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FUNDAMENTOS DA GESTÃO PÚBLICA Profª Me Mirian Aparecida Micarelli Struett Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração Douglas Crivelli Revisão Textual Leandro Vieira Web Designer Thiago Azenha FICHA CATALOGRÁFICA UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí- PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376, KM 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP S927f Struett, Mirian Aparecida Micarelli Fundamentos da gestão pública / Mirian Aparecida Micarelli Struett. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 83 p. : il. Color. 1. Administração pública. 2. Direito Administrativo. I.. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 351.81 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 A U T O R Profª Me Mirian Aparecida Micarelli Struett Possui Mestrado na área de Gestão de Negócios pela Universidade Estadual de Londrina, em consórcio com a Universidade Estadual de Maringá (UEL/UEM). Possui especialização em Novas Tecnologias da Ead pela UniCesumar e graduação em Administração pela Universidade Estadual de Maringá. É funcionária pública na área de Gestão Hospitalar, desde 1992, e atua na função de Gestor de Contratos e Convênios no Hospital Universitário Regional de Maringá; também, é docente de Graduação e Pós-Graduação nas áreas de Gestão Organizacional desde 2005. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3388750064285917 APRESENTAÇÃO É com muito prazer que apresento a você o livro que fará parte da disciplina Fundamentos da Gestão Pública. A equipe da FATECIE e eu, preparamos este livro com muito esmero para que você adquira conhecimentos necessários sobre a Administração e Gestão Pública. Portanto, prezado estudante, delinearemos o caminho para que você alcance esse objetivo, a partir da apresentação das quatro unidades deste livro. A Unidade I possibilitará uma maior compreensão sobre o papel do Estado e a Administração Pública. Portanto, iniciamos nossa compreensão a partir da teoria contratualista com Hobbes, Locke e Rousseau e a formação dos sistemas sociais e políticos. Em seguida, conheceremos o sistema de freios e contrapesos de Montesquieu e as principais instituições políticas no Estado Brasileiro. Na Unidade II delinearemos a concepção histórica e a reformas constitucionais e estruturais ocorridas no Estado Brasileiro, bem como apresentaremos como se desenvolveram o modelos de Administração Pública, começando pelo Patrimonialismo, com a chegada da Administração burocrática e a Administração Gerencial. Na Unidade III trataremos os principais aspectos contemporâneos dos modelos de Administração e Gestão Pública enfatizando as novas formas de Administração e Gestão, com ênfase também no papel das organizações sociais, PPPs e das agências reguladoras e principalmente demonstrando como os gestores devem atuar buscando a governança e a qualidade de gestão almejada pelo usuário do serviço público. Por fim, na Unidade IV será apresentado os instrumentos de atuação do Estado. Basicamente e sucintamente apresentamos nesta unidade, o instrumento de atuação por meio das políticas públicas, as principais características do orçamento público e como ocorrem as compras, contratos administrativos e repasses do Estado para entes da administração pública e privada bem como é a relação entre Estado, Governo e Mercado e o controle e participação cidadã. Bons Estudos! SUMÁRIO CAPÍTULO 1 07 | Estado e Administração Pública CAPÍTULO 2 26 | Administração Pública Brasileira: Concepção Histórica e Reformas CAPÍTULO 3 44 | Modelos de Gestão Pública e Desafios CAPÍTULO 4 64 | Instrumentos de Gestão Pública PÁGINA 7 CAPÍTULO 1 ESTADO E ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA Esta Unidade possibilita maior compreensão sobre o papel do Estado e da Administração Pública. Para isso é fundamental conhecer a teoria contratualista, a formação dos sistemas sociais e políticos, o sistema de freios e contrapesos de Montesquieu e as principais instituições políticas no Brasil. Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett Objetivos da Aprendizagem: • Apresentar a teoria contratualista na visão dos pensadores Hobbes, Locke e Rousseau • Conceituar e contextualizar a definição de Estado e dos sistemas sociais. • Conceituar e contextualizar a Administração Burocrática por Weber • Apresentar o sistema de freios e contrapesos de Montesquieu • Apresentar as principais instituições políticas no Brasil Plano de Estudo: • Teoria Contratualista (Hobbes, Locke e Rousseau) • Função do Estado e a Administração Pública • O sistema de freios e contrapesos de Montesquieu • Principais Instituições Políticas no Brasil PÁGINA 8 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Esta Unidade possibilita maior compreensão sobre o papel do Estado e sua formação enquanto Administração Pública e Política. Portanto será apresentado a você, prezado estudante, a teoria contratualista na visão dos pensadores Hobbes, Locke e Rousseau, em seguida a necessidade da formação dos sistemas sociais com ênfase na organização burocrática e na administração pública e o motivo pelo qual houve a necessidade do sistema de freios e contrapesos de Montesquieu. Ao final, sucintamente será apresentada as principais instituições políticas no Brasil. Iniciaremos esta unidade traçando sobre a formação e necessidade do Estado, a partir da Teoria Clássica, ou seja, da Teoria Contratualista de Hobbes, Locke e Rousseau, explicando sobre o Estado de Natureza, a sociedade civil, a necessidade de Estado e do Contrato Social. Em seguida será apresentado a função tríplice do Estado e alguns conceitos sobre os sistemas sociais e político e sua forma de organização. Neste momento, será apresentado a necessidade da legitimação deste Estado enquanto soberano e também de como essa legitimidade poderia se fortalecer por meio do sistema político, com o enfoque na Burocracia de Weber. A Burocracia de Weber é considerada o modelo ideal para a Administração Pública, pois apresenta algumas características que podem colaborar com a eficiência dos serviços prestados pelo Estado ao seu povo. Em seguida, será apresentado o sistema de freios e contrapesos de Montesquieu, e como o próprio nome já diz, é um sistema que serve de controle para o poder político que é concretizado por meio da constituição dos três poderes: legislativo, executivo e judiciário. Na Administração Pública será apresentado o seu conceito básico bem como como estas Instituições Políticas executam o seu papel no Sistema Brasileiro. Bons Estudos! PÁGINA 9 1 ESTADO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O Estado surgiu num momento histórico condicionado por uma série de fatores sociais, políticos e econômicos com o objetivo de organizar a nova estrutura institucional de poder (COSTIN, 2010). Foi a partir do século XVII, que surge a Teoria Clássica do Estado condicionada pelo poder econômico e político na Europa, época em que o sistema feudal declinava a partir de diversas guerras civis e das profundas mudanças em relação a concentração e centralização de poderes em determinados territórios. O feudalismo sofre derrotas com a emergência das monarquias absolutistas e só é eliminado com industrialização e o predomínio da classe burguesa e o estabelecimento do sistema capitalista que passa a se burocratizar e a se racionalizar, pois a unidade básica de produção, a família passa a ser a empresa burocrática, na qual as organizaçõese o Estado dominam (BRESSER-PEREIRA, 1963). O Estado é chamado a agir como um mediador civilizador, principalmente quando ocorrem uma série de mudanças, na qual se desenvolvia a Teoria do Estado Liberal, baseado nos direitos individuais e na ação do Estado que visava o bem comum, rompendo com a lei divina e colocando o poder político e econômico de forma racional. 1.1 Teoria Contratualista No final do século XVII aparece a redefinição do Estado de Natureza (condição natural do homem) e a formulação dos direitos individuais, que vem a substituir a lei divina como fundamento das hierarquias políticas da época. De acordo com Carnoy (2013), embora Maquiavel buscasse o aperfeiçoamento na arte de governar, ensinando aos príncipes a expandirem seu governo por meio de uma abordagem científica e positiva, outros filósofos baseiam suas teorias de Estado na natureza humana, no comportamento individual e na relação entre indivíduos. Hobbes e Rousseau, em seu pensamento político concordam que a propriedade privada não é um direito natural, mas sim um direito civil, ou seja, mesmo que no estado de natureza (em Hobbes) e no estado de sociedade (em Rousseau) os indivíduos obtenham terras e bens, sem as leis essa posse não é garantida, por isso a necessidade de um contrato social a partir de um decreto soberano (CHAUÍ, 2000). Os três clássicos que melhor representam a teoria clássica do Estado é PÁGINA 10 Hobbes, Locke e Rousseau (CARNOY, 2013): 1.1.1 Thomas Hobbes De acordo com Carnoy (2013), o livro Leviathan de Thomas Hobbes (1968), inicialmente publicado em 1651, foi considerado um método inteiramente novo de encarar a sociedade Política e teve como finalidade sistematizar o comportamento político humano, de acordo com a lógica dedutiva e as leis dos movimento e conceitos do século XVII. Sua finalidade foi servir como um modelo ao comportamento do indivíduo com fundamento na teoria política e não na ação do Estado eficiente, de forma que o homem deveria ser refreado (renúncia do poder individual) por um agente externo, admitindo um poder soberano perpétuo que possibilitasse a satisfação de seus apetites (suas paixões) e a aversão (a morte e guerras). Hobbes demonstra sua tese como a renúncia do poder do indivíduo em favor de um soberano haja vista que a luta onipresente pelo poder levaria ao colapso da sociedade e ao aumento da probabilidade de morte violenta, de modo que seria prudente esperar e abrir mão de todo o poder a um soberano que pudesse prevenir esse colapso. O argumento de Hobbes é introduzido a partir da abstração lógica do homem e o “Estado de Natureza”, ou seja, uma condição hipotética demonstrando que não há poder comum para o controle dos indivíduos, nem lei ou coação, mas sim que o homem civilizado deveria sair desta condição, ou seja, do Estado de Natureza. Ocorre que no Estado de Natureza há também direitos naturais humanos a serem preservados. Segundo Carnoy (2013, p. 27) “por essa razão há uma tensão entre preservar a liberdade vantajosa no estado de natureza e o medo da violência e da guerra, que logicamente esse estado produz”. Neste sentido, isso levaria à renúncia do poder individual em favor de um soberano, reduzindo-o a impotência. Hobbes se opõe primeiro porque a sujeição é melhor que a guerra e a morte e segundo porque não seria de interesse do soberano tirar sua liberdade já que sua força vem do vigor dos súditos. Como não houve submissão, a paixão individual ganhou força com a troca de bens no mercado livre, na qual a paixão dos homens ficou contida na maximização dos seus interesses econômicos, ou seja, menos violência na busca pelo ganho em um contexto pacífico de mercado. PÁGINA 11 1.1.2 John Locke Mais de quarenta anos depois de Hobbes, em 1692, John Locke surge num momento histórico na Inglaterra de guerras, emergência da burguesia em oposição ao feudalismo. Em vez de “Estado de Natureza” não primitivo - o estado de perfeita liberdade individual, ou seja, tem direitos, como assegurar e preservar sua propriedade e ao mesmo tempo ser juiz e executor da lei natural, na qual esse estado de natureza pode se transformar em um estado de guerra, ou seja, o homem pode submeter outro ao seu poder absoluto (CARNOY, 2013). Neste pensamento, os homens juntos - para se defenderem contra o estado de guerra - deveriam se juntar em uma sociedade política, apoiada por um corpo de leis, na qual os homens entregam os direitos de autopreservação da propriedade à comunidade (O Estado). Locke diverge de Hobbes quanto à natureza do soberano, ou seja, na sua definição de sociedade política a monarquia absoluta é incompatível com a da sociedade civil. Desta forma, Locke exclui a monarquia absoluta e insiste para que o poder seja dado a um corpo coletivo de homens, na qual entregam seu poder (natural) a outrem, a um poder legislativo que elaborará e fará cumprir as leis mantendo a propriedade individual e a segurança pessoal, e ainda garantindo que esse poder reside nos indivíduos que compõem a sociedade civil (e podem dissolvê- lo), ainda que tenham delegado sua governança. Assim, tanto o legislativo quanto o executivo tem poder político enquanto refletem a vontade dos membros individuais da sociedade, na qual reside o verdadeiro poder político. Para Hobbes, de acordo com Chauí (2000), o soberano pode ser um rei, um grupo de aristocratas ou uma assembleia democrática, na qual o fundamental não é o número dos governantes, mas a determinação de quem possui o poder ou a soberania cujo poder é de modo absoluto do Estado por meio de suas instituições públicas. Assim, o Estado têm o poder para legislar e aplicar as leis, definindo e garantindo a propriedade privada ao mesmo tempo em que tem a obediência incondicional dos governados, desde que ele, o Estado respeite os dois direitos naturais intransferíveis (o direito à vida e à paz). O soberano, neste sentido detém a espada e a lei enquanto os governados, a vida e a propriedade dos bens. 1.1.3 Jean-Jacques Rosseau É no conceito de sociedade civil que Rousseau difere de Locke, pois para ele a sociedade é uma descrição do modo como os homens são encontrados na sociedade, ou seja não como uma construção ideal ou hipotética mas como uma realidade. Rousseau vê o homem como sem moralidade, mas PÁGINA 12 sem maldade, o qual é corrompido não pela natureza, mas pela posse da propriedade e pela formação da sociedade civil, ou seja, a sociedade é que é corrupta (CARNOY, 2013). Em resumo, segundo Carnoy (2013), Locke vê a posse da propriedade como a base de uma sociedade justa e equitativa enquanto Rousseau a considera como a origem do mal e da desigualdade, ou seja, a considera como o produto da voracidade do homem, do mais rico e poderoso (do homem rico-classe dominante), cuja sociedade é formada em função de seus interesses, mas não necessariamente das massas, na qual em uma sociedade desigual acha necessário preservar a ordem, controlar as tentativas de usurpá-las e legitimar a exploração ao pobre. Conforme Chauí (2000), de acordo com Locke, os homens a partir da sociedade civil entregam suas liberdades naturais para obterem segurança sendo este um produto da racionalidade humana, na qual a passagem desse estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um contrato social. É neste momento que os indivíduos renunciam à liberdade natural (posse natural de bens, riquezas e armas) e transferem ao soberano – quem tem poder de criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política a partir do contrato social. Desta forma, Rousseau citado por Carnoy (2013), apresenta o Estado não como benéfico a todos mas, destinado a preservar a desigualdade política e social. Neste sentido, acreditando que os homens gostariam de viver como iguais e livres, descreve o Estado como On the social contract em 1762, ou seja, o fundamento deste contrato social, onde o Estado age sob a direção da vontade geral. Tanto Locke quanto Rousseau concordamque embora a vontade geral trate as pessoas de forma equitativa, nem todos os cidadão são iguais, por isso entendiam que poderia haver classes de cidadãos, enquadrados pelo mérito do nascimento ou de propriedade, mas não de classes sociais. Foi em seu Discourse on political economy em 1755, que Rousseau a Intervenção do Estado como necessário, pois esclarece que o Estado, através das tarefas do governo deveria prevenir a extrema desigualdade da riqueza, cujo governo deveria não a expropriação, mas a eliminação dos meios das pessoas acumulá-las, bem como protegendo os cidadãos para não se tornarem pobres, mas complementados pela educação e a prevenção da desigualdade em desenvolvimento (CARNOY, 2013). PÁGINA 13 REFLITA O poder é conferido ao soberano pelo povo – para legitimar a teoria do contrato social. Como é possível o contrato social? Qual sua legitimidade? Se a função do estado é de garantir e defender a propriedade privada contra a nobreza e os pobres, qual é o poder do soberano? Fonte: CHAUÍ, 2000. 1.2 Função do Estado e a Administração Pública De acordo com Chauí (2000), Locke (precursor da teoria liberal), os realizadores da Independência norte-americana e da Revolução Francesa e pensadores como Max Weber, a função do Estado é tríplice, quais sejam: 1. O Estado garante o direito natural de propriedade dos indivíduos por meio das leis e do uso legal da violência (exército e polícia) respeitando a liberdade econômica dos proprietários privados; 2. O Estado, neste sentido, não tem poder instituinte, mas apenas a função de garantidor e de árbitro dos conflitos que possam existir, tendo como função a arbitragem por meio das leis e da força; 3. O Estado tem o direito de legislar, permitir e proibir tudo quanto pertença à esfera da vida pública, mas não o direito de intervir sobre a consciência dos governados, emitindo censura somente em caso de risco ao próprio Estado. O sistema capitalista desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da burocracia, criando a necessidade de uma administração estável, rigorosa, intensiva e incalculável que dá a burocracia um papel central em nossa sociedade se tornando um elemento fundamental na administração de massas (WEBER, 1966). Assim, dentro do contexto de Liderança do Estado, uma comunidade humana que depende do uso do estado como o uso legítimo da força física dentro de determinado território necessita de legitimidade. Weber desdobra a natureza dos elementos essenciais que se constitui o Estado e chega-se ao conceito de autoridade e legitimidade, ou seja, para que o Estado exista é necessário que o conjunto de pessoas obedeça a autoridade delegada pelos detentores do poder no referido Estado, por isso necessário que estes tenham seu poder legitimado, na qual a autoridade é definida em três tipos: racional-legal, tradicional e carismática (Textos selecionados de Weber, 1997): PÁGINA 14 O racional-legal, foco maior de nosso interesse, segundo Weber (1997) tem como fundamento a crença na validade do estatuto legal e da competência funcional, baseada em regras racionalmente criadas. Assim, quando essa autoridade legal-racional envolve um corpo administrativo organizado, toma a forma de estrutura burocrática amplamente analisado a seguir. A autoridade tradicional é imposta por procedimentos considerados legítimos e aceita em nome de uma tradição reconhecida como válida e a carismática é um tipo de apelo que se opõe às bases de legitimidade da ordem estabelecida e institucionalizada. 1.2.1 Weber - Estado, Organização Burocrática e a Administração Pública De acordo com Bresser-Pereira e Motta (2000) um sistema social é constituído por grupos ou família com um grau de formalização da estrutura organizacional e podem ser organizados ou não. No extremo oposto temos as organizações ou as burocracias (quanto mais organizado, mais se aproxima do modelo ideal de organização burocrática). Max Weber considera as organizações (sistema social racional em que há especialização e divisão do trabalho em que o critério principal é a eficiência) como um dos tipos de sistemas sociais. A seguir, a demonstração dos sistemas sociais. Figura: a Organização Burocrática entre os sistemas sociais. Fonte: Karl Mannheinn p. 104 citado por BRESSER-PEREIRA; MOTTA, 2000. PÁGINA 15 Max Weber é conhecido na Administração Pública por sua análise da burocracia racional e da burocracia de tipo ideal, ocorrida num contexto de dominação social. Descreve sobre o sistema de autoridade, como forma de estabelecer e assegurar a crença de sua legitimidade que podem ocorrer de forma diferente dependendo do tipo do staff administrativo que dá suporte à essa autoridade, ou seja, em termos específicos Weber identifica em três tipos puros a autoridade ou dominação legítima (DENHARDT, 2012): • Autoridade legal - pautada na crença da legalidade de certos padrões/ regras e no direito dos que detêm autoridade legal para dar ordens; • Autoridade Tradicional - baseada na importância das tradições duradouras e dos governantes que mantém a tradição; • Autoridade Carismática - baseada no afeto ou devoção a um indivíduo. De acordo com Denhardt (2012) a autoridade legal desempenhada por um staff administrativo burocrático esboça as características centrais de como funciona uma organização burocrática e como devem atuar seus funcionários, quais sejam: 1. São livres pessoalmente, entretanto estão sujeitos à autoridade em relação às suas obrigações impessoais. 2. Organizados em uma hierarquia. 3. Existe a clara definição de competência. 4. A seleção e a relação contratual é livre na definição do cargo a ser ocupado. 5. Os candidatos são selecionados com base em qualificações (técnicas) e nomeados ou eleitos. 6. A remuneração é com salário fixo e na maioria das vezes com direito a pensão e somente em certas condições, a autoridade empregadora, especialmente nas privadas, têm o direito de anular uma nomeação, levando em conta a responsabilidade da posição e as demandas do status social do ocupante do cargo. 7. O cargo é o único ou a principal ocupação de seu titular. 8. O cargo constitui uma carreira e a promoção por desempenho baseia-se baseada no julgamento de superiores. 9. Os funcionários desempenham o trabalho de modo dissociado da propriedade dos meios de administração e sem a apropriação de suas posições. 10. Os funcionários estão sujeitos à disciplina e controles na condução de seu cargo. Para Bresser-Pereira e Motta (2000), as burocracias têm sua fonte de legitimidade no poder racional-legal, assim as organizações são sistemas sociais racionais (formais, impessoais e dirigidos por administradores profissionais). PÁGINA 16 1.3 O sistema de freios e contrapesos de Montesquieu De acordo com Maldonado (on line), a separação dos poderes envolve a limitação do poder político na qual a síntese visa a expressar os interesses de ricos e pobres dentro do contexto aristotélico uma vez que a vontade do soberano se confundia com a vontade do Estado, sendo assim o desenvolvimento sistematizado da doutrina da separação dos poderes como técnica de limitação do poder é levado a cabo por Locke e montesquieu. Mas qual seria a finalidade dos contrapesos? JOHN H. GARVEY e T. ALEXANDER ALEINTKOFF ensinam que o balance (contrapesos, equilíbrio) surge na Inglaterra, a partir da ação da Câmara dos Lordes (nobreza e clero) equilibrando (balanceando) os projetos de leis oriundos da Câmara dos Comuns (originados do povo), a fim de evitar que leis demagogas, ou formuladas pelo impulso momentâneo de pressões populares, fossem aprovadas. Na verdade, o objetivo implícito era conter o povo, principalmente contra as ameaças aos privilégios da nobreza (MALDONADO, on line, p 17). Para Locke, como já vimos é o legislativo que se sobressai, já os demais poderes dele derivam e a ele estão subordinados. Compete ao poder executivo, cuja existência é perene, a aplicação das leis. É, contudo, segundoMaldonado (s.d. On line, p. 6) Montesquieu, o principal e único responsável pela inclusão poderes fundamentais do Estado, na qual apresenta “uma de suas justificativas para a existência da Câmara Alta (corpo legislativo formado por nobres, ao lado do corpo legislativo formado por representantes do povo)”. Existem duas outras importantes ferramentas iniciais do sistema de freios e contrapesos. O veto e o impeachment. Neste sentido, em síntese, a oposição do Rei - no caso atual o Presidente que não mais participa do processo legislativo, apenas o controla, podendo impedir que a legislação entre em vigor através do veto e o impeachment, por sua vez, surge como um mecanismo jurídico que permite ao parlamento o controle sobre os atos executivos dos Ministros do Rei (ou Presidente), controlando o exercício da sua função executiva. Assim, de acordo com Maldonado (on line), de acordo com a Constituição de 1988: a. há controle do poder executivo exercido em relação ao legislativo através do veto por parte do executivo; b. há controle do poder executivo exercido em relação ao judiciário por PÁGINA 17 meio da fiscalização e correção da atividade jurisdicional; c. controle do poder judiciário em relação ao poder legislativo por meio do controle jurisdicional das leis produzidas; d. controle do poder judiciário exercido em relação ao executivo por meio de sanção; sendo uma outra interferência ocorre entre judiciário e legislativo sobre o poder executivo no controle e correção; e. controle do poder legislativo em relação ao executivo por meio da fiscalização; f. controle do poder legislativo em relação ao poder judiciário por meio das comissões de inquérito parlamentar, as CPIs. 1.3.1 Poderes Fundamentais do Estado Brasileiro O Brasil adota a função clássica Tripartite concebida por Montesquieu. De acordo com Costin (2010), a constituição Brasileira foi preparada por uma Assembleia Constituinte refletindo os direitos políticos e sociais dos cidadãos. Desta forma, os poderes da União são divididos em três, conforme artigo 2º da Constituição Federal de 1988: Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. • O poder legislativo tem como função típica legislar e fiscalizar e como função atípica administrar (organização interna) e julgar. Seu objetivo é elaborar normas de direito que são aplicadas a toda sociedade e também sua função está relacionada à veracidade de orçamentos públicos, licitações, contratos firmados e ainda a contratação de funcionários públicos. É representado pelo Congresso Nacional e realizado na Câmara dos Deputados e pelo Senado (sistema bicameral). • O poder executivo tem a função de Administrar os interesses da nação. Representantes têm como função típica administrar a coisa pública (república) e como função atípica, legislar e julgar – assegurar o cumprimento da Lei nos três níveis de atuação. É representado por todo o aparato de órgãos existentes para a realização e prestação de serviços públicos. • O Poder Judiciário tem como função aplicar a lei a um caso concreto (julgar a adequação ou inadequação), resultante de conflito de interesses bem como as de natureza administrativa e legislativa. São órgãos do Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ) e tribunais regionais federais (TRF), Justiça Federal Comum: Justiça do Trabalho, Eleitoral e Militar e Justiças Estaduais. PÁGINA 18 1.4. Instituições Políticas De acordo com Couto (2013) as instituições são socialmente construídas e condicionam as ações dos indivíduos em grupos. Neste sentido, há instituições sociais, informais, econômicas, e há também as instituições políticas, que de alguma forma visam ao Estado e fazem parte dele. Têm o Estado em vista, sem propriamente o integrar, os partidos políticos, os grupos de pressão, e outras organizações sociais que buscam operá-lo, influenciá- lo, tomá-lo ou reformá-lo. Todo Estado também é um conjunto ou sistema de instituições, como a lei, os órgãos da burocracia pública e os ramos de governo (COUTO, 2013, p. 480). Instituições são definidas como um sistema de regras e incentivos, as instituições não têm objetivos/metas, mas propósitos ou funções sistêmicas. Portanto são funcionais ou disfuncionais em vez de eficazes ou ineficazes, dentro de determinada ordem governança. A organização política de um país requer organizações hierárquicas (PINTO, 2008). 1.4.1 Principais Instituições Políticas no Estado Brasileiro A Estrutura Institucional do Estado baseia-se em normas formais e informais, regras e normas que não tem objetivos e metas somente, mas propósitos e funções, sendo portanto funcionais ou disfuncionais caso não haja governança. A instituição Estado, desempenha funcionalmente enquanto as organizações ligadas ao Estado operam para atingir objetivos, de forma que o Estado é constituído de várias organizações (PINTO, 2008). Matias-Pereira (2010, p. 177) expõe acerca da expressão Administração Pública, cujo conceito expressa, num sentido amplo como: [...] todo o sistema de governo, todo o conjunto de ideias, atitudes, normas, processos, instituições e ou- tras formas de conduta humana, que determinam: (a) como se distribui ou se exerce a autoridade po- lítica; (b) como se atendem aos interesses públicos. O Brasil é um Estado Republicano, democrático e representativo que atua de forma federativa e presidencialista por meio de três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário, cuja federação é formada pela união de 26 Estados, Municipalidades e Distrito Federal em três níveis de governo: União, Estado e Municípios, sendo essa constituição da República Brasileira considerada como um Estado Democrático de Direito regida por uma PÁGINA 19 constituição de Estado, Leis, Decretos e Regulamentos (COSTIN, 2010). O aparelho do Estado, ou melhor, a Administração Pública, em sentido amplo, ou seja, em termos de estrutura organizacional envolve esses poderes. Assim, a Administração Pública em sentido amplo é constituída pelo governo, ou seja, pela cúpula dos dirigentes nos três poderes, por um corpo de funcionários (servidores públicos) e pela força militar (CHIAVENATO, 2012; MATIAS- PEREIRA, 2010; NASCIMENTO, 2006, COSTIN, 2010). Desta forma, os três poderes são exercidos de forma compartilhada entre os entes federativos (União, Estados membros e Municípios), sendo o papel do executivo, considerado preponderante sobre os demais poderes haja vista que tem como objetivo exercer o poder de polícia dos Estados (fiscalização do cumprimento das normas à punição dos infratores). Já o legislativo exerce o poder central e o Judiciário tem como papel mediar a relação entre governante e assembleia. A partir das prerrogativas constitucionais, o governo tem como finalidade: definir planos de ação e políticas públicas, bem como dirigir e comandar a Administração Pública, já a Administração Pública em sentido estrito é representada pelo conjunto de órgãos e agentes que exercem a função administrativa, ou seja, transforma em ações, as decisões do governo, exercendo o poder de polícia e prestando serviços públicos fomentando e intervindo no domínio econômico (NASCIMENTO, 2006; COSTIN, 2010). Como afirma Nascimento (2006, p. 5), a estrutura administrativa será proporcional aos serviços que os entes estaduais e municipais colocam à disposição da população. PÁGINA 20 SAIBA MAIS Registram-se algumas objeções à teoria Contratualista. Em primeiro lugar pode dizer-se que, se não houve realmente contrato, então nem os governos, nem as pessoas estão “obrigadas” a cumprir as suas promessas. Isto que faz que — de acordo com o contratualismo — nenhum governo seja legítimo. Defende-se, como alternativa, que essa consequência é implausível, uma vez que o que legitima os governos atuais — e a obrigação que lhes é devida — é a justiça da suas ações, e não a sua hipotéticaorigem contratual. Também que a insistência na justificação contratualista acaba por abranger não só os governos justos, mas também os injustos. Um contratualista pode defender-se dizendo que as pessoas assinam um contrato que estimula a obediência apenas a governos justos e, assim, pode falar- se de um “contrato hipotético” entre governados e governantes. Contudo, se o contrato é meramente hipotético, então, novamente, nada obriga a que promessas hipotéticas tenham de ser cumpridas, uma vez que ninguém se comprometeu, de fato, com nenhuma obrigação. Em segundo lugar, a teoria do contrato social justifica a obediência aos governos pela necessidade de cumprir as nossas promessas. O ponto é que podemos sempre colocar a pertinente questão de saber por que deveremos nós cumprir as nossas promessas. Os contratualistas caem no erro de substituir um dever já em si duvidoso — a obediência — por outro também duvidoso — o cumprimento de promessas. Fonte: BETTENCOURT, Luís Filipe. Crítica à teoria contratualista. Disponível em: <http://criticanarede.com/teoriacontratualista.html>Acesso em out. 2017. PÁGINA 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta Unidade possibilitou a você, prezado estudante compreender um pouco melhor como foi a formação estado, como adquiriu sua legitimidade enquanto autoridade e soberania e apresentar o sistema de freios e contrapesos de Montesquieu como forma de controle visando a preservar os interesses da coletividade. Da mesma é apresentado uma forma racional e organizada encontrada por Weber, segundo ele o modelo ideal para dar legitimidade ao Estado e a Administração Pública e Política. Neste sentido, inicialmente foi apresentado a teoria clássica, na qual apresentamos Hobbes, Locke e Rousseau. Os dois primeiros em seu pensamento político concordam que a propriedade privada é um direito civil, porém mesmo com as posses de terras e bens, sem as leis não têm garantia, por isso a necessidade de um contrato social advinda de um soberano. A burocracia, junto com o sistema de freios e contrapesos de Montesquieu é papel central em nossa sociedade e se tornou um elemento fundamental na administração, pois foi a partir dela que houve maior legitimidade das atividades realizadas pelo Estado (soberano). A autoridade legal desempenhada no administrativo burocrático esboça as características centrais de como deve funcionar uma organização burocrática, que tem como fundamento a crença na validade do estatuto legal e da competência funcional, baseada em regras racionalmente envolvendo um corpo administrativo organizado. Foram apresentados, também o sistema de freios e contrapesos de Montesquieu, na qual vimos que o Brasil adota a função clássica Tripartite, ou seja, sua atuação ocorre a partir dos poderes legislativo, executivo e judiciário como forma de exercer o controle. Ao final, foi apresentado as principais características do Estado Brasileiro na qual foi apresentado que ele é um Estado Republicano, democrático e representativo e que atua por meio de três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário, considerado um Estado Democrático de Direito regida por uma constituição de Estado, Leis, Decretos e Regulamentos. MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO FILME Título: Os clássico da política Francisco C. Weffort (org) Editora: Editora Ática Sinopse: ‘Os Clássicos da Política’ reúne personagens que acompanharam a formação do Estado moderno, processo que durou séculos na história européia. Fundamental para a compreensão do pensamento de Maquiavel e de sua dura visão sobre o poder, no século XVI: de Hobbes e Locke, testemunhas da Inglaterra conturbada e revolucionária do século XVII; de Montesquieu, admirador da política liberal inglesa sob o absolutismo francês do século XVIII; de Rousseau, precursor do pensamento democrático moderno e inspirador dos ideais da Revolução Francesa; de Madison, Hamilton e Jay. Defensores da Constituição dos Estados Unidos da América de 1787. Título: O EXERCÍCIO DO PODER L’exercice de L’État (França - Bélgica – 2012 - 112 min. 16 anos) Direção de Pierre Schöller, com Michel Blanc e Oliver Gourmet. César de Melhor Coadjuvante para Michel Blanc; prêmio Fripesci em Cannes; melhor filme pelo Sindicatos dos Críticos da França. SINOPSE O cotidiano de um ministro da República Francesa revela a multiplicidade de conflitos envolvidos na atividade de quem exerce uma função de governo num sistema democrático. Além das contradições internas do poder executivo, que reflete os atritos entre os integrantes do partido majoritário, destacam-se os embates com os demais poderes e – o que é pouco comum no cinema político – as asperezas e ambiguidades no relacionamento entre os detentores de cargos políticos ou eletivos e os funcionários de carreira, ou seja, os gestores profissionais do estado. Sinopse. PÁGINA 23 NA WEB Síntese do pensamento político de Thomas Hobbes, John Locke e Jean- jacques Rousseau a respeito do processo de formação do Estado Moderno. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jz3AcQLx2_0 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.> Acesso em Out. 2017. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos; MOTTA, Fernando C. Prestes. Introdução à organização burocrática. São Paulo: Thompson, 2000.p. CARNOY, Martin. Estado e a teoria política. Trad. Instituto de Letras da PUC- Campinas. 17.ed. 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PÁGINA 26 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA: CONCEPÇÃO HISTÓRICA E REFORMAS CAPÍTULO 2 Esta Unidade possibilita maior compreensão sobre a concepção histórica e a reformas constitucionais e estruturais ocorridas no Estado Brasileiro, bem como apresentar como se desenvolveram o modelos de Administração Pública, começando pelo Patrimonialismo até a Administração Gerencial. Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett Objetivos da Aprendizagem: • Apresentar os principais aspectos das evoluções históricas Brasileira. • Apresentar as principais características e reformas constitucionais e estruturais ocorridas no Estado Brasileiro. • Apresentar a necessidade de reformas na Administração Pública. • Conceituar e apresentar os modelos de Administração Pública: patrimonialismo, burocratismo e gerencialismo Plano de Estudo: • Evolução Histórica daAdministração Pública no Brasil • Reformas da Administração Pública • Modelos de Administração Pública: Patrimonial, Burocrática e Gerencial PÁGINA 27 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Esta unidade, prezado estudante, trata de forma sucinta os principais aspectos históricos da evolução da Administração Brasileira. Portanto, conheceremos os principais aspectos das evoluções históricas Brasileira no que tange a reformas constitucionais e estruturais ocorridas no Estado Brasileiro e necessidade de reformas na Administração Pública. A trajetória histórica do Brasil é permeada por diversas mudanças e reformas estruturais e constitucionais, na qual daremos uma ênfase maior nas Reformas Constitucionais e alguns pontos que chamam maior atenção na Administração Pública e suas tentativas de desenvolver a forma de Administrar a coisa pública buscando a eficiência para o serviço público. Inicialmente será apresentado um breve histórico destacando a evolução histórica Brasileira em momentos importantes como a Administração Colonial e as capitanias hereditárias, o Brasil como sede do Império português e a República Velha e o primeiro e segundo reinado. Em seguida, com ênfase nos aspectos constitucionais e estruturais traçaremos cada época, começando com o Varguismo (década de 30), o desenvolvimentismo, início da reforma, o regime militar, estatismo e a reforma de 67, bem como a reforma de 1995. Assim, a partir destes aspectos traçaremos a República, a Redemocratização e a Constituição de 1988 marcando a democracia com importantes emendas constitucionais seguida de importante modernização na administração Pública na década de 90 em diante. Em seguida, será apresentado as etapas que culminaram nas reformas na administração Pública e ao final desta unidade será apresentado o que representam os modelos de Administração nas formas de administrar o Estado, quais sejam: será apresentado as principais característica do patrimonialismo, da Administração burocrática e da Administração Gerencial. Bons Estudos! PÁGINA 28 2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL Retratar essa concepção histórica é muito importante para conhecer os principais fatos e também as principais modificações que levaram a reformas constitucionais e estruturais em nosso país. E, principalmente verificar as principais reformas, evolução e características da Administração Pública. 2.1.1 BREVE HISTÓRICO DA ADMINISTRAÇÃO COLONIAL E AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS Traçamos aqui um breve histórico destacando a evolução histórica Brasileira em momentos importantes como a Administração Colonial, o Brasil como sede do Império português e a República Velha e o primeiro e segundo reinado. A época do Varguismo (década de 30), o desenvolvimentismo, início da reforma, o regime militar, estatismo e a reforma de 67, bem como a reforma de 1995 serão enfatizados no próximo tópico. Sucintamente, conforme Costin (2010), a seguir, os principais aspectos históricos iniciais do patrimonialismo, capitanias hereditárias e início das reformas constitucionais e estruturais do Estado Brasileiro: • O Patrimonialismo veio para o Brasil com os portugueses, uma mistura de administração político-administrativa centrado na mistura entre público e privado, num contexto em que o mercantilismo buscava nas colônias as condições para obter balança comercial favorável. • As capitanias hereditárias (sistema de colonização e administração da nova coroa) destinava territórios aos amigos do Rei e nobres chamados donatários. A doação de uma capitania ocorria e com isso algumas condições como: o donatário se descobrisse pedras ou ouro 20% seria da coroa, por exemplo. Devendo também aplicar a justiça, nomear funcionários, fundar vilas, construir engenhos e o pagamento de tributos (Carta Foral) pelos colonos. • Para apoiar as capitanias e dificultar o acesso a estrangeiros (franceses, holandeses e espanhóis) Portugal criou o Governo Geral em 1548 como forma de fortalecimento da colonização. • O Governador Geral passou a assumir a função de vice-rei junto com o donatário, que permaneceu até 1808 com a vinda da família real ao Brasil, com liberdade para o comércio e a implantação de entidade públicas e ministérios, voltando em 1820 para Portugal após a Revolução Liberal do Porto devolvendo o País à condição de Colônia, mas deixando aqui um início de máquina pública. • O primeiro reinado (1822 a 1831) é marcado pelo Partido Português buscando a reunificação com Portugal e poder do imperador. D. Pedro I após a Independência do Brasil, sentindo o clima desfavorável outorga PÁGINA 29 a Constituição de 1824, que trouxe a criação do quarto poder, chamado moderador (o imperador nomeava os membros vitalícios do Estado, presidentes das províncias, autoridades eclesiásticas da Igreja, senado vitalício, magistrados e ministros) que atuavam ao lado do executivo, legislativo e judiciário. • O segundo reinado, de D. Pedro II é inspirado no Parlamentarismo, foi um período de modernização e desenvolvimento econômico, porém com o poder nas mãos do imperador (poder moderador). 2.1.2 REFORMAS CONSTITUCIONAIS E ESTRUTURAIS Em síntese, de acordo com Costin (2010), uma das constituições Brasileiras outorgada em 1824 foi pautada nos princípios da monarquia e do parlamentarismo, estabelecendo forte centralização e poder nas mãos do imperador D. Pedro I e a criação do quarto poder chamado moderador, bem como a criação do poder de veto. A primeira modificação constitucional veio em 1834, sendo a mais importante a de 1888, com a abolição da escravatura. A constituição de 1891 consagra um regime republicano e o federalismo. Assim, o novo regime presidencial incorporava a independência dos poderes em todas as esferas. A partir de 1930 teve de se conter um novo modelo de Administração, com a modernização pela DASP (Departamento Administrativo do Setor Público) para racionalizar o aparelho do Estado. Veio a Redemocratização e a Constituição de 1988 marcando a democracia com importantes emendas constitucionais seguida de importante modernização na administração Pública na década de 90. A seguir, será retratada alguns pontos principais desta trajetória histórica e as principais reformas constitucionais e estruturais ocorridas no Estado Brasileiro. 2.1.2.1 A República De acordo com Costin (2010), a proclamação da República trouxe importantes modificações, a qual houve a transformação das antigas províncias em Estados de uma federação. Foi com a Constituição de 1891 que se consagrou o Federalismo. Nesta época o poder moderador deixou de existir e iniciou- se o Federalismo com independência dos poderes, na qual é mantido o bicameralismo (câmara de deputados e senado) exercido no Congresso Nacional. Em 1891 a configuração da Administração Pública é bastante influenciada pela política de governadores e pelo Coronelismo e favorecimento político que se desenvolveu na época, ganhando o patrimonialismo existente o Império uma nova conformação, ou seja, se federalizou. Somente foi reestruturada em 1930 PÁGINA 30 (era varguista), inaugurando um novo tipo de Administração, chamado de Estado Novo (COSTIN, 2010; PEIXOTO, 2008). Sucintamente, ocorrem algumas reestruturações e reformas importantes (COSTIN, 2010): • Em 1934, com o concurso público há uma mudança significativa cuja ideia central era a impessoalidade e a valorização do saber técnico, com traços da burocracia, cujo Estatuto do Funcionário Público foi elaborado em 1939 e mais tarde em 1944 foi criado a fundação Getúlio Vargas e o SENAI com objetivo de preparar pessoas para a administração Pública e Privada. • Em 1945, após diversas reestruturações, entra em crise o Estado Novo, com importante reforma na Constituição em 1946 ao reintroduzir a Federação, nunca descartada, mas na prática abolida pela centralização do Estado Novo, agora com esforço desenvolvimentista de Juscelino e a contração de dívidas junto ao FMI. • Em 1956, na tentativa de modernizara máquina pública é instituído um grupo para reestruturação Administrativa, a CEPA - Comissão de Estudos e Projetos Administrativos que não resultou em mudanças importantes. Iniciavam-se as movimentações para a revolução de 1964, com a deposição de Jango e a criação do PAEG - plano de ação econômica do Governo (reduzir a inflação e reestruturar a economia). • Nesta época houve uma consolidação da Administração Burocrática com uma nova Constituição em 1967 com emenda em 1969 (leis: segurança nacional, imprensa e censura) baixada pela junta militar que assumiu o governo. • Em 1967 foi um marco para a Reforma Administrativa aconteceu, a partir do Decreto-Lei nº 200 e do Decreto 199 - Lei Orgânica do Tribunal de Contas, já com características de planejamento com caráter desenvolvimentista e descentralização das atividades para as três esferas. • Ao final da década de 70 o tema era desburocratização. Em 1985, a partir da Instauração da Nova República e os problemas com a inflação trouxe sérias consequências as instituições democráticas. 2.1.2.2 Redemocratização e Constituição de 1988 Para alguns, houve um retrocesso com a Constituição Federal (CF) de 1988, chamada de a Constituição Cidadã - propiciada pela redemocratização pois houve um fortalecimento dos controles burocráticos e redução maior da autonomia de gestão dos dirigentes públicos. Consagrou-se o retorno à Democracia, e a CF teve forte papel descentralizador e fortaleceu o vínculo entre a população e a Administração Pública, trazendo grandes benefícios aos PÁGINA 31 SAIBA MAIS cidadãos por meio das Políticas Públicas nas três esferas (união, estados e municípios) (COSTIN, 2010). Dentre os pontos principais dos direitos sociais descritos por Costin (2010) são elencados as áreas da: educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e a universalização da saúde para os que não tinham um contrato formal de trabalho. Além disso, foram ampliados direitos trabalhistas e mecanismos de participação popular. Em 1998, com a emenda constitucional nº 29 ampliou-se a participação do usuário do serviço público. Na década de 80 - primeira geração, chamada também de “a década perdida”, as reformas centraram seu foco na resolução das crises econômicas e no ajuste fiscal por meio de cortes nos gastos públicos, reformas tributárias, desregulação e privatização. Conforme aponta Peixoto (2008), desde 1990 as reformas estruturais foram introduzidas, chamada de segunda geração, tinha como foco a estabilidade macroeconômica com importantes reformas nas áreas trabalhistas, judiciária, aparato fiscal, mecanismos regulatórios e as relações entre governos. Na década de 90 com a crise econômica e a necessidade das reformas econômicas e ajuste fiscal, o Governo Collor enfatiza a redução do Aparelho do Estado em busca da excelência. A população entra em clima de impeachment de Collor que deixa a Presidência do Brasil. O principal contraste entre Collor e seus antecessores era a sua determinação de levar à frente a privatização das empresas estatais e de atacar a inflação em sua raiz. Assumiu o poder com um plano radical (medida Provisória 155, de 15 de Março de 1990) para combater o legado de desordem econômica do país como taxas de inflação que chegavam a mais de 70% ao mês, exportações em declínio, desvalorização cambial déficit público insustentável, baixo índice de investimento e burocracia ineficiente e superdimensionada. Neste sentido, medidas urgentes e corretivas precisava ser implementada. Assim, a maior parte dos depósitos bancários foram congelados, assim como salários e preços causando diversos efeitos imediatos na economia. Diversas tentativas ocorreram, entretanto, a inflação era desenfreada. Nos meses que se seguiram ao seu Impeachment a economia continuou extremamente turbulenta, mas foi em 1993 com a indicação de Fernando Henrique Cardoso, e com o plano Real em 1994 que houve uma significativa mudança econômica no país. Fonte: Peixoto (2008). PÁGINA 32 2.1.2.3 A Reforma da Gestão Pública de 1995 Fernando Henrique Cardoso (FHC), na tentativa de promover a reforma do Estado divulga o nome de Bresser-Pereira para o Ministério da Administração federal e Reforma do Estado (MARE), e apesar do ceticismo da população, o plano se evidencia como uma resposta ao clientelismo e a corrupção com uma atuação mais gerencial. De acordo com Costin (2010) e Matias-Pereira (2010), o Plano Diretor da Reforma de Aparelho do Estado (PRAE) se refere a quatro setores: (1) Núcleo Estratégico (governo e os poderes), (2) Atividades Exclusivas (serviços que só o Estado pode realizar), (3) Serviços Não Exclusivos (Estado não estatais - publicização) e (4) produção de bens e serviços para o mercado (área de atuação das empresas - privatização). De acordo com Peixoto (2008), FHC, apesar de se concentrar nas pautas de reformas econômicas, prometeu reformar o estado brasileiro e readquirir a capacidade de governar eficientemente o país. Desta forma, a partir do projeto de emenda constitucional introduz como princípios que deveriam nortear a Administração Pública, o princípio da Eficiência, a flexibilização da estabilidade, o fim do regime jurídico único, ou seja, não contratar somente estatutários, a participação popular e proteção aos usuários dos serviços públicos, os contratos de gestão como forma de controle de resultados e forma de ampliar a autonomia gerencial e estágio probatório para o servidor público de três anos para sua efetivação (COSTIN, 2010; PEIXOTO, 2008). Conforme Peixoto (2008) FHC conseguiu alterar a ordem econômica, realizar a quebra de monopólios estatais de energia, telecomunicações, petróleo e gás e iniciou, mesmo que parcialmente a reforma da previdência e da Administração Pública completando um quadro de mudanças constitucionais para a modernização do Estado a partir do fortalecimento da economia de mercado. Dentre outros aspectos importantes, conforme Costin (2010), os novos modelos organizacionais foram introduzidos como as agências executivas, as agências reguladoras e as organizações sociais. Dentre outros avanços, a reforma sobreviveu à mudança do governo e encontrou oposição no partido dos Trabalhadores. PÁGINA 33 Os avanços mais comuns ocorreram na esfera estadual e essas reformas vêm sendo impulsionado por fatores como (ABRUCIO; GAETANI, 2008 APUD COSTIN, 2010): • As crises financeiras estaduais. • A propagação de ideias da Nova Gestão Pública (NGP). • A disseminação de boas práticas e inovações administrativas. • O fortalecimento de espaços federativos, como exemplo cita o CONSAD-Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Administração. • A rede entre a União e Estados com proposição e negociação do programa nacional de apoio à modernização da gestão do planejamento dos estados e DF (PNAGE). • Um programa de financiamento da modernização das administrações públicas contratado pelo BID em 2006. Ainda de acordo com Costin (2010), apesar dos resultados não serem homogêneos, constatou-se a em todo o país a introdução da gestão por programas articulando-se com os Planos Plurianuais (PPA) a instalação de Organizações Sociais (área de saúde, educação, pesquisa e cultura) de contratualização de resultados inclusive com a Administração Direta e o fortalecimento do Núcleo Estratégico e ainda com a criação de especialistas em políticas públicas. 2.2 REFORMAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA De acordo com Bresser-Pereira (2010), o Brasil, nascido do sistema político absoluto, passa no século XIX ao sistema político liberal e adota a democracia no século XX. Como organização, o Estado nasce como uma organização patrimonial, atravessando o século XIX e chegando ao final do século XX como burocrático. No final do século XX,busca ser uma organização gerencial. As principais tendências de modificação do padrão burocrático de Weber pelo debate do modelo gerencial (SANTOS, 2003): 1. A adoção de parceriascom o setor privado e terceiro setor; 2. Mecanismos de avaliação de desempenhos e de qualidade e produtividade; 3. Autonomia às agências governamentais; 4. Descentralizar a política, apoiada no princípio do poder de decisão do cidadão; 5. Realizar planejamento estratégico; 6. Flexibilizar as regras do Direito Administrativo; 7. Flexibilizar a política de pessoal, mantendo a profissionalização e PÁGINA 34 carreira; 8. Motivar e valorizar a ética no serviço público; 9. Desenvolver habilidades gerenciais (produtividade, qualidade, inovação, modernização do fluxo de decisões, entre outros). 2.2.1 Da Reforma Burocrática até a Gestão Pública Gerencial Conforme Peixoto (2008) especificamente ao setor público as Reformas Administrativas podem ser categorizados como: 1. A implementação da Burocracia (Vargas/DASP); 2. Regime autoritário/Decreto-lei nº 200; 3. Gerencial (incompleta-crise do Estado FHC/MARE); 4. Governança, destinada a dar mais eficiência ao Estado, garantias de direitos aos cidadãos e aperfeiçoamento dos mecanismos de processo decisório das políticas públicas. Para Matias-Pereira (2010), constata-se que ocorreram duas reformas administrativas significativas: a reforma burocrática e a reforma da gestão pública: ● Reforma burocrática - início na segunda metade do século XIX, referindo-se à transição do Estado Patrimonial para Estado Burocrático (Weberiano). ● Reforma da gestão pública - transição do Estado Burocrático para o Estado Gerencial. 2.3 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A partir do surgimento do Estado Moderno, existem na trajetória da Administração Pública três formas de atuação: a Administração Pública Patrimonialista, a Administração Pública Burocrática e a Administração Pública Gerencial. Conforme Peixoto (2008, p. 13), tanto em 1930, como em 1960-64, “buscou-se modernizar a Administração Pública por meio do modelo Burocrático”, porém em 1995 a proposta foi para o aparato do Estado provedor para regulador e com ênfase na mudança do modelo burocrático para o modelo gerencial. Uma síntese desses modelos é apresentada a seguir (CHIAVENATO, 2006; PEIXOTO, 2008; MATIAS-PEREIRA, 2010; COSTIN, 2010): PÁGINA 35 2.3.1 Patrimonialista As reformas não ocorreram de forma impositiva ou autoritária, mas por questões de necessidade na maneira de gerir o Estado como sistema político. Na vigência do Estado Absoluto, ou seja, no tempo dos monarcas, a Administração poderia ser Patrimonial, pois não havia necessidade de separação entre seu patrimônio e patrimônio público. No entanto, no Estado Liberal, essa mudança foi necessária, uma vez que era nítida a separação entre o patrimônio dos governos e dos cidadãos – que ao pagarem seus impostos, passam a exigir garantias das suas liberdades. Na Administração Pública Patrimonialista, o aparelho do Estado atua como uma extensão do poder do monarca. Os servidores possuem status de nobreza e os cargos funcionam como recompensas, gerando o nepotismo, contribuindo para a prática da corrupção e do controle do órgão público por parte dos soberanos. A Administração Patrimonialista é do Estado, mas não é pública, na medida em que não visa ao interesse público. É a administração típica dos estados pré-capitalistas, mas particularmente das monarquias absolutistas que antecederam imediatamente o capitalismo e a democracia. É a administração que confunde o patrimônio privado do príncipe com o patrimônio Público. Sobrevive nos regimes democráticos imperfeitos por meio do clientelismo. 2.3.2 Burocrática Nasce na segunda metade do século XIX, e tem como objetivo principal o combate à corrupção e ao nepotismo patrimonialista. A administração pública burocrática foi adotada para substituir a administração patrimonialista, que definiu as monarquias absolutas, na qual o patrimônio público e o privado eram confundidos. Nesse tipo de administração, o Estado era entendido como propriedade do rei. O nepotismo e o empreguismo, senão a corrupção era a norma. Esse tipo de administração revelar-se-á incompatível com o capitalismo industrial e as democracias parlamentares, que surgem no século XIX (BRESSER-PEREIRA, 1996, p.4). A Administração Pública Burocrática é aquela baseada em um serviço civil profissional, na dominação racional-legal weberiana e no universalismo dos procedimentos, expresso em normas rígidas de procedimentos administrativos. PÁGINA 36 Suas principais características estão relacionadas ao desenvolvimento, profissionalização, ideia de carreira pública, hierarquia funcional, impessoalidade, formalismo – legalidade ou poder legal, com a finalidade única de acabar com o nepotismo e a corrupção. Diante desse contexto, torna-se necessário um controle rígido dos processos e ingresso na carreira pública, com regras claras na admissão. Da mesma forma, o controle se estende às compras, visando evitar abusos, ineficiência e incapacidade. Com o tempo, as regras passaram a sobrepor os interesses da sociedade, tornando-se inadequada sob o ponto de vista dos interesses da sociedade. O modelo foi bom por muito tempo quando o Estado era menor. Apoiava-se em normas rígidas, o que não exigia um sistema descentralizado de gestão, afinal, conseguia executar seus serviços. Entretanto, quando o Estado passa a ser democrático e tem como responsabilidade gerar o bem comum, por meio do atendimento adequado às necessidades cada vez mais crescentes da população, ocorre ampliação de suas funções nos campos socioeconômico e político, de forma que o aumento dessas pressões e a incapacidade do Estado Burocrático de atender de maneira satisfatória culminam na reforma da gestão pública – o Estado Gerencial. 2.3.3. Administração Pública Gerencial Redefinido seu papel, o Estado deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via de produção de bens e serviços para se adequar ao novo papel, o gerencial. Dá-se início a transferência para o setor privado de atividades que podem ser controladas pelo Mercado. Dessa forma, a questão da transparência passa a ter um lugar de destaque, uma vez que a corrupção age como um enfraquecimento da democracia, da confiança no Estado, da legitimidade dos governos e da moral pública. De acordo com Matias-Pereira (2010, p.117): É oportuno ressaltar que grande parte das reformas de segunda e terceira geração no Brasil depende da criação de novas instituições, de mudanças constitucionais ou de alterações profundas no sistema administrativo. Como essas mudanças afetam grandes interesses políticos e econômicos, fica evidenciado que os próximos governos devem continuar priorizando as reformas que o país ainda necessita promover. É preciso incluir também na agenda política a criação de um consistente programa nacional de combate à corrupção, que possa garantir, de maneira PÁGINA 37 REFLITA eficiente, eficaz e efetiva, a transparência e a ética na Administração Pública. A forma de atuação apresentada no contexto público tem sido a descentralizada e baseada no controle por resultados. O Estado tem terceirizado para empresas inúmeros tipos de serviços e para entidades públicas estatais (organizações sociais) boa parte dos serviços sociais e científicos. Além dessas mudanças, o que sugere elevar o nível de eficiência do Estado Democrático, verifica-se a presença de cada vez maior número de agências reguladoras. A ênfase dessa evolução conforme Costin (2010) por meio de sistemas de gestão e controle, agora pautados em resultados, maior autonomia gerencial do administrador público, avaliação de efeitos/produtos e resultados das políticas e serviços públicos, estrutura de poder menos centralizadas ou hierárquicas, permitindo a prestação de serviços e participação dos usuários, contratualizações, incentivos de desempenho, criação de novas figuras institucionais que se traduzem em parcerias com a Administração Pública como as PPPs e as Organizações Sociais. De acordo com Matias-Pereira (2010), o surgimentoda Administração Pública Gerencial vir de ao encontro à necessidade do desenvolvimento tecnológico, da abertura e expansão dos mercados e, da globalização da economia mundial. Essa reforma não deve ser visto vista como um rompimento dos princípios anteriores, mas de uma maior flexibilidade no processo para melhorar o seu desempenho, na qual prevalecendo sempre o interesse do público e, sendo o cidadão, como ao mesmo tempo, um contribuinte de impostos, um cliente dos serviços oferecido pelo Estado. Os indivíduos, o povo, a população, ou seja, a sociedade civil deve ser tratada como cliente ou cidadão? PÁGINA 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado estudante, esta unidade foi muito importante e esclarecedora, pois trouxe a tona diversas características e concepções históricas que remetem a construção e evolução da Administração Pública. Para tanto, primeiramente foi apresentado a você, mesmo que de forma breve e sucinta a história do Brasil que vem desde o patrimonialismo, passando pelas colônias e províncias, as reformas constitucionais e estruturais até a Administração Pública. Assim inicialmente, traçou-se um breve histórico destacando a evolução histórica Brasileira em momentos importantes como a Administração Colonial, o Brasil como sede do Império português e a República Velha e o primeiro e segundo reinado. A época do Varguismo (década de 30), o desenvolvimentismo, início da reforma, o regime militar, estatismo e a reforma de 67, bem como a reforma de 1995. Para compreender as principais reformas e alguns pontos principais desta trajetória histórica e foram apresentadas as principais reformas constitucionais e estruturais ocorridas no Estado Brasileiro, começando com a Constituição e 1891 até o decreto Lei 200 de 1967 e a instauração da Nova República. Vários destaques importantes da nossa história político e estrutural foram descritos, em sua maioria com ênfase na forma de administração pública, que é o nosso foco de interesse. Isto foi fundamental para compreender a necessidade das reformas e implantação dos modelos de Administração. Para tanto, foram categorizadas as reformas administrativas das quais constatamos que a implementação da burocracia e do gerencialismo surgem como alternativas para melhorar a eficiência e efetividade dos serviços públicos. Neste sentido, e não se esgotando aqui, este importante assunto, a Administração Pública busca melhorar o seu desempenho e oferecer um melhor serviço ao cidadão e ao cliente. PÁGINA 39 LEITURA COMPLEMENTAR Bresser Pereira e a Reforma Gerencial do Estado em Entrevista Realizada em 23/03/2016, em São Paulo Pergunta: Entre a administração pública gerencial e a democracia, ou seja, como essas duas coisas se relacionam? [BP]: Acho que países democráticos são necessariamente países que têm um sistema, um amplo sistema de serviços universais. E quando você tem tudo isso, precisa ter uma administração gerencial. O Estado Absoluto, a ele corresponde uma administração pública patrimonialista. A um Estado Liberal, século XIX, corresponde uma administração burocrática ou weberiana, e a um Estado Social e Democrático, democrático e social, corresponde, necessariamente, uma gerencial. Não pode ser outra. Estão casados. Há aqueles que começam a dizer: “não, porque precisa ter uma terceira forma mais social ainda”. Isso é brincadeira. Claro que terá governos diferentes. Agora mesmo tenho aqui uma administração gerencial e essa administração está na Inglaterra, por exemplo, em uma certa época na mão do Brown e, em outra época, está na mão do Cameron. Quer dizer, está no partido social democrata e no partido conservador. Então muda um pouco por causa disso, é inevitável. Uma vai ser mais conservadora que a Administração Pública e Gestão Social, 9(3), jul.-set., 2017, 237-242 241 outra e os líderes vão tentar empurrar para esse lado ou para aquele lado. Isso é normal, mas, para mim, o que me parece absurdo é ficar discutindo. Acho que foi Christina Andrews quem inventou um terceiro tipo. Dessa forma, têm-se a burocrática, a gerencial e a social. Isso é ridículo. Isso aconteceu agora comigo também. É verdade que eu nunca tinha juntado as duas coisas. Desde que eu saí do governo, venho desenvolvendo todo um sistema teórico novo chamado de novo desenvolvimentismo, que é uma alternativa ao desenvolvimentismo clássico do Prebisch, do Celso Furtado, do Myrdal, dessas pessoas. Eu e um grupo, que já está ficando maior, estamos desenvolvendo uma série de ideias. Aí vem uns engraçadinhos e dizem: “não, em vez de novo desenvolvimentismo nós propomos um desenvolvimentismo social ou social desenvolvimentismo”. Porém, dizem isso sem nenhuma teoria. Eu tenho todo um sistema, eles só têm uma coisa. Então, dentro do novo desenvolvimentismo conforme você for mais conservador ou mais progressista, e conforme forem as relações de poder que há, você fará mais uma coisa ou outra, mas você tem uma teoria. E a mesma coisa vale para uma teoria que tenho de como é que se organiza e administra o Estado: era a teoria burocrática, agora tem a teoria gerencial. Essas administrações burocrática e gerencial podem ser feitas tanto por um governo mais conservador ou por um partido mais progressista [...]. Isso vai acontecer inevitavelmente, mas eu não posso criticar a administração PÁGINA 40 gerencial dizendo que ela não é suficientemente social, ou o inverso, que não é suficientemente conservadora. Isso é bobagem porque fica por conta dos governantes no aqui e agora. Extraído parcialmente de: http://www.bresserpereira.org.br/papers/ interviews/2017/17.06-BP-Reforma-gerencial-Estado-APGS.pdf PÁGINA 41 LEITURA COMPLEMENTAR LIVRO Título: INTRODUÇÃO À GESTÃO PÚBLICA Autor: SANTOS, Clezio Saldanha. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 384 p. Sinopse: Este livro reúne conceitos, sobre o processo administrativo e as grandes áreas funcionais da gestão pública. A evolução da ciência administrativa remeteu pesquisadores e professores para o aprofundamento teórico desses temas em várias áreas, contudo, para auxiliar a práxis da gestão pública propõe-se aqui o conhecimento dos marcos conceituais e de seus desbravadores em uma publicação moderna. Acredita-se que a partir da leitura dessa obra, confrontando os dados concretos da realidade das organizações públicas brasileiras, contribui-se para o entendimento sobre as funções e intervenções do Estado brasileiro. Enquanto cidadão ou servidor público, essas reflexões contribuem cada vez mais para a evolução e transformações dos sistemas administrativos públicos, assim como para a construção da cidadania brasileira. PÁGINA 42 FILME NA WEB Título: JANGO Data de lançamento: 1984; Duração: 1:54:46 Ator/Atriz: José Wilker; Realizador(a): Sílvio Tendler; Produtores(as): Denize Goulart, Hélio Paulo Ferraz, Coletivo de Artistas; Escritor(a): Maurício Dias Categoria: Documentário - Licença padrão do YouTube; Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=SaU6pIBv9f4 Sinopse: Como, quando e porque se depõe um presidente da República. Em 1984, a campanha das “Diretas Já” mobilizou o Brasil: O povo, personalidades artísticas e políticas em todo país exigiam democracia. Nessa época, 2 obras expressam os anseios do povo brasileiro: O filme “Jango”, de Sílvio Tendler, e uma das músicas de sua trilha sonora, “Coração de Estudante”, de Wagner Tiso e Milton Nascimento, que se tornou o hino das “Diretas Já”. “Jango” narrado por José Wilker, foca a trajetória de João Goulart que, deposto pelo Golpe de 64, se tornou o único presidente brasileiro morto em exílio. O filme visto por 1 milhão de pessoas ganhou vários prêmios e está entre os documentários mais importantes do Brasil. O Website de Bresser-Pereira oferece uma de escritos do autor na língua portuguesa e inglesa além de diversas informações sobre a Política e a Administração Pública Brasileira bem como de temas atuais mundiais. Disponível em: http://www.bresserpereira.org.br/ REFERÊNCIASCOSTIN, Claudia. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública. Rio de Janeiro, Elsevier, 2006. MATIAS-PEREIRA, José. Curso de administração pública: foco nas instituições e ações governamentais. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão Pública: tributação e orçamento, lei da responsabilidade fiscal, tópicos em contabilidade, gestão pública no Brasil e JK a Lula, administração financeira e orçamentária, finanças públicas nos três níveis do governo. São Paulo: Saraiva, 2006. PEIXOTO, João Paulo M. Statecraft no Brasil: Ideologia e Pragmatismo. In: Governando o governo: modernização da Administração Pública no Brasil. João Paulo M. Peixoto (Org.). São Paulo: Atlas, 2008. p.1 a 29. PÁGINA 44 MODELOS DE GESTÃO PÚBLICA E DESAFIOS CAPÍTULO 3 Esta Unidade retrata os aspectos contemporâneos dos modelos de Administração e Gestão Pública enfatizando as novas formas de Administração e Gestão, com ênfase também no papel das organizações sociais, PPPs e das agências reguladoras e principalmente demonstrando como os gestores devem atuar buscando a governança e a qualidade de gestão almejada pelo usuário do serviço público. Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar a Nova Gestão Pública (NGP), New Public Management (NPM) e o New Service Public (NSP) • Caracterizar a gestão pública estratégica e a governança no serviço público distinguindo suas principais características. • Demonstrar quais são as formas de atuação na administração pública direta e indireta • Apresentar o papel das organizações sociais, PPPs e agências reguladoras • Apresentar algumas características de gestão da qualidade buscada pelas organizações públicas Plano de Estudo: • Reformas e a Nova forma de Administração e Gestão Pública • A Nova Gestão Pública (NGP), o New Public Management (NPM) e o New Service Public (NSP) • Gestão Pública Estratégica e Governança no serviço Público • Atuação e Estrutura da Administração Pública • Qualidade e Excelência na Gestão Pública PÁGINA 45 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Prezado Estudante, nesta Unidade você compreenderá que os aspectos atuais da Administração e Gestão Pública enfatizam os pontos positivos e negativos das novas formas de Administração, Gestão e Governança Pública. Para compreender como os novos gestores e administradores públicos atuam frente às expectativas dos seus cidadãos, consumidores e usuários surgiram na Administração alguns modelos, como a Nova Gestão Pública (NGP), New Public Management (NPM) e o New Service Public (NSP). A Nova Gestão Pública a partir das reformas buscam aproximar cada vez mais a forma de administração da gestão pública a da gestão privada, porém é importante ressaltar que ambas são diferentes e se distinguem entre si. Ainda que diferentes, é aspecto fundamental que as organizações públicas realizem gestão estratégica e busquem a governança no serviço público. Desde 1967, com o Decreto Lei Federal nº 200, o Brasil vem buscando a modernização nos serviços públicos e com isso atua de forma direta e indireta na consecução dos bens e serviços prestados, na qual será apresentado as características dos tipos de organizações, fundações, autarquias e empresas públicas. Para corroborar com a eficiência que se busca no serviço público, as organizações sociais, as Parcerias Público-privadas (PPPs) e as agências reguladoras se fizeram necessárias. Portanto é nosso papel apresentá-las distinguindo suas principais características. Ao final, será apresentado algumas características de gestão da qualidade buscada pelas organizações públicas uma vez que as organizações públicas buscam a Excelência em Gestão Pública (MEGP) ou seja buscam realizar uma gestão eficiente, eficaz e efetiva em gestão com qualidade. Bons Estudos! PÁGINA 46 3.1. REFORMAS E A NOVA FORMA DE ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO PÚBLICA As primeiras reformas administrativas ocorreram na Europa e Estados Unidos nas décadas de 80 e 90 (ALDARVIS, 2010). No Brasil as reformas gerenciais ou da gestão pública foram incorporadas pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasileiro. O movimento mundial à Nova Gestão Pública implica em privatizações, contratos de gestão com segundo e o terceiro setor e na diminuição do aparelho do Estado (KANAANE ET AL., 2010). É preciso cautela em relação às reformas administrativas, pois muitas compartilham características do modelo weberiano e continuam a colocar ênfase na função controle, bem quanto com as políticas simbólicas - políticos, funcionários de carreira e empreendedores políticos em geral, buscam manipular a percepção coletiva a respeito das organizações públicas, avançando mais em autopromoção e retórica do que em fatos concretos (SECCHI, 2009). De acordo com Santos (2003) a reforma gerencial é positiva pois contribui com nas formas de controle dos serviços públicos, propiciando maior transparência nas decisões administrativas por meio do controle da sociedade e contribui para o aumento da responsabilização dos administradores públicos. Na Administração propicia também que os resultados a serem alcançados sejam negociados entre os formuladores da política pública e a instituição encarregada de implementá-la. Valente (2009) faz algumas ressalvas sobre as relações entre Estado e Sociedade e mercado. Para ele, a reforma da máquina é também do Estado e isso envolve novas dimensões e papéis principalmente das relações deste Estado com a Sociedade, portanto, embora se aproveite dos modelos técnico- gerenciais da área privada, não se pode confundir Estado com organização privada, ou seja, a nova gestão pública é apoiada pela teoria de organização empresarial, mas se distingue dela. 3.2. A NOVA GESTÃO PÚBLICA (NGP), a NEW PUBLIC MANAGEMENT (NPM) E O NEW PUBLIC SERVICE (NPS) Os diagnósticos inspirados pela NPM busca resultados e gravita sob o conceito do cidadão, usuário ou cliente, suplantando o conceito de cidadão-eleitor que aspira a ter voz no processo político/eleitoral, ou seja, a abordagem de que o cidadão prefere ser servido pelo Estado do que ser ouvido pelo mesmo. Assim as estratégias da reforma voltada para a NPM já PÁGINA 47 não contrapõe antagonicamente o Estado e ao Mercado, mas busca a sua complementaridade, que surge da manifestação democrática que permite a cidadania e que leva aos respectivos governos a sua insatisfação com a qualidade e quantidade de serviços públicos a que tem direito (PINTO, 2008). Observa-se desta forma que a Administração Pública busca encontrar soluções para os problemas, trazendo o cidadão para o centro das atenções. Neste sentido, a forma de administrar e o suporte às tecnologias, dentre outras ferramentas devem contribuir para atender a sociedade que agora adota crescentes expectativas e melhoria do atendimento e do serviço realizado pela Administração Pública. Destaca-se também o NPS desenvolvida por Denhardt que busca a participação direta do cidadão de modo a servir ao público e contribuir para o nível de cidadania. O que ocorre via atividades de co-produção entre comunidades, órgãos públicos, privados e não-governamentais tornando factível estimular a sociedade para uma maior participação, cidadania e accountability (MATIAS-PEREIRA, 2010). Entretanto, é preciso salientar, conforme Paula (2005) aponta, que muitos dos serviços públicos são difíceis de mensuração em termos de eficiência e avaliação de desempenho, o que torna sua aplicação muito problemática. Verificamos também, outras questões importantes como explicar a orientação pública e política no sentido de enfatizar a participação popular de um país imitando o setor privado, sendo que ambos têm objetivos distintos. Por ser demasiado rígido para capacitar o Estado na expansão dos meios de interlocução com a sociedade e por enfatizar predominantemente a eficiência administrativa, esse modelo de gestão não vem
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