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Custo de capital APRESENTAÇÃO Para viabilizar as suas operações, as empresas necessitam de recursos, que compõem o capital da empresa. Esses recursos podem ser oriundos de acionistas, que detêm o patrimônio líquido, ou de dívidas, que geram despesas financeiras para a empresa. Os recursos provenientes de acionistas são denominados capital próprio e os originários de dívidas, capital de terceiros. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá analisar os componentes de capital de empresa e determinar o "custo de capital próprio", "custo de capital de terceiros" e "custo de capital total da empresa". Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Estimar o custo de capital próprio.• Calcular o custo de capital de terceiros.• Determinar o custo de capital da empresa.• DESAFIO A empresa Branca de Neve é especialista na fabricação de roupas e contratou você como consultor financeiro para auxiliá-los na organização e planejamento da área financeira da companhia. Atualmente, a empresa possui alto grau de concentração de Capital Próprio na estrutura de capital da empresa, com o Capital de Terceiros correspondendo a somente 5% do Capital Total e o Capital Próprio por 95%. A empresa é optante pelo regime de lucro real, sendo a carga tributária de imposto de renda de 34% O custo de Capital Próprio da empresa é semelhante ao custo de Capital de Terceiros, porém o presidente acredita que uma redistribuição da estrutura de capital, aumentando a parcela do capital de terceiros, beneficiará a empresa, aumentando o resultado financeiro. Foi, então, solicitado que você elabore um estudo comparativo sobre o impacto do aumento do capital de terceiros na estrutura de capital da empresa. Para auxiliá-lo, considere que os custos de capital de terceiros e próprios são iguais a 20%. A visão do presidente está correta? Utilize o estudo comparativo como suporte. INFOGRÁFICO No infográfico, você aprenderá como calcular o custo de capital da empresa. Maycon Carbone Carimbo Maycon Carbone Carimbo CONTEÚDO DO LIVRO As empresas precisam de recursos para financiar as suas atividades. Esses recursos são denominados capital da empresa e são oriundos dos aportes feitos pelos acionistas (capital próprio) e credores (capital de terceiros). O custo de capital da empresa representa a taxa de rentabilidade mínima que a empresa precisa obter para atender à expectativa de todos os seus investidores, por meio do capital próprio e o capital de terceiros. Saiba mais sobre o assunto no capítulo Custo de capital, do livro Análise de riscos, que é a base teórica desta unidade. ANÁLISE DE RISCO Iraneide Azevedo Custo de capital Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir as premissas fundamentais do custo de capital e as fontes específicas de capital. � Determinar o custo de capital de terceiros de longo prazo e o custo das ações preferenciais. � Relacionar o custo de capital e as novas oportunidades de investimentos. Introdução Você deve saber quanto, em média, paga por seus financiamentos. Se você não toma empréstimos, pode colher benefícios financeiros ao compreender os conceitos de custo de capital. Conhecendo seu custo pessoal de capital, poderá tomar melhores decisões de investimento de longo prazo e maximizar o valor obtido com cada unidade monetária de investimento. O custo de capital utilizado na avaliação de um investimento é função do risco do projeto de investimento. Frente a um novo projeto, a deter- minação do custo de capital a ser usado na avaliação do fluxo de caixa deve começar pela determinação do nível de risco do novo projeto de investimento. Neste capítulo, você irá aprender sobre custo de capital, suas premissas fundamentais e fontes, assim como o custo de capital de terceiros de longo prazo. Vai ainda relacionar o custo de capital e as novas oportu- nidades de investimentos. Visão geral do custo de capital O custo de capital é a taxa de retorno que uma empresa precisa obter nos pro- jetos em que investe, para manter o valor de mercado de sua ação. Também pode ser considerado como a taxa de retorno exigida pelos fornecedores de capital no mercado para que seus fundos sejam destinados à empresa. Se o risco for constante, os projetos com taxa de retorno superior ao custo de capital elevarão o valor da empresa. Aqueles que tiverem taxa de retorno inferior, reduzirão esse valor. Custo de Capital é a taxa mínima requerida utilizada para avaliar o fluxo de caixa de um projeto de investimento. Premissas fundamentais As premissas estabelecidas na determinação do custo de capital são: 1. A empresa opera com custo de capital adequado ao nível de risco do seu negócio. O custo de capital obtido a partir dos custos dos fundos da empresa na data da avaliação do projeto de investimento reflete o risco médio de todos os ativos da empresa. Entretanto, o risco do novo projeto poderá ser diferente do risco médio dos ativos da empresa. 2. A escolha do custo de capital utilizado na avaliação de um investimento é função do risco do projeto de investimento. De outro modo: ■ O custo de capital depende do destino que será dado ao capital da empresa. ■ O custo de capital não depende das fontes de capital, divididas em capital próprio e capital de terceiros. Custo de capital2 Dessas premissas concluímos que: � Se o nível de risco de um novo projeto de investimento for comparável com o nível de risco da empresa, o custo de capital a ser aplicado na avaliação do novo projeto será o mesmo com que a empresa opera. � Da mesma maneira, se o nível de risco de um novo projeto de inves- timento for diferente do nível de risco da empresa, o custo de capital a ser aplicado ao novo projeto será diferente do custo de capital com que a empresa opera. Deste modo, devemos estar preparados para: � Definir o nível de risco de cada projeto de investimento. � Obter o custo de capital adequado para cada projeto. Capital da empresa O responsável pela decisão de investimento da empresa aceitará investir em um projeto se sua taxa de retorno for pelo menos igual à taxa de retorno dos fornecedores de capital da empresa. Por exemplo: � O diretor industrial avaliará se a redução de custos operacionais es- perados da substituição de equipamentos justificará o investimento proposto pelo gerente de produção. � Da mesma maneira, o presidente da empresa avaliará se as receitas esperadas do lançamento dos produtos em regiões ainda não atendidas justificarão o investimento proposto pelo diretor de vendas. A empresa capta seu capital no mercado de capitais emitindo ações pre- ferenciais, ações ordinárias e financiamentos de longo prazo com carac- terísticas próprias de risco e retorno. 3Custo de capital O termo ação ordinária tem significados diferentes para pessoas diferentes. Em geral, aplica-se à ação que tem direito a voto e não tem preferência especial no recebimento de dividendos ou em caso de falência. Já uma ação preferencial se distingue de uma ação ordinária porque tem preferência no pagamento dos dividendos e na distribuição do ativo da empresa em caso de liquidação. Saiba mais sobre estes conceitos no livro Fundamentos de Administração Financeira, Ross et al. (2013). Cap. 8. Comece na p. 247 e siga até a p. 251. Suponha uma empresa cujo capital total de R$ 10 mihões foi fornecido pelas seguintes fontes de capital: � Financiamento de longo prazo, D = R$ 4 milhões. � Ações preferenciais, S = R$ 1 milhão. � Ações ordinárias, E = R$ 5 milhões. O capital total da empresa V é representado pela equação: V = D + S + E V = 4.000.000 + 1.000.000+ 5.000.000 = R$ 10.000.000 Neste exemplo, o capital da empresa está formado com 40% de financiamento de longo prazo, 10% de ações preferenciais e 50% de ações ordinárias. Tidos como conceitos abstratos, o custo de capital de terceiros, kt, custo de capitalpróprio, kp, e custo de capital da empresa, kc, são hoje amplamente utilizados no mundo dos negócios. Custo de capital Custo de Capital, k, é o retorno que os acionistas ou financiadores exigem por investirem capital na empresa. Custo de capital4 A Equação 1 mostra a fórmula do custo de capital: Simbolicamente, onde: j = juros d = dividendos kt = custo de capital de terceiros kp = custo de capital próprio O dividendo é a parte que o investidor recebe por ação da empresa que possui. Por exemplo: se uma empresa paga um dividendo de R$ 0,10, significa que a empresa está pagando dez centavos por ação emitida. Cada acionista recebe os dividendos com base no número de ações que possui, logo, se você tiver 10 ações desta empresa, você irá receber R$1,00 de dividendos. O valor do dividendo pode ser definido por um valor em reais ou como uma porcentagem do preço da ação. A Equação 1 evidencia os principais elementos que determinam o cálculo do custo de capital. Podemos ver que, no numerador, temos as remunerações de capital e, no denominador, os capitais. Nas decisões de orçamento de capital, o custo de capital, k, é a taxa de retorno que a empresa exige em seus investimentos para, no mínimo, manter o valor de suas ações inalterado. É comum surgirem perguntas sobre a viabili- dade econômica do projeto. Será que ele é viável? Trará aumento do valor das ações para os acionistas? As respostas a essas questões estão sempre ligadas ao fluxo de caixa e ao custo de capital da empresa, kc. Se a empresa subestimar o custo de capital, k, poderá decepcionar seus acionistas. Se o capital, k, for superestimado, bons projetos serão abandonados. Qual custo de capital, k, deve ser considerado nas decisões de investi- mento e de financiamento da empresa? A resposta para essa questão é única 5Custo de capital e categórica: o custo de capital da empresa, kc. Porque ao usar apenas capital próprio, a empresa estará incorrendo num custo de capital, k, muito alto. Se utilizar apenas capital de terceiros, com o tempo estará com excesso de endividamento, sendo levada a alto risco e falta de acesso a linhas de crédito. Custo de capital próprio, kp, é o retorno mínimo que os acionistas exigem por sua participação no financiamento permanente da empresa. Fontes específicas de capital Agora vamos tratar da identificação dos custos de fontes específicas de capital e sua combinação para determinar o custo médio ponderado de capital. Nosso interesse limita-se às fontes de fundos de longo prazo disponíveis para a empresa, porque são elas que proporcionam o financiamento permanente. O financiamento de longo prazo sustenta os investimentos da empresa em ativo imobilizado. As empresas contam com quatro fontes básicas de fundos de longo prazo: dívida de longo prazo, ações preferenciais, ações ordinárias e lucros retidos. Essas fontes encontram-se representadas no lado direito do balanço patrimonial (Quadro 1), com o acréscimo do passivo circulante. Balanço patrimonial Passivo Passivo circulante Dívida de longo prazo Patrimônio líquido Ações preferenciais Ações ordinárias Lucros retidos Quadro 1. Balanço patrimonial. Custo de capital6 O custo específico de cada fonte de financiamento é o de sua obtenção agora, após o imposto de renda, e não o custo histórico refletido nos financiamentos registrados na contabilidade da empresa. Embora essas técnicas tendam a desen- volver valores precisos, os resultados são, na melhor das hipóteses, aproximações grosseiras, devido às diversas premissas e previsões que lhes dão origem. Em geral todas as empresas contam com fundos de algumas dessas fontes em sua estrutura de capital. Estrutura de capital É a combinação de todas as fontes de financiamento de longo prazo, dívida ou capital próprio, utilizadas pela empresa. As decisões de investimento, de financiamento e de remuneração dos acionistas buscam maximizar o valor das ações da empresa e, neste sentido, a escolha adequada da estrutura de capital envolve todas as três, abrangendo amplos conhecimentos de conceitos de risco, retorno, custo de capital, alavancagem financeira e valor. A empresa se depara constantemente com novos projetos, novos negócios, novas demandas, novos desafios, que determinam a necessidade de captação de recursos financeiros. Para suprir essa necessidade, ela seleciona várias fontes de financiamento. Nesse processo, avalia as condições gerais da economia, conhece o mercado financeiro, analisa as decisões operacionais e financeiras a serem tomadas, dimensiona as necessidades de recursos a serem financiados e escolhe a estrutura de capital. Capital é o total de recursos, próprios ou de terceiros, que financiam as necessidades de longo prazo da empresa. Há uma diferença importante, a ser estabelecida aqui, entre estrutura financeira e estrutura de capital. A estrutura financeira abrange todo o pas- sivo do balanço patrimonial, recursos de curto e longo prazos. A estrutura de capital abrange apenas os financiamentos de longo prazo, que são recursos estratégicos para a empresa. 7Custo de capital Do ponto de vista das decisões financeiras de longo prazo, o executivo financeiro trabalha com a estrutura de capital, por ser ela voltada aos finan- ciamentos estratégicos da empresa. Fundamentos da teoria do custo de capital A teoria do custo de capital, k, fundamenta-se nos conceitos de risco e retorno e, para isto, procura separar os efeitos que o risco provoca sobre o retorno exigido pelos investidores e pelas instituições financeiras em duas categorias: o risco de negócio e o risco financeiro. Risco de negócio é o risco que a empresa corre de não gerar receitas suficientes para cobrir seus custos operacionais. Embora seja um fator importante na análise dos investidores quanto ao prêmio a ser cobrado na formação do custo de capital, k, não constitui aqui o objeto de nossa avaliação; vamos ao conceito de risco financeiro. Risco financeiro é o risco que a empresa corre por utilizar capital de terceiros. O risco financeiro é resultado direto da decisão de financiamento da em- presa, ou seja, se a empresa se endividar muito, incorrerá em grandes volumes de juros a pagar e amortizações dos empréstimos. Do ponto de vista econômico é o risco de não gerar lucro, antes de juros e impostos, suficiente para pagar os juros e o principal. Quanto ao risco financeiro, a empresa pode tomar três posições distintas: a) conservadora – quando não assume grande endividamento; b) intermediária – quando assume uma posição de médio endividamento. c) agressiva – quando assume grande endividamento. O custo de capital de uma fonte de financiamento de longo prazo pode ser calculado utilizando-se a Equação 2. Observe que se não considerarmos a redução do imposto de renda, estaremos calculando o custo financeiro da captação. Após o imposto de renda, temos o custo de capital da fonte específica. Custo de capital8 onde: kflp = custo de capital de uma fonte de financiamento de longo prazo klr = custo de um título livre de risco prn = prêmio de risco de negócios prf = prêmio de risco financeiro ir = imposto de renda Custo de capital das debêntures, kd, é o retorno exigido pelos debenturistas da empresa. Esse custo, kd, é facilmente estimado usando-se o retorno esperado até o vencimento do título para se obter a taxa interna de retorno. Debêntures são valores mobiliários representativos de dívida de médio e longo prazos que asseguram a seus detentores (debenturistas) direito de crédito contra a companhia emissora. A LG Empreendimentos utiliza sistematicamente debêntures como fonte de financia- mento. No ano passado, o custo das debêntures da empresa foi de 27% ao ano. Na época, o custo de financiamento livre de risco (Selic – juros de papéis do governo) era de 20%; o prêmio de risco de negócios era de 3% e o prêmio de risco financeiro era de 40%. Neste ano, a taxa Selic caiu para 15% ao ano, sendo que o prêmio de risco de negócios caiu para 2%, e oprêmio de risco financeiro, para 1%. Deste modo, caso a LG Empreendimentos lance, e supondo uma taxa de imposto de renda de 34%, seu custo de debêntures seria de: Quando a empresa contrata um financiamento qualquer, o custo deste dinheiro deve ser determinado pela taxa interna de retorno (TIR) do fluxo de caixa gerado. Deduzido o imposto de renda, tem-se o custo de capital de terceiros, conforme será demonstrado a seguir. 9Custo de capital Custo de capital de terceiros, kt Custo de capital de terceiros, kt, é o retorno que os financiadores (como ban- queiros, por exemplo) exigem por seus recursos. onde: kt = custo de capital de terceiros j = juros ct = capital de terceiros A LG Empreendimentos paga juros de R$150.000,00 por ano sobre um empréstimo de R$ 1.000.000,00. O seu custo de capital de terceiros, kt, seria encontrado assim: O custo de capital de terceiros, kt deve ser considerado após o imposto de renda, tendo em vista a dedução de juros. Sendo assim, deve-se deduzir dos juros a parte referente à alíquota de imposto de renda que, no Brasil, para a maior parte das empresas de médio e grande porte, é de 25%. O custo de capital de terceiros depois do imposto de renda, ktir, seria obtido pela Equação 4. Custo de capital10 onde: ktir = custo de capital de terceiros depois do imposto de renda j = juros ir = alíquota de imposto de renda ct = capital de terceiros A LG Empreendimentos paga juros de R$150.000,00 por ano sobre um empréstimo de R$ 1.000.000,00 e está sujeita ao imposto de renda de 25%. Deste modo, o custo de capital de terceiros, kt, depois da dedução do imposto de renda, simbolicamente identificado por ktir, seria de: Custo do capital de terceiros de longo prazo O custo do capital de terceiros de longo prazo (dívida de longo prazo), ri, é o custo atual, após o imposto de renda, do levantamento de fundos de longo prazo por meio de empréstimos. Para simplificar, vamos supor que os fundos sejam levantados por meio da venda de obrigações. Além disso, supomos que as obrigações paguem juros anuais (e não semestrais). Recebimentos líquidos A maior parte das dívidas empresariais de longo prazo é assumida por meio da venda de obrigações. Os recebimentos líquidos com a venda de uma obri- gação, ou de qualquer outro título, são os fundos efetivamente recebidos com tal venda. Os custos de lançamento – o custo total de emissão e venda de um título – diminuem os recebimentos líquidos proporcionados pela venda. Esses custos aplicam-se a todas as ofertas públicas de títulos – dívida, ações 11Custo de capital preferenciais e ações ordinárias – e incluem dois componentes: (1) custos de underwriting – a remuneração paga aos bancos de investimento para realizar a venda do título e (2) custos administrativos – despesas do emitente, como gastos com assessoria jurídica e contábil, impressão e outros. A Duke Corporation, uma grande fabricante de ferramentas, está estudando a possi- bilidade de vender R$ 10 milhões em obrigações com prazo de 20 anos, cupom de 9% (taxa de juros anual declarada), cada uma com valor de face de R$ 1.000,00. Como obrigações com risco semelhante rendem mais do que 9%, a empresa deve vender suas obrigações a R$ 980, [R$ 1.000 – (0,02 × R$ 1.000)] para compensar o cupom inferior. Deste modo, os recebimentos líquidos pela empresa com a venda de cada obrigação serão de: Recebimento líquido = Custos de lançamento – Recebimento esperado Os custos de lançamento são de 2% do valor de face da obrigação: 0,02 × R$ 1.000 = R$ 20. Então, Recebimento líquido = R$ 980 – R$ 20 = R$ 960. Custo do capital de terceiros antes do imposto de renda O custo do capital de terceiros antes do imposto de renda, kd, é igual ao ren- dimento até o vencimento do capital de terceiros de uma empresa ajustado aos custos de lançamento. O custo do capital de terceiros antes do imposto de renda de uma obrigação pode ser feito pelo uso de cotações e cálculo do custo. Uso de cotações Quando os recebimentos líquidos com a venda de uma obrigação equivalem a seu valor de face, o custo antes do imposto de renda é simplesmente igual à taxa de cupom. Por exemplo, uma obrigação com cupom de 10%, cujos recebimentos líquidos sejam iguais ao valor de face de R$ 1.000, teria um custo antes do imposto de renda, rd, de 10%. Custo de capital12 Uma segunda cotação às vezes usada é o rendimento esperado até o ven- cimento (rendimento até o vencimento – YTM, na sigla em inglês) de uma obrigação de risco semelhante. Por exemplo, se uma obrigação de mesmo risco tiver YTM de 9,7%, esse valor poderá ser usado como custo de capital de terceiros antes do imposto de renda, rd. Cálculo do custo Esta abordagem identifica o custo do capital de terceiros antes do imposto de renda por meio do cálculo da taxa interna de retorno (TIR) dos fluxos de caixa da obrigação. Do ponto de vista do emitente, esse valor é o custo até o vencimento dos fluxos de caixa associados à dívida. O custo até o vencimento pode ser obtido com uma calculadora financeira, uma planilha eletrônica ou por tentativa e erro. Representa o custo percentual anual do capital de terceiros antes do imposto de renda. Do ponto de vista do emitente, a TIR sobre os fluxos de caixa de uma obrigação é seu custo até o vencimento; do ponto de vista do investidor, a TIR dos fluxos de caixa de uma obrigação é o rendimento até o vencimento. Essas duas medidas são conceitualmente semelhantes, embora adotem diferentes perspectivas. Saiba mais sobre este assunto no livro Princípios de Administração Financeira. (GITMAN, 2010. cap. 11, pág. 435-437). Custo das ações preferenciais As ações preferenciais representam um tipo especial de direito de propriedade sobre a empresa. Conferem a seus titulares o direito de receber os dividendos estipulados antes que a empresa possa distribuir quaisquer lucros aos titulares de ações ordinárias. Como as ações preferenciais são uma espécie de direito de propriedade, o dinheiro recebido com sua venda tende a ser mantido por um prazo indeterminado. 13Custo de capital Dividendos de ações preferenciais Na maioria dos casos, os dividendos de ações preferenciais são estipulados como uma quantia em dinheiro. Assim, uma ‘ação preferencial a R$ 4’ deve pagar ao titular R$ 4 ao ano em dividendos. Às vezes os dividendos das ações preferenciais são declarados sob a forma de uma taxa anual. Essa taxa representa a porcentagem do valor de face da ação que corresponde ao dividendo anual. Por exemplo, uma ação preferencial de 8% com valor de face de R$ 50 deveria pagar dividendos anuais de R$ 4 (0,08 · valor de face de R$ 50 = R$ 4). Antes de ser calculado o custo das ações preferenciais, quaisquer dividendos expressos como taxas devem ser convertidos em dividendos anuais em dinheiro. Custo das ações preferenciais O custo das ações preferenciais, kp, é o quociente entre o dividendo da ação preferencial e os recebimentos líquidos provenientes da venda dela, pela empresa. Os recebimentos líquidos representam a quantia a ser embolsada, menos quaisquer custos de lançamento. A Equação 6 indica o custo das ações preferenciais, kp, em termos do dividendo anual em dólares, Dp, e dos recebi- mentos líquidos com a venda da ação, Np. Como os dividendos das ações preferenciais são pagos com fluxos de caixa depois do imposto de renda empresa, não se faz necessário qualquer ajuste ao imposto. Custo de capital14 A Duke Corporation está examinando a possibilidade de emitir ações preferenciais a 10%, que espera vender ao valor de face de R$ 87 por ação. O custo de emissão e venda deve ser de R$ 5 por ação. A primeira etapa para identificar o custo da ação é calcular o valor em dólares dos dividendos preferenciais anuais, que é de R$ 8,70 (0,10 · R$ 87). Os recebimentos líquidos por ação com a venda proposta correspondem ao preço de venda menos os custos de lançamento (R$ 87 – R$ 5 = R$ 82). Substituindo o dividendo anual, Dp, de R$ 8,70 e osrecebimentos líquidos, Np, de R$ 82 na Equação 6, temos o custo das ações preferenciais, 10,6% (R$ 8,70 · R$ 82). O custo das ações preferenciais da Duke (10,6%) é muito maior do que o de capital de terceiros de longo prazo (5,6%). Essa diferença existe porque o custo do capital de terceiros (os juros) é dedutível do imposto de renda e também porque as ações preferenciais são mais arriscadas do que a dívida de longo prazo. Obs: No caso do capital próprio a dedução do imposto de renda não ocorre. Custo das ações ordinárias O custo das ações ordinárias, kc, é o retorno exigido pelos acionistas das ações ordinárias por financiarem permanentemente a empresa. Consiste na adoção de um critério baseado no custo de capital de terceiros, kt, mais uma taxa de risco, determinada com base em práticas do mercado. O custo de capital das ações ordinárias será calculado dessa forma: kC = kt + prêmio de risco (Equação 7) A empresa LG Empreendimentos tem custo de capital de terceiros, kt, de 16% ao ano. Por sua condição econômica e financeira, é considerada pelo mercado financeiro como empresa de primeira linha, com baixo grau de risco. Com base em empresas similares, seu risco poderia ser estimado em 6%. Deste modo, o custo de ações ordinárias seria de: kC = 16% + 6% = 22% 15Custo de capital Custo de capital e as novas oportunidades de investimentos O custo de capital da empresa, kc, é o custo de oportunidade a ser utilizado nas decisões de orçamento de capital que avaliam as novas oportunidades de investimentos. A sua utilização é adequada porque ele representa a taxa de retorno de todos os investimentos da empresa e, ao mesmo tempo, o custo de capital médio ponderado de todas as suas fontes de financiamento. Custo médio ponderado de capital O custo médio ponderado de capital (CMPC) é o resultado da soma dos custos ponderados das fontes de capital: ações ordinárias, ações preferenciais e financiamentos de longo prazo. O cálculo é simples: basta multiplicar o custo específico de cada modalidade de financiamento por sua participação na estru- tura de capital da empresa e somar os valores ponderados, conforme abaixo: onde: C = valor das fontes de ações ordinárias; P = valor das fontes de ações preferenciais; F = valor das fontes de financiamentos de longo prazo. V= é soma do valor das fontes de ações ordinárias, ações preferenciais e financiamentos de longo prazo. kc = custo de ações ordinárias; kp= custo de ações preferenciais; kf = custo de financiamento de longo prazo. Custo de capital16 Os valores de mercado das fontes de capital da empresa são: R$ 2.400,00 em ações ordinárias e R$ 1.600,00 em financiamentos de longo prazo. Os custos de capital das ações ordinárias e dos financiamentos são, respectivamente, 14% e 10% ao ano. Deste modo, o custo médio ponderado de capital, considerando a alíquota do imposto de renda de 35% seria de: Neste caso, temos apenas ações ordinárias e dos financiamentos de longo prazo, logo: Assim, e CMPC = 0,6 . 0,14 + 0,4 . 0,10 (1 – 0,35) = 0,11 O custo médio ponderado de capital é de 11%. Caso a empresa considere apenas o custo das fontes específicas de finan- ciamento do projeto, por exemplo, poderá estar onerando os próximos projetos, pois um novo endividamento poderá elevar a percepção do risco da empresa elevando o custo marginal de capital, kmc, dos próximos projetos. Se a empresa obtém a taxa de retorno exigida sobre todas as suas fontes de financiamento, o valor de suas ações não mudará. Dessa forma, o que assegura a maior riqueza dos acionistas é o aproveitamento de oportunidades de capital, cujas taxas de retorno sejam superiores ao custo de capital. A lógica para o uso do custo de capital é a seguinte: 17Custo de capital O gráfico apresentado na Figura 1, ilustra o uso do custo de capital na determinação do orçamento de capital da empresa. As taxas internas de re- torno dos projetos A, B, C e D são maiores que o custo do capital da empresa e deveriam ser aceitos. Os projetos E, F e G têm taxas internas de retorno menores que o custo de capital da empresa e deveriam ser rejeitados. Portanto, o orçamento de capital da empresa deve ser de R$ 22 milhões, que é o total dos investimentos nos projetos viáveis economicamente. É importante destacar duas suposições feitas nesta análise: 1. Todos os sete projetos do gráfico têm riscos equivalentes e, sendo assim, o custo de capital é o mesmo para todos eles. 2. A estrutura de capital da empresa será mantida, evitando-se mudanças no custo de capital da empresa. Quadro 1. Custo de capital. Taxa de retorno dos projetos Riqueza do acionista Taxa interna de retorno > custo de capital Aumenta Taxa interna de retorno = custo de capital Não muda Taxa interna de retorno < custo de capital Diminui Custo de capital18 Figura 1. Oportunidade de investimento e custo de capital. Fonte: Lemes Júnior et al. (2002 p. 230). % 7 14 19 22 28 31 35 TIR= Taxa Interna de Retorno Custo de capital Financiamento (R$ milhões) TIR TIR TIR TIR TIR TIR TIR A B C D E F G Unidades de negócios Quando tratamos de unidades de negócios de uma mesma empresa, preci- samos considerar o risco associado a cada unidade de negócios e o risco da empresa como um todo. Se superavaliar o custo de capital, a empresa poderá estar sacrificando as unidades de negócios, impossibilitando, muitas vezes, a aprovação de bons projetos. Se, por outro lado, subavaliar o custo de capital, poderá possibilitar a aprovação de projetos que prejudiquem a rentabilidade da unidade de negócio e reduzam a riqueza do acionista. O uso do custo de capital da empresa, kc, como taxa de desconto para avaliar fluxos de caixa futuros, só é apropriado quando o investimento proposto tem risco semelhante ao das atividades existentes na empresa, e sem alterar o seu endividamento. Mudanças no risco e na estrutura de capital da empresa exigirão revisão do custo de capital. Quando a empresa tem diferentes divisões operacionais com diferentes riscos, seu custo de capital é uma média dos retornos exigidos das divisões. Em tais casos, o custo de capital para diferentes riscos dentro da mesma empresa precisa ser estabelecido. Em empresas que tenham uma única linha de negócios, a ideia é encontrar uma taxa de retorno dos projetos que supere aquele custo determinado. 19Custo de capital O modelo subjetivo Em virtude das dificuldades que existem na fixação de taxas de desconto para projetos individuais, as empresas podem adotar ajustes subjetivos ao custo de capital da empresa, dependendo da categoria de cada proposta de investimento. Supondo que a LG Empreendimentos tenha um custo de capital da empresa, antes do imposto de renda, keair, de 18,30% e estabeleça um ajuste subjetivo ao risco e aos interesses da empresa, poderá utilizar os seguintes critérios: Categoria Projetos Fator de Ajuste % Keair % Alto risco Novos produtos +5 23,30 Médio risco Reduções de custos, ampliação de linhas existentes 18,30 Baixo risco Substituição de equipamentos existentes –5 13,30 Obrigatórios Equipamento de controle de poluição n/a n/a Em projetos internacionais, poderão ser efetuados ajustes a outros tipos de dificul- dades, tais como, risco cambial, risco político, segmentação do mercado de capital, diversificação internacional. Fazer esses ajustes requer uma grande dose de julgamento e especialização, tanto quanto uma profunda compreensão da teoria financeira. Muitas empresas multinacionais encontram rapidamente a solução estabelecendo taxas subjetivas, em vez de tentar quantificar com precisão os efeitos destes fatores para cada projeto no exterior. Custo de capital20 GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010. LEBARBENCHON, R. F. Análise de viabilidade econômica de implantação de uma filia da Jungle Juice. 2007. 50 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Administração) – Curso deAdministração, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade do Vale do Itajaí, São José, 2007. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Ricardo%20 Francisco%20Lebarbenchon.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2018. LEMES JÚNIOR, A. B. et al. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2002. ROSS, S. A. et al. Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. Leituras recomendadas LAPPONI, J. C. Projetos de Investimento: construção e avaliação do fluxo de caixa: modelos em Excel. São Paulo: Lapponi Treinamento, 2000. ROSS, S. A. et al. Princípios de administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 21Custo de capital DICA DO PROFESSOR No vídeo, você assistirá a uma breve explicação sobre o que é o custo de capital da empresa, sendo dividido em capital próprio e capital de terceiros. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Uma empresa pode financiar suas operações por meio do capital próprio e do capital de terceiros. Dessa forma, o custo de capital total da empresa representará: A) A rentabilidade mínima que a empresa precisa ter para atender à expectativa de todos os seus investidores (acionistas e credores). B) A rentabilidade mínima que a empresa precisa ter para atender à expectativa de todos os seus credores apenas. C) A rentabilidade mínima que a empresa precisa ter para atender à expectativa de todos os seus acionistas apenas. D) A taxa de juros cobrada pelos bancos em um empréstimo. E) A rentabilidade da empresa. Uma determinada empresa deseja calcular o seu custo de capital total. Ela sabe que o seu custo de capital de terceiros é de 18%, porém não conhece seu custo de capital próprio. Sobre o custo dos acionistas, a empresa possui as seguintes informações: Taxa do ativo livre de risco = 5% Taxa de retorno das empresas de seu mercado = 9% 2) Maycon Carbone Realce Beta da empresa = 1,50 Com base nessas informações, qual é o custo do capital próprio? A) 11% B) 14% C) 18,5% D) 9% E) 13% 3) Uma empresa deseja estimar o seu custo de capital de terceiros. Em anos anteriores, a empresa conseguiu captar recursos em uma linha de crédito bancária ao custo de 12% ao ano. Atualmente, a taxa do ativo livre de risco está em 8% ao ano, e empresas com perfil e risco semelhantes estão pagando na captação de recursos um prêmio de risco de 5%. Com base nessas informações, qual é o atual custo de capital de terceiros da empresa? A) 13% B) 12% C) 17% D) 20% E) 5% Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Carimbo Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Carimbo 4) Uma empresa possui sua estrutura de capital distribuída em: 70% em capital próprio e 30% em capital de terceiros. O custo de capital próprio é de 20%, e o custo real de capital de terceiros de 10%. Qual o custo de capital total (WACC) dessa empresa? A) 17% B) 20% C) 14% D) 16% E) 15% 5) Uma empresa possui 60% do seu capital em capital próprio e 40% em capital de terceiros. O custo de capital próprio é de 15%, e o custo de capital de terceiros é de 20%, sendo a alíquota de imposto de 20% e a empresa optante pelo regime de lucro real. Com base nessas informações, qual é o custo total de capital (WACC) da empresa? A) 15,40% B) 17% C) 20% D) 15% E) 16,50% Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Carimbo Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Carimbo NA PRÁTICA A empresa Alfa vem obtendo bons resultados operacionais, porém seu novo gestor financeiro acredita que ela não está trabalhando com a melhor estrutura de capital possível. Por isso, resolveu apurar qual é o real custo de capital da organização. A estrutura de capital da empresa está distribuída em: 70% de capital próprio e 30% de capital de terceiros. O custo de capital próprio é de 12% e o de capital de terceiros é de 15%. A empresa é optante do regime de tributação pelo lucro real, e a alíquota de imposto é de 34%. Dessa forma, o custo de capital total da empresa pode ser apurado utilizando a métrica do WACC, ponderando o custo de cada fonte de participação na estrutura de capital. E como está no regime tributário do lucro real, terá o benefício tributário pelo uso do capital de terceiros. Ou seja, a partir da apuração do custo de capital total da empresa, o gestor pode dar continuidade a muitas outras apurações e verificações sobre o tema, gerando importantes informações para a tomada de decisão sobre a estrutura de capital da empresa. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Indicadores de Custo de Capital Próprio Mensal Leia o artigo Indicadores de custo de capital próprio mensal, no qual temos a estimação do custo de capital próprio de empresas do setor brasileiro. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O que é custo de capital de uma empresa? Leia o artigo O que é custo de capital de uma empresa?, com uma abordagem prática sobre o tema. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Cálculo do Custo de Capital Próprio (Utilizando o CAPM) Este texto se propõe a reciclar o assunto “estimativa do custo do capital próprio”, o retorno mínimo esperado pelos acionistas sobre seu capital empregado num negócio e apresentar um modelo de relatório para que cada empresa possa fazer sua própria estimativa. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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