. A Figura 38 mostra um 
pormenor da mesma figura, com a assinatura da artista, Marie-Anne Pierrette 
Paulze Lavoisier. 
 
Fig. 37. Lavoisier, Prancha VI do Traité Élémentaire de Chimie, como o calorímetro de 
Lavoisier e Laplace, desenhado por Mme. Lavoisier, que assina em baixo, à direita 
 
Fig. 38. Pormenor da Figura 37, mostrando a assinatura de Madame Lavoisier 
 
Fig. 39. Lavoisier, Oeuvres, vol. II, Prancha III, 1862. Reprodução de ilustração da memória 
de Lavoisier e Meusnier sobre a decomposição da água, lida na Academia em 1784 e por 
ela publicada, com o título de Mémoire où on prouve, par la décomposition de l´eau, que 
ce fluide n´est point une substance simple, et qu´il y a plusieurs moyens d´obtenir en grand 
l´air inflammable qui y entre comme principe constituant 
 
 
 
 
 
 
Fig. 40. Lavoisier, Oeuvres, vol. II, Prancha VII. Ilustração reproduzida da primeira 
memória de Lavoisier, premiada e publicada pela Academia em 1765, sobre a Iluminação 
de uma grande cidade. Na época ele contava 22 anos de idade 
 
 
41. Lavoisier, Oeuvres, vol. III, 1865, Prancha IX. Experimentos executados nos anos 1770, 
com uma enorme lente convergente para concentrar os raios do sol 
 
Fig. 42. Lavoisier, Oeuvres, vol. IV, Prancha I, 1868. Ilustração da Mémoire sur une 
nouvelle Méthode distillatoire appliquée à la distillation des eaux-de-vie et à celle de l´eau 
de mer, 1775. Esta ilustração seria utilizada pelo Abbé Rosier em obra de 1781, a qual foi 
traduzida no Brasil por José Pinto de Azeredo, acrescida de muitas notas e publicada por 
João Manso Pereira na forma do livro Memória sobre uma Nova Construção do Alambique, 
Lisboa, 1805 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mesmo após a morte infamante de 
Lavoisier, a química francesa manteve 
seu brilho. Um exemplo disso é o livro em 
dois volumes de Claude Louis 
Berthollet, Essai de Statistique Chimique, 
de 1803, cujo frontispício se apresenta na 
Figura 43. Com esta obra termina este 
capítulo relativo à química do século 
XVIII. Um pormenor curioso deste 
frontispício é a existência de duas datas, 
no calendário republicano revolucionário 
francês e no calendário gregoriano. O 
calendário revolucionário havia sido 
adotado no ano da proclamação da 
república, 1792, por isso o ano de 1803 
vem como ano XI. No ano seguinte 
Napoleão Bonaparte extinguiria tanto o 
calendário republicano como a própria 
república, sagrando-se Imperador. 
 
CAPÍTULO IV: A DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA EM PORTUGAL NO 
SÉCULO XVIII 
 
 A química moderna, bem como as outras ciências, como a física e a 
história natural, foram institucionalizadas em Portugal com a grande reforma 
efetuada na Universidade de Coimbra pelo Marquês de Pombal em 1772. Isto 
não significa, como muitos já sustentaram, que não houvesse qualquer 
manifestação científica no país. No reinado do D. João V (1706-1750) alguns 
tópicos científicos foram ativamente estudados, sobretudo pelos militares, como 
essenciais á demarcação, posse e defesa dos imensos territórios portugueses 
no ultramar. Desta maneira, a matemática, a astronomia, a geodésia, a 
balística, a metalurgia, o fabrico e o uso da pólvora foram assuntos da maior 
importância que vários engenheiros militares, sobretudo, perseguiram com 
denodo. 
 Pode-se muitas vezes vislumbrar o que está ocorrendo lançando mão de 
evidências indiretas, como a divulgação científica disponibilizada para a 
população. Por isso, este relato tratará inicialmente deste item, ou seja, 
mostrará por meio de alguns exemplos como a ciência era divulgada entre a 
população leiga. Em seguida se mostrará como se deu o desenvolvimento da 
ciência acadêmica. Os primeiros exemplos são de divulgação popular da 
ciência, ou daquilo que se acreditava fosse ciência. Em seguida veremos a 
divulgação da ciência erudita. 
 A figura 44 mostra à esquerda o frontispício de um livro curioso publicado 
em 1759 sob forma de 15 fascículos, aqui reunidos num único volume. Ele é 
um tipo daquilo que poderíamos chamar de pseudo-ciência, pois, sob o manto 
de invocar autoridades do passado, divulga crendices e superstições de todo 
tipo. O autor, José Ângelo de Moraes, publicou a obra sob o pseudônimo de 
José Maregelo de Osan, um anagrama óbvio de seu nome. O texto consta de 
perguntas em verso do discípulo ao mestre, que também responde com versos. 
Em seguida, seguem-se citações de autoridades antigas, que o mestre invoca 
para apoiar suas respostas, por mais estapafúrdias que sejam. À direita da 
Figura 44 vê-se um exemplo de dúvida do discípulo, neste caso 
correspondendo à 14ª semana, assim como a resposta do mestre. 
 
Fig. 44. José Maregelo de Osan (José Ângelo de Moraes), O Discípulo Instruído pelos 
Mestres mais Sábios nos Segredos Naturaes das Sciencias, Lisboa, 1759, frontispício e 
diálogo entre discípulo e mestre na 14ª semana de estudos 
 O livro seguinte foi publicado no mesmo ano de 1759. Seu autor foi Pedro 
Norberto de Aucourt e Padilha, e ele se intitula Raridades da Natureza e da 
Arte, Divididas pelos Quatro Elementos. A obra é dedicada ao Rei D. José I. A 
maior parte das "raridades" são aquelas da terra, seguindo-se as da água, do 
ar e do fogo. Ao final há dois capítulos sobre Magia Natural e Magia Artificial, 
respectivamente. Alguns dos relatos são interessantes. Por exemplo, na seção 
sobre o ar há a primeira menção, embora sucinta, publicada em Portugal sobre 
os experimentos de Bartolomeu Lourenço de Gusmão com os balões de ar 
quente, executados cinquenta anos antes. O tom geral do livro, todavia, é de 
muita crendice e superstição, o que o torna também interessante como fonte de 
informação preciosa sobrea mentalidade da época. A Figura 45 mostra seu 
frontispício. 
 
Fig. 45. Pedro Norberto de Aucourt e Padilha, Raridades da Natureza e da Arte, Divididas 
pelos Quatro Elementos, Lisboa, 1759 
 
A Figura 46 mostra, à esquerda, a dedicatória do autor das Raridades ao Rei 
D. José, e à direita a curtíssima menção a Bartolomeu Lourenço de Gusmão. A 
razão de se inserir aqui a dedicatória ao Rei ficará clara um pouco mais adiante. 
Os 
Fig. 46. Pedro Norberto de Aucourt e Padilha, Raridades da Natureza e da Arte, dedicatória a D.José I (à 
esquerda) e menção a Bartolomeu de Gusmão (à direita) 
 Os próximos exemplos retratam a divulgação científica de natureza 
erudita, refletindo em muitos aspectos o estado de desenvolvimento científico 
da Europa da segunda metade do século XVIII. Estas publicações são, 
portanto, completamente distintas das duas mostradas anteriormente. A 
primeira delas é a Recreação Filosófica, ou Diálogo sobre a Filosofia Natural, 
para Instrução de Pessoas Curiosas, que não Frequentaram as Aulas, em 10 
volumes, de autoria do Padre Oratoriano Teodoro de Almeida. Esta é uma obra 
de enorme importância para o Portugal do século XVIII, e sobre ela muito se 
tem escrito. A Congregação do Oratório, fundada na Itália por São Filipe Néri, 
dava enorme importância ao estudo da ciência, cujo estudo serviria de base à 
própria fé cristã. Esta postura contrapunha os oratorianos aos jesuítas, para os 
quais a fé precedia tudo, mesmo que muitos jesuítas também tenham sido 
grandes cultores das ciências. Em Portugal, todavia, o confronto esteve sempre 
latente, até a expulsão dos inacianos em 1759. Mais tarde os próprios 
oratorianos também entrariam em choque com o despotismo pombalino. 
 A Recreação Filosófica é uma obra de muito interesse, pois foi das 
primeiras publicações a introduzir a ciência moderna em Portugal, como, por 
exemplo, a física newtoniana, que é bastante discutida e explicada por Teodoro 
de Almeida. A publicação dos dez volumes se estendeu de 1751 a 1800, com 
várias edições e reedições. A coleção aqui tratada vai de 1786, que é a data do 
primeiro volume, a 1800, que marca a publicação do décimo tomo, embora o 3º 
e o 4º tomos ostentem a data de 1803, e o tomo 7 a de 1805, tratando-se 
evidentemente de reimpressões, embora todos os volumes tenham exatamente 
a mesma encadernação de época. O texto é apresentado sob a forma de 
diálogos filosóficos, que se desenrolam sempre à tarde, entre várias 
personagens, como Eugênio e Teodósio, presentes no primeiro volume, e 
outras que depois se acrescentam. Os diálogos compreendem 50 tardes, 
seguidas de mais 19 que ocupam os dois últimos volumes e se ocupam de 
assuntos de religião, moral e teologia. 
 A Figura 47 apresenta as duas páginas de abertura do primeiro volume da 
Recreação, mostrando um retrato do autor e o frontispício da obra. É curioso 
que a data de publicação do volume é 1786, mas a legenda sob o retrato de 
Teodoro de Almeida dá seu ano de morte, 1804. Então, ou o retrato foi 
adicionado posteriormente, ou o volume é uma reedição do início do século XIX, 
mantendo-se a data original do frontispício, o que talvez seja mais provável. 
 
Figura 47. Recreação Filosófica, com o retrato do autor, Teodoro de Almeida, e o 
frontispício do primeiro volume, Lisboa, 1786 
 A Figura 48 mostra a dedicatória presente ao Rei D. José I no primeiro 
volume da Recreação Filosófica, que tem a data de 1786. Aqui ocorreu uma 
curiosidade muito interessante. A vinheta com a efígie de D. José é a mesma 
que havia aparecido na dedicatória do livro de Pedro Norberto, de 1759, 
mostrada pouco atrás, 27 anos antes da presente publicação (Fig. 46). A Figura 
49 apresenta uma confrontação das duas vinhetas lado a lado. 
 
Figura 48. Teodoro de Almeida, Recreação Filosófica, dedicatória a D. José 
 
Figura 49. Comparação entre as vinhetas com a efígie de D. José I 
 nos livros de Pedro Norberto de Padilha (1759) e de Teodoro de Almeida (1786) 
 As Figuras 50 a 53 reproduzem algumas das belas gravuras que ilustram 
a obra de Teodoro de Almeida 
 
Fig. 50. Recreação Filosófica, vol. 1, 1786, estampa 2: roldanas, atrito, força dos ventos, 
etc 
 
Fig. 51. Recreação Filosófica, vol. 2, 1787, estampa 2: experimentos de óptica 
 
Fig. 52. Recreação Filosófica, vol. 3, 1803, estampa 4: experimentos de hidrostática 
 
Fig. 53. Recreação Filosófica, vol. 4, 1803, estampa 2: experimentos de óptica, incluindo o 
esquema de um microscópio 
 O último exemplo de obra de divulgação científica de natureza erudita é o 
Jornal Enciclopédico, que começou a ser publicado por Félix Antonio Castrioto 
em 1779. Após este primeiro ano ele foi interrompido e só voltou a sair em 1788, 
sob a direção do médico, farmacêutico e químico Manoel Joaquim Henriques 
de Paiva (1752-1829). O volume constante desta mostra engloba estes dois 
anos, 1779 e 1788. O Jornal Enciclopédico procurava dar notícia de tudo o que 
ocorria na Europa em relação às ciências, e também se ocupava bastante das 
publicações científicas e dos progressos havidos em Portugal. A Figura 54 
apresenta a bela portada e o frontispício do primeiro número do Jornal. 
 
Fig. 54. Portada e frontispício do primeiro número do Jornal Enciclopédico, Lisboa, 1779 
 No número correspondendo a 1788 Manoel Joaquim Henriques de Paiva 
inseriu uma crítica cruel ao livro de estreia do jovem químico brasileiro Vicente 
Coelho de Seabra Silva Telles, publicado no ano anterior, a Dissertação sobre 
a Fermentação em Geral e suas Espécies. Embora o livro seja uma obra 
pequena e despretenciosa, esta crítica ferina gerou uma profunda inimizade 
entre os dois. A crítica ocupa quase duas páginas do Jornal Enciclopédico, que 
estão reproduzidas na Figura 55. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 55. Resenha bastante crítica do livro de estréia do químico brasileiro Vicente Coelho 
de Seabra Silva Telles, cujo nome está grafado numa variante, pelo editor do Jornal 
Enciclopédico Manoel Joaquim Henriques de Paiva, publicada em 1788. 
CAPÍTULO V: 
O terremoto político que abriu as portas à ciência moderna em 
Portugal 
 
 Este curto capítulo foi inserido para contextualizar um fenômeno de 
importância capital para Portugal e para o Brasil, que foi a institucionalização da 
ciência européia contemporânea no Portugal da segunda metade do século 
XVIII. 
 No reinado de D. José I Portugal foi sacudido pelo devastador terremoto 
que destruiu Lisboa, em 1755, e pelas profundas reformas introduzidas pelo 
todo-poderoso ministro do Rei, Sebastião José de Carvalho e Melo, que se 
tornaria em 1759 Conde de Oeiras e dez anos depois Marquês de Pombal. 
Havia dois enormes obstáculos no caminho de Carvalho e Melo em seu projeto 
de modernização do país e implantação do regime político que se tornou 
conhecido por "despotismo esclarecido". Estes dois obstáculos eram a nobreza 
e a Companhia de Jesus. A nobreza precisava ser dominada, eliminando 
quaisquer resquícios feudais, de forma a que se consolidasse o poder absoluto 
do Rei e a primazia do Estado. A Companhia de Jesus detinha uma riqueza e 
um poder consideráveis, tanto no Reino como no Ultramar, constituindo-se 
assim num grande empecilho ao projeto político de Carvalho e Melo. Os dois 
obstáculos foram resolvidos no mesmo ano, 1759. No ano anterior D. José I 
havia sofrido um atentado a bala, em que estariam envolvidas algumas das 
famílias mais nobres e antigas de Portugal, os Duques de Aveiro e os 
Marqueses de Távora. Não cabe aqui entrar em pormenores sobre este 
episódio, apenas dizer rapidamente que, após um processo sumário, os nobres, 
suas famílias e até vários de seus serviçais foram julgados e condenados, 
seguindo-se uma execução infamante dos réus, num espetáculo público com 
requintes de barbarismo e crueldade. Este episódio desferiu um golpe de mortenas pretensões de poder dos nobres. A denúncia de uma associação dos 
jesuítas com a tentativa de regicídio foi o pretexto para finalizar uma campanha 
anti-jesuítica que já vinha de algum tempo. Finalmente, no mesmo ano de 1759, 
todos os jesuítas foram expulsos sumariamente de Portugal e suas colônias. 
Agora Sebastião José, aquinhoado por seu soberano nesse mesmo ano com o 
primeiro de seus títulos de nobreza, estava livre para empreender suas 
reformas. Estas atingiram praticamente toda a vida do país. Do ponto de vista 
que nos interessa aqui, o ensino, que antes se concentrava pesadamente nas 
mãos dos jesuítas, pôde ser profundamente reformado, a começar pela 
Universidade de Coimbra, onde a ciência moderna havia sido até então 
anátema. A Universidade foi profundamente alterada, criando-se novos 
estatutos que buscavam inseri-la num contexto europeu moderno. Carvalho e 
Melo criou uma nova Faculdade na Universidade, a de Filosofia, entendendo-
 
 
 
 
 
se por este nome a Filosofia Natural, compreendendo a Química, a Física e a 
História Natural. Vários professores estrangeiros foram trazidos para tratar 
desses novos assuntos. A nova Universidade reformada abriu suas portas em 
1772, e foi nela que um numeroso grupo de brasileiros notáveis estudou e 
pesquisou as ciências, notadamente as ciências da matéria, nessas décadas 
finais do século XVIII e nas primeiras do século seguinte. 
 A Figura 56 mostra um documento que não é de ciência ou tampouco um 
livro. Trata-se da primeira e da penúltima página de um alvará impresso original, 
firmado pelo Rei e por seu ministro, recém-promovido a Conde de Oeiras, com 
a data de 3 de setembro de 1759. Este alvará, assim como vários outros da 
época, da lavra de Carvalho e Melo, mostra a linguagem virulenta e insultuosa 
que se cultivava nos documentos oficiais contra os jesuítas. 
 
Fig. 56. Alvará de D. José I, de 3 de setembro de 1759, em que o Rei ordena que se 
recolham à Torre do Tombo, em Lisboa, e em diversos outros locais do Reino, papéis que 
sirvam para lembrar à posteridade as iniquidades imputadas aos jesuítas. A virulência da 
linguagem é impressionante, mesmo com os jesuítas já expulsos de Portugal e de seus 
domínios. 
CAPÍTULO VI: A QUÍMICA MODERNA EM PORTUGAL 
 
 A química não era ensinada na Universidade de Coimbra antes da reforma 
pombalina. As publicações que versavam sobre química até então eram as obras 
médicas e farmacêuticas. Um sobrinho e seguidor do famoso químico francês 
Nicolas Lémery, já abordado anteriormente, instalou-se em Portugal e publicou 
uma sequência de livros de farmácia e química medicinal na primeira metade do 
século XVIII. Seu nome foi aportuguesado e ele se assinava João Vigier (1662-
1723). A Figura 57 mostra à esquerda o frontispício de um de seus livros, o 
Tesouro Apolíneo, de 1745. No subtítulo o autor mostra sua inclinação: Tesouro 
Apolíneo Galênico, Químico, Cirúrgico, Farmacêutico, ou Compêndio de 
Remédios para Ricos e Pobres. Na Figura 57 à direita está reproduzida uma 
página do livro em que o autor apresenta uma série de remédios para ulcerações, 
boa parte dos quais sintéticos e contendo metais, dentro da tradição iatroquímica. 
João Vigier também dá em seu livro uma grande ênfase a medicamentos de 
origem vegetal, incluindo muitos materiais provenientes de possessões do 
Ultramar, como o Brasil. 
 
Figura 57. João Vigier, Tesouro Apolíneo, Lisboa, 1745: à esquerda se vê o frontispício 
do livro e à direita uma lista de remédios sintéticos iatroquímicos 
 Como a Universidade de Coimbra nunca havia tido química em seu currículo, 
importou-se de Pádua o Professor Domingos Vandelli (1735-1816), químico e 
naturalista. Vandelli inaugurou seus trabalhos na Universidade reformada a partir 
de 1772. Ele teve como incumbência implantar o ensino de química e de botânica, 
além do Jardim Botânico da Universidade, ao qual se somou mais tarde o Jardim 
Botânico do Palácio da Ajuda, em Lisboa. Vandelli foi um professor extraordinário, 
capaz de motivar e entusiasmar seus alunos, mesmo nunca tendo sido um químico 
notável no que se refere ao trabalho de investigação. Ele também esteve presente 
na fundação e na condução por vários anos de muitas atividades da Academia 
Real das Ciências de Lisboa. Dele se diz que sempre foi mais naturalista que 
químico, mas esta é uma acusação injusta que só leva em conta as realizações de 
um pesquisador. Vandelli foi sobretudo um grande professor. Basta dar os nomes 
de alguns de seus alunos que se destacaram para isto ficar claro, como os 
brasileiros José Álvares Maciel, Vicente Coelho de Seabra Silva Telles, José 
Bonifácio de Andrada e Silva, Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá e vários 
outros, além de muitos portugueses de carreira científica ilustre, como Thomé 
Rodrigues Sobral, seu sucessor e continuador na cátedra. 
 Vandelli publicou inúmeras comunicações nas Memórias da Academia Real 
da Ciências de Lisboa, sobre os assuntos mais variados. Também publicou livros 
de história natural e botânica, mas nenhum de química. Isto seria feito por seus 
discípulos. 
 Como exemplo do que foi dito, a Figura 58 apresenta a dedicatória à Rainha 
D. Maria I e o frontispício de um livro de Vandelli, publicado em 1788, intitulado 
Dicionário dos Termos Técnicos de História Natural. Trata-se de uma compilação 
adaptada ao português de obra de Lineu. 
 
Fig. 58. Domingos Vandelli, dedicatória e frontispício do Dicionário dos Termos Técnicos 
de História Natural, Coimbra, 1788 
Juntamente com o Dicionário, o volume que o contém também traz encadernado 
junto uma outra obra de Vandelli, a Memória sobre a Utilidade dos Jardins 
Botânicos. Este livro tem ao final uma grande série de pranchas desdobráveis com 
ilustrações as mais variadas. 
 
Fig. 59. Domingos Vandelli, Memória 
sobre a Utilidade dos Jardins Botânicos, 
Coimbra, 1788 
 
A Figura 59 mostra a página de abertura 
da obra, que não apresenta um 
frontispício tradicional. Já a Figura 60 
reproduz uma das pranchas do final, com 
ilustrações de insetos. Um dos discípulos 
mais notáveis de Vandelli foi o brasileiro 
Vicente Coelho de Seabra Silva Telles 
(1764-1804), referido anteriormente. Ele 
publicou vários livros, dos quais os três 
mais importantes serão aqui mostrados. 
No ano de sua formatura em Coimbra, 
1788, ele deu à luz a primeira parte dos 
Elementos de Química, obra dedicada à 
Sociedade Literária do Rio de Janeiro, 
uma associação científica que havia sido 
fundada na capital do Brasil em 1786 
pelo Vice-Rei D. Luís de Vasconcelos. 
 
 A segunda parte do livro foi publicada dois anos depois, em 1790. O autor 
variou bastante a forma de grafar seu nome, como se pode ver nos frontispícios 
das duas partes do livro, mostrados na Figura 61. Os Elementos de Química são 
o primeiro livro de química escrito por um brasileiro, e o primeiro em língua 
portuguesa a retratar a nova química do final do século XVIII. 
 
Fig. 60. Domingos Vandelli, obra citada, Coimbra, 1788 
 O livro de Seabra Telles reflete bem a química da época, revelando um 
conhecimento extenso da literatura corrente e um pendor para a execução de 
experimentos de laboratório. O texto abrange toda a química e é redigido de forma 
clara e direta, podendo ser seguido sem qualquer dificuldade por um leitor 
moderno. No mesmo ano em que saiu a primeira parte, o autor também publicou 
sua Dissertação sobre o Calor, dedicada a seu colega e amigo José Bonifácio de 
Andrada e Silva, cuja fama científica futura eclipsaria Seabra Telles. Este nunca 
teve seu talento reconhecido e morreria prematuramente antes de completar 40 
anos. 
 
Fig. 61. Vicente Coelho de Seabra Silva Telles, Elementos de Química, Coimbra, 1788-
1790. Frontispícios das Partes I e II, respectivamente 
 Na Dissertação sobre o Calor, que normalmente é encadernada junto com os 
Elementos deQuímica, Seabra Telles faz cálculos interessantes nos quais utiliza 
implicitamente conceitos ainda não formalizados na ciência de sua época, que são 
o Primeiro Princípio da Termodinâmica e a Lei de Hess, ambos explicitados 
apenas em meados do século XIX. A Figura 62 mostra o frontispício da 
Dissertação. 
 
 
O terceiro livro de Vicente Seabra Telles 
aqui presente é a Nomenclatura Química 
Portuguesa, Francesa e Latina, publicado 
em Lisboa em 1801, na Casa Literária do 
Arco do Cego, dirigida pelo famoso 
botânico brasileiro Frei José Mariano da 
Conceição Veloso. Este livro de Seabra 
Telles é uma adaptação para o português 
da nomenclatura lavoisiana de 1787, já 
relatada neste texto. O livro do químico 
brasileiro foi inteiramente calcado 
naquele dos quatro químicos franceses. 
Ele tem uma enorme importância, pois 
legou à língua portuguesa boa parte dos 
termos inorgânicos que usamos até hoje, 
Se dizemos sulfato e sulfito, por exemplo, 
é porque estes termos foram introduzidos 
pelo livro de Seabra Telles. Para o que 
chamamos sulfeto ele escrevia sulfureto, 
forma que mais tarde se modificou para a 
atual. 
Fig. 62. Vicente Coelho de Seabra Silva 
Telles, Dissertação sobre o Calor, 
Coimbra, 1788 
 
 A Figura 63 mostra o frontispício e uma página do livro, com os termos 
químicos em português, francês e latim, bem como, quando existiam, os nomes 
antigos. 
 
Fig. 63. Vicente Coelho de Seabra Silva Telles, Nomenclatura Química, Lisboa, 1801. 
Frontispício e página do livro 
 O sucessor de Vandelli na cátedra, Thomé Rodrigues Sobral (1759-1829), não 
chegou a publicar nenhum livro de sua lavra. Como ele usou o laboratório da 
universidade para fabricar pólvora a ser usada contra os invasores franceses 
durante as guerras napoleônicas, as tropas invasoras atearam fogo a sua casa, 
destruindo-lhe a preciosa biblioteca. Com ela teriam perecido os originais de um 
compêndio de química que ele havia composto e que se perdeu. Por isso seu único 
livro publicado é uma tradução do longo verbete de Guyton de Morveau na 
Encyclopédie Méthodique sobre afinidades, tradução está dada à luz em 1793 com 
o nome de Tratado das Afinidades Químicas. A Figura 64 reproduz seu frontispício. 
 
Com a vinda da Corte e do Governo 
português para o Rio de Janeiro em 
1808, finalmente o ensino da química, 
assim como muitas outras iniciativas, 
foi institucionalizado oficialmente, no 
currículo da nova Academia Real 
Militar, criada pelo Príncipe Regente 
em 1810. Para lecionar a cadeira foi 
trazido um professor britânico, Daniel 
Gardner, que trabalhou no Rio de 
Janeiro até jubilar-se em 1825. Em 
1810 a nova Impressão Régia publicou 
um livrinho despretensioso de sua 
autoria, o Syllabus, ou Compêndio das 
Lições de Química. Este é um livro 
extremamente raro, e consta tão 
somente de títulos e rápidas 
explicações dos tópicos a serem 
abordados no curso. Ele é uma 
espécie de programa comentado da 
disciplina. Fig. 64. Thomé Rodrigues Sobral, Tratado das Afinidades 
Químicas, Coimbra, 1793 
 
 O livro texto preconizado pelas autoridades como compêndio de química 
nas aulas de Gardner é uma tradução por Manoel Joaquim Henriques de Paiva 
da Filosofia Química de Antoine François de Fourcroy (1755-1809). Esta 
tradução, publicada em Lisboa em 1801, foi então o primeiro livro texto de química 
usado num curso regular da disciplina no Brasil. Com este livro concluo este longo 
percurso através de três séculos de química através de seus textos. A figura 65 
mostra o frontispício do livro, que merece ser conhecido pelos químicos brasileiros. 
 
 
 
Figura 65. Manoel Joaquim Henriques de Paiva, Filosofia Química ou Verdades Fundamentais da Química 
Moderna, tradução da obra de Antoine François de Fourcroy, Lisboa, 1801

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