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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS - AULA 1

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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 
DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Andrew Traumann 
 
 
 
CONVERSA INICIAL 
 
Nesta aula daremos início ao estudo da História no século XX. Na aula 
de hoje abordaremos temas que terão consequências até os dias atuais. A 
Primeira Guerra Mundial, primeiro conflito com uso de 
aviões,tanques,metralhadoras e armas químicas e que selará a ascensão dos 
EUA como grande potência e cujos acordos durante e depois do conflito terão 
graves implicações. O Acordo Sykes Picot, que dividiu o Oriente Médio entre 
Grã-Bretanha e França e gerou divisões internas nos países artificialmente 
criados e a Declaração Balfour que garantirá aos judeus que o governo 
britânico apoiaria a criação de um “lar nacional judaico” na Palestina. Tal 
criação originaria o conflito árabe-israelense. Outro tema importantíssimo é o 
Tratado de Versalhes, cujo modelo de punição a Alemanha com perda de 
territórios e população levaria a um ressentimento geral e a ascensão do 
nazismo, liderado por Adolf Hitler. 
 
TEMA 1 – A EUROPA ANTES DA GUERRA 
 
No final do século XIX e início do século XX, a Europa vivia uma era de 
aparente euforia. A expectativa de vida havia aumentado a partir do impacto da 
ampliação de políticas higienistas nas grandes cidades, que tinham inspiração 
na modernização de Paris realizada pelo barão Georges-Eugène Haussmann 
(1809-1891), O analfabetismo deixara de ser a regra com a popularização e 
secularização do ensino e surgia o cinema, os automóveis e os cafés 
parisienses eram pontos de encontros de artistas e intelectuais encantados 
com a Belle Epoque . 
Política e economicamente a Europa Ocidental se sentia fortalecida com 
o domínio imperialista sobre colônias africanas e asiáticas, de onde extraíam 
matérias primas para as suas indústrias. Além disso, o simples fato de possuir 
colônias já concedia um status diferente no cenário internacional. Quanto mais, 
melhor. E nesse quesito a Grã-Bretanha era imbatível. O Império Britânico 
chegou a possuir 458 milhões de habitantes e um território de mais de 31 
milhões de quilômetros quadrados. Por isso, era justificadamente chamado de 
“O Império onde o sol nunca se punha”. 
 
 
3 
Após a Revolução Francesa de 1789, o nacionalismo e conceitos como 
cidadania, secularismo e democracia passam a se espalhar pela Europa. Em 
poucas décadas prevalecia na Europa a ideia de “a cada Nação, um país”, ou 
seja, que cada povo que se identificava como possuidores de uma identidade, 
história, cultura, idioma, religião, entre outros fatores em comum, deveria ter 
seu próprio país e viver de forma autônoma, jamais sob ocupação estrangeira. 
Este nacionalismo ascendente na Europa teve duas vias: uma foi a via 
da superioridade racial, baseada na ideia de darwinismo social e na promoção 
de políticas eugenistas. Este conceito não passava de uma distorção das ideias 
darwinistas, na qual a ideia de que na natureza o mais apto sobrevive é 
substituída por uma grosseira “lei do mais forte”, que basicamente defendia a 
ideia de que as “raças superiores” tinham o direito de subjugar as inferiores. 
Evidentemente, os europeus se viam como os superiores. No entanto, mesmo 
entre estes haveria essa hierarquia. Britânicos, franceses, alemães, todos se 
julgavam superiores aos demais e, portanto, destinados a dominar o mundo. 
Neste contexto, o Império Austro-Húngaro destoava no cenário europeu: 
formado por sérvios, croatas, eslovacos, tchecos entre outras nacionalidades o 
Império baseado em Viena, era um corpo estranho na Europa, onde mesmo 
após terem soprado os ventos revolucionários de 1789, sobrevivia como um 
modelo arcaico de dominação estrangeira e autoritária sobre outros povos. 
Neste contexto a Sérvia, que havia ficado independente dos turcos em 1878 
(outro caso de Império formado por diversas etnias e nações) passa a estimular 
levantes dos seus sete milhões de compatriotas que viviam sob o domínio 
austríaco com a intenção de criar a “Grande Sérvia”, unindo o país 
independente a aquele sob a opressão austríaca. 
Para que vocês possam ter uma ideia mais clara sobre a extensão do 
Império Austro-húngaro, bem como das suas divisões territoriais, observem o 
mapa abaixo. Nesse é possível compreender a extensão de Império e a 
diversidade de povos e culturas que o compunham. 
 
 
4 
 
 
TEMA 2 – O MOMENTO PRÉ-CONFLITO 
 
Ao observarmos o mapa acima é possível perceber que para o Império 
Austro-Húngaro, a ascensão do nacionalismo representava uma ameaça a sua 
existência, pois se todos os países que compunham seu território resolvessem 
reivindicar a independência seria o fim deste. 
O principal aliado dos austríacos era a Alemanha, que desde a sua 
unificação em 1871, vinha crescendo em termos industriais e militares de 
maneira assombrosa. Esse processo de desenvolvimento alemão acabava por 
reacender antigos receios franceses. Além disso, para os britânicos a posição 
expansionista alemã, no tocante às colônias, convertia-se em uma ameaça ao 
frágil Equilíbrio de Poder europeu, estabelecido a partir do Congresso de Viena 
no ano de 1815. 
Para o chanceler alemão Otto Von Bismarck, a unificação alemã havia 
cumprido o seu papel e agora o país deveria se concentrar no crescimento 
econômico, e não territorial. Em termos de estratégia, Bismarck queria apenas 
manter a França isolada (pois sabia que um sentimento de revanche pela 
 
 
5 
derrota na Guerra Franco-Prussiana era muito forte naquele país) e defender 
sua aliada Áustria-Hungria de uma eventual agressão expansionista russa. No 
entanto, com o falecimento do Imperador Guilherme I, substituído por seu filho 
Guilherme II, a Alemanha adota uma nova postura, muito mais agressiva nas 
relações internacionais. 
Nesse nova conjuntura, Bismarck é demitido e a Alemanha adota uma 
postura expansionista em busca de seu “espaço vital” ou Lebensraum. 
Segundo o criador desse conceito Friedrich Ratzel, o Estado deveria ser do 
tamanho da sua capacidade de organização, ou seja, expandir-se mesmo que 
a custa de outros povos (considerados mais fracos) para alcançar a plenitude 
das suas potencialidades. Bismarck havia cuidadosamente preparado alianças 
de mútua defesa com Itália, Áustria-Hungria e Rússia em 1882. Guilherme II 
decide não renovar o Tratado com a Rússia em 1890 e se aproximar ainda 
mais dos austro-húngaros e manter a aliança com os italianos. Este acordo 
seria conhecido como Tríplice Aliança. 
Preocupada com a nova postura alemã, a França procura se aproximar 
da Rússia com quem assina o Tratado Franco-Russo em 1892. Em seguida, 
busca aproximar a Grã-Bretanha da Rússia. Esta, enfraquecida pela derrota 
para o Japão na Guerra da Manchúria de 1904, e vivendo turbulências sociais 
internas e isolada internacionalmente decide fazer acordos sobre áreas há 
muito em disputa entre os dois países: Pérsia, Tibete e Afeganistão em 1907. 
Estavam formadas a Tríplice Entente. Estas alianças militares seriam 
fundamentais para impulsionar aquela que seria conhecida como A Grande 
Guerra. 
Em 1908, a Áustria-Hungria ataca a Bósnia-Herzegovina que pertencia 
ao Império Turco-Otomano que, em franca decadência era chamado de “O 
Gigante Enfermo do Oriente”. A Bósnia é formada etnicamente por eslavos 
como os Sérvios e o governo sérvio promete se vingar de mais esta violação 
austríaca ao princípio da autodeterminação dos povos. Em 1912, Sérvia, 
Bulgária, Grécia e Montenegro atacam os turcos. A Sérvia anexa a Albânia e 
ganha uma saída para o mar. A Áustria solicita a Alemanha apoio contra a 
expansão sérvia. A Rússia, aliada sérvia, mas enfraquecida, ordena que os 
sérvios devolvam a Albânia aos turcos, mas prometem apoia-los se houvesse 
novo atrito com os austríacos. 
 
 
 
6 
 
TEMA 3 – O INÍCIO DA GUERRA 
 
O cenário para a guerra estava montado, e no dia 28 de junho de 1914, 
jovens membros de um grupo nacionalistasérvio, denominado Mão Negra, 
assassinam o arquiduque Francisco Ferdinando – herdeiro do Império Austro-
Húngaro – e sua esposa Sophia em Sarajevo. A Áustria, como membro da 
Tríplice Aliança, exige que a Alemanha a respalde neste momento e recebe 
todo o apoio de Guilherme II, que tinha interesse na ocorrência de uma guerra. 
Confiante, a Áustria-Hungria dá um ultimato a Sérvia. Entre os itens do 
ultimato, que deveria ser respondido em 48 horas, um foi considerado 
inaceitável pelos Sérvios: que a investigação em busca dos culpados fosse 
feita por agentes austríacos em seu território. 
Na verdade, a Áustria já esperava uma negativa a essa óbvia violação 
da soberania sérvia em em 28 de junho de 1914, exatamente um mês após o 
assassinato do arquiduque a Primeira Guerra Mundial. A Áustria declara guerra 
a Sérvia, a Rússia, declara guerra a Áustria, e a Alemanha declara guerra a 
França e Rússia enquanto invade a Bélgica, o que leva a Grã-Bretanha a entrar 
na guerra, pois os belgas, neutros, encontravam-se sob proteção de franceses 
e britânicos. 
Nas ruas, o povo comemorava. Há muito se ansiava por um conflito que 
vinha sendo romantizado por escritores, jornalistas e intelectuais. Diziam que 
mais importante do que a razão, o principal elemento do Iluminismo, o que 
deveria predominar era a força e o instinto. A guerra, portanto, seria o ambiente 
ideal para transformar meninos em homens de verdade. Iludidos, após quase 
cem anos de paz na Europa (interrompidos apenas pela breve Guerra Franco-
Prussiana),a população e os governos acreditavam que a Guerra seria curta e 
coberta de glória...ledo engano. 
No dia 4 de agosto de 1914, a Alemanha coloca em prática o Plano 
Schlieffen, que previa uma manobra em formato de pinça em que uma das 
tenazes invadiria Bélgica e França, envolvendo Paris pela retaguarda, 
enquanto a outra atacaria a região da Alsácia-Lorena. Finalmente, a pinça de 
600 quilômetros de raio esmagaria o exército francês. O ataque, para ser 
eficiente, deveria ser extremamente rápido, pois enquanto invadia a França, a 
 
 
7 
Alemanha deixava sua fronteira oriental mais suscetível a uma invasão russa. 
Veja como a estratégia deveria se desenrolar na imagem a seguir: 
 
 
 
 
TEMA 4 – O DESENROLAR DO CONFLITO 
 
Na seção anterior vimos como se deu o começo da primeira Guerra 
Mundial e qual a estratégia inicial dos países da Tríplice Aliança. Todavia, os 
planos não correram conforme o previsto. A Bélgica resistiu por duas semanas 
ao avanço alemão, o que não possibilitou a mobilização de tropas britânicas. 
Além disso, o alto comando do Exército Alemão, empolgado com o avanço e 
com a fuga das tropas francesas, decide persegui-las a sudoeste do país ao 
invés de fechar a pinça em Paris. Essa divisão das tropas permitiu que o 
Exército Britânico se infiltrasse entre as “tenazes” alemãs e auxiliasse os 
franceses. Enquanto isso a Rússia invadia a Prússia oriental. A tal “guerra 
rápida” caminhava para um impasse. 
A partir de junho de 1915, a Guerra deixa de ser marcada por invasões 
territoriais e entra na longa fase de trincheiras, uma das características mais 
 
 
8 
marcantes deste conflito. As trincheiras eram valas de 1,80 m de largura por 2 
m de profundidade que se estenderam por 640 km, dos Alpes ao Mar do Norte. 
Nas trincheiras milhares de soldados conviviam com o frio, a chuva constante, 
com ratos enormes que se alimentavam dos milhares de cadáveres disponíveis 
e os bombardeios incessantes. Além das mortes causadas por fogo inimigo, os 
soldados ainda estavam sujeitos ao trench foot, ou pé de trincheira, uma 
gangrena nos pés causada por um fungo que se desenvolvia com facilidade 
nas meias encharcadas pelas chuvas e que podia em muitos casos levar a 
amputação. 
Para tentar romper o impasse, as vezes os comandantes ordenavam 
que seus soldados saíssem de suas trincheiras e corressem em disparada 
contra a trincheira inimiga, rompendo no caminho cercas de arama farpado. 
Evidentemente, na maioria das vezes, os atacantes sob mira de metralhadoras 
eram dizimados pelos inimigos entrincheirados e a carnificina continuava. Para 
que se tenha uma ideia da crueldade desse tipo de estratégia, apenas nas 
Batalhas de Verdun e do Somme mais de um milhão de soldados morreram 
(muitas vezes gerações inteiras de uma mesma cidade já que os pelotões 
costumavam ser regionalizados), sem nenhum avanço relevante. 
Na Prússia Oriental, os russos foram facilmente detidos na batalha de 
Tannenberg, e perderam a iniciativa do combate. O Exército Russo, mal 
treinado e mal equipado passou a sofrer terríveis baixas e deserções. Tal 
situação levou a crise política interna que já vinha desde a derrota russa para o 
Japão na Guerra da Manchúria em 1904 ao seu auge. Milhares de russos 
saem às ruas exigindo a saída do país da guerra. O slogan do líder 
revolucionário Vladimir Lênin é “Pão, paz e terra”, ou seja, além da paz era 
prioritário para o país erradicar a fome e realizar uma reforma agrária. O czar 
Nicolau II se recusa a abandonar o conflito e será deposto na Revolução de 
Março de 1917. No entanto o novo líder menchevique Alexander Kerenski, para 
espanto da população, igualmente se nega a retirar o país da guerra, além de 
praticamente ignorar os anseios da classe trabalhadora. 
Em outubro daquele mesmo ano, uma nova revolta, liderada 
principalmente por Lênin e Lev Trotsky levará a queda do regime menchevique 
e a ascensão bolchevique na Rússia. Uma das primeiras medidas do novo 
governo é negociar uma saída da guerra. Tal ato, no entanto, é visto como uma 
rendição pelos alemães e custará muito caro a Rússia: o governo de Moscou 
 
 
9 
terá que ceder ao Império Alemão, a Polônia, Ucrânia, Bielorrússia, Finlândia e 
os países Bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia). A “paz vergonhosa”, como 
definiu Lênin, retirou das mãos da Rússia, um terço de sua população, 90% de 
suas minas de carvão e 50% de sua indústria. Após a guerra, com exceção da 
Ucrânia e da Bielorrússia que integrarão a União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas (URSS), todos os demais países se tornarão independentes. 
Voltando ao front ocidental, após três anos de guerras nas trincheiras, a 
Alemanha decide mudar de estratégia para romper o impasse e tentar resolver 
a guerra a seu favor. A tática agora era o bloqueio marítimo: para forçar a 
rendição britânica pela fome o governo alemão anuncia que qualquer navio que 
se aproximasse da Grã-Bretanha estaria sujeito a afundamento por submarinos 
alemães. 
Após o afundamento de vários navios comerciais norte-americanos e o 
Telegrama Zimmerman (onde a Alemanha promete ajuda militar ao México 
caso ele queira reconquistar os territórios perdidos para os EUA no século 
XIX), os EUA declaram guerra a Alemanha em 6 de abril de 1917. O principal 
motivo que levou o presidente Woodrow Wilson a declarar guerra, além da 
retaliação aos ataques sofridos, era o receio das consequências de uma 
eventual vitória alemã para o equilíbrio de poder na Europa e o livre comércio. 
A Grã-Bretanha maior potência europeia na época, era uma aliada histórica 
dos EUA e compartilhava com estes os valores da democracia e do liberalismo. 
Uma Alemanha vitoriosa, autoritária e expansionista poderia alterar totalmente 
as regras de convivência internacional estabelecidas desde o Congresso de 
Viena em 1815. 
Os EUA enviam cerca de um milhão de soldados, que ao contrário dos 
europeus, estão descansados e muito bem equipados. Lutando junto a 
unidades britânicas e francesas, a Tríplice Entente conseguiu deter as últimas 
ofensivas alemãs. Enquanto isso, Búlgaros e Turcos se rendem a forças 
predominantemente britânicas. Finalmente, em 11 de novembro de 1918, os 
alemães assinam um armistício em um vagão de trem na floresta de 
Compiegne na França. A Alemanha deveria retirar suas tropas da França, 
Bélgica, Áustria-Hungria, Romênia, Rússia, Império Otomanoe da margem 
esquerda do Rio Reno. Além disso, deveria entregar aos vencedores 1700 
aviões, 5 mil canhões,74 navios,150 mil vagões e 5 mil locomotivas. No vagão 
 
 
10 
onde a rendição foi assinada foi colocada a placa com os dizeres “Aqui 
sucumbiu o criminoso orgulho do Império Alemão, vencido pelos povos livres”. 
O Brasil teve uma participação bastante discreta no conflito. Após ter 
quatro navios mercantes afundados, o governo de Venceslau Brás declara 
guerra a Alemanha. O país enviou aviadores, alguns navios escolta, mas 
principalmente médicos e enfermeiros. No entanto, esta participação rendeu ao 
Brasil uma vaga entre os vinte e oito membros da Liga das Nações, se 
retirando em 1926, já durante a gestão de Artur Bernardes, após não conseguir 
uma vaga no Conselho de Segurança da Liga das Nações, sendo preterido 
pela Alemanha. 
 
TEMA 5 – O FIM DA GUERRA E OS ACORDOS DE PAZ 
 
Após a rendição alemã, líderes dos países de alguma forma envolvidos 
no conflito se reuniram em Paris em 1919 para estabelecer as bases políticas, 
econômicas e militares no pós-guerra – chegando ao famoso Tratado de 
Versalhes. No entanto, o Tratado de Versalhes ao invés de trazer uma paz 
duradoura acabou se tornando um julgamento da Alemanha e, em certa 
medida, semeou as bases para a Segunda Guerra Mundial. 
Georges Clemenceau, primeiro-ministro francês, organizou 
cuidadosamente a punição alemã, o que contrastará com a postura dos demais 
vencedores, EUA e Grã-Bretanha. Não por acaso escolherá Versalhes como o 
local de assinatura do Tratado, na mesma Sala dos Espelhos onde quatro 
décadas antes a Alemanha havia proclamado sua unificação após vencer a 
Guerra Franco-Prussiana (1871). O objetivo de Clemenceau era tornar a 
Alemanha totalmente incapaz de voltar a atacar seus vizinhos. Contudo, no afã 
de se vingar (o futuro primeiro-ministro britânico definiria o ódio de Clemenceau 
pelos alemães como “desumano”), o líder francês estava disposto a não só 
desarmar a Alemanha, mas fazê-la perder território e população, cercá-la de 
Estados Tampões e forçá-la a pagar indenizações que muitos sabiam ser 
impossíveis de saldar. Tal postura era contraproducente, pois apenas 
alimentaria nos anos 1920 e 1930, o desejo de revanche alemão e a ascensão 
do Partido Nazista liderado por Adolf Hitler. 
Nesse contexto, a Grã-Bretanha, liderada por Lloyd George, adotou uma 
postura muito mais pragmática: a Alemanha deveria ser punida, mas não 
 
 
11 
enfraquecida de tal forma que não pudesse se defender de um ataque francês 
ou russo, e deveriam se tornar um parceiro comercial dos vencedores. Para o 
líder britânico, um país rico e industrializado como a Alemanha era fundamental 
para a recuperação da economia europeia no pós Guerra. 
Já os EUA, liderados por Woodrow Wilson, propunham um modelo 
completamente novo a aquele conhecido pelos europeus: a “paz sem vitória”, 
ou seja, que a paz fosse estabelecida em moldes idealistas, sem a intenção 
declarada de prejudicar o inimigo vencido. Wilson, propunha com os seus 
“Catorze Pontos” um “Novo Mundo”, baseado na Liga das Nações, um fórum 
mundial, onde todas as controvérsias seriam solucionadas por meio da 
diplomacia e do entendimento, abandonando o mote de Clausewitz tão caro 
aos europeus de que “a guerra é a continuação da política por outros meios”. 
Entre seus “Catorze Pontos” (cujo décimo quarto é justamente a criação da 
Liga das Nações), podemos destacar: 
 
1- A abolição de tratados secretos1. 
2- Fim das guerras de expansionismo e conquista 
3- Liberdade de Navegação, queda de barreiras econômicas e 
livre comércio 
4- Criação de uma Polônia independente e com saída para o 
mar2. 
 
Como podemos observar, não há menção a indenizações a serem 
pagas pelos perdedores, nem menções a bloqueios navais em caso de reinício 
da guerra. Para Wilson, a paz era um princípio legal, e se as regras de seus 
Catorze Pontos fossem seguidas á risca, a guerra seria uma página virada na 
história da humanidade que prosperaria via livre comércio. Muitos apontaram a 
hipocrisia do discurso pacifista de Wilson, que em seu governo havia ordenado 
 
1 Acordos secretos eram comuns na política internacional que antecede a Primeira Guerra 
Mundial e durante a I Guerra pelo menos um tratado secreto mudou o destino da geopolítica 
mundial, o Acordo Sykes-Picot, que dividiu o Império Otomano entre britânicos e franceses. 
Neste Acordo ficou estabelecido que os primeiros controlariam os atuais territórios de Iraque, 
Jordânia e Palestina, enquanto os últimos ficariam com Síria e Líbano. Mais tarde a Grã-
Bretanha se pronunciaria oficialmente a favor da criação de um “lar nacional judaico” na 
Palestina, que seria a origem de uma série de conflitos entre imigrantes judeus vindos da 
Europa e os palestinos nativos 
2 Acabaria por criar o inusitado “corredor polonês”, um pedaço da Polônia que simplesmente 
isolava a parte ocidental da Alemanha da Prússia Oriental; restituição da Alsácia-Lorena a 
França e autonomia as nações antes pertencentes aos extintos Império Austro-Húngaro e 
Otomano 
 
 
12 
intervenções militares no México, Haiti, República Dominicana e Cuba. Os 
ideais do democrata Wilson também deram sinais de enfraquecimento quando 
este perdeu a maioria no Congresso para os republicanos. Muitos dos ideais 
wilsonianos passaram a ser ignorados e a França, anfitriã do Tratado pôs em 
prática o seu plano de julgar os alemães. 
A Alemanha perde suas colônias na África, tem seu exército limitado a 
cem mil homens, fica proibida de possuir tanques e aviões, perde 10% da sua 
população e 13% de seu território. O artigo 231 do Tratado estabelecia a 
Alemanha como a única culpada da guerra e estipulava o pagamento de uma 
indenização de 323 bilhões de dólares. Além disso, a França ainda tentou fazer 
da Renânia um Estado Tampão para separa-la da Alemanha, mas isso foi 
considerado demasiado e o máximo que obteve foi a desmilitarização da 
Renânia por quinze anos. 
Além de Versalhes, outros tratados selaram os destinos dos demais 
derrotados. Vamos a eles: 
-Tratado de Saint Germain: extingue o Império Austro-Húngaro, 
limitando a Áustria a um país de 84 mil quilômetros quadrados, com um 
exército de quinze mil homens e sem saída para o mar. 
-Tratado de Trianon: Polônia, Tchecoslováquia e Romênia recebem 
território húngaro. 
-Tratado de Neully: criação da Iugoslávia (formada por Sérvia, Croácia, 
Macedônia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Eslovênia) e cessão pela 
Bulgária do território da Trácia para a Grécia, o que fez com que os búlgaros 
perdessem acesso ao Mar Egeu. 
-Tratado de Sévres: Ratifica o Acordo Sykes-Picot e extingue o Império 
Turco-Otomano. 
-Tratado de Lausanne (1923): este tratado anula o Tratado de Sévres e 
estabelece o reconhecimento internacional da República da Turquia, fundada 
por Mustafá Kemal “Ata Turk”. 
Ao final, o Tratado de Versalhes não conseguiu atingir os objetivos de 
nenhum dos vencedores. Para a França, o Tratado havia deixado a França 
desprotegida, pois após Wilson perder a maioria no Congresso, o Tratado não 
foi ratificado pelos EUA. Sem a participação de Washington, a Grã-Bretanha se 
recusa a fazer uma aliança defensiva com a França. Para a Grã-Bretanha a 
paz dependia da estabilidade econômica europeia e isso era impossível com 
 
 
13 
uma Alemanha sendo conduzida a falência. Os EUA, fora do Tratado de 
Versalhes da Liga das Nações, idealizados por Wilson, viram este órgão se 
tornar inoperante, sem poder coercitivo para impedir, por exemplo, a agressão 
italiana à Etiópia, a invasão japonesa à China e a expansão nazista. 
O grande erro de Versalhes, que fez do período de 1919 a 1939 ser 
considerada como um período de “Vinte Anos de Crise” por Edward Carr foi o 
fato de que ao contrário do que ocorreu em Viena em 1815,quando os 
vencedores souberam separar a causa da crise (Napoleão) e evitaram punir 
coletivamenteo povo francês, o que levou a Europa a um período de cem anos 
de paz,em Versalhes,a grande mola propulsora foi o desejo de vingança 
francês que resultará na ascensão do nazismo alemão. 
A Primeira Guerra chegava ao seu fim, um conflito que matou 17 
milhões de pessoas entre militares e civis e que ficou marcado por ser a 
primeira guerra na qual foram usados aviões, uma invenção recente na época, 
tanques, metralhadoras, lança chamas e armas químicas como o gás mostarda 
e o fosgênio. Na Europa outrora orgulhosa de suas realizações ficara um gosto 
amargo: a mesma ciência que aumentara a expectativa de vida do homem fora 
usada para matar, ferir e mutilar em massa outros homens. Ficara a sensação 
de que a barbárie não havia sido superada e que bastava a sensação de 
ameaça que o tal “homem civilizado e culto” poderia rapidamente regredir ao 
estado de natureza hobbesiano. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o Breve Século XX (1914-1991) 
São Paulo: Cia das Letras, 2000. 
 
JUDT, Tony. Reflexões sobre um século esquecido: 1901-2000. Rio de 
Janeiro: Objetiva, 2010. 
 
MAGNOLI, Demétrio. História da Paz. São Paulo: Contexto, 2008. 
 
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: Uma História Concisa. São Paulo: 
Martins Fontes, 1999. 
 
 
 
 
 
	Conversa inicial
	REFERÊNCIAS

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