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UNIVERSIDADE TIRADENTES GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO PAULA KARINE DE SÁ DANTAS ARQUITETURA DO APOCALIPSE - NAVE TERRESTRE COMO MODELO RESIDENCIAL DE PROJETO AUTOSSUSTENTÁVEL SOBREVIVENCIALISTA ARACAJU 2021 PAULA KARINE DE SÁ DANTAS ARQUITETURA DO APOCALIPSE - NAVE TERRESTRE COMO MODELO RESIDENCIAL DE PROJETO AUTOSSUSTENTÁVEL SOBREVIVENCIALISTA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo no Programa de Graduação da Universidade Tiradentes. ORIENTADORA: PROF. ME. MILLENA MOREIRA FONTES ARACAJU 2021 PAULA KARINE DE SÁ DANTAS ARQUITETURA DO APOCALIPSE - NAVE TERRESTRE COMO MODELO RESIDENCIAL DE PROJETO AUTOSSUSTENTÁVEL SOBREVIVENCIALISTA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo no Programa de Graduação da Universidade Tiradentes. Aprovado em: 09/12/2021. BANCA EXAMINADORA Profa. Me. Millena Moreira Fontes (Orientadora - UNIT) Profa. Me. Rosany Albuquerque Matos (Avaliadora Interna - UNIT) Arq. e Urb. Elaine Vasconcelos Nascimento (Avaliadora Externa) ARACAJU - 2021 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho às pessoas, que assim como eu, lutam incansavelmente por um mundo melhor, se empenhando em transformar nosso planeta em um ambiente digno de vivência e não apenas de sobrevivência. AGRADECIMENTOS Concluo mais uma etapa da minha vida carregando uma gama de experiências que levarei comigo para sempre, assim como àqueles que me foram importantes ao longo dessa jornada. Desse modo, não posso deixar de expressar a minha profunda gratidão e reconhecimento: À minha mãe Esmeralda e ao meu pai Paulo por me transmitirem tanto amor e dedicação que nem cabe no meu peito. Agradeço por sempre me ouvirem, por cada palavra de conforto e por sempre me incentivarem a correr atrás dos meus sonhos me aconselhando da melhor forma possível. À minha avó Claudinete por ser uma mulher extremamente guerreira e sempre estar me passando essa força, além de ter me ajudado financeiramente com os custos da faculdade sem nem pensar duas vezes. À minha tia e madrinha Sandra por ter me acolhido em sua casa quando me mudei para Aracaju. Sem elas eu não estaria vivendo esse sonho. À Mariana, Rebeca e Vitória, o meu eterno grupo de mulheres incríveis e sensacionais que tive a honra de percorrer todo esse trajeto ao longo do curso, compartilhando diversas madrugadas acordadas, sorrisos, choros e incontáveis emoções. Obrigada por nunca soltarem a minha mão e sempre estarem comigo em todos esses momentos. Aos amigos que fiz ao longo do caminho: André Lucas, Max, Lucas, Dani, Rodrigo e tantos outros que me apoiaram e contribuíram na minha caminhada durante esses cinco anos. À Tia Reni e tio Batista pelo coração gigante e por sempre nos acolher com muito amor em sua casa para os nossos inúmeros incentivões de estudos. Por fim, porém não menos importante, quero agradecer a mim mesma pelo esforço em meio a todas as dificuldades que tive que enfrentar para chegar até aqui, e, mesmo pensando em desistir diversas vezes ainda fui capaz de continuar lutando e acreditando no meu potencial, trabalhando a minha mente com foco nos meus objetivos e metas futuros. EPÍGRAFE “A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela forma como nos acostumamos a ver o mundo.” Albert Einstein RESUMO Este trabalho tem como objetivo desenvolver uma discussão sobre modelos alternativos de residências autossustentáveis com foco no sobrevivencialismo, onde podemos nos questionar sobre o futuro incerto tão temido pelas pessoas, uma vez que os graves problemas ambientais e de saúde coletiva de nossa época (pós-pandemia do COVID-19, 2021) tendem a se tornar ainda mais devastadores no futuro, como o aparecimento de catástrofes ambientais, novas epidemias ou até mesmo o ressurgimento de outras que pareciam ter definitivamente desaparecido. Esta pesquisa fundamenta-se no trabalho desenvolvido pelo arquiteto Michael Reynolds, o “Guerreiro do Lixo” e bioarquiteto. Sua bioarquitetura é baseada em criar espaços utilizando materiais visto como lixo pela maioria das pessoas – garrafas, latas, pneus – junto a matérias-primas naturais, como madeira e terra. Como objeto de estudo, foi analisado um modelo residencial de Nave Terrestre, de acordo com um conjunto de características criadas pelo arquiteto supracitado, o qual desenvolveu seis características que servem de pilares para esse tipo de edificação, comercializadas como exemplo de sustentabilidade e habitação. A partir disso, como produto final, foi desenvolvido um protótipo inspirado nas técnicas sustentáveis e sobrevivencialistas, instigando uma nova forma de construção e estilo de vida. PALAVRAS CHAVE: Arquitetura do Apocalipse. Construção sustentável. Sobrevivencialismo. Naves Terrestres. ABSTRACT This research aims to develop a discussion on alternative models of self-sustainable housing with a focus on survivalism, where we can ask ourselves about the uncertain future so feared by people, since the serious environmental and public health problems of our time (post -COVID-19 pandemic, 2021) tend to become even more devastating in the future, with the appearance of environmental catastrophes, new epidemics or even the resurgence of others that seemed to have had definitively disappeared. This research is based on the work by the architect Michael Reynolds, the “Warrior of the Garbage'' and bioarchitect. His bioarchitecture is based on creating spaces using materials seen as waste by most people – bottles, cans, tires – together with natural raw materials such as wood and earth. As an object of study, a residential model of Earthship was analyzed, according to a set of characteristics created by the aforementioned architect, who developed six characteristics that serve as pillars for this type of building, marketed as an example of sustainability and housing. As a result and final product, a prototype was developed, inspired by sustainable and survivalist techniques, instigating a new form of construction and lifestyle. KEYWORDS: Architecture of the Apocalypse. Sustainable construction. Survivalism. Earthship Home. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 01 - Mapa do índice de Estados frágeis em 2021. 17 Imagem 02 - Estação Arca orbitando em volta da terra na série The 100. 19 Imagem 03 - Os chamados terráqueos que cresceram na terra depois do apocalipse. 19 Imagem 04 - Mapa do Bunker Mount Weather nas mãos da personagem Clarke. 20 Imagem 05 - Cartaz da Warner Bros Pictures. 21 Imagem 06 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). 26 Imagem 07 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 27 Gráfico 01 - Relatório dos Indicadores para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 28 Imagem 08 - O ex-gov da Califórnia, Jerry Brown (esquerda) e o ex-secretário de Defesa William Perry exibindo o Relógio do Apocalipse durante conferência de imprensa do Boletim dos Cientistas Atômicos, em Washington. 33 Gráfico 02 - Situação do relógio do apocalipse desde 1947 a 2020. 34 Imagem 09 - Modelo de Bunker prático e seguro. 36 Imagem 10 - Segundo modelo de Bunker. 36 Imagem 11 - Comunidade de Bunkers subterrâneos em Dakota do Sul, EUA. 37 Imagem 12 - Parte interna do Bunker sem layout. 37 Imagem 13 - Parte interna do Bunker com montagem de layout. 38 Imagem 14 - Modelo de CyberHouse. 39 Imagem 15 - Entrada do condomínio.39 Imagem 16 - Estrutura em construção. 39 Imagem 17 - Michael Reynolds no processo de construção da Nave Terrestre. 42 Imagem 18 - Michael Reynolds no processo de construção da Nave Terrestre. 42 Imagem 19 - Pilares que caracterizam as Naves Terrestres. 42 Imagem 20 - Vista aérea de modelos de Naves Terrestres. 45 Imagem 21 - Fachada da Nave Terrestre de Sobrevivência Simples. 47 Imagem 22 - Modelo mais simples com um cômodo estilo loft. 48 Imagem 23 - Modelo 1 com dois cômodos. 48 Imagem 24 - Modelo com três cômodos. 48 Imagem 25 - Fachada da Nave Terrestre modelo Global. 49 Imagem 26 - Planta baixa da Nave Terrestre modelo Global. 49 Imagem 27 - Fachada da Nave localizada no Novo México. 50 Imagem 28 - Modelo 1 de planta baixa da Nave Terrestre de Unidade. 51 Imagem 29 - Modelo 2 de planta baixa da Nave Terrestre de Unidade. 51 Imagem 30 - Correia de aço inserida no pneu com a terra compactada. 52 Imagem 31 - Construção estrutural com pneus, terra compactada e latinhas. 53 Imagem 32 - Exemplo de maquete representando a formação das paredes com pneus. 53 Imagem 33 - Parede externa do banheiro com detalhamento de tijolos de garrafas. 54 Imagem 34 - Parede interna do banheiro com detalhamento de tijolos de garrafas. 54 Imagem 35 - Esquema dos detalhes construtivos das paredes e cobertura. 55 Imagem 36 - Modelo de maquete demonstrando o suporte com vergalhões. 56 Imagem 37 - Esquema de estrutura da abóbada. 56 Imagem 38 - Montagem da abóbada. 57 Imagem 39 - Exemplo da localização das cisternas no modelo Global de Nave Terrestre. 58 Imagem 40 - Esquema do calor durante o dia. 58 Imagem 41 - Esquema do calor durante à noite. 59 Imagem 42 - Tubo de resfriamento inserido entre os pneus. 59 Imagem 43 - Indicação das janelas operáveis e clarabóias. 60 Imagem 44 - Modelo de captação de água. 61 Imagem 45 - Esquema de utilização da água da chuva. 61 Imagem 46 - Esquema do tratamento da água cinza e preta. 62 Imagem 47 - Paisagismo inserido na edificação. 62 Imagem 48 - Modelo de captação da luz por meio de placas solares. 63 Imagem 49 - Nave Terrestre vista pela noite. 63 Imagem 50 - Produção de alimentos por meio da hidroponia no modelo Unidade de Nave Terrestre. 64 Imagem 51 - Produção de alimentos por meio de um viveiro de tilápias no modelo Unidade de Nave Terrestre. 64 Gráfico 03 - Avanço do preço do metro quadrado no estado de Sergipe nos anos de 2020 e 2021. 66 Imagem 52 - Representação do Cubo de Metatron. 68 Imagem 53 - Esboço inicial da forma do protótipo. 69 Imagem 54 - Estudo preliminar do protótipo. 69 Imagem 55 - Terreno escolhido. 69 Imagem 56 - Paredes estruturais de vermelho e paredes internas de preto. 70 Imagem 57 - Localização das claraboias. 70 Imagem 58 - Localização das cisternas. 71 Imagem 59 - Localização das placas solares. 72 Imagem 60 - Pátio interno. 72 Imagem 61 - Jardim de entrada. 73 Imagem 62 - Jardim de entrada. 73 Imagem 63 - Viveiro e plantação hidropônica na sala de jantar e cozinha. 74 Imagem 64 - Extensão do viveiro até a sala de estar. 74 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 12 2 O PÓS APOCALIPSE 14 2.1 QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 14 2.2 ANÁLISE DO PÓS APOCALIPSE E SUA RELAÇÃO NO CONTEXTO ATUAL DA PANDEMIA 18 3 ARQUITETURA APOCALÍPTICA SUSTENTÁVEL 23 3.1 SUSTENTABILIDADE 23 3.2 FIM DO MUNDO 30 3.3 ABRIGOS E FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA 35 3.4 NAVES TERRESTRES DA BIOARQUITETURA 40 4 ESTUDOS DE CASO 46 4.1 MODELOS DE NAVES TERRESTRES 47 4.1.1 SIMPLE SURVIVAL EARTHSHIP 47 4.1.2 GLOBAL EARTHSHIP 49 4.1.3 UNITY EARTHSHIP 50 4.2 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 52 4.3 AQUECIMENTO E REFRIGERAÇÃO 57 4.4 COLETA DE ÁGUA 61 4.5 TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS 62 4.6 SISTEMA DE ELETRICIDADE 63 4.7 PRODUÇÃO ALIMENTAR 64 5 PROTÓTIPO 65 5.1 ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS 65 5.2 MODELO 67 6 CONCLUSÕES 75 REFERÊNCIAS 77 12 INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, o ser humano sempre imaginou um fim apocalíptico cheio de destruição e miséria, onde, em quase todos os casos acabaria com a extinção da nossa raça. A partir disso, foram criadas e imaginadas inúmeras hipóteses e formas de lidar com esse evento catastrófico. Entretanto, tais formas acabam desconsiderando o nosso planeta, mesmo sendo a nossa verdadeira casa e maior fonte de vida que temos, juntamente com todos os recursos que ela nos dá. Infelizmente, indústrias e grande parte da população ainda se omitem quando o assunto envolve o ecossistema e os bens naturais. O pensamento ambientalista é demasiado recente, iniciando-se nos anos 70, com as conferências realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), a exemplo da de Estocolmo, singular pela busca por equilíbrio entre desenvolvimento econômico e redução da degradação ambiental até os anos 90, com a definição do conceito de desenvolvimento sustentável. Em meio a essa temática, o presente trabalho, a partir de uma revisão de literatura e pesquisa bibliográfica realizada por meio de fontes primárias e secundárias, buscou trazer uma abordagem alternativa diferente da midiática do apocalipse, seguindo a linha da sustentabilidade e otimismo. Diante disso, será abordado a existência de soluções viáveis de construções que auxiliarão para uma nova proposta para o destino incerto da humanidade, respeitando o ambiente e fomentandoqualidade de vida, aprimorando um novo conceito e estilo de se viver como princípio da auto-suficiência. O objetivo geral é desenvolver uma análise de abrigo futurista autossustentável com foco no sobrevivencialismo, onde será estudado o modelo de residência desenvolvido pelo arquiteto Michael Reynolds, instigando uma nova forma de filosofia e pensamento. Dentre os objetivos específicos: analisar o panorama histórico da arquitetura no contexto sobrevivencialista; debater sobre as razões que sustentam as propostas de uma arquitetura apocalíptica; além de investigar as soluções apresentadas na arquitetura a partir de modelos de abrigos que possam contribuir com a qualidade de vida das pessoas, sob o paradigma do apocalíptico e do sobrevivencialismo, por fim, uma breve discussão de ressignificação e esclarecimento do termo apocalíptico utilizado neste trabalho. A partir disso, é elaborada uma pesquisa histórica sobre sustentabilidade e os impactos causados pelo aquecimento global no decorrer dos anos, consequentemente, é analisada a 13 ideia de fim do mundo com o surgimento de abrigos de sobrevivência existentes. Dentre os fatos apresentados, inseriu-se um estudo sobre um novo conceito de casa, com a finalidade de mudar o ambiente construído para melhor. O intuito é viver com sistemas sustentáveis diferentes dos tradicionais e que possam melhorar a vida das pessoas, por isso a necessidade de investir em edifícios que possam “respirar sozinhos” aumentando o conforto psicológico e fisiológico. Diante disso, as edificações futurísticas deverão fornecer sua própria energia, água e tratamento de esgoto; uma área para o cultivo de alimentos saudáveis; ter uma excelênte qualidade do ar interno; ser resistente a pragas, a mofo e ao fogo; ser feita de materiais sustentáveis e duráveis; ter uma expectativa de vida superior a das casas atuais; possuir uma boa estética e que seja agradável para morar; construída de forma rápida e eficiente com o mínimo de desperdício; e que seja acessível para todos. Por fim, pensado para o clima da cidade de Aracaju no Estado de Sergipe, como produto final desta pesquisa, foi desenvolvido um protótipo de modelo residencial baseado nos conceitos do arquiteto Michael Reynolds, contendo soluções com o objetivo de ressignificar o entendimento sobre o futuro do nosso planeta com alternativas de vida e construção fora dos padrões, possibilitando a junção da biologia e arquitetura como o caminho mais rápido e eficaz para fazer a diferença no mundo. 14 2 O PÓS APOCALIPSE Imagine que você está no sofá da sua casa, liga a TV e as notícias são de milhares de catástrofes naturais e de pessoas em situação de miséria e fome, epidemias e guerras por todo lugar e inúmeras situações que fogem do seu controle. Você sai de casa e se vê em uma posição perturbadora e devastada, repleta de terror, medo, tristeza e paisagens sombrias. Seu objetivo nessa realidade é sobreviver, mesmo que tais eventos te levem para longe da sua zona de conforto e te deixem quase sem nenhuma esperança, você começa a pensar em diversas situações que poderia recorrer. Nesta ocasião, fim do mundo ou apocalipse seria usado para representar tal visão de uma sociedade carregada pelo caos da sua própria destruição, consequentemente uma realidade pós apocalíptica. Todavia, se olharmos de uma perspectiva diferente para o futuro, ou seja, invertendo completamente a ideia do que poderia ser o apocalipse, teríamos uma nova forma de abordagem e atitudes a serem seguidas, onde haveria a valorização e qualidade de vida, paz, esperança e belas paisagens. Assim, o contexto de pós apocalipse também pode ser associado a um novo estilo de vida de uma forma positiva, entendendo a natureza como nossa principal fonte de vida e adotando métodos que respeitem o meio ambiente em que vivemos. 2.1 QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Atualmente, estamos enfrentando outro momento de revolução industrial que não possui uma data de início, muito menos uma previsão de término. Após a terceira revolução industrial , presenciamos uma nova fase no mundo também conhecida como Indústria 4.0, a1 quarta revolução industrial, que está muito ligada à chamada “Inteligência das coisas”. Funciona com o intuito de controlar o mundo a partir da existência de robôs inteligentes ligados a algoritmos capazes de fazer o trabalho humano, consequentemente, tais inovações tecnológicas vão ficando cada vez maiores, tendenciando ainda mais a desigualdade social pelo fato de estar ligada às elites econômicas mundiais, deixando de lado a população mais 1 A Terceira Revolução Industrial caracteriza-se por grandes transformações de natureza econômica, social, política e tecnológica, cujas consequências têm tido relevantes impactos no mundo do trabalho, dentre as quais a instabilidade do emprego, exigindo do profissional a constante busca pela garantia da própria empregabilidade, em um mercado cada vez mais competitivo (AMARAL, 2013). 15 pobre e marginalizada. Logo, tende a acelerar os processos de destruição da natureza, com a recriação de novos materiais e de um mundo “pós-natural”. De acordo com Gomez (2017), a quarta revolução ameaça fazer desaparecer o mundo tal como o conhecíamos, trata-se de todo um conjunto de alterações decisivas nas relações sociais e nas relações entre os humanos e a natureza, na qual vai além de apenas um prolongamento da terceira revolução tecnológica, com suas inovações eletrônica, telecomunicações e engenharia genética. Assim, há todo um conjunto de novos desenvolvimentos tecnológicos específicos e uma forma de interação entre eles como por exemplo a nanotecnologia , que ocupa um lugar destacado na manipulação da matéria, onde2 se esfumam as diferenças entre o vivo e o não-vivo, além de servir como plataforma de desenvolvimento para várias outras tecnologias da quarta revolução industrial. A importância dessas tecnologias não pode ser pensada isoladamente, mas em sua interação e sinergia, assim, dentre as tecnologias mais importantes se encontram - a engenharia de sistemas metabólicos para produzir substâncias industriais, ou seja, a biologia sintética para substituir combustíveis, plásticos, fragrâncias, princípios ativos para a indústria farmacêutica, dentre outros (GOMEZ, 2017). Da mesma maneira, o desenvolvimento de ecossistemas abertos de inteligência artificial com o propósito de integrar máquinas com inteligência artificial à internet das coisas, às redes sociais e à programação aberta, com potencial de transformar radicalmente a relação entre os humanos e as máquinas e a relação delas entre si (RIBEIRO, 2016). Dessa forma, não podemos falar sobre a quarta revolução industrial sem mencionar o surgimento do capitalismo, no qual consistiu na crescente destruição dos vínculos materiais diretos e espirituais com a natureza e com as formas de reprodução social. A assim chamada acumulação primitiva”, produz-se uma condição inédita na história: os seres humanos inteiramente abstratos, “livres como pássaros”, separados da natureza e de suas comunidades, e, exatamente por causa disso, compelidos a se tornar “material humano” da produção capitalista (MARX, 1983, cap 24). Aponta-se que o capitalismo está implantado na sociedade por meio das revoluções industriais, gerando renda por meio da exploração do capital (investimento para os meios de 2 A nanotecnologia é uma ciência que se dedica ao estudo da manipulação da matéria numa escala atômica e molecular lidando com estruturas entre 1 e 100 nanômetros (GOMEZ, 2017). 16 produção), os recursos naturais (fontes de produção e matéria prima) e a força de trabalho, distribuídos entre a burguesia e o proletariado. Sendo assim, o capitalismo possui um esforço destrutivo de estar sempre crescendo e deixando inúmeras falhas na sociedade, como o consumo descontrolado dos recursos naturais, a enorme produção de resíduos descartados no meio ambiente e o avanço da poluição do ar, trazendo doenças que por enquanto ainda sãoa longo prazo para a população. A quarta revolução industrial cria não apenas os meios para novas modalidades de guerras e de extermínio, mas também sofisticadas formas de controle e de vigilância que ameaçam aniquilar completamente a privacidade e devassar todos os espaços da sociedade. É importante lembrar que se as ditaduras e os regimes totalitários que emergiram no curso da história do capitalismo tivessem os meios que são disponíveis hoje nenhuma resistência ou evasão teria sido possível (JAPPE, 2013. pp. 72-73 apud GOMEZ, 2017, p.6). “Com rápidos avanços em biotecnologia e bioengenharia, podemos chegar a um ponto em que, pela primeira vez na história, desigualdade econômica se torne desigualdade biológica”, observa o historiador Harari (2017). Assim, as dinâmicas de interação da crise do capitalismo envolve uma grave crise ecológica e internacional que surge devido a uma gama de problemas relacionados a desintegração social, o colapso subjetivo, as epidemias de guerras e os surtos de violência resultando num colapso na sociedade da mercadoria tendo como resultado a guerra civil, o terrorismo, a infestação social por meio de bandos armados e as abundância de refugiados, transformando profundamente o mundo tal como o conhecemos. O mapa Fragile States 2017 apresentado pelo The Fund For Peace é muito ilustrativo acerca do rápido e vasto processo de colapso que se alastra pelo mundo no curso da crise do capitalismo, do colapso ecológico e das guerras (Imagem 01, pág 17). 17 Imagem 01 - Mapa do índice de Estados frágeis em 2021. Fonte: Fragile States Index, 2021. Se tratando especificamente do Brasil, de acordo com pesquisador Altair Sales Barbosa, um dos maiores especialistas sobre o Cerrado, em menos de meio século estima-se que a destruição do Cerrado no Brasil provocará a ruína dos principais aquíferos do país (inclusive o Aquífero Guarani) e poderá desencadear uma crise hídrica de gravíssimas proporções. Em sua fala para o Jornal Opção (2014), Barbosa comenta que o Cerrado é um tipo de bioma que possui uma vegetação rica e dependente de diversos componentes intimamente interligados, onde seu solo oligotrófico (com nível muito baixo de nutrientes) depende do clima tropical subúmido com as estações secas e chuvosas, significando que uma vez degradado não irá mais se recuperar na totalidade de sua biodiversidade, em função disso, o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção. Desta forma, não se pode ignorar a possibilidade da quarta revolução industrial potencializar as tendências à privatização dos bens comuns, a poluição do meio ambiente, a utilização de tecnologias perigosas e destrutivas, além da explosão das favelas pelo mundo, construção de cercas, muros, novos sistemas de vigilância e controle, guerras de contenção das massas, urbanismo militar, milícias privadas e mais uma gama de malefícios no futuro. Por fim, os impactos dessa revolução serão sentidos muito em breve se não tomadas as providências de todos os lados em prol de reverter essa previsão maléfica para todo o mundo, pois deve-se reconhecer que os avanços econômicos e tecnológicos-científicos não levam em conta as necessidades dos seres humanos e as bases naturais de manutenção da vida. 18 2.2 ANÁLISE DO PÓS APOCALIPSE E SUA RELAÇÃO NO CONTEXTO ATUAL DA PANDEMIA Faz parte do ser humano imaginar inúmeras vertentes para o futuro das próximas gerações, diante disso, temos um ponto muito importante a ser discutido na arquitetura e de como ela está totalmente inserida nesse meio apocalíptico. Tal cenário parecia ser algo fora da realidade até o momento em que a pandemia do coronavírus aconteceu em 2020. Entretanto, a questão principal é em como esse apocalipse é visto pela grande maioria da população, como um evento distópico e arrasador, onde, provocará a destruição do mundo e de toda a vida na terra, assim como descrito em obras cinematográficas. O cinema é um grande provocador da arte apocalíptica, pois engloba diversos cenários surreais em filmes, séries e documentários que descrevem possíveis realidades devastadoras. Uma recente audiossérie original do Spotify chamada de Paciente 63 descreve a trajetória da humanidade a partir do surto da Covid-19 por diante, onde os episódios se passam em uma sessão de terapia com a psiquiatra Elisa Amaral, interpretada por Mel Lisboa, e um homem chamado Pedro Roiter, interpretado por Seu Jorge, que afirma ser um viajante do futuro e descreve que houveram várias mutações do vírus até chegar no mais contagioso e sem volta, portanto sua missão neste presente seria encontrar a paciente zero dessa mutação que se não fosse impedido, gradualmente levaria à extinção da humanidade. O ator Seu Jorge ainda esclarece que a ideia da série é muito interessante, principalmente, por trazer uma grande reflexão a sociedade sobre um possível futuro que poderíamos enfrentar envolvendo a questão humanitária e o sentido da vida, assim, causando inquietação sobre o que vivemos hoje e o que possivelmente será amanhã. "A série, além de fazer você viajar naqueles personagens e criar todo um universo, faz você também exercitar o seu senso crítico, o seu poder questionador, o olhar ao seu redor para o que estamos vivendo, para o que a gente viveu e para o que podemos fazer hoje para que nosso futuro possa ser melhor", descreve Mel Lisboa (MAGARÃO, 2021). Um exemplo muito interessante a ser mencionado é sobre uma série pós-apocalíptica estreada em 2014 do canal norte-americano The CW livremente inspirada na saga literária da autora Kass Morgan chamada The 100. Se passa 97 anos após uma guerra nuclear contando a história devastadora do apocalipse que dizimou quase toda a vida na terra, tornando-a quase 19 inabitável, levando a humanidade a viver em espaçonaves no espaço. Depois de detectarem uma falha crítica nos sistemas de suporte de vida da Arca (também conhecida como Estação Arca ou Federação Unida da Arca) (Imagem 02), uma estação espacial que orbitava a terra. Assim, a solução que os governantes encontraram foi enviar 100 jovens à terra, se livrando de gastos inúteis e ao mesmo tempo, buscando uma solução para a sobrevivência da humanidade. Imagem 02 - Estação Arca orbitando em volta da terra na série The 100. Fonte: Série The 100, temporada 01, episódio 01 (00:38min), 2014. Por consequência, os jovens enviados encontram pessoas que conseguiram buscar formas de sobreviver no mundo catastrófico que a terra se tornou, formando algumas tribos com suas próprias culturas e vivendo de uma forma ancestral (Imagem 03). Imagem 03 - Os chamados terráqueos que cresceram na terra depois do apocalipse. Fonte: Série The 100, temporada 02, episódio 08 (15:52min), 2014. 20 Contudo, também acabam encontrando uma sociedade subterrânea sobrevivendo em um bunker chamado Mount Weather (Imagem 04), no qual não possuíam resistência ao ar da terra devido a radiação e a forma que encontraram para sobreviver foi extraindo forçadamente medula óssea dos terrestre que já possuíam resistência à radiação devido a seu sangue. Imagem 04 - Mapa do Bunker Mount Weather nas mãos da personagem Clarke. Fonte: Série The 100, temporada 02, episódio 02 (32:08min), 2014. Rothenberg (2020) comenta em sua rede social sobre o final da série escrevendo: “Por sete temporadas, The 100 foi uma série sobre as coisas sombrias que a humanidade fará para sobreviver e o tributo que essas ações causam na alma de nossos heróis”. Assim, com o passar das temporadas as reflexões trazidas pela mesma indicam que nem tudo está perdido e a esperança da humanidade está na união e no trabalho em conjunto mudando o estilo de vida para que possam reconstruir um mundo habitável e uma sociedade sustentável. Outro exemplo é o filme de ficção científica Interestelar dirigido por Christopher Nolan e escrito em parceria com o irmão Jonathan Nolan, onde, descreve um planeta distópico constantemente assolado por frequentes tempestades de areia e pragas que destroemas plantações existentes, exterminando as reservas naturais da Terra e formando um cenário onde a principal preocupação é arranjar comida para o dia seguinte. A história narra a complexa vida de Cooper (um dos personagens principais), um piloto da NASA que tem a difícil tarefa de salvar a espécie humana da extinção juntamente com um grupo de astronautas 21 que recebem a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial. Com uma trama complexa, o filme Interestelar levanta uma série de dilemas morais e éticos difíceis como a grande dúvida que Cooper enfrenta sobre qual escolha fazer: olhar para o bem comum (ainda que isso signifique colocar o nosso bem-estar em jogo) ou tentar cuidar apenas do que é nosso? (Imagem 05). Imagem 05 - Cartaz da Warner Bros Pictures. Fonte: Cinema em Casa, 2014. Há toda uma interessante especulação sobre o mundo pós-humano que merece ser investigada. Por mais que muitas vezes se assemelham à ficção científica, elas apontam sempre (mesmo quando naturalizadas e afirmadas) para a obsolescência do homem. Dessa forma, os graves problemas de saúde pública sanitária pela falta de infraestrutura correta nas classes mais baixas de nossa época tendem a se tornar ainda mais devastadores no futuro, 22 como o advento de novas epidemias ou o ressurgimento de outras que pareciam ter definitivamente desaparecido, por isso a necessidade de agir hoje e impedir uma possível catástrofe ecológica futura. Conforme as estatísticas sobre o aquecimento global é realmente justificável o medo e insegurança. A grande sacada está na relatividade e nos diferentes pontos de vista existentes em nossas vidas, diante disso, por que então não buscamos uma forma de conviver com esse tão temido apocalipse? Por que ao invés de continuar remando em função do caos da sociedade não buscamos desde já uma forma harmônica de viver em conjunto com a natureza? A proposta é visualizar um cenário de apocalipse sem terror, desastres e mortes. Um apocalipse que realmente vale a pena ser idealizado e alcançado por meio da conscientização das pessoas trabalhando em conjunto e reconhecendo a real importância da sobrevivência. 23 3 ARQUITETURA APOCALÍPTICA SUSTENTÁVEL A palavra "Apocalipse'' tem um significado muito importante na história da humanidade, sendo muito abordado nas artes dramáticas, como teatro, cinema e literatura. Também é muito marcante dentro das religiões, como por exemplo na bíblia, usada como sinônimo do Armagedom, um acontecimento bíblico caracterizado pela luta final entre Deus, os pecadores terrestres e o diabo. Desde milhares de anos vem ganhando bastante destaque causando euforia devido a negatividade que a palavra carrega, trazendo consigo a ideia de desastres naturais que atormentam as pessoas. Para compreender melhor os desafios de uma nova forma de sobrevivência será apresentado o contexto inicial de sustentabilidade, introduzindo de onde, como e quando começaram os primeiros pensamentos de apreensão sobre o mundo que deixaremos para nossas futuras gerações, levando a invenção de inúmeras formas de sobrevivência relacionada a possíveis desastres ambientais. Além disso, teremos como base o estudo de abrigos sobrevivencialistas sustentáveis denominados de Earthship biotecture (Nave Terrestre da bioarquitetura) e de como o seu conceito favorece no desenvolvimento de um estilo de vida com o mínimo possível de impacto ambiental, evitando possíveis catástrofes ambientais. 3.1 SUSTENTABILIDADE A sustentabilidade vem sendo uma temática amplamente discutida desde a primeira conferência realizada pelas Nações Unidas, em Estocolmo, em 1972. Devido a isso, houve o lançamento do relatório “Nosso Futuro Comum” que abordou o conceito de desenvolvimento sustentável trazendo uma conduta mais estruturada para esse tema. Para Giansanti (1998), a excelência deste relatório teve como resultado um diagnóstico de uma crise social e ambiental em escala global, assim como o reconhecimento e princípios humanos como democracia, igualdade social e de um sistema de trocas internacionais mais igualitário, que desencadeiam um conceito de desenvolvimento autônomo e sustentável das sociedades, gerando qualidade de vida a partir de seus próprios recursos e potencialidades. Já em 1983, foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento (CMAD) com o objetivo de promover discussões mais profundas sobre o futuro do planeta. Como resultado, foram gerados diversos 24 movimentos permeados de propostas ecológicas que seriam aplicadas na arquitetura e na construção. Através do uso da tecnologia, seriam apresentadas soluções ambientalistas adequadas que, consequentemente, geram cada vez mais experiências em arquitetura bioclimática e subterrânea voltadas à economia energética e preservação ambiental (XAVIER, 2011). A partir desse tema, em 1987, Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega, que também atuou como presidente de uma comissão da Organização das Nações Unidas, usou pela primeira vez o termo “desenvolvimento sustentável” no relatório Our Common Future, conhecido também como relatório Brundtland, onde define: “Desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem as próprias necessidades”. Estando de acordo, Giansanti (1998, p. 46) refere-se o conceito de desenvolvimento sustentável como à capacidade das sociedades sustentarem-se de forma autônoma, gerando riquezas e bem-estar a partir de seus próprios recursos e potencialidades, mas resguardando o patrimônio natural dos diferentes povos e países. Segundo Xavier (2011), mais tarde em 1992 realizou-se no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e Desenvolvimento Humano, também conhecida como “Cúpula da Terra” ou ECO-92. Como resultado desta conferência, que incluiu a participação de 170 países, houve a definição do compromisso entre governos e sociedade pelo planejamento estratégico universal que objetivava alcançar o desenvolvimento sustentável no século XXI, alcançando o setor da Construção Civil de forma mais direta em 1994 com a primeira conferência centrada na eficiência energética das edificações patrocinada pelo CIB (International Council for Research and Inovation in Building and Construction), em Tampa, onde as discussões se tornaram cada vez mais abrangentes. A ECO-92 resultou na criação da Agenda 21, aprovada pelos 170 países participantes, onde foi criado um documento que elenca 2.500 recomendações estratégicas, com vistas ao desenvolvimento sustentável possuindo o lema “pensar globalmente e agir localmente”, onde, influencia a tomada de decisões regionalmente, tendo consciência do seu alcance mundial (XAVIER, 2011). Assim, a necessidade de programar melhor as construções e contribuir com o desenvolvimento sustentável tornou-se mais evidente, pois, a Agenda 21 considera que a construção sustentável implica em um pensamento holístico no que respeita à construção e gestão do ambiente construído, com materiais de construção e componentes que devem ser 25 produzido de forma sustentável, para que corresponda às exigências ambientais, deixando de se tratar apenas de projetos com orientações ambientais, mas que trabalhem em prol de uma perspectiva de ciclo de vida de qualidade se estendendo para as gerações futuras. Diante de tudo que foi abordado, a década de 1990 desenrolou-se marcada por inúmeros eventos de caráter ecologista e/ou ambientalista, sendo bem sucedidos ou não, de grande ou pequena repercussão, porém sempre com um propósito em comum de frear a crise ambiental denunciada pelos cientistas e pesquisadores dos anos antecedentes. Já em 1996, o destaque a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (CNUAH), ocorria em Istambul, na Turquia, que também se tornou conhecido como a Cúpula das Cidades, um grande evento que deu ênfase à questão urbana ambientalao determinar como princípio a sustentabilidade, e, como objetivo mundial a ser perseguido, os assentamentos humanos sustentáveis. Seu documento principal, a Agenda Habitat, aponta caminhos para a construção sustentável, refletindo o compromisso com os princípios democráticos de equidade e justiça social, convocando todos os esforços nacionais e internacionais, tanto públicos como privados, em direção à sustentabilidade socioambiental (XAVIER, 2011). Independente de algumas similaridades entre os desafios propostos pelas duas Agendas, há diferenças significativas nas prioridades, nos níveis de potencialidades, na capacidade da indústria de construção e atuação governamental e na abordagem que deve ser seguida nos países em desenvolvimento. Enquanto a Agenda 21 busca definir estratégias em países que estão em desenvolvimento para ação da Construção Sustentável, visa a garantia do respeito e apoio com os princípios da sustentabilidade, assim, oferecendo soluções aos agentes envolvidos na cadeia produtiva da construção que são voltadas ao desenvolvimento sustentável, isto é, um processo contínuo de manutenção e equilíbrio entre as necessidades dos indivíduos por qualidade de vida, prosperidade, igualdade e o que é ecologicamente possível (CIB E UNEP-IETC, 2002). Xavier (2011) também destaca sobre este primeiro decênio do século XXI, onde ocorreram vários debates sobre a necessidade de diminuir as emissões de gases poluentes, causadores do Efeito Estufa . Diante disso, houve acordos firmados entre países que garantem3 o comprometimento das nações em mudar processos produtivos para reduzir suas emissões e 3 Efeito Estufa é o aumento da temperatura do ar provocada pelo acúmulo de cristais de dióxido de carbono e de vapor de água na alta atmosfera, esse acúmulo de cristais na atmosfera impede que o calor da Terra saia e se propague (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2020). 26 garantir menores efeitos negativos sobre a vida do planeta, como por exemplo, o aumento da sua temperatura. Ainda assim, mesmo com a existência de tecnologias renováveis e mais limpas sendo desenvolvidas há décadas, a nossa sociedade ainda é muito dependente de combustíveis fósseis, causando uma lentidão em sua difusão e ampla aplicação no dia a dia das pessoas. Em junho de 2012, no Rio de Janeiro, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Foram 50.000 visitantes, delegações de 190 países e diversas ONGs que vieram discutir maneiras de conciliar o desenvolvimento, a qualidade de vida, sem degradar o meio-ambiente (JIMENEZ; ARINI, 2012). Estes números demonstram o crescente interesse no assunto e o empenho de buscar novas soluções. Para Jimenez e Arini (2012) em todo o mundo empresas buscam comercializar produtos que não agridam tanto ao meio ambiente, motivados por consumidores que exigem esta postura. A sociedade demanda cada vez mais medidas públicas que contribuam com a redução de poluição dos rios, oceanos e lixo urbano. Assim, nessa mesma perspectiva, uma definição de construção sustentável trazida por Gibberd (2004) diz que: “a edificação e construção sustentáveis buscam maximizar os efeitos sociais e econômicos benéficos enquanto minimizam os impactos ambientais negativos”. No ano de 2000, a Organização Mundial da Saúde (ONU) lançou os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Nela, as Nações se comprometeram a unir esforços para reduzir a pobreza extrema num prazo de 15 anos por meio de 8 objetivos (Imagem 06). Em síntese, quando são estabelecidos objetivos e metas, a tendência é causar um esforço maior para cumpri-las do que quando simplesmente deixamos acontecer. (IBGE, 2016). Imagem 06 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Fonte: IBGE, 2016. 27 Ainda segundo o IBGE (2016), tais esforços deram bastante resultados entre os anos de 2000 a 2015 ao redor do mundo, reduzindo mais da metade o número de pessoas em extrema pobreza, assim como a queda de quase metade na proporção de pessoas subnutridas nas regiões em desenvolvimento, ganhos significativos no luta contra o HIV/AIDS, malária e tuberculose, a meta de reduzir pela metade a proporção de pessoas que não têm acesso a fontes de água potável também foi alcançada, dentre outros objetivos. Embora os resultados sejam bastante expressivos, há ainda muito a ser feito. Como o prazo para alcançar os objetivos do milênio se esgotou em 31 de dezembro de 2015, foi aprovado por 193 líderes mundiais, em 25 de setembro de 2015, a Agenda 2030. A mesma consiste em um plano de ação colaborativo ainda mais ambicioso do que seu antecessor, buscando erradicar a pobreza extrema, combater a desigualdade e a injustiça, e conter as mudanças climáticas. Para oficializar essa Agenda, foram criados 17 objetivos, denominados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (Imagem 07). Imagem 07 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Fonte: IBGE, 2016. Tais objetivos se estendem em 169 metas, desse modo, os governos podem planejar, implementar, monitorar e controlar políticas públicas que busquem atingir essas metas de maneira mais sistematizada e uniforme, permitindo, por meio de 254 indicadores, a comparação de resultados e análises históricas, onde foi destacado o Objetivo 11 - Cidades e Comunidades Sustentáveis (Tabela 01, pág 28) (IBGE, 2016). 28 Gráfico 01 - Relatório dos Indicadores para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Fonte: IBGE, 2021, editado pela autora. O Objetivo número 11: “Cidades e Comunidades Sustentáveis”, conforme o IBGE (2018) visa tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Em 2015, quase 4 bilhões de pessoas - 54% da população mundial - viviam em cidades. Em 2030, esse número chegará a 5 bilhões - 60% da população. Devido a isso, a importância imediata do planejamento urbano eficiente juntamente com a colaboração de todos os setores da sociedade necessita de uma atenção especial, pois o deslocamento da população das áreas rurais para as zonas urbanas é um fenômeno global que vai continuar crescendo nas próximas décadas. Assim, com o crescimento desordenado das cidades para acomodar novos habitantes e a falta de políticas de habitação e de uso da terra, o número de pessoas em habitações e assentamentos precários cresceu de 792 milhões no ano 2000 para cerca de 880 milhões em 2014. O IBGE (2018) também explica que: (...) Uma cidade sem planejamento fica mais vulnerável a desastres naturais. Uma gestão deficiente dos resíduos sólidos aumenta o risco de inundações e das doenças causadas pela contaminação da água. Em 2013, 65% da população urbana de 101 países contava com um serviço municipal de coleta de lixo. O que também provoca doenças é a poluição do ar, responsável por milhões de mortes prematuras todos os 29 anos. Em 2014, nove entre dez pessoas nas cidades respiravam acima do nível de poluição aceitável pela Organização Mundial da Saúde. Assim, destacamos as seguintes metas propostas pela ONU para o ODS 11 segundo o IBGE (2018): 11.1 - Até 2030, garantir o acesso de todos à habitação segura, adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos e urbanizar as favelas; 11.2 - Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando a segurança rodoviária por meio da expansão dos transportes públicos, com especial atenção para as necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos; 11.3 - Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e as capacidades para o planejamento e gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e sustentáveis, em todos os países; 11.4 - Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo; 11.5 - Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de pessoas afetadas por catástrofes e substancialmente diminuir asperdas econômicas diretas causadas por elas em relação ao produto interno bruto global, incluindo os desastres relacionados à água, com o foco em proteger os pobres e as pessoas em situação de vulnerabilidade; 11.6 - Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros; 11.7 - Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência; 11.a - Apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas, periurbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e regional de desenvolvimento; 11.b - Até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e assentamentos humanos adotando e implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, a resiliência a desastres; e desenvolver e implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de desastres em todos os níveis; 30 11.c - Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de assistência técnica e financeira, para construções sustentáveis e resilientes, utilizando materiais locais; Dentro das questões sobre sustentabilidade e dos temas considerados mais críticos como a demanda de água e do uso de materiais, temos um conjunto de fatores: ambientais, sociais, culturais e econômicos, onde encontramos uma maior dificuldade de atingir um equilíbrio em todos estes campos. Assim, foram selecionados oito indicadores, descritos em ordem crescente de acordo com a data de criação dos mesmos, sendo estes: BREEM - 1990; GBTool - 1996; LEED - 1999; SPEAR - 2000; HQE - 2002; CASBEE - 2002; Modelo para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros (2003) e NABERS - 2004 (VOSGUERITCHIAN, 2006). Tais indicadores são necessários para definir precisamente os critérios de sustentabilidade e medir o desempenho da indústria da construção e do ambiente construído, desta maneira, formadores de opinião e responsáveis necessitam de indicadores para avaliar as estratégias economicamente viáveis e técnicas praticáveis para melhorar a qualidade de vida, enquanto aprimoram o uso eficiente de recursos (VOSGUERITCHIAN, 2006). Dessa forma, Vosgueritchian (2006) comenta que a “nova ordem da sustentabilidade” não é universal, mas sim, modificada por circunstâncias regionais, tendo em vista processo e pensamento necessariamente ajustados por circunstâncias locais com relevância cultural na celebração da diferença. Assim, relacionando a “nova” arquitetura em busca de detalhes que destaquem como as tradições culturais, agendas políticas, habilidades de ofício e tecnologias locais estão conectadas com a sustentabilidade, dando forma a uma rica e diversa arquitetura global para o século XXI em diante. 3.2 FIM DO MUNDO O fim do mundo de acordo com Gleiser (2012), reflete no medo ancestral contido na memória coletiva de que a natureza é mais poderosa do que o ser humano e possui o poder de aniquilá-lo a qualquer momento, ressaltando que, enquanto nos séculos passados as pessoas acreditavam que o fim do mundo seria reflexo da ira divina, atualmente, com os avanços científicos, muitos defendem que as causas serão fenômenos naturais devastadores. Essa 31 relação estabelecida entre os fenômenos celestes e o fim do mundo, originária do Oriente Médio, posteriormente influenciou as narrativas apocalípticas judaico-cristãs: Consoante o autor em pauta, essa relação estabelecida entre os fenômenos celestes e o fim do mundo, originária do Oriente Médio, posteriormente influenciou as narrativas apocalípticas judaico-cristãs: O dilúvio catastrófico dos babilônios, que purificou a humanidade do mal; a terra paradisíaca dos egípcios, conhecida como “campo encantado”, a morada final daqueles que levaram uma vida virtuosa; ou, ainda, proveniente do masdeísmo , o4 dia do Juízo Final, que marca a vitória do Bem sobre o Mal, são apenas alguns exemplos (...) de como essa transição (...) é muitas vezes anunciada por um cataclismo de proporções horrendas (GLEISER, 2011, p. 25). Com base no fim do mundo temos a criação do termo apocalipse, onde tem seu significado descrito como uma série de episódios profetizados que resultarão no fim do mundo, ou seja, o fim da vida na terra, tem origem do termo grego apokalypsis que significa “revelação” ou “ação de descobrir”, obtendo em sentido figurado o discurso obscuro ou um cataclismo. Já na bíblia, a mesma palavra é usada como sinônimo do Armagedom, sendo um evento bíblico caracterizado pela luta final entre Deus, os pecadores terrestres e o diabo. No entanto, a interpretação sobre como ocorreriam tais eventos apocalípticos pode variar de acordo com a doutrina cristã estudada, como por exemplo, se tratando do catolicismo, o fim dos tempos será marcado pela segunda vinda de Cristo, resultando na ida eterna ao Paraíso. Assim, torna-se um assunto que causa receio nas pessoas em perderem o controle de suas próprias vidas e destinos. Não é segredo que somos uma cultura obcecada pelo apocalipse, e, conforme os últimos eventos na história do mundo do século XX em diante, como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o ser humano presenciou um declínio das utopias sociais, sobrando apenas visualizações futurísticas de um mundo5 5 Utopia é um local ou situação ideal onde tudo é perfeito, harmônico e feliz; refere-se especialmente a um tipo de sociedade com uma situação econômica e social ideal (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2021) 4 Religião da Pérsia antiga. Foi revelada aproximadamente no séc. VIII a.C., por Ahura-Mazda, deus do Bem, a Zaratustra, cujos ensinamentos estão contidos no Avesta. É uma religião dualista, que obriga o homem a escolher entre o Bem e o Mal, atendendo ao Juízo Final, depois do triunfo definitivo do Bem (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2021). 32 distópico e cenários pós-apocalípticos imaginários, acarretando inúmeras obras6 cinematográficas que exibem uma mudança significativa no âmbito da arquitetura e urbanismo. Diante disso, presenciamos uma busca constante sobre os problemas norteadores que nos levam a pensar no fim do mundo e em como nos proteger e enfrentar essa distopia que vem nos assombrando ao longo dos anos. Existem milhares de cenários com descrições catastróficas para o fim do mundo onde há milhares de possibilidades como guerras nucleares e o próprio coronavírus que parou o mundo no ano de 2020 e continua deixando milhares de vítimas todos os dias. O diretor do Centro Nacional de Preparação para Desastres da Universidade de Columbia, Jeff Schlegelmilch, explora grandes fenômenos que poderiam levar ao fim do mundo, onde, foi abordado em seu livro “Rethinking Readiness: a brief guide to twenty-first-century mega disasters" (Repensando a prontidão: um breve guia para mega desastres do século XXI) desastres descritos como de dimensões tão massivas que seriam capazes de destruir os próprios sistemas projetados para a solução desse tipo de problema como: mudança climática, ameaças cibernéticas, era nuclear, falhas críticas de infraestrutura (como redes elétricas) e perigos biológicos (inclusive pandemia). Como afirma Schlegelmilch no blog para a Universidade de Columbia (2020): Estamos bombeando poluentes para a atmosfera a taxas sem precedentes, levando a eventos climáticos mais extremos. Outros desastres, como pandemias, têm componentes em que o desenvolvimento social aumenta a ameaça e a nossa vulnerabilidade” (...) O uso de armas nucleares pode ser mais provável do que nunca, mas também é muito mais passível de sobrevivência do que no auge da Guerra Fria. Em vez dos vastos arsenais globais de superpotências do passado, as ameaças hoje são mais sutis. Não é uma causa perdidapensar na vida após um conflito nuclear, com o tipo certo de preparação. De acordo com o Relógio do Apocalipse, inventado pelo Boletim de Cientistas Atômicos em 1947, o fim do mundo nunca esteve tão próximo. Esse instrumento foi desenvolvido para ilustrar o perigo de uma guerra nuclear e segundo o Jornal O Globo (Ed. do dia 25/01/2018 às 12h18), este relatório cria uma metáfora entre a contagem das horas de um dia e o fim do mundo: quanto mais os ponteiros se aproximam de meia noite, menos 6 Distopia é um local hipotético onde se vive sob sistemas opressores, autoritários, de privação, perda ou desespero de uma sociedade futura, definida por circunstâncias de vida intoleráveis, que busca analisar de maneira crítica as características da sociedade atual, além de ridicularizar utopias, chamando atenção para seus males, ou seja, antiutopia (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2019). 33 esperança resta para a humanidade. Também conhecido como O Relógio do Juízo Final, é uma metáfora que ilustra o grau de preocupação que pesquisadores e cientistas têm em relação a ameaças de destruição em escala global (Imagem 08, pág 33). Assim, o Jornal O Globo (2020) explica que na década de 40 havia uma enorme preocupação dos cientistas, pois o relógio marcou 7 min para meia noite no ano de 1947. E mesmo com o fim da Segunda Guerra Mundial, tanto os Estados Unidos como a União Soviética ainda continuaram persistindo no desenvolvimento de armas atômicas e nucleares, realizando testes que fizeram com que o relógio chegasse a 2 min para meia noite. Jornal O Globo (Ed. do dia 25/01/2018 às 12h18): “Mas o relógio também pode ser reajustado para trás com o relaxamento das disputas entre os países, o ponteiro retrocedeu em 1963 e também em 1972, mas ficou mais distante da meia noite só em 1991, após a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, marcando 17 min para meia noite. Em 2020, o relógio atingiu uma pontuação recorde, nunca tão próxima do fim: são 23h58m20s e restam apenas 100 segundos para os ponteiros se alinharem.” Imagem 08 - O ex-gov da Califórnia, Jerry Brown (esquerda) e o ex-secretário de Defesa William Perry exibindo o Relógio do Apocalipse durante conferência de imprensa do Boletim dos Cientistas Atômicos, em Washington. Fonte: O Globo, 2020. De 2019 em diante, o relógio avançou 20s e se posicionou a 1min e 40s da meia noite, que é o ponto mais próximo do número 12 desde quando foi criado, na alegoria se os ponteiros se alinharem significaria o fim das esperanças. Em 2020 o relógio avançou pela quarta vez consecutiva, o que indica que nos últimos anos os líderes mundiais e os costumes 34 de diversos povos não têm contribuído para a manutenção da paz e o equilíbrio da natureza. (Gráfico 02). Gráfico 02 - Situação do relógio do apocalipse desde 1947 a 2020. Fonte: O Globo, 2020. Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos, o grupo de pesquisadores responsáveis pela criação do relógio, o Brasil foi fundamental para o avanço dos ponteiros, principalmente pelas queimadas da Amazônia em 2019, que contribuíram para o atraso na redução das emissões de gás carbônico. Além do meio ambiente, outros fatores que ajudaram o ponteiro a avançar são as tensões envolvendo o desenvolvimento de armas nucleares após as recentes desavenças entre o Irã e os Estados Unidos, a militarização do espaço sideral e o perigo da guerra de informações digitais, cyber segurança e tecnologias perturbadoras. Então, há uma arquitetura que poderia sobreviver ao apocalipse do século XXI? De fato, visto desta forma, a arquitetura apocalíptica é realmente muito diferente de arquitetura distópica. Enquanto um design residencial extremamente sustentável pode significar o fim, também é um lembrete do início, em outra perspectiva, como uma realidade em que a prevalência do design ecológico prova que nós já começamos a experimentar o fim e que este pode significar a tão sonhada proximidade com a utopia. 35 3.3 ABRIGOS E FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA De acordo com a publicação feita por Rossini (2020) para o site Super Interessante, o bunker , que se chama Presidential Emergency Operations Center (PEOC), foi construído7 durante a Segunda Guerra Mundial, para abrigar o então presidente Franklin Roosevelt em caso de um ataque nazista contra Washington. A maioria dos detalhes é mantida em segredo pelos EUA: sabe-se, apenas, que ele fica sob a ala leste da Casa Branca, possui proteção contra ataques nucleares e biológicos - e tem suprimentos para que o presidente e sua equipe sobrevivam por um longo, e indeterminado período. É um dos bunkers mais seguros que existem; talvez o mais seguro. Maria Clara (2020) ainda afirma que está longe de ser o único: estima-se que existam milhares de bunkers particulares espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil - se você mora em São Paulo, e já passou na frente de mansões do Morumbi ou do Jardins, pode ter passado diante de bunkers, sem suspeitar disso. Um bunker pode ser um complexo cheio de tecnologias de ponta, preparado para todos os cenários possíveis; ou um ambiente rudimentar, escasso, típico de campo de guerra. Os bunkers existem há mais de cem anos, e não são ideias de conspiracionistas que acreditam no fim do mundo. Eles começaram como fortificações militares até se transformarem em um mercado milionário Rossini (2020). Rossini (2020) ainda destaca sobre a Primeira Guerra Mundial, onde foi marcada por um grande avanço tecnológico: os aviões. Eles permitiam atacar, do alto, qualquer estrutura em solo, à vista disso, a resposta dos militares foi a mais pragmática possível: descer. A Alemanha foi o primeiro país a construir fortes debaixo da terra, para se proteger da Força Aérea inglesa. Logo de cara, os abrigos foram batizados de “bunkers”. A origem do termo é incerta, mas acredita-se que ele seja derivado do sueco bunke (área protegida de um navio). Os primeiros bunkers eram apenas parcialmente aterrados, pois uma parte da edificação ficava para fora da terra. Sua construção consistia basicamente em cavar um buraco no chão e concretar o espaço. Os bunkers podiam ficar no front guardando mantimentos, comida e armas; ou mais afastados, abrigando hospitais para cuidar dos feridos. Eram bastante úteis, e rapidamente foram adotados também pela Inglaterra (Imagens 09 e 10, pág 36). 7 Fortificações. Abrigo subterrâneo fortificado e/ou blindado, construído para dar abrigo em situações de guerra, protegendo aqueles que se abrigam de projéteis (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2019). 36 Imagem 09 - Modelo de Bunker prático e seguro: 1- Semi-aterrado: Os primeiros bunkers não eram totalmente enterrados – parte ficava para fora da terra. 2 – Sustentação: Não era preciso muito para a construção. Bastavam concreto e pilastras para sustentar a estrutura. 3 – Estocagem: Serviam como depósito de armas, comida e remédios. Fonte: Design: Juliana Krauss I Ilustração: Felipe Del Rio/Superinteressante, 2020. Imagem 10 - Segundo modelo de Bunker: 1 – Bateria: As menores têm capacidade para manter o bunker por pelo menos 72 horas. 2 – Caixa d’água: Pode-se guardar de 1 mil a 100 mil litros de água. 3- Respiro: Os filtros de ar, necessários em qualquer bunker, repelem a poluição. Os mais sofisticados filtram até a radiação de bombas nucleares. Fonte: Design: Juliana Krauss I Ilustração: Felipe Del Rio/Superinteressante, 2020. Em uma reportagem da Record TV do dia 27 de dezembro de 2020, fala sobre a crescente procura por bunkers no lugar de casas, onde, após a pandemia da covid-19 houve uma explosão de pessoas interessadas nesse estilo de moradia. Nela mostra uma das maiores 37 comunidades de bunkers do planeta, localizada em Dakota do Sul, EUA, onde há uma cidade inteira subterrânea que possui casas completas, podendo abrigar até 24 pessoas no maior conforto. São 575 unidades de bunkers espalhadas por uma área de 59km², o equivalente à ilha de Manhattan, NY (Imagem 11). Imagem 11: Comunidade de Bunkers subterrâneos em Dakota do Sul,EUA. Fonte: Record TV, 2020. São construções idênticas e originais feitas por engenheiros militares durante a Segunda Guerra, se encontram a 2,5m de profundidade e tem 205m² de área útil. Em relação a sua tipologia, é oferecido pela empresa três plantas básicas com direito a instalações elétricas completas, paredes e mobiliários, sendo a versão mais simples com dois quartos de casal e um terceiro com beliches que abrigam até 4 pessoas (Imagens 12 e imagem 13, pág 38). Imagem 12 - Parte interna do Bunker sem layout. Fonte: Record TV, 2020. 38 Imagem 13 - Parte interna do Bunker com montagem de layout. Fonte: Record TV, 2020. Partindo da ideia de anti apocalíptica temos uma visão pessimista do futuro e a necessidade de construir locais habitáveis para a sociedade, sendo uma moradia ou até uma vila autossuficiente. Destacando a grande importância que esse tipo de edificação está tomando na vida das pessoas, vemos cada dia mais a preocupação com um futuro distópico cada vez mais real em nossas vidas, possuindo objetivos claros de distanciamento dos grandes centros, segurança e a construção de projetos personalizados que se adaptem a estilos variados de famílias. Assim, o processo de transformação dos novos lares está sendo mais cogitado e adaptado a diferentes regiões do mundo como uma forma preventiva a catástrofes naturais, somando a isso sistemas bases e mecanismos de sustentabilidade e sobrevivência inseridos no processo construtivo. Diante de tudo isso, alguns arquitetos e urbanistas já começaram a projetar inúmeros abrigos diferentes com o conceito sobrevivencialista, onde possui funções auto sustentáveis e dignas de cenários de filmes, como por exemplo essa CyberHouse projetada pelo arquiteto Alex Wizhevsky, onde se inspirou no design de tesla e nos submarinos, com sua proposta centrada em um núcleo de concreto armado como mostrada na imagem 14 (pág 39). 39 Imagem 14 - Modelo de CyberHouse. Fonte: Desejo Luxo, 2020. Outro exemplo digno de destaque seria um refúgio pós-apocalipse com piscina, cinema e até cirurgia. Batizado de 'Condomínios de Sobrevivência', o projeto é um complexo de luxo 15 andares abaixo do solo em um antigo silo de mísseis perto de Concórdia, em Kansas, construído para proteger a elite mundial de desastres naturais, nucleares, ataques terroristas, asteróides ou uma pandemia global, oferecendo ao mesmo tempo comodidades luxuosas. Silos de mísseis originalmente construídos pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA na década de 1960, durante a Guerra Fria, foram aproveitados. Segundo o "Daily Mail", todos os apartamentos do primeiro complexo esgotaram, mas as pessoas têm a opção de comprar uma unidade de cobertura completa, de meio andar ou cobertura em um segundo condomínio atualmente em construção (Imagens 15 e 16). Imagem 15 - Entrada do condomínio. Imagem 16 - Estrutura em construção. Fonte: Casa Vogue, 2020. 40 "Eles se preocupam com eventos que variam de erupções solares, colapso econômico, pandemias, terrorismo e escassez de alimentos. Não são estereotipados 'malucos de sobrevivência', como retratados em filmes, mas indivíduos com o desejo de fornecer cuidados e proteção para sua família", explica Larry Hall, que está por trás do empreendimento. As paredes do silo são feitas de concreto endurecido com epóxi, têm quase 3 metros de espessura e foram projetadas para sobreviver a um ataque nuclear direto. A estrutura da cúpula que cobre a tampa do silo pode suportar ventos superiores a 500 km/h. Até 70 pessoas podem viver com recursos suficientes por lá durante anos. Há sistemas de filtragem de ar e água, uma variedade de fontes de energia (incluindo energia eólica) e a capacidade de cultivar plantas e criar peixes para suprimento de alimentos. Tendo em vista os milhares de projetos sobrevivencialistas projetados para o fim do mundo como uma forma segura de conseguir sair vivo de um possível apocalipse, se mantendo vivo por mais tempo, observamos uma grande diferença de pontos de vista. De um lado temos alguns arquitetos que buscam uma solução investindo em abrigos auto sustentáveis possuindo uma excelente estrutura por meio da utilização de materiais caros e mais elitizados para aguentar os diversos desastres que podem vir a acontecer no mundo, tornando esse processo inacessível para a maioria da população do mundo. Já por outro lado, temos as Naves Terrestres com uma visão mais real e ampla de tentar amenizar os riscos de possíveis eventos catastróficos, buscando mudar nossa forma de construção adotando métodos diferenciados para uma habitação autônoma, onde design e função convergem em harmonia ecológica, e, o mais importante, acessível para todas as classes. Assim, como consequência, aos poucos pode-se inverter o quadro distópico de apocalipse imaginado, caminhando em direção a tão sonhada utopia. 3.4 NAVES TERRESTRES DA BIOARQUITETURA Um mundo utópico de vida sustentável requer o crescimento na construção e utilização de habitações autónomas operando de forma autossuficiente, fornecendo aos ocupantes seus próprios sistemas e serviços independentes (aquecimento, resfriamento, energia, água e tratamento de águas residuais) derivados exclusivamente de recursos naturais 41 (sol, vento e chuva), eliminando assim a dependência das famílias na rede de infraestrutura tradicional (COLIN et al. 2021). As edificações de Naves Terrestres da bioarquitetura são comercializados como sendo8 o exemplo de sustentabilidade da habitação, construídas por meio da reutilização ou reaproveitamento de produtos de resíduos urbanos principalmente recuperados (como como pneus de veículos e garrafas / latas de bebidas), seu design inclui a utilização de materiais de energia incorporados, aquecimento e resfriamento solar passivo, sistemas de energia fotovoltaica, captação de água da chuva, aquecimento solar de água quente, juntamente com tratamento de água preta e cinza, possuindo sistemas que se adaptam às mudanças climáticas de cada região. Além disso, atende às necessidades humanas elementares, os habitantes podem desfrutar de estilos de vida mais simples, pois podem dispensar contas de serviços públicos, hipotecas, proprietário taxas e podem alegar ser independentes de alimentos, materiais e sistemas monetários, fornecendo um novo habitat para uma excelente qualidade de vida (COLIN et al. 2021). As Naves incorporam muitos materiais naturais e recuperados em sua construção. Os pneus são a forma perfeita para um tijolo de taipa. Não há falta de pneus usados - pelo menos 2,5 bilhões estão atualmente em estoque nos Estados Unidos, com mais 2,5 milhões descartados a cada ano. Os pneus podem ser vistos como um "recurso natural" disponível globalmente. Outros materiais, como latas e garrafas, são opcionais, embora as paredes de tijolos das garrafas sejam uma característica marcante de muitas Naves Terrestres. Todas as paredes internas são compactadas entre os pneus e rebocadas com lama de adobe. A lama também pode ser usada para pisos, e madeira recuperada e metal são frequentemente usados (EARTHSHIP GLOBAL, 2021). Pensando no conceito sobrevivencialista, os modelos de construções residenciais das Naves Terrestres ganharam vida devido ao arquiteto Michael Reynolds, nascido em 1945, onde atualmente mora no Novo México, Estados Unidos. Reynolds já possui diversos projetos de Naves Terrestres em vários países e é um grande defensor de uma vida radicalmente sustentável (Imagens 17 e 18, pág 42). 8 Realizada na Europa pelo menos desde os anos 1970, a bioarquitetura nada mais é do que aplicar um conceito bem elementar na concepção e na construção de edificações. Ou seja, a preservação ambiental e da vida no planeta em seus diversos ecossistemas. Com relação ao design, de modo geral, a bioarquitetura privilegia o uso de formas orgânicas e naturais. São construções que se assemelham e, em muitos casos, se misturam aos ambientes naturais onde estão inseridas (BIOARQUITETURA, 2021).42 Imagens 17 e 18 - Michael Reynolds no processo de construção da Nave Terrestre. Fonte: Ecoeficientes - Escritório de arquitetura especializado em Sustentabilidade, 2013. Mike desenvolveu um conceito de seis características que servem de pilares para esse tipo de edificação, são elas: Arrefecimento e aquecimento térmico solar, energias renováveis como a solar e a eólica, aproveitamento de água ou da neve, tratamento de esgoto, produção própria de alimentos, utilização de materiais reciclados (Imagem 19). Imagem 19 - Pilares que caracterizam as Naves Terrestres. Fonte: RS Design, 2021. 43 Em 1990 essas técnicas inovadoras foram consideradas arriscadas e viraram alvo de processos do governo americano, o que tirou, temporariamente, o direito de assinar projetos do arquiteto. Sem poder trabalhar, Reynolds se dedicou a elaborar um projeto de lei para criar uma área de experimentos em bioconstrução (ECOEFICIENTES, 2013). Trinta por cento de toda a energia produzida no mundo é usada para aquecimento e resfriamento de edifícios, diante disso, essas Naves são capazes de manter uma temperatura confortável sem combustíveis adicionais em qualquer clima do mundo por meio da massa térmica e ganho solar. Um dos materiais mais usados na estrutura das Naves são os pneus, que estão entre as mais problemáticas fontes de resíduos hoje, com um número gritante de mais de 1 bilhão produzidos anualmente, gerando um grande risco para a saúde e segurança das pessoas. O incêndio de pneus ocorre facilmente podendo queimar por meses e consequentemente gerando uma enorme poluição no ar e no solo, principalmente, devido ao mau reaproveitamento do mesmo. Diante disso, se tornou um recurso muito importante na construção dessas edificações (EARTHSHIP GLOBAL, 2021). Reynolds (2017) destrincha tudo sobre as Naves Terrestres com base em três perguntas destacando o conceito, os materiais e a importância desse tipo de construção. No que diz respeito ao conceito, ele descreve as residências como “cápsulas” que providenciará sustentabilidade para as pessoas. Toda cápsula precisa atender a seis pontos sustentáveis que são: água, abrigo confortável sem combustível, uso de energias renováveis, alimentação, tratamento de esgoto e o que fazer com o lixo. Além disso, Reynolds acrescenta que não só trabalha com materiais utilizados em construções comuns, mas também com materiais reciclados e que considera elementos chamados de “lixo” como recursos naturais para o planeta, dentre esses recursos tem-se: pneus de carros, latas, garrafas de plástico e vidro são, na verdade, nocivos para o planeta e são utilizados assim como cimento, madeira e pedra. pois por mais que para o resto das pessoas seja denominado de “lixo” para ele são naturais nascidos aqui como qualquer outro material. Reynolds (2017) acrescenta: Acredito que os arquitetos precisam se afastar um pouco da definição clássica de arquitetura porque estamos em uma era em que as construções precisam cuidar das pessoas e esse tipo de construção sem infraestrutura, porque ela está destruindo o problema. Gostaríamos que toda construção fosse sustentável, a ponto de, totalmente, prover para seus habitantes tudo o que precisam. É isso que torna as nossas construções uma espécie de “cápsula” – do que uma construção no sentido literal. Uma cápsula que vai para o espaço precisa prover tudo o que as pessoas que 44 estão dentro dela necessitam. Uma cápsula vai para o mar também. Estamos olhando para a moradia agora como uma cápsula independente que mostra as necessidades das pessoas. Queremos que a arquitetura tradicional também passe a enxergar dessa forma. Morin (2013) diz que esses novos métodos de construção levaram Reynolds a “abandonar” as formas tradicionais de arquitetura, implementando algo singular, orgânico e muito mais semelhante às formas que são encontradas na natureza. Furuto (2011), escreve que Matt Jordan, arquiteto responsável pelo projeto intitulado “Look Out House”, vencedor da competição “Architects Southwest Zombie Safe House” (projeto de casas para o apocalipse zumbi). Brussels (2012), afirmou ao The Economist que a construção do tipo apocalíptica “precisa ser simples e sustentável, capaz de gerar sua própria energia, alimentos e água, e de gerenciar seus resíduos [...] isso amplia as ideias de fora do sistema e da sustentabilidade, ajudando a tensionar os limites e imaginar como poderíamos viver se nossas conveniências modernas fossem retiradas de nós”. Miro (2013) reforça, que a maior mudança que pode acontecer é tornar seus ocupantes menos dependentes dos poderes e mais “seguros” no seu habitar. Aqui temos 10 razões para viver “fora da rede”, ou seja, do esquema de construção convencional de acordo com a empresa Earthship Biotecture do Michael Reynolds (2020). 1. Livre de contas de serviços públicos; 2. Bons administradores dos recursos da Terra; 3. Segurança; 4. Liberdade para escolher seu estilo de vida; 5. Localização; 6. Vivendo como produtores em vez de consumidores; 7. Ambientalmente responsável; 8. Aprenda novas habilidades; 9. O sentimento de realização; 10. Incentiva uma vida desconectada (REYNOLDS, 2020). Reynolds (2018) também comenta em uma entrevista para a Quality Unearthed em 19 de novembro de 2018, que as Naves estão evoluindo por meio dos 6 pontos fundamentais tratados no conceito e construção das mesmas e que há uma necessidade deles no planeta Terra como contraponto a outros tipos de construções que estão arruinando a capacidade do planeta em se renovar. “Nós usamos, reutilizamos. Então é assim que uma Nave Terrestre faz. Se uma pessoa está apenas abordando esses problemas em sua vida e em seu prédio, não nos importamos como eles fazem isso. Achamos que é mais importante que eles abordem essas questões. Porque com tantas pessoas inteligentes, que são muito mais inteligentes do que eu neste planeta, acho que essas questões poderiam ser tratadas muito melhor do que nós. Mas 45 estamos apenas tentando fazer com que as pessoas lidem com isso.”, descreve Mike. Assim, Reynolds indica para aqueles que pensam em desenvolver casas autossustentáveis que se atentem e abordam os 6 pontos da maneira que puder, imaginando camadas que se interligam e se completam, pois não há como construir uma edificação deixando alguma dessas características de lado (Imagem 20). Imagem 20 - Vista aérea de modelos de Naves Terrestres. Fonte: Earthship Biotecture, 2020. Visto desta forma, as Naves Terrestres da bioarquitetura nos leva a um cenário apocalíptico que tende a ser caracterizado por uma arquitetura utópica futurista, mostrando um fim que também acarreta em um começo como uma nova chance de recomeçar e repensar um estilo de vida com menos impactos ao planeta terra. 46 4 ESTUDOS DE CASO As Naves Terrestres fazem tudo por si próprias e a maneira como fazem tudo com sistemas centralizados é uma abordagem descentralizada, cada edifício é uma célula viva que respira e está obtendo tudo que seus habitantes precisam de um encontro com os fenômenos naturais do planeta como o sol, a chuva, o vento e a gravidade. A partir do aproveitamento desses fenômenos, produzem bens naturais e usam tecnologia, criando contribuições benéficas para as questões ambientais. Veremos neste capítulo um estudo de caso que caracteriza detalhadamente alguns dos modelos dessas residências e a forma construtiva projetadas e desenvolvidas pelo arquiteto Michael Reynolds. O mesmo comenta que a popularização dessas residências está cada vez maior, assim, a fim de conseguirem se pagar, as Naves Terrestres passaram a ser disponíveis para alugar e comprar, também funcionando como Airbnb . Dessa forma, mesmo com a9 maioria das pessoas no planeta não fazendo ideia do estudo sobre essas edificações, quando alugam, possuem acesso a eletricidade, internet de alta velocidade, água quente, seu próprio esgoto e alimentos crescendo da estufa, isso causa uma grande admiração em suas mentes. Esses edifícios são uma demonstração
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