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vozes.com.br Am/do Nodrigues c Ph .D. em Pslcologla pda llrl.t 1111n1 tl1 llvros c mals de 120 artigos publicados t'lll n·1bl.1 ' t•spcdalizadas nacionais e cstrangclras lt•rlonollt'ttt lllliversldadcs particularcs c p(lblicas da cldadt· do Hlo tit • janeiro. E professor do Departamento dt• Pslrologl:t d.1 California State University, Fresno e professor vbil.llllt· 11.1 llnivcrsidade Gama Filho. Seus lrabalhos 1'111 l'~lrologl:1 Sml.tl sc conccntram nas areas de alitudes, podcr soda it· : tlrlhttl~ . lo de causalidade. IJ'veline Maria Leal Assmar e doutora em Pslcologla pl'ia II FlU e mestrc em Psicologia pela Funda~ao Get(l lio Vargas. Graduou-se em Sociologia pel a PUC/~ e em Pslcologla pda UFI~. E professora titular do Program a de P6s-G rad11a~:w t'tll Psicologia da Universidade Gama Filho. E au lora de irHIIIIt'ros artigos publicados em revistas especializadas nacionais t' cstrangciras, concentrando seus trabalhos em Psicologla Soria!, especial mente nas areas de jusli~a distributiva, alribul~ao dt• causalidade e cren~as e valores. Bemardojablonski e doutor em Psicologia pelo lnstituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais da Funda~ao Get(rlio Vargas. E professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio. Au tor de livros, capftulos de livros e artigos em peri6dicos especializados nas areas de Psicologia Social, Familia, Papeis de Genero e aspectos psicossociais ligados ao casamento. ISBN 978-85-326-0555-9 11 1111111111 111 1111111 911 7 8 8 5 3 2 6 0 5 5 5 9 Edl~fio rovlsta .unpllada Aroldo Rodrigues Eveline Maria Leal Assmar Bernardo Jablonski IDI !'ORA V0/,1 ·~ UJ 1- a: <( a.. Vl 0 ,__ +- :::::> 0 Vl C> E 0 1.....1 6 Preconceito, estere6tipos e discrimina~oo Afinal de contas, s6 existe uma ra(a: a humanidade. George Moore Poderfamos incluir no titulo acima as palavras racismo, sexismo ou segregacionis- lilll I odos estes termos referem-se, de uma forma ou de outra, a atitudes ou comporta- 1111 111os negativos direcionados a individuos ou grupos, baseados num julgamento pre- ' 111 que e mantido mesmo diante de fatos que o contradigam. 0 preconceito e tao velho quanto a humanidade, e, por isso, de dificil erradicac,;ao. l'tl l' ira (2002) coletou exemplos que vao da Antiguidade romana- como historiador 1 o1nclio Tacito caracterizando, no livro que escreveu sobre a entao Germania, os che- ,,, .,cos de covardes e estultos; os suevos de sujos e preguic,;osos e os fenos , de salteadores 1 111iscraveis- ate manifestac,;oes na internet, datadas do inicio dos anos noventa, na qual .tkmaes foram retratados por americanos como extremamente pontuais e pouco amisto- .,o.,, fanaticos por cerveja e excessivamente conformados a regras, leis e regulamentos. Estes exemplos, no entanto, nao fornecem a dimensao acurada dos males profun- dos que se escondem por tras do preconceito e de suas consequencias, ora sutis, ora 1 \ tremamente violentas. Assim, assistimos perplexos em meados dos anos 90 a con- vulsao que mostrou a verdadeira face do que pensavamos ser uma unida e pacifica Ju- goslavia, com massacres perpetrados em nome de etnias, posse de territ6rios e poder. \prendemos que, em certo sentido, "Jugoslavia" era uma especie de ficc,;ao nacional, que encobria urn sentimento de 6dio renitente entre servios, croatas, b6snios e monte- negrinos, ou, ainda, entre cat6licos e muc,;ulmanos. Fenomeno muito semelhante ocorreu no Iraque. Uma vez liberados do controle rigido de Saddam Hussein, xiitas , '> unis e curdos se mostraram pouco dispostos a uma conciliac,;ao nacional e as cenas de violencia sectaria assumiram proporc,;oes de uma guerra civil. Na Africa, grupamentos distintos ganham, de tempos em tempos, as manchetes dos jornais por suas cruentas e mutuas agressoes. 0 mesmo pode ser dito sobre os genocfdios ocorridos na Armenia e na Ucrania e os conflitos na Jrlanda do Norte, numa lista aparentemente sem fim. E, no meio do seculo XX, talvez o exemplo mais estarrecedor de todos: o Holocaus- Lo, quando milhoes de judeus foram massacrados na Europa. Como salientou Goldha- gen (1996), "nao ha fato comparavel neste seculo, nem em toda a hist6ria da Europa 135 llllld1111.1" lc\lrllllillill dr pnp1d.1~1H '> j11d,111 ,('> illll'll,l'>, ,1111'> d1 I I t~~ld,ul\ • orgalll i :ldlt r ..,,..,,, lll,llllll'> , op11 . 1~1H''> p11'11H'dlt,llla'> dt· matanc,;a com n'qlllllll' '> dr nul'ldadc : 11111i Ll'> Vl'l' l' '> ;l'> p:davm.., ..,,. 1110'>11 ;II II ddwis para rctratar o horror do que real mente !>igntli 1 ou o llolorau~Lo. Ma.., , como disscmos acima, os efeitos do preconceito podem apresentar nfvci.., d 1 ~ 11nLo~ em tcrmos da agressividade exibida. Assim, em meados dos anos 90, O.j. Silnp ..,on , heroi do futebol americana, astro e figura de grande notoriedade na socicd:u l1 none americana, foi acusado deter assassinado sua esposa e urn acompanhante. Sin1p '> llll 1inha uma considenivel hist6ria de abuso e ameac;:as de violencia contra a espo'>a Akm disso- embora nao houvesse testemunhas do crime- testes sanguineos con ln 111,11'<1111 haver amostras de seu sangue no local do crime, no seu carro, roupas, etc. L I proprio comportamento do acusado, que tentou fugir, parecia prenunciar urn ju lg,, IIH'Illo com final previsivel. Mas quando a defesa levantou a questao da existencia dt· preconccito racial por parte da policia, o caso mudou de rumo e de perspectivas. Pr.., quisas rcalizadas durante este julgamento, que mobilizou profundamente a opini:i11 publica americana, apontaram para uma notavel distinc;:ao: enquanto a maioria esma gadora dos brancos acreditava na culpa de Simpson, o inverso foi observado entre a populac;:ao negra. Nem pareciam estar falando do mesmo julgamento! Pode-se especu lar que a comunidade negra americana simplesmente "viu" no julgamento a possibi ll dade de se vingar de sistematicas perseguic;:oes policiais. 0 fato e que O.j. Simpson l01 absolvido no foro criminal, mas a falta de harmonia na percepc;:ao de brancos e negro.., parcce refletir com clareza uma inequivoca tensao nas relac;:oes humanas inter-racia i.., naquele pais. Confira-se, por exemplo, urn estudo realizado por Skolnick e Shaw ( 1997) que, utilizando urn sistema de juri simulado, levou os auto res a concluir que t' provavel que "rac;:a", mais do que o fa to de ser famoso, haja influenciado o veredicto no caso Simpson (p. 503). No Brasil, a escravidao teve consequencias 6bvias na convivencia entre brancos t' ncgros. Por urn lado, a maioria dos brancos aqui aportou por escolha propria; por ou - Lro , os negros vieram escravizados, trazidos a forc;:a da Africa. Mesmo ap6s a Lei Aurea, em 1888, nao se criaram mecanismos efetivos para uma emancipac;:ao dos ex-escravos c seus descendentes que permitisse a igualdade em termos de acesso a hens, educac;:ao, oportunidades, etc. No entanto, a miscigenac;:ao etnica aqui ocorrida certamente con- correu para distinc;:oes significativas, principalmente quando comparadas aos paises de colonizac;:ao protestante, onde o preconceito racial seria ainda mais acirrado. Segundo Buarque de Holanda (1995), "a simpatia transigente, comunicativa e mais universalis- ta- ou menos exclusivista- infundida pela Igreja Cat6lica" trouxe urn matiz diferente no que diz respeito as relac;:oes entre as diversas etnias que constituiram o Brasil. Nem par is to deixou de subsistir entre n6s, ainda que em doses comparativamente menores, "preconceitos contra a cor de parte de uns; contra a origem escrava, de parte de ou- tros" (FREYRE, 1984) . . 136 Ja \t' lll.llk , qn.dqmr g1 IIJHl "'"'·" · ~~ n:t11 .lptn,,.., ,1., nnntlll.l'> ptHk '>1'1 .dvo dl' rl ttllt .l:ilo i\lt-111 dl'>'>ll , l''>I<IIIHh dl,lllll' til' 11111<1 Vta de lll<iO dupla , COil\ selllilllCillOS IH I~ II ~ llt1i1Hio l.lmlwm da-, minoria'> para maiorias . llhltlllt:IIIH'Ilte , entretanto , a ideia de sc encarar o preconceito como urn cons- 11\i.lltttll' lltllico emergiuapcnas ao Iongo dos anos 20, relacionado principalmente a qiH''l iJil 1.11 wl. Ate en tao, c basicamente durante o seculo XIX, como aponta Duckitt 1 IIJ•.tJ,), qlta'>e toda a comunidade cienlifica americana e europeia nao se preocupava 1 ' ' '" ,1 !Jill' '> lao porque partia da premissa de que realmente havia diferenc;:as entre as ra- ''' 'I'~~' .., ,. , iam umas inferiores a outras. Logo, falar de preconceito racial nao tinha ne- 1\lillltl .., ,gnificado especial. As teorias da epoca preocupavam-se em explicar, por C1npl11 , a suposta inferioridade dos negros, atribuindo-a a urn atraso evolutivo, ali- tnll 1\ "''" na capacidade intelectual e a urn excessive impeto sexual, entre outras "cau- tLI .., .., upostas diferenc;:as". Foi dos anos 30 para ca que se fizeram sentir mudanc;:as ll1i. vi..,, to do preconceito, passando este a ser encarado como irracional ou injustificado, li [II II de dcfesas inconscientes, expressao de necessidades patol6gicas, influenciado I''" 11111 mas sociais, manifestac;:ao de interesses grupais ou como inevitavel consequen- i 1 1 dn proccsso de categorizac;:ao social, que divide as pessoas em grupos: os seus pr6- i" 111 .., vnws os dos outros, como consequente despertar de respostas discriminat6rias 11!1111.1 o grupo que nao o seu. hla Outuac;:ao na imagem do tema em questao tambem se deu na psicologia, quan- th• d.t polcmica levantada em 1994 em func;:ao da publicac;:ao do livro The Bell Curve, de I i.'11nstcin e Murray, que sugeria que as diferenc;:as encontradas entre os desempenhos i.•. 11dt' micos de negros e de brancos nos EUA poderiam se clever a uma base genetica. 0 'I"' Vl' lll a acrescentar claramente a necessidade de se concentrar esforc;:os na busca de 11111 ula\;aO para os processos psicol6gicos subjacentes a chamada natureza do precon- ., 1111 , bern como as possiveis soluc;:oes para diminui-lo. tcreotipos: a base cognitiva do preconceito Niio ha qualquer prova de que seja vantagem pertencer a uma ra(a pura. Algumas das ra(as mais puras atualmente em existencia sao os pigmeus, os hotentotes e os aborigenes australianos. Os gregos antigos eram os mais misturados e eram tambem os mais civilizados. Bertrand Russel Na base do preconceito estao as crenc;:as sabre caracteristicas pessoais que atribui- 1110'> a pessoas ou grupos, chamadas de estere6tipos. 0 termo foi utilizado- ainda que dt· forma nao muito precisa - pelo jornalista e pensador americana Walter Lippman ( 1922), para se referir a imputac;:ao de certas caracteristicas a pessoas pertencentes a 137 dt ' ll'ltllill;~dn., gtupn., , .\n., q\1,\1., .,1' olll iiHll'lll dt'll' llll tt l:ldo., ,t..,pn lll'ollplln'o, l:llllHl lo)'. l camtnlt , detiva de dua:-. palavra-, gn:gas: :.lcn·o\ e lupo~. !'ligndH.utdo "rtgido" e .. ,, ,, ~o " , rcspcctivamcntc. Para Lcycns ct al. ( 1994), o tcrmo foi cunhado por vo lt.t d{ 1798, em referenda a um processo de molclagem . Antes dos psic6 logos sociais, os P'i quiatras ja usavam a palavra "estereotipia" para descrever a frequente e quase mcc:1 111 ca repetic;:ao de um mesmo gesto, postura ou modo de falar, comuns em certos tipo., de disturbios mentais graves. Embora, hoje em dia, haja tantas definic;:oes de estere6tipos quanto estudioso!-1 dn tema (MILLER, 1982), todas elas compartilham alguns trac;:os centrais, como a rd t rencia a crenc;:as compartilhadas acerca de atributos- geralmente trac;:os de perso n:dt dade- ou comportamentos costumeiros de certas pessoas ou grupos de pessoas. Mat especificamente, podemos dizer que seja atraves de uma representac;:ao mental de um grupo social e de seus membros, ou de urn esquema- uma estrutura cognitiva que· representa o conhecimento de uma pessoa acerca de outra pessoa, objeto ou situa c;:ao- tendemos a enfatizar o que hade similar entre pessoas, nao necessariame ntc• similares, e a agir de acordo com esta percepc;:ao. Os psic6logos sociais contemporaneos identificam o estere6tipo como a base CO).: nitiva do preconceito. Como veremos adiante, os sentimentos negativos em relac;:ao .t urn grupo constituiriam o componente afetivo, e a discriminac;:ao, o componente co nt portamental. E verdade que, para alguns te6ricos, esta divisao nao se faria necessa ria , com o termo preconceito significando mais uma atitude intergrupal que engloba n;t naturalmente estes tres componentes. Mas a maioria dos estudiosos- entre os qua" nos incluimos- prefere analisar a questao em separado, examinando distintamente o' estere6tipos, o preconceito e a discriminac;:ao. 0 estere6tipo, em si, e frequentemente apenas urn meio de simplificar e "agiliza r" nossa visao do mundo . Como vivemos sobrecarregados de informac;:oes, tendemos a nos poupar muito compreensivelmente de gastos desnecessarios de tempo e energia No capitulo 3 vimos o conceito de "avaros cognitivos", propos to por Fiske e Taylor (1991), pelo qual utilizamos atalhos ou heuristicas para evitar dispendios desnecessa rios de tempo e de energia para o entendimento do complexo mundo social que nos ro deia. Neste sentido, podemos dizer que estereotipar pertence a mesma familia concei tual ali proposta. Seria, neste sentido, urn comportamento funcional, apesar de estar- mos condenando o outro a uma especie de simplista - e muitas vezes equivocado - "cterno desfile em trajes tipicos". Se pedirmos ao leitor que pense agora num italiano, uma imagem lhe vira a mente. Se solicitarmos mais detalhes, surgira uma serie de par- I icularidades: urn homem alto, moreno, que come massas, fala alto, gesticula muito, gosta da mae, e fanatica por futebol, impulsivo e, talvez, bonito. Falso ou verdadeiro? N.t vcrdade, falso e verdadeiro. Possivelmente, se nao todas, varias destas caracteristi- 138 1""1' 111 sc1 t' ltntnlntda.., t' llt alg111ll nnll;IIHt Mn.., um nwrador do No1l1' ou do Sui da 11\!lt pt~t v .lvl'lltH'Illl' n<lo del era stqucr um tcn,;o das caractcnsticas acima lcvantadas. I llll .tgiiH' qut ne!'ltc exato momcnto Lll11 professor de psicologia social em Milao, it ~~~ . 1nu outrametr<'>polc italiana, esteja dando uma aula sobre este mesmo assun- iiii\'IHamlo scus alunos a descreverem uma brasileira "tipica". Podemos imaginar tnl•t " tllll'Sia "brasilei ra" cogitada por italianos: mulata- ou morena-, sensual, com it ' " dt 1 i1mo , bonita, li.berada, alem de impulsiva, expansiva e carnavalesca ... Ima- 111 ']lit' '> l'ria fruto da infiuencia dos meios de comunicac;:ao de massa, de filmes, ro- lti.ltl i' t ., ou ate dos relatos de viajantes mais entusiasmados que aqui possam ter estado. '" '' nllte em volta , na sua sala de aula. Quantas "brasileiras assim tipicas" voce con- 11111 dclcctar? I.J .,;uldo um procedimento experimental semelhante ao utilizado por Katz e Braley ( I '1\ I ). Ferreira e Rodrigues (1968) realizaram urn estudo acerca de estere6tipos no t ttttl]llt '> universitario da PUC-Rio, visando detectar como os estudantes de psicologia l' i Jill VI'> LOS por seus colegas. Uma lista de aproximadamente 90 adjetivos foi apresen- i,u.l:l ,, uma amostra de estudantes, sendo-lhes solicitado em seguida que dissessem 1111 11 ., dclcs mais se aplicariam aqueles que estudavam psicologia. Os autores espera- tlitl , na cpoca, encontrar urn estere6tipo negativo em relac;:ao aos alunos de psicologia, ltllllo pclo fato da ainda pouca receptividade de uma ciencia relativamente nova- sem illtll.t accitac;:ao e, no entanto, ja algo deturpada em suas caracteristicas, metodos e fi- !t_dldades - quanta pela recente reforma ali ocorrida, quando as diversas faculdades, lit 1 111ao dispersas, passaram a se concentrar em urn unico local, proporcionando uma 'tlll '11ante interac;:ao, ate entao inexistente, entre os alunos de cursos distintos. Com os resultados fornecidos pelos 60 participantes da amostra foi construida t.llll,ttabela de frequencia com os cinco adjetivos que, segundo a opiniao de cada sujei- t•t , ntclhor caracterizariam os alunos do curso de psicologia.Tal tabela acha-se repro- tlll •ida abaixo, dela constando os 13 adjetivos mais frequentemente apontados. Tabela 6.1 Adjetivos mais apontados para os alunos de psicologia Problematicos (18) Dedicados (1 0) Pesquisadores (18) Angustiados (9) ldealistas (18) lnteligentes (8) Observadores (17) Te6ricos (7) Humanos (16) lsolados (7) lnteressados (14) Compenetrados (7) Bem- intencionados (14) 139 Coii11.111.111H'Illl' .w l'"JH'I,tdo pl'lo~ <lUIOil'.,, o., , . .,lud.11llt" d11 t "'"o <k Jl'>lrolo}',l {oram catcgorizados pclos dcmais alunos da Univcr~1dadc """Pll'"llH'IlLC com alg1111 poucos adjetivos, a maio ria de conota<;ao positiva- em bora uma avaliar;ao do que .,rill positivo ou negativo possa ser muito influenciada por fatores subjetivos. De qualqllt'r forma, existe urn estere6tipo acerca do estudante de psicologia que o faz ser visto conu1 dotado de certas caracterfsticas bern marcantes. Acreditamos que seria interessanLt' , ,. alizar novos estudos, com metodologia similar, para saber a quantas anda nossa int .t gem diante da comunidade. Sera que ela mudou? Para melhor ou para pior? Se os psic6logos sao ou nao assim, e em que propon;:oes, s6 outras pesquisas, uti I zando-se testes de personalidade, entrevistas ou outros instrumentos, poderiam con firmar. Mas a falta destas informar;;oes nao impede, como vimos, que tenhamos urn r., tere6tipo. Na mfdia, nas ser;;oes ou nos quadros de humor, e comum vermos os psi1.1 nalistas - gordinhos e de barbicha - sendo sempre retratados com urn bloquinho dt• anotar;;oes na mao, atras de urn paciente deitado num diva. Algum dos leitores em tc r,t pia ja esteve em urn psicanalista que a note as sessoes em urn bloquinho? De modo geral os psic6logos sociais tradicionalmente usaram este sistema de li!->1a de adjetivos para detectar estere6tipos. No estudo original de Katz e Braley, por excm plo, alunos da Universidade de Princeton foram solicitados a escolher 5 dentre 84 ad jetivos que melhor descreveriam diferentes grupos sociais ou etnicos. Assim, na pc., quisa realizada por eles em 1933, 75% dos estudantes brancos selecionaram como m. adjetivos que melhor retratariam os negros, as palavras: preguir;osos, supersticiosos, igno rantes, musicais e imprevidentes. Quando se referiam a si mesmos, a descrir;;ao era oUlra: trabalhadores, inteligentes, materialistas, empreendedores e progressistas. Este metodo permite avaliar o conteudo de estere6tipos sociais, alem do grau de consenso em torno dele. E tam bern- como vimos neste caso- do preconceito igualmente envolvido. Para uma especie de final feliz de paragrafo, podemos citar que estudos posteriores (KAR- LINS, COFFMAN&: WALTERS, 1969; DOVIDIO&: GAERTNER, 1986), evidencia- ram uma mudanr;;a significativa no padrao de respostas em direr;;ao a uma avaliar;;ao bern mais positiva. 0 final s6 nao e inteiramente feliz porque, em outro estudo, Dovi- dio, Mann e Gaertner (1989) ainda encontraram urn favorecimento sistematico de brancos com relar;;ao a outros brancos, atribuindo-lhes comparativamente mais tra<;os positivos. Nas palavras destes autores, "os negros nao seriam piores, mas os brancos ainda seriam melhores" (DOVIDIO et al. 1989: 88). Camino et al. (2001), ao conside- rar estas e outras pesquisas, afirmam que hoje em dia o preconceito- no que diz res- peito aos estere6tipos- estaria sendo expresso nao mais pela atribuir;;ao de trar;;os nega- tivos, e, sim, pela negar;;ao de atributos positivos a urn grupo-alvo. De algum tempo para ca, no entanto, outros metodos vern sendo desenvolvidos, como intuito de aprimorar a aferir;;ao de estere6tipos. Assim, alguns autores solicitam 140 p.ulh IJI.IIIH'" que pcn.,t•m em 1l'llllOS de j>OitTiltagcns do grupo alvo, em vcz de ii•1 d1d.1tk ("quantos por ccnto de inc.livtc.luos do grupo X poderiam ser descritos 11, ' '' ) Out ros procuram comparar caracteristicas do grupo estudado, estiman- ' 111111,, a popular;;ao em geral" (se os adjetivos se aplicarem a ambas popular;;oes, 11'"'1'" 11:\o s<lo discriminadores). Outros trabalhos ainda tern procurado saber o j1hilllll u 110 1 rar;o pode servir para urn determinado grupo alvo, utilizando para tanto l,t•i do tipo Likert (BRIGHAM, 1971; McCAULEY&: STITT, 1978; TRIANDIS et I' )II.') . Outros ainda usam atribuir;;ao de causalidade (DEAUX &: EMSWEIL WER, , ., IPIIIO rorma de detectar preconceito. Verificaram, por exemplo, que o sucesso l1 ' 11111 IHimcm branco e geralmente atribuido a sua capacidade, enquanto que o suces- n dt 11111 homem negro e geralmente atribuido a seu esforr;;o. I ;-; 1t' ll'OLipos, pois, podem ser corretos ou incorretos. E tambem positivos, neutros li IICg.IIIYOS. 0 fato de, num primeiro momenta, facilitarem suas rear;;oes frente ao tii1111d11 , l''>tonde a realidade de que, na maioria das vezes, estereotipar pode levar age- l" ' di .II,' ()CS incorretas e indevidas, principalmente quando voce nao consegue "ver" 11 111tl1v1duo com suas idiossincrasias e trar;;os pessoais, por tras do veu aglutinador lt•l olnl't'>lipo. t.nrdon Allport, em sua influente obra The Nature of Prejudice (1954), referia-se 1\l,tlll de estereotipar como fruto da "lei do menor esforr;;o". Referendando o que foi 1!11•• .11 1m a, ja que o mundo e muito complicado- e cada vez rna is- para que tenhamos 11111111t·'> diferenciadas sobre tudo e todos, optamos em economizar energia e tempo 1 ug1111 ivos", desenvolvendo opinioes, atitudes ou crenr;;as baseadas em conhecimen- J;; profundos ou artificiais, tanto faz- que nos satisfar;;am na tentativa de entender o i111111do que nos cerca. Dada nossa limitada capacidade de processamento de informa- '""· "procuramos ado tar estrategias que simplifiquem problemas complexos" (FISKE I AYLOR, 1991). Fazemos isto, ora negligenciando algumas informar;;oes para redu- '' "t•xcesso de oferta cognitiva, ora usando em excesso outras informar;;oes, "para nao I• 1 q11c procurar ainda outras" (ARONSON, 2004). Sem contar a possibilidade de acei- ! 11 .dtcrnativas nao tao boas, embora suficientemente boas ... Sao nossos limitados re- t 111•,os cognitivos, diante de urn mundo cada vez mais complexo, que nos fazem optar I"·" estes atalhos, que seas vezes nos poupam, cortando significativamente o caminho, t'!ll outras, nos conduzem aos indesejaveis becos do preconceito e da discriminar;;ao. Devine (1989), em engenhosos estudos, cunhou uma distinr;;ao entre o que chamou d1 .ltivar;;ao automatica e ativar;;ao controlada de estere6tipos. No primeiro caso, nao te- '""" controle: crenr;;as muito disseminadas culturalmente nos sobreveem a mente assim '1111' nos deparamos com certas pessoas em dadas circunstancias. Mas, ap6s a ativar;;ao .11110matica, uma pessoa pode conscientemente checar e refletir sobre o que acabou de prll<;ar sobre aquele membro de urn grupo que nao o seu e, consequentemente, reavaliar 141 MW ptlllH'It,t IIIIJlll'""·'o till .tv;dt:u,.lo. lo.,too.,t' l ia o qut• lkviiH· t lt.\111011 dr .tttv.u;:lo Ulltlllt lada, c que poria tun lreio no processo de dbcriminac::ao, impcdi11do ode prossegul1 .ull ante. Bargh et al. (1995) , Banaji c llardin (1996) c Monteith (1993) S<'IO outros autttll que, referendando a distinc;;ao acima proposta, vern pesquisando formulas de cnl raq tt • cer- ou de contrabalanc;;ar- as ac;;oes fruto da ativac;;ao automatica. Rotula~ao R6tulos sao como sirenes tonitruantes que nos tomam surdos dltlllh de quaisquer distint;i'ies mais Jinas, que de outra mane ira poderiamos vir a perceber. G. Allport 0 a to de rotular as pessoas e urn outro processo bastante similar. Poderiamos 111r mo dizer que a rotulac;;ao seria urn caso especial dentro do a to de estereotipar. Em 11 11 sas relac;;oes interpessoais, facilitamos nosso relacionamento com os outros se atrib 111 1 mos a eles determinados r6tulos capazes de fazer com que certos comportamc nt u possam ser antecipados. Assim, por exemplo, quando urn gerente rotula urn emprcg.1 do de"preguic;;oso", ele "preve" determinados comportamentos que este empreg:u lu devera exibir frente a certas tarefas. A atribuic;;ao de urn r6tulo a uma pessoa nos predispoe a pressupor comportamcnl 1t compativeis com o r6tulo imputado; nossas percepc;;oes sao distorcidas e isto pode acu retar uma ou duas consequencias importantes: (a) por urn lado, em virtude de nos-.; t tendencias a consistencia cognitiva (veja capitulo 4) , faz com que comportamentos que· nao se harmonizem como r6tulo imposto tendam a passar desapercebidos ou sejam dt· turpados para se adequarem ao r6tulo; (b) por outro lado, as expectativas ditadas pd o r6tulo podem nos fazer agir nao-consciente e consistentemente, de modo a induzir o ro tulado a se comportar da maneira que esperamos, tal como e preconizado pelo feno nw no da profecia autorrealizadora mencionado anteriormente no capitulo 3. Consideremos o famoso experimento levado a cabo por Rosenhan (1973) no in f cio dos a nos 70 e citado igualmente no capitulo 3. Este estudo, ja considerado urn cl<\., sico, mostrou claramente a impressionante influencia da rotulac;;ao nas percepc;;oes do comportamento da pessoa rotulada. Uma vez atribuido, n6s tendemos a perceber oo; comportamentos da pessoa a luz do r6tulo. Tal tendencia, embora com urn, e perigosa e pode levar a injustic;;as e erros de julga men to graves. Numa sala de aula, para citar urn de muitos exemplos, onde a complex t dade das relac;;oes interpessoais induzem o professor a simplifica-las atraves da atribut c;;ao de r6tulos aos alunos, o perigo se evidencia de forma especial, podendo prejudicar sensivelmente alg~ns estudantes. 142 l ltll IHIItt t:.Xt' tllplo para o l'llll'tHiitllt'lllo dos t'!'>ll'rt.'otipos esta na narrac,;ao que se II •11111 111' 11 \t'gllintc hist6ria: ela contem um erro basico. Voce seria capaz de detecta-lo? Desastre Um pai c scu [ilho trafegavam por uma movimentada estrada. Estavam pr6xi- mos de seu destino quando o pai perdeu a dire<;ao do carro, saiu da estrada e bateu num poste. 0 pai morreu instantaneamente e o filho ficou bastante fe- riclo. Uma ambulancia levou o menino para o hospital mais proximo. Convo- ca ram a equipe medica para uma cirurgia de emergencia , mas quando a pes- soa que ia operar entrou na sala de cirurgia e viu o garoto, nao se conteve e gritou: "Eu nao posso openi-lo! Ele e meu filho!" 1 1tlllll isto e possivel, se o pai morreu no desastre? Aparentemente, nao se trata de r ttlgma c sim de urn erro crasso do redator! ~~., vcrdade, se ha algum erro, ele esta na educac;;ao que recebemos e que (a) nos I! ill" It .t vcr homens e mulheres cumprindo papeis sociais rigidos e distintos (b) enos iqwdt , por exemplo, de ver mulheres fugindo aos tradicionais papeis que lhes sao lllilit .tllltl'nte impostos. '11 tlludarmos o final da hist6ria acima, talvez fique mais clara nossa discriminac;;ao tltllll'ndimento do falso enigma): [ ... ] e viu o garoto, nao se conteve e explodiu em lagrimas. E entre solu<;os, histericamente, disse: "Eu nao posso opera-lo, ele e meu filho! " l'.ua Daryl e Sandra Bern (1970), falsos enigmas como o citado acima revelam o til•- !'It-o., chamaram de ideologia inconsciente, conjunto de crenc;;as que aceitamos im- 1 d t• ll.tt' nao conscientemente, porque nao conseguimos sequer perceber a possibilidade h , lllll'l'pc;;oes alternativas. Urn exemplo disto pode ser visto nas relac;;oes de genero 11111 110s. No meio cultural em que vivemos, apesar de todo movimento em direc;;ao a lt·H.ddade resultante das pressoes exercidas pelo movimento de emancipac;;ao femini- ' 1 ,11 11da divisamos certos papeis e func;;oes, como uma exclusividade de urn dos sexos. I 111 111:1rido "dono de casa", uma neurocirurgia, urn piloto de avioes do sexo feminino, tittl .t rbitro de futebol do sexo feminino (o dicionario sequer registra a palavra "arbi- i' 1 , t•mbora nos campeonatos brasileiros de futebolja haja algumas "juizas" em ativi- d 1d1 .. ), uma locutora de partidas de futebol ou urn homem trabalhando como domes- lit .1 tlll secretaria ainda nos causam pasmo ou riso, se percebidos- dai a condic;;ao de ; 111 )\ tll a do texto "Desastre" reportado acima e a explicac;;ao do significado do termo 1t l• ologia inconsciente. 143 Estcrc6tlpo gcnoro Quw1t/0 IIIII hOIII('III (()IIICIC LIIIICI Cl\11('1111 , (/1 Till " ( 01110 c/c (' l<ffplfl I Quando Lilli a nwlhc1 a comctc, di zcm: "Co1110 "' mul11c1 c\ \<lo idiotas! " Anonimo Ha uma serie de experimentos ja classicos que sao levados a cabo periodicamc 1t11 e que continuam ilustrando o fen6meno em questao. Em urn deles, Goldberg ( I t)(,H) solicitou a alunas universitarias que avaliassem artigos academicos em termos de co 11 1 petencia, estilo, profundidade, etc. Para algumas participantes o artigo era assi nadu poruma mulher Qoan T. McKay), enquanto que, para outras, por urn homem Qoh 11 I McKay). Apesar de o artigo ser o mesmo para os dois grupos, aquele assinado por Ull hl mulher era invariavelmente menos elogiado que o supostamente escrito porum hu mem. Outro experimento bastante citado na literatura fala de uma fita de video de 111 11 hebe de fraldas que aparece chorando. Quando solicitados a atribuir possiveis cauo.,, , para aquele choro, as respostas dos participantes variavam apenas em fun<;;ao do S\'\11 do hebe: se era menino ou menina. No primeiro caso apareciam mais respostas de •at va, no segundo, eram significativas as respostas de medo. Cite-se que as pr6prias mulheres endossaram significativamente este tipo de '"~"" posta, isto e, quando 0 estere6tipo e suficientemente forte, ate OS membros do grttpll alvo tendem a aceita-lo. Para atestar a dominancia deste fenomeno, vale citar os estudos de Patricia An''l (1998), da Universidade de Havana, que relata atraves de sua experiencia com "Grupo" de Reflexao para Homens", como o estere6tipo ligando os homens as fun<;;6es de "heroi ' e as mulheres as de "maes" esta profundamente entranhado na cultura cubana, apesar dos esfor<;;os em contrario envidados desde a revolu<;;ao cubana de 1959. A norma gent• rica dominante ainda exige dos homens que sejam machistas, narcisistas, onipotentc.,, impenetraveis e ousados. Qualquer desvio em rela<;;ao a esta norma pode significar fra casso, debilidade ou sinal de homossexualidade (grifo nosso). Ares lembra o papel exerd do pelas pr6prias mulheres neste processo, ja que atuam muitas vezes de modo ambiva lente: como maes, acabam refor<;;ando em seus filhos o que criticam nos homens. Outro famoso experimento, conduzido por Clarke Clark (1947) nos Estados Uni dos, mostrou que crian<;;as negras ja aos tres anos exibiam preferencia por bonecas de cor branca. Neste experimento, especificamente, pedia-se as crian<;;as que indicassem, por exemplo, qual a boneca mais bonita, a branca ou a preta. A maioria das crian <;;as optou pela branca, endossando de alguma forma a superioridade desta sobre a outra. Desta maioria, cerca de 70% eram crian<;;as negras. Quando o oposto era solicitado qual a boneca feia ou rna- quase 80% das crian<;;as negras apontavam para a boneca de cor preta. 144 \ dinlillllll,;\11 d.1 autm'..,lllll:l, n111111 ..,,. vi' pt·lo l' \l'lllplo atillla , podc ronH'<;ar dn 1 tllllll ht' lll alt••tam Alllll'>Oil t't al. (.W07) , uma pcssoa com a autocstima abala- 1·! jlt•dt .,, 'onvt•nn·r de que nao mcrcce uma cduca~ao de bom nfvel, trabalhos de- lil t'' n11l1.1dias idem , alcm de um perverso e difuso sentimento de inferioridade, 1 .ll.o111panhaclo por scntimentos de culpa, pode leva-la a uma situac;;ao de desam- I'·Hn 1' •.tllttlllt'nto . \ lu 111 da vcrdacle, e em prol de urn certo otimismo, algumas mudanc;;as tern sido l! c;,,, ,ul.l.., , ao menos cxperimentalmente. Porter e Washington (1979) detectaram litlio lt11 ~. 1 ., em crianc;;as negras, no sentido de elas estarem en tao mais satisfeitas com l••"'l '·''" llt'gras do que trinta anos antes. Swim et al. (1989) nao mais encontraramdi- h il''"•''" '> lgnificativas na avaliac;;ao de trabalhos produzidos por homens ou por mu- lhu ('~ l'.1ra estes autores, o proprio experimento originallevado a cabo por Goldberg li·litll~ '' · ' obtido resultados tao contundentes como mais tarde os livros academicos se t 11111 g<niam de divulgar (os resultados verdadeiramente significativos teriam sido IU \'! 1 d.tdc bern poucos, o que, no en tanto, nao invalidaria as conclusoes como urn Hlnl I· ~tccle (1988) chegou a conclusao de que a autoestima entre mulheres e ho- " , I·' nao e tao dispar. ~.I,,., dcvemos olhar estes progresses com cautela. 0 preconceito pode terse toma- h· qu 11as mais sutil, menos explicito. Experimentalmente, Hutz (1988) procurou , !I IlLII o.,e a tendencia, observada em crianc;;as americanas, de depreciar pessoas ou ani- 1!11'' , nl'gros, seria encontrada em crianc;;as brancas e negras de diferentes niveis socioe- l!nolllllt"OS brasileiras (Rio Grande do Sul) . Os resultados, extraidos de testes aplica- l!! ~ 1111 crianc;;as de 4,2 a 5,8 anos, mostraram que virtualmente todas as crianc;;as, ne- i t!:i "" brancas, sistematicamente atribuem caracterfsticas positivas a animais brancos ''t'g. lttvas a animais pretos. Nao houve nenhuma diferenc;;a significativa entre os par- IIi 1p.u11cs em termos de rac;;a, sexo ou nivel socioeconomico (embora crianc;;as brancas 111111.1111 se mostrado mais uniformemente preconceituosas). Para o autor, tais dados luo.lh ,un que desde cedo crianc;;as de qualquer cor ja tern ideias estereotipadas sobre IJH 1, c, o que e ainda mais serio: que crianc;;as negras ja introjetaram tais ideias, com rl• 1111., clanosos no que diz respeito a auto-estima e auto-imagem. \km disso, ha os exemplos extraidos da vida real: uma pesquisa levada a cabo pelo llh_,l · em 1998 (Pesquisa de Padrao de Vida) em seis grandes cidades do Brasil compa- li•ll , entre outros dados, o salario medio percebido por homens e mulheres, brancos e tu 1\' os. 0 resultado: homens brancos recebiam em media, por mes, o maior salario; em i Hllllclo lugar vinham as mulheres brancas; em terceiro, os homens negros e, por fim, as lilltlhnes negras. Conquanto nao se possa reduzir os ganhos pecuniarios a comprovac;;ao d.tt x•stencia de preconceito, os numeros exibidos acima indicam claramente uma desi- l'.lt.tldade racial e tambem de genero entre n6s, tanto quanto esta medida possa servir de 145 111<ltt .uhH,l do ltiii)IIHIIIItlll ljlll''•t.lo I),\ 1111' .., 111.1 1111111,1 , ..,rgtuuln t ..,ludo lt';lil .td11 1 htndo dl' lk..,t'llvolvtiiH'Illo da .... Nat..tH'..,lJIHda.., pat.\ a Mulill'l , t'lll llNl, o .... lloltH 11 nhavam 50% a maio, que"" IIHdhl'l'l''i, dilercnc,;a eo,la que lelia culdo para 301}o dl':· .11 depois, em 2002 (rcportado no jvuwl do T3ra~il, edic,;ao de 03/03/2002, p. 1\ I<.)) . /\ p1 da significativa melhora, haveria ainda um longo pcrcurso a scr pcrcorrido no Clt ll ll da igualdade .. . Por outro lado, como citamos na introduc,;ao do prcsente capt tul11. conflitos em meados dos anos 90 na antiga Iugoslavia e as perseguic,;ocs a cstrangrll em alguns paises da Europa Ocidental- sem contar o Holocausto no meio do sccu l,, - servem de alertas adicionais para frear nosso otimismo quanta a mudanc,;as muilo nificativas na diminuic,;ao do preconceito e da discriminac,;ao a curto prazo. Para alguns autores (DOVIDIO & GAERTNER, 1986; McCONAHAY, 19Hh l que ha em termos de evoluc,;ao limita-se ao que chamam de racismo moderno (o u 1 cismo sutil, ou, ainda, racismo envergonhado): as pessoas, pressionadas por n0 111 sociais mais liberais e que pregam maior tolerancia para com as diferenc,;as, podt·tn abrandar seu comportamento discriminat6rio, mas, internamente, manU~m seus pu conceitos. 0 resultado e uma aparente mudanc,;a na direc,;ao de uma sociedade mnut discriminat6ria. Estes autores lembram, no entanto, que num clima diferente, onde l''- ltl mesmas pessoas se sintam mais seguras para externar seus sentimentos, o preconcci lo a discriminac;:ao voltarao a seus niveis anteriores. Ou ainda, que estes "racistas nao a'>'-tl midos" possam se valer de explicac,;oes alternativas- mas que convirjam para o mes11111 fim- para discriminac,;oes raciais ou de genero, camuflando suas verdadeiras origc 11 ("Nao o empreguei, nao por ser negro/mulher, mas sim por nao ter o nivel educacio11al necessaria, trac;:os de personalidade x ou y adequados, etc. "). Nesta mesma linha de rano cinio, Camino et al. (2001) advogam a posic,;ao de que no Brasil, por estarem proibido'l quaisquer atos explicitos de discriminac,;ao social, as pessoas preconceituosas estarialll simplesmente inibindo suas atitudes e e/ou comportamentos ao tempo em que consc t vam intimamente suas convicc,;oes racistas. Neste estudo os autores chegaram a mesma conclusao de Rodrigues et al. em pesquisas realizadas em 1984, que citamos adiante, St' gundo as quais os entrevistados reconhecem a existencia do preconceito no Brasil, rna .. nao se dizem - eles mesmos - preconceituosos de forma alguma. Por outro lado, a percepc;:ao de que o clima social mudou, tornando-se menos fa voravel a manifestac;:oes racistas ou sexistas, nao deixa de significar urn avanc,;o, em ter mos de normas sociais percebidas e de seus reflexos no comportamento individual. Estereotipos e atribuiejilo Uma forma sutil de preconceito pode apresentar-se tambem via atribuic,;iio de cau- salidade (cf. cap. 3). Quando observamos uma pessoa realizando uma ac;:ao, tendemos 146 1•1 ! !' tkdw, '~~' " .H t' l r;t dn~ 11101 tvo., q111 P"""'"" II' I t ,ut ..... tdo .tqul'le t OIII!Hlllit111l'lllll . 1: 111 !l "!I' 1 1111 llt 'qttt'lllt' llll'lllt' t Olll<1111111:t 11o..,..,a., perccpc,;Ocs, como ilustra o cxcmplo lt) lii 11 dt 1\ ntii..,OII (I') 7'3 ): doi-; honH'Il'- vccm um padre sair de um prostibulo. Urn ptt~lt '" L\1111', comcnta maliciosamente a hipocrisia de um representante da lgreja li n t; 1111\lll'll , t atolico, responde com orgulho, argumentando que quando urn mem- IHt lg1 t' ia l''>ta a morte, mesmo que seja num prostibulo, ele e merecedor do Sa- 1( 1 ,\ltH' I\10. 1\ "moral" da anedota esta no fa to de- diante de situac,;oes ambiguas IH"J'i''·'" lazerem atribuic,;oes consistentes com suas crenc;:as ou preconceitos. ;, ,-ot ·.o da questao de genera que vinhamos abordando, o processo de estereoti- 11• 1 lu 111 aparcnte quando o pensamos em termos de atribuic,;iio de causalidade. Iii ,j,,l . .., ludo ja citado sobre uma possivel superioridade dos homens sobre as mu- fti (lnhn vcrsus]oan McKay), e do falso enigma do "pai morto eo estere6tipo so- iV•' IIIt ", outros psic6logos sociais (FELDMAN-SUMMERS & KIESLER, 1974; Ill ;\I ''' ,"-J· FMSWEILER, 1974; EAGLY & STEFFEN, 1984; BARON, BURGESS & \! ·, ll)l) I) tcm demonstrado que diante de uma situac;:ao em que, por exemplo, so- '''" ll"' '"t'ntados a urn bem-sucedido medico ou a sua contrapartida do sexo femini- ltiHll lltos a atribuir o sucesso da mulher a uma maior motivac,;iio intrinseca, quan- 1•1 !i (ht ,, pura sorte (o artigo de Deaux e Emsweiler citado acima tern, traduzido para o 111 tltll fl, lll ..,, o seguinte e elucidativo titulo: "Explicac,;oes para o sucesso em tarefas rela- l!iit ,ul.t .., .10 genero: o que e capacidade para homens, vira sorte para mulheres"). Po- l• ': t.' •It precnder dai que, ou as mulheres tiveram de trilhar urn caminho mais cheio de h~ lli• ttlo'> , ou precisaram de doses suplementares de sorte ou de motivac,;ao para su- t'l tilllll .... upostas deficiencias internas. Entre n6s, sabemos que chamar urn aluno de 1,11\ .tdo" nao significa urn elogio: pelo contrario, da a en tender que ele compensa 1\IILI!H'""Ivcl inferioridade intelectual atraves de trabalho duro. Urn efeito colateral in- h ,t j.lvl'l neste processo esta, quando o mesmo e forte o suficiente, na introjec,;iio, por I""'' do ~rupo-alvo, do estere6tipo de sua intrinseca inferioridade. Como no caso aci- ltiu' lt.tdo , as mulheres tendema incorporar tais ideias ease comportar de forma a en- 1,;' .. 1 l.t'i . No momenta, apesar de todos os progressos resultantes do movimento de 1 1111111 tpac,;ao feminina, ainda nao se espera de uma mulher significativo sucesso pro- It. litllnl. E, quando isto acontece, todos tendem a atribui-lo a uma capacidade fora do JPIIIIIIll em termos de motivac,;iio ou a uma sorte, igualmente rara. Nt•sta mesma linha de pesquisa, podemos citar como ilustrac,;iio adicional alguns t·.twlos. No primeiro, conduzido nos Estados Unidos por Yarkin, Towne Wallston 1 I' liP) , "homens e mulheres negros e mulheres de ambas as rac,;as quando bem- wr·didos eram percebidos tanto por homens como por mulheres como menos capazes 1 111111' csforc,;ados que os homens brancos bem-sucedidos. Aparentemente, mulheres e t.H f',lllS tem que esforc,;ar-se mais" (grifo nosso). 147 l)ot 'ol l.th.diiiiS 1r ,tl1 .11 111., pot Hod11guro.; ( l'>H·I) r Hotlttglll''o 1 to l-. 1111 llll'.,lllil ( 19t-H b) roni iiiiWIII p<111 ialllll'lllt' os arhadoo., de Ya1l<t11 , I own c Walston Vl'olll'. ,,, 0 primciro foi uma replica do 1:xperimen1o acima citado, com uma amoslra d1 r·. tu tes universitarios cariocas c minciros. A tarcfa dos participantcs era lcr uma n u t.ll 'til urn funcionario de urn banco solicitava promo<;ao e justiricava scu pedido cotn !1,1 seu excelente desempenho profissional. Alem da carla, era aprescntado o CUll i111111111 tae do funcionario. Ambos tinham o mesmo teor em quatro condic,;oes cxpcri n11111 variando apenas o sexo e a cor do funcionario que pleiteava a promoc,;ao (homt'lll he co, homem negro, mulher branca e mulher negra). Pedia-se aos participantes qur ,. \ cassem a causa do sucesso do funcionario em questao. Curiosamente, nao foi drll:• qualquer indica<;ao de estere6tipo sexual contra as mulheres; apenas na amostra 11111 ra, leves sinais de preconceito racial: os homens negros supostamente seriam mai.., 1 <;ados. Outro dado importante deste estudo foi a cren<;a de que os brancos (homr n mulheres)- mais que os negros- e que conseguiriam a promoc,;ao almejada, o qur I" significar a percep<;ao de que vivemos em uma sociedade preconceituosa. 0 segundo trabalho, seguindo a mesma linha dos anteriores, contou co111 1 amostra de pouco mais de 600 pessoas. Do mesmo modo que no estudo citado ar 1 nao se detectou nenhuma atitude preconceituosa significativa contra pessoas da 1 negra ou de estereotipia negativa em relac,;ao as pessoas do sexo feminino. 0 esfor~11 considerado por esta amostra o principal motivo de exito do candidato a promot. independentemente de sua core de seu sexo. Mas, da mesma forma que no estudo a terior, houve uma percepc,;ao bern diferente entre os participantes quanto a probahl dade de brancos ou negros conseguirem a almejada promoc,;ao, com os primeiros plantando significativamente os segundos. Tais pesquisas provariam que nao existe preconceito entre n6s? De modo algtu 0 que este conjunto de trabalhos reafirma e, em primeiro lugar, a necessidade de Sl' tudar mais o tema, procurando distinguir entre os possiveis efeitos dos fatores relat nados a classe social e economica, a rac,;a, a dificuldade em expor opinioes "poli IH mente incorretas", alem das relac,;oes entre atitudes e comportamentos, ou atitudc ... cren<;as. Esta ultima questao levou a urn novo trabalho, igualmente realizado em l9H4 uma vez que sistematicamente, como vimos, os membros das amostras anteriores, em bora nao tenham indicado atitude preconceituosa contra pessoas negras, mostraram acreditar na existencia de discrimina<;ao racial na sociedade em que vivem. Parodian do Sartre, poderiamos dizer que "preconceituosos sao os outros". Ou, ainda, (, Allport, que frisava que "tra<;os de personalidade sao coisas que os outros tem" (griln nosso). Com isto, o famoso psic6logo queria denunciar uma distor<;ao perceptiva, pcla qual os outros seriam egoistas, mesquinhos, injustos, inclementes. N6s, ao contrario, aos nossos pr6prios olhos, estariamos nervosos, com problemas, atravessando uma 148 hilt il , (II M.tl., 11111 not.tvt·l 1'\l'lllplo dr ;111 tlnllc,.lo dd 't' lt'llnal , que 11\h 1111)!,1' de !IHII'I, 111,1., .,, no.,lvl'l'o a situac,;ocs pc11111 h.tdol,ts , em contrastc com os outros, h !tiilltlnunlt' 111aus: os outros sao , c nos cstamos, ao menos quando se trata de ti ~ llo ' l'• tlt-s.tj!,mdaveis. ' '' ,, dn p1 rronccilo, estaria acontecendo o mesmo? Na verdade o novo estudo HI( t1 II ., 11 .tl 1984b) nao respondeu diretamente a esta pergunta, mas mostrou 1 ji . llll ~ d.t amostra (180 participantes, 87% brancos, 44% do sexo masculino) lllti 11 ,1 •·:- i.,ll' llcia de discrimina<;ao tanto racial como sexual em nossa sociedade. jtir• " lll .t.,dciro tern vergonha de assumir que e preconceituoso, ate mesmo em 1111 :,\1 tlllh11l'ionais? Ou, na pnitica, nao nos opomos genuinamente a qualquer I• ili .tlllt..lo baseada no sexo ou na cor da pele? Ou o preconceito nao surgiria nas ,j, ll.thalho , e, sim, na parte afetiva (casamentos inter-raciais, por exemplo)? 'lw· -, '1 t·nc,;a de que os "outros" sao preconceituosos? E quem seriam estes ou- llll " pmkroso sentimento afiliativo que vigora em nossa cultura mascara e inibe IHI . ,1111nncntos preconceituosos? 1 lliitol v1 IIIOS, sao perguntas que reafirmam a necessidade de procedermos a novas 1 dt n1ro de uma area que se mostra ao mesmo tempo tao presente, tao com- '" h(1 numa foto? .\ lht.t de cxemplos que confirmam o quadro acima demonstrado e enorme. En- 1.\li 11111., t•sta sec,;ao citando o interessante experimento levado a cabo por Porter e I.IIHliltdlliCS (1983). Nele eram exibidas fotos onde apareciam "urn grupo de estu- ' 111 torno de uma mesa, atuando num projeto de pesquisa". 0 que variava nas til .t romposic,;ao do grupo (s6 homens, s6 mulheres e urn grupo misto) e a posi- tilltp.tda a cabeceira da mesa. Aos participantes perguntava-se simplesmente - Ill! 11 , ,, . de primeiras impressoes- quem eles achavam que seria, daquele grupo, a il.l ljlll' aparentemente estava conduzindo os trabalhos ou exercendo uma maior lhiilll 1.1 . Quando os grupos eram compostos por individuos do mesmo sexo, a pes- ' 111.1da na extremidade central da mesa era indicada majoritariamente como sen- ' l1dr1 tlos trabalhos. A coisa muda de figura nos grupos mistos. Ai, ainda com as 111111 II '" em maioria e com uma delas sentada na cabeceira da mesa, os homens eram 11lii ul11.., como os lideres, mesmo somando-se os pontos recebidos por todas as mu- i, ,I IJ m retrato e tanto da realidade dos estere6tipos! E ate possivel que, de la para 1 1 .. \t•mplo de outros estudos citados, os resultados deste experimento, no caso de \ll.i 11 plica, nao sejam mais tao expressivos. Mesmo assim, fotografias esmaecidas I" I" 11 111po nem por isso deixam de revelar uma dada realidade. 149 Proconculto o dlscrlmlnuc;uo ~e o l'!->ll'l'l'tll l po l' a ""a ha ... c rogn i 11va, O!-> !-ll'lll i llll'llto'> nq.?,all voo., l'lll rei :H, .111 il 1 grupo constituiriam o componcntr afctivo do prcconccito , c, as ar,;l)Cs, o rom pont comportamcntal. Em sua csscncia, o prcconccito c uma atitudc: uma pcssoa p111.1 ceituosa pode desgostar de pessoas de certos grupos e comportar-se de maiH'"•''' siva para com eles, baseado em uma crenc;a segundo a qual possucm carac H'It •. tli negativas. Embora, como vimos no capitulo 4, uma atitude seja composta p111 1 distinta combinac;ao de sentimentos (componente afetivo), predisposic;ocs pa1,1 (componente comportamental) e de crenc;as (componente cognitivo), no <<1'·11 preconceito, este termo se refere mais ao aspecto afetivo do fen6meno em qut·., t.hl na frase acima, o desgostar. Tecnicamente, o preconceito pode ser positivo ou negativo. Pode-se ser, po1 r '' plo, a favor ou contra estrangeiros, dependendo de sua nacionalidade: vamos supo1 1 em princfpio, suecos teriam a faculdade de despertar sentimentos positivos, c aq•,r1 nos,em contrapartida, sentimentos negativos. No entanto, em psicologia social o In e usado apenas no caso de atitudes negativas. Assim, o preconceito poderia ser ddtn como uma atitude hostil ou negativa em relac;ao a urn determinado grupo, nao In·" necessariamente, pois, a atos hostis ou comportamentos discriminatorios. Quando estamos nos referindo a esfera do comportamento (expressoes Vl'll hostis, condutas agressivas, etc.), fazemos uso do termo discriminac;ao . Neste 1 sentimentos hostis somados a crenc;as estereotipadas desaguam numa atua~ao pode variar de urn tratamento diferenciado a expressoes verbais de desprezo c a .11 manifestos de agressividade. Os experimentos levados a cabo por Muzafer Sherif e colaboradores nos ano., (1961) ilustram bern esta questao. Em tres ocasioes distintas (1949, 1953 e 1954), rante tres semanas passadas em urn acampamento nas ferias de verao, urn grup11 meninos entre 11 e 12 anos pensou estar se divertindo amenamente em uma col de ferias. Na verdade participavam, ainda que inadvertidamente, de urn experinwnl em urn setting natural acerca da origem da coesao grupal, bern como dos conflitos pais, e, neste ultimo caso, de sua possivel reduc;ao. Divididos em dois grupos, os nil' nos, que nao se conheciam de antemao, formaram lac;os de amizade, fruto de inun11 atividades ludicas em comum. Na segunda parte do experimento, os dois grupos e1 colocados em situac;ao de competic;ao e conflito. A ideia era que, se dois grupos poSSIH'I objetivos conflitantes e metas que so podem ser atingidas a custa do fracasso do gnq,, rival, seus membros se tornarao hostis entre si. De fa to , neste sentido, os experimc foram coroados de exito: insultos, perseguic;oes, ataques e destruic;ao de bens for;un observados, ao lado- o que nos interessa mais aqui- da formac;ao de estereotipos, qu 150 ll ·i llt11111ilttt,u,.lo dr .qwlido'> dd.un .l11l111l'> <11>'> llH'IIIhro!-> do g1 upo 11val, alcm de pit 'tt>lllt'IIIIO'>:I'> l' de rompontum·nlO!-> detivamcntc discriminat6rios. I liiLI " il d.u It'll,\ oiN'Iva<;ao microsc6pica da genese do preconceito e da discrimina- lll" u l1 IIIII'>, no l'l1tanto, deixar de mencionar a terceira fase dos estudos, que con- '"'"" ''' .t do~ l'limina<,;ao das tensoes intergrupais atraves de atividades de coopera- iliji'l j, ,,.., tlllllUns c prazerosos que s6 podiam ser alcan(:ados caso todos os inte- 1111 'J t.t 11111•,..,t•m para um trabalho conjunto. Apos urn inicio dificil, Sherif e colabora- lii 111.11,1111 tn ronseguido restabelecer, atraves desta estrategia de interdependen- ill\ l,.o,ttlt>.,l' de harmonia entre os ate ent<'io "inimigos". Em suas proprias palavras, It• I'. I ilitl;ttlt "~' vai quando os grupos se juntam para alcan(:ar objetivos maiores que se- il dtllt 11t1' tmportantes para a promo(:ao do bern comum" (TROTTER, 1985). \ , 111 .,, dr ilustra~ao, achamos interessante citar a propria historia de vida de M. 111 'I''' 11,,..,n·u na Turquia e foi criado em urn atmosfera de constantes conflitos en- \ I'' , IIIITOS c armenios, ou, ainda, de mu(:ulmanos versus catolicos. Em maio de tdt~lt · .,rente e morando em Izmir, na Turquia, ele conta que viu literalmente t ''"'1'·'111lt'iros sendo assassinados pelos invasores gregos, que avanc;avam matan- 11\tli •t ll inlinadamente membros da populac;ao turca. Quando chegou a sua vez, por Iii Ill 1 .t .to , o soldado inimigo mudou de ideia, se retirando e poupando sua vida. 1 I"'"' n, preconceito e discriminac;ao nao interromperam umas das mais brilhantes tli'li>t • drvotadas pioneiramente ao entendimento dos conflitos intergrupais e de do preconceito Todos gritamos contra o preconceito, mas nenhum de n6s esta livre dele. Spencer tl llil't'Onceito parece estar tao entranhado no circuito das relac;oes humanas que 1111 11!1tlif1cil distinguir suas origens. Suas raizes parecem tao profundas- e tao proxi- 1·1~ d,1 agrcssividade- que por vezes suspeitamos estarem elas ligadas a propria natu- ' l111111<1na. Em certo sentido, todos nos somos preconceituosos: na melhor das hi- .,, '• , ('Offi relac;ao as pessoas que sabemos preconceituosas. Mas, em que pese os ar- lilill 11los defendidos pelos sociobiologos (que aventam a possibilidade de o precon- i!i, o,tar ligado a mecanismos de sobrevivencia, inerentes a historia da humanidade e !illllll<l runc;ao protetora do grupo a que pertencemos), cremos que a aprendizagem 1tlo ,,,·r responsabilizada em grande parte por este fen6meno, ainda que a facilidade iii tjlll' o adquirimos levante suspeitas sobre a existencia de uma possivel predisposi- ~~ 111.lla . 151 Na cor do olhar Deixando tk !ado t''>la l'll'lll<l dJ'>Cli'>SiiO (biologia V<'l .\11 .\ tul!uJ;t) , podc111o'> como c facil o aprcndizado do prcconcc ito . Alcm dos supracitados cstudos de ~ l u 111 al., ja faz parte da historia da psicologia social o !amoso relato da profcssora Jant• I II que no final dos anos 60 minislrava suas aulas numa pequena cidade (Riceville) 111tl terior de um estado norte-americana (cf. ARONSON et al., 2007) . Seus alunos CJ ,J ill zona rural, todos brancos e catolicos e, no entender da professorajane, sem ncn h11 ideia real do significado do preconceito e do racismo. Pois ela decidiu ensina- lo!> . Nu dia , dividiu a classe em duas, tomando por base a cor dos olhos. Olhos castanho~ 1 um lado, olhos azuis para o outro. Em seguida "explicou" aos alunos que os segu udc eram comprovadamente melhores do que os primeiros: mais espertos, confiaveis, l11 zinhos, etc. Para marcar a diferenc;a, fez com que os de olhos castanhos usassen1 11 colar no pescoc;o e tornar sua "inferioridade" mais visivel. Alem disso, neste dia , O'> olhos azuis liveram recreio mais Iongo, elogios em sala de aula, doces extras na C< IIJI na, entre outras regalias. Em menos de meia hora Elliot alega ter criado uma miniatura de sociedadc 111 conceituosa. Os alunos, que ate entao se davam normalmente, romperam entre si. I de olhos azuis passaram a tripudiar dos seus colegas "inferiores", recusaram-se a b1111 car com eles e ate sugeriram a professora formas adicionais de punic;ao, alem de ou1m restric;6es. Nao faltou nem uma tradicional briga corporal entre membros dos dois gJ 11 pos. 0 grupo "inferior" mostrou-se mais deprimido, com pouca moral , saindo-sc 111 elusive pior nos testes feitos ao final da aula. No dia seguinte, uma surpresa: a professora confessou ter-se enganado, e que 11 verdade o grupo superior era o dos olhos castanhos. Em seguida pediu que estes colo cassem os co lares nos "novos inferiores". Neste dia, os comportamentos observado~ anteriormente simplesmente mudaram de lado . 0 experimento foi encerrado na ma nha do terceiro dia, quando a professora desfez toda a historia, mostrando que tinha procurado fazer com que eles sentissem na pele o verdadeiro significado do preconcei to e da discriminac;ao. Seguiu-se um debate entre todos os alunos participantes. Para encerrar a descric;ao deste elucidative experimento, cabe ainda uma citac;ao adicional. A criativa professorajane Elliot diz ter reencontrado boa parte destes estudantes vint t• anos depois, e que eles guardavam vividamente em suas memorias aqueles elias em qut· a cor dos olhos foi tao decisiva. E o que e mais importante: sentiam-se menos precon- ceituosos que seus vizinhos, colegas atuais de profissao, etc. pelo fato de terem passa- do por aquele experimento, complementando que, em sua opiniao, todas as crian c;as deveriam passar pelo mesmo teste. Digna de nota, tambem, a lamentavel perseguic;ao que, segundo a professorajane, sofreram seus familiares em sua propria cidade, apos a divulgac;ao do seu trabalho com os alunos. 152 I 11 1 1\ ""''" Ill '>qltl .;; to., il11 ., 11 ;till , <Oil HI VIII ttl .,, ;t l.11 did;ttk do dt''> IH'II,\1 d1 .,,.llllll\1' 11 p1r11lllllllttn.,o., , pl'la q11.d o <Htllll podt· "~' IOJillll de..,preztwl po1 lao pouco. Mas 11!0111 lttlllt ,t JII .II ., .., ,.,lt'lllallzada ainda que , a cxcmplo de outras areas de eswclo cia ni11).ti.t '> tH 1al , ..,l'llt uma lcoria global ou Lllll modelo que garanla uma total explica- podcmos classiricar as causas do preconceito em qualro grandes 011 .t.,, " .,,Jiwr: (a) compctic;ao e conOitos politicos e econ6micos, (b) o papel do lr 1 pt .tlorio ", (c) fa to res de personalidade, e (d) causas sociais do preconceito: iiolt .tgt·m ~ocia l, conformiclade e categorizac;ao social. mp"tl~ao e conflitos economicos ·\ lll lllpctic;ao e um dos caminhos que mais facilmente conduzem a formac;ao de It i 1 1111po~ . preconceitos e atos discriminatorios. ConOitos ligados ao status social, ao jiHt l. 1 politico e ao acesso a recursos limitaclos fornecem fermento poderoso a este tipo l1 l'" '• lilldacle. Conflito Grupal Realista eo nome desta formulac;ao teorica, que pre- 11 tjlll , .t rcboque de objetivos conflitivos, advirao tentativas de depreciar o grupo ad- 1-, 1111 1, inclusive atraves da estimulac;ao de crenc;as preconceituosas. Aparentemente, li1.1i •; l.tcil atacar- sem remorsos- um adversario, se o mesmo for dotado de pessimas 1 11 lnl -.ticas de personalidade, habitos nocivos ou se for claramente mal-inten- ' •11.1do . Um estereotipo negativo acerca do competidor une o proprio grupo em torno 1., ,ll.tquc ao rival (in-group versus out-group: dentro-do-grupo versus fora-do-grupo) . ll!i 'j 11111a vez, o experimento de Sherif e colaboradores merece ser lembrado, agora '''"o um exemplo do poder da competic;ao em deflagrar conflitos. 1 >-. cxemplos historicos aqui sao incontaveis, qualquer que seja a nac;ao tomada 11111111 modelo. Veja-se por exemplo a bem documentada oscilac;ao das atitudes e com- ji•ill .uncnlos de brancos norte-americanos para com imigrantes chineses ao longo do 11 tdo XIX, em func;ao do nivel de competic;ao ecom6mica entre ambos. No inicio da 1," 11da do ouro, brancos e chineses competiram por vagas, e os segundos passaram a • 1 dcc;critos como "desumanos, crueis, depravados, etc". A seguir, anos depois, ao 11 1 11arcm trabalhos duros e nao almejados por brancos na construc;ao de ferrovias, os iill '.., lllOS chineses passaram a ser descritos como "diligentes, obedientes e confiaveis". \ ltw-de-mel acabaria pouco depois com a volta dos soldados brancos apos a guerra da , 1 rssao, congestionando, na epoca, um ja nao muito extenso mercado de trabalho e l1 '.tndo os chineses a serem percebidos como "criminosos, ardilosos e obtusos" tl \ COBS & LANDAU, 1971). Enfim, competic;ao e conflitos sao claramente capazes de provocar reac;6es de hos- tllidade e de criar inimigos onde antes havia paz, ou, ao menos, tolerancia mutua. 153 0 papol do bod xplat6rlo Estc constructe c uma csprcic de compkmrnto da causa anterior . Uma vt•: r pertadas a raiva, a hostilidade ou a frustra<;ao, a quem dirigi -las? Muitas vczrs, a t.r real do sofrimento e ou muito vaga, ou muito grande ou poderosa. Quando tllll 1 atravessa urn periodo de recessao e de desemprego, fica dificil para o cidaclao co u11 atacar urn abstrato sistema econ6mico. A figura do lider ou presidente da na<;ao t' 11 concreta, mas igualmente inatingivel sem o risco de evidente retalia<;ao. Espcra r 1 mocnitica e pacientemente tres a quatro anos por uma nova elei<;ao talvez seja r.u I nalmente o mais adequado, mas e emocionalmente impraticavel como solu<;ao imn l ta para os sentimentos existentes. 0 que a hist6ria tern mostrado e que nestas ocasioes a raiva e deslocada para )'.' pos minoritarios, sem muito poder e facilmente detectaveis. Segundo Aronson (20( os antigos hebreus tin ham urn costume pelo qual o sacerdote- durante urn perfodo expiac;:ao de culpas da tribo- pousava as maos na cabec;:a de urn bode e atraves das dr das rezas, exortac;:oes e enunciac;:ao dos pecados cometidos, transferia-os para o ani 111 que depois era abandonado no deserto para morrer, levando consigo os pecados c II pando a comunidade de seus erros. 0 termo ficou e hoje e usado para designar aqur· que levam a culpa de algo, ainda que sendo inocentes. Urn exemplo bern conhecido deste proceder ocorreu nos Estados Unidos, pesqu sado por Hovland e Sears (1940) e citado em todas as obras sobre o racismo (e coni mado por avaliac;:oes estatisticas posteriores mais sofisticadas, Hepworth e Wr.,l 1988). Hovland e Sears fizeram uma analise correlacional entre (a) o pre<;o do a nos estados sulinos americanos entre 1882 e 1930 e (b) o numero de linchamentos d negros no mesmo periodo. Deve-se lembrar que a exportac;:ao de algodao era a prind pal fonte de renda daqueles estados, com a situac;:ao geral econ6mica (de abundand ou escassez) dependendo significativamente do prec;:o do algodao. 0 que esses pesquisadores descobriram foi uma forte correlac;:ao negativa (inversa) entre esta duas condic;:oes. Quando o prec;:o do algodao caia, aumentava o numero de lincha mentos, e vice-versa. Assim, quando os membros de urn grupo experimentava m dureza de uma depressao econ6mica, tornavam-se letalmente hostis aos membro considerados "de outro grupo". Vale a pena citar que as pesquisas vern demonstran do que, quanta menor a distancia na escala socioecon6mica entre brancos e negro! (e, por conseguinte, maior a possibilidade de competic;:ao intergrupal), tanto maio r ll preconceito manifestado pelos primeiros (MYERS, 2005). Em suma, a relac;:ao, em urn dado momento, entre a queda do prec;:o do maior produto de exportac;:ao dos es ta dos do sul dos EUA e o aumento de linchamentos de negros, e urn cruel exemplo destl' tipo de procedimento. 154 II i111 '~' ""' pnrk ..,, 1 d11o d.r Akrn.tllh.l 11.1 ~ '"'·' · orHk , <IJHI.., ,1 dr·rrol.l ''·' l'rll\ll' ll<l I hi tv ltu" lt.tl , o.., 111tk11.., I 01 .1111 ll'..,POihahd 1zad<h pc Ia i nlla<,;<lo , pc Ia rrccss<lo c pclos liliH' IIItt 'l dr lrllo.,lnt<,'<\0 cnt<IO rxi..,tcntcs . Criou-sc a crenc,;a de que, elirninando os 111d1r.., o.., problemas cswriam rcsolvidos. Urn dos governos militares da Argen- H•• 111n., HO, ll' ntou rcconquistar as llhas Malvinas (ou Falklands, na visao do Ou- 1! t'l''l ), ,. < on..,cguiu por algum tempo desviar a atenc;:ao dos problemas economi- ii'''' 11 .1 t' IH>ra alligiam o povo argentino. Da mesma forma, o fim da Uniao Sovieti- 1'"' ""' lado trouxe a liberdade para algumas na<;oes, por outro, permitiu vir a ll·i '·"'' 11 .11 10nalismo exacerbado acompanhado de intensa demonstrac;:ao de hostili- lr1' ''"'m grupos etnicos distintos . Estes sao apenas alguns dos inumeros exemplos u p.-,d, r11os colctar ao Longo da Hist6ria. \ It .r11o em urn nivel microssocial, conforme vimos no capitulo sobre atribuic;:ao p I) , pmcuramos transferir nossos sentimentos de raiva ou de inadequac;:ao, colo- lid•• 11' ttlpa de urn fracasso pessoal em algo externo ou sobre os ombros de uma ou- j'oi' • '''· " Sc chego tarde no trabalho, e mais facil culpar o transito do que assumir a i'· ""'· 'l>ilidade por nao ter tornado a precaw;:ao de sair urn pouco mais cedo. Se meu 11111• tlr lutcbol perde, e mais simples culpar o juiz do que aceitar a ideia de que o time I• .rl 1"1\0ll melhor, e assim sucessivamente. Lltvnsos experimentos vern comprovando este fen6meno, embora, a rigor, nao 1.• 1.11 II distinguir o preconceito causado por competic;:6es e conflitos daqueles origi- '''"'' '• pl'ia agressao desviada para bodes expiat6rios. Aparentemente estas duas causas "' 11111plementares. Mas em inumeras situac;:oes experimentais, em que urn partici- l'd 1111 1 ra f rustrado por alguma razao e, em seguida, solicitado a punir urn outro por cau- i 'l divt·rsas, fez diferenc;:a- nos niveis de agressividade demonstrados- o fa to de o ou- IHi '· ' ~ ' negro ou branco, judeu ou nao judeu, franco-canadense ou anglo-canadense, 1 l'ltn cipalmente quando o participante a quem cabia o papel de punir demonstrava lr rutlcmao sentimentos negativos com relac;:ao a esses grupos (WEATHERLY, 1961; IH \t ,I ·RS &: PRENTICE-DUNN, 1981;MEINDEL &: LERNER, 1985). I 111 resumo, a hip6tese do bode expiat6rio prega que individuos, quando frustra- 1"· nu infelizes, tendem a deslocar sua agressividade para grupos visiveis, relativa- ill• llll' sem poder e por quem nutrem, de antemao, sentimentos de repulsa. utores de personalidade A priori, pode-se dizer que uma pessoa, mais do que outra, seja mais propensa a ser jlll'tonceituosa? Aparentemente, sim. A ideia, desenvolvida por Adorno e colaborado- tr '; ( 1950) nos Estados Unidos, parte do pressuposto de que algumas pessoas- em ltlllt,,'ao do tipo de educa<;:ao recebida em casa- estariam mais predispostas a se torna- 155 11111 j)ll'l'OIH 1 11110.., ,1 .., lki10IIIil1•11 i1111 di' (H' I'Minalida<k auto• itn• Ia 11 ronju•llo dr 1 <,.' OS adqui1 ido~ que lOIIIal iam uma pe~~oa mais ngida c•n ~w, ., opinioes, in1olr 1.tt para com quaisquer cl emonstra(,:oes de fraqucza, em si ou nos outros, pronta a lid• valores convencionais, desconfiada, propensa a adotar ou pregar meclidas de r: u.l punitive e a dedicar respeitosa submissao a figuras de autoridade de seu pr6p r io po, e clara rejeiyao aos que nao pertencem aos seu ciclo restrito de relay6es. Adorno e colegas, em boa parte fugidos das perseguiy6es na Alemanha nn:l'll acreditavam que pessoas enquadradas como fortemente autoritarias estariam rrr propensas a perseguir quaisquer grupos minoritarios. Chegaram a criar um irr..,lr mento de aferiyao do grau de autoritarismo (chamado de escala F), pelo qual os I"" cipantes, ao concordar ou discordar de itens marcados por ditames punitivos, ligadn rigidez ou a obediencia, entre outros, poderiam ser classificados como muito ou po1 autoritarios, e, por conseguinte, mais ou menos inclinados a comportamentos cli-., minat6rios. Equal seria a origem desta configurayao de personalidade? Para os pesquisaclo r ap6s extensas entrevistas com sujeitos classificados em ambos os extremos da esca la , cenario resultante apontava para uma infancia marcada pelos seguintes aconteci m tos: quando crianyas, tais pessoas teriam sido duramente disciplinadas, com seus 1 senclo muito punitivos, usando ainda do artificio de manipular manifestay6es de al1· para obter respostas de obediencia por parte delas. Isto tornaria as crianyas insegur dependentes e muito ambivalentes para com os pr6prios pais: amando-os e odiando 1 concomitantemente. 0 6dio reprimido, inconsciente, mais tarde afloraria, s6 que til gido a grupos minoritarios e desprotegiclos. Tal tipo de educayao ajudaria a formar u adulto preocupado com questoes de status e poder, rigido, intolerante e com dificu l< des em lidar com situay6es de ambiguidade. E natural que crianyas vejam o mundo ('11\ branco-e-preto: faz parte, dentro do processo de amadurecimento, ter bern delimitada em suas mentes a diferenya entre mocinhos e bandidos, bons e maus, fadas e bruxa~ Aparentemente, isto esta relacionado ao desenvolvimento normal da aquisiyao de con ceitos de moral e de justiya. Mas de adultos espera-se que saibam que o mundo e com posto igualmente de matizes de cinza, e que o berne o mal fazem parte intrinseca d natureza humana. Boa parte da verdadeira Educayao consistiria em inibir nosso ladu pior e cleixar vir a tona nosso lado melhor. Voltando a hip6tese de Adorno et al., de urn modo generico, este tipo de formay:lo resultaria em adultos preferentemente etnocentristas: isto e, que acreditam na supl' rioridade do grupo etnico ou cultural a que pertencem, como correspondente desprc zo por membros de outros grupos. As criticas posteriormente levantadas contra esta concepyao nao negam seu valor e sua expressiva contribuiyao no que toea a genese do preconceito. No entanto, em pri 156 l!it ltlHOI I, ! ', l.l I! 011 ,(11 ,(!1 l! ' l iai!'Vildo! Ill! 1111 .., HI! ' I,1\ol0 0 p.qll'l dl'"l' lll(H' Ililado pclo~ 11 11 qw ·· ~ H'll' ll' <HI" ..,,.ll .., proptro~ pll'l' Oil l' l'ito ~. l ; ilho~ de pab pre<.:on <.:c ituosos tttl r ill 1 .,,. lclrrrtl{llfll co111 de~. ou , por aprendi zagc m, a imitar scu co mportamcnto , ou concomitantcmcntc- ao tipo de educayao recebida, qualquer que I 111 ,, gt111do Iugar, uma crftica mais especifica: a escala original teria uma orienta- ''' ' " ''1\ ll'a muito definicl a, pela qual, apenas pessoas de extrema-direita se enqua- 11.1111 ll ollipologia prcconizada. Rokeach (1968) , em trabalho de revisao posterior, Ht•ll l n autoritarismo como independente do continuo politico esquerda/direita e ii L'IIIId o 1oclas as matizes de pensamentos e convicy6es. 1\ 111 "'" dcstcs reparos , a verdade e que trabalhos realizados no final da decada de 111 1 1111 cio clos anos 90 na Russia , na Africa do Sul enos Estados Unidos (McFAR- ' 11 \ ( :FY EV & ABALAKINA, 1992; MYERS, 2005) vern confirmando a influencia 1111 111 tt ari smo, como trayo de personaliclade adquirido , que predispoe a manifesta- d• I" !'CO nceitos e de discriminayoes. u•u• sociais do preconceito: aprendizagem social, conformidade e forlzaCjOO social l'•• lr grupo de causas refere-se a ideia de que o preconceito e criado e mantido por 11 1 , .,odais e culturais. A teoria da aprendizagem social, por exemplo , enfatiza que l111 "1 111pos e preconceitos fazem parte de urn pacote maior de normas sociais. Estas, ;i ' " ' ' vcz, seriam o conjunto de crenyas de uma dada comunidade acerca dos com- " l.tlll l' l1tos tidos como socialmente corretos, aceitaveis e permitidos. Evidentemen- ' '' 1'' '' c considerado estranho em uma cultura pode ser encarado como perfeitamen- "'""wl e ajustado em outra. Habitos alimentares, modo de educar filhos, formas de .. 111 j.11n ento, moda, praticas religiosas, tolerancia a relayoes extramaritais por parte j., ltt1rncns e poligamia constituem alguns exemplos de como diferentes sociedades lttlun de formas diversas com aspectos similares do comportamento social humano . \ .., normas sociais sao aprendidas em casa, nas escolas, nas instituiyoes religiosas, " '"' olcgas e atraves da midia e das artes. Passadas de gerayao a gerayao , nos instruem ilu 11 .1 ou sutilmente sobre o que pensar, como reagir afetivamente ou como agir no 1111111do. Desta forma e que preconceitos persistiriam em um dado momenta em uma 1,,,1,, cultura. Basta que seja uma sociedade que acredite em certos tipos de estere6ti- l't l, dcpreciativos ou veja como normal o trato diferenciado a determinados grupos etni- ' ,,.,, rcgionais, ou, ainda, a mulheres ou a praticantes de uma religiao. Como vimos no 11111 10 do capitulo, ainda nao e comum que mulheres detenham certas funyoes e papeis "' 1.1is . Ou seja, e "normal" que uma mulher seja enfermeira e urn homem, neuroci- 157 1 111gi:1o 1\.,.,,,11, .;cg1111tlo , . .,1.111"1111.1 , ·'"'''·''"··'"''"l.u 1,1111 Sll11pl1 ., ,," 1111' adqui1111tl" ll' lll\lllado., pn·co ntl'ito~ da nu:~ ma lllltnl'ira que aprcndent O\tlra., aliludcs t' t'O III tamcntos, partilhados pcla sodcdadc como tun 1odo. A conformidade seria um caso especial do expos to acima: aqui, as pcssoa~ dr 1 perceberem e viverem relac;:oes de desigualdade entre grupos, sexos, etc., pa.,'>.tlll considerar tais tratamentos diferenciados como naturais. Em outras palavras, co nh mam-se com a situac;:ao reinante. Na maior parte das salas de aula de nossas unh1· clades, por exemplo, brancos ainda sao em numero muito superior a negros, e 11 guem estranha isso, tamanha a pervasividade do fenomeno. Urn outro exemplo r contrado nas artes: na pec;:a 0 mercador de Veneza, de Shakespeare, o judeu Shyl1u k retratado preponderantemente como perfida e viciosa criatura. Por que isto ser ia exemplo de conformidade? Porque, quando a pec;:a foi escrita, os judeus ja haviam expulsos da Inglaterra ha aproximadamente 300 anos! Infelizmente, o precom tambem se mantem pela inercia. Na conformidade, cedemos a pressao social para sermos aceitos, nao soh·c11 punic;:oes ou por realmente acreditarmos na veracidade das teses disseminada., meio cultural em que vivemos.Em consequencia, se atitudes preconceituosas fa parte, implicita ou explicitamente das regras do jogo social, tenderemos a cor ra-las em nosso dia-a-dia. Para nao deixar de mencionar alguns experimentos, podemos citar os traba ll realizados por Pettigrew (1958), que na decada de 50 constatou que, entre su li americanos e brancos da Africa do Sul, os mais conformistas eram justamente os que mostravam os mais preconceituosos. Estas considerac;:oes nos levam ao papel desempenhado pela midia e pelas artes n perpetuac;:ao de estere6tipos e preconceitos. Nas novelas, programas de maior audiend da TV brasileira, negros sempre apareceram em papeis secundarios e basicamente como servic;:ais ou bandidos. 56 em 1995, pela primeira vez, uma novela (A proxima vitima, TV Globo) retratou uma familia negra declasse media, com os mesmos problemas e preocu pac;:oes de uma familia branca da mesma classe social. As mulheres tam bern nao tern mt• lhor sorte: mesmo uma analise superficial dos comerciais de televisao indica que elas s;\u basicamente retratadas como donas-de-casa, objetos sexuais, ou como pessoas passivas, dependentes e sequiosas da aprovac;:ao de seus maridos. E quando aparecem como ext• cutivas ou em posic;:ao de lideranc;:a, e porque se trata de urn comercial que apela para 11 comicidade. Chavez (1985), por exemplo, ao analisar 14 hist6rias em quadrinhos publi cadas em jornais norte-americanos, muitas delas reproduzidas igualmente em grandt·~ jornais de todo o Ocidente, observou que as mulheres s6 eram personagens principais em 15% das vezes. Alem disso, s6 4% das personagens do sexo feminino trabalhavam fora de casa, urn contrassenso, na medida em que nos EUA 70% das mulheres exercem 158 II"' d, r111p11'go No l\1,t.,d, "l'gu ndo d;tdo-. do 11\(,1 · (20(H) , 1ela11vo~ ao tl'II'>O de 'ill Ill'}, dr loda a 111 ;\o de obra c kminina. i 1d1 1111'11\l'llll', mtdia/artcs tambcm atuam no scntido de propagar comportamen- 1'''' -.o1 1.\i ... . As pr6prias novclas, supracitadas, contribuiram para a divulgac;:ao de pr 11, tl1 g!' nero mais cquilibrados, ao levar para o interior imagens tipicas da realida- il• 1111 111a das gran des cidades, onde ha uma divisao menos rigida e tradicional entre IU•IIth-. dcscmpenhadas por homens e mulheres (KOTTAK, 1991). Da mesma for- " ' ldmes Fi/adelfia (1993), com o ator Tom Hanks, e 0 segredo de Brokeback llllltdll (2005), provavelmente fizeram mais pela diminuic;:ao do preconceito contra 11.1"''"1' \ltais do que algumas toneladas de material impresso do mesmo teor. Sem ltl\·i,l;t , .t mtclia e as artes sao hoje poderosos disseminadores de opinioes e verdadeiros 1 Ill' '" dl' socializac;:ao , e seu peso na transmissao de estere6tipos e preconceitos ainda ''·"' l111 devidamente avaliado, no que toea a sua decisiva ascendencia sobre nossos ••lljHIIIamentos e atitudes. I !111 .,ubproduto do modo como processamos psicologicamente as informac;:oes, ca- •n i .unos as pessoas ou formamos esquemas, e que leva a formac;:ao de estere6tipos w1•.111vos, eo que esta na base da categorizac;:ao social ("nosso grupo em oposic;:ao a gru- ji!i' 1 \ll'rnos"). Para E. Aronson, seria o lado negro (alias, uma expressao nao muito fe- ll · j.l que estamos falando de preconceito) de todo o processo chamado de cognic;:ao so- t.d (veja o capitulo 3). Como muito bern caracterizaram Tajfel e Turner (1979), A mera percepc;:ao de pertencer a urn entre dois grupos distintos - isto e, a categorizac;:ao social per se - e suficiente para deflagrar discriminac;:oes in- tergrupais, a partir do favorecimento do proprio grupo. Em outras palavras, a mera consciencia da existencia de urn outro grupo e suficiente para provo- car respostas competitivas ou discriminatorias por parte dos membros do proprio grupo. 1:m func;:ao disto, preconceito e discriminac;:oes intergrupais seriam consequencias pLtl icamente inevitaveis dentro de urn processo cognitive normal e natural , cuja fun- i 111 .,cria a de- rna is uma vez- simplificar e tornar mais inteligivel o complexo mundo 111 ial que nos rodeia. Afetivamente, sentiriamos coisas positivas pelos membros de ltn-.so grupo e coisas negativas (seguidas de urn tratamento injusto) por membros do t\1 upo que nao o nosso. 0 aumento da autoestima seria, ainda segundo Tajfel, a moti- ' .u,;ao basica por tras deste vies cognitive. Diversas tendenciosidades cognitivas, examinadas no capitulo 3, como a correla- l•IO ilus6ria, a profecia autorrealizadora, o efeito homogeneidade do outro grupo, en- Ill' outras, fortificariam, junto com a categorizac;:ao social, a genesee a manutenc;:ao de 11rcconceitos. 159 A roduejoo do pruconculto 1'\flil"tli o' flli ' iOIIil'l/o' Jll'lll Jlilllcl IOIIIIIIciOII 1'1111111 Jldll/• l'il'dl' ll t'O, o (,ran de Face ao que vimos acima, e possivel a cria~ao de mecanismos dicazcs pa ra 1 nuir o preconceito? Apesar da facilidade com que o mesmo e despertado e a dificulcladc em l' IH 111 urn modelo que integre toda a gama das possiveis causas do preconceito , a rl''> PI sim. Ou, pelo menos, sim, devemos continuar tentando! Uma das primeiras ideias na busca de solw;:6es veio atraves da hip6tesc do 1 11 to . Aqui, acreditava-se que, aumentando-se o contato entre, por exemplo, bra 11 1 1 negros, nao s6 iriam diminuir os estere6tipos de parte a parte, como na situa~ao lo1 dade contato acabaria prevalecendo uma intera~ao pacifica inter-raciaL 0 que -.r servou na pnitica, nos Estados Unidos, atraves da cria~ao de escolas integradas c111 ados dos anos 50 (antes havia escolas s6 para brancos ou s6 para negros) , foi u m 1 perado aumento de tens6es e conflitos entre crian<;as brancas e negras. 0 curiosa e que, anos antes , Deutsche Collins (1951) , no experimento desc 11111 capitulo 2, observaram uma notavel diminui<;ao do preconceito quando branco~ r gros tiveram de ocupar moradias integradas. Ap6s alguns meses de convivencia. moradores destes projetos nao-segregados mostraram consideravel aumento de alii des positivas entre si. Qual a explica<;ao para a diferen<;a entre estes dois epis6dios? 0 que se descobriu depois e que a simples intera<;ao nao e suficiente. Ela tem dl· dar num contexto de igualdade de status , como G. Allport ja o apontara em seu sn nal The Nature of Prejudice (1954) : 0 preconceito pode ser reduzido em contatos entre grupos majoritarios l' noritarios, desde que os mesmos se deem em condi~oes de igual status e na busca de objetivos comuns. Este efeito pode ser aumentado se os con tos forem apoiados institucionalmente (leis, costumes, condi~oes loca i ~l. enfatizada a consecu~ao de interesses comuns entre os membros dos dol grupos. Nao foi o que sucedeu nas escolas, onde nada foi feito de concreto para diminuir a diferen<;as iniciais de percep<;ao e autoestima, ou para estabelecer metas em comum. I no caso das moradias, ambos os grupos detinham de fato o mesmo status socioeconl'l mico, o que alijou a amea<;a de conflitos intergrupais. Assim, o contato pode diminuir o preconceito, desde que se de sob certas concli <;6es. Lembremos o experimento de Sherif, no qual nao bastou a elimina<;ao de con 160 tll\ ( oiiiiiHIII,, \Iljl•lt'd ,\h,\lltllllli ,t VIIII :U' :II\III ;U l' lllll' ll" doi ..,).!, III!Hl '> 1;01 p1l'ti · 1 ill [lt l dt -. lltt .t\, lll'" d l' inln(kpt' ll(knda mutua , ou ..,l'ja , dl' atividadc~ de co 11 111 11 11 " llpl.utt :u dilintltladl'~ comun'i, como vimos antcriormcntc, nes te 111)111\tlll l),· ... ta lot tna , ll\11 c.kll'ito "labricado" no forn ecimenlo de agua obri- 1)111 ltH III'> .,,. )Uilla..,sl'm para dcscobrir a solu<;ao do problema. lgualmente, iu l,ll, .tll de 1odos para colctar dinheiro serviu para salvar uma cobi<;ada ses- t lttl ' ll t: l ~hcril dcnominou esta condi<;ao de estabelecimento de objetivos su- •l'l 1111 l.t 'i atracntcs para os dois grupos, mas que nao podem ser obtidas sem a tthdu_ll .11. ,to mutua . Lentamente, as hostilidades foram
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