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******ebook converter DEMO Watermarks******* FÁBIO ALEXANDRE COELHO PROFESSOR DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU – ITE GRADUAÇÃO, MESTRADO E DOUTORADO ******ebook converter DEMO Watermarks******* PROCESSO LEGISLATIVO FÁBIO ALEXANDRE COELHO 3ª EDIÇÃO – 2022 Todos os direitos reservados ******ebook converter DEMO Watermarks******* ******ebook converter DEMO Watermarks******* SUMÁRIO O DIREITO A conduta humana e o Direito A necessidade do Direito O Estado e o Direito A evolução na disciplina do comportamento humano Mecanismos para o controle da atividade legislativa As normas jurídicas como forma de exteriorização do Direito A produção do Direito PODER E PRODUÇÃO JURÍDICA O significado de poder Desenvolvimento e limitação do poder Teorias voltadas à limitação do poder SEPARAÇÃO DE PODERES A separação de poderes A contribuição de Montesquieu Os exemplos americano e francês A quebra do princípio da separação de poderes A separação de poderes e a Constituição A rigidez na separação de poderes Funções típicas e atípicas de cada poder A titularidade do poder de legislar O EXERCÍCIO DO PODER DE LEGISLAR O poder de legislar em Atenas e Roma A estrutura de poder a partir da Idade Média Mecanismos para o controle da atividade legislativa PODER LEGISLATIVO O Poder Legislativo no contexto da separação de poderes A função primordial do Poder Legislativo A atuação do Poder Legislativo brasileiro Poder Legislativo e estatalidade do Direito REPRESENTAÇÃO POPULAR O poder político ******ebook converter DEMO Watermarks******* O titular do poder político Poder político e ordenamento jurídico As doutrinas contratualistas e a representação popular A democracia representativa A representação como mandato Formas de participação popular no processo legislativo FUNÇÃO LEGISLATIVA A elaboração legislativa na antiguidade A evolução da elaboração legislativa a partir da Idade Média Estado e função legislativa LEI Os diversos sentidos que a lei pode possuir O surgimento da atividade legislativa Características da lei Lei em sentido formal e material Leis de efeitos concretos e de efeitos gerais A lei como expressão da vontade do Estado A lei como um conjunto de preceitos A lei como poder ou forma de controle social A submissão às leis Estado legal e Estado democrático As leis numa federação O CONTEÚDO DA LEI Doutrinas a respeito do conteúdo das leis A influência dos fatores sociológicos sobre as leis A relação entre o conteúdo das leis e a Constituição ASPECTO NORMATIVO Possíveis diferenças entre lei e norma A recepção e a delegação da produção jurídica NORMAS DE CONDUTA E DE ESTRUTURA Normas de conduta e de estrutura A importância das normas de estrutura A conduta humana como objeto da norma As normas de estrutura e o processo legislativo FEITURA DAS LEIS E PROCEDIMENTO Produção jurídica e procedimento como elementos inseparáveis ******ebook converter DEMO Watermarks******* Estado democrático de direito e processo legislativo O procedimento de elaboração legislativa e a Constituição A necessidade das formas Os diferentes procedimentos existentes O PROCESSO LEGISLATIVO Significado Sentido amplo e restrito da expressão A ordenação e a unidade do processo legislativo Princípios e regras que integram o processo legislativo PROCESSO LEGISLATIVO E JUDICIAL Processo e procedimento Processo judicial Processo legislativo A observância das formas processuais CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE LEGISLATIVA Fatores que influenciam a atividade legislativa Limitações impostas à atividade legislativa pelos princípios VALIDADE DO PROCESSO LEGISLATIVO A validade do processo legislativo A relação entre processo legislativo e validade Validade formal e material ASPECTOS JURÍDICOS E SOCIOLÓGICOS DO PROCESSO LEGISLATIVO O processo legislativo sob o enfoque jurídico A análise sociológica do processo legislativo Importância jurídica e sociológica do processo legislativo TÉCNICA LEGISLATIVA Conceito Importância da técnica no processo legislativo A construção do processo legislativo A observância da técnica no processo legislativo A influência do direito positivo na técnica legislativa A técnica legislativa como processo PROCESSO LEGISLATIVO E CONSTITUIÇÃO Limites à atividade legislativa ******ebook converter DEMO Watermarks******* As tentativas para evitar o controle do processo legislativo O processo legislativo como técnica de controle As inconstitucionalidades do processo legislativo CONSTITUCIONALIDADE DO PROCESSO LEGISLATIVO O controle de constitucionalidade e as constituições rígidas A constitucionalidade como problema de validade Exercício do controle de constitucionalidade CONSTITUIÇÃO E PROCESSO LEGISLATIVO A existência de limites Limites formais e materiais A relação entre limites e Constituição O DEVIDO PROCESSO LEGISLATIVO A origem da garantia O devido processo formal O devido processo material Alcance da garantia Princípios do processo legislativo e devido processo legal O PROCESSO LEGISLATIVO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 A estrutura do processo legislativo na Constituição de 1988 Procedimento legislativo das emendas à Constituição O processo legislativo das leis complementares e ordinárias Medidas provisórias Aumento da despesa nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República Discussão e votação dos projetos de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores A urgência nos projetos apresentados pelo Presidente da República A tramitação do projeto de lei aprovado por uma das Casas Sanção e veto O projeto de lei rejeitado Leis delegadas Leis complementares Decretos legislativos e resoluções QUESTÕES INTERNA CORPORIS E PROCESSO LEGISLATIVO Atos interna corporis Discricionariedade dos atos interna corporis ******ebook converter DEMO Watermarks******* Apreciação judicial dos atos interna corporis Inconstitucionalidade e ilegalidade dos atos interna corporis O PROCESSO LEGISLATIVO DOS ESTADOS-MEMBROS O exercício do poder legislativo no Estado federal A influência do federalismo no processo legislativo O processo legislativo estadual na visão do Supremo Tribunal Federal REDAÇÃO, ALTERAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS O parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal A lei complementar nº 95/98 A disciplina da elaboração legislativa nos Estados A elaboração legislativa no Estado de São Paulo BIBLIOGRAFIA ******ebook converter DEMO Watermarks******* O DIREITO A conduta humana e o Direito O estabelecimento de preceitos voltados para o controle da conduta é um dos elementos que caracterizam a cultura humana, decorrendo, particularmente, do fato de o homem viver em sociedade. Realmente, o ser humano não vive isolado, mas em contato com seus semelhantes. É possível inclusive afirmar que a tendência para viver em sociedade faz parte da natureza humana (homo est naturaliter politicus, id est, socialis = o homem é, por natureza, político, isto é, social) [1], embora a sociabilidade seja utilizada para que os homens, conjugando esforços, superarem suas limitações. Assim, por necessitar de integração social, o homem troca experiências, relaciona-se e busca bens e serviços fornecidos pela sociedade[2]. Em razão da sociabilidade, em qualquer agrupamento humano, independentemente de seu estágio de desenvolvimento, observa-se a presença de normas disciplinando a vida em comunidade, por meio do controle do comportamento de seus integrantes[3]. Por isto, as sociedades humanas são normativas, visto que o homem não pode sobreviver sem um mínimo de regras, estabelecidas em prol do interesse geral[4]. A disciplina da conduta humana ocorre com o intento de assegurar a coexistência das liberdades individuais. Deste modo, se o homem vivesse isolado jamais discutiríamos a presença de regras voltadas para o controle do seu comportamento. Contudo, como vivemos em conjunto com outros homens, os nossos atos os afetam e somos, do mesmo modo, atingidos pelos atos por eles praticados. Sendo assim, não há como deixar de estabelecerregras acerca da forma como os homens devem se conduzir[5]. Apenas por utopia poderíamos imaginar que os homens, de comum acordo, num regime de absoluta liberdade e igualdade, estabeleceriam situações ideais de comportamento humano, limitando suas pretensões e ajustando seus deveres[6]. ******ebook converter DEMO Watermarks******* O controle da conduta, por meio da fixação de regras, surge, assim, da necessidade de conjugar os interesses individuais com a vida em sociedade. É, em suma, fruto da coexistência humana, sendo um elemento indispensável para discipliná-la[7]. Se não existissem regras disciplinando a vida em sociedade poderiam surgir conflitos que levariam ao fim das formas associativas ou a imposição da vontade de algum ou alguns dos integrantes do grupo social. Desse modo, é imprescindível estabelecer como o homem deve se comportar em determinadas situações (mínimo ético). Para tanto, são estabelecidas regras de convívio, que, num contexto amplo, integram o Direito.[8] Em sua origem, “a palavra direito é oriunda do latim directum, particípio passado de dirigere (dirigir, [co]mandar); procede de regere (reger, governar), verbo que, por sua vez, vem da raiz sânscrita rgu ou rj (conduzir), identicamente a rgugu (honesto, honrado), mais o prefixo di, originário das raízes dh e dhr, que dão ideia de firmeza, estabilidade. Em latim, direito se diz ius, expressão que pode vir de iuvare (ajudar) ou de Iovis, o deus que determinava os homens; pode vir ainda de iugum reor (impor), ou de iubere (mandar), ou de iustitiam, iustum (o que é devido ou se opõe como argumento). No latim, pois, a possível raiz sânscrita seria iu, que traduz ideia de vínculo, ligadura, amarração[9].” É em decorrência do exposto que todas as conceituações de Direito caminham no sentido de ressaltar a existência de comandos que vinculam os homens, com a intenção de direcionar a conduta humana para permitir a vida em sociedade. Em especial, o legislador preocupa-se com o interesse geral, ou bem comum, já que representa a finalidade primordial do Direito, que não existe por si mesmo, mas sim com o intuito de propiciar o bem-estar da coletividade, possuindo, assim, valor instrumental. A necessidade do Direito Como abordado inicialmente, a vida em sociedade seria impossível sem a existência de um mínimo de regras para disciplinar a conduta de seus integrantes, já que o comportamento individual ou coletivo dos seus ******ebook converter DEMO Watermarks******* membros pode interferir na esfera de interesses de terceiros, gerando um conflito. O conflito surge quando há um choque de interesses. Este, por sua vez, precisa ser disciplinado, pois pode “acontecer que a posição favorável à satisfação de uma necessidade, em vez de implicar, exclua a posição favorável à satisfação de uma outra necessidade. Esta possibilidade deriva da limitação dos bens relativamente às necessidades”[10]. Portanto, as leis existem também para evitar que os conflitos de interesses ocorram, quando podemos falar na função preventiva, e igualmente para resolvê-los, com a aplicação, na segunda hipótese, do Direito ao caso concreto. A necessidade de estabelecer mecanismos para a solução dos conflitos não é desconhecida pelas sociedades, qualquer que tenha sido o momento histórico de sua formação, tendo em vista que o homem sempre procurou disciplinar a vida em sociedade, estabelecendo as condutas proibidas e permitidas[11], uma vez que para possibilitar a vida em comum muitas vezes é necessário restringir a liberdade das pessoas por meio de normas. Realmente, a própria liberdade humana deixaria de existir se todos os homens estivessem dispensados de seguir as leis. Por esta razão, a liberdade se encontra vinculada à ordem, pois caso contrário desaparecia[12]. O direito exerce, portanto, dentro da sociedade, a importante função de conciliar os interesses divergentes[13]. Ou seja, sem a restrição da conduta dos integrantes da sociedade não há como garantir sua conservação e progresso. A restrição é, assim, uma necessidade que emerge da simples observância dos fatos. Deste modo, é inerente à vida em sociedade que a conduta humana sofra limitações, sendo que o mecanismo utilizado para alcançar este objetivo são as normas jurídicas[14]. Em outras palavras, o Direito limita a liberdade de ação dos homens, que não pode ser absoluta, por ser exercida dentro da sociedade, onde é necessária a conciliação dos diversos interesses existentes. Assim, a função das normas é assegurar as condições necessárias para a vida em comum, pois possibilitam o desenvolvimento individual e coletivo das virtualidades, além de permitir a consecução e gozo das necessidades materiais[15]. ******ebook converter DEMO Watermarks******* A abolição das leis, sejam elas civis ou religiosas, torna a vida em sociedade impossível. De fato, como relata Tocqueville[16], na Revolução Francesa, em razão da queda das leis civis e religiosas, o homem perdeu o equilíbrio, tendo surgido revolucionários que fizeram sua audácia chegar até a loucura, fato que provocou abalos na sociedade, tornando necessário o estabelecimento, de imediato, de mecanismos para conter a conduta humana. Se não bastassem os argumentos levantados a favor da atividade legislativa, há ainda a questão da segurança jurídica que a lei oferece ao disciplinar determinada conduta. Por isto, é comum a defesa da lei sob essa ótica, aduzindo-se que sua ausência produz a insegurança jurídica, ao tornar instáveis as relações jurídicas, deixar incerta sua natureza e trazer dúvidas a respeito dos direitos subjetivos, o que leva à intranquilidade e fim do sossego dos cidadãos[17]. Entretanto, embora a necessidade do direito manifeste-se em simples atos de nosso cotidiano[18], muitas vezes sequer paramos para pensar na influência por ele exercida e na importância de conhecê-lo melhor, inclusive no que se refere ao seu processo de produção. Portanto, além do elemento objetivo, representado pelo fato de que a existência de regras jurídicas acompanha a vida em sociedade, será importante descobrir quais são os fatores que interferem na produção legislativa. Em resumo, se o direito é tão importante para a vida em sociedade, é necessário criar meios para controlar sua produção, protegê-lo e garantir sua aplicação, embora o último aspecto esteja ligado mais propriamente ao direito processual e à jurisdição[19]. O Estado e o Direito Inicialmente faremos breves considerações a respeito do Estado, tendo em vista que ao levar em consideração sua existência e papel dentro da sociedade é que se organiza a atividade de elaboração legislativa. No que se refere à origem do Estado, ponto de partida obrigatório para nosso estudo, há três teorias relacionadas ao seu surgimento que podem ser tidas como as mais importantes. São elas: 1ª Complexidade da vida em sociedade; ******ebook converter DEMO Watermarks******* 2ª Fortalecimento do governante e, consequentemente, transformação do costume em lei; 3ª Surgimento de sociedades políticas altamente desenvolvidas. Para a primeira teoria, a da complexidade da vida em sociedade, a origem do Estado está relacionada à complexidade da vida social. O seu núcleo baseia-se na afirmação de que a existência de sociedades mais complexas leva, inexoravelmente, ao surgimento do Estado. No que concerne à segunda teoria, fundada no fortalecimento do governante e na substituição do costume pela lei, sustenta que o Estado surge do aumento da autoridade do governante, com a transformação do costume em lei. Aduz ainda que a necessidade de disciplinar as relações sociais de maneira duradoura foi necessária para garantir o poder dos governantes, sendo que um dos meios utilizados correspondeu à organização do poder, com a criação do Estado. Quanto à última teoria, atrelada ao desenvolvimento das sociedades políticas, aponta o final da Idade Média como o período em que surge o Estado. Em especial, liga o advento do Estado às sociedades políticas altamente desenvolvidas que surgiram nesse período. Como severifica, em última análise, todas as teorias que justificam a existência do Estado podem ser reduzidas à necessidade de criação de uma estrutura jurídica apta a satisfazer os interesses de sociedades mais complexas, que demandam, por isso, melhor organização, por se basearem em numerosas relações de interdependência ou de subordinação, e, deste modo, precisar de demarcações precisas e formais[20]. Quanto à relação entre o Direito e o Estado, cumpre observar, “de acordo com Bluntschli, que a lei é a expressão mais elevada, a mais eminentemente política do direito, sua fórmula a mais refletida e a mais pura. Todo o Estado fala por sua voz e fixa assim o direito, revestindo-o de sua autoridade. A consciência e a vontade do Estado formam na mesma um corpo visível. A lei é o verbo perfeito do Direito”[21]. Logo, o vínculo que o Estado mantém com o Direito é firmado pela lei. A evolução na disciplina do comportamento humano Embora a atividade legislativa esteja concentrada modernamente no Estado, no curso da história a situação se apresentou de maneira diversa, já que o Direito é anterior ao surgimento do próprio Estado, a quem estrutura por meio de normas jurídicas[22]. ******ebook converter DEMO Watermarks******* Assim, antes mesmo de o homem sair dos arredores da caverna na busca de seu sustento e escolher seu chefe militar e temporário, manifestação primária da figura do Estado, já havia meios de limitação do comportamento humano. No início, o homem comportava-se em funções dos hábitos e imitações, os primeiros colhidos de seus semelhantes e os últimos dos animais, o que acabou dando origem, em razão da repetição, aos costumes[23]. O costume é assim a única forma de manifestação de regras de conduta nas sociedades primitivas, confundindo-se com a maneira de agir, sentar e comer de um povo. Além disso, as leis consuetudinárias eram homogêneas e não apresentavam diferenciação em relação às leis religiosas, morais e o direito propriamente dito. Contudo, já é possível identificar que o Direito começa a ser elaborado para se sobrepor às demais ordens[24], principalmente por seu aspecto racional. Quanto às primeiras normas jurídicas, estavam fundadas em critérios religiosos. Por esta razão, não havia procedimento próprio para a feitura das leis, sendo que o chefe religioso era também o responsável pelas atividades políticas e legislativas. Além disso, as leis eram consideradas divinas, e o poder de legislar, como ocorreu na antiga Mesopotâmia, era exercido pelos reis, tidos como os eleitos pelos deuses[25]. No que concerne à procedência divina das leis, o Código de Hamurabi, codificação mesopotâmia, traz um preâmbulo com justificativa sobrenatural, que bem espelha essa visão, conforme transcrição que se segue: “Quando o alto Anu, Rei de Anunaki e Bel, Senhor da Terra e dos céus, determinador dos destinos do mundo, entregou o governo de toda a humanidade a Marduc; quando foi pronunciado o alto nome de Babilônia; quando ele a fez famosa no mundo e nela estabeleceu um duradouro reino cujos alicerces tinham a firmeza do céu e da terra – por esse tempo Anu e Bel me chamaram, a mim Hamurabi, o excelso príncipe, o adorador dos deuses, para implantar justiça na terra, para destruir os maus e o mal, para prevenir a opressão do fraco pelo forte, para iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo. Hamurabi, governador escolhido por Bel, sou eu; eu o que trouxe a abundância à terra; o que fez obra completa para Nippur e ******ebook converter DEMO Watermarks******* Durilu; o que deu vida à cidade de Uruk; supriu água com abundância aos seus habitantes; o que tornou bela a cidade de Brasíppa; o que enceleirou grãos para a poderosa Urash; o que ajudou o povo em tempo de necessidade; o que estabeleceu a segurança na Babilônia; o governador do povo, o servo cujos feitos são agradáveis a Anuit[26]”. Havia, portanto, perfeita identificação entre o direito e a vontade dos deuses. Considerava-se, inclusive, que o direito tinha a mesma origem do homem: o poder criador dos Deuses. Desta forma, o direito também seria algo dado pelos Deuses, fazendo, assim, parte da criação divina[27]. Por força do aspecto divino, defendia-se a imutabilidade das leis, conforme podemos verificar na seguinte passagem do epílogo das leis estabelecidas por Hamurabi: No futuro, através das gerações vindouras, que o rei deste tempo observe as palavras de justiça que escrevi no meu obelisco; que ele não altere a lei que dei a esta terra, os éditos que redigi, e que meu obelisco não fique no esquecimento. Se tal governante tiver sabedoria e for capaz de manter a ordem nesta terra, ele deverá observar as palavras que tenho escrito nesta inscrição; as regras, estatutos e leis da terra que me foram dadas; (...). Na Grécia clássica – particularmente na cidade-estado Atenas – também não havia separação entre religião e Estado. A pólis grega assegurava aos cidadãos as leis jurídicas, morais e religiosas. Esta disciplina buscava fazer com que os cidadãos agissem adequadamente. De acordo com a concepção da época, era a pólis que permitiria a formação integral do cidadão, tornando-o apto a viver na comunidade política[28]. Entretanto, a forte noção de comunidade política permitiu aos gregos o desenvolvimento de regras sobre o poder político, sendo necessário ressaltar, inclusive, que, em determinado período histórico, as leis eram elaboradas pelos próprios cidadãos em assembleias populares[29]. Além disso, por influência dos filósofos gregos, não havia separação entre os campos ético e jurídico. A filosofia sustentava, no entanto, a prevalência da moral, como ciência geral das ações humanas, sobre o direito, considerado mera parte da atividade humana[30]. A filosofia grega exerceu, no entanto, importante função em relação à atividade legislativa, pois os debates envolvendo a liberdade, a política e a ******ebook converter DEMO Watermarks******* ética atingiram as leis. Assim, questões relacionadas à feitura das leis, sua necessidade, mudanças etc., passaram a frequentar as cogitações filosóficas em razão dos gregos abandonarem a ideia de que as leis são frutos exclusivos dos deuses ou das tradições[31]. Posteriormente, quando a lei positiva alcança o centro do debate filosófico, afasta-se por completo a existência e modificação das leis da vontade divina[32]. A laicização foi aberta por filósofos como Epicuro, cuja ideia de prevalência da razão sobre a religião é claramente representada no seguinte trecho: ‘“Houve uma época em que a vida de um homem era desregrada, selvagem e estava à mercê da força. Nenhuma recompensa vinha do bem e nenhum castigo, do mal. Creio que foi então que os homens imaginaram leis para castigar o pecador, de modo que a justiça pudesse exercer igual domínio sobre todos e frustrar a violência. Assim, o pecador era castigado. Mas posteriormente observou-se que as leis só atingiam a violência manifesta, enquanto o crime oculto escapava. Foi então que algum homem mais inteligente do que seus pares inventou o medo dos deuses, para que os homens temessem as consequências até mesmo dos seus feitos, palavras e pensamentos secretos. Nasceu a religião, ensinando que existe um Ser sobrenatural, imortal, dotado do poder de perceber tudo o que é dito e feito. Mesmo o ato planejado em segredo lhe é conhecido. Essa ficção foi recebida com prazer e seu autor continuou localizando a residência dos deuses no céu, de onde os homens esperavam que tombem as bênçãos e os desastres; de onde vêm o trovão e o relâmpago; lá se vê a face estrelada da noite na qual as estações e as horas são lidas; ali nasce a estrela matutina, dali caem as chuvas. Nosso descobridor assediou a humanidade com esse medo, escolhendo uma residência conspícua para o deus que brilhantemente imaginara, esmagando a anarquia pelas leis. Creio que foi assim que ele convenceu os homens a aceitarem a raça dos deuses’ (Diels-Kranz, Fragmente der Vorsokratiker)”[33]. A lei passa, então, a ser um assunto humano. Sua validade, portanto, já não decorre da revelaçãodivina e, do mesmo modo, sua elaboração passa a ser reputada uma atividade humana, voltada para ******ebook converter DEMO Watermarks******* assegurar a melhor sorte dos homens, dos quais dependia para qualquer mudança[34]. Ocorre, assim, a laicização do direito, permitindo que surja uma fenda entre o direito dos deuses e o direito dos homens, fato que servirá como caminho para o desenvolvimento da cultura clássica[35]. Da mesma forma, o legado romano é também importantíssimo, visto que o Direito, como ciência, surgiu dos estudos romanos, por meio da análise lógica dos fatos sociais, que se tornaram objeto de conhecimento positivo e foram submetidos a categorias lógicas[36], como expresso na seguinte passagem do Digesto: [D.1.5.2 Hermogenianus libro primo iuris epitomarum] “Como, portanto, todo direito é constituído por causa dos homens, nós declaramos ter seguido a ordem do edito perpétuo, primeiramente com o status das pessoas e depois os outros, aplicando os títulos próximos e os conjugados a estes conforme comporte a matéria”[37]. Todavia, em Roma, local de nascimento das bases do direito atual dos países de tradição romanística, inicialmente não havia separação entre Direito e moral. A distinção foi feita pelo jurisconsulto Paulo quando apontou que nem tudo que é lícito é honesto (non omne quod licet honestum est) e que há fatos admitidos pelo Direito e repelidos pela Moral, o que demonstra que são campos distintos de disciplina da conduta humana[38]. Com o tempo, a distinção entre direito e religião passou a ser reconhecida pelos romanos, que separavam o jus, domínio dos homens, que abrangia os fatos permitidos pela cidade e o fas, reinado de Deus, correspondente às condutas permitidas pela Religião[39]. Isto ocorreu, em especial, em virtude do surgimento do cristianismo em Roma. Deveras, embora perseguida no início, a religião cristã foi lentamente sendo permitida, até que, em 313 d.C., por intermédio do Édito de Milão, o imperador Constantino reconheceu o cristianismo e as demais religiões, dando aos cristãos liberdade para seguir sua religião. Antes havia uma simples tolerância religiosa. Surgiram, assim, dois campos distintos: o religioso e o civil. Todavia, paulatinamente começam a se estreitar as relações entre a religião e o Império, até chegar ao ponto em que o Estado passa a controlá- la, transformando o cristianismo em religião oficial do Império Romano, notadamente por influência do imperador Teodósio (381-391), por meio do ******ebook converter DEMO Watermarks******* Édito de Tessalônica. Em consequência, surgiu o Cesaropapismo, que correspondeu ao controle do governo civil sobre a religião. O imperador assumiu, assim, o posto de chefe máximo da Igreja, forçando seus integrantes a servi-lo. Com isto, ocorreu o fortalecimento do poder do imperador, que passou a dominar os campos laico e religioso, adquirindo assim poderes ilimitados, fato que levou ao totalitarismo, fundado na origem divina do poder, e permitiu o total controle da Igreja[40]. Em 476 d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente, novos reinos bárbaros passam a governar a Europa, produzindo a ruína das estruturas montadas pelo Império Romano. Todavia, a Igreja Católica conseguiu sobreviver à queda do Império Romano e o Papa ampliou cada vez mais o seu poder, o que ocorreu principalmente com Gregório VII, papa entre 1073 e 1085, que eliminou o poder dos reis e imperadores para nomear e investir os clérigos da Igreja. Com a centralização do poder da Igreja, ele passa a ser absoluto, ficando afastada qualquer interferência do poder temporal[41]. No entanto, o Imperador do Sacro Império Romano Germânico Henrique IV contestou a posição assumida pela igreja, fazendo com que surgisse um novo conflito envolvendo os poderes temporal e espiritual, resolvido com o advento da Concordata de Worms, firmada em 1122. A contestação ao poder da igreja era baseada na alegação de que todo poder decorre de Deus, não podendo existir qualquer intermediário entre o monarca e Deus. Dentro deste contexto, colocou-se Dante, para quem “só Deus elege, só Deus confirma, nada existe supremo [a não ser Deus]”[42]. Entrementes, como o poder espiritual ainda convivia com o temporal, surgiram novos atritos entre eles. Assim, no intuito de eliminá- los, o Papa Gelásio I elaborou no final do século V a doutrina das duas espadas ou autoridades, baseada no entendimento de que a sociedade era regida por duas jurisdições separadas: a temporal ou secular e a espiritual, ambas provenientes de Deus. Deste modo, sob o aspecto legislativo existiam as leis seculares e espirituais, as primeiras voltadas para o bem- estar dos súditos dos imperadores e as segundas para a salvação dos seres humanos. Num sentido amplo, na Idade Média – séculos VII a XIV – o domínio sobre os homens era exercido pelos senhores feudais, pela Igreja, ******ebook converter DEMO Watermarks******* pelo Império Romano no Oriente e pelos árabes, os últimos principalmente em razão de suas conquistas. Nesta época o poder temporal encontrava-se fragmentado. Havia pequenas unidades de dominação, representadas pelas relações mantidas entre os senhores feudais e os vassalos. A dominação política, no último caso, era de natureza pessoal, com centros de dominação independentes, sofrendo mudanças no tempo e no espaço, principalmente em razão das guerras, casamentos e heranças[43]. No aspecto político a principal característica da Idade Média é a confusão entre o direito público e o privado, já que os senhores feudais dominavam de forma absoluta as relações com os vassalos[44], tendo como fonte principal para o seu poder o patrimônio. Aliás, é por isso que esse período é considerado como de nascimento do Estado patrimonial, embora, em realidade, as características de um verdadeiro Estado não estivessem presentes, sobretudo em razão da falta de centralização do poder político. Nesse período, em razão da inexistência de um poder central e do desprezo pela doutrina das duas espadas, surgiram novamente problemas envolvendo a Igreja e os Impérios seculares. Visando solucionar a controvérsia, surgiram duas concepções diversas: o cesaropapismo e a teocracia papal. A primeira é marcada pelo controle da igreja pelo imperador, inclusive na nomeação de bispos. Na segunda ocorre o inverso, pois é o papa que estende o seu domínio sobre a esfera temporal. De qualquer forma, como na Idade Média havia um forte misticismo, os aspectos religiosos praticamente dominavam todos os aspectos da vida. Consequentemente, mesmo o poder dos governantes era tido como uma graça divina, cuja função era a condução da sociedade para o encontro de Deus e o conhecimento da verdade. Este fato permitiu que a Igreja Católica assumisse parte do poder temporal, surgindo conflitos a respeito da plenitudo potestatis, ou soberania, envolvendo a Igreja e os imperadores[45]. A concepção divina do poder da Igreja encontrou fundamento na alegação de que a fundação da cidade ou do reino deriva da criação do mundo. Sendo assim, somente do governo divino é que poderia derivar o governo dos homens[46]. Deste modo, o rei deveria ficar vinculado à Igreja, pois o entendimento predominante era que a última concentraria os gládios ******ebook converter DEMO Watermarks******* espiritual e material, sendo que o primeiro deveria ser utilizado por ela e o segundo ficaria à sua disposição[47]. Representativa da concepção divina do poder, não obstante relacionada a um período histórico posterior, é a Bula “UNAM SANCTAM”, de 18 de novembro de 1802, na qual o Papa Bonifácio VIII defendeu a supremacia do poder da Igreja, dizendo, entre outras coisas, que o poder espiritual supera em dignidade e nobreza qualquer poder terrestre e que sobrepaira sobre o temporal. Em razão da prevalência dos fatores religiosos, em grande parte da Idade Média o poder da Igreja foi considerado supremo, pois se entendia que todas as ações humanas eram conduzidas pela vontade de Deus. Logo, contrariar o poder da Igreja representava colocar-se em oposiçãoaos desígnios de Deus. A vinculação do poder ao aspecto divino também atingia os soberanos, forçados a agir de acordo com o previsto nas Sagradas Escrituras, que eram interpretadas pelos doutores da lei (sacerdotes católicos), que conseguiram alcançar a hegemonia social e política no período medieval. A primazia do fator religioso ocorreu também em razão da crença na origem sobrenatural do poder, que permitiu que fosse defendido que os pressupostos de limitação do poder eram transcendentes, teológicos, estando relacionados à sua origem divina, que garantiria direitos naturais e irrenunciáveis para o homem, limitando o legislador. Todavia, os preceitos impostos ao legislador buscavam garantir a soberania da vontade divina, cujos valores almejavam o bem da sociedade e não do indivíduo[48]. O domínio da igreja durante a Idade Média decorreu possivelmente das condições sociais da Europa, particularmente da condição agrícola da população, que por não entender e controlar a natureza trabalhava com crenças sobrenaturais, venerando a Deus. Aliás, esta situação somente se altera com o desenvolvimento da indústria e do comércio, responsáveis pelo surgimento de uma nova mentalidade a respeito dos fatos terrenos, até mesmo com a contestação do poder da igreja[49]. O mesmo ocorreu com a Reforma Protestante e a revolução científica. A revolução científica, o mesmo ocorreu com a reforma protestante, tinha como meta a descoberta da verdade por meio da razão. Baseando- se no cepticismo, no individualismo e na razão, essas concepções deixaram ******ebook converter DEMO Watermarks******* de aceitar passivamente a autoridade tradicional, que, desta forma, sofreu forte contestação[50]. Com o tempo vai se consolidando a separação entre Igreja e Estado, salvo no Oriente, pois com a fundação da religião islâmica por Maomé (570 a 632 d.c.), o Corão, livro sagrado da fé, passa a ser, para os islâmicos, o principal elemento de disciplina de condutas. Assim, seguindo os passos de Medina, primeiro Estado islâmico, a religião vinculou-se ao Estado e, em consequência, as regras de conduta que teriam sido transmitidas ao profeta Maomé passam a reger a vida dos fiéis. Com isto, os poderes espiritual e temporal passaram a ser exercidos pelo governante. Dentro deste contexto, o Alcorão é uma lei que se coloca acima das demais, sendo dotado de prevalência, o que lhe permitiu o exercício da função controladora[51]. Todavia, o reconhecimento de que o Corão é o responsável maior pelas regras de conduta dos seguidores do islamismo não nos impede de seguir a importante colocação de Michel Miaille de que os juristas muçulmanos seguem ritos ou escolas determinadas para a interpretação do Corão, que nada mais são do que construções doutrinárias que devem ser interpretadas como a principal fonte do direito muçulmano[52]. Voltando ao estudo da situação do Ocidente, a separação entre religião e Estado, particularmente entre Igreja Católica e Estado, ocorreu também em razão do advento do poder absoluto dos reis. Do mesmo modo, papel de relevo foi ocupado pelo movimento de Reforma da Igreja Católica, defendido inicialmente por Martinho Lutero, monge agostiniano que em 31 de agosto de 1517 afixou na porta principal da Igreja de Wittenberg, na Alemanha, noventa e cinco teses contra os abusos de clérigos corruptos, contribuindo para enfraquecer o poder da Igreja Católica[53], em razão do surgimento de outras religiões baseadas no cristianismo, e fomentar a separação entre os poderes espiritual e temporal. Significativo para essa alteração são também as construções doutrinárias pregando a separação entre os poderes espiritual e temporal, principalmente os trabalhos desenvolvidos por Guilherme de Ockham e Marsílio de Pádua. A título de ilustração, Marsílio de Pádua defendeu que o estabelecimento das leis divinas e humanas deveria ser separado. A primeira hipótese ficaria a cargo da Igreja e a segunda a cargo do príncipe. ******ebook converter DEMO Watermarks******* Para a defesa de sua posição, alegou que na Sagrada Escritura, de acordo com as palavras de Cristo e de seus Apóstolos, o poder de legislar foi conferido ao povo romano e ao seu Príncipe[54]. Com a separação dos poderes temporal e espiritual, o monarca assume o poder pleno, ou soberano, na esfera temporal, originando o Estado moderno, no qual a organização política anteriormente existente, fundada em vários núcleos de poder, é substituída pela concentração do poder[55]. A partir do momento em que passou a exercer o poder de forma absoluta, o soberano utilizou-se da lei como o único meio para representar a sua vontade, o que garantiu que suas prescrições fossem consideradas justas e observadas sem contestação. Com este comportamento, reforçou-se a separação entre os campos civil e religioso, uma vez que a lei humana ficou livre de qualquer condicionamento. Além disso, os governantes impuseram a supremacia da lei sobre os costumes, permitindo que a primeira viesse a afastá-los e modificá-los[56]. A força do costume, a partir de então, sujeitou-se ao processo de formação das leis. Por isto, somente ganhará status de fonte do Direito quando houver norma no sistema que o qualifique como apto a produzir consequências jurídicas, quando, então, integrará as normas de formação do sistema[57]. Deste modo, ao ser reduzido a escrito, o costume passou a ser uma lei de origem consuetudinária, pois se reservou ao soberano o poder de modificá-lo e interpretá-lo[58]. Com a nova visão a respeito do papel das leis, que deixaram também de ser consideradas responsáveis somente pela declaração do direito, seguindo, para tanto, as normas consuetudinárias, a vontade ganha papel de destaque. Assim, a autoridade assume o papel de produtora do Direito e a soberania passa, então, a ser definida também como o poder de fazer ou não fazer leis[59]. Portanto, ressurge a ideia presente no direito romano de que “o que o príncipe quer vigora com força de lei” (quod principi placuit legis habet vigorem). Dessa forma, tornou-se imprescindível institucionalizar o poder, fator determinante para o surgimento de formas de controle da atividade legislativa, caso da separação de poderes, participação popular na feitura das leis e imposição de limites fundados no direito natural. Todavia, do final do século XV até o final do século XVIII o poder ficou livre de quaisquer condicionamentos. Fundado na concepção da ******ebook converter DEMO Watermarks******* origem divina do poder, o que novamente ligava o Direito à religião, o rei aduzia que somente leis divinas poderiam limitá-lo. É o período do absolutismo monárquico, que atingiu seu auge com Luís XIV, na França, também conhecido como “Rei Sol”, uma vez que afirmava que tudo girava ao seu redor, autor da célebre frase: “L’ETAT C’EST MOI” (o Estado sou Eu). O absolutismo é marcado pela publicação da obra Política Extraída da Sagrada Escritura de Bossuet, onde se coloca em termos claros a ligação entre o absolutismo e o direito divino, pois a legitimidade do poder do rei decorria do fato de ser o representante de Deus na Terra. Por conseguinte, sua autoridade encontrava fundamento divino e, consequentemente, não poderia ser objeto de partilha[60]. Consequentemente, o exercício arbitrário do poder é a marca desse período[61], com pequena atenuação na chamada fase do Estado de polícia, quando ocorreu a despersonalização e objetivação do poder, sob a assertiva de que a atividade do príncipe se basearia na representação do Estado e não mais numa prerrogativa pessoal[62]. Em sentido contrário ao absolutismo, é desenvolvida uma importante tentativa de limitação do Estado, sob o enfoque jurídico, com apoio na Teoria da personalização jurídica do Estado, primeira medida adotada para a construção do Estado de Direito. Com base em seus fundamentos, o Estado passou a ser considerado um sujeito de direito, assumindo direitos e deveres, assim como a fazer parte de relações jurídicas. Com a separação do monarca em relação ao Estado, o primeiro passou a ser apenasum dos órgãos da pessoa jurídica Estado, cujos direitos anteriormente existentes se transformaram em faculdades orgânicas, previamente definidas e limitadas pela Constituição, sobretudo no intento de assegurar um rol de direitos considerados essenciais, que se manifestavam, em especial, na proteção da vida, da liberdade e da propriedade. Da mesma forma, desapareceu a justificação patrimonial ou religiosa do poder, fundada na vontade discricionária do príncipe, pois surgiu em seu lugar o governo da razão, no qual se manifestou a soberania da vontade geral expressa no parlamento. Com isto, originou-se o governo das leis e não dos homens, caracterizado pela emissão de normas ******ebook converter DEMO Watermarks******* gerais e abstratas, utilizadas como meio para garantir os direitos individuais do homem[63]. Ilustrando a preponderância da lei, o artigo 3, do Capítulo II [Da realeza, da Regência e dos Ministros. Seção primeira. Da realeza e do Rei], integrante do Título III [Dos poderes públicos], da Constituição Francesa de 1791, estatui que: “Não existe na França autoridade superior à da Lei. O Rei reina por ela e não pode exigir a obediência senão em nome da lei”. Mecanismos para o controle da atividade legislativa Ao longo do tempo, em especial quando o Direito, mais especificamente a produção normativa, passou para o Estado[64], após a consolidação da separação entre o poder espiritual e o temporal, a atividade legislativa sofreu importantes modificações. Dentre as alterações, figuram numa posição de destaque as que buscaram controlar o exercício da atividade legislativa. Por este motivo, dispensaremos, na sequência, um tratamento especial a algumas dessas mudanças. Uma das mais importantes transformações que a atividade legislativa sofreu diz respeito à passagem do poder para o plano terreno, quando deixou de ser uma faculdade que provém de Deus. Houve assim o acolhimento das ideias defendidas inicialmente pelos filósofos gregos, embora no período clássico grego prevalecesse o entendimento de que as leis eram permanentes por estarem ligadas a aspectos religiosos, sendo que sua alteração necessitava da observância de formalidades religiosas e políticas, a despeito de existirem decretos elaborados pela Ekklésia com a função de suplementar as leis[65]. Essa primeira alteração – atividade legislativa como função humana - está estreitamente relacionada à formação dos Estados modernos, quando a ordem social deixou de ser simplesmente considerada como transmitida ou vinculada a uma ordem superior de natureza religiosa, passando a prevalecer o entendimento de que a ordem social é produzida e criada. Contribuiu para esse novo enfoque principalmente a ideia de soberania popular, presente na Revolução Gloriosa de 1688, na Carta de Direitos de 1689 e nas declarações de direitos americana e francesa e que pode ser sintetizada na ideia de que a disciplina da vida em sociedade é fruto da vontade política[66]. Antes da separação entre os fatores religiosos e terrenos o poder era exercido com forte influência de fatores religiosos, uma vez que sua origem ******ebook converter DEMO Watermarks******* era considerada divina. Além disso, com a secularização do poder de legislar as leis perderam as características de permanência e imutabilidade, como era o caso das primeiras leis mesopotâmicas, que estabeleciam uma série de maldições humanas e divinas contra as pessoas que se atreviam a modificar ou eliminar as leis existentes[67]. Importante também foi a passagem da lei para o plano terreno – homem como legislador –, servindo para ressaltar que o poder de legislar, que passou a ser enquadrado como uma atividade humana, estaria sujeito a controles, jamais cogitados anteriormente. Outro aspecto relevante é a unificação da produção jurídica. No caso, como o Estado concentrou em si todos os poderes necessários para a disciplina da vida em sociedade, desapareceu a pluralidade de fontes normativas, surgindo em seu lugar um só centro de emanação de normas jurídicas. Tal fato é contribuição do absolutismo, que colocou em posição de supremacia a lei em relação às demais fontes do direito[68]. Significativo também foi o papel das codificações, que acabaram com a noção de pluralidade de ordenamentos e ligaram o Direito ao Estado e à lei[69]. Estas codificações, fruto em especial da Escola da exegese, reforçaram a ideia de monopólio do Estado na produção legislativa, afastando qualquer função criadora do Poder Judiciário, em razão de considerarem que todas as relações jurídicas estariam abrangidas pelos códigos[70]. Assim, passou-se a entender que o legislador seria o responsável por fornecer resposta para todos os problemas jurídicos por meio dos códigos, que inclusive vinculavam o intérprete quando da análise da lei[71]. Houve, portanto, a proclamação da onipotência jurídica do legislador, uma vez que o culto à lei e à intenção do legislador colocou o Direito produzido pelo Estado na posição de supremacia[72]. Em consequência, o direito passou a se identificar com a vontade da autoridade suprema, sendo, assim, mutável no tempo. A ideia de que o poder normativo estaria concentrado unicamente no Estado levou, por intermédio das teorias positivistas, à consideração da identidade entre Direito e Estado. Exemplo maior dessa visão é o posicionamento de Hans Kelsen, para quem, no dizer de Oliveiros Litrento, há identidade entre o Estado e o Direito, que são constituídos pelo verso e reverso de uma mesma medalha, como elementos inseparáveis, sendo o ******ebook converter DEMO Watermarks******* primeiro o direito como atividade normativa e o segundo o Estado como situação normativada. De qualquer forma, refletem aspectos distintos da realidade[73]. Os positivistas sustentam também que o Estado é anterior ao Direito, já que sem a presença do Estado não há como ser criado o Direito. Merecem também realce os mecanismos que foram elaborados para combater os abusos decorrentes da concentração do poder, particularmente do legislativo. Aliás, essas formas de controle atingiram seu ápice no século XIX e primeiras décadas do século XX, sendo a burguesia a responsável principal pela mudança. Ocupa lugar de destaque no controle do poder a Teoria da representação, por meio da qual a elaboração e o conteúdo das normas jurídicas passaram a observar a visão dos liberais, fundada na defesa da liberdade do homem em relação ao Estado, o que levou à formulação definitiva do Estado de Direito[74]. É importante lembrar que a atividade legislativa traz em seu bojo a disciplina de matérias referentes, por exemplo, à vida, à liberdade, à propriedade e à segurança, que são reputadas bens jurídicos essenciais, inclusive considerados, dentro da visão naturalista, inerentes ao homem, como foi ressaltado na Declaração de Direitos da Carta de Virgínia, datada de 12 de janeiro de 1776, cujo primeiro artigo ressaltou que os homens são por natureza igualmente livres e independentes e têm certos direitos inerentes. Era, portanto, indispensável estabelecer formas específicas de controle da função legislativa, sendo que foram adotadas, com este intento, inúmeras providências, conforme visualizaremos na sequência. Um dos primeiros meios utilizados na imposição de condicionamentos à atividade legislativa foi a exigência de que as leis fossem impressas ou pelo menos fosse conferida oportunidade para o seu conhecimento[75]. Por sinal, foi determinado em Atenas que as autoridades não teriam permissão, em nenhuma hipótese, para utilizar uma lei não escrita[2]. Sólon, o maior legislador ateniense, por sinal, tornou públicas todas as leis por ele promulgadas, permitindo, desta forma, o conhecimento do direito ateniense por todos[77]. Antes dele, no entanto, Drácon, em 621, editou leis escritas, marcadas pela severidade, válidas para todos os cidadãos. Nestes dois exemplos estava presente a influência das ******ebook converter DEMO Watermarks******* ideias democráticas, por meio das quais se procurava afastar as decisões arbitrárias,ditadas como expressão da vontade divina. Para tanto, considerava-se indispensável que o nomos fosse promulgado a plena luz, permitindo assim o conhecimento dos direitos e deveres[78]. No mesmo sentido, os plebeus, em Roma, na luta por igualdade jurídica e política com os patrícios, reivindicaram o conhecimento das leis, por meio da publicidade. Desta luta surge a Lei das Doze Tábuas, código de leis voltado para a administração da justiça e que se tornou conhecido em virtude de ter sido exposto no foro[79]. Entretanto, não se discutia ainda o conteúdo das leis, mas apenas a sua forma. De qualquer maneira, embora aparentemente simples, a publicidade das leis significou um grande passo para o controle do poder de emanação de normas jurídicas. Numa segunda fase passou-se a postular a participação do povo na elaboração das leis. Aqui, sobretudo com justificativa nas teorias contratualistas, afirmava-se que sendo o Estado criado pelo consenso social não era possível deixar parte dos pactuantes de fora da feitura das leis. Posteriormente, principiaram a ser discutidos critérios a serem seguidos, de forma obrigatória, pelos responsáveis pela elaboração legislativa. Por fim, entrou em cena a discussão sobre a importância de determinadas matérias, sendo que os debates originaram a construção doutrinária daquilo que viria a ser chamado futuramente de primeira dimensão dos direitos humanos, em razão da forte influência da concepção naturalista dos direitos. A produção das leis adquiriu, assim, condicionamentos materiais e formais, que subsistem até nossos dias. Outro aspecto relevante é que dependendo da concepção ideológica adotada pelo Estado amplia-se o espaço de emanação normativa estatal, restringindo ou mesmo praticamente anulando a atuação dos particulares, o que coloca em primeiro plano, mais uma vez, a necessidade de controle sobre a atividade legislativa. Afinal, a restrição estatal diminuiu o campo, já limitado, de autoregulamentação de relações jurídicas, obtido na esfera privada graças à influência do liberalismo, que separou um campo das condutas humanas da atuação normativa do Estado, gerando as chamadas liberdades públicas. ******ebook converter DEMO Watermarks******* A liberdade, um dos lemas da Revolução Francesa, garantiu aos particulares um campo amplo de atuação normativa. Esta liberdade, por ser a princípio absoluta, criou enormes desigualdades na sociedade, forçando assim o Estado a intervir para, como mencionado na Encíclica Rerum Novarum (Leão XIII – 1891), assegurar a justiça e o bem estar individual e social. Com isto, o Estado afastou o entendimento de que haveria uma esfera livre de sua presença normativa. A razão da maior ou menor presença do Estado deve ser analisada considerando-se as peculiaridades de cada país, tema que fugiria aos propósitos deste trabalho. De qualquer forma, acaba, em realidade, sendo muitas vezes indiferente o fato de o Estado concentrar em si a produção normativa ou regular um mínimo e deixar o restante para ser objeto do campo de autonomia dos particulares, uma vez que determinadas matérias são tidas como próprias do Estado – por exemplo: vida e liberdade -, não se permitindo a atuação privada em sua disciplina. Por outro lado, mesmo quando os particulares regulam suas condutas por intermédio de meios reconhecidos ou de formas delegadas pelo Estado, a validade das normas editadas encontra, em última análise, fundamento no próprio direito oriundo do Estado. Além disso, a autonomia privada, na maior parte dos países ocidentes, principalmente nos vinculados ao sistema romano-germânico, gira em torno de normas jurídicas gerais e abstratas previamente elaboradas pelo Estado. A autorregulamentação dos interesses, ou autonomia privada, é, portanto, condicionada a parâmetros previamente fixados, significando que as relações jurídicas disciplinas pelos particulares no campo da autonomia privada são produtoras de normas jurídicas de segundo grau, já que derivadas de outras normas já existentes no sistema jurídico. Deve ser lembrado ainda que, embora o direito tenha sido o responsável pela própria criação do Estado, pode haver uma liberdade tão grande na elaboração de normas que se torne, na prática, imprescindível estabelecer condicionamentos para a atuação normativa, principalmente em relação ao conteúdo, processo de elaboração e responsáveis por sua edição, já que pensar de outra forma implicaria reviver a ideia de que o Direito, por ser fruto da atividade estatal, deve ficar livre de qualquer controle. ******ebook converter DEMO Watermarks******* É exatamente para combater a liberdade sem limites que Ángel Latorre afirma que a vontade do Estado nada mais é do que a das pessoas ou grupos que em determinado momento histórico exercem o poder. Por essa razão também é que não se pode deixar de controlar a legislação, sobretudo para evitar as arbitrariedades que surgiriam caso a expressão da vontade estatal sirva para encobrir a ação de grupos que, arbitrariamente, exercessem a atividade legislativa[80]. Concluindo, manifestamos novamente o entendimento de que a concentração da atividade normativa no Estado não significa que não é necessário qualquer controle. Pelo contrário, cada vez mais o controle se faz imprescindível. Portanto, não há como deixar de conhecer o processo legislativo e saber quais são os mecanismos que podem ser empregados para sua fiscalização. As normas jurídicas como forma de exteriorização do Direito Já pudemos observar que inicialmente o direito manifestou-se por intermédio dos costumes e de maneira oral. A passagem da disciplina jurídica para o Estado, deixando de lado os aspectos formais, significou a concentração do poder, que antes se encontrava disperso em pequenos grupos ou sob o controle dos imperadores. No entanto, o poder do Estado não é absoluto, mas sim limitado pelo Direito, havendo, desta forma, a autolimitação desse poder, o que o torna um poder jurídico ou de direito e não simplesmente de fato. Por este motivo, o próprio Estado fica a ele vinculado nos aspectos material e formal, relacionados ao controle que a sociedade exerce sobre os responsáveis pela edição de normas jurídicas. Porém, como diverge a forma de exteriorização do direito conforme estejamos frente a países de direito consuetudinário ou de formação romano-germânica, o controle, do mesmo modo, configura-se de maneira distinta. No primeiro caso em razão da produção decorrer dos costumes e, no segundo, por haver um órgão específico voltado para a produção normativa. Ocorre, no entanto, que mesmo nos países de direito consuetudinário há formas específicas para a exteriorização do direito e para o controle de sua validade. ******ebook converter DEMO Watermarks******* Nos países de tradição romanística[81], o direito manifesta-se sob a forma escrita e sua produção observa inúmeros requisitos. Há, assim, normas jurídicas, entendida a expressão como referente à produção jurídica a cargo do Estado, controlando a elaboração legislativa. Assim, o Estado estabelecerá quais são as normas jurídicas válidas, o que deve ser aferido em seu ordenamento jurídico. Para tanto, o Direito, ao contrário do que ocorre com a moral social, estabelecerá a maneira específica para a elaboração e conhecimento de suas normas. Do exposto resulta que o próprio Direito é quem estatuirá acerca das formas admissíveis para sua revelação e transformação[82]. De qualquer modo, não há como afastar a influência dos costumes sobre a lei, mesmo nos países de tradição romanística. A razão é intuitiva. Realmente, tendo o Direito por finalidade a disciplina da vida em sociedade, estabelecendo os comportamentos que devem ser adotados, não é possível ao legislador deixar de analisar os costumes existentes. As normas jurídicas positivadas, quando alheias aos costumes, poderão encontrar inúmeras dificuldades em sua aplicação. Em razão deste fato, será necessário, por exemplo, prever uma sanção mais forte que o normal para as condutas que as violem. É que o costume traz como umdos elementos a convicção de que a observância da conduta corresponde a uma necessidade. Assim, a conduta que é disciplinada sem observar os costumes não é dotada de tal atributo. Desta maneira, como bem observa Dalmo de Abreu Dallari[83], é necessário que o legislador tenha em vista os comportamentos futuros. Assim, normas que seguem os costumes terão maior eficácia social. Por outro lado, a imposição de novos comportamentos, salvo quando os existentes forem inautênticos e inadequados, poderá encontrar uma maior resistência. Aliás, o problema é mais grave quando a positivação do Direito vai contra os costumes. Equivoca-se, portanto, o legislador que faz abstração dos costumes. Quanto à produção normativa no Estado brasileiro, limitando-se ao processo legislativo positivado, tem-se a emanação de normas escritas, num processo de elaboração predeterminado em seus traços essenciais pela Constituição Federal. Por falar nisso, a preocupação com o processo legislativo é tão grande que todas as Constituições brasileira disciplinaram a atividade legislativa. ******ebook converter DEMO Watermarks******* Portanto, para que possamos conhecer as normas jurídicas, pelo menos sob o aspecto formal, teremos que analisar as espécies legislativas previstas, bem como o procedimento previsto para sua criação. Por outro lado, o aspecto material, ou conteúdo das leis, não costuma ser previamente estabelecido. O que nos é facultado, de antemão, é dizer que determinadas matérias, aqui mais uma vez amparadas pelo direito positivo, no caso as Constituições brasileiras, estão excluídas da esfera legislativa, como é o caso das cláusulas pétreas[84] e há, ainda, campos negativos e positivos de normatividade impostos pela Constituição. No primeiro caso, impede-se o legislador infraconstitucional de violar os dispositivos constitucionais e, no segundo, impõe-se que atue conforme as diretrizes traçadas pelo texto constitucional. No mais, permanece em aberto a produção normativa, sendo possível modificar a Constituição e as leis infraconstitucionais. A produção do direito A relevância da participação do Estado na produção jurídica foi descrita quando tratamos das normas jurídicas como mecanismo de exteriorização do Direito. Sendo assim, examinaremos, a partir de agora, a amplitude desta atividade e a participação dos particulares. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a produção jurídica sofre alteração conforme estejamos perante um Estado liberal ou intervencionista. Nos países liberais é maior a participação na produção normativa dos próprios interessados. Maior é o campo de autodisciplina das relações jurídicas. Em relação aos Estados de feição intervencionista, a produção do Direito se concentra em um de seus órgãos, ficando em segundo plano a participação dos particulares. Além disso, mesmo quando é assegurado aos particulares que participem da produção normativa, atuam dentro de um campo previamente delimitado, por meio de fontes reconhecidas ou delegadas de poder. Dizemos poder em virtude do fato de que os particulares acabam recebendo uma parcela, embora ínfima, do poder de legislar, mesmo que para simplesmente disciplinar a aplicação de um preceito abstrato ao caso concreto. Consequentemente, a atuação privada encontra parâmetros - materiais e/ou formais – que não podem ser desprezados. ******ebook converter DEMO Watermarks******* Relevante é também o fato de que a produção normativa apresenta contornos diversos conforme os modelos criados pelo direito positivo. Sendo assim, se o Estado adota o princípio da legalidade, num sentido amplo, todo o trâmite legislativo está previamente disciplinado. O mesmo ocorre com o princípio da separação de poderes que delimita o campo de atuação de cada um dos poderes. Em suma, são vários os limites que em tese podem existir, sendo sua compreensão obtida, em especial, à luz do direito positivo. Do mesmo modo, é importante saber se o direito produzido é legítimo, encontrando suporte nos anseios da comunidade, muito embora este aspecto seja colocado em segundo plano dentro da visão meramente positivista, fundada na ideia de estrita legalidade, que afirma que o Direito posto pelo Estado não pode deixar de ser observado, independentemente de seu conteúdo. Apreciando o tema desta forma, a legalidade se opõe à legitimidade. Com fundamento nessas colocações, declara-se, em conclusão, que a legitimidade não pode ser aferida, pois os critérios em que se baseia são externos ao Direito, estando ligados ao jusnaturalismo ou ao consenso social, elementos que não podem ser concretamente constatados[85]. Com isto, houve o esvaziamento do conteúdo da norma, fazendo com que os problemas sociais, políticos e jurídicos fossem desprezados, pois a neutralidade axiológica passou a ser um princípio básico da teoria do direito[86]. Assim como o direito natural, a legitimidade expressa a tentativa de controlar a atividade legislativa e evitar que a justiça, inerente ao próprio Direito, seja apenas a decorrente da vontade do legislador, sobretudo em razão dos riscos que tal postura pode representar para a defesa dos direitos do homem. Por falar nisso, a preocupação com a falta de legitimidade das leis lamentavelmente veio a se concretizar, pois alguns fatos serviram para demonstrar que não era possível limitar o Direito somente às regras jurídicas criadas pelo poder legislativo. É o caso dos acontecimentos ligados ao nazismo na Alemanha, quando foi necessário afastar os princípios do juiz natural, de proibição de tribunais ad hoc e de exceção, além do adágio nullum crimen sine lege para possibilitar o julgamento dos crimes de guerra pelo Tribunal de Nuremberg, pois os fatos que haviam sido praticados, principalmente o extermínio de seis milhões de judeus, atingiram a própria civilização, não obstante a punição não ******ebook converter DEMO Watermarks******* constasse de qualquer sistema de direito positivo[87]. Assim, para assegurar a prevalência da justiça, expressa na punição aos responsáveis pelos atos, colocou-se à margem a ideia de que a existência do fato jurídico decorre, implacavelmente, de uma previsão normativa que incide sobre um fato natural ou conduta social, qualificando-os como fatos jurídicos, sendo assim aptos a produzir efeitos no âmbito jurídico. O cerne do problema que envolve a legitimidade consiste em conciliar a segurança jurídica, oriunda da positivação do direito, com a ideia de justiça, que nem sempre está presente nas normas jurídicas positivadas. Consequentemente, a discussão nunca terá fim, embora seja salutar para o aperfeiçoamento da ciência jurídica. Após expormos uma síntese dos fatores que orientarão este trabalho, faremos em seguida um apanhado a respeito da noção de poder e da separação de poderes para, então, entrarmos propriamente nos diversos aspectos que envolvem a atividade legislativa. ******ebook converter DEMO Watermarks******* PODER E PRODUÇÃO JURÍDICA O significado de poder A palavra poder pode ser examinada em diferentes aspectos. Num sentido amplo, diz respeito à capacidade de atuar ou de produzir efeitos. Na perspectiva social, reflete inclusive a possibilidade de o homem determinar o comportamento de seus semelhantes. A existência do poder, independentemente de sua origem, é baseada na relação de sujeição ou subordinação que há entre as pessoas[1]. Desta forma, o homem exerce em relação ao poder a posição de sujeito e de objeto[2]. O poder está presente em todos os núcleos sociais. Trata-se, no caso específico, do chamado poder social, que se liga à sociabilidade humana, e, deste modo, deve ser estudado como fenômeno social[3]. De fato, o homem vive em sociedade, não sendo comum, em situações normais, encontrá-lo vivendo isolado. Ao contrário, o homem buscou historicamente constituir sociedades. À propósito, bem ressalta Enrique Vescovi que o estado natural do homem é o social, sendo despidas de fundamento as teorias que procuram trabalhar sob a ótica de um suposto estado prévio de vida natural[4]. Com a vida emsociedade, o homem busca alcançar o objetivo comum, ou coletivo, chamado de bem comum, que, por sua vez, pode ser considerado com os olhos voltados de maneira precípua para a sociedade, quando então mencionaremos que a lei é ordenada para o bem comum (lex est ordinatio ad bonum commune), ou reputá-lo – consoante o princípio da utilidade defendido por Jeremy Bentham - como a soma dos vários bens particulares. Em todas as hipóteses, entretanto, a finalidade da lei continuará a ser a de ordenar a vida em sociedade tendo em vista o bem comum. Por outro lado, as ações humanas serão direcionadas dentro da sociedade de acordo com o objetivo almejado: o bem comum. Para tanto, será necessário organizá-la para que o intuito visado seja atingido. Com ******ebook converter DEMO Watermarks******* isto, será preciso ordenar a conduta dos seus integrantes, o que levará ao surgimento do poder dentro da sociedade. O poder social decorre, por conseguinte, da necessidade de organizar a sociedade para que as finalidades pretendidas sejam atingidas. Nada mais é do que uma forma de controle social. Todavia, é diferente das demais formas, tendo em vista que é a única eficaz para permitir a existência humana no seio da sociedade[5]. O poder é tão importante para a vida social que dentro da própria unidade familiar, considerada o menor grupo social, é possível verificar sua existência ao longo dos tempos, seja pela preponderância do poder da mãe[6] ou do pai, embora a maior parte dos estudiosos aponte que tenha sido detido historicamente apenas por este último. Entretanto, para este estudo o que importa é o seu sentido social, já que o homem vive necessariamente em constante relação com outros homens, dentro de grupos que, em conjunto, formam a sociedade, entendida como núcleo maior que envolve as relações travadas num sentido mais amplo, envolvendo diversas famílias e mesmo comunidades. Interessa, sobretudo, examinar quando o poder passa do despótes (senhor absoluto da família) na oikia (família) para o governante da pólis. Essas relações sociais, por sua vez, somente serão relevantes para o nosso estudo quando forem objeto de disciplina pelo Direito, pois então teremos, efetivamente, a conduta social sob a incidência da norma, aspecto relacionado ao exercício do controle social, já que a socialização somente será importante para nós quando impuser, por meio de normas jurídicas, comportamentos que precisam ser respeitados. Assim, tendo em vista o aspecto social, e, em especial, a disciplina da conduta humana, pode-se conceituar o poder como a capacidade de impor a obediência em situações em que há a prevalência da vontade coletiva[7] por intermédio de normas de conduta, dentro dos limites fixados pelo próprio grupo. É por isso que o Direito e o poder estão relacionados, já que as imposições quanto à forma de se conduzir no seio da sociedade não surgem espontaneamente, sendo o resultado da atuação de uma autoridade, estatal ou não[8]. Em se tratando da disciplina das condutas, manifesta-se, de plano, dentro da sociedade politicamente organizada, a necessidade de adequar as ******ebook converter DEMO Watermarks******* relações e ordenar as condutas para compatibilizar interesses, tornando- os harmonizáveis, de forma que ocorra um mínimo de conflitos[9]. O poder é, portanto, algo inerente a todo e qualquer grupo, independentemente do grau de sua organização social. Aliás, bem coloca Dalmo de Abreu Dallari que está comprovado historicamente que o poder sempre existiu, já que todos os documentos encontrados até hoje, mesmo os relativos aos períodos pré-históricos, demonstram que nunca houve uma sociedade humana desprovida de poder[10]. Por intermédio do exercício do poder é estruturada toda a sociedade. São os seus titulares que traçam as regras básicas de convívio interno, assegurando a harmonia indispensável para a própria sobrevivência do grupo, o que faz com que o poder se manifeste com grande importância no campo jurídico, mediante a produção e aplicação de normas jurídicas. Desta constatação decorre a afirmação de Norberto Bobbio de que a norma jurídica e o poder são duas faces da mesma medalha[11], tendo em vista que os detentores do poder moldam o comportamento da sociedade com a emissão de normas jurídicas. Por falar nisso, ao observarmos melhor, veremos que o poder está presente em todos os grupos sociais, como é o caso da igreja, da família e da escola. Em todos esses casos, há mecanismos disciplinando a tomada de decisões e as regras que devem ser observadas, inclusive de forma coativa. O poder serve assim para garantir a estrutura de dominação existente. Por isto, as discussões envolvendo problemas ligados ao poder são tidas por grande parte dos sociólogos como os de maior relevo para a organização e funcionamento da sociedade, a ponto de serem indicadas como correspondentes ao núcleo dos estudos sociais[12]. Do mesmo modo, no estudo da atividade estatal, em especial da legislativa, não há como deixar de estudar o poder, pois o direito dele decorre, sendo um dos instrumentos essenciais para a sua exteriorização. Assim, embora nem toda manifestação de poder se realize por intermédio do direito, é indiscutível que grande parte do poder se torna real por meio das normas jurídicas expressas na constituição, nos códigos, nas leis, nos regulamentos, nas decisões administrativas e nas sentenças dos tribunais[13]. Desenvolvimento e limitação do poder ******ebook converter DEMO Watermarks******* O exercício do poder no interior da família, do grupo e, posteriormente, no contexto da sociedade, encontrou, ao longo do tempo, diferentes explicações[14]. A mais importante, no princípio da evolução humana, estava baseada em fatores ligados à própria pessoa. Neste sentido, em sociedades primitivas, a força bruta era um elemento configurador da existência de poder. Também ligadas à própria pessoa, embora sobrevivam até hoje, são as concepções vinculadas a fatores religiosos, que fundamentam o poder, tido como divino, dos monarcas. Há ainda o critério baseado na raça, utilizado pela aristocracia ao sustentar que as qualidades superiores são transmitidas biologicamente, sendo os títulos hereditários sua expressão[15]. O realce às características pessoais também foi utilizado para amparar o poder dos anciãos, decorrente da prevalência dos costumes como meio de organização social[16]. Assim, como as regras de conduta eram transmitidas de geração a geração oralmente, os mais aptos a conhecê- las seriam os mais antigos habitantes. Em todos os exemplos citados há a personalização do poder, fundamentada na completa identificação entre titular e poder, que, assim, dele dispunha como entendia melhor, ficando alheio a qualquer controle. Entretanto, como o poder era baseado em qualidades e privilégios pessoais, era constantemente contestado, gerando situações de instabilidade e de descontinuidade, uma vez que sua justificação ou “legitimação” decorria unicamente das condições de prestígio e força de seus detentores[17]. Com o passar do tempo, em razão da maior organização da vida em sociedade, que resultou especialmente da ruptura com o feudalismo e da emergência de novos parâmetros científicos, industriais e tecnológicos, assim como do desenvolvimento de mecanismos para controlar o absolutismo dos monarcas, obra acima de tudo dos iluministas, o poder adquiriu novo contorno, concentrando-se, a partir de então, em órgãos criados especialmente para a realização de fins comuns, sendo que o mais importante deles é, sem dúvida, o Estado. Com isto, ocorreu o fim da personalização do poder, pois surgiu, em seu lugar, a institucionalização. Marco neste sentido é a Revolução Francesa, por meio da qual foi ******ebook converter DEMO Watermarks******* derrubado o fundamento teológico do poder, motivo utilizado pelos monarcas para justificar sua titularidade, e, em seu lugar, houve a laicização do poder, fruto da visão racionalista. Do mesmo modo, o exercício do poder foi fracionado, ficando a cargo de órgãos distintos.Além do mais, o titular do poder passou a ser o povo, que o exerce por meios de representantes eleitos, presentes nos diferentes órgãos que integram a estrutura estatal. Por fim, a institucionalização do poder levou também à elaboração da Constituição, na qual são descritos os órgãos ou instituições que exercerão o poder, definidas suas atribuições e a respectiva esfera de competência[18]. Em todos os casos descritos, há uma relação de dominação do homem pelo homem, por intermédio de algum tipo de poder, sendo que a única diferença entre os modelos descritos é que, em se tratando do Estado, a dominação é, a princípio, legítima[19], uma vez que o poder assume contornos jurídicos. Ocorre, porém, que a limitação do poder do Estado não foi tão simples como poderia parecer à primeira vista, sendo fruto de uma longa evolução, na qual contribuíram inúmeros fatores, uma vez que nem sempre o Estado representou o sentido atual, de acordo com o qual é apontado como uma criação jurídica voltada, preponderantemente, para a satisfação dos interesses gerais. Ao contrário, significou, em várias oportunidades, a encarnação do poder dos soberanos e a própria forma para a emanação da vontade real. Assim sendo, é imprescindível analisarmos três importantes teorias que procuraram restringir o poder do Estado, ou, em última análise, do próprio soberano. Com este intuito, apreciaremos a teoria contratual, a da separação de poderes e a normativista. Teorias voltadas à limitação do poder Como mencionado a pouco, três teorias procuraram limitar o poder do Estado, evitando, em especial, o seu exercício de maneira arbitrária. As três teorias são as seguintes: contratual, da separação de poderes e normativista. A teoria contratual justifica a existência do Estado com a ideia de que decorre de um acordo entre os membros da sociedade. Sob o aspecto histórico, esse posicionamento teórico relaciona-se a Epicuro - ******ebook converter DEMO Watermarks******* filósofo grego que viveu entre 341 a 270 a.C. -, responsável por combater o entendimento de que o legislador poderia livremente elaborar um Estado justo, por acreditar que as leis deveriam decorrer de um contrato social originário de uma experiência comum da humanidade[20]. Entretanto, o maior desenvolvimento dessa doutrina ocorreu nos trabalhos de Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau. De acordo com o pensamento de Hobbes, o Estado é composto pelos poderes de vários homens, que foram reunidos numa só pessoa natural ou civil – o Estado -, que os exerce de acordo com sua vontade[21]. O mesmo entendimento expressa Rousseau, para quem os indivíduos, por intermédio de um pacto, uniram forças e poderes em prol da criação de um órgão que refletisse a vontade geral. O Estado, de acordo com as duas teorias expostas, é o resultado do acordo – contrato – firmado entre os membros da sociedade. Entretanto, apenas a teoria de Rousseau serve, verdadeiramente, para justificar a restrição do poder do Estado, uma vez que para Hobbes o poder do soberano seria absoluto. De acordo com a visão exposta por Rousseau, a construção do Estado, por meio de um contrato, coloca os exercentes do poder na função de meros delegados de seus efetivos titulares. Assim, o exercício do poder do Estado não poderia se afastar dos interesses da sociedade, já que foi criado tendo em vista a vontade dos próprios homens, visando, em especial, à satisfação dos interesses comuns[22]. A consequência que surge inexoravelmente dessa constatação é que o Estado existe com a finalidade de resolver os problemas que nascem no seio da sociedade. Sua função básica é garantir a segurança, a realização da justiça e a harmonia entre os homens, por meio da paz, do bem-estar e do progresso. Em suma, existe para satisfazer as pretensões gerais ou individualidades das pessoas e grupos, dentro de sua função básica de servir à comunidade[23]. Deste modo, o Estado é um organismo de natureza pública, no sentido de se posicionar acima dos interesses privados; sendo, por isto, dotado de proeminência quando confrontado com os particulares, já que corresponde ao todo, expressando através da consciência, vontade e sentimentos sociais, valores que suplantam os interesses meramente individuais[24]. De qualquer forma, seu poder jamais poderia se afastar da finalidade que justificou a sua criação. ******ebook converter DEMO Watermarks******* A origem contratual do poder, no entanto, foi combatida pelos teóricos da soberania, ao sustentarem que, em realidade, o poder dos soberanos teria origem divina, por ser autorizado e regulado por uma norma superior. Assim, embora se continuasse a sustentar que o Estado havia sido formado por intermédio da concentração do poder que se encontrava disperso na sociedade, o seu fundamento não era a vontade dos membros da sociedade, mas sim a de Deus. Deste modo, o soberano encarnaria um poder absoluto, baseado em sua própria vontade, surgindo uma ligação indissolúvel entre poder e Estado, Estado e poder[25]. Outra importante tentativa de limitação do poder do Estado apoiou- se na teoria da separação dos poderes. Para compreendê-la, é preciso recordar que o Estado foi formado com a concentração dos poderes anteriormente dispersos em grupos minoritários. O poder, por sua vez, sempre existiu na sociedade, pois é impossível imaginar qualquer relacionamento humano, mesmo o mais simples como o familiar, sem que o poder esteja presente. O poder, contudo, adquiriu maior relevância por ter assumido aspecto político (transição do governo doméstico para o governo político – da oikos para a pólis) e em razão da força advinda da concentração no Estado. Além de uno, o poder transferido para o Estado era enquadrado como indivisível e indelegável. O que levava à impossibilidade de divisão do poder era o fato de ter sido concedido com exclusividade ao Estado. Por outro lado, a possibilidade de delegação iria contra a própria unificação do poder e sua transferência exclusivamente para o Estado. Assim, o poder transferido ao Estado fortaleceu-o de tal modo que, não apenas ganhou autonomia em face de outros poderes da sociedade, como também serviu para elevá-lo a patamar superior, onde passou a ser supremo. Na ordem interna o Estado foi colocado em posição de preponderância na busca do bem comum[26], a fim de garantir o equilíbrio e harmonia social, sendo o poder, nesta mesma linha de entendimento, o seu instrumento de ação. Em realidade, o poder passou às mãos do Estado para que este organizasse a sociedade com vistas a dispor, de forma obrigatória, acerca das condutas de seus membros com a edição de normas jurídicas[27]. Ocorre que essa concentração em pequenos grupos, ou mesmo em uma única pessoa, originou governos que perderam a noção social e passaram a utilizar o poder em benefício próprio. Viu-se, então, que o ******ebook converter DEMO Watermarks******* poder deveria ser dividido para combater o arbítrio que decorria de sua concentração em uma única pessoa ou em pequenos grupos. Além disso, a separação de poderes também encontrou justificativa no combate ao absolutismo, possibilitando que a burguesia alcançasse o poder político, pois significava, também, o enfraquecimento do monarca. Aparece, então, a teoria da divisão ou fracionamento do poder, principal técnica utilizada para limitar o poder ao dividi-lo de diversas formas, todas orientadas para a mesma finalidade: o controle. Aliás, a necessidade de se dividir o poder foi colocada pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789[28] como mecanismo necessário para garantir os direitos do homem em relação aos governantes. Com isto, a separação de poderes assumiu uma importância tão grande que foi colocada como um dos elementos essenciais de qualquer Constituição. Neste sentido, lembramos que a técnica de separação que recebeu acolhimento é a funcional, que atribui o exercício do poder a órgãos distintos, que correspondem, modernamente, aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário[29]. Para a teoria normativista, legal ou jurídica, o poder
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