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La herencia de la criminologia critica - Elena Larrauri - 1991 (2) (1)

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Rodrigo Moretto 
LA HERENCIA DE LA CRIMINOLOGIA CRITICA 
Elena Larrauri (1991) 
 
Índice 
 
1. BOAS VINDAS AS TEORIAS NORTEAMERICANAS................................... 3 
Introdução .............................................................................................................. 3 
I. A conexão sociológica: crítica a teoria da anomalia e as teorias subculturais ....... 3 
II. A morte de Lombroso: as tendências anticorrecionalistas ................................... 6 
III. Uma troca de paradigma: o labelling approach................................................. 9 
III. A. Quando se aplica uma etiqueta?.................................................................. 10 
III. B. Quem e porque se aplica o etiquetamento? ................................................. 11 
III. C. Como se aplica esta etiqueta?..................................................................... 12 
III. D. Quais são as conseqüências da aplicação da etiqueta? ................................ 13 
IV. Sociologia da Vida Cotidiana: Etnometodologia, Antipsiquiatria e Marxismo . 14 
IV. A. Etnometodologia........................................................................................ 15 
IV. B. Antipsiquiatria............................................................................................ 16 
IV. C. Marxismo................................................................................................... 18 
2. A NOVA TEORIA DO DESVIO ..................................................................... 20 
II. 1. Questionamento do consenso social ............................................................. 22 
II. 2. Questionamento acerca da natureza patológica da ação desviada.................. 23 
II. 3. Status do ato desviado.................................................................................. 23 
II. 4. Questionamento da natureza absoluta da reação ........................................... 23 
II. 5. Questionamento do caráter objetivo das estatísticas...................................... 24 
II. 6. Questionamento do delito comum................................................................. 24 
II. 7. Questionamento do caráter determinado do delinqüente ............................... 24 
II. 8. Caráter do desviado ..................................................................................... 25 
II. 9. Questionamento do fim corretivo da política criminal ................................... 25 
II. 10. Questionamento do papel do ciminólogo: ................................................... 26 
4. A CONTRA-REFORMA ................................................................................. 29 
I. Os Duros Anos Setenta: O Desfalecimento Da Ndc........................................... 30 
II. A descoberta da classe operária: a gravidade do delito comum......................... 32 
III. O idealismo e o romantismo de esquerda: crítica à inversão dos postulados 
positivistas............................................................................................................ 33 
III. 1. O consenso é “realidade e ilusão” ............................................................... 34 
III. 2. Há “diferentes” atos desviados.................................................................... 34 
III. 3. O ato desviado “exacerba” os valores do sistema........................................ 34 
III. 4. A reação não constitui o desvio................................................................... 34 
III. 5. O caráter “não-disjuntivo” das estatísticas .................................................. 34 
III. 6. Delito comum “aumenta e é grave” ............................................................. 35 
III. 7. O delinqüente é livre e determinado ............................................................ 35 
 2 
III. 8. O delinqüente não é Robin Hood ................................................................ 35 
III. 9 Para uma política criminal “intervencionista” ............................................... 35 
III. 10. O criminólogo condenador ........................................................................ 36 
III. 11. A atenuação da concepção instrumental do direito .................................... 37 
IV. Sumário .......................................................................................................... 38 
5. LA CRISIS DE LA CRIMINOLOGÍA CRÍTICA (A CRISE DA 
CRIMINOLOGIA CRÍTICA)............................................................................... 39 
Introdução ............................................................................................................ 39 
I. Crise: que crise? ................................................................................................ 39 
II. A questão etiológica: as causas de seu abandono.............................................. 43 
II. A. Porque era crítico superar o paradigma causal?............................................ 43 
II. B. Porque é crítico recuperar a pergunta causal?............................................... 43 
III. As alternativas ao cárcere: redes mais amplas?................................................ 44 
IV. A função simbólica do direito penal: o paradigma da nova criminalização....... 47 
V. A vitimologia: no lado de quem estamos?......................................................... 50 
VI. A tarefa do criminólogo crítico: o que fazer?................................................... 51 
 
 3 
 
LA HERENCIA DE LA CRIMINOLOGIA CRITICA 
 
 
1. BOAS VINDAS AS TEORIAS NORTEAMERICANAS 
 
 
Introdução 
 
A década de 50 está dominada nos Estados Unidos por teorias criminológicas que se 
baseiam em um modelo funcionalista de sociedade, na teoria da anomia e nas teorias subculturais. 
Estas teorias foram criticadas por Matza por entender que estas permanecem atreladas a 
criminologia positiva. 
A criminologia positiva explicava os delitos através de causas biológicas, psicológicas e 
sua interação com causas sociais, mas não explicava o aumento do índices de criminalidade nos 
anos 60, período de prosperidade econômica e aumento da intervenção social. 
Contemporaneamente se desenvolve a pespectiva do etiquetamento (labelling approach), 
que produz uma troca de paradigma.. O estudo do delito é concentrado não na ação, mas sim na 
reação social. 
Este enfoque está ligado ao clima político dos anos 60. A revolta dos estudantes, as 
manifestações pacifistas, o movimento em favor dos direitos humanos, a nova esquerda, e por 
conseqüência a criminalização destas atividades dão credibilidade a idéia de que o controle penal 
produz a desviação. 
 
 
I. A conexão sociológica: crítica a teoria da anomalia e as teorias subculturais 
 
As teorias criminológicas dominantes nos Estados Unidos na década de 50 eram as teorias 
da anomia e as teorias subculturais. A teoria da anomia e de certa forma as teorias subculturais se 
baseiam na corrente sociológica funcionalista desenvolvida por Parsons. 
Seria absurdo em poucas palavras falar sobre as perspectivas mais influentes da sociologia. 
A única coisa que resultaria disso seria um esboço esteriotipado e limitado. Esteriotipado porque 
reproduz as afirmações da corrente funcionalista. Limitado porque o conjunto da teoria 
funcionalista só destaca os aspectos relevantes para a criminologia. 
 4 
O funcionalismo pretende explicar como manter a sociedade unida. 
Segundo Hobbes o funcionalismo utiliza como paralelo um corpo vivente, por exemplo, 
um corpo humano. A sociedade é igual ao corpo humano, pode ser concebida como um sistema. 
Este é um todo composto de diversas partes atreladas entre si. As trocas entre as partes afetariam 
o funcionamento do todo. 
Também a sociedade é formada por por um sistema formado por vários subsistemas 
(político, econômico, cultural) desenvolvidos para assegurar o funcionamento, manutenção e 
reprodução da sociedade. Por sua vez os subsistemas são compostos por múltiplasinstituições 
(família, escola, religião). Por que estas instituições existem, porque cumprem este ou aquele 
papel na sociedade, só podemos entender estas questões analisando as funções que cumprem no 
contexto social global. 
Assim, para entender o funcionamento da sociedade devemos analisar as diversas 
instituições. 
Como se assegura que todas as instituições contribuam para o funcionamento do sistema? 
Isto se consegue porque todas as instituições compartilham dos mesmos valores sociais, de tal 
forma que estes valores gerais e globais permitem o consenso no fundamental que é o 
funcionamento integrado de todo o sitema social. 
As instituições são compostas por indivíduos e por estes valores que devem resultar em 
direções concretas de atuação. 
Para que estes valores resultem em situações concretas de ação são necessárias as normas, 
específica para cada forma de comportamento associado ao status social que ocupa. 
Porque o indivíduo se comporta de acordo com as normas de atuação, que o impede de se 
desviar dela? 
O que evita a desviação é o fato do indivíduo ter sido socializado nos valores culturais e 
nas normas. 
E existe uma motivação para se comportar de acordo com as normas, baseada na 
concessão de prêmios e castigos. 
Assim podemos falar em controle social que pode ir de um mínimo formal (sentimentos de 
vergonha, elogios, etc) a um máximo formal (a imposição e o castigo realizado pelo sistema pena, 
com a obrigação de ressocializar-se). 
Resumimos: a influência do funcionalismo na criminologia se reflete no estudo do tema 
do delito e do sistema penal com base nas funções e disfunções que os comportamentos trazem 
para o sistema social. Conceber o controle social como uma reação a desviação, sendo que esta 
 5 
representa uma deficiente socialização das normas sociais e importante para os penalistas 
conceber que esta depende da motivação do indivíduo para atuar de acordo com a norma, sendo 
esta baseada em prêmios e castigos. 
No entanto, a nova teoria da desviação não foi tão influente quanto as teorias que críticas 
a esta que surgiram nos anos 70. 
De acordo com a teoria da anomia desenvolvida por Merton, os indivíduos adquirem 
objetivos que são valorados em cada sociedade. A cultura não só designa os objetivos valorados, 
mas os meios através dos quais possam ser adquiridos. Isto se realiza pelo valor (riqueza), mas 
não se aceita que se consiga de qualquer maneira. 
Do exposto surgem algum problemas. O primeiro é que as pessoas não internalizam 
adequadamente a necessidade de respeitar os meios legítimos para atingir os objetivos. 
Um segundo é que a cultura define os objetivos de forma igualitária, porém as 
possibilidades não são repartidas de forma igualitária. 
Por conseqüência disto surge uma tensão, uma situação de anomia (ausência de normas). 
Umas das respostas que o indivíduo pode adotar frente a esta tensão é o comportamento 
delitivo. 
Para Merton este comportamento delitivo é uma problema de socialização defeituosa, uma 
situação criada estruturalmente, produto de uma tensão entre os objetivos culturas (êxito 
ecônomico) e os meios legítimos limitados que existem para atingí-los. 
Já o presssuposto comum das teorias subculturais e a delinqüência está em uma resposta 
que é a solução social compartilhada dos problemas causados pela estrutura social. 
As teorias subculturais representam o intento de combinar um enfoque macro dos 
problemas criados pelas estruturas com um enfoque micro, de onde se localiza e como se 
aprendem os comportamentos delitivos. O intento dessa teoria era verificar a origem das 
diferenças, isto é, porque determinados comportamentos se desenvolvem em alguns ambientes e 
em outros não. 
As teorias subculturais aceitaram que os jovens de extratos inferiores da sociedade se 
encontram em estado de tensão por não poder atingir os objetivos culturais valorados pela 
sociedade. Frente a esta tensão o jovem renegará os objetivos culturais valorados dominantes e 
desenvolverá valores próprios de sua subcultura de acordo os objetivos a serem valorados. O 
desenvolvimento de uma subcultura delitiva aparece como uma resposta aos problemas surgidos 
por uma má situação na estrutura social. 
 6 
As teorias da anomia e subculturais aceitam a atividade delitiva como um comportamento 
induzido pela má localização do jovem na estrutura social. 
Estas teorias sofreram duram críticas nos anos 60. Três são as razões: Primeira. As 
mesmas críticas feitas as teorias funcionalistas foram repercutir na credibilidade destas teorias que 
tinham por base um modelo funcionalista de sociedade. 
Assim podemos lembrar a crítica aos funcionalistas no sentido de que existem diversos 
grupos na sociedade e que estes possuem uma multiplicidade de valores e que não é difícil prever 
que exista conflito em torno dos valores e interesses que cada grupo defende. 
Um segunda crítica as as teorias subculturais é a realizada por Matza que diz que estas 
teorias possuem inconsistências internas, permanecendo baseadas algumas de suas idéias na 
criminologia positivista. Ele questiona os pilares básicos da criminologia positivista que é o de 
entender o delinqüente como um ser distinto do cidadão convencional. 
A última crítica as teorias da anomia e subculturais residem no fato de que estas não a 
desviação predominante nos anos 60, que era formadas por delitos sem vítima (drogas, 
homosexualidade, campanhas em favor dos direitos humanos, etc). E este tipo de desviação era 
majoritariamente da classe média. Frente a isto a desviação baseada na tensão dos extratos 
inferiores da estrutura social e carecedor de acesso aos objetivos culturais valorados ficou 
seriamente debilitada. 
Na verdade quando se critica as teorias da anomia e subculturais se está criticando as 
teorias funcionalistas do delito e a criminologia positivista. 
As teorias funcionalistas do delito eram criticadas por afirmar um sistema uniforme de 
valores e assim aceitar a delinqüência como um fenômeno patológico. 
Os positivistas eram criticados, pois defendiam a idéia de um ser patológico, ou seja, que 
o delinqüente era um ser doente e que necessitada de tratamento. 
Matza com estas críticas remarcou o cárater transitório e voluntário da maior parte da 
delinqüência, afirmando que o homem é sujeito e não um objeto como veremos adiante. 
 
 
II. A morte de Lombroso: as tendências anticorrecionalistas 
 
Importante a nova teoria da desviação foram as críticas feitas por Matza as teorias 
positivistas. 
 7 
Ele nega a existência do delinqüente como um ser patológico distinto. Para ele o 
delinqüente aceita e compartilha dos valores sociais dominantes. O delinqüente necessita utilizar 
umas técnicas de neutralização. 
Essas técnicas de neutralização são: 1. negação da responsabilidade; 2. negação do dano; 
negação da vítima, entre outros. Essas ténicas se baseiam em respostas que são normalmente 
aceitas pela sociedade e o delinquënte justifica seus atos com respostas utilizadas pelos membros 
convencionais da sociedade. 
Matza também analisa a juventude e assinala que os jovens americanos se comportam de 
forma convencional e participam de versões convencionais das tradicionais juventudes desviadas. 
O caráter rebelde da juventude leva esta a participar de um setor de subculturas desviadas. 
Existe uma relação dialética das subculturas com o contexto social mais amplo. As 
diversas subculturas do mundo convencional tem relação com as tradicões subterrâneas presentes 
neste, relações que modificam tanto a subcultura quanto a cultura dominante. 
Estas relações impedem de conceber as subculturas como algo totalmente oposto aos 
valores que regem o mundo convencional. 
Assim, percebe-se que existem valores que em sua versão extema configuram forma de 
rebeldia juvenil, mas que também tem sua versão juvenil convencional. 
Sobre o positivismo Matza afirma que este foi uma sobrerreação aos postuladosda escola 
clássica. O legado positivista pode ser resumido em três premissas: 
Primeira: A primazia do autor sobre o ato infrator 
Por influência da escola positivista toda a criminologia posterior tem buscado explicar a 
delinqüência baseada nas características do sujeito. 
As teorias justificam o comportamento delinqüente em aspectos físicos. 
E as teorias da personalidade afirmam causas do comportamento delinqüente os diferentes 
fatores que incidem sobre a personalidade. 
A conexão do delinqüente com seu contexto social mais amplo iniciou a superação da 
imagem de delinqüente patológico determinando o delito e reafirmaram a idéia de um sujeito 
socialmente distinto e comprometido, por pertencer as subculturas, com a atividade delitiva. 
O positivismo havia diminuido, mas não havia desaparecido. 
Segunda: A concepção de um sujeito determinado 
Para dar um caráter científico a questão passou-se a estudar o homem como um objeto, 
determinado por várias causas que regem a física. 
 8 
A conseqüência foi a negativa da liberdade do homem como se as ciências sociais fossem 
científicas. 
Essa negação da liberdade não comporta o castigo do homem, então apareceram as idéias 
de correção das faltas que causaram o delito, ou seja, surgiram as idéias de tratamento 
essencialmente baseadas na correção do delinqüente incapaz de autodeterminar-se. 
Se bem que de resto as ciências sociais produziram um determinismo soft que realça a 
peculiaridade do objeto de estudo – o homem – com sua capacidade para ser causa e não somente 
efeito, sujeito e não somente objeto. 
Terceira: A diferenciação entre delinqüentes e sujeitos convencionais 
Baseia-se esta premissa na visão de que o delinqüente é um ser distinto do resto dos 
cidadãos convencionais. Diferenças estas baseadas em heranças genéticas, em distintos contextos 
socias e em distintas personalidades. 
Realizada a crítica a criminologia positista Matza elaborou sua explicação da delinqüência 
(principalmente juvenil) baseada nas seguintes idéias: similitude do delinqüente com o cidadão 
convencional, o caráter intermitente de sua atividade e a capacidade do homem para 
autodeterminar-se. 
Como se explica as atividades delitivas? Matza recupera os conceitos de tradições 
subterrâneas e técnicas de neutralização. Para que o sujeito incorra em atividades delitivas é 
necessário que ele neutralize o vínculo que o une ao sistema normativo. Essa neutralização é a 
função que cumpre a subcultura. 
Essa acomodação se dá por meio de duas técnicas. O primeiro mecanismo é a presença 
das tradições subterrâneas na cultura convencional. 
A subcultura (desviada) representa uma extensão e radicalização das tradições 
subterrâneas presentes na cultura convencional. 
Um segundo mecanismo são as técnicas de neutralização que consistem na criação de um 
sistema de valores que justifiquem o fato delitivo. Assim se produz uma ampliação das excusas 
legais previstas no direito penal que eximem da responsabilidade penal. 
Essas técnicas consistem: 1. negação das responsabilidades; 2. sentimento de injustiça; 3. 
definição como dano civil, em vez de delito. Com estas técnicas o indivíduo neutraliza o vínculo 
que o une a ordem normativa. 
Assim neutralizado o vínculo Matza entende que a situação é propicia a prática de 
atividades delitivas. E essa prática se materializa dependendo da vontade do sujeito e das 
condições favoráveis. 
 9 
Frente ao positivismo Matza sugere a substituição de uma perspectiva correcionalista por 
uma apreciativa, a adoção de uma imagem de diversidade frente a patologia, negação da 
sobreposição do mundo convencional sobre o mundo dos desviados. 
Na última parte de seu livro Matza fala sobre o processo pelo qual uma pessoa passa a ser 
considerada delinqüente. Estes processo se dá em três momentos: 
Primeiro: a afinidade 
Nesta o sujeito responde a uma série de causas. Por exemplo, a pobreza. 
Segunda: a afiliação 
Neste o sujeito precisa converter-se em delinqüente, precisa aprender. 
Terceira: a significação 
Uma vez realizado o delito, o sujeito contemplará a atividade desde dentro do currículo de 
iniciados.O ato praticado para a ter o significado de um ato proibido. O ato posterior é o ato da 
detenção e encarceramento. O processo penal passa a ter significado de ato proibido e dentro do 
submundo do crime o sujeito pode assumir finalmente a identidade de delinqüente. 
 
 
III. Uma troca de paradigma: o labelling approach 
 
As dúvidas mais influentes dos anos 60 foi o labelling approach. 
Os representantes do labelling approach buscaram apoio nas correntes sociológicas que 
na década 60 (re) emergem o interracionismo simbólico (criado por Mead). 
Acabam resurgindo a criminologia pelos teóricos do etiquetamento. 
Segundo Blumer existem duas diferenças entre as correntes tradicionais estruturalistas e o 
interracionalismo simbólico. 
Primeira 
Estudam o indivíduo como um mero objeto, sobre várias confluências, fatores sociais e 
psicológicos que levam a atuar em determinado sentido. Estudam o indivíduo como um ser que 
atua em função da interpretação dos objetos, situações e ações dos outros. 
Blumer entende que o autor percebe o comportamento do outro como uma ação plena 
significando expressando algum objetivo ou sentimento integrado em um rol. 
Para compreender a ação social esta deve ser estudada desde a perspectiva do autor. 
Segunda 
 10 
As ações dos indivíduos não se concebem sujeitas as necessidades do sistema, suas 
funções ou a determinados valores culturais, mas sim respondem as necessidades de lidar com as 
situações que as pessoas se encontram na vida cotidiana. 
Desta forma, as estruturas e organizações sociais são o marco donde se produzem as 
ações e não suas determinantes. 
O labelling approach foi saudado como marco da troca de paradigma da desviação. 
Ocorreu um mudança no objeto do estudo: do estudo do delinqüente e as causas de seu 
comportamento (paradigma etiológico) para o estudo dos organismos sociais que tem por função 
controlar e reprimir a desviação (paradigma da reação social). Estes organismos sociais abarcam 
os assistentes sociais, psiquiatras, psicólogos, juízes, entre outros. 
Para exemplificar cita-se o caso de delinqüência juvenil em que os jovens praticavam jogos 
definidos como delitos, sem que os jovens soubessem que estes jogos se configuravam em um 
delito. 
Passou-se a pensar em uma série de conseqüências: como um ato se torna delito, como 
um grupo passa a ser considerado delinqüente. 
Observando isto vemos que a perspectiva do etiquetamento tem uma preocupação central: 
o que ocorre quando alguém é identificado e definido como delinqüente? Quais são os efeitos 
desta etiqueta para a pessoa etiquietada? 
 
 
III. A. Quando se aplica uma etiqueta? 
 
A resposta convencional é dizer que é quando alguém pratica um delito. 
Mas nem todos que cometem um delito são processados ou encarcerados, e por isso, não 
são etiquetados. 
Se delito é um comportamento definido como tal, este comportamento apresenta 
diferentes características dos outros. 
A diferença é que alguém comportamentos são definidos como delitos e outros não. 
Segundo Becker a desviação não é uma qualidade do ato que a pessoa realiza, mas sim 
uma conseqüência da aplicação de regras e sanções que os outros aplicam ao ofensor. 
Se desprende disso que a desviação não tem uma natureza ontológica, não existe 
independentemente da margem de um processo de reação social. 
Esta reação social é o que define determinado ato como desviado. 
 11 
Em conseqüência, o delito não é um ato mas sim uma construção social que requer um ato 
e uma reação social (independente). 
E o delinqüente não é aquele que delinqüe, mas aquele que é atribuída a etiqueta de 
delinqüente. 
O etiquetamento não é resultado do ato desviado, mas sim o significado que é atribuído a 
este ato. 
Percebe-se que nenhum ato é desviado, mas sim observa-seque a reação social suscita. 
A reação social varia no contexto no qual o ato se produz. 
Por exemplo, no latrocínio a reação social é negativa, entretanto, no homicídio em 
legítima defesa a reação social é positiva. 
Para que um ato seja considerado desviado deve haver uma reação social negativa, assim 
o ato passa a ser desviado e se etiqueta o sujeito. 
 
 
III. B. Quem e porque se aplica o etiquetamento? 
 
A resposta mais óbvia seria: deve-se castigar os atos mais graves que põe em perigo a 
existência do sistema social. 
Becker entende que a razão porque se etiquetam determinados atos é devido ao fato de 
que o processo de etiquetamento cumpre umas funções sociais, independentemente de quem se 
etiqueta. 
Mead afirma que o delinqüente era usado como bode expiatório, para reafirmar a 
solidariedade social. Se une todo bom cidadão contra o delinqüente. 
Gusfield analisando a legislação norteamericana trás novos argumentos. Exemplifica 
dizendo que a proibição do consumo de alcóol nos Estados Unidos visava impedir o consumo do 
produto e também perseguir os novos grupos sociais (industriais e católicos) que eram 
consumidores desse produto. 
 Becker sugeria que o castigo de determinadas atividades era a obra de empresários 
morais de grupos de pressão que conseguem impor sua peculiar visão de mundo e seus peculiares 
valores, castigando todos que se contrapõe a eles. 
Juntamente com eles atuavam os policiais e os assistentes sociais como mais ativos 
etiquetadores, os primeiros representando a intromissão do sistema penal e os segundos a 
intervenção do sistema de assistência social. 
 12 
A pergunta que fica é: o castigo cumpre alguma função social? Porque estas e não outras 
são atividades etiquetadas? A quem interessa etiquetar uma e não outras condutas? Quem eram os 
empresários morais? 
 
 
III. C. Como se aplica esta etiqueta? 
 
Para que uma pessoa seja considerada delinqüente, não depende da realização do ato, 
senão do reconhecimento público deste, mas não se deve extrair do estudo do porque somente 
certos atos são tipificados, que estes tem origem numa reação social formal. 
Também deve-se averiguar que somente uma minoria de atos considerados como delitos 
são objeto de efetiva persecução penal. 
Kitsuse-Cicourel diz que os índices de comportamento desviado são produzidos por ações 
desenvolvidas pelas pessoas do sistema social que definem, classificam e registram determinados 
comportamentos como desviados. 
As estatísticas refletem a distinta persecução policial de que são objetos determinados 
comportamentos e também a maior vulnerabilidade de alguns grupos sociais que sofrem essa 
persecução. 
É importante resaltar um estudo (Vild-Bernard) que verifica o porque existe uma maior ou 
menor persecução criminal sobre determinados comportamentos que são considerados como 
delitos. As respostas são as seguintes: 
Primeira: Maior interação da polícia com o infrator 
Esta depende da imagem que a polícia tem do infrator. Exemplo: educação, raça, forma de 
agir, etc. 
Segunda: Maior interação da polícia com a vítima 
Esta depende da imagem que a polícia tem da posição social da vítima, da insistência 
desta, etc. 
Terceira: Organização da olícia 
Existem municípios com delegacias especializadas. Por exemplo: furtos, narcotráfico, 
delitos contra as mulheres, etc. 
Quarta: A troca das políticas policiais também podem ocasionar uma persecução 
diferenciada 
 13 
Podem dar maior atenção a violência doméstica ou a abuso sexual de menores, por 
exemplo. 
Quinta: A concepção da polícia 
A própria concepção que a polícia tem de seu trabalho poderá influenciar a persecução 
deste ou daquele ato considerado delituoso. 
A questão que fica é a seguinte: o sistema penal normalmente tem uma visão de que o 
delinqüente é homem, moreno, de aspecto delgado. Porque esta imagem? Porque estes são os 
elegidos? 
 
 
III. D. Quais são as conseqüências da aplicação da etiqueta? 
 
De acordo com o interaccionismo simbólico o indivíduo constrói seu eu com base nas 
interações com os demais indivíduos. 
O indivíduo pode acreditar numa beleza e atuar de acordo com este crença, mas a medida 
que a respostas dos demais não confirmam essa crença, o indivíduo mudará a percepção de si 
mesmo. 
Os infratores raramente tem uma concepção de si mesmos como delinqüentes, sendo que 
seus atos tem alguma explicação que desaprovam o caráter criminal. 
Alguns sujeitos podem resistir a condição de ser etiquetados como delinqüentes, mas 
podem aceitar e econtrar vantagens. Por exemplo: o jovem com problemas pode ficar aliviado ao 
ser etiquetado como delinqüente juvenil e enviado para o entorno familiar. 
Ao assumir a nova identidade ele passa a integrar o novo grupo social e desenvolver 
comportamentos próprios do novo grupo. 
Desta forma, assumindo a identidade criminal abre a possibilidade para integrar uma 
subcultura desviada, estabelecer novas relações, comportamentos, etc. 
A etiqueta é uma profecia que se auto-realiza: O definido como ladrão acaba sendo um 
ladrão. 
Lemert faz uma diferença em desviação primária, que são aqueles atos que o sujeito 
realiza devido a fatores sociais, psicológicos, etc e a desviação secundária é aquela na qual o 
sujeito guiado por fatores iniciais é levado a uma nova situação, uma nova identidade, uma 
crença, como forma de responder os problemas gerados pela reação social. 
 14 
A crítica ao processo penal radica na sua contribuição decisiva neste processo de assunção 
da nova identidade criminal. 
Conclui-se observando que devido a assunção do status de delinqüente lhe proporciona o 
apoio de um determinado grupo social, novas possibilidades de atuação e devido as restrições que 
se encontra para atuar no mundo convencional, uma vez etiquetado como delinqüente, o sujeito 
assume sua nova identidade e seus atos são guiados por esta nova faceta. 
Nota-se um enorme impacto do da perspectiva do etiquetamento na criminologia 
posterior. O objeto de estudo dos anos posteriores foi o papel dos agentes de controle na criação 
e ampliação da delinqüência. 
O centro das atenções se desprende do indivíduo que delinqüe para os órgãos que 
controlam, dos motivos que se realiza os atos delitivos iniciais para respostas que aceitam uma 
vez assumida sua nova identidade criminal. 
 
 
IV. Sociologia da Vida Cotidiana: Etnometodologia, Antipsiquiatria e Marxismo 
 
Para o surgimento da nova teoria “de la desviación”, foi necessário nutrir-se de idéias 
provenientes das ciências sociais influentes na década de 60. 
Estas teorias foram precisamente assimiladas por seu “ar radical”. Estas correntes se 
negavam a aceitar a objetividade. A desviación se revelou como uma categoria socialmente 
construída. Os índices de delito, as imagens da “desviación”, e as atividades desviadas tiveram 
vida com os acontecimentos realizados pelo homem no mundo social. 
Com o homem emergiu uma nova concepção, de que o homem seria capaz de transformar 
o mundo. (isto é um esboço das idéias que permeavam-se, passando a fazer parte do saber da 
nova teoria “de la desviación”) 
Neste momento então, estas idéias se transformaram em ideais. 
O clima político favoreceria uma leitura radical de teorias. 
Entender que o labelling aproach provinha de uma só vertente, há um dado lugar, como 
veremos, há numerosos mal entendidos1. (Plummer, 1979) 
É certo que também esta confusão não era privativa da criminologia. Também na 
sociologia se discutia as diferenças entre interacionismo simbólico e etnometodologia , também os 
etnometodólogos deviam explicar que eles são distintos de uma sociologia fenomenológica. 
 
1 Larrauri, Elena .La herencia de la criminologia crítica . página 40 
 15 
 
 
IV. A. Etnometodologia 
 
A etnometodologia não foi uma corrente desenvolvida para abordar os problemas “de la 
desviación”. É provável que sua influência sedeva a similitude das posições de Garfinkel com 
idéias provenientes do interacionismo simbólico, e que foram recebidas, integradas, re-elaboradas 
e maltratadas, por alguns novos sociólogos. 
A repercussão de seu fundador Garfinkel , (da nova sociologia da desviação), se 
configurou com seu artigo, que foi lido como um argumento contra os órgãos de controle social. 
Neste artigo afirma que os “autores” do delito se vêem degradados em seu status e com uma 
nova identidade; substituindo a anterior: “o sujeito é o que sempre havia sido, um ladrão”. Os 
mesmos são vistos como acidente, causalidade ou excepcionalidade . 
Ao Juiz, ao juizado, a sociedade, não importa determinar quem é, senão concluir que não 
é como nós mesmos. Estas decisões são morais, implicam um pronunciamento moral contra atos e 
sujeitos como estes. 
Aos denunciantes cabe ser visto como um representante público, de qualidades e valores 
de uma maioria. 
Finalmente, o acusado deve ser estranho, não tem nada que ver com os valores do jurado 
e nem do denunciante, deve ser ritualmente separado da comunidade. 
Estas são as condições que, de acordo com Garfinkel, devem cumprir as cerimonias de 
degradação para terem êxito. 
A crítica implícita que, em minha opinião, trazia o artigo de Garfinkel, era que em nossas 
sociedades estes procedimentos se institucionalizaram em um corpo de profissionais. Ele salientou 
diferenças com as cerimonias de degradação que se produziam em sociedades tribais; que no caso 
por tribunais, foi estruturada de forma diferenciada e nada propícias. 
A etnometodologia é uma corrente sociológica norteamericana desenvolvida 
fundamentalmente por Garfinkel (1967) . Definiu como o estudo do conhecimento de sentido 
comum e a variedade de procedimentos e considerações pelos quais os membros correntes da 
sociedade dotadas de sentido, encontram seu caminho e atuam nas circunstâncias em que se 
encontram. É conhecido que a etnometodologia recebe influência da sociologia fenomenológica 
de Schutz e da corrente funcionalista de Parsons. 
 16 
Recordemos que para Parsons, o indivíduo se comporta da forma esperada devido a 
internalização de normas de conduta, e o mesmo se motiva a internalizá-las com base ao 
estabelecimento de prêmios e castigos. Garfinkel como já vimos, não pensa assim, mas a base da 
ordem que propõe Schutz – um conhecimento compartilhado por um processo inter - subjetivo de 
ajustamento contínuo ( parece demasiadamente frágil como garantia de ordem comum). 
Garfinkel afirmará que este processo cognitivo serve para interpretar o mundo e para atuar 
conforme este. Mas uma desviação da ordem cognitiva não é alegremente tolerada, senão que se 
trata como uma questão moral e é objeto de sanção. 
Este tipo de reação permite compreender que em efeito, todos tentamos atuar conforme 
normas para evitar sanções. Por outro lado, o comportamento sempre será objeto de 
interpretação, com base a outro marco de referência; nossas ações estam condenadas a possuir 
significado. 
A primeira idéia de Garfinkel com a criminologia é que deve-se analisar o fato 
considerando o olhar do autor, deve-se ver o mundo com os seus olhos. 
Para entender um ato não é suficiente ver sua externalidade, senão que devem analisar-se 
os motivos, os interesses, os conhecimentos do autor que vão materializado no comportamento. 
Certo que as vezes as explicações não convencem. Uma pessoa pode explicar porque 
realizou determinada conduta e o estudioso pode pensar que na realidade ele se deve a outros 
motivos. 
Esta imputação de motivos, ou a designação de determinados comportamentos como 
irracionais, é o que se combate com a indiferença etnometodológica. 
Para entender o comportamento deve-se analisar os atos e as explicações, ambos se 
constituem em objeto de estudo. 
A Segunda idéia e talvez a mais influente e descutida partiu de Garfinkel, a qual definiu a 
atitude fenomenológica. Esta atitude se baseia em aprendizagem anterior, as quais são fixadas e 
construídas como verdade para o indivíduo. Por isso Husserl também entendia que o papel da 
consciência era primordial; pois um objeto real é uma constituição de unidade de significado, 
consequentemente a visão não só percebe o objeto senão que o constitui. 
 
 
IV. B. Antipsiquiatria 
 
 17 
A antipsiquiatria discutiu que a enfermidade mental fosse exclusivamente uma questão a 
determinar técnica, objetiva e medicamente. O esquizofrênico seria aquele que não podem 
suportar mais a estrutura familiar, o loco seria aquele que não pode compreender as demandas 
contraditórias de uma sociedade irracional embasada em trabalhar para consumir e consumir para 
trabalhar; o homossexual é considerado como uma alteração psiquiátrica, refletindo um conflito 
de valores. Estas concepções(1974) aparecem como resposta a um contexto social, onde o 
patológico era considerado o contexto. O comportamento do sujeito, por estranho que fosse, 
adquiria sentido se analisado as circunstâncias em que se produz. Também a delinqüência havia 
sido frequentemente explicada como resposta a problemas criados pela estrutura, pela invenção 
dos agentes de controle. 
Não somente a enfermidade mental era uma resposta a uma sociedade, senão que 
representava outra forma de manejar as contradições que a sociedade submetia. 
A enfermidade, uma característica intrínseca da pessoa, seria uma atribuição a um estatus 
social inferior. 
Com estas premissas, a antipsiquiatria era questionada. 
O trabalho do psiquiatra é visto como um intento de des- politizar os problemas e 
convertê-lo em problemas individuais. Ignoram que a enfermidade mental é uma etiqueta. (O 
saber psiquiátrico na visão da autora é ambiguo , dubio). 
Existiam indivíduos que se comportavam de modo estranho, mas até que ponto estes 
comportamentos não eram um produto das atuais práticas psiquiátricas? Neste momento a autora 
realiza duras críticas a institucionalização dos enfermos em hospitais e da existência do cárcere. 
Ao seu olhar a institucionalização somente agrava o quadro destes indivíduos: devido ao estigma 
social. Goffman destaca que ao entrar no sistema, inicia-se o processo de degradação e 
mortificação: corte de cabelo, troca de roupas, retirada de pertences restrição ao fumar, 
telefonemas, visitas... definitiva privação de direitos. Ele propõe a retirada, desaparecimento da 
internação e por extensão todas as instituições totais. 
As instituições psiquiátricas apresentam tantas contradições que enlouquecer nelas não é 
excessivamente difícil . A autora propõe um revisão de métodos e conceitos no trato com estas 
pessoas ditas delinqüentes. 
Não podemos desconhecer as contradições que atravessavam o campo da psiquiatria. Sem 
querer avançar demais, destacamos que a anti-psiquiatria se debatia em contradições que 
atravessavam toda a nova teoria da desviação: a enfermidade mental era resposta ao contexto, o 
louco sabia o que fazia, racional em seus atos e responsabilidades, mas ao mesmo tempo deveria 
 18 
ser considerado irresponsável; se queria evitar as conseqüências da responsabilidade penal e 
conceder-le um trato mais benevolente. 
 
 
IV. C. Marxismo 
 
A influência das idéias marxistas na nova teoria da desviação, em minha opinião, é um 
reforço do que se escutava proveniente de outras teorias. Também a teoria marxista representa 
um legado contra a objetivação do mundo: o homem é responsável pelo mundo e pela 
necessidade de realizar trocas sociais. 
Cada sistema econômico se caracteriza por determinadas relações de produção, no sistema 
capitalista as relações de produção se caracterizam pela propriedade privada dos meios de 
produção e pelo trabalho assalariado. O desenvolvimento das forças produtivas conjuntamente 
com as relações de produção permitem classificar a evolução das sociedades em base a suas 
distintos modos de produção. De acordo com a teoria marxista, costumam destinguir-se nos 
seguintesperíodos: pré-capitalista(escravidão e feudalismo), capitalismo e comunismo. 
Esta contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, é o que originou 
revoluções burguesas e o surgimento das sociedades capitalistas. Da mesma forma, a contradição 
entre as forças produtivas e as relações de produção existentes no capitalismo, é o que provocaria 
a instauração de um modelo comunista. 
Junto com a economia, toda sociedade desenvolveu umas determinadas instituições 
jurídicas, políticas, etc. Estas constituem o que se denomina, vagamente de Estado. O estado é 
um sub-administrador e coordenador de bens e serviços que estavam fora do alcance da iniciativa 
individual, e o monopolizador da violência. 
No capitalismo, as relações de produção se caracterizam por uma relação de poder onde a 
classe proprietária tem a propriedade dos meios de produção, e do outro lado, somente a posse da 
força de trabalho.. Em conseqüência, uma característica relevante da sociedade capitalista é sua 
divisão em classes sociais, com a atenção a posição que ocupa com respeito aos meios de 
produção. Esta condição é alienante, retrato das condições em que se desenvolve as sociedades 
capitalistas. Significa que o “obreiro” não experimenta o produto final como parte de seu 
trabalho, como sua obra, não lhe é dado o direito de controle do processo, nem de modificar ou 
variar resultados. 
 19 
Quando se produz um objeto e o transforma em mercadoria, as relações se estabelecem 
através deste; relações entre objetos dotados de valor. O dinheiro entra nesta situação: ele nada 
mais é do que um papel dotado de valor. 
Estas características da produção capitalista permitem falar de uma alienação social; 
esquecendo que abaixo desta objetividade esta a capacidade humana de criar. 
Este sistema segundo Marx, gera infelicidade aos trabalhadores. Seus benefícios são 
esquecidos em pról da manutenção do poder de outros: produzindo assim, a luta de classes – cada 
classe social possui interesses enfrentados. 
Formalmente possuímos liberdade para trabalhar, mas o mercado nos impõe sua lei ; 
formalmente existe liberdade de expressão, de associação....Esta aparente liberdade cria uma 
ilusão. (críticas da autora) 
Para que ocorra a mudança é necessário uma revolução. Revolução que será possível 
quando a classe proletária tome consciência de sua situação, quando estiver organizada e em 
união com outras classes; permitindo a força necessária para conquistar o poder. 
Uma primeira conseqüência do conhecimento marxista foi o estudo da delinqüência . 
Sociólogos analisaram a delinqüência que se produz em uma sociedade embasada no mundo 
capitalista. Delinqüência tomando em consideração o contexto social global. Os primeiros estudos 
criminológicos concentraram-se nas relações entre delito e situação econômica; onde o delito não 
é um ato solitário, para entendê-lo é necessário compreender a sociedade que a produz. Existe 
uma relação entre delito e sociedade, entre suas estruturas econômicas, políticas e jurídicas. 
A Segunda idéia do marxismo seria a delinqüência como uma manifestação mais de luta de 
classes. Se a delinqüência é uma expressão de luta de classes, isto significa que os atos delitivos 
possuem um caráter político. Estão imersos em um conflito de interesses . 
Uma nova formação social por tanto, se eliminaria as causas e as situações criminógenas 
capitalistas que conduzem ao delito. Em síntese, a influência marxista serviu para politizar as 
correntes norteamericanas, para assim germinar a elaboração de uma nova teoria da desviação. 
É importante que se fixe a idéia de que este capítulo buscou clarificar que: a desviação é 
uma construçaõ social; que o sujeito é enfermo, e que por isso determinou seu delito será 
descartada (deve-se considerar o meio e cultura). As causas que levam ao delito são múltiplas , 
impossível enumerar e inúteis de ser estudadas. “o que importa é o processo, a etiqueta que leva”- 
sociedade. As estatísticas não são neutras nem objetivas, não contribuem. Para elaborar uma nova 
teoria da desviação, e eficazmente compreender o tema, é necessário sair do discurso da 
criminologia oficial...a qual será objeto do próximo capítulo. 
 20 
 
 
2. A NOVA TEORIA DO DESVIO 
 
Neste capítulo, a autora apresenta as afirmações mais comuns da “nova teoria do desvio”. 
A maior caraterística destas era o ceticismo a respeito de assuntos abordados pela criminologia 
clássica e a teoria do delito e, por isso, chama-os de “céticos”. 
Sua maior característica consistiu em questionar os principais pressupostos da 
criminologia positivista, embora nem sempre encontrassem respostas satisfatórias a estas 
indagações. 
Para compreendermos a formação deste grupo de “céticos”, a autora inicia por falar do 
impacto das teorias norte-americanas. Estas apresentavam o mundo como construção social e 
ressaltava a necessidade de desmistificar construções aparentemente objetivas como fenômenos 
sociais. 
A autora resume em um “decálogo” a forma como as contribuições das teorias norte-
americanas foram recebidas na Inglaterra: 
1.- Simpatizar com o desviado 
2.- o ato desviado é racional, apenas tem uma racionalidade diferente. 
3.- O homem é livre, o desviado também. O desvio é uma atitude política. 
4.- Ninguém é diferente, somos todos desviantes 
5.- O controle cria o desvio. Toda intervenção penal é negativa, pois etiqueta o sujeito. 
6.- Sejamos tolerantes, não ao etiquetamento. 
7.- O Direito Penal é um instrumento a serviço das classes dominantes. 
8.- A polícia atua com base em estereótipos. 
9.- O Direito Penal é seletivo, cria bodes expiatórios. 
10.- As estatísticas são uma construção social, não refletem a realidade. 
A leitura destas teorias na Inglaterra dos anos 60, produziu o que a autora chama de “nova 
esquerda”. Esta se caracterizava por questionar o positivismo e os órgãos de controle social. Para 
compreender o impacto destas teorias e porque tiveram tão amplos reflexos, é necessário analisar 
alguns dos fatos que marcaram a década de 60: a guerra do Vietnã e os protestos civis que a ela 
se seguiram; as lutas anti-raciais de Martin Luther King e, anos depois, seu assassinato; a 
“revolução cultural “ de Mao; o assassinato de Che Guevara; a “primavera de Praga”; os 
movimentos estudantis de maio de 68. Estes e outros acontecimentos favoreceram o clima de 
 21 
efervescência da década e acabaram por produzir este movimento de nova esquerda, que 
pretendia criar uma nova moral, em oposição à ética do trabalho (eminentemente capitalista) e à 
ética pequeno-burguesa da classe média. 
Neste contexto, esta nova esquerda defenderá o direito a ser diferente, ao prazer, a 
respeitar formas e opções diferentes de vida. 
Marcuse, pensador da escola de Frankfurt, era referência nesta época. Dentre as questões 
que estes pensadores colocavam, uma poderia ser emblemática no período: por que a revolução 
socialista não acontecia, se haviam todas as condições objetivas? 
Dada esta questão, passou-se a investigar as formas de opressão existentes na sociedade e 
a forma como as mesmas atuavam. Grosso modo, poderíamos resumi-las afirmando que a 
sociedade não se mantém apenas através de coerção externa, mas de coerções sutis. Perpetuação 
de necessidades de consumo que são criadas e que nos mantém presos à dinâmica capitalista: 
emprego, horários, hábitos de consumo (p. 70). Este controle leva as pessoas ao desvio. Larrauri 
cita Marcuse, onde afirma que as necessidades criadas artificialmente imobilizam o homem, 
tornando-o impotente e acrítico frente às mesmas. Há uma despolitização frente á vida, 
incorporaram-se as formas sutis de controle. Frente a isso, impõe-se uma repolitização da vida 
(p.71). a luta não era então apenas contra o sistema, mas para reestruturar a natureza humana. 
Tudo passa a ser político: de um lado, criminalizam-se protestos pacifistas. De outro, boicotar o 
consumo dedeterminados bens passa a ser um protesto político. “As fronteiras entre o pessoal, o 
político e o delitivo vão se fundindo” (p. 71, tradução livre). Tudo é político, o desviado é 
político. Como ator consciente, aquele que pretende outro modo de vida; como ator inconsciente, 
aquele que pratica delitos comuns que nada mais são do que a insurgência contra o sistema 
desigual ou como vítima de tais delitos. 
Toda esta produção dá-se à margem dos partidos de esquerda tradicionais, que, 
ortodoxos, viam com desconfiança tais movimentos, que não eram enraizados no movimento 
operário. Como conseqüência disto, ocorre a criação de inúmeros grupos marginalizados em 
relação a estes partidos de esquerda tradicionais. 
Os anos compreendidos entre 1968 e 1973 foram especialmente produtivos, nestes, um 
grupo de jovens sociólogos começa a reunir-se e a discutir sob perspectivas radicalmente em 
contraposição à criminologia clássica. Ao passo que esta pretendia ressociliazar e adotava 
enfoques psicologizados para tanto, estes jovens interessavam-se menos pela delinqüência comum 
e mais por estes novos fenômenos sociais, como o consumo de drogas, a homossexualidade, os 
 22 
delitos políticos. Acreditavam que não havia por que buscar corrigir a estes comportamentos e 
desconfiavam da criminologia que estivera até então a serviço do poder, em sua opinião. 
Acreditavam que dever-se-ia estudar o desvio e não o delito, buscando-se suas conexões 
sociológicas (p.73). Por isso, propunham abandonar a criminologia em prol do que chamaram a 
sociologia do desvio. Esta postura afastou-os do meio acadêmico, criando-lhes o rótulo de 
sociologia hippie. 
A necessidade de tornarem-se um grupo, faz com que fundem a National Deviance 
Conference. Este pretendia ser um foro permanente de discussão e produção de todos aqueles 
que trabalhassem como desvio. Ao longo destes cinco anos, o grupo saltou de sete fundadores 
para 230 membros; tiveram numerosa produção de artigos e ensaios, palestras, seminários, etc. 
Embora houvesse os mais diferentes matizes de pensamento de esquerda entre seus 
membros (desde liberais a marxistas ou anarquistas) estes estavam definidos em torno da busca de 
estudar e trabalhar com o tema do desvio . se várias questões os separavam, outras os uniam: 
sabiam contra quem lutavam, sabiam seu compromisso político, sua empatia com o mais fraco 
socialmente. 
Entre os postulados que criticavam e as hipóteses alternativas que levantaram, Larrauri 
cita dez proposições: 
 
 
II. 1. Questionamento do consenso social 
 
a- Positivismo: a ordem social está baseada em valores comuns e são estes que mantém a 
sociedade. Há uma ordem comum em toda a sociedade. A coerção aparece quando um 
indivíduo infringe estas normas, colocando em risco a ordem social que expressa o 
desejo da maioria. 
b- Céticos: não existe uma única base de valores, mas múltiplas ordens e subculturas. O 
homem cria diferentes respostas para diferentes contextos. A imagem do consenso 
social é, na verdade, a imposição de valores de uma classe dominante ao restante da 
sociedade. Os parelhos ideológicos e repressivos do Estado encarregam-se de manter 
esta ordem. O único consenso é não haver consenso. Dois entendimentos havia acerca 
do pretenso consenso: um, que acreditava tratar-se de falsa consciência; outro, que 
acreditava que tal acontecia como produto de coerção. 
 
 23 
 
II. 2. Questionamento acerca da natureza patológica da ação desviada 
 
a- Positivistas: o ato desviado é irracional, carece de significado, é uma anormalidade. 
b- Céticos: não se deve buscar os parâmetros de normalidade, mas buscar entender o 
significado que a ação tem para o agente. Se escutarmos o desviado, saberemos que 
sentido tem para ele. Pode tratar-se de uma ação consicente política, de luta contra o 
sistema ou diversa, de causas variáveis, mas sempre com significado para o agente. 
 
 
II. 3. Status do ato desviado 
 
a- Positivistas: o ato desviado é um atentado contra os valores que a sociedade quer 
proteger. 
b- Céticos: Entende que não há valores consensuais. O ato desviado pode ser de duas 
ordens: de sobreposição, quando representa os mesmos valores da cultura dominante 
ou valores alternativos, prenúncio de uma sociedade vindoura. Por exemplo, alguém 
pode furtar simplesmente por querer possuir aqueles bens que são valorizados na 
sociedade de consumo e não possuir outros meios para tê-los. Ou pode furtar por 
entender que os bens deveriam ser igualitariamente repartidos. 
 
 
II. 4. Questionamento da natureza absoluta da reação 
 
a- Positivistas: a reação social dá-se frente a quem infringiu as bases do consenso 
b- Céticos: Para uma ação ser definida como desviada, são necessários dois elementos: o 
ato e a reação social (p. 83). Não havendo consenso, não há uma escala única para 
definirem-se os atos desviantes. Grupos dominantes determinam o que será o 
desviante e quem será etiquetado, mobilizam o Direito Penal e o Estado para isso; por 
fim, têm todo o apoio social. Não há diferença entre um comportamento normal e um 
desviado; isso é só uma questão de definição. 
 
 
 24 
II. 5. Questionamento do caráter objetivo das estatísticas 
 
a- Positivistas: as estatísticas são aceitas como índices objetivos da quantidade de delitos 
existentes em um país. A grande ocorrência em populações de baixa renda revela uma 
predisposição inata para o delito, a ausência de socialização adequada e a influência de 
um meio social degradado. 
b- Céticos: não acreditam que as estatísticas constituem um instrumento objetivo. O 
delito não é privilégio de uma determinada classe social, mas está presente em todas as 
classes. As estatísticas são uma construção social, assim como o delito. Não refletem a 
incidência de delitos, mas a reação dos órgãos de controle social 
 
 
II. 6. Questionamento do delito comum 
 
a- Positivismo: o delito é o delito comum: roubos, assaltos, estupros, homicídios, 
geralmente ocorrem na rua e envolvem pessoas estranhas à vítima, envolvidas em 
situações de periculosidade , vindas de ambiente degradado, com baixa escolaridade e 
sem formação profissional (p. 89). 
b- Céticos- contrapunham três questões. A primeira, de que o delito comum não é delito 
– são formas culturais diversas. A segunda, negar a incidência do delito: ele não 
acontece na proporção que é falada. Terceira: comparados aos crimes de colarinho 
branco, os delitos comuns são bagatela (p. 90). Resumindo, poder-se-ia dizer que 
tinham acordo em que o delito comum noa era a única nem a mais comum das formas 
delitivas. Entretanto, não havia consenso entre os céticos de como avaliar o delito 
comum. 
 
 
II. 7. Questionamento do caráter determinado do delinqüente 
 
a- Positivistas: o delinqüente tem comportamento determinado por fatores orgânicos, 
psicológicos e sociais. 
b- Céticos: o homem é sujeito e noa objeto. Não há determinação de comportamento. 
Ressaltam o caráter voluntário da ação. Existem múltiplas formas de delito, por isso 
 25 
não se pode falar de uma causa do delito. Realizar um delito não é uma questão de 
caráter, mas uma forma de atuar frente à determinada situação (p. 92). Outros autores, 
porém, argumentam que os homens são livres, mas agem influenciados por 
determinadas circunstâncias (como Marx, por exemplo, que colocava as estruturas do 
capitalismo). Ou ainda, podem os homens ser influenciados por órgãos de controle. 
Imperava porém al idéia de que o delito não é uma opção, mas um processo, no qual o 
sujeito entra e sai do mundo desviante para o não-desviante e vice-versa. 
 
 
II. 8. Caráter do desviado 
 
a- Positivistas: desde Lombroso até os novos sociólogos adeptos do positivismo, sempre 
atribuíram um caráter doente ao delinqüente. 
b- B- Céticos: possuíam três formas de ver ao delinqüente. O delinqüente pode ser um 
homem normal, igual a todos os outros, porem sem poder paraimpedir que seu 
comportamento seja etiquetado ou são iguais a nós porque fazem o que apenas 
fantasiamos. Ou podem ser vistos de forma positiva, a saber: pode ser um herói, que 
luta contra o sistema ou uma vítima dos fatores sociais, onde se comportamento é 
sintoma de seu desespero. 
 
 
II. 9. Questionamento do fim corretivo da política criminal 
 
a- Positivistas: a política criminal quer recuperar e ressocializar o delinqüente. Atenta-se 
para o ator, não tanto para o ato delitivo, prevendo-se sua periculosidade, 
antecedentes e possibilidades de reincidência. 
b- Céticos- o tratamento corretivo é ilegítimo, ineficaz e, se a culpa é da sociedade, não 
deve o indivíduo ser obrigado a tratar-se. Pregam a tolerância a comportamentos 
destoantes e a desconstrução de crenças que acabam por etiquetar o comportamento 
desviante. Pregam o desestigmatizar, desinstitucionalizar, desetiquetar. Ou, por outro 
lado, defendem uma política anti-intervencionista – onde a suposta correção da atitude 
delitiva seria uma intromissão ilegítima do Estado. 
 
 26 
 
II. 10. Questionamento do papel do ciminólogo: 
 
a- Positivistas: defendiam sua neutralidade e, ao mesmo tempo, seu compromisso com o 
fim de ressocializar o delinqüente. Sua missão é combater o crime (p.97). 
b- Céticos: adotam atitude apreciativa. Esta, porém era ambígua e podia ser interpretada 
basicamente de três formas: meramente de observação, de análise do fenômeno 
estudado ou crescentemente, de empatia com o desviado, ouvindo sua versão e suas 
razoes; de simpatia, entendendo-o como vítima do controle social ou, finalmente, de 
admiração, entendendo-o como um herói marginal que enfrenta a estrutura social 
perversa. 
Não criaram (nem era seu objetivo criar ) uma nova teoria, mas se contrapuseram à 
criminologia clássica, adotando uma postura cética. Em seus inúmeros artigos, produziram 
inúmeros questionamentos aos postulados da criminologia oficial e diferentes possibilidades de 
contraposição a estas. Assim como as teorias norte-americanas poderiam ser lidas de diferentes 
maneiras, também al teoria do desvio tinha inúmeros matizes. A leitura mais popular que daí 
adveio foi a da nova criminologia. (p. 100). Estes contestavam de forma radical as questões que 
haviam sido abertas pelos céticos, tendo ainda uma franca identidade com o marxismo, o que 
ajudou a popularizar a teoria. 
 
 
3. A NOVA CRIMINOLOGIA 
 
Nesse capítulo de sua obra, Elena Larrauri se refere ao livro “The New Criminology”, de 
autoria de Taylor-Walton-Young, que ao seu ver marca a passagem da recepção das teorias 
norte-americanas anteriormente expostas para a elaboração de uma criminologia marxista. 
Assim, por exemplo, a radicalização da perspectiva do etiquetamento (labelling 
approach), que havia se iniciado com a nova teoria do desvio, prossegue com os novos 
criminólogos em uma direção marxista, em detrimento de outras posições anarquistas ou liberais, 
existentes no seio da Nacional Deviance Conference. 
Segundo Larrauri, a “Nova Criminologia” reconheceu o legado da nova teoria do desvio 
(delito). Contudo, com forte influência de teóricos norte-americanos (principalmente Gouldner e 
Liazos), que, desde o viés materialista, teciam graves críticas ao labelling approach, pode-se 
 27 
dizer que os novos criminólogos suplantaram em muitos os anteriores pensamentos 
criminológicos, realizando uma crítica materialista a estes (etiquetamento, subjetivismo radical, 
fenomenologia e demais), por eles designados de “subjetivos e idealistas”. 
Em suma, partindo de uma perspectiva materialista, a nova criminologia buscava 
desenvolver uma criminologia de orientação marxista. 
Contudo, ela se limitou a realizar uma crítica das teorias então existentes e a assinalar 
quais devia formais e materiais que deveria possuir uma ’teoria plenamente social do desvio’. 
Segundo, os autores da “Nova Criminologia” este programa que deveria ser desenvolvido no 
futuro deveria estudar: 
1. As origens mediatas do ato de desvio, isto é, os fatores sócio-estruturais que 
propiciam tal prática; 
2. As origens imediatas do ato de desvio, isto é, que expliquem como os sujeitos 
elegem conscientemente o desvio como resposta aos problemas criados pelo sistema social; 
3. O ato em si mesmo, isto é, explicar a relação entre as crenças que o sujeito possui 
e o ato que realiza ou, dito em outros termos, investigar a racionalidade do ato como fruto da 
eleição ou da limitação; 
4. As origens imediatas da reação social, em função do que se produz essa reação; 
investigar o clima moral e sua relação com os imperativos políticos e econômicos que suscitam 
uma reação frente a determinados delitos ou indivíduos enquanto outros passam inadvertidos; 
5. As origens mediatas da reação social: se trata de investigar a relação existente 
entre as necessidades do Estado e a criminalização de determinadas condutas; 
6. A influência da reação social sobre a conduta ulterior do desviado, enfatizando 
mais que o sujeito é desviado porque elege essa opção de forma consciente, ainda quando às 
vezes de forma inarticulada, como forma de luta, protesto ou simples oposição ao sistema 
dominante e não só como produto do controle o etiquetamento exercido sobre ele; 
7. A natureza do processo de desvio em seu conjunto, que conecte o indivíduo e a 
sociedade em uma relação dialética, na qual ambos se influem e modificam mutuamente. 
Ademais, segundo Elena Larrauri, das críticas que a “Nova Criminologia” realiza a outras 
teorias criminológicas e mesmo do programa de estudo proposto podemos inferir que 
provavelmente os novos criminólogos entendiam que tal perspectiva deveria ser caracterizar, 
entre outros, por: 
1. Aplicar um método materialista histórico ao estudo do desvio; 
 28 
2. Analisar a função que cumpre o Estado, as leis e as instituições legais na manutenção 
de um sistema de produção capitalista; 
3. Estudar o desvio no contexto mais amplo da luta de classes sociais com interesses 
enfrentados; 
4. Vincular a teoria a prática. 
Apesar dos novos criminólogos não desenvolverem uma “nova criminologia”, o livro de 
Taylor-Walton-Young passou a história como uma criminologia que havia conseguido unir Marx 
com as proposições radicais da nova teoria do desvio. 
E, justamente, o êxito da obra “Nova Criminologia” pode-se explicar por esta 
incorporação de Marx ao âmbito da criminologia e por sua apresentação em forma de livro. 
A entrada de Marx no mundo da criminologia se traduziu em uma tomada de consideração 
do contexto social global no estudo da delinqüência; na análise das normas, sua aplicação e 
funcionamento do sistema penal, em atenção a função que cumprem no estabelecimento e 
reprodução do sistema capitalista, e na elaboração de uma teoria apta para propiciar a mudança 
social. 
A repercussão e o impacto da “Nova Criminologia” foi enorme e pode dizer-se que está 
marcou o surgimento da criminologia crítica. Contudo, igualmente não se livrou de múltiplas 
objeções. 
Por um lado, foi acusada de haver introduzido pouco marxismo, em virtude de seu 
passado com a nova teoria do desvio. Por outro, afirmava-se que era duvidoso que se pudesse 
construir uma teoria do delito marxista. Ademais, aduzia-se que a concepção de delinqüente 
como lutador político e a meta de uma sociedade onde não exista o poder de criminalizar era mais 
apropriada aos anarquistas. 
Por outro lado, foi também criticada pelo contrário, haja vista que ao introduzir o 
marxismo havia utilizado-o como elemento para desqualificar as demais perspectivas e em 
especial os avanços trazidos pelo labelling approach. Desse modo, os críticos alegavam que tal 
postura havia devolvido a criminologia a seu estágio originário. Ou, ainda, que paradoxalmente, o 
marxismo e suas preocupações macro, com sua insistência nas condições estruturais, parecia 
introduzir um novo determinismo nesta ocasião social. 
Não obstante, Elena Larrauriprocura demonstrar em sua obra que a posição da “Nova 
Criminologia” com o marxismo economicista/determinista era ambivalente. 
Adicionalmente, a consideração do contexto social global e a análise em função do sistema 
capitalista, levou-os a adotar uma concepção instrumental do direito, dando-se a entender que 
 29 
toda a lei e todo o controle respondia ao desígnios da classe capitalista. Esta versão 
“funcionalista de esquerda”, própria de criminologia crítica originária, não foi questionada até o 
fim dos anos setenta. 
Segundo Elena Larrauri a dificuldade de produzir uma integração teórica de ambas 
correntes de pensamento, marxista com as perspectivas sociológicas, sejam fenomenológicas, 
etnometodológicas ou interaccionistas simbólicas, mais a desqualificação que se operou entre 
elas, levou a reduzir seu potencial revolucionário e teórico. 
As críticas a perspectiva do etiquetamento que se realizou na “Nova Criminologia” se 
converteram em paradigmáticas para uma nova geração de criminólogos críticos. Contudo, como 
tenta mostrar Elena Larrauri, não se pode afirmar de forma gritante que o labelling approach não 
entendesse as causas que levam a desviação primária, nem que afirme que o controle cria ou 
conduz inexoravelmente a desviação, nem que desconhecesse a dimensão do poder. 
Pode-se dizer que não contestavam a todas estas perguntas com os conceitos marxistas, e 
também se pode dizer as diferenças existentes no seio da perspectiva do etiquetamento obedecem, 
provavelmente, as distintas correntes sociológicas que a integravam: interaccionismo simbólico e 
fenomenologia ou etnometodologia, respectivamente. 
Este ataque indiscriminado atingiu as demais protagonistas da “nova teoria do desvio”, os 
quais consideravam que a perspectiva do etiquetamento já havia sofrido um processo de 
materialização e politização na Inglaterra pela influência da “nova esquerda”. Assim, os novos 
criminólogos foram acusados de imperialismo epistemológico: parecia que não adotar uma 
perspectiva marxista para o estudo do delito era uma ignorância em vez de desacordo 
teórico/conceitual. 
As múltiplas críticas dirigidas a “Nova Criminologia” originaram um processo de auto-
reflexão do que havia sido alegremente afirmado nos anos sessenta, iniciando-se, desse modo, a 
contra-reforma dos anos setenta. 
 
 
 
4. A CONTRA-REFORMA 
 
Neste capitulo, a autora busca discutir as reflexões feitas acerca da “nova teoria do 
desvio” e da “nova criminologia”. Ambas as perspectivas se originaram na Inglaterra no final dos 
anos 60 e inicio dos anos 70. 
 30 
“A partir de 1975, a ‘criminologia crítica’ parece iniciar uma nova época. Terminada a 
guerra do Vietnã, finalizado o impacto de maio de 68, com a presença de governos 
conservadores, o surgimento do terrorismo, novas formas delitivas de violência racial, ataques a 
mulheres, etc. o panorama com que se enfrentaram os criminólogos se transformou”(p. 187, 
tradução livre). 
Os céticos e a nova criminologia fizeram uma revisão de seus postulados, tendo sido 
acusados pela criminologia crítica de apenas inverter o paradigma positivista. Como produto 
desta crítica, surgiu a denominação do período anterior de “romantismo de esquerda” e iniciou-se 
uma contra-reforma. 
As maiores reavaliações deste período deram-se sobre a reavaliação do delito comum 
(especialmente por Young, apoiado por uma corrente norte americana, vai estudar as 
conseqüências do delito comum em comunidades de trabalhadores); a negação do caráter político 
da delinqüência (com a revisão dos pressupostos dos céticos, que ignoraram as contribuições dos 
períodos anteriores) e a diferenciação dos matizes de oposição ao positivismo. O aumento da 
influência marxista, as dissidências e reflexões acabam por colocar a National Deviance 
Conference em decadência. Desta revisão surgem as divisões da criminologia crítica nos anos 80. 
 
 
I. Os Duros Anos Setenta: O Desfalecimento Da Ndc 
 
Como já foi assinalado, a NDC contava entre seus diferentes pensadores, com anarquistas, 
marxistas e liberais. Como assinala Cohen, com tantas diferenças, pretendendo ser um foro de 
discussão e produção, é de admirar-se que haja sobrevivido por mais de uma década. Havia, 
entretanto, como foi assinalado, unidade na questão central, que era o enfrentamento com o 
positivismo. 
Mesmo este consenso seria abalado com a publicação, em 1973, da “Nova Criminologia”. 
Os liberais pretendiam seguir com as discussões do interacionismo simbólico; os anarquistas, 
pretendiam aprofundar o enfoque cético e os marxistas queriam trazer a teoria de Marx para o 
campo do desvio. 
Nesta segunda etapa da NDC, seguem publicando farto material, centrados no estudo da 
reação social e em seu papel na criação do desvio. A influencia que sentiam era 
predominantemente marxista. 
 31 
Nesta etapa há ainda dois grupos que exercem forte influencia sobre a NDC: Stuart Hall e 
o centro universitário de pesquisas que dirigia acerca dos estudos de subculturas juvenis (que foi 
responsável pela integração da teoria das subcuturas com as tendências marxistas e estruturalistas 
de tradição européia) e a constituição do “grupo europeu” (p. 146). Foi através deste grupo que 
os criminólogos críticos, em seus diferentes países, puderam entrar em contato. assim, puderam 
difundir suas idéias e discutir conjuntamente. 
Segundo a autora, duas foram as influencias européias que se difundiram na Inglaterra. 
De um lado, as idéias abolicionistas de Bianchi e Mathiesen, que seriam impactantes 
através da publicação de The Politics of Abolicion (1974). 
De outro lado, a incorporação do grupo de juristas italianos ligados ao PCI. Houve então 
um reforço da influencia marxista e de estudos do Direito. Ainda, o movimento de antipsiquiatria 
italiano reforçou os postulados contra instituições totais. 
Apesar destas novas posições, inicia-se um movimento de contra-reforma, de revisão das 
posições dos céticos no final dos anos 70. 
Certamente, os acontecimentos econômicos e políticos da década influenciaram esta 
revisão. Crise econômica e conflitos sociais, tendo como resultado final a vitoria do Partido 
Conservador acabaram por limitar o estado social. Frente a isso, os progressistas que postulavam 
a não intervenção do estado passaram a reivindicar maior aplicação do Estado em gastos sociais. 
Da mesma forma, o incremento de ações terroristas permitiu-se falar de uma “estratégia da 
tensão”, destinada a abalar os regimes democráticos e impedir o avanço das forças de esquerda. 
A esquerda se vê forçada a defender o Estado de direito e a legalidade, antes tidos como “defesa 
do Estado burguês”. (p.147) 
A imagem do desviado também sofria modificações. Via-se aumentar a violência contra 
trabalhadores imigrantes, frente à crise econômica. A violência contra a mulher também não podia 
contribuir para a imagem do desviado como rebelde contra o sistema. 
Este clima político, as divergências internas, o esgotamento da nova esquerda, a saída de 
alguns fundadores, a crítica ao romantismo dos céticos, podem explicar o enfraquecimento no 
interior da NDC. Começa então sua lenta decadência. 
Sem dúvida, foi grande a influência da NDC no estudo de diferentes formas de desvio e a 
criminologia oficial absorveu a importância do controle social como variável determinante para o 
estudo da delinqüência. Estudos acadêmicos, publicações, discussões foram suscitadas a partir de 
suas produções. 
 32 
Alguns de seus postulados puderam ser absorvidos pelo senso comum, como é o caso de 
suas críticas às estatísticas ou de dar voz ao marginalizado. Permitiu, desta forma, ver-se que o 
tratamento que se dá ao desviante não é uma questão técnica, mas uma questão política. 
 
 
II. A descoberta da classe operária: a gravidade do delito comum 
 
As críticas já apresentadas ao que chamaram a sociologia hippie, de que a nova 
criminologia não se preocupava com a delinqüênciacomum e de haver sido romântica ao postular 
ser todo o desvio uma luta política provocaram um artigo de Young em 1975, que vai revisar 
vários de seus postulados. 
Critica a romantização do desviado e a fé em seu potencial revolucionário. Afirma que os 
novos sociólogos não conseguiram diferenciar os dois tipos de desvio e subestimaram os efeitos 
nocivos da delinqüência. 
Young propõe-se então a uma criminologia da classe operária. Esta se diferença da 
anterior por uma “nova teoria do desvio”, fazendo as seguintes afirmações: 
a- A maior parte dos delitos ocorre dentro e não entre as classes sociais – daí advém as 
demandas de “lei e ordem” da classe trabalhadora. Eles são os maiores afetados pela 
delinqüência. 
b- - A classe operária tem um consenso a respeito dos crimes que mais as afetam – contra 
a vida e contra a propriedade. Ainda que influenciadas pela mistificação ideológica, 
isto deve ser considerado pela criminologia. 
c- Cada forma de delinqüência deve ser analisada distintamente. 
d- A própria comunidade trabalhadora deve exercer controle sobre atitudes delitivas 
danosas a ela, como crimes contra a vida e `a propriedade. 
e- O papel da criminologia é analisar o desvio a partir dos interesses da classe 
trabalhadora. 
Faz-se necessário analisar o delito com base nos efeitos que produz na classe trabalhadora. 
Nem todos os delitos tem significado político e nem todos os desviantes são marginais. 
A criminologia da classe operária se caracterizou por opor-se a celebração do desvio, 
atitude que reinava até aquele momento. Deram destaque para aquele que até então não havia 
sido pensado: a vítima. 
Alguns postulados das variações que a criminologia da classe operaria colocou: 
 33 
a- O número de delitos é superior às estatísticas oficiais. 
b- O delito atenta contra interesses comuns. 
c- O delito tem vítimas e estas são predominantemente trabalhadores. 
d- Há uma simetria moral entre delinqüente e vitima – são as classes trabalhadoras que 
mais cometem delitos. 
e- A delinqüência dificulta a luta dos trabalhadores. O delinqüente não é um aliado na 
luta de classes. 
f- A esperança de mudança social repousa sobre os trabalhadores. 
g- Deve proporcionar-se um controle social da delinqüência exercido pela comunidade, 
por seus efeitos negativos sobre a mesma. 
h- A criminologia deve dirigir seu interesse para a delinqüência comum 
Não estava claro, no entanto, se estas críticas referiam-se apenas à “nova teoria do 
desvio” ou se estendia-se também à nova criminologia. 
 
 
III. O idealismo e o romantismo de esquerda: crítica à inversão dos postulados 
positivistas 
 
Os anos sessenta serão conhecidos como os anos do “idealismo de esquerda” e da 
inversão dos postulados positivistas. Young expõe esta crítica ao colocar que, onde o positivismo 
encontrava o consenso, o idealismo de esquerda encontrava dissenso; onde o primeiro via o 
irracional, o segundo via o racional; onde um acreditava cegamente em estatísticas, o outro as 
negava, etc. 
Uma segunda característica do idealismo de esquerda era a concepção da realidade como 
mera ilusão. Nas palavras de Cohen (apud Larrauri, p. 157): “Lo que parece, no es, y sea lo que 
sea, es malo.” 
Na década de 70, então, estes postulados serão revisados, embora ainda não se delineie 
uma nova teoria. 
Larrauri lembra o que coloca Baratta (apud Larrauri, p. 158) de que o idealismo de 
esquerda foi um fenômeno inglês, muito distante do que aconteceu na Itália ou Alemanha. 
 
 
 34 
III. 1. O consenso é “realidade e ilusão” 
 
Revisam-se os postulados do dissenso total. Acredita-se que a existência de valores 
diferenciados não deslegitima a existência de valores comuns, como a vida ou a propriedade. 
Revisa-se ainda o papel que teria o Direito e a coerção para a ordem social 
 
 
III. 2. Há “diferentes” atos desviados 
 
Esta distinção permitia condenar alguns atos delitivos por sua não legitimidade. Mesmo 
quando se atribui a alguns atos delitivos, um potencial de luta contra o sistema, consideram-se 
parâmetros e limites com respeito a sua eficácia e legitimidade. 
 
 
III. 3. O ato desviado “exacerba” os valores do sistema 
 
Quando se diferenciam os atos delitivos vê-se que apenas alguns, resguardados certos 
limites, merecem ser qualificados como valores alternativos. Em geral, eles representam mesmo a 
exacerbação de valores capitalistas. Volta-se então a falar de desvio e mesmo de delito e não 
mais de diverso 
 
 
III. 4. A reação não constitui o desvio 
 
Nos anos setenta, dá-se maior importância à realidade que existia sob o etiquetamento: 
não era este que produzia o sofrimento, mas a própria condição do etiquetado também. A reação 
não produz o desvio. Nem todo o controle social é exercido pelo Estado , nem todo ele é 
funcional (p. 189). 
 
 
III. 5. O caráter “não-disjuntivo” das estatísticas 
 
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As estatísticas constituem uma forma de leitura e expressão da realidade. Há, de fato, mais 
delitos e maior vulnerabilidade à detenção. 
 
 
III. 6. Delito comum “aumenta e é grave” 
 
O delito tem sempre uma vítima; os delito os comuns atingem preferencialmente as classes 
trabalhadoras; a existência de crimes de colarinho branco não nos impede de reconhecer o 
potencial ofensivo dos crimes comuns. 
 
 
III. 7. O delinqüente é livre e determinado 
 
O delinqüente exerce sua liberdade, porém em circunstâncias não escolhidas por ele (p. 
189). 
 
 
III. 8. O delinqüente não é Robin Hood 
 
 a visão do desviado como herói ou vítima, colocava o resto da sociedade como seu algoz 
ou como incompreensivos. Consequentemente, não era o desviante que deveria mudar, mas a 
sociedade que deveria ficar mais tolerante. Verificou-se que, se o positivismo pretendia mudar o 
sujeito delinqüente adaptando-o à sociedade, alguns novos criminólogos esforçavam-se por 
adaptá-lo à sociedade do futuro. O delinqüente aparece, neste período, como vilão – ainda que 
herói inconsciente, é sobre outras vítimas do sistema que ele delinqüe. Se é um bode expiatório, é 
um bode expiatório real (p. 177). Ele deixa de ser Robin Hood. 
 
 
III. 9 Para uma política criminal “intervencionista” 
 
No principio, acreditava-se que toda a intervenção produzia etiquetamento, sendo 
portanto, maléfica. Esta postura facilitou a retirada do Estado da intervenção assistencial e aquilo 
a que denominou-se “esquecimento benigno” da população desviada. Os setores mais 
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conservadores apoiaram esta política criminal de mínima intervenção para que os gastos nessa 
área fossem mínimos. Revisa-se este postulado e passa-se a defender que toda a sociedade deve 
criminalizar certos atos e que pode haver uma intervenção libertadora e uma intervenção 
controladora (p. 178) Esta compreensão dá lugar à que coloca a compreensão da necessidade de 
intervenção estatal. Da intervenção, passa-se a defender o controle social. Nem sempre, acredita-
se, o controle é negativo. Há certas atitudes que devem ser controladas pelo Estado. Daí passa-se 
à defesa da necessidade de criminalizar certos comportamentos. A principio, aqueles que ferem os 
direitos humanos; depois, admite-se mesmo a criminalização de delitos comuns, pois atacam os 
mais frágeis. 
Fala-se em justo castigo. Como numa volta ao classicismo, fala-se neste período em “una 
politica penal que protegiese las garantías y límites al castigo” (p. 180). Fala-se nisso 
especialmente quanto ao direito juvenil, isento de garantias e portanto mais propenso à violação 
de direitos legais. 
 
 
III. 10. O criminólogo condenador 
 
São duas as questões a considerar: a atitude e o fazer criminológico. 
Já se viu que o método naturalista consistia em apreciar a versão do desviado, os motivos 
pelos quais um sujeito realiza determinada atuação, originou rapidamente uma empatia, a qual se 
transformou em simpatia acabando em uma franca admiração. 
Essa evolução obedecia a que a

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