Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Extinção da punibilidade Prof. Rodrigo Amaral false Descrição Fundamentos, conceitos e teorias acerca da das causas de extinção da punibilidade no direito penal. Propósito Após constatado um fato punível, é possível que este, que, inicialmente era passível de pena, possa não mais sê-lo. Isso ocorre no ordenamento jurídico brasileiro por meio das causas de extinção da punibilidade. Trata-se de tópico com consequências práticas tais que o torna indispensável ao estudante. Preparação Antes de iniciar este conteúdo, para melhor compreensão dos tópicos, tenha em mãos o Código Penal e a Constituição Federal. Objetivos Módulo 1 Causas de extinção da punibilidade Listar os objetos e as concepções gerais e específicas das causas de extinção da punibilidade. Módulo 2 Imunidades absolutas e relativas Categorizar as imunidades penais. Módulo 3 Prescrição penal Distinguir os detalhes em relação ao instituto da prescrição. O Direito Penal é o ramo do Direito público que tem como atribuição principal proteger os bens jurídicos relevantes à sociedade. Além disso, possui um caráter punitivo para aqueles que violarem a norma penal, ligada ao cometimento de alguma infração penal. Na hipótese das causas extintivas de punibilidade, conforme o nome indica, ocorre o fenômeno da perda do direito (ou poder) de punir. Os seus pormenores serão expostos a seguir. Introdução 1 - Causas de extinção da punibilidade Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de listar os objetos e as concepções gerais e especí�cas das causas de extinção da punibilidade. O que são as causas de extinção de punibilidade? Neste vídeo, a professora Luciana Fernandes traz um panorama sobre o conceito das causas de extinção de punibilidade. Vamos assistir! Conceito Antes de adentrarmos no conceito de extinção da punibilidade do agente, é importante trazermos a definição da própria punibilidade e qual o papel dela na persecução penal. Como o próprio nome induz, punibilidade é o direito que o Estado tem de punir aquele que praticou uma conduta lesiva ao bem jurídico protegido. Nessa perspectiva, a punibilidade não é elemento constitutivo do crime, mas consequência deste, dado que a punição seria o resultado natural para aquele que pratica uma ação típica, ilícita e culpável (BITENCOURT, 2017, p. 915). Todavia, podem existir causas que limitam o Estado de exercer o jus puniendi, mas que não extinguem a ação delitiva, visto que ela, de fato, lesionou bem jurídico relevante. Assim sendo, estamos diante das causas extintivas de punibilidade elencadas no art. 107 do Código Penal. Veja-se: Extingue-se a punibilidade: I. pela morte do agente; II. pela anistia, graça ou indulto; III. pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV. pela prescrição, decadência ou perempção; V. pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI. pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII. pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. (ART. 107 DO CP) Partindo disso, passa-se para uma análise específica das causas legais que resultam em extinção da punibilidade do agente. Destaca-se que, segundo a doutrina, o rol elencado no art. 107 do CP não é exaustivo, dado que existem outras causas presentes em outros dispositivos legais (2017, p. 915), como: 1. o perdão judicial (arts. 121 § 5º; 129 § 8º, 180 § 3º; 181; e 348 § 2º do Código Penal); 2. restitutio in integrum (art. 249 § 2º); 3. os casos do art. 7º, § 2º, “b” e “e” do CP. Restitutio in integrum Restaurar à condição original. Contudo, o rol presente no art. 107 do CP consta as principais causas que excluem a punibilidade, demonstrando a importância de analisarmos caso a caso, conforme se observa a seguir. Análise de causas extintivas da punibilidade A partir deste item, analisaremos os incisos do art. 107 do Código Penal, a fim de que possamos compreender as principais hipóteses que extinguem a punibilidade do agente. Extinção da punibilidade pela morte do agente O art. 107, I do CP prevê: “Extingue-se a punibilidade: I. pela morte do agente”. Nesse sentido, considera-se agente aquele que executou a conduta típica reprovada pela norma penal incriminadora. Extingue-se a punibilidade, a qualquer tempo, quando este agente vier a óbito. Dessa forma, não importa em qual fase processual ou pré-processual em que o agente tiver falecido, pois a causa de extinção de punibilidade impede o prosseguimento da ação. O critério legal utilizado para aplicação dessa causa extintiva é a morte cerebral nos termos da Lei nº 9.434/97, que dispõe sobre os transplantes de órgãos (CAPEZ, 2012, p. 570). A partir desse momento, deve- se buscar a certidão de óbito emitida pelo Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, uma vez que apenas com a certidão em mãos estará comprovada a morte do agente, para, então, apresentar prova perante o juízo, para a apreciação do magistrado, após ouvido o Ministério Público, nos termos do art. 62 do CPP (2012, p. 570). No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade. (ART. 62 DO CPP) Ademais, ressalta-se que a presente causa extintiva é de natureza personalíssima, isto é, a causa não comunicará os demais coautores ou partícipes da empreitada criminosa, ficando restrita apenas à figura do acusado que veio a óbito (CAPEZ, 2012, p. 571). Assim sendo, serão extintos todos os efeitos penais da sentença condenatória aplicados ao falecido. Atenção Quando a causa extintiva ocorrer após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, apenas os efeitos penais se extinguirão, não afetando, portanto, os de caráter extrapenal. Desse modo, nada impede que possa ser executada a sentença penal condenatória, quanto à indenização, na esfera cível. Além disso, vale adentrarmos no motivo pelo qual o legislador fundamentou a referida previsão normativa: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ... XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. Nesses termos, a Constituição Federal trouxe a previsão do Princípio da Personalidade ou Individualização da Pena, segundo o qual a pena não deverá passar da pessoa do réu, incluindo também, neste caso, a hipótese da pena de multa (BITENCOURT, 2017, p. 916). Dessa forma, não podem os herdeiros do falecido responderem pelo crime cometido por este, inclusive se a pena for de multa. Art. 5º, XLV da Constituição Federal de 1988 Contudo, ressalta-se que este princípio tem sua aplicabilidade restrita à esfera penal, pois o espólio do condenado poderá ser objeto de ação civil para reparação de danos causados pelo delito executado pelo falecido, isto é, a obrigação de indenizar ser transmitida aos herdeiros, até os limites da herança. Anistia, graça e indulto A causa excludente de punibilidade dos casos de anistia, graça e indulto estão previstas no inciso II do art. 107 do CP: “Extingue-se a punibilidade: II. pela anistia, graça ou indulto”. Diante disso, é imprescindível diferenciarmos tais espécies de causas de exclusão da punibilidade. Anistia A primeira delas é a anistia, um ato legislativo de competência exclusiva da União (art. 21, XVII, da CF), emitido pelo Congresso Nacional (art. 48, VIII, da CF) e sancionado pelo chefe do Poder Executivo, que faz com que o Estado esqueça juridicamente um ilícito penal, tendo por objeto o fato criminoso imputado, em regra, e cunho político, militar ou eleitoral (BITENCOURT, 2017, p. 916). Além disso, a anistia poderá serconcedida em momento anterior ou posterior à condenação penal, podendo ser total ou parcial. Destarte, esta causa extintiva extinguirá todos os efeitos penais da conduta tida como crim inosa, inclusive se houver reincidência, permanecendo os efeitos extrapenais, quais sejam, a obrigação de indenizar que poderá ser perseguida na esfera cível. A doutrina penal classifica a anistia em 8 espécies (CAPEZ, 2012, p. 572-573), quais sejam: Especial É concedida para crimes políticos. Comum É concedida para crimes não políticos. Própria É concedida antes do trânsito em julgado. Imprópria É concedida após o trânsito em julgado. Geral/Plena Refere-se apenas aos fatos, atingindo a todos os agentes (que cometeram o ilícito). Parcial/Restrita Refere-se aos fatos, contudo, exige o preenchimento de algum requisito específico. Exemplo: anistia aplicável apenas aos réus primários. Uma vez concedida a anistia, não poderá ser revogada, dado que a lei posterior revogadora prejudicaria àqueles anistiados, violando, portando, o Princípio da Retroatividade (a contrario sensu) da lei penal mais benéfica, nos termos do art. 5º, XL da CF. Por fim, a Lei nº 8.072/90, à luz do disposto no art. 5º, XLIII da Constituição Federal, traz um rol taxativo dos crimes que não poderão ser objeto de anistia, por eles respondendo seus mandantes, executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. São eles: Crimes hediondos Tortura Tráfico de drogas e afins Incondicionada Não se exige a prática de nenhum ato específico como condição de sua aplicabilidade. Condicionada Exige-se a prática de ato específico como condição de aplicabilidade. Exemplo: deposição de armas. Terrorismo Graça A graça, segundo a doutrina, tem por objeto os delitos comuns, dirigindo, de forma específica, um indivíduo determinado, condenado por sentença penal já transitada em julgado (BITENCOURT, 2017, p. 917). Atenção A Constituição Federal de 1988 não mais a tem visto como um instituto autônomo, como a anistia, mesmo ainda estando prevista no atual Código Penal. Nesse sentido, na prática, ela tem sido utilizada como uma espécie de indulto individual, que será mais bem abordado à frente. Ademais, conforme o art. 188 da Lei de Execuções Penais, poderá o condenado, o Ministério Público, o Conselho Penitenciário e a autoridade administrativa requererem a graça. Indulto Na linha do disposto no item anterior, o indulto, também chamado de “comutação da pena”, é uma causa que incide a um grupo/coletividade determinada de condenado, sendo delimitado, em regra, pela espécie de crime e quantidade de pena imposta, podendo variar conforme disposição legal. Nessa perspectiva: Graça Na prática, é tida como uma espécie de indulto individual. Indulto Propriamente dito, é tido como indulto coletivo. Como ambas as causas possuem as mesmas peculiaridades, elas se diferenciam apenas pelo número de beneficiados. A competência para concessão de ambas as causas de extinção da punibilidade é privativa do chefe do Poder Executivo, conforme o art. 84, XII da CF, podendo ser delegada à atribuição aos Ministros de Estado, ao procurador-geral da República ou ao advogado-geral da União. Quanto aos efeitos, são atingidos desde que sejam os principais advindos da condenação, não recaindo sobre os efeitos secundários penais e extrapenais (CAPEZ, 2012, p. 574). Desse modo, o condenado que receber o indulto, caso cometa novo ilícito penal, será considerado reincidente, uma vez que a causa extintiva não devolve a condição inicial de primariedade, podendo, inclusive, a sentença condenatória ser executada na esfera cível. Na mesma linha da anistia, a graça e o indulto também não poderão incidir ao condenado por crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas e afins, e terrorismo, por eles respondendo seus mandantes, executores e os que podendo evitá-los, se omitirem, conforme o art. 5º, XLIII da CF e o art. 2º da Lei nº 8.072/90. Veja-se: A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Art. 5º, XLIII da CF Art. 2º da Lei nº 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos) Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso (abolitio criminis) Segundo o disposto no inciso III, do art. 107 do CP, extingue-se a punibilidade pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso. Toda lei nova que descriminalize o fato praticado extingue o próprio crime. Assim, caso haja ação penal em curso, esta não subsistirá; se condenado for o agente, a sentença condenatória será reincidida, não restando efeito penal, inclusive a reincidência. Dessa forma, com a abolitio criminis, o fato é tido como se não fosse crime, excluindo-se todos os seus efeitos. Não se pode deixar de salientar que a anistia em momento algum se assemelha com o instituto do abolitio criminis. Vejamos: Anistia Recai sobre o fato criminoso, esquecendo-o no mundo jurídico, contudo, conservando-se a norma penal incriminadora. Podemos dar como exemplo a tortura utilizada durante a ditadura militar, que ainda é considerada criminosa, contudo, foi anistiada pelo Estado, impedindo este de punir os responsáveis pelos ilícitos penais. Abolitio criminis É o caso em que a figura criminosa é suprida pela própria lei, também extinguindo-se todos os seus efeitos penais. Podemos dar como exemplo o delito de sedução de mulher virgem (art. 217 CP) que foi revogado pela Lei nº 12.015/09, o que impossibilitou a punição posterior e anterior da lei (considerando a retroatividade da lei penal mais benéfica). Prescrição, decadência ou perempção O art. 107, IV do CP dispõe: “Extingue-se a punibilidade pela prescrição, decadência ou perempção”. Nesse sentido, compete a este item, em linhas gerais, trazer os respectivos conceitos dessas três figuras. Decadência A causa extintiva da decadência está prevista no art. 103 do CP e art. 38 do CPP, que dispõem: Art. 103 do CP Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 06 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código (ação penal privada subsidiária da pública), do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. Art. 38 do CPP Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29 (ação penal privada subsidiária da pública), do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. Nesse sentido, a decadência é a perda do direito de promover a ação penal exclusivamente privada ou ação penal privada subsidiária da pública, ou, ainda, ação penal pública condicionada à representação (quando o ofendido deverá manifestar sua vontade), uma vez que o ofendido, ou seu representante legal, manteve-se inerte, excedendo o prazo legal para manifestação do interesse em processar o ofensor. Atenção Mesmo a decadência estando elencada no rol das causas extintivas da punibilidade, ela, na prática, extingue o direito de promover a ação penal ou de oferecer representação, restando, como efeitos jurídicos, a impossibilidade de o Estado satisfazer o desejo de punir do ofendido. Conforme a disposição legal, o ofendido tem o prazo de 6 meses, a contar do dia em que o ofendido vier a saber o autor do ilícito penal, para exercer o seu direito de queixa ou representação. No caso da ação penal privada subsidiária da pública,o prazo começa a contar quando o Ministério Público deixa de oferecer a inicial acusatória no prazo legal, nos termos do art. 5º, LIX da CF, do art. 100, § 3 º do CP, e do art. 29 do CPP. Além disso, destaca-se que a contagem de prazo é feita com base no art. 10 do CP, portanto, prazo de direito material, incluindo o dia inicial e excluindo o dia final, não se prorrogando em finais de semanas ou feriados. Perempção A causa extintiva da perempção tem previsão normativa no art. 60 do CPP, que diz: A perempção é a perda do direito de prosseguir com a ação penal privada. É considerada uma sanção jurídica imposta ao querelante, uma vez que este se manteve inerte diante de atos necessários ou exerceu erroneamente o seu direito de ação, levando à presunção de desistência da Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. ação. Nesse sentido, enquanto, na decadência, o direito de promover a ação é atingido, aqui, na perempção, é o direito de prosseguir com ela que é afetado. Prescrição A causa extintiva de punibilidade de prescrição é uma das mais importantes do rol do art. 107. O seu conceito diz que ela consiste na perda do direito de “poder-dever” que o Estado possui, diante do não exercício da pretensão punitiva (aplicação da pena), ou da pretensão executória (execução da pena) (CAPEZ, 2012, p. 592). Vejamos: Pretensão punitiva Ocorre antes que a sentença condenatória transite em julgado. Pretensão executória Está ligada à extinção do direito de executar a pena imposta. Em síntese, as três causas extintivas da punibilidade do art. 107, IV do CP são: Renúncia ao direito de queixa e perdão aceito nos crimes de ação penal privada O art. 107, V do CP dispõe: “Extingue-se a punibilidade pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada”. Decadência Atinge o direito de promover a ação; Ocorre nos delitos de ação penal privada ou condicionada a representação; Ocorre antes de iniciar a ação penal. Perempção Atinge o direito de prosseguir com a ação; Ocorre nos delitos de ação penal privada; Ocorre após o início da ação penal. Prescrição Atinge o direito de punir ou executar a sanção imposta Ocorre em todos os tipos de ações; Ocorre a qualquer momento. A renúncia é o ato unilateral do ofendido (ou seu representante legal) de desistir do seu direito de iniciar a ação penal exclusivamente privada, que só poderá ocorrer antes do início da ação. Segundo a doutrina, existem duas formas de renúncia (CAPEZ, 2012, p. 572): Expressa Diz respeito à declaração expressa de forma escrita pelo ofendido ou seu representante legal, ou ao defensor que, por meio de instrumento de mandato, possuir poderes especiais (art. 50 do CPP). Tácita O ofendido pratica algum ato incompatível com a vontade de promover a ação penal privada. Por exemplo, quando o ofendido é padrinho de casamento do ofensor. O inciso IV também nos traz a figura do perdão do ofendido que, ao contrário da renúncia, é um ato unilateral do ofendido. O perdão ocorre por meio da manifestação de vontade (tácita ou expressa) do ofendido em desistir com a ação penal privada após seu início, com a consequente aceitação do querelado (suposto ofensor). Enquanto a renúncia ocorre antes do início da ação penal exclusivamente privada, o perdão do ofendido se dá após de iniciada a ação (após o oferecimento da queixa). Além disso, o perdão poderá ser realizado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, nos termos do art. 106, §2º do CP. Destarte, o perdão do ofendido, segundo a doutrina, pode-se dar e ser aceito de diversas formas, conforme veremos a seguir: FORMAS DE CONCESSÃO DO PERDÃO FORMAS DE ACEITAÇÃO DO PERDÃO Processual Nos autos da ação penal (sempre expresso); Nos autos da ação penal; Extraprocessual Fora dos autos da ação penal (pode ser expresso ou tácito); Fora dos autos da ação penal; Expresso Declaração escrita assinada pelo ofendido (ou representante legal ou procurador com poderes especiais); Declaração escrita assinada pelo querelado, constando o aceite do perdão (pode ser processual ou extraprocessual); Tácito Prática de ato incompatível com a vontade de promover a ação penal contra o suposto ofensor. Prática de ato incompatível com a vontade de recusar o perdão (pode ser processual ou extraprocessual). Fonte: Rodrigo Amaral. Por fim, veja-se que o direito de queixa é indivisível (art. 48, CPP), devendo ser exercido contra todos os autores do crime. Ademais, o artigo 49, CPP determina que a renúncia ao direito de queixa contra um dos autores se estenderá a todos. Disso decorre que o oferecimento de queixa-crime somente contra alguns autores do crime acarreta a renúncia ao direito de queixa em face de todos (confira o RHC 55142, julgado pelo STJ). Retratação do agente O inciso VI do art. 107 do CP prevê a extinção da punibilidade por intermédio da retratação do agente, nos casos em que a lei a admite. Nesse sentido, a legislação penal dispõe de algumas hipóteses, cuja retratação do autor do delito o exime de cumprir pena. Segundo a doutrina, os casos elencados são os dos crimes de: Calúnia Difamação Falso testemunho Falsa perícia Assim, quando o réu se retrata, isto é, reconsidera a afirmação anterior que gerou um ilícito penal e, posteriormente, procura impedir que sua ação lesione bem jurídico tutelado, poderá ser imputado a este a causa de exclusão da retração do agente. Atenção Não caberá retratação nos casos de injúria, uma vez que a ofensa, neste caso, fica inviabilizada de ser retirada. Perdão judicial Por fim, o último inciso do rol do art. 107 do CP é o perdão judicial, que também ocorre nos casos em que a legislação permite. Seu conceito se dá pela faculdade do magistrado de, nos casos previstos em lei, deixar de aplicar a sanção penal, em razão de circunstâncias excepcionais. Atenção Não se pode confundir com o perdão do ofendido, pois, quanto a este, o ofendido que perdoa o suposto ofensor, ocorrendo apenas em ações penais exclusivamente privadas. Já no caso do perdão judicial, é o juiz que concede o perdão, deixando de aplicar a pena, sendo irrelevante a natureza da ação, contudo, limitada aos casos previstos em lei. Há possibilidade de extensão do perdão, quando o crime que ensejou a causa extintiva estiver conexo com outro, como o caso em que o pai, por descuido, atropela seu filho pequeno e seu amigo de escola. Com efeito, há hipóteses em que a legislação penal permite a incidência do perdão judicial. Desse modo, “hipóteses legais: o juiz só pode deixar de aplicar a pena nos casos expressamente previstos em lei, quais sejam”: Art. 121, § 5º, do CP Homicídio culposo em que as consequências da infração atinjam o agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Art. 129, § 8º, do CP Lesão corporal culposa com as consequências mencionadas no art. 121, § 5º. Art. 140, § 1º, I e II, do CP Injúria, em que o ofendido de forma reprovável provocou diretamente a ofensa, ou no caso de retorsão imediata consistente em outra injúria. Além disso, Lei das Contravenções Penais, existem dois casos: Art. 8º Erro de direito. Art. 176, parágrafo único, do CP De acordo com as circunstâncias o juiz pode deixar de aplicar a pena a quem toma refeições ouse hospeda sem dispor de recursos para o pagamento. Art. 180, § 5º, do CP Na receptação culposa, se o criminoso for primário, o juiz pode deixar de aplicar a pena, levando em conta as circunstâncias. Art. 240, § 4º, do CP No adultério, o juiz podia deixar de aplicar a pena se houvesse cessado a vida em comum; entretanto, mencionado dispositivo legal encontra-se atualmente revogado. Art. 249, § 2º, do CP No crime de subtração de incapazes de quem tenha a guarda, o juiz pode deixar de aplicar a pena se o menor ou interdito for restituído sem ter sofrido maus-tratos ou privações. Art. 39, § 2º Participar de associações secretas, mas com fins lícitos. Veja-se, por fim, que o perdão judicial não pode ser considerado para efeitos de reincidência, por força do art. 120 do Código Penal. Observações �nais Por fim, vale observar o que dispõe o art. 108 do Código Penal, in verbis: A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. (ART. 108 DO CÓDIGO PENAL) Veja-se, portanto, que a extinção de punibilidade de um delito não se estende, de forma alguma, aos outros a ele relacionados. A extinção de punibilidade de cada delito é individual e não transferível, de modo que os delitos relacionados só terão sua punibilidade extinta por razões independentes. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Anistia Módulo 1 - Vem que eu te explico! Indulto Módulo 1 - Vem que eu te explico! Renúncia ao direito de queixa Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (OAB / FGV, 2019 – modificada) João, por força de divergência ideológica, publicou, em 03 de fevereiro de 2019, artigo ofensivo à honra de Mário, dizendo que este, quando no exercício de função pública na Prefeitura do município de São Caetano, desviou verba da educação em benefício de empresa de familiares. Mário, inconformado com a falsa notícia, apresentou queixa-crime em face de João, sendo a inicial recebida em 02 de maio de 2019. Após observância do procedimento adequado, o juiz designou data para a realização da audiência de instrução e julgamento, sendo as partes regularmente intimadas. No dia da audiência, apenas o querelado João e sua defesa técnica compareceram. Diante da ausência injustificada do querelante, poderá a defesa de João requerer ao juiz o reconhecimento: A Da decadência, que é causa de extinção da punibilidade. B Do perdão do ofendido, que é causa de extinção da punibilidade. C Do perdão judicial, que é causa de exclusão da culpabilidade. D Da perempção, que é causa de extinção da punibilidade. E Da prescrição, que é causa de extinção da punibilidade. Parabéns! A alternativa D está correta. Tratando-se de ausência injustificada do querelante em um ato da ação penal, ocorre o fenômeno da perempção, nos termos do art. 60, III, CPP. Questão 2 (Prefeitura de Belo Horizonte – MG / FDC, 2012) A abolitio criminis é causa de: A Atipicidade B Exclusão da culpabilidade C Extinção da punibilidade D Exclusão da antijuricidade E Involuntariedade da conduta P bé ! A l i C á 2 - Imunidades absolutas e relativas Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de categorizar as imunidades penais. Conceito de imunidade Antes de adentrarmos no conceito de imunidade, é imprescindível que ressaltemos que a legislação penal será aplicada a todos aqueles que a infringirem, não importando questões referentes à raça, à cor, à etnia, à nacionalidade, aos privilégios econômico-sociais e afins, nos termos do art. 5º da Constituição Federal, em apreciação ao Princípio da Isonomia. Parabéns! A alternativa C está correta. Abolitio criminis é o fenômeno de, por meio da revogação ou alteração de uma lei, deixar de considerar uma conduta criminosa. Nos termos do art. 107, III, CP, a abolitio criminis é causa de extinção da punibilidade. Todavia, o que vemos nas imunidades é que elas não estão ligadas às pessoas em si, mas aos seus cargos e funções eventualmente exercidas, tratando-se de não ser tida como uma garantia pessoal, mas uma prerrogativa funcional. Assim, a doutrina ensina (CAPEZ, 2012, p. 98): (...) os representantes diplomáticos de governos estrangeiros gozam de imunidade penal, não lhes sendo aplicável a lei brasileira em relação às infrações penais cometidas no Brasil. A Convenção de Viena, aprovada, entre nós, pelo Decreto Legislativo n. 103/64 e rati�cada em 23 de fevereiro de 1965, tendo, portanto, força de lei, dispõe nesse sentido. (CAPEZ, 2012, p. 98) As imunidades podem recair para dois tipos de funções: Diplomacia Quanto à primeira, esta é uma causa pessoal de exclusão de pena, uma vez que o agente imune não poderá ser processado em território estrangeiro e, consequentemente, não cumprirá pena no local. Aqui, não se trata de impunidade, mas do direito dos agentes diplomáticos de serem processados, julgados e condenados no país que eles representam. Todavia, essa imunidade poderá ser renunciada pelo Estado que o agente diplomático representa, não pelo próprio agente, em razão da natureza do instituto que visa proteger não a pessoa, mas o próprio Estado acreditante. Parlamento A imunidade parlamentar, por sua vez, está ligada ao Poder Legislativo, razão pela qual serve como prerrogativa para o exercício do munus público com liberdade e independência funcional. Na mesma linha da imunidade diplomática, ela é uma prerrogativa do Parlamento, não da pessoa do parlamentar, dado que este não poderá renunciá-la. A imunidade parlamentar possui duas espécies: absoluta e relativa, que serão abordadas no próximo item. Imunidade absoluta A imunidade absoluta, também conhecida como imunidade material, assegura a imunidade material do parlamentar, isto é, perante as esferas penal, civil, disciplinar e política. Além disso, refere-se à função do parlamentar (senador, deputado federal, estadual, e, em certa medida, os vereadores) no exercício de seu mandato, por suas opiniões, expressões, votos e palavras, nos termos do art. 53, caput, art. 27 §1º e art. 29 VIII, todos da Constituição Federal. É evidente que, para a incidência da imunidade parlamentar, é necessário o nexo funcional entre o fato executado durante o exercício de sua função ou em razão dela. Com efeito, conforme entendimento jurisprudencial, a imunidade material do parlamentar tem seu nexo funcional presumido quando executado nas dependências do Parlamento (presunção absoluta), enquanto fora dele, o nexo funcional deverá ser comprovado (presunção relativa). Nessa linha, o informativo 763 do STF dispõe sobre o julgamento do Inquérito 3672: A imunidade material de parlamentar (CF, art. 53, caput), quanto a crimes contra a honra, alcança as supostas ofensas irrogadas fora do Parlamento, quando guardarem conexão com o exercício da atividade parlamentar. Com base nessa orientação, a 1ª Turma, por maioria, recebeu denúncia oferecida contra deputado federal pela suposta prática do crime de calúnia (CP, art. 138). Na espécie, o investigado, em blogue pessoal, imputara a delegado de polícia o fato de ter arquivado investigações sob sua condução para atender a interesses políticos de seus aliados — conduta definida como crime de corrupção passiva e/ou prevaricação. A Turma consignou que as afirmações expressas no blogue do investigado não se inseririam no exercício de sua atividade parlamentar e não guardariam liame com ela. Concluiu, pois, que a imunidade material não seria aplicável ao caso Imunidade parlamentar concreto. Vencido o Ministro Dias Toffoli, que rejeitava a denúncia por considerar a conduta atípica. Aduzia que a crítica mais dura e ríspida faria parte da atividade de fiscalização parlamentar. Ressaltava que ofato de a crítica ter sido feita em um blogue em nada retiraria a sua qualidade de atividade fiscalizatória. Inq 3672/RJ, rel. Min. Rosa Weber, 14.10.2014. (Inq-3672) Ressalta-se, ainda, que o termo inicial ocorre com a diplomação do parlamentar, nos termos do art. 3º §1º da Constituição Federal, e chega ao seu termo com o encerramento do seu mandato. Imunidade relativa A imunidade relativa, também chamada de imunidade relativa ou processual, à diferença da absoluta, não está intimamente ligada às questões de direito material, mas para as peculiaridades referentes à esfera processual. Assim, está intimamente ligada à prisão, ao processo, às prerrogativas de foro nos termos do art. 53 §§§ 2º, 3º, 4º e art. 102, I, “b” da CF e art. 84 do CP. Assim sendo, refere-se ao processo em si e ao julgamento (arts. 53, § §1º e 3º da CF). Dessa forma, vale esquematizarmos a incidência da imunidade relativa: Quanto ao processo Art. 53, § 3º da CF § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. Quanto à prisão Veja-se que, entre outras coisas, a EC 35/2001 trouxe importante mudança no que tange à imunidade relativa dos parlamentares. Antes dela, nenhum parlamentar poderia ser processado sem prévia licença da sua Casa de origem. Com o advento da EC 35/2001, conforme visto na tabela apresentada, agora, o processo penal não mais depende da autorização da Casa de origem do parlamentar. O que há é uma previsão constitucional que, recebida a denúncia contra parlamentar por crime ocorrido após sua diplomação, poderá haver sustação da ação penal enquanto durar o mandato do parlamentar em questão. Imunidades absolutas e relativas No vídeo a seguir, a professora Luciana Fernandes diferencia as imunidades absolutas e relativas, exemplificando-as. Vamos assistir! Quanto à prisão Art. 53, §2º da CF § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. Imunidade dos vereadores O art. 29, VIII da Constituição, determina que os vereadores também possuam imunidade absoluta, isto é, inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos, “desde que no exercício do mandato e na circunscrição do município de seu mandato”. Por outro lado, os vereadores não gozam de imunidade relativa, isto é, em relação a medidas de caráter processual (BITENCOURT, 2017, p. 241). Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! Conceito de imunidade Módulo 2 - Vem que eu te explico! Imunidade dos vereadores Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (Prefeitura de Palmeira – PR / FAU, 2015) Recentemente, no Brasil, ocorreu a prisão de um Senador da República em exercício de mandato, fato até então inédito no país. Nos termos do que preceitua a Constituição Federal do Brasil, de 1988, no art. 53, essa prisão só foi possível porque o suposto crime era: A Contra a ordem tributária. B Contra a ordem pública. C Flagrante e inafiançável. D Inafiançável e não flagrante. E Flagrante, mas com possibilidade de fiança. Parabéns! A alternativa C está correta. A única hipótese que permite a prisão de um senador é a prisão em flagrante por crime inafiançável, nos termos do art. 53, §2º da Constituição. Questão 2 (PGM – RJ / PGM-RJ, 2017 – adaptada) Sobre a imunidade dos vereadores, pode-se afirmar que: A A Constituição assegura aos vereadores a inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do município. B A Constituição estende aos vereadores as mesmas regras sobre inviolabilidade previstas para deputados federais e estaduais, e senadores. C Os vereadores, na vigência de seu mandato, não podem ser responsabilizados por atos estranhos ao exercício de suas funções. D Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, os vereadores não estarão sujeitos à prisão. E A Constituição assegura aos vereadores a inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato, independentemente do local onde proferidas. Parabéns! A alternativa A está correta. O artigo 29, VIII da Constituição, confere aos vereadores imunidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do município. 3 - Prescrição penal Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de distinguir os detalhes em relação ao instituto da prescrição. Introdução O jus puniendi estatal concretiza-se com o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória, isto é, após a constatação definitiva da culpabilidade do agente. Todavia, ele não perdura pela eternidade, estando, portanto, temporalmente limitado. Quando esse prazo se consuma, ocorre o fenômeno da prescrição. O fenômeno da prescrição penal pode ser definido como a perda do direito de punir pelo decurso de tempo, devido ao seu não exercício no prazo determinado previamente. A natureza jurídica da prescrição suscita divergência na doutrina. Vejamos: Natureza processual e material Cirino dos Santos, por exemplo, defende que a sua natureza é processual, pois pode impedir a persecução e o material, pois pode impedir a execução da pena (SANTOS, 2017, p. 647). Os marcos prescricionais Antes de abordar os tipos de prescrição, opta-se, por razões didáticas, por analisar antes os marcos que influenciam na contagem do prazo prescricional. Veja-se a seguir: Termo inicial da contagem do prazo prescricional da pretensão punitiva O início do curso do prazo prescricional é determinado pelo artigo 111 do Código Penal, in verbis: A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I. do dia em que o crime se consumou; II. no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; III. nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; Natureza material A posição dominante, por sua vez, é no sentido que a prescrição penal tem natureza de direito material. Exemplificativamente, veja-se a lição de Bitencourt (2017, p. 923): “para o ordenamento jurídico brasileiro, contudo, é instituto de direito material, regulado pelo Código Penal, e, nessas circunstâncias, conta-se o dia do seu início”. Natureza processual Há, por fim, também entendimento minoritário no sentido que a prescrição teria natureza unicamente processual. Artigo 111 do Código Penal IV. nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. V. nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. A regra geral está contida no inciso I: no dia em que o crime se consumou. Entretanto, há delitos e circunstâncias especiais que, pela sua natureza, não podem ter como marco inicial o dia da consumação. Vejamos a determinação acerca dos tipos de crime: Crimes tentados No inciso II, consta que, quando o crime não chega a se consumar, ou seja, nos crimes tentados, o marco inicial ocorre quando cessa a tentativa. Crimes permanentes O inciso III determina que o marco inicial ocorre quando cessa a permanência. Crimes em espécie Os incisos IV e V determinam os respectivos marcos iniciais. Crimes de bigamia e de falsi�cação ou alteração de assentamento do registro civil O marco inicial ocorre na data em que o fato se tornou conhecido (inciso IV). As causas interruptivasdo prazo prescricional As causas de interrupção do prazo prescricional estão contidas no artigo 117 do Código Penal, in verbis: O curso da prescrição interrompe-se: I. pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II. pela pronúncia; III. pela decisão confirmatória da pronúncia; IV. pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V. pelo início ou continuação do cumprimento da pena; VI. pela reincidência. § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. Os incisos do artigo 117 do Código Penal estão ordenados cronologicamente, isto é, o primeiro marco interruptivo da prescrição é o inciso I, e assim por diante. A única ressalva necessária é que os incisos II e III são destinados exclusivamente ao procedimento do Tribunal do Júri, ou seja, para os casos de crime doloso contra a vida. A regra é que o prazo prescricional corra a partir da data do fato. Com o recebimento da denúncia ou da queixa, ocorre sempre a primeira causa interruptiva Crimes contra a dignidade sexual de menores de 18 (dezoito) anos O marco inicial só se inicia quando a vítima chega à maioridade, com exceção se antes a ação penal já tiver sido proposta. Artigo 117 do Código Penal q , p p p da prescrição, levando a contagem do prazo de volta ao marco zero. No procedimento do júri, o segundo marco interruptivo é a decisão de pronúncia; o terceiro é a decisão confirmatória da pronúncia. Interessante notar, acerca da decisão de pronúncia, que o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado na Súmula 191 que a decisão de pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri desclassifique posteriormente o delito. Os próximos marcos interruptivos estão contidos no inciso IV: a data da publicação da sentença penal condenatória e a data da publicação do acórdão condenatório. Portanto, a sentença e o acórdão absolutórios não interrompem a contagem do prazo prescricional. Ademais, no julgamento do AgRg no AREsp 1.668.298, o Superior Tribunal de Justiça buscou pacificar o debate doutrinário acerca do chamado acórdão confirmatório, isto é, para o caso em que o indivíduo é condenado em primeiro grau, apela e é novamente condenado em grau de recurso. Apesar da existência de entendimento doutrinário que o acórdão confirmatório não seria uma causa interruptiva de prescrição, o citado informativo é no sentido contrário: também o acórdão confirmatório interrompe a contagem do prazo prescricional. Tal entendimento já havia sido consolidado pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 176.473/RR (Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/04/2020). Veja-se o seguinte trecho da ementa desse julgado, in verbis: 2. O Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial ou confirmatório da decisão para fins de interrupção da prescrição. O acórdão que confirma a sentença condenatória, justamente por revelar pleno exercício da jurisdição penal, é marco interruptivo do prazo prescricional, nos termos do art. 117, IV, do Código Penal. 3. Habeas Corpus indeferido, com a seguinte TESE: Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o Acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da HC 176.473/RR sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta. Por fim, o início ou continuação do cumprimento de pena interrompem a contagem do prazo prescricional, bem como a reincidência após o trânsito em julgado da condenação criminal. Veja-se, por fim, uma excepcional causa de interrupção da prescrição fora do art. 117, CP: o artigo 182 da Lei de Falências (11.105/2005) determina que a decretação de falência interrompe prescrição cuja contagem tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação do plano de recuperação extrajudicial, em relação aos delitos contidos naquela lei. Causas que suspendem ou impedem a contagem do prazo prescricional Vejamos a diferença entre as causas interruptivas e as causas suspensivas: Causas interruptivas Zeram o prazo prescricional, fazendo-o retornar ao marco zero. Causas suspensivas Somente pausam o prazo prescricional, voltando o prazo a contar de onde parou assim que cessarem. A seguir, constam as causas que somente suspendem a contagem do prazo. A maioria dessas causas estão dispostas no artigo 116 do Código Penal, in verbis: Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: A primeira hipótese ocorre quando o juízo acerca do cometimento de delito dependa de alguma questão a ser resolvida em outro processo. Em regra, essa controvérsia terá natureza cível, havendo previsão no Código de Processo Penal (art. 93) para suspensão da ação penal até a resolução do processo civil. Se o indivíduo cumpre pena no exterior, inviável é a extradição, de modo a justificar a opção do legislador por determinar a suspensão do prazo prescricional também nessa hipótese. Os incisos III e IV foram recentemente incluídos pela Lei nº 13.964/2019 e determinam a suspensão do prazo prescricional, respectivamente, quando na pendência de embargos de declaração ou de recurso aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis e enquanto não cumprido ou não rescindido o novo instituto, incluído no ordenamento jurídico brasileiro pela mesma lei, do acordo de não persecução penal. I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. Já o parágrafo único estabelece outra hipótese: depois de transitada em julgado a sentença condenatória, a prescrição também fica suspensa se o condenado está preso também por outro motivo. E isso por uma razão simples: esse outro motivo é o cumprimento de outra pena, de modo que ele passará a cumprir a pena na sequência do cumprimento daquela outra. Entretanto, o rol do artigo 116, CP não é exaustivo, havendo outras hipóteses de suspensão do prazo prescricional na legislação. Por exemplo, a suspensão em razão da revelia, contida no art. 366 do CPP, in verbis: Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, �carão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (ART. 366 DO CPP) Nos casos de ações penais em desfavor de deputados federais e senadores, o art. 53, §3º da Constituição prevê a hipótese de sustação da ação penal pelo Congresso Nacional. Nesse caso, fica também suspenso o prazo prescricional pelo tempo que durar o mandato do parlamentar, nos termos do §5º do mesmo artigo 53 da Carta Magna. Há, ademais, nas leis penais especiais, diversos diplomas que preveem a suspensão do prazo prescricional. Por exemplo, o art. 89 da Lei nº 9.099/1995 determina a suspensão do prazo prescricional enquanto estiver em curso a suspensão condicional do processo. Diversas leis referentes a crimes tributários previram a suspensão do prazo prescricional: 1. O artigo 15, §1º da Lei 9.964/2000 determina a suspensão do prazo prescricional durante o prazo da suspensão da pretensão punitiva, que é aquele em que a pessoa jurídica relacionada aos delitos previstosnos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/1990, e no art. 95 da Lei nº 8.212/1991 estiver incluída no Refis. 2. O artigo 9º da Lei nº 10.684/2003 também determina a suspensão do prazo prescricional em termos semelhantes ao seu antecedente, mas incluindo os artigos 168-A e 337-A, ambos do Código Penal, no rol de delitos sujeitos à suspensão. 3. O artigo 68 da Lei nº 11.941/2009 estabelece termos semelhantes àquele da lei anterior. Por fim, vale observar que, segundo a Súmula 415 do STJ, o período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo de pena cominado em abstrato. Utiliza-se, para o cálculo dos limites do tempo de suspensão da contagem do prazo prescricional, aqueles prazos contidos no art. 109, CP. Tipos de prescrição e seu tratamento jurídico Prescrição da pretensão punitiva Enquanto não há sentença condenatória transitada em julgado, o Estado não está legitimado a aplicar pena. Entretanto, isso não significa que não haja o fenômeno da prescrição. Nos casos em que não há legitimidade para a execução de pena, trata-se, se for o caso, da prescrição da pretensão punitiva estatal. Para esses casos, em regra, conta-se o prazo prescricional com base na pena máxima cominada pelo tipo penal em questão. Os detalhes estão contidos no artigo 109 do Código Penal, in verbis: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; Há uma exceção: a prescrição superveniente (ver mais abaixo), contanto que tenha havido trânsito em julgado para a acusação, prosseguindo o processo somente com recursos defensivos. Assim, dispõe o parágrafo primeiro do artigo 110 do Código Penal: A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula- se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (ART. 110, § 1º DO CÓDIGO PENAL) Veja-se, portanto, que, após o trânsito em julgado para a acusação, passa-se a calcular o prazo prescricional não mais com base na pena máxima cominada pelo tipo penal, mas pela pena concreta. A razão para isso é simples: uma vez transitado em julgado para a acusação, a pena não pode mais ter algum acréscimo, III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. chegando-se, nesse caso, ao máximo possível. Se o processo só prossegue em razão de recurso defensivo, isso significa que a pena concreta só pode, eventualmente, diminuir, jamais aumentar. Atenção A única ressalva está contida no próprio dispositivo: está vedada a hipótese da chamada prescrição retroativa se esta tem como marco inicial a data do fato. Entretanto, veja-se que, como a Lei nº 12.234 que alterou o art. 110, CP é de 5 de maio de 2010, tendo entrado em vigor na data de sua publicação, bem como que a lei penal não retroage in malam partem, aos fatos ocorridos antes de 5 de maio de 2010 deve-se aplicar a prescrição retroativa entre o fato e o recebimento da denúncia ou queixa. Prescrição da pretensão executória Após o trânsito em julgado do decisum condenatório, surge a legitimidade jurídica para a execução da pena estatal. Dessa forma, a contagem do prazo prescricional não mais tem como objeto a pretensão punitiva estatal, que já está consolidada, mas a pretensão executória da pena. Em sede de pretensão executória, há somente três hipóteses de interrupção do prazo prescricional: O início do cumprimento da pena A sua continuação A reincidência O início do cumprimento da pena e a sua continuação estão contidos no inciso V do art. 117, CP; já a reincidência consta no inciso VI do mesmo dispositivo. Conforme já visto, o trânsito em julgado da sentença condenatória não é marco prescricional, mas converte a pretensão do Estado, que era punitiva, em executória. Na realidade, há entendimento que o artigo 112, inciso I do Código Penal estabeleceu que o termo inicial da prescrição da pretensão executória é o trânsito em julgado para a acusação. Veja-se: Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional. (ART. 112, INCISO I DO CÓDIGO PENAL) Todavia, o entendimento majoritário ainda é no sentido que somente o trânsito para a acusação não dá início à prescrição da pretensão executória, em razão da prescrição da pretensão punitiva superveniente. Veja-se, ainda, que, por força do dispositivo, nos casos de suspensão condicional da pena ou de livramento condicional, o prazo prescricional fica interrompido, retornando a contagem do marco zero na data da revogação das medidas. A interrupção da execução (por exemplo, por evasão do condenado) também é marco inicial da contagem do prazo prescricional, por força do inciso II do mesmo artigo 112, CP. Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: (...) II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. (ART. 112, INCISO II DO CÓDIGO PENAL) No caso de evasão, a contagem do prazo prescricional deve ter como base o tempo restante de pena, isto é, o tempo total da pena subtraído pelo tempo já cumprido. Isso ocorre em razão do artigo 113 do Código Penal. Se o condenado já era reincidente, por força do art. 110, caput, CP, o prazo será sempre aumentado em um terço. Exemplo Se o condenado reincidente é condenado a uma pena de 6 (seis) anos de reclusão, o seu prazo prescricional é aquele contido no art. 109, III, CP, isto é, de 12 (doze) anos, aumentado em um terço, totalizando 16 (dezesseis) anos (12 + 1/3 de 12 = 12 + 4 = 16). O prazo da prescrição da pretensão executória regula-se com base na pena concreta (art. 110, CP). Prescrição da pretensão executória No vídeo a seguir, a professora Luciana Fernandes discorrerá sobre a prescrição da pretensão executória, diferenciando-a da pretensão punitiva. Vamos assistir! Outras nomenclaturas Costuma-se observar na doutrina algumas nomenclaturas acerca da prescrição. Prescrição da pretensão punitiva abstrata É contada enquanto ainda não há uma pena concreta transitada em julgado para a acusação. Esse nome se dá pelo fato que a contagem do prazo prescricional tem como base o máximo de pena cominada em abstrato pelo tipo penal. Baseia-se na pena em concreto contida no decisum condenatório. Ela é retroativa porque só pode ser contada a partir do momento do trânsito em julgado para a acusação, e tem efeitos retroativos, com a ressalva já explicada sobre o período entre a ocorrência do fato e o recebimento da denúncia ou queixa. Ocorre quando já há sentença condenatória transitada para a acusação, mas que ainda não transitou em julgado para a defesa, cabendo ainda recurso defensivo. Prescrição de penas não privativas de liberdade Um leitor mais atento pôde observar que, até aqui, toda a exposição sobre a contagem de prazo prescricional teve como base a fixação de prazo de privação de liberdade. Isso leva ao seguinte questionamento: como é o tratamento do prazo prescricional nos casos de pena restritiva de direito ou de multa? As respostas serão vistas a seguir. Pena restritiva de direitos A pena restritiva de direitos tem caráter substitutivo da pena privativa de liberdade. Isso significa que, no momento da sentença ou acórdão condenatório, calcula-se o quanto de penaprivativa de liberdade para, após, realizar a sua substituição por restritiva de direitos, se for o caso. Por essa razão o artigo 109 parágrafo único do Código Penal estabelece: “Aplicam se às penas restritivas Prescrição retroativa Prescrição intercorrente, subsequente ou superveniente Por essa razão, o artigo 109, parágrafo único, do Código Penal estabelece: Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade”. Pena de multa A prescrição da pena de multa está contida no artigo 114 do Código Penal, in verbis: Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada; II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. (ART. 114 DO CÓDIGO PENAL) Portanto, se a pena de multa for a única cominada ou aplicada, prescreve em dois anos (inciso I). Caso a pena de multa for cominada em conjunto com uma pena privativa de liberdade, seja de forma alternativa ou cumulada, conta-se o prazo prescricional com base no tempo estabelecido para a pena privativa de liberdade. Redução do prazo prescricional O artigo 115 do Código Penal estabelece duas hipóteses de redução do prazo prescricional, sendo, em ambos os casos, reduzido pela metade: Quando o agente era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos (menoridade relativa), adota-se a teoria da atividade (art. 4º, CP), sendo relevante o momento em que a conduta foi praticada. Em outras palavras, se, no momento da ação, o indivíduo tinha entre 18 (dezoito) anos completos e 21 (vinte e um) incompletos, deve-se contar o prazo prescricional pela metade. Ocorre quando, na data da decisão condenatória, o agente era maior de 70 (setenta) anos (maioridade senil). Acerca disso, o artigo 115, CP fala na “data da sentença”, suscitando um debate sobre se a data de eventual acórdão também deve ser considerada. Há precedentes do STF no sentido negativo, ou seja, que somente o artigo 115, CP vale somente para o momento da sentença. Atenção Observa-se que esses precedentes são anteriores à Lei nº 11.596/2007, que introduziu o acórdão condenatório recorrível como causa de interrupção do prazo prescricional, o que, para um entendimento doutrinário, deve suscitar uma interpretação sistemática no sentido de estender a aplicação da redução do prazo prescricional também para quem é maior de 70 anos na data do acórdão, sobretudo diante da possibilidade de absolvição em primeiro grau e condenação em grau recursal. Por fim, a jurisprudência é firme em não ampliar o benefício da redução aos maiores de 60 (sessenta) anos. Por exemplo, veja-se o seguinte trecho da ementa do HC 88.083/SP, julgado pela segunda turma do Supremo Tribunal Federal (Min. Rel. Ellen Gracie, j. 03/06/2008): 5. A circunstância do critério cronológico adotado pelo Estatuto do Idoso ser de 60 (sessenta) anos de idade não alterou a regra Menoridade relativa Maioridade senil Idoso ser de 60 (sessenta) anos de idade não alterou a regra excepcional da redução dos prazos de prescrição da pretensão punitiva quando se tratar de pessoa maior de 70 (setenta) anos de idade na data da sentença condenatória. (HC 88.083/SP) Imprescritibilidade Apesar da regra geral sobre a prescrição, o ordenamento jurídico brasileiro determina que alguns delitos não estão suscetíveis, sob nenhuma hipótese, à ocorrência da prescrição. Até a presente data, por força de norma constitucional (art. 5º, incisos XLII e XLIV), somente as práticas de racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático são imprescritíveis. Entretanto, tramita atualmente no Congresso o Projeto de Lei 5686/19, que visa alterar a Lei de Crimes Hediondos para tornar imprescritíveis os crimes hediondos, o tráfico de entorpecentes e o terrorismo. A mudança ainda não se concretizou, mas é algo a ser observado para o futuro. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Termo inicial do prazo prescricional Módulo 3 - Vem que eu te explico! Causas que suspendem ou impedem o prazo prescricional Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (TJ-PA / CESPE / CEBRASPE, 2020) Em 30/9/2016, com menos de vinte e um anos de idade, Daniel praticou o crime de resistência, cuja pena máxima em abstrato é de dois anos. Daniel recusou a transação penal e o Ministério Público, então, ofereceu denúncia em 9/4/2018, a qual foi recebida pelo juízo em 30/4/2018. A sentença que condenou Daniel à pena de seis meses de detenção foi publicada em 31/10/2019. Até a data da condenação, Daniel era primário e não possuía qualquer outro incidente criminal. Nenhuma das partes recorreu e o trânsito em julgado ocorreu em 18/11/2019. A respeito dessa situação, é correto afirmar que: A Operou-se a prescrição da pretensão punitiva relativa ao lapso entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença condenatória. B Operou-se a prescrição da pretensão executória relativa ao lapso entre o fato e o oferecimento da denúncia. C Operou-se a prescrição da pretensão executória relativa ao lapso entre o oferecimento da denúncia e o trânsito em julgado da sentença condenatória. D Operou-se a prescrição da pretensão punitiva entre o fato e o trânsito em julgado da sentença condenatória. E Não se operou qualquer espécie de prescrição. Parabéns! A alternativa C está correta. Havendo trânsito em julgado para ambas as partes, deve-se falar em prescrição da pretensão executória. Como não pode haver prescrição retroativa entre a data do fato e o recebimento da denúncia para os fatos posteriores a maio de 2010, aqui, a prescrição ocorreu entre o oferecimento da denúncia e o trânsito em julgado da sentença condenatória. Isso porque, sendo a pena inferior a 1 (um) ano, esta prescreve, em tese, em 3 (três) anos (art. 109, VI, CP). Todavia, tratando-se de menoridade relativa, conta-se o prazo prescricional pela metade (art. 115, CP). Como a pena, portanto, prescreve em 1 (um) ano e 6 (seis) meses, esta consumou-se entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença condenatória (ocorridos em 30/04/2018 e 31/10/2019). Questão 2 (DPE-MG / FUNDEP (Gestão de Concursos), 2019 ‒ adaptada) Considere o caso hipotético a seguir: José, com 21 anos de idade, cometeu um delito de furto simples (art. 155, caput) em 26 de maio do ano de 2010. A denúncia foi oferecida em 20 de maio de 2014 e recebida em 26 de maio de 2014. Após a instrução, em sentença condenatória publicada em 26 de maio de 2016, José foi condenado a uma pena de dois anos de reclusão. O Ministério Público não recorreu, enquanto a Defensoria Pública interpôs recurso de apelação, e, em acórdão publicado em 26 de maio de 2019, José teve a pena reduzida para um ano de reclusão. Nesse caso, A com base na pena final concretizada, deve ser reconhecida a prescrição retroativa, Considerações �nais A ocorrida entre a data do fato e o recebimento da denúncia. B em razão da pena final concretizada, houve prescrição retroativa entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença, pois deve ser aplicada a causa de redução da prescrição (art. 115 do CP). C seja em razão da pena em abstrato seja pela pena em concreto, não houve a ocorrência de prescrição em qualquer hipótese. D em razão da pena efetivamente aplicada, houve a ocorrência da prescrição superveniente, pois entre a data de publicação da sentença e o julgamento do acórdão houve o transcurso de três anos. E com base na pena em abstrato, houve a ocorrência da prescrição, ocorrida entre a data do fato e o recebimento da denúncia. Parabéns! A alternativa B está correta. A pena final de José foi de um ano de reclusão, prescrevendo em 4 (quatro) anos. Ocorre que,em razão da idade do agente à época dos fatos (art. 115, CP), esse prazo deve ser contado pela metade, totalizando 2 (dois) anos. Tratando-se de lei de conteúdo material, inclui-se o dia do início e exclui-se o do fim, de modo que o fato prescreveu um dia antes da publicação da sentença. Ao longo deste conteúdo, analisamos as causas de extinção da punibilidade no Direito Penal. Vimos, primeiramente, do que se tratam todos aqueles institutos contidos no rol do artigo 107 do Código Penal. Depois, foram expostas as questões gerais atinentes às imunidades penais. Por fim, viram-se os pormenores da prescrição penal, instituto que pode comprometer a punibilidade. Podcast Agora, com a palavra a professora Luciana Fernandes, fazendo um panorama geral sobre as causas de extinção da punibilidade, especialmente a prescrição. Vamos ouvir! Referências BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal: parte geral 1. 23. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2017. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 1988. BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. BRASIL. Decreto-Lei 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, 03 out. 1941. CAPEZ, F. Curso de direito penal, volume 1, parte geral: (arts. 1º a 120). 16. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2012. MARTINELLI, J. P. O.; BEM, L. S. de. Lições fundamentais de direito penal: parte geral. 3. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2018. SANTOS, J. C. dos. Direito penal: parte geral. 7. ed. Florianópolis, SC: Empório do Direito, 2017. Explore + Para melhor compreensão do conteúdo, vale a leitura dos livros: A punibilidade no conceito de delito, da editora JusPodivm, escrito pelo professor Andreas Elisele. É um livro que aborda os fundamentos do conceito integral de delito, com a definição da categoria da punibilidade concreta e sua respectiva fundamentação no merecimento de pena. Imunidades Parlamentares, da editora do Senado Federal, escrito pelo professor Pedro Aleixo. O livro tem por objetivo traçar um panorama histórico e jurídico acerca da temática, além de abordar algumas questões controvertidas. Prescrição penal: temas atuais e controvertidos, vol. 7, organizado por Ney Fayet Júnior e publicado pela Editora Livraria do Advogado. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
Compartilhar