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Matéria: Teoria Geral do Direito Privado I Professor: Francisco Marino Data das Anotações: começo do semestre até 11/04/2013 Aluno: Pedro de Almeida Pires Camargos Introdução Ao Direito (Aula de 07/03) Questão Central: O que é Direito? Seria apenas um conjunto das leis? Costumes X Normas - Em outros momentos da história e para outras famílias jurídicas, o Direito tem como base central os Costumes Definição de Costume: Norma praticada pela maioria da sociedade à longo prazo. Para ser considerado costume precisa ser antiga e existir um consentimento social de obrigatoriedade e validade Vale ressaltar que os costumes possuem grande relevância para o Direito Internacional no mundo contemporâneo - A família Romano-Germânica utiliza como principal fonte do Direito as Normas Jurídicas Definição de Norma: Regra de conduta à qual prescreve-se uma consequência (sanção). Apesar da maioria ver as sanções apenas como algo ruim, existem as sanções premiais (como a Nota Fiscal Paulista) e as sanções negativas (como a restrição da liberdade) A Três Dimensões do Direito (Tese de Miguel Reale) De acordo com Reale, Direito pode ser definido como fato, valor e norma. A representação dessa definição deve ser imaginada como um prisma que é o complexo de fatos pelo qual entram os valores e saem refratadas as normas (que devem ser examinadas sempre em conjunto, pois uma nova norma em um sistema interfere na interpretação dele por inteiro) A representação busca mostrar como os valores da sociedade, os fatos do mundo contemporâneo e as próprias normas incidem sobre as Normas. Um exemplo de incidência da evolução dos fatos nas normas: criação da Responsabilidade Civil Objetiva a partir do antigo conceito de Responsabilidade Civil Subjetiva. De acordo com a visão antiga, apenas que tinha culpa poderia ser responsabilizado (Resp. Civil Subj.), mas a partir da Revolução Industrial, passou-se a responsabilizar quem realiza-se atividades de risco (como por exemplo, atividade nuclear) pelos danos, mesmo sem a culpa (Resp. Civil Obj.) Famílias Jurídicas (Aulas de 13/03 e 14/03) Apesar das diferenças jurídicas entre os países, o agrupamento em famílias facilita o estudo do Direito e a comparação jurídica Duas famílias principais: Romana-Germânica Common Law Romano-Germânica: - Quase todos os países da Europa Ocidental (exclui-se UK) - América Latina - Louisiana - Quebec - África do Sul - Países africanos ex-colônias européias Surge na Europa Continental entre os séculos XII e XIII, com o redescobrimento do Direito Romano. Em um primeiro momento, ressurge em Bolonha (Itália). Aos poucos, o Direito Romano passou a ser ensinado nas Universidades que estavam nascendo. --> Renascimento cultural e comercial facilitou o ressurgimento do antigo direito de Roma O Romano passou a ser ensinado junto com o Canônico, na realidade. Importância do Canônico: - Primeiro escrito - foco na universalidade, que era tendência na época - Era muito forte em diversas partes da Europa Escolas (Formação Histórica) Escola dos Glosadores (Bolonha); fundada por Irnério, Azo e Arcurs Método usado: Glosa = Explicações entre linhas ou do lado sobre textos dos antigos Jurisconsultos (No início, glosa era explicar palavras) --> Se limitaram à isso, logo, não analisavam com novos contextos Escola dos Comentadores (13 e 15); Bartolo e Baldo Adaptavam e comentavam o direito romano em relação ao direito da época Escola Humanista (16 e 17); acanto, Donellus e Cupico (?) - França Objetivo de resgatar a pureza do Direito Romano, estudo muito maior das instituições romanas, sem interferências, apenas com base nos textos do "Latim Puro"; conhecida como segundo renascimento do Dir. Romano Escola de Direito Natural (17 e 18) (se opõe ao direito positivo); é a idéia do que é realmente bom, análogo aos direitos romanos. O Direito Ocudental sempre foi pautada pelo binômio de oposição Natural/Positivo. O estudo na nova escola foi importante pois trouxe a laicização do Direito Natural: elaboração do Direito em Sistemas Escola Histórica Reação à Escola Natural, que diz que direito não é racional, mas sim fruto da história. > Direito com base em costumes, foram radicalmente contra a codificação Paradoxalmente, reforçou a codificação, pois se opôs ao Natural e quebrou suas bases --> Após isso, a Alemanha tornou-se o centro de Estudo. Ao mesmo tempo, passou a existir a idéia do Direito Comum pela Europa. Direito comum era aquele ensinado na faculdade, e, além disso, era SUBISIDIÁRIO, ou seja, vinha após os Direitos locais Influencia do Direito Comum em cada país foi diferente. Mas desse modo, foi formando-se a família Romano-Germânica Codificação: Movimento Histórico que se inicia no séc. 18 e vai até 20. Foi antecipado pelas Escolas Naturais e Histórica - Primeiro Código: Francês, Napoleão (1804) - Segundo: Alemão, BGB (1896); Escola Histórica atrasou em 90 anos a codificação Codificação é o ápice do processo legislativo, pois lei é a principal fonte Common Law (Direito Inglês) - UK - EUA - Canadá - Austrália Periodização: 1. Período Anglo-Saxônico (Queda de Roma - 1066) 2. Período de Formação do Common Law (1066 - 1485); em 1066 houve invasão dos Normandos na Inglaterra - Tribunais Reais, mas que aos poucos tornaram-se independentes - "Writs": Chanceleres do rei ouviam reclamações, e cada caso era avaliado, e se fosse necessário, Chanceler mandava irem atrás do réu. Eram, portanto, pequenos tribunais que funcionavam muito bem - Poderes locais foram acabando com os Writs 3. Rivalidade com Equity (1485 - 1832); data que inicia a dinastia Tudor - Equity: Rei, chanceleres e outros começaram a decidir sem bases no Common Law; muitas vezes inspirados no Romano e no Canônico. - 1616: Divisão das competências entre Common Law e Equity 4. Período Moderno (1832 -) - Foi realizada extrema reforma do direito inglês, que acabou com a difernciação entre Equity e Common Law Características (Direito Inglês): Base conceitual não é a mesma; pois não há a influencia direta do Direito Romano. Exemplos: Contrato, responsabilidade civil, conceito de Direito de Propriedade Direito formado por decisões judiciais "Case Law". Existem leis, mas essas são muito mais recentes e tem muito menos importância do que no Direito Romano-Germânico Direito Americano - Diferenças: Regime Político (Democracia) Federação Constituição Escrita Não é tão calcado nos precedentes, pois federação é muito importante, e se fosse usado o precedente, Direitos dos estados se diferenciariam muito. Existe tentativa de uniformizar leis Diferenciações do Direito (Aula de 20/03) Diferenciações: 1. Direito Objetivo: conjunto de normas pertinentes a alguma área do conhecimento jurídico direito subjetivo: vantagens jurídicas que a norma estabelece. 2. Direito Público x Direito Privado - Pelo destinatário da norma: se norma está dirigida ao Estado, é de Direito Público. Se é dirigida a particulares, é de Direito Privado. No entanto, essa divisão acaba incompleta, pois existem leis que podem valer para Estado - Interesse ao critério Imediato e preponderante. Se é de interesse do Estado é público, se é de interesse de particulares é privado. - Forma da relação jurídica que é objeto da norma. Se regula relação de subordinação é público, se regula relação de coordenação (parietária) é privado. Esse critério mostra-se mais interessante, de acordo com as visões do professor. Direito Público: - Direito Constitucional - Direitos Fundamentais (limitação de poder do estado) - Direito Administrativo - Direito Penal (estado tem monopólio daaplicação da pena) - Direito Processual (regula como estado presta sua jurisdição) - Direito Tributário - Direito do Trabalho - Direito Internacional Direito Privado: - Direito Civil - Direito Comercial: regula atividade do comerciante (Empresário: produções de bens e/ou serviços para o mercado) Norma e Sistema Jurídico (Aula de 21/03) Norma Jurídica (capítulo quinto do Livro do Bobbio) Normas podem ser morais, sociais ou jurídicas. Linguagem das normas é prescritiva. Norma moral apresenta-se como o código de conduta de um sujeito com ele mesmo. Norma social tem o objetivo de facilitar o convívio. Diversos critérios diferenciam os tipos de normas apresentados. - Critério do conteúdo: Normas jurídicas buscam regular relações intersubjetivas e são, portanto, bilaterais. Serve para diferenciar jurídicas de morais, mas não de normas sociais - Critério da finalidade: Normas essenciais para a preservação da sociedade. - Critério da Sanção: todas as normas tem sanção, mas cada uma um tipo diferente. Sanção moral: remorso, arrependimento pessoal Sanção social: é externa. a máxima é o linchamento, no geral é reprovação do ato. Problemas: 1. Êxito é incerto 2. Incostância 3. Desproporção Sanção jurídica: externa, e a única que é institucionalizada. Instituição: grupo social organizado (quais fins busca, por quais meios, como membros contribuem) Maior instituição é o Estado. Mas, de acordo com essa visão, existem outras ordens jurídicas além da do Estado. Sistema Jurídico: elementos jurídicos dispostos de uma determinada forma organizada. Para Kelsen: Sistema jurídico funciona em forma de pirâmide, que parte de normas inferiores e culminam em uma norma fundamental Para Tércio: Sistema é muito complexo, e não é possível dizer que há uma norma fundamental que sirva como centro para tudo. "Doutrina" descreve o sistema e ajuda a construí-lo, portanto, ajuda a por "ordem na bagunça" Lei não deixa claro o que é um contrato, por exemplo. Em um sistema, existem regras de "input" e regras de "output". Existe um grande processo legislativo para uma norma legislativa passar a ser vigente Monismo Jurídico: só há um ordenamento jurídico, de origem divina Pluralismo Jurídico: - Estatal (existe um ordenamento para cada estado soberano) - Institucional (uma para cada instituição): mas nesse caso precisa-se dividir em ordenamentos do estado, acima do estado, abaixo do estado, ou contra o estado. Interpretação das Leis (Aula de 03/04) Interpretação das Leis. - Fala-se de lei pois, admitindo o pluralismo institucional, as leis estatais são a principal fonte do Direito atual (seguindo a Família Romano-Germânico) Interpretação: ação do intérprete cujo objetivo é compreender esse algo e, portanto, revelar o seu significado. "A natureza se explica, a cultura se compreende" - Diltrey A frase indica a existência de dois "mundos" (o da natureza e o da cultura) que possuem uma certa autonomia entre si. A consciência dessa existência e sua clara distinção é extremamente recente (século XVIII). Pensador italiano que diferenciou as "ciências humanas", contrapondo- as às ciências naturais. Ciências Naturais: descrição e explicações dos fatos, estabelecendo algumas relações causais A, compreensão, no entanto, é muito diferente de uma simples explicação. Vale-se relacionar com valores e necessita de um profundo envolvimento entre intérprete e coisa analisada. De acordo com Betti (intelectual italiano) propõe que interpretação é triangular. 1. Intérprete: Tem a sua própria bagagem de experiências. 2. Objeto: é forma representativa - Forma: conjunto de elementos sensíveis para conservar a marca do autor - Representativa: quer dizer alguma coisa, ou seja, possui informação. 3. Autor Existe, de certo modo, uma tensão entre um sujeito que já tem uma bagagem externa, e um objeto que tem uma independência. Regras da Hermenêutica (sobre a "arte" da. Interpretação) de Betti - Duas primeiras são objetivas 1. Cânone da autonomia: deve-se preservar a autonomia do objeto. Ou seja, o intérprete não deve inserir o sentido que lhe parece conveniente, mas sim extrair o real significado 2. Cânone da Totalidade: deve-se analisar objeto em sua totalidade, não apenas uma parte. Além disso, é necessária a contextualização. No âmbito das leis, fala-se de Interpretação Sistemática. - Outras duas são subjetivas 3. Cânone da atualidade: sujeito deve colocar objeto no contexto atual, à luz de acontecimentos sociais, econômicos, tecnológicos, etc. 4. Cânone da adequação: Intérprete deve colocar-se em posição adequada para a interpretação. Para isso, é necessária a abertura mental e a abnegação. Arco do Hermenêutico representa a ligação entre sujeito e objeto. O Círculo do Hermenêutico completa-se com a volta que existe do objeto ao sujeito. Autores atuais não utilizam a imagem de círculo, mas sim de espiral, pois uma série de idas e vindas ocorrem durante o processo interpretativo. Processo inicia-se com a "Pré-interpretação", que envolve conhecimentos anteriores e contextos, é inevitável, mas não pode se tornar uma visão definida Meios Interpretativos: 1. Sentido literal da linguagem: sentido do dicionário, independente das circunstâncias e contextos. É um ponto de partida necessário e insuficiente para a interpretação. - Fixa um quadro de sentidos possíveis. 2. Contexto normativo: circunstâncias nas quais o objeto se encontram. É a chamada Interpretação Sistemática 3. Elemento Histórico: como o texto foi criado. Ou seja, mesmo com as dificuldades durante o processo, esse elemento propõe a busca pelos objetivos e a vontade do legislador pela criação da lei. É muito complexo e complicado realizar essa interpretação. 4. Elemento Finalístico (teleológico): qual é a finalidade da norma, qual sua razão. Existe um certo abuso com essa interpretação, pois nem sempre as normas tem um fim objetivo. Diante dos casos, que meio usar? - Uma posição praticamente superada diz que existe um superiormente deve ser utilizado. - Outra posição diz que não deve-se utilizar os meios - Deve-se escolher o meio de acordo com a norma que está sendo interpretada, pois cada uma traz um texto diferente, que se adequam aos meios diferentes. Pode-se ainda, utilizar mais de um meio, quando apresenta-se necessário ou adequado. Interpretação das Leis – Caso Prático I (Aula de 10/04) O Caso do Bem de Família em uma dívida Regra Geral para dívidas: sujeito (devedor) que deve algo a alguém (credor), responde à dívida com o patrimônio "Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor" (código civil) Esse artigo pode ser melhorado em dois pontos: 1. Bens não respondem, mas sim são objetos 2. Não é só após o não cumprimento que os bens são esses objetos Mesma regra, mas com correções está no Código de Processo Civil (Art. 591) Lei que é objeto de Estudo: 8009/90 (Lei dos Bens de Família) Como acontece geralmente: Credor encontra um bem do devedor, abre petição para o bem ser penhorado, bem penhorado vai a leilão, e o dinheiro da compra é usado para sanar a dívida. Lei citada abre exceção para bens de família. Primeiro caso: o que é "entidade familiar"? Ideia era acolher famílias monoparentais, mas e nos casos de Viúvos ou divorciados sem filhos, e no caso de irmãos morando juntos após morte dos pais? Jurisprudência do STF seguiu a interpretação que amplia o conceito de entidade familiar para esses casos. Segundo Caso: e se for moradia de um solteiro? Definição do STJ: lei foi estendida para o solteiro: interpretação teleológica - Proteção do Direito à Moradia é a finalidade da norma.
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