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Direito Constitucional: Princípios fundamentais Princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988. A material está disposta nos seguintes artigos da CF/88: Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Dica para decoraros fundamentos: todos são substativos-comecam com artigo. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2.º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Dica para decoraros os objetivos fundamentais: todos são verbos no infinitive - terminados em ar, er e ir. Art. 4.º A República Federativa do Brasil rege- se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Dica para decorar os principios nas relaçoes internacionais: Residual: tudo que que não for Direito Constitucional: Princípios fundamentais fundamento nem objetivo fundamental. Tem conotação com o cemário internacional. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino- americana de nações. OBS:(NÃO TEM RELIGIOSA E ADMINISTRATIVA) As normas são preceitos que tutelam situações subjetivas de vantagem ou de vínculo, ou seja, reconhecem a pessoa ou a entidade, a faculdade de realizar certos interesses por ato próprio ou exigindo ação ou abstenção de outrem; vinculam elas à obrigação de submeter-se às exigências de realizar uma prestação. Os princípios são ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas; são como núcleos de condensações nos quais confluem valores e bens constitucionais. Os princípios constitucionais positivos: se traduzem em normas da Constituição ou que delas diretamente se inferem; são basicamente de duas categorias: Princípios político- constitucionais: constituem-se daquelas decisões políticas fundamentais concretizadas em normas conformadoras do sistema constitucional positivo, e são normas-princípio. Princípios jurídico- constitucionais: são informadores da ordem jurídica nacional; decorrem de certas normas constitucionais, e constituem desdobramentos dos fundamentais. Conceito e conteúdo dos princípios fundamentais: constituem-se dos princípios definidores da forma de Estado, dos princípios definidores da estrutura do Estado, dos princípios estruturantes do regime político e dos princípios caracterizadores da forma de governo e da organização política em geral; os da CF/88 discriminadamente são: a) princípios relativos à existência, forma, estrutura e tipo de Estado: República Federativa, soberania, Estado democrático de direito (art. 1º); b) relativos à forma de governo e à organização dos poderes: República e separação de poderes (art. 1º e 2º); c) relativos à organização da sociedade: princípio da livre organização social, de convivência justa e da solidariedade (art 3º, I); d) relativos ao regime político: da cidadania, da dignidade da pessoa, do pluralismo, da soberania popular, da representação política e da participação popular direta (art. 1º, parágrafo único); e) relativos à prestação positiva do Estado: da independência e do desenvolvimento nacional, da justiça social e da não-discriminação (arts. 3º, II, III e IV); f) relativos à comunidade internacional: da independência nacional, do respeito dos direitos fundamentais da pessoa humana, da auto determinação dos povos, da não-intervenção, da igualdade dos Estados, da solução pacífica dos conflitos e da defesa da paz; do repúdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperação entre os povos e o da integração da América Latina (art. 4º). Princípios fundamentais e princípios gerais do Direito Constitucional: os fundamentais traduzem-se em normas fundamentais que explicitam as valorações políticas fundamentais do legislador constituinte, contêm as decisões políticas fundamentais; Os gerais formam temas de uma teoria geral do Direito Constitucional, por envolver conceitos gerais, relações, objetos, que podem ter seu estudo destacado da dogmática jurídico- constitucional. Direito Constitucional: Princípios fundamentais Função e relevância dos princípios fundamentais: a função ordenadora, bem como sua ação imediata, enquanto diretamente aplicáveis ou diretamente capazes de conformarem as relações político-constitucionais; a ação imediata dos princípios consiste, em primeiro lugar, em funcionarem como critério de interpretação e de integração, pois são eles que dão coerência geral ao sistema. A Constituição Federal segue, após o preâmbulo, expondo quais os fundamentos do Estado, os princípios fundamentais que tem como principal função servir de matriz a todo o ordenamento jurídico e político que passa a ser instaurado com o novo Estado, apresentando-se como instrumentos de interpretação ao legislador na hora de elaborar as leis, e aos magistrados e membros do executivo quando da aplicação da norma, pois devem fundamentar a aplicação das normas tendo em vista os princípios fundamentais constitucionais. Os princípios, como ressaltado por Canotilho, “constituem a síntese ou matriz de todas as restantes normas constitucionais”, ou seja, servem de interpretação ao legislador na hora de elaborar as leis, e aos magistrados e membros do executivo quando da aplicação da norma, pois devem fundamentar a aplicação das normas tendo em vista os princípios fundamentais constitucionais. “Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados.” Em relação ao § 2º do art. 1º da lei em questão, o Min. Gilmar Mendes, em voto-vista, acompanhando a divergência, no ponto, iniciada pelo Min. Marco Aurélio, julgou procedente o pedido de inconstitucionalidade. Entendeu que o dispositivo impugnado tem caráter eminentemente corporativista e viola o princípio da proporcionalidade, porquanto a medida interventiva nele prevista mostra- se inadequada, haja vista a ausência de qualquer relação plausível entre o meio utilizado e objetivos pretendidos pelo legislador, bem como desnecessária, em razão da existência de inúmeras outras alternativas menos gravosas para os interessados, no que diz respeito à boa elaboração dos atos constitutivos das pessoas jurídicas. O País e o Estado brasileiros: País se refere aos aspectos físicos, ao habitat, ao torrão nacional; manifesta a unidade geográfica, histórica,econômica e cultural das terras ocupadas pelos brasileiros. Estado é uma ordenação que tem por fim específico e essencial a regulamentação global das relações sociais entre os membros de uma dada população sobre um dado território; constitui-se de um poder soberano de um povo situado num território com certas finalidades; a constituição organiza esses elementos. Território e forma de Estado: território é o limite espacial dentro do qual o Estado exerce de modo efetivo o poder de império sobre pessoas e bens. Forma de Estado é o modo de exercício do poder político em função do território. O Federalismo O federalismo, refere-se a uma forma de Estado (federação ou Estado Federal) caracterizada pela união de coletividades públicas dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia federativa; A federação consiste na união de coletividades regionais autônomas (estados federados, estados-membros ou estado). Estado federal é o todo, dotado de personalidade jurídica de Direito Público Internacional. A União é a entidade federal formada pela reunião das partes componentes, constituindo pessoa jurídica de Direito Público interno, autônoma em relação aos Estados e a que cabe exercer as prerrogativas da soberania do Estado Direito Constitucional: Princípios fundamentais brasileiro. A autonomia federativa assenta-se em dois elementos: a) na existência de órgãos governamentais próprios; b) na posse de competências exclusivas. O Estado federal apresenta-se como um Estado que, embora parecendo único nas relações internacionais, é constituído por Estados-membros dotados de autonomia, notadamente quanto ao exercício de capacidade normativa sobre matérias reservadas à sua competência. Conforme dispõe o artigo 1.º da CF, quanto à "forma de governo" e quanto à "forma de Estado" o Brasil é uma República Federativa, formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do DF. O Estado (Nação) é a pessoa jurídica soberana (não sujeita a qualquer outra) que tem como elementos básicos o povo (elemento humano), o território (base) e o governo (condutor). É a sociedade politicamente organizada dentro de um determinado espaço físico. A "forma de Estado" (Estado federado, composto, ou Estado unitário, simples) indica a existência ou não de uma divisão territorial do poder. Vale dizer: o Estado pode ser unitário, com o poder concentrado em um órgão central, ou pode ser federado, com poderes regionais que gozam da autonomia que lhes confere a Constituição Federal e com um poder central soberano e aglutinador. Na Federação há um órgão Judiciário, de competência nacional, que dirime conflitos entre os Estados federados e entre esses e o poder central (STF), bem como um Senado com representação idêntica de todos os Estados-membros (atualmente temos 26 Estados e um DF, sendo que cada um elege três dos nossos oitenta e um senadores). Atipicamente, a estrutura federativa brasileira prevê que também os municípios integram a Federação, pois gozam da autonomia típica dos entes que integram um Estado federado (conforme confirma o artigo 18 da CF). Ou seja, nos limites da CF, os Estados-membros, o DF e também os municípios gozam de autonomia política, financeira, legislativa e administrativa. Por essa razão, alguns apontam nossa federação como trina e não mais dualista. JOSÉ AFONSO DA SILVA destaca que por onze vezes a CF utiliza as expressões Federação e Unidade Federada sem incluir os municípios, os quais, aliás, não dispõem de Poder Judiciário ou de representante no Senado Federal. Elementos da Federação Existência de entes autônomos– arts. 1.º e 18, da Constituição Federal. Existência de uma constituição – que há de ser rígida. Órgão que represente a vontade desses entes autônomos. Orgão guardião da Constituição– art. 102, da Constituição Federal. A República Forma de governo é conceito que se refere à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados. República é uma forma de governo que designa uma coletividade política com características da res pública, ou seja, coisa do povo e para o povo, que se opõe a toda forma de tirania. O princípio republicano (art. 1º) não instaura a República, recebe-a da evolução constitucional. Sistema de Governo é o modo como se relacionam os poderes, especialmente o Legislativo e o Executivo, que dá origem aos sistemas parlamentarista, presidencialista e diretorial. No Brasil é presidencialista. O regime republicano foi assinalado no art. 1º, mesmo objeto de consulta popular, esta forma de governo foi ratificada pela vontade popular, estabelecendo que o Poder deve ser exercido por representantes temporários, com consultas periódicas pois toda a coisa (res) é pública. Mandatos periódicos, eleições, chefia de Estado a ser legitimada por Direito Constitucional: Princípios fundamentais eleições, são resultantes deste princípio. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO A democracia, como realização de valores de convivência humana, é conceito mais abrangente do que o de Estado de Direito, que surgiu como expressão jurídica da democracia liberal. O Estado Democrático de Direito reúne os princípios do Estado Democrático e do Estado de Direito, não como simples reunião formal dos respectivos elemento, revela um conceito novo que os supera, na medida em que incorpora um componente revolucionário de transformação do status quo. Estado de Direito: suas caracteristicas básicas foram a submissão do império a lei, a divisão de poderes e o enunciado e garantia dos direitos individuais. Estado Social de Direito: transformação do Estado de Direito, onde o qualitativo social refere-se à correção do individualismo clássico liberal pela afirmação dos chamados direitos sociais e realização de objetivos de justiça social; caracteriza-se no propósito de compatibilizar, em um mesmo sistema, 2 elementos: o capitalismo, como forma de produção, e a consecução do bem-estar social geral, servindo de base ao neocapitalismo. Estado Democrático: se funda no princípio da soberania popular, que impõe a participação efetiva e operante do povo na coisa pública, participação que não se exaure, na simples formação das instituições representativas, que constituem em estágio da evolução do Estado Democrático, mas não o seu completo desenvolvimento; visa, assim, a realizar o princípio democrático como garantia real dos direitos fundamentais da pessoa humana. Caracterização do Estado Democrático de Direito: não significa apenas u nir formalmente os conceitos de Estado de Democrático e Estado de Direito; consiste na criação de um conceito novo, levando em conta os conceitos dos elementos componentes, mas os supera na medida em que incorpora um componente revolucionário de transformação do status quo; é um tipo de Estado que tende a realizar a síntese do processo contraditório do mundo contemporâneo, superando o Estado capitalista para configurar um Estado promotor de justiça social que o personalismo e monismo político das democrácias populares sob o influxo do socialismo real não foram capazes de construir; a CF de 88 apenas abre as perspectivas de realização social profunda pela prática dos direitos sociais que ela inscreve e pelo exercício dos instrumentos que oferece à cidadania e que possibilita concretizar as exigências de um Estado de justiça social, fundado na dignidade da pessoa humana. A lei no Estado Democrático de Direito: o princípio da legalidade é também um princípio basilar desse Estado; é da essência do seu conceito subordinar- se à Constituição e fundar-se na legalidade democrática; sujeita-se ao império da lei, mas da lei que realize o princípio da igualdade e da justiça não pela sua generalidade,mas pela busca da igualização das condições dos socialmente desiguais. Princípios a tarefa do Estado Democrático de Direito: são os seguintes: princípio da constitucionalidade, democrático, do sistema de direitos fundamentais, da justiça social, da igualdade, da divisão de poderes, da legalidade e da segurança jurídica; sua tarefa fundamental consiste em superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que realize a justiça social. DEMOCRACIA Democracia: é um processo de convivência social em que o poder emana Direito Constitucional: Princípios fundamentais do povo, há de ser exercido, direta ou indiretamente, pelo povo e em proveito do povo. São dois conceitos de democracia. O primeiro, baseado nas idéias de Rousseau, dita que democracia é o regime do povo, pelo povo e para o povo. O segundo, apoiado no pensamento de Kelsen, fundamenta-se não só no voto do povo, mas também na liberdade de consciência, de culto, de religião e de trabalho. No conceito trazido por Kelsen, a democracia é uma técnica de liberdade. É quem melhor define a democracia, pois um povo sem liberdade de informação e de manifestação, ainda que vote, jamais terá um governo verdadeiramente voltado para o bem-estar da maioria. Conforme ensina Celso Antonio Bandeira de Mello, “a democracia exige, para seu funcionamento, um minimum de cultura política, que é precisamente o que falta nos países apenas formalmente democráticos”. Bem leciona o mestre que, sem a consciência de cidadania (existente nos países substancialmente democráticos), o povo “é presa fácil das articulações, mobilizações e aliciamento da opinião pública, quando necessária sua adesão ou pronunciamento, graças ao controle que os setores dominantes detêm sobre a mídia, que não é senão um dos seus braços”. É certo que a regra da maioria “é o instrumento técnico capaz de obter o grau máximo da liberdade”, conforme afirma Celso Fernandes Campilongo. Há sempre que se observar, porém, se o objetivo da maioria não foi manipulado por uma minoria dominante. Citando Platão, o Prof. Celso Fernandes enriquece o debate sobre a efetiva legitimidade da regra da maioria com a indagação do objeto da escolha, nos seguintes termos: “Já na Grécia clássica, em famosa passagem de Protágoras, Platão esclarecia: ‘Quando a Assembléia se reúne, se a questão é de deliberar sobre construções a serem realizadas, são chamados arquitetos para deliberarem... Se se trata, ao contrário, de interesses gerais da cidade, vê-se indiferentemente levantarem-se para tomar a palavra arquitetos, ferreiros, sapateiros, mercadores,... e ninguém os reprova’. Em outras palavras: questões técnicas devem ser decididas por especialistas, questões políticas, pelos cidadãos”. Carmen Lúcia Antunes Rocha relembra que “a participação política é direito fundamental, ostentada na Declaração dos Direitos do Homem da Organização das Nações Unidas, de 1948, em cujo art. 21 se tem: 1.º – Todo o homem tem direito de tomar parte no governo do seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2.º – Todo homem tem igual direito de acesso ao serviço público de seu país. 3.º – A vontade do povo será a base da autoridade do governo, esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto equivalente que assegure a liberdade do povo”. Estado de Direito é aquele em que todos estão igualmente submetidos à força das leis. Estado Democrático de Direito é aquele que permite a efetiva participação do povo na administração da coisa pública, visando sobretudo alcançar uma sociedade livre, justa e solidária em que todos (inclusive os governantes) estão igualmente submetidos à força da lei. Pressupostos da democracia: a democrácia não necessita de pressupostos especiais; basta a existência de uma sociedade; se seu governo emana Direito Constitucional: Princípios fundamentais do povo, é democracia; se não, não o é; a Constituição estrutura um regime democrático consubstanciando esses objetivos de igualização por via dos direitos sociais e da universalização de prestações sociais; a democratização dessas prestações, ou seja, a estrutura de modos democráticos, constitui fundamento do Estado Democrático de Direito, instituído no art. 1º. Princípios e valores da democracia: a doutrina afirma que a democracia repousa sobre três princípios fundamentais: o princípio da maioria, o princípio da igualdade e o princípio da liberdade; em verdade, repousa sobre dois princípios fundamentais, que lhe dão a essência conceitual: o da soberania popular, segundo o qual o povo é a única fonte do poder, que se exprime pela regra de que todo o poder emana do povo; a participação, direta e indireta, do povo no poder, para que este seja efetiva expressão da vontade popular; nos casos em que a participação é indireta, surge um princípio derivado ou secundário: o da representação; Igualdade e Liberdade, também, não são princípios, mas valores democráticos, no sentido que a democracia constitui instrumento de sua realização no plano prático; a igualdade é valor fundante da democracia, não igualdade formal, mas a substancial. O poder democrático e as qualificações da democracia: o que dá essência à democracia é o fato de o poder residir no povo; repousa na vontade popular no que tange à fonte do exercício do poder; o conceito de democracia fundamenta-se na existência de um vínculo entre o povo e o poder; como este recebe qualificações na conformidade de seu objeto e modo de atuação; a democratização do poder é fenômeno histórico, daí o aparecimento de qualificações da democracia para denotar- lhe uma nova faceta, ou seja, a democracia política, a social e a econômica. Exercício do poder democrático - Democracia direta é aquela em que o povo exerce, por si, os poderes governamentais, fazendo leis, administrando e julgando; - Democracia indireta, chamada representativa, é aquela na qual o povo, fonte primária do poder, não podendo dirigir os negócios do Estado diretamente, em face da extensão territorial, da densidade demográfica e da complexidade dos problemas sociais, outorga as funções de governo aos seus representantes, que elege periodicamente; - Democracia semidireta é, na verdade, democracia representativa com alguns institutos de participação direta do povo nas funções de governo, institutos que, entre outros, integram a democracia participativa. Democracia representativa: pressupõe um conjunto de instituições que disciplinam a participação popular no processo político, que vem a formar os direitos políticos que qualificam a cidadania, tais como as eleições, o sistema eleitoral, etc., como constam nos arts. 14 a 17 da CF; a participação popular é indireta, periódica e formal, por via das instituições eleitorais que visam a disciplinar as técnicas de escolhas do representantes do povo. O mandato político representativo: a eleição gera, em favor do eleito, o mandato político representativo; nele se consubstanciam os princípios da representação e da autoridade legítima; o mandado se diz político representativo porque constitui uma situação jurídico-política com base na qual alguém, designado por via eleitoral, desempenha uma função política na democracia representativa. Democracia participativa: o princípio participativo caracteriza-se pela participação direta e pessoal da cidadania na formação dos atos de governo; as primeiras manifestações consistiram nos Direito Constitucional: Princípios fundamentais institutos de democracia semidireta, que combinam instituições de participação direta e indireta, tais como: a iniciativa popular (art. 14, III, regulado no art. 61,§ 2º), o referendo popular (art. 14, II e 49, XV), o plebiscito (art. 14, I e 18, §§ 3º e 4º) e a ação popular (art. 5º, LXXIII). Democracia pluralista: a CF/88 assegura os valores de uma sociedade pluralista (preâmbulo) e fundamenta-se no pluralismo político (art. 1º, V); a Constituição opta, pois, pela sociedade pluralista que respeita a pessoa humana e sua liberdade; optar por isso significa acolher uma sociedade conflitiva, de interesses contraditórios e antinômicos; o papel político é inserido para satisfazer, pela edição de medidas adequadas o plurarismo social, contendo seu efeito dissolvente pela unidade de fundamento da ordem jurídica. Democracia e direito constitucional brasileiro: o regime assume uma forma de democracia participativa, no qual encontramos participação por via representativa e participação direta por via do cidadão. A esse modelo, a Constituição incorpora princípios da justiça social e do pluralismo; assim, o modelo é o de uma democracia social, participativa e pluralista; não é porém, uma democracia socialista, pois o modelo econômico adotado é fundamentalmente capitalista. Espécies de Regimes Democráticos: Democracia Direta, Semidireta e Indireta O par. ún. do art. 1.º da CF reproduz o conceito de Rosseau de que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, porque todo o poder emana do povo (primeiro titular do Poder Constituinte Originário), que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente. O art. 14 da CF explicita que no Brasil a soberania popular é exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos (democracia indireta), e, nos termos da lei, mediante iniciativa popular, referendo e plebiscito, instrumentos da democracia direta (também denominada participativa). A esse exercício misto da soberania popular, eleição direta dos parlamentares e dos chefes do executivo – democracia indireta ou representativa - e iniciativa popular, plebiscito e referendo – democracia participativa -, dá-se o nome de democracia semidireta (que é o nosso regime de governo). PODER E DIVISÃO DE PODERES A divisão de poderes é um princípio fundamental da Constituição, consta no ser art. 2º : são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário; exprimem , a um tempo, as funções legislativa, executiva e jurisdicional e indicam os respectivos órgãos, estabelecidos na organização dos poderes. Poder político: pode ser definido como uma energia capaz de coordenar e impor decisões visando à realização de determinados fins; é superior a todos os outros poderes sociais, os quais reconhece, rege e domina, visando a ordenar as relações entre esses grupos de indivíduos entre si e recíprocamente, de maneira a manter um mínimo de ordem e estimular o máximo de progresso à vista do bem comum; possui 3 caracteristicas fundamentais; unidade, indivisibilidade e indelegabilidade. Governo e distinção de funções do poder: Governo é o conjunto de órgãos mediante os quais a vontade do Estado é formulada, expressada e realizada, ou , o conjunto de órgãos supremos a quem incumbe o exercício das funções do poder político; a distinção das funções que são a legislativa, a executiva e a jurisdicional, fundamentalmente é: - a legislativa consiste na edição de regras gerais(leis), abstratas, Direito Constitucional: Princípios fundamentais impessoais e inovadoras da ordem pública; - a executiva resolve os problemas concretos e individualizados, de acordo com as leis; - a jurisdicional tem por objeto aplicar o direito aos casos concretos a fim de dirimir conflitos de interesse. Divisão dos poderes: consiste em confiar cada uma das funções governamentais a órgãos diferentes, que tomam os nomes das respectivas funções; fundamenta-se em dois elementos: a especialização funcional e a independência orgânica. Independência e harmonia entre os poderes: a independência dos poderes significa que a investidura e a permanência das pessoas num dos órgãos não dependem da confiança nem da vontade dos outros, que, no exercício das atribuições que lhe sejam próprias, não precisam os titulares consultar os outros nem necessitam de sua autorização, que, na organização dos respectivos serviços, cada um é livre, observadas apenas as disposições constitucionais e legais. A harmonia entre os poderes verifica-se pelas normas de cortesia no trato recíproco e no respeito às prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos têm direito; a divisão de funções entre os órgãos do poder nem sua independência são absolutas; há interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à busca do equilibrio necessário à realização do bem da coletividade. Exceções ao princípio: a Constituição estabelece incompatibilidades relativamente ao exercício de funções e poderes (art. 54), e porque os limites e exceções ao princípio decorrem de normas; Exemplos de exceção ao princípio: arts. 56, 62 (medidas provisórias com força de lei) e 68 ( delegação de atribuições legislativas). FUNDAMENTOS DA REPUBLICA FEDERATIVE DO BRASIL Soberania Adotando-se o conceito de Miguel Reale soberania seria, “ O poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência”. Segundo a doutrina tradicional, a soberania é manifestada sobre dois aspectos, a saber, sua relação, características e aplicabilidade (a) no âmbito externo, no plano internacional e (b) no âmbito interno, no plano nacional. Em primeiro lugar, no plano internacional, ela manifesta-se como independência perante os outros países, ou seja, o Brasil não está obrigado a aceitar imposições de outros países, senão quando manifestar sua voluntária adesão. Por isso o art. 84, VIII diz que compete ao Presidente da República celebrar contratos e tratados internacionais, que posteriormente deverão ser referendados pelo Congresso Nacional (CF, art. 49, I), deste modo, o Brasil só se obriga perante outros países quando houver a celebração de um acordo entre eles, isto é autonomia de vontade. Ainda, verifica-se o intuito do Constituinte em preservar a soberania brasileira perante outros países quando este veda que os partidos políticos recebam recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiro ou de subordinação a estes (CF, art.17, II). Por fim, merece atenção a norma recém incorporada na Constituição Federal através da Emenda Constitucional 45 de 08 de dezembro de 2004, norma esta que confirma a soberania nacional ao prever que o Brasil só se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão (CF, art. 5º, § 4º). O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, assinado em 17/07/1998, do qual o Brasil é signatário, conforme Decreto Legislativo 112/2002, Direito Constitucional: Princípios fundamentais entrou em vigor para o nosso país a partir de 01/07/2002. A nossa Constituição, até então, era omissa quanto à submissão à jurisdição de Tribunal Penal Internacional. O Tribunal Penal Internacional tem sede em Haia e competência para julgar os crimes mais graves que afetam a comunidade internacional. Nestes termos, tem competência para julgar os seguintes crimes, conforme disposto no art. 5º do Estatuto de Roma: - Crime de genocídio; - Crimes contra a humanidade; - Crimes de guerra; O segundo aspecto referente à soberania é a sua manifestação no ordenamento jurídico interno, isto é, dentro dos limites territoriais nacionais, sendo a soberania o maior poder existente, sendo supremo sobre todos os poderes sociais interiores. Conforme elucida o ilustre Professor José Afonso da Silva, “No Estado Federal háque distinguir soberania e autonomia e seus respectivos titulares. Houve muita discussão sobre a natureza jurídica do Estado Federal, mas, hoje, já está definido que o Estado Federal, o todo, como pessoa reconhecida pelo Direito internacional, é o único titular da soberania, considerada poder supremo consistente na capacidade de autodeterminação. Os Estados Federados são titulares tão só de autonomia, compreendida como governo próprio dentro do círculo de competências traçadas pela Constituição Federal”. Com efeito, podemos ressaltar que possuir soberania significa que o Estado, dentro de seus limites territoriais, detém um poder superior a todos os demais, e, em relação aos outros Estados a soberania significa independência, ou seja, embora haja poderes soberanos iguais, não há um que lhe seja superior. Tratados internacionais e direito interno: Em relação à incorporação dos tratados internacionais ao direito interno sempre houve vários questionamentos doutrinários divergentes, entretanto, face a finalidade desta obra apontaremos apenas o pensamento dominante. Para um tratado internacional ter força obrigatória no ordenamento jurídico brasileiro, é necessário o cumprimento de três fases distintas: • Celebração do tratado, pelo Presidente da República, em nome da República Federativa do Brasil (CF, art. 84, VIII); • Aprovação definitiva pelo Congresso Nacional, por decreto legislativo (CF, art. 49,I). • Promulgação pelo Presidente da República, por decreto (CF, art. 84, IV). Deste modo, podemos apontar as questões em que há grande divergência doutrinaria: (a) com que status o tratado internacional é incorporado ao Direito brasileiro, lei ordinária, complementar ou com status constitucional; (b) Poderá o tratado internacional ser ulteriormente revogado por lei ordinária, ou somente poderá ser afastado por meio de denúncia perante os outros Estados Soberanos pactuantes? (c) há possibilidade da ocorrência de controle de constitucionalidade sobre tratados internacionais incorporados no ordenamento jurídico brasileiro. Em relação ao status de incorporação de um tratado internacional temos duas teorias: (a) dualista; (b) monista. Consoante a teoria dualista, a eficácia de um tratado internacional no âmbito do direito interno de determinado Estado dependeria da elaboração, por esse Estado, de uma lei interna com essa específica finalidade. Deste modo, os eventuais conflitos serão resolvidos segundo os critérios de resolução de conflitos internos, pois, em verdade, cuida-se da resolução de conflitos entre leis aprovadas internamente no País. Direito Constitucional: Princípios fundamentais A teoria monista divide-se em duas correntes doutrinárias: a que defende, sempre, a primazia do direito internacional sobre o direito interno (monismo radical) e a corrente que os equipara, dependendo a prevalência de uma norma sobre a outra da ordem cronológica de sua criação (monismo moderado). O mais ilustre defensor da teoria monista radical foi Hans Kelsen, o qual defendia a primazia do ordenamento internacional sobre o ordenamento jurídico interno. Ensinava o grande mestre austríaco que, Entretanto, não se pode determinar de forma perfeitamente unívoca o lugar ocupado pelo tratado internacional no edifício da ordem jurídica. Só se pode interpretá-lo como norma imediatamente subordinada à Constituição, por ela determinada, supondo que essa Constituição seja o escalão supremo, vale dizer, adotando o ponto de vista da primazia do Direito interno. Porém, se superarmos tal ponto de vista e adotarmos a idéia da superioridade do Direito internacional sobre as diversas ordens estatais, ou seja, da primazia da ordem juridical internacional, o tratado internacional passa a ser uma ordem jurídica superior aos Estados signatários, criada em conformidade com uma regra do Direito das gentes, por um órgão próprio da comunidade internacional, formado por representantes desses Estados. Quanto à determinação dos membros desse órgão (chefes de Estado, ministros de relações exteriores, Parlamentos, etc.), o Direito internacional delega as diversas ordens estatais ou sua Constituição. esse aspecto, o tratado tem preeminência sobre a lei e, inclusive, sobre a Constituição, porquanto pode derrogar uma lei ordinária ou constitucional, sendo impossível o contrário. Pelas regras do Direito internacional, um tratado só pode perder sua força obrigatória em virtude de outro tratado ou de certos fatos por ele definidos; não a perde em virtude de ato unilateral de uma das partes contratantes, como uma lei. Se uma lei, lei constitucional inclusive, for contrária a um tratado, ela é irregular, ou seja, contrária ao Direito internacional. Opõese imediatamente ao tratado e, mediatamente, ao princípio do pacta sunt servanda. No entanto, apesar da lição do grande mestre, o entendimento do Supremo Tribunal Federal é de que: (a) Os tratados internacionais incorporam-se ao ordenamento jurídico brasileiro com força de lei ordinária federal devendo obedecer aos parâmetros fixados na Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal ao analisar o art. 7º do Pacto de San José da Costa Rica, que expressamente prevê a prisão civil apenas no caso de devedor voluntário de alimentos, decidiu que o tratado internacional deve se adequar as normas constitucionais vigentes no território, e, assim estabeleceu a plena validade da norma constitucional que estabelece a pena de prisão civil para o devedor de alimento e para o depositário infiel (CF, art. 5LXVII). Deste modo, afirma-se pela superioridade das normas constitucionais frente aos tratados internacionais, mesmo que ratificados pelo CN e promulgado pelo PR, podendo inclusive serem sujeitos ao controle de constitucionalidade. (b) Eventuais conflitos entre os dispositivos dos tratados internacionais e as leis ordinárias internas serão resolvidos pelo critério cronológico (lei posterior revoga lei anterior) ou, se for o caso, pelo critério da especialidade (lei especial revoga lei geral); (c) Disposições de tratados internacionais poderão ser revogadas pela ulterior legislação ordinária interna (lei ordinária, lei complementar, lei delegada, medida provisória); (d) Os tratados internacionais não poderão dispor sobre matérias constitucionalmente reservadas à lei complementar Conforme o entendimento Direito Constitucional: Princípios fundamentais do Supremo Tribunal Federal, “O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é – da competência para promulgá-los mediante decreto (...) SUBORDINAÇÃO NORMATIVA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. - No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou convenções internacionais estão hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da República. Em conseqüência, nenhum valor jurídico terão os tratados internacionais, que, incorporados ao sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto da Carta Política (...) CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE TRATADOS INTERNACIONAIS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO: - O Poder Judiciário - fundado na supremacia da Constituição da República - dispõe de competência, para, querem sede de fiscalização abstrata, quer no âmbito do controle difuso, efetuar exame de constitucionalidade dos tratados ou convenções internacionais já incorporados ao sistema de direito positivo interno. Doutrina e Jurisprudência. PARIDADE NORMATIVA ENTRE ATOS INTERNACIONAIS E NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS DE DIREITO INTERNO. - Os tratados ou convenções internacionais, uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis ordinárias, havendo, em conseqüência, entre estas e os atos de direito internacional público, mera relação de paridade normativa. Precedentes. No sistema jurídico brasileiro, os atos internacionais não dispõem de primazia hierárquica sobre as normas de direito interno. A eventual precedência dos tratados ou convenções internacionais sobre as regras infraconstitucionais de direito interno somente se justificará quando a situação de antinomia com o ordenamento doméstico impuser, para a solução do conflito, a aplicação alternativa do critério cronológico ("lex posterior derogat priori") ou, quando cabível, do critério da especialidade. Precedentes. TRATADO INTERNACIONAL E RESERVA CONSTITUCIONAL DE LEI COMPLEMENTAR - O primado da Constituição, no sistema jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt servanda, inexistindo, por isso mesmo, no direito positive nacional, o problema da concorrência entre tratados internacionais e a Lei Fundamental da República, cuja suprema autoridade normativa deverá sempre prevalecer sobre os atos de direito internacional público. Os tratados internacionais celebrados pelo Brasil - ou aos quais o Brasil venha a aderir - não podem, em conseqüência, versar matéria posta sob reserva constitucional de lei complementar. É que, em tal situação, a própria Carta Política subordina o tratamento legislativo de determinado tema ao exclusivo domínio normativo da lei complementar, que não pode ser substituída por qualquer outra espécie normativa infraconstitucional, inclusive Direito Constitucional: Princípios fundamentais pelos atos internacionais já incorporados ao direito positivo interno).” (ADI 1480 MC / DF - DISTRITO FEDERAL –MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE). Tratados internacionais sobre direitos humanos: Uma boa parte da doutrina constitucional nacional há muito entendia que os tratados internacionais sobre direitos humanos, se fossem ratificados pelo governo brasileiro, restariam incorporados imediatamente ao ordenamento jurídico brasileiro com status de norma constitucional. Este pensamento decorria da interpretação de que a Constituição Federal, em seu art. 4º, II, assegura como um de seus princípios fundamentais a prevalência dos direitos humanos e também prevê, em seu art. 5º, § 2º, a aplicabilidade imediata dos tratados internacionais de que o Brasil seja parte. Certo é que estes pensadores só pregavam esta teoria para os tratados internacionais sobre direitos humanos. Os demais tratados seguiriam a regra geral, ou seja, só teriam validade se fossem ratificados pelo Congresso Nacional, através de decreto legislativo, conforme art. 49, I, da Constituição Federal e o Presidente da República editasse o decreto que o integraria ao ordenamento jurídico pátrio, conforme art. 84, IV, da Constituição Federal. Ademais, estes tratados não possuiriam status constitucional, ou seja, seriam equivalentes às leis ordinárias federais. Assim, abraçando a teoria daqueles que defendiam a constitucionalização das normas internacionais sobre direitos humanos, a emenda constitucional 45 de 08 de dezembro de 2004 estabeleceu a possibilidade de os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada casa do congress nacional, em dois turnos de votação, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serem equivalentes às emendas constitucionais. Deste modo, após a citada reforma constitucional, verificamos a possibilidade de os tratados internacionais serem incorporados no ordenamento brasileiro com o status de norma constitucional, desde que cumpridos dois requisitos: • O conteúdo do tratado internacional seja referente aos direitos humanos. • A sua deliberação parlamentar obedeça aos limites formais estabelecidos para a edição das emendas constitucionais, quais sejam, deliberação em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação, só sendo aprovado se obtiver três quintos dos votos dos respectivos membros parlamentares. Por fim, cabe salientar que a opção de incorporação de tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos com o status de lei ordinária (regra geral) ou com o status de norma constitucional (CF, art. 5, § 3º) é ato discricionário do Congresso Nacional e dependerá de seu julgamento de oportunidade e conveniência quando da análise do caso concreto, Cidadania: É o atributo que possuem aqueles que estão em gozo de seus direitos políticos de participar da gestão do estado, por isso é previsto a possibilidade de, se houver lesão ao patrimônio público, o cidadão ingressar com uma ação popular, art. 5, LXXIII, de participar do processo legislativo através da iniciativa popular de lei (CF, art. 61, § 2º). Assim, podemos concluir que a cidadania é prerrogativa que tem a pessoa física de exercer os direitos políticos. Dignidade da pessoa humana: É com base na definição formulada pelo Papa João XXIII que iniciaremos a definição e alcance do principio da dignidade da pessoa humana. Para o líder do poder espiritual a dignidade do ser humano, Consiste no conjunto de Direito Constitucional: Princípios fundamentais todas as condições da vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana. A professora Flávia Piovesan expende em valiosa lição a função estruturante do principio da dignidade da pessoa humana, “Adotando-se a concepção de Ronald Dworkin, acredita-se que o ordenamento jurídico é um sistema no qual, ao lado das normas legais, existem princípios que incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos. Estes princípios constituem o suporte axiológico que confere coerência interna e estrutura harmônica a todo sistema jurídico. O sistema jurídico define-se, pois, como verdadeira função ordenadora, na medida em que salvaguardam valores fundamentais. A interpretação das normas constitucionais advém, desse modo, de critério valorativo extraído do próprio sistema constitucional. À luz dessa concepção, infere- se que o valor da dignidade da pessoa humana, bem como o valor dos direitos e garantias fundamentais, vêm a construir os princípios constitucionais que incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico a todo sistema jurídico brasileiro.” Conforme ressaltado acima, o princípio da dignidade da pessoa humana é a base dos direitos fundamentais, “constituindo-se um mínimo invulnerável que todo o estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações aos direitos fundamentais”, é ele que veda as penas cruéis (CF, art. 5º, XLVII) e determina que seja dever do estado e da família defender os idosos (CF, art.230). Com efeito, é com fundamento na dignidade da pessoa humana que o Constituinte originário estabeleceu espécies de penas inaplicáveis no direito brasileiro: • Pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX. A vedação de pena de morte não é absoluta em nosso ordenamento, sendo possível a sua aplicação, desde que preenchidos os requisitos constitucionais, ou seja, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendadopor ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas. Deste modo, a aplicação de pena de morte prevista no art. 55, I, do Código Penal Militar foi recepcionada pela Constituição Federal. • Pena de Caráter Perpétuo: A prisão perpétua não tem a finalidade de ressocialização do condenado, possui a finalidade de exclusão do indivíduo da sociedade, em franca contradição ao princípio da dignidade da pessoa humana. É este o motivo de alguns juristas considerarem inconstitucional a previsão de impossibilidade de progressão de regimes para os condenados pela prática de crimes hediondos. Neste sentido, importante decisão do Supremo Tribunal Federal, onde a Primeira Turma concluiu julgamento de habeas corpus em que se pretendia a extinção de medida de segurança aplicada à paciente, diagnosticada como doente mental pela prática do delito de homicídio, cujo cumprimento, em hospital de custódia e tratamento, já ultrapassara trinta anos. Tendo em conta a garantia constitucional que veda as penas de caráter perpétuo (CF, art. 5º, XLVII, b), entendeu-se extensível, às medidas de segurança, o limite temporal previsto no art. 75 do CP (“O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a trinta anos.”). • Pena de Trabalhos forçados: A vedação da pena de trabalhos forçados tem a finalidade de evitar a imposição de condições análogas à situação de escravo ao indivíduo. Todavia, as penas de trabalho forçado não se confundem com a previsão de trabalho remunerado durante a execução penal, previsto na lei de execução penal, pois estas têm a Direito Constitucional: Princípios fundamentais finalidade de ressocialização do indivíduo e o preso tem o dever realizar trabalhos na medida de suas aptidões. • Pena de banimento: A pena de banimento tem a finalidade de retirar um nacional de seu país, em virtude da prática de ilícitos em seu território. Esta penalização é vedada pela legislação brasileira que não admite a expulsão de nacionais, natos ou naturalizados, só admitindo a expulsão de estrangeiros nas hipóteses previstas na lei 6.815/80. • Penas cruéis: A vedação de penas cruéis é a concretização da vedação da pratica de tortura e o tratamento desumano e degradante (CF, art. 5º, III). Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: Em relação ao valor social do trabalho, verificamos que o Constituinte idealizou o trabalho como forma de redução das desigualdades sociais e meio de obtenção de bem estar e justiça, sendo o trabalho a base da ordem social, conforme art. 193 da Constituição Federal. Verifica-se também, com base neste principio, a opção transparente que o Estado brasileiro fez de adotar o regime econômico capitalista, pois é fundado na livre iniciativa e, portanto, estabelece a propriedade privada, pilar do regime econômico capitalista, como um dos princípios gerais da ordem econômica (CF, art. 170, II). No entanto, esta propriedade privada deve estar ordenada de modo a atingir a sua função social, sendo possível a restrição, ou até a supressão do direito de propriedade quando o interesse publico assim determinar, onde temos como exemplos a possibilidade de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e previa indenização em dinheiro, salvo os casos previstos nesta Constituição (CF,art. 5º, XXIV) e também a possibilidade de, em caso de iminente perigo público, ser autorizado o uso de propriedade particular (CF, art. 5º, XXV). Pluralismo político: Nossa sociedade é pluralista, quer dizer aceita as divergências de opinião, estabelecendo a possibilidade de variadas correntes ideológicas, políticas, econômicas, sociais, culturais, sendo por isso que o art. 17 da Constituição Federal assegura o pluripartidarismo, ou seja, a coexistência de vários partidos políticos. Princípio da soberania popular ou princípio democrático: O parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal, ao estabelecer que todo o poder deriva do povo que o exerce através de representantes eleitos ou diretamente, define que a nossa democracia é uma democracia predominantemente representativa, ou seja, nós elegemos representantes que irão gerir o nosso estado. No entanto, há momentos em que o próprio povo exerce o poder político, sem intermediação de representantes políticos, como ocorre nos plebiscitos, referendos, ação popular (CF, art. 5, LXXIII) e iniciativa popular de lei (CF, art. 61, § 2º). Nestes casos não há representação, o que ocorre é o exercício direto da democracia. Esta previsão da preponderância da democracia representativa decorre da realidade social, onde há a presença de colégios eleitorais muito numerosos, sendo inadequado se pensar em consultas populares constantes para a gestão do Estado, no entanto, o legislador constituinte, ao lado da democracia representativa criou instrumentos de participação popular que integram o conceito de democracia direta , também denominados por alguns de democracia semi direta, os quais foram mencionados acima e encontrarão seu detalhamento no capítulo dos direitos políticos.
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