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MIKHAIL, Bakhtin. Estética da criação verbal; introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CAPÍTULO 1: TRIPOLOGIA HISTÓRICA DO ROMANCE
“Necessidade de revelação e estudo históricos do gênero romanesco (e não estático-formal narrativo). Diversidade das modalidades do gênero. Tentativa de classificação histórica dessas modalidades. Classificação segundo o princípio de construção da imagem da personagem central: o romance de viagens, o romance de provação da personagem, o romance biográfico (autobiográfico), o romance de educação. Nenhuma modalidade histórica concreta mantém o princípio em forma pura mas se caracteriza pela prevalência desse ou daquele princípio de enformação da personagem.” (p.205)
1. O romance de viagens
“A personagem é um ponto que se movimenta no espaço, ponto esse que não possui características essenciais nem se encontra por si mesmo no centro da atenção artística de romancista. Seu movimento no espaço são as viagens e, em parte, as peripécias-aventuras (predominantemente de tipo experimental), que permite ao artista desenvolver e mostrar a diversidade espacial e socioestática do mundo (países, cidades, culturas, nacionalidades, os diferentes grupos sociais e as condições específicas de sua vida.” (p.206)
“O tipo de romance de viagens tem como características uma concepção puramente espacial e estática da diversidade do mundo. O mundo é uma contiguidade espacial das diferenças e contrastes; já a vida é uma alternância de diferentes situações contrastantes: sucesso-insucesso, felicidade-infelicidade, vitórias-derrotas, etc.” (p.206)
“As categorias de tempo estão elaboradas de maneira sumamente débil. O tempo no romance desse tipo carece por si mesmo de um sentido substancial e de colorido histórico; até o ‘tempo biológico’ – a idade da personagem, o seu movimento entre mocidade e velhice passando pela maturidade – está ausente ou marcado apenas em termos formais. Os romances desse tipo elaboram apenas o tempo de aventura, constituídos de uma contiguidade de momentos aproximados – instantes, horas, dias -, tomados à unidade do processo temporal. As habituais características temporais nesse romance: ‘no mesmo instante’, ‘no instante seguinte’, ‘adiantou-se uma hora’, ‘no dia seguinte’, ‘um segundo antes’, ‘depois’, ‘chegou atrasado’, ‘chegou adiantado’, etc. (na descrição de choques, batalhas, duelos, brigas, assaltos, fugas e outras aventuras), ‘dia’, ‘manhã’, ‘noite’ como clima da ação aventuresca. O significado aventuresco específico da noite, etc.” (p.206)
2. O romance de provação
“O romance de segundo tipo é construído como uma série de provações das personagens centrais, de provações de sua fidelidade, de bravura, de coragem, de virtude, de nobreza, de santidade, etc. Trata-se da modalidade mais difundida de romance na literatura europeia, que engloba uma maioria considerável de toda a produção romanesca. O mundo desse romance – a rena de luta e provação da personagem, acontecimentos, aventuras – é a pedra de toque da personagem. Este é dado sempre como acabado e inalterável. Todas as suas qualidades são dadas desde o início e ao longo de todo o romance apenas são verificadas e experimentadas.” (p.207)
“O romance de provação também surge num solo antigo, e ademais nas suas duas modalidades fundamentais. A primeira modalidade é representada pelo romance grego (A Etiópica, Leucipo e Cleitofon, etc.). A segunda modalidade é representada pelas hagiografias do início do cristianismo (particularmente dos mártires). (p.207)
“A primeira modalidade – o romance grego- se constrói como provação da fidelidade amorosa e da pureza dos heróis e heroínas ideias.” (p.207)
“Esse tipo de romance, à diferença do romance de viagens, apresenta uma imagem desenvolvida e complexa do homem, a qual teve influência imensa na história subsequente do romance. Essa imagem é essencialmente única, mas a sua unicidade é específica, estática e substancial.” (p.208)
“Na segunda modalidade de romance de provação, que também surgiu ainda em solo antigo, modifica-se substancialmente o conteúdo ideológico tanto da imagem do homem quanto da ideia de provação. (...) Essa modalidade está embasada na ideia de provação pelos sofrimentos ou seduções, ideia essa que já não é de natureza externo-formal como no romance grego. A vida interior da personagem, seu habitus, torna-se elemento substancial da sua imagem.” (p.208-209)
“De igual maneira, o herói da provação é acabado e predeterminado, as experimentações (sofrimentos, seduções, dúvidas) não se tornam para ele uma experiência formadora nem o modificam, e nessa imutabilidade da personagem está toda a questão.” (p.209)
“A modalidade seguinte de romance de provação é o romance medieval de cavalaria (em sua parte maior e essencial), que sofreu, evidentemente, uma influência considerável de ambas as modalidades de romance antigo. Uma certa modalidade de tipos no âmbito do romance de cavalaria é determinada pelos matizes de conteúdo ideológico da ideia de provação (prevalência de elementos corteses eu eclesiástico-cristãos, ou místicos no conteúdo dessa ideia). Uma análise breve dos tipos essenciais de construção do romance de cavalaria em versos dos séculos XII-XIII e do romance de cavalaria em prosados séculos XVIII-XIX e seguintes (até o Amadis e os Palmeirins inclusive).” (p.209)
“Por último, a modalidade pura mais significativa e historicamente influente do romance de provação é o romance barroco.” (p.209)
“(...) O romance barroco soube tirar da ideia de provação todas as possibilidades de enredo nele contidas para a construção do romance de grande abrangência. Por isso o romance barroco é que melhor revela as possibilidades organizacionais da ideia de educação e ao mesmo tempo as limitações e estreitezas da sua penetração realista na realidade. O romance barroco é o tipo mais puro e coerente de romance heroico, que revela uma peculiaridade de heroificação romanesca em sua diferença em face da épica. O barroco não admite nada de mediano, normal, típico, habitual; tudo aí é levado às mais grandiosas proporções.” (p.209)
“A despeito de todas as diferenças entre as referidas modalidades históricas do romance de provação, todas elas possuem um determinado conjunto e traços comuns essenciais, que definem o significado desse tipo na história do romance europeu.” (p.210)
“1. O enredo: O enredo no romance de provação sempre se constrói com desvios em face do fluxo normal da vida das personagens, em acontecimentos excepcionais e situações que não existem na biografia típica, normal, comum do homem.” (p.210) 
“O romance de provação sempre começa onde começa o desvio em relação ao curso social normal e biográfico da vida, e termina onde a vida volta ao curso normal. Por isso, os acontecimentos do romance de provação, sejam eles quais forem, não criam um novo tipo de vida, uma nova biografia humana, determinada pelas condições mutáveis de vida. Fora do âmbito do romance, a biografia e a vida social continuam habituais e inalteradas.” (p.210-211)
“2. O tempo: “(A falta de limitações, a infinidade do tempo da aventura, a nomeação das aventuras). Antes de mais nada, no romance de provação encontramos a elaboração subsequente e o detalhamento do tempo da aventura (retirado da história e da biografia). Além disso, aqui, particularmente no romance de cavalaria, surge o tempo lendário (sob influência do Oriente). Esse tempo se caracteriza precisamente pela violação das categorias normais de tempo: por exemplo, em uma noite realiza-se um trabalho de alguns anos ou, ao contrário, os anos transcorrem em um instante (o motivo do sonho enfeitiçado).” (p.211)
“Uma conquista substancial do romance de provação no campo da elaboração da categoria de tempo é o tempo psicológico (particularmente no romance barroco). Esse tempo possui sensibilidade subjetiva e durabilidade (na representação do perigo, das expectativas angustiantes, da paixão não saciada, etc.). Mas esse tempo psicologicamente colorido e concretizado carece de localização substancialaté mesmo no conjunto do processo vital do indivíduo.” (p.211)
“3. A representação do mundo: O romance de provação, à diferença do romance de viagens, está concentrado na personagem central; o mundo em volta e as personagens secundárias, na maioria dos casos, transformam-se em pano de fundo para a personagem central, em decoração em ambiente; ainda assim o ambiente ocupa um grande espaço no romance (particularmente no barroco).” (p.211-212)
“Entre o herói e o mundo não existe interação autêntica; o mundo não é capaz de mudar o herói, ele apenas o experimenta, e o herói não influencia o mundo, não lhe muda a face; ao passar pela provação, ao afastar os seus inimigos, etc., o herói deixa no mundo tudo nos seus lugares, não modifica a face social do mundo, não o reconstrói, e, aliás, nem tem tal pretensão.” (p.211)
3. O romance biográfico
“O romance biográfico também é preparado ainda em solo antigo: nas biografias antigas, autobiografias e confissões do período inicial do cristianismo (terminados em Agostinho). Entretanto, a questão não vai além de preparativos. Em linhas gerais, no fundo o romance biográfico nunca existiu em forma pura. Existiu em princípio de e informação biográfica (autobiográfico) da personagem do romance e da respectiva informação de alguns outros elementos romanescos.” (p.213)
“A forma biográfica no romance apresenta as seguintes modalidades: a velha forma ingênua (ainda antiga) do êxito-fracasso; depois os trabalhos e as obras; a forma confessional (biografia-confissão); a forma importante dessas modalidades: o romance biográfico familiar.” (p.213)
“Todas essas modalidades de construção biográfica, inclusive a mais primitiva entre elas, construída com base na enumeração de vitórias e fracassos, têm como característica uma série de importantes peculiaridades.” (p.213)
“(...) O enredo da forma biográfica, à diferença do romance de viagem e do romance de aprovação, não é construído com base nos desvios em relação ao curso normal e típico da vida, mas precisamente nos elementos basilares e típicos de toda a trajetória vital: nascimento, infância, anos de aprendizagem, casamento, construção do destino, trabalho e afazeres, morte, etc., isto é, precisamente com base naqueles elementos existentes antes do início ou depois do término do romance de provação.” (p.211)
“(...) Apesar da representação da trajetória vital da personagem, sua imagem no romance puramente biográfico carece de uma formação autêntica, de desenvolvimento; modifica-se, constrói-se, forma-se a vida da personagem, do seu destino, mas a própria personagem continua essencialmente inalterada. A questão se concentra ou nos afazeres, façanhas, méritos, criações, ou na organização do destino vital, da felicidade, etc.” (p.214)
“(...) O surgimento do tempo biográfico é uma peculiaridade essencial do romance biográfico. Diferentemente do tempo aventuresco e lendário, o tempo biográfico é plenamente real, todos os seus momentos estão vinculados ao conjunto do processo vital, caracterizam esse processo como ilimitado, singular e irreversível. Cada acontecimento está localizado na totalidade desse processo vital e por isso deixa de ser aventura.” (p.214)
“O tempo biográfico como tempo real não pode deixar de ser incluído (incorporado) no processo mais longo do tempo histórico, se bem que histórico em termos embrionários. A vida biográfica é impossível fora de época, cuja durabilidade, que vai além dos limites de uma vida única, é representada antes de tudo pelas gerações.” (p.214)
“A construção da imagem da personagem no romance biográfico: Aqui a heroificação desaparece quase inteiramente (mantém-se apenas parcialmente e em forma modificada nas hagiografias). Aqui a personagem não é um ponto em movimento do romance de viagens e desprovido de características essenciais.” (p.215)
CAPÍTULO 2: O PROBLEMA DO ROMANCE DE EDUCAÇÃO
“O tema central do nosso trabalho são o espaço-tempo e a imagem do homem no romance. O nosso critério é a assimilação do tempo histórico e do homem histórico nesse tempo. Essa tarefa objetiva é, no fundamental, de natureza teórico-literária. Mas toda tarefa teórica só pode ser resolvida com base em um material histórico concreto. Além disso, essa tarefa também é demasiado ampla em si mesma e precisa de certa limitação, e isso tanto do ponto de vista teórico quanto histórico.” (p.217)
“Antes de mais nada, é necessário destacar rigorosamente o elemento da formação substancial do homem. A imensa maioria dos romances (e das modalidades romanescas) conhece apenas a imagem da personagem pronta. Todo o movimento do romance, todos os acontecimentos e aventuras nele representados deslocam o herói no espaço, deslocam-se pelos degraus da escada da hierarquia social(....).” (p.217)
“Entretanto, a despeito de todas as possíveis diferenças de construção na própria imagem da personagem não há movimento, não há formação. A personagem é aquele ponto imóvel e fixo em torno do qual se realiza qualquer movimento no romance.” (p.219)
“A formação do homem pode, entretanto, ser muito diversificada. Tudo depende do grau de assimilação do tempo histórico real.” (p.220)

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