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HISTÓRIA-DO-BRASIL-E-A-PRESENÇA-DOS-AFRO-BRASILEIROS

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1 
 
SUMÁRIO 
1 A CHEGADA DOS EUROPEUS AO CONTINENTE QUE HOJE 
CHAMAMOS DE AMÉRICA ........................................................................................ 2 
2 ETNOCENTRISMO E O ABANDONO SALUTAR DO BRASIL ENTRE 1500 
E 1530 6 
2.1 O “Achamento” ..................................................................................... 6 
2.2 Etnocentrismo ...................................................................................... 8 
2.3 Os Tupiniquins ................................................................................... 10 
2.4 Primeiras Expedições ......................................................................... 11 
3 O BRASIL NOS QUADROS DO SISTEMA COLONIAL MERCANTILISTA
 13 
4 CONTESTAÇÕES AO SISTEMA COLONIAL .......................................... 20 
5 A EXPANSÃO COLONIZADORA E A FIXAÇÃO DOS LIMITES .............. 27 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 32 
6 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................... 35 
 
 
 
2 
 
1 A CHEGADA DOS EUROPEUS AO CONTINENTE QUE HOJE CHAMAMOS DE 
AMÉRICA 
 
Fonte: construindohistoriahoje.blogspot.com.br 
A região da cidade de Jerusalém, na Palestina, onde atualmente fica o Estado 
de Israel é sagrada para os fiéis das três mais importantes religiões (ditas) 
monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Desde épocas muito 
remotas, judeus, cristãos e muçulmanos fazem peregrinações a Jerusalém para 
venerar os Lugares Santos de suas respectivas fés. 
Na Idade Média – e ainda hoje, em certa medida – os cristãos em geral 
acreditavam que os lugares onde os santos viveram, os objetos por eles usados e o 
que restava de seus corpos (as chamadas “Relíquias”) possuíam poderes milagrosos, 
como a cura de enfermos e a salvação para os pecadores. Havia vários lugares de 
veneração espalhadas por todo o mundo cristão, mas a Terra Santa, onde Jesus 
viveu, pregou e foi supliciado, era considerado o mais sagrado de todos. 
Para os judeus, Jerusalém é a principal cidade de sua antiga pátria e ali se 
encontram vários locais sagrados, principalmente o “Muro das Lamentações”, ruínas 
do Templo de Salomão destruído pelos romanos no primeiro século de nossa era. 
Para os cristãos, é reverenciada por ter sido o local no qual Jesus de Nazaré viveu 
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durante os três últimos anos de sua vida, pregou, fez discípulos e foi crucificado. Para 
os muçulmanos, Jerusalém é uma Cidade Santa porque foi dali, da “Cúpula do 
Rochedo”, situada no coração de Jerusalém – reza a Tradição que ainda é possível 
ver a marca do casco do cavalo alado que o levou – que Maomé subiu ao céu. 
Apesar da grande distância da Europa Ocidental, muitos peregrinos faziam uma 
longa e arriscada jornada para chegar a Jerusalém. Alguns iam primeiro para Roma 
e, em seguida, partiam de algum porto italiano para Constantinopla, capital do Império 
Romano do Oriente ou Império Bizantino e, de lá, para a Palestina. As pessoas mais 
pobres percorriam todo o trajeto a pé. 
Os Europeus dependiam visceralmente das especiarias encontradas nas Índias 
(nome dado vagamente a toda a região sudeste do continente asiático). Em particular 
nos períodos mais quentes do ano as especiarias ou temperos (cravo, canela, noz 
moscada, pimenta...) eram fundamentais para a conservação e aprimoramento do 
sabor dos alimentos. A mesma rota usada pelos Peregrinos era também a rota dos 
mercadores (hoje eufemisticamente conhecidos como comerciantes) que iam da 
Palestina às Índias por terra e lá, trocavam produtos europeus pelas especiarias. Não 
raro, simplesmente saqueavam vilarejos hindus de suas riquezas e as vendiam na 
Europa com lucro de 100%, independente da desgraça causada no local do saqueio. 
Após longo período de cerco, em 1453 as poderosas muralhas de 
Constantinopla caíram sob o poder dos canhões de Maomé III. A “Queda de 
Constantinopla” e sua ocupação pelos turcos otomanos (muçulmanos) marca o fim do 
Império Romano do Oriente. Muitos sábios migraram de Constantinopla para Roma, 
Veneza e Gênova, na península Itálica e ajudaram, com seus aportes, a incrementar 
o Renascimento Europeu. 
Com as rotas terrestres para as Índias completamente bloqueadas pois os 
inimigos mortais dos Europeus Ocidentais ocupavam toda a Palestina e até 
Constantinopla (hoje Istambul, na atual Turquia), além disso as disputas entre 
Católicos e Protestantes no Segundo Cisma do Cristianismo tornava a Europa Central 
uma área consideravelmente perigosa para os mercadores católicos da Península 
Ibérica. Era necessário encontrar um "Caminho Marítimo" para "as Índias". 
As viagens navais daqueles tempos podem ser comparadas – grosso modo – 
às viagens espaciais da era moderna. Inicialmente, somente Portugueses e 
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Espanhóis dispunham dos conhecimentos técnicos necessários à construção de 
grandes embarcações e, com o auxílio de instrumentos aprendidos com os 
muçulmanos (como o astrolábio, por exemplo, instrumento fundamental ao fiel 
muçulmano para localizar a direção da cidade de Meca para suas preces diárias 
mesmo em dias nublados ou durante a noite) podiam navegar e orientar-se pelas 
estrelas, mesmo à noite. 
 
 
Fonte: brasilescola.uol.com.br 
Após a Unificação do Reino de Espanha com o casamento de Fernando de 
Aragão com Isabel de Castela que possibilitou a união de forças necessárias à 
retomada de Granada, ao sul da Espanha (os muçulmanos ocuparam toda a 
Península Ibérica por cerca de 700 anos, daí muito de sua influência aparece na 
cultura daqueles povos e dos latino-americanos, nós, que descendemos deles) um 
navegador genovês (nascido em Gênova, na Península Itálica) chamado Cristóvão 
Colombo conseguiu os recursos necessários a subvencionar sua ambiciosa viagem 
de circunavegação – dar uma volta à Terra, que, já se sabia, era redonda – e chegar 
“ao Levante, viajando na direção do Sol Poente”. Só não contava mesmo encontrar 
um continente inteiro no meio do caminho - sorte dele, aliás, que não contava com 
suprimentos, equipamentos e tripulação suficientemente motivada e crédula para 
chegar tão longe quanto a China, na hipótese de o Continente que hoje chamamos de 
América não existisse... 
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No entretempo os Portugueses chegavam às Índias circunavegando o 
Continente Africano em viagens, para a época, cheias de perigos e aventuras. 
Após muitos contratempos Colombo chega às ilhas do Caribe e imagina haver 
chegado às ilhas de “Cipango” – nome pelo qual o Japão era conhecido – e, como 
Marco Polo 300 anos antes, embora viajando na direção contrária, chegar até o 
“Império Katai” – como era conhecida a China. Índios do Caribe faziam referência a 
um "Grande Reino" no Continente (referiam-se à Confederação Azteca) que Colombo 
interpretou como sendo o famoso "Império Catai" encontrado por Marco Polo 250 anos 
antes. Toma posse de todas as terras encontradas em nome dos reis Cristãos de 
Aragão e Castela – independentemente de serem terras habitadas por outros seres 
humanos, que receberam o nome de “índios” pois que se imaginava estar chegando 
às Índias. Colombo morreu acreditando haver descoberto uma rota marítima para as 
Índias, navegando em linha reta na direção do Sol Poente. Naquela época, era 
totalmente desconhecida a existência de um Continente inteiro e habitado por 
milhares de Nações de Seres Humanos diferentes no caminho entre a Europa e a 
Ásia. Este continente recebeu o nome de “América” pois foi o florentino (nascido em 
Florença, na Península Itálica) Américo Vespúcio, que navegou, estudando todo o 
litoral destas terras recém encontradas, o descobridor de que se tratava de um “Mundo 
Novo” – Mundus Novus é o título do Trabalho em que registra oficialmente, pela 
primeira vez na história do Ocidente, que havia um continente inteiroentre a Europa 
e a Ásia, continente que, como se disse, em sua homenagem leva o nome de 
“América”. 
 
Fonte: schafergabriel.blogspot.com.br 
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2 ETNOCENTRISMO E O ABANDONO SALUTAR DO BRASIL ENTRE 1500 E 
1530 
 
Fonte: www.resumoescolar.com.br 
O interesse pelo Oriente – a armada de Pedro Álvares Cabral, em verdade, 
dirigia-se às “Índias” mas, seja acaso, tormentas, calmarias ou por propósito (o mais 
provável) chegou ao Brasil em 1500. Apesar de ter tomado posse da terra em nome 
do rei de Portugal, o principal interesse da monarquia, enfatize-se estava voltado para 
o Oriente, onde estavam as tão cobiçadas especiarias. 
2.1 O “Achamento” 
A Carta de Pero Vaz de Caminha fala em “achamento” destas terras, não fala 
em “descobrimento” ou “casualidade”. Tudo indica que, realmente, procuravam 
alguma terra, e a acabaram “achando”... O relato abaixo permite-nos uma ideia de 
como aconteceu este “achamento” segundo relatos de marujos da esquadra cabralina. 
Na terça-feira à tarde, foram os grandes emaranhados de “ervas compridas a 
que os mareantes dão o nome de rabo-de-asno”. Surgiram flutuando ao lado das naus 
e sumiram no horizonte. Na quarta-feira pela manhã, o vôo dos fura-buchos – uma 
espécie de gaivota – rompeu o silêncio dos mares e dos céus, reafirmando a certeza 
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de que a terra se encontrava próxima. Ao entardecer, silhuetados contra o fulgor do 
crepúsculo, delinearam-se os contornos arredondados de “um grande monte”, 
cercado por terras planas, vestidas de um arvoredo denso e majestoso. 
Era 22 de abril ale 1500. Depois de 44 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares 
Cabral vislumbrava terra – mais com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto. 
Nos nove dias seguintes, nas enseadas generosas rio sul da Bahia, os 13 navios da 
maior amada já enviada às índias pela rota descoberta por Vasco da Gama 
permaneceriam reconhecendo a nova terra e seus habitantes. 
 
 
Fonte: historiadetodosgeralebrasileiracomrafael.wordpress.com 
O primeiro contato, amistoso como os demais, deu-se já no dia seguinte, 
quinta-feira, 23 de abril. O capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias e companheiro 
de Gama, foi a terra, em um batel, e deparou com 18 homens “pardos, nus, com arcos 
e setas nas mãos”. Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um 
sombreiro preto. Em troca, recebeu um cocar de plumas e um colar de contas brancas. 
O Brasil, batizado Ilha de Vera Cruz, entrava, naquele instante, no curso da História. 
O descobrimento oficial do país está registrado com minúcia. Poucas são as 
nações que possuem uma “certidão de nascimento” tão precisa e fluente quanto a 
carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal, dom Manuel, relatando o 
“achamento” da nova terra. Ainda assim, uma dúvida paira sobre o amplo desvio de 
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rota que conduziu a armada de Cabral muito mais para oeste do que o necessário 
para chegar à Índia. Teria sido o descobrimento do Brasil um mero acaso? 
É provável que a questão jamais venha a ser esclarecida. No entanto, a 
assinaturas do Tratado de Tordesilhas, que, seis anos antes, dera si Portugal a posse 
das terras que ficassem a 370 léguas (em torno de 2.000 quilômetros) a oeste de 
Cabo Verde explique a naturalidade com que a nova terra foi avistada, o conhecimento 
preciso das correntes e das rotas, as condições climáticas durante a viagem e a alta 
probabilidade de que o país já tivesse sido avistado anteriormente parecem ser a 
garantia de que o desembarque, naquela manhã de abril de 1500, foi mera 
formalidade: Cabral poderia estar apenas tomando posse de uma terra que os 
portugueses já conheciam, embora superficialmente. Uma terra pela qual ainda 
demorariam cerca de meio século para se interessarem de fato. 
 
 
Fonte: www.youtube.com 
2.2 Etnocentrismo 
Todas as culturas e civilizações humanas partilham algumas coisas em comum; 
por exemplo, tanto Esquimós, quanto Bosquímanos, Tupinambás, Astecas, Zulus, 
Mongóis, Japoneses e Europeus consideram a própria cultura ou civilização superior 
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a todas as demais. Para os Ibéricos (Portugueses e Espanhóis) cristãos, com seu elã 
vital de "propagar o cristianismo católico" iam além e consideravam sua cultura ou 
civilização "a única válida" a exemplo dos estadunidenses hoje em dia, no século XXI. 
Aquela visão tacanha não permitiu ver a tremenda diversidade cultural entre as 
mais distintas civilizações e povos diferentes que aqui viviam: Tupinambás, Carijós, 
Tupiniquins, Ianomamis, Guaranis... Todos eram "índios sem cultura, sem rei nem lei" 
e tinham de receber a cultura e a religião ibéricas - a alternativa era a morte ("Ficar 
entre a cruz e a espada" tem precisamente este significado, por sinal). 
 
 
Fonte: fabiopestanaramos.blogspot.com.br 
Apenas a título de ilustração ou curiosidade, todas as civilizações humanas têm 
a sua própria forma fazer sacrifícios humanos. Hoje em dia, nos EUA, a moda é julgar 
formalmente e, o considerado "culpado" de algo como "crime hediondo" é sacrificado 
através do uso da Cadeira Elétrica, da Forca ou da Injeção Letal. Na Península Ibérica 
ao tempo da conquista colonial do Brasil eram também muito comuns os sacrifícios 
humanos. A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, nome eufemístico da Santa 
Inquisição, julgava - aplicando violentos métodos de tortura física e psicológica, 
extraindo confissões as mais diversas - e, ao término dos trabalhos, "abandonava ao 
braço secular" o corpo da vítima a ser sacrificada indicando como deveria ser. Um 
método muito popular de Sacrifício Humano na Península Ibérica ao tempo da 
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conquista colonial era a fogueira. A vítima era queimada numa fogueira, em geral 
ainda em vida (como ocorreu com Giordano Bruno, por exemplo); em alguns casos 
eram garroteados - mortos por enforcamento através de um garrote em torno da 
garganta - e, a seguir, incinerados para delírio da plateia. Também no continente que 
hoje chamamos América, nos tempos da conquista colonial, se praticava o sacrifício 
humano: inimigos derrotados eram mortos e sua carne, devorada pelos vencedores - 
um ritual nem tão raro nem tão comum quanto os Sacrifícios Humanos perpetrados 
na Europa cristã, naturalmente. Mas uns não consideravam aos outros como 
praticando esse tipo de coisa... 
Agora, imagine que você desse de presente para um grupo de índios da 
Amazônia (onde não há eletricidade, água encanada, saneamento básico ou mesmo 
respeito por parte da FUNAI - Funerária Nacional de Índios) um computador de último 
tipo, capaz de pegar o sinal da Internet por satélite e funcionar a bateria. Diante de tal 
peça, os Ianomami, respeitosos, o enfeitariam com penas, colocariam outros adereços 
comuns e deixariam o computador em exibição, todo enfeitado, a quem desejasse 
olhar. Estranho? E nós que pegamos seus instrumentos de trabalho - como arco-e-
flexa, por exemplo - e penduramos como enfeite em nossas paredes? Qual a grande 
diferença? 
Enfim, em última instância, no mundo humano e sendo o ser humano como é, 
vence sempre quem dispõe de maior poderio bélico, não aquele povo que manifesta 
um tipo superior de moralidade. Assim, hoje já não há quase nada de cultura nativa 
neste país. Os "índios" foram convertidos ou assassinados. 
2.3 Os Tupiniquins 
Ao longo dos dez dias que passou no Brasil, a armada de Cabral tomou contato 
com cerca de 500 nativos. 
Eram, se saberia depois, tupiniquins – uma das tribos do grupo tupi-guarani 
que, no início do século 16, ocupava quase todo o litoral do Brasil. Os tupis-guaranis 
tinham chegado à região numa série de migrações de fundo religioso (em busca da 
“Terra sem Males”, no começo da Era Cristã). Os tupiniquins viriam no sul da Bahia e 
nas cercanias de Santos e Bertioga, em São Paulo. Eram uns 85 mil.Por volta de 
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1530, uniram-se aos portugueses na guerra contra os tupinambás-tamoios, aliados 
dos franceses. Foi uma aliança inútil: em 1570 já estavam praticamente extintos, 
massacrados por Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil. 
 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
2.4 Primeiras Expedições 
O Brasil, ao contrário do Oriente, não possuía, em princípio, nenhum atrativo 
do ponto de vista comercial. Ao longo do período pré-colonial foram, entretanto, 
enviadas várias expedições a nosso pais. 
Primeiras expedições – Entre 1501 e 1502, Portugal enviou a primeira 
expedição com a finalidade de explorar e reconhecer o litoral brasileiro. Essa 
expedição, da qual se desconhece o nome do comandante, foi responsável pelo 
batismo de inúmeros lugares: cabo de S. Tomé, cabo Frio, São Vicente, etc. Com 
certeza, nessa expedição viajou o florentino Américo Vespúcio, que, posteriormente, 
em carta ao governante de Florença, Lourenço de Médici, irá declarar que não 
encontrou aqui nada de aproveitável. Apesar disso, constata a existência do pau-
brasil, madeira tintorial conhecida dos europeus desde a Idade Média, que até então 
era importada do Oriente. 
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O pau-brasil – As primeiras atividades econômicas concentraram-se, pois, na 
extração daquela madeira, segundo o regime de estanco, isto é, sua exploração 
estava sob-regime de monopólio régio. Como era costume, o rei colocou em 
concorrência o contrato de sua exploração, que foi arrematada por um consórcio de 
mercadores de Lisboa chefiado pelo cristão novo Fernão de Noronha, em 1502. 
No ano seguinte (1503) Fernão de Noronha montou uma expedição pata a 
extração do pau-brasil e fez o primeiro carregamento do produto. 
No Brasil, foram estabelecidas então as feitorias, que eram lugares fortificados 
e funcionavam, ao mesmo tempo, como depósito de madeira. O pau-brasil era 
explorado através do escambo, no qual os indígenas forneciam a mão de obra para 
corte e transporte da madeira em troca de objetos de pouco valor para os portugueses. 
Brasil 1570. Padres solicitam às Autoridades portuguesas - a Metrópole do 
Brasil na época - que enviem órfãs para se casar com os rudes trabalhadores que 
aqui moravam pois estavam obcecados - como usualmente os padres sempre são - 
com a sexualidade dos trabalhadores que, além de os afastar da missa, produzia uma 
indesejável quantidade de mestiços e a prioridade então era o "branqueamento da 
pele". 
O filme DESMUNDO revela de maneira realista o choque cultural entre meninas 
profundamente religiosas e seus maridos, brutais, acostumados com a dureza do 
trabalho e a lidar com o trabalho escravo. A maioria "amolece" a esposa como um 
domador de cavalos. Algumas se suicidam tentando voltar - a nado - a Portugal, 
algumas enlouquecem. A maioria, como desde sempre em terra brasilis, "se 
acomoda" à situação. Alain Fresnot explorou este tema brilhantemente no filme 
"Desmundo". 
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3 O BRASIL NOS QUADROS DO SISTEMA COLONIAL MERCANTILISTA 
 
Fonte: www.clickescolar.com.br 
O sistema colonial é o conjunto de relações entre as metrópoles e suas 
respectivas colônias em uma determinada época histórica. O sistema colonial que nos 
interessa abrangeu o período entre o século XVI e o século XVII, ou seja, faz parte do 
Antigo Regime da época moderna e é conhecido como antigo sistema colonial. 
Segundo o seu modelo teórico típico, a colônia deveria ser um local de consumo 
(mercado) para os produtos metropolitanos, de fornecimento de artigos para a 
metrópole e de ocupação para os trabalhadores da metrópole. Em outras palavras, 
dentro da lógica do “Sistema Colonial Mercantilista” tradicional, a colônia existia para 
desenvolver a metrópole, principalmente através do acúmulo de riquezas, seja através 
do extrativismo ou de práticas agrícolas mais ou menos sofisticadas. Uma Colônia de 
Exploração, como foi o caso do Brasil para Portugal, tem basicamente três 
características, conhecidas pelo termo técnico de “plantation”: 
_ Latifúndio: as terras são distribuídas em grandes propriedades rurais 
_ Monocultura voltada ao mercado exterior: há um “produto-rei” em torno do 
qual toda a produção da colônia se concentra (no caso brasileiro, ora é o açúcar, ora 
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a borracha, ora o café...) para a exportação e enriquecimento da metrópole, em 
detrimento da produção para o consumo ou o mercado interno. 
_ Mão de obra escrava: o negro africano era trazido sobre o mar entre cadeias 
e, além de ser mercadoria cara, era uma mercadoria que gerava riqueza com o seu 
trabalho. 
 
 O sentido da colonização – A atividade colonizadora europeia aparece como 
desdobramento da expansão puramente comercial. Passou-se da circulação 
(comércio) para a produção, No caso português, esse movimento realizou-se 
através da agricultura tropical. Os dois tipos de atividade, circulação e 
produção, coexistiram. Isso significa que a economia colonial ficou atrelada ao 
comércio europeu. Segundo Caio Prado Jr., o sentido da colonização era 
explícito: "fornecer produtos tropicais e minerais para o mercado externo". 
 
Assim, o antigo sistema colonial apareceu como elemento da expansão 
mercantil da Europa, regulado pelos Interesses da burguesia comercial. A 
consequência lógica, segundo Fernando A. Novais, foi à colônia transformar-se em 
instrumento de poder da metrópole, o fio condutor, a prática mercantilista, visara 
essencialmente o poder do próprio Estado. 
 
 As razões da colonização – A centralização do poder foi condição para os 
países saírem em busca de novos mercados, organizando-se, assim, as bases 
do absolutismo e do capitalismo comercial. Com isso, surgiram rivalidades 
entre os países. Portugal e Espanha ficaram ameaçados pelo crescimento de 
outras potências. Acordos anteriores, como o Tratado de Tordesilhas (1494) 
entre Portugal e a Espanha, começaram a ser questionados pelos países em 
expansão. 
 
A descoberta de ouro e prata no México e no Peru funcionou como estímulo ao 
início da colonização portuguesa. Outro fator que obrigou Portugal a investir na 
América foi a crise do comércio indiano. A frágil burguesia lusitana dependia cada vez 
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mais da distribuição dos produtos orientais feita pelos comerciantes flamengos 
(Flandres), que impunham os preços e acumulavam os lucros. 
 
 Capitanias hereditárias – Em 1532, quando se encontrava em São Vicente, 
Martim Afonso recebeu uma carta do rei anunciando o povoamento do Brasil 
através da criação das capitanias hereditárias. Esse sistema já havia sido 
utilizado com êxito nas possessões portuguesas das ilhas do Atlântico 
(Madeira, Cabo Verde, São Tomé e Açores). 
 
O Brasil foi dividido em 14 capitanias hereditárias, 15 lotes (São Vicente estava 
dividida em 2 lotes) e 12 donatários (Pero Lopes de Sousa era donatário de 3 
capitanias: Itamaracá, Santo Amaro e Santana). Porém, a primeira doação ocorreu 
apenas em 1534. 
 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
Entre os donatários não figurava nenhum nome da alta nobreza ou do grande 
comércio de Portugal, o que mostrava que a empresa não tinha suficiente atrativo 
econômico. Somente a pequena nobreza, cuja fortuna se devia ao Oriente, aqui 
aportou, arriscando seus recursos. Traziam nas mãos dois documentos reais: a carta 
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de doação e os forais. No primeiro o rei declarava a doação e tudo o que ela implicava. 
O segundo era uma espécie de código tributário que estabelecia os impostos. 
Nesses dois documentos o rei praticamente abria mão de sua soberania e 
conferia aos donatários poderes amplíssimos. E tinha de ser assim, pois aos 
donatários cabia a responsabilidade de povoar e desenvolver a terra à própria custa. 
O regime de capitaniashereditárias desse modo, transferia para a iniciativa privada a 
tarefa de colonizar o Brasil. Entretanto, devido ao tamanho da obrigação e à falta de 
recursos, a maioria fracassou. Sem contar aqueles que preferiram não arriscar a sua 
fortuna e jamais chegaram a tomar posse de sua capitania. No final, das catorze 
capitanias, apenas Pernambuco teve êxito, além do sucesso temporário de São 
Vicente. Quanto às demais capitanias, malograram e alguns dos donatários não só 
perderam seus bens como também a própria vida. 
Estava claro que o povoamento e colonização através da iniciativa particular 
era inviável. Não só devido à hostilidade dos índios, mas também pela distância em 
relação à metrópole, e sobretudo, pelo elevado investimento requerido. 
 
 Governo geral (1549) – Em 1548, diante do fracasso das capitanias, a Coroa 
portuguesa decidiu tomar medidas concretas para viabilizar a colonização. 
Naquele ano foi criado o governo-geral com base num instrumento jurídico 
denominado Regimento de 1548 ou Regimento de Tomé de Sousa. O objetivo 
da criação do governo-geral era o de centralizar política e administrativamente 
a colônia, mas sem abolir o regime das capitanias. 
 
No regimento o rei declarava que o governo-geral tinha como função coordenar 
a colonização fortalecendo as capitanias contra as ações adversas, destacando-se 
particularmente a luta contra os tupinambás. 
A compra da capitania da Bahia pelo rei, transformando-a numa capitania real 
é sede do governo-geral foi o primeiro passo para a transformação sucessiva das 
demais capitanias hereditárias em capitanias reais, Por fim, no século XVIII, durante 
o reinado de D. José I (1750 - 1777) é do seu ministro marquês de Pombal, as 
capitanias hereditárias foram extintas 
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Com a criação do governo-geral, estabeleceram-se também cargos de 
assessoria: ouvidor-mor (justiça), provedor-mor (fazenda) e capitão-mor (defesa). 
Cada um desses cargos possuía, ademais, um regimento próprio e, no campo restrito 
de sua competência era a autoridade máxima da colônia. Assim, com a criação do 
governo-geral, desfazia-se juridicamente a supremacia do donatário. 
 
 Tomé de Sousa (1549-1553) – O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa. 
Com ele vieram todos os funcionários necessários à administração e também 
os primeiros jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega. Começava, então, a 
obra evangelizadora dos indígenas e, em 1551, criava-se em Salvador o 
primeiro bispado no Brasil, sendo o primeiro bispo D. Pero Fernandes Sardinha. 
Com o segundo governador viria ainda outro contingente de jesuítas, entre 
eles, José de Anchieta. 
 
 
Fonte: brasillhistoria.blogspot.com.br 
Apesar de representar diretamente a Coroa, algumas capitanias relutaram em 
acatar a autoridade do governador-geral tais como as de Porto Seguro, Espírito Santo, 
Ilhéus, São Vicente e Pernambuco. Esta última, de Duarte Coelho, foi a que mais se 
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ressentiu da intromissão do governo-geral. Recusando a autoridade do governador-
geral o donatário de Pernambuco apelou para o rei, que o favoreceu reafirmando a 
sua autonomia. 
Consolidação do governo-geral – Duarte da Costa (1553 – 1558), que viera em 
substituição a Tomé de Sousa, enfrentou várias crises e sua estada no Brasil foi 
bastante conturbada. Desentendeu-se com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha e 
teve de enfrentar os primeiros conflitos entre colonos e jesuítas acerca da escravidão 
indígena. Além disso, foi durante o seu governo que a França começou a tentativa de 
implantação da França Antártica no Rio de Janeiro. 
Esses problemas foram solucionados pelo terceiro governador-geral, Mem de 
Sá (1558-1572). Com ele, finalmente, se consolidou o governo-geral e os franceses 
foram expulsos. 
 
 Predomínio dos poderes locais – Todavia, apesar da tendência centralizadora 
do governo-geral, a centralização jamais foi completa na colônia. Vários 
obstáculos podem ser mencionados. O primeiro deles estava na própria 
característica econômica da colônia. A sua economia era de exportação, 
voltada para o mercado externo. O comércio entre as capitanias era 
praticamente nulo. Além disso, as vias de comunicação inter-regionais eram 
inexistentes ou muito precárias. 
 
Daí a predominância dos poderes locais representados pelos grandes 
proprietários. Até meados do século XVII, as câmaras municipais eram ocupadas e 
dominadas por esses grandes proprietários, que se autodenominavam "homens 
bons". 
Evolução administrativa até 1580 – D. Luís Fernandes de Vasconcelos, 
nomeado sucessor de Mem de Sá foi atacado por piratas franceses que impediram a 
sua chegada ao Brasil. 
Nessa época, a preocupação com a conquista do Norte fez com que o rei de 
Portugal, D. Sebastião (1557 - 1578), dividisse, em 1572, o Brasil em dois governos. 
O norte ficou com D. Luís de Brito e Almeida e o sul com Antônio Salema tendo como 
capitais, respectivamente, a Bahia e o Rio de Janeiro 
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Em virtude do tamanho do Brasil, almejava-se com essa divisão maior 
eficiência administrativa. Entretanto, como esse objetivo não fora alcançado, a 
administração foi reunificada em 1578. O novo governador nomeado, Lourenço da 
Veiga, governou de 1578 a 1580. Nesta última data, Portugal foi anexado pela 
Espanha, dando origem à União Ibérica, que perdurou de 1580 a 1640. 
 
 A crise do Antigo Regime – O declínio da mineração no Brasil coincide, no plano 
internacional, com a crise do Antigo Regime. Fazendo um balanço de toda a 
exploração colonial do Brasil, chegamos à melancólica conclusão de que 
Portugal não foi o principal beneficiário da exploração colonial. 
 
 
Os benefícios da colonização haviam se transferido para outros centros 
europeus em ascensão: França e, em especial, Inglaterra. De fato, o século XVIII teve 
a Inglaterra como centro da política internacional e pivô das mudanças estruturais que 
começavam a afetar profundamente o Antigo Regime. Como nação vitoriosa na esfera 
econômica, a Inglaterra estava prestes a desencadear a Revolução Industrial, 
convertendo-se na mais avançada nação burguesa do planeta. 
A visível transformação econômica foi acompanhada, na segunda metade do 
século XVIII, por uma ebulição no nível das ideias. Surgiu o Iluminismo e, com essa 
filosofia, uma nova visão do homem e do mundo. Por trás de todo esse movimento, 
encontrava-se a burguesia, comandando a crítica ao Antigo Regime e, portanto, à 
nobreza e ao absolutismo. 
Mas os filósofos iluministas, como Voltaire e Diderot, seduziram os monarcas 
absolutistas da Prússia, Áustria, Rússia, Portugal e Espanha. Sem abrir mão do 
absolutismo, esses monarcas realizaram algumas das reformas recomendadas pelos 
iluministas, que vieram reforçar o seu poder, uma vez que a modernização 
empreendida aliviou as tensões sociais. Por se manterem absolutistas e optarem por 
reformas modernizadoras, aqueles monarcas ficaram conhecidos como déspotas 
esclarecidos. Esse foi um fenômeno típico da segunda metade do século XVIII. 
D. José I (1750-1777) e seu ministro, o marquês de Pombal, foram os 
representantes do despotismo esclarecido em Portugal. 
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4 CONTESTAÇÕES AO SISTEMA COLONIAL 
 
Fonte: www.estudopratico.com.br 
 Contradições do sistema colonial – O sistema colonial possuía dois eixos 
contraditórios. De um lado, senhores e escravos; de outro, colônia e metrópole. 
 
No Brasil, esse sistema ganhou a forma típica de escravismo colonial, e esse 
caráter simultaneamente escravista e colonial não foi desfeito ao mesmo tempo. 
Primeiro, romperam-se os laços coloniais e, muito mais tarde, aboliu-se a escravidão. 
Alguns historiadores, em data mais recente, afirmaram que o escravismo, e não 
o caráter colonial,vem a ser o traço definidor mais importante da sociedade. Por isso 
não dão muita importância à independência do Brasil. Para eles, o fato decisivo é a 
abolição da escravidão, em 1888. E um exagero: a superação da ordem colonial (o 
processo de independência) foi um fenômeno de grande importância e não tem 
sentido minimizá-lo em favor de outro, que foi a abolição da escravatura. 
De fato, nas inúmeras rebeliões ocorridas antes da independência, raras foram 
as que colocaram em xeque o escravismo. A maioria contestava diretamente o regime 
colonial a que o Brasil estava submetido, e muitas pessoas arriscaram a própria vida 
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para aboli-lo. E isso tem a sua importância histórica. Ninguém estava lutando contra 
uma ficção, mas contra algo muito real: a opressão e exploração coloniais. 
No entanto, aqueles historiadores não deixam de ter razão. Se prestarmos 
atenção apenas à luta pela emancipação, deixamos de lado as camadas populares e 
os escravos, pois a obra emancipadora foi, no Brasil, produto das elites. Não se deve 
esquecer que os de baixo estavam tão insatisfeitos com o regime colonial quanto com 
a dominação dos senhores de escravos. 
Tendo em vista, portanto, essa dupla contradição do sistema colonial, 
examinemos o processo emancipacionista. 
A primeira constatação importante é a de que o rompimento dos laços coloniais 
decorreu do próprio funcionamento do sistema: para explorar a colônia é preciso, 
antes de tudo, desenvolvê-la. Porém, à medida que a colônia se desenvolve, 
engendra interesses próprios que passam a divergir dos da metrópole. Esse é o 
momento em que os próprios colonos tomam consciência da exploração e de si 
próprios como colonos. Por isso mesmo, serão os integrantes da camada dominante 
os primeiros a alcançarem de forma aguda essa consciência e, em regra, serão eles 
os dirigentes desse movimento de emancipação. 
Isso não impediu, todavia, que as contradições sociais internas da colônia se 
aguçassem paralelamente à luta contra a metrópole, de modo que a ruptura dos laços 
coloniais poderia ser acompanhada, ao menos como possibilidade, de uma convulsão 
social. 
Examinando em conjunto o processo emancipacionista da América, verifica-se 
que, em geral, a independência não se fez acompanhar de uma revolução social. A 
única exceção foi o Haiti, colônia francesa que, em 1792, libertou-se da metrópole 
através de uma vasta rebelião escrava, extinguindo, ao mesmo tempo, a escravidão. 
Nos demais países, a independência não alterou em nada a estrutura social, que, no 
caso brasileiro, era escravista. Porém, isso não significa que a possibilidade de uma 
revolução social não esteve presente, de modo quase permanente, nas revoltas 
anticolonialistas. 
 
 O sentido das rebeliões coloniais – As primeiras rebeliões anticolonialistas 
surgiram nos fins do século XVII e início do seguinte e foram resultado direto 
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da nova política colonial adotada por Portugal depois da Restauração (1640). 
Nesse contexto, as contradições entre metrópole e colônia se manifestaram de 
diversas maneiras: de um lado, como protesto ao regime comercial 
monopolista, como na Revolta de Beckman (1684), no Maranhão; de outro, 
como uma guerra entre senhores e escravos fugitivos, como em Palmares 
(1694), em Alagoas; mas também como conflito entre senhores de engenho e 
mercadores, como na Guerra dos Mascates (1709-1711), em Pernambuco; e, 
enfim, como reação à opressão fiscal, exemplificada pela Revolta de Vila Rica 
(1720), em Minas. 
 
Todas essas rebeliões tiveram por base a contradição metrópole-colônia e, no 
caso de Palmares, senhores escravos. Entretanto, cada rebelião possuía o seu 
caráter específico e apresentou grande complexidade. 
Porém, as rebeliões coloniais até o início do século XVIII não chegaram a 
propor claramente a emancipação política como solução. Elas só terão esse caráter 
com a Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana ou dos Alfaiates (1798). 
As primeiras manifestações anticolonialistas. Nos primeiros tempos da 
colonização, a contradição entre metrópole e colônia era latente e existia apenas em 
potencial. Na realidade, a colônia era vista como um prolongamento da metrópole, e 
os interesses não eram, de início, conflitantes. Na fase da montagem da economia 
colonial inexistia, na prática, divergências entre colonos e o Estado metropolitano. 
Porém, à medida que o processo colonizador avançou e se consolidou, os interesses 
tornaram-se conflitantes. 
Ora, isso é perfeitamente compreensível, pois a metrópole não tem o que 
explorar se a riqueza não for produzida. Uma vez produzida, a luta pela sua posse é 
desencadeada. 
Na segunda metade do século XVII, com a Restauração (1640) e a expulsão 
dos holandeses (1654), a divergência de interesses entre colônia e metrópole tornou-
se evidente. A opressão colonial começou a ser sentida com a criação das 
Companhias de Comércio, às quais a metrópole concedeu monopólio do comércio 
colonial. A própria administração portuguesa ganhou um novo contorno com a criação 
do Conselho Ultramarino. 
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Assim, à medida que o Estado português torna-se clara e conscientemente 
colonialista, no Brasil desenvolve-se uma consciência anticolonialista. 
 
 Revolta de Beckman (1684) – Em meados do século XVII, o Maranhão estava 
com problemas devido à dificuldade de escoar a sua produção e de obter 
gêneros metropolitanos e, sobretudo, escravos. 
 
 
Fonte: estudapelaweb.blogspot.com.br 
A criação da Companhia do Comércio do Estado do Maranhão em 1682, que 
tinha por objetivo precisamente resolver tais problemas, veio agravar ainda mais a 
situação. Em princípio, essa companhia deveria não apenas adquirir a produção 
açucareis como também fornecer gêneros metropolitanos e escravos. Porém, visto 
que a ela fora concedido o monopólio tanto da venda de escravos e produtos 
metropolitanos, como da compra do açúcar, os colonos ficaram sujeitos aos preços 
arbitrariamente estabelecidos pela companhia, o que já era motivo de insatisfação. 
Essa insatisfação converteu-se em aberta rebelião porque, além disso, a companhia 
não cumpriu o seu compromisso de abastecer adequadamente o Maranhão com bens 
metropolitanos e escravos. 
A revolta eclodiu em 1684 liderada por Manuel Beckman, um abastado senhor 
de engenho. Os revoltosos propunham a abolição do monopólio da companhia e uma 
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relação comercial mais justa. Em sinal de protesto, o governo local foi deposto, os 
armazéns da companhia saqueados e os jesuítas, velhos inimigos dos colonos por 
impedirem a escravização do índio, foram expulsos. 
Sob a direção de Manuel Beckman foi composto um governo provisório, e seu 
irmão, Tomás Beckman, foi enviado a Lisboa para apresentar as reivindicações dos 
revoltosos. Estas não foram atendidas e Tomás Beckman foi preso e recambiado para 
o Brasil, na frota em que veio o novo governador, Gomes Freire de Andrade. Este 
desembarcou no Maranhão, onde foi recebido com obediência, e, em seguida, 
reconduziu as autoridades depostas. Manuel Beckman fugiu e quando planejava 
libertar o irmão do cárcere foi traído por um afilhado. Beckman foi preso e executado. 
Apesar do fracasso, esse foi o primeiro movimento anticolonial organizado, 
embora não tivesse ocorrido aos dirigentes do movimento a independência da colônia 
em relação a Portugal, ou seja, a condição colonial não foi questionada. 
 
 Quilombo dos Palmares (1630-1694) – No Brasil, a exploração colonial 
resumia-se, em última análise, na exploração do trabalho escravo pelo senhor. 
Devido ao caráter colonial dessa exploração, é verdade que o próprio senhor 
não ficava com todo o produto do trabalho escravo. Boa parte da riqueza ia 
para o Estado na forma de impostos e, também, para os cofres dos 
comerciantes portugueses.Daí a razão da revolta dos senhores contra o 
sistema colonial e as autoridades que o representavam. Mas não apenas a 
camada dominante que se rebelava. Também os escravos elaboraram meios 
de resistir contra o seu opressor imediato, isto é, o senhor. 
 
Fonte: cultura.culturamix.com 
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A resistência dos escravos assumiu formas muito variadas: fuga, suicídio, 
assassinato, passividade no trabalho, etc. Em qualquer uma dessas formas, o escravo 
negava a sua condição e se contrapunha ao funcionamento do sistema como um todo. 
A fuga, entretanto, foi a mais significativa forma de resistência e rebeldia. Não 
pela fuga em si, mas pelas suas consequências: os fugitivos se reuniam e se 
organizavam em núcleos fortificados no sertão, desafiando as autoridades coloniais. 
Observemos que, no combate à rebeldia escrava, aliavam-se senhores e autoridades 
coloniais. 
Esses núcleos eram formados por pequenas unidades, os mocambos (reunião 
de casas), que, no conjunto, formavam os quilombos. Cada mocambo possuía um 
chefe, que, por sua vez, obedecia ao chefe do quilombo, denominado zumbi. Os 
moradores dos quilombos eram conhecidos como quilombolas. Eles se dedicavam ao 
trabalho agrícola e chegavam a estabelecer relações comerciais com os povoados 
vizinhos. 
Palmares foi o maior quilombo formado no Brasil. Localizava-se no estado atual 
de Alagoas e deve o seu nome à grande quantidade de palmeiras existentes na região. 
Sua origem situa-se no início do século XVII, mas foi a partir de 1630, quando 
a conquista holandesa desorganizou os engenhos, que a fuga maciça de escravos 
tornou Palmares um quilombo de grandes proporções. Em 1675, a sua população foi 
avaliada em 20 ou 30 mil habitantes. 
Com a expulsão dos holandeses em 1654 e a escassez de mão de obra aliada 
ao fato de Palmares funcionar como polo de atração para outros escravos, 
estimulando a sua fuga, as autoridades coloniais, apoiadas pelos senhores, decidiram 
pela sua destruição. Várias expedições foram feitas contra ele, mas nenhuma delas 
teve sucesso. Foram contratados então os serviços de um veterano bandeirante, 
Domingos Jorge Velho. Apoiado por abundante material bélico e homens, o 
bandeirante contratado conseguiu finalmente destruir Palmares em 1694. Todavia, o 
chefe do quilombo, Zumbi, não foi capturado na ocasião. Somente um ano depois foi 
encontrado e executado. 
 
 Guerra dos Mascates (1709-1711) – A Guerra dos Mascates ocorreu em 
Pernambuco e, aparentemente, foi um conflito entre senhores de engenho de 
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Olinda e comerciantes do Recife. Estes últimos, denominados "mascates", 
eram, em sua maioria, portugueses. 
 
 
Fonte: ven1.blogspot.com.br 
Antes da ocupação holandesa, Recife era um povoado sem maior expressão. 
O principal núcleo urbano era Olinda, ao qual Recife encontrava-se subordinado. 
Porém, depois da expulsão dos holandeses, Recife tornou-se um centro 
comercial, graças ao seu porto excelente, e recebeu um grande afluxo de 
comerciantes portugueses. 
Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho. 
O desenvolvimento de Recife, cidade controlada pelos comerciantes, testemunhava o 
crescimento do comércio, cuja importância sobrepujou a atividade produtiva 
agroindustrial açucareis, à qual se dedicavam os senhores de engenho olindenses. 
O orgulho desses senhores havia sido abalado seriamente desde que a 
concorrência antilhana havia colocado em crise a produção açucareis do nordeste. 
Mas ainda eram poderosos, visto que controlavam a Câmara Municipal de Olinda. 
À medida que Recife cresceu em importância, os mercadores começaram a 
reivindicar a sua autonomia político-administrativa, procurando libertar-se de Olinda e 
da autoridade de sua Câmara Municipal. A reivindicação dos recifenses foi 
parcialmente atendida em 1703, com a conquista do direito de representação na 
 
27 
 
Câmara de Olinda. Entretanto, o forte controle exercido pelos senhores sobre a 
Câmara tornou esse direito, na prática, letra morta. 
A grande vitória dos recifenses ocorreu com a criação de sua Câmara Municipal 
em 1709, que libertava, definitivamente, os comerciantes da autoridade política 
olindense. Inconformados, os senhores de engenho de Olinda, utilizando vários 
pretextos (a demarcação dos limites entre os dois municípios, por exemplo), re-
solveram fazer uso da força para sabotar as pretensões dos recifenses. Depois de 
muita luta, que contou com a intervenção das autoridades coloniais, finalmente em 
1711 o fato se consumou: Recife foi equiparada a Olinda. Assim terminou a Guerra 
dos Mascates. 
Com a vitória dos comerciantes, essa guerra apenas reafirmava o predomínio 
do capital mercantil (comércio) sobre a produção colonial. E isso já era fato, uma vez 
que os senhores de engenho eram frequentemente devedores dos mascates. 
Portanto, a equiparação política das duas cidades tinha fortes razões econômicas e 
obedecia à lógica do sistema colonial. 
5 A EXPANSÃO COLONIZADORA E A FIXAÇÃO DOS LIMITES 
 Tratados luso-espanhóis – Portugal e a Espanha, os pioneiros da expansão 
ultramarina, a fim de garantir a possessão dos territórios descobertos 
recorreram à autoridade do papa para legitimá-los. Assim, no Ocidente foi 
estabelecido inicialmente a Bula Inter-Coetera (1493), um meridiano que 
passava a 100 léguas a oeste de Cabo Verde dividindo domínios portugueses 
e espanhóis. O meridiano da Bula Inter-Coetera não permitia a inclusão do 
Brasil como domínio português. No ano seguinte, uma nova divisão foi 
negociada, dando origem ao Tratado de Tordesilhas (1494), que estipulou um 
meridiano a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, ampliando o domínio 
português, incluindo desta vez parte do que seria mais tarde o Brasil. 
 
Não tardou que a emergência de novas potências europeias (Holanda, França, 
Inglaterra) viesse a contestar a partilha do mundo pelas nações ibéricas. Assim, a 
alteração do quadro internacional no início do século XVI forçou Portugal e a Espanha 
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a adotarem uma atitude mais efetiva em relação à América. A colonização, como 
vimos, viabilizou a posse efetiva. 
 A ocupação do litoral: a expansão oficial – Mesmo depois de decidida a 
ocupação efetiva do Brasil pela colonização, o litoral não deixou de ser 
constantemente ameaçado, principalmente pelos franceses. A dificuldade em 
desalojá-los foi devida, em grande parte, à sua aliança com os tupinambás, 
inimigos mortais dos tupiniquins, aliados dos portugueses. Por isso, a conquista 
do litoral deveu-se à conjugação de ações militares e religiosas. Através das 
primeiras repelia-se o rival e, em seguida, fundava-se um forte para guarnecer 
a região. Depois eram enviadas missões religiosas a fim de pacificar os 
indígenas. Porém, quando estes se mostravam excessivamente rebeldes, 
utilizava-se a força pura e simples para reduzi-los à submissão. 
 
À medida que a colonização avançava, os franceses foram sendo repelidos 
para o norte, onde procuravam ainda extrair o pau-brasil. Assim, sucessivamente 
foram sendo conquistados Sergipe Del Rei, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, 
Maranhão e, finalmente, o Grão Pará, cuja conquista completa dar-se-ia somente em 
meados do século XVII. Antes, porém, de serem repelidos para o Pará, os franceses 
tentaram ainda fundar no Maranhão a França Equinocial, em 1612, erguendo o forte 
de São Luís, num derradeiro esforço para preservar uma colônia no Brasil. Depois da 
conquista do Pará, os franceses finalmente iriam se estabelecer nas Guianas, onde 
não foram mais molestados. 
No sul, Portugal fundou em 1680 a Colônia do Sacramento, na margem 
esquerda do rio da Prata, para se contrapor a Buenos Aires do outro lado do estuário 
do rio. Nessa área, aliás, iria se desenrolar um intenso conflito entre portugueses e 
espanhóis, além da intervenção de outras potências, como Françae Inglaterra, em 
virtude da posição estratégica do rio dá Prata, cuja livre navegação era defendida por 
várias nações. 
 
 Povoamento do Brasil até meados do século XVII – A colonização do Brasil, 
que teve como fundamento a agroindústria açucareira, possibilitou a ocupação 
efetiva do litoral. Durante muito tempo, segundo a expressão famosa de frei 
 
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Vicente do Salvador, que viveu no século XVII, os colonos limitavam-se a 
"andar arranhando as terras ao longo do mar como caranguejos". 
A interiorização da colonização, entretanto, iniciou-se com o desenvolvimento 
da pecuária nordestina, que foi gradualmente se afastando do litoral açucareiro que 
lhe dera origem. Seus focos de irradiação foram Bahia e Pernambuco. Seguindo as 
margens dos rios, o gado iria possibilitar o povoamento do sertão de Pernambuco, 
Bahia, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Maranhão. 
Outro importante fator de ocupação do interior foi o bandeirismo, o responsável 
pela incorporação da maior parcela territorial pertencente à Espanha ao domínio 
português. O bandeirismo foi um fenômeno tipicamente paulista. 
A capitania de São Vicente, apesar do relativo sucesso no começo da 
colonização, terminou por mergulhar num estado de profunda pobreza por causa de 
sua posição excêntrica em relação ao polo dinâmico do nordeste. A falta de contato 
com a metrópole estimulou os vicentinos a entrarem para o interior depois de subir a 
serra do Mar e atingir o planalto de Piratininga. A princípio, tratava-se de encontrar o 
ouro ou a prata. É a fase do bandeirismo do ouro de lavagem. No início do século 
XVII, os holandeses ocuparam o nordeste e estenderam o seu domínio sobre a África 
portuguesa, desencadeando uma crise de mão de obra na parte portuguesa do Brasil. 
Os engenhos da Bahia passaram a ter dificuldades de reposição de seu estoque de 
escravos. Para atender a essa procura, os bandeirantes voltaram-se para a captura 
de índios, dando origem ao bandeirismo de preação. Essa fase culminou com os 
ataques às missões jesuíticas espanholas do Tape, Itatim e Guairá. Nessas missões 
(aldeamento de índios para a catequese), havia um número considerável de índios 
guaranis. Esses aldeamentos foram estabelecidos com o consentimento do rei 
espanhol, que via neles uma forma de preservar o domínio territorial sulino que lhe 
pertencia por força do Tratado de Tordesilhas. Contudo, a reunião dos índios nessas 
reduções atraiu os bandeirantes, que, num único ataque, conseguiam mão de obra 
abundante e já disciplinada pelos jesuítas. 
O bandeirismo de preação entrou em declínio tão logo os holandeses foram 
expulsos e as posições portuguesas na África recuperadas, regularizando o 
abastecimento de escravos. A partir disso, o bandeirismo tornou a se redefinir. 
 
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De fato, na segunda metade do século XVII, ao mesmo tempo em que 
aumentavam a exploração e a opressão coloniais, ficava evidente a divergência de 
interesses entre metrópole e colônia. Na colônia aumentou a tensão entre escravos e 
grandes proprietários. Na época da conquista holandesa, ocorreram fugas em massa 
de escravos, que formaram o mais famoso quilombo, o de Palmares, em Alagoas. Da 
mesma forma, os indígenas oprimidos organizaram no Rio Grande do Norte a 
Confederação dos Cariris. Para destruir esses focos de rebelião, os grandes 
proprietários do nordeste recorreram a esses rústicos bandeirantes que agora 
passaram a ser utilizados como força repressora. Teve início aí o sertanismo de 
contrato, a última forma e fase do bandeirismo. Para destruir a resistência do 
Quilombo dos Palmares e da Confederação dos Cariris foram contratados os serviços 
de Domingos Jorge Velho. 
 
 A mineração e o povoamento do Brasil central – Com a mineração deu-se o 
passo decisivo na ocupação do interior. Com a descoberta de ouro nas Gerais, 
o centro dinâmico da economia deslocou-se do litoral nordestino para. o centro-
sul do Brasil. Além de propiciar a formação de um mercado interno, o polo 
minerador serviu de elemento articulador da economia colonial, através da 
pecuária nordestina e sulina. Esta última, ao se desenvolver e se articular com 
os centros mineiros, criou condições para a efetiva ocupação do Rio Grande 
do Sul. 
 
Fonte: maniadehistoria.wordpress.com 
 
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 A colonização do extremo norte; o vale amazônico – A colonização da 
Amazônia - que hoje corresponde aos estados do Amazonas e do Pará - foi 
estimulada pelas preocupações de garantir a posse e o acesso ao rio 
Amazonas e impedir a presença de rivais de outros países. A base de ocupação 
se deu através do extrativismo vegetal e do apresamento indígena. 
 
O extrativismo vegetal consistiu na exploração das chamadas "drogas do 
sertão”: cacau, guaraná, borracha, urucu, salsaparrilha, castanha-do-pará, gergelim, 
noz de pixurim, baunilha, coco, etc. Por isso, a escravidão tinha ali um terreno 
desfavorável, pois a exploração da Amazônia dependia do bom conhecimento da 
região. Daí a importância dos índios locais que serviam de guias. A forma 
predominante que caracterizou a integração da Amazônia ao conjunto da economia 
colonial foi o estabelecimento das missões jesuíticas, que chegaram a aldear perto de 
50 mil índios. 
 
32 
 
BIBLIOGRAFIA 
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Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Universidade de São Paulo, 1988. – (Coleção 
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35 
 
6 LEITURA COMPLEMENTAR 
 
 
AUTOR: Miguel Lima 
DISPONÍVEL EM: 
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artig
os_teses/2010/Historia/monografia/3lima_miguel_nonografia.pdf 
ACESSO: 19 de dezembro de 2016 
 
 
A TRAJETÓRIA DO NEGRO NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DA CULTURA 
AFRO 
 
INTRODUÇÃO 
Desde o momento em que os portugueses, levados pela escassez de mão de 
obra no período colonial no Brasil, decidiram importar escravos, não tinham 
conhecimento do tratamento desumano que seria impostos aos cativos. Por certo, 
também não tinham ciência de que os descendentes desta raça sofrida, viveriam, 
séculos mais tarde, contribuindo para o mundo das artes, dos esportes, da política, 
enfim, da vida social brasileira. 
Dos negros trazidos para o Brasil e feitos escravos, restou sua cultura que 
orgulha não somente as pessoas que são definidas como descendentes afro-
brasileiro, mas a todos os que vivem neste país. São tradições, costumes, fatos e mais 
uma infinidade de coisas que se transmitem de forma duradoura por várias gerações. 
Conclui-se que os estudos nas escolas do Brasil se apresentam pouco 
generosos com relação a trajetória dos negros em nosso país. Não exatamente por 
omissão, mas pela ausência da conscientização de que o negro foi importante para o 
Brasil, de que sua cultura deve ser preservada e conhecida, além de que a cultura 
afrobrasileira é a de todos os que vivem neste país. Vive-se num país aparentemente 
sem preconceitos raciais. 
Vibra-se com gols de jogadores negros, com músicas que embalam os 
momentos inesquecíveis, mas ainda se convive com um preconceito retido no fundo 
das almas. Seja no tratamento, seja nos espetáculos televisivos ou teatrais, no 
 
36 
 
ambiente de trabalho, sente-se que os espaços ainda não estão devidamente 
preenchidos por esta parcela tão sofrida da sociedade. 
Objetivou-se no presente estudo mostrar aos alunos um pouco mais da história 
do negro no Brasil, sua trajetória, sua vida em nosso país, sua cultura, seus momentos 
de amargura que não raras vezes se transformavam em danças, músicas e momentos 
em que esqueciam o sofrimento do dia a dia. 
Teve-se ainda a intenção de conscientizar sobre o preconceito que existe em 
nossos dias. Ele está contido nas frases, nas ações, nos espetáculos, ou seja, em 
tudo que influenciam a mídia. Considera-se ser preciso arrancar as raízes que existem 
as pessoas que orgulham de ser preconceituosas e não compreendem o negro como 
um irmão que está do lado do bem. 
 
DEFININDO CULTURA 
 
A cultura é uma palavra que tem vários significados. Pode ser referente aos 
conhecimentos que uma pessoa tem sobre artes, ou seja, ligados ao saber como 
forma geral. No entanto, no sentido que interessa como estudo e pesquisa seu sentido 
é bem maior. No fim do século XIX começaram a ser definidas as idéias de cultura 
como o conjunto de modos de pensar, sentir, agir de um determinado grupo de 
pessoas. 
Os estudiosos da vida do ser humano e das sociedades acreditam que na base 
da vida social é que se encontra a capacidade de simbolizar o ser humano, atribuindo 
a eles as palavras, os gestos, comportamentos, que permitem aos mesmos a 
transmissão de sentimentos, idéias, e regras estabelecidas. A maneira de como se 
compartilham os sentidos é o que formam a cultura, com propriedades do seu grupo, 
fazendo com que se acredite nas mesmas coisas, entenda os mesmos gestos gráficos 
e saiba se comportar diante de situações diversas. 
Conforme observa Souza (2008): 
 
É claro que muitas vezes pode haver mal-entendidos entre os membros de 
uma mesma cultura, assim como e possível entender coisas de culturas às 
quais não pertencemos. Mas no geral, para entendermos bem outra cultura, 
temos de passar por um aprendizado dos seus códigos básicos, senão 
estaremos apenas projetando sobe os significados que aprendemos na nossa 
 
37 
 
própria formação, ao longo do nosso processo de socialização, de nos 
tornarmos parte de um corpo social. A cultura é algo que nos permite fazer 
parte de um grupo e nos dificulta sermos um membro integral de um grupo 
que não o nosso, a não ser que nos transformemos radicalmente. (SOUZA, 
2008, p. 87) 
O Brasil é um país rico em diversidade cultural. Consequências de uma 
colonização construída por diversos povos que aqui se integraram trazendo 
juntamente com suas esperanças e planos, o seu patrimônio cultura. Nosso povo 
adotou essas culturas em sua bagagem cultural, na música, na religião, no modo de 
falar. Pode-se definir, em nível de Brasil, que a cultura que cerca seus habitantes é 
uma herança social provinda dos portugueses, italianos, espanhóis, índios e negros. 
Sobretudo os últimos deixaram sua cultura evidente principalmente considerando sua 
trajetória pelo Brasil, sua história carregada de sofrimentos e preconceitos que se 
perpetuam, ao lado da cultura, até os dias de hoje. A história do negro no Brasil, 
contada nas escolas, em sua maioria, vale-se de descrever o período da escravidão 
e os horrores do caminho percorrido, e menciona superficialmente a cultura afro-
brasileira e a tradição negra. 
Araujo definiu: 
Penso, por fim, na ambiguidade desta nossa história de que são vítimas os 
negros, numa sociedade que os exclui dos benefícios da vida social, mas que, 
no entanto, consome os deuses do candomblé, a música, a dança, a comida, 
a festa, todas as festas de negros, esquecida de suas origens. E penso 
também em como, em vez de registrar simplesmente o fracasso dos negros 
frente às tantas e inumeráveis injustiças sofridas, esta história termina por 
registrar a sua vitória e a sua vingança, em tudo o que eles foram capazes de 
fazer para incorporar-se à cultura brasileira. Uma cultura que guarda, através 
de sua história, um rastro profundo de negros africanos e brasileiros, mulatos 
e cafuzos, construtores silenciosos de nossa identidade. E não se pode dizer 
que não houve afetividade ou cumplicidade nessa relação. A mestiçagem é a 
maior prova dessa história de pura sedução, da sedução suscitada pela 
diferença, que ameaça e atrai, mas acaba sendo incorporada como convívio 
tenso e sedutor, em todos os momentos da nossa vida. Tudo isso é memória. 
Tudo isso faz parte da nossa história. Uma história escamoteada que já não 
poderá mais ficar esquecida pela história oficial. (ARAUJO. 2007, p.5) 
Já foi escrito por vários autores que o Brasil é um país culturalmente pobre e 
que a cultura não é valorizada. Segundo eles, as escolas se restringem a assegurar 
aos alunos um pouco sobre os índios, o que apesar de ser importante não é suficiente 
para se ensinar aos alunos, conceito de cultura de um país. Perguntam onde está a 
cultura dos portugueses, italianos, japoneses, alemães que está limitada ao seu meio, 
 
38 
 
sem que as demais regiões tenham conhecimento dela. Novamente se salienta a 
cultua afro-brasileira como a que deixou mais marcas e que se vê na quase totalidadedo país. 
Para se falar sobre a cultura afro-brasileira não se poderia deixar de mencionar 
o período escravo que se constitui numa mancha difícil de apagar. É impossível se 
falar sobre a cultura dos negros, sua passagem pelo Brasil e seus dias atuais se não 
for escrito sobre a escravidão e suas consequências. Este estudo pretende abranger, 
entre outros assuntos, a escravidão, seus conhecidos males, sua travessia pelo 
Atlântico, seu período angustiante, a abolição, suas consequências imprevisíveis e a 
trajetória dos negros após a liberdade. É importante salientar que o Brasil carrega um 
amargo detalhe na sua História; foi a última nação do mundo a abolir a escravidão. 
 
A ESCRAVIDÃO COMO MÃO DE OBRA 
 
Para se falar sobre a cultura afro-brasileira não se poderia deixar de 
mencionar o período escravo que se constitui numa mancha difícil de apagar. 
É impossível se falar sobre a cultura dos negros, sua passagem pelo Brasil e 
seus dias atuais se não for escrito sobre a escravidão e suas consequências. 
Este estudo pretende abranger, entre outros assuntos, a escravidão, seus 
conhecidos males, sua travessia pelo Atlântico, O índio brasileiro era tão 
desprezível na avaliação portuguesa que o preço de cada um não 
ultrapassava a casa dos quatro mil-réis, enquanto o negro nunca era vendido 
por menos de cem milréis, isto no início da escravidão. Eram, pois, os 
africanos, mercadoria de alto valor na época. Para isso concorria, de certo, 
sua fácil adaptação a faina agrícola, uma vez que, acostumados a outras 
condições de vida, decorrentes de civilização maias adiantada, seus hábitos 
e temperamento muito diferiam do nomadismo indígena. [...] (LUNA, 1968, p. 
16) 
Mais tarde, aproximadamente na década de 1690, as regiões de Angola e de 
Costa da Mina forneceram escravos para o Brasil. Os provenientes da Costa da Mina 
se destinaram em especial à Bahia, enquanto que os que vieram de Angola foram 
localizados na região do Rio de Janeiro. No século XIX, foram exportados para o 
Atlântico, aproximadamente 3,5 milhões de escravos. 
Na primeira metade do século XX a região Centro Ocidental da África exportou 
1,5 milhão, tendo a triste marca de ser o maior fornecedor de cativos. As exportações 
de escravos passaram a ser cada vez mais lucrativas e na região acima se iniciou 
uma escassez de pessoas. Começaram então as capturas por outras regiões, desde 
 
39 
 
a costa até as savanas. Os portugueses comerciavam os escravos principalmente nas 
regiões de Luanda e 
Benguela, nas quais os capturados eram trocados por tecidos, armamentos e 
por aguardente brasileira. 
As negociações envolviam várias etapas, eram lentas e com gestos cheios 
de significados simbólicos. Os navios tinham que pagar taxas de ancoragem, 
e os capitães ofereciam presentes para os chefes locais ou para os 
representas dos reis, que moraram no interior do continente. Estes 
geralmente eram presenteados com tecidos finos, como brocados, veludos e 
sedas, com botas de couro, chapéus emplumados, casacos agaloados, 
punhais e espadas trabalhadas, pipas de bebidas destiladas, cavalos e uma 
variedade de produtos que indicavam prestigio. (Souza, 2008, p. 59) 
O processo de ancoragem e da negociação dominava um grande espaço de 
tempo. A cada dia as trocas de escravos por mercadorias se arrastavam. Devido a 
este processo lento um navio poderia levar até seis meses para completar a carga e 
retornar ao ponto de origem. 
As regiões onde viviam os que foram escravizados e trazidos para o Brasil, 
possuíam costumes, línguas, organizações de sociedade, religiões completamente 
diferentes umas das outras. Quando eram condenados pelas rígidas leis da sua 
sociedade, capturados nas pequenas aldeias, ou até mesmo nas pequenas guerras, 
nos caminhos que percorriam, quase indiferentes ao que se passava, viam 
perspectiva de incertezas. 
Souza descreve que (2008, p.84): “Além de serem afastados das aldeias nas 
quais cresceram e que eram o centro de seu universo, muito poucas vezes 
conseguiam se manter próximas de conhecidos e familiares mesmo quando todos 
eram capturados juntos”. 
Depois de capturados, em sua terra de origem, os que seriam vendidos, eram 
ligados, uns aos outros com elos de ferro que impediam as possíveis tentativas de 
fuga. Iniciavam a marcha até o porto, muitas vezes açoitados. O alimento e a água 
eram insuficientes, pois não se podia gastar muito tempo para alimentação, diante da 
pressa dos compradores. Os maus tratos e indiferença por suas vidas ocasionavam 
muitas mortes pelo caminho. Essas, quando ocorriam, o cadáver era desprendido da 
argola de ferro e jogado em um ponto qualquer do caminho. Os que sobreviviam eram 
levados ao navio, atirados nos porões onde os espaços eram mínimos e tão escuros 
que não se sabia se era dia ou noite. 
 
40 
 
Empilhados nos porões, recebendo parcas rações de comida e de água, era 
natural que o morticínio fosse acentuado. Perdia-se, invariavelmente, 10% da 
carga, na melhor das hipóteses, e casos houve em que morreu a metade dos 
indivíduos transportados. Amontoados no porão, quando o navio jogava, a 
massa de corpos negros agitava-se como um formigueiro, para beber um 
pouco desse ar lúgubre que se escoava pela estilha gradeada de ferro. 
(MACEDO, apud. MARTINS, 1974, p. 29) 
É importante mencionar que na medida em que a caravana de escravos se 
aproximava do local de embarque, o número deles crescia, com a adesão obrigatória 
de novos negros nas feiras. Por serem pessoas com culturas diferentes era natural 
que se sentissem sozinhas na nova etapa da vida que se iniciava, uma vez que os 
escravos trazidos não se destinavam a uma só região. Infelizmente sobraram poucos, 
quase inexistentes relatos dos que viverem os horrores da travessia nos navios 
negreiros. Enquanto isso, nas livrarias, sobram obras que tentam explicar, com lógica, 
a prática deste transporte e da escravidão. Logo que eram capturados e negociados 
com os europeus, começavam as privações. Por medida de economia recebiam uma 
alimentação ínfima, composta de um pouco de carne seca, farinha de mandioca e 
arroz. 
 
A TRAVESSIA DO ATLÂNTICO E A CHEGADA DOS AFRICANOS AO BRASIL 
 
A média de escravos em cada porão dos navios negreiros eram de 440 
pessoas. A viagem durava em média 43 dias, caso a viagem partisse do centro sul da 
África. Nas partidas de Moçambique dobravam os dias da viagem assim como as 
mortes que podiam chegar a 20%. Nos porões dos navios, a falta de alimentação e o 
contato muito próximo, uma vez que viajavam amontoados, o calor e a exposição dos 
corpos àquela situação degradante, fizeram com que se disseminassem as doenças. 
Uma das doenças mais comuns era o escorbuto, contraída pela falta de vitamina C. 
Apesar de, no início do século XIX, as condições das embarcações terem 
melhorado um pouco, comparando-se com os séculos anteriores, pois 
passaram a contar com a presença de ao menos um cirurgião-barbeiro, de 
capelães, de uma botica, além da separação entre homens e mulheres, as 
viagens continuavam sendo muito penosas, com porões superlotados de 
africanos, que se apertavam para conseguir dormir durante meses sobre o 
chão duro. Eles passavam quase todo o tempo acorrentados e, no momento 
do embarque, ou ainda nos barracões costumavam ter o corpo marcado a 
ferro quente com as iniciais ou símbolos dos proprietários. (MATTOS, 2007, 
p. 100) 
 
41 
 
Havia ainda o medo crucial do comandante do barco e de seus auxiliares, de 
uma revolta dos negros. Estes passaram, apesar do sacrifício da viagem, a contar 
com solidariedade entre eles, levada pelo convívio prolongando. Chegavam a cogitar 
um motim e para que isso fosse evitado, era destacado algum tripulante capaz de 
entender o assunto travado entre os escravos. 
O primeiro passo para se alterar a trajetória dos africanos no Brasil, foi a Lei 
Eusébio de Queiróz, promulgada pelo mesmo, então Ministro da Justiça entre1848 e 
1852. Aprovadaem 4 de setembro de 1850 devido a pressão exercida pela Inglaterra, 
que foi o principal motivo para que a lei fosse sancionada. 
No entanto os efeitos imediatos da lei não foram alcançados rapidamente, 
chegando a haver uma intensificação na entrada de africanos ilegalmente no Brasil, 
após a promulgação da Lei. As pressões se tornaram mais intensas e o tráfico interno 
de escravos continuou nas províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, que eram os 
mais produtivos no que se refere ao cultivo do café. 
Os motivos alegados pelo então Ministro, para sua Lei, não se revelavam 
simplesmente por questões humanitárias. Explicando as razões, explanava que 
centenas de fazendeiros, em especial os do “Norte do Império” atravessavam um 
período de dificuldades com dívidas contraídas com traficantes de escravos. 
Havia, em sua maioria, os que hipotecaram suas fazendas com grandes 
traficantes portugueses. Alegava assim que as possibilidades eram imensas de 
grandes propriedades territoriais saírem das mãos de seus legítimos donos e se 
transformarem em territórios de especuladores e traficantes. Referia-se assim aos 
portugueses numa clara alusão às possibilidades de os lusos voltarem a ameaçar a 
soberania nacional. 
Outra razão demonstrada por Eusébio de Queiroz para sua Lei era a de que se 
Império continuasse autorizando a entrada de cativos africanos em grande 
quantidade, como até então, poderia haver um desequilíbrio quantitativo entre 
pessoas livres e escravos, o que ameaçaria os brancos. A sociedade ficaria 
desprotegida diante do grande número de escravos que poderiam, a qualquer 
momento, rebelar-se e sua insurreição espalharia o terror entre os cidadãos. 
Luna descreve: 
 
42 
 
A importação não cessou até as vésperas da Abolição. Embora vigorassem 
leis proibitivas, os negreiros sempre encontravam meios de burlá-las, 
geralmente, com a complacência das próprias autoridades, o que não é de 
estranhar, sabendo-se que a classe dominante era constituída de senhores 
de escravos, fazendeiros de café e donos de engenhos, seus parentes e 
aderentes, transformados, de uma hora para outra, em nobres da Colônia e 
do Império [...] (LUNA, 1968, p.98) 
OS ESCRAVOS NOS PORTOS BRASILEIROS 
Depois da incerta e terrível viagem chegavam os africanos aos portos do Brasil. 
Eram retirados dos porões e repartidos aos lotes independentemente de serem ou 
não da mesma região, parentes, pais, mães filhos ou não. Não se dava importância a 
estes fatos, era como se eles não tivessem alma, sentimento, amor ou fossem 
insensíveis a dor, a fome, aos maus tratos. 
Os traficantes sempre traziam alguns escravos a mais, em número superior as 
encomendas para serem vendidos nas feiras ou leilões. Desembarcavam quase sem 
roupas, com apenas uma faixa de tecido cobrindo uma parte do corpo. Os cabelos e 
a barba eram cortados, determinava-se que tomassem um banho, recebiam algumas 
toscas roupas de tecido grosseiro, para que melhorassem a aparência e pudessem 
alcançar um maior preço no Mercado. Este era um imenso rancho, semelhante a uma 
cocheira. Os que apresentavam um quadro de debilidade em virtude de doenças 
adquiridas no transporte eram isolados e recebiam cuidados, para mais tarde, serem 
oferecidos aos compradores. 
No Rio de Janeiro o Mercado ficava em Valongo, próximo da Praça Mauá. À 
porta do Mercado colocavam um cartaz onde se anunciava: “negros fortes, bons e 
moços, chegados na última nau.” (MACEDO, 1974) 
A chegada dos compradores fazia parte de um ritual considerado inconcebível 
nos dias de hoje; os músculos dos negros eram apalpados, tinham os lábios 
levantados para o exame dos dentes e eram obrigados a saltar, dançar, para que 
fosse examinado seu vigor físico. 
A arte de comprar exigia experiência do comprador. Havia a prova do suor. O 
comprador passava o dedo pelo corpo do escravo exposto e lambia para sentir se era 
suor verdadeiro ou efeito de algum óleo para tornar a pele brilhante, uma vez que o 
suor na pele do escravo representava bom estado de saúde. Sua barriga era apertada 
 
43 
 
para detectar dor que manifestasse alguma doença, seu peito era escutado, todo o 
corpo examinado. 
Quando se tratava de mulher, os seios eram bem examinados pois poderia 
vir a servir como ama de leite e bem assim as nádegas. Tinha-se interesse 
em negras do traseiro grande, bem servido de carnes, porque isso era – 
diziam – indicio de força, saúde e qualidade de boa parideira, capaz de dar 
novos escravos ao senhor. (MACEDO, 1974, p. 32) 
Alguns africanos, no caso de serem descartados, eram levados em comboios 
em barcos ou a pé, em direção às cidades do interior onde seriam vendidos a 
tropeiros, a preços menores, configurando-se assim o tráfico interno de escravos. 
O preço dos escravos era definido pelo sexo, idade e especialização, mas 
dependia, sobretudo, de sua condição física. O destino dessas peças estava nas 
mãos dos senhores, que podiam alugar, vender, hipotecar, segurar ou penhorar suas 
novas propriedades. O preço dos escravos variou muito durante os quatro séculos de 
sua comercialização. Após o final do tráfico, em 1850, o valor dos cativos dobrou, 
quase inviabilizando a sua utilização. Um escravo homem e adulto podia valer mais 
do que uma casa na cidade ou três toneladas de café. (MOURA, 1996) 
 
O INÍCIO DA NOVA VIDA ESCRAVA 
 
Os senhores nomeavam os africanos que eram comprados e passavam a ser 
mercadoria, da seguinte maneira. Os que não entendiam, não falavam português e 
desconheciam os costumes da terra, eram considerados os boçais. Os que aprendiam 
a língua portuguesa, os costumes da nova terra e desempenhavam as funções que 
lhe eram determinadas eram chamados de ladinos. Os que nasciam no Brasil e tinham 
o português como sua primeira língua falada e se comportavam dentro dos padrões 
portugueses, diante de seus donos, eram chamados de crioulos. 
No século XIX, a maioria era levada para trabalhar nas plantações de café. 
“Mas também as cidades, a essa altura, maiores e com mais necessidade de 
trabalhadores, absorviam-nos em grande quantidade”. (SOUZA, 2008) 
O mundo dos escravos se resumia ao trabalho, único, estafante e obrigatório. 
No entanto, havia os que possuíam alguma habilidade, ou a adquiriam e eram os 
escravos urbanos, mais bem tratados. É interessante salientar que, diante da mão de 
 
44 
 
obra escrava, tornou-se uma efetiva desonra uma pessoa livre trabalhar, 
principalmente em funções mais modestas. Entretanto, os escravos que trabalhavam 
nas regiões rurais se constituíam na maioria. 
As condições de se conseguir uma alforria eram remotas e o poder, autoridade 
e crueldade dos seus proprietários desconheciam limites. A jornada de trabalho era 
extensa a qual se iniciava antes do nascer do sol e terminava às onze da noite, nas 
épocas de colheitas. Havia ainda os que se tornavam escravos domésticos. Eram 
escolhidos conforme sua aparência e eram bem vestidos. 
Esse é o universo das mucamas, pajens, amas-de-leite, amas-secas, 
cozinheiras, cocheiros, lavadeiras, copeiros e garotos de recado. No entanto, 
esses cativos representavam uma minoria e não raro distanciavamse dos 
demais. Uma velha ladainha dizia: Negro no eito vira copeiro, não óia mais 
pra seu parceiro. (MOURA, 1996, p.12) 
Outro fato digno de descrição era a desproporção entre homens e mulheres 
escravos. Este fato dificultava os casamentos entre eles, sendo as uniões pouco 
toleradas pelos senhores. No entanto, em 1869 foi criada uma lei que proibia que o 
marido fosse separado da mulher e dos filhos com idade inferior a quinze anos. 
O escravo era considerado um patrimônio, uma demonstração de ostentação. 
Perder um escravo significa um prejuízo de grandes proporções. Em 1863 funcionava 
no Rio de Janeiro a Cia. Mútua de Seguro de Vida dos Escravos, que se incumbia do 
ressarcimento, ao senhor, dos prejuízos causados por alguma eventual perda. Nos 
conventos havia escravos e Nóbrega,

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