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Oligopólio do setor supermercadistas do Brasil. Matheus Santana Buters Chaves matheussbchaves@gmail.com Nicolle Cristine Dias Cobello Costa nicolle.cobello.costa@gmail.com Sebastião Décio Coimbra de Souza decio.coimbra@yahoo.com.br Este trabalho fará uma análise do nível de concentração dos supermercadistas do Brasil e das condições de concorrência. A abordagem adotou o modelo analitico ECD - estrutura-conduta-desempenho, usando CR - índice da razão de concentração e HH - índice de Herfindahl-Hirschman. Adicionalmente as principais características da indústria foram identificadas em barreiras de entrada, estratégias e produção no período de (2002-2016). Os resultados permitiram classificar o mercado como de oligopólio moderado, com um poder nos mercados menores e fornecedores. Palavra-chave: Supermercadistas. Estrutura mercado. Poder de mercado. mailto:matheussbchaves@gmail.com mailto:nicolle.cobello.costa@gmail.com mailto:decio.coimbra@yahoo.com.br 1.Introdução Os supermercados são classificados em lojas como de autosserviço, onde o próprio consumidor procura o seu produto. As vantagens para o supermercadista são as reduções de custos com a mão-de-obra, baixos custos de operação e ganho em escala. Para o consumidor a rapidez das compras, sendo na seleção dos itens ou no pagamento, são os grandes pontos positivos. Megalojas, hipermercados e supermercados possuem a mesma ideia de negócio, sendo que as de maior porte ofertarem produtos alimentícios e não alimentícios. As palavras, varejo alimentício de autosserviço, tiveram início nos EUA durante o período da grande depressão, onde o foco era a economia de gastos. No Brasil, quando se finalizou a segunda guerra mundial, o padrão de venda era feito por comércios mais locais e de pequeno porte. Em 1953 foi inaugurado o primeiro supermercado similar ao dos Estados Unidos, o Sirva-Se em São Paulo, que ofertava carnes, frutas, produtos de mercearia, tudo em um mesmo ambiente. Em 1954 foi inaugurado a Peg-Pag, aumentando o padrão de qualidade, com serviços eficientes. O período de maior expansão foi o do milagre econômico, que aconteceu no final da década de 60 e início de 70, onde houve a maior expansão do setor, quando o poder aquisitivo aliado a industrialização se expandiu, e demandava por mais serviços e produtos diversificados. Outro fator é que os supermercados eram o abastecimento da população, a distribuição e unificação dos preços. Levando a um aumento de 153% entre 1966 e 1970. No final de 1970, a concentração de supermercados era no sudeste e sul do país, mas uma mudança em 1980 fez com que estabelecimentos fossem criados para a população menos favorecidas. A retomada do setor pode ser explicada pela diminuição do índice de inflação, que permitiu um poder de compra maior aos consumidores. 2. Referencial teórico 2.1. Panorama do mercado de brasileiro No varejo alimentício a atuação de algumas redes de hiper e supermercados tem mantido o domínio sobre o mercado consumidor. Este setor é liderado pela rede Carrefour, GPA, Walmart, Cencosud e a rede irmãos Muffato. A tabela 1 demonstra esses resultados. Tabela 1 – Faturamento das principais redes supermercadistas (2016) Fonte: Elaborado com base no autor Graciani (2017). No ano de 2016 as redes líderes do setor, sendo que as cinco maiores foram responsáveis por 40,6% de autosserviço e 43,7% do faturamento dos supermercados, que inclui mais de um check-outs. Gráfico 1 – Tempo versus faturamento do autosserviço (2002-2016) Fonte: Superhiper (2010-2016a), ABRAS (2017) e IBGE (2017c). A ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) faz um levantamento de dados anual por associação harmônica, mostrando o faturamento do setor e sua evolução. Pelo gráfico 1 conseguimos analisar que no ano de 2002 teve um faturamento de -2,3, que pode ser associado a crise econômica de 2002, igualmente para o ano de 2015, quando o índice ficou com -3,2. Nos anos seguintes podemos ver que os índices foram crescendo e se mantendo positivos. Gráfico 2 – Faturamento supermercadista por região no ano de 2016. Fonte: Elaborado pelo autor com base em ABRAS (2017). Gráfico 3 – Número de lojas por região – 2016. Fonte: Elaborado pelo autor com base em ABRAS (2017). O estado de São Paulo faturou 31,8% tendo 29,7% dos supermercados do país, Rio Grande do Sul 11,6% tendo 15,1%, Minas Gerais com 10% dos supermercados com uma participação de 10,8%. Ao todo a região sudeste faturou R$173,1 bilhões. 2.2. O Modelo Estrutura–Conduta-Desempenho (ECD) Pela teoria da organização industrial as condições básicas de mercado são decorrentes do desempenho econômico e vantagens competitivas das condições básicas de mercado, oferta e demanda, dando forma aos comportamentos econômicos e moldando a estrutura industrial. O modelo ECD faz as análises pelas estratégias, condutas práticas e condições básicas da indústria. O modelo ECD vem sendo muito usado no estudo das organizações industriais. Por conta das mudanças que aconteceram entre os anos de 1970 e 1980, tanto na política industrial como no mercado internacional, a teoria neoclássica passou a ser contestada. A sua versão original passou a sofre críticas devido a sua causa linear entre os fatores do ambiente e uma incorporação de um fator dinâmico no modelo original. O modelo ECD e suas variáveis. Fonte: RIBEIRO et al. (2013) 2.2.1. Estruturas de mercado O mercado é dependente de várias condições, mas uma das principais é a oferta e demanda, tecnologia disponível e produtos. A indústria tem uma forte influência sobre a competitividade do setor e nos preços, portanto, um setor acaba sendo dependente do outro. Um dos métodos para analisar e medir a concentração do mercado é a razão de concentração (Cr), sendo K a parcela de mercado que é um número fixo, em relação as maiores empresas do mercado em comparação a um total, com base no HH (Herfindahl - Hirschman). A Razão de concentração (Cr) é dada por: Sendo: k = número de empresas consideradas; Pi = capacidade produtiva/ vendas compartilhadas. Pelo resultado desses índices é possível medir a participação das empresas de um setor específico. Os mais relevantes são: CR1, CR4 e CR8. Abaixo tem-se a classificação da razão referente a CR4. Tabela 2 - Classificação da razão de concentração CR4 Fonte: Adaptado de Brain (1968) O HH - Herfindahl-Hirschman, é calculado pela soma dos quadrados de participação de cada empresa do setor, de acordo com o tamanho do mercado, levando em conta a grande parte delas e é calculado por: Sendo: n: número de empresas participantes no mercado; Pi: vendas de cada empresa elevada ao quadrado. Quando se eleva ao quadrado, acaba-se dando mais ênfase nas maiores empresas do setor, logo, mais alto o valor de HH, menor a concorrência e maior a concentração. Baseia-se na capacidade de produção do mercado de cada empresa, podendo variar de 1/n ≤ HH≤1. Se o valor for igual a 1 é considerado um monopólio, mas se HH = 1/n, a capacidade produtiva e a participação no mercado são iguais, mas o valor é considerado ideal quando ele tende ao infinito, porque é quando a competição é perfeita. 2.2.2. Conduta ou estratégias de mercado As características da conduta estratégica de uma empresa, que acaba sendo refletido nos valores, visão e missão, é como uma empresa se comporta, como atende a demanda e o comportamento que tem no mercado. Envolvendo decisões no ambiente interno e externo. 2.2.3. As estratégias competitivas As dificuldades fazem com que as empresas se reinventem em busca de um destaque no mercado. Este modelo foca nas cinco principais competições do setor: • Entrada de novos fornecedores • Rivalidade entre as empresas estabelecidas • Poder de compra dos fornecedorese compradores • Entrada de produtos substitutos no mercado. As forças competitivas são as que tem maior relevância, pois podem fazer o lucro de uma empresa diminuir, mas as oportunidades podem fazer que cresçam e obtenham cada vez mais lucro. 2.2.4. Desempenhos mercado É o resultado da conduta de mercado com as vantagens de uma empresa com os reflexos da estrutura, condições de oferta e procura, políticas públicas e outras condições. O desempenho também leva em conta os fatores externos e internos à indústria, produção, eficiência e patentes. 3. Metodologia Essa pesquisa foi descritiva, relacionando os dados do setor supermercadista. Esse tipo de pesquisa ajuda a ter uma visão do problema e seu contexto. Efetuou as coletas de dados entre 2002-2016, das empresas atuantes no Brasil. Utilizando o modelo ECD, e analisando as barreiras do setor para a entrada de concorrentes. O grau de concorrência foi calculado por CRk e a dispersão de mercado por HH. 4. Resultados e Discussões A tabela abaixo demostra a variação do grau de concentração (CR) para o período de 2009-2016, juntamente com o valor de Herfindahl-Hirschman (HH). Tabela 3 - Índices de concentração do setor supermercadista brasileiro (2009-2016) Fontes: Dados brutos de Superhiper(2009-2016a) e Graciani (2017) O setor pode ser considerado um oligopólio moderado e forte, CR>60% e HHI >0,18. E pelo gráfico 4, podemos ver a tendência de queda entre os anos de 2009 e 2015, mostrando a redução de concentração do setor. Gráfico 4 - Evolução do HHI (2009-2015). Fontes: Dados brutos de Superhiper (2009 – 2016a) Considerando ano de 2015, vemos os valores máximos, o HHI não indica uma predominância de uma empresa especifica dentro do setor, que 60% das vendas do mercado são das cinco líderes cadeias supermercadistas do setor, com CR5. Esses valores altos e HHI baixos, é o reflexo que as empresas líderes se localizam nas maiores regiões de concentração de renda do país. Isso é exemplificado na tabela a seguir, que demonstra por estados a participação no faturamento, participação na rede nacional e a quantidade de redes no top 20 do ranking. Tabela 4 – Estado, participação no faturamento, renda nacional e ranking no top das 20 redes (2015). Fonte: Superhiper (2016a) e IBGE (2017b). Das 20 líderes cadeias supermercadistas, 17 delas estão nos cinco estados que concentram 65% da renda do Brasil, sendo que esses estados juntos totalizam 67%. É importante deixar claro a limitação desse tipo de análise, afinal, essas empresas têm poder no mercado local, ainda que tenham ocorrido decrescimento da concentração durante os anos e o valor de HHI não tenha um destaque de algum grupo. Os resultados da tabela acima demonstraram que as principais atuações das nos estado-sede, a concentração é ainda maior. Tendo os índices de concentração baixos, que é explicado pela regionalização e pulverização do país, onde o campo local aumenta mais do que em comparação a atuação nacional. 4.2. Barreiras de entrada A entrada de empresas de alto potencial sofre barreiras e acaba mantendo a estrutura de mercado oligopolizada. Essa barreira é desvantagem para todas entrantes do setor, e acabam mantendo o monopólio de preços e marcas, e isso protege as empresas já estabelecidas, mantendo os lucros acima e mantendo seu preço acima do competitivo. Existem três tipos de barreiras: a) Economia em escala, que uma empresa entrante seja obrigada a acompanhar os preços das estabelecidas, senão acaba sendo forçada a abandonar o mercado. b) Melhor condição para o fator de produção pelas empresas estabelecidas e o ganho acumulativo. c) Consumidores preferem redes estabelecidas para compras. Para as novas no setor, é necessária uma grande diferenciação de preços e ofertas. 4.3 Conduta e estratégias De acordo com o estudo podemos perceber que o cenário de supermercados e hipermercados brasileiros, as redes que dominam o mercado são as estrangeiras, e acabam mantendo o monopólio do setor. Porém, levando em conta as três estratégias competitivas (focalização, liderança de custos e diferenciação), a mais adaptada para esse contexto de mercado é a focalização. Porém, levando em consideração as três estratégias competitivas (focalização, liderança de custo e diferenciação), a mais adaptada a esse contexto de mercado é a liderança de custo, pois qualquer economia realizada em parte da produção pode representar milhões no caixa. Além disso, a padronização do serviço e dos pacotes tecnológicos utilizados contribuem para a redução de custos. 4.4 Desempenho Para avaliar o desempenho dos hipermercados e supermercados foram considerados dados de livros, artigos e informações de associações como a ABRAS. Através de uma coleta de dados, foi possível consolidar as informações e fazer uma análise mais sólida. Através disso podemos perceber que o setor é um oligopólio moderado, mas controlado por cinco empresas. Desde a década de 90, com as fusões entre as empresas o crescimento vem acontecendo de forma esperada. 5. Conclusões Quando utilizado o modelo ECD para definir a estrutura do setor supermercadistas no Brasil, os índices foram calculados de 2009 a 2016 por meio de pesquisa em livros, artigos e sites. Pelas análises, se percebe que o setor é oligopólio moderado com 50% a 65% sendo controlado pelas cinco maiores empresas e 70% a 80% controlado pelas vinte maiores. Mesmo os resultados dos índices de Herfindahl - Hirschman sendo divergentes dos obtidos pela razão de concentração, a pesquisa também demonstrou que desde os anos 90, com a abertura comercial e as fusões dentro do próprio setor, as líderes do setor tem ampliado sua participação. As estratégias que são adotadas pelas redes colaboram com a ideia de centralização do setor, sendo que as empresas líderes têm poder sobre o mercado, afinal, a competição do mercado se dá pela diferenciação. O setor caracteriza-se então por um diferenciado oligopólio e o poder das empresas que o lideram não se dá pelo excedente do consumidor, mas pela pressão dos concorrentes e fornecedores. As empresas desenvolvem marcas próprias e as menores utilizam o associativismo para ter vantagens competitivas. Mesmo que os resultados indiquem que a concentração vem se reduzindo, podemos ver no decorrer deste artigo que outras formas que não são medidas pela concentração, mas que empresas presentes assim façam. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SUPERMERCADOS – ABRAS. Cinquenta anos de supermercados no Brasil. São Paulo: Informe Comunicação, 2002. CARLTON B.; PERLOFF, J. Modern industrial organization. Harper Collins, 1994. CHURCH, J.; WARE, R. Industrial organization: a strategic approach, New York, USA, McGraw-Hill, 2000 GAIER, R. V; MOREIRA, C. Vendas no varejo têm perdas recordes em 2016 diante da recessão econômica. Reuters, Rio de Janeiro/São Paulo, 14 fev. 2017. 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