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Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 1 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Aula 02 – pós-edital Contabilidade Pública para Auditor do TCE/SC Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães 2021 Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 2 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Sumário SUMÁRIO .................................................................................................................................................. 2 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS ................................................................................................................. 3 RECEITA ORÇAMENTÁRIA ....................................................................................................................... 18 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ........................................................................................................................................ 18 RECEITA ORÇAMENTÁRIA ............................................................................................................................................ 19 INGRESSOS EXTRAORÇAMENTÁRIOS ............................................................................................................................. 20 CLASSIFICAÇÕES DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA ...................................................................................... 23 EFETIVA X NÃO EFETIVA .............................................................................................................................................. 23 ORIGINÁRIAS X DERIVADAS ......................................................................................................................................... 24 CLASSIFICAÇÕES DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA SEGUNDO O MCASP ................................................................................. 25 CLASSIFICAÇÃO POR NATUREZA DA RECEITA................................................................................................................... 25 CLASSIFICAÇÃO POR INDICADOR DE RESULTADO ............................................................................................................. 31 CLASSIFICAÇÃO POR FONTE/DESTINAÇÃO DE RECURSOS .................................................................................................. 32 PONTOS RELEVANTES SOBRE RECEITAS PÚBLICAS ........................................................................................................... 33 ESTÁGIOS DA RECEITA ........................................................................................................................... 36 PREVISÃO - PLANEJAMENTO ........................................................................................................................................ 36 A. LANÇAMENTO (EXECUÇÃO)..................................................................................................................................... 36 B. ARRECADAÇÃO (EXECUÇÃO) ................................................................................................................................... 37 C. RECOLHIMENTO (EXECUÇÃO) .................................................................................................................................. 37 CONTROLE E AVALIAÇÃO ............................................................................................................................................ 38 REGIME DE CONTABILIZAÇÃO ................................................................................................................ 39 CONCEITO ................................................................................................................................................................ 39 PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS REFERENTES À RECEITA ORÇAMENTÁRIA .............................................. 41 DEDUÇÕES DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA ........................................................................................................................ 41 Restituição de tributos recebidos a maior ou indevidamente .................................................................................. 41 Renúncia de receitas ........................................................................................................................................... 43 Recursos cuja Tributação e Arrecadação Competem a um Ente da Federação, mas São Atribuídos a Outro(s) Ente(s) .................................................................................................................................................................................... 46 IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE.......................................................................................................................... 47 TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS INTERGOVERNAMENTAIS ............................................................................................... 47 Registro das transferências.................................................................................................................................. 48 REMUNERAÇÃO DOS DEPÓSITOS BANCÁRIOS ................................................................................................................. 49 RECEITA ORÇAMENTÁRIA POR BAIXA DE DÍVIDA ATIVA INSCRITA ........................................................................................ 50 QUESTÕES COMENTADAS ...................................................................................................................... 52 LISTA DE QUESTÕES ............................................................................................................................ 144 GABARITO ............................................................................................................................................ 175 REFLEXÃO ............................................................................................................................................ 176 RESUMO DIRECIONADO ....................................................................................................................... 177 RESUMO DE PRINCÍPIOS ............................................................................................................................................. 177 RECEITAS PARA O MCASP ........................................................................................................................................ 178 RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS VS INGRESSOS EXTRAORÇAMENTÁRIOS ................................................................................ 178 CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS ........................................................................................................... 179 ESTÁGIOS DA RECEITA .............................................................................................................................................. 182 REGIME DE CONTABILIZAÇÃO ..................................................................................................................................... 184 RESTITUIÇÕES DE TRIBUTOS RECEBIDOS A MAIOR OU INDEVIDAMENTE .............................................................................. 184 RENÚNCIA DE RECEITA .............................................................................................................................................. 185 Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 3 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Aula 02 – Procedimentos Contábeis Orçamentários: Receita Pública Olá, pessoal! Nesta e na próxima aula teórica veremos procedimentos contábeis orçamentários, que se encontram na parte I do Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público – MCASP. Isso quer dizer que chegamos à parte da matéria que possui uma interseção coma disciplina de Administração Financeira e Orçamentária – AFO. Ou seja, essas aulas podem ser duplamente úteis pra vocês! Nesta aula veremos conceitos, classificações, regime de contabilização e estágios da receita orçamentária. Prontos? Então vamos lá! Princípios Orçamentários Aspectos introdutórios Pessoal, toda ciência costuma ser permeada de diretrizes e pressupostos básicos, ou seja, de princípios. Essa parte inicial da Contabilidade Pública, que se aproxima bastante de Administração Financeira e Orçamentária – AFO, não é diferente. Pelo contrário, há diversos princípios. Mais coisas para decorar, professor?!? Calma gente, antes de pensar negativamente, vamos lembrar que princípios de uma ciência formam as diretrizes e proposições elementares, condicionando, assim, todos os conceitos subsequentes (Di Pietro, 2015). Isso quer dizer que se os entendermos bem, teremos uma compreensão mais facilitada sobre os demais assuntos, uma vez que o conhecimento das regras básicas estará solidamente incorporado. A ideia por trás do orçamento público é a necessidade de fixar despesas e estimar receitas, uma vez que há muitas demandas de gasto/investimento e escassez de recursos simultaneamente. Assim, surge a necessidade de estabelecer prioridades para otimizar a alocação desses recursos. Exatamente como fazemos em nossas casas consciente ou inconscientemente! O que precisamos saber sobre a elaboração do orçamento público é que todos os anos o Poder Executivo elabora a proposta orçamentária, após consolidação da proposta dos demais Poderes, e envia para o Congresso Nacional para análise, aprovação e posterior encaminhamento para sanção pelo Presidente da República. Voltando aos princípios orçamentários, tenham em mente que eles são norteadores não apenas da elaboração da proposta orçamentária anual, mas também de sua execução, controle e avaliação! Entretanto, os princípios não possuem caráter absoluto, comportando diversas exceções, as quais são alvo constante de cobrança em concursos públicos! Então, sem mais delongas, vamos agora estudar os tais princípios orçamentários. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 4 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Princípio da legalidade Basicamente, o princípio da legalidade estabelece que o gestor público deve observar as normas legais aplicáveis ao assunto em tela, nesse caso a execução financeira e orçamentária. Nesse sentido, o orçamento anual é uma lei, a Lei Orçamentária Anual – LOA, apesar de ter conteúdo de ato administrativo. O mesmo ocorre com as Diretrizes Orçamentárias – LDO e com o Plano Plurianual – PPA, e eventuais alterações de todos esses normativos. Isso se encontra disciplinado na Constituição Federal, no art. 165. Os normativos citados têm o poder de limitar a atuação do poder público, fazendo com que ele se atenha ao disposto em lei, principalmente ao realizar despesas, garantindo, assim, que o interesse público se sobreponha à eventual vontade pessoal dos gestores públicos. Princípio da anualidade É preciso um orçamento para cada ano, correto? Isso é o princípio da anualidade. Ele diz que o exercício financeiro, período ao qual o orçamento público se refere, coincide com o ano civil (Lei nº 4320/1964, art. 34). Contudo, há uma exceção! Os créditos especiais e extraordinários, os quais conceituaremos mais adiante, abertos nos últimos QUATRO MESES do exercício, podem ser reabertos no exercício seguinte com seu saldo remanescente (CF/1988, art. 167, §2º). Por ora, é o bastante que você saiba que os créditos originalmente incluídos no orçamento anual correspondem aos créditos ordinários e que qualquer alteração neles ao longo do exercício financeiro constitui crédito adicional, sendo os créditos especiais e os extraordinários espécies do gênero crédito adicional. Ok? Vamos ao próximo princípio. Princípio da unidade/totalidade Imagine que você e sua família tentassem fazer um orçamento e que cada integrante que recebe salário fizesse seu próprio orçamento. Não daria certo, não é mesmo? Visando evitar isso, o princípio da unidade/totalidade estabelece que o orçamento deve ser UNO dentro de cada ente federativo, seja município, estado ou União, para cada exercício financeiro. Em outras palavras, para cada exercício financeiro e cada ente federativo, só pode haver UM orçamento (CF/1988, art. 165 e Lei nº 4.320/1964, art. 2º). Lei nº 4.320/1964: Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. CF/1988 § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 5 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública À primeira vista isso parece óbvio, não é mesmo? Como poderia haver orçamentos paralelos dentro de um mesmo ente federativo? No entanto, esse princípio faz todo sentido se considerarmos que antes da Constituição de 1988 havia três orçamentos (fiscal, monetário e das estatais), os quais não eram consolidados. Havia, portanto, uma situação caótica do ponto de vista orçamentário. Atualmente, como já mencionado, o orçamento é UNO. Todavia, a Carta Magna dispôs que a Lei Orçamentária Anual contém: • o Orçamento Fiscal; • o Orçamento da Seguridade Social; e • o Orçamento de Investimento. Apesar disso, eles são consolidados e reunidos na Lei Orçamentária Anual – LOA, permitindo ao Ente uma visão geral sobre o conjunto de suas finanças públicas. Fique atento Atenção! As bancas adoram cobrar a esse princípio! Não caia na “pegadinha” de que uma vez que há três documentos formando a LOA, o orçamento deixa de ser o uno. O princípio da unidade/totalidade nos diz que esses documentos são consolidados em uma única peça, a LOA. Vamos ver como esse assunto caiu em prova: (Cespe – DEPEN – 2015) O princípio orçamentário da unidade, que prescreve a formulação de um orçamento único, não é observado pela Constituição Federal brasileira, que determina a existência dos orçamentos fiscal, da seguridade social e de investimentos das estatais. RESOLUÇÃO: Dito e feito! A “pegadinha” clássica. Gente, a questão está errada, porque o orçamento anual (ou seja, a LOA) é UNO, sendo formado por esses três documentos (orçamentos fiscal, da seguridade social e de investimentos das estatais). Ok? Além disso, a Lei 4.320/64, Art. 2°, estabelece que: §2º A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. Gabarito: ERRADO Princípio da universalidade Se você se dispusesse a fazer um orçamento familiar, não faria sentido deixar parte da remuneração e/ou das despesas da família de fora, certo? Claro que a melhor maneira seria relacionar todas as receitas e despesas. O princípio da universalidade traz justamente essa ideia, estabelecendo que o orçamento anual deve conter todas as receitas e despesas que serão realizadas ao longo do exercício financeiro. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 6 de 185| www.direcaoconcursos.com.br ContabilidadePública A importância desse princípio está em que o Congresso Nacional, responsável pela aprovação do orçamento anual e, portanto, pela autorização dos gastos, possa controlar eficazmente as finanças públicas. Esse princípio está normatizado na Lei nº 4.320/1964, arts. 2º, 3º, e 4º. Vejamos: Lei nº 4.320/1964: Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade universalidade e anualidade. Art. 3º A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da administração centralizada, ou que, por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no artigo 2°. A ideia é que esse princípio envolva o orçamento de todas as entidades do setor público, o que reforça o controle do Congresso Nacional sobre o Executivo acerca da execução orçamentária e financeira. No entanto, não enxerguem o orçamento como algo totalmente engessado. Ele é passível de alterações ao longo do exercício, como veremos mais adiante. Existem, inclusive, exceções a esse princípio trazidas pela doutrina e pela jurisprudência. Vejamos: Cobrança de tributo instituído após a aprovação do orçamento e antes do início do exercício financeiro a que ele e referir (Súmula STF 66). Ingressos e dispêndios extraorçamentários: tais como depósitos em caução e emissão de papel-moeda). Orçamento operacional das estatais independentes Observação 1.: veremos adiante a definição exata de ingressos e dispêndios extraorçamentários. Por ora, saiba que o conceito não é tão simples quanto “não estar no orçamento”. Observação 2.: lembrem-se que faz parte da LOA o orçamento de investimentos das estatais, que são os recursos destinados pelo poder público para aporte nas empresas visando o aumento de participação acionária. No entanto, a exceção traz o orçamento operacional das estatais independentes, ou seja, todas as demais receitas e despesas das estatais independentes que não as destinadas a aumento de participação acionária. Vamos ver como isso foi cobrado em prova: Questão para fixar (Cespe – FUB – 2016) O princípio orçamentário que estabelece que a lei orçamentária deve conter todas as despesas e todas as receitas do Estado é o princípio da universalidade. RESOLUÇÃO: Exatamente! Isso é justamente o que diz o princípio da universalidade na Lei nº 4.320/1964. Vejamos: Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 7 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Art. 3º A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei. Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da administração centralizada, ou que, por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no artigo 2°. Gabarito: CERTO Princípio do orçamento bruto Para que os registros sejam fidedignos, é necessário que todas as transações sejam registradas e não haja “encontro de contas”, descontos e/ou compensações de despesas com receitas de forma a apenas informar o valor líquido das operações. Nesse sentido, o princípio do orçamento bruto estabelece que todas as parcelas de receitas e despesas contidas no orçamento anual devem ser descritas pelos seus valores brutos, ou seja, são vedadas quaisquer deduções. Esse princípio também objetiva que o Congresso Nacional, representante do povo e responsável pela aprovação da LOA, tome conhecimento correto dos valores do orçamento anual, propiciando um controle eficaz das finanças públicas. Esse princípio está normatizado na Lei nº 4.320/1964, art. 6º: Lei nº 4.320/1964: Art. 6º Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções. § 1º As cotas de receitas que uma entidade pública deva transferir a outra incluir-se-ão, como despesa, no orçamento da entidade obrigada a transferência e, como receita, no orçamento da que as deva receber. Vamos ver como isso foi exigido em prova: Questão para fixar (Cespe – Polícia Federal – 2014) Na contabilização do total de receitas, deduzir o valor a ser inscrito na dívida ativa tributária da União descumpre o princípio orçamentário da programação. RESOLUÇÃO: Pessoal, essa questão está errada, por ser essa uma aplicação do princípio do orçamento bruto e não da programação. Vamos rever a definição na Lei nº 4.320/1964: Art. 6º. Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções. Gabarito: ERRADA Princípio da exclusividade O princípio da exclusividade estabelece que a lei orçamentária anual não tratará de matéria diversa ao orçamento. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 8 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Pode parecer estranho que algo tão óbvio precise ser normatizado, mas antigamente era comum que diversas matérias estranhas ao orçamento fossem incluídas no projeto de lei orçamentária na esperança de que fossem aprovadas rapidamente "pegando carona” no trâmite diferenciado que a lei orçamentária possui. Eram as chamadas caudas orçamentárias ou orçamentos “rabilongos” (Feijó et al., 2013). Esse princípio está normatizado na CF/1988, em seu art. 165, §8º: vamos ver: CF/1988, art. 165: § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Entretanto, há exceções trazidas no próprio texto do artigo acima. Vamos detalhá-las: Autorização para abertura de créditos suplementares: créditos suplementares consistem em uma autorização de gastos que reforça outra autorização/dotação já existente. Uma vez que são muito comuns, é natural que a lei orçamentária anual contenha uma “pré-autorização” de reforço, limitada a um determinado percentual, é claro. Observação: por ser um assunto correlato a orçamento público, você pode estar estranhando que essa autorização suplementar seja uma exceção ao princípio da exclusividade. Mas o ponto relevante aqui é que créditos suplementares os quais serão vistos adiante neste curso novamente, não versam sobre fixação de despesas e estimativa de receitas e por isso são matéria estranha ao orçamento. Contratação de operação de crédito, ainda que por antecipação de receita: para facilitar o entendimento, vamos considerar que operações de crédito, inclusive aquelas por antecipação de receita, sejam empréstimos realizados pelo poder público. Esse princípio costuma “chover” em prova. Vamos ver como ele costuma cair? Questão para fixar (Cespe – CGE/PI – 2015 - adaptada) Em relação à Lei Orçamentária Anual (LOA) da União, julgue os itens a seguir. A LOA não deverá conter dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, nem autorização para a contratação de operação de crédito por antecipação de receita orçamentária (ARO) . RESOLUÇÃO: Gente, essa questão exigiu conhecimento acerca da exceção ao princípio da exclusividade. No entanto, ela está errada justamente porque contraria o texto da exceção. Na verdade, a LOA abrange eventuais contratações de operação de crédito por antecipação de receita orçamentária (ARO). Vamos rever o dispositivo constitucional que nos traz o princípio da exclusividade. CF/1988, art. 165, § 8º: A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operaçõesde crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Gabarito: ERRADO Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 9 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Princípio da especificação, especialização ou discriminação Imagine um orçamento com o seguinte detalhamento de despesa: despesa X. Ora, não faz sentido! É preciso conhecer com o que se pretende gastar. Afinal, essa é uma das ideias de se elaborar um orçamento. Visando impedir situações desse tipo, o princípio da especificação veda a inclusão no orçamento anual de créditos com valores globais, ou seja, genéricos/sem detalhamento. A ideia por trás esse princípio é que o gasto público não pode estar sujeito à tamanha discricionariedade por parte do gestor público. Ao contrário, é necessário que se conheçam as intenções do gestor ao fixar os gastos no orçamento anual, facilitando o controle social e do Congresso Nacional sobre as finanças públicas. O princípio da especificação encontra-se normatizado tanto na Lei nº 4.320/1964, quanto na CF/1988. Vejamos: Lei nº 4.320/1964: Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 20 e seu parágrafo único. Art. 15. Na Lei de Orçamento a discriminação da despesa far-se-á no mínimo por elementos. § 1º Entende-se por elementos o desdobramento da despesa com pessoal, material, serviços, obras e outros meios de que se serve a administração pública para consecução dos seus fins. Observação: atualmente, a LOA não traz detalhamento por elementos, mas por modalidade de aplicação (desdobramento da despesa que veremos adiante). Esse entendimento é proveniente da Portaria Interministerial nº 163/2001, art. 6º. No entanto, existem duas exceções a esse princípio. Vamos a elas: Reserva de contingência: dotação global para atender passivos contingentes e outras despesas imprevistas. Programas especiais de trabalho (Lei nº 4.320/1964, art. 20): programas classificados entre as Despesas de Capital que, por sua natureza, não possam cumprir as normas gerais de execução da despesa, sendo então custeados por dotações globais. Agora vamos ver como esse assunto costuma ser exigido em prova: Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 10 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Questão para fixar (FCC – TRT 15ª – 2013) O orçamento do TRT da 15ª Região previu dotações globais para custear programas especiais de trabalho que, por sua natureza, não podem ser cumpridas subordinadamente às normas gerais da execução da despesa. Esse fato representa exceção ao princípio orçamentário da A) Periodicidade. B) Unidade. C) Universalidade. D) Exclusividade. E) Especificação. RESOLUÇÃO: A alternativa A) está errada. O princípio da periodicidade é o mesmo da anualidade e estabelece que o exercício financeiro coincide com o ano civil. A alternativa B) está errada. O princípio da unidade estabelece que o orçamento é UNO. A alternativa C) também está errada. O princípio da universalidade dispõe que a LOA deve conter todas as receitas e todas as despesas. A alternativa D) está errada. Na verdade, o princípio da exclusividade estabelece que o orçamento anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Por fim, a alternativa E) está certa. O princípio da especificação veda a concessão de créditos globais, ou seja, genéricos e ilimitados. Porém a Lei nº 4.320/1964 estabelece justamente a exceção mencionada no comando da questão. Vejamos: Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 20 e seu parágrafo único. (princípio da especificação) [...] Art. 20, Parágrafo único. Os programas especiais de trabalho que, por sua natureza, não possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução da despesa poderão ser custeadas por dotações globais, classificadas entre as Despesas de Capital. (exceção ao princípio da especificação). Gabarito: LETRA E Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 11 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Princípio da não afetação Seria bem complicado tentar elaborar um orçamento se todas as receitas estivessem obrigatória e previamente destinadas a determinadas despesas. Não haveria margem de manobra para alocar os recursos em despesas consideradas prioritárias. Essa é justamente a ideia do princípio da não afetação de impostos: ele veda a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, permitindo que os recursos fiquem livres para serem alocados de forma oportuna, conveniente e por prioridade. A vinculação pode ser definida como uma destinação prévia e certa para recursos a depender de sua origem. Ou seja, ela “amarra” as receitas arrecadadas à execução de uma despesa. Esse princípio está normatizado na Constituição Federal de 1988. Vejamos: CF/1988: Art. 167. São vedados: IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo. Note que o dispositivo que traz o princípio da não afetação de receitas de impostos traz consigo uma série de exceções, as quais se referem a, por exemplo: Fundo de Participação dos Estados – FPE, Fundo de Participação dos Municípios – FPM, Fundos de Desenvolvimento das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, garantias de antecipação de receitas orçamentárias etc. Fique atento Atenção para um detalhe importante! Que é objeto constante de cobrança em questões de concurso: o princípio se aplica apenas a receita de impostos. Ou seja, não é válido para taxas e contribuições. Vejamos como esse assunto é abordado em prova: Questão para fixar (Vunesp – Câmara de Indaiatuba-SP – 2018) O princípio orçamentário da não afetação das receitas A) estabelece que as receitas constantes da Lei Orçamentária Anual serão escrituradas pelos seus valores brutos, vedadas quaisquer deduções. B) deve ser cumprido integralmente na Lei Orçamentária Anual do ente federado, não se admitindo qualquer tipo de exceção. C) dispõe que as receitas decorrentes de ingressos extraorçamentários não podem ser utilizadas para financiamento das despesas do ente federado. D) É aplicável apenas às receitas de impostos. E) estipula que todas as receitas previstas, em cada exercício financeiro, devem integrar um único documento legal dentro de cada esfera federativa: a Lei Orçamentária Anual. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 12 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública RESOLUÇÃO: A alternativa A) está errada, porque essa é a definição do princípio do orçamento bruto. A alternativa B) está errada, porque essa é a definição do princípio da legalidade. Mesmo assim não é a definição mais adequada porque há como modificar a lei orçamentária anual. A alternativa C) também está errada. Não há princípio orçamentário tratando dessaquestão. A alternativa D) está certa! O princípio da não afetação refere-se justamente às receitas de impostos. A alternativa E) também está errada. Essa é uma decorrência dos princípios da universalidade e unidade. Gabarito: LETRA D Princípio do equilíbrio A ideia desse princípio é bem simples. Ele preceitua que o orçamento anual, no momento de sua aprovação, tenha equilíbrio entre suas receitas e despesas. Com isso, pretende-se deter um crescimento desordenado dos gastos governamentais. Entretanto, a sua operacionalização é complicada. Vejamos: • Primeiro, porque o princípio não diz que o equilíbrio deve se manter ao longo da execução do orçamento; • Segundo, porque ele é seguido apenas formalmente, uma vez que o equilíbrio da proposta orçamentária só pode ser mantido por meio de muitos empréstimos (operações de crédito), os quais acabam por maquiar o “deficit” existente. Além disso, a doutrina não é unânime acerca da sua previsão normativa. Parte dela afirma que o princípio do equilíbrio não se encontra normatizado atualmente. Outra parte afirma que ele está normatizado na LRF, art. 4º, inciso I, alínea a. Vejamos: Lei Complementar nº 101/2001 – LRF: Art. 4o A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no § 2º do art. 165 da Constituição e: I - disporá também sobre: a) equilíbrio entre receitas e despesas. Vale mencionar que não é raro ver em questões de concurso uma associação do princípio do equilíbrio com a chamada “Regra de Ouro” (CF/1988, art. 167, inciso III). Essa regra estabelece um equilíbrio entre as operações de crédito e as despesas de capital e será melhor compreendida adiante neste, porém vamos enunciá-la aqui para completar a explicação sobre o princípio do equilíbrio: CF/1988: Art. 167. São vedados: III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art165%C2%A72 Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 13 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Vamos ver como esse assunto foi cobrado em prova: Questão para fixar (FCC – TCE-RS – 2014) O Princípio do Equilíbrio Orçamentário A) aplica-se somente às receitas e despesas primárias. B) deve ser aferido durante a execução. C) aplica-se somente às receitas e despesas de capital. D) é apurado por categorias econômicas. E) deve ser aferido no momento da aprovação do orçamento. RESOLUÇÃO: A alternativa A) está errada. O princípio do equilíbrio se aplica a todas as receitas e todas as despesas. A alternativa B) está errada. O princípio do equilíbrio é aferido apenas no momento da aprovação do orçamento. A alternativa C) está errada pelo mesmo motivo que torna a alternativa a) errada. A alternativa D) também está errada. Não há uma diferenciação entre as categorias econômicas: corrente e de capital. Ele é aplicado para todas as receitas e despesas conjuntamente. A alternativa E) está certa. O princípio do equilíbrio deve ser aferido no momento da aprovação do orçamento. Gabarito: LETRA E Princípio da unidade de caixa Imagine que as receitas de um orçamento familiar fossem guardadas em diversos lugares: contas bancárias diversas, cofre, gaveta, bolso, colchão... Isso tudo prejudicaria a contabilização de recursos disponíveis, bem como o planejamento de gastos! Justamente para evitar dificuldades similares na administração dos recursos públicos, o Princípio da Unidade de Caixa ou Tesouraria estabelece que as receitas da UNIÃO devem ser recolhidas em Conta Única do Tesouro Nacional, sendo vedada a fragmentação dos valores auferidos pela União em caixas especiais. O fundamento desse princípio encontra-se no art. 56 da Lei nº 4.320/1964 e no art. 1º do Decreto Lei 93.872/86. Vejamos: Lei nº 4.320/1964: Art. 56. O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para criação de caixas especiais. Decreto nº 93.872/1986: Art. 1º A realização da receita e da despesa da União far-se-á por via bancária, em estrita observância ao princípio de unidade de caixa. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11664255/artigo-56-da-lei-n-4320-de-17-de-marco-de-1964 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109228/lei-de-normas-gerais-de-direito-financeiro-lei-4320-64 Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 14 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Vale dizer que a Conta Única do Tesouro fica no Banco Central – Bacen, mas é operacionalizada pelo Banco do Brasil S/A. Ou seja, as ordens para movimentação dos recursos, processadas por meio do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI, são enviadas ao Banco do Brasil para serem cumpridas. Os estados, DF e municípios também devem utilizar o mecanismo de conta única, tendo suas disponibilidades financeiras depositadas e operacionalizadas por instituições financeiras controladas. Fique atento Segundo o art. 43 da LRF, os recursos de previdência ficarão em conta separada das disponibilidades de cada ente e aplicadas nas condições de mercado, com observância dos limites e condições de proteção e prudência financeira. Ou seja, é uma exceção ao princípio da unidade de caixa. Vamos ver como isso foi exigido em prova: Questão para fixar (Cespe – TCE/PE – 2017) A respeito dos fundamentos da gestão financeira e orçamentária, julgue o item a seguir. O caixa único do Tesouro Nacional destina-se a efetivar o princípio orçamentário da unidade RESOLUÇÃO: Na trave! Gente, o caixa único do Tesouro Nacional destina-se a efetivar o princípio orçamentário da unidade DE CAIXA. Como o comando da questão se esqueceu disso, ela fica errada. Gabarito: ERRADO Princípio da proibição do estorno Imagine que você e sua família cheguem a um acordo sobre o orçamento familiar e que um integrante começasse a fazer despesas não programadas usando o dinheiro destinado para fazer as compras do mês. Não faz sentido esse integrante contrariar o que ficou decidido antes, certo? Essa é a ideia do princípio da proibição do estorno ou princípio do não estorno. Uma vez que o recurso público é destinado para custear alguma despesa, e considerando que essa destinação foi aprovada pelo Congresso Nacional, na forma da LOA, o gestor público não pode alterá-la sem autorização legislativa prévia. Esse princípio veda a alteração de destinação, que pode ocorrer via transposição, remanejamento ou transferência (conceitos cuja definição não vem ao caso em Contabilidade Pública), sem autorização legislativa prévia. O princípio da proibição do estorno está normatizado na CF/1988, art. 167, VI: Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 15 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública CF/1988: Art. 167. São vedados: VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; Mas calma! Há uma exceção a esse princípio prevista na própria CF/1988. Vejamos: Fique atento CF/1988: Art. 167, §5º. A transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra poderão ser admitidos, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação, com o objetivo de viabilizar os resultados de projetos restritos a essas funções, mediante ato do Poder Executivo, sem necessidade da prévia autorização legislativa prevista no inciso VI deste artigo. Vejamos como esse princípio foi exigido em prova: Questão para fixar (FCC– TJ/AP – 2014) Com relação às alterações orçamentáriasnecessárias e imprescindíveis para a gestão pública, a transposição A) pode ser realizada por decreto executivo sem a autorização legislativa, porém o remanejamento deve ter a prévia autorização legislativa. B) deve ter a prévia autorização legislativa, porém o remanejamento pode ser realizado por decreto executivo sem a autorização legislativa. C) e o remanejamento devem ter as suas prévias autorizações legislativas, porém a transferência pode ser realizada por decreto executivo sem a autorização legislativa. D) e o remanejamento, bem como a transferência, podem ser realizados por decreto executivo mesmo sem a autorização legislativa. E) e o remanejamento, bem como a transferência aberta por decreto executivo, devem ter a prévia autorização legislativa. RESOLUÇÃO: Pessoal, para responder essa questão para sabermos o princípio da proibição do estorno. Vamos a ele: CF/1988, Art. 167: São vedados: VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; Assim, a alternativa certa é letra E). Gabarito: LETRA E Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 16 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Princípio da publicidade Não faria sentido existir um orçamento anual se ele não fosse tornado público. Inclusive, como ele é aprovado em forma de lei, a publicidade torna-se requisito para sua validade! Além disso, o princípio da publicidade é um dos princípios fundamentais da Administração Pública (CF/1988, art. 37). Cumpre mencionar que a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal reforçou esse princípio, na medida em que previu a publicação periódica de relatórios acerca da execução orçamentária e financeira, entre outros assuntos correlatos. Possibilita e subsidia o controle social, uma vez que disponibiliza dados governamentais à sociedade. Esse aspecto é, por vezes, tratado de forma apartada do princípio da publicidade como princípio da transparência. Portanto, esteja preparado para a cobrança. Princípio da clareza Não faria sentido se orçamento familiar fosse incompreensível para boa parte de seus integrantes, certo? A ideia do princípio da clareza é justamente impedir que situações assim ocorram. Ele estabelece que a linguagem orçamentária deve ser clara e de fácil entendimento, de modo que as pessoas comuns consigam compreender. Logicamente, sua finalidade é facilitar o controle social do emprego dos recursos públicos. Princípio do planejamento e da programação Esses dois princípios são derivados da doutrina e são recentes. O princípio do planejamento refere-se à obrigatoriedade de compatibilidade dos planos nacionais, regionais e setoriais com o PPA, o qual deve ser aprovado mediante lei, não sendo admitida sua formalização mediante Medida Provisória. Esse entendimento foi reforçado com a edição da LRF, que prevê, em seu art. 1º que: LRF: Art. 1º, §1°: A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas [...]. Já o princípio da programação, surge do conceito de orçamento-programa e do seu elemento central, o programa, que pode ser entendido como instrumento por meio do qual o poder público estrutura suas ações de modo a solucionar um problema e/ou atender uma demanda da população, otimizando a alocação de recursos públicos. Todas as despesas do orçamento estão organizadas sob a forma de programas. Como o programa conecta o planejamento e o orçamento, ou seja, é a peça que operacionaliza essa dinâmica, os princípios do planejamento e da programação são apresentados conjuntamente. Considerações gerais Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 17 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública A doutrina traz algumas classificações sobre os princípios orçamentários, tais como clássicos e complementares, fundamentais e operacionais/funcionais, e substanciais. Entretanto, tais classificações não costumam aparecer em prova, e quando aparecem, ao menos nas questões dos últimos cinco anos, é necessário saber apenas o conceito e a aplicação dos princípios orçamentários e não esses conceitos sobre classificação. Por essa razão essa classificação dos princípios foi suprimida.Ufa! Depois de todos esses conceitos, vamos ver como eles costumam ser cobrados em prova e depois seguiremos adiante! Questão para fixar (FGV – IBGE – 2016) Muitas leis aprovadas no Brasil em todos os entes estatais versam sobre um tema principal, mas também trazem disposições sobre outras matérias. São as chamadas “outras providências”. As leis orçamentárias NÃO devem tratar de outras providências em sua ementa em decorrência do princípio da: A) discriminação; B) exclusividade; C) legalidade; D) não afetação; E) publicidade. RESOLUÇÃO A alternativa A) está errada, porque o princípio da discriminação veda a existência de créditos globais ou ilimitados; A alternativa B) está certa. Essa é justamente a definição do princípio da exclusividade trazida na CF/1988, art. 165. §8º, tendo sido trazido sem suas exceções; A alternativa C) está errada. O princípio da legalidade dispõe que o orçamento anual (LOA) e leis correlatas (LDO e PPA) assumem forma de lei, devendo o gestor público se atentar para seus termos; A alternativa D) também está errada. O princípio da não afetação de receita de impostos veda a vinculação de receita de impostos. Todavia, devemos nos lembrar que existem diversas exceções; Por fim, a alternativa E) está errada. O princípio da publicidade estabelece que a lei que aprova o orçamento anual (LOA) deve ser publicada. Gabarito: LETRA B (Cespe – TCU – 2013) Acerca dos planos e orçamentos públicos, em particular no Brasil, julgue os itens seguintes As fundações educacionais públicas federais integram o orçamento da União, a exemplo das autarquias, constituindo as instituições de ensino superior. Essa característica decorre da aplicação do princípio orçamentário da universalidade. RESOLUÇÃO: Gente, as fundações públicas realmente integram o orçamento da União. Entretanto, isso não decorre do princípio da universalidade. E sim do princípio da unidade/totalidade. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 18 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Isso porque a descrição constitucional para o princípio da unidade é a seguinte: Art. 165, § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Por outro lado, o princípio da universalidade estabelece que o orçamento anual deve conter todas as despesas e receitas. Assim, a questão está errada. Gabarito: ERRADA Receita Orçamentária Aspectos introdutórios Pessoal, como vimos na aula inicial, há dois enfoques possíveis para a contabilização da receita (e, claro, para a despesa): patrimonial e orçamentário. Receita, sob o aspecto patrimonial, é aquela transação que resulta em aumento do Patrimônio Líquido da entidade. No entanto, sob o enfoque orçamentário, isso nem sempre ocorre. Para imaginar isso, basta lembrarmos das operações de crédito, que são empréstimos contraídos pelo poder público, e das alienações de ativos. Esses tipos de transações implicam uma troca: no primeiro, há a assunção de uma obrigação, que é pagar o empréstimo futuramente, em troca de recursos financeiros e, no segundo, aliena-se um bem, por exemplo, um imóvel, em troca de recurso financeiro. Em ambos os casos, não houve alteração do Patrimônio Líquido. Ainda assim, essas transações constituem receitas orçamentárias! De outro lado, existem receitas sobre o ponto de vista patrimonial, ou seja, que alteram o Patrimônio Líquido, mas que não são receitas orçamentárias, como é o caso de doação de bens para o Estado. Para solucionar esse aparente dilema, o MCASP traz outro conceito, mais amplo, chamado receita pública (MCASP, 8ª ed., pag. 31). Vejamos: Em sentido amplo, os ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado denominam-se receitas públicas, registradas como receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, ou ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias. Em sentido estrito, chamam-se públicas apenas as receitas orçamentárias. Com esse conceito, é possível separar as receitas orçamentárias dos ingressos extraorçamentários, também chamados de receitas extraorçamentárias. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 19 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública E quanto às receitas sob o enfoque patrimonial, aquelas que afetam o Patrimônio Líquido? Elas são chamadas de Variações Patrimoniais Aumentativas. Vejamos o que o MCASP diz sobre elas (MCASP, 8ª ed., pag. 151): As variações patrimoniais aumentativas e diminutivas são transações que promovem alterações nos elementos patrimoniais da entidade do setor público e que afetam o resultado. Essas variações patrimoniais podem ser definidas como: a. Variações Patrimoniais Aumentativas (VPA): corresponde a aumentos na situação patrimonial líquida da entidade não oriundos de contribuições dos proprietários; [...] Para fins deste Manual, a receita sob o enfoque patrimonial será denominada de variação patrimonial aumentativa (VPA). Para ficar fácil de lembrar e entender o que acabamos de estudar, vamos ver o esquema abaixo: Receita Orçamentária Receita orçamentária é todo ingresso de recursos financeiros durante o exercício que é arrecadado, inclusive aqueles provenientes de operações de crédito, exceto: os depósitos em caução, as fianças, operações de crédito por antecipação de receita – ARO, emissões de papel-moeda e outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros. Fique atento Uma boa ideia para entender e lembrar dessas exceções é pensarmos que os recursos de receita orçamentária podem financiar despesas orçamentárias! Note que isso não é possível com as entradas compensatórias no ativo e no passivo financeiros, pois elas serão devolvidas mais adiante. Via de regra, as receitas orçamentárias estão previstas na Lei Orçamentária anual – LOA, por força do princípio da universalidade, o qual já estudamos. Mas mesmo que não esteja prevista, a receita que for arrecadada é considerada receita orçamentária, por força do art. 57 da Lei nº 4.320/1964. Vejamos: Receitas Receitas públicas (enfoque orçamentário) Receita orçamentária (sentido estrito) Receitas orçamentárias + ingressos extraorçamentários (sentido amplo) Receitas contábeis (enfoque patrimonial) Variação Patrimonial Aumentativa (VPA) Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 20 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Art. 57. Ressalvado o disposto no parágrafo único do artigo 3º desta lei serão classificadas como receita orçamentária, sob as rubricas próprias, todas as receitas arrecadadas, inclusive as provenientes de operações de crédito, ainda que não previstas no Orçamento. Essa situação fica mais clara de entender se considerarmos o seguinte exemplo: imagine que o governo do município Pipiripal previu na LOA arrecadar R$ 500,00 com IPTU, e tenha arrecadado R$ 700,00. Os R$ 200,00 não constavam na LOA, mas, como eles foram arrecadados, constituem receita orçamentária, que pode, portanto, financiar despesas orçamentárias do município Pipiripal. Outro exemplo bastante interessante e que nos será útil mais para frente é o seguinte: o cidadão Jlandsglaidson, comprometido e engajado com o bem-estar dos brasileiros, resolveu fazer uma doação em dinheiro para ogoverno. Essa doação será arrecadada? Sim! Portanto, constitui receita orçamentária mesmo sem estar prevista na LOA. E se Jlandsglaidson resolvesse fazer uma doação de um bem (de sua casa, digamos)? Primeiro, é preciso dizer que esse cidadão não parece muito esperto. Segundo, um bem não é uma disponibilidade financeira, logo, a doação não será arrecadada, e não será uma receita orçamentária! Segundo o MCASP, as receitas orçamentárias transitam pelo patrimônio público e constituem ingressos que aumentam o saldo financeiro da instituição (MCASP, 8ª ed., pag. 32). Assim, podemos resumir as características da receita orçamentária da seguinte forma: • são arrecadadas; • transitam pelo patrimônio público; • aumentam o saldo financeiro da instituição; • são utilizadas para financiar despesas orçamentárias; • em geral, constam da LOA (princípio da universalidade). Ingressos extraorçamentários Segundo o MCASP, ingressos extraorçamentários são recursos financeiros de caráter temporário, dos quais o Estado atua como mero agente depositário. Não integram a LOA, nem como receita e nem como despesa, quando são devolvidos. Assim, sua devolução independe de autorização legislativa para ocorrer). Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 21 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Os exemplos de ingressos extraorçamentários são justamente as exceções ao conceito de receita orçamentária mencionadas no tópico anterior. Vejamos: • operações de crédito por antecipação de receita – ARO; • emissões de papel-moeda; • outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros (tais como os depósitos em caução, as fianças, as consignações). Em geral, não possuem reflexos no Patrimônio Líquido da entidade, justamente por constituírem entradas compensatórias no ativo e no passivo, ou seja, faz-se, simultaneamente, um registro no ativo e no passivo de igual valor (essa dinâmica será melhor entendida nas aulas seguintes). Mas cuidado! Como já vimos, há receitas orçamentárias que também não afetam o Patrimônio Líquido. Por isso, é mais eficaz que você se atente para os exemplos de ingressos extraorçamentários dados e tente memorizá-los. Eles são frequentemente exigidos em questões de concurso. Vejamos esquematicamente os conceitos, diferenças e exemplos de receita orçamentária e ingresso extraorçamentários: Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 22 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Agora vamos ver como esse assunto foi exigido em prova: Questão para fixar (FCC – CNMP – 2015) Determinado ente público, na primeira quinzena do mês de fevereiro de 2015, contabilizou, entre outras, as seguintes receitas recebidas de natureza orçamentária e extraorçamentária. − Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, com acréscimo de multas e juros de mora, no valor total de R$ 198.500,00, sendo o valor principal do imposto R$ 190.000,00. − operações de crédito por antecipação da receita orçamentária, no valor de R$ 45.500,00. − receita de aluguel de imóvel não prevista na lei orçamentária anual, no valor de R$ 15.500,00. − leilão de bens móveis, no valor de R$ 19.000,00. − caução, no valor de R$ 22.500,00, de empresa interessada em participar em licitação, para construção de obras públicas. O valor total das receitas extraorçamentárias é, em R$, de A) 83.500,00; B) 92.000,00. C) 69.500,00. D) 77.000,00. E) 68.000,00. RESOLUÇÃO: Para resolver essa questão, basta classificar as receitas descritas em orçamentárias ou extraorçamentárias. Sendo assim, vamos ver o resumo esquemático das receitas extraorçamentárias: Dessa forma, conclui-se que são receitas extraorçamentárias os itens: - operações de crédito por antecipação da receita orçamentária, no valor de R$ 45.500,00; e - caução, no valor de R$ 22.500,00, de empresa interessada em participar em licitação, para construção de obras públicas. Assim, as receitas extraorçamentárias totalizam R$ 68.000,00, tornando certa a alternativa E). Gabarito: LETRA E Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 23 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Classificações da Receita Orçamentária Agora estudaremos as principais classificações da receita utilizadas tanto pela doutrina quanto aquelas normatizadas no MCASP. Mas antes uma pergunta: por que classificar as receitas? O que se ganha com isso? Imagine se cada ente da federação classificasse suas receitas de forma distinta. Seria uma bagunça e não haveria como a contabilidade pública fornecer informações úteis acerca das contas contábeis que controlam a execução orçamentária. A Portaria Conjunta SOF/STN nº 02/2016, que aprova o MCASP, atribui a finalidade da classificação das receitas (e despesas) à necessidade de proporcionar maior transparência sobre as contas públicas e uniformizar a sua classificação. Além disso, essa uniformização facilita a organização governamental na formulação de programas de trabalho, bem como viabiliza a accountability (prestação de contas e responsabilização) sobre a execução orçamentária. Efetiva X não efetiva Classifica-se a receita pública quanto ao impacto no Patrimônio Líquido em efetiva ou não efetiva. Vejamos: Receita Orçamentária Efetiva é aquela que, no momento do ingresso do recurso financeiro, aumenta a situação líquida patrimonial da entidade. Constitui fato contábil modificativo aumentativo. Exemplos: receitas tributárias, de aluguéis, serviços e industriais. Receita Orçamentária Não Efetiva é aquela que não altera a situação líquida patrimonial no momento do ingresso do recurso financeiro. Constitui fato contábil permutativo. Exemplos: operações de crédito e alienação de bens. Veremos mais à frente o conceito de fato modificativo e permutativo. No mais, tranquilo, certo? Vejamos esquematicamente: Receitas efetivas Provoca EFETIVA alteração no patrimônio líquido da entidade no momento do ingresso financeiro. Receitas não efetivas NÃO EFETIVA alteração no patrimônio líquido da entidade no momento do ingresso financeiro. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 24 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Originárias X Derivadas Classifica-se, também, a receita pública quanto à forma de obtenção ou simplesmente quanto à procedência do recurso em originária e derivada. Vejamos: Receitas públicas originária são aquelas arrecadadas por meio da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública. Exemplos: rendas do patrimônio mobiliário e imobiliário do Estado (receita de aluguel), de preços públicos, de prestação de serviços comerciais e de venda de produtos industriais ou agropecuários. Receitas públicas derivada são receitas obtidas pelo poder público por meio da soberania estatal, ou seja, de forma impositiva decorrente de dispositivos legais ou constitucionais. Exemplos: receitas tributárias. Esquematicamente temos: O MCASP ressalta que essa classificação possui uso acadêmico e não é normatizada, não sendo, portanto, um classificador oficial da receita pelo poder público. No entanto, ela costuma ser cobrada em prova, como vamos ver agora: Questão para fixar (FCC – PGE/BA – 2013) São espécies de receitas derivadas as decorrentes. A) de foro de terreno da marinha. B) de locação de imóvel público. C) de contribuição de melhoria. D) da amortização da dívida pública. E) da alienação de bens. Receitas originárias Arrecadadas por meio da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública. Receitas derivadas Obtidas pelo poder público por meio da soberania estatal. Deriva do poder coercitivo do Estado. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 25 de 185| www.direcaoconcursos.com.brContabilidade Pública RESOLUÇÃO: Aqui, basta aplicarmos a definição de receitas derivadas. Vejamos o nosso resumo esquemático: Note que apenas a alternativa C) traz uma opção da qual o Estado arrecada uma receita que deriva de sua soberania, haja vista que “contribuição de melhoria” é uma espécie de tributo. Assim, essa alternativa está certa. As alternativas A), B) e E) fazem menção a patrimônio do Estado, o qual ao ser alienado ou locado implica uma receita referente à exploração de atividade econômica pela Administração Pública, logo receitas originárias. A alternativa D) refere-se a uma despesa pública e não uma receita. Gabarito: LETRA C Classificações da Receita Orçamentária segundo o MCASP Passemos às classificações da receita orçamentária segundo o MCASP (Parte I, item 3.2), as quais devem ser seguidas obrigatoriamente por TODOS os entes da Federação, sendo facultado seu desdobramento para atendimento das respectivas peculiaridades. As receitas orçamentárias são classificadas segundo os seguintes critérios: • Natureza • Fonte/Destinação de recursos • Indicador de resultados Classificação por natureza da receita Segundo o MCASP, a classificação por natureza de receita visa identificar a origem do recurso segundo o fato gerador. Ou seja, o acontecimento real que ocasionou o ingresso da receita nos cofres públicos (Parte I, item 3.2.1). Também segundo o MCASP, a natureza de receita é o detalhamento mais específico das receitas públicas no contexto orçamentário, contendo todas as informações necessárias para as devidas alocações orçamentárias. Essa classificação é feita através de um código numérico de 8 dígitos e 5 níveis, cujas posições ordinais que estudaremos a seguir: Receitas originárias Arrecadadas por meio da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública. Receitas derivadas Obtidas pelo poder público por meio da soberania estatal. Deriva do poder coercitivo do Estado. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 26 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública 1º nível Categoria econômica 2º nível Origem 3º nível Espécie 4ºnível Desdobramentos para identificação de peculiaridades da receita 5º nível Tipo 1º dígito C 2º dígito O 3º dígito E 4º, 5º, 6º e 7º dígitos D.DD.D 8º dígito T Vale dizer que essa estrutura de codificação é recente, tendo sido instituída pela Portaria Interministerial STN/SOF nº 05/2015, que alterou a Portaria Interministerial STN/SOF nº 163/2001. As referidas alterações entraram em vigor na União já em 2016. Para os estados, municípios e DF essa estrutura começou a valer a partir de 2018, incluindo a LOA aplicável em 2018 e elaborada em 2017. Essa nova codificação visou estruturar os códigos de natureza de receita de forma a proporcionar extração de informações imediatas com celeridade, simplicidade e transparência, dispensando o uso de eventuais procedimentos paralelos para concatenar dados. Vejamos dois exemplos de aplicação dessa estrutura: Exemplo 1: 1.1.1.4.01.1.1 - Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI - fumo – principal. Exemplo 2: 2.2.2.0.00.1.2 - Alienação de Bens Imóveis – multa e juros. Complicou? Calma! Primeiramente vamos ver o significado de cada um desses níveis de detalhamento e voltaremos a esses dois exemplos para “dissecá-los”, ok? Categoria Econômica (1º nível) A Lei nº 4.320/1964 classificou as receitas em correntes e de capital, que são as duas categorias econômicas da receita. A definição dessas categorias é trazida pelo MCASP (Parte I, item 3.2.1.1), bem como pelo Manual da Receita Pública. Vejamos: Receitas Orçamentárias Correntes: são arrecadadas dentro do exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras do Estado e, em geral, afetam positivamente o Patrimônio Líquido do setor público, ou seja, são receitas efetivas. São receitas correntes aquelas provenientes de: tributos; contribuições; exploração do patrimônio estatal (Patrimoniais); exploração de atividades econômicas (Agropecuária, Industrial e de Serviços); recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes (Transferências Correntes); por fim, demais receitas que não se enquadram nos itens anteriores, nem no conceito de receita de capital (Outras Receitas Correntes). Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 27 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Receitas Orçamentárias de Capital são arrecadadas dentro do exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras do Estado, mas, em geral, não afetam o Patrimônio Líquido do setor público, ou seja, são receitas não efetivas. Receitas de Capital são as provenientes tanto da realização de recursos financeiros oriundos da constituição de dívidas (Operações de Crédito) e da conversão, em espécie, de bens e direitos (Alienação de Bens), quanto de recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado (Amortização de Empréstimos) e destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital (Transferências de capital), bem como outras receitas de capital. O dígito para as receitas correntes é o “1” e para as receitas de capital é o “2”. Existem também as receitas de operações intraorçamentárias, que são aquelas realizadas entre órgãos e demais entidades da Administração Pública do mesmo ente federativo e integrantes do orçamento fiscal e do orçamento da seguridade social. Não representam novas entradas de recursos, mas apenas movimentações de receita entre os órgãos. Nesse caso, o dígito “7” representa as receitas correntes intraorçamentárias e o “8” representa as receitas de capital intraorçamentárias. Visam impedir dupla contagem. Categoria econômica Dígito Receitas correntes 1 Receitas de capital 2 Receitas correntes intraorçamentárias 7 Receitas de capital intraorçamentárias 8 Note que apesar de existirem 4 possíveis numerais, existem apenas 2 tipos de categorias econômicas: correntes e de capital. Origem (2º nível) Agora vem a pergunta: quais são as receitas correntes e de capital? É justamente aí que entra o próximo nível da classificação por natureza de receita: a origem. Segundo o MCASP e o Manual Técnico de Orçamento – MTO, a origem é o detalhamento das categorias econômicas e serve para identificar a procedência das receitas no momento em que ingressam nos cofres públicos. Vejamos: São receitas correntes aquelas provenientes de: • Tributos; • Contribuições; • Patrimoniais (exploração do patrimônio estatal); • Agropecuárias, Industriais e Serviços (exploração de atividades econômicas); • Transferências Correntes (recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes); • Outras Receitas Correntes (demais receitas que não se enquadram nos itens anteriores, nem no conceito de receita de capital). Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 28 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública São receitas de capital aquelas provenientes de: • Operações de Crédito (realização de recursos financeiros oriundos da constituição de dívidas); • Alienação de Bens (realização de recursos financeiros oriundos da conversão, em espécie, de bens e direitos); • Amortização de Empréstimos (recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado); • Transferências de capital (recursos destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital); • Outras receitas de capital (receitas de capital que não atendem às especificações anteriores). Essa é a parte que vocês perguntam: é importante para a prova saber todas essas classificações? E eu respondo: COM CERTEZA!Isso despenca em concurso! Mas calma! Há um macete mnemônico para nos ajudar a fixar: Receitas correntes: TributaConPAIS TransOu • Tributárias; • Contribuições; • Patrimoniais; • Agropecuária; • Industriais; • Serviços; • Transferências Correntes; • Outras Receitas Correntes; Receitas de capital: OperaAliAmor TransOu • Operações de Crédito; • Alienação de Bens; • Amortização de Empréstimos; • Transferências de capital; • Outras receitas de capital. Os dígitos desse nível ficam da seguinte forma: Origem 1 Receitas Correntes 7 Receitas Intraorçamentárias Correntes 2 Receitas de capital 8 Receitas Intraorçamentárias de Capital 1 Impostos, Taxas e Contribuições de melhoria 1 Operações de Crédito 2 Contribuições 2 Alienação de Bens 3 Receita Patrimonial 3 Amortização de Empréstimos 4 Receita Agropecuária 4 Transferências de Capital 5 Receita Industrial 9 Outras Receitas de Capital 6 Receita de Serviços 7 Transferências Correntes 9 Outras Receitas Correntes Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 29 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Vamos ver agora como esse assunto tem sido cobrado em prova: Questão para fixar (FGV – SEFAZ/RJ – 2009) Assinale a alternativa que não corresponda a uma receita corrente. A) Receita de operação de crédito; B) Receita tributária. C) Receita patrimonial. D) Receita industrial. E) Receita de contribuições. RESOLUÇÃO: Como podemos ver no nosso resumo esquemático, apenas a receita de operação de crédito não é receita corrente. Gabarito: LETRA A Espécie (3º nível) A espécie é um detalhamento que visa especificar ainda mais a receita, permitindo qualificar com maior detalhe seu fato gerador. Exemplificando, temos as seguintes espécies dentro da Origem de receitas correntes de contribuições: “Contribuições Sociais”, “Contribuições Econômicas”, “Contribuições para Entidades Privadas de Serviço Social e de Formação Profissional” e “Contribuição para Custeio de Iluminação Pública. Aqui não vale à pena relacionar com os dígitos, pois são muitos! Desdobramentos para Identificação de Peculiaridades da Receita (4º nível) Na nova estrutura de codificação foram reservados 4 dígitos para eventuais desdobramentos, visando identificar particularidades de cada receita, caso seja necessário. Assim, esses dígitos PODEM OU NÃO ser utilizados, observando-se a necessidade de especificação do recurso. O MCASP ressalta uma dessas particularidades: utiliza-se no 4º dígito da codificação um “8”, visando identificar as receitas exclusivas de estados, DF e municípios, sendo que a estrutura dos três primeiros se mantém. Exemplo: Outras Receitas Correntes Exclusivas de Estados e Municípios – código 1.9.0.8.xx.x.x – os demais dígitos dos desdobramentos (quinto, sexto e sétimo) podem ser utilizados para atendimento das peculiaridades e necessidades gerenciais dos entes. Tipo (5º nível) O tipo, correspondente ao último dígito na natureza de receita, tem a finalidade de identificar o tipo de arrecadação a que se refere aquela natureza, sendo: Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 30 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Tipo 0 Natureza agregadora – quando se tratar de natureza de receita não valorizável ou agregadora) 1 Receita principal – quando se tratar da arrecadação principal da receita) 2 Multas e juros da receita principal 3 Dívida Ativa da receita principal 4 Multas e juros de mora da dívida ativa da receita principal 5 Multa da Receita Principal quando não se aplicar o tipo 2 6 Juros da Receita Principal quando não se aplicar o tipo 2 7 Multas da Dívida Ativa quando não se aplicar o tipo 4 8 Juros da Dívida Ativa quando não se aplicar o tipo 4 Todo código de natureza de receita termina com um dos dígitos acima. Vale mencionar que natureza agregadora representa a soma dos outros numerais, ou seja, ela totaliza os códigos similares que terminam em 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,8 e 9. Entretanto, não é utilizada na arrecadação da receita, apenas na demonstração da totalização dos valores. Na União, os dígitos 5 a 8 estão sendo utilizados, atualmente, apenas no que tange ao imposto sobre importação. Agora que vimos todos os níveis, voltemos aos nossos dois exemplos iniciais para compreendê-los melhor! Exemplo 1: 1.1.1.4.01.1.1 - Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI - fumo – principal. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 31 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Exemplo 2: 2.2.2.0.00.1.2 - Alienação de Bens Imóveis – multa e juros. Bem melhor agora, certo? Vamos adiante! Classificação por indicador de resultado Nesta classificação, as receitas do Governo Federal são divididas em financeiras (ou não primárias) e primárias (ou não financeiras). Receitas financeiras (ou não primárias): são aquelas receitas que se relacionam com dívida. Exemplos: operações de crédito, pagamento de juros e amortização, privatizações (embora não abranja todas as receitas com alienação de bens). Receitas primárias (ou não financeiras): aquelas que não se relacionam com dívida ou desmobilização. Exemplos: tributárias, de contribuições, patrimoniais, de aluguéis, industriais. Segundo o MCASP, esta classificação orçamentária da receita não tem caráter obrigatório para todos os entes e foi instituída para a União com o objetivo de identificar quais são as receitas e as despesas que compõem o Resultado Primário do Governo Federal, que é representado pela diferença entre as receitas primárias e as despesas primárias. Em contrapartida, as receitas e despesas financeiras não são computadas nesse cálculo. Vejamos esquematicamente: Receitas primárias Seus valores são incluídos no cálculo do resultado primário. Profs. Indio Artiaga do Brasil e Marcel Guimarães Aula 02 32 de 185| www.direcaoconcursos.com.br Contabilidade Pública Classificação por fonte/destinação de recursos Suponha que no orçamento familiar seja necessário reservar previamente a remuneração de 20% do salário do integrante da família mais velho para cobrir despesas com o aluguel da casa em que todos moram. Essa é justamente a ideia de classificar a receita conforme a destinação legal dos recursos arrecadados. A classificação orçamentária por fontes/destinações de recursos visa identificar as fontes de financiamento dos gastos públicos. Ou seja, a ideia é um identificador que integre a origem (de onde veio) da receita orçamentária com a destinação (onde será gasto) do recurso na despesa orçamentária. Por sua vez, “fonte” nada mais é que um código numérico que, tal qual a natureza de receita, possui uma lógica de formação regida por regras previamente estabelecidas. Para a receita, o código indica a destinação dos recursos. E para a despesa, ele indica a origem dos recursos que estão sendo utilizados. Segundo o MCASP, esse “mecanismo integrador possui um papel duplo no processo orçamentário”. A fonte pode ser utilizada, por exemplo, para “carimbar” recursos de modo que eles só possam ser gastos com alguma finalidade específica, digamos, na saúde. No entanto, a depender da fonte, pode ocorrer que o gestor possua liberdade para alocar o recurso, atendendo a qualquer finalidade desde que previsto na LOA. Assim, temos dois tipos de destinações: Destinação vinculada: é o processo de vinculação entre a origem e a aplicação de recursos, em atendimento às finalidades específicas estabelecidas pela norma. Exemplos: recursos para o Fundeb, royalties de petróleo destinados à educação, operações de crédito vinculadas à saúde. Destinação ordinária: é o processo de alocação livre entre a origem e a aplicação de recursos, para atender a quaisquer finalidades. Ressalte-se que a criação de vinculações para as receitas
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