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Apostila-completa-Ética-1

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÉTICA 
 
 
 
 
 
 GUARULHOS – SP 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO A ÉTICA: O PROBLEMA DA DEFINIÇÃO ................................... 3 
1.1 Funções da ética ............................................................................................ 6 
1.2 Os métodos próprios da ética ........................................................................ 6 
1.3 O termo meta-ética ........................................................................................ 7 
2 DIVISÃO DA ÉTICA .............................................................................................. 7 
2.1 Descrição ou prescrição como fundamento classificatório. ............................ 7 
2.2 Éticas naturalistas e não-naturalistas ............................................................. 8 
2.3 Éticas cognitivistas e não-cognitivistas .......................................................... 8 
2.4 Éticas de motivos e éticas de fins .................................................................. 8 
2.5 Éticas de bens e de fins ................................................................................. 9 
2.6 Éticas materiais e éticas formais .................................................................... 9 
2.7 Éticas substancialistas e procedimentalistas ................................................. 9 
2.8 Éticas teleológicas e deontológicas ............................................................. 10 
2.9 Éticas da intenção e éticas da responsabilidade .......................................... 11 
2.10 Éticas de máximos e éticas de mínimos ...................................................... 11 
3 ÉTICA GREGA: GRANDES FILÓSOFOS E OS ENTENDIMENTOS DE ÉTICA 12 
3.1 Ética para Sócrates ...................................................................................... 13 
3.2 Ética para Platão. ......................................................................................... 14 
3.3 Ética para Aristóteles ................................................................................... 18 
3.4 Ética para Estoicos ...................................................................................... 21 
3.5 Ética para Peter Singer ................................................................................ 23 
4 FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA DA ÉTICA MEDIEVAL ................................. 24 
4.1 Ética da era do ser ....................................................................................... 26 
4.2 Éticas do período helenista .......................................................................... 27 
4.3 Epicurismo ................................................................................................... 28 
 
 
 
4.4 Estoicismo .................................................................................................... 28 
4.5 Agostinho de Tagaste .................................................................................. 29 
4.6 Tomás de Aquino ......................................................................................... 29 
4.7 Éticas da era da “consciência” ..................................................................... 30 
4.8 O sentimento moral: Hume .......................................................................... 30 
4.9 A ética formal de Kant .................................................................................. 31 
4.10 A ética material dos valores: Scheler ........................................................... 32 
4.11 O utilitarismo ................................................................................................ 33 
4.12 Éticas do movimento socialista .................................................................... 34 
5 ÉTICA MODERNA .............................................................................................. 35 
5.1 A Crise Ética na Modernidade ...................................................................... 36 
5.2 A noção Ética Moderna: A Ética e a Moral ................................................... 39 
5.3 Ética e Alteridade: As Relações Contemporâneas ....................................... 41 
6 O MODELO DEONTOLÓGICO EM KANT .......................................................... 49 
7 ETICIDADE E MORALIDADE EM HEGEL ......................................................... 52 
7.1 As críticas de Hegel a Ética kantiana ........................................................... 54 
7.2 Eticidade e moralidade na política ............................................................... 58 
8 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ..................................................................................... 61 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO A ÉTICA: O PROBLEMA DA DEFINIÇÃO 
 
Fonte: margaridats.blogspot.com.br 
 A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e 
culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores 
e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. 
 Em primeiro lugar, não podemos discutir ética sem antes estabelecermos 
algumas definições preliminares sobre o termo, sobre do que trata está área de 
conhecimento. Etimologicamente, o termo ética vem do grego derivado da palavra 
ethos, que diz respeito aos costumes, a conduta moral e aos hábitos dos homens em 
sociedade. 
Baseados nisso, podemos dizer que ética é uma parte da filosofia que lida com 
a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade 
social e da vida individual. Trata-se de uma reflexão sobre o agir e o valor das ações 
humanas em sociedade. É uma área da Filosofia que trata dos ideais e valores que 
devem ou deveriam existir na convivência humana. No dizer de Boff (2003, p.11) “Ética 
é um conjunto de valores e princípios, de inspirações e indicações que valem para 
todos, pois estão ancorados na nossa própria humanidade”. 
A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, 
possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não 
possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social. 
 
4 
 
A existência humana é permeada de questionamentos de cunho ético, que na 
maioria das vezes requerem respostas imediatas: Posso abortar? Devo denunciar 
quem tentou me subornar? Posso contaminar meus semelhantes com o vírus da 
AIDS? Essas questões de existência fatual existem, simplesmente, e de uma 
realidade normativa – aquilo que deve ser. Na tentativa de transformar “aquilo que é” 
“naquilo que deve ser” o homem se caracteriza como um ser moral. É refletindo acerca 
dessas questões que Sousa (2005) nos afirma que 
O homem é um ser que possui um senso ético e uma consciência moral. Isso 
quer dizer que constantemente ele avalia suas ações para saber se são boas ou más, 
certas ou erradas, justas ou injustas. Além disso, faz juízos de valor sobre o modo de 
ser e de agir dos demais seres humanos. Nesse sentido, é possível que a ética ilumina 
a consciência humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando sua conduta 
individual e social (p. 27-28). 
Diante disso, podemos afirmar que a ética se preocupa diretamente com o 
comportamento do homem em sociedade, julgando como certa ou como errada as 
ações humanas. Nas palavras de Valls (1987, p. 7) “a ética pode ser o estudo das 
ações e costumes e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento”. 
Parafraseando Vásquez (2006) a ética é um conjunto de valores morais e 
princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja 
um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia 
prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis 
materiais, está relacionada com o sentimento de justiça social. Segundo Vásquez 
(2006, p. 18), “ética é a teoriaou ciência do comportamento moral dos homens em 
sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica do comportamento humano”. 
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e 
culturais. É uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade 
e seus grupos. 
A ética se preocupa, [...] com as formas humanas de resolver as contradições 
entre necessidade e possibilidade, entre tempo e eternidade, entre indivíduo e o 
social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o 
cultural entre a inteligência e a vontade (VALLS, 1987, p. 56). 
Pedimos licença para tecer um breve comentário sobre esta assertiva, uma vez 
que neste ponto é possível refletir que, sobre o uso da inteligência em relação aos 
preceitos éticos, o nosso agir passa pelo crivo da razão filosófica, o que pode nos 
 
5 
 
levar ao controle de nossas vontades; sendo estas reveladas pelo controle de nosso 
instinto, caprichos e/ou desejos. Esse agir individual poderá incidir sobre o coletivo 
uma vez que cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. 
Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em 
outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. 
Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada 
bioética. 
Além dos princípios gerais que norteiam as relações sociais, existe também a 
ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, podemos citar: 
ética médica, ética de trabalho, ética empresarial, ética educacional, ética nos 
esportes, ética jornalística, ética na política, etc. Uma pessoa que não segue a ética 
da sociedade a qual pertence é chamado de antiético, assim como o ato praticado. 
Dessa forma, é possível afirmar que a ética também é o respeito aos costumes gerais 
de uma determinada sociedade ou grupo. 
Os valores éticos podem se transformar. Assim como a sociedade se 
transforma. Nesse sentido, o que há tempos atrás era considerado errado hoje pode 
ser aceito. Desse modo, uma determinada ação só seria errada apenas enquanto ela 
não fosse o tipo de comportamento vigente (VALLS, 1987). 
A ética pode ser vista como uma reflexão acerca da influência que o código 
moral estabelecido exerce sobre a nossa subjetividade, e acerca de como lidamos 
com essas prescrições de conduta, se aceitamos de forma integral ou não esses 
valores normativos. Dessa forma, até que ponto nós damos o efetivo valor a tais 
valores. Poderíamos então sintetizar essa breve reflexão afirmando que o julgamento 
ético é sempre uma decisão subjetivo-pessoal do indivíduo baseado nos costumes 
sociais vigentes em um determinado grupo social, época e lugar. 
De acordo com Chauí (2008), a filosofia moral ou a disciplina denominada ética 
nasce quando se passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os costumes. 
Isto é, nasce quando também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto 
é, o senso moral e consciência moral individual. Assim, podemos dizer que o Senso 
Moral é a maneira como avaliamos nossa situação e a dos outros segundo ideais 
como o de justiça, injustiça, bom e mal. 
Para concluir essa sessão, podemos dizer que a ética, é uma reflexão filosófica, 
puramente racional, sobre a moral. Assim, procura justificá-la e fundamentá-la, 
encontrando as regras que, efetivamente, são importantes e podem ser entendidas 
 
6 
 
como uma boa conduta a nível mundial e aplicável a todos os sujeitos, o que faz com 
que a ética seja de caráter universal, por oposto ao caráter restrito da moral, visto que 
esta pertence a indivíduos, comunidades e/ou sociedades, variando de pessoa para 
pessoa, de comunidade para comunidade, de sociedade para sociedade. O objeto de 
estudo da ética é, portanto, o que guia a ação: os motivos, as causas, os princípios, 
as máximas, as circunstâncias; mas também analisa as consequências dessas ações. 
Desta forma, é possível afirmarmos que violar um princípio ético exige coragem 
individual e que a ética, por sua vez, sofre mudanças sociais porque o indivíduo se 
propõe mudar um costume coletivo, o que por vez, pode influenciar outros indivíduos 
a agir sob a mesma conduta, causando (ou não) com isso, as mudanças de 
hábito/costumes/morais na sociedade na qual o indivíduo está inserido. 
 A ética não se identifica com nenhum código moral, mas isso não significa que 
ela seja neutra diante dos diferentes códigos, pois ela é crítica dos costumes morais. 
1.1 Funções da ética 
A ética tem uma tripla função: 1) esclarecer o que é a moral, quais são seus 
traços específicos; 2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são 
as razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente; 
3) aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas 
primeiras funções, de maneira que se adote uma moral crítica em vez da 
subserviência a um código. 
1.2 Os métodos próprios da ética 
A moral dogmatiza com seus códigos, enquanto que a ética argumenta 
criticamente. Não há totalitarismo em exigir argumentação, mas é totalitário o 
dogmatismo da mera autoridade, das pretensas evidências, das emoções e das 
metáforas. Filosofar é argumentar. Este é o modo de proceder da filosofia moral. Os 
métodos para argumentar podem ser muitos: empírico-racional (Aristóteles), empirista 
e racionalista (era moderna), transcendental (Kant), dialético-absoluto (Hegel), 
dialético-materialista (Marx), genealógico-desconstrutivo (Nietszche), fenomenológico 
 
7 
 
(Husserl, Scheler), análise da linguagem (Moore, Stevenson, Ayer), neocontratualista 
(Rawls). 
1.3 O termo meta-ética 
 Meta-ética refere-se aos autores da análise da linguagem. Ela é uma 
metalinguagem ocupada em esclarecer os problemas tanto linguísticos como 
epistemológicos da ética. Ela tenta discernir a cientificidade, a suficiência, os 
caracteres formais, a situação epistemológica da ética. 
2 DIVISÃO DA ÉTICA 
Variedade de enfoques na ética tem sua origem na diversidade dos métodos 
filosóficos empregados para entender o fenômeno moral ou pela contraposição a 
teorias éticas anteriores. Desses confrontos surgem várias classificações. 
Respondem a diversos modos lógicos de entender o moral, destacando mais um 
aspecto do fenômeno moral. Por isso, cada uma delas, corresponde a uma vertente 
do fenômeno total da moralidade. As classificações ajudam a se aproximar da lógica 
da ação moral. 
2.1 Descrição ou prescrição como fundamento classificatório. 
Durante algumas décadas esteve difundida a classificação entre éticas 
normativas e descritivas. Alguns filósofos morais descrevem como as pessoas se 
comportam de fato em relação a assuntos morais, outros apontam para o modo como 
as pessoas devem comportar-se. O primeiro considera a moral como um fenômeno a 
ser descrito e explicado e o segundo como um conteúdo a ser recomendado. Hoje 
essa distinção é criticada, porque a dimensão normativa faz essencialmente parte da 
moral, embora diferentemente sob o ponto de vista cotidiano imediato ou sobre a 
perspectiva da filosofia moral que explica e fundamenta o fenômeno moral. 
 
8 
 
2.2 Éticas naturalistas e não-naturalistas 
Esta classificação foi proposta por Moore com o objetivo de mostrar que a moral 
não se identifica com fenômenos naturais que afetam a vida humana. Daí que éticas 
que reduzem a moral ao prazeroso ou a busca da felicidade seriam naturalistas, 
enquanto que aquelas que concebem a moral como um âmbito autônomo, irredutível 
a outros fenômenos, seriam éticas não naturalistas. 
2.3 Éticas cognitivistas e não-cognitivistas 
Diz respeito à possibilidade de enunciados morais suscetíveis de verdade ou 
falsidade. Assim as primeiras consideram a moral como mais um âmbito do 
conhecimento cujos enunciados podem ser verdadeiros ou falsos. As não-
cognitivistas negam quese possa falar de verdade ou falsidade com respeito à moral, 
concebendo-a como algo alheio ao conhecimento. Hoje o cognitivismo moral aparece 
sob outra forma em que a questão não é a verdade ou falsidade de enunciados morais, 
mas a possibilidade de argumentar racionalmente para chegar a normas morais. A 
questão não é lógica, mas dialógica. Este é o caso da ética do discurso. 
2.4 Éticas de motivos e éticas de fins 
Ambas encaram a natureza humana como uma pauta para a conduta, mas 
chegam a ela por caminhos diferentes. A ética de motivos realiza a investigação 
empírica das causas das ações. Pretende ver quais motivos efetivamente determinam 
a conduta humana. O bem ou o fim moral responde a aspirações afetivas. Desta 
vertente é o epicurismo e o utilitarismo. O problema desta ética é o subjetivismo dos 
motivos como fundamentação da moral. A ética dos fins supera este problema, 
investigando não tanto o que motiva, mas em que consiste o aperfeiçoamento e a 
plenitude humana, porque nisto reside o bem do ser humano. Assim o acesso à 
natureza não é empírico, como é o caso da primeira, mas tentará chegar à essência 
do ser humano. Nesta linha estão os gregos e os medievais. O positivo é a sua 
objetividade, mas o problema são as diferentes interpretações da essência humana. 
 
9 
 
2.5 Éticas de bens e de fins 
As éticas de bens consideram que o bem moral consiste na realização de um 
fim subjetivo, isto é, na obtenção de um bem desejado. Algumas priorizam o conjunto 
dos bens sensíveis, outras fazem uma seleção. As éticas de fins defendem que o bem 
moral reside no cumprimento de um fim objetivo independente do desejo do sujeito. 
Este fim pode ser o aperfeiçoamento do indivíduo ou da sociedade. 
2.6 Éticas materiais e éticas formais 
Classificação procede de Kant. As éticas materiais afirmam que o critério de 
moralidade para avaliar ações, são os enunciados com conteúdo, pois existem bens 
e valores moralmente determinados. Aqui o fundamento da moral é definido pela 
ontologia, teologia, sociologia ou psicologia empírica, mas não a partir da própria 
moralidade. A fundamentação proposta por Kant foi uma revolução em relação a esse 
modo de fundar a moral, pois aposta na autonomia e não na heteronomia. 
As éticas formais dizem que o bem moral não depende de um conteúdo, mas 
da forma de alguns comandos. Normas que assumem determinada forma são válidas, 
porque assumem a forma da razão. Essa forma evidencia-se quando se adota a 
perspectiva da igualdade (em um mundo de pessoas empiricamente desiguais) e da 
universalidade (em um mundo com indivíduos, dotadas de preferências subjetivas). A 
vontade que adota essas perspectivas atua autonomamente, racionalmente e 
humanamente, pois cria um mundo humano (moral, jurídico, político, religioso) em 
meio a um mundo empírico. Ela é a base da moralidade. 
2.7 Éticas Substancialistas e Procedimentalistas 
As éticas procedimentais (Habermas, Appel, Kohlberg) seguem o formalismo 
de Kant, substituindo alguns elementos criticáveis. Defendem que a ética não tem 
como tarefa recomendar conteúdos morais concretos, mas apenas descobrir 
procedimentos que possam legitimar ou deslegitimar normas procedentes da vida 
cotidiana. O procedimento básico é a racionalidade prática no sentido kantiano, isto 
é, o ponto de vista de uma vontade racional universalizável. O que a razão propõe 
 
10 
 
como obrigatório não pode identificar-se com o que de fato se deseja ou o que 
subjetivamente convém, mas o que qualquer pessoa desejaria adotar na perspectiva 
da igualdade e da universalidade, porque este é o ponto de vista moral. 
Uma limitação do formalismo kantiano era a concepção monológica da razão. 
Os procedimentalistas propõem uma visão dialógica da razão. Isso aparece na ética 
de Rawls, na ética do discurso e na teoria de Kohlberg. 
As éticas substancialistas afirmam que é impossível falar de normas sem ter 
como pano de fundo uma concepção partilhada do que é uma vida moralmente boa. 
Para eles, a principal questão, no âmbito da moral, não são as normas morais justas, 
mas os fins, os bens, as virtudes comunitariamente vividas num contexto vital 
concreto. Eles criticam os procedimentalistas por não serem capazes de criar laços 
de coesão social e de terem uma visão abstrata e vazia. 
2.8 Éticas teleológicas e deontológicas 
Alguns distinguem entre éticas que prestam atenção às consequências, 
identificadas com as teleológicas (teleos designa em grego o fim), e éticas que não as 
levam em consideração, pois estão centradas no dever, sendo denominadas de 
deontológicas (deón em grego é dever). Mas essa distinção não é mais útil, porque 
nenhuma teoria ética hoje desconsidera as consequências. 
Teleológica é uma ética que sustenta que o que é correto só pode ser definido 
a partir das consequências que uma dada ação produz. Isso se dá por que para esse 
tipo de teoria ética, só podemos afirmar o que é correto se antes definirmos o bem a 
ser alcançado. 
Seguindo Frankena, Rawls propõe outra definição mais adequada. Éticas 
teleológicas ocupam-se em discernir o que é o bem não moral antes de determinar o 
dever, considerando moralmente boa a maximização do bem não moral. Éticas 
deontológicas definem o âmbito do dever antes de se ocupar do bem, só considerando 
bom o que é adequado ao dever. 
Apesar das duas teorias, teleológica e deontológica, terem concepções 
diferentes, isso não quer dizer que as duas são contrárias em tudo. Em muitos casos 
as duas possuem a mesma opinião a cerca de uma determinada ação. O que vai 
diferenciar são as justificativas que as duas encontram para se opor a esta ação. 
 
11 
 
2.9 Éticas da intenção e éticas da responsabilidade 
A distinção foi introduzida por Max Weber no seu trabalho sobre a Política como 
vocação. Para o político apresentam-se duas atitudes possíveis: seguir a ética 
absoluta incondicionada ou a ética da responsabilidade. Para a primeira, importam a 
convicção interna, a pureza de intenção, a correção da religião. A segunda, ao 
contrário, atende aos efeitos das ações pelos quais assume a responsabilidade. 
O eticista da convicção ou da intenção fundamenta a sua ação na convicção 
do racionalismo cósmico-ético. O eticista da responsabilidade se apoia na justificação 
dos meios pelo fim. O principal defeito da ética da intenção é o mal não desejado 
como consequência da ação bem intencionada, enquanto que o da ética da 
responsabilidade é o mal aceito como meio para o fim. Weber propõe que as duas 
devem complementar-se. 
2.10 Éticas de máximos e éticas de mínimos 
Muitos autores propõem a distinção entre o justo e o bom dentro do fenômeno 
global da moralidade. Os dois se complementam, pois não posso definir o justo sem 
ter alguma ideia de vida boa, nem posso esboçar um ideal de felicidade sem 
considerar os elementos da justiça. Apesar disso é importante distingui-los, porque 
justo é aquilo que é exigível de todos, tendo presente interesses universalizáveis. A 
justiça refere-se ao que é exigível no fenômeno moral, além de ser exigível para 
qualquer ser racional que queira pensar moralmente. Portanto justo é aquilo que 
satisfaz os interesses universalizáveis atingidos por um diálogo entre todos os 
afetados em condições de simetria. 
Ao contrário, quando falamos que algo é bom ou que proporciona felicidade 
não podemos exigir que qualquer ser racional o considere como bom, porque essa é 
uma opção subjetiva. Por isso ganha espaço hoje a distinção entre éticas de mínimos 
(éticas da justiça) e éticas de máximos (éticas de felicidade). As primeiras ocupam-se 
da dimensão universalizável do fenômeno moral, isto é, daqueles deveres exigíveis 
de qualquer ser racional, identificada com as exigências mínimas. As éticas de 
felicidade oferecem ideais de vida boa, possíveis de hierarquização, para atingir a 
maior felicidade. Trata-se de éticas de máximos que aconselham modelosmorais que 
 
12 
 
dependem de uma opção subjetiva, não sendo exigíveis para qualquer ser racional. 
Nesse campo existe um pluralismo axiológico de modelos (axios = valor). 
 
3 ÉTICA GREGA: GRANDES FILÓSOFOS E OS ENTENDIMENTOS DE ÉTICA 
 
Fonte: portalconscienciapolitica.com.br 
A ética pode ser entendida como um estudo ou uma reflexão sobre ações, 
costumes ou comportamentos. 
 É de extrema importância destacar que a ética está diretamente ligada aos 
hábitos e costumes, e esses mudam de acordo com o tempo e a localização. Sendo 
assim, o que é considerado ético hoje, pode não o ser amanhã e o que é considerado 
certo em determinado país ou localidade, pode não o ser em outro. Álvaro Valls (2000) 
traz assim, uma definição mais abrangente de ética, onde a entende como hábitos e 
comportamentos aceitos em determinado espaço de tempo e em determinada 
localidade de acordo com os costumes vigentes, enquanto considerados morais pela 
maioria da sociedade, deixando clara a condição situacional da ética. 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
3.1 Ética para Sócrates 
 
 
Fonte:dannybia.com 
Os grandes pensadores da ética buscaram uma universalização dos princípios 
éticos. No entanto, a grande diversidade de costumes e culturas, torna difícil essa 
universalidade. 
Alguns pensadores se destacaram, conforme mostra Valls (2000) e não podem 
deixar de serem citados no estudo da ética. Na Grécia antiga, entre os anos de 500 e 
300 a.C., aproximadamente, pode-se encontrar inúmeras reflexões acerca da ética 
que são de extrema importância não somente para aquele tempo, mas para todo o 
fundamento do pensamento sobre a ética até os dias de hoje. 
 Dentre eles, encontra-se o grego Sócrates que viveu entre 470 e 399 a.C. e 
que se destaca por ter desafiado a cidade-estado, questionando as leis, mesmo 
obedecendo-as, fazendo com que o conservadorismo grego o condenasse a beber 
veneno. Apesar de não ter deixado nada escrito, seus ensinamentos podem ser 
observados por intermédio dos seus discípulos, dentre eles Platão em seus diálogos. 
Séculos depois, Sócrates foi chamado de fundador da moral, pela tentativa de 
compreensão da justiça através da sua convicção pessoal. Valls (2000) aborda moral 
 
14 
 
como sinônimo. Para muitos, Sócrates de ética, com pequeno destaque para a 
interiorização das normas. Platão, que viveu entre 427 e 347 a.C., discípulo de 
Sócrates, acreditava que todos os homens estavam em busca da felicidade, no 
entanto, sempre se questionava, onde estaria esse bem supremo. 
Ética para Sócrates basta saber o que é bondade para que se seja bom. Na 
época de Sócrates era uma noção perfeitamente coerente com o pensamento, ainda 
que não com a prática da sociedade grega. Para Sócrates pode ser atribuída à origem 
da ética (ou filosofia moral), tendo como ponto de partida a consciência do agente 
moral, “É sujeito ético ou moral somente aquele que sabe o que faz, conhece as 
causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a 
essência dos valores morais”. Sócrates afirma que apenas o ignorante é vicioso ou 
incapaz de virtude, pois quem sabe o que é bem não poderá deixar de agir 
virtuosamente. Sócrates não foi somente o bom; procurou também a ciência do ser 
bom, a ética, à filosofia moral, a partir de princípios gerais absolutos, tendo como fim 
da ação a felicidade. 
A ética para Sócrates reside no conhecimento e na felicidade. Aquele que 
comete o mal crê praticar algo que o leve à felicidade, por ter seu juízo enganado por 
meros "achismos”. Por isso é preciso, antes, conhecer a si mesmo. Depois disso 
valorizar acerca do bem e do mal. A felicidade, para ele, não se resumia a bens 
materiais, riquezas, conforto ou status perante os demais homens. Sua ética é, 
portanto teleológica, a forma da moral é fundamentalmente finalista como todas as 
éticas antigas. Bom é o que atende aos fins do homem, em especial ao seu desejo de 
felicidade. A moral é, portanto, um bem viver em vista de uma hierarquia de faculdades 
do homem, a felicidade procurada se ordena de tal maneira a fazer prevalecer a do 
espírito. No caso de Sócrates este espírito resulta em certa rigidez, por causa do sem 
sentido das coisas materiais e da necessidade do purificar a alma de delitos 
anteriores. O comportamento quase ascético de Sócrates é resultado desta sua moral 
com base no dualismo órfico (dogmas, mistérios, princípios e poemas filosóficos 
atribuídos a Orfeu). 
3.2 Ética para Platão. 
Platão parecia acreditar em uma vida após a morte, demonstrando em seus 
diálogos a espera da felicidade especialmente depois da morte. Ele acreditava que 
 
15 
 
esta vida devia servir de contemplação de ideias, dentre elas, a principal, a ideia do 
bem. Segundo João Mattar (2004), Platão teve outra importância, fundando o que 
pode ser considerada a primeira universidade da história da humanidade ao fundar 
sua Academia. Suas obras são descritas em diálogos e cartas. 
 
 
Fonte:profselione.blogspot.com.br 
Como Sócrates, Platão também teve seus discípulos, dentre eles, Aristóteles, 
que viveu entre 384 e 322 a.C., pensador que analisava depoimentos sobre a vida 
das pessoas e das diferentes cidades gregas. Também compara o ser e o bem, 
relevando as diversidades de ambos e enfatizando que cada substância terá o seu 
ser em busca do seu bem, para que o homem atinja a felicidade. Mas Aristóteles 
compreende que o homem não necessita de um único bem supremo; em sua 
complexidade, necessita de vários bens, de diversos tipos, formando um conjunto. 
Segundo Álvaro Valls (2000). 
Platão propõe uma ética transcendente, dado que o fundamento de sua 
proposta ética não é a realidade empírica do mundo, nem mesmo as condutas 
humanas ou as relações humanas, mas sim o mundo inteligível. O filósofo centra suas 
indagações na Ideia perfeita, boa e justa que organiza a sociedade e dirige a conduta 
humana. As Ideias formam a realidade platônica e são os modelos segundo os quais 
os homens tem seus valores, leis, moral. Conforme o conhecimento das ideias, das 
essências, o homem obtém os princípios éticos que governam o mundo social. 
 
16 
 
O uso reto da razão é entendido como o meio de alcançar os valores 
verdadeiros que devem ser seguidos pelos homens. No mito da caverna, o filósofo 
expõe a condição de ignorância na qual se encontra o homem ao lidar com o 
conhecimento das aparências. Somente pelo conhecimento racional o homem pode 
elevar-se até as Ideias, até o Ser e conhecer a verdade das coisas. Isto se dá através 
do método dialético, o qual elimina as aparências e encontra as essências, a verdade 
no conhecimento das coisas. Este método filosófico tem por finalidade libertar os 
homens da ignorância e levá-los ao conhecimento de ideia em ideia, até alcançar o 
conhecimento da Ideia Suprema: o Bem. As outras ideias participam desta e devem 
sua existência a esta. 
O Bem ilumina o ser com verdade, permitindo que seja conhecido, assim como 
o Sol ilumina os objetos e permite que sejam vistos – nota-se aqui a analogia entre 
Bem e Sol apresentada no mito da caverna. Existem diversas ideias e é devido à 
participação nestas, mesmo que enquanto cópia imperfeita, que se fez possível o 
mundo sensível. Ao contemplar a ideia do Bem, o homem passa a sofrer as exigências 
do Ser, isto é, suas ações devem ser pautadas conforme a ideia contemplada. 
A alma humana – de suma relevância para a ética platônica- é tripartite, isto é, 
forma-se pela inteligência, pela irascibilidade e pela concupiscência. Tal como as 
partes da cidade ideal, cada uma das partes da alma possui suas funções específicas 
que não podem ser exercidas por nenhuma das outras partes. Cada uma das partes 
da cidade e, por analogia, cada uma das partes da alma, possui uma função própria 
a qual pode ser executada com excelência ou não, e, ao executá-la com excelência, 
sua virtude própria é exercida. 
A virtude é definida,pois, como capacidade de realizar a tarefa que lhe é 
inerente. No caso do governante da cidade e da alma racional, a virtude inerente aos 
mesmos é a sabedoria; no caso dos guerreiros e da parte irascível da alma, a virtude 
que lhes é própria é a coragem; por fim, no caso da parte concupiscente da alma e 
dos produtores de bens da cidade, a virtude própria é temperança. Dada a posição de 
cada classe, pode-se definir a justiça como cada parte fazendo o que lhe compete, 
conforme suas aptidões. Portanto, ao estabelecer uma relação de analogia entre a 
sociedade e indivíduo, Platão define o conceito de justiça – o qual seria também 
concebido como princípio de equilíbrio do indivíduo e da sociedade – e o liga ao 
conceito de virtude. 
 
17 
 
O sentimento de justiça é, pois, a virtude maior cujo valor ético guia as condutas 
dos homens. Para que esta virtude seja alcançada, o homem deve buscar o bem em 
si mesmo, porque ele realiza o ideal de justiça, tanto com relação ao bem individual 
quanto social. 
A ética platônica ocupa-se com o correto modo de agir e sua relação com o 
alcance da felicidade. Contudo, o discurso ético apresentado na República acerca da 
felicidade relaciona esta com o conceito de justiça. O problema da justiça enquadra-
se no âmbito político, o qual tem estreita relação com o campo da ética: é deste modo 
que surge a tese central de que só o justo é feliz. No diálogo República, buscando a 
constituição da cidade ideal, surge o problema cerne acerca da definição da justiça 
para que se pudesse, posteriormente, definir o que é a justiça tanto no indivíduo 
quanto no Estado. Há, pois, um paralelo entre Estado e indivíduo a fim de que se 
encontre a definição de justiça. 
Para Platão, a sociedade seria como algo orgânico e bem integrado, como uma 
unidade construída por vários elementos independentes, embora integrados. A cidade 
forma-se por três classes, como já apontamos, e cada classe possui sua função 
específica. Deve-se notar que tais funções são determinadas conforme as aptidões 
naturais de cada membro da cidade. O objetivo desta divisão é mostrar com mais 
clareza como ocorre o mesmo na alma humana. A finalidade da cidade justa e boa é, 
então, propiciar a felicidade do indivíduo ao viabilizar a prática de suas virtudes, de 
suas aptidões específicas. 
Devemos ter em mente que a virtude correspondente a cada classe da cidade 
e a cada parte da alma humana deve ser ensinada visando a realização do ideal da 
polis. Esta educação embasa-se no método dialético ascendente, o qual liberta o 
homem dos sentidos e o eleva até o mundo inteligível, até o ponto mais claro do Ser, 
a ideia do Bem. Após contemplar o Bem diretamente, o filósofo deve retornar à cidade 
que lhe propiciou educação de modo a guiar os outros cidadãos da ignorância ao 
conhecimento racional. 
As ideias – das quais se originam as cópias sensíveis – são, pois, existentes 
em si e por si, são realidades universais, eternas, imutáveis. Por tais motivos, são os 
modelos a serem seguidos, são paradigmas para a construção da cidade ideal e para 
a educação moral, política e espiritual do homem. Além do mais, são ordenadoras do 
cosmos. 
 
18 
 
Fica evidente que a proposta de Platão se liga, principalmente, às ideias de 
Justiça e do Bem-este último é o supremo valor que sustenta a justiça com relação à 
organização política e à conduta individual. O equilíbrio entre as três partes 
componentes da alma e da cidade gera equilíbrio, harmonia e leva à felicidade. Assim, 
Platão busca por definições gerais, universais, imutáveis, eternas, existentes por si 
mesmas: as Ideias. Como veremos adiante, tal busca é oposta à busca aristotélica 
pela virtude ligada à aplicabilidade desta. 
3.3 Ética para Aristóteles 
Aristóteles afirma que os homens têm o seu ser no viver, no sentir e na razão, 
sendo esses os fatores que definirão os melhores bens para cada um. Aristóteles 
valoriza a vontade humana, apregoando que o homem necessita converter seu 
esforço em bons hábitos, de acordo com a razão, sendo esse esforço voluntário. 
 
 
Fonte:filosofiaemvideo.com.br 
Aristóteles desenvolve a teoria da virtude que, segundo João Mattar (2004), 
tem como uma das principais funções morais o cultivo de traços de caráter, sendo 
estas, características que as pessoas já possuem, bastando externá-las através de 
suas atitudes no dia-a-dia. Aristóteles ainda considerava virtuosa a pessoa que 
conseguisse, através da sabedoria prática adquirida pela experiência individual, o 
equilíbrio entre o vício do excesso e da escassez. 
 
19 
 
No final do século XVIII, volta-se a destacar a análise da subjetividade com o 
pensador alemão Kant que viveu entre 1724 e 1804, na busca de uma ética universal, 
na igualdade entre os homens. Sua filosofia, segundo Álvaro Valls (2000), se chama 
filosofia transcendental, por buscar no próprio homem o conhecimento verdadeiro e o 
agir livre. Para a igualdade fundamental, Kant necessitaria chegar a uma moral única, 
racional. Conforme demonstra Valls (2000, p. 20) “Se a moral é a racionalidade do 
sujeito, esse deve agir de acordo com o dever e somente por respeito ao dever: porque 
é dever, eis o único motivo válido da ação moral”. 
A ética aristotélica, em oposição à ética de seu mestre, é imanente, tendo suas 
bases na realidade empírica do mundo, no questionamento acerca das condutas 
humanas e na organização social. As exigências com relação à vida na polis e a 
realidade do homem formam o conteúdo das ideias, e são ambas as responsáveis 
pela escolha dos valores, pela moralidade e pelas leis, pela definição das condutas 
dos homens. Sua teoria ética era realista, empirista em contrapartida à visão idealista 
e racionalista de Platão. 
A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de felicidade. 
Neste sentido, pode ser considerada eudemonista por buscar o que é o bem agir em 
escala humana, o agir segundo a virtude – diferentemente de Platão, que buscava a 
essência das ideias de felicidade e da ideia do Bem sem relacioná-las diretamente à 
prática. A felicidade é definida como uma certa atividade da alma que vai de acordo 
com uma perfeita virtude. Partindo dessa definição, faz-se necessário um estudo 
sobre o que é uma virtude perfeita e, assim, faz-se necessário, também, o estudo da 
natureza da virtude moral. 
A virtude é definida pelo Estagirita como hábito ou disposição racional 
constante, sendo a virtude o hábito torna o homem bom e o capacita na boa execução 
de sua função. Esta definição se mostra oposta à de Platão: a virtude é definida como 
capacidade de realizar uma função determinada, inerente a alguma parte da alma 
humana ou da cidade ideal. 
A virtude moral é consistida por uma mediedade relativa a nós e o filósofo 
define- a como disposição – já que não podem ser nem faculdades nem paixões – 
para agir de forma deliberada, sendo que a disposição está de acordo com a reta 
razão. Após estabelecer a virtude moral como uma disposição – héxis – ou seja, como 
se dá o comportamento do homem com relação às emoções, há ainda a necessidade 
de que a diferença específica entre virtude moral e virtude intelectual seja explicitada. 
 
20 
 
O Estagirita, em contrapartida às visões de Sócrates e Platão, atribui um papel 
importante dos sentimentos no âmbito ético, pois esta parte emocional da alma 
também é responsável na formação das virtudes, quando em conformidade com a 
parte racional. 
O que distingue as duas espécies de virtude é a mediania. A virtude intelectual 
é adquirida através do ensino, e assim, necessita de experiência e tempo. A virtude 
moral é adquirida, por sua vez, como resultado do hábito. O hábito determina nosso 
comportamento como bom ou ruim. É devido ao hábito que tomamos a justa-medida 
com relação à nós. Logo, a mediania é imposta pela razão com relação às emoções 
e é relativa às circunstâncias nas quais a ação se produz.Nenhuma das virtudes morais surge nos homens por natureza – ao contrário 
da visão inatista platônica – porque o que é por natureza não pode ser alterado pelo 
hábito, a natureza nos capacita em receber tais virtudes e esta capacidade em recebê-
las é aperfeiçoada pelo hábito. Virtudes e artes são adquiridas pelo exercício, ou seja, 
a prática das virtudes é um pré-requisito para que se possa adquiri-las. Sem a prática, 
não há a possibilidade de o homem ser bom, de ser virtuoso. 
Neste ponto da exposição aristotélica, podemos notar outra oposição com 
relação à ética platônica: conforme esta, o homem só pode ser bom e virtuoso ao 
contemplar a ideia do Bem – o que aponta para a diferença entre as concepções 
idealistas/racionalistas apresentadas por Platão e as concepções realistas/empiristas 
expostas pelo peripatético. Aristóteles critica a identificação feita por seu mestre entre 
virtude e conhecimento, de modo que conhecer a essência da Justiça implicaria em 
ser justo, haja vista que são identificados. Assim, o conhecimento da ideia do Bem 
seria a condição para o bem agir, e a virtude consistiria em somente um tipo de 
conhecimento teórico, conforme a crítica feita pelo Estagirita. Este afirma que a razão 
não é a única a atuar na determinação da boa conduta, devendo-se levar em conta os 
sentimentos por auxiliarem na formação das virtudes, além do fato de que as virtudes 
implicam uma atividade racional. 
Como vimos, as virtudes morais são vistas como produto do hábito, 
consequentemente não são tomadas como inatas – como o fizeram Sócrates e Platão. 
Ao considerar as virtudes morais como adquiridas, há uma implicação de que o 
homem é causa de suas próprias ações, responsável por seu caráter – por esse 
motivo a ação precede e prevalece sobre a disposição – o que refuta a ideia platônica 
de que o homem que age mal, o faz por ignorância, pois o mal é a ausência do bem. 
 
21 
 
Está na natureza das virtudes a possibilidade de serem destruídas pela carência ou 
pelo excesso e cabe à mediania preservar as virtudes morais e também diferenciá-las 
das virtudes naturais. Pode-se notar, pois, que a ideia de justa-medida preconiza que 
qualquer virtude é destruída pelos extremos: a virtude é o equilíbrio entre o sentir em 
excesso e a apatia. Portanto, fica evidente que a virtude busca pela harmonia – e esta 
é dada pela razão entre as emoções extremas. O meio-termo é experimentar as 
emoções certas no momento certo e em relação às pessoas certas e objetos certos, 
de maneira certa. Isso é a mediania, é a excelência moral, a qual diverge da noção 
platônica de excelência moral, que seria cada parte da alma exercer sua tarefa própria 
da melhor maneira possível, com excelência para exercer sua respectiva virtude. 
3.4 Ética para Estoicos 
O estoicismo é uma filosofia essencialmente ética orientada para a virtude, 
diferente do epicurismo que é orientado para hedonismo buscando a felicidade 
através do prazer. O estoicismo foi representado, a princípio, por três importantes 
pensadores; Zenão de Cítio (336 – 264 a.C.), Cleanto de Assos (280 – 210 a.C.) e 
Sêneca (4 ou 2 até 65 d. C.). 
 
 
Fonte: metaeticasite.wordpress.com 
 
22 
 
Para os Estoicos, todas as coisas corpóreas são semelhantes aos seres vivos, 
o Sopro divino está presente em tudo, e é esse Sopro que faz com as partes que 
compõem um corpo se tornem independentes. Assim sendo, na visão Estoica, o 
Universo é uma junção de todas as coisas unidas pelo Sopro Ígneo (alma), e a razão 
Universal (os logos) seria a alma comum, que a tudo penetra e organiza. Assim, tanto 
na natureza, como na vida humana, não haveria lugar para o caos nem para a 
desordem, pois isso estaria contrariando os logos. 
Dessa observação Estoica, surge então a física proposta por eles que trata o 
mundo como um ser vivo, um animal sábio e totalmente racional, e ainda, inserida ao 
seu corpo ciclos de surgimento e desaparecimento – ensinando ao homem que há 
coisas que não estão em seu domínio ou poder. Todavia, dependem de causas 
exteriores a ele e se encadeiam de maneira necessária e racional. Acompanhando 
essa premissa, nos encontramos sujeitos à predeterminação de tudo, pois somente a 
predeterminação pode explicar a ordem perfeita das coisas. A organização e a 
cosmobiologia estoica lembra o modelo aristotélico, onde a Terra estava no centro do 
universo e que os céus tinham os seus movimentos imutáveis, seguindo fino arranjo 
do cosmos. O estoicismo pondera também que, a vocação do homem era bem 
aproveitada quando o talento do mesmo encontrava-se com a necessidade do mundo, 
ou seja, o homem já estava predeterminado, o que lhe restava, consequentemente, 
era encontrar a necessidade do mundo para se encaixar a ela com seu talento. 
A ética estoica adota o lema de “seguir a natureza”, corroborando com a visão 
da física. Segui-la, portanto, é o mais coerente a se fazer, pois a predeterminação 
considera a direção a ser seguida. Já a virtude moral é o acordo do homem com a sua 
intrínseca natureza, quando esse caminha no sentido correto, conforme o 
supramencionado, em conjunto com a prática e com a prudência, sua vida é bem 
empregada e aproveitada em todos os sentidos. Contudo, quando o homem contraria 
sua predeterminação, transtorno esse que é causado por suas paixões, que são 
oriundas, também de meios externos, a sua vida não será bem usufruída e, nem trará 
resultados positivos. Para Sêneca, o corpo humano é um mal necessário, uma prisão, 
uma passagem. Por conseguinte, enganam-se aqueles que vivem para o corpo e não 
para a alma, pois ela (a alma) é eterna, ao passo que o corpo é transitório. Não é difícil 
repararmos no trecho acima os detalhes plantonistas da reminiscência da alma. 
Visivelmente, tanto Sêneca como alguns preceitos estoicos, têm em sua natureza 
elementos da filosofia clássica. 
 
23 
 
Abaixo uma simples sintetização da filosofia desse grande pensador para 
entendermos melhor o pensamento estoico. 
 O homem é um ser corpóreo e espiritual. O corpo é uma prisão para a alma 
e devemos, portanto, livrarmo-nos o máximo possível da influência deste (os desejos 
carnais) sobre ela (a alma); 
 A razão é parte do espírito divino imerso no corpo humano; 
 Para Sêneca, Júpiter é o único Deus; 
 A pessoa é composta de corpo e alma; assim, essa palavra atinge para ele 
um elevado teor ético, contrariamente a toda a filosofia anterior na qual significava, 
meramente, aparência. 
3.5 Ética para Peter Singer 
Outro autor que aborda a ética de forma abrangente, é Peter Singer (2002) que 
traz questões de natureza prática como a igualdade para as mulheres, o aborto, a 
eutanásia e utiliza, indiferentemente, as palavras ética e moral. 
 
 
Fonte:edmarciuscarvalho.blogspot.com.br 
Afirma que, para alguns, a ética pode ser vista como uma série de proibições 
ligadas ao sexo e para outros, pode ser confundida como algo bonito na teoria, mas 
que não funciona na prática. Segundo o autor (2002), isso acontece porque as 
pessoas acreditam que a ética é um conjunto de normas simples e breves como: não 
matar, não mentir, mas na vida real acontecem coisas inusitadas e complexas. Daí, 
 
24 
 
surge a concepção consequencialista, em que uma ação será ética ou não, 
dependendo das consequências que o ato acarretar. 
4 FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA DA ÉTICA MEDIEVAL 
Os conteúdos da moral antiga serão reelaborados tendo como referência a 
matriz judaico-cristã. 
A Idade Média é um período marcado pela supremacia total da Igreja Católica 
Apostólica Românica. Sendo assim, a sociedade medieval estava à mercê das 
determinações da Instituição maior do Cristianismo. As decisões, de um modo geral, 
teriam que está em consonância com os mandamentos da Igreja que comandava a 
sociedade medieval. Assim, todas as produções, as criações e principalmente os 
valores éticos e morais teriam que ter como base os princípios fundamentais do 
cristianismo.Fonte: dialetico.com.br 
A ética tem sido discutida em diversas perspectivas, em diferentes períodos 
históricos. Neste trabalho, pretendemos abordar a ética em apenas um período da 
história, a ética na Idade Média. Este estudo tem por objetivo investigar como se 
davam as relações éticas e como eram jugadas as ações humanas neste período. 
Primeiramente, estabelecemos o significado etimológico do termo ética. Em seguida, 
https://www.dialetico.com.br/
 
25 
 
procuramos definir o que é ética, catalogamos vários conceitos de ética com base em 
alguns autores. 
Por último, fazemos uma abordagem sobre ética na Idade Média, enfatizando 
os principais problemas éticos desse período, e principalmente o problema do mal, 
com base na concepção de liberdade (livre-arbítrio) estabelecida por Santo Agostinho, 
priorizando a relação do homem com Deus, objetivando mostrar como eram julgadas 
as ações humanas, para então compreender como se davam as relações éticas entre 
os homens na sociedade medieval. 
Os diferentes sistemas ou doutrinas morais oferecem uma orientação imediata 
e concreta para a vida moral das pessoas. As teorias éticas não pretendem responder 
à pergunta “o que devemos fazer? ” Ou “de que modo deveria organizar-se a 
sociedade”, mas refletem sobre “por que existe moral? ” “Quais motivos justificam o 
uso de determinada concepção moral para orientar a vida? ”. As teorias éticas querem 
dar conta do fenômeno moral. Existem diferentes leituras do fenômeno moral. 
A Idade Média é um período marcado pelo abandono ao racionalismo. Este, 
talvez seja um ponto que diferencia a Idade Média de outros períodos da história. 
Neste contexto, predominantemente religioso, cabe uma indagação importante: e a 
ética como era concebida? Como eram julgadas as ações humanas? Nem é preciso 
fazer uma investigação profunda para responder a esses questionamentos. É sabido 
que as ações humanas eram julgadas apenas do ponto vista cristã, baseado nos 
dogmas estabelecidos pela Igreja Católica. E o que não estivesse em consonância 
com os dogmas teológicos cristãos da época era considerado fora do padrão ético 
estabelecido pela Igreja. Assim, podemos afirmar que a ética nesse período estava a 
serviço dos preceitos do cristianismo, e o que não estivesse de acordo com a escritura 
sagrada era julgado como antiético. 
Na Idade Média, predomina a ética baseada nos dogmas do cristianismo, que 
abandona a ideia de que é através da razão que se pode chegar à perfeição moral, e 
focalizou a busca dessa perfeição no amor de Deus na boa vontade. Os valores éticos 
da época são valores religiosos e não éticos propriamente ditos. O homem não tem 
vontade própria, sente-se preso aos preceitos da Igreja católica. Vive em uma 
sociedade impregnada de valores religiosos e baseada no “amor” ao próximo, que 
incorpora as noções gregas de que a felicidade é um objetivo do homem e a prática 
do bem, um meio para atingi-la. “Agir eticamente é agir de acordo com o bem” (VALLS, 
 
26 
 
1987, p. 67). E esse bem só seria alcançado se fosse feita a vontade de Deus, se 
seguisse a escritura sagrada (Bíblia). 
Os filósofos medievais herdaram elementos da tradição filosófica grega, 
configurando-as no interior de uma ética cristã. Para os filósofos cristãos, a natureza 
humana tem destino predeterminado, e Deus é o princípio da felicidade e da virtude. 
Os critérios do bem e do mal estão vinculados à fé e à esperança da vida após a 
morte, herança das teorias filosóficas grega. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino 
são os principais filósofos da ética na Idade Média. 
4.1 Ética da era do ser 
Sócrates: a excelência humana se revela pela atitude de busca da verdade. 
Isso significa abandonar atitudes dogmáticas e céticas e assumir a atitude crítica que 
só se deixa convencer pelo melhor argumento. A verdade habita no fundo de nós 
mesmos e podemos atingi-la pela introspecção e o diálogo. Embora a verdade 
encontrada pelo método maiêutico (parto de ideias) é sempre provisória, ela é um 
achado que ultrapassa simplesmente as fronteiras da comunidade que se vive. 
Sócrates professa o intelectualismo moral, pois quem conhece o bem sente-se 
impelido a agir bem e quem age mal é porque é um ignorante. 
Platão: propõe uma utopia moral no livro A República. O Estado perfeito é 
constituído por diversos estamentos com funções determinadas: a) os governantes 
tem a função de administrar, vigiar e organizar a cidade; b) os guardiães e os 
defensores (militares), de defender a cidade; c) os produtores (camponeses, 
artesãos), desenvolver as atividades econômicas. Cada estamento tem uma virtude 
específica: a) os governantes realizam sua tarefa pela prudência e sabedoria; b) os 
guardiães pela fortaleza ou coragem; c) os produtores, pela moderação ou 
temperança. Estes três estamentos correspondem às três espécies ou dimensões da 
alma: a) a racional que é o elemento superior e excelso dotada de autonomia e de 
vida própria, caracterizando-se pela capacidade de raciocinar; b) alma irascível que é 
a sede da decisão e da coragem nos quais predomina à vontade, fundamentando-se 
na força interior colocada em ação quando existe conflito entre os instintos e a razão; 
c) apetite ou parte concupiscível que corresponde aos desejos e às paixões. A virtude 
correspondente da alma racional é a prudência e a sabedoria; da alma irascível é a 
 
27 
 
fortaleza e o valor; da parte concupiscível do apetite, a virtude da moderação. A virtude 
da justiça harmoniza as diferentes virtudes tanto na cidade quanto na alma. 
Aristóteles: É o primeiro filósofo a elaborar tratados sistemáticos de ética como 
a Ética a Nicômaco. Ele se pergunta “Qual é o fim último de todas as atividades 
humanas?” Este fim não pode ser outro que a eudaimonia (felicidade como auto 
realização), a vida boa e feliz. A partir daí investiga o que é a felicidade. a) Ela deve 
ser um bem perfeito que se busca por si mesmo e não com meio para outra coisa; b) 
o fim último deve ser autossuficiente, desejável por si mesmo e que possuindo-o não 
deseje outra coisa; c) deve consistir em alguma atividade peculiar de cunho excelente. 
Qual é essa atividade? A felicidade perfeita para o ser humano reside no 
exercício da inteligência teórica, isto é, a contemplação e compreensão dos 
conhecimentos. Mas esse não é único caminho, pois também se pode ter acesso à 
felicidade pelo exercício do entendimento prático que consiste em dominar as paixões 
e conseguir uma relação amável e satisfatória com o mundo natural e social. Nesta 
tarefa, o ser humano tem a ajuda das virtudes capitaneadas pela prudência (sabedoria 
prática) que permite obter o equilíbrio entre o excesso e a falta e é a guia de todas 
outras virtudes. Por exemplo, a virtude da coragem é o equilíbrio entre a covardia e a 
temeridade. Mas uma pessoa virtuosa precisa viver numa sociedade regida por boas 
leis, porque o logos não só nos capacita para a vida intelectual teórica e a vida pessoal 
prática, mas também para a vida social, pois a ética não pode desvincular-se da 
política. 
4.2 Éticas do período helenista 
Destruída a confiança na polis, o sábio será aquele que vive de acordo com a 
natureza. Mas epicuristas e estoicos divergem quanto à maneira de entender o 
conceito de natureza e, por isso, também não estão de acordo sobre o ideal do ser 
humano sábio. 
 
28 
 
4.3 Epicurismo 
 
Fonte: metaeticasite.wordpress.com 
É uma ética hedonista, isto é, uma explicação da moral como busca de 
felicidade entendida como prazer, como satisfação de caráter sensível. Essa escola 
foi fundada por Epicuro de Samos (341-270 A.C.). Para ele, o sábio é aquele que for 
capaz de calcular corretamente quais atividades proporcionam maior prazer e menor 
sofrimento. Trata-se de calcular a intensidade e a duração dos prazeres. Portanto as 
duas condições para saber ser sábio e feliz são o prazer e o entendimento reflexivo 
para ponderarestes prazeres. 
4.4 Estoicismo 
Agrupa um grupo de autores gregos e romanos. Zenão de Cítio é o fundador, 
mas teve como protagonistas a Posidônio, Sêneca, Epicteto e o imperador romano 
Marco Aurélio. Eles indagaram pela ordem do universo como orientação para o 
comportamento humano. Para eles deve existir uma razão primeira, comum, que é, 
ao mesmo tempo, a lei do universo. A razão cósmica é a lei universal a qual tudo está 
submetido. Esta razão cósmica é o logos providente que cuida de tudo. Sábio é aquele 
que vive segundo esta lei universal do cosmo. Esta atitude cria liberdade interior 
https://metaeticasite.wordpress.com/
 
29 
 
quanto àquilo que depende de nós e imperturbalidade quanto ao exterior que não 
depende de nós, mas segue uma lei universal previdente. 
4.5 Agostinho de Tagaste 
 
Fonte: radiorainhadapaz.com.br 
Para ele, os filósofos gregos estavam certos ao afirmar que a moral deve ajudar 
a conseguir uma vida feliz, mas eles não souberam encontrar a chave da felicidade 
humana que se encontra no encontro amoroso com Deus Pai. A felicidade não está 
em conhecer como pensavam os gregos, mas em amar, em desfrutar de uma relação 
amorosa com quem nos criou como seres livres. A moral é necessária, porque 
precisamos encontrar o caminho de volta para a Cidade de Deus da qual nos 
extraviamos por ceder às tentações egoístas. Para nos libertar do pecado, Deus nos 
enviou uma ajuda decisiva, a sabedoria encarnada que é o próprio Jesus Cristo que, 
pelos seus ensinamentos e pela sua graça, nos reconduz de volta à Cidade de Deus. 
4.6 Tomás de Aquino 
Ele tenta conciliar as principais contribuições de Aristóteles com a revelação 
judaico-cristã contida na Bíblia. Dá prosseguimento às éticas eudaimonistas numa 
perspectiva teológica. Para Tomás, a felicidade perfeita está em contemplar a verdade 
https://www.radiorainhadapaz.com.br/
 
30 
 
que se identifica com o próprio Deus. Esta verdade divina identifica-se com a lei eterna 
que rege providencialmente o universo e se expressa no conteúdo da lei natural. Esta 
lei contém o primeiro princípio imperativo: “Faze o bem e evite o mal”. Mas em que 
consiste o bem e o mal? Em primeiro lugar nos ditames da Recta ratio, porque ela é 
a própria lei natural no ser humano. Em segundo lugar identifica-se com as inclinações 
naturais que a lei divina colocou na natureza humana. A sindérese, uma espécie de 
consciência moral fundamental, é a intuição ou o hábito que contém os preceitos da 
lei natural. A aplicação destes preceitos às circunstâncias concretas de cada ação 
particular acontece no juízo formulado pela consciência situada. A aplicação não pode 
ser mecânica, mas criativa e razoável. Aqui entra o papel das virtudes, principalmente 
a virtude intelectual da prudência e a virtude teológica da caridade que são os hábitos 
operativos do bem para encontrar a ação adequada à pessoa e ao contexto. 
4.7 Éticas da era da “consciência” 
A partir dos séculos XVI e XVII a moral entra numa nova etapa. A revolução 
científica, as guerras de religião, a crise cultural faz centrar a moral na consciência. 
4.8 O sentimento moral: Hume 
Ele compreende a razão ou o entendimento como uma faculdade 
exclusivamente cognoscitiva, cujo âmbito termina onde deixa de existir a questão da 
verdade ou da falsidade de juízos, os quais só podem ser referidos ao âmbito da 
experiência sensível. A moralidade é alheia à experiência sensível que diz respeito a 
fatos, enquanto que a moral está referida a sentimentos subjetivos de agrado ou 
desagrado. 
O papel da razão no terreno moral concerne unicamente ao conhecimento do 
dado, mas é totalmente insuficiente para produzir efeitos práticos. Hume delega as 
funções morais a outras faculdades menos importantes que a razão, as paixões e o 
sentimento. A razão não está encarregada de estabelecer juízos morais. Para ele, as 
ações morais se produzem em virtude das paixões orientadas para atingir fins 
propostos não pela razão, mas pelo sentimento. 
 
31 
 
Nesse sentido, a bondade e a maldade das ações dependem dos sentimentos 
de agrado ou desagrado que provocam em nós. Por isso, o fundamento das normas 
e dos juízos morais é a utilidade e a simpatia. Hume critica também quem quer extrair 
juízos morais de juízos fáticos, concluindo um “deve” a partir de um “é”. Ele chama 
esta atitude de falácia naturalista. 
4.9 A ética formal de Kant 
Ele parte de uma distinção típica em Aristóteles: o âmbito teórico que trata do 
que ocorre de fato no mundo e o âmbito prático que corresponde ao que ocorre por 
vontade livre dos seres humanos. No âmbito prático, o ponto de partida é um fato de 
razão: os seres humanos têm consciência de comandos que eles experimentam como 
incondicionados, isto é, como dever ou imperativos categóricos. Aqui existe uma 
virada copernicana, pois o ponto de partida da ética não é mais o bem que desejamos 
como criaturas naturais (a felicidade), mas o dever que reconhecemos como criaturas 
racionais. Isto significa que o dever não é dedutível do bem, mas o bem específico da 
moral é o cumprimento do dever. 
Os imperativos categóricos são aqueles que mandam incondicionalmente. 
Estão a serviço de um valor absoluto que são as pessoas. Dizem respeito à moral. Os 
imperativos hipotéticos dependem de uma condição: “se você quer x, então faça y”. 
Os imperativos categóricos são uma experiência da vida cotidiana de convivência 
entre pessoas. A missão da ética é descobrir as características formais que tais 
imperativos devem ter para que exista neles a forma da razão e, portanto, sejam 
normas morais. 
Essas características, expressas em máximas, são as seguintes: a) 
universalidade: “Aja de tal maneira que o teu agir possa ser lei universal”; b) referir-se 
aos seres humanos como fins em si mesmo: “Aja de tal maneira que você trate a 
humanidade tanto em ti como em qualquer outro, sempre como um fim em si mesmo 
e nunca apenas como meio”; c) valer para uma legislação universal em um reino de 
fins: “Aja por máximas de um membro legislador universal em um possível reino dos 
fins”. 
A chave para comandos morais autênticos é que possam ser pensados como 
se fossem leis universalmente cumpridas sem que isso implique em nenhuma 
 
32 
 
incoerência. Em outras palavras, ao obedecer a estes comandos se está obedecendo 
a sua própria consciência autônoma. Essa liberdade como autonomia é a razão de 
reconhecer aos seres humanos um valor absoluto. Esse é o sentido de os seres 
humanos não terem preço, mas dignidade, porque não podem ser trocados por algo 
equivalente. 
Assim a liberdade torna-se um postulado da razão prática, isto é, um postulado 
que não procede da ciência, mas é compatível com o que ela nos ensina. Somos 
capazes de decidir por nós mesmos, autonomamente, não levados pelos instintos 
biológicos, as forças sociais e os condicionamentos. Cada pessoa tem o poder da 
soberania racional sobre si mesmo. Por isso o próprio da moral é uma boa vontade, 
ou seja, a disposição permanente de conduzir a própria vida obedecendo a 
imperativos categóricos e não às tendências da natureza. 
Portanto o bem moral não reside na felicidade como defendiam as éticas 
tradicionais, mas em conduzir-se com autonomia, construir corretamente a própria 
vida. Mas o bem supremo não se identifica simplesmente com o bem moral. Ele só 
pode ser alcançado com a união entre o bem moral (possível pela boa vontade 
autônoma) e a felicidade que aspiramos por natureza. Mas a razão humana não 
oferece nenhuma garantia de que se possa alcançar este bem supremo. A única que 
pode fazer isso é a fé religiosa. Assim a existência de Deus é um outro postulado da 
razão que não se pode provar como também a imortalidade da alma como seu 
correlato. 
4.10 A ética material dos valores: Scheler 
No início do século XX, Scheler opõe-se a Kant na sua obra O formalismo na 
ética e a ética material dos valores.Ele critica a existência de apenas duas faculdades: 
a razão pela qual se atinge a universalidade e a incondicionalidade (a priori) e a 
sensibilidade que capacita a conhecimentos particulares e condicionados (a 
posteriori). Scheler propõe uma terceira faculdade que é a “intuição emocional” que 
realiza atos não dependentes do pensamento racional nem da sensibilidade, mas que 
alcançam o estatuto do conhecimento a priori, característico do conhecimento moral. 
Scheler defende o abandono da identificação kantiana do a priori incondicional com a 
 
33 
 
racionalidade e do material com a sensibilidade. Por isso conjuga a formalidade da 
ética com a materialidade dos valores. 
a) Não se pode perguntar o que são os valores, porque eles não são, mas 
valem ou pretendem valer. Dizer que não são não significa que são ficções, mas que 
se identificam com as maneiras de ser das coisas. b) Também não é correto identificar 
os valores com o agradável ou o desejável, que são realidades variáveis em sua 
intensidade, enquanto que o valioso não depende de oscilações, nem com o útil, pois 
mesmo sendo úteis, os valores não se esgotam na utilidade, pois eles são um tipo. c) 
Os valores são qualidades dotadas de conteúdo, independentes tanto de nossos 
estados de espírito subjetivos como das coisas, as quais são bens portadores de 
qualidade (valor) que o sujeito dotado de intuição emocional capta. 
Scheler afirma uma ciência pura dos valores (axiologia pura) que se sustenta 
em três princípios: 1) Todos os valores são negativos ou positivos; 2) Valor e dever 
estão relacionados; 3) Nossa preferência por um valor e não por outro verifica-se 
porque nossa intuição emocional (estimativa moral) capta os valores já 
hierarquizados. 
4.11 O utilitarismo 
Trata-se de uma versão renovada anglo-saxônica do hedonismo clássico, mas 
com uma perspectiva social. Procura conjugar a busca do prazer com os sentimentos 
sociais, entre os quais, a simpatia que faz perceber que os outros também desejam 
alcançar o prazer. O objetivo da moral volta a ser a felicidade identificada com o maior 
prazer para o maior número de seres vivos. É necessário optar pela ação que 
proporcione a maior felicidade ao maior número. 
O utilitarismo é um tipo de teoria teleológica, como podemos ver na definição 
dos seus dois tipos mais comuns: o utilitarismo de atos e de regra. O utilitarismo de 
atos diz que uma ação é correta se sua realização dá origem a estados de coisas 
pelos menos tão boas quanto aquelas que teriam resultado em cursos alternativos de 
ação. Já o utilitarismo de regras afirma que uma ação é correta se esta estiver em 
conformidade com uma regra que resulte num estado de coisas pelo menos tão boas 
quanto aquelas resultantes de regras alternativas. 
 
 
34 
 
Quem primeiro formulou esse princípio foi o jurista Cesare Beccaria, mas os 
clássicos do utilitarismo foram Jeremy Bentham (1748-1832), John Stuart Mill 
(18061876) e Henry Sigdwick (1838-1900). Bentham propõe uma aritmética dos 
prazeres, pois eles podem ser medidos e comparados. Mill rejeita essa ideia, dizendo 
que os prazeres não são uma questão de quantidade, mas de qualidade, de modo 
que existem prazeres superiores e inferiores, sendo preferíveis os prazeres 
intelectuais e morais. Mill supervaloriza os sentimentos sociais como fonte de prazer. 
Nas últimas décadas apareceu a distinção entre “utilitarismo do ato” que julga 
os diferentes atos pelas consequências previsíveis e o “utilitarismo da norma” que 
defende que é necessário ajustar as ações às regras habituais que já mostraram sua 
utilidade geral pelas consequências. 
4.12 Éticas do movimento socialista 
No início do século XIX, Saint-Simon, Owen e Fourier, defensores do 
socialismo utópico, denunciaram as condições de miséria da classe operária, 
apelando à consciência moral de todas as pessoas e propondo reformas profundas 
na maneira de organizar a economia, a política e a educação. Para chegar a uma 
sociedade justa e próspera é necessário aproveitar os avanços da técnica e eliminar 
as desigualdades sociais. Insistem em abolir ou ao menos restringir a propriedade 
privada dos meios de produção, mas não aceitam a rebelião violenta. Reivindicam o 
diálogo social e o testemunho moral de experiências justas e, sobretudo, a 
necessidade de uma educação justa. 
Os socialistas libertários (Proudhon, Bakunin, Kropotkin, Malatesta, Abade de 
Santillán) opuseram-se aos socialistas utópicos, defendendo o anarquismo cuja tese 
principal é a abolição do estado. É necessário abolir todo tipo de opressão e 
exploração cuja fonte é o estado. Defendem uma sociedade solidária, autogestionada 
e federalista. O marxismo quer superar tanto o socialismo utópico como o anárquico, 
propondo um socialismo científico (Materialismo dialético e histórico). Apesar de que 
Marx não quis propor uma ética, o seu legado principal é moral pela sua provocação 
em prol da justiça. Marxismo prega um progresso moral dependente da superação 
das contradições sociais e a mudança das condições históricas. Identifica os 
interesses morais com os interesses objetivos e sociais. As dificuldades do 
 
35 
 
materialismo, professado pelo marxismo, são tanto o postulado da necessidade 
mecanicista da evolução histórica que impede a liberdade como o modo de acesso à 
verdade moral pregado pelo materialismo dialético. 
5 ÉTICA MODERNA 
A ética faz parte da filosofia responsável por investigar os princípios que 
motivam, disciplinam, distorcem ou orientam o comportamento do homem, refletindo 
sobre a sua essência, valores, as normas, preceitos e exortações presentes em 
qualquer meio social. Na história humana, a reflexão sobre a ética sempre esteve 
presente em todas as sociedades, mesmo que de forma desorganizada e não 
racionalizada. 
Esse saber ético, inicialmente tradicional, foi o responsável pelos fundamentos 
da ética filosófica. Ela estendeu sua reflexão axiológica ao se direcionar as ciências 
particulares e técnicas, que hoje são fundamentais para conceder um melhor convívio 
entre grupos sociais. A ética se faz importante por guiar o pensar e o agir do homem 
em todos os tempos. 
Além de expressar as vontades e problemas de cada época, expressa também 
as formas de organização política, social e religiosa de uma comunidade. Com isso, 
estudo da ética, fundamentado na filosofia, proporciona o conhecimento sobre o ser 
humano, como ser de ação, racional e social. A Ética filosófica sempre procurou 
orientar e encontrar soluções para os problemas básicos das relações entre os 
homens. 
 Desde a Grécia Antiga à Contemporaneidade a ética também está intimamente 
ligada ao Direito. Ao contrário da ciência do Direito a ética não estabelece regras, 
todavia ela busca justificativas para as regras pertencentes ao âmbito jurídico. O 
Direito tem por objetivo promover a justiça, para tanto é necessário que haja um 
mínimo ético a ser cumprido para a segurança das relações sociais e profissionais. 
 
 
36 
 
5.1 A Crise Ética na Modernidade 
 
Fonte: imscoachingdecarreira.com.br 
A ética moderna traz à tona o conceito de que os seres humanos sempre devem 
ser o fim de uma ação e nunca um meio para alcançar determinado interesse, pois o 
homem é visto no centro e tudo está ao seu serviço. Essa é uma ideia defendida por 
Kant, um dos principais filósofos da modernidade, que acreditava na ideia de que o 
homem é um ser egoísta, destrutivo, ambicioso, cruel e agressivo. 
As crises históricas determinam as mudanças que acontecem e mudam a 
realidade da sociedade de forma radical. É uma questão bastante relevante para 
filosofia, visto que o desenvolvimento da história e as suas crises cabem a filosofia, 
ela não pode ficar estática a situações vividas pelo homem moderno. A função da 
filosofia é elucidar o homem em seu ser total. 
A ética tornou-se uma problemática fundamental no ocidente do século XX. 
Durante osanos 50 e 60 chegou-se a utilizar o termo reabilitação ética. 
A mentalidade técnico-científica se tornou cada vez mais dominante na 
civilização ocidental, menosprezando a ética e a reduzindo apenas aos problemas 
individuais. A ética não faz parte do âmbito racional, pois racionalidade é ligada a 
ciência, e tudo que não é pertencente a ciência é resultado do livre arbítrio de cada 
um. A ética está no centro da vida humana, pois a tarefa fundamental e primordial do 
homem é a construção do seu eu. 
 
 
37 
 
 
Fonte: dialogospoliticos.wordpress.com 
O problema se faz presente, sobretudo, no pensamento europeu, ainda por 
uma oposição que vem desde Kant, com um enorme empecilho a qualquer ontologia. 
Não se faz mais uma teoria do mundo. A filosofia virou apenas uma teoria do nosso 
conhecimento do mundo. Enquanto não suplantarmos a dicotomia entre ser humano 
e mundo, entre sujeito e objeto, entre teoria e realidade, que é a legado deixado pela 
modernidade, ainda majoritária no pensamento atual, nós não teremos saídas. 
Teremos saídas, no máximo que não são capazes de dizer o que devemos fazer frente 
às questões que cada um deve enfrentar. 
 A questão fundamental da filosofia hoje é voltar a ser uma teoria da realidade, 
é voltar a falar do legítimo. A partir dos valores, em primeiro lugar, ontológicos, pode-
se perguntar o que a realidade pode dizer enquanto exigência ética. 
 
 
38 
 
 
Fonte: iped.com.br 
Podemos pensar em uma ótica de entender a ética da vida coletiva. E uma 
ideia fundamental que se destaca como uma ética alternativa é aquela onde o homem 
não é em primeiro lugar só indivíduo, mas um ser fundamentalmente de relações e 
que só conquista o seu ser através do outro. 
 Somente uma sociedade que pudesse ser articulada de tal maneira, onde cada 
ser humano possa ser respeitado e respeitar os outros, seria uma sociedade capaz 
de criar condições para realização do ser humano. Esta é a ideia do reconhecimento 
mútuo, da dignidade igual de todos os seres humanos. É um princípio ético 
fundamental para organizar a vida coletiva. Isto é, não há seres humanos especiais e 
a eles não se destinam os bens da Terra. Mas todos os seres humanos são portadores 
da mesma igualdade. É por isso que a participação, naquilo que é comum, e nas 
decisões da vida coletiva, é um direito fundamental de cada um, uma vez que cada 
um é igual. 
 
39 
 
5.2 A noção Ética Moderna: A Ética e a Moral 
 
Fonte: taringa.net 
Ética não se constitui em um catálogo de valores particulares e alheios à prática 
dos grupos sociais, das sociedades e das áreas do saber. Para Chauí (2003), a ética 
moderna trata de um determinado coletivo, como ele se desenvolveu e como age. Já, 
a moral – um dos objetos da ética – é um conjunto de regras gerais de uma sociedade 
que, ao ser introjetada pelas pessoas, torna-se uma questão de consciência individual. 
Ser moral significa se adequar e viver de acordo com as normas de uma 
determinada sociedade. Ser imoral significa conhecer as normas e não segui-las. 
O indivíduo considerado amoral é o que não segue as normas sociais por 
desconhecê-las ou não compreender os seus valores. A ética, entretanto, está acima 
da moral: ela analisa e critica a moral, embora com ela se relacione. A moral diz 
respeito aos conceitos abstratos de certo e errado para cada consciência, enquanto a 
ética procura resolver os dilemas dos grupos por meio da reflexão e do debate social 
acerca da ação concreta desta ou daquela comunidade. A ética, portanto, relaciona-
se com o Direito, com a Justiça, com a Política, com as Leis e com as práticas 
científicas e profissionais. 
 
40 
 
Ser ético significa viver coerentemente com uma linha ética, aproximando o que 
penso daquilo que faço, buscando o benefício e a qualidade de vida de todos, da 
humanidade. A finalidade da ética é orientar a prática. 
 
 
Fonte: conceptoseticaymoral.blogspot.com.br 
Ao discutir a existência ética, Chauí trata da diferenciação entre senso e 
consciência moral. Para a autora, nossos sentimentos e ações, assim como nossas 
dúvidas acerca da correção de uma determinada decisão, exprimem nosso senso 
moral. O julgamento (razão) sobre a decisão a tomar se dá por meio de nossa 
consciência moral, posta em ação pelo senso moral. O senso e a consciência moral, 
desta forma, relacionam-se aos valores (justiça, integridade, generosidade; etc.), aos 
sentimentos gerados pelos valores (vergonha, culpa, admiração, raiva, dúvida, etc.), 
bem como às decisões tomadas (ações e suas consequências individuais e coletivas). 
Portanto, o senso moral e a consciência moral não são dados pela natureza: são 
indissociáveis da cultura, são escolhas das pessoas que vivem numa determinada 
cultura ou grupo. 
 Para Chauí (2003, p.9), os conteúdos dos valores podem variar, mas sempre 
estão ligados a um valor mais profundo: o BEM. Por meio de nosso juízo de valor é 
que definimos comportamentos como BONS ou MAUS. 
Nosso juízo ético de valor fundamenta-se em normas que determinam o que 
deve ser feito, quais obrigações, intenções e ações são corretas ou incorretas. 
 
 
41 
 
5.3 Ética e Alteridade: As Relações Contemporâneas 
 
Fonte: petdirunb.wordpress.com 
A necessidade de pensar o sujeito contemporâneo a partir de sua relação com 
o outro torna-se bastante problemática se não inserirmos, nessa reflexão, a questão 
da identidade e a sua antinomia imediata que é o descentramento. Penso exatamente 
que é na tensão entre essas duas dimensões que se poderá, talvez, encontrar 
algumas respostas a essa questão. 
As tradições platônico-judaico-cristã e islâmica trouxeram a ilusão de uma 
unidade, daí a questão do homem e do mundo ter sido abordada a partir do conceito 
de identidade. A perspectiva e o objetivo fundamental desse estilo de pensamento é 
o de ir em busca de algo que determina o ser, que o defina e trace o seu limite: uma 
natureza ou um substrato que tenha um caráter absoluto e necessário. Atualmente, 
esse tipo de pensamento que parte e privilegia a categoria de substância não resiste 
a argumentos mais ousados, e por isso mesmo a problemática da identidade se 
transformou. O principal indício da natureza dessa transformação consiste na 
introdução da ideia de identidade como parte de impacto do social sobre o individual. 
Esse pressuposto situa- se, a rigor, no cruzamento de duas vertentes: a que parte do 
indivíduo e a que parte da sociedade, isto é: uma dimensão endógena e uma 
dimensão exógena. Essa dupla determinação exige, mesmo que brevemente, uma 
explicitação maior, e a faremos a seguir. 
 
 
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Fonte: lounge.obviousmag.org 
Em primeiro lugar, identidade remete à sensação subjetiva de que eu sou eu, 
isto é, de que um algo permanente subjaz aos diversos momentos de minha 
existência, encadeando umas às outras as diversas vivências e representações que 
sucessivamente vão se apresentando à consciência. Nesse sentido, o fundamento 
dessa certeza subjetiva é o vínculo que une meus pensamentos e emoções a meu 
corpo: a identidade está visceralmente ligada à ideia de uma diferença entre um dentro 
e um fora, separados inicialmente pela pele que reveste o corpo; é a percepção do 
corpo próprio de que nos fala Merleau-Ponty, em seu texto “A Fenomenologia da 
Percepção” (1945). É a circunscrição do corpo que sustenta a vivência da identidade 
própria, originando a convicção de que um eu habita este corpo e somente este corpo, 
e inversamente, de que este corpo é habitado apenas e exclusivamente por meu eu. 
Daqui emerge a exigência de uma diferenciação entre eu e os outros. O corolário da 
proposição eu sou eu é obviamente eu não sou os outros, ou os outros não sou eu, 
com a consequente inferência de que cada outro é um eu, habitando seu próprio 
espaço, do lado de dentro de uma pele como a minha. 
Reunindo essas duas perspectivas, verifica-se existirem duas condições para 
o que proponho

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