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A consciência situacional Definimos consciência situacional como saber o que está ocorrendo em nosso meio , baseando-se na ideia de modelos mentais para descrever o processo de percepção, entendimento e atitude dentro de uma situação. Podemos dizer que a consciência situacional está em seu auge quando uma pessoa é capaz de antecipar um problema que ocorrerá – ou permanecerá – em seu futuro imediato e é capaz de lidar com ele. A consciência situacional está diretamente ligada com a atenção e a memória operacional, por isso, sempre estamos lidando com uma capacidade limitada de ação. O significado de consciência situacional apareceu, em contexto informal, há mais de meio século. Contudo, foi a partir da década de 1990, que passou a tornar-se parte da ciência da aviação. A principal crítica quanto ao conceito é a dificuldade de mesurá-lo, porém, depois que passou a ser levado em consideração, facilitou, em muito, a compreensão geral da situação da tripulação de voo. A avaliação situacional, processo pelo qual a consciência situacional é ativada, se dá em três níveis: perceber a situação (reconhecer o que está acontecendo); compreender a situação (entender o acontecimento como um todo); projetar a situação (projetar um cenário em antecedência, evitando as próximas ocorrências). O sucesso em cada estágio depende da eficácia do estágio anterior. A Autoridade Australiana de Aviação, em um documento oficial, declara que 80% dos acidentes de trabalho nas indústrias se dão pela falta da consciência situacional em sua prevenção. São comuns, depois desse tipo de acidente, frases como eu não percebi isso , eu estava tão ocupado cuidando de ou estávamos convencidos de que . Dentro do cenário da aviação, podemos dar o exemplo do Controlled Flight Into Terrain (CFIT), que é um acidente que ocorre quando as condições de aeronavegabilidade estão normais, mas o piloto colide com algum obstáculo, com a água ou com o solo. É um acidente arquetípico, causado pela perda da consciência situacional, mas pode ocorrer também devido à não realização dos procedimentos padrões ou de aproximações visuais ou por instrumentos que não geram dados precisos o suficiente. DEFINIÇÃO DA CONSCIÊNCIA SITUACIONAL Definida a consciência situacional como a percepção dos elementos de um ambiente, em um determinado tempo e espaço, e a projeção de seu estado futuro, explicaremos melhor sobre seus três níveis, sendo eles: // 1. A percepção dos elementos no ambiente O primeiro nível da consciência situacional é a percepção das características e elementos relevantes no ambiente. Um indivíduo precisa estar atento a alguns elementos, como outras aeronaves no pátio ou durante a navegação, o terreno, o sistema de dados da aeronave, as luzes de aviso dentro do cockpit etc. DICA Você precisa obter informações de várias fontes; não apenas de dentro da aeronave. Instrumentos, informações sobre combustível, estado do motor, bem-estar dos passageiros, clima e navegação são alguns dos aspectos que devem estar introjetados em um profissional de aeronáutica. // 2. Compreensão da atual situação Quando falamos de compreensão, não estamos nos referindo apenas ao entendimento superficial dos agentes que compõem um ambiente, mas também de todo potencial de ação que cada um deles têm. Por exemplo, durante uma corrida de decolagem, o piloto, ao perceber (nível 1) uma luz de alerta no painel que indica um problema na aeronave, precisa compreender rapidamente a seriedade do problema (nível 2), como também, o quanto de pista lhe resta, para que ele saiba se é uma ocasião na qual ele pode abortar a decolagem. Um piloto novo pode ter a mesma capacidade que um experiente para compreender o primeiro nível na consciência situacional, mas não será capaz de captar as várias informações e elementos na mesma velocidade que o outro, pois elas dependem da experiência que ele tem com esse tipo de situação. // 3. Projeção futura O terceiro e último nível da consciência situacional é a previsão, ou seja, a capacidade de antever um acidente que pode ocorrer em um futuro próximo e, dessa forma, se adaptar melhor aos riscos e desafios que determinada situação traz. Através da experiência acumulada e com base em treinamentos técnicos, a tripulação deve fazer projeções e antecipar os efeitos de seus atos. Isso significa estar à frente da aeronave. Gráfico 1. Níveis de consciência situacional. REQUISITOS DA CONSCIÊNCIA SITUACIONAL Com base nessa explicação, fica evidente a necessidade de exercer constantemente a consciência situacional para a elucidação dos elementos de um processo. Comentamos alguns problemas comuns que podem ocorrer durante a carreira de um piloto, mas é sempre bom deixar claro que cada ambiente operacional terá suas especificidades, e algo que funciona na aviação comercial pode muito bem não funcionar na aviação militar e vice-versa. Explicaremos de forma mais detalhada alguns dos elementos essenciais aos quais o piloto deve estar atento a seguir. FATORES INDIVIDUAIS QUE INFLUENCIAM A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL Para que possamos entender os processos e fatores que influenciam o desenvolvimento da consciência situacional, foi criado um organograma que descreve fatores relevantes à consciência situacional. De modo geral, a consciência situacional na aviação é desafiada pelas limitações humanas de atenção e memória operacional. O desenvolvimento dessas capacidades, o direcionamento decisório e a automatização das funções através da experiência e treinamento são os principais mecanismos para ultrapassarmos essas limitações. A atenção no universo da aviação, o desenvolvimento da consciência situacional e o processo de decisão são limitados pela atenção e capacidade de memória operacional de cada um. É necessário que esses elementos sejam percebidos e processados pelo piloto para que ele possa tomar as decisões adequadas. É importante salientar que, devido aos complexos e dinâmicos ambientes da aviação, com suas sobrecargas de informações e tarefas difíceis, é comum que algum erro acabe passando pelo crivo do piloto, pois nossa capacidade de atenção é limitada. De acordo com os reportes de acidentes do NTSB (National Transportation Safety Board), uma consciência situacional pobre, resultada de problemas de atenção, constituem cerca de 31% dos acidentes ocasionados por erro humano. Para contornar esse problema, os pilotos empregam um processo de amostragem de informações, numa sequência rápida, ditada pela memória de longo prazo. Também é importante o uso da memória de curto prazo, para que o indivíduo consiga alterar seu foco de acordo com os objetivos e informações que recolhe. Contudo, nem sempre as pessoas têm uma amostragem otimizada da informação, resultando em falhas como: 1 Formação de estratégias não otimizadas, baseadas em uma percepção errônea das propriedades dos elementos no ambiente; 2 Dominância visual, que faz com que os pilotos negligenciem as informações obtidas através dos meios aurais (GPWS, TCAS etc.); 3 Limitações da memória humana, as quais conduzem a lembranças imprecisas das propriedades estatísticas da amostragem. Adicionalmente a isso, na ocasião de uma sobrecarga de informações, os indivíduos podem entender que o processo de amostragem não é o suficiente ou eficiente. Nesse caso, ele pode escolher atender a uma determinada informação, negligenciando alguma outra (intencionalmente ou não). Caso o piloto esteja correto em sua escolha, tudo ocorrerá bem. Contudo, em muitas circunstâncias, quando há uma sobrecarga de informações, este não será o caso. O modo como a informação é recebida é diretamente afetado pelas memórias operacional e de longo prazo. O conhecimento das características de uma situação pode facilitar significativamente a percepção do piloto sobre algum dado. Esse tipo de conhecimento é obtido através da experiência, dotreino e de uma análise pré-voo. As preconcepções e expectativas sobre uma determinada informação podem influenciar a precisão e velocidade da percepção do indivíduo sobre ela. A experiência obtida por repetição permite que o indivíduo desenvolva adequadamente suas expectativas sobre os eventos futuros (nível 3). Os indivíduos conseguem processar mais rapidamente as informações se elas estiverem de acordo com suas expectativas. Contudo, serão mais propensos a cometerem um erro se estiverem errados. A capacidade de memória de operacional também pode atuar como limitadora da consciência situacional. Na ausência de outros mecanismos, grande parte de todo o processamento ativo de informações de um indivíduo ocorre na memória operacional, o que, em muitos casos, pode sobrecarregá-la. O segundo nível da consciência situacional envolve a compreensão do significado das informações que são percebidas – novas informações devem ser combinadas com o conhecimento existente. Tal processo, além de se tornar muito desgastante, pode levar a uma sobrecarga da memória operacional, diminuindo ainda mais a capacidade do indivíduo de adquirir novas informações. Ademais, as projeções futuras e as decisões subsequentes também são processadas da mesma forma. A prevenção de riscos impõe uma carga de trabalho muito grande para a memória operacional, exigindo a manutenção das atuais condições, das condições futuras, das regras usadas para gerá-las e das ações apropriadas para tal. Entretanto, pilotos experientes podem recorrer ao uso da memória de longo prazo, pois alguns desses conhecimentos foram concretizados por sua experiência. Mesmo assim, ela também possui uma capacidade de armazenamento limitada. Estes mecanismos proporcionam a integração e compreensão das informações, bem como a projeção de eventos futuros. Eles também permitem a tomada de decisões com base em informações incompletas e sob incerteza. Pilotos experientes frequentemente têm representações internas do sistema com o qual estão lidando – um modelo mental. Um modelo mental bem desenvolvido fornece: 1 Conhecimento dos elementos do sistema que podem ser usados para direcionar a atenção e classificar as informações no processo de percepção; 2 Um meio de integrar elementos, formando uma compreensão de seu significado; 3 Um mecanismo para projetar estados futuros do sistema com base em seu estado atual e na compreensão de sua dinâmica. THREAT AND ERROR MANAGEMENT (TEM) O Threat and Error Management (TEM) é um protocolo introduzido na década de 1990, seguindo os regulamentos da EASA FCL, para o controle e gerenciamento de problemas na operação das aeronaves. Usando a teoria dos acidentes do professor James Reason, ele apresenta três elementos relevantes para a tripulação; as ameaças, os erros e os estados indesejáveis nas aeronaves, de forma que os dois primeiros levam ao terceiro. O foco do TEM não está em eliminar completamente todo erro na operação – ao contrário, ele parte da aceitação de que estes serão cometidos, e busca gerenciar da melhor forma suas consequências. THREAT AND ERROR MANAGEMENT (TEM) E A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL Os três níveis da consciência situacional estão alinhados com o objetivo central do TEM: para que se evite uma ameaça, é necessário que possamos projetá-la com antecedência. Para que possamos capturar uma ameaça ou erro, é necessário que venhamos a entender a situação. Se não viermos a entender a situação, então, estaremos mais propensos a cometer um erro, que exija uma mitigação. A consciência situacional e a teoria do processamento da informação parecem ter muitos elementos em comum, sendo, de certa forma, intercambiáveis. Alguns preferem discutir questões baseando-se no primeiro, outros, no segundo. O processamento da informação começou como uma ferramenta teórica para nos auxiliar a explicar o fenômeno cognitivo. Por exemplo, o estudo da memória e da percepção, na teoria da consciência situacional, foi iniciado por profissionais que buscavam elucidar o processo de avaliação e compreensão de situações no mundo real, o qual, mais tarde, seria expandido pelos cientistas. Por essa razão, a consciência situacional se mostra muito prática e versátil para elucidar os processos iniciais de execução de uma tarefa (decisões a serem tomadas, performances etc.). É verdade que alguns instrutores substituem os estágios iniciais do processamento da informação pela consciência situacional, substituindo as partes posteriores por "a tomada de decisão" e elaborando um modelo simples para elucidar a tomada de decisões com base em uma boa consciência situacional. É importante reconhecer que todas as teorias (mesmo as cientificamente sustentáveis) não são fatos absolutos, mas meios para nos ajudar a compreender o mundo à nossa volta. Assim, não devemos nos tornar excessivamente focados na natureza exata dos vários modelos teóricos, mas usá-los para apoiar e explicar nossas aplicações práticas. APLICAÇÃO DA CONSCIÊNCIA SITUACIONAL A consciência situacional se resume no conhecimento que um piloto tem sobre o que está acontecendo a sua volta. Por exemplo, onde estamos geograficamente, qual a nossa orientação no espaço etc. Quase todos os estudos de caso têm elementos internos que podem ser explicados pela perda da consciência situacional ou atribuídos à sua degradação. Ao estudarmos um acidente, é sempre tentador atribuir sua causa à perda de consciência situacional ou a um nível insuficiente dela, mas é importante que não fiquemos presos nessa concepção. A consciência situacional perdida/reduzida é um termo que às vezes é vulgarmente utilizado, muitas vezes, sem analisar a ocorrência em profundidade. Na verdade, não é uma tarefa difícil identificar sobre o que a tripulação de um voo estava ou não ciente durante uma operação, contudo, o desafio é descobrir o porquê – determinar se as circunstâncias poderiam ter sido razoavelmente previstas. Muitas vezes, uma equipe perde a consciência situacional porque estava concentrada em outras coisas, por isso, é crucial analisarmos se a equipe tomou o curso de ação razoável na prevenção. Devemos lembrar que, se a tripulação for distraída de alguns elementos importantes, o tempo e o esforço que eles terão para desempenhar a ação corretamente tornarão baixos os processos de consciência situacional. Isso nos auxilia a explicar a perda, mas não nos auxilia a explicar o porquê das escolhas que eles tomaram. No que se refere à manutenção e atualização da consciência situacional geral, é importante que tenhamos o maior número de fontes de informação possível. Isto evita problemas causados por fontes não confiáveis ou erros na interpretação. Quando somos dependentes de uma única fonte, frequentemente ela pode se mostrar como falsa ou equivocada, tornando a nossa consciência situacional vulnerável. O exemplo abaixo ilustra adequadamente o problema; o piloto dependia unicamente de um VOR (que havia colocado erroneamente), e não usou outras fontes para que sua consciência situacional pudesse ser atualizada, como um mapa por exemplo. CITANDO Nesse exemplo, retirado do Flight-crew human factors handbook, da Autoridade Civil de Aviação inglesa, o piloto, que tinha como fonte de informação apenas seu VOR, acabou por perder o rumo de sua aeronave: "Para voltar antes de escurecer, decidi seguir um radial de VOR aproximadamente a sudeste para Bovingdon. Mas então, eu acidentalmente selecionei a frequência do VOR de Heathrow! O porquê de eu não ter verificado a frequência, eu nunca saberei. Meu próximo erro foi confiar totalmente no VOR (eu não tinha DME, então, estava apenas esperando a agulha do VOR). Eu devo ter olhado para o chão várias vezes, mas de alguma forma não calculei um problema; provavelmente eu estava focado em fazer um bom trabalho de buscar a radial (não sendo classificado pelo IMC). Se eu tivesse verificado no mapa,teria notado algo errado. Felizmente, antes de chegar muito perto de Heathrow, o tempo me atrapalhou um pouco, apesar de ter que me reorientar, eu reconheci o Wycombe Air Park abaixo e percebi que estava confuso! Eu consegui resolver isso e entrar antes de escurecer apenas. Muitas lições aprendidas e nenhum dano causado - graças a uma nuvem." (CIVIL AVIATION AUTHORITY, 2014, tradução livre). DESAFIOS PARA A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL A seguir, citaremos alguns fatores que podem dificultar o desenvolvimento da consciência situacional em uma tripulação. Estresse: o estresse é a nossa resposta para condições ambientais desfavoráveis – é como o nosso corpo reage às demandas colocadas sobre ele. Podemos pegar como exemplo a tensão aplicada na usina elétrica, quando excede o fator de carga originalmente projetado para ela, levando ao enfraquecimento ou quebra do componente afetado. Desta mesma maneira, se são impostas demandas excessivas em uma tripulação, é possível que esta exceda a capacidade de atendê-las com desempenho. Isso resulta numa deterioração na capacidade do indivíduo em lidar com a situação, dando origem a respostas fisiológicas e psicológicas (mentais) que podem afetar o desempenho de toda a operação. O estresse físico ocorre quando as condições externas exercem pressão sobre os mecanismos homeostáticos do corpo ou, em casos extremos, os anulam. Estresse mental ocorre quando a demanda recebida excede a capacidade de percepção. Um indivíduo pode ser comparado de alguma forma a um balde – ele funciona bem, mas têm uma capacidade máxima de água que pode ser armazenada. Quando essa capacidade for excedida, o balde não aguentará mais e transbordará. Assim como os baldes vêm em diferentes formas e tamanhos, diferentes indivíduos têm diferentes capacidades e habilidades para lidar com a situação. O estresse em um ser humano pode ser definido como a resposta inespecífica do corpo às demandas colocadas sobre ele, sejam essas exigências agradáveis ou desagradáveis (CIVIL AVIATION AUTHORITY, 2014). Uma pressão, tensão ou força não resolvida, agindo sobre os sistemas mentais ou físicos do indivíduo, causará danos a eles. Assim, o estresse contínuo causa sintomas físicos, como insônia, perda de apetite, dor de cabeça, irritabilidade etc. O estímulo para o estresse é conhecido como estressor, que é a força que produz uma mudança no equilíbrio autorregulado entre o ambiente interno e externo do indivíduo. Esse estímulo exigirá uma resposta, que pode ser psicológica ou fisiológica, e essa resposta é o estresse. O estresse é uma parte inescapável da vida humana – é impossível viver sem experimentá-lo em algum grau, seja em casa, durante o trabalho ou no lazer. Além disso, uma quantidade ideal de estresse é necessária para que um indivíduo funcione eficientemente e realize uma determinada tarefa, como voar uma aeronave. Sobrecarga de estresse: fatores de estresse são cumulativos. Cada indivíduo tem um limite de estresse pessoal que, quando excedido, ocorre a sobrecarga, que pode resultar em uma incapacidade de lidar com o trabalho. Esse limite varia de pessoa para pessoa, pois é afetado por suas características fisiológicas e psicológicas. Por exemplo, alguns indivíduos têm a capacidade de desligar e relaxar, reduzindo assim os efeitos dos estressores. Outros não estão tão bem equipados, e o nível de estresse aumenta de forma inaceitável. Quando isso ocorre em pessoas que trabalham em um ambiente relacionado à segurança, como a tripulação de um voo, controladores de tráfego aéreo ou engenheiros de aeronaves, pode trazer sérios danos na operação em geral. Existe uma crença que diz que admitir sofrer de pressão é um sinal de fracasso na capacidade de atender às demandas do trabalho. Por causa disso, um indivíduo pode não reconhecer ou aceitar a existência emergente de sintomas relacionados ao estresse. A negação é uma tentativa de manter a autoestima, mas, uma vez que os sintomas são aparentes, mudanças comportamentais como agressão ou dependência de álcool podem acabar aparecendo. Tais atitudes levam a uma ação disciplinar, que poderia ter sido evitada se houvesse um reconhecimento precoce da situação em desenvolvimento e pela intervenção e apoio adequados. CURIOSIDADE Há muito tempo é uma cultura aceita na aviação que a tripulação de voo e outras pessoas devam ser capazes de lidar com qualquer pressão ou situação, e o treinamento é direcionado para o desenvolvimento dessa capacidade no indivíduo - a atitude "posso fazer". É muito importante que um profissional da aviação saiba lidar com o estresse, mas é necessário entender o limite entre uma pressão saudável e um problema sintomático. Ansiedade: a ansiedade cria a preocupação e, por sua vez, qualquer forma de preocupação pode levar ao estresse. A ansiedade é produzida quando um indivíduo sabe que não tem controle sobre os eventos, ou não tem o conhecimento necessário para lidar com eles. É particularmente prevalente em pessoas que, por uma razão ou outra, carecem de autoconfiança. Tal fator pode ser alterado aumentando o conhecimento e ganhando maior proficiência na operação de uma aeronave, exigindo maior dedicação ao estudo e treinamento de voo. O estado mental de um indivíduo influencia diretamente seu bem-estar – fatores psicológicos e emocionais como medo, raiva, frustração, preocupação e ansiedade podem, com o passar do tempo, afetar aspectos físicos. Estresse e ansiedade são parte inevitável da vida humana e, em pequenas quantidades, são necessários para obter um bom desempenho no trabalho. As pessoas respondem de diversas maneiras às cargas de alta tensão. Além dos efeitos sobre o comportamento, como a agressividade, irritabilidade ou a frustração, vários mecanismos psicológicos podem entrar em jogo na tentativa de lidar com a situação, como por exemplo: Quadro 1. Respostas ao estresse O estresse é frequentemente interpretado pelo cérebro como uma ameaça. Isso deriva de sua origem primitiva (quando, de fato, os seres humanos precisavam correr de animais na savana ou enfrentar invasores). Nessas situações, o organismo libera adrenalina (epinefrina), o que causa um aumento na pressão sanguínea, frequência cardíaca e uma respiração mais profunda. GERENCIAMENTO DE ESTRESSE No dia a dia, é inevitável que recebamos uma certa dose de estresse. Em determinadas situações, ele pode, inclusive, ser benéfico para o nosso desempenho, visto que é um fator de motivação. No entanto, a sobrecarga de estresse pode provocar o efeito contrário, de tal forma que é necessário encontrar uma maneira de reduzir seus efeitos. O primeiro passo para a redução do estresse, é reconhecer quando se está chegando ao seu limite normal; inevitavelmente, esta é uma avaliação pessoal baseada em uma compreensão de sua própria capacidade. Antes de voar, o indivíduo deve ter em consideração seu estado emocional e seu bem-estar, não apenas sua condição física. O treinamento de voo gera autoconfiança e um forte desejo de completar a tarefa em mãos. Mesmo assim, pilotar uma aeronave não é uma tarefa fácil, portanto, reconhecer e admitir quando seu limite está próximo de ser alcançado é essencial. A manutenção do bem-estar físico pode ajudar a desenvolver uma resistência ao estresse. As ações para lidar com o estresse incluem: 1 Reconhecer os fatores que estão se combinando para causá-lo. Avalie a situação para ver quais deles estão presentes; 2 Lidar com os fatores que podem ser removidos. Alguns deles podem ser resolvidos apenas por reconhecê-los pelo que são e, mentalmente, colocá-los de lado; 3 Se o estresse está sendo produzido por sobrecarga, faça uma pausa para organizar uma lista de prioridades; 4 Não permitir que problemas de baixa prioridade influenciem quando você não pretende lidar com eles. Em voo, siga os procedimentos operacionais padrão e use a checklist; 5 Gerenciarseu tempo. Saber quanto dele é necessário para distribuir cada item ajuda a desenvolver um ciclo de atividade; 6 Quando apropriado, delegar deveres e aprender a descarregar; 7 Envolver outras pessoas. Comunicar e evitar o isolamento é uma forma eficaz de diminuir o número de estressores na equação; 8 Em situações de estresse agudo, aprenda a reconhecer o que está ocorrendo. Descansar o físico e a mente pode ajudar a relaxar conscientemente os músculos sempre que estiver tenso ou estressado; 9 Se a situação permitir, fazer uma pequena pausa ajuda refrescar ou relaxar. Em voo, entregue o controle a outro membro da tripulação quando for possível; 10 A aptidão física parece tornar algumas pessoas mais resistentes ao estresse. Fazendo refeições balanceadas regulares e entregando-se a atividade física várias vezes por semana é importante para a saúde geral; 11 Ser positivo e lidar com responsabilidades e problemas à medida que eles ocorrem. Evite adiar as coisas na esperança de que elas desapareçam; 12 Reconhecer as próprias limitações e evitar o excesso de comprometimento; 13 Finalmente, lembre-se de que o pensamento claro, livre de preocupações emocionais ou físicas, é essencial para planejamento de voo e sua condução segura. Os acidentes e incidentes em voo podem ocorrer porque os requisitos da tarefa excedem os recursos do piloto, e isso é ainda mais agravado quando os efeitos do estresse reduzem a capacidade de lidar com a situação. CARGA DE TRABALHO A carga de trabalho pode ser traduzida como a quantidade de esforço mental necessário e gasto para processar as informações. É uma área extremamente complexa (e contestada) dentro da ciência, tendo várias interpretações e definições diferentes. Está ligada muitas outras áreas cognitivas e do desempenho do humano, em particular, a atenção, a vigilância, a fadiga, as habilidades e as multitarefas. Em geral, está associada aos aumentos de erros, fadiga e baixo desempenho. Todas as operações conscientes (resolução de problemas, tomada de decisão, pensamento etc.) aumentam a carga de trabalho. A área hipotética do cérebro que lida com toda essa atividade é a memória operacional, sendo, junto da atenção, as chaves para o entendimento do conceito. Quanto mais atenção é usada, maior a carga de trabalho. A alta carga de trabalho aumenta, proporcionalmente, junto a quatro fatores: a dificuldade da tarefa, o número de tarefas sendo executadas em paralelo, o número de tarefas em série e o tempo disponível para cada uma. A alta carga de trabalho contribui para a fadiga. Um excesso de atividades, acompanhado de sentimentos de impotência, podem causar estresse. Todas essas coisas tornam o erro mais provável. Um efeito direto da alta carga de trabalho é o foco da atenção (também chamado de redução da atenção, cotização ou afunilamento). O foco de atenção é uma estratégia muito eficaz para maximizar a concentração em um problema ou ameaça. Por esse foco restrito, outros eventos e estímulos que normalmente desconcentrariam, não o fazem. Sendo assim, informações fora da tarefa podem ser perdidas. Embora tenha um efeito majoritariamente positivo, focar demais a atenção pode fazer com que sinais importantes sejam perdidos. Sob uma tarefa de alta prioridade, um piloto pode não ter a capacidade de avaliar outras áreas, problemas e alternativas. Para fazer algo além do planejamento, a atenção terá de ser desviada da tarefa principal. Além da relutância alterar o foco, tal fato também representa uma mudança total no procedimento. Quando toda a atenção está focada em um elemento da operação (como uma emergência), por consequência, a consciência situacional de outros aspectos e o quadro mais amplo sofrerão. A consciência situacional é, portanto, tão provável de ser perdida sob uma carga de trabalho muito baixa, quanto em uma alta. DEFINIÇÃO DA CONSCIÊNCIA SITUACIONAL REQUISITOS DA CONSCIÊNCIA SITUACIONAL FATORES INDIVIDUAIS QUE INFLUENCIAM A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL THREAT AND ERROR MANAGEMENT (TEM) THREAT AND ERROR MANAGEMENT (TEM) E A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL APLICAÇÃO DA CONSCIÊNCIA SITUACIONAL DESAFIOS PARA A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL GERENCIAMENTO DE ESTRESSE CARGA DE TRABALHO
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