Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
G eologia B iologia e Cristina Carrajola, Maria José Castro e Teresa Hilário Consultores Científicos: Ana Isabel Correia e Rui Gomes CoMponenTes do pRoJeCTo: Livro do aluno (2 volumes) Caderno de actividades Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) 11 ano G eo lo gi a B io lo gi a e 11 ano B io lo gi a e G eo lo gi a P la n e ta c om V id a B IO LO G IA ( Vo lu m e 1 ) A santillana publicou a obra Biologia e Geologia 11.o ano em 2 volumes para reduzir o peso a transportar pelos alunos. os dois volumes não podem ser vendidos separadamente. C . P ro du to *5 11 01 14 01 * 919354 CAPA.indd 1 07/04/15 19:52 Cristina Carrajola, Maria José Castro e Teresa Hilário Consultores Científicos: Ana Isabel Correia e Rui Gomes Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) G eo lo gi a B io lo gi a e 11 an ano 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 1 2 MODELO DIDÁCTICO Unidade A apresentação dos conteúdos inicia-se com a exploração de imagens e uma actividade de diagnóstico. Na página seguinte apresenta-se um texto introdutório, que destaca ideias fundamentais para a exploração dos conteúdos da unidade. Ao texto associa-se uma imagem, que comple- menta ou ilustra a informação transmitida. Páginas informativas O texto informativo apresenta uma linguagem sim- ples e clara, sem nunca perder o rigor científico. É complementado com fotografias ou ilustrações que facilitam a compreensão dos conteúdos. Os conceitos fundamentais são resumidos na sec- ção «A RETER», sob a forma de texto ou esquema. Na disciplina de Biologia e Geologia, os conteúdos serão explo- rados em dois manuais. Para mais facilmente perceber como poderá tirar partido deste manual, fazemos agora uma breve apresentação da sua estrutura. No manual são desenvolvidas quatro unidades, organizadas da seguinte forma: Jorge Ferreira e Manuela Ferreira Consultor Científico: Carlos Ribeiro Planeta com Vida GEOLOGIA (Volume 2) 11 an ano G eo lo gi a B io lo gi a e Cristina Carrajola, Maria José Castro e Teresa Hilário Consultores Científicos: Ana Isabel Correia e Rui Gomes Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) 11 an ano G eo lo gi a B io lo gi a e 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 2 3 Páginas informativas No desenvolvimento da unidade propõem-se activi- dades que visam a aplicação dos conhecimentos adqui- ridos, actividades experimentais e saídas de campo. Palavras-chave e síntese No fim de cada unidade, apresentam-se os termos mais importantes, de acordo com o programa, e uma síntese dos respectivos conteúdos. Actividades As actividades iniciam-se com um diagrama de con- ceitos, cujo grau de dificuldade aumenta progressiva- mente ao longo do manual. Os exercícios propostos, desenvolvidos a partir da exploração de fotografias e gráficos, entre outros docu- mentos, relacionam diferentes conteúdos da unidade. Jogo de simulação e CTSA Nestas páginas, são propostas actividades de explo- ração e discussão de documentos e situações reais que evidenciam a importância do desenvolvimento da Ciência e da tecnologia, no dia-a-dia, na sociedade e no ambiente. Páginas informativas Apresentam-se também curiosidades e aprofundam- -se alguns temas, promovendo o debate e facilitando a compreensão dos conteúdos. Os termos fundamentais são traduzidos para inglês, como forma de ajudar na realização de pesquisas e na investigação a partir de outras fontes de informação. 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 3 Crescimento e renovação celular p. 8 Crescimento e renovação celular p. 12 DNA e síntese proteica p. 12 Mitose p. 37 ACTIVIDADES p. 45 Crescimento e renovação dos tecidos versus diferenciação celular p. 48 ACTIVIDADES p. 55 CTSA p. 56 5 2 5 1 2 5 1 1 5 1 4 ÍNDICE 5unidade 6unidade Reprodução p. 58 Reprodução assexuada p. 62 Estratégias reprodutoras p. 62 ACTIVIDADES p. 73 Reprodução sexuada p. 75 Meiose e fecundação p. 76 Reprodução sexuada e variabilidade p. 85 ACTIVIDADES p. 92 Ciclos de vida: unidade e diversidade p. 94 ACTIVIDADES p. 105 JOGO DE SIMULAÇÃO p. 108 CTSA p. 109 6 3 6 2 2 6 2 1 6 2 6 1 1 6 1 BIOLOGIA A vida e os seres vivos 919354 001-007_Indice 31/1/08 14:35 Page 4 5 7unidade Evolução biológica p. 112 Unicelularidade e multicelularidade p. 116 ACTIVIDADES p. 128 Mecanismos de evolução p. 129 ACTIVIDADES p. 159 JOGO DE SIMULAÇÃO p. 163 CTSA p. 164 7 2 7 1 8unidade Sistemática dos seres vivos p. 166 Sistemas de classificação p. 170 Diversidade de critérios p. 177 Taxonomia e nomenclatura p. 183 ACTIVIDADES p. 191 Sistema de classificação de Whittaker modificado p. 193 ACTIVIDADES p. 211 CTSA p. 214 ANEXOS p. 216 GLOSSÁRIO p. 220 BIBLIOGRAFIA p. 223 8 2 8 1 2 8 1 1 8 1 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 5 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 6 BIOLOGIA A vida e os seres vivos Como explicar a grande diversidade dos seres vivos? 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 7 5unidade 8 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 008-035_U5 31/1/08 14:36 Page 8 Crescimento e renovação celular Crescimento e renovação celular 12 5 1 Crescimento e renovação dos tecidos versus diferenciação celular 48 5 2 Que processos são responsáveis pela unidade e pela variabilidade celular? Como explicam o crescimento dos seres vivos? 919354 008-035_U5 31/1/08 14:36 Page 9 A D E F 5unidade Crescimento e renovação celular 1. Classifique as afirmações seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F). A — O DNA de um indivíduo altera-se ao longo do tempo. B — O DNA de um indivíduo é igual em todas as suas células, excepto nas reprodutoras. C — A produção de proteínas na célula não depende do seu DNA. D — Na Natureza, existe clonagem. E — No ser humano, a divisão celular termina no final da adolescência. F — Uma célula pode manter-se viva sem DNA, contudo não se divide. G — Todas as células com núcleo têm capacidade de divisão. H — O DNA tem um papel fundamental na manutenção da vida da célula. I — A constituição e a estrutura do DNA são diferentes nos seres procariontes e nos eucariontes. J — O crescimento dos seres vivos implica a ocorrência de divisão celular. O QUE JÁ SABE, OU NÃO... B C O que permitirá explicar a diversidade de formas e funções de células de um mesmo organismo? Às vezes, a observação de uma determinada célula, durante um curto período de tempo, pode revelar grandes mudanças no seu interior. O que se estará a passar? G H De que modo se relaciona a informação contida no DNA com o aspecto de um ser vivo? 10 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 10 Um dos desafios que os cientistas têm vindo a enfrentar é o de explicar como é que, a partir de uma única célula inicial, o ovo, se origina um indivíduo adulto multicelular, diferenciado e funcional. A história da Biologia do século XX, e certamente a do século XXI, procura responder claramente a questões como: — Onde e de que forma se encontram registadas as instruções para a construção da célula? — O que determina e comanda as divisões celulares? — Por que razão, à medida que o indivíduo acumula células, estas, apesar de serem cópias umas das outras, se tornam cada vez mais diversas e se organizam em órgãos, que, no seu conjunto, formam seres dinâmicos, coordenados e funcionais? — O que fará com que algumas células deixem de cumprir regras estipuladas, dando início ao desenvolvimento de tumores? Fig. 1 No núcleo das células dos eucariontes, o DNA está localizado nos cromossomas, que, em determinados momentos da vida celular, são bem visíveis. INTRODUÇÃO Embora ainda não exista resposta exacta para todas estas questões, não há dúvida de que uma molécula muito especial ocupa um papel central no processo de crescimento e renovação celular — o DNA (Fig. 1). Sabe-se, hoje, que cabe a esta molécula a responsabilidade tanto da divisão celular comodo controlo da actividade da própria célula. u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 11 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 11 12 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 5 1 Crescimento e renovação celular […] uma dupla totalmente ignorante da química dos nucleótidos, desejosa de encaixar o DNA numa hélice. […] Ao pensar nos anos suados na preparação de ácidos nucleicos e nas horas sem conta gastas na sua análise, não pude deixar de me sentir desconcertado. ERWIN CHARGAFF, acerca de Watson e Crick DNA e síntese proteica Apesar de, já em 1869, Miescher, após ter trabalhado com gló- bulos brancos de pus humano, ter identificado uma molécula exclusiva do núcleo, constituída por C, H, O, N e P, que designou por nucleína e que não é mais do que o actualmente conhecido DNA, só muitos anos mais tarde vieram a ser atribuídos a esta molécula os papéis que hoje lhe conhecemos. Como se chegou ao modelo do DNA e ao conhecimento da sua importância? Nas décadas de 20 e 30 do século passado, os bioquímicos, além de já conhecerem o DNA, sabiam que no núcleo das células exis- tiam cromossomas (Fig. 2); sabiam que estes continham DNA e pro- teínas; sabiam, ainda, que o metabolismo celular resultava da actuação equilibrada de enzimas e que estas eram produzidas a partir de informações contidas no núcleo, melhor dizendo, nos cromossomas. Inferiram, então, ainda que não houvesse comprova- ção experimental, que o núcleo deveria conter exemplares de cada enzima/proteína da célula. À medida que a célula necessitasse, seriam feitas cópias. Ao DNA caberia a função de proporcionar uma estrutura sobre a qual se dispunha a «colecção» de proteínas. A inversão destas suposições ficou a dever-se a uma série de experiências científicas. 5 1 1 Fig. 2 Aspecto de um cromossoma humano fotografado ao ME (A) e montagem fotográfica de microscopia óptica do cariótipo (conjunto dos cromossomas) de uma célula humana (B). A B Cromatídeo Centrómero 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 12 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 13 EXPERIÊNCIA DE GRIFFITH (1928) 1. Analise a experiência realizada por Griffith, em 1928, e responda às questões. Interessado em conhecer o modo de actuação dos pneumococos, bactérias que provocam a pneumonia, e sabendo da existência de duas estirpes distintas da espécie Streptococcus pneumoniae, a forma R (com aspecto rugoso e não virulenta) e a forma S (de aspecto liso e altamente virulenta), Griffith idealizou a experiência seguinte: Método ACTIVIDADE Resultados 1.1 Com base nos dados da figura, justifique as designações de: a) virulenta, atribuída à forma S; b) não virulenta, atribuída à forma R. 1.2 Griffith concluiu, a partir da análise dos resultados desta experiência, que existia nas bactérias S um «princípio transformante» capaz de alterar as bactérias R. Comente as suas conclusões. 1.3 É possível identificar, com base na interpretação desta experiência, a molécula responsável pela determinação das características da célula? Justifique a sua resposta. Griffith provou com a sua experiência que, algures numa célula, existe uma substância química que permanece intacta após a morte celular e que é capaz de determinar o destino (as características) da mesma. Porém, continuou por identificar a natureza química deste «princípio transformante». A B C D O rato morre. Foram encontradas bactérias S vivas no sangue. Formas S vivas (virulentas). Formas R vivas (não virulentas). As formas S virulentas foram mortas pelo calor. As formas R vivas foram misturadas com formas S mortas. O rato sobrevive. Não foram encontradas bactérias no sangue. O rato sobrevive. Não foram encontradas bactérias no sangue. O rato morre. Foram encontradas bactérias vivas no sangue. Fig. 3 Experiência do microbiólogo britânico Frederick Griffith. A B C D 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 13 14 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Apesar de os resultados obtidos por Avery, Mac Leod e Mac Carthy, em 1944, não deixarem dúvidas quanto ao papel da molécula de DNA, a evidência obtida é apenas indirecta, por exclusão de par- tes. A comunidade científica da época não estava preparada para elevar o DNA à categoria de molécula responsável pelo comando da vida celular. Foram necessários mais alguns anos, novos conhe- cimentos e novas experiências para tal ocorrer. EXPERIÊNCIA DE AVERY, MAC LEOD E MAC CARTHY (1944) 1. Dando continuidade à experiência de Griffith, Avery e os seus colaboradores conceberam e aplicaram a experiência seguinte. Analise-a e responda às questões. Método Resultados 1.1 Identifique o objectivo de Avery e seus colaboradores ao executar esta experiência. 1.2 Para cada uma das montagens, A, B e C: a) identifique as biomoléculas presentes no inoculado; b) refira a hipótese que se pretende testar. 1.3 Qual é a conclusão que pode ser tirada desta experiência? ACTIVIDADE Streptococcus pneumoniae R vivas + Princípio transformante(1) sujeito a actuação prévia de protéases(2) Streptococcus pneumoniae R vivas + Princípio transformante(1) sujeito a actuação prévia de polissacarases(3) Streptococcus pneumoniae R vivas + Princípio transformante(1) sujeito a actuação prévia de protéases(2) e de polissacarases(3) A B C Fig. 4 Experiência de Avery, Mac Leod e Mac Carthy. (1) O princípio transformante foi obtido a partir de bactérias da estirpe S mortas e sujeito a métodos de extracção à base de álcool, que destrói os lípidos da célula. (2) As protéases são enzimas que destroem as proteínas. (3) As polissacarases são enzimas que destroem os polissacáridos. O rato morre. O rato morre. O rato morre. 919354 008-035_U5 31/1/08 14:38 Page 14 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 15 EXPERIÊNCIA DE HERSHEY E CHASE (1952) 1. Analise a experiência seguinte, leia atentamente os dados fornecidos e resolva as questões propostas. Método Resultados 1.1 Justifique a utilização de meios contendo alternadamente S ou P radioactivos. 1.2 Interprete os resultados obtidos por Hershey e Chase, comparando-os com os que foram obtidos por Avery e seus colaboradores. ACTIVIDADE Os fagos cresceram em meio contendo P radioactivo. Os fagos cresceram em meio contendo S radioactivo. Dados: A — O modelo biológico usado nesta experiência foram os fagos, vírus que infectam as bactérias e se replicam dentro destas, acabando por as destruir passado pouco tempo. B — Os vírus são observáveis só ao microscópio electrónico. São constituídos apenas por proteínas e por um ácido nucleico, normalmente o DNA. C — Os fagos injectam o seu DNA na célula hospedeira, deixando a sua cápsula proteica de fora. O material que penetra na bactéria utiliza as moléculas desta para fazer várias cópias suas. D — As proteínas contêm S, além de C, H, O e N, enquanto o DNA contém P, além de C, H, O e N. E — A utilização de átomos radioactivos permite acompanhar o seu percurso na célula. Os vírus marcados infectaram as bactérias. Após pouco tempo de centrifugação, os restos dos vírus foram separados das bactérias infectadas. Por centrifugação, obtiveram-se dois estratos: no fundo, as bactérias infectadas, e, por cima, o sobrenadante com os restos virais. Com as experiências de Hershey e Chase, foi definitivamente aceite pela comunidade científica que o DNA é a molécula que con- tém a informação para a organização e o funcionamento da célula. Estava-se, contudo, ainda longe de saber de que forma os constituin- tes desta molécula (já todos conhecidos na época) se organizam. A maior parte do P radioactivo aparece no depósito das bactérias. A maior parte do S radioactivo aparece no fluido sobrenadante. Fig. 5 Experiência de Hershey e Chase. Depósito Fluido sobrenadante A experiência de Hershey e Cha- se ficou conhecida pela marca de uma batedeira, Warning, por- que, na ausência de material laboratorial muito sofisticado,foi esta batedeira de uso doméstico, emprestada por um colega de laboratório, que lhes permitiu separar os vírus (sobrenadante) das bactérias (sedimento). CURIOSIDADE A B 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 15 16 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Em 1950, Chargaff, após a realização de experiências extrema- mente rigorosas, tinha conseguido isolar e quantificar as bases azo- tadas de amostras de DNA de organismos diferentes. Das suas experiências pôde concluir aquilo que ficaria conhecido por Regras de Chargaff, e que, resumidamente, são: • o DNA de indivíduos diferentes apresenta quantidades dife- rentes de cada uma das bases azotadas (adenina, timina, gua- nina e citosina); • em todas as moléculas de DNA, a quantidade de bases púri- cas (bases de duplo anel, guanina e adenina) é igual à quan- tidade de bases pirimídicas (bases de anel simples, timina e citosina), sendo a quantidade de adenina igual à de timina, e a quantidade de citosina igual à de guanina. Não tendo um impacto imediato, as conclusões de Chargaff são, contudo, a base para a explicação dos processos vitais coman- dados pelo DNA — a sua própria replicação e a síntese proteica. Mais ou menos na mesma altura, a jovem física Rosalind Franklin (Fig. 6) dedicava-se a fotografar biomoléculas com técnicas de difracção de raios X. Utilizando amostras extremamente purifi- cadas de DNA, obteve fotografias do mesmo, que ajudaram a per- ceber a natureza helicoidal da estrutura desta molécula. Em 1953, o biólogo James Watson e o físico e bioquímico Francis Crick (Fig. 7), apoiados nas conclusões obtidas por Chargaff, Franklin e outros, propuseram, em trabalho publicado na revista Nature, um modelo para a molécula de DNA — a dupla hélice: duas cadeias polinucleotídicas com as estruturas de fosfato e açúcar viradas para o exterior, e as bases complementares, unidas por ligações por pontes de hidrogénio, a ocupar o interior da hélice. Pela publicação do seu traba- lho, viriam a receber, em 1962, o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina, dando início a uma nova era na Biologia. A B Fig. 6 Rosalind Franklin (A), cientista que obteve as fotografias por difracção de raios X da molécula de DNA (B). Fig. 7 Watson e Crick, ao lado do modelo de DNA por eles idealizado. Na molécula de DNA, a quantidade de bases púricas (adenina e guanina) é igual à das bases pirimídicas (timina e citosina). A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 16 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 17 ACTIVIDADE OS CONTRIBUTOS PARA OS TRABALHOS DE WATSON E CRICK 1. Analise o texto e comente a necessidade de haver um intercâmbio de informação científica acerca das várias matérias actualmente em estudo. «Crick e Watson não eram verdadeiros especialistas em nenhuma das áreas da Ciência que se juntaram para dar uma imagem da dupla hélice. Donohue sabia mais acerca das formas das moléculas e sobre as pontes de hidrogénio; Franklin era melhor em cristalografia dos raios X; Chargaff compreendeu as relações entre as bases, e assim por diante. Mas, em particular, a contribuição de Watson consistiu na capacidade de ver o aspecto do conjunto, de reunir o que era necessário, proveniente de várias disciplinas especializadas, e aparecer com algo de novo, que era maior do que a soma das partes e que nenhum dos especialistas foi capaz de compreender, pois viam apenas as árvores sem se aperceberem da floresta.» JOHN GRIBBIN, À Procura da Dupla Hélice (adaptado) DNA DNA RNA RNA nucleótido nucleotide ribose ribose desoxirribose deoxyribose base azotada nitrogenous base Ácidos nucleicos — constituição Os ácidos nucleicos, DNA e RNA, são polímeros constituídos por monómeros denominados nucleótidos. Os nucleótidos (Fig. 8) são constituídos por um açúcar (uma pentose), ligado pelo carbono 5 a um ácido fosfórico e pelo carbo- no 1 a uma base azotada. A um nucleótido sem o grupo fosfato (conjunto formado pela pentose e pela base azotada) é atribuída a designação de nucleósido. Nos nucleótidos de RNA, a pentose encontrada é a ribose, enquanto nos nucleótidos de DNA é a desoxirribose. É a presença destas pentoses distintas que justifica os nomes atribuídos aos áci- dos: ácido ribonucleico (RNA) e ácido desoxirribonucleico (DNA). Existem cinco tipos de bases azotadas agrupadas em duas categorias: as bases púricas, de duplo anel, e as bases pirimídi- cas, de anel simples. PFosfato O O– –O O OCH2 H H H OH H OH 5' 4' 3' 2' 1' β Pentose Base azotada Fig. 8 Configuração geral de um nucleótido. Os ácidos nucleicos são formados por nucleótidos que possuem um açúcar (pentose), um ácido fosfórico e uma base azotada. A RETER O açúcar (pentose) do RNA é a ribose, e o açúcar do DNA é a desoxirribose. A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 17 18 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s No DNA e no RNA encontram-se duas bases púricas diferentes, a adenina e a guanina, e duas bases pirimídicas: • citosina e timina, no DNA; • citosina e uracilo, no RNA. É possível encontrar oito tipos diferentes de nucleótidos (Fig. 9) (quatro em cada tipo de ácido nucleico). Os vários nucleótidos ligam-se entre si formando cadeias polinucleotídicas (Fig. 10). Estas ligações de natureza covalente designam-se por ligações fosfodiéster e envolvem o carbono 3 de um nucleótido e o carbono 5 do nucleótido seguinte. P O O– –O O OCH2 NH2 H H H OH H H N N NN P O O– –O O OCH2 NH2 H H H OH H H HN H2N N NN P O O– –O O OCH2 O O H H H OH H H HN CH3 N P O O– –O O OCH2 NH2 O H H H OH H H N N A Desoxirribonucleótido de adenina. Desoxirribonucleótido de guanina. Desoxirribonucleótido de timina. Desoxirribonucleótido de citosina. P O O– –O O OCH2 NH2 H H H OH H OH N N NN P O O– –O O OCH2 O H H H OH H OH HN H2N N NN P O O– –O O OCH2 O O H H H OH H OH HN N P O O– –O O OCH2 NH2 O H H H OH H OH N N B Ribonucleótido de adenina. Ribonucleótido de guanina. Ribonucleótido de uracilo. Ribonucleótido de citosina. Fig. 9 Diversidade de desoxirribonucleótidos (A) e de ribonucleótidos (B). CA A C T TG GT T Nucleótido Cadeia polinucleotídica Ácido fosfórico Base azotada Pentose Fig. 10 Aspecto de uma cadeia polinucleotídica. As bases azotadas do RNA são a adenina, a citosina, a guanina e o uracilo. No DNA, podem encontrar-se as três primeiras e, ainda, a timina. A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 18 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 19 DNA — ácido desoxirribonucleico No DNA, uma cadeia polinucleotídica emparelha (liga-se) com uma outra, formando uma estrutura em dupla cadeia. A união entre as duas cadeias é estabelecida através de ligações por pontes de hidrogénio entre as bases complementares de cadeias opostas (a adenina estabelece duas ligações com a timina, e a guanina esta- belece três ligações com a citosina). Para que o plano de complementaridade das bases seja estabe- lecido, as cadeias apresentam-se orientadas em sentido oposto, isto é, são antiparalelas. Assim, enquanto uma cadeia apresenta o car- bono 5 (C5 ou extremidade 5’) livre numa extremidade da molé- cula, a outra cadeia apresenta o carbono 3 (C3 ou extremidade 3’) livre, passando-se o inverso na extremidade oposta do DNA. A ESTRUTURA DA MOLÉCULA DE DNA 1. Analise a figura, que representa o modelo de DNA como hoje é aceite, e responda às questões. 1.1 Apresente uma justificação para: a) as regras de Chargaff; b) o diâmetro constante do DNA; c) o facto de no DNA, molécula viscosa, a viscosidade diminuir quando é sujeita a aquecimento, sabendo que este mesmo método destrói ligações por pontes de hidrogénio; d) o facto de a uma maior quantidade de guanina, numa molécula de DNA, corresponder uma maior quantidade de energia necessária para separar as duas cadeias. 1.2 Estabeleça uma relação entre a posição ocupada pelas bases azotadas na molécula de DNA eo seu carácter hidrofóbico. ACTIVIDADE 5’ 5’ 5’ 3’ 3’ 3’ 5’ 3’ 5’ 5’ 3’ 3’ 5’ 3’ 5’ 3’ AT A T CG – O OP O H2C H2C H H H H H GC OH OPO3 – OHOPO3 – 3’ 5’ O – O P O O H H H H O H N H C O O O O C HC CH3 N C O O T N N N CH CH HC CC N N C N A H H H – O OP O O H2C H H H H H O H2C H H H H H O – O OP O H2C H2C H H H H H O – O P O H H H H H N H H C O OC HC N CO O C N N N CHCC N N N C N G H H H H H O CC N C N C N N N N N C C C N C G H H H H H H O – O P O O O – O P O O O CH HC–O OP O O H2C H H H H HO O H2C H H H H H O CC N C N T N N O N N C C C N C A H CH2 H H Fig. 11 Aspecto da dupla cadeia do DNA. Cada fosfato liga-se ao C3 de um açúcar e ao C5 de outro açúcar. As ligações por pontes de hidrogénio (representadas a vermelho) entre as bases complementares mantêm as duas cadeias unidas. Na molécula de DNA, ocorre emparelhamento de bases: adenina com timina, e citosina com guanina. A RETER � � � � � 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 19 20 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A molécula de DNA é formada por duas cadeias polinucleotídicas, antiparalelas e enroladas em hélice. A RETER O DNA tem uma estrutura tridimensional, como as fotografias de Franklin demonstraram. O ângulo de ligações entre as bases azotadas obriga a molécula a «torcer-se», adquirindo, assim, a forma de uma hélice (Fig. 12). As moléculas de DNA são únicas na sua composição geral e na estrutura. Nas várias células somáticas de um mesmo indivíduo, elas são, em condições normais, exactamente iguais. Em diferentes indivíduos, o DNA pode variar no número de nucleótidos, na per- centagem relativa das quatro bases e na sequência com que estas se apresentam. RNA — ácido ribonucleico As moléculas de RNA são sintetizadas no núcleo, por comple- mentariedade, a partir do molde de uma cadeia do DNA. Esta síntese é possível porque existe complementaridade entre as bases dos nucleótidos do RNA e as do DNA (A-U/T-A/G-C). Nas células, podemos encontrar três tipos diferentes de RNA: o RNA mensageiro (mRNA), o RNA ribossómico (rRNA) e o RNA de transferência (tRNA). O mRNA é uma molécula de cadeia simples e de vida curta. É sintetizado no núcleo, a partir de uma porção de DNA (gene), que é transcrita e em seguida migra para o citoplasma, onde participa na síntese de uma dada proteína e se desintegra depois. Durante a vida da célula existem pelo menos tantos mRNA quantos os tipos de proteínas que a mesma produz. O rRNA é uma molécula de cadeia simples que se apresenta enrolada e juntamente com proteínas, constitui os ribossomas, organitos citoplasmáticos onde ocorre a etapa final da síntese pro- teica. Fig. 12 Estrutura tridimensional do DNA, onde é visível o seu aspecto de hélice. 3,41 nm 0,34 nm 2 nm C G CG C G CG C G CG C G C G A T AT AT A A T A T 5’ 3’ 5’ 3’ Existem três tipos diferentes de RNA: o mensageiro (mRNA), o de transferência (tRNA) e o ribossómico (rRNA). A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 20 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 21 anticodão anticodon núcleo nucleus membrana nuclear nuclear envelope O tRNA apresenta uma estrutura tridimensional que resulta de a sua única cadeia se enrolar e, em determinados locais, estabelecer ligações por pontes de hidrogénio entre bases complementares de nucleótidos inicialmente afastadas (Fig. 13). Há vários tRNA no citoplasma das células, tendo cada um deles capacidade de se ligar a um único aminoácido. A estrutura típica de um tRNA apresenta dois locais característi- cos: a extremidade 3’, que termina em todos os tRNA com a sequência CCA, através da qual este se liga ao aminoácido; um conjunto de três nucleótidos, designados por anticodão, diferentes em cada tRNA, e que determina o aminoácido a que este se pode ligar. É através do anticodão que o tRNA emparelha temporariamente com mRNA. É possível estabelecer um quadro comparativo dos ácidos nucleicos: Nos últimos anos foram identificados novos tipos de moléculas de RNA, globalmente conhecidos por pequenos RNA devido às suas dimensões. Sabe-se que desempenham um papel fundamental na regulação da expressão dos genes. No entanto, continua por esclarecer o seu modo específico de actuação. DNA — localização e organização do DNA na célula Nas células eucarióticas, o DNA encontra-se no núcleo. Este organito celular é envolvido por uma dupla membrana — membra- na nuclear — que apresenta continuidade com as restantes mem- branas da célula, nomeadamente com o retículo endoplasmático. A C C Fig. 13 Representações do tRNA. Local de ligação ao aminoácido, sempre CCA. Pontes de hidrogénio entre bases complementares. Anticodão, constituído por três bases, local de ligação ao mRNA. ÁCIDOS NUCLEICOS Características DNA mRNA, rRNA e tRNA Pentose Bases azotadas Percentagem das bases Estrutura Variedade Localização Período de duração Desoxirribose A, T, G, C A=T e G=C Cadeia dupla Um só tipo Núcleo, mitocôndria e cloroplasto Longa Ribose A, U, G, C Variável Cadeia simples Três tipos: mRNA, tRNA e rRNA Núcleo e citoplasma Curta 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 21 A dupla membrana nuclear é atravessada por poros — poros nucleares —, que facilitam a circulação de algumas moléculas entre o núcleo e o citoplasma. A membrana nuclear, estável na maior parte da vida celular, desintegra-se, contudo, quando a célula se prepara para se dividir, reconstituindo-se no final da divisão celular. Dentro do núcleo é possível observar ainda uma estrutura típi- ca, o nucléolo (Fig. 14), que está implicado na formação dos ribos- somas, e um fluido rico em substâncias variadas, o nucleoplasma. 22 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s cromossoma chromosome centrómero centromere cromatídeo chromatid cariótipo karyotype Nucleossoma (10 nm de diâmetro) Histonas Dupla hélice de DNA (2 nm de diâmetro) Fig. 15 Organização do DNA no interior das células eucarióticas. A molécula de DNA pode encontrar-se no núcleo, associada a proteínas, formando a cromatina. A RETER Cromatídeo Centrómero Cromossoma 700 nm � � � ��� Fig. 14 Núcleo de uma célula visto ao microscópio electrónico. Membrana nuclear Núcleo Nucléolo Retículo endoplasmático rugoso O DNA é uma molécula muito grande e encontra-se dentro do núcleo, que é relativamente pequeno (por exemplo, estima-se que o DNA humano meça cerca de 2 m, enquanto o núcleo das respec- tivas células mede 0,5 �m de diâmetro). Este facto só pode ser explicado se o DNA se encontrar densamente compactado. No núcleo, esta molécula está associada a proteínas específicas, as his- tonas, formando a cromatina. As histonas desempenham um papel fundamental, oferecendo uma estrutura que, por um lado, assegura o compactamento do DNA (Fig. 15) e, por outro lado, esta- biliza as suas cargas negativas, conferidas pelos ácidos fosfóricos, dado que estas proteínas apresentam cargas positivas. Em determinados momentos da vida das células, relacionados com o processo de divisão celular, a cromatina sofre uma forte con- densação. Nessa altura é possível observar que ela é composta, dependendo do organismo, por uma ou mais entidades distintas, denominadas cromossomas. A cromatina pode ser constituída apenas por uma molécula de DNA; contudo, para preparar a divisão celular, esta cadeia dupla forma uma cópia de si própria. Inicialmente, as duas moléculas mantêm-se unidas, ligadas por proteínas, as coesinas. Em determinado momento do ciclo celular, as coesinas são removidas quase na totalidade, fican- do restrita a um pequeno local — o centrómero. Esta constrição primária do cromossoma mantém unidas as duas moléculas de DNA, que, nesta fase, se encontram altamente condensadas. É, então, possível observar nitidamente os cromossomas (ao MOC), constituí- dos por dois braços — os cromatídeos — unidos pelo centrómero.O conjunto de todos os cromossomas de uma célula constitui o cariótipo. 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 22 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 23 EXTRACÇÃO DE DNA DA BANANA Material • Banana. • Caixa de Petri. • Sal de cozinha. • Banho-maria. • Água destilada. • Espátulas. • Álcool comercial a 96º. • Vidro de relógio. • Pacote de 250 mL de sumo de ananás. • Vareta de vidro. • Detergente líquido para loiça • Pipetas de 5 e 20 mL. (preferencialmente incolor). • Frigorífico com congelador. • Gobelés de 250 mL. • Bisturi. • Provetas de 10, 20, 50 e 100 mL. • Tubo de ensaio grande. • Gaze. • Suporte de tubos de ensaio. • Funil. Procedimento 1 — Coloque o álcool no frigorífico para que arrefeça bem. 2 — Pese 50 g de banana cortada em rodelas numa caixa de Petri. 3 — Com uma espátula, macere a banana. 4 — Pese 3 g de sal num vidro de relógio. 5 — Num gobelé de 250 mL, coloque 90 mL de água destilada aquecida a 60 ºC. 6 — Dissolva o sal na água e adicione 10 mL de detergente, mexendo lentamente. 7 — Junte a banana macerada à solução salina com detergente e mexa lentamente durante alguns minutos. 8 — Coloque a gaze num funil e filtre o preparado obtido para um gobelé (Fig. 16). 9 — Ao filtrado obtido (120 mL), adicione 25 mL de sumo de ananás. 10 — Meça 20 mL do preparado anterior para um tubo de ensaio. 11 — À solução filtrada adicione, muito lentamente, 20 mL de álcool frio, com o tubo de ensaio ligeiramente inclinado. Deve distinguir-se uma fase alcoólica (sobrenadante) e uma fase aquosa (inferior). 12 — Deixe repousar cerca de 5 minutos. 13 — Começará a ver um novelo branco a formar-se no sobrenadante alcoólico (Fig. 17). É o DNA! ACTIVIDADE LABORATORIAL Fig. 16 Etapa 8 do procedimento: filtração. Não se esqueça de: • usar bata; • cumprir as regras de segurança do laboratório. Fig. 17 Etapa 13 do procedimento: o DNA sobre a mistura efectuada. O DNA das células procarióticas é mais pequeno, mais simples e, normalmente, restringe-se a uma única molécula circular, não associada a histonas. Nas células eucarióticas, além do DNA nuclear, é possível encon- trar ainda DNA no interior das mitocôndrias e dos cloroplastos, designando-se respectivamente por DNA mitocondrial e DNA plasti- dial. Estas moléculas, apesar de se encontrarem no interior de células eucarióticas, são em tudo semelhantes ao DNA dos procariontes. 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 23 24 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Discussão 1 — Que substância foi adicionada, no decurso da experiência, para neutralizar a carga negativa do DNA e facilitar a extracção? 2 — O que se fez para ajudar a quebrar mecanicamente as membranas das células? 3 — Que substância, contendo enzimas, foi adicionada para ajudar à destruição da bicamada fosfolipídica das membranas celulares? 4 — Qual é a substância em que o DNA é insolúvel e que, por isso, provoca a sua precipitação e visualização? 5 — Que aspecto apresenta o DNA extraído? Nota: Este protocolo poderá aplicar-se, com obtenção de resultados evidentes, noutro tipo de matéria vegetal (cebola, ervilhas, morango e favas) ou, ainda, em matéria animal (salmão, fígado e timo). O conhecimento cada vez mais profundo da estrutura e do funcionamento da molécula de DNA tem permitido ao Homem perceber que o pode manipular e utilizar na resolução de inúmeros problemas da vida quotidiana. • Descubra algumas das aplicações das tecnologias relacionadas com a manipulação do DNA, recorrendo a fontes variadas (jornais, revistas e livros) e/ou aos sítios da Internet a seguir sugeridos (ou a outros que achar interessantes): http://www.sobresites.com/ciencia/dna.htm http://www.iq.usp.br/disciplinas/dbq/dnata/apresentacao/patern.htm http://orbita.starmedia.com/jurifran/ajdna.html • Apresente as suas pesquisas sob a forma de um cartaz, a afixar fora da sala de aula, onde deve referir: a técnica, a aplicação da mesma e as fontes bibliográficas ou da Internet. Poderá contribuir para que os seus colegas aprofundem os seus conhecimentos sobre este assunto, desenvolvido em inúmeras séries televisivas, a que provavelmente muitos gostarão de assistir. PESQUISAR E DIVULGAR 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 24 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 25 Quais são as funções do DNA? O DNA é a molécula que contém a informação para todas as actividades da célula. Uma vez que as células se dividem, é necessá- rio que a molécula de DNA consiga transmitir às células-filhas a informação que possui. Por outro lado, é esta molécula que permite a obtenção das diferentes proteínas necessárias para a constituição e o funcionamento celulares. O processo de duplicação da molécula de DNA, designado por replicação, origina, no final, duas moléculas exactamente iguais à molécula-mãe (pois só desta maneira é preservada a informação). Replicação Quando Watson e Crick propuseram o seu modelo para a molécula do DNA (em dupla hélice), propuseram também um mecanismo simples para a duplicação da molécula do DNA. Teoricamente, este processo poderia ocorrer por três métodos diferentes: a replicação poderia ser semiconservativa, conservativa e dispersiva. A molécula de DNA é capaz de se duplicar em duas, exactamente iguais — replicação. A RETER replicação replication EXPERIÊNCIAS DE MESELSON E STAHL 1. Em 1957, dois investigadores, Meselson e Stahl, realizaram uma série de experiências na tentativa de descobrir o processo da replicação. Analise os dados e os resultados obtidos e responda às questões. ACTIVIDADE Hipótese 1 Replicação semiconservativa Hipótese 2 Replicação conservativa Hipótese 3 Replicação dispersiva Molécula parental 1.ª geração de moléculas-filhas 2.ª geração de moléculas-filhas Fig. 18 As hipóteses para o processo da replicação. 919354 008-035_U5 09/03/27 12:54 Page 25 26 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Estes investigadores utilizaram, como material biológico, bactérias da espécie Escherichia coli. Um grupo de bactérias foi cultivado durante várias gerações em meio com 14N, e outro grupo, num meio contendo 15N (um isótopo pesado de N). Ao isolarem e centrifugarem o DNA das duas amostras, Meselson e Stahl confirmaram a existência de duas bandas diferentes (Fig. 19A) no tubo da centrífuga. As bactérias do meio com 15N foram transferidas, em seguida, para um meio de cultura contendo azoto leve (14N), onde permaneceram durante o tempo necessário à sua divisão. Quando isolaram e centrifugaram o DNA dessas células, os investigadores verificaram que este apresentava densidade intermédia no tubo da centrífuga (Fig. 19B). As bactérias permaneceram ainda durante outra geração no meio de cultura com 14N, tendo depois sido isolado e centrifugado o seu DNA (Fig. 19C). 1.1 Refira as diferenças existentes entre os modelos apresentados na figura 18. 1.2 Como se apresentam, no tubo da centrífuga, as bandas das cadeias de DNA formadas depois da segunda divisão? 1.3 Represente os resultados que seria previsto obter ao fim de outra geração. 1.4 Identifique a hipótese de replicação que é apoiada pelos resultados apresentados nos tubos da centrífuga. 15N15N 14N14N 15N14N 15N14N 14N14N A B C Fig. 19 Resultados da experiência de Meselson e Stahl. DNA 14N14N e 15N15N centrifugado. Ao fim de uma geração DNA 15N14N centrifugado. Ao fim de duas gerações. Fig. 20 Replicação do DNA: cadeias pesadas (A); cadeias intermédias (B); cadeias leves (C). Os resultados das experiências indicam que o DNA se duplica por síntese semiconservativa. A RETER Ao observar atentamente os resultados obtidos pelos investiga- dores, verifica-se que aqueles estão de acordo com a hipótese semi- conservativa, que refere que, numa molécula de DNA, cada cadeia- -mãe serve de molde para a síntese de uma cadeia-filha. Ao fim de uma replicação. No fim da segunda replicação. A B B B C C B 919354 008-035_U5 6/16/08 3:05 PM Page 26u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 27 O DNA humano replica cerca de 50 bases por segundo. CURIOSIDADE Qual é o mecanismo de replicação do DNA? O processo de replicação do DNA é bastante complexo e envol- ve a participação de várias enzimas, pois a molécula tem de sofrer desenrolamento, separação de cadeias e construção das novas cadeias. A DNA polimerase é a enzima mais importante neste processo, promovendo: • a formação de ligações por pontes de hidrogénio entre bases complementares (A com T e G com C); • a ligação do açúcar de um nucleótido com o fosfato do nucleótido seguinte; • a correcção de erros que possam existir. Cada cadeia-mãe serve de molde para a replicação, sendo os nucleótidos adicionados por complementaridade de bases e sempre inseridos no sentido 5’–3’. Devido ao antiparalelismo da cadeia de DNA parental, as cadeias-filhas não crescem da mesma forma: a cadeia que copia a cadeia 3’–5’ forma-se de modo contínuo; a cadeia que copia a cadeia 5’–3’ forma-se de modo descontínuo, em pequenas porções, que são depois ligadas pela enzima DNA ligase (Fig. 21). A replicação do DNA assegura que todas as células somáticas de um ser vivo pluricelular tenham a mesma informação genética. P 5’ P A T P P G C C P P A T P P G P P A T P P C G P P A T P P 5’ 3’ T A OH OH 3’ Fig. 21 Replicação do DNA. Cadeias complementares Cadeia-filha DNA ligase DNA polimerase Extremidade 3’ Extremidade 5’ Extremidade 5’ (termina em 5’ fosfato) Extremidade 3’ (termina em 3’ hidroxilo) DNA polimerase Cadeia-filha 919354 008-035_U5 09/03/27 12:57 Page 27 28 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s gene gene genoma genome transcrição transcription Como é que, a partir do DNA, se obtêm proteínas? Pouco depois de Watson e Crick terem publicado a estrutura da molécula do DNA, descreveram a relação entre os ácidos nuclei- cos e as proteínas como um fluxo de informação na célula — «Dogma Central» da Biologia. A sequência de nucleótidos que contém a informação para sinte- tizar uma proteína ou uma molécula de RNA é designada por gene. O conjunto de todos os genes de um ser vivo é o seu genoma, permitindo este a constituição e o funcionamento do mesmo. O DNA não consegue sintetizar a proteína directamente. No núcleo, no início do processo, forma-se uma molécula de mRNA que transporta a informação contida no gene até ao citoplasma, mais especificamente até ao ribossoma, onde a mensagem é trans- formada em cadeia polipeptídica (Fig. 22). Transcrição O mRNA forma-se no núcleo, por complementaridade, a partir da informação contida na molécula de DNA. Este processo, a que se dá o nome de transcrição, só se realiza na presença de uma enzi- ma, a RNA polimerase. Na transcrição, a molécula de mRNA é formada a partir de uma das duas cadeias da molécula de DNA (cadeia-molde). O mRNA é polimerizado exclusivamente no sentido 5’–3’, e as bases empare- lham-se por complementaridade, ocupando o uracilo o lugar da timina (U emparelha com A) (Fig. 23). Fig. 22 Do DNA às proteínas. Fig. 23 Transcrição. Fig. 24 Início da transcrição. Replicação Transcrição Tradução Proteína Citoplasma Núcleo DNA RNA A RNA polimerase liga-se ao promotor, zona inicial do gene (Fig. 24), promovendo a separação pontual da dupla hélice do DNA e a polimerização dos ribonucleótidos que vão constituir a molécula de mRNA. Esta, à medida que vai sendo fabricada, liberta-se da cadeia-molde de DNA, que vai recuperando a sua estrutura original (em dupla hélice). Quando a RNA polimerase atinge uma sequên- cia de DNA designada por local de terminação, liberta-se desta molécula, que retoma a sua estrutura original (Fig. 25). 3’ 3’ 3’ 5’ 5’ 5’ DNA RNA T T T T T G G GG G GG GCC C C C C C A A A AAA U UU U U U G C Cadeia-molde de DNA RNA polimerase Gene Promotor do DNA ��� 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 28 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 29 Fig. 25 Fim da transcrição. Nas células eucarióticas, a molécula de mRNA que acabou de ser replicada (transcrito primário) sofre um processo de maturação antes de sair do núcleo. A fase seguinte — tradução — realiza-se no citoplasma. Na molécula de mRNA imatura existem porções — os intrões — que não contêm informação para a síntese da proteína e que, antes de a molécula passar para o citoplasma, são removidas. As porções que permanecem — os exões — são expressas na fase seguinte, originando uma proteína. É o conjunto dos exões que deixa o núcleo através de um dos poros da membrana nuclear (Fig. 26). O processo de remoção dos intrões é designado por matu- ração, processamento ou splicing. Fig. 26 Os processos de transcrição e de maturação do mRNA. Exão A Intrão 1 Exão B Transcrição Intrão 2 Exão C Cadeia molde de DNA 3’ Exão A Intrão 1 Exão B Maturação Intrão 2 Exão A Exão B Exão C Exão Cpré-mRNA 5’ mRNA NÚCLEO CITOPLASMA Membrana nuclear Transporte através de um poro Nos seres procariontes, a molécula de mRNA não sofre matura- ção e todas as fases da síntese proteica ocorrem no mesmo local, dado que não há núcleo individualizado nas células destes seres. Tradução A tradução permite que a mensagem contida no mRNA seja descodificada e utilizada para fabricar uma proteína. As proteínas são constituídas por aminoácidos (nos seres vivos, existem 20 ami- noácidos diferentes), unidos por ligações peptídicas. Local de terminação RNA em crescimento RNA RNA polimerase Nos eucariontes, o mRNA abandona o núcleo depois de sofrer maturação. A RETER tradução translation A transcrição é a passagem da informação do DNA para o RNA. A formação do mRNA é o primeiro passo da síntese proteica. A RETER ��� 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 29 30 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s O código genético é um conjunto de codões (três ribonucleótidos) e a sua correspondência com os aminoácidos. A RETER código genético genetic code codão codon Para que se sintetize uma proteína, é indispensável um código que estabeleça a ponte entre a informação contida no mRNA (que, por sua vez, se formou a partir do DNA) e os aminoácidos necessários para constituir essa proteína. Como estará codificada a informação no DNA? Será que uma determinada sequência de nucleótidos determina a incorporação de um aminoácido específico? Como combinar 4 tipos de ribonucleótidos para codificar 20 aminoácidos diferentes? Se fosse utilizado 1 ribonucleótido para 1 aminoácido, existi- riam apenas, nas proteínas, 4 aminoácidos diferentes. Se fossem utilizados 2 ribonucleótidos, existiriam 16 combina- ções (42), e nas proteínas haveria apenas 16 diferentes aminoácidos. Associando 3 ribonucleótidos, obtém-se 64 diferentes combinações (43), valor suficiente para codificar os 20 diferentes aminoácidos que existem nas proteínas. O código genético é constituído por tripletos de ribonucleóti- dos, designados por codões (obtidos por transcrição de tripletos de desoxirribonucleótidos, por vezes, designados por codogenes). Cada codão codifica um aminoácido, e alguns aminoácidos são, inclusivamente, codificados por mais do que um codão; por exem- plo, os codões UUU e UUC codificam ambos o aminoácido fenila- lanina (diz-se, nestes casos, que o código genético é degenerado, e estes codões denominam-se sinónimos). O codão AUG é o codão iniciador, correspondendo ao aminoácido metionina, e os codões UAA, UAG e UGA são codões de terminação. Todas as espécies de seres vivos utilizam o mesmo código gené- tico — o código genético é universal —, evidenciando uma origem comum (à excepção de alguns codões utilizados nas mitocôndrias e em certos protozoários ciliados). Muitos trabalhos foram efectua- dos até se decifrar o código genético. COMO DECIFRAR O CÓDIGO GENÉTICO? 1. Leia com atenção a descrição seguinte e responda às questões. Marshall Nirenberg e Heinrich Matthaei, em 1961, elaboraram umasérie de experiências que levaram à decifração do código genético. Utilizaram moléculas de mRNA, sintetizadas em laboratório, e todas as substâncias químicas e estruturais necessárias à tradução foram extraídas da bactéria Escherichia coli. Depois de sintetizada a molécula de mRNA, os investigadores colocaram-na no meio de cultura, onde obtiveram os polipéptidos que se encontram no quadro apresentado à direita. 1.1 Identifique, justificando, os codões que codificam os aminoácidos fenilalanina (Fen), lisina (Lis) e prolina (Prol). 1.2 Que codões existem na molécula de mRNA sintetizada na quarta experiência? 1.3 Consultando o código genético representado na página 31, complete o quadro. ACTIVIDADE ETAPAS DA SÍNTESE PROTEICA Transcrição Maturação Tradução A RETER Molécula EXPERIÊNCIAS Sequência UUUUUUUUUUUU… Fen-Fen-Fen-Fen-… mRNA Polipéptido AAAAAAAAAAAA…mRNA Lis-Lis-Lis-Lis-…Polipéptido CCCCCCCCCCCC…mRNA Prol-Prol-Prol-Prol-…Polipéptido AUAUAUAUAUAU…mRNA Polipéptido 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 30 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 31 Na decifração do código genético participaram ainda muitos outros investigadores, que desenvolveram experiências semelhantes às de Nirenberg e Matthaei. No código genético, os codões sinónimos diferem uns dos outros, muitas vezes, pela base existente na terceira posição. A degenerescência do código protege os organismos de altera- ções que possam ocorrer no DNA e que substituem um codão por outro sinónimo, não se modificando, desta forma, a sequência de aminoácidos da proteína. No processo da síntese proteica, a molécula de mRNA não faz o reconhecimento directo dos aminoácidos que constituirão a pro- teína. Nesta síntese há a participação do RNA de transferência (tRNA). Na molécula de tRNA, existe um tripleto de bases complemen- tares do codão do mRNA — anticodão — e também o local de ligação do tRNA ao aminoácido correspondente a esse anticodão. Por exemplo, uma molécula de tRNA com o anticodão CCU é com- plementar do codão GGA e tem ligado a si o aminoácido glicina. CÓDIGO GENÉTICO SEGUNDA BASE UUU (Phe/F) Fenilalanina UUC (Phe/F) Fenilalanina UUA (Leu/L) Leucina UUG (Leu/L) Leucina, iniciação CUU (Leu/L) Leucina CUC (Leu/L) Leucina CUA (Leu/L) Leucina CUG (Leu/L) Leucina, iniciação AUU (Ile/I) Isoleucina, iniciação AUC (Ile/I) Isoleucina AUA (Ile/I) Isoleucina AUG (Met/M) Metionina, iniciação GUU (Val/V) Valina GUC (Val/V) Valina GUA (Val/V) Valina GUG (Val/V) Valina, iniciação U UCU (Ser/S) Serina UCC (Ser/S) Serina UCA (Ser/S) Serina UCG (Ser/S) Serina CCU (Pro/P) Prolina CCC (Pro/P) Prolina CCA (Pro/P) Prolina CCG (Pro/P) Prolina ACU (Thr/T) Treonina ACC (Thr/T) Treonina ACA (Thr/T) Treonina ACG (Thr/T) Treonina GCU (Ala/A) Alanina GCC (Ala/A) Alanina GCA (Ala/A) Alanina GCG (Ala/A) Alanina C UAU (Tyr/Y) Tirosina UAC (Tyr/Y) Tirosina UAA (Stop) UAG (Stop) CAU (His/H) Histidina CAC (His/H) Histidina CAA (Gln/Q) Glutamina CAG (Gln/Q) Glutamina AAU (Asn/N) Asparagina AAC (Asn/N) Asparagina AAA (Lys/K) Lisina AAG (Lys/K) Lisina GAU (Asp/D) Ácido aspártico GAC (Asp/D) Ácido aspártico GAA (Glu/E) Ácido glutâmico GAG (Glu/E) Ácido glutâmico A UGU (Cys/C) Cisteína UGC (Cys/C) Cisteína UGA (Stop) UGG (Trp/W) Triptofano CGU (Arg/R) Arginina CGC (Arg/R) Arginina CGA (Arg/R) Arginina CGG (Arg/R) Arginina AGU (Ser/S) Serina AGC (Ser/S) Serina AGA (Arg/R) Arginina AGG (Arg/R) Arginina GGU (Gly/G) Glicina GGC (Gly/G) Glicina GGA (Gly/G) Glicina GGG (Gly/G) Glicina G U C A G U C A G U C A G U C A G U C A G P R IM E IR A B A S E TE R C E IR A B A S E anticodão anticodon A tradução é uma etapa da síntese proteica em que as moléculas de tRNA que transportam os aminoácidos correctos são recrutadas e associam estas moléculas ao péptido em formação. A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 31 32 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Os ribossomas são constituídos por uma subunidade maior e por outra menor (Fig. 27). No processo da tradução, a sequência de codões do mRNA dá origem à síntese de uma proteína nos ribosso- mas. Nos seres eucariontes, estes organitos encontram-se associa- dos ao retículo endoplasmático rugoso, para onde a proteína vai ser lançada. A tradução inicia-se com a ligação do mRNA à subunidade menor do ribossoma, e com o reconhecimento do codão iniciador (AUG) pelo tRNA correspondente (anticodão UAC, com o aminoá- cido metionina — met). Todos os péptidos começam por uma metionina, salvo raras excepções. Em seguida estabelece-se a liga- ção da subunidade maior (Fig. 28). Nesta subunidade, existem dois locais importantes: o local P, onde se encontra ligado o tRNA com o aminoácido metionina, e o local A, onde se liga o tRNA seguinte, complementar do segundo codão. Fig. 27 Constituição de um ribossoma. 5080 bases de RNA (2 a 3 moléculas) 49 proteínas 1900 bases de RNA (1 única molécula) 33 proteínas A metionina e o aminoácido, transportado pelo tRNA ligado ao local A do ribossoma, estabelecem entre si uma ligação peptídica, e o ribossoma avança na molécula de mRNA. No local P fica o tRNA que transporta o segundo aminoácido, e ao local A liga-se um novo tRNA. Após ocorrer outra ligação peptídica entre os aminoácidos, o ribossoma volta a progredir na molécula de mRNA, que assim é lido em sequência, dando origem a um novo polipéptido (Figs. 29 e 30). Met U UA A C G A Met U UA A C G B Fig. 28 Fase de iniciação da tradução. Fig. 29 Ribossoma em funcionamento. tRNA iniciador mRNA Codão iniciador Pequena subunidade de ribossoma Local P Local A Grande subunidade de ribossoma Moléculas de tRNA Polipéptido Subunidade maior Subunidade menormRNA Subunidade maior Subunidade menor Além dos locais A e P, actualmente considera-se a existência de um terceiro local no ribossoma — o local E — correspondente ao local de saída do tRNA. RIBOSSOMAS 919354 008-035_U5 6/2/08 12:44 Page 32 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 33 É de notar que a mesma molécula de mRNA pode ser traduzida em simultâneo por mais do que um ribossoma, havendo assim a formação de várias proteínas iguais (Fig. 31). Fig. 30 Crescimento (alongamento ou elongação) do polipéptido. Aminoácido Polipéptido Local P Local A mRNA Codões Anticodão Reconhecimento do codão. Codão stop Formação da ligação peptídica. Nova ligação peptídica Deslocação do mRNA. Ribossoma Polipéptido Proteínas estabilizadoras mRNA 3’ 5’ Fig. 31 Síntese simultânea de vários péptidos a partir do mesmo mRNA. ��� ��� �� � Ocupação do local P. ��� 3’ 3’ 3’ 3’ 5’ 5’ 5’ 5’ D A B C 919354 008-035_U5 31/1/08 14:38 Page 33 34 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A síntese da proteína termina quando surge no mRNA um dos codões de terminação ou stop (UGA, UAG ou UAA), pois não há tRNA correspondentes a esses codões. O último tRNA liberta-se do ribossoma, separando-se as suas subunidades (que podem depois ser reutilizadas), e a proteína é libertada, adquirindo a sua estrutura tridimensional (Fig. 32). E se ocorrerem erros durante estes processos? A possibilidade que a célula tem de manter a informação do seu DNA nas células-filhas é extremamente importante, pois, desta forma, as características dos seres vivos são preservadas por várias gerações. No processo da replicação do DNA, a DNA polimerase revê a sequência formada e tem a capacidade de corrigir a maior parte dos erros que possam ter ocorrido durante o processo. Mas, apesar desta revisão, por vezes existem erros que perma- necem. Estes, designados por mutações génicas, afectam a sequên- cia do DNA e, consequentemente, podem afectar a sequência de aminoácidos da proteína fabricada a partir do gene alterado. Um exemplo típico de mutação diz respeito à alteração que ocor- re no genehumano que codifica a molécula de hemoglobina das hemácias, dando origem à anemia falciforme (Fig. 33). A substituição de um único nucleótido provoca uma alteração na sequência pro- teica (o aminoácido ácido glu- tâmico — Glu — é substituído por valina — Val). Esta altera- ção tem como consequência a modificação da conformação da molécula de hemoglobina, que por sua vez altera a forma das hemácias (facto que teve rele- vância na origem do nome desta doença). Esta característica pro- voca uma diminuição da capa- cidade de transporte de oxigé- nio no indivíduo (Fig. 34). G C U Arg Lys Cys Gly Met G G GCU UA A A A A Fig. 32 Conclusão da síntese proteica (A). Os diferentes componentes separam-se (B). Para a formação de uma proteína, são necessários: ribossoma, mRNA e vários tRNA associados a aminoácidos. A RETER Mutações génicas são alterações na sequência de bases do DNA. A RETER mutação génica genic mutation C A T G U Val A mRNA Hemoglobina mutante C T T G A Glu A mRNA DNADNA Hemoglobina normal Fig. 33 Mutação génica que ocorre na anemia falciforme. Alelo normal que codifica a hemoglobina Alelo mutante que codifica a hemoglobina A B 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 34 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 35 A alteração de nucleótidos no DNA origina alelos diferentes, que podem afectar a sequência de aminoácidos na proteína. A RETER Existem vários tipos de mutações génicas. Há casos de substi- tuição de base (ou nucleótido, como no exemplo anterior), mas também existem situações de deleção de bases (em que uma ou mais bases são suprimidas) ou de inserção de bases (em que uma ou mais bases são acrescentadas) (Fig. 35). Todas estas alterações vão afectar a transcrição e podem afectar ou não a tradução, depen- dendo do local e do tipo da alteração. Fig. 34 Hemácia normal (A) e hemácia alterada (B). Quando há codões sinónimos, a mutação pode não provocar qualquer alteração na cadeia de aminoácidos. Também são possí- veis modificações num único aminoácido, não alterando significati- vamente o funcionamento da proteína. Outros casos, como o da anemia falciforme, provocam danos graves nos indivíduos que as possuem. As mutações podem também consistir na adição, na remoção ou no rearranjo de sequências de nucleótidos, afectando regiões mais extensas de DNA. Embora algumas possam ser bastante prejudiciais, as mutações são responsáveis por pequenas alterações nos seres vivos de uma espécie, permitindo a existência de variabilidade, essencial para a evolução das espécies, como veremos mais tarde, na Unidade 7. G G G G GC CA AU U U U Met Lys Phe Gly Ala A A C C C C CG GT TA A A AT Gene normal Substituição de uma base Deleção de uma base T C C T C CG GT TA A A A AT T C C C G GC TT TA A A CT A G G A G GC CA AU U U U Met Lys Phe Ser Ala A A G G G C CG AA AU U U G Met Lys Leu Ala His A U mRNA mRNA mRNA Fig. 35 Mutações génicas. As mutações podem ser prejudiciais ao ser vivo que as sofre ou vitais para a sobrevivência da espécie. A RETER A B 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 35 36 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s De que modo as células asseguram a sua continuidade? Sendo a célula a unidade básica da estrutura e da função de qualquer ser vivo, é de esperar que nela se encontre a resposta quando se pretende descobrir o modo como esses seres asseguram a sua integridade e a manutenção da espécie. A célula enfrenta o grande desafio de realizar a divisão celular, ori- ginando duas células-filhas, cujos núcleos possuem toda a informação contida no DNA da célula-mãe e com citoplasma suficiente para desempenhar as suas funções futuras. A grande maioria dos tecidos de um organismo adulto possui células diferenciadas, que se dividem e originam células-filhas, com características semelhantes entre si. Nas células somáticas dos organismos multi- celulares eucariontes, a interfase, a mitose (divi- são nuclear) e a citocinese (divisão do citoplas- ma) constituem o ciclo celular (Fig. 36), que possibilita o crescimento, a reposição das células mortas e a reparação dos tecidos. Por vezes, em alguns organismos, este processo também permi- te originar clones, reproduzindo-se assim o indiví- duo por formação de cópias exactas dele próprio. O ciclo celular tem uma duração muito apro- ximada em células do mesmo tipo, podendo variar bastante entre células de tecidos diferentes. A interfase (com as fases G1, S e G2) corres- ponde ao período de crescimento de uma nova célula, que pode ser cerca de 90% do tempo de duração de um ciclo completo e em que ocorre actividade metabólica intensa. Durante a interfase, em G1 (G de «gap» — intervalo), a célula pode permanecer durante bastante tempo até atingir o tamanho adequado e as condições propícias à divisão. Nesta fase, a célula sintetiza enzimas e outras moléculas necessárias para assegurar o seu funcionamento, assim como sistemas de membranas e variados organitos. No período S (S de «synthesis» — síntese), ocorre a replicação de todo o DNA presente no núcleo, assim como a síntese de proteí- nas a ele associadas. Os cromossomas são agora constituídos por dois cromatídeos unidos pelo centrómero. O principal papel da fase G2 é confirmar que a replicação dos cromossomas está completa e, ainda, que os eventuais «estragos» provocados na molécula de DNA estão reparados. A síntese protei- ca é intensa neste período. No final da interfase, as células que possuem centríolos (todas as eucarióticas, à excepção das que constituem os fungos e a maio- ria das plantas) apresentam-nos agora duplicados. As células ani- mais possuem centrossomas, onde estão localizados os centríolos. • O homem tem cerca de 1012 de células por altura do nascimento. • O ciclo celular das células me- ristemáticas da raiz do feijoeiro dura cerca de 19 horas, mas o das células embrionárias do ouriço-do-mar fica completo em duas horas. CURIOSIDADE interfase interphase mitose mitosis citocinese cytokinesis ciclo celular cell cycle Final da interfase da célula-mãe. Citocinese G1 Intervalo de crescimento da célula. (Os cromossomas ainda não estão duplicados, porque ainda não ocorreu replicação do DNA.) S Intervalo em que ocorre replicação do DNA. (Os cromossomas ficam duplicados no final deste período.) G2 Intervalo após a replicação do DNA, em que a célula se prepara para se dividir. Teló fase Aná fas e Me táf as e Pr óf as e I N T E R FA S E M I T O S E Cada célula-filha inicia a interfase. Fig. 36 Representação esquemática do ciclo celular: interfase, mitose e citocinese. Os triângulos vermelhos assinalam pontos de controlo do ciclo. • Durante a interfase, a célula prepara-se para a divisão nuclear. • Em G1, cada cromossoma é composto por um cromatídeo e em G2, por dois cromatídeos. A RETER C IC LO C E LU LA R Interfase Mitose Citocinese A RETER Fase G1 Fase S Fase G2 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 36 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 37 Mitose Após a fase G2, a célula está apta para dar início à divisão defi- nitiva do seu material nuclear. No seu núcleo existem agora cro- mossomas que se duplicaram na fase S, ou seja, cada um deles está associado a uma cópia, rigorosamente igual, de si próprio, sendo composto por dois cromatídeos. A mitose decorre em quatro estádios: prófase, metáfase, aná- fase e telófase. 5 1 2 prófase prophase metáfase metaphase anáfase anaphase telófase telophase MITOSE Nesta etapa, a mais longa da mitose, os cromossomas assumem, progressivamente, um aspecto mais curto e espesso, que se deve ao facto de ocorrer uma condensação da cromatina (DNA e proteínas associadas). Começam agora a visualizar-se os dois cromatídeos-irmãos, ou seja, duas moléculas de DNA rigorosamente iguais, unidas por uma região de cromatina muito condensada — o centrómero. Os centrossomas, já duplicados, começam a migrar para pólos opostos da célula e iniciam o desenvolvimentode microtúbulos (filamentos de proteínas globulares). Por outro lado, o nucléolo dissipa-se até desaparecer, e a membrana nuclear desorganiza-se, assumindo a forma de pequenas vesículas. No decorrer desta fase, a célula encontra-se sem membrana nuclear, e os microtúbulos vão crescendo a partir dos centrossomas, localizados em pólos opostos da célula. Quando um microtúbulo, vindo de um dos pólos, estabelece ligação com um dos cromatídeos, o microtúbulo que cresceu do pólo oposto fixa-se ao cromatídeo-irmão do primeiro. Forma-se assim, ocupando toda a célula, um fuso acromático (formação de microtúbulos, fusiforme), que, no momento em que todas as fibras atingem o mesmo comprimento, obriga a um posicionamento dos cromossomas no plano equatorial do fuso (placa equatorial ou mitótica). É a etapa mais curta da mitose, mas inclui acontecimentos determinantes no sucesso deste processo, já que assegura uma separação definitiva e rigorosa dos cromatídeos-irmãos. A anáfase inicia-se, abruptamente, com a separação simultânea de todos os cromatídeos-irmãos, devido à perda de coesão gerada pela desorganização do centrómero. Estes são então puxados pelos microtúbulos do fuso acromático, efectuando a ascensão polar, ao mesmo tempo que a célula se alonga ligeiramente, aumentando a distância entre os pólos do fuso (centrossomas). Quando os dois conjuntos de cromossomas atingem os pólos opostos da célula, inicia-se a telófase. Nesta altura, os cromossomas descondensam-se, devido à descompactação do DNA, a membrana nuclear reorganiza-se e os nucléolos reaparecem. Logo que os núcleos estão completamente formados, a telófase termina. Fica, assim, concluído o processo da mitose. P ró fa se M et áf as e A ná fa se Te ló fa se A célula possui o DNA duplicado e prepara-se para a divisão nuclear. Par de centríolos Membrana nuclear Os microtúbulos formam o fuso acromático. Placa equatorial ou mitótica Ocorre a ascensão polar. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 37 38 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s MITOSE A RETER Prófase Metáfase Anáfase Telófase No entanto, o processo de divisão da célula não está concluído, já que é necessário separar completamente as duas células-filhas, tornando-as independentes. Assim, de um modo continuado, segue- -se a redistribuição equitativa dos organitos celulares e a clivagem do citoplasma. Citocinese A citocinese, divisão do citoplasma, depende da formação de um anel de contracção (estrutura composta por filamentos de acti- na e miosina, proteínas estruturais) ligado à face citoplasmática da membrana plasmática e a meio da distância entre os dois centrosso- mas (Fig. 37). Durante muitos anos assumiu-se que estes filamentos se dispunham paralelamente em relação ao plano de divisão da célula e que, à custa de energia da molécula de ATP, se contraíam, puxan- do a membrana plasmática, a que estavam ligados, para o interior da célula, até que o citoplasma fosse dividido em duas porções. Após a replicação do DNA, os dois cromatídeos-irmãos permanecem ligados, espaçadamente, ao longo dos braços cromossómicos, por acção de proteínas (coesinas), que na metáfase são removidas na quase totalidade. Contudo, na região do centrómero é mantida a coesão até ao início da anáfase, quando uma enzima faz a hidrólise destas proteínas, e estas, ao serem degradadas, libertam os cromatídeos-irmãos. OS CENTRÓMEROS Prófase Cromatídeos-irmãos Cromossomas-filhos Proteína que promove a coesão Metáfase Anáfase Condensação dos cromossomas Na realidade, permanece ainda por esclarecer a orientação efectiva dos filamentos no anel de contracção, mas sabe-se que o citoplas- ma não se limita a ser estrangulado para originar duas células-filhas (Fig. 38). Na citocinese animal, a contracção do anel de actina e A B Fig. 38 As células-filhas, resultantes da citocinese, podem entrar em interfase logo que estão formadas (após a divisão do citoplasma). São células com o mesmo número de cromossomas que a célula-mãe. Fig. 37 Citocinese. Representação esquemática (A); imagem de microscópio electrónico (B). 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 38 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 39 miosina é acompanhada pela adição de membrana plasmática por fusão de vesículas golgianas. (Durante muitos anos pensou-se que esta actividade vesicular ocorria apenas na citocinese das células vegetais.) No caso das células que apresentam parede celular, a força de contracção dos filamentos de actina não é suficiente perante a rigi- dez dessa estrutura. Nesta situação forma-se a placa celular, a partir da disposição, na região mediana da célula, de vesículas golgianas que se fundem do centro para a periferia. Estas vesículas contribuem para a forma- ção das novas secções da membrana plasmática e, simultaneamente, libertam os materiais de construção da parede celular (hemicelulose, pectina e glicoproteínas). A placa celular cresce até se fundir com a membrana plasmática da célula inicial, formando agora duas célu- las distintas (Fig. 39). No caso da célula vegetal, a citocinese tem de ser acompanhada da formação da nova parede celular. A RETER A B Fig. 39 Representação esquemática da citocinese em células vegetais (A), destacando-se uma imagem de microscópio óptico (B) onde se pode observar a formação da placa celular. DIFERENÇAS NO CICLO CELULAR CÉLULAS Animais Vegetais MITOSE CITOCINESE Existência de centrossoma, estrutura formada pelos centríolos, que organiza o fuso acromático. Ausência de centrossoma: a função deste é desempenhada por estruturas similares. Formação do anel de contracção, dividindo o citoplasma em duas porções semelhantes. Existe adição de membrana plasmática. Formação da placa celular, que permite a constituição de membrana plasmática e também de parede celular. ACTIVIDADE AS FASES DA MITOSE 1. Considere as fotografias, obtidas no microscópio óptico, de uma célula em mitose e responda às questões. 1.1 Faça a legenda de cada uma das imagens, indicando a fase da mitose correspondente. 1.2 Ordene as imagens de modo a indicar a sequência correcta destas fases da mitose. 1.3 Refira as fases em que os cromossomas se poderão encontrar constituídos por dois cromatídeos. 1.4 Que factos observáveis nas fotografias permitem afirmar que se trata de uma célula vegetal? Fig. 40 Célula em mitose. A B C D E F 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 39 40 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Qual é o destino das novas células? As células-filhas, formadas a partir da divisão nuclear mitótica, asseguram não só a continuidade da célula-mãe mas ainda a manu- tenção das características hereditárias desta, já que cada uma delas possui uma quantidade e uma qualidade de DNA exactamente iguais às do DNA da progenitora. Após a mitose e a citocinese, as células podem seguir diferentes processos: • diferenciação e maturação (é o que acontece com as hemá- cias que, após a sua formação, deixam de cumprir o ciclo celular) (Fig. 41A); • entrada em fase G1 prolongada (também chamada G0, ocorre em células com longo período de vida e que raramente se dividem, como é o caso de algumas células do fígado), entran- do mais tarde em fase de síntese e mitose (Fig. 41B); • início de uma nova fase de síntese e preparação para uma nova mitose (como acontece no ovo ou zigoto) (Fig. 41C). Controlo da divisão celular As células possuem mecanismos que lhes permitem assegurar que certas condições foram garantidas antes de passar à fase seguinte do processo de divisão celular. Estes mecanismos são de extrema importância, já que regulam todo o ciclo celular (Fig. 42) e impedem a progressão do fenómeno antes de estarem asseguradas as bases para que o objectivo de cada fase seja cumprido. Após terminar a divisão celular, a célula pode continuar a dividir-se, manter-se em fase G1 ou diferenciar-se e especializar-se. A RETER Fig. 41 Ciclo celular e os possíveis percursos pelos quais as células-filhas podemenveredar após a conclusão da mitose. A B C 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 40 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 41 Existem proteínas, organizadas em sistemas, responsáveis pela progressão do ciclo celular através da sua activação e da sua inacti- vação sucessivas. Perto do final da fase G1, actua um destes sistemas de controlo, determinando se a célula permanece nesta fase ou passa para a fase S. No final de G2, o controlo verifica se a fase S ocorreu de modo correcto e se a célula está em condições de realizar a mitose. Outro controlo ocorre na transição metáfase-anáfase, atrasando- -a no caso de alguns cromossomas não estarem correctamente liga- dos ao fuso acromático. O que acontece quando estes pontos de controlo não cumprem a sua função? O crescimento e a reprodução dos seres vivos multicelulares dependem do controlo da divisão celular e do ritmo da morte celular. O ciclo celular possui pontos de controlo, constituídos por proteínas que verificam se a replicação do DNA foi completa e cor- recta, e até se os nutrientes presentes na célula são os necessários e suficientes para o seu desenvolvimento. O sucesso da célula na identificação e na correcção de problemas depende desta vigilância. Após o estudo da síntese proteica, ficou claro que a formação das proteínas existentes nas células é da responsabilidade do DNA — isto é, das informações nele contidas sob a forma de genes. Se o controlo do ciclo celular é feito por complexos proteicos, então alterações nos genes codificantes destas proteínas poderão traduzir- -se num ineficaz controlo do ciclo celular e, consequentemente, em transformações nas células. De facto, mutações em genes responsáveis pela síntese de proteí- nas envolvidas no controlo do ciclo celular podem levar a que estas permitam a continuação da divisão celular em células com o DNA danificado e não reparado, ou que a anáfase ocorra antes de todos os cromatídeos se encontrarem correctamente ligados aos microtúbulos do fuso. Qualquer uma destas situações originará erros que poderão comprometer não só o desenrolar do ciclo, mas também o normal funcionamento da célula e do organismo a que esta pertence. DIVISÃO INTERFASE G1 S G2 MITOSE Controlo G1 Controlo S Controlo G2 Controlo metáfase Fig. 42 Fases do ciclo celular e principais pontos de controlo do mesmo. Os pontos de controlo asseguram o sucesso da divisão celular. A RETER Através da mitose e da citocinese, os dois conjuntos de cromossomas estão separados, e as células-filhas completaram a sua formação. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 41 42 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s O que acontece à célula quando todos os mecanismos normais de controlo falham? Quando estes mecanismos de controlo se encontram compro- metidos, a célula perde a capacidade de regular o seu próprio ciclo de divisões. Nesta situação, pode verificar-se um crescimento des- controlado da célula devido à sucessão ininterrupta de divisões, a replicação de cromossomas com erros ou, ainda, a ocorrência da morte fora da altura prevista de acordo com a sua função no orga- nismo. Formam-se então massas anormais de células (tumores) que per- deram o controlo dos seus ciclos celulares. Se estas massas crescem lentamente e as células se mantêm no seu tecido habitual, o tumor é benigno (Fig. 43A). No caso das células cancerosas, verificam-se alte- rações nas suas membranas celulares e no seu metabolismo; as células saem dos tecidos habituais e entram nos vasos sanguíneos ou linfáticos, fazendo-se transportar com os fluidos que aí cir- culam. Mais tarde, instalam-se noutros tecidos, invadindo-os e ini- ciando aí novos tumores — metástases (Fig. 43B e 43C). Estas células podem desenvolver-se a partir de qualquer tecido e dentro de qualquer órgão, através de complexos processos de transformação. Hoje, já são conhecidas muitas substâncias químicas, denomi- nadas carcinogéneas, que se reconhecem como capazes de induzir a formação de cancro. Algumas destas substâncias são de uso industrial, como o benzeno; outras estão associadas ao estilo de vida, como o álcool ou o alcatrão dos cigarros, e outras, ainda, são utilizadas em experiências laboratoriais. Mas também as radiações ou a luz solar são consideradas potenciais agentes carcinogéneos. Fig. 43 Esquema de um tumor benigno em que não ocorre saída das células do tecido habitual (A). Representação de tumores malignos e a sua forma de actuação (B) e (C). Fotografia de microscopia electrónica de uma célula cancerosa (D). A C D B Tumor benigno Tumor maligno O descontrolo do ciclo celular pode resultar em cancro. A RETER 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 42 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 43 OBSERVAÇÃO DAS DIFERENTES FASES DA MITOSE Material • Microscópio óptico composto. • Agulha de dissecação. • Lâminas. • Vidro de relógio. • Lamelas. • Papel de filtro. • Bisturi. • Papel de limpeza. • Pinça. • Carmim acético ou orceína acética. • Conta-gotas. • Meristemas caulinares de ervilha, feijão ou cebola. ACTIVIDADE LABORATORIAL Não se esqueça de: • usar bata; • cumprir as regras de segurança do laboratório. Nota: A utilização de preparações definitivas, com tecidos vegetais em mitose, será de grande utilidade para a comparação com as preparações extemporâneas realizadas ou mesmo como alternativa à elaboração destas. Procedimento 1 — Alguns dias antes da actividade de microscopia, prepare o material biológico de modo a obter os meristemas necessários. 2 — Corte aproximadamente 1 cm da extremidade do vértice radicular do material biológico escolhido e coloque-o num vidro de relógio. 3 — Numa lâmina, coloque duas gotas de carmim acético. 4 — Com a pinça, retire o ápice radicular do vidro de relógio e deposite-o sobre o carmim acético. 5 — Coloque a lamela e dissocie o tecido, pressionando sobre esta com o cabo de uma agulha de dissecação. Espere um minuto. 6 — Elimine o excesso de corante da preparação com o papel de filtro. 7 — Observe o material ao microscópio óptico. 8 — Elabore esquemas das fases do ciclo celular observadas. 9 — Legende os esquemas e identifique as fases observadas. 10 — Elabore o relatório desta actividade. Discussão 1 — Justifique a identificação atribuída por si a cada um dos esquemas. 2 — Compare o aspecto das células observadas à medida que se afasta da extremidade radicular relativamente a: a) fase do ciclo celular em que se encontram; a) dimensão das células. A B Fig. 44 Preparação dos meristemas. Montagem inicial (A); resultado após quatro dias (B). 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 43 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Adenina • Guanina • Timina • Citosina • Uracilo • Cromatina • Fase G1 • Fase S • Fase G2 • Microtúbulos • Placa equatorial • Placa celular • Fuso acromático Essenciais • Cariótipo • Cromossoma • Cromatídeo • Centrómero • DNA • RNA • Nucleótido • Bases azotadas • Ribose • Desoxirribose • Replicação • Transcrição • Tradução • Codão • Anticodão • Codogene • Código genético • Gene • Genoma • Mutação génica • Ciclo celular • Interfase • Mitose • Prófase • Metáfase • Anáfase • Telófase • Citocinese Necessários • Núcleo • Membrana nuclear • RER • Ribossoma • Citoplasma • Centríolo • Complexo de Golgi • Parede celular • Nucléolos Síntese de conhecimentos • Os ácidos nucleicos (DNA e RNA) são constituídos por unidades denominadas nucleótidos. Estes, por sua vez, são constituídos por uma pentose, um fosfato e uma base azotada. • O DNA apresenta uma estrutura em dupla hélice, constituída por duas cadeias antiparalelas ligadas por pontes de hidrogénio entre bases complementares. • O DNA e o RNA diferem na constituição, na estrutura e na função. • Na célula, o DNA encontra-se no núcleo, associado a proteínas, constituindo a cromatina. • O processo de duplicação da molécula de DNA é designado por replicação e origina no final
Compartilhar