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Resumo de Inteligência e Seg. publica uninassau

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Resumo de Inteligência e Seg. Publica 
 
UNDADE I 
Inteligência e segurança pública: contexto, aspectos, conceitos, principais 
processos e aplicações 
 
Contextos gerais da atividade de inteligência 
O entendimento da palavra inteligência é, por vezes, bastante confuso. Isto se 
deve, principalmente, à sua polivalência. A definição de inteligência consiste na 
capacidade de raciocínio, entendimento, interpretação, pensamento e intelecto. 
Em suma, funções mentais capazes de gerar a resolução de problemas, 
situações e também o entendimento de fatos (FERREIRA, 2010, p. 432). 
Ao mesmo tempo em que representa algo simples, também representa algo 
bastante poderoso. Não é à toa que é utilizada em diversas categorias e 
campos do conhecimento científico. 
Diante disso, o presente tópico de estudo se propõe a apresentar o contexto 
geral da atividade de inteligência, apresentando os principais sentidos e 
significados, situando a inteligência nos diversos cabedais teóricos científicos 
existentes. Destaca-se, ainda, a atividade de inteligência e sua relação estrita 
com a área da segurança por meio de suas categorias. 
SENTIDOS E APLICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA 
O termo inteligência é bastante utilizado no mundo contemporâneo, sendo 
base de discussões em diversos campos do conhecimento. Atualmente, fala-se 
em Business Intelligence (BI), inteligência emocional, financeira, empresarial, 
militar, policial, criminal, de segurança pública, dentre outras. 
 
Não obstante suas diversas facetas, a inteligência está estritamente 
relacionada com a produção de informação. Trata-se de atividade que busca 
produzir algum conhecimento específico, de maneira que o seu resultado é o 
próprio conhecimento esperado (OLIVEIRA, 2013). 
Sentido amplo 
Em sentido amplo, inteligência envolve um processo sistemático que entrega 
um produto informacional sofisticado, ou seja, processado, analisado e 
orientado para assessorar processos de tomada de decisão (GONÇALVES, 
2009, p. 13). Nas palavras de Cepik, em Espionagem e democracia: agilidade e 
transparência como dilemas na institucionalização de serviços de inteligência, 
publicado em 2003, consiste em qualquer informação “coletada, organizada ou 
analisada para atender as demandas de um tomador de decisão qualquer” (p. 
27). 
Sentido estrito 
Em sentido estrito, inteligência remete à segurança de Estado, tal qual 
preconizado por Sherman Kent, em Strategic Intelligence for American World 
Policy, publicado em 1965. É todo conhecimento que as autoridades superiores 
devem ter para resguardar os interesses nacionais. Ou seja, envolve a 
produção de informações necessárias para a defesa das instituições, soberania 
nacional e segurança dos cidadãos. Nesta vertente, inteligência é o mesmo 
que informação secreta, envolvendo, inclusive, “a coleta de informações sem o 
consentimento, a cooperação ou mesmo o conhecimento por parte dos alvos 
da ação” (CEPIK, 2003, p. 28). 
Sendo assim, a inteligência, em seu sentido estrito, é um tema, por natureza, 
fechado. As principais doutrinas e conhecimentos costumam ficar restritos aos 
órgãos de Estado, especialmente as instituições policiais, justamente porque 
muitas de suas ações e estratégias são desenvolvidas de maneira sigilosa. De 
fato, a sensibilidade da atividade faz com que em muitos países as principais 
fontes de conhecimento sobre inteligência provenham das leis editadas pelas 
autoridades governamentais (WHEATON; BEERBOWER, 2006, p. 323). 
CATEGORIAS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
A inteligência pode se manifestar de diversas maneiras no meio social. Apesar 
disso, durante muito tempo, o tema esteve automaticamente relacionado às 
preocupações com segurança, fato que se justifica a partir do entendimento da 
evolução histórica da inteligência. Não é à toa que o seu sentido estrito remete 
justamente às atividades de segurança. 
Cumpre ressaltar que a inteligência era considerada como um sinônimo para 
informações e notícias, sendo fundamental para as organizações militares em 
diversos momentos. As evidências históricas exemplificam que a atividade, 
durante o Império Romano e também durante o Feudalismo europeu (séculos 
IV ao XV), era majoritariamente de natureza informacional. 
CURIOSIDADE 
Em épocas em que não existia um fluxo de informações intenso, com jornais, 
imprensa, etc., a maioria das informações podiam ser consideradas como 
inteligência. As informações de domínio público eram muito precárias e os 
governos eram as instituições que possuíam maior expertise em produzi-las 
(especialmente para a cobrança de impostos e manutenção de documentos 
oficiais), mantendo sigilo sobre o que conheciam (HERMAN, 1996). 
Existem registros de que a atividade de inteligência, uma das mais antigas 
profissões do mundo, vem sendo utilizada, ainda que em menor escala, desde 
à Antiguidade, em lugares históricos que remetem à China, ao Oriente Próximo 
e ao Império Romano (CEPIK, 2003). Assim, historicamente, a atividade de 
inteligência possui três principais categorias, conforme mostra o Diagrama 1. 
 
A categoria básica da inteligência é a militar, sendo também sua manifestação 
mais antiga (GONÇALVES, 2009). Trata-se da principal categoria da 
inteligência, cujo objeto consiste na produção de subsídios estratégicos para 
auxílio na defesa e manutenção do Estado. Esta categoria é, portanto, aquela 
que se preocupa com a coleta de variadas informações, desde as mais básicas 
até as mais complexas, como prognósticos e simulação de cenários, 
envolvendo conhecimentos sobre topografia, clima, população, estatística, 
material bélico, comunicações, dentre outras. 
Com o fortalecimento do militarismo a partir do século XIX, a inteligência 
começa a se estruturar com maior vênia. Cabe ressaltar que o uso da 
inteligência para fins militares é o mais antigo, de modo que não se pode dizer 
o mesmo da sua institucionalização. De fato, a trajetória institucional da 
inteligência, conforme afirma Cepik, em Espionagem e democracia: agilidade e 
transparência como dilemas na institucionalização de serviços de inteligência 
[...] é marcada por grandes descontinuidades entre os primeiros serviços 
secretos surgidos no contexto do absolutismo e as inúmeras organizações que 
configuram atualmente os sistemas nacionais de inteligência e segurança (p. 
90). 
Contudo, é somente no século XX que a atividade se torna completamente 
institucionalizada. Ou seja, apesar de existir há bastante tempo, a inteligência 
militar era desenvolvida de forma precária, sem métodos claros e precisos, 
sendo composta basicamente de coleta de informações. 
Ainda que a passos lentos, as atividades da inteligência militar iniciam seu 
processo de estruturação mais robusto durante a segunda metade do século 
XIX, com os diversos conflitos bélicos que surgiram, como a Guerra Civil 
estadunidense (1860-64) e, depois, com as grandes guerras do século XX: 
Primeira Guerra Mundial (1914-18), Segunda Guerra Mundial (1939-45) e 
Guerra Fria (1947-1991). Também foram criados, a partir da categoria militar, 
os chamados sistemas nacionais de inteligência, sendo o período após a 
Segunda Guerra Mundial o auge deste desenvolvimento (WHEATON; 
BEERBOWER, 2006, p. 321). Cabe ressaltar a influência ativa de Sherman 
Kent, considerado o “pai” da inteligência moderna. 
Após servir durante a 2ª Guerra Mundial na Divisão de Análise e Pesquisa, 
órgão predecessor da Agência Central de Inteligência estadunidense (CIA), 
Kent foi responsável por desenvolver o conceito de inteligência nas instituições 
norte-americanas no pós-guerra e durante a Guerra Fria. Seu trabalho 
influenciou, e influencia até hoje, a atividade de inteligência contemporânea em 
diversos países (FORD, 2007). 
 
Outra categoria importante da inteligência é a diplomática. Inicialmente, o uso 
dos serviços diplomáticos foi realizado para a coleta de informações comuns, 
sendo muito importantepara a institucionalização básica da inteligência, com 
um mínimo de organização dos registros informacionais em arquivos 
reutilizáveis, na Europa, a partir do século XVI (HERMAN, 1996, p. 12). A este 
sentido, cumpre ressaltar que a inteligência diplomática se desenvolveu antes 
da militar. 
Durante muito tempo, a dita foreign intelligence foi bastante explorada, sendo 
confundida com a atividade da diplomacia. Os diplomatas possuíam maior 
facilidade em coletar informações devido à sua imunidade diplomática, o que 
lhes conferia posicionamento privilegiado, além de maior facilidade para entrar 
e permanecer em territórios estrangeiros. Na época, a diplomacia floresceu na 
Europa de maneira que fosse bastante comum o trânsito de diplomatas entre 
países, os quais se encarregaram de facilitar a comunicação e as transações 
comerciais entre os países. Diante disso, essas representações passaram a 
ser utilizadas também para a coleta de informações, desde as mais básicas, 
como notícias sobre outras partes do mundo, até outras mais complexas, como 
espionagem sobre ameaças externas e conspiradores (CEPIK, 2003, p. 92). 
Pouco a pouco, os reinos e alguns países foram incrementando suas 
atividades de inteligência. Neste cenário, a diplomacia teve um papel 
fundamental, utilizando-se dos sistemas de correios que começavam a se 
desenvolver. À época, o grande desafio da inteligência se dava na tentativa de 
decifrar as comunicações (HERMAN, 1996, p. 11). De toda forma, pode-se 
dizer que diplomacia e inteligência foram separadas. 
CURIOSIDADE 
Diversos países ainda contam com órgãos diplomáticos encarregados de 
funções informacionais, como o Foreign and Commonwealth Office (FCO) da 
Grã-Bretanha, o qual não compõe o sistema de inteligência, mas produz 
informações para os órgãos de defesa, como o acompanhamento de 
cser_educacionals, negociações e tratados internacionais (CEPIK, 2003, p. 93). 
A inteligência doméstica também surgiu na Europa, posteriormente, no século 
XIX. A consolidação do modelo de estado-nação motivou o crescimento de 
uma espécie de policiamento especial nos países. Segundo Herman (1996), a 
inteligência policial voltada para o contexto interno surgiu no continente 
europeu como resposta ao medo que se instalava nos países de uma repetição 
da Revolução Francesa. Dessa forma, os Estados começaram a produzir 
inteligência sobre as suas próprias populações. É esta categoria que, 
posteriormente, dará início à inteligência especializada em segurança pública. 
Trajetória da atividade de inteligência de segurança pública 
A inteligência é aquela que se relaciona com a atividade da segurança e pode 
se manifestar de diversas maneiras: relacionada à defesa, ao militarismo, no 
combate ao crime, dentre outros. 
Basicamente, a inteligência, em sentido estrito (de segurança), objetiva a 
neutralização de dois tipos de ameaças: internas e externas. 
Traçando um paralelo com o que vimos sobre as categorias da inteligência, 
nota-se que elas nascem como resposta a ameaças externas, estando 
relacionadas com a inteligência militar e também, em menor escala, com a 
inteligência diplomática. Com o passar do tempo e o surgimento dos estados-
nação, outras necessidades de proteção foram surgindo, dando origem à 
inteligência doméstica, mais preocupada com as ameaças internas. 
Com os avanços da criminalidade e da violência nos grandes centros urbanos, 
surgiu outra categoria específica da inteligência: a Inteligência de Segurança 
Pública. 
Diante desse panorama, vamos apresentar, em primeiro momento, a trajetória 
desta categoria da inteligência mais recente e, na sequência, vamos tratar um 
pouco da trajetória da inteligência no Brasil. 
O NASCIMENTO DA INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA 
A Inteligência de Segurança Pública nasceu como consequência da 
complexidade crescente das questões de segurança, com os incrementos no 
modus operandi das organizações criminosas, as quais se desenvolveram 
cooperando umas com as outras, criando verdadeiros conglomerados 
transnacionais, especialmente a partir dos anos 1970 (GONÇALVES, 2009, p. 
37). 
Conforme define Mingardi, em “O trabalho da inteligência no controle do crime 
organizado”, publicado em 2007, a Inteligência de Segurança Pública possui 
vários nomes, como inteligência criminal, policial, dentre outros: 
Apesar de a expressão mais comum no Brasil ser Inteligência Policial, é 
preferível chamar a atividade de Inteligência Criminal. Um motivo é que não 
apenas 
as polícias trabalham nessa atividade, mas também outras instituições, co
mo o Ministério Público, o Exército, as Guardas Municipais etc. (...) trata-se de 
uma atividade especializada e detentora de técnicas e métodos próprios. É 
considerada uma espécie de “prima pobre” da Inteligência de Estado e “prima 
distante” da Inteligência militar, que é a atividade mais antiga do ramo (p. 52). 
Este tipo de inteligência nasce derivada da inteligência doméstica, sendo, 
muitas vezes, difícil delimitar com precisão onde uma começa e a outra 
termina, uma vez que não é raro que as ações de security intelligence se 
confundam ou apresentem convergência com a chamada Inteligência de 
Segurança Pública (GONÇALVES, 2009, pp. 53-55). 
Na prática, a confusão de termos é bastante comum, mas o principal a ser 
destacado é que ambas são diferentes, pois possuem objetos e objetivos 
distintos. A diferença reside no fato de que a inteligência doméstica preocupa-
se com ameaças à segurança e à integridade nacional oriundas de grupos 
subversivos, terroristas, espiões internos e externos, enquanto a inteligência 
em segurança pública tem foco em ameaças frutos da dinâmica criminal mais 
ou menos complexas, além de ser especializada nos assuntos de segurança 
pública. 
É um conjunto de processos sistemáticos (...) direcionados para o provimento 
de informação oportuna e pertinente sobre os padrões do crime e suas 
correlações de tendências, de modo a apoiar as áreas operacional e 
administrativa no planejamento e distribuição de recursos para prevenção e 
supressão de atividades criminais (GOTTLIEB; ARENBERG; SINGH, 2002 
apud DANTAS; SOUZA, 2004, p. 1). 
 
O Quadro 2 sistematiza as principais diferenças entre os dois tipos de 
inteligência. 
 
Isso significa que, dentre outras atividades, a Inteligência de Segurança Pública 
se debruça sobre fatos como problemas de criminalidade, investigação 
criminal, prevenção da ordem e fiscalização, além de ser responsável pelo 
assessoramento das ações da polícia judicial e da polícia ostensiva 
(KRAEMER, 2015). Além disso, suas ações devem seguir o devido processo 
legal (procedimentos jurídicos dos códigos de processo civil, penal etc.), pois 
seu produto final serve como base para produção de provas, o que 
normalmente é publicizado ao final dos julgamentos. Desse modo, possui uma 
forma de gestão orientada a resultados, dispondo do poder de polícia e do 
poder punitivo do Estado. 
A inteligência doméstica não necessariamente segue o processo legal, pois 
seu produto final são relatórios para orientação governamental, ou seja, 
possuem formato variável e raramente são publicizados. Ademais, sua gestão 
é orientada por objetivos, que consistem na coleta e sistematização de 
qualquer informação estratégica relevante para salvaguarda nacional, não 
possuindo poder de polícia ou poder punitivo. Além disso, possui competência 
para investigar pessoas que não necessariamente estão em conflito com a lei, 
como postulantes a cargos de alto escalão nos governos, dentre outros. 
O SISTEMA DE INTELIGÊNCIA BRASILEIRO E A SEGURANÇA PÚBLICA 
A trajetória da inteligência no Brasil é bastante tardia em comparação com 
outros países. Formalmente, a primeira vez em que se falou no assunto foi em 
1927, com a criação do Conselho de Defesa Nacional, a partir de decreto 
baixado pelo então presidente Washington Luís. O Conselho foi uma respostaàs ocorrências da década de 1920, como a Revolução Russa, a quebra da 
bolsa de Nova York, o crescimento do movimento operário e do movimento 
tenentista no Brasil, sendo um órgão consultivo, cuja função era estudar 
“questões de ordem financeira, econômica, bélica e moral relativas à defesa da 
pátria” (ANTUNES, 2001, p. 42). 
Anos depois, após a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, na década de 
1930-40, foram criados o novo Conselho de Segurança Nacional, responsável 
por coordenar estudos com o tema da segurança, e a Secretaria de Defesa 
Nacional. Esses órgãos passaram por reformulações após o fim da Segunda 
Guerra Mundial, com o acirramento da disputa ideológica entre Estados Unidos 
e União Soviética durante as décadas subsequentes, nos anos 1950-60. O país 
começava a se preocupar com um serviço de informações. 
Nos anos 60, com a ascensão dos militares ao poder, o sistema de inteligência 
foi catapultado. Conforme afirma Antunes, em SNI & ABIN: entre a teoria e a 
prática, publicado em 2001, a Lei n. 4.341, de 1964, instituiu o Serviço Nacional 
de Informação, e os militares também instituíram, em 1971, a Escola Nacional 
de Informações. As instituições de inteligência foram muito importantes para a 
sustentação do regime comandado pelos militares, especialmente durante o 
período armado da guerrilha do Araguaia. 
Com o recrudescimento da Guerra Fria e o processo de redemocratização no 
Brasil, as atividades de inteligência caíram em declínio. Os principais órgãos 
foram desmantelados pouco a pouco e muitos arquivos foram destruídos ou 
perdidos. Apenas durante meados da década de 1990, no Governo Fernando 
Henrique Cardoso, é que foi instituído o sistema de inteligência brasileiro. A Lei 
n. 9.883, de 7 de dezembro de 1999, criou a Agência Brasileira de Inteligência 
(ABIN) e instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin). 
Dezenas de órgãos fazem parte da estrutura do Sisbin, que conta com a 
participação do Ministério do Meio Ambiente, do Banco Central do Brasil e até 
do Ministério da Defesa e Secretaria Nacional de Segurança Pública. 
A categoria da atividade de inteligência surgiu após os anos 2000. O Decreto 
Federal n. 3.695, de 21 de dezembro de 2000, criou o Subsistema de 
Inteligência de Segurança Pública no âmbito do Sisbin, o qual tem por 
finalidade subsidiar a tomada de decisão estratégica nesse campo no âmbito 
dos órgãos federais da União. 
Nesse sentido, cabe pontuar que o protagonismo da Inteligência de Segurança 
Pública é dos órgãos estaduais, com as diversas polícias civil e militar das 
Unidades da Federação e do Distrito Federal, pois são quem executam as 
atividade de inteligência de segurança pública com maior vênia. Contudo, é 
preciso ressaltar que os órgãos federais têm cumprido importante papel na 
difusão e organização do conhecimento da atividade, seja por meio da Doutrina 
Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP), seja pela formação 
intelectual dos quadros pertencentes aos órgãos estaduais com os cursos da 
Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp/Ministério da Justiça). 
Nesta seara, por exemplo, foi editada, pelo Governo Federal, a Doutrina 
Nacional de Segurança Pública - DNISP, a qual trouxe o seguinte conceito para 
a Atividade de Inteligência de Segurança Pública - ISP: 
“A atividade de ISP é o exercício permanente e sistemático de ações 
especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou 
potenciais na esfera de Segurança Pública, basicamente orientadas para 
produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os 
tomadores de decisão, para o planejamento e execução de uma política de 
Segurança Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir 
atos criminosos de qualquer natureza que atentem à ordem pública, à 
incolumidade das pessoas e do patrimônio (BRASIL, 2014, p. 13). 
EXPLICANDO 
A categoria de Inteligência de Segurança Pública foi formalizada no Brasil em 
2007, quando foi proposta a primeira versão da Doutrina Nacional de 
Inteligência de Segurança Pública – DNISP, e em entrou em vigência sua 4ª 
edição. A DNISP é fundamental na esfera educacional de Inteligência de 
Segurança Pública, haja vista “disponibilizar aos profissionais de Inteligência os 
fundamentos necessários para enfrentamento da criminalidade” (p. 71), 
conforme afirmam Hamada e Moreira, em “Referenciais básicos para a 
capacitação de profissionais de inteligência de segurança pública no Brasil”, 
publicado em 2017. 
Por fim, o Governo Federal sancionou, em 11 de junho de 2018, a Lei 
n. 13.675, que criou a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 
(PNSPDS) e instituiu o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). 
Inteligência e contrainteligência 
Os termos inteligência e contrainteligência “são intrinsecamente ligados, não 
possuem limites precisos, uma vez que se interpenetram, interrelacionam-se e 
interdependem” (BRASIL, 2014, p. 16). São funções indissociáveis à atividade 
de inteligência. 
Ao mesmo tempo em que a atividade de inteligência busca obter informações 
do adverso, ela se encarrega de proteger suas próprias informações 
(COELHO, 2012, p. 49). É fundamental, portanto, que a inteligência se 
preocupe não somente em atacar, mas também em se defender. 
Assim, para se compreender melhor as minúcias da inteligência e da 
contrainteligência, demanda-se, neste tópico, uma diferenciação entre ambos 
os termos, bem como uma abordagem dos princípios e limites que lhes são 
inerentes. 
DEFINIÇÕES 
Embora o termo inteligência se confunda com a própria ideia de conhecimento 
ou informação analisada e envolva segredo ou informação secreta (CEPIK, 
2003, p. 28), sua definição é multíplice. Dentre as diversas concepções, uma 
das mais conhecidas e aceitas é a do professor norte-americano Sherman 
Kent, que primeiro sistematizou o conhecimento de inteligência, descrevendo-a 
em três aspectos: i) conhecimento ou produto, ii) organização e iii) atividade ou 
processo (GONÇALVES, 2009, p. 7). 
Na primeira acepção, inteligência é conhecimento ou produto, se refere ao 
resultado do processo de produção, ou seja, é o próprio conhecimento 
produzido, como documentos e relatórios que exteriorizam conhecimento de 
inteligência. 
No segundo aspecto, inteligência é uma organização, é o conjunto de órgãos e 
organizações que atuam na produção de conhecimento de inteligência, como é 
o caso da Agência Brasileira de Inteligência ou da Polícia Civil e Polícia Militar. 
Trata-se da estrutura funcional da inteligência. 
Por fim, o último aspecto, inteligência é atividade ou processo, diz respeito aos 
meios em que dados e informações são coletados, analisados e difundidos. É o 
sentido mais disseminado e adotado, inclusive pela legislação brasileira. 
A esses três aspectos, Abraham Shulsky e Dary Schmitt acrescentaram a 
característica mais notável: o sigilo na condução das atividades de inteligência 
pelas organizações que as exercem. “Esse caráter secreto se justifica pelo 
papel da inteligência para a garantia da segurança nacional e no apoio à 
política externa” (GONÇALVES, 2009, p. 10). 
Lowenthal, em Intelligence: from secrets to policy, publicado em 2009, traz 
outra característica: a inteligência se refere às informações que atendam às 
necessidades das autoridades governamentais que conduzem o Estado e que 
foram coletadas, processadas e analisadas para atender a essas 
necessidades. Ou seja, além do sigilo, a inteligência deve atender a sua 
finalidade de contribuir para o processo decisório governamental 
(GONÇALVES, 2009, p. 12). 
Com a junção dos três aspectos de Kent à ideia de Shulsky e Schmitt, a 
inteligência pode ser definida como os dados e informações coletados, 
analisados e difundidos (aspecto da inteligência como atividade ou processo) 
em forma de conhecimento (faceta da inteligência como produto ou 
conhecimento) pelas organizações (dimensãoda inteligência como 
organização), de forma sigilosa (principal característica da inteligência), e com 
a finalidade de assessorar o processo de tomada de decisões governamentais. 
Nas palavras de Cepik, em Espionagem e democracia: agilidade e 
transparência como dilemas na institucionalização de serviços de inteligência, 
publicado em 2003: 
Serviços de inteligência são agências governamentais responsáveis pela 
coleta, pela análise e pela disseminação de informações consideradas 
relevantes para o processo de tomada de decisões e de implementação de 
políticas públicas nas áreas de política externa, defesa nacional e provimento 
de ordem pública (p. 13). 
Ao conceito abordado, a legislação brasileira que disciplina a atividade de 
inteligência adotou o aspecto de inteligência como atividade ou processo tal 
qual enunciado por Kent. No artigo 1º, §2º, da Lei n. 9.883, de 7 de dezembro 
de 1999, consta que inteligência é: 
[...] a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de 
conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de 
imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação 
governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do 
Estado. 
No mesmo sentido, o artigo 2º do Decreto n. 4.376, de 13 de setembro de 
2002, dispõe que: 
Para os efeitos deste Decreto, entende-se como inteligência a atividade de 
obtenção e análise de dados e informações e de produção e difusão de 
conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações 
de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação 
governamental, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. 
Já a Política Nacional de Inteligência - PNI, fixada pelo Decreto n. 8.793, de 29 
de junho de 2016, define a atividade de inteligência como a: 
[...] atividade que objetiva produzir e difundir conhecimentos às autoridades 
competentes, relativos a fatos e situações que ocorram dentro e fora do 
território nacional, de imediata ou potencial influência sobre o processo 
decisório, a ação governamental e a salvaguarda da sociedade e do Estado. 
A inteligência é uma função que está ao lado da contrainteligência. Esta última 
se refere aos esforços de proteger a própria operação de inteligência contra o 
acesso ou perturbação do Estado ou serviço de inteligência hostil 
(LOWENTHAL, 2009, p. 263). São medidas, de acordo com Cepik, 
Espionagem e democracia: agilidade e transparência como dilemas na 
institucionalização de serviços de inteligência, publicado em 2003, que 
dependem da “identificação das operações de coleta de inteligência de um 
adversário, da detecção e da neutralização dos meios intrusivos de obtenção 
de informações utilizados por um governo ou organização considerada hostil” 
(p. 57), não se limitando à contraespionagem, que é “o esforço produzido pela 
contra-inteligência no sentido de neutralizar ou destruir as atividades de 
espionagem dos adversários” (ANTUNES, 2001, p. 31). Em outros termos, a 
contraespionagem é apenas uma faceta da contrainteligência. 
Lowenthal (2009, p. 263) destaca três tipos de contrainteligência: i) de coleta; ii) 
defensiva; e iii) ofensiva. A primeira se refere à obtenção de informações em 
relação à capacidade de coleta de inteligência do adverso. A segunda visa 
frustrar as ofensivas da inteligência hostil. Já a contrainteligência ofensiva, ao 
identificar as ofensivas do oponente, busca manipular esses ataques, 
transformando o agente hostil em agente duplo ou transmitindo-lhe falsa 
informação para que ela possa ser replicada na inteligência adversa. 
A definição legal de contrainteligência é eminentemente do tipo defensiva, 
conforme dispõe o §3º do artigo 1º , da Lei n. 9.883, de 7 de dezembro de 
1999, no qual “Entende-se como contra-inteligência a atividade que objetiva 
neutralizar a inteligência adversa”, bem como o Decreto n. 4.376, de 13 de 
setembro de 2002, que a descreve como: 
[...] a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a 
inteligência adversa e ações de qualquer natureza que constituam ameaça à 
salvaguarda de dados, informações e conhecimentos de interesse da 
segurança da sociedade e do Estado, bem como das áreas e dos meios que os 
retenham ou em que transitem. 
Embora a legislação se refira apenas a partes dos aspectos da 
contrainteligência, esta não se limita à neutralização da inteligência adversa, 
englobando também a obtenção de informações em relação à capacidade de 
coleta de inteligência do adverso e a manipulação das ofensivas identificadas. 
Sendo assim, a inteligência e a contrainteligência são funções da atividade de 
inteligência. A primeira busca produzir e difundir conhecimento. A segunda visa 
salvaguardar esse conhecimento do adverso. 
PRINCÍPIOS 
Os princípios são norteadores e orientadores de condutas e atividades, trazem 
em si uma finalidade a ser atingida, um ideal desejado. Não são apenas 
valores, mas também instituem o dever de adotar comportamentos necessários 
à realização do almejado (ÁVILA, 2011). As condutas e atividades, em geral, 
são irradiadas por princípios, cada qual com as suas especificidades. 
A Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública – DNISP os define 
como “proposições diretoras – as bases, os fundamentos, os alicerces, os 
pilares - que orientam e definem os caminhos da atividade. A aplicação de um 
deles deve ser harmônica aos demais” (BRASIL, 2014, p. 14). 
Embora não haja consenso doutrinário em relação a todos os princípios, é 
certo que todas as categorias dessa atividade são orientadas por princípios. 
Gonçalves, em Atividade de inteligência e legislação correlata, publicado em 
2009, subdivide os princípios da atividade de inteligência em dois 
subconjuntos: princípios de caráter metodológico e técnico-operacional, ao lado 
do princípio da ética, abordado separadamente, o qual deve pautar a atividade 
de inteligência. 
O primeiro subconjunto é integrado por quatro princípios fundamentais da 
atividade de inteligência: objetividade, oportunidade, segurança e 
imparcialidade. O segundo refere-se a princípios que são relevantes para a 
produção de conhecimentos e para a garantia da qualidade da inteligência 
produzida, e também totalizando em quatro: controle, clareza, simplicidade e 
amplitude. 
Por fim, há o princípio da ética que faz com que a atividade de inteligência seja 
pautada em preceitos éticos e leve “em conta os princípios legais e 
constitucionais aos quais está subordinada em um regime democrático. 
Importante registrar, também, o papel da ética na condução da atividade de 
inteligência” (GONÇALVES, 2009, p. 131). 
Os princípios integrantes do primeiro e segundo subconjuntos podem ser 
definidos conforme mostra o Quadro 3 
 
 
 
LIMITES 
Em certa medida, os princípios da atividade de inteligência servem como 
limitadores da atividade de produção de conhecimento, a qual deve ser 
pautada na observância de suas determinações. Contudo, uma gama está 
disposta na existência do Estado Democrático de Direito, o qual impõe à 
sociedade a observância aos princípios constitucionais em vigor. Em especial, 
os princípios da transparência e do controle das ações governamentais se 
aplicam à atividade de inteligência, embora esta seja essencialmente sigilosa. 
Conciliar o princípio da transparência com o exercício da atividade de 
inteligência, que depende justamente do “segredo sobre seus métodos de 
atuação e suas fontes de informação para operar de forma eficaz” (CEPIK, 
2003, p. 16), parece uma tarefa difícil. Todavia não é impossível. Trata-se de 
difícil discussão, principalmente por envolver aspectos “da relação entre 
segurança nacional, segredo governamental e controle das atividades de 
inteligência” (CEPIK, 2003, p. 137). 
Além disso, é importante impor a necessidade de justificação pública sobre a 
própria exigência do segredo naprodução de inteligência para que seja 
atendida a exigência de transparência, o que varia conforme cada uma das 
categorias de informações reguladas pelo sigilo. 
A principal justificação na categoria relacionada com a atuação governamental 
na defesa nacional e na política externa é o dano potencial que a apropriação 
de informações produzidas ou mantidas pelo governo por uma terceira parte 
poderia causar à segurança estatal e à própria segurança individual dos 
membros da coletividade (CEPIK, 2003, p. 152). 
Quanto ao princípio do controle, Cepik (2003, p. 159) traz sete tipos principais 
de mecanismos de controle público sobre as atividades de inteligência e 
segurança: 
As próprias eleições; 
A opinião pública informada pela mídia; 
Mandatos legais, delimitando as funções e missões das diferentes agências e 
áreas funcionais; 
Procedimentos judiciais de autorização de certas operações e de resolução de 
disputas de interpretação sobre os mandatos legais; 
inspetorias e corregedorias nos próprios órgãos de inteligência; 
outros mecanismos de cooperação e supervisão no Poder Executivo; 
mecanismos de supervisão e prestação de contas no Poder Legislativo. 
Por fim, a atividade de inteligência possui um limite extrínseco, qual seja, a 
atividade de inteligência adversa, mais especificamente a contrainteligência 
hostil, tendo em vista que “Estados ou outros atores buscam esconder 
informações de outros Estados ou atores, essa informação deve ser obtida por 
meios sigilosos ou encobertos” (GONÇALVES, 2009, p. 13). 
A inteligência de um Estado ou organização busca, essencialmente, a 
obtenção do dado negado ou protegido pela contrainteligência hostil. Quanto 
mais eficaz essa contrainteligência, mais limitada estará a produção de 
conhecimento por aquele que busca as informações sigilosas. De todo modo, 
“o manuseio do dado sigiloso, bem como as técnicas sigilosas para obtenção 
do dado negado, são inerentes à atividade de inteligência” (GONÇALVES, 
2009, p. 13). 
Portanto, a inteligência de um Estado se depara com a atividade de inteligência 
de outro, o que dificulta a obtenção do dado negado ou protegido. Desse modo, 
os princípios gerais aplicados à inteligência, os princípios democráticos da 
transparência e do controle e a atividade de inteligência adversa são 
mecanismos limitadores do exercício da atividade de inteligência. 
Produção do conhecimento 
Para abordar o processo de produção do conhecimento, também denominado 
ciclo da inteligência, em que a informação é reunida, convertida em inteligência 
e entregue aos tomadores de decisão, é necessário entender o conceito de 
conhecimento. 
A DNISP de 2014 o conceitua como o resultado final “da utilização da 
metodologia de produção de conhecimento sobre dados e/ou conhecimentos 
anteriores”. Já Coelho, em Contrainteligência em segurança pública, publicado 
em 2012, define o conhecimento como “a informação de forma organizada, 
com contexto e entendimento. É assim o resultado da análise e interpretação 
da informação para aplicação final em alguma tomada de decisão” (p. 26). 
Ambos os conceitos relacionam o conhecimento ao resultado da produção de 
inteligência, ou seja, ao final do ciclo de inteligência, se chega ao 
conhecimento. Isso será demonstrado a seguir. 
CICLO DA INTELIGÊNCIA 
O ciclo da inteligência, também denominado como processo de produção de 
conhecimento, busca facilitar a compreensão da transformação da informação 
e demonstrar o fluxo dessas informações entre os diferentes atores envolvidos. 
É uma ideia que se refere aos estágios ou etapas da inteligência, desde o 
momento em que os tomadores de decisões governamentais percebem a 
necessidade de produção de informações até o momento em que lhes são 
entregues um produto de inteligência analítico, transformando “dados e/ou 
conhecimentos anteriores em conhecimentos avaliados, significativos, úteis, 
oportunos e seguros, de acordo com metodologia própria e específica” 
(BRASIL, 2014, p. 19). 
Pode-se dizer, ainda, que “é o processo por meio do qual a informação é 
reunida, convertida em inteligência e disponibilizada aos consumidores – 
tomadores de decisões” (GONÇALVES, 2009, p. 97), ou seja, a produção do 
conhecimento envolve uma metodologia específica, a qual “transforma dados 
em conhecimentos, com a finalidade de assessorar os usuários no processo 
decisório” (BRASIL, 2014, p. 14). 
Ainda, Lowenthal, em Intelligence: from secrets to policy, publicado em 2009, 
aborda que há sete tarefas principais: 
1 identificação de requerimentos de inteligência: consiste em identificar os 
problemas ou áreas governamentais em que a inteligência pode contribuir; 
 
2 coleta: é a fase que reúne informações; 
3 processamento e exploração das informações coletadas; 
4 análise e produção da inteligência; 
5 disseminação para os tomadores de decisões governamentais; 
6 consumo: se refere ao quanto essa inteligência será utilizada e como, se por 
meio de documentos escritos ou na forma oral; 
7 feedback: é entendida como o momento em que os tomadores de decisões 
governamentais entregam aos produtores de conhecimento uma resposta 
sobre a utilidade do que foi produzido, bem como discutem eventuais ajustes. 
 
Herman, em Intelligence power in peace and war, publicado em 1996, 
desmembra a produção de conhecimento em fases que envolvem a coleta e 
análise, a disseminação do produto da inteligência, bem como o esforço em 
causar alguma reação no usuário, e a efetiva entrega e reação do usuário ao 
produto. 
A melhor definição, todavia, é utilizada pela doutrina brasileira, visto que 
sumariza as diversas fases pelas afinidades temáticas. Assim, o ciclo da 
inteligência compreende três fases ou etapas: orientação, produção e 
utilização. 
FASES DO CICLO DA INTELIGÊNCIA 
A orientação é a primeira fase do ciclo da inteligência. De acordo com 
Gonçalves, em Atividade de inteligência e legislação correlata, publicado em 
2009, “relaciona-se às necessidades de inteligência, ou seja, às demandas por 
parte do usuário, do cliente da inteligência, do tomador de decisão (p. 100). 
 
 
As orientações advêm do plano de inteligência, da solicitação de uma agência 
congênere, da determinação de autoridade competente ou da atividade de 
inteligência quando a produção de conhecimento é iniciada pela própria 
atividade. Em âmbito estratégico, diz respeito à definição dos objetivos e 
fixação de diretrizes para a produção de conhecimento de inteligência. 
É uma etapa de suma importância, pois permite que os prestadores de serviço 
estabeleçam seus planos de atividade e façam o planejamento estratégico. 
Desse modo, as orientações são determinadas conforme as necessidades do 
usuário, impondo objetivos e diretrizes próprias para que o ciclo de 
conhecimento seja executado de modo a atender às necessidade do usuário. 
A produção é o momento em que ocorre efetivamente a atividade de 
inteligência. Nessa etapa há aplicação de metodologia específica para a 
produção do conhecimento. É composta por quatro subfases: planejamento, 
reunião de dados, processamento e formalização e difusão.
 
A primeira subfase, planejamento, consiste no gerenciamento do trabalho de 
produção de conhecimento de forma lógica e sistematizada, “estabelecendo o 
objetivo ou necessidades, prazos, prioridades e cronologia, definindo os 
parâmetros e as técnicas a serem utilizadas” (BRASIL, 2014, p. 22). 
A segunda subfase, de produção e reunião de dados, se refere à obtenção de 
dados concernentes aos aspectos essenciais a conhecer. Engloba tanto ações 
de coleta quanto de busca. 
 
Há várias classificações quanto às fontes e aos meios de obtenção de dados. 
Gonçalves (2009, p. 107) apresenta os diferentes métodos de obtenção de 
dados conforme a natureza das fontes, classificando-as “quanto à sua 
confidencialidade (fontes abertas ou fontes classificadas/dado negado) ou 
quanto à origem dos dados(de fontes humanas ou de fontes técnico-científicas 
– ou seja aquelas obtidas por meios técnicos). 
A DNISP (2014) aborda que há duas fontes básicas de obtenção de dados: 
inteligência humana e inteligência eletrônica. No primeiro caso, o foco está no 
ser humano. No segundo, o foco está no “uso de equipamentos eletrônicos ou 
sistemas informatizados, inclusive aqueles conectados à rede mundial de 
computadores, para obtenção de dados. Pode ser classificada como 
inteligência de sinais, imagens e de dados” (BRASIL, 2014, p. 25). 
Por sua vez, Cepik (2003, p. 18) afirma que são três as principais fontes típicas 
a partir das quais as informações são obtidas: “a inteligência obtida a partir de 
fontes humanas (humint), a inteligência obtida a partir de interceptação de 
comunicações e de outros sinais eletromagnéticos (sigint) e a inteligência 
obtida a partir de imagens (imint)”. 
Após as referidas subfases, planejamento e reunião de dados inicia a terceira 
subfase da produção, o processamento, que basicamente consiste na 
interpretação desses dados. 
Concluído o processamento, ocorre a formalização e difusão do conhecimento, 
quarta subfase da produção, por meio de documentos de inteligência 
disponibilizados aos usuários ou a outras atividades de inteligência. 
A última fase é a utilização. Embora o conhecimento já esteja produzido, o ciclo 
da inteligência é concluído somente após a utilização pelo usuário. Essa etapa 
permite que novas demandas sejam geradas “em virtude das necessidades do 
usuário e o processo é retroalimentado” (GONÇALVES, 2009, p. 104). 
Inteligência de segurança pública e cenários prospectivos de criminalidade e 
violência 
A atividade de inteligência de segurança pública é aquela que busca produzir 
conhecimento para subsidiar a tomada de decisão e a formulação de 
estratégias de enfrentamento à criminalidade e à violência. É prioritariamente 
executada pelas forças policiais nos níveis federal, estadual e municipal. 
Atua identificando, avaliando e acompanhando ameaças reais ou potenciais na 
esfera de segurança pública, além de produzir conhecimentos que subsidiam 
ações “para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer 
natureza que atentem à ordem pública, à incolumidade das pessoas e do 
patrimônio” (BRASIL, 2014, p.13). 
Essa atividade permite a produção de conhecimento tático e estratégico para 
prevenção e repressão criminais utilizadas quando apenas a produção de 
evidências se mostra insuficiente para enfrentamento, em especial, da 
criminalidade organizada. 
A segurança pública é um dos grandes desafios do Brasil. Segundo as Nações 
Unidas em relatório publicado em 2019, o Brasil tem uma das maiores taxas de 
mortalidade do mundo. Os dados apontam que o número de homicídios 
dolosos durante os anos de 1991 e 2017 superou a marca aproximada de 1,2 
milhão de pessoas. Diante deste cenário, a inteligência possui importante 
ferramental para a melhoria do padrão de segurança brasileiro. 
CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA - UMA GRANDE AMEAÇA 
A segurança pública no Brasil lida com o crescimento exacerbado da 
criminalidade e da violência, cujas maiores ameaças internas envolvem a 
atuação de organizações criminosas no narcotráfico e no comércio clandestino 
de armas, altos índices de homicídios, violência generalizada, principalmente 
nos grandes centros urbanos, dentre outras. 
Esse quadro “impõe uma série de desafios para os governantes no sentido de 
construção de políticas públicas eficazes” (HAMADA; MOREIRA, 2020, p. 5), 
ao mesmo tempo em que preocupa a sociedade brasileira diante de grandes 
incertezas sobre o futuro. 
Fala-se nas organizações criminosas como um grande problema para a 
segurança pública. Todavia, nem tudo que o senso comum chama de 
organização criminosa realmente se encaixa como tal. Nesse sentido, para 
uma organização ser considerada criminosa, ela deve se encaixar em quatro 
características: hierarquia, previsão de lucros, divisão do trabalho, 
planejamento empresarial e simbiose com o Estado. 
Estudos mostram que o fortalecimento das organizações criminosas está 
vinculado ao aumento da população carcerária (FÁBIO, 2016 apud FERREIRA, 
2017). A cadeia é a grande gestora dessas organizações, onde surgiram as 
principais facções do País nos estados do Rio de Janeiro e em São Paulo 
(MINGARDI, 2007). 
O crime organizado possui ramificações nos mais diversos tipos de atividades 
ilícitas, “do narcotráfico à extorsão e corrupção, passando pela prostituição, 
tráfico de pessoas e órgãos, tráfico de armas e lavagem de dinheiro”, além das 
organizações criminosas cooperarem entre si, formando verdadeiros 
conglomerados transnacionais promotores de delitos (GONÇALVES, 2009, p. 
55). 
Assim, a atividade de inteligência de segurança pública é capaz de contribuir 
para o controle da criminalidade e da violência, em especial do aumento e 
fortalecimento das organizações criminais, por meio da produção de 
conhecimentos “confiáveis e utilizáveis dotando as instituições repressivas de 
informações que permitam entender o problema e elaborar estratégias 
eficientes” (MINGARDI, 2007, p. 67). Ou seja, atuando não só para repressão, 
mas principalmente para prevenção, permitindo o planejamento de estratégias 
de ação das autoridades no contexto da segurança pública. De toda maneira, a 
inteligência, ainda não é largamente utilizada na segurança pública, mas vem 
se desenvolvendo nos últimos anos (KRAEMER, 2015). 
COMO A INTELIGÊNCIA PODE AJUDAR A SEGURANÇA PÚBLICA 
No contexto de crescimento exacerbado da criminalidade e da violência, a 
atividade de inteligência de segurança pública exerce importante papel ao 
proporcionar diagnósticos e prognósticos sobre a evolução de situações de 
criminalidade e violência, entregando, dentre outros, conhecimento do tipo 
estimativo ou prospectivo que permitem opinião sobre a evolução futura dessas 
situações por meio de métodos prospectivos complementares ao processo de 
produção, além de produzir conhecimentos em médio e longo prazo, auxiliando 
na formulação de políticas, estratégias, planos e ações para enfrentar os 
desafios futuros e evitando surpresas estratégicas. 
 
De acordo com Hamada e Moreira, em “A inteligência estratégica como 
atividade essencial para as instituições de segurança pública”, publicado em 
2020, essa inteligência estimativa ou prospectiva tem por base “as avaliações 
das ameaças e riscos, das suas consequências e dos possíveis resultados de 
cenário alternativos” (p. 11), gerando conhecimento voltado para a antecipação 
e adaptação a cenários futuros, o que diminui incertezas e minimiza surpresas. 
 A ideia de prospectiva está amparada no tripé composto pela antecipação, 
ação e apropriação. Já os cenários são um instrumento de gestão que apoia o 
processo decisório e, por meio de monitoramento de variáveis e atores, 
“sinaliza com antecedência a necessidade de serem feitos ajustes ou mesmo 
revistas as estratégias pretendida e deliberada” (FERREIRA, 2015, p. 23). 
A análise prospectiva permite, por exemplo, identificar as tendências de ação 
do crime organizado e suas tipologias. “Por meio dessas variáveis, é possível 
traçar linhas mestras de ação na prevenção e no combate às organizações 
criminosas, em escala nacional, além de criar instrumentos para cooperação 
com outros entes da comunidade internacional” (GONÇALVES, 2004, p. 19). 
Algumas técnicas são úteis e importantes para a prospecção de cenários, das 
quais se destacam: brainstorming; painel de especialistas; técnica de 
simulação; analogia histórica; elaboração de cenários; extrapolação de 
tendências em séries temporais; matriz de incerteza crítica; sinéctica; 
questionários e entrevistas; teoria dos jogos; dentre outras (HAMADA; 
MOREIRA, 2020, p. 12). 
Já em relação às metodologias de prospecção de cenários utilizadas pelas 
grandes organizações, ganham destaque: da Global BusinessNetwork (GBN); 
Grumbach; Porte; Prospec; Sagres; ESG; Metodologia Policial Militar de 
Construção de Cenários, dentre outras. 
Outra importante ferramenta ao combate da criminalidade é a análise criminal, 
técnica acessória à produção do conhecimento e que permite “identificar 
padrões do crime e correlações de tendências da violência e da criminalidade, 
a fim de assessorar o planejamento para a distribuição eficaz de meios e 
recursos de Segurança Pública”, de modo a prevenir, controlar e reprimir o ato 
criminoso (BRASIL, 2014, pp. 28-29). 
A identificação desses padrões “é essencial para que haja uma intervenção 
que impacte o ambiente criminal, decorrente da habilidade da inteligência em 
processar e influenciar o pensamento estratégico dos tomadores de decisão” 
(RATCLIFFE, 2009 apud HAMADA; MOREIRA, 2020, p. 9). 
Há uma perfeita interação entre i) a análise de inteligência criminal estratégica, 
que identifica padrões criminais; ii) os tomadores de decisão, que são 
influenciados por esse conhecimento produzido pela inteligência; e iii) o 
ambiente criminal, que é impactado pela estratégia abordada pelos tomadores 
de decisão. 
 
Desse modo, a inteligência de segurança pública é de suma importância no 
combate à criminalidade e à violência, uma vez que, por meio da inteligência 
estimativa, é possível produzir conhecimento de cenários prospectivos. Da 
mesma forma, por meio da análise de inteligência criminal, identificamos 
padrões criminais, o que permite formulação de estratégias por parte dos 
tomadores de decisão, impactando o ambiente criminal e evitando surpresas 
futuras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE II 
 
Segurança pública aplicada: inovação, tecnologia e sistemas 
O avanço tecnológico é uma constante no mundo contemporâneo, e afeta, em 
sua integralidade, diversos aspectos da vida social. A transformação social é 
cada vez mais intensa e rápida, o que tem impactado, inclusive, as atividades 
criminosas. 
Por um lado, tem-se cada vez menos os já não mais tradicionais roubos, furtos 
e violência de rua; por outro, os crimes tecnológicos, como as fraudes e os 
estelionatos por meio digital, vêm aumentando nas últimas décadas. 
A tecnologia também vem sendo desenvolvida para uso na prevenção ao 
crime. Cada vez mais, organizações de segurança utilizam novos recursos 
para combater o crime. Contudo, a inovação policial, destinada à segurança 
pública, vai muito além da sua relação com as recentes tecnologias digitais. 
SEGURANÇA PÚBLICA E INOVAÇÃO POLICIAL 
Inovações são reflexo direto das crises e dos novos dilemas, e são produzidas 
quando existe incompatibilidade entre os problemas e o sistema vigente, 
normalmente obsoleto. Inovação significa a aplicação de conhecimentos, 
técnicas, experiências e práticas no desenvolvimento de sistemas, produtos e 
serviços (SILVA, 2003). No contexto da segurança, exatamente a partir da 
ineficiência das práticas tradicionais, é que nasce a inovação policial, ou seja, 
uma nova forma de lidar com os problemas de segurança (WEISBURD; 
BRAGA, 2006). 
Na seara da segurança pública, a chamada inovação policial pode ser 
caracterizada como a mudança que visa ao atendimento de demandas sociais 
relacionadas à segurança pública, envolvendo a melhoria de processos, 
tratamento de informações e coleta de dados, e integração de sistemas, de 
maneira a gerar vantagens para os órgãos policiais (ABDI, 2010). Assim, a 
inovação policial pode apresentar-se sob a forma programática, administrativa, 
tecnológica e estratégica (MOORE; SPARROW; SPELMAN, 1997). 
 
Inovação programática 
– 
A inovação programática consiste na instituição de novos métodos, programas 
e políticas capazes de alterar o uso dos recursos para o alcance de novos 
objetivos. Vai desde o uso de policiais para prover educação sobre drogas nas 
escolas até treinamento de resistência à violência contra mulheres. 
Inovação administrativa 
– 
A inovação administrativa são todas as mudanças estabelecidas em 
procedimentos, ou seja, nas atividades policiais que não são finalísticas 
(relacionadas à atividade-fim da polícia). Vai desde os meios de preparação 
para operações até métodos de recrutamento de polícias, treinamento e, até 
mesmo, a forma de mensuração da performance policial (WEISBURD; BRAGA, 
2006). 
Inovação tecnológica 
– 
A inovação tecnológica, por sua vez, é a que depende do uso de novas peças 
ou dispositivos, equipamentos capazes de aumentar o capital ferramental das 
polícias, como armas, análise de DNA e softwares de mapeamento e 
inteligência. Atualmente é a mais aparente, por conta dos avanços 
tecnológicos, contudo isso não significa que é a que tem o maior fluxo de 
ocorrência. 
 
Na verdade, conforme fica bem aparente, a inovação é um fenômeno 
relativamente simples nos termos em que se trata de uma mudança em relação 
às práticas estabelecidas. Isso não é algo muito difícil de ocorrer nas 
organizações policiais, e não há que se falar em primazia de algum tipo de 
inovação sobre a outra. 
Inovação estratégica 
– 
Por fim, a inovação estratégica representa mudanças na filosofia e orientação, 
o que vem das esferas superiores das organizações e afeta as operações de 
todo corpo policial; basicamente, é a forma como a polícia constrói o significado 
do que faz. Um exemplo é o entendimento policial diferente a partir da 
identificação de dependentes químicos como pessoas usuárias de drogas ou 
traficantes, o que altera a forma de tratamento da polícia para com ela 
(WEISBURD; BRAGA, 2006). 
Ainda que a ideia de inovação esteja bastante relacionada ao emprego de 
novas tecnologias, como softwares, computadores, smartphones e outros 
gadgets, não deve ser feita essa limitação, pois inovação, em geral, remete ao 
sentido de vantagem (SILVA, 2003). 
XEMPLIFICANDO 
É bastante ilustrativo pensarmos que tanto a invenção da máquina a vapor, no 
século XVIII, quanto a máquina de Gutenberg, que imprimia livros no século 
XV, foram importantes inovações tecnológicas, pois permitiram o 
acontecimento de transformações radicais na época em que foram instauradas 
(SILVA, 2003; LINARDI, 2018). 
Assim, de maneira geral, quando se fala em inovação, basicamente, há a 
mudança de algum paradigma, de algum conceito ou prática anteriormente 
estabelecido, visto que o conceito é bastante amplo. 
Da mesma forma, quando a ideia de inovação se volta ao contexto de 
segurança pública, a visão não deve ser restrita, pois o entendimento não deve 
ficar limitado a um dos vários tipos de inovação. Conforme vimos, a inovação 
policial, além de seu aspecto tecnológico, pode manifestar-se de forma 
programática, administrativa e estratégica. Mais uma vez: o fator diferencial 
para avaliarmos se algo diz respeito à inovação é a vantagem, a revolução 
gerada. 
Retomando a questão inicial, para algo ser considerado uma verdadeira 
inovação o invento deve ir além do discurso, de se autoproclamar inovador. Ele 
deve gerar uma ruptura, uma mudança visível e persistente. Uma verdadeira 
inovação é aquela que quebra paradigmas, que transforma profundamente a 
forma de se fazer algo, e isso se aplica também à segurança pública. O que 
definirá se câmeras corporais, drones, reconhecimento facial, biometria ou 
outras tecnologias serão realmente inovadoras é o grau de transformação que 
elas propiciam e não seu “revestimento” tecnológico (SOUZA et al., 2018, p. 7–
8). 
Nesse diapasão, é fácil perceber que a inovação pode ocorrer em qualquer 
lugar, inclusive nos diferentes níveis da atividade policial. Há de se falar em 
inovação nos diversos sistemas gerenciais e nos sistemas operacionais da 
área da segurança pública, já que os tipos de inovação são igualmente 
relevantes. 
 
O nível gerencial é o que se preocupa com a elaboração das diretrizes e 
metodologias para toda a atividade policial, e é relacionado à cadeia de 
comando propriamente dita. Já o nível operacionalé o que se ocupa com a 
execução, na ponta da atividade policial; se o nível gerencial avalia, propõe, 
estuda e sugere inovações, o nível operacional é o que vai colocar em prática e 
realizar os feedbacks para as instâncias superiores do nível gerencial. 
Exatamente por isso, os tipos de inovação são importantes para ambos os 
níveis da atividade policial. 
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS À SEGURANÇA PÚBLICA 
Ainda que o entendimento de inovações aplicadas à segurança pública não se 
limite ao meio digital, as novas tecnologias, sem dúvida, vêm ganhando cada 
vez mais destaque. 
Isso se deve ao volume massivo de mudanças que a inovação nos meios 
digitais vem causando em todas as esferas sociais, o que também se aplica à 
segurança pública. 
De acordo com as suas finalidades, as soluções tecnológicas digitais recentes 
destinam-se a: 
 
De fato, a inovação tecnológica vem ganhando muito destaque pela proporção 
de mudanças que tem gerado. Vejamos, em detalhes, algumas das principais 
soluções. 
// Biometria 
A biometria é um método de checagem de pessoas e identificação com base 
em características do perfil individual de cada pessoa. Os sistemas de controle 
biométrico são aqueles que captam, codificam e armazenam informações da 
estrutura humana para análise por meio de sistemas analógicos e digitais. É 
bastante antiga, mas ganhou bastante força com os avanços tecnológicos 
recentes (ABDI, 2010). 
Existem dois tipos principais de biometria: sistemas de verificação e sistemas 
de identificação. Os primeiros são aqueles que se utilizam de processos do tipo 
um para um, ou seja, comparam informações captadas de uma pessoa com as 
informações existentes no banco de dados para identificação. Já os segundos 
são sistemas baseados em processos de um para muitos, buscando um 
casamento das informações de uma pessoa com as de outras (ABDI, 2010). 
Entre as características físicas mais comuns de serem detectadas nos 
sistemas, há a impressão digital, aparência facial, padrão da íris, geometria das 
mãos, DNA, padrão das veias, retina e geometria. Além disso, entre as 
características comportamentais, há sistemas que analisam a voz, modo de 
assinatura, modo de andar e movimentos faciais (DALL’IGNA et al., 2016). 
Entre as características físicas mais comuns de serem detectadas nos 
sistemas, há a impressão digital, aparência facial, padrão da íris, geometria das 
mãos, DNA, padrão das veias, retina e geometria. Além disso, entre as 
características comportamentais, há sistemas que analisam a voz, modo de 
assinatura, modo de andar e movimentos faciais (DALL’IGNA et al., 2016). 
Ainda assim, as tecnologias de reconhecimento de padrões por vídeo podem 
ser entendidas como “sistemas que trabalham em conjunto com câmeras de 
vídeo para detecção de objetos perigosos, reconhecimento de padrões em 
imagens” (ABDI, 2010, p. 59). Na verdade, para além do reconhecimento facial, 
esse tipo de sistema vem sendo aprimorado para ser utilizado no 
reconhecimento de objetos, diferenciando, por exemplo, pessoas, armas, 
automóveis, placas etc., e para identificação de padrões de comportamento, 
como ações características de furto, roubo, agressão, entre outros (ABDI, 
2010). 
Ademais, esse tipo de sistema permite que as autoridades possam checar 
visualmente e em tempo real ameaças à segurança em locais públicos, ou 
seja, são muito eficientes por permitirem que poucos policiais possam cobrir a 
segurança de grandes áreas. Para além do uso em locais críticos, como 
aeroportos e grandes centros, a tecnologia pode ser utilizada em vias urbanas, 
shoppings, rodoviárias e áreas de grande circulação de pessoas. 
// Sistema de informação geográfica (SIG) 
Os ditos SIGs visam aprimorar as investigações criminais a partir dos padrões 
em sua localização. Ainda que o uso de informações geográficas e as análises 
espaciais não sejam uma novidade no trabalho policial, remetendo seu uso ao 
início do século XX, foi somente com o avanço da tecnologia que houve uma 
grande virada na sua utilização (ANSELIN; GRIFFITHS; TITA, 2008). 
EXPLICANDO 
Os boletins de ocorrência ainda são a principal fonte de informação geográfica 
para mapeamento do crime. Por meio deles, a polícia consegue identificar as 
chamadas zonas quentes (hot spots) do crime, o que possibilita uma alocação 
do efetivo policial. 
Boa parte disso se dá por conta da fragmentação existente entre os distritos 
policiais. Ainda que os policiais consigam identificar, individualmente, áreas 
com maior ocorrência de criminalidade, fica difícil ter uma imagem do todo que 
seja mais consistente, inclusive não apenas quando se fala em bairros, ou 
distritos, mas de cidades e estados (algo que mudou radicalmente com a 
integração de dados gerados pelos sistemas de informação geográfica) 
(ANSELIN; GRIFFITHS; TITA, 2008). Daí provém a inovação da capacidade de 
integração dos dados. 
As ferramentas de geocodificação funcionam a partir da transformação de 
endereços em localizações geográficas precisas (coordenadas geográficas 
bidimensionais). A partir dessa transformação, é feita a análise espacial, que 
consiste na plotagem dos dados em mapas bidimensionais, e é possível a 
agregação de dados por diferentes escopos (ANSELIN; GRIFFITHS; TITA, 
2008). 
Na verdade, a simplicidade da ferramenta é seu grande diferencial, pois é 
possível visualizar diversos recortes, como data da ocorrência, hora, época do 
ano, tipo de crime, armas utilizadas, entre outros, permitindo que a polícia 
descubra os chamados padrões do crime. 
De fato, as pesquisas mostram que o crime não é aleatório e não ocorre de 
maneira uniforme, mas tende a repetir-se em locais com fatores específicos 
(ANSELIN; GRIFFITHS; TITA, 2008). Assim, esse tipo de informação facilita às 
forças de segurança planejarem as estratégias e táticas de respostas mais 
adequadas a cada tipo de ocorrência. 
 
A Figura 4 ilustra um exemplo do sistema de informações geográficas. As 
áreas mais escuras têm maior incidência criminal nos termos da população 
residente em cada distrito, e os pontos são os homicídios propriamente ditos. 
Repare que fica fácil definir onde devem ser concentrados os esforços policiais 
para a redução do número de homicídios. 
Apesar dos SIGs serem úteis para o planejamento policial, eles não se 
resumem a isso, pois podem ser utilizados, por exemplo, na integração com 
sistemas de posicionamento global (GPS) em tempo real, permitindo, também, 
boa solução para controle de tráfego, localização de viaturas, planejamento de 
ações rápidas e envio de reforços em ocorrências em andamento 
(SORENSEN, 1997). Inclusive, essas são algumas das principais 
funcionalidades recentes que as tecnologias digitais proporcionam a esses 
sistemas. 
// Armamento não letal 
São equipamentos desenhados para incapacitar matéria ou pessoas, 
minimizando o risco de fatalidade e danos permanentes. Enquanto as armas 
convencionais, ou letais, visam à destruição física de seus alvos, por explosão, 
penetração ou fragmentação, as armas não letais visam prevenir o 
funcionamento dos seus alvos, tendo consequências, geralmente, reversíveis. 
São cada vez mais fundamentais no mundo atual, considerando as pressões 
pela diminuição do número de fatalidades, a redução de conflitos belicosos 
com o estabelecimento do jogo de forças no cenário geopolítico mundial e os 
avanços na tecnologia propriamente ditos, o que aumentou a precisão e 
eficiência das armas não letais (ALEXANDER, 1999). 
O uso de armas não letais não deve ser confundido como um fator de limitação 
da polícia, mas o contrário. O adequado uso da força pelo aparato do Estado, 
materializado nas forças de segurança, é uma eficiente forma de legitimação 
dos atores sociais encarregados da segurança pública, garantindo-lhes 
ferramentas de diferentes níveis para o exercício do trabalho (ALEXANDER, 
1999). 
De fato, não se trata de substituiras ferramentas utilizadas pelas forças 
policiais, mas de garantir proporcionalidade no uso da força conforme os 
diferentes tipos de situação, o que pode ser feito a partir do adequado 
treinamento dos operadores. Os tipos mais comuns são mostrados no Quadro 
1. 
 
Na Figura 5, é possível identificar várias armas não letais sendo empregadas. 
Além da arma com munição não letal, há granadas de gás lacrimogêneo e 
cassetetes. Cabe ressaltar que as armas não letais, apesar do nome, devem 
ser utilizadas com o adequado preparo e treinamento, visto que o uso 
indiscriminado ou excessivo pode causar danos semelhantes à tortura, ou 
também, em casos extremos, causar a morte. Assim, o treinamento de seus 
operadores é indispensável. 
// Drones e VANTs 
Drone consiste em qualquer veículo capaz de realizar tarefas de forma 
autônoma, por via terrestre, marítima ou aérea. Ainda que sejam muito 
populares atualmente, os drones foram criados pelo exército estadunidense no 
início do século XX, e utilizados em diversas guerras. Seu uso mais efetivo 
deu-se recentemente, nos anos 2000, no conflito entre os EUA e o Afeganistão, 
quando o uso de drones deixou de ser experimental (PERES, 2015). 
Os drones mais comuns no meio militar, ou também na área da segurança 
pública, são denominados VANTs (veículos autônomos não tripulados). 
Conforme o Departamento de Defesa Americano, o VANT é: 
Veículo aéreo movido à propulsão que não transporta um operador humano, 
usa forças aerodinâmicas para impulsionar-se, pode voar autonomamente ou 
ser pilotado remotamente, ser usado uma única vez ou em várias missões e 
carregar armamentos letais ou não letais. Veículos balísticos ou semibalísticos, 
mísseis de cruzeiro e projéteis de artilharia não são considerados veículos 
aéreos não tripulados (PERES, 2015, p. 31). 
Para além do uso em combate, os drones são muito úteis no cumprimento de 
missões de reconhecimento, identificação e patrulhamento de territórios e 
fronteiras, e podem ser utilizados com bastante versatilidade, ora como 
armamento, ora como transporte, além de possuírem a capacidade de 
autonomia sem operador. 
SOLUÇÕES ESTRATÉGICAS APLICADAS À SEGURANÇA PÚBLICA 
Ainda no contexto das soluções, é oportuno que se demonstre que diversas 
inovações na trajetória das organizações policiais não contaram com o aparato 
tecnológico da Era Digital. As soluções aqui apresentadas são de caráter 
estratégico e, em princípio, representam maiores mudanças nos paradigmas do 
que nas ferramentas. De toda forma, isso não significa que essas mudanças 
dispensem tecnologias e, de fato, elas podem sim ser operacionalizadas por 
meio de ferramentas digitais. O ponto é que seu diferencial provém de 
mudanças gerenciais, estratégicas. 
Entre as principais inovações desse tipo, podemos citar algumas ocorridas no 
final do século XX nas principais polícias do mundo: policiamento comunitário, 
policiamento de janelas quebradas e terceiros interessados (WEISBURD; 
BRAGA, 2006). Trataremos delas brevemente. 
// Policiamento comunitário 
O policiamento comunitário é uma estratégia inovadora que busca criar uma 
cultura nos departamentos policiais. Mais do que um produto, é um processo 
que busca reduzir o crime a partir do envolvimento dos cidadãos, resolução de 
problemas e descentralização. Na esfera do envolvimento da comunidade, 
espera-se que a polícia consiga desenvolver parcerias com organizações civis 
e com membros da comunidade. É preciso que a polícia consiga ouvir a 
comunidade e a ajude a resolver os seus principais problemas. A ideia é que o 
combate ao crime também dependa da comunidade (SKOGAN, 2006). 
É fácil perceber que essa inovação é uma mudança de paradigma, pois 
reorienta a forma que a polícia realiza várias atividades. A proximidade com a 
comunidade requer treinamento específico dos policiais: requer que as tropas 
estejam em constante contato, que disponibilizem tempo e que conheçam a 
realidade local para além de estarem presentes apenas quando alguma 
ocorrência criminal ocorre. Envolve, também, programas educacionais, para 
que a polícia se aproxime da população (SKOGAN, 2006). Um exemplo 
bastante popular aqui no Brasil é o Proerd (Programa Educacional de 
Resistência às Drogas e à Violência), realizado nas escolas de todo o País. 
Nesse sentido, a proximidade é fundamental para que a resolução de 
problemas e a descentralização ocorram, visto que a polícia consegue 
identificar com antecedência possíveis situações-problema. Em vez de ter uma 
abordagem investigativa, após a ocorrência de fatos, a orientação de resolução 
de problemas busca treinar os agentes para que identifiquem situações antes 
que ocorram, ou seja, antes que o crime ocorra, os policiais já estão treinados 
a identificar indícios de fatos precursores (SKOGAN, 2006). O exemplo do 
Proerd ilustra bem a tentativa de orientar crianças e jovens antes que ocorra 
seu aliciamento para uso de drogas. 
// Policiamento das janelas quebradas (broken windows) 
A teoria das janelas quebradas originou uma espécie de policiamento de 
mesmo nome. Basicamente, a teoria aponta um ciclo psicológico no qual a 
existência de desordem gera o crescimento do medo, o que leva ao abandono 
e, consequentemente, a mais declínio social (que se volta para a desordem). 
Nos EUA, na década de 1970, com o crescimento da criminalidade e da 
circulação de informações sobre crimes, as pessoas passaram a ter mais 
medo, ainda que a maioria delas não fosse vítima de crimes. Com o tempo, os 
cidadãos deixaram de ocupar os espaços públicos e a rua, trancando-se em 
casa devido a esse medo e deixando aqueles espaços vulneráveis à 
dominação do crime. Nesse contexto, um simples sinal de desordem, como 
uma janela quebrada, afeta a psicologia coletiva, alimentando o ciclo (TAYLOR, 
2006). 
A metáfora das janelas quebradas tem relação direta com a política de 
tolerância zero aplicada na cidade de Nova York nos anos de 1990 (TAYLOR, 
2006). A ideia era varrer o crime das ruas, incluindo qualquer tipo transgressão 
tida como moral, como bebedeira, prostituição etc., endereçando respostas 
para qualquer mínimo sinal de desordem nas localidades. 
Com isso, as organizações policiais esperavam tratar o viés psicológico de 
medo existente, servindo, inclusive, para demonstrar aos criminosos que 
aquelas localidades não estavam propícias para o crime. Ainda que haja muitas 
críticas, o fato é que houve redução na criminalidade registrada na cidade de 
Nova York. Ademais, a ideia de combater o medo e a tratar a psicologia da 
população representou uma grande inovação, de modo que, até hoje, diversas 
instituições preocupam-se em medir a sensação de insegurança da população 
(SOUSA; KELLING, 2006; PARADELLA, 2018). 
// Terceiros interessados 
A política dos terceiros interessados é definida como os esforços das forças de 
segurança para persuadir e obter a colaboração de organizações da sociedade 
civil ou pessoas influentes a fim de que contribuam para a prevenção do crime. 
Podem ser pais, empresários, líderes comunitários, servidores públicos, entre 
outros (MAZEROLLE; RANSLEY, 2006). 
Nesse sentido, as organizações policiais podem dispor de meios coercitivos ou 
de meios argumentativos (MAZEROLLE; RANSLEY, 2006). Um exemplo do 
primeiro são normas que obrigam particulares a cederem imagens de 
monitoramento em vídeo para as polícias, ou também a instalação de alarmes 
conectados às forças de segurança, como no caso das instituições financeiras. 
Em relação aos meios argumentativos, um exemplo são os projetos de 
cooperação desenvolvidos pela polícia com outras instituições, com a 
finalidade de colaborar para a prevenção criminal. Em Brasília, por exemplo, a 
polícia civil firmou termos de cooperação com a companhia energética para 
facilitar a prevenção de crimes contra a infraestrutura de energia. 
Ferramentas de gestão, comunicação e gerenciamento da informaçãoaplicadas à segurança pública 
A sociedade do final do século XX experimentou transformações ocorridas em 
diversas áreas, engendrando um grande fluxo e compartilhamento de 
informações, notícias e conhecimentos no mundo como um todo, culminando 
na denominada sociedade da informação (SILVA et al., 2008). 
Esses aspectos fizeram com que a sociedade fosse alcançada, como um todo, 
pelo desenvolvimento da Tecnologia da Informação, que, com sua capacidade 
sem paralelo de gerar, manipular e avaliar dados, foi e é aplicada como suporte 
à gestão de informações, de modo a subsidiar a tomada de decisões mais 
eficazes e eficientes, amparadas em informações de qualidade, úteis e 
significativas. 
A gestão e o gerenciamento de informações no âmbito da segurança pública, 
diante da emergência da sociedade da informação, necessitam de bons 
sistemas integrados de informação e de comunicação, amparados em uma boa 
estrutura tecnológica. Embora sejam termos indissociáveis (a gestão, o 
gerenciamento, a informação, a comunicação e a tecnologia) aplicados 
simultaneamente em um sistema que envolve o manuseio de informações, eles 
são separadamente conceituados, a fim de que seja possível a melhor 
compreensão do conteúdo. 
Assim, antes de adentrarmos os sistemas aplicados à segurança pública, serão 
conceituados os termos sistema de informação, sistema de comunicação, 
Tecnologia da Informação e sistema de gestão. Posteriormente, serão 
apresentados os diversos sistemas de gestão, comunicação e gerenciamento 
de informações aplicados à segurança pública. 
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO, DE COMUNICAÇÃO, DE GESTÃO E DE 
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 
O sistema de informação (SI) é um processo dinâmico que permite criar 
relação entre os dados e transformá-los em informação útil, por meio de um 
conjunto de conhecimentos. É composto por um conjunto de elementos inter-
relacionados que permitem a coleta, manipulação, armazenamento e 
disseminação de dados e informações, além de fornecer um “mecanismo de 
realimentação (feedback) para atingir um objetivo” (STAIR; REYNOLDS, 2015, 
p. 4). Os sistemas de informação são fundamentais para o apoio a processos 
de tomada de decisão e para a gestão de uma organização (LAUDON; 
LAUDON, 2014). 
Dentro desse contexto, os dados são fatos brutos ou eventos que ainda não 
foram analisados, organizados e dispostos para que pudessem ser entendidos 
e utilizados por uma instituição, organização ou por uma atividade (LAUDON; 
LAUDON, 2014). Por sua vez, informação é o mesmo que dados modelados 
(em um formato significativo e útil) por meio do sistema de informação (SI), ou 
seja, são os fatos organizados, processados e com valor adicional (STAIR; 
REYNOLDS, 2016). Em outras palavras, são dados que já foram minimamente 
organizados. 
Por fim, conhecimento remete ao entendimento sobre um conjunto de 
informações, refletindo a utilidade dele (STAIR; REYNOLDS, 2015). Trata-se, 
pois, de informações prontas para serem utilizadas. Tenha em mente que, no 
caso de informações, elas são dados minimamente tratados, e o conhecimento 
requer, além de informações tratadas, que elas sejam úteis e completas para 
uma tomada de decisão. 
 
O SI, então, é formado por quatro fases: entrada, processamento, saída e 
feedback. A entrada relaciona-se à captura de dados brutos, que pode ocorrer, 
por exemplo, por meio de uma ligação de um cidadão ao número de telefone 
190 (sistema de atendimento de emergência). O processamento (manipulação 
e armazenamento) refere-se às atividades de tratamento, com a conversão 
e/ou transformação das entradas em saídas úteis, ou seja, os dados brutos são 
convertidos em uma forma mais significativa e útil. Já a saída (disseminação) é 
a etapa que transfere as informações úteis às pessoas ou às atividades que as 
utilizarão. Por fim, os SIs requerem uma resposta (feedback), para que sejam 
possíveis ajustes nas atividades de entrada, processamento e saída, com a 
retroalimentação do sistema (FURTADO, 2002; LAUDON; LAUDON, 2014). 
 
Outra importante ferramenta que auxilia a tomada de decisão é a comunicação. 
De nada adiantaria o uso de um bom SI sem uma boa estrutura de 
comunicação; ela envolve “implicitamente a informação transmitida de um 
ponto a outro por uma sucessão de processos” (HAYKIN, 2004, p. 19). O 
processo de comunicação é composto por cinco componentes que formam o 
sistema de comunicação (SC): a fonte de informação, o transmissor, o canal ou 
meio de transmissão, o receptor e o destino da informação (HAYKIN; MOHER, 
2010). 
O propósito de um SC é entregar uma mensagem de uma fonte de informação, 
em um formato reconhecível, a um usuário final, que está fisicamente separado 
da fonte de informação. Esse SC pode ser de dois tipos: sistema de 
comunicação digital e sistema de comunicação analógico. A diferença entre 
ambos está na informação que será transmitida, que poderá ser digital ou 
analógica (HAYKIN; MOHER, 2010). 
Nesse sentido, o SI produz informações úteis e significativas, e o SC permite 
que elas sejam entregues ao usuário final. Todavia, diante da complexidade da 
sociedade e das organizações, há a necessidade do uso de tecnologias para o 
melhor compartilhamento e gestão das informações. 
A Tecnologia da Informação (TI) consiste, exatamente, no conjunto de recursos 
utilizados para o desenvolvimento de atividades que subsidiarão um sistema de 
informação ou um sistema de comunicação, com coleta, tratamento, 
processamento e armazenamento de dados, de forma ágil. Conforme pode-se 
notar, a TI é fundamental para os sistemas, devido ao grande fluxo de 
informações que temos e seu aspecto quantitativo. Além disso, há necessidade 
de gerar, manipular e avaliar dados, gerando informação significativa e útil (o 
aspecto qualitativo da informação) (FURTADO, 2002; STAIR; REYNOLDS, 
2015). 
Diante disso, os elementos dos sistemas de informação ou de comunicação 
que se utilizam da TI para funcionamento são: hardware, software, bancos de 
dados, telecomunicações, pessoas e procedimentos, sendo que os quatro 
primeiros também são elementos da própria TI (STAIR; REYNOLDS, 2015). 
O hardware equivale aos equipamentos computacionais que permitem realizar 
atividades de entrada, processamento, armazenagem e saída, tais como 
teclado e mouse (dispositivos de entrada), chips do computador (dispositivos 
de processamento e armazenamento), impressoras e telas de computadores 
(dispositivos de saída), entre outros. Já os softwares servem para comandar a 
operação do computador; podem ser sistemas operacionais ou aplicativos, por 
exemplo (STAIR; REYNOLDS, 2015). 
Os bancos de dados são informações organizadas de modo que se evidenciem 
as suas relações, envolvendo tecnologia de armazenamento de dados (STAIR; 
REYNOLDS, 2015; LAUDON; LAUDON, 2014). 
As telecomunicações são transmissões de sinais eletrônicos com vistas à 
comunicação, as quais podem se dar por meio de transmissão com fio, sem fio 
e via satélite (STAIR; REYNOLDS, 2015). A telecomunicação visa ligar 
diversos equipamentos, transferindo dados de um local para muitos, permitindo 
a formação de uma rede de compartilhamento de dados ou recursos, tal como 
a internet, a maior rede existente, e as intranets, redes internas baseadas na 
tecnologia da internet (LAUDON; LAUDON, 2014). 
CURIOSIDADE 
A internet é o sistema de comunicação público com maior abrangência do 
mundo. Ela teve início nos anos 1970, como uma rede criada pelo 
Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América. Ela foi criada com o 
intuito de conectar cientistas e professores universitários ao redor do mundo 
(LAUDON; LAUDON, 2014). 
As pessoas referem-se aos funcionários responsáveis por executar e 
administrar as diversas funções do sistema e aos usuários dos sistemas 
(STAIR; REYNOLDS, 2015). Por fim, os procedimentos são as estratégias, 
políticas, métodos e regras aplicadas ao sistema, ditadas pela ferramenta de

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