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1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PESSOA IDOSA 2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PESSOA IDOSA DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00 ATENDIMENTO AO ALUNO atendimento@faculdadefamart.edu.br 0800 942 5006 | (37) 99836-4736 mailto:atendimento@faculdadefamart.edu.br 3 SUMÁRIO POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITO E APLICABILIDADE .............................................. 4 IMPLEMENTAÇÃO, AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O IDOSO. ................................................................................................. 7 O envelhecimento da população brasileira ....................................................................... 13 Características estruturais da população idosa brasileira ............................................... 15 As diferenças regionais e a etnia dos idosos no país ...................................................... 19 As políticas públicas no para os idosos no Brasil ............................................................. 20 As políticas públicas setoriais para os idosos no Brasil .................................................. 22 • Políticas de Saúde para os idosos no Brasil .................................................................. 22 • Política de assistência social aos idosos no Brasil ........................................................ 24 • Políticas de trabalho, previdência e seguridade social no Brasil ................................ 28 As políticas públicas e a cidadania no envelhecimento .................................................. 29 O ESTATUTO DO IDOSO.................................................................................................... 33 AVANÇOS E RETROCESSOS à LUZ DO ESTATUTO DO IDOSO ............................ 34 Considerações finais ............................................................................................................. 36 LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. ............................................................... 39 Referências ............................................................................................................................. 64 4 POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITO E APLICABILIDADE A identificação de diferentes problemas, discriminações, preconceitos e mazelas existentes na sociedade justificam a formulação e implementação de políticas públicas, definindo assim, uma agenda de trabalho. Essas questões de interesse geral da sociedade política e civil carecem de discussões públicas, reflexões das quais serão originadas intervenções para amenizar os problemas sociais. Entende-se que “política pública é o resultado da dinâmica do jogo de forças que se estabelece no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos grupos da sociedade civil” (BONETI, 1997, p. 188). As políticas públicas fazem correspondência às orientações e disposições do governo, através das mais diversas decisões nas esferas sociais, influenciando a população direta ou indiretamente, nos âmbitos pessoais, profissionais, sociais e também educacionais. Depois de definida uma política pública, são elaborados programas, projetos e pesquisas que continuamente devem ser avaliados por meio de um sistema de acompanhamento buscando a solução para o problema que originou todas as atividades, avaliando os processos, produtos e os impactos ocasionados. Estabelecem-se leis, diretrizes, planos, resoluções, estatutos e demais decisões provenientes do poder público. O contexto brasileiro atual que registra grande contingente de pessoas idosas apresenta uma demanda social em diferentes aspectos, entre os quais 5 podemos destacar: previdência social, moradia, saúde, cultura, trabalho, educação, segurança. Quando os direitos elementares passam a não ser respeitados, surge a necessidade de ações governamentais que supram esta carência, destacando-se as políticas públicas (OLIVEIRA, 2011, p.71). Considera-se que o grande número de pessoas idosas, em um país em desenvolvimento como o Brasil, apresenta-se como uma questão social de grande relevância e precisa entrar na pauta das discussões das políticas públicas brasileiras. Ao se pensar na efetivação dos direitos para a população marginalizada, logo, evidencia-se a situação aflitiva em que a pessoa idosa está submetida. Neste sentido, para que realmente se possa garantir um Estado Democrático de Direito ao público idoso, surge à necessidade de políticas públicas específicas para este segmento. O respeito deveria ser inerente ao relacionamento com todo ser humano, entretanto a vulnerabilidade em que se encontram as pessoas idosas no Brasil é o ponto inspirador para as políticas públicas voltadas a esta parcela da população. Como aponta Camarano (2006), o envelhecimento da população é resultado de políticas assistencialistas para a melhoria de condições de vida, além do próprio 6 desejo da população de viver cada vez mais. Entretanto, se as políticas não forem contínuas, se não houver mais investimento, o seu sucesso enquanto prolongamento da vida irá tornar-se sua própria falência. Assim, “conhecer a realidade do idoso brasileiro é um passo fundamental para a construção de políticas que visam garantir seus direitos e necessidades” (BATISTA et al, 2008, p.105). Além da sociedade conhecer a realidade brasileira da pessoa idosa, compete à própria pessoa idosa entender a sua inclusão e o papel que desempenha nesta sociedade, percebendo suas necessidades, reivindicando o respeito aos seus direitos, a sua cidadania, contribuindo para uma nova visão do idoso e um esboço de outro paradigma de velhice. O perfil do idoso brasileiro, lentamente se modifica, dentro de um novo olhar de velhice, emergindo outra representação social, um idoso mais ativo, participativo, conhecedor de seus direitos, integrado socialmente. Busca-se uma mudança cultural, que não é rápida, mas encerra uma grande complexidade pelos múltiplos fatores que envolvem. Aqui se pontua a educação como estratégia fundamental para empoderar o idoso rumo a este processo de superação da marginalização, estereótipos negativos, para a construção deste novo olhar frente a velhice. “No contexto deste debate, torna-se necessário, analisar as diretrizes internacionais que dão base às políticas públicas e às novas representações sociais sobre a velhice” (FONTE, 2002, p.4). Outro aspecto interessante, que subsidia e fortalece a criação de políticas públicas para a pessoa idosa é considerar que na medida em que o idoso adquirir 7 melhores condições de vida, em todos os aspectos, superando o estigma de improdutividade, mantendo-se ativo, trabalhando, integrado ao mercado de trabalho, os gastos com a saúde e com a previdência social também diminuirão. As políticas públicas para as pessoas idosas devem promover a solidariedade entre gerações, ou seja, diferentes grupos da população necessitam de cuidados e atenção especial da sociedade política e civil, devido a situação de vulnerabilidade que enfrentam, mas deve ser de forma equilibrada para a implementação de políticas públicas que favoreçam uma sociedade mais justa. Não pode ser considerado um ato de assistencialismo, mas antes deve ser encarado como de solidariedade e de justiça social, além de retorno da dívida social para com a sociedade mais ampla que utilizou da capacidade de trabalho de pessoas físicas as quais hoje são integrantes dessa faixa etária. A sociedade civil desempenha um papel de grande relevânciapara a estruturação e formulações de políticas para o idoso. Neste âmbito, a sociedade civil organizada utiliza-se de planos, conferências, seminários como lugares de encontros de pessoas para a discussão sobre a velhice e sobre o idoso. A longevidade é um fenômeno real, mas para que se consiga uma melhor qualidade de vida das pessoas idosas, as políticas públicas em favor desta faixa etária devem ser promovidas, em diferentes âmbitos, entre os quais a saúde, segurança, previdência, entre outros. IMPLEMENTAÇÃO, AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O IDOSO. 8 Com vistas à melhor situar a questão da saúde do idoso no Brasil, em termos das políticas públicas para o setor, deve se ressaltar que este corte social é tratado no conjunto das medidas relacionadas aos programas de desenvolvimento social, lembrando ainda que, conforme SOUZA (1998), as políticas sociais devem estar voltadas a resgatar a dívida com os excluídos do processo de desenvolvimento. No caso particular do idoso, a dinâmica que reforça o mecanismo de exclusão deste se realiza, através dos chamados "Mitos da velhice", conforme estudo apresentado pela OPAS/OMS (1999), os quais procuram apresentar as limitações consequentes da senilidade como fatores impeditivos dos idosos participarem efetivamente do mercado de trabalho e do processo produtivo. Voltando a SOUZA (1998), no Brasil a responsabilidade pelo desenvolvimento social é competência de todas as esferas de governo bem como da própria sociedade, responsabilidade esta constante na Constituição Federal, promulgada em outubro de 1988, e desdobrada em leis complementares e ordinárias. A partir desta análise passaremos ao enfoque específico da problemática do idoso no Brasil. Visualizar a atual realidade demográfica do país implica, em última análise, em reconhecer as transformações que o perfil etário da população brasileira vem sofrendo nas últimas décadas, numa transição de país jovem para país maduro. O crescimento da expectativa sobrevida do brasileiro traz consigo sérias consequências no que se refere à formulação, implementação e financiamento das políticas sociais no Brasil, particularmente as relativas às questões da seguridade social e da saúde. Conforme BNDES (1999), por exemplo, uma criança nascida em 1995 teria uma expectativa de sobrevida em torno de 67,3 anos. 9 O problema da seguridade social advém do grande aumento da população aposentada em relação à mão de obra ativa, ou seja, à redução proporcional do número de pessoas que financiam os aposentados. Em países onde a expectativa de sobrevida é maior a situação se torna mais grave, como na União Europeia, onde a proporção é de quatro trabalhadores para um aposentado segundo PIÑERA (1998). A questão da saúde é tão ou mais importante, na medida em que a performance desta área implica numa alteração da quantidade de mão de obra disponível para a produção de bens e serviços. Outro aspecto relevante em relação às políticas públicas de saúde e ao aumento da expectativa de vida da população é que os gastos com saúde per capita tornam-se cada vez maiores com o passar do tempo. As pessoas da terceira idade, conforme sabemos, em geral estão mais sujeitas a acidentes e, segundo PASSARELLI (1997), às doenças crônicas e degenerativas, em razão do déficit ou falência das suas percepções sensoriais e do desgaste físico natural da velhice. Por outro lado, o gasto para recuperação da saúde de cada idoso também é maior, posto que sua fragilidade orgânica aumenta com o passar do tempo, o que implica, por fim, num maior período de permanência em tratamento, em regime de internação ou não. Além da questão do aumento progressivo dos gastos com o tratamento de saúde das pessoas da terceira idade, emerge o debate sobre as instituições responsáveis pelo atendimento a esta população, bem como a formação de recursos humanos específicos para este segmento social. Na atualidade, as instituições públicas geriátricas não servem como modelo de serviço para o idoso alcançar um estilo de vida com qualidade. DUARTE (1998) ressalta que é compromisso de todos os profissionais 10 de saúde criar condições para a geração de serviços de boa qualidade com enfoque específico, voltado ao direito do idoso como pessoa. SAYEG (1997), entretanto nos aponta o Brasil como um país carente de especialistas na área de saúde do idoso em consequência, principalmente, da impossibilidade da realização de cursos de extensão durante os períodos de formação universitária. As Políticas Públicas para os Idosos no Brasil: A Cidadania no Envelhecimento A partir de 1960, com o declínio da fecundidade e da taxa de mortalidade em algumas regiões mais desenvolvidas do Brasil, iniciou-se o processo de envelhecimento da população brasileira. Se no início do século, a proporção de indivíduos que conseguia alcançar os 60 anos e mais se aproximava de 25%, em 1990 ela superava 78% entre as mulheres e 65% entre os homens; a esperança de vida ao nascer já ultrapassava os 65 anos. Chaimowicz (1998) prevê que no período entre 2000 e 2050 ocorrerá o mais rápido incremento na proporção de idosos, que saltará de 5,1% para 14,2% da população brasileira. O envelhecimento da população influencia o consumo, a transferência de capital e propriedades, impostos, pensões, o mercado de trabalho, a saúde e assistência médica, a composição e organização da família. É um processo constatado, natural, previsível e estrutural e não uma doença. Portanto, não deve 11 ser tratado apenas com soluções médicas, mas também por intervenções sociais, econômicas e ambientais (PORTO, 2002). A política pública de atenção ao idoso se relaciona com o desenvolvimento socioeconômico e cultural, bem como a ação reivindicatória dos movimentos sociais. Um marco importante de acordo com Porto (2002) dessa trajetória foi a Constituição Federal de 1988, que introduziu em suas disposições o conceito de Seguridade Social, fazendo com que a rede de proteção social alterasse o seu enfoque estritamente assistencialista, passando a ter uma conotação ampliada de cidadania. Ainda segundo com a autora, a partir daí a legislação brasileira procurou se adequar a tal orientação. A Política Nacional do Idoso, estabelecida em 1994 (lei 8.842), criou normas para os direitos sociais dos idosos, garantindo autonomia, integração e participação efetiva como instrumento de cidadania. Essa política tem como objetivo, criar condições para promover a longevidade com qualidade de vida, colocando em prática ações voltadas, não apenas para os que estão idosos, mas também para aqueles que vão envelhecer. Sendo assim, em relação ao que compete às entidades públicas, encontram-se importantes obrigações como estimular a criação de locais de atendimento aos idosos, centros de convivência, casas-lares, oficinas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros; apoiar a criação de universidade aberta para a terceira idade e impedir a discriminação do idoso e sua participação no mercado de trabalho. Ainda dentro da Política Nacional do Idoso, a aprovação do Estatuto do idoso (lei 3.561/97) acrescentou novos dispositivos já que esse projeto está embasado na concepção da necessidade de aglutinação, em norma legal abrangente, das postulações sobre idosos no país. Deste modo, este estatuto acaba exigindo um redirecionamento de prioridades das linhas de ação das políticas públicas, 12 consolidando os direitos já assegurados na Constituição Federal, sobretudo tentando proteger o idoso em situação de risco social. Entretanto, deve-se ressaltar que essa legislação não tem sido eficientemente aplicada e isto se deve a vários fatores, quevão desde as contradições dos próprios textos legais, até o desconhecimento de seu conteúdo. Na análise de muitos juristas, Porto (2002) ressalta que a dificuldade de funcionamento daquilo que está disposto na legislação está muito ligada à tradição centralizadora e segmentadora das políticas públicas no Brasil, que provoca a superposição desarticulada de programas e projetos voltados para um mesmo público. A área de amparo à terceira idade é um dos exemplos que mais chama a atenção para a necessidade de uma intersetorialidade na ação pública, pois os idosos muitas vezes são vítimas de projetos implantados sem qualquer articulação pelos órgãos de educação, assistência social e de saúde. Mudanças ocorridas na estrutura populacional – crescimento exponencial da população brasileira de 60 anos ou mais de idade, longevidade e queda da fecundidade – está acarretando uma série de consequências sociais, culturais, econômicas, políticas e epidemiológicas, para as quais o país não está ainda devidamente preparado. Esse salto representa um fator de pressão importante para a inclusão do tema na agenda de prioridades do governo. Apresentado este contexto, vamos de descrever no decorrer deste estudo as políticas públicas elaboradas pela esfera federal destinada aos idosos no país e também discutir o quanto essas políticas públicas realmente garantem a cidadania no envelhecimento. Para tanto, este estudo faz uma revisão bibliográfica a cerca do o envelhecimento populacional brasileiro e as políticas públicas destinadas aos idosos no país, descrevendo os principais aspectos demográficos e estruturais do 13 processo de envelhecimento do país, e em seguida apresenta as principais propostas dos Ministérios da Saúde, da Assistência e Previdência social, da Educação, do Trabalho, dos Esportes e das Cidades em relação às políticas públicas formuladas para a população idosa. No final busca fazer uma reflexão sobre as políticas públicas e a cidadania no envelhecimento como o maior dos direitos a serem assegurados para este estrato populacional. O envelhecimento da população brasileira A população brasileira tem sofrido profundas transformações nas últimas três décadas na sua estrutura etária, que terão enormes repercussões em termos sociais e econômicos. Diante disso, torna-se necessário compreender a dinâmica demográfica brasileira. Entre 1940 e 1970 o Brasil experimentou um processo de rápido incremento demográfico, em virtude de seu alto crescimento vegetativo (queda na taxa de mortalidade e elevada taxa de fecundidade). A população passou de 41 milhões para 93 milhões de habitantes, com taxa média de crescimento de 2,8% ao ano (CARVALHO, 2003). As análises da época não esperavam que o país passasse por um processo de transição demográfica, com uma queda gradativa e constante das taxas de fecundidade, que viesse a diminuir o crescimento populacional, mas ao contrário previam que haveria no país, a chamada explosão populacional, que impediria o desenvolvimento e que causaria sérios problemas econômicos e sociais ao país. Campanhas de controle oficial da natalidade foram propostas, como única forma de 14 evitar o crescimento populacional numa ótica neomalthusianiana o que de fato não ocorreu no país (CARVALHO, 2004). Os dados preliminares de censo de 1991 vieram a confirmar o declínio da fecundidade, com uma população estimada em 147 milhões de pessoas e uma taxa média anual de crescimento em torno de 1,9%. Assim, ao fechar o século XX, o Brasil, como a maioria dos países em desenvolvimento, assistiu simultaneamente a queda nos níveis de dois importantes determinantes da sua estrutura populacional: a fecundidade e a mortalidade. A persistência desse duplo processo desestabilizou e modificou a distribuição por idade da população, que no caso brasileiro, provocou o inicio do crescimento da população idosa no Brasil nos anos setenta (WONG, 2001) O contexto e a velocidade com que ocorre o processo de transição demográfica e do envelhecimento da população brasileira apontam para uma crescente complexidade de alternativas de atenção às demandas da nova estrutura etária emergente. Em decorrência do célere processo demográfico e de profundas mudanças estruturais, necessariamente, o país passa a enfrentar problemas muito mais complexos do que nos países do primeiro mundo, pois, ainda se depara com problemas básicos como: ampla desigualdade social, cobertura social, problemas na atenção básica a saúde (mortalidade infantil, doenças infectocontagiosas), saneamento básico, educação, habitação, alimentação, pobreza, trabalho, etc. Sendo que, concomitantemente enfrentará problemas de um país envelhecido quanto às doenças crônico-degenerativas e, maiores custos com a saúde e seguridade social. (VERAS, 1994). As projeções da população, por grupo de idade até 2050, mostram que entre 2000 e 2050, a participação da população jovem continuará cadente, passando de 28,6% para 17,2%, enquanto ocorrerá um modesto declínio, no peso 15 da população adulta de 66,0 para 64,4% e, todo aumento concentrar-se a na população idosa, que ampliará sua importância relativa de 5,4% em 2000, para 18,4% em 2050, intensificando sobremaneira o envelhecimento demográfico brasileiro (MOREIRA, 2001). Nas figuras 1 e 2, temos as pirâmides populacionais para o Brasil no ano de 1940, antes do acentuado declínio da mortalidade e fertilidade e, em 2000, ano em que se projetam os efeitos decorrentes das alterações nas taxas de mortalidade e fertilidade neste final de século (RAMOS, 1997). Figura 1 - Pirâmide Populacional Brasileira: 1940 Figura 2 - Pirâmide Populacional Brasileira: 2000 Fonte: Ramos, 1997 Características estruturais da população idosa brasileira A distribuição urbano-rural da população de idosos (figura 3) insere-se no contexto do processo de crescente urbanização no Brasil. A proporção de idosos residentes nas áreas rurais passou de 18,6%, em 1991, para 23,5%, em 2000, 16 assim, o grau de urbanização da população idosa acompanhou a tendência da população total, ficando em torno de 81% em 2000 (IBGE, 2002) O fato é que o crescimento da população urbana vis-à-vis o incremento da população rural, resulta em um processo de urbanização do envelhecimento populacional. O processo de concentração de idosos nas áreas urbanas é mais visível em termos absolutos, pois acompanha o movimento geral da urbanização da população (MOREIRA, 2001). Figura 3: Distribuição rural-urbana de idosos em 1991 e 2000 Com relação aos aspectos relativos ao gênero no envelhecimento, Camarano (2002) afirma que ela baseia-se nas mudanças sociais ocorridas ao longo do tempo e nos acontecimentos ligados ao ciclo de vida. A maior longevidade feminina implica transformações nas várias esferas da vida social, uma vez que o significado social da idade está profundamente vinculado ao gênero. Nesse sentido, as implicações da feminização da velhice em termos sociais são notórias, dado que grande parte das mulheres é viúva, vive só, não tem experiência de trabalho no mercado formal e são menos educadas e mais pauperizadas. Fonte: IBGE, 2002 17 A razão de sexo da população idosa é bastante diferenciada, sendo bem maior o número de mulheres. Em 1991, as mulheres correspondiam a 54% da população de idosos, passando para 55,1% em 2000. Isto significa que para cada 100 mulheres idosas havia 81,6 homens idosos, relação que, em 1991, era de 100 para 85,2. Tal diferença é explicada pelos diferenciais de expectativa de vida entre os sexos, fenômeno mundial, mas que é bastante intenso no Brasil, haja vista que, em média, as mulheres vivem oito anos mais que os homens (IBGE,2002). Outro ponto importante que deve ser ressaltado é sobre a situação socioeconômica dos idosos, pois a pobreza é uma característica amarga da velhice. Apesar da heterogeneidade dos idosos, uma característica da maioria das sociedades é que as pessoas idosas são em geral mais pobres do que os adultos mais jovens da mesma população, principalmente as mulheres idosas. Assim, uma das características mais marcantes do envelhecimento populacional da maioria dos países da América Latina, nas quais o Brasil se insere, não é o da dimensão quantitativa e nem a intensidade e a rapidez do processo, mas por ocorrer em um contexto no qual o nível de pobreza é elevado e as desigualdades sociais são grandes (VERAS. 1994). 18 Um aspecto interessante quanto à renda dos idosos é que com a universalização dos benefícios da seguridade social, ocorrida na década passada, uma boa parcela das famílias com idosos, acrescentaram este importante componente de sustentação de suas rendas, complementar aos rendimentos provenientes do trabalho e da produção e, mais ainda, que muitas famílias, frente ao desemprego dos filhos, passaram a contar como fonte de sustento e sobrevivência com o rendimento da aposentadoria dos pais (IBGE, 2002). A figura 4 apresenta os rendimentos dos idosos de acordo com o tipo de contribuição. Figura 4: Rendimento total das pessoas de 60 anos entre homens e mulheres, segundo o tipo de rendimento de 1992 a 1999. Em relação à questão do analfabetismo no Brasil, devemos lembrar que mesmo sendo decrescente, ainda é alta. Hoje em dia, a faixa de 20 a 39 anos de idade tem a maior proporção de pessoas alfabetizadas da população e a menor na faixa acima de 60 anos, considerando apenas a população adulta brasileira (IBGE, 2002). A situação das mulheres é pior do que dos homens (figura 5), refletindo a dificuldade de frequentar escolas nas décadas passadas. Consequentemente, as mulheres mais velhas têm agora menos educação e menos recursos financeiros para lidar com as dificuldades e os custos do envelhecimento (VERAS, 1994). Figura 5: Proporção de idosos alfabetizados de acordo com o sexo Fonte: IBGE, 2002. 19 As diferenças regionais e a etnia dos idosos no país A queda da fecundidade brasileira não ocorreu simultaneamente e com a mesma intensidade entre as regiões brasileiras, e como, historicamente os níveis de fecundidade diferenciavam-se entre as regiões, o que se observa é um ponto de partida relativamente distinto do índice de idosos das regiões e uma evolução diferenciada do mesmo (MOREIRA, 1998). De acordo com Moreira (1997) o ano de 1960 marca o momento em que se desestabiliza a estrutura etária nacional e regional. Ampliam-se as discrepâncias entre os indicadores relativos às regiões Norte e Nordeste e às regiões Sul e Sudeste, cujos índices crescem muito mais velozmente. Por sua vez, a região Centro-Oeste mostra uma rápida evolução, antecipando um movimento que deverá projetar-se no futuro e que determinará a convergência de seus indicadores de envelhecimento para aqueles vigentes nas regiões mais envelhecidas do país. Dessa forma, as regiões Sudeste e Sul apresentam os mais elevados índices de idosos, pelo menos 50% maiores do que os índices das demais. Tanto o Sudeste como o Sul, com um índice próximo a 20%, superam flagrantemente os 7,7% apresentados pela região Norte e os 10,5% e 11,1% da região Nordeste e do Centro-Oeste. O índice (figura 6) mostra a razão percentual entre a população idosa (65 anos e mais) e a população jovem (menor de 15 anos de idade). Figura 6: Índice de Idosos por regiões do Brasil entre 1940 e 1991 Fonte: Moreira, 1997 20 Segundo Camarano (2002) em relação à etnia, de acordo com o censo de 2000, dos 14,5 milhões de idosos, 8,8 milhões eram brancos, cerca de 1,0 milhões era composto de negros e 4,4 milhões de pardos, o que corresponde, respectivamente, a 60,7%, 7,0% e 30,7% da população idosa. Os amarelos e indígenas constituem uma parcela pequena da população idosa, 1,2% (figura 7). Para Berquó (1999), o fato de a grande maioria da população negra no país pertencer aos estratos mais pobres da população e apresentarem uma sobre- mortalidade maior em relação à população branca, explica a sua menor participação dentre os idosos na população total. Apenas 5,1% da população negra chegou a atingir 65 anos e mais, na última década, em comparação com os 6% correspondentes aos idosos brancos. Os asiáticos são os que têm maior chance de atingir idades mais avançadas, apresentando 9,3% de sua população com 65 anos e mais. Figura 7 - Proporção de idosos de acordo com a raça e sexo em 2000. As políticas públicas no para os idosos no Brasil A Constituição Federal de 1988 estabeleceu em alguns dos seus artigos os direitos dos idosos e, considerando que a legislação seja apenas uma das inúmeras iniciativas a serem assumidas pelo poder público, verifica-se a Fonte: Camarano, 2002 21 necessidade de uma codificação mínima sobre o assunto a partir da esfera federal, surgiram em 1994 a Política Nacional do Idoso e, posteriormente em decorrência da necessidade de uma legislação federal especifica, o Estatuto do Idoso é aprovado em 2003. Portanto, pode-se primeiramente considerar, que no campo legislativo, o idoso está assegurado já que sua proteção tem assento constitucional. Objetivando dar sequência às garantias constitucionais, o legislador elaborou o primeiro instrumento legal de âmbito nacional, a Lei Federal n.8.842, de 4 de janeiro de 1994: A Política Nacional do Idoso. Essa política criou condições para promover a longevidade com qualidade de vida, colocando em prática as ações voltadas, não apenas para os que estão velhos, mas também para aqueles que vão envelhecer. O objetivo da política é de assegurar os direitos sociais dos idosos, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. A lei reafirma os princípios constitucionais, garantindo ao idoso a cidadania, com plena integração social, a defesa de sua dignidade e de seu bem estar e do direito à vida, bem como o repúdio a sua discriminação. Em consequência das diretrizes constitucionais e da necessidade de uma maior abrangência da Política Nacional do Idoso e do seu aprimoramento em 2003 é aprovado: O Estatuto do Idoso. O Estatuto basicamente reitera os termos da legislação federal, definindo a tarefa de cada órgão público na execução das diretrizes daquela política, sob a coordenação de órgão especifico, atualmente sob a Secretaria de Assistência Social. O Estatuto é um código de direitos, que propõe medidas de proteção e controle social e representa um avanço importante, na luta pela afirmação da dignidade da pessoa idosa. Ele cria um sistema jurídico em defesa do idoso, com regras processuais novas, que ampliam a competência dos juizados. E também define uma série de crimes contra a pessoa idosa e suas respectivas penas (detenção, reclusão e multas), facilitando a atuação do Ministério Público no combate ao desrespeito, ao abuso, aos maus tratos, à agressão, à violência e ao abandono que constituem as principais queixas dos idosos. Entretanto, o Estatuto do Idoso ainda é bastante desconhecido. Até nas grandes 22 cidades, que em geral já começam a programar políticas públicas dirigidas aos idosos, grande parte da população ignora totalmente a sua existência. As políticas públicas setoriais para os idosos no Brasil Abaixo seguem as Políticas Públicas Setoriais para idosos no Brasil na seguinte ordem: Políticas de Saúde, Política de assistência social, Políticas de trabalho, previdência e seguridade social, e finalmente as Políticas de esporte,turismo e lazer e educação para os idosos. • Políticas de Saúde para os idosos no Brasil O Ministério da Saúde atua como órgão normativo, já que considera que a operacionalização e a execução das ações voltadas para a atenção à saúde do idoso cabem as secretarias estaduais e municipais de saúde (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1993). Deste modo, na perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS), em dezembro de 1999, o Ministro da Saúde, considerando a necessidade do setor saúde,dispor de uma política devidamente expressa relacionada à saúde do idoso, aprovou a Política Nacional de Saúde do Idoso e determinou que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde, cujas ações se relacionem com o tema objeto da Política aprovada, promovam a elaboração ou a readequação de seus planos, programas, projetos e atividades na conformidade das diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas (BRASIL 1999). 23 A Lei ressalta que o apoio informal e familiar constitui um dos aspectos fundamentais na atenção à saúde desse grupo populacional Isso não significa, no entanto, que o Estado deixa de ter um papel preponderante na promoção, proteção e recuperação da saúde do idoso nos três níveis de gestão do SUS, capaz de otimizar o suporte familiar sem transferir para a família a responsabilidade em relação a este grupo populacional. Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um perfil de morbimortalidade típico de uma população jovem, para um caracterizado por enfermidades crônicas, próprias das faixas etárias mais avançadas, com custos diretos e indiretos mais elevados. Essa mudança no perfil epidemiológico acarreta grandes despesas com tratamentos médicos e hospitalares, ao mesmo tempo em que se configura num desafio para as autoridades sanitárias, em especial no que tange à implantação de novos modelos e métodos para o enfrentamento do problema. O idoso consome mais serviços de saúde, as internações hospitalares são mais frequentes e o tempo de ocupação do leito é maior do que o de outras faixas etárias. Em geral, as doenças dos idosos são crônicas e múltiplas, perduram por vários anos e exigem acompanhamento médico e de equipes multidisciplinares permanentes e intervenções contínuas (BRASIL, 1999). Nesse sentido, a Política Nacional de Saúde do Idoso apresenta como propósito basilar a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes permanência no meio em que vivem exercendo de forma independente suas funções na sociedade (BRASIL, 1999). Para a execução das diretrizes desta Política, no que se refere às da assistência e reabilitação da saúde do idoso, o Sistema Único de Saúde conta com 24 as Equipes de Saúde da Família para a Assistência Básica de Saúde, Hospitais Gerais e Centros de Referência à Saúde do Idoso (SILVESTRE; COSTA-NETO, 2003). Equipe de Saúde da Família - Hoje em dia, a maioria de nossos idosos vive de maneira independente na comunidade. Desta forma, o cuidado comunitário do idoso deve basear-se, fundamentalmente, na família e na atenção básica à saúde, através das Unidades Básicas de Saúde, em especial daquelas sob a Estratégia de Saúde da Família, as quais devem representar para o idoso o vínculo com o sistema de saúde. Centros de Referência em Assistência à Saúde do Idoso - Os Centros de Referência em Assistência à Saúde do Idoso fazem parte, juntamente com os Hospitais Gerais, da Rede Estadual de Assistência à Saúde do Idoso, cuja gestão está a cargo das Secretarias de Saúde dos estados, do Distrito federal e dos municípios em gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde, de acordo com o estabelecido na NOAS/2002. • Política de assistência social aos idosos no Brasil O Ministério do Desenvolvimento Social - Secretaria Nacional de Assistência e Ação social (MDS) é responsável pelo apoio técnico e financeiro a serviços de proteção social básica e especial e a programas e projetos executados por Estados, Municípios, Distrito Federal e entidades sociais, destinados ao 25 atendimento da pessoa idosa, principalmente as vulnerabilizadas pela pobreza, buscando assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade, conforme preconizam a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS 1997) e a Política Nacional do Idoso. Constituem propostas do Ministério da Assistência Social a serem elaboradas pelos estados e municípios como políticas publicas de assistência aos idosos os Centros e Grupos de Convivência, as Instituições de Longa Permanência, os Centros-Dia, as Casas-lar, as Repúblicas, além do Benefício de Prestação Continuada caracterizados a seguir: Centros e Grupos de Convivência - Consiste no fortalecimento de atividades associativas, produtivas e promocionais, contribuindo para autonomia, envelhecimento ativo e saudável, prevenção do isolamento social, socialização e aumento da renda própria. Instituições de Longa Permanência - Estabelecimentos equipados para atender pessoas com 60 anos ou mais, em regime de internato, mediante pagamento ou não, durante um período indeterminado. 26 Centros-Dia - Atenção integral às pessoas idosas que, por suas carências familiares e funcionais, não podem ser atendidas em seus próprios domicílios ou por serviços comunitários. Proporciona atendimento necessidades básicas durante o dia e a noite mantém o idoso com a família. Casas-Lar - Residência participativa destinada a idosos que estão sós ou afastados do convívio familiar e com renda insuficiente para sua sobrevivência. 27 Repúblicas - Alternativa de residência para os idosos independentes e, organizados em grupos, co-financiada com recursos da aposentadoria, do Benefício de Prestação Continuada, da renda mensal vitalícia ou outros rendimentos. Atendimento Domiciliar - Prestado à pessoa idosa com algum nível de dependência, com vistas à promoção da autonomia, da permanência no próprio domicilio e do reforço dos vínculos familiares e de vizinhança. O Benefício de Prestação Continuada (BCP) É um benefício de 01 (um) salário mínimo mensal pago às pessoas idosas com 65 (sessenta e cinco) anos e mais, conforme o estabelecido no Art. 34 da Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003 e no Estatuto do Idoso. 28 • Políticas de trabalho, previdência e seguridade social no Brasil É amplamente difundido que a atuação do Estado por meio do Instituto Nacional da Seguridade Social, apresenta distorções, que prejudicam as aposentadorias e pensões, uma vez que não correspondem ao retorno que deveria ter em face das contribuições pagas ao longo da vida produtiva dos trabalhadores aposentados. Com isso, em decorrência da diminuição dos rendimentos com a aposentadoria e dos maiores custos com a velhice, mesmo que seja uma velhice saudável, faz com que muitos idosos necessitem voltar ao mercado do trabalho (CAMARANO, 2001). Os principais benefícios da previdência social são: aposentadorias (por tempo de contribuição, idade ou invalidez) e pensões por morte. A aposentadoria por idade é, por definição, um benefício para atender especificamente aos idosos. É devida aos indivíduos que completam 65 anos, se homens, ou 60 anos, se mulheres desde que tenham contribuído por pelo menos 15 anos. São elegíveis para o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição os indivíduos que contribuíram para o sistema por no mínimo 35 anos, se homem, ou por 30 anos, no caso das mulheres (CAMARANO, 2002). Os idososde hoje viveram a sua vida ativa em um período marcado pelo crescimento econômico e por empregos estáveis e formais. Estão, atualmente, usufruindo os ganhos da Constituição de 1988 no que tange à ampliação da 29 cobertura dos benefícios da seguridade social, principalmente, nas áreas rurais. Em 2003, quase 80% da população idosa recebiam benefícios da seguridade social e 86% residiam em casa própria (CAMARANO, 2006). • Políticas de esporte, turismo e lazer e educação para os idosos. Cabe aos Ministérios do Esporte e do Turismo a elaboração, a implementação e o acompanhamento de programas esportivos e de exercícios físicos destinados às pessoas idosas, bem como de turismo que propiciem a saúde física e mental deste grupo populacional. Neste contexto, Veras (1994) propõe que a municipalidade deveria apoiar a criação de centros de lazer e clubes sociais de idosos com o intuito de socialização, reunião, desenvolvimento de atividades de recreação e lazer, viagens e turismo como acontece em outros países do mundo. A Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso incentivam a criação de programas educacionais destinados aos idosos, o acesso à informação, a inclusão digital e principalmente, o apoio à abertura de universidades abertas da terceira idade, tanto nas instituições públicas de ensino superior quanto nas instituições privadas. As políticas públicas e a cidadania no envelhecimento 30 Através de uma reflexão, este tópico tratará da questão levantada pelo trabalho quanto à legislação e o efeito das políticas públicas adotadas pelo governo federal para a cidadania dos idosos na sociedade brasileira. Em relação ao conceito de cidadania Pinsky (2003) define que ser cidadão é ter direitos civis, ou seja, direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei.É também ter direitos políticos e sociais, poder influenciar no destino da sociedade, ter a garantia da participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila. O autor ainda completa que exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais, que são resultados da luta de uma construção histórica da sociedade ocidental. A Constituição Federal, logo no art. 1º declara que são princípios fundamentais da Republica Federal do Brasil, a cidadania e a dignidade humana. Portanto, o idoso possui status de cidadão, tendo todos os seus direitos assegurados, como os de todos os cidadãos brasileiros, sem distinção. Outro pressuposto constitucional, que garantiria a cidadania aos idosos é de que um dos objetivos fundamentais da Republica é de promover o bem de todos, sem preconceito ou discriminação em face da origem, raça, sexo, cor, credo, idade e quaisquer outras formas de discriminação, assim, corroborando com este pressuposto, Barroso (1992) afirma que O Direito da Cidadania advém dos Direitos Individuais que se referem à vida, a liberdade, a segurança pessoal, à justiça e ao asilo; dos Direitos Sociais que são o trabalho, o salário, a seguridade social, a habitação, a cultura, e o lazer, e dos Direitos à Política Social que se relaciona com a participação do desenvolvimento do processo político, dos Direitos do Bem-estar que englobam o padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família a saúde, a alimentação, vestuário,e cuidados médicos) do Direito à Educação, do Direito à 31 Família e dos Direitos relativos ao Estado (acesso aos bens e serviços) e, finalmente do Direito à Assistência. Braga (2001) coloca que a cidadania é uma questão de preservação da identidade, independente da idade que esta pessoa tenha. A autora ainda afirma que não se trata de paternalismo ou protecionismo, ao contrário, trata-se de manutenção de direitos, direitos estes que não devem ser expropriados de ninguém, apenas com base num critério etário, pois como se sabe velhice não é sinônimo de incapacidade civil. No entanto, apesar dessa afirmativa, a velhice no Brasil representa uma ideia de improdutividade, de perda de papéis sociais, de dependência, doença e abandono, fazendo com que os idosos sejam considerados cidadãos de segundo categoria, ou mais ainda que a questão dos direitos seja uma questão menor e sem importância diante do peso de cuidar dessas pessoas. Por conseguinte, como em vários países do mundo, no Brasil os idosos não exercem sua cidadania - ao contrário - na etapa da velhice existe um processo de expropriação da autonomia, onde são vistos como incapazes de se relacionar com as pessoas de modo igualitário e de serem responsáveis pelas próprias ações. Veras (1999) considera que o idoso é comumente associado à doença e que essa impressão não é correta, pelo fato de mais de 80% deles estarem com sua autonomia e independência preservadas, mas é desta forma que a velhice é vista pela sociedade. Talvez, pela ênfase demasiada na doença, os aspectos sociais, que constituem um campo extremamente importante no estudo da terceira idade, sejam negligenciados e relegados a um plano secundário e também a questão da cidadania. De uma maneira geral, na etapa da velhice, é comum observarmos que as pessoas que cercam o idoso, frequentemente têm atitudes que contribuem para que ele vá perdendo a autonomia. A família, sob o pretexto de cuidar do bem estar do seu idoso, de protegê-lo e poupá-lo, costuma alija-o das decisões, tirando a sua 32 liberdade de escolha e chegando a decidir o que ele deve comer vestir, falar, ir e vir e até mesmo como se comportar. Frequentemente a família assume a administração dos bens do idoso, desfaz sua casa e cria uma forma de dependência cada vez maior. Como consequência, o idoso torna-se um dependente, perde a autonomia e não controla nem mesmo seu próprio dinheiro. E em decorrência da diminuição da renda com a aposentadoria e os gastos com a saúde, o grau de dependência torna-se maior.Nesse contexto, Braga (2001) coloca que: No caso específico do idoso a dimensão de liberdade e consequentemente, o exercício da cidadania, dependem da criação de condições favoráveis à manutenção de seu poder de decisão, escolha e deliberação. Tais condições serão efetivadas quando a sociedade perceber que precisa mudar seu comportamento em relação ao envelhecimento. (pág 7). A questão previdenciária, também afeta a questão da cidadania do idoso. Uma melhor renda aos aposentados, pode garantir o exercício da autonomia, uma vez que eles não dependem de terceiros para se manterem com dignidade. Neste sentido, o Brasil tem um marco inicial em relação à construção da cidadania na velhice: a Constituição Federal de 1988 que garantiu uma renda mínima para os idosos no país. O respeito aos direitos daqueles que envelhecem e uma sociedade consciente desse princípio é capaz de mobilizar o Estado para garantir o espaço social reservado aos velhos e envelhescentes e de formular políticas públicas voltadas para este estrato populacional. O contexto societário em que estamos edificando nossas relações sociais não nos permite mais separar o curso da vida a partir da criança, o jovem, o adulto e o velho. É necessário estabelecermos uma sociedade na qual seus membros se sintam participantes de suas estruturas econômicas, políticas e sociais. Podemos criar imagens de um envelhecimento assimilando-o como parte integrante de nossas transformações bio-psico-sociais de forma positiva. Saber nos prepararmos para esse fenômeno inevitável em nossas vidas é o ponto crucial para a consolidação da cidadania na velhice. Nesse sentido, Wieczynski (2006) propõe que somente através do engajamento dos idosos em uma vida ativa e participante 33 nas decisões que os afetam é que a cidadania para o idoso serárealmente efetivada, fortalecida e ampliada. O ESTATUTO DO IDOSO Atualmente, o Estatuto do Idoso, criado pela Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003, estabelece prioridade absoluta às normas protetivas ao idoso, elencando novos direitos e estabelecendo vários mecanismos específicos de proteção os quais vão desde precedência no atendimento ao permanente aprimoramento de suas condições de vida, até à inviolabilidade física, psíquica e moral (Ceneviva, 2004). Segundo Uvo e Zanatta (2005), esse Estatuto constitui um marco legal para a consciência idosa do país; a partir dele, os idosos poderão exigir a proteção aos seus direitos, e os demais membros da sociedade tornar-se-ão mais sensibilizados para o amparo dessas pessoas. No âmbito desse Estatuto, os principais direitos do idoso encontram-se no artigo 3º, o qual preceitua que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Apesar da importância dos aspectos ora explícitos referentes ao Estatuto do Idoso, Neri (2005), ao analisar as políticas de atendimento aos direitos do idoso expressos nesse marco legal, concluiu que o documento é revelador de uma ideologia negativa da velhice, compatível com o padrão de conhecimentos e atitudes daqueles envolvidos na sua elaboração (políticos, profissionais, grupos organizados de idosos), segundo os quais o envelhecimento é uma fase compreendida por perdas físicas, intelectuais e sociais, negando análise crítica consubstanciada por dados científicos recentes que o apontam, também, como uma ocasião para ganhos, dependendo, principalmente, do estilo de vida e do 34 ambiente ao qual o idoso foi exposto ao longo do seu desenvolvimento e maturidade. Assim sendo, Neri (2005) ressalta que políticas de proteção social, baseadas em suposições e generalizações indevidas, podem contribuir para o desenvolvimento ou a intensificação de preconceitos negativos e para a ocorrência de práticas sociais discriminatórias em relação aos idosos. A consideração dos direitos dos idosos deve ocorrer no âmbito da noção de universalidade do direito de cidadãos de todas as idades à proteção social, quando se encontrarem em situação de vulnerabilidade. A despeito dessa ideologia negativa da velhice embutida na construção do Estatuto do Idoso, é de fundamental importância que todos os segmentos da sociedade, operadores jurídicos e, principalmente, os idosos, sejam instruídos quanto aos seus aspectos positivos, pois eles precisam conhecer seus direitos para exercê-los e reivindicá-los. AVANÇOS E RETROCESSOS à LUZ DO ESTATUTO DO IDOSO No tocante à eficácia, pode-se dizer que quando necessitamos de leis que garantam direitos trazidos na Constituição estamos até certo ponto desrespeitamos a mesma, e que fundamentalmente estamos um passo atrás do que nossa Carta magna traz em seu teor. Com tudo que já foi mencionado chega-se ao ponto de que o estatuto veio garantir aos idosos mecanismos de preservação de sua dignidade para com a sociedade. Como nota-se após o início de sua vigência a eficácia de seus artigos 35 passaram a ser questionados por alguns juristas, que questionavam o que trazia o artigo 94, que permitiu que o Código Penal beneficie o réu mais do que a vítima, pois o mesmo traz que nos casos nos quais a pena não ultrapassar quatro anos de reclusão, seja utilizado o que diz a Lei 9.099/95, já que segundo essa lei, o infrator que recebe pena de, no máximo, um ano não deve ficar recluso. Com o esclarecido acima se afirma que pelo princípio da isonomia constitucional, a partir da entrada em vigor do Estatuto do Idoso, o tempo de benefício de cumprir a sanção penal de um delito contra o idoso, fora da prisão, antes somente para penas de 01 ano, fora ampliado para penas de até 04 anos, benefício oriundo do art.94 do Estatuto do Idoso. No que se refere aos avanços, cabe destacar que a legislação que defende os interesses dos idosos em nossos pais, ou seja, o estatuto do idoso, é considerado uma das mais modernas do mundo, o mesmo tem vários pontos positivos. Vale a pena destacar alguns destes pontos positivos trazidos aos idosos pelo Estatuto do Idoso, tais como: a) Sistema de cotas nas moradias construídas com recursos federais (percentual de 3%); b) Salário mínimo mensal a todos os idosos com mais de sessenta e cinco anos, o que representou uma redução de dois anos, menos que a Lei Orgânica da Assistência Social; c) Fornecimento de medicamentos e instrumentos de reabilitação e tratamento pelo Estado; d) Proibição de reajuste de plano de saúde em detrimento a faixa etária; e) Transporte coletivo gratuito; f) Atendimento preferencial e imediato em todos os órgãos públicos e privados; g) Vagas preferênciais em estacionamento; 36 h) Obrigatoriedade na adequação das empresas prestadoras de serviços, para abrigar pelo menos 20% do seu quadro funcional com pessoas maiores de quarenta e cinco anos. Pode-se ainda dá destaque ao seu aspecto processual, no qual traz a inclusão da Ordem dos Advogados do Brasil como legitimada para defender os direitos dos interesses coletivos dos idosos. (inciso III do art. 81) Por outro lado, o Estatuto do Idoso trouxe em seu teor o princípio da proteção integral a favor de pessoas indefesas em virtude da idade, nesse sentido cita-se este como ponto negativo por trazer um pouco de preconceito. Pode-se citar também outro ponto negativo trazido pelo Estatuto dos Idosos, que é o de que em muitos artigos não inovaram e trazem pressupostos genéricos, que independem da idade. Deve-se citar que o Estado também peca muito quando se trata da elaboração de políticas públicas para garantir ao idoso o direito ao trabalho, mesmo estando garantido no Estatuto, fruto do anseio de uma sociedade que sempre soube esconder a discriminação de contratar pessoas com idade acima de 35 anos. Cita-se como outro ponto negativo o sistema previdenciário que é tratado com descaso pelo Estado, afinal não se aplica a política de reajuste que garanta a manutenção de valor dos salários iniciais. Quanto à habitação e ao transporte, existe uma deficiência nas políticas públicas voltadas para o idoso, já que a maioria dos idosos e pensionistas tem nível econômico baixo, provocando um crescimento de idosos sem teto, moradia e abrigo. Considerações finais Descrevemos as políticas públicas e a questões referentes aos direitos dos idosos, frente às demandas provocadas pelo processo de envelhecimento populacional brasileiro. Até o final dos anos 50, tínhamos uma alta taxa de fecundidade, uma alta taxa de mortalidade e uma baixa expectativa de vida. Esta situação começou a 37 mudar a partir dos anos 60, sem que uma ação efetiva em termos demográficos, tenha ocorrido, por parte do Estado brasileiro, como por exemplo, uma política de controle da natalidade. É obvio que ocorreram melhoras nas condições de vida e de saúde da população, através do controle de doenças e práticas sanitárias, mesmo que de maneira precária, pois ainda o país apresenta tais problemas em várias de suas cidades e regiões. O Estado Brasileiro está diante de uma população com um contingente crescente de idosos. Todo um processo segue uma determinada sequência lógica. Como os idosos aumentaram em termos quantitativos, e passaram a aglutinar ações, que visavam a melhorar as suas condições de vida e a reivindicar por seus direitos. E certamente, envolvendo muitas outras pessoas, como pesquisadores, professores universitários,profissionais das áreas de geriatria, juristas e também entidades representativas desse segmento como associações de aposentados, organizações não-governamentais. Assim, as reivindicações desse conjunto de atores passaram a exercer uma pressão sobre a classe política, fazendo com que fossem colocadas na agenda política as suas prioridades e, mais adiante, a elaboração de legislação pertinente à proteção social e civil dos idosos. A Constituição Federal de 1988 apresenta muitos artigos que visam à proteção dos direitos dos idosos e muitas outras leis foram criadas no país, principalmente a Política Nacional do Idoso em 1994, culminando na mais atual: O Estatuto do Idoso. O fato é que tanto o Estado quanto a sociedade devem garantir aos idosos as condições de desfrutar de uma vida mais longa com dignidade. Atender aos desafios decorrentes das mudanças na estrutura etária do país, que envolve o crescimento do número de pessoas envelhecidas, implica em assegurar a equidade na distribuição de recursos e das oportunidades sociais. Neste contexto, trata-se de identificar quais são os problemas prioritários para a população idosa brasileira e de definir que ações devem ser privilegiadas para enfrentar esses problemas. Assim, para desenvolver intervenções adequadas às características sociais e culturais da população idosa, é preciso conhecer um pouco mais sobre a maneira como os idosos brasileiros envelhecem e quais são as dificuldades que encontram 38 nesse percurso. O envelhecimento de uma população é uma aspiração natural de qualquer sociedade; mas tal, por si só, não é o bastante. É importante almejar uma melhoria na qualidade de vida daqueles que já envelheceram ou que estão no processo de envelhecer. Cabe a um país que esta envelhecendo proporcionar aos seus cidadãos os meios para alcançar um envelhecimento saudável e de qualidade, sendo que as demandas perpassam a questão biológica da velhice, sobretudo envolve questões sociais, econômicas de direitos e culturais nesta etapa de vida dos seres humanos. Finalmente, pode-se afirmar que o Estado brasileiro está diante de um grande desafio a enfrentar, em decorrência das transformações provocadas pela ampliação do tempo de vida das pessoas, tendo em vista que ainda apresenta problemas típicos dos países periféricos como: enfrentamento da mortalidade infantil e controle das doenças transmissíveis, grande parte da população sem acesso a uma educação de qualidade; importantes desigualdades regionais e sociais, desemprego, trabalho informal e precário, déficit habitacional, violência urbana, etc., ao mesmo tempo terá que lidar com um tipo de demanda por serviços médicos e sociais outrora restrita aos países desenvolvidos. Neste contexto, o envelhecimento no Brasil pode ser encarado como um problema diante da escassez de recursos do país. Mas, o olhar não é necessariamente este, uma vez que o envelhecimento é uma conquista tanto dos indivíduos quanto da sociedade. Como afirma Alex Kalache (1988): O Envelhecimento é uma conquista a ser celebrada. E o resultado que qualquer indivíduo ou sociedade almeja para si: a alternativa é que é um problema: A morte precoce! (pág.15) As demandas são muitas e os desafios também, porém o caminho é um só: cabe ao Estado e a sociedade reagir, planejar e, sobretudo, desenvolver políticas públicas consistentes, visando proporcionar a melhor qualidade de vida possível aos seus cidadãos, incluindo aí as pessoas que atinjam a terceira idade. 39 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. Texto compilado Mensagem de veto Vigência (Vide Decreto nº 6.214, de 2007) Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Disposições Preliminares Art. 1 o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Art. 2 o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.741-2003?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/Mensagem_Veto/2003/Mv503-03.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm#art118 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6214.htm 40 Art. 3 o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: § 1º A garantia de prioridade compreende: (Redação dada pela Lei nº 13.466, de 2017) I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela Lei nº 11.765, de 2008). § 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente em relação aos demais idosos. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017) Art. 4 o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei. § 1 o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. § 2 o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 5 o A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13466.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13466.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11765.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11765.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13466.htm#art2 41 Art. 6 o Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competentequalquer forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento. Art. 7 o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei n o 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei. TÍTULO II Dos Direitos Fundamentais CAPÍTULO I Do Direito à Vida Art. 8 o O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente. Art. 9 o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. CAPÍTULO II Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. § 1 o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos: I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – prática de esportes e de diversões; V – participação na vida familiar e comunitária; VI – participação na vida política, na forma da lei; VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação. § 2 o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. § 3 o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8842.htm 42 CAPÍTULO III Dos Alimentos Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil. Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores. Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil. Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil. (Redação dada pela Lei nº 11.737, de 2008) Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social. CAPÍTULO IV Do Direito à Saúde Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. § 1 o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de: I – cadastramento da população idosa em base territorial; II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios; III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia social; IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural; V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das seqüelas decorrentes do agravo da saúde. § 2 o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. § 3 o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. § 4 o Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento especializado, nos termos da lei. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11737.htm#art2 43 § 5 o É vedado exigir o comparecimento do idoso enfermo perante os órgãos públicos, hipótese na qual será admitido o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013) I - quando de interesse do poder público, o agente promoverá o contato necessário com o idoso em sua residência; ou (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013) II - quando de interesse do próprio idoso, este se fará representar por procurador legalmente constituído. (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013) § 6 o É assegurado ao idoso enfermo o atendimento domiciliar pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, pelo serviço público de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado ou conveniado, que integre o Sistema Único de Saúde - SUS, para expedição do laudo de saúde necessário ao exercício de seus direitos sociais e de isenção tributária. (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013) § 7º Em todo atendimento de saúde, os maiores de oitenta anos terão preferência especial sobre os demais idosos, exceto em caso de emergência. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017). Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico. Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por escrito. Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável. Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita: I – pelo curador, quando o idoso for interditado; II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil; III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar; IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público. Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda. Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos: Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos serão objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade sanitária, bem como serão obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: (Redação dada pela Lei nº 12.461, de 2011) I – autoridade policial; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12896.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12896.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12896.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12896.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12896.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13466.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12461.htm#art2 44 II – Ministério Público; III – Conselho Municipal do Idoso; IV – Conselho Estadual do Idoso; V – Conselho Nacional do Idoso. § 1 o Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra o idoso qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico. (Incluído pela Lei nº 12.461, de 2011) § 2 o Aplica-se, no que couber, à notificação compulsória prevista no caput deste artigo, o disposto na Lei n o 6.259, de 30 de outubro de 1975. (Incluído pela Lei nº 12.461, de 2011) CAPÍTULO V Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade. Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados. § 1 o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna. § 2 o Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da identidade culturais. Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais. Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de envelhecimento. Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual. Art. 25. As instituições de educação superior ofertarão às pessoas idosas, na perspectiva da educação ao longo da vida, cursos e programas de extensão, presenciais ou a distância, constituídos por atividades formais e não formais. (Redação dada pela lei nº 13.535, de 2017) Parágrafo único. O poder público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12461.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6259.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12461.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13535.htm#art1 45 idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual. (Incluído pela lei nº 13.535, de 2017) CAPÍTULO VI Da Profissionalização e do Trabalho Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas. art27Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir. Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada. Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de: I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas; II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania; III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho. CAPÍTULO VII Da Previdência Social Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social observarão, na sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram contribuição, nos termos da legislação vigente. Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na mesma data de reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do seu último reajustamento, com base em percentual definido em regulamento, observados os critérios estabelecidos pela Lei n o 8.213, de 24 de julho de 1991. Art. 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a concessão da aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data de requerimento do benefício. Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput observará o disposto no caput e § 2 o do art. 3 o da Lei n o 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários-de- contribuição recolhidos a partir da competência de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei n o 8.213, de 1991. Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com atraso por responsabilidade da Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para os reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, verificado no período compreendido entre o mês que deveria ter sido pago e o mês do efetivo pagamento. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13535.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13535.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/art27 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9876.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9876.htm#art3%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm#art35 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm#art35 46 Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1 o de Maio, é a data-base dos aposentados e pensionistas. CAPÍTULO VIII Da Assistência Social Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme os princípios e diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacional do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais normas pertinentes. Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007) Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são
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