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PAULA KARINE DE SA DANTAS_ARQUITETURA DO APOCALIPSE_CONTEUDO TEXTUAL docx

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UNIVERSIDADE TIRADENTES
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
PAULA KARINE DE SÁ DANTAS
ARQUITETURA DO APOCALIPSE - NAVE TERRESTRE COMO MODELO
RESIDENCIAL DE PROJETO AUTOSSUSTENTÁVEL SOBREVIVENCIALISTA
ARACAJU
2021
PAULA KARINE DE SÁ DANTAS
ARQUITETURA DO APOCALIPSE - NAVE TERRESTRE COMO MODELO
RESIDENCIAL DE PROJETO AUTOSSUSTENTÁVEL SOBREVIVENCIALISTA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como pré-requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo no
Programa de Graduação da Universidade
Tiradentes.
ORIENTADORA: PROF. ME. MILLENA MOREIRA FONTES
ARACAJU
2021
PAULA KARINE DE SÁ DANTAS
ARQUITETURA DO APOCALIPSE - NAVE TERRESTRE
COMO MODELO RESIDENCIAL DE PROJETO
AUTOSSUSTENTÁVEL SOBREVIVENCIALISTA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como pré-requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo no
Programa de Graduação da Universidade
Tiradentes.
Aprovado em: 09/12/2021.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Me. Millena Moreira Fontes (Orientadora - UNIT)
Profa. Me. Rosany Albuquerque Matos (Avaliadora Interna - UNIT)
Arq. e Urb. Elaine Vasconcelos Nascimento (Avaliadora Externa)
ARACAJU - 2021
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas, que assim
como eu, lutam incansavelmente por um
mundo melhor, se empenhando em transformar
nosso planeta em um ambiente digno de
vivência e não apenas de sobrevivência.
AGRADECIMENTOS
Concluo mais uma etapa da minha vida carregando uma gama de experiências que levarei
comigo para sempre, assim como àqueles que me foram importantes ao longo dessa jornada.
Desse modo, não posso deixar de expressar a minha profunda gratidão e reconhecimento:
À minha mãe Esmeralda e ao meu pai Paulo por me transmitirem tanto amor e dedicação que
nem cabe no meu peito. Agradeço por sempre me ouvirem, por cada palavra de conforto e por
sempre me incentivarem a correr atrás dos meus sonhos me aconselhando da melhor forma
possível.
À minha avó Claudinete por ser uma mulher extremamente guerreira e sempre estar me
passando essa força, além de ter me ajudado financeiramente com os custos da faculdade sem
nem pensar duas vezes. À minha tia e madrinha Sandra por ter me acolhido em sua casa
quando me mudei para Aracaju. Sem elas eu não estaria vivendo esse sonho.
À Mariana, Rebeca e Vitória, o meu eterno grupo de mulheres incríveis e sensacionais que
tive a honra de percorrer todo esse trajeto ao longo do curso, compartilhando diversas
madrugadas acordadas, sorrisos, choros e incontáveis emoções. Obrigada por nunca soltarem
a minha mão e sempre estarem comigo em todos esses momentos.
Aos amigos que fiz ao longo do caminho: André Lucas, Max, Lucas, Dani, Rodrigo e tantos
outros que me apoiaram e contribuíram na minha caminhada durante esses cinco anos. À Tia
Reni e tio Batista pelo coração gigante e por sempre nos acolher com muito amor em sua casa
para os nossos inúmeros incentivões de estudos.
Por fim, porém não menos importante, quero agradecer a mim mesma pelo esforço em meio a
todas as dificuldades que tive que enfrentar para chegar até aqui, e, mesmo pensando em
desistir diversas vezes ainda fui capaz de continuar lutando e acreditando no meu potencial,
trabalhando a minha mente com foco nos meus objetivos e metas futuros.
EPÍGRAFE
“A menos que modifiquemos a nossa maneira
de pensar, não seremos capazes de resolver os
problemas causados pela forma como nos
acostumamos a ver o mundo.”
Albert Einstein
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo desenvolver uma discussão sobre modelos alternativos de
residências autossustentáveis com foco no sobrevivencialismo, onde podemos nos questionar
sobre o futuro incerto tão temido pelas pessoas, uma vez que os graves problemas ambientais
e de saúde coletiva de nossa época (pós-pandemia do COVID-19, 2021) tendem a se tornar
ainda mais devastadores no futuro, como o aparecimento de catástrofes ambientais, novas
epidemias ou até mesmo o ressurgimento de outras que pareciam ter definitivamente
desaparecido. Esta pesquisa fundamenta-se no trabalho desenvolvido pelo arquiteto Michael
Reynolds, o “Guerreiro do Lixo” e bioarquiteto. Sua bioarquitetura é baseada em criar
espaços utilizando materiais visto como lixo pela maioria das pessoas – garrafas, latas, pneus
– junto a matérias-primas naturais, como madeira e terra. Como objeto de estudo, foi
analisado um modelo residencial de Nave Terrestre, de acordo com um conjunto de
características criadas pelo arquiteto supracitado, o qual desenvolveu seis características que
servem de pilares para esse tipo de edificação, comercializadas como exemplo de
sustentabilidade e habitação. A partir disso, como produto final, foi desenvolvido um
protótipo inspirado nas técnicas sustentáveis e sobrevivencialistas, instigando uma nova forma
de construção e estilo de vida.
PALAVRAS CHAVE:
Arquitetura do Apocalipse. Construção sustentável. Sobrevivencialismo. Naves Terrestres.
ABSTRACT
This research aims to develop a discussion on alternative models of self-sustainable housing
with a focus on survivalism, where we can ask ourselves about the uncertain future so feared
by people, since the serious environmental and public health problems of our time (post
-COVID-19 pandemic, 2021) tend to become even more devastating in the future, with the
appearance of environmental catastrophes, new epidemics or even the resurgence of others
that seemed to have had definitively disappeared. This research is based on the work by the
architect Michael Reynolds, the “Warrior of the Garbage'' and bioarchitect. His
bioarchitecture is based on creating spaces using materials seen as waste by most people –
bottles, cans, tires – together with natural raw materials such as wood and earth. As an object
of study, a residential model of Earthship was analyzed, according to a set of characteristics
created by the aforementioned architect, who developed six characteristics that serve as pillars
for this type of building, marketed as an example of sustainability and housing. As a result
and final product, a prototype was developed, inspired by sustainable and survivalist
techniques, instigating a new form of construction and lifestyle.
KEYWORDS:
Architecture of the Apocalypse. Sustainable construction. Survivalism. Earthship Home.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Imagem 01 - Mapa do índice de Estados frágeis em 2021. 17
Imagem 02 - Estação Arca orbitando em volta da terra na série The 100. 19
Imagem 03 - Os chamados terráqueos que cresceram na terra depois do apocalipse. 19
Imagem 04 - Mapa do Bunker Mount Weather nas mãos da personagem Clarke. 20
Imagem 05 - Cartaz da Warner Bros Pictures. 21
Imagem 06 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). 26
Imagem 07 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 27
Gráfico 01 - Relatório dos Indicadores para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 28
Imagem 08 - O ex-gov da Califórnia, Jerry Brown (esquerda) e o ex-secretário de Defesa
William Perry exibindo o Relógio do Apocalipse durante conferência de imprensa do Boletim
dos Cientistas Atômicos, em Washington. 33
Gráfico 02 - Situação do relógio do apocalipse desde 1947 a 2020. 34
Imagem 09 - Modelo de Bunker prático e seguro. 36
Imagem 10 - Segundo modelo de Bunker. 36
Imagem 11 - Comunidade de Bunkers subterrâneos em Dakota do Sul, EUA. 37
Imagem 12 - Parte interna do Bunker sem layout. 37
Imagem 13 - Parte interna do Bunker com montagem de layout. 38
Imagem 14 - Modelo de CyberHouse. 39
Imagem 15 - Entrada do condomínio.39
Imagem 16 - Estrutura em construção. 39
Imagem 17 - Michael Reynolds no processo de construção da Nave Terrestre. 42
Imagem 18 - Michael Reynolds no processo de construção da Nave Terrestre. 42
Imagem 19 - Pilares que caracterizam as Naves Terrestres. 42
Imagem 20 - Vista aérea de modelos de Naves Terrestres. 45
Imagem 21 - Fachada da Nave Terrestre de Sobrevivência Simples. 47
Imagem 22 - Modelo mais simples com um cômodo estilo loft. 48
Imagem 23 - Modelo 1 com dois cômodos. 48
Imagem 24 - Modelo com três cômodos. 48
Imagem 25 - Fachada da Nave Terrestre modelo Global. 49
Imagem 26 - Planta baixa da Nave Terrestre modelo Global. 49
Imagem 27 - Fachada da Nave localizada no Novo México. 50
Imagem 28 - Modelo 1 de planta baixa da Nave Terrestre de Unidade. 51
Imagem 29 - Modelo 2 de planta baixa da Nave Terrestre de Unidade. 51
Imagem 30 - Correia de aço inserida no pneu com a terra compactada. 52
Imagem 31 - Construção estrutural com pneus, terra compactada e latinhas. 53
Imagem 32 - Exemplo de maquete representando a formação das paredes com pneus. 53
Imagem 33 - Parede externa do banheiro com detalhamento de tijolos de garrafas. 54
Imagem 34 - Parede interna do banheiro com detalhamento de tijolos de garrafas. 54
Imagem 35 - Esquema dos detalhes construtivos das paredes e cobertura. 55
Imagem 36 - Modelo de maquete demonstrando o suporte com vergalhões. 56
Imagem 37 - Esquema de estrutura da abóbada. 56
Imagem 38 - Montagem da abóbada. 57
Imagem 39 - Exemplo da localização das cisternas no modelo Global de Nave Terrestre. 58
Imagem 40 - Esquema do calor durante o dia. 58
Imagem 41 - Esquema do calor durante à noite. 59
Imagem 42 - Tubo de resfriamento inserido entre os pneus. 59
Imagem 43 - Indicação das janelas operáveis e clarabóias. 60
Imagem 44 - Modelo de captação de água. 61
Imagem 45 - Esquema de utilização da água da chuva. 61
Imagem 46 - Esquema do tratamento da água cinza e preta. 62
Imagem 47 - Paisagismo inserido na edificação. 62
Imagem 48 - Modelo de captação da luz por meio de placas solares. 63
Imagem 49 - Nave Terrestre vista pela noite. 63
Imagem 50 - Produção de alimentos por meio da hidroponia no modelo Unidade de Nave
Terrestre. 64
Imagem 51 - Produção de alimentos por meio de um viveiro de tilápias no modelo Unidade de
Nave Terrestre. 64
Gráfico 03 - Avanço do preço do metro quadrado no estado de Sergipe nos anos de 2020 e
2021. 66
Imagem 52 - Representação do Cubo de Metatron. 68
Imagem 53 - Esboço inicial da forma do protótipo. 69
Imagem 54 - Estudo preliminar do protótipo. 69
Imagem 55 - Terreno escolhido. 69
Imagem 56 - Paredes estruturais de vermelho e paredes internas de preto. 70
Imagem 57 - Localização das claraboias. 70
Imagem 58 - Localização das cisternas. 71
Imagem 59 - Localização das placas solares. 72
Imagem 60 - Pátio interno. 72
Imagem 61 - Jardim de entrada. 73
Imagem 62 - Jardim de entrada. 73
Imagem 63 - Viveiro e plantação hidropônica na sala de jantar e cozinha. 74
Imagem 64 - Extensão do viveiro até a sala de estar. 74
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
2 O PÓS APOCALIPSE 14
2.1 QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 14
2.2 ANÁLISE DO PÓS APOCALIPSE E SUA RELAÇÃO NO CONTEXTO ATUAL
DA PANDEMIA 18
3 ARQUITETURA APOCALÍPTICA SUSTENTÁVEL 23
3.1 SUSTENTABILIDADE 23
3.2 FIM DO MUNDO 30
3.3 ABRIGOS E FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA 35
3.4 NAVES TERRESTRES DA BIOARQUITETURA 40
4 ESTUDOS DE CASO 46
4.1 MODELOS DE NAVES TERRESTRES 47
4.1.1 SIMPLE SURVIVAL EARTHSHIP 47
4.1.2 GLOBAL EARTHSHIP 49
4.1.3 UNITY EARTHSHIP 50
4.2 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 52
4.3 AQUECIMENTO E REFRIGERAÇÃO 57
4.4 COLETA DE ÁGUA 61
4.5 TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS 62
4.6 SISTEMA DE ELETRICIDADE 63
4.7 PRODUÇÃO ALIMENTAR 64
5 PROTÓTIPO 65
5.1 ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS 65
5.2 MODELO 67
6 CONCLUSÕES 75
REFERÊNCIAS 77
12
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, o ser humano sempre imaginou um fim apocalíptico cheio de
destruição e miséria, onde, em quase todos os casos acabaria com a extinção da nossa raça. A
partir disso, foram criadas e imaginadas inúmeras hipóteses e formas de lidar com esse evento
catastrófico. Entretanto, tais formas acabam desconsiderando o nosso planeta, mesmo sendo a
nossa verdadeira casa e maior fonte de vida que temos, juntamente com todos os recursos que
ela nos dá. Infelizmente, indústrias e grande parte da população ainda se omitem quando o
assunto envolve o ecossistema e os bens naturais. O pensamento ambientalista é demasiado
recente, iniciando-se nos anos 70, com as conferências realizadas pela Organização das
Nações Unidas (ONU), a exemplo da de Estocolmo, singular pela busca por equilíbrio entre
desenvolvimento econômico e redução da degradação ambiental até os anos 90, com a
definição do conceito de desenvolvimento sustentável.
Em meio a essa temática, o presente trabalho, a partir de uma revisão de literatura e
pesquisa bibliográfica realizada por meio de fontes primárias e secundárias, buscou trazer
uma abordagem alternativa diferente da midiática do apocalipse, seguindo a linha da
sustentabilidade e otimismo. Diante disso, será abordado a existência de soluções viáveis de
construções que auxiliarão para uma nova proposta para o destino incerto da humanidade,
respeitando o ambiente e fomentandoqualidade de vida, aprimorando um novo conceito e
estilo de se viver como princípio da auto-suficiência.
O objetivo geral é desenvolver uma análise de abrigo futurista autossustentável com
foco no sobrevivencialismo, onde será estudado o modelo de residência desenvolvido pelo
arquiteto Michael Reynolds, instigando uma nova forma de filosofia e pensamento. Dentre os
objetivos específicos: analisar o panorama histórico da arquitetura no contexto
sobrevivencialista; debater sobre as razões que sustentam as propostas de uma arquitetura
apocalíptica; além de investigar as soluções apresentadas na arquitetura a partir de modelos de
abrigos que possam contribuir com a qualidade de vida das pessoas, sob o paradigma do
apocalíptico e do sobrevivencialismo, por fim, uma breve discussão de ressignificação e
esclarecimento do termo apocalíptico utilizado neste trabalho.
A partir disso, é elaborada uma pesquisa histórica sobre sustentabilidade e os impactos
causados pelo aquecimento global no decorrer dos anos, consequentemente, é analisada a
13
ideia de fim do mundo com o surgimento de abrigos de sobrevivência existentes. Dentre os
fatos apresentados, inseriu-se um estudo sobre um novo conceito de casa, com a finalidade de
mudar o ambiente construído para melhor. O intuito é viver com sistemas sustentáveis
diferentes dos tradicionais e que possam melhorar a vida das pessoas, por isso a necessidade
de investir em edifícios que possam “respirar sozinhos” aumentando o conforto psicológico e
fisiológico. Diante disso, as edificações futurísticas deverão fornecer sua própria energia, água
e tratamento de esgoto; uma área para o cultivo de alimentos saudáveis; ter uma excelênte
qualidade do ar interno; ser resistente a pragas, a mofo e ao fogo; ser feita de materiais
sustentáveis e duráveis; ter uma expectativa de vida superior a das casas atuais; possuir uma
boa estética e que seja agradável para morar; construída de forma rápida e eficiente com o
mínimo de desperdício; e que seja acessível para todos.
Por fim, pensado para o clima da cidade de Aracaju no Estado de Sergipe, como
produto final desta pesquisa, foi desenvolvido um protótipo de modelo residencial baseado
nos conceitos do arquiteto Michael Reynolds, contendo soluções com o objetivo de
ressignificar o entendimento sobre o futuro do nosso planeta com alternativas de vida e
construção fora dos padrões, possibilitando a junção da biologia e arquitetura como o
caminho mais rápido e eficaz para fazer a diferença no mundo.
14
2 O PÓS APOCALIPSE
Imagine que você está no sofá da sua casa, liga a TV e as notícias são de milhares de
catástrofes naturais e de pessoas em situação de miséria e fome, epidemias e guerras por todo
lugar e inúmeras situações que fogem do seu controle. Você sai de casa e se vê em uma
posição perturbadora e devastada, repleta de terror, medo, tristeza e paisagens sombrias. Seu
objetivo nessa realidade é sobreviver, mesmo que tais eventos te levem para longe da sua zona
de conforto e te deixem quase sem nenhuma esperança, você começa a pensar em diversas
situações que poderia recorrer. Nesta ocasião, fim do mundo ou apocalipse seria usado para
representar tal visão de uma sociedade carregada pelo caos da sua própria destruição,
consequentemente uma realidade pós apocalíptica.
Todavia, se olharmos de uma perspectiva diferente para o futuro, ou seja, invertendo
completamente a ideia do que poderia ser o apocalipse, teríamos uma nova forma de
abordagem e atitudes a serem seguidas, onde haveria a valorização e qualidade de vida, paz,
esperança e belas paisagens. Assim, o contexto de pós apocalipse também pode ser associado
a um novo estilo de vida de uma forma positiva, entendendo a natureza como nossa principal
fonte de vida e adotando métodos que respeitem o meio ambiente em que vivemos.
2.1 QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Atualmente, estamos enfrentando outro momento de revolução industrial que não
possui uma data de início, muito menos uma previsão de término. Após a terceira revolução
industrial , presenciamos uma nova fase no mundo também conhecida como Indústria 4.0, a1
quarta revolução industrial, que está muito ligada à chamada “Inteligência das coisas”.
Funciona com o intuito de controlar o mundo a partir da existência de robôs inteligentes
ligados a algoritmos capazes de fazer o trabalho humano, consequentemente, tais inovações
tecnológicas vão ficando cada vez maiores, tendenciando ainda mais a desigualdade social
pelo fato de estar ligada às elites econômicas mundiais, deixando de lado a população mais
1 A Terceira Revolução Industrial caracteriza-se por grandes transformações de natureza econômica, social,
política e tecnológica, cujas consequências têm tido relevantes impactos no mundo do trabalho, dentre as quais a
instabilidade do emprego, exigindo do profissional a constante busca pela garantia da própria empregabilidade,
em um mercado cada vez mais competitivo (AMARAL, 2013).
15
pobre e marginalizada. Logo, tende a acelerar os processos de destruição da natureza, com a
recriação de novos materiais e de um mundo “pós-natural”.
De acordo com Gomez (2017), a quarta revolução ameaça fazer desaparecer o mundo
tal como o conhecíamos, trata-se de todo um conjunto de alterações decisivas nas relações
sociais e nas relações entre os humanos e a natureza, na qual vai além de apenas um
prolongamento da terceira revolução tecnológica, com suas inovações eletrônica,
telecomunicações e engenharia genética. Assim, há todo um conjunto de novos
desenvolvimentos tecnológicos específicos e uma forma de interação entre eles como por
exemplo a nanotecnologia , que ocupa um lugar destacado na manipulação da matéria, onde2
se esfumam as diferenças entre o vivo e o não-vivo, além de servir como plataforma de
desenvolvimento para várias outras tecnologias da quarta revolução industrial.
A importância dessas tecnologias não pode ser pensada isoladamente, mas em sua
interação e sinergia, assim, dentre as tecnologias mais importantes se encontram - a
engenharia de sistemas metabólicos para produzir substâncias industriais, ou seja, a biologia
sintética para substituir combustíveis, plásticos, fragrâncias, princípios ativos para a indústria
farmacêutica, dentre outros (GOMEZ, 2017). Da mesma maneira, o desenvolvimento de
ecossistemas abertos de inteligência artificial com o propósito de integrar máquinas com
inteligência artificial à internet das coisas, às redes sociais e à programação aberta, com
potencial de transformar radicalmente a relação entre os humanos e as máquinas e a relação
delas entre si (RIBEIRO, 2016).
Dessa forma, não podemos falar sobre a quarta revolução industrial sem mencionar o
surgimento do capitalismo, no qual consistiu na crescente destruição dos vínculos materiais
diretos e espirituais com a natureza e com as formas de reprodução social.
A assim chamada acumulação primitiva”, produz-se uma condição inédita na
história: os seres humanos inteiramente abstratos, “livres como pássaros”, separados
da natureza e de suas comunidades, e, exatamente por causa disso, compelidos a se
tornar “material humano” da produção capitalista (MARX, 1983, cap 24).
Aponta-se que o capitalismo está implantado na sociedade por meio das revoluções
industriais, gerando renda por meio da exploração do capital (investimento para os meios de
2 A nanotecnologia é uma ciência que se dedica ao estudo da manipulação da matéria numa escala atômica e
molecular lidando com estruturas entre 1 e 100 nanômetros (GOMEZ, 2017).
16
produção), os recursos naturais (fontes de produção e matéria prima) e a força de trabalho,
distribuídos entre a burguesia e o proletariado. Sendo assim, o capitalismo possui um esforço
destrutivo de estar sempre crescendo e deixando inúmeras falhas na sociedade, como o
consumo descontrolado dos recursos naturais, a enorme produção de resíduos descartados no
meio ambiente e o avanço da poluição do ar, trazendo doenças que por enquanto ainda sãoa
longo prazo para a população.
A quarta revolução industrial cria não apenas os meios para novas modalidades de
guerras e de extermínio, mas também sofisticadas formas de controle e de vigilância
que ameaçam aniquilar completamente a privacidade e devassar todos os espaços da
sociedade. É importante lembrar que se as ditaduras e os regimes totalitários que
emergiram no curso da história do capitalismo tivessem os meios que são
disponíveis hoje nenhuma resistência ou evasão teria sido possível (JAPPE, 2013.
pp. 72-73 apud GOMEZ, 2017, p.6).
“Com rápidos avanços em biotecnologia e bioengenharia, podemos chegar a um ponto
em que, pela primeira vez na história, desigualdade econômica se torne desigualdade
biológica”, observa o historiador Harari (2017). Assim, as dinâmicas de interação da crise do
capitalismo envolve uma grave crise ecológica e internacional que surge devido a uma gama
de problemas relacionados a desintegração social, o colapso subjetivo, as epidemias de
guerras e os surtos de violência resultando num colapso na sociedade da mercadoria tendo
como resultado a guerra civil, o terrorismo, a infestação social por meio de bandos armados e
as abundância de refugiados, transformando profundamente o mundo tal como o conhecemos.
O mapa Fragile States 2017 apresentado pelo The Fund For Peace é muito ilustrativo acerca
do rápido e vasto processo de colapso que se alastra pelo mundo no curso da crise do
capitalismo, do colapso ecológico e das guerras (Imagem 01, pág 17).
17
Imagem 01 - Mapa do índice de Estados frágeis em 2021.
Fonte: Fragile States Index, 2021.
Se tratando especificamente do Brasil, de acordo com pesquisador Altair Sales
Barbosa, um dos maiores especialistas sobre o Cerrado, em menos de meio século estima-se
que a destruição do Cerrado no Brasil provocará a ruína dos principais aquíferos do país
(inclusive o Aquífero Guarani) e poderá desencadear uma crise hídrica de gravíssimas
proporções. Em sua fala para o Jornal Opção (2014), Barbosa comenta que o Cerrado é um
tipo de bioma que possui uma vegetação rica e dependente de diversos componentes
intimamente interligados, onde seu solo oligotrófico (com nível muito baixo de nutrientes)
depende do clima tropical subúmido com as estações secas e chuvosas, significando que uma
vez degradado não irá mais se recuperar na totalidade de sua biodiversidade, em função disso,
o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção.
Desta forma, não se pode ignorar a possibilidade da quarta revolução industrial
potencializar as tendências à privatização dos bens comuns, a poluição do meio ambiente, a
utilização de tecnologias perigosas e destrutivas, além da explosão das favelas pelo mundo,
construção de cercas, muros, novos sistemas de vigilância e controle, guerras de contenção
das massas, urbanismo militar, milícias privadas e mais uma gama de malefícios no futuro.
Por fim, os impactos dessa revolução serão sentidos muito em breve se não tomadas as
providências de todos os lados em prol de reverter essa previsão maléfica para todo o mundo,
pois deve-se reconhecer que os avanços econômicos e tecnológicos-científicos não levam em
conta as necessidades dos seres humanos e as bases naturais de manutenção da vida.
18
2.2 ANÁLISE DO PÓS APOCALIPSE E SUA RELAÇÃO NO CONTEXTO ATUAL
DA PANDEMIA
Faz parte do ser humano imaginar inúmeras vertentes para o futuro das próximas
gerações, diante disso, temos um ponto muito importante a ser discutido na arquitetura e de
como ela está totalmente inserida nesse meio apocalíptico. Tal cenário parecia ser algo fora da
realidade até o momento em que a pandemia do coronavírus aconteceu em 2020. Entretanto, a
questão principal é em como esse apocalipse é visto pela grande maioria da população, como
um evento distópico e arrasador, onde, provocará a destruição do mundo e de toda a vida na
terra, assim como descrito em obras cinematográficas.
O cinema é um grande provocador da arte apocalíptica, pois engloba diversos cenários
surreais em filmes, séries e documentários que descrevem possíveis realidades devastadoras.
Uma recente audiossérie original do Spotify chamada de Paciente 63 descreve a trajetória da
humanidade a partir do surto da Covid-19 por diante, onde os episódios se passam em uma
sessão de terapia com a psiquiatra Elisa Amaral, interpretada por Mel Lisboa, e um homem
chamado Pedro Roiter, interpretado por Seu Jorge, que afirma ser um viajante do futuro e
descreve que houveram várias mutações do vírus até chegar no mais contagioso e sem volta,
portanto sua missão neste presente seria encontrar a paciente zero dessa mutação que se não
fosse impedido, gradualmente levaria à extinção da humanidade. O ator Seu Jorge ainda
esclarece que a ideia da série é muito interessante, principalmente, por trazer uma grande
reflexão a sociedade sobre um possível futuro que poderíamos enfrentar envolvendo a questão
humanitária e o sentido da vida, assim, causando inquietação sobre o que vivemos hoje e o
que possivelmente será amanhã.
"A série, além de fazer você viajar naqueles personagens e criar todo um universo,
faz você também exercitar o seu senso crítico, o seu poder questionador, o olhar ao
seu redor para o que estamos vivendo, para o que a gente viveu e para o que
podemos fazer hoje para que nosso futuro possa ser melhor", descreve Mel Lisboa
(MAGARÃO, 2021).
Um exemplo muito interessante a ser mencionado é sobre uma série pós-apocalíptica
estreada em 2014 do canal norte-americano The CW livremente inspirada na saga literária da
autora Kass Morgan chamada The 100. Se passa 97 anos após uma guerra nuclear contando a
história devastadora do apocalipse que dizimou quase toda a vida na terra, tornando-a quase
19
inabitável, levando a humanidade a viver em espaçonaves no espaço. Depois de detectarem
uma falha crítica nos sistemas de suporte de vida da Arca (também conhecida como Estação
Arca ou Federação Unida da Arca) (Imagem 02), uma estação espacial que orbitava a terra.
Assim, a solução que os governantes encontraram foi enviar 100 jovens à terra, se livrando de
gastos inúteis e ao mesmo tempo, buscando uma solução para a sobrevivência da humanidade.
Imagem 02 - Estação Arca orbitando em volta da terra na série The 100.
Fonte: Série The 100, temporada 01, episódio 01 (00:38min), 2014.
Por consequência, os jovens enviados encontram pessoas que conseguiram buscar
formas de sobreviver no mundo catastrófico que a terra se tornou, formando algumas tribos
com suas próprias culturas e vivendo de uma forma ancestral (Imagem 03).
Imagem 03 - Os chamados terráqueos que cresceram na terra depois do apocalipse.
Fonte: Série The 100, temporada 02, episódio 08 (15:52min), 2014.
20
Contudo, também acabam encontrando uma sociedade subterrânea sobrevivendo em
um bunker chamado Mount Weather (Imagem 04), no qual não possuíam resistência ao ar da
terra devido a radiação e a forma que encontraram para sobreviver foi extraindo forçadamente
medula óssea dos terrestre que já possuíam resistência à radiação devido a seu sangue.
Imagem 04 - Mapa do Bunker Mount Weather nas mãos da personagem Clarke.
Fonte: Série The 100, temporada 02, episódio 02 (32:08min), 2014.
Rothenberg (2020) comenta em sua rede social sobre o final da série escrevendo: “Por
sete temporadas, The 100 foi uma série sobre as coisas sombrias que a humanidade fará para
sobreviver e o tributo que essas ações causam na alma de nossos heróis”. Assim, com o passar
das temporadas as reflexões trazidas pela mesma indicam que nem tudo está perdido e a
esperança da humanidade está na união e no trabalho em conjunto mudando o estilo de vida
para que possam reconstruir um mundo habitável e uma sociedade sustentável.
Outro exemplo é o filme de ficção científica Interestelar dirigido por Christopher
Nolan e escrito em parceria com o irmão Jonathan Nolan, onde, descreve um planeta
distópico constantemente assolado por frequentes tempestades de areia e pragas que destroemas plantações existentes, exterminando as reservas naturais da Terra e formando um cenário
onde a principal preocupação é arranjar comida para o dia seguinte. A história narra a
complexa vida de Cooper (um dos personagens principais), um piloto da NASA que tem a
difícil tarefa de salvar a espécie humana da extinção juntamente com um grupo de astronautas
21
que recebem a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial.
Com uma trama complexa, o filme Interestelar levanta uma série de dilemas morais e éticos
difíceis como a grande dúvida que Cooper enfrenta sobre qual escolha fazer: olhar para o bem
comum (ainda que isso signifique colocar o nosso bem-estar em jogo) ou tentar cuidar apenas
do que é nosso? (Imagem 05).
Imagem 05 - Cartaz da Warner Bros Pictures.
Fonte: Cinema em Casa, 2014.
Há toda uma interessante especulação sobre o mundo pós-humano que merece ser
investigada. Por mais que muitas vezes se assemelham à ficção científica, elas apontam
sempre (mesmo quando naturalizadas e afirmadas) para a obsolescência do homem. Dessa
forma, os graves problemas de saúde pública sanitária pela falta de infraestrutura correta nas
classes mais baixas de nossa época tendem a se tornar ainda mais devastadores no futuro,
22
como o advento de novas epidemias ou o ressurgimento de outras que pareciam ter
definitivamente desaparecido, por isso a necessidade de agir hoje e impedir uma possível
catástrofe ecológica futura.
Conforme as estatísticas sobre o aquecimento global é realmente justificável o medo e
insegurança. A grande sacada está na relatividade e nos diferentes pontos de vista existentes
em nossas vidas, diante disso, por que então não buscamos uma forma de conviver com esse
tão temido apocalipse? Por que ao invés de continuar remando em função do caos da
sociedade não buscamos desde já uma forma harmônica de viver em conjunto com a
natureza? A proposta é visualizar um cenário de apocalipse sem terror, desastres e mortes. Um
apocalipse que realmente vale a pena ser idealizado e alcançado por meio da conscientização
das pessoas trabalhando em conjunto e reconhecendo a real importância da sobrevivência.
23
3 ARQUITETURA APOCALÍPTICA SUSTENTÁVEL
A palavra "Apocalipse'' tem um significado muito importante na história da
humanidade, sendo muito abordado nas artes dramáticas, como teatro, cinema e literatura.
Também é muito marcante dentro das religiões, como por exemplo na bíblia, usada como
sinônimo do Armagedom, um acontecimento bíblico caracterizado pela luta final entre Deus,
os pecadores terrestres e o diabo. Desde milhares de anos vem ganhando bastante destaque
causando euforia devido a negatividade que a palavra carrega, trazendo consigo a ideia de
desastres naturais que atormentam as pessoas.
Para compreender melhor os desafios de uma nova forma de sobrevivência será
apresentado o contexto inicial de sustentabilidade, introduzindo de onde, como e quando
começaram os primeiros pensamentos de apreensão sobre o mundo que deixaremos para
nossas futuras gerações, levando a invenção de inúmeras formas de sobrevivência relacionada
a possíveis desastres ambientais. Além disso, teremos como base o estudo de abrigos
sobrevivencialistas sustentáveis denominados de Earthship biotecture (Nave Terrestre da
bioarquitetura) e de como o seu conceito favorece no desenvolvimento de um estilo de vida
com o mínimo possível de impacto ambiental, evitando possíveis catástrofes ambientais.
3.1 SUSTENTABILIDADE
A sustentabilidade vem sendo uma temática amplamente discutida desde a primeira
conferência realizada pelas Nações Unidas, em Estocolmo, em 1972. Devido a isso, houve o
lançamento do relatório “Nosso Futuro Comum” que abordou o conceito de desenvolvimento
sustentável trazendo uma conduta mais estruturada para esse tema. Para Giansanti (1998), a
excelência deste relatório teve como resultado um diagnóstico de uma crise social e ambiental
em escala global, assim como o reconhecimento e princípios humanos como democracia,
igualdade social e de um sistema de trocas internacionais mais igualitário, que desencadeiam
um conceito de desenvolvimento autônomo e sustentável das sociedades, gerando qualidade
de vida a partir de seus próprios recursos e potencialidades.
Já em 1983, foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Comissão
Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento (CMAD) com o objetivo de promover
discussões mais profundas sobre o futuro do planeta. Como resultado, foram gerados diversos
24
movimentos permeados de propostas ecológicas que seriam aplicadas na arquitetura e na
construção. Através do uso da tecnologia, seriam apresentadas soluções ambientalistas
adequadas que, consequentemente, geram cada vez mais experiências em arquitetura
bioclimática e subterrânea voltadas à economia energética e preservação ambiental (XAVIER,
2011). A partir desse tema, em 1987, Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da
Noruega, que também atuou como presidente de uma comissão da Organização das Nações
Unidas, usou pela primeira vez o termo “desenvolvimento sustentável” no relatório Our
Common Future, conhecido também como relatório Brundtland, onde define:
“Desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a
habilidade das gerações futuras de suprirem as próprias necessidades”. Estando de acordo,
Giansanti (1998, p. 46) refere-se o conceito de desenvolvimento sustentável como à
capacidade das sociedades sustentarem-se de forma autônoma, gerando riquezas e bem-estar a
partir de seus próprios recursos e potencialidades, mas resguardando o patrimônio natural dos
diferentes povos e países.
Segundo Xavier (2011), mais tarde em 1992 realizou-se no Rio de Janeiro a
Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e Desenvolvimento Humano, também
conhecida como “Cúpula da Terra” ou ECO-92. Como resultado desta conferência, que
incluiu a participação de 170 países, houve a definição do compromisso entre governos e
sociedade pelo planejamento estratégico universal que objetivava alcançar o desenvolvimento
sustentável no século XXI, alcançando o setor da Construção Civil de forma mais direta em
1994 com a primeira conferência centrada na eficiência energética das edificações patrocinada
pelo CIB (International Council for Research and Inovation in Building and Construction),
em Tampa, onde as discussões se tornaram cada vez mais abrangentes.
A ECO-92 resultou na criação da Agenda 21, aprovada pelos 170 países participantes,
onde foi criado um documento que elenca 2.500 recomendações estratégicas, com vistas ao
desenvolvimento sustentável possuindo o lema “pensar globalmente e agir localmente”, onde,
influencia a tomada de decisões regionalmente, tendo consciência do seu alcance mundial
(XAVIER, 2011). Assim, a necessidade de programar melhor as construções e contribuir com
o desenvolvimento sustentável tornou-se mais evidente, pois, a Agenda 21 considera que a
construção sustentável implica em um pensamento holístico no que respeita à construção e
gestão do ambiente construído, com materiais de construção e componentes que devem ser
25
produzido de forma sustentável, para que corresponda às exigências ambientais, deixando de
se tratar apenas de projetos com orientações ambientais, mas que trabalhem em prol de uma
perspectiva de ciclo de vida de qualidade se estendendo para as gerações futuras.
Diante de tudo que foi abordado, a década de 1990 desenrolou-se marcada por
inúmeros eventos de caráter ecologista e/ou ambientalista, sendo bem sucedidos ou não, de
grande ou pequena repercussão, porém sempre com um propósito em comum de frear a crise
ambiental denunciada pelos cientistas e pesquisadores dos anos antecedentes. Já em 1996, o
destaque a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (CNUAH), ocorria
em Istambul, na Turquia, que também se tornou conhecido como a Cúpula das Cidades, um
grande evento que deu ênfase à questão urbana ambientalao determinar como princípio a
sustentabilidade, e, como objetivo mundial a ser perseguido, os assentamentos humanos
sustentáveis. Seu documento principal, a Agenda Habitat, aponta caminhos para a construção
sustentável, refletindo o compromisso com os princípios democráticos de equidade e justiça
social, convocando todos os esforços nacionais e internacionais, tanto públicos como
privados, em direção à sustentabilidade socioambiental (XAVIER, 2011).
Independente de algumas similaridades entre os desafios propostos pelas duas
Agendas, há diferenças significativas nas prioridades, nos níveis de potencialidades, na
capacidade da indústria de construção e atuação governamental e na abordagem que deve ser
seguida nos países em desenvolvimento. Enquanto a Agenda 21 busca definir estratégias em
países que estão em desenvolvimento para ação da Construção Sustentável, visa a garantia do
respeito e apoio com os princípios da sustentabilidade, assim, oferecendo soluções aos
agentes envolvidos na cadeia produtiva da construção que são voltadas ao desenvolvimento
sustentável, isto é, um processo contínuo de manutenção e equilíbrio entre as necessidades
dos indivíduos por qualidade de vida, prosperidade, igualdade e o que é ecologicamente
possível (CIB E UNEP-IETC, 2002).
Xavier (2011) também destaca sobre este primeiro decênio do século XXI, onde
ocorreram vários debates sobre a necessidade de diminuir as emissões de gases poluentes,
causadores do Efeito Estufa . Diante disso, houve acordos firmados entre países que garantem3
o comprometimento das nações em mudar processos produtivos para reduzir suas emissões e
3 Efeito Estufa é o aumento da temperatura do ar provocada pelo acúmulo de cristais de dióxido de carbono e de
vapor de água na alta atmosfera, esse acúmulo de cristais na atmosfera impede que o calor da Terra saia e se
propague (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2020).
26
garantir menores efeitos negativos sobre a vida do planeta, como por exemplo, o aumento da
sua temperatura. Ainda assim, mesmo com a existência de tecnologias renováveis e mais
limpas sendo desenvolvidas há décadas, a nossa sociedade ainda é muito dependente de
combustíveis fósseis, causando uma lentidão em sua difusão e ampla aplicação no dia a dia
das pessoas.
Em junho de 2012, no Rio de Janeiro, aconteceu a Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Foram 50.000 visitantes, delegações de 190
países e diversas ONGs que vieram discutir maneiras de conciliar o desenvolvimento, a
qualidade de vida, sem degradar o meio-ambiente (JIMENEZ; ARINI, 2012). Estes números
demonstram o crescente interesse no assunto e o empenho de buscar novas soluções. Para
Jimenez e Arini (2012) em todo o mundo empresas buscam comercializar produtos que não
agridam tanto ao meio ambiente, motivados por consumidores que exigem esta postura. A
sociedade demanda cada vez mais medidas públicas que contribuam com a redução de
poluição dos rios, oceanos e lixo urbano. Assim, nessa mesma perspectiva, uma definição de
construção sustentável trazida por Gibberd (2004) diz que: “a edificação e construção
sustentáveis buscam maximizar os efeitos sociais e econômicos benéficos enquanto
minimizam os impactos ambientais negativos”.
No ano de 2000, a Organização Mundial da Saúde (ONU) lançou os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM). Nela, as Nações se comprometeram a unir esforços
para reduzir a pobreza extrema num prazo de 15 anos por meio de 8 objetivos (Imagem 06).
Em síntese, quando são estabelecidos objetivos e metas, a tendência é causar um esforço
maior para cumpri-las do que quando simplesmente deixamos acontecer. (IBGE, 2016).
Imagem 06 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Fonte: IBGE, 2016.
27
Ainda segundo o IBGE (2016), tais esforços deram bastante resultados entre os anos
de 2000 a 2015 ao redor do mundo, reduzindo mais da metade o número de pessoas em
extrema pobreza, assim como a queda de quase metade na proporção de pessoas subnutridas
nas regiões em desenvolvimento, ganhos significativos no luta contra o HIV/AIDS, malária e
tuberculose, a meta de reduzir pela metade a proporção de pessoas que não têm acesso a
fontes de água potável também foi alcançada, dentre outros objetivos. Embora os resultados
sejam bastante expressivos, há ainda muito a ser feito.
Como o prazo para alcançar os objetivos do milênio se esgotou em 31 de dezembro de
2015, foi aprovado por 193 líderes mundiais, em 25 de setembro de 2015, a Agenda 2030. A
mesma consiste em um plano de ação colaborativo ainda mais ambicioso do que seu
antecessor, buscando erradicar a pobreza extrema, combater a desigualdade e a injustiça, e
conter as mudanças climáticas. Para oficializar essa Agenda, foram criados 17 objetivos,
denominados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (Imagem 07).
Imagem 07 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Fonte: IBGE, 2016.
Tais objetivos se estendem em 169 metas, desse modo, os governos podem planejar,
implementar, monitorar e controlar políticas públicas que busquem atingir essas metas de
maneira mais sistematizada e uniforme, permitindo, por meio de 254 indicadores, a
comparação de resultados e análises históricas, onde foi destacado o Objetivo 11 - Cidades e
Comunidades Sustentáveis (Tabela 01, pág 28) (IBGE, 2016).
28
Gráfico 01 - Relatório dos Indicadores para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Fonte: IBGE, 2021, editado pela autora.
O Objetivo número 11: “Cidades e Comunidades Sustentáveis”, conforme o IBGE
(2018) visa tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis. Em 2015, quase 4 bilhões de pessoas - 54% da população mundial - viviam em
cidades. Em 2030, esse número chegará a 5 bilhões - 60% da população. Devido a isso, a
importância imediata do planejamento urbano eficiente juntamente com a colaboração de
todos os setores da sociedade necessita de uma atenção especial, pois o deslocamento da
população das áreas rurais para as zonas urbanas é um fenômeno global que vai continuar
crescendo nas próximas décadas. Assim, com o crescimento desordenado das cidades para
acomodar novos habitantes e a falta de políticas de habitação e de uso da terra, o número de
pessoas em habitações e assentamentos precários cresceu de 792 milhões no ano 2000 para
cerca de 880 milhões em 2014. O IBGE (2018) também explica que:
(...) Uma cidade sem planejamento fica mais vulnerável a desastres naturais. Uma
gestão deficiente dos resíduos sólidos aumenta o risco de inundações e das doenças
causadas pela contaminação da água. Em 2013, 65% da população urbana de 101
países contava com um serviço municipal de coleta de lixo. O que também provoca
doenças é a poluição do ar, responsável por milhões de mortes prematuras todos os
29
anos. Em 2014, nove entre dez pessoas nas cidades respiravam acima do nível de
poluição aceitável pela Organização Mundial da Saúde.
Assim, destacamos as seguintes metas propostas pela ONU para o ODS 11 segundo o
IBGE (2018):
11.1 - Até 2030, garantir o acesso de todos à habitação segura, adequada e a preço
acessível, e aos serviços básicos e urbanizar as favelas;
11.2 - Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis,
sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando a segurança rodoviária por meio da
expansão dos transportes públicos, com especial atenção para as necessidades das pessoas em
situação de vulnerabilidade, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos;
11.3 - Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e as capacidades para
o planejamento e gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e sustentáveis,
em todos os países;
11.4 - Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural
do mundo;
11.5 - Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de pessoas
afetadas por catástrofes e substancialmente diminuir asperdas econômicas diretas causadas
por elas em relação ao produto interno bruto global, incluindo os desastres relacionados à
água, com o foco em proteger os pobres e as pessoas em situação de vulnerabilidade;
11.6 - Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive
prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros;
11.7 - Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros,
inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas e
pessoas com deficiência;
11.a - Apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas,
periurbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e regional de desenvolvimento;
11.b - Até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e assentamentos
humanos adotando e implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a eficiência
dos recursos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, a resiliência a desastres; e
desenvolver e implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de
Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de desastres em todos os níveis;
30
11.c - Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de assistência técnica
e financeira, para construções sustentáveis e resilientes, utilizando materiais locais;
Dentro das questões sobre sustentabilidade e dos temas considerados mais críticos
como a demanda de água e do uso de materiais, temos um conjunto de fatores: ambientais,
sociais, culturais e econômicos, onde encontramos uma maior dificuldade de atingir um
equilíbrio em todos estes campos. Assim, foram selecionados oito indicadores, descritos em
ordem crescente de acordo com a data de criação dos mesmos, sendo estes: BREEM - 1990;
GBTool - 1996; LEED - 1999; SPEAR - 2000; HQE - 2002; CASBEE - 2002; Modelo para
avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros (2003) e NABERS - 2004
(VOSGUERITCHIAN, 2006). Tais indicadores são necessários para definir precisamente os
critérios de sustentabilidade e medir o desempenho da indústria da construção e do ambiente
construído, desta maneira, formadores de opinião e responsáveis necessitam de indicadores
para avaliar as estratégias economicamente viáveis e técnicas praticáveis para melhorar a
qualidade de vida, enquanto aprimoram o uso eficiente de recursos (VOSGUERITCHIAN,
2006).
Dessa forma, Vosgueritchian (2006) comenta que a “nova ordem da sustentabilidade”
não é universal, mas sim, modificada por circunstâncias regionais, tendo em vista processo e
pensamento necessariamente ajustados por circunstâncias locais com relevância cultural na
celebração da diferença. Assim, relacionando a “nova” arquitetura em busca de detalhes que
destaquem como as tradições culturais, agendas políticas, habilidades de ofício e tecnologias
locais estão conectadas com a sustentabilidade, dando forma a uma rica e diversa arquitetura
global para o século XXI em diante.
3.2 FIM DO MUNDO
O fim do mundo de acordo com Gleiser (2012), reflete no medo ancestral contido na
memória coletiva de que a natureza é mais poderosa do que o ser humano e possui o poder de
aniquilá-lo a qualquer momento, ressaltando que, enquanto nos séculos passados as pessoas
acreditavam que o fim do mundo seria reflexo da ira divina, atualmente, com os avanços
científicos, muitos defendem que as causas serão fenômenos naturais devastadores. Essa
31
relação estabelecida entre os fenômenos celestes e o fim do mundo, originária do Oriente
Médio, posteriormente influenciou as narrativas apocalípticas judaico-cristãs: Consoante o
autor em pauta, essa relação estabelecida entre os fenômenos celestes e o fim do mundo,
originária do Oriente Médio, posteriormente influenciou as narrativas apocalípticas
judaico-cristãs:
O dilúvio catastrófico dos babilônios, que purificou a humanidade do mal; a terra
paradisíaca dos egípcios, conhecida como “campo encantado”, a morada final
daqueles que levaram uma vida virtuosa; ou, ainda, proveniente do masdeísmo , o4
dia do Juízo Final, que marca a vitória do Bem sobre o Mal, são apenas alguns
exemplos (...) de como essa transição (...) é muitas vezes anunciada por um
cataclismo de proporções horrendas (GLEISER, 2011, p. 25).
Com base no fim do mundo temos a criação do termo apocalipse, onde tem seu
significado descrito como uma série de episódios profetizados que resultarão no fim do
mundo, ou seja, o fim da vida na terra, tem origem do termo grego apokalypsis que significa
“revelação” ou “ação de descobrir”, obtendo em sentido figurado o discurso obscuro ou um
cataclismo. Já na bíblia, a mesma palavra é usada como sinônimo do Armagedom, sendo um
evento bíblico caracterizado pela luta final entre Deus, os pecadores terrestres e o diabo. No
entanto, a interpretação sobre como ocorreriam tais eventos apocalípticos pode variar de
acordo com a doutrina cristã estudada, como por exemplo, se tratando do catolicismo, o fim
dos tempos será marcado pela segunda vinda de Cristo, resultando na ida eterna ao Paraíso.
Assim, torna-se um assunto que causa receio nas pessoas em perderem o controle de suas
próprias vidas e destinos.
Não é segredo que somos uma cultura obcecada pelo apocalipse, e, conforme os
últimos eventos na história do mundo do século XX em diante, como a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o ser humano presenciou um
declínio das utopias sociais, sobrando apenas visualizações futurísticas de um mundo5
5 Utopia é um local ou situação ideal onde tudo é perfeito, harmônico e feliz; refere-se especialmente a um tipo
de sociedade com uma situação econômica e social ideal (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2021)
4 Religião da Pérsia antiga. Foi revelada aproximadamente no séc. VIII a.C., por Ahura-Mazda, deus do Bem, a
Zaratustra, cujos ensinamentos estão contidos no Avesta. É uma religião dualista, que obriga o homem a escolher
entre o Bem e o Mal, atendendo ao Juízo Final, depois do triunfo definitivo do Bem (DICIONÁRIO ONLINE
DE PORTUGUÊS, 2021).
32
distópico e cenários pós-apocalípticos imaginários, acarretando inúmeras obras6
cinematográficas que exibem uma mudança significativa no âmbito da arquitetura e
urbanismo. Diante disso, presenciamos uma busca constante sobre os problemas norteadores
que nos levam a pensar no fim do mundo e em como nos proteger e enfrentar essa distopia
que vem nos assombrando ao longo dos anos.
Existem milhares de cenários com descrições catastróficas para o fim do mundo onde
há milhares de possibilidades como guerras nucleares e o próprio coronavírus que parou o
mundo no ano de 2020 e continua deixando milhares de vítimas todos os dias. O diretor do
Centro Nacional de Preparação para Desastres da Universidade de Columbia, Jeff
Schlegelmilch, explora grandes fenômenos que poderiam levar ao fim do mundo, onde, foi
abordado em seu livro “Rethinking Readiness: a brief guide to twenty-first-century mega
disasters" (Repensando a prontidão: um breve guia para mega desastres do século XXI)
desastres descritos como de dimensões tão massivas que seriam capazes de destruir os
próprios sistemas projetados para a solução desse tipo de problema como: mudança climática,
ameaças cibernéticas, era nuclear, falhas críticas de infraestrutura (como redes elétricas) e
perigos biológicos (inclusive pandemia). Como afirma Schlegelmilch no blog para a
Universidade de Columbia (2020):
Estamos bombeando poluentes para a atmosfera a taxas sem precedentes, levando a
eventos climáticos mais extremos. Outros desastres, como pandemias, têm
componentes em que o desenvolvimento social aumenta a ameaça e a nossa
vulnerabilidade” (...) O uso de armas nucleares pode ser mais provável do que
nunca, mas também é muito mais passível de sobrevivência do que no auge da
Guerra Fria. Em vez dos vastos arsenais globais de superpotências do passado, as
ameaças hoje são mais sutis. Não é uma causa perdidapensar na vida após um
conflito nuclear, com o tipo certo de preparação.
De acordo com o Relógio do Apocalipse, inventado pelo Boletim de Cientistas
Atômicos em 1947, o fim do mundo nunca esteve tão próximo. Esse instrumento foi
desenvolvido para ilustrar o perigo de uma guerra nuclear e segundo o Jornal O Globo (Ed. do
dia 25/01/2018 às 12h18), este relatório cria uma metáfora entre a contagem das horas de um
dia e o fim do mundo: quanto mais os ponteiros se aproximam de meia noite, menos
6 Distopia é um local hipotético onde se vive sob sistemas opressores, autoritários, de privação, perda ou
desespero de uma sociedade futura, definida por circunstâncias de vida intoleráveis, que busca analisar de
maneira crítica as características da sociedade atual, além de ridicularizar utopias, chamando atenção para seus
males, ou seja, antiutopia (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2019).
33
esperança resta para a humanidade. Também conhecido como O Relógio do Juízo Final, é
uma metáfora que ilustra o grau de preocupação que pesquisadores e cientistas têm em
relação a ameaças de destruição em escala global (Imagem 08, pág 33). Assim, o Jornal O
Globo (2020) explica que na década de 40 havia uma enorme preocupação dos cientistas, pois
o relógio marcou 7 min para meia noite no ano de 1947. E mesmo com o fim da Segunda
Guerra Mundial, tanto os Estados Unidos como a União Soviética ainda continuaram
persistindo no desenvolvimento de armas atômicas e nucleares, realizando testes que fizeram
com que o relógio chegasse a 2 min para meia noite. Jornal O Globo (Ed. do dia 25/01/2018
às 12h18):
“Mas o relógio também pode ser reajustado para trás com o relaxamento das
disputas entre os países, o ponteiro retrocedeu em 1963 e também em 1972, mas
ficou mais distante da meia noite só em 1991, após a queda do muro de Berlim e o
fim da União Soviética, marcando 17 min para meia noite. Em 2020, o relógio
atingiu uma pontuação recorde, nunca tão próxima do fim: são 23h58m20s e restam
apenas 100 segundos para os ponteiros se alinharem.”
Imagem 08 - O ex-gov da Califórnia, Jerry Brown (esquerda) e o ex-secretário de Defesa William Perry
exibindo o Relógio do Apocalipse durante conferência de imprensa do Boletim dos Cientistas Atômicos,
em Washington.
Fonte: O Globo, 2020.
De 2019 em diante, o relógio avançou 20s e se posicionou a 1min e 40s da meia noite,
que é o ponto mais próximo do número 12 desde quando foi criado, na alegoria se os
ponteiros se alinharem significaria o fim das esperanças. Em 2020 o relógio avançou pela
quarta vez consecutiva, o que indica que nos últimos anos os líderes mundiais e os costumes
34
de diversos povos não têm contribuído para a manutenção da paz e o equilíbrio da natureza.
(Gráfico 02).
Gráfico 02 - Situação do relógio do apocalipse desde 1947 a 2020.
Fonte: O Globo, 2020.
Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos, o grupo de pesquisadores responsáveis
pela criação do relógio, o Brasil foi fundamental para o avanço dos ponteiros, principalmente
pelas queimadas da Amazônia em 2019, que contribuíram para o atraso na redução das
emissões de gás carbônico. Além do meio ambiente, outros fatores que ajudaram o ponteiro a
avançar são as tensões envolvendo o desenvolvimento de armas nucleares após as recentes
desavenças entre o Irã e os Estados Unidos, a militarização do espaço sideral e o perigo da
guerra de informações digitais, cyber segurança e tecnologias perturbadoras.
Então, há uma arquitetura que poderia sobreviver ao apocalipse do século XXI? De
fato, visto desta forma, a arquitetura apocalíptica é realmente muito diferente de arquitetura
distópica. Enquanto um design residencial extremamente sustentável pode significar o fim,
também é um lembrete do início, em outra perspectiva, como uma realidade em que a
prevalência do design ecológico prova que nós já começamos a experimentar o fim e que este
pode significar a tão sonhada proximidade com a utopia.
35
3.3 ABRIGOS E FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA
De acordo com a publicação feita por Rossini (2020) para o site Super Interessante, o
bunker , que se chama Presidential Emergency Operations Center (PEOC), foi construído7
durante a Segunda Guerra Mundial, para abrigar o então presidente Franklin Roosevelt em
caso de um ataque nazista contra Washington. A maioria dos detalhes é mantida em segredo
pelos EUA: sabe-se, apenas, que ele fica sob a ala leste da Casa Branca, possui proteção
contra ataques nucleares e biológicos - e tem suprimentos para que o presidente e sua equipe
sobrevivam por um longo, e indeterminado período. É um dos bunkers mais seguros que
existem; talvez o mais seguro. Maria Clara (2020) ainda afirma que está longe de ser o único:
estima-se que existam milhares de bunkers particulares espalhados pelo mundo, inclusive no
Brasil - se você mora em São Paulo, e já passou na frente de mansões do Morumbi ou do
Jardins, pode ter passado diante de bunkers, sem suspeitar disso.
Um bunker pode ser um complexo cheio de tecnologias de ponta, preparado para todos
os cenários possíveis; ou um ambiente rudimentar, escasso, típico de campo de guerra. Os
bunkers existem há mais de cem anos, e não são ideias de conspiracionistas que acreditam no
fim do mundo. Eles começaram como fortificações militares até se transformarem em um
mercado milionário Rossini (2020).
Rossini (2020) ainda destaca sobre a Primeira Guerra Mundial, onde foi marcada por
um grande avanço tecnológico: os aviões. Eles permitiam atacar, do alto, qualquer estrutura
em solo, à vista disso, a resposta dos militares foi a mais pragmática possível: descer. A
Alemanha foi o primeiro país a construir fortes debaixo da terra, para se proteger da Força
Aérea inglesa. Logo de cara, os abrigos foram batizados de “bunkers”. A origem do termo é
incerta, mas acredita-se que ele seja derivado do sueco bunke (área protegida de um navio).
Os primeiros bunkers eram apenas parcialmente aterrados, pois uma parte da edificação ficava
para fora da terra. Sua construção consistia basicamente em cavar um buraco no chão e
concretar o espaço. Os bunkers podiam ficar no front guardando mantimentos, comida e
armas; ou mais afastados, abrigando hospitais para cuidar dos feridos. Eram bastante úteis, e
rapidamente foram adotados também pela Inglaterra (Imagens 09 e 10, pág 36).
7 Fortificações. Abrigo subterrâneo fortificado e/ou blindado, construído para dar abrigo em situações de guerra,
protegendo aqueles que se abrigam de projéteis (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2019).
36
Imagem 09 - Modelo de Bunker prático e seguro: 1- Semi-aterrado: Os primeiros bunkers não eram
totalmente enterrados – parte ficava para fora da terra. 2 – Sustentação: Não era preciso muito para a
construção. Bastavam concreto e pilastras para sustentar a estrutura. 3 – Estocagem: Serviam como
depósito de armas, comida e remédios.
Fonte: Design: Juliana Krauss I Ilustração: Felipe Del Rio/Superinteressante, 2020.
Imagem 10 - Segundo modelo de Bunker: 1 – Bateria: As menores têm capacidade para manter o bunker
por pelo menos 72 horas. 2 – Caixa d’água: Pode-se guardar de 1 mil a 100 mil litros de água. 3- Respiro:
Os filtros de ar, necessários em qualquer bunker, repelem a poluição. Os mais sofisticados filtram até a
radiação de bombas nucleares.
Fonte: Design: Juliana Krauss I Ilustração: Felipe Del Rio/Superinteressante, 2020.
Em uma reportagem da Record TV do dia 27 de dezembro de 2020, fala sobre a
crescente procura por bunkers no lugar de casas, onde, após a pandemia da covid-19 houve
uma explosão de pessoas interessadas nesse estilo de moradia. Nela mostra uma das maiores
37
comunidades de bunkers do planeta, localizada em Dakota do Sul, EUA, onde há uma cidade
inteira subterrânea que possui casas completas, podendo abrigar até 24 pessoas no maior
conforto. São 575 unidades de bunkers espalhadas por uma área de 59km², o equivalente à
ilha de Manhattan, NY (Imagem 11).
Imagem 11: Comunidade de Bunkers subterrâneos em Dakota do Sul,EUA.
Fonte: Record TV, 2020.
São construções idênticas e originais feitas por engenheiros militares durante a
Segunda Guerra, se encontram a 2,5m de profundidade e tem 205m² de área útil. Em relação a
sua tipologia, é oferecido pela empresa três plantas básicas com direito a instalações elétricas
completas, paredes e mobiliários, sendo a versão mais simples com dois quartos de casal e um
terceiro com beliches que abrigam até 4 pessoas (Imagens 12 e imagem 13, pág 38).
Imagem 12 - Parte interna do Bunker sem layout.
Fonte: Record TV, 2020.
38
Imagem 13 - Parte interna do Bunker com montagem de layout.
Fonte: Record TV, 2020.
Partindo da ideia de anti apocalíptica temos uma visão pessimista do futuro e a
necessidade de construir locais habitáveis para a sociedade, sendo uma moradia ou até uma
vila autossuficiente. Destacando a grande importância que esse tipo de edificação está
tomando na vida das pessoas, vemos cada dia mais a preocupação com um futuro distópico
cada vez mais real em nossas vidas, possuindo objetivos claros de distanciamento dos grandes
centros, segurança e a construção de projetos personalizados que se adaptem a estilos variados
de famílias.
Assim, o processo de transformação dos novos lares está sendo mais cogitado e
adaptado a diferentes regiões do mundo como uma forma preventiva a catástrofes naturais,
somando a isso sistemas bases e mecanismos de sustentabilidade e sobrevivência inseridos no
processo construtivo.
Diante de tudo isso, alguns arquitetos e urbanistas já começaram a projetar inúmeros
abrigos diferentes com o conceito sobrevivencialista, onde possui funções auto sustentáveis e
dignas de cenários de filmes, como por exemplo essa CyberHouse projetada pelo arquiteto
Alex Wizhevsky, onde se inspirou no design de tesla e nos submarinos, com sua proposta
centrada em um núcleo de concreto armado como mostrada na imagem 14 (pág 39).
39
Imagem 14 - Modelo de CyberHouse.
Fonte: Desejo Luxo, 2020.
Outro exemplo digno de destaque seria um refúgio pós-apocalipse com piscina,
cinema e até cirurgia. Batizado de 'Condomínios de Sobrevivência', o projeto é um complexo
de luxo 15 andares abaixo do solo em um antigo silo de mísseis perto de Concórdia, em
Kansas, construído para proteger a elite mundial de desastres naturais, nucleares, ataques
terroristas, asteróides ou uma pandemia global, oferecendo ao mesmo tempo comodidades
luxuosas. Silos de mísseis originalmente construídos pelo Corpo de Engenheiros do Exército
dos EUA na década de 1960, durante a Guerra Fria, foram aproveitados. Segundo o "Daily
Mail", todos os apartamentos do primeiro complexo esgotaram, mas as pessoas têm a opção
de comprar uma unidade de cobertura completa, de meio andar ou cobertura em um segundo
condomínio atualmente em construção (Imagens 15 e 16).
Imagem 15 - Entrada do condomínio. Imagem 16 - Estrutura em construção.
Fonte: Casa Vogue, 2020.
40
"Eles se preocupam com eventos que variam de erupções solares, colapso econômico,
pandemias, terrorismo e escassez de alimentos. Não são estereotipados 'malucos de
sobrevivência', como retratados em filmes, mas indivíduos com o desejo de fornecer cuidados
e proteção para sua família", explica Larry Hall, que está por trás do empreendimento. As
paredes do silo são feitas de concreto endurecido com epóxi, têm quase 3 metros de espessura
e foram projetadas para sobreviver a um ataque nuclear direto. A estrutura da cúpula que
cobre a tampa do silo pode suportar ventos superiores a 500 km/h. Até 70 pessoas podem
viver com recursos suficientes por lá durante anos. Há sistemas de filtragem de ar e água, uma
variedade de fontes de energia (incluindo energia eólica) e a capacidade de cultivar plantas e
criar peixes para suprimento de alimentos.
Tendo em vista os milhares de projetos sobrevivencialistas projetados para o fim do
mundo como uma forma segura de conseguir sair vivo de um possível apocalipse, se
mantendo vivo por mais tempo, observamos uma grande diferença de pontos de vista. De um
lado temos alguns arquitetos que buscam uma solução investindo em abrigos auto
sustentáveis possuindo uma excelente estrutura por meio da utilização de materiais caros e
mais elitizados para aguentar os diversos desastres que podem vir a acontecer no mundo,
tornando esse processo inacessível para a maioria da população do mundo.
Já por outro lado, temos as Naves Terrestres com uma visão mais real e ampla de
tentar amenizar os riscos de possíveis eventos catastróficos, buscando mudar nossa forma de
construção adotando métodos diferenciados para uma habitação autônoma, onde design e
função convergem em harmonia ecológica, e, o mais importante, acessível para todas as
classes. Assim, como consequência, aos poucos pode-se inverter o quadro distópico de
apocalipse imaginado, caminhando em direção a tão sonhada utopia.
3.4 NAVES TERRESTRES DA BIOARQUITETURA
Um mundo utópico de vida sustentável requer o crescimento na construção e
utilização de habitações autónomas operando de forma autossuficiente, fornecendo aos
ocupantes seus próprios sistemas e serviços independentes (aquecimento, resfriamento,
energia, água e tratamento de águas residuais) derivados exclusivamente de recursos naturais
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(sol, vento e chuva), eliminando assim a dependência das famílias na rede de infraestrutura
tradicional (COLIN et al. 2021).
As edificações de Naves Terrestres da bioarquitetura são comercializados como sendo8
o exemplo de sustentabilidade da habitação, construídas por meio da reutilização ou
reaproveitamento de produtos de resíduos urbanos principalmente recuperados (como como
pneus de veículos e garrafas / latas de bebidas), seu design inclui a utilização de materiais de
energia incorporados, aquecimento e resfriamento solar passivo, sistemas de energia
fotovoltaica, captação de água da chuva, aquecimento solar de água quente, juntamente com
tratamento de água preta e cinza, possuindo sistemas que se adaptam às mudanças climáticas
de cada região. Além disso, atende às necessidades humanas elementares, os habitantes
podem desfrutar de estilos de vida mais simples, pois podem dispensar contas de serviços
públicos, hipotecas, proprietário taxas e podem alegar ser independentes de alimentos,
materiais e sistemas monetários, fornecendo um novo habitat para uma excelente qualidade de
vida (COLIN et al. 2021).
As Naves incorporam muitos materiais naturais e recuperados em sua construção. Os
pneus são a forma perfeita para um tijolo de taipa. Não há falta de pneus usados -
pelo menos 2,5 bilhões estão atualmente em estoque nos Estados Unidos, com mais
2,5 milhões descartados a cada ano. Os pneus podem ser vistos como um "recurso
natural" disponível globalmente. Outros materiais, como latas e garrafas, são
opcionais, embora as paredes de tijolos das garrafas sejam uma característica
marcante de muitas Naves Terrestres. Todas as paredes internas são compactadas
entre os pneus e rebocadas com lama de adobe. A lama também pode ser usada para
pisos, e madeira recuperada e metal são frequentemente usados (EARTHSHIP
GLOBAL, 2021).
Pensando no conceito sobrevivencialista, os modelos de construções residenciais das
Naves Terrestres ganharam vida devido ao arquiteto Michael Reynolds, nascido em 1945,
onde atualmente mora no Novo México, Estados Unidos. Reynolds já possui diversos projetos
de Naves Terrestres em vários países e é um grande defensor de uma vida radicalmente
sustentável (Imagens 17 e 18, pág 42).
8 Realizada na Europa pelo menos desde os anos 1970, a bioarquitetura nada mais é do que aplicar um conceito
bem elementar na concepção e na construção de edificações. Ou seja, a preservação ambiental e da vida no
planeta em seus diversos ecossistemas. Com relação ao design, de modo geral, a bioarquitetura privilegia o uso
de formas orgânicas e naturais. São construções que se assemelham e, em muitos casos, se misturam aos
ambientes naturais onde estão inseridas (BIOARQUITETURA, 2021).42
Imagens 17 e 18 - Michael Reynolds no processo de construção da Nave Terrestre.
Fonte: Ecoeficientes - Escritório de arquitetura especializado em Sustentabilidade, 2013.
Mike desenvolveu um conceito de seis características que servem de pilares para esse
tipo de edificação, são elas: Arrefecimento e aquecimento térmico solar, energias renováveis
como a solar e a eólica, aproveitamento de água ou da neve, tratamento de esgoto, produção
própria de alimentos, utilização de materiais reciclados (Imagem 19).
Imagem 19 - Pilares que caracterizam as Naves Terrestres.
Fonte: RS Design, 2021.
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Em 1990 essas técnicas inovadoras foram consideradas arriscadas e viraram alvo de
processos do governo americano, o que tirou, temporariamente, o direito de assinar projetos
do arquiteto. Sem poder trabalhar, Reynolds se dedicou a elaborar um projeto de lei para criar
uma área de experimentos em bioconstrução (ECOEFICIENTES, 2013).
Trinta por cento de toda a energia produzida no mundo é usada para aquecimento e
resfriamento de edifícios, diante disso, essas Naves são capazes de manter uma temperatura
confortável sem combustíveis adicionais em qualquer clima do mundo por meio da massa
térmica e ganho solar. Um dos materiais mais usados na estrutura das Naves são os pneus, que
estão entre as mais problemáticas fontes de resíduos hoje, com um número gritante de mais de
1 bilhão produzidos anualmente, gerando um grande risco para a saúde e segurança das
pessoas. O incêndio de pneus ocorre facilmente podendo queimar por meses e
consequentemente gerando uma enorme poluição no ar e no solo, principalmente, devido ao
mau reaproveitamento do mesmo. Diante disso, se tornou um recurso muito importante na
construção dessas edificações (EARTHSHIP GLOBAL, 2021).
Reynolds (2017) destrincha tudo sobre as Naves Terrestres com base em três perguntas
destacando o conceito, os materiais e a importância desse tipo de construção. No que diz
respeito ao conceito, ele descreve as residências como “cápsulas” que providenciará
sustentabilidade para as pessoas. Toda cápsula precisa atender a seis pontos sustentáveis que
são: água, abrigo confortável sem combustível, uso de energias renováveis, alimentação,
tratamento de esgoto e o que fazer com o lixo. Além disso, Reynolds acrescenta que não só
trabalha com materiais utilizados em construções comuns, mas também com materiais
reciclados e que considera elementos chamados de “lixo” como recursos naturais para o
planeta, dentre esses recursos tem-se: pneus de carros, latas, garrafas de plástico e vidro são,
na verdade, nocivos para o planeta e são utilizados assim como cimento, madeira e pedra. pois
por mais que para o resto das pessoas seja denominado de “lixo” para ele são naturais
nascidos aqui como qualquer outro material. Reynolds (2017) acrescenta:
Acredito que os arquitetos precisam se afastar um pouco da definição clássica de
arquitetura porque estamos em uma era em que as construções precisam cuidar das
pessoas e esse tipo de construção sem infraestrutura, porque ela está destruindo o
problema. Gostaríamos que toda construção fosse sustentável, a ponto de,
totalmente, prover para seus habitantes tudo o que precisam. É isso que torna as
nossas construções uma espécie de “cápsula” – do que uma construção no sentido
literal. Uma cápsula que vai para o espaço precisa prover tudo o que as pessoas que
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estão dentro dela necessitam. Uma cápsula vai para o mar também. Estamos olhando
para a moradia agora como uma cápsula independente que mostra as necessidades
das pessoas. Queremos que a arquitetura tradicional também passe a enxergar dessa
forma.
Morin (2013) diz que esses novos métodos de construção levaram Reynolds a
“abandonar” as formas tradicionais de arquitetura, implementando algo singular, orgânico e
muito mais semelhante às formas que são encontradas na natureza. Furuto (2011), escreve que
Matt Jordan, arquiteto responsável pelo projeto intitulado “Look Out House”, vencedor da
competição “Architects Southwest Zombie Safe House” (projeto de casas para o apocalipse
zumbi). Brussels (2012), afirmou ao The Economist que a construção do tipo apocalíptica
“precisa ser simples e sustentável, capaz de gerar sua própria energia, alimentos e água, e de
gerenciar seus resíduos [...] isso amplia as ideias de fora do sistema e da sustentabilidade,
ajudando a tensionar os limites e imaginar como poderíamos viver se nossas conveniências
modernas fossem retiradas de nós”. Miro (2013) reforça, que a maior mudança que pode
acontecer é tornar seus ocupantes menos dependentes dos poderes e mais “seguros” no seu
habitar.
Aqui temos 10 razões para viver “fora da rede”, ou seja, do esquema de construção
convencional de acordo com a empresa Earthship Biotecture do Michael Reynolds (2020).
1. Livre de contas de serviços públicos; 2. Bons administradores dos recursos da
Terra; 3. Segurança; 4. Liberdade para escolher seu estilo de vida; 5. Localização; 6.
Vivendo como produtores em vez de consumidores; 7. Ambientalmente responsável;
8. Aprenda novas habilidades; 9. O sentimento de realização; 10. Incentiva uma vida
desconectada (REYNOLDS, 2020).
Reynolds (2018) também comenta em uma entrevista para a Quality Unearthed em 19
de novembro de 2018, que as Naves estão evoluindo por meio dos 6 pontos fundamentais
tratados no conceito e construção das mesmas e que há uma necessidade deles no planeta
Terra como contraponto a outros tipos de construções que estão arruinando a capacidade do
planeta em se renovar. “Nós usamos, reutilizamos. Então é assim que uma Nave Terrestre faz.
Se uma pessoa está apenas abordando esses problemas em sua vida e em seu prédio, não nos
importamos como eles fazem isso. Achamos que é mais importante que eles abordem essas
questões. Porque com tantas pessoas inteligentes, que são muito mais inteligentes do que eu
neste planeta, acho que essas questões poderiam ser tratadas muito melhor do que nós. Mas
45
estamos apenas tentando fazer com que as pessoas lidem com isso.”, descreve Mike. Assim,
Reynolds indica para aqueles que pensam em desenvolver casas autossustentáveis que se
atentem e abordam os 6 pontos da maneira que puder, imaginando camadas que se interligam
e se completam, pois não há como construir uma edificação deixando alguma dessas
características de lado (Imagem 20).
Imagem 20 - Vista aérea de modelos de Naves Terrestres.
Fonte: Earthship Biotecture, 2020.
Visto desta forma, as Naves Terrestres da bioarquitetura nos leva a um cenário
apocalíptico que tende a ser caracterizado por uma arquitetura utópica futurista, mostrando
um fim que também acarreta em um começo como uma nova chance de recomeçar e repensar
um estilo de vida com menos impactos ao planeta terra.
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4 ESTUDOS DE CASO
As Naves Terrestres fazem tudo por si próprias e a maneira como fazem tudo com
sistemas centralizados é uma abordagem descentralizada, cada edifício é uma célula viva que
respira e está obtendo tudo que seus habitantes precisam de um encontro com os fenômenos
naturais do planeta como o sol, a chuva, o vento e a gravidade. A partir do aproveitamento
desses fenômenos, produzem bens naturais e usam tecnologia, criando contribuições
benéficas para as questões ambientais.
Veremos neste capítulo um estudo de caso que caracteriza detalhadamente alguns dos
modelos dessas residências e a forma construtiva projetadas e desenvolvidas pelo arquiteto
Michael Reynolds. O mesmo comenta que a popularização dessas residências está cada vez
maior, assim, a fim de conseguirem se pagar, as Naves Terrestres passaram a ser disponíveis
para alugar e comprar, também funcionando como Airbnb . Dessa forma, mesmo com a9
maioria das pessoas no planeta não fazendo ideia do estudo sobre essas edificações, quando
alugam, possuem acesso a eletricidade, internet de alta velocidade, água quente, seu próprio
esgoto e alimentos crescendo da estufa, isso causa uma grande admiração em suas mentes.
Esses edifícios são uma demonstração

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