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introdução aos estudos históricosA4

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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS
HISTÓRICOS
CAPÍTULO 4 - COMO ESCREVER A
HISTÓRIA?
Emilly Joyce Oliveira Lopes Silva
INICIAR 
Introdução
Agora, é hora de aprender mais sobre a escrita da História. Quais são as fontes
usadas pelos historiadores em suas pesquisas? De que forma essa narrativa é
construída? Quais eventos do passado podem ser contados pelo historiador? E o
mais importante, quais estratégias permitem que a História seja considerada como
uma forma de conhecimento válido? 
O conhecimento histórico recorre às fontes, ou seja, aos vestígios deixados pelo
passado para se legitimar. Esse é um dos principais fatores que o difere de outras
formas de narrativa, como o mito ou o romance. 
Além disso, a História se refere a fatos, mas isso não corresponde a tudo o que
aconteceu. Quem escreve a narrativa histórica precisa fazer recortes, seleções
sobre o que irá contar. Tal procedimento nunca é neutro; ele é marcado por
decisões e posicionamentos que passam pelo crivo do historiador. 
No entanto, a metodologia de produção do conhecimento histórico não é mera
interpretação. É preciso que esse modo de conhecer a realidade seja pautado pela
crítica e pelo rigor. Na prática, isso significa que a História não é uma ciência
opinativa. Cabe ao historiador amarrar, de forma coerente, argumentos e
intepretações acerca do passado com os sinais que permaneceram com o passar
do tempo. Para tanto, existem diferentes fontes e métodos que podem ser
utilizados, dependendo do que você pretende narrar e de que maneira. 
No decorrer deste capítulo, buscaremos falar um pouco mais sobre cada um
desses pontos e, na medida do possível, responder às questões que deram início a
este capítulo. Boa leitura!
4.1 Quais são as fontes usadas pelos
historiadores? 
As fontes são a base para a produção da História. De um modo geral, podemos
dizer que as fontes são o elo entre passado e presente ou, pelo menos, entre o que
já aconteceu, e o historiador que contará essa história. Contudo, existe uma ampla
discussão teórica e metodológica sobre, quais devem ser as fontes utilizadas na
escrita da História? Em certa perspectiva, qualquer indício sobre o passado pode
ser considerado como fonte. Tudo irá depender de como esses indícios serão
trabalhados, além, é claro, do tipo de história que se pretende contar. 
4.1.1 O que é uma fonte?
No campo da História, as fontes são fundamentais. Delas depende o
embasamento para tratar sobre o passado. De acordo com o verbete “Fontes
Históricas” do Dicionário de Conceitos Históricos (SILVA; SILVA, 2010, p. 158): “Fonte
histórica, documento, registro, vestígio, são todos os termos correlatos para definir
tudo aquilo produzido pela humanidade no tempo e no espaço; a herança
material e imaterial deixadas pelos antepassados que serve de base para a
construção do conhecimento histórico”. 
Com essa definição simples, podemos perceber que a palavra “fonte” se refere a
quase todos os vestígios do passado, sejam eles materiais ou imateriais. Assim, um
registo de compra de terras no século XVII pode ser uma fonte, do mesmo modo
como a fotografia da sua bisavó. O que é ou não uma fonte depende muito de
quem vai analisá-la; o historiador tem uma pergunta e, analisando as fontes,
pretende respondê-la. Segundo Antoine Prost (2008,  p. 76): "Por sua questão, o
historiador estabelece os vestígios deixados pelo passado como fontes e como
documentos; antes de serem submetidos a questionamento, eles nem chegam a
ser percebidos como vestígios possíveis, seja qual for o objeto".
Todavia, essa relação com as fontes mudou tanto quanto as concepções de
História. A seguir, veremos como a diferenciação entre documento e monumento
foi compreendida no decorrer do tempo. 
4.1.2 Os arquivos e os documentos
Se você tivesse que dar um exemplo de fonte histórica, qual seria o primeiro
pensamento que viria à sua cabeça? As fontes escritas ou documentais são as mais
tradicionais dentro da História e, por isso, são rapidamente associadas ao trabalho
do historiador. Para muita gente, o trabalho de um pesquisador em História,
Figura 1 - A análise cuidadosa dos documentos é uma das tarefas mais importantes para o
historiador. Fonte: Kirill Smirnov, Shutterstock, 2018.
acontece sempre dentro do arquivo, com a busca por documentos antigos. Essa
visão não corresponde à toda a realidade, mas tem sim um fundo prático, como
veremos adiante. 
A História lidou, durante muito tempo, com algumas fontes bem específicas: os
documentos. Trata-se de alguns registros oficiais, quase sempre relacionados às
esferas do governo e da administração, que contêm dados importantes para o
conhecimento da época que os produziu. Carlos Bacellar (2005) elenca alguns
desses documentos e os tipos de arquivos em que podem ser encontrados, sem,
no entanto, listar todas possibilidades de documentos. Veja a tabela:
Como você pode perceber, a lista feita por Carlos Bacellar (2005), destaca as
principais fontes documentais que você encontrará nos arquivos. Existem muitas
outras, é claro, mas as listadas nos dão um bom panorama acerca do tipo de
Tabela 1 - Tabela das principais instituições arquivísticas e seus documentos. Fonte: BACELLAR, 2005,
p. 26.
documento a ser utilizado na produção histórica.
VOCÊ SABIA?
A paleografia é um estudo complementar à História de suma importância. O termo “paleo”
significa antigo, enquanto “grafia” se refere a escrita. Dessa forma a paleografia consiste no estudo
de escritas antigas. De acordo com Marcelo Siqueira, a função do paleógrafo é “transformar a letra,
a grafia, a abreviatura, incompreensível aos nossos olhos, numa grafia atual, para que as pessoas
possam ter acesso ao conteúdo daquela informação” (ARQUIVO NACIONAL, 2017). 
Ao longo de sua formação e também na prática profissional você lidará muitas
vezes com fontes documentais como as mencionadas acima. Além das fontes
escritas, existem também outras modalidades, promovidas pela Nova História,
que tornam o conhecimento histórico mais complexo e representativo. 
4.1.3 Alguns exemplos de fontes históricas
Para auxiliar a compreensão sobre o que são as fontes históricas, listamos abaixo
alguns tipos de fonte e, em cada seção, um autor que trata de forma mais
completa sobre o tema. Lembre-se que essas explicações são introdutórias, mas
permitirão que você formule melhor o seu conhecimento com o passar do tempo. 
Imagens: vinculada quase sempre à História Cultural, o uso de imagens é bastante
relacionado ao conceito de representação e/ou imaginário. O uso de imagens
como fontes – fotografias, pinturas, charges, mapas, desenhos, dentre outros –
exige que elas não sejam apenas ilustrações do conteúdo; é preciso analisar com
cuidado todos os elementos trazidos pela imagem, pensar o seu contexto de
produção e quem a produziu. 
Testemunhos orais: trabalhar com fontes orais é trabalhar diretamente com
memória. Durante muito tempo, essa forma de escrita da História foi abandonada,
mas, com a invenção do gravador, ela pode se renovar. De um modo geral,
podemos dizer que as fontes orais lidam diretamente com as pessoas e com o que
elas lembram. O uso das fontes orais leva à reflexão sobre a história mais recente e
para o tempo presente. 
Para você se aprofundar mais nessa temática, vale a pena conferir o livro História oral, feminismo e
política, escrito por Daphne Patai (2010). No livro, a autora apresenta diferentes textos, produzidos em
épocas diversas, mas sempre trazendo como fontes, entrevistas que ela realizou com mulheres
brasileiras, servindo de introdução para os estudos com fontes orais. 
Fontes materiais: fonte material é, de uma maneira simples e incompleta de se
dizer: tudo aquilo que é produzido pelas mãos humanas (FUNARI, 2005). Dessa
forma, esse tipo abarca desde sepulcros antigos, até os talheres produzidos nas
duas grandes guerras. A utilização de fontes materiais é recente quando
comparada com a historiografia ocidental – que priorizou, durante muito tempo,
Figura 2 - Este mapa, produzido por Antonio Sanchez em 1653, não é apenas uma ilustração,mas
uma rica fonte sobre as representações e visões que os navegadores tinham naquela época. Fonte:
Marzolino, Shutterstock, 2018.
VOCÊ QUER LER?
as fontes escritas. Contudo, cada vez mais a História vem ampliando seu arsenal
de fontes. Assim todo material não escrito que foi produzido pelos seres humanos,
originalmente restrito aos estudos arqueológicos, pode auxiliar na produção do
conhecimento histórico. 
Feita a descrição básica de algumas das principais fontes históricas, podemos
passar agora para a discussão sobre os fatos históricos. Assim como os
documentos, eles ocupam um papel fundamental na produção da História.
Figura 3 - Impérios africanos, como Mali, perderam muito de sua história escrita com o processo de
colonização, restando apenas as fontes materiais, como é o caso da Mesquita de Djnné, em Saba.
Fonte: Michele Alfieri, Shutterstock, 2018.
4.2 O que é um fato histórico?
Há uma forte ligação entre os documentos e os fatos históricos. Na verdade,
ambos são de suma importância para o conhecimento histórico e para os
procedimentos de escrita da História. Neste tópico, tentaremos compreender
melhor o que é um fato histórico e, sobretudo, como se dá sua construção, no
tempo, por parte de quem conta as histórias. 
4.2.1 Apontamentos para a definição de fato histórico
De início, precisamos partir de uma ideia mais simples. Não é de todo equivocado
aquele velho estereótipo do historiador como um mero portador de informações
sobre o passado e datas. Você já deve ter vivenciado quando algum conhecido, ao
saber da sua opção pelo curso de História, fez logo uma pergunta sobre quando
aconteceu tal evento. O que leva a esse estereótipo? Em primeiro lugar, temos uma
associação comum à escola positivista, que pregava a cientificidade e objetividade
do conhecimento histórico. Além disso, há um outro fator, interligado a este
último, que ainda é caro à formação dos historiadores: a necessidade de
comprovação. 
Nesse sentido, o fato é uma informação que pode ser comprovada a partir de
fontes adequadas. É fato, por exemplo, que no ano de 1808 a coroa portuguesa
mudou-se por um tempo para o Brasil. Mesmo que vários aspectos no entorno
desse fato possam ser discutidos, o ponto central (a vinda da Coroa Portuguesa) é
algo com forte aparato comprobatório. A partir de outros exemplos no decorrer
desse tópico será cada vez mais discutido esse conceito. Afinal, cada afirmação
deve vir acompanhada de provas, citações e fontes, o que torna assim a história
passível de crítica, de discussão e de cientificidade. Toda afirmação deve ser
comprovada (PROST, 2008). 
Para explicar o que é um fato histórico, Antoine Prost utiliza uma referência bem
representativa. Segundo o autor, os fatos têm relação com dados objetivos, que
dificilmente poderão ser contestados. Por isso, ele menciona o genocídio hitlerista
como um exemplo de algo que incontestavelmente ocorreu. Diz Prost (2008, p. 53):
“a afirmação de que a Alemanha nazista havia empreendido, durante vários anos,
uma tentativa de extermínio sistemático dos judeus não é uma opinião subjetiva
que, por simples opção pessoal, possa ser compartilhada ou rejeitada”. O que
garante a objetividade dessa afirmação é seu embasamento em fatos, ou seja, em
algo comprovável pelas evidências. Por isso, dando continuidade à sua
argumentação, o autor afirma, “é um fato, por exemplo, que os SS construíram
câmaras de gás em determinados campos; além disso, este fato pode ser
comprovado” (PROST, 2008, p. 53).
4.2.2 Fato histórico: perspectivas e problemas
Ao tentar responder à pergunta “o que é um fato histórico?” Edward H. Carr (1982)
levantou algumas questões pertinentes sobre o tema. Para entendermos as
colocações de Carr, vamos pensar em um exemplo bem tradicional de fato: a
chegada dos portugueses ao Brasil em 1500. Esse é um evento bem difícil de ser
contestado e, numa perspectiva comum, pode ser entendido como o cerne do
trabalho do historiador.  No entanto, é preciso repensar essa obviedade. Muitas
vezes, o que se considera como ofício primordial de quem pesquisa a História, não
corresponde à realidade. Assim, saber com exatidão que a chegada dos
portugueses ao Brasil se deu no dia 22 de abril de 1500, não é o que se espera de
alguém formado em História. Para Carr, o estudioso da História não precisa saber
datar um documento antigo com precisão ou outras tarefas semelhantes, pois,
para isso, é possível recorrer às ciências auxiliares, como a arqueologia, a
cronologia e a epigrafia. Dessa forma, os fatos básicos, que parecem como uma
verdade absoluta, são chamados por Edward Carr de matéria-prima do trabalho
histórico. 
O segundo ponto observado por Carr (1982) em relação ao senso comum sobre o
fato histórico é a falsa ideia de que os fatos falam por si sós. Na perspectiva do
autor, é somente quando alguém olha para esses eventos do passado que eles se
transformam em fatos. Assim, a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, não
é por si um fato; ele passou a ser considerado como tal a partir do momento que
uma pessoa, ao olhar para o passado, deu a esse evento o caráter de importância
histórica. A sua chegada em casa ontem, depois do trabalho, também aconteceu
no passado, mas dificilmente terá a mesma relevância para o estudo da História
que o episódio do “descobrimento”, conforme a historiografia brasileira. Aqui,
temos uma importante distinção, pois, como foi dito anteriormente, nem todos os
eventos do passado são abordados pela narrativa histórica. Nas palavras de
Carr  (1982, p. 39): “os fatos falam apenas quando o historiador os aborda: é ele
quem decide quais os fatos que vêm à cena e em que ordem ou contexto”.
Figura 4 - O selo em homenagem a Pedro Álvares Cabral nos lembra da chegada dos portugueses em
1500 como um fato histórico. Fonte: ne�ali, Shutterstock, 2018.
A animação Deu a louca na Chapeuzinho, por mais estranho que isso possa parecer, é uma ótima
narrativa para a discussão sobre fatos históricos. Escrito e dirigido por Cory Edwards, Todd Edwards e
Tony Leech (2005), o filme trata da investigação após o misterioso desaparecimento do livro de receitas
da vovó. O interessante na narrativa é como cada um dos suspeitos mostra um ponto de vista
totalmente diferente sobre os mesmos fatos. A indicação é ótima para quem vai dar aula, sobretudo
para as séries iniciais do Ensino Fundamental.  
Em seguida, abordaremos mais detalhadamente o que transforma um simples fato
do passado em fato histórico e mostraremos como o olhar do historiador é
importante nesse processo. 
4.2.3 Os processos de construção do fato histórico
Com base em tudo o que aprendemos até aqui, é fácil perceber que nem tudo o
que aconteceu é motivo de interesse por parte dos historiadores. Dito de outro
modo, a História não abarca todos os eventos, nem a vida de todas as pessoas em
todos os lugares do planeta: isso seria um trabalho impossível. 
O conhecimento histórico faz recortes, lembra e esquece, seleciona a partir dos
questionamentos do presente, aquilo que deve ser contado. Dessa forma, o que
chamamos de fato histórico tem relação direta com esses recortes. Nem todo
acontecimento é um fato a ser tratado pela História.
Por que e como recortar? De acordo com Paul Veyne (1998,  p. 18): “Como o
romance, a história seleciona, simplifica, organiza, faz com que um século caiba
numa página, e essa síntese da narrativa é tão espontânea quanto a da nossa
memória quando evocamos os dez últimos anos que vivemos”. A afirmação de
Veyne nos auxilia porque ressalta como os cortes e simplificações da História são
semelhantes àqueles que fazemos em nossas memórias. Ao mesmo tempo, por
mais que os acontecimentos da sua vida possam ser comprovados, por que eles
quase sempre são ignorados pela produção histórica? 
VOCÊ QUER VER?
Paul Veyne é um arqueólogo e historiador francês, conhecido por suas produções no âmbito da História
Antiga. No livro Como se escreve a história (1998), ele reforçou o caráter narrativo da História,
aproximando-a da literatura. Porém, após entrar em contatocom as teorias de Foucault, Veyne reviu
muitas de suas ideias. Vale a pena conhecê-lo mais! 
É muito difícil explicar como se dão as seleções, simplificações e organizações que
caracterizam o trabalho do historiador. Essas escolhas serão sempre atravessadas
por múltiplos fatores que vão desde os posicionamentos ideológicos de quem
escreve até a disponibilidade material de fontes sobre um tema. Carr (1982) fala,
por exemplo, do modo como a História Antiga e Medieval são profundamente
recortadas: o que temos de narrativa histórica é apenas a ponta de um enorme
iceberg, provavelmente perdido para sempre. O autor mostra também como essas
escolhas e seleções podem mudar com o tempo. Algo que, 20 ou 30 anos atrás,
não seria considerado como um fato histórico pode adquirir esse status quando o
presente se reconfigura, dependendo do olhar do historiador. 
O livro O queijo e os vermes, escrito por Carlo Ginzburg (2006), fala sobre Menocchio, um moleiro italiano
interrogado pela Inquisição. O foco é a perspectiva do moleiro sobre os fatos, com destaque para seu
modo de pensar peculiar. O mais interessante aqui é notar como a vida de um cidadão comum pode ser
relevante para a História. Dessa forma, o olhar de Ginzburg e sua precisão analítica trazem para o bojo
da narrativa histórica a vida de um italiano simples, cuja história facilmente se perderia para sempre. 
O que deve ficar claro, portanto, é que os fatos não são apenas os eventos
comprovados do passado; mais do que isso, sua existência depende das decisões
de quem vai contar a História. 
VOCÊ O CONHECE?
VOCÊ QUER LER?
Com esse panorama mais geral, você deve ter percebido que os fatos históricos
são bem importantes para o estudo da História, mas não podemos nos prender ao
senso comum quando tratamos do tema. Um jornal, ao noticiar um acontecimento
de forma neutra, pode atestar que aquilo é um fato incontestável. Todavia, Edward
H. Carr (1982) nos alerta: todo jornalista sabe que a melhor forma de
convencimento é a seleção e disposição adequada de alguns fatos. Vemos isso o
tempo todo, seja na internet, nas notícias de TV ou mesmo nos livros de História.
Por isso, é fundamental o olhar crítico para tudo aquilo que é apenas tomado
como fato.
4.3 Método na História: uma questão
de interpretação?
O método, essa é uma daquelas palavras que sempre aparecem em várias
situações, mas que nem sempre temos real clareza sobre o seu significado.
Recuperando a etimologia da palavra temos metá + hódos, cujo sentido é de um
caminho (hodós) indicado pelas metas ou objetivos (metá). Assim, no que diz
respeito ao trabalho do historiador, o método trata dos procedimentos necessários
para a realização de um objetivo. 
No campo da História, existem diferentes maneiras de se realizar a pesquisa e a
escrita do trabalho. Porém, de forma bem resumida, os métodos quase sempre
definem maneiras de analisar e contextualizar as fontes. Veremos, a seguir, um
pouco mais sobre a discussão acerca do método na História.
4.3.1 Discussões sobre História e método
O ponto de partida aqui é a discussão sobre rigor metodológico. Afinal, para que a
História possa ser considerada como um conhecimento válido, ela se apoia, pelo
menos na maior parte das vezes, em métodos com algum respaldo científico. De
acordo com Eni Samara e Ismênia Tupy (2007, p. 11):
hoje, como no passado, o ofício do historiador - a escrita da História -
envolve o conhecimento de um método científico de trabalho, isto é, um
conjunto de operações técnicas, com instrumentos e procedimentos que
demandam uma necessária aprendizagem de critérios de cientificidade.
Uma tarefa que encontra sustentação na análise crítica do documento
histórico, envolvendo alguns procedimentos específicos que permitem
respostas às questões previamente levantadas pelo pesquisador.
As autoras também falam sobre os principais passos para a produção do trabalho
histórico. Segundo elas, o primeiro passo é ter uma hipótese que deverá ser
investigada. Também será necessário levantar uma bibliografia sobre a temática
definida para a pesquisa e, a partir da leitura de outros trabalhos, pensar a análise
crítica das fontes. 
Nem todas as narrativas históricas seguem esses passos, nem precisam estar
amparadas no preceito da cientificidade. No entanto, será muito difícil realizar um
trabalho consistente sem uma boa análise de fontes, independentemente do tipo
escolhido, e algum conhecimento sobre o contexto a ser estudado. 
A questão do método científico, nesse contexto, cria uma ambiguidade em relação
à interpretação. Esta é essencial para a escrita da História, ainda que o
conhecimento histórico não se resuma ao caráter interpretativo. Nas palavras de
Paul Ricoeur (2003, [s/p]): “A interpretação não é uma fase à margem do conjunto
da operação histórica; [...] ela trabalha a todos os níveis, desde o estabelecimento
do testemunho e dos arquivos até à explicação em termos de finalidade ou de
causalidade, desde a esfera da economia à da cultura”. O papel central do trabalho
interpretativo, porém, não rompe com o rigor metodológico na produção
histórica. 
A objetividade, tão cara ao método científico (ao menos em seu viés mais
tradicional), não é algo simples dentro do conhecimento histórico. De acordo com
Edward Carr (1982,  p. 128): “a objetividade na história não pode ser uma
objetividade de fato, somente de relação, da relação entre fato e interpretação
entre passado, presente e futuro”. Assim, o método para a escrita da História se
situa em um equilíbrio tênue entre os fatos e sua interpretação, entre a busca da
verdade e a constatação de que o passado não poderá ser recuperado. 
Partindo dessas noções preliminares, nas partes seguintes deste tópico, falaremos
mais sobre um método bastante utilizado atualmente na produção histórica. Eles
podem ajudar não só na compreensão do que é método, como também no
entendimento sobre as práticas do estudo da História.
4.3.2 Paradigma indiciário
Em Sinais: raízes de um paradigma indiciário, capítulo do livro Mitos, emblemas e
sinais, Carlo Ginzburg (1989) trata de um modelo epistemológico ou um paradigma
que surge no final do século XIX, mas que, segundo o historiador italiano, não foi
devidamente sistematizado pelas ciências humanas. No entendimento do autor,
esse paradigma “talvez possa ajudar a sair dos incômodos da contraposição entre
‘racionalismo’ e ‘irracionalismo’” (GINZBURG, 1989, p. 143). 
A fim de exemplificar o referido modelo, Ginzburg comenta o método proposto por
Morelli, um médico russo, para atribuição de autoria a quadros antigos. Segundo
essa metodologia, a identificação das obras exigia um olhar atento não para os
pontos mais chamativos e sim para os detalhes que passam despercebidos em
uma olhada rápida: como o lóbulo das orelhas, as unhas e o formato dos dedos.
Assim, Morelli identificou a orelha típica de Botticelli, por exemplo, e conseguiu
atribuir dezenas de pinturas antes sem a devida autoria. 
A própria escrita de Ginzburg a respeito do paradigma indiciário diz do método
que ele propõe – ou sistematiza. As habilidades de Morelli renderam a ele um
elogio de Freud, que aproxima a estratégia do médico à psicanálise no ensaio O
Moisés de Michelangelo. Ao falar do comentário de Freud, Ginzburg logo observa os
pequenos detalhes que aparecem no ensaio. A partir daí, busca documentos que
possam informar mais sobre as possíveis relações existentes entre a psicanálise e
o trabalho de Morelli. No decorrer da análise, ele separa aquilo que é meramente
hipótese, do que pode ser comprovado pelas referências. Essas pequenas
intuições sobre a influência do paradigma indiciário na psicanálise freudiana são
apontados como possibilidades, criando, assim, uma investigação que oscila entre
dados concretos e caminhos imaginários. Conforme o texto de Ginzburg: “mas o
que pôde representar para Freud - para o jovem Freud, ainda muito distante da
psicanálise - a leitura dos ensaios de Morelli? É o próprio Freud a indicá-lo: a
proposta de um método interpretativo centrado sobre os resíduos, sobreos dados
marginais, considerados reveladores” (GINZBURG, 1989, p. 146). 
Tratando mais especificamente do uso do método indiciário pelas ciências sociais,
Ginzburg defende que a investigação dos “dados marginais” contribui para a
clarificação de situações políticas ou sociais obscuras. Segundo ele “se a realidade
é opaca, existem zonas privilegiadas - sinais, indícios - que permitem decifrá-la
(GINZBURG, 1989, p. 177).
Assim, o método proposto se relaciona com o trabalho de detetive, pois se centra
nos detalhes para compreender uma situação complexa. A imagem de um
detetive, inclusive, é ótima para a compreensão do trabalho do historiador.
Segundo Marc Bloch (2001), farejamos tudo aquilo que é humano. Seguimos por
essa intuição de que os assuntos relacionados aos homens e mulheres do passado
importam. Coletamos vestígios, rastros, sinais, para depois dar a eles um sentido
narrativo. Por isso, a escrita da História requer crítica, como veremos no próximo
tópico.
Figura 5 - O trabalho do historiador guarda profunda relação com a função do detetive. Fonte: Dvo,
Shutterstock, 2018.
4.4 A crítica histórica
Dizem que historiador não sabe contar piada. Afinal, cabe ao historiador sempre
explicar o que se diz, questionar os pormenores e a comprovar o que é falado.
Logo, quando é preciso explicar a piada, ela perde a graça (ou não era engraçada).
Assim, a figura problemática de um historiador explicando ou questionando a
piada é um bom começo para a conversa. Afinal, a piada também pode ser uma
boa fonte. 
Para rir de uma piada é necessária certa credulidade, aceitar a informação e rir da
situação narrada. Na literatura, isso é chamado de suspensão de descrença, aquilo
que nos faz ver com deleite e aceitar momentaneamente como real, a mais
fantástica narrativa desde que ela faça sentido nela mesma. 
O espírito crítico é uma das bases de nossa profissão. Pensar criticamente, como
será discutido nesse tópico, é mais do que simples diletantismo da profissão, é o
caráter comum a todo historiador.
4.4.1 O método crítico
A crítica histórica ou método crítico se refere aos procedimentos usados pela
História na construção de um conhecimento válido e reconhecido por outras áreas
do saber. Uma das principais referências para este método está no manual escrito
por Charles-Victor Langlois e Charles Seignobos, em 1898, intitulado Introdução
aos estudos históricos (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946). No livro, os autores se
propõem a explicitar as especificidades do método histórico, mas sem perder de
vista a crítica e o rigor de uma ciência. 
VOCÊ SABIA?
Langlois e Seignobos pertenciam à chamada Escola Metódica. Assim como os positivistas, esta
corrente defendia, no século XIX, a História como ciência. Para tanto, era necessário método
preciso e a neutralidade de quem pesquisa em relação ao objeto. Mesmo contribuindo
enormemente para o que hoje conhecemos como História, muitos aspectos defendidos pelos
metódicos são hoje duramente criticados como, por exemplo, a imparcialidade do historiador.
Na perspectiva de Langlois e Seignobos (1946), a História é diferente das outras
ciências porque seu conhecimento é indireto. Diferentemente do químico, que
pode observar com cautela as substâncias em seu laboratório, o historiador só
teria acesso a resquícios do seu objeto de estudos. Assim, de acordo com os
autores, o estudioso da História seria como o cientista que recebe informações
sobre algo a partir das observações de seu assistente de laboratório. Por essa
razão, eles afirmam que o conhecimento histórico precisa de um método próprio,
que dê conta dos riscos e desafios relacionados à análise dos documentos. Nas
palavras de Langlois e Seignobos (1946, p. 45): “a análise minuciosa dos
raciocínios, que leva da verificação material dos documentos ao conhecimento
dos fatos, é uma das partes principais da Metodologia Histórica”.
Figura 6 - De acordo com Langlois e Seignobos, o trabalho histórico se diferencia do químico porque o
Se fizermos as devidas contemporizações em relação ao manual de Langlois e
Seignobos (1946), lembrando a época em que foi escrito, é possível retirar dali
diversas informações importantes. No entendimento dos autores, os seres
humanos têm uma tendência natural para aceitar as informações que lhes são
passadas, sem questionar se são verídicas. Esse é um ponto importante, pois
destaca a principal motivação para um método crítico: é preciso que historiadores
sempre se indaguem sobre o conteúdo de suas fontes. De acordo com os autores: 
não é comum aceitarmos, na vida de cada dia, com indiferença, sem
qualquer verificação, informações anônimas e sem garantias, espécies de
"documentos" de medíocre ou de mau quilate? Uma razão especial é
necessária para nos darmos ao trabalho de examinar a procedência e o
valor de um documento de história de ontem; muito ao contrário, a não ser
que haja uma inverossimilhança que toque às raias do escândalo e desde
que o documento não seja contraditório, nós o absorvemos, dêle nos
apropriamos e apregoamo-lo aos quatro ventos, aformoseando-o segundo
as necessidades (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946, p. 48).
E não fazemos isso, realmente, com grande frequência? Com que frequência
verificamos as informações enviadas naquela mensagem do Whatsapp? Ou o que
foi postado por um amigo nas redes sociais? No cotidiano, não fazemos esse
exame crítico, como podemos fazê-lo? Na perspectiva da crítica histórica, esse
deve ser um exercício constante; é preciso duvidar o tempo todo, procurar outras
informações, entrecruzar os dados obtidos nas fontes com o que já foi produzido
sobre o tema. 
4.4.2 A crítica hoje
A crítica proposta no final do século XIX por Langlois e Seignobos, pode não ser
totalmente válida ainda hoje, mas permanece atual em certos aspectos. Antoine
Prost (2008) ressalta que o método crítico não é mera erudição ou pedantismo
científico. Para o autor:
pesquisador de História não pode observar seu material de estudos em um laboratório. Fonte:
Macrovector, Shutterstock, 2018.
fica a impressão, às vezes, de que a crítica é somente uma questão de bom
senso e    de que a disciplina exigida pela corporação é supérflua, não
passando de mania de    eruditos, pedantismo de cientistas ou sinal de
reconhecimento para iniciados. Nada de mais falso. As regras da crítica e da
erudição, a obrigação de fornecer suas referências, não são normas
arbitrárias; certamente, elas instituem a diferença entre o historiador
profissional e o amador ou o romancista. No entanto, sua função 
 primordial consiste em educar o olhar do historiador em relação a suas fontes;
se quisermos, trata-se de uma ascese e, de qualquer modo, de uma atitude
aprendida, não espontânea, mas que forma uma disposição de espírito
essencial para o desempenho do ofício (PROST, 2008, p. 61) – grifos nossos.
A afirmação de Prost (2008) em relação à crítica, qual seja, a de que ela serve para
educar o olhar do historiador em relação a suas fontes, revela a importância da
mesma para o método histórico. Além disso, a análise do autor mostra como o
olhar crítico é importante não apenas para os documentos escritos, como
afirmavam Langlois e Seignobos (1946), mas também para outras fontes, como é o
caso das imagens. Uma fotografia que, num primeiro momento, pode ser vista
como uma representação inequívoca da realidade, também pode, a partir do
exame crítico, revelar suas múltiplas construções. Assim, nenhuma fonte está
isenta da necessidade do crivo da crítica histórica. 
Ainda sobre a relação entre fontes e a crítica histórica, Marc Bloch (2001) traz uma
observação importante entre fontes voluntárias e involuntárias. Essa distinção se
relaciona com o método crítico na medida em que exige, por parte de quem
analisa as fontes, um olhar mais cuidadoso. Segundo Bloch, os documentos
utilizados pelos primeiros eruditos eram, geralmente, produções que contavam,
de forma deliberada, sobre alguns eventos ou acontecimentos. Como exemplo, o
autor fala dos relatos do Êxodo ou dos livros qualificados de “mosaicos”, que
supostamenteforam escritos por Moisés. Diante dessas fontes, o historiador ficava
limitado a verificar a veracidade do que foi narrado ou da autoria dos escritos.
Com a ampliação no uso de fonte involuntárias, ou seja, dos testemunhos
produzidos sem a intenção de registrar o que aconteceu, houve uma mudança: “à
medida que a história foi levada a fazer dos testemunhos involuntários um uso
cada vez mais frequente, ela deixou de se limitar a ponderar as afirmações
[explícitas] dos documentos. Foi lhe necessário também extorquir as informações
que eles não tencionavam fornecer (BLOCH, 2001, p. 95).
Dessa forma, a crítica histórica defendida por Bloch (2001) pode ser mais
abrangente que a de Langlois e Seignobos (1946), mas os dois trabalhos
defenderão a necessidade de uma análise acurada das fontes. No próximo tópico,
discutiremos um caso que poderá auxiliar na compreensão do método crítico. 
4.4.3 Os documentos forjados
Na discussão sobre método, fontes e críticas, existe um detalhe que foi pouco
discutido até aqui: a possibilidades de que documentos sejam forjados, em
diferentes momentos da História, para diversos fins. Vamos ver um caso
emblemático:
SO
dos Sábios de Sião 
os forjados são bastante comuns em grupos que disseminam ódio. O que hoje alguns definem como pós
stratégia onde, para dirigir a opinião pública, não importa mais a veracidade do fato, mas a conveniência
ção e o apelo emocional) é uma forma de justificar ataques à grupos, gêneros, etnias. Hoje é comum se ver
sas sobre muçulmanos, judeus, LGBTS e até sobre nós historiadores. Um dos casos mais emblemáticos do
e um documento forjado é capaz de fazer para a sociedade é o famoso Protocolo dos Sábios de Sião. O
 foi forjado, até onde se sabe, na Rússia em 1903, como forma do Czar Nicolau II perseguir inimigos
osteriormente, o protocolo foi divulgado por Henry Ford e apropriado pelos nazistas, mesmo sendo
sua falsidade na época – partes foram plagiadas do livro Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu
NZBURG, 2007). Hoje, esse documento comprovadamente falso, ainda é usado por diversos grupos. Será
tido, do ponto de vista da História, trabalhar com este documento?
Quando falamos no uso de fatos e documentos, muitos questionam justamente
sobre a possibilidade de falsificações. Como vimos, a crítica histórica se destina,
dentre outras coisas, a verificar a autenticidade de tudo aquilo que é analisado
para a escrita da História. Contudo, um documento forjado, como é caso do
Protocolo dos Sábios de Sião, não precisa ser deixado de lado. Se você parar para
pensar, a forja de um documento também diz muito a respeito de uma época, bem
como das mentalidades de quem o forjou, o divulgou e acreditou nele. Algumas
questões são bem relevantes: quem falsificou o documento? Com qual intenção?
Quais “provas” foram usadas? Qual é sua trajetória na História, ou seja, de que
forma o documento foi utilizado no decorrer do tempo? Várias outras questões
podem ser formuladas, interessando-nos as múltiplas possibilidades oferecidas
por um documento deste tipo. 
Em sua análise sobre a crítica histórica, Antoine Prost (2008) fala um pouco sobre
possíveis documentos falsos. Por um lado, temos documentos premeditadamente
fabricados, que podem ser tomados como verdadeiros. Por outro, encontramos
fontes que, mesmo não sendo originais de uma determinada época, são registros
fidedignos que merecem atenção. Ambos os casos devem ser examinados
criticamente. Para Prost, o método histórico pode ser separado em duas vertentes:
a crítica da sinceridade e a crítica da exatidão. A primeira “incide sobre as
intenções, confessadas ou não, do testemunho” e a segunda “refere-se    à sua 
  situação objetiva” (PROST, 2008, p. 59).  Dessa forma, a crítica da sinceridade
precisa estar atenta às mentiras, enquanto a crítica da exatidão procura encontrar
os erros. As duas podem contribuir para o tratamento de documentos que não são
totalmente autênticos. Por isso, é tão importante recorrer às estratégias da crítica
ao analisar toda e qualquer fonte. 
Concluindo tudo o que foi dito, a História é um conhecimento que se faz por
vestígios (PROST, 2008). Assim, seus métodos não podem ser equiparados ao de
outras formas de ciência, havendo características que são bem específicas do
conhecimento histórico. A crítica, nesse contexto, é o núcleo do método da
História, pois possibilita a análise das fontes e dos fatos com mais rigor. Lembre-
se, é preciso treinar constantemente o olhar crítico. Uma dica é fazer isso sempre,
mesmo nas coisas mais cotidianas.
Síntese
Concluímos os estudos sobre a escrita da História. Vimos quais são as fontes
usadas pelos historiadores e como a narrativa é construída. Além de perceber
quais os pontos permitem que a História seja considerada como uma forma de
conhecimento válido, recorrendo às fontes, ou aos vestígios deixados pelo
passado.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
entender o que são fontes históricas e como elas devem ser analisadas
criticamente;
compreender a problematização acerca dos fatos históricos;
verificar os principais métodos que podem ser usados pelo historiador;
compreender a importância da crítica histórica; 
discutir as relações entre fato e método crítico;
pensar como historiadoras e historiadores desenvolvem seus trabalhos.
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