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FARMÁCIA HOSPITALAR Caroline Faria Aquisição de medicamentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Distinguir formas de aquisição de medicamentos em hospitais. � Descrever os conceitos de especificação técnica e seleção de forne- cedores. � Examinar as condições de recebimento e armazenamento de medi- camentos. Introdução Neste capítulo, você vai ler sobre importantes etapas do ciclo da assis- tência farmacêutica no âmbito hospitalar: a programação, a aquisição e o armazenamento de produtos para saúde (medicamentos, insumos farmacêuticos e materiais médico-hospitalares). A programação, isto é, o planejamento do suprimento, lança mão de ferramentas logísticas de modo a nortear a execução da aquisição. Esta, por sua vez, pode ocorrer por diferentes formas, destacadamente por meio da compra que se dife- rencia, em termos processuais, entre as instituições públicas e privadas. Tais etapas se relacionam diretamente com o armazenamento dos produtos, que, no que lhe concerne, objetiva a guarda segura e a manutenção da qualidade dos produtos adquiridos por meio do cumprimento de várias orientações e cuidados. Em razão da importância da garantia da assistência farmacêutica hospitalar segura e eficiente, a compreensão das etapas desse ciclo é imprescindível para uma prática profissional consciente e responsável. Nesse sentido, estudar os métodos de programação, as distinções entre as formas de aquisição, os conceitos relacionados às especificações, a qua- lificação de fornecedores e as condições adequadas de armazenamento auxiliará no dimensionamento dos desafios e dos progressos envolvidos nesse assunto. Além disso, você ainda vai conhecer as responsabilidades do profissional farmacêutico, de modo a vislumbrar possíveis áreas de interesse para atuação. 1 Aprovisionar produtos para prover cuidado Conceitos e objetivos da aquisição de produtos para saúde A farmácia hospitalar, em consonância com a Portaria do Ministério da Saúde nº 4.283, de 2010, pode ser conceituada como a unidade clínica-assistencial, técnica e administrativa na qual se processam as atividades relacionadas à assistência farmacêutica, dirigida exclusivamente por farmacêutico, compondo a estrutura organizacional do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades administravas e de assistência ao paciente (BRASIL, 2010). Nesse sentido, dentre as atividades relacionadas ao ciclo da assistência farmacêutica supracitadas, a programação e a aquisição se destacam em razão da importância que têm na garantia do acesso aos produtos para saúde que, por sua vez, serão utilizados por todos os demais setores do hospital durante o cuidado ao paciente. É válido esclarecer, portanto, sob a perspectiva da logística, a definição e a relação entre essas atividades. Partindo-se do pressuposto de que o elenco institucional de produtos para saúde (medicamentos, produtos farmacêuticos e materiais médicos) é padro- nizado, a programação consiste no planejamento do abastecimento, isto é, na resposta de quando comprar e quanto comprar de cada item selecionado. A decisão do momento de compra deve levar em conta aspectos como a mo- dalidade de compra, a disponibilidade do fornecedor, a definição dos níveis de estoque, a capacidade de armazenamento institucional e a disponibilidade de recursos financeiros. É evidente, portanto, que essa atividade tem relação íntima com a gestão de estoque, ou seja, com o gerenciamento de recursos ociosos com representatividade financeira e que são armazenados para su- primento das necessidades futuras de uma instituição (FERRANTI, 2018). A aquisição de produtos para saúde, ao seu turno, pode ser definida como o processo técnico-administrativo que provê o abastecimento do serviço de saúde de acordo com a sua demanda. Longe da visão simplista de atividade burocrática e repetitiva, a gestão da aquisição de produtos para saúde se apresenta de forma estratégica para gerenciamento de recursos institucionais, especialmente em razão do volume de itens a serem adquiridos e das altas cifras dispensadas para tal atividade. É válido ressaltar que, para além dos aspectos financeiros e quantitativos, as considerações sobre a qualidade e a segurança dos produtos adquiridos devem nortear as tomadas de decisões em procurement (SFORSIN et al., 2012). Aquisição de medicamentos2 Contudo, observa-se que, sob determinadas circunstâncias, a aquisição dos produtos para saúde pode ser realizada, além das compras, por meio de doações, empréstimos ou permutas. A aquisição por doação exige um rigoroso controle da qualidade do produto, de forma a garantir a segurança do paciente. Já as permutas objetivam, normalmente, evitar perdas dos produtos e consi- deram tanto as variações no consumo quanto as datas de validade próximas ao vencimento. Os empréstimos, por sua vez, são comumente utilizados em situações emergenciais e preveem a devolução do produto o mais rápido possí- vel. Orienta-se que todas essas formas de aquisição devem ser documentadas, de modo a respaldar tais transações (PEREIRA, 2016). Portanto, fica clara a relação entre a programação e a aquisição de produtos para saúde. Enquanto aquela se refere ao planejamento da compra, esta se relaciona com a execução do ato de abastecimento hospitalar, prerrequisito para o cumprimento das demais ações de cuidado. Dessa forma, salienta-se que, para a execução eficiente da supply chain hospitalar, em outras palavras, da gestão da cadeia de suprimentos institu- cionais, lança-se mão de trabalho multidisciplinar que envolve setores da logística, do financeiro, da tecnologia da informação e, evidentemente, da farmácia hospitalar (MOSS et al., 2019). Isso significa que apenas por meio das inter-relações setoriais e da avaliação contínua dos processos é possível o cumprimento dos objetivos da aquisição de medicamentos. Veja a seguir os objetivos específicos da aquisição de produtos para assistência hospitalar (SFORSIN et al., 2012). � Obtenção de produtos e serviços na quantidade requerida e necessária. � Abastecimento com relação custo-benefício favorável, isto é, com menor preço e melhor qualidade possível. � Garantia de entrega e recebimento dos produtos de forma correta. � Desenvolvimento e manutenção de boas relações com os fornecedores. Formas de aquisição de produtos para saúde: diferenças entre instituições públicas e privadas A princípio, para a melhor compreensão desse subtema, é válido esclarecer as diferentes naturezas dos hospitais quanto às instituições mantenedoras. De acordo com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, os hospitais podem ser genericamente divididos entre hospitais públicos (admi- nistrado por entidade governamental municipal, estadual ou federal), hospitais 3Aquisição de medicamentos da iniciativa privada (pertencente a pessoa jurídica de direito privado) com fins lucrativos e hospitais da iniciativa privada sem fins lucrativos. Todavia, é possível notar que tais instituições se articulam de modo que um mesmo estabelecimento pode atender pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelos planos de saúde e de forma particular. Em linhas gerais, isso quer dizer que hospitais privados têm convênios com o SUS e hospitais públicos, ainda que em menor quantidade, têm convênios com planos de saúde, configurando clientelas mistas (MACHADO; MARTINS; LEITE, 2015). Entretanto, apesar da possibilidade de articulação público-privada no que diz respeito às fontes de financiamento, o processo de compras de produtos para saúde ocorre de forma notoriamente diferente entre os estabelecimentos públicos e privados. Os hospitais privados dispõem de maior liberdade organizacional para aquisição de produtos e seus processos de compra se desenrolam de forma menos complexa. Norteado sempre pela garantia de fornecimento de produtos que atendam aos critérios de qualidade, ao prazo de entrega satisfatórioe ao preço acessível, o processo de compras nessas instituições pode utilizar pes- quisas de custos, contratos com fornecedores padronizados e outras normas administrativas institucionais. Já os hospitais públicos, inseridos no contexto da assistência farmacêutica do SUS, devem cumprir prerrogativas legais e administrativas em observância ao princípio da isonomia (igualdade de condições a todos os concorrentes), da legalidade (atos serem processados e julgados em conformidade com a lei) e da seleção mais vantajosa. Por esse motivo, são utilizados, para a compra de produtos hospitalares, processos licitatórios, destacadamente na modalidade pregão. Todavia, é importante ressalvar que existem casos específicos que dispensam a licitação. Veja a seguir (BRASIL, 2006a; PEREIRA, 2016). � Casos em que os valores não ultrapassam os limites estabelecidos na legislação. � Casos emergenciais. ■ Inexigibilidade da licitação, isto é, quando um produto só é comer- cializado por um único fornecedor. Aquisição de medicamentos4 Processos de licitação são utilizados pela administração pública para a contratação de obras, serviços, compras e alienações. Confira nos links a seguir as legislações que determinam como tais processos devem ser executados. https://qrgo.page.link/q6ypH https://qrgo.page.link/rH64W 2 Especificação técnica e qualificação de fornecedores Especificação técnica Uma vez que a definição de produtos para saúde é muito ampla e abrange uma variedade de itens, desde algodão, agulhas, cateteres, medicamentos e, até mesmo, produtos de alta tecnologia utilizados em blocos cirúrgicos, torna-se necessária a especificação técnica, ou seja, a determinação exata do produto com detalhamentos que possibilitem a sua diferenciação em relação a outros produtos (SFORSIN et al., 2012). Particularmente, no que diz respeito aos medicamentos, a especificação técnica deve conter: � nome do medicamento por ordem alfabética e pela Denominação Comum Brasileira; � forma farmacêutica; � concentração; � apresentação da embalagem quanto à quantidade de unidades; � código institucional; � especificações de qualidade requerida em termos de farmacopeia. 5Aquisição de medicamentos A importância da especificação técnica consiste no fato de que, por meio dela, há menor risco de confusão entre os itens e de compras inadequadas. Tais transações inexatas podem comprometer a disponibilidade dos produtos, a segurança do paciente e a sustentabilidade financeira da instituição. Além da especificação técnica, a codificação se apresenta como um recurso valioso na diferenciação dos produtos. Isso ocorre porque, utilizando sistemas informatizados, é possível designar um código exclusivo pra cada produto, o que facilita todas as etapas da assistência farmacêutica desde a seleção até a prescrição e o uso dos produtos, especialmente nos sistemas informatizados interligados de gestão e prescrição de cuidados. Um hospital oncológico de pequeno porte solicitou ao seu fornecedor aquisição imediata de morfina solução injetável 1 mg/ml (Dimorf®), 2 estojos, para suprir uma demanda emergencial na ala de cuidados paliativos. A quantidade demandada era de 100 ampolas, todavia, no ato do recebimento, foi observada a entrega de 10 unidades em razão da falta de especificação do número de unidades por estojo, uma vez que o fabricante comercializava estojos com 5 ou 50 unidades. Assim, foi necessária aquisição por empréstimo e nova ordem de compra emergencial. Onde comprar Inicialmente, é importante esclarecer que a aquisição de produtos para saúde ocorre, majoritariamente, de forma direta com o fabricante ou os distribuidores de medicamentos, ambos devidamente autorizados e credenciados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Em casos particulares, é possível adquiri-los em farmácias comunitárias (drogarias ou de manipulação), em importadoras e, evidentemente, por meio dos serviços de farmacotécnica hospitalar. Ressalta-se que o rol de opções de fornecedores é numeroso e diverso, de modo que são necessários critérios de seleção baseados, principalmente, em (SFORSIN et al., 2012): � qualidade do produto fornecido; � preços competitivos; � cumprimento satisfatório do prazo de entrega; Aquisição de medicamentos6 � estrutura organizacional e habilidade técnica para atender às demandas; � sistemas de suporte pós-venda eficientes; � localização, preferencialmente, próxima ao hospital; � reputação, idoneidade e solidez no mercado farmacêutico. Posteriormente à seleção dos fornecedores, deve-se realizar o seu cadastro detalhado e atualizado. É recomendado catalogar os dados gerais da empresa (nome, CNPJ, endereço, registro no Ministério da Saúde) e os documentos oficiais, como certificado de cumprimento de boas práticas, autorização especial – em consonância com a Portaria do Ministério da Saúde nº 344, de 1998 –, se necessário, laudo de análise de controle de qualidade, dentre outros (BRASIL, 2006a). Por último, e igualmente importante, é mandatório realizar a avaliação contínua dos fornecedores hospitalares tanto durante a compra quanto no recebimento e, ainda, no uso dos produtos de modo a garantir a manutenção da qualidade dos serviços. A seguir, veja os principais aspectos a serem avaliados no ato de recebimento dos produtos para saúde, úteis para a qualificação dos fornecedores. Observe que a avaliação do fornecedor durante o uso dos pro- dutos está inserida no contexto da tecno e da farmacovigilância (PEREIRA, 2016; SFORSIN et al., 2012). � Condição do produto na entrega (por exemplo, danificação). � Dados da nota fiscal. � Identificação e legibilidade da embalagem. � Destinatário e prazo da entrega. � Quantidade do material (por exemplo, divergência entre o número entregue e o solicitado). � Condições de armazenamento (por exemplo, produtos termolábeis). � Validade do produto. � Presença de laudo técnico de qualidade. Com o intuito de quantificar a avaliação da qualidade dos fornecedores, é sugerido o uso de indicadores, como os apresentados a seguir. � Taxa de não conformidades no recebimento dos produtos: 7Aquisição de medicamentos � Taxa de produtos entregues fora do prazo estipulado: 3 Cuidados no armazenamento de produtos para saúde Central de abastecimento farmacêutico Diferentemente da visão simplista e obsoleta de depósito de medicamentos e materiais, a Central de Abastecimento Farmacêutica (CAF), como parte da farmácia hospitalar, é a área na qual se desenrolam todos os processos de armazenamento de produtos para saúde, tema a ser abordado posteriormente. Por ora, é preciso compreender as recomendações sobre os aspectos estruturais mínimos desse setor. Primeiramente, informa-se que a localização da CAF deve ser orientada pela logística de recebimento (por exemplo, estar próxima às vias urbanas) e de distribuição (por exemplo, estar próxima à farmácia central). Em relação ao seu dimensionamento, deve-se planejar uma área que comporte o volume de produtos a ser acomodado, de acordo com cada estabelecimento, e que permita fluxos satisfatórios de carga e de pessoas. Ainda, é importante que a área da CAF seja subdividida (não necessaria- mente por paredes ou afins) em: área administrativa, área de recepção, área de expedição, área para estocagem de materiais médico-hospitalares, área para estocagem de saneantes, área para estocagem de medicamentos de forma geral, área para estocagem de medicamentos sujeitos ao controle especial, área para estocagem de medicamentos termolábeis e área para quarentena. Observa-se que instalações sanitárias devem ser posicionadas de forma que não haja comunicação direta com as demais áreas da CAF. Além disso, é imprescindível que as paredes sejam claras, laváveis e isentas de infiltração e/ou umidade, que o piso seja resistente e de fácil limpeza, que o teto tenha forro adequado e instalações que promovam a boa circulação do ar, que as instalações elétricas sejam seguras,que a identificação interna seja lógica e eficiente, que a proteção contra incêndio seja permanentemente atualizada e que as demais exigências técnicas sejam cumpridas (BRASIL, 2006b; DIEHL; SANTOS; SCHAEFER, 2016; PINTO, 2016). Aquisição de medicamentos8 Conclui-se que somente a partir da manutenção da infraestrutura organizada e segura da CAF é possível a execução de boas práticas de armazenagem, ou seja, conjunto de ações que asseguram a qualidade de um medicamento por meio do controle adequado durante o processo de armazenagem, bem como fornecem ferramentas para proteger o sistema de armazenagem contra medicamentos falsificados, reprovados, ilegalmente importados, roubados, avariados e/ou adulterados (BRASIL, 2019). Ainda que as CAFs guardem peculiaridades de acordo com o estabelecimento e/ ou sistema em que estão inseridas, os principais fluxos e objetivos são iguais entre todas essas unidades. Por isso, recomenda-se o vídeo disponível no link a seguir, que detalha o funcionamento da CAF do município de Florianópolis, em Santa Catarina. https://qrgo.page.link/1jcfi Etapas e importância do armazenamento Após a programação e a aquisição, os produtos para saúde requeridos devem seguir o fluxo da assistência farmacêutica perpassando pela etapa de arma- zenamento, ou seja, pela etapa do ciclo assistencial que objetiva a garantia da guarda segura (contra danos, furtos e desvios) e a qualidade dos produtos para saúde (por meio da manutenção da sua estabilidade), inclusive no âmbito hospitalar (PINTO, 2016). O armazenamento pode ser subdividido em passos sequenciais: recebi- mento, estocagem, controle de estoque e expedição. A Figura 1 esclarece as atribuições e as inter-relações desses passos. O fluxo esboça as subetapas do armazenamento de produtos para saúde, enfatizando a relação sequencial entre elas. 9Aquisição de medicamentos Figura 1. Etapas do armazenamento de produtos para saúde. Fonte: Adaptada de Diehl, Santos e Schaefer (2016). A etapa de recebimento consiste na entrada (recepção dos veículos das transportadoras) seguida pela conferência e, por fim, pela regularização, isto é, controle do processo de recebimento pela confirmação da conferência e pela avaliação do fornecedor, processos devidamente documentados. É recomendada a realização dessa etapa em área física específica, separada do restante da área de armazenamento. Em relação à conferência, orienta-se verificar tanto aspectos administrativos quanto aspectos técnicos, como os apresentados a seguir (BRASIL, 2006a; 2019). � Condições de transporte e armazenamento, atentando-se às particulari- dades referentes ao controle de temperatura, luminosidade e umidade. � Integridade dos produtos. � Descrição do medicamento (apresentação, concentração e forma farmacêutica). � Número do lote, data de validade, responsabilidade técnica (Conselho Regional de Farmácia) e número do registro sanitário. � Comparativo entre a quantidade física entregue e a solicitada, conforme nota fiscal. � Documentos descritos na nota fiscal tanto do destinatário quanto do fornecedor. Após o processo de conferência, no caso de inconformidade, é recomendada a devolução imediata do produto ou quarentena, isto é, retenção temporária do produto recebido em uma área física segregada. Aquisição de medicamentos10 A estocagem, por sua vez, configura-se como um sistema organizado de acondicionamento dos produtos de acordo com as orientações específicas dos fabricantes, com a estrutura física e com uma série de normativas, como as listadas a seguir (DIEHL; SANTOS; SCHAEFER, 2016). � Organização eficiente dos medicamentos, por exemplo, por ordem alfabética, de modo a permitir acesso rápido e seguro aos produtos estocados. � Organização dos produtos com data de validade próxima à frente dos produtos com data de validade distante de modo a garantir a execução do sistema PVPS (primeiro que vence, primeiro que sai). � Organização dos produtos distante do chão, do teto e das paredes, de modo a favorecer a circulação de ar. � Estrutura física iluminada (cuidando para que os produtos não recebam luz solar direta); arejada (atentando para a proteção contra animais) e equipada com prateleiras, estrados e paletes de fácil higienização. � Observância do cumprimento das exigências relacionadas aos produtos termolábeis, aos psicotrópicos e aos inflamáveis. � Controle e registro diário da temperatura e da umidade relativa do ar do ambiente de armazenamento com valores de normalidade, salvo especificações, entre 15 °C a 30 °C e 70%, respectivamente, cuidando para evitar variações bruscas. � Cuidado com a manipulação e a organização das caixas de medica- mentos, respeitando, por exemplo, o número máximo de empilhamento. � Disposição de produtos mais volumosos e/ou mais pesados próximos das áreas de saída para facilitar a mobilidade no setor. � Treinamento contínuo dos colaboradores, inclusive, no que tange aos planos de contingência, isto é, dos documentos que descrevem ações a serem tomadas em caso de inconformidades, incidentes ou emergências. Ainda, o controle de estoque faz uso, dentre outras muitas ferramentas, de inventários (contagem física dos itens) de forma articulada com a programação e com a aquisição de medicamentos. Por fim, a expedição está diretamente relacionada ao suprimento de de- mandas setoriais correspondendo à distribuição ou à entrega dos produtos da CAF para todo o restante do hospital. 11Aquisição de medicamentos Nota-se que, idealmente, sistemas informatizados, em maior ou menor grau de funcionalidade, bem como recursos humanos suficientes e qualificados, devem ser estrategicamente empregados para garantir a eficiência de todas as etapas do processo de armazenamento. Diante de tantas etapas, recomendações e cuidados, torna-se pertinente o seguinte questionamento: Quais as consequências do descumprimento das orientações relativas ao armazenamento dos produtos para saúde? Para a compreensão satisfatória da resposta a essa pergunta, é importante um olhar amplo sobre o ciclo da assistência farmacêutica, isto é, o descumprimento das normativas referentes ao armazenamento reverbera em todas as demais etapas do ciclo assistencial. Assim, a programação, por exemplo, não poderá contar com dados quantitativos confiáveis, o que acarretará erros na aquisição. A distribuição, por sua vez, ocorrerá de forma defasada, gerando sérios problemas para a prescrição e o uso dos medicamentos. Além disso, o armazenamento inadequado provocará a perda da qualidade dos produtos; facilitará desvios deliberados de produtos e conduzirá a perdas por deterioração, quebras e ven- cimentos, culminando, em última análise, em práticas assistenciais inseguras e insustentabilidade financeira do estabelecimento. Medicamentos e matérias-primas termolábeis devem ser armazenados, de acordo com as especificações dos fabricantes, em condições de refrigeração ou de con- gelamento. Quando é exigida refrigeração, é preciso acondicionar o produto em câmaras frigoríferas, refrigeradores ou geladeiras exclusivas para armazenamento de medicamentos com temperaturas internas controladas entre 2 °C e 8 °C. Quando é orientado o congelamento, deve-se utilizar câmaras frias ou freezers com temperaturas internas controladas entre -20 °C e -10 °C. Medicamentos psicotrópicos, de acordo com a Portaria do Ministério da Saúde nº 344, de 1998, devem ser estocados em áreas específicas e trancadas de forma que somente pessoas autorizadas pelo farmacêutico possam acessá-las. Medicamentos inflamáveis devem ser armazenados separadamente em áreas devida- mente sinalizadas e equipadas com instrumentos de prevenção e combate ao incêndio. Aquisição de medicamentos12 BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada n. 304, de 17 de setembro de 2019. Dispõe sobre as Boas Práticas de Distribuição, Armazenagem e de Transporte de Medicamentos. Brasília, DF, 2019. Disponívelem: http://portal.anvisa. gov.br/documents/10181/2957539/RDC_304_2019_.pdf/57303640-91ef-4d2e-9577- 0c9657a5a9a3. Acesso em: 5 fev. 2020. BRASIL. Assistência farmacêutica na atenção básica: instruções técnicas para sua organiza- ção. 2. ed. Brasília, DF, 2006b. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: http:// www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/judicializacao/pdfs/283.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Aquisição de medicamentos para assistência farmacêutica no SUS. Brasília, DF, 2006a. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: http:// www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/judicializacao/pdfs/284.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 4.283, de 30 de dezembro de 2010. Aprova as diretrizes e estratégias para organização, fortalecimento e aprimoramento das ações e serviços de farmácia no âmbito dos hospitais. Brasília, DF, 2010. Disponível em: http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt4283_30_12_2010.html. Acesso em: 5 fev. 2020. DIEHL, E. E.; SANTOS, R. I. dos; SCHAEFER, S. da C. (org.). Assistência farmacêutica no Brasil: política, gestão e clínica: logística de medicamentos. Florianópolis: UFSC, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/187552/4%20- -%20Log%C3%ADstica%20de%20medicamentos%20e-book.pdf?sequence=1. Acesso em: 5 fev. 2020. FERRANTI, E. Gestão de estoque de medicamentos utilizando classificação ABC em um hospital público. Perspectiva Econômica, v. 13, n. 3, p. 215–229, 2018. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/perspectiva_economica/article/down- load/13400/60746202. Acesso em: 5 fev. 2020. MACHADO, J. P.; MARTINS, M.; LEITE, I. da C. O mix público-privado e os arranjos de financiamento hospitalar no Brasil. Saúde em Debate, v. 39, nesp., p. 39–50, 2015. Dis- ponível em: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v39nspe/0103-1104-sdeb-39-spe-00039. pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. MOSS, R. J. et al. Procurement. European Journal of Hospital Pharmacy, v. 26, n. 3, p. 173–174, 2019. PEREIRA, R. M. Planejamento, Programação e Aquisição: prever para prover. Uso Racional de Medicamentos: fundamentação em condutas terapêuticas e nos macroprocessos da Assistência Farmacêutica, v. 1, n. 10, p. 1–7, 2016. Disponível em: https://www.paho. org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1538-planejamento- -programacao-e-aquisicao-prever-para-prover-8&category_slug=serie-uso-racional- -medicamentos-284&Itemid=965. Acesso em: 5 fev. 2020. 13Aquisição de medicamentos Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. PINTO, V. B. Armazenamento e distribuição: o medicamento também merece cuidados. Uso Racional de Medicamentos: fundamentação em condutas terapêuticas e nos macro- processos da Assistência Farmacêutica, v. 1, n. 12, p. 1–7, 2016. Disponível em: https:// www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1540- -armazenamento-e-distribuicao-o-medicamento-tambem-merece-cuidados- -0&category_slug=serie-uso-racional-medicamentos-284&Itemid=965. Acesso em: 5 fev. 2020. SFORSIN, A. C. P. et al. Gestão de compras em farmácia hospitalar. Pharmacia Brasileira, v. 16, n. 85, p. 1–32, 2012. Disponível em: http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/ pdf/137/encarte_farmAcia_hospitalar_85.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. Aquisição de medicamentos14
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