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Antibioticoterapia na UTI Veterinária ANA LUISA ARRABAL DE ALMEIDA INTRODUÇÃO – INNOVATION GAP - “Entre 1962 e 2000, nenhuma classe relevante de antibióticos foi introduzida”. Com o advento das superbactérias, é provável que novas classes de antibióticos não surjam como antes de 1970. IMPORTÂNCIA DE APRENDER SOBRE ANTIMICROBIANOS -Utilizados frequentemente em hospitais, clínicas e casas, interferindo na ecologia microbiana desses lugares. -Princípios gerais são essenciais para escolhas terapêuticas adequadas. FATORES QUE INFLUENCIAM A ESCOLHA DO ANTIBIÓTICO -Característica do paciente: idade, espécie, comorbidades; -Agentes etiológicos: perfil de colonização, prevalência nas infecções; -Propriedades dos antibióticos (PK/PD, mecanismo de ação). PK: farmacinética – avalia os efeitos do corpo com o fármaco, como processos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção. PD: farmacodinâmica – estudo do mecanismo de ação dos fármacos em geral. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS PK/PD -Através dos conhecimentos de farmacocinética e das características do microrganismo frente ao antimicrobiano, é possível adequar posologia, via de administração e intervalo entre cada dose, visando melhorar o resultado terapêutico e, ao mesmo tempo, reduzir a probabilidade de desenvolver efeitos tóxicos potenciais. -Entre os fatores envolvendo a farmacocinética, é válido destacar distribuição. Tomando como exemplo uma infecção óssea, não é todo antibiótico que, apesar de ter uma ação eficiente contra a bactéria em questão, consegue ter uma distribuição correta no tecido ósseo. -Para que o antimicrobiano exerça sua atividade, primeiramente deverá atingir concentração ideal no local da infecção, ser capaz de atravessar, de forma passiva ou ativa, a parede celular, apresentar afinidade pelo sítio de ligação no interior da bactéria e permanecer tempo suficiente para exercer seu efeito inibitório. BACTÉRIAS GRAM + E GRAM – -O que difere essas bactérias é a parte externa: gram positivas possuem camadas de peptideoglicano enquanto gram negativas possuem uma membrana externa com porinas e lipopolissacarídeos. NAM: n-acetilmurâmico. NAG: n-acetilglicosamina. -Esses dois compostos são a parte sacarídica da rede macromolecular de peptideoglicano. São ligados um ao outro formando uma fileira de dissacarídeos repetidos. As fileiras adjacentes são ligadas por polipeptídeos e esses polipeptídeos, ainda, podem estar ligados a uma ponte interpeptídica em algumas espécies. -Os antibióticos, nesse caso, atuam enfraquecendo as ligações diagonais β1-4, permitindo a entrada de substâncias que vão causar sua morte. MECANISMO DE AÇÃO -A imagem mostra o mecanismo de ação de diversas classes de antimicrobianos, como na membrana plasmática e na síntese proteica. AÇÃO BIOLÓGICA -Bactericidas: • Aminoglicosídeos; • Quinolonas; • β-Lactâmicos; • Metronidazol; • Glicopeptídeos. -Bacteriostáticos: • Tetraciclinas; • Lincosamidas; • Cloranfenicol; • Macrolídeos; • Sulfonamidas. EFEITO ANTIMICROBIANO -[C] dependentes; • Aminoglicosídeos; • Quinolonas; • Tetraciclinas (apesar de a doxiciclina ser tempo dependente) • Metronidazol; • Azitromicina*. *A azitromicina é um macrolídeo, grupo de antibióticos que são classificados como tempo dependentes. -Tempo dependentes; • Penicilinas; • Cefalosporinas; • Clindamicina; • Macrolídeos*; • Sulfonamidas. -Tempo dependentes com efeitos prolongados: • Carbapenêmicos; • Vancomicina; • Clindamicina; • Macrolídeos. -Saber identificar os antibióticos concentração dependentes e tempo dependentes é importante porque eles diferem em posologia e frequência de administração. CARACTERÍSTICAS DE ATUAÇÃO -[C] dependentes: -“Rápidos”: o objetivo de fazer um tratamento usando antibióticos concentração dependentes é justamente tratamentos que superam a CIM (concentração inibitória mínima) de 4 a 8 vezes. Obs.: a concentração inibitória mínima (CIM) é a mais baixa concentração de um produto químico responsável por limitar o crescimento visível de uma bactéria (ou seja, que tem atividade bacteriostática). Os valores de CIM determinados dependem do microrganismo, do alvo da infecção e do antibiótico em uso. -Tempo dependentes: -“Lentos”: o objetivo desse tratamento é superar um pouco a CIM por períodos prolongados. -Tempo dependentes com efeitos prolongados: -Tratamento com objetivo de maximizar o tempo de exposição, com a possibilidade de a concentração cair abaixo da CIM. -Em verde está a CIM de um determinado microrganismo. Em vermelho estão os fármacos tempo dependentes (manutenção da concentração por um longo período). Em azul estão os fármacos concentração dependentes com seu tratamento característico. β-LACTÂMICOS -Estudo demonstrando que a administração contínua de β- lactâmicos em pacientes com sepse severa é associado com decrescimento de mortalidade hospitalar. RESISTÊNCIA BACTERIANA -Ocorre por conta de uma má administração (que não segue um correto parâmetro de dosagem e frequência) e por tendência natural desses organismos. VANCOMICINA - A vancomicina é um antibiótico utilizado por via intravenosa em infecções hospitalares humanas estafilocócicas multirresistentes. Seu uso na veterinária deve ser bastante restrito, principalmente em animais de produção, para evitar o aparecimento de resistência. Pode-se utilizar em infeções graves causadas por estafilococos e enterococos resistentes, incluindo pneumonia, endocardite, osteomielite e abscessos dos tecidos moles. É contraindicado a pacientes com hipersensibilidade conhecida ao princípio ativo. Usar com cautela em pacientes com insuficiência renal e idosos. -As tabelas demonstram diversos tratamentos usando a vancomicina e os seus efeitos adversos. -Os efeitos adversos incluem injúrias agudas renais, neutropenia (no caso da tabela, existiam animais que possuíam neutropenia anteriormente e não houve novo desenvolvimento dessa condição) e flebite (além das reações alérgicas). ANAERÓBIOS -Um dos antibióticos mais utilizados em emergências veterinárias contra organismos anaeróbios é o metronidazol (clindamicina também). METRONIDAZOL -Grupo farmacológico: antibacteriano e antiprotozoário. -Características: Pertence ao grupo dos nitroimidazóis. Sua ação é resultante de ligação de produtos intermediários originários de sua redução intracelular com o DNA, formando-se um complexo que inibe a replicação e inativa o DNA. O metronidazol é um agente bactericida e protozoaricida, atuando contra bactérias anaeróbicas obrigatórias, como Clostridium, Fusobacterium e Bacteroides, e protozoários, como Trichomonas, Giardia e Entamoeba. O metronidazol é bem absorvido por VO (via oral) e distribuído amplamente pelo organismo, com boa penetração no SNC. O medicamento é metabolizado por oxidação e conjugação no fígado. A excreção ocorre pela urina e fezes. -Uso clínico: tratamento de infecções por bactérias anaeróbias, Helicobacter, tricomoníase, giardíase e amebíase. -Precauções e efeitos adversos: não deve ser utilizado em animais gestantes, pois provoca teratogenicidade (desenvolvimento fetal anormal). Ajustar a dose (25% a 50% da dose) em animais com problemas hepáticos. Doses altas ou tratamentos prolongados podem provocar neurotoxicidade (nistagmo, ataxia ou tremores). O animal pode produzir urina de coloração castanho- clara após a ingestão de metronidazol. -Espécies utilizadas: animais domésticos, silvestres e exóticos. CLINDAMICINA -Grupo farmacológico: antibiótico bacteriostático, lincosamina. -Características: inibe a síntese proteicapela ligação à subunidade ribossômica 50S bacteriana. É ativa contra bactérias gram-positivas aeróbicas e anaeróbicas, Toxoplasma sp, Mycoplasma sp e Neospora caninum. A atividade antibacteriana da clindamicina é maior do que a lincomicina, especialmente contra os anaeróbios. -Usos clínicos: • Tratamento de osteomielite • Piodermites • Doenças periodontais e infecções profundas de tecidos moles causada por bactérias gram-positivas • Toxoplasmose • Neospora caninum. -Precauções e efeitos adversos: não usar em equinos, coelhos , hamsters e porquinhos-da-índia. Enterocolotoxicidade, lesão do revestimento mucoso das vias gastrintestinais (p. ex., colite pseudomembranosa), provocando diarreia grave e até fatal por conta de alterações na flora gastrintestinal. Os animais suscetíveis são equinos, coelhos, hamsters e porquinhos-da- índia. Bloqueio neuromuscular em cães, gatos e suínos é um efeito colateral raro que pode ocorrer em altas doses ou quando administrados junto com anestésicos. -Espécies utilizadas: cães e gatos. -A tabela abaixo demonstra a dose necessária de ambos os medicamentos (metronidazol e clindamicina) para infecções bacterianas de duas espécies distintas. Percebe-se que, para a primeira análise, a dose necessária de metronidazol e clindamicina para uma CIM de 50% da população são muito diferentes: enquanto são necessários 16 µg/ml de metronidazol, de clindamicina são apenas 0,064 µg/ml. -Já para outra população bacteriana ocorre o inverso: 0,032 µg/ml de metronidazol e 0,064 µg/ml de clindamicina (considerando uma CIM de 50%). -Dessa forma, cabe analisar o paciente e escolher um curso de tratamento com menos malefícios. MODALIDADES TERAPÊUTICAS -Terapia empírica: é o uso de antimicrobianos baseado nos agentes mais prováveis da infecção. • Agente não identificado; • Escolha do provável agente (conhecimento dos agentes mais comuns relacionados às doenças); • Risco potencial à espera de cultura; • Antibioticoterapia de amplo espectro; • Considerar associações. -EXEMPLO 1 DE TERAPIA EMPÍRICA: -A tabela mostra os principais grupos bacterianos responsáveis por causar doenças em cães e gatos e, ao final, sua divisão em bactérias gram positivas e gram negativas. -Observa-se que as bactérias gram- negativas são mais susceptíveis à gentamicina, seguido de marbofloxacino (marbopet®). -Nas bactérias gram-positivas, funciona mais efetivamente a amoxicilina e a doxiciclina (que tem distribuição tecidual boa). -Nos gatos, o antibiótico mais eficiente contra bactérias gram-negativas também é a gentamicina, só que agora seguido da doxiciclina e marbofloxacino. Para gram-positivas, houve maior sensibilidade à amoxicilina com clavunato. -EXEMPLO 2 DE TERAPIA EMPÍRICA: -Perfil bacteriano da pneumonia em cães e gatos. -Os organismos isolados em maior quantidade estão em vermelho. -O estudo sugere o tratamento empírico para pacientes estáveis, moderados e críticos com pneumonia. Na tabela, a escolha do tratamento é direcionada ao mais provável agente responsável pela infecção -Terapia racional: • Agente identificado; • Terapia usada de forma definitiva; • Os antibióticos são direcionados ao patógeno e possuem espectro estreito; • Busca de uma menor toxicidade (dose mais adequada). -EXEMPLO DE TERAPIA RACIONAL: -Observa-se um cão com muita resistência à diversos antibióticos, sendo sensível a somente 3 deles mostrados no antibiograma. -Terapia profilática: • Procedimentos cirúrgicos; • Contato íntimo com a bactéria; • Determinada pelo conhecimento da microbiota. -EXEMPLO DE TERAPIA PROFILÁTICA: -Estudo que descreve os antibióticos utilizados em terapias profiláticas. -Na primeira coluna horizontal, tem-se que, em cirurgias “limpas”, não há recomendação de antibioticoterapia (geralmente os pacientes pós- cirúrgicos são sim tratados com antibióticos, seja para prevenir uma infecção, seja para mascarar um erro da antissepsia cirúrgica). -Supondo cirurgias que duram mais de 90 minutos e pacientes com comorbidades, como obesidade e problemas endócrinos, utiliza-se da antibioticoterapia, por mais que não haja um patógeno provável provocando doença no organismo. PACOTE DA PRIMEIRA HORA (CONSIDERANDO SEPSE DE CAUSA BACTERIANA) -Coleta de hemoculturas ou culturas específicas (seja, por exemplo, pela visualização de uma ferida com pus que indica infecção). -Antibioticoterapia de amplo espectro – IV; -Identificação e controle do foco infeccioso; -Reanimação volêmica/ vasoativos para manutenção da pressão ideal. -Monitoração do lactato (indicador importante de perfusão tecidual, já que lactato é o produto da fermentação lática, processo utilizado por bactérias para obter ATP). A monitoração dessa substância precisa ser feita a cada 2 horas. ESPECTRO DE AÇÃO -Os 4 espectros a serem considerados são de bactérias gram-positivas ou gram-negativas + aeróbias ou anaeróbias. -Dessa forma, pode-se realizar uma antibioticoterapia que foca em somente um grupo, ou um tratamento mais amplo, caso não haja certeza do agente infeccioso (realiza-se associações de antimicrobianos). ASSOCIAÇÃO DE ANTIBIÓTICOS -A associação dos antimicrobianos pode ser tida da seguinte forma: -De forma geral, pode-se considerar a associação acima como um “porto seguro”, já que a associação entre bactericidas resulta em sinergismo (intensificação dos efeitos, é um resultado benéfico). -Por vezes, a associação com bacteriostático resulta em antagonismo (quase sempre). -A tabela acima mostra as associações medicamentosas possíveis. Obs.: não faz sentido combinar medicamentos que pertencem a mesma classe (mesmo espectro). -A única associação bacteriostática que resulta em sinergismo é sulfonamida + trimetoprim. -Tratando-se de bactericida + bacteriostático, há três formas de associação em verdes na tabela acima. PRINCIPAIS PATÓGENOS ISOLADOS -A tabela mostra as principais bactérias causadoras de piodermite (infecção na pele) de cães e gatos. Os gatos, diferente dos cães, possuem também uma bactéria gram-positiva responsável. *Cefovecina sódica (Convenia®): Antibiótico betalactâmico, cefalosporina de 3ª geração, de amplo espectro, bactericida que inibe a síntese da parede bacteriana e provoca morte do microrganismo. É uma cefalosporina de longa ação e uma das explicações para essa característica é a sua ligação a proteínas: 99% em cães e 98% em gatos. A meia-vida da cefovecina sódica em cães é de 5 dias e, em gatos, de 7 dias, com concentrações eficazes mantidas nos fluidos teciduais dessas espécies por 14 dias. -Ferida “contaminada”, já que a cavidade oral por vezes não é limpa. Dessa forma, faz-se uma antibioticoterapia de amplo espectro. -Em gatos, é indicado a realização de cultura devido ao seu comportamento natural. *Doenças transmissíveis; Ação contra Strepto., Bordetella e Mycoplasma. *Bezimidazol anti-helmíntico de amplo espectro. INFECÇÕES NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL -Conhecimento da etiologia; -Falhas terapêuticas: tratamento pode não funcionar devido a um diagnóstico tardio, barreira hematoencefálica, resistência bacteriana; -Os antimicrobianos ideais para agir no SNC são os lipossolúveis que possuem baixa afinidade proteica e baixo peso molecular, isso porque eles têm uma grande distribuição pelo organismo e vão atingir concentrações bactericidas no líquor. ESPECTRO DE AÇÃO
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