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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-3045-3
Análise sociAl Análise sociAlAnálise
 s
oc
iA
l
noêmiA lAzzAreschi
Noêmia Lazzareschi
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Análise Social
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
L461a
Lazzareschi, Noêmia
 Análise Social / Noêmia Lazzareschi. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 
 108p. : 24 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-3045-3
 1. Sociologia. 2. Ciências sociais. 3. Sociologia do trabalho. 4. Sociologia organizacio-
nal. I. Título. 
12-6040. CDD: 301
 CDU: 316
23.08.12 03.09.12 038481 
__________________________________________________________________________________
© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por 
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Noêmia Lazzareschi
Doutora em Ciências Sociais pela Universi-
dade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre 
em Ciências Sociais do Trabalho pelo Institut 
Supérieur du Travail da Université Catholique 
de Louvain (Bélgica). Bacharel e Licenciada em 
Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo 
(USP). Professora do departamento de Sociolo-
gia da Faculdade de Ciências Sociais e do Pro-
grama de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
(PUC-SP).
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A promessa e as tarefas das Ciências Sociais 
9
11 | Condições históricas do nascimento das Ciências Sociais
17 | As Ciências Sociais
As sociedades industriais capitalistas 
23
23 | Emile Durkheim
25 | Max Weber
26 | Karl Marx
28 | A estrutura das sociedades industriais capitalistas
30 | As empresas
As diferentes formas de administração do 
processo de trabalho no capitalismo moderno 
39
39 | A acumulação primitiva do capital
40 | A divisão tecnológica do trabalho
41 | Taylorismo e fordismo
45 | Impactos do taylorismo/fordismo sobre o trabalhador
48 | Os Anos Dourados
A crise econômica mundial, a globalização 
da economia e a reestruturação produtiva 
59
61 | A crise da economia mundial
63 | A globalização da economia
69 | A reestruturação produtiva ou a nova lógica organizacional
71 | O desemprego e as novas relações de trabalho
87 | Sindicalismo no Brasil
Novas competências profissionais 
97
Apresentação
Historicamente situados, o mundo empresarial 
e o mundo do trabalho repercutem em seu 
interior as condições econômicas, políticas, 
 sociais e culturais hoje universalmente existen-
tes, devendo ser considerados um microcosmos 
delas derivado. Frutos sociais do processo histó-
rico mundial, são, no entanto, ao mesmo tempo 
seus produtores, irradiando universalmente as 
suas inovações tecnológicas e organizacionais 
das quais surgem novos produtos e serviços que 
inundam os mercados e determinam, em grande 
parte, novos estilos de vida. Processo social uni-
versal e mundo empresarial e do trabalho estão, 
pois, em relações recíprocas, constituindo uma 
só realidade social, objeto de estudo das Ciências 
Sociais.
Assim, a disciplina Análise Social tem como 
objetivo apresentar os subsídios teóricos produ-
zidos pelas Ciências Sociais e, em especial, pela 
Sociologia, para a compreensão das inter-rela-
ções entre a sociedade e o mundo empresarial e 
do trabalho.
A
nálise S
ocial
9
A promessa e as tarefas 
das Ciências Sociais
Wright Mills (1965, p. 10), um dos mais conceituados sociólogos norte- 
-americanos do século XX, no livro A Imaginação Sociológica, chama a atenção 
para o fato de que
[...] raramente [os homens] têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o 
curso da história mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, o que 
essa ligação significa para os tipos de ser em que se estão transformando e para o tipo de 
evolução histórica de que podem participar. Não dispõem da qualidade intelectual básica 
para sentir o jogo que se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o 
eu e o mundo.
A qualidade intelectual básica necessária para que os homens compreendam 
a história, a biografia e as íntimas relações entre elas, dentro da sociedade, 
é a “imaginação sociológica”. Essa qualidade permite a cada um de nós se 
compreender como produto e produtor da vida social e, por isso, se compreender 
como ser historicamente condicionado, cujas possibilidades e limitações na 
vida são, em grande parte, circunscritas pela estrutura da nossa sociedade 
num determinado momento da história mundial.
A conscientização política é a expressão primeira, e talvez a mais 
importante, da “imaginação sociológica”. Quem a possui sabe não poder 
traçar livremente o próprio destino, cujo desenho é esboçado pelas 
condições sociais existentes, criadas e transmitidas pelas gerações passadas, 
mas reproduzidas, reformadas ou transformadas por decisões políticas da 
geração presente, das quais certamente exigirá participar para poder exercer 
algum controle sobre o curso de sua própria vida.
Possibilitar o desenvolvimento da imaginação sociológica é, segundo 
Wright Mills, a promessa das Ciências Sociais. Para cumpri-la, investigam, 
analisam, explicam – norteadas pelos procedimentos metodológicos 
e teóricos definidores do conhecimento científico – a estrutura social, 
demonstrando os princípios que a constituem, os mecanismos de sua 
manutenção e mudança e a psicologia de homens e mulheres que dela 
emerge. A compreensão da estrutura social é condição necessária para 
situar historicamente o objeto de estudo de cada uma das Ciências Sociais, 
por mais específicos que sejam os problemas e as perspectivas teóricas que 
definem o eixo de suas preocupações particulares.
10
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Representando o consenso entre os mais diferentes autores sobre as tare-
fas e os objetivos que as Ciências Sociais se autoimpõem, Wright Mills consi-
dera como a mais importante tornar claros e transparentes os valores sociais 
aceitos, pois que os problemas ou questões sociais resultam de sua trans-
gressão, cuja origem deve ser buscada nas contradições da estrutura social. 
Uma questão social é um assunto público: é um valor estimado pelo público que está 
ameaçado. [...] A questão, na verdade, envolve quase sempre uma crise nas disposições 
institucionais, e com frequência também aquilo que os marxistas chamam de “contradições” 
ou “antagonismos”. (WRIGHT MILLS, 1965, p. 15)
São muitas as questões sociais que enfrentamos: a violência urbana, os 
conflitos armados, a miséria absoluta de milhões de pessoas, a favela, o 
 desemprego, o abandono de crianças, a prostituição infantil, as drogas, o 
analfabetismo etc. que ferem os valores centrais das sociedades humanas: 
o respeito à vida e à dignidade humana, distanciando-nos da realização do 
sonho de instauração de uma sociedade justa, na qual, de fato, possam se 
realizar os princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, herdados da 
Revolução Francesa, e que inauguraram o mundo moderno.
O estudo científico da estrutura social é, pois, o ponto de partida não só 
do reconhecimento dos problemas sociais que nos afligem, mas, sobretudo, o 
ponto de partida da descoberta de suas origens e dos meios disponíveis para 
solucioná-los, ou pelo menos minorá-los, no contexto do jogo de interesses 
de diferentes grupos e classes sociais das decisões políticas. Mas a imaginaçãosociológica, que desperta e aprofunda a conscientização política, torna-se o vetor 
do processo político democrático, impedindo que os homens se transformem 
em simples marionetes da história e objeto do poder autoritário de alguns. 
Para Wright Mills, as Ciências Sociais tornaram-se o denominador comum de 
nosso período cultural. De fato, evidencia-se universalmente o reconheci mento 
da importância do desenvolvimento da análise científica da vida social, pois pu-
demos constatar, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, que a utiliza-
ção política dos conhecimentos produzidos pelas ciências físico-químico-natu-
rais pode gerar mais problemas humanos e sociais do que realmente contribuir 
para resolver os já existentes. Não obstante, até aquele momento, a humanidade 
acreditou que o conhecimento por elas produzido era o mais eficaz e eficiente 
instrumento de que dispunha não só para melhorar as suas condições de vida, 
mas também para solucionar todos os graves e persistentes problemas sociais. 
Por isso, as ciências naturais receberam especial atenção ao longo de mais de 
um século no mundo moderno, sem que se prestasse atenção às prováveis con-
sequências dramáticas do uso político que delas se pode fazer.
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
11
Com efeito, basta lembrar a tragédia provocada pela bomba atômica 
em Hiroshima e Nagasaki; a ameaça constante de utilização de armas 
nucleares; o sofrimento de milhões de famílias devido à introdução de 
sofisticadas tecnologias que destroem milhares de postos de trabalho e 
geram desemprego em massa; os problemas éticos e morais originários 
das potencialidades da engenharia genética, a devastação da natureza, 
a poluição do ar, sonora e visual etc. para se dar conta da necessidade 
de se avaliar continuadamente os efeitos sociais e humanos, éticos e 
morais, positivos e negativos, construtivos e destrutivos, da utilização do 
conhecimento produzido por aquelas ciências. 
E essa avaliação depende não só da imaginação sociológica, mas da 
 produção intelectual dos cientistas sociais, cujas obras podem ser considera-
das como a consciência crítica do processo histórico universal, contribuindo 
para o desenvolvimento da consciência crítica de toda a humanidade.
São essas as principais tarefas e objetivos das Ciências Sociais, cujos estudos 
estendem-se inevitavelmente ao mundo das empresas e do trabalho, ajudando 
os administradores de empresas a atuarem profissionalmente com maior clareza 
e responsabilidade social, sem perder de vista os seus objetivos específicos de 
promoção da eficiência do processo produtivo e de prestação de serviços.
Condições históricas do nascimento das 
Ciências Sociais
A análise científica da vida social data do século XVIII e deve ser conside-
rada como o produto intelectual mais importante das transformações eco-
nômicas, políticas, sociais e culturais em curso desde o Renascimento e que 
se cristalizaram no Ocidente com a Revolução Industrial e a Revolução Fran-
cesa, marcos do surgimento do mundo moderno, isto é, da consolidação da 
ordem social capitalista.
A Revolução Industriala) 
A invenção da máquina a vapor na Inglaterra de 1750 significou o início de 
uma revolução nas técnicas de produção, o que possibilitou a mecanização 
do processo de trabalho em muitos ramos da atividade econômica, já na 
 primeira metade do século XIX, tendo significado também uma revolução 
na organização da produção que, a partir de então, passou a ser realizada no 
interior de empresas com caráter permanente e racional.
12
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Ao propiciar o aumento da produtividade do trabalho, a redução dos 
custos de produção e, como decorrência, o barateamento das mercadorias, 
a Revolução Industrial permitia vislumbrar o nascimento de uma sociedade 
de abundância e mais justa, graças às possibilidades econômicas de uma 
distribuição mais igualitária da renda.
Rapidamente irradiada para o continente, a Revolução Industrial, contra-
riamente a todas as expectativas, gerou problemas sociais de extrema gravi-
dade que se alastraram, também rapidamente, por toda a Europa.
Em primeiro lugar, provocou o êxodo rural de enormes contingentes 
de trabalhadores entusiasmados com as perspectivas de melhoria de suas 
condições de vida. A consequência inevitável, porém, foi o desenvolvimento 
acelerado da urbanização não planejada, cujo resultado se expressava nas 
péssimas condições habitacionais dos trabalhadores, na imundície das 
cidades industrializadas, na falta de fornecimento de água, nas epidemias 
de cólera e de tifo que se espalharam por todo o continente, dizimando 
milhares de pessoas.
Segundo Eric J. Hobsbawm (1977, p. 225), o mais renomado historiador 
do século XX: 
Só depois de 1848, quando as novas epidemias nascidas nos cortiços começaram a 
matar também os ricos, e as massas desesperadas que aí cresciam tinham assustado os 
poderosos com a revolução social, foram tomadas providências para um aperfeiçoamento 
e uma reconstrução urbana sistemática.
Em segundo lugar, os baixos salários e o desemprego de milhares de 
traba lhadores, pois [até a década de 1840] 
[...] grandes massas da população continuavam até então sem ser absorvidas pelas novas 
indústrias e cidades, como um substrato permanente de pobreza e desespero, e também as 
grandes massas eram periodicamente atiradas ao desemprego pelas crises que, até então, 
mal eram reconhecidas como temporárias e repetitivas. (HOBSBAWM, 1977, p. 228) 
A criminalidade e a violência urbana, o alcoolismo, a prostituição, o suicídio 
constituíam o quadro de deterioração da vida social, aprofundado pela enorme 
desigualdade social. Ainda nas palavras de Eric J. Hobsbawm, (1977, p. 227)
A época em que a Baronesa de Rothschild usou um milhão e meio de francos em joias 
no baile de máscaras do Duque de Orleans, em 1842, era a mesma em que John Bright 
assim descreveu as mulheres de Rochdale: “2 mil mulheres e moças passaram pelas 
ruas cantando hinos – um espetáculo surpreendente e singular – chegando às raias do 
sublime. Assustadoramente famintas, devoravam uma bisnaga de pão com indescritível 
sofreguidão, e se o pedaço de pão estivesse totalmente coberto de lama seria igualmente 
devorado com avidez.”
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
13
Em terceiro lugar, o rígido controle e disciplina impostos pelos patrões 
que tornavam infernal a vida dos trabalhadores das fábricas, submetidos a 
jornadas de trabalho de 16 horas e a todo tipo de castigos e multas.
A Revolução Industrial não foi, portanto, apenas uma revolução econô-
mica, que se tornou um marco na história da humanidade ao abrir as portas 
do crescimento e desenvolvimento econômicos por suas inovações tecno-
lógicas e organizacionais. Foi, também, responsável pelo aparecimento de 
novos e contundentes problemas humanos e sociais, além de ter dado início 
ao fim do antigo regime, com a entrada definitiva de novos personagens no 
cenário social: o empresário capitalista e o trabalhador proletário que passa-
ram a constituir as duas grandes classes sociais da moderna sociedade capi-
talista nascente, permanentemente em conflito de interesses por ocuparem 
posições diferentes no processo de produção da riqueza. O capitalista é o 
proprietário dos meios de produção, isto é, do capital, da riqueza que gera 
mais riqueza – terra, tecnologia e trabalho concentrados na empresa por ele 
administrada – e o proletário é proprietário apenas de força de trabalho, isto 
é, de capacidade para trabalhar, produzir e reproduzir em escala ampliada 
o capital, obrigando-se a vender a sua única propriedade no mercado de 
 trabalho em troca de um salário com o qual deverá sustentar sua prole.
Por essa razão, a Revolução Industrial não pode ser lembrada apenas 
como revolução econômica, devendo ser considerada uma verdadeira revo-
lução da estrutura social que precipitou as transformações políticas, jurídicas 
e ideológicas consumadas pela Revolução Francesa.
A Revolução Francesab)A Revolução Francesa de 1789 foi o acontecimento de maior repercussão 
no Ocidente por ter destruído definitivamente o antigo regime absolutista 
e a supremacia de uma aristocracia decadente e por ter criado as condições 
necessárias e suficientes para o surgimento do Estado Moderno e a consoli-
dação do regime capitalista de produção.
Foi uma revolução conduzida pela burguesia enriquecida, inconformada 
com os consideráveis privilégios e honrarias sociais concedidos aos nobres e 
ao clero, e sequiosa de poder para, sobretudo, pôr fim aos altos impostos e 
às rígidas regulamentações da política mercantilista vigente que lhe restrin-
giam a liberdade econômica. E pôde contar com o apoio imediato dos cam-
poneses exasperados com o pagamento de um conjunto de obrigações exis-
tentes desde a época feudal que lhes limitavam sobremaneira os ganhos.
14
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Grupos de interesses econômicos contrariados encontraram nas ideias 
dos filósofos iluministas e dos economistas o arsenal intelectual para defla-
grar uma revolução que atingiu mortalmente as instituições políticas e 
 jurídicas vigentes pela força da nova ideologia, inspirada principalmente nas 
obras de: Locke (1632-1704), Voltaire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755), 
os grandes críticos da monarquia absolutista e pais da teoria política liberal, 
e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), fundador da teoria política democrá-
tica moderna, obras que se constituíram no fundamento teórico no qual se 
assenta o Estado Moderno.1
Os economistas contribuíram com a crítica ao mercantilismo que 
impunha severas restrições à atividade econômica com sua política de 
amplo controle estatal sobre o comércio, favorecendo as exportações 
e restringindo as importações para manter uma balança comercial que 
garantisse o enriquecimento do tesouro do país, e amplo controle da 
produção doméstica, com leis que regulamentavam os salários, as condições 
de emprego, a qualidade dos produtos etc.
A crítica à política mercantilista encontrou na obra de Adam Smith, A 
 Riqueza das Nações, de 1776, a sua expressão mais contundente e qualificou 
o autor como o pai do liberalismo econômico. A teoria por ele elaborada 
defendia o livre mercado por sua fundamentação na competição entre 
os produtores que, movidos pelo desejo egoísta de obter sempre mais 
lucros, garantiriam não só a produção do demandado pelos consumidores, 
como também o aprimoramento da qualidade dos produtos, a busca da 
eficácia e eficiência do processo produtivo para a redução dos custos e o 
 barateamento das mercadorias, assegurando, dessa maneira, o desenvol-
vimento eco nômico continuado.
Assim, intelectualmente fundamentados, os revolucionários de 1789 
elaboraram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em setembro 
daquele ano, reunindo nesse documento as ideias que comandaram a trans-
formação da sociedade francesa e mais tarde de todo o mundo ocidental.
Nas palavras de Eric J. Hobsbawm (1977, p. 77), “esse documento é um 
 manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não 
um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária”, porque, 
apesar de seu primeiro artigo declarar que “os homens nascem e vivem livres 
e iguais perante as leis”, prevê a existência de distinções sociais, ainda que 
“ somente no terreno da utilidade comum”. Mas, mesmo assim, não se pode 
deixar de considerar a importância social, política, econômica e cultural desse 
1 As obras mais importan-
tes de John Locke são: Trata­
dos sobre o Governo; Cartas 
sobre a Tolerância; e Tratado 
sobre a Racionalidade do 
Cristianismo. As de François-
Marie Arouet Voltaire são: 
Cartas Filosóficas; Candido; 
Ensaio sobre os Cos tumes. A 
principal obra de Charles 
de Secondat, barão de Mon-
tesquieu é Espírito das Leis. 
As de Jean-Jacques Rous-
seau são: O Contrato Social; 
 Discurso Sobre as Ciências 
e as Artes; Discurso Sobre a 
Origem e os Fundamentos 
da Desigualdade Entre os 
Homens; e Emílio.
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
15
documento porque, de fato, ele inaugura o início do processo de resgate 
do conceito grego de cidadão, reformulando-o e ampliando-o, condição 
 necessária para o surgimento do Estado Moderno, isto é, do Estado Racional, 
fundado no Direito Racional e na autoridade legal-racional, administrado 
burocraticamente e, segundo Max Weber (1864-1920), um dos clássicos da 
Sociologia, “único terreno em que o capitalismo moderno pode prosperar” 
(WEBER, 1980, p.160).
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seus demais artigos, 
foi decisiva para o advento das instituições políticas, jurídicas e econômicas 
necessárias e suficientes para o desenvolvimento do regime capitalista de 
produção e do Estado democrático, ao declarar a propriedade privada um 
direito natural, sagrado, inalienável e inviolável, como também a liberdade de 
expressão, a tolerância religiosa e a liberdade de imprensa, ao mesmo tempo 
que determinava ser o povo a fonte de toda soberania. A partir dessa declaração, 
o povo foi conquistando aos poucos o direito de se organizar politicamente, 
quer em partidos políticos, quer em movimentos sociais, não só para eleger seus 
representantes, mas também para contestar e reivindicar melhores condições 
de vida, ponto de partida para a efetivação de mudanças na estrutura social.
Não obstante a importância desses acontecimentos, cumpre ressaltar que 
tanto a Revolução Industrial quanto a Revolução Francesa, como também 
as Ciências Sociais, são filhas do processo de racionalização da cultura 
ocidental, iniciado dois séculos antes, e cujas expressões mais significativas 
são a própria ciência e a filosofia iluminista.
O Racionalismoc) 
O Racionalismo tem origem na chamada revolução copernicana do 
século XVI que, além de Copérnico (1473-1543), é obra também de Kepler 
(1571-1630) e Galileu (1564-1642), cujas ideias, investigações e estudos 
sobre o universo se constituíram nas primeiras e mais contundentes 
contes tações à autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana como 
fonte única do conhecimento oficialmente aceito, até então considerado 
sagrado, absoluto, incontestável. Fizeram nascer a convicção de que os 
homens, dotados de razão e de sentidos pela graça de Deus, são capazes de 
desvendar os mistérios de Sua criação e explicá-los corretamente.
No século XVII, René Descartes (1596-1650), matemático e físico, tornou-se o 
maior expoente do racionalismo, ao considerar a razão como a única fonte segura 
de conhecimento. No Discurso do Método, afirmava ser necessário não só duvidar 
16
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
da veracidade dos conhecimentos existentes, como também das impressões 
sensoriais, pois nada garante que os nossos sentidos sejam confiáveis.
Para ele, a reflexão filosófica deve partir de verdades ou axiomas simples 
e evidentes por si mesmos, como “Penso, logo existo”, e, por dedução mate-
mática, como na geometria, chegar a um conjunto perfeitamente lógico de 
conhecimentos sobre indagações específicas.
Com Descartes, o processo de secularização da cultura ganha fôlego 
porque o método racionalista por ele elaborado foi o passo decisivo 
para o desenvolvimento da crítica racional às verdades que sustentavam 
a ordem estabelecida. Os resultados da aceitação desse método como 
instrumento único para a construção do conhecimento se expressaram na 
emancipação do pensamento das verdades religiosas, na renúncia a uma 
visão sobrenatural para explicar os fatos e na contestação dos fundamentos 
da sociedade feudal, suas instituições e costumes. Em outras palavras: 
o resultado do racionalismo foi a consagração do livre pensamento, 
livre da visão de mundo dominante até então, livre para ensaiar novas e 
revolucionárias construções.
O Iluminismo ou Filosofia das Luzes, cuja manifestação suprema se deu 
na França do século XVIII, foi o ponto culminante dessa revolução intelectual 
em curso que abalou definitivamente os alicerces culturais da sociedademedieval europeia.
A crítica feroz que seus principais representantes desfecharam contra 
a sociedade medieval também se assentava na convicção de que os 
procedimentos intelectuais que possibilitaram o desenvolvimento das 
ciências naturais deveriam ser aplicados na explicação da realidade social 
como fundamento racional para a sua rejeição. E esses procedimentos não 
se limitavam à aplicação do método dedutivo de investigação legado por 
Descartes, mas também do método empirista desenvolvido por Francis Bacon 
(1561-1626, cuja obra principal é Novum Organum), baseado na observação 
e na experimentação para a descoberta das leis universais invariáveis que 
regem a ordem natural e a ordem social.
Pode-se afirmar que da conjugação do método racionalista e do método 
empirista advém a concepção moderna de ciência, hoje universalmente 
aceita como o caminho para a busca da verdade e, portanto, um dos 
valores centrais das sociedades ocidentais. E dessa conjugação surgiram 
trabalhos extraordinários no campo das ciências físico-químico-naturais 
ainda nos séculos XVII e XVIII. Basta registrar os nomes de Isaac Newton 
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
17
(1643-1727) e Leibniz (1646-1716), no campo da Física e da Matemática; 
de Boyle (1627-1691) e de Lavoisier (1743-1794), no campo da Química; e 
de Lineu (1707-1778) e de Buffon (1707-1788), no campo da Biologia, para 
compreender as origens das convicções dos iluministas de que a Razão e a 
Ciência poderiam permitir o exercício de um certo controle humano sobre o 
mundo e, fundamentalmente, sobre a realidade social, agora compreendida 
como construção humana e não mais como realização da vontade divina e, 
portanto, passível de crítica, de contestação e de transformação. 
Preparava-se, assim, o caminho para o processo revolucionário de instauração 
do mundo moderno e para o desenvolvimento das Ciências Sociais.
As Ciências Sociais
Não há fronteiras rígidas entre as Ciências Sociais, pois todas, como vimos, 
têm por objeto de estudo o comportamento social determinado pelo processo 
histórico universal. No entanto, cada uma delas focaliza um aspecto específico 
desse comportamento, analisando-o de uma perspectiva própria, em torno 
de conceitos particulares que definem a sua construção teórica. Mas todas as 
Ciências Sociais se beneficiam dos conhecimentos produzidos pelos autores 
de cada uma, num íntimo entrelaçamento que permite o enriquecimento e 
aprofundamento da compreensão da vida social. Embora se possa distinguir a 
especificidade da produção de cada uma das Ciências Sociais, nela se identifica 
a contribuição do trabalho das demais, pelo menos no que diz respeito à 
utilização dos principais conceitos que indicam o seu campo de estudo 
particular e os problemas fundamentais de que se ocupam.
A Economia Política, cuja origem é a Escola Clássica da Inglaterra com a 
publicação das obras de Adam Smith, Ricardo (1772-1823, autor de Princípios 
de Economia Política) e Malthus (1766-1834, autor de Ensaio Sobre a População), 
estuda as ações sociais voltadas à produção, circulação, distribuição e consumo 
de bens e serviços em seu contexto institucional nacional e, hoje, internacional.
A Ciência Política analisa as instituições políticas que regulamentam a 
distribuição do poder, as diferentes formas de governo, a administração 
do Estado, a luta pelo poder, o comportamento político em suas diferentes 
manifestações: político-partidário e eleitoral, as atitudes populares 
diante das questões políticas, a participação em movimentos sociais, 
enfim, o processo político em geral, inclusive no seio das organizações 
e empresas.
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A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
A História é a ciência que estuda o processo de produção da vida (isto 
é, das condições materiais de existência e da consciência, expressa no 
 conjunto de crenças, valores, padrões de comportamento), na expectativa 
de apreendê-lo em suas diferentes manifestações e especificidades ao longo 
do tempo. Detém-se sobretudo na análise daqueles acontecimentos que 
decisi vamente contribuíram para a sua transformação com o surgimento de 
novas instituições sociais.
A Psicologia Social investiga as relações recíprocas entre personalidade e 
estrutura social, demonstrando a influência do ambiente social na formação 
da personalidade e, como, em contextos grupais, os processos sociais são por 
ela influenciados, como, por exemplo, na ação da multidão, tal como tumultos 
ou linchamentos, nos estudos de opinião pública, nos movimentos sociais, 
nas atitudes grupais em relação aos preconceitos de qualquer natureza etc., 
ou seja, como as reações coletivas alteram a conduta individual e interferem 
na vida social.
A Antropologia focaliza seus estudos na construção da cultura, ou seja, 
no mundo dos significados e dos valores sociais predominantes nas mais 
diferentes sociedades, inclusive nas sociedades ágrafas, ou sem grafia, 
analisando-as em todos os seus aspectos, como conjuntos. Por isso, as 
fronteiras entre a Antropologia e a Sociologia são muito tênues.
A Sociologia, ciência que subsidia o curso Análise Social, investiga, analisa, 
explica e interpreta a estrutura social como um todo, levando em consideração 
todos os aspectos que a constituem, o econômico, o político, o cultural, o 
histórico, o psicológico, como também os demais fenômenos que interferem 
na configuração da vida social, como a demografia, a ocupação do espaço físico 
etc. É a ciência das relações sociais norteadas pelas instituições, ou padrões 
de comportamento, que expressam os valores, crenças, ideias, sentimentos, 
compartilhados pelos membros de uma sociedade, e princípios sobre os quais 
se assenta a organização da vida social em todas as suas dimensões: econômica, 
política, social, cultural, determinando-lhe a estrutura e assegurando-lhe uma 
ordem. Por isso, muitos autores se referem à Sociologia como a ciência que 
procura descobrir, descrever, explicar e compreender a ordem que caracteriza 
a vida social, ou seja, os padrões de comportamento que a caracterizam e que 
“permitem a corrente rotineira da vida social” (INKELES, 1964, p. 47), permitindo, 
portanto, prever-se o seu curso e, ao mesmo tempo, indicar as manifestações 
de desordem, de conflito e de mudança, pois a realidade social é processo.
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
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Ampliando seus conhecimentos
Estudando Sociologia
(GIDDENS, 2005)
A imaginação sociológica nos permite ver que muitos eventos que 
parecem dizer respeito somente ao indivíduo, na verdade, refletem questões 
mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil para 
alguém que passa por ele – o que Mills chama de “problema pessoal.” Mas o 
divórcio, assinala Mills, é também um problema público numa sociedade 
como a atual Grã-Bretanha, onde mais de um terço de todos os casamentos 
termina dentro de dez anos. O desemprego, para usar outro exemplo, pode ser 
uma tragédia pessoal para alguém despedido de um emprego e inapto para 
encontrar outro. Mesmo assim, isso vai bem além de uma questão geradora 
de aflição pessoal, se considerarmos que milhões de pessoas numa sociedade 
estão na mesma situação: é um assunto público, expressando amplas 
tendências sociais.
Tente aplicar esse tipo de perspectiva à sua própria vida. Não é necessário 
pensar apenas em acontecimentos preocupantes. Considere, por exemplo, 
por que você está virando as páginas deste livro – por que você decidiu 
estudar Sociologia. Você pode ser um estudante de Sociologia relutante, 
fazendo o curso somente para preencher créditos exigidos. Ou você pode 
estar entusiasmado para descobrir mais sobre o assunto. Quaisquer que 
sejam as suas motivações, você provavelmente tem muito em comum, sem 
saber necessariamente, com outros que estudam Sociologia. Sua decisão 
individual reflete sua posição numa sociedade mais vasta.
As seguintes características se aplicam a você? Você é jovem? Branco? 
Você vem de um background profissional ou de colarinho-branco?Você já 
teve, ou ainda tem, um trabalho de meio-turno para aumentar seus ganhos? 
Você quer encontrar um bom trabalho quando terminar sua educação, mas 
não está especialmente empenhado em estudar? Você não sabe realmente 
o que é sociologia mas acha que tem algo a ver com como as pessoas se 
comportam em grupo? Mais de três quartos de vocês responderão “sim” a tais 
questões. Estudantes universitários não são o típico da população como um 
todo, mas tendem a ser provenientes de ambientes mais favorecidos. E suas 
atitudes geralmente refletem aquelas sustentadas por amigos e conhecidos. Os 
ambientes sociais dos quais viemos têm muito a ver com os tipos de decisões 
que achamos apropriadas.
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A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Mas suponha que você respondeu “não” a uma ou mais dessas questões. 
Você pode ter vindo de um grupo minoritário ou de um passado de pobreza. 
Você pode ser alguém de meia-idade ou mais velho. Mesmo assim, outras 
conclusões provavelmente se seguem. Você provavelmente teve de se esfor-
çar para chegar onde está; talvez você tenha tido de superar reações hostis 
de amigos e de outros quando contou a eles que estava pretendendo ir à 
faculdade; ou talvez você esteja combinando Ensino Superior com paterni-
dade em tempo integral.
Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos en-
contramos, nenhum de nós está simplesmente determinado em nosso com-
portamento por aqueles contextos. Possuímos e criamos nossa própria in-
dividualidade. É trabalho da Sociologia investigar as conexões entre o que a 
sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos. Nossas atividades tanto 
estruturam – modelam – o mundo social ao nosso redor como, ao mesmo 
tempo, são estruturadas por esse mundo social.
O conceito de estrutura social é importante na Sociologia. Ele se refere 
ao fato de que os contextos sociais de nossas vidas não consistem apenas 
em conjuntos aleatórios de eventos ou ações; eles são estruturados ou 
padronizados de formas distintas. Há regularidades nos modos como nos 
comportamos e nos relacionamentos que temos uns com os outros. Mas 
a estrutura social não é como uma estrutura física, como um edifício que 
existe independentemente das ações humanas. As sociedades humanas 
estão sempre em processo de estruturação. Elas são reestruturadas a todo o 
momento pelos próprios “blocos de construção” que as compõem – os seres 
humanos como você e eu.
Atividades de aplicação
1. O filme O Nome da Rosa, encontrado nas prateleiras de filmes de ação 
ou de suspense das locadoras de DVDs, foi inspirado no livro de mes-
mo nome de autoria do italiano Umberto Ecco. O livro apresenta, de 
maneira romanceada, o início do processo de secularização, intelectu-
alização e/ou racionalização da cultura ocidental. Indique os indícios 
desse processo referindo-se ao conjunto das cenas ou a cenas específi-
cas do filme.
A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
21
2. Explique a seguinte afirmação: “A imaginação sociológica capacita seu 
possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos 
de seu significado para a vida íntima e para a carreira exterior de 
 numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, 
na agitação de sua experiência diária, adquirem frequentemente uma 
consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca- 
-se a estrutura da sociedade moderna, e dentro dessa estrutura são 
formuladas as psicologias de diferentes homens e mulheres. Através 
disso, a ansiedade pessoal dos indivíduos é focalizada sobre fatos 
explícitos e a indiferença do público se transforma em participação 
nas questões públicas” (MILLS, 1965, p. 11-12).
3. Apresente, explicando, as condições históricas que permitiram o surgi-
mento das Ciências Sociais.
4. Qual o objeto de estudo das diferentes Ciências Sociais? É possível 
 delimitar fronteiras entre elas? Justifique sua resposta.
Referências
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1977.
INKELES, Alex. O que É Sociologia? São Paulo: Pioneira, 1974.
WEBER, Max. História Geral da Economia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Cole-
ção Os Pensadores).
WRIGHT MILLS, C. A Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
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A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
23
As sociedades 
industriais capitalistas
A Sociologia é uma ciência recente. Nasceu com o mundo moderno, para 
explicá-lo e compreendê-lo. Assim, seu objeto de estudo é a estrutura das 
sociedades industriais capitalistas, denominadas “sociedades modernas” 
por Durkheim, “capitalismo moderno” por Max Weber e “modo de produção 
 capitalista” por Marx e Engels.
Embora Auguste Comte, com a publicação do Curso de Filosofia Positiva, 
entre 1830 e 1839, seja considerado o pai da Sociologia (criou a palavra para 
designar a nova ciência e intentou definir não só o seu objeto de estudo, mas 
também a metodologia de investigação, análise e explicação dos fenômenos 
sociais), os autores clássicos que mais contribuíram para o seu desenvolvi-
mento foram Emile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920) e Karl 
Marx (1818-1883)1. Esses três autores elaboraram os principais princípios 
explicativos da análise sociológica, respectivamente, o princípio da causa­
ção funcional, da conexão de sentido e da contradição dialética, e se tornaram 
as referências fundamentais para os autores contemporâneos e para todos 
aqueles que pretendem iniciar-se no estudo da produção sociológica.
Da aplicação desses princípios à análise da estrutura social, resultaram 
explicações e interpretações diferentes, isto é, teorias diferentes sobre 
o mesmo objeto de estudo: a sociedade capitalista, cujas características 
fundamentais os três autores trataram de nos apresentar, ao mesmo tempo 
que nos forneceram os princípios metodológicos para o desenvolvimento 
da pesquisa empírica.
Emile Durkheim
Para Durkheim, a característica principal das sociedades modernas é a 
divisão do trabalho social. Ao promover a interdependência das funções 
profissionais especializadas, a divisão do trabalho social, cuja origem é o 
aumento da população, gera a solidariedade orgânica, isto é, um novo tipo 
de coesão ou integração social que nasce do reconhecimento coletivo da 
complementariedade das atividades individuais diferenciadas, assegurando 
1 As obras principais dos 
clássicos da Sociologia são:
Emile Durkheim: A Divisão do 
Trabalho Social; As Regras do 
Método Sociológico; O Suicí­
dio; As Formas Elementares 
da Vida Religiosa; Educação 
e Sociedade.
Max Weber: Metodologia 
das Ciências Sociais; A Ética 
Protes tante e o Espírito do 
Capita lismo; História Geral 
da Econo mia; Economia e 
Sociedade; Ciência e Política: 
Duas Vocações.
Karl Marx: Manuscritos Eco­
nômicos e Filosóficos de Paris 
de 1844; A Ideologia Alemã 
(em colaboração com F. 
Engels); Miséria da Filosofia; 
Manifesto do Partido Comu­
nista (em colaboração com 
F. Engels); O 18 Brumário de 
Luis Bonaparte; Salário, Preço 
e Lucro; Trabalho Assalariado 
e Capital; Contribuição à Crí­
tica da Economia Política; e a 
mais importante, O Capital – 
Crítica da Economia Política; 
A Luta de Classes na França; 
Grundrisse.
24
As sociedades industriais capitalistas
a existência e o funcionamento da sociedade por assegurar a satisfação das 
necessidades individuais de um maior número de pessoas.
Compreenda-se que, para Durkheim (1971, p. 71), a vida social só é 
possível porque existe uma consciência coletiva, ou seja, um conjunto de 
crenças e sentimentos comuns ao comum dos membros de uma determinada 
sociedade que forma um sistema determinado com vida própria. Ou ainda: 
[...] a sociedade não é simples soma de indivíduos, e sim sistema formado pela sua 
associação, que representa uma realidade específica com seus caracteres próprios. Sem 
dúvida, nada se pode produzir de coletivo se consciências particulares não existirem; mas 
esta condição necessária nãoé suficiente. É preciso ainda que as consciências estejam 
associadas, combinadas, e combinadas de determinada maneira; é desta combinação que 
resulta a vida social, e, por conseguinte, é esta combinação que a explica.
Assim, a vida social é possível porque existe uma consciência coletiva que 
se impõe e, portanto, é compartilhada pelas consciências individuais e, desse 
compartilhamento, nasce a coesão social ou a solidariedade social.
Nas “sociedades simples” (hordas, clãs, tribos), marcadas por uma divisão 
rudimentar do trabalho social, dado o pequeno número de pessoas que 
as compõem, predomina a “solidariedade mecânica” que nasce de crenças 
e sentimentos partilhados por todos os membros da sociedade. Nelas, o 
conteúdo da consciência coletiva é o culto à própria sociedade, o respeito 
total e absoluto às suas crenças e sentimentos. Por isso, nas sociedades 
simples, os indivíduos são totalmente envolvidos pela consciência coletiva, 
havendo quase nenhuma dissemelhança entre eles. 
Mas, à medida do desenvolvimento da divisão do trabalho social, os senti-
mentos comuns se atenuam porque as atividades sociais se diferenciam, 
diferenciando os indivíduos entre si nas suas crenças e ações, cuja conse-
quência inevitável é o desenvolvimento do individualismo, que se torna o 
novo conteúdo da consciência coletiva nas sociedades modernas. A divisão 
do trabalho social é, assim, a condição criadora da liberdade individual e, ao 
mesmo tempo, de um novo tipo de solidariedade social que, como vimos, 
nasce do sentimento dos laços de interdependência dos indivíduos que, ao 
desempenharem funções diferenciadas, contribuem uns com os outros para 
a satisfação das necessidades de todos.
Essa seria, pois, a função social da divisão do trabalho social, isto é, o efeito 
social útil que produz, expresso na solidariedade orgânica, integração ou 
coesão social de um novo tipo. Da análise dos efeitos sociais úteis dos fatos 
ou fenômenos sociais, surgiu o princípio explicativo da causação funcional 
As sociedades industriais capitalistas
25
que permeia toda a obra de Emile Durkheim, lembrando-se que, se Adam 
Smith, no livro A Riqueza das Nações, de 1776, já havia demonstrado a função 
econômica da divisão do trabalho: o aumento da produtividade do trabalho, 
a redução dos custos da produção e o barateamento das mercadorias, 
Durkheim apenas se interessa por seus efeitos sociais nas mais diferentes 
esferas da vida em sociedade.
Max Weber
Para Max Weber, o traço característico do capitalismo moderno é a 
 racionalidade da conduta em todas as dimensões da vida, mas, fundamen-
talmente, como princípio norteador da vida econômica que se manifesta na 
multiplicação de empresas por meio das quais todas as necessidades de um 
grupo humano são satisfeitas.
Weber (1980, p. 123) afirma que “O capitalismo existe onde quer que se 
realize a satisfação de necessidades de um grupo humano, com caráter lu-
crativo e por meio de empresas, qualquer que seja a necessidade de que se 
trate”. No entanto, o capitalismo moderno surge apenas com a organização 
racional do trabalho, vale dizer, com o desenvolvimento da organização em-
presarial do trabalho, a partir da segunda metade do século XVIII, e apenas 
no Ocidente, onde as condições culturais suficientes e necessárias para tal 
estavam presentes.
O fato de tal desenvolvimento haver se verificado no Ocidente, deve-se aos traços 
característicos de cultura, peculiares a esta parte da Terra. Só o Ocidente conhece o 
Estado, no sentido moderno da palavra, com administração orgânica e relativamente 
estável, funcionários especializados e direitos políticos. Os indícios destas instituições 
na Antiguidade e no Oriente, não alcançaram pleno desenvolvimento. Só o Ocidente 
reconhece um direito racional, criado pelos juristas, interpretado e empregado 
racionalmente. Só no Ocidente se encontra um conceito de cidadão (civis romanus, 
citoyen, bourgeois), porque, só no Ocidente, se deu uma cidade no sentido específico da 
palavra. Além disso, só o Ocidente possui uma ciência no sentido atual. Teologia, filosofia, 
meditação sobre os problemas da vida, foram conhecidas pelos chineses e indianos, aliás, 
com uma profundidade como nunca foi sentida pelo povo europeu. Uma ciência racional 
e uma técnica racional foram coisas desconhecidas para aquelas culturas. Finalmente, a 
Cultura Ocidental se distingue de todas as demais, isto pelo fato da existência de pessoas 
possuidoras de uma ética racional da existência. Em todos os lugares encontramos a magia 
e a religião: entretanto, só é peculiar do Ocidente o fundamento religioso do regime de 
vida, cujo resultado tinha de ser o racionalismo específico. (WEBER, 1980 p. 146)
Essa longa citação era necessária para se compreender o processo de 
racionalização do mundo ocidental nas suas diferentes manifestações que, na 
visão de Max Weber, é condição necessária para o surgimento do capitalismo 
moderno, e, ao mesmo tempo, para se compreender o significado do princípio 
26
As sociedades industriais capitalistas
explicativo da conexão de sentido. Com efeito, a racionalização do mundo 
ocidental, cujas expressões foram acima apontadas, é o processo de diferen-
ciação das esferas de valor e de ação, antes unificadas pela religião, despojando 
o mundo de seus elementos metafísico-religiosos, e pelo qual a racionalidade 
passa a reger as diferentes dimensões da atividade social. A partir daí, valores 
distintos e muitas vezes em conflito orientam as ações sociais, cujo sentido 
subjetivo a elas atribuído pelo sujeito, ou sujeitos, cabe às Ciências Sociais 
e, especificamente à Sociologia, captar, ou seja, compreender e interpretar, 
estabelecendo-se, dessa maneira, as conexões de sentido entre as ações sociais.
Karl Marx
Para Marx, a especificidade do modo de produção capitalista reside 
na extração da mais-valia, isto é, numa nova modalidade de exploração 
do trabalho, substituindo a escravidão e a servidão que caracterizaram, 
respectivamente, o modo de produção antigo e o modo de produção feudal, 
e que se constitui na fonte principal dos lucros do capitalista. A mais-valia 
corresponde à diferença entre o valor das mercadorias produzidas pelo 
trabalhador e o valor de sua força de trabalho (capacidade para trabalhar), 
expressa no salário. O trabalhador produz muito mais valor (riqueza na forma 
de mercadorias) do que recebe em troca pela única mercadoria que possui 
e é obrigado a vender no mercado de trabalho para sobreviver: a sua força 
de trabalho. 
Para Marx, a origem da exploração do trabalho é a propriedade privada 
dos meios de produção, responsável também pela divisão social do trabalho 
entre trabalho intelectual e trabalho material.
A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de 
produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os 
meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante. (MARX; 
ENGELS, 1974, p. 56)2
Assim, no modo de produção capitalista, os proprietários do capital 
realizam o trabalho intelectual; são os produtores da consciência, da ideologia, 
da visão de mundo, isto é, da superestrutura social, composta da estrutura 
jurídico-política e ideológica, que impõem, pela dominação política, aos não 
proprietários dos meios de produção, produtores das condições materiais 
de vida, isto é, da infraestrutura. A ideologia dominante é a representação 
mental das condições de vida da classe dominante, muito distintas das 
condições de vida da classe dominada. A ideologia é sempre falsa consciência 
2 Atente-se para o fato de 
que Marx se refere à divi-
são social do trabalho e 
não à divisão do trabalho 
social como Durkheim. 
Os significados dessas ex-
pressões são muito dife-
rentes, porque enquanto 
Marx se refere à origem 
da divisão do trabalho, 
Durkheim se refere à es-
pecialização das funções 
sociais, sem preocupar-se 
com a sua origem.
As sociedades industriais capitalistas
27
do mundo tanto da classedominante (proprietários dos meios de produção) 
quanto da classe dominada (proprietários da força de trabalho) e, por isso, 
conduz à alienação, isto é, à incapacidade de compreender a realidade e de 
sobre ela exercer controle.
As classes sociais, por ocuparem posições diferentes no processo de 
produção da riqueza, posições determinadas pela propriedade e/ou 
ausência de propriedade dos meios de produção, têm interesses econômicos 
divergentes, razão pela qual estão permanentemente em relações sociais de 
conflito, (latente ou manifesto, como nas greves, nos movimentos sociais, 
nas reivindicações por melhores condições de vida). 
No Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Marx e Engels (este 
colaborador de Marx) afirmam que 
A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes. 
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e 
companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram em constante 
oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, 
que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela 
destruição das classes em conflito. (MARX; ENGELS, 1978, p. 94)
Assim, para esses autores, as transformações do modo de produção 
 vigente nos diferentes momentos da história da humanidade (no Ocidente, 
modo de produção antigo, modo de produção feudal e modo de produção 
capitalista) são resultado da luta de classes, da contradição dialética entre os 
interesses das classes sociais.
Nas sociedades capitalistas, a luta de classes foi simplificada. “A sociedade 
global divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes 
classes que se defrontam – a burguesia e o proletariado.” (MARX; ENGELS, 
1978, p. 94). Da luta entre essas duas classes, surgirá um novo modo de 
produção, fundado na propriedade coletiva dos meios de produção, pondo 
fim à exploração do trabalho e à existência das classes sociais: o modo de 
produção comunista, no encerramento da fase de transição do capitalismo 
para a ditadura do proletariado, ou seja, do socialismo para o comunismo.
A destruição do modo de produção capitalista dar-se-à quando da 
emergência da contradição dialética entre desenvolvimento das forças 
produtivas materiais (capacidade de produção de uma sociedade) e relações 
sociais de produção entre capitalistas e assalariados. E essa contradição 
resulta do fato de que, ao revolucionar constantemente os meios de produção 
para enfrentar a acirrada competição nos mercados de bens, a burguesia vai 
28
As sociedades industriais capitalistas
cavando sua própria cova, na medida em que a substituição de trabalhadores 
por máquinas sempre mais sofisticadas gera desemprego em massa e impede 
a reprodução do próprio capital por impedir o consumo da produção cada vez 
mais diversificada e em grande escala. Emerge, então, a contradição dialética 
entre a acumulação da riqueza, de um lado, e, de outro, a acumulação da 
pobreza, paralisando o próprio processo de produção da riqueza e contribuindo 
para o fortalecimento da organização política dos trabalhadores, cujo resultado 
é o rompimento das relações sociais capitalistas pela revolução comunista.
A Sociologia ainda hoje continua subsidiada pelas obras dos três 
clássicos aqui rapidamente apresentados, pois os autores contemporâneos 
têm construído novos esquemas de explicação teórica a partir da sua total 
 rejeição, da sua reformulação ou ainda da sua ampliação, na tentativa de 
acompanhar e compreender o processo histórico que se manifesta em 
 situações por aquelas obras não contempladas.
Como Durkheim, Weber e Marx fundamentam suas teorias em princípios 
epistemológicos distintos (respectivamente, Positivismo, Sociologia da 
Compreensão e Materialismo Histórico e Dialético), em nenhuma hipótese 
é possível utilizar conceitos por eles elaborados de maneira indistinta, 
porque seu poder explicativo se circunscreve no conjunto da teoria que 
lhes deu origem. No entanto, pode-se elencar as características peculiares 
das sociedades capitalistas contemporâneas utilizando-se as indicações 
que aqueles autores nos legaram, muito embora as tenham explicado 
diferentemente. Assim, reunimos a seguir os componentes essenciais da 
estrutura das sociedades capitalistas.
A estrutura das sociedades industriais capitalistas
Os princípios norteadores das relações sociais e da organização das 
diferentes dimensões da vida social, definidores das especificidades das 
sociedades industriais capitalistas, podem ser assim apresentados:
trabalho livre, decorrente do primeiro artigo da � Declaração dos Direi­
tos do Homem e do Cidadão, segundo o qual todos os homens nascem 
livres e iguais perante a lei, condição necessária para a existência do 
mercado livre de trabalho e para a transformação da força de trabalho 
em mercadoria, isto é, trabalho assalariado.
Um mercado de trabalho livre existe quando e somente quando os trabalhadores 
(seguindo a conhecida frase de Marx) são livres no duplo sentido, ou seja, “como pessoas 
livres, podem dispor de sua força de trabalho como mercadoria própria” e “são desprovidos 
As sociedades industriais capitalistas
29
de tudo o mais necessário à realização de sua força de trabalho”. Um mercado de trabalho 
pressupõe a ausência de propriedade em dois sentidos: o trabalhador não pode estar 
vinculado a um proprietário como um material componente da produção, nem pode 
controlar propriedade e, portanto, suas próprias chances de garantir uma existência fora 
do mercado de trabalho. O trabalhador não pode ser propriedade de alguém nem possuir 
propriedade. (CLAUS OFFE: 1989, p. 72);
instituição da propriedade privada dos meios de produção, isto é, �
do capital, a todos acessível juridicamente, porém, de fato acessível 
a alguns poucos, origem da contradição entre igualdade jurídica e 
desigualdade de fato;
desigualdade de fato, expressa na formação de classes sociais, ou seja, �
na formação de grupos de pessoas que ocupam diferentes posições 
no processo de produção da riqueza determinadas pela propriedade 
ou ausência de propriedade dos meios de produção. Do restrito acesso 
de fato à propriedade do capital, nascem as duas grandes classes 
sociais das sociedades capitalistas: a dos proprietários do capital e/ou 
capitalistas e/ou burguesia e a classe dos não proprietários do capital 
e/ou proletariado ou classe assalariada que vive da venda de sua força 
de trabalho no mercado livre de trabalho em troca de um salário; as 
relações de produção entre proprietários e não proprietários dos meios 
de produção são regulamentadas por um contrato livre de trabalho 
que poderá ser rompido a qualquer momento por uma das partes;
luta de classes, latente ou manifesta, devido ao conflito de interesses �
econômicos das classes e/ou grupos sociais; os conflitos manifestos 
se expressam nos movimentos reivindicatórios e/ou grevistas, e os 
latentes são subjacentes às relações sociais entre as classes e, por isso, 
são permanentes;
divisão racional do trabalho, cujo critério único é a competência profis- �
sional, a capacitação técnica dos trabalhadores; e divisão tecnológica 
do trabalho no interior das empresas;
economia de mercado, isto é, estrutura econômica organizada para a �
produção de mercadorias, ou seja, para a produção em larga escala de 
bens e prestação de serviços propositadamente para a troca por dinhei-
ro no mercado de bens e serviços, com fundamento na livre iniciativa e 
na livre competição, embora parcialmente regulamentado pelo Estado;
produção de bens e prestação de serviços por empresas, com caráter �
permanente e racionalmente organizadas para a obtenção de lucros, 
cuja origem principal é a exploração do trabalho, isto é, a extração da 
30
As sociedades industriais capitalistas
mais-valia, isto é, a diferença entre o que foi efetivamente produzido 
pelo trabalhador e o que lhe foi pago em forma de salário: o trabalhador 
sempre produz mais doque recebe;
Estado Moderno, fundado no Direito Racional e na autoridade legal- �
-racional, cuja legitimidade advém da crença na superioridade da lei 
racionalmente elaborada pelo poder legislativo, representante da 
vontade do povo; governa-se em nome da lei para fazer cumprir a lei 
que estabelece a separação entre os poderes executivo, legislativo e 
judiciário e, numa democracia plebiscitária, os cidadãos escolhem 
seus governantes através de eleições livres. O Estado Moderno é admi-
nistrado burocraticamente, com funcionários de carreira que ocupam 
cargos para os quais foram nomeados após terem demonstrado, pela 
via de concursos públicos, competência técnica para tal, ou, como se 
afirmou acima, pela escolha soberana dos cidadãos para a ocupação 
de cargos no executivo e no poder legislativo;
Direito Racional, isto é, direito calculável, como condição necessária �
para a existência das sociedades capitalistas modernas, pois, como 
afirma Max Weber (1980, p.124), “Para que a exploração econômica 
capitalista proceda racionalmente precisa confiar em que a justiça e a 
administração seguirão determinadas pautas.”;
secularização e racionalização e/ou intelectualização da cultura, �
herdada da filosofia racionalista do século XVIII, cujas expressões mais 
importantes são a ciência, a técnica racional, o Estado Moderno e a 
Razão como princípio organizador de todas as dimensões da vida;
técnica racional para a mecanização/ automatização/ informatização �
da produção e da prestação de serviços, isto é, industrialização, para a 
produção em larga escala de todas as mercadorias, característica das 
sociedades industriais.
As empresas
A produção de bens e a prestação de serviços no interior de empresas com 
caráter permanente e racionalmente organizadas é um traço distintivo das 
sociedades industriais capitalistas, pois, em nenhum outro momento da história da 
humanidade a satisfação das necessidades sociais delas dependeu totalmente. 
Sem dúvida, só podemos dizer que toda uma época é tipicamente capitalista quando a 
satisfação de necessidades se acha, segundo o seu centro de gravidade, orientada de tal 
maneira que, se imaginamos eliminada esta classe de organização, fica em suspenso a 
satisfação das necessidades. (WEBER, 1980, p. 124)
As sociedades industriais capitalistas
31
Embora, ainda segundo Max Weber, encontremos várias formas de 
capitalismo ao longo dos tempos, foi apenas com a organização empresarial 
e permanente do trabalho que surgiu o capitalismo moderno, isto é, 
capitalismo racional.
Encontramos, primeiramente, por toda a parte, e nas épocas mais diferentes, tipos de um 
capitalismo irracional: empresas capitalistas que tinham por finalidade o arrendamento dos 
tributos (tanto no Ocidente como na China, e na Ásia Menor) e outras espécies de contribuições 
para financiar a guerra (na China e na Índia, na época dos Estados parciais); capitalismo mercantil 
de tipo especulativo, tal como os mercadores o conheceram, quase sem exceção em todas as 
épocas da história; e capitalismo usuário, que, através do empréstimo, explora as necessidades 
alheias. [...] Todas estas foram, somente, circunstâncias econômicas de caráter irracional, sem 
que jamais surgisse delas um sistema de organização do trabalho. O capitalismo racional tem 
em conta as possibilidades do mercado, isto é, oportunidades econômicas no sentido mais 
estrito do termo: quanto mais racional for mais se baseia na venda para grandes massas e 
na possibilidade de abastecê-las. Este capitalismo, elevado à categoria de sistema, apenas se 
consegue no desenvolvimento moderno Ocidental, nos fins da Idade Média. (1980, p. 157)
Mas, não só para Max Weber as empresas constituem um dos traços 
distintivos e fundamentais das sociedades capitalistas. Também para Karl Marx 
as empresas racionalmente organizadas para a produção das mercadorias 
representam a característica mais significativa do novo modo de produção 
porque é no seu interior que a nova modalidade de exploração do trabalho, 
a extração da mais-valia, se realiza, tornando-se a fonte principal dos lucros 
do capitalista e o fator determinante da reprodução do capital. E quanto 
mais racional for a organização do trabalho, maior será a taxa da mais-valia e, 
portanto, a taxa de lucros. 
O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista, a quem pertence seu trabalho. O 
capitalista cuida em que o trabalho se realize de maneira apropriada e em que se apliquem 
adequadamente os meios de produção, não se desperdiçando matéria-prima e poupando- 
-se o instrumental de trabalho, de modo que só se gaste deles o que for imprescindível à 
execução do trabalho. (MARX, 1971, p. 209)
Assim, o livro I de O Capital, cujo subtítulo é “O Processo de Produção 
Capitalista”, dedica-se inteiramente à análise do processo de produção 
 capitalista, processo de produção de mercadorias, que se realiza no interior 
das empresas, cuja maior preocupação é a de organizar racionalmente o 
 processo de trabalho para permitir o aumento da produtividade do trabalho 
e, em consequência, o aumento dos lucros dos capitalistas. 
A divisão tecnológica do trabalho, isto é, a decomposição do processo de 
trabalho em operações simplificadas realizadas por trabalhadores diferentes, 
ainda no período manufatureiro, é uma das expressões da racionalização 
das empresas.
32
As sociedades industriais capitalistas
Decompondo o ofício manual, especializando as ferramentas, formando os trabalhadores 
parciais, grupando-os e combinando-os num mecanismo único, a divisão manufatureira 
do trabalho cria a subdivisão qualitativa e a proporcionalidade quantitativa dos processos 
sociais de produção; cria assim determinada organização do trabalho social e, com isso, 
desenvolve ao mesmo tempo nova força produtiva social do trabalho. A divisão manufa-
tureira do trabalho, nas bases históricas dadas, só poderia surgir sob forma especificamen-
te capitalista. (MARX, 1971, p. 417)
Mas, sem dúvida, a expressão mais significativa da organização racional 
do trabalho é a mecanização do processo de produção, com a introdução 
da maquinaria, que substitui o trabalhador, prolonga a jornada de trabalho 
além do necessário para a sua sobrevivência e intensifica o trabalho, 
aumentando ainda mais a taxa da mais-valia e a taxa de lucros. Esse emprego 
(da maquinaria), 
[...] como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho, tem por fim 
baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho da qual precisa o trabalhador 
para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratuitamente ao capitalista. A 
maquinaria é meio para produzir mais-valia. (MARX, 1971, p. 424)
Para Marx, portanto, a divisão do trabalho no interior das empresas 
tem como objetivo aumentar a produtividade do trabalho e os lucros dos 
capitalistas, sempre maiores com a introdução de sofisticadas tecnologias. 
Acirra o conflito social, imanente às sociedades capitalistas, por intensificar 
a exploração do trabalho e degradar o trabalhador ao desprofissionalizá-lo, 
tornando-o um verdadeiro autômato.
Mesmo Durkheim reconhece que as formas contemporâneas da divisão 
do trabalho não podem engendrar solidariedade social, porque a especiali-
zação pronunciada das tarefas provoca descoordenação das funções e cons-
titui fonte de desintegração por impedir o desenvolvimento do sentimento 
de interdependência, tornando-se patológica.
Independentemente das interpretações teóricas elaboradas pelos 
clássicos da Sociologia, podemos apresentar as características definidoras 
das empresas a partir de suas obras e, graças a elas, compreender também o 
seu surgimento e desenvolvimento como consequência das novas condições 
econômicas, políticas, sociais e culturais que marcaram o Ocidente da segunda 
metade do século XVIII. Isso significa que, desde sempre, as empresas devem 
ser pensadas como produto daquelas condições permanentemente em 
processo, em transformação, o que implica afirmar que, para conhecê-las, 
é precisosituá-las historicamente, acompanhando-se o processo histórico 
universal que as determina, ao mesmo tempo que é por elas determinado. 
Tarefa desafiadora e, por isso mesmo, imensamente interessante.
Pode-se definir a empresa como um grupo de pessoas propositadamente 
formado e racionalmente organizado para a produção em larga escala de 
As sociedades industriais capitalistas
33
bens ou para a prestação de serviços, para trocá-los por dinheiro no mercado 
de bens e serviços, tendo por objetivo único a obtenção de lucros. Todas as 
empresas são organizações, mas nem todas as organizações são empresas. 
O que as distingue é o fato de que somente as empresas têm como meta a 
obtenção de lucros. O exemplo mais ilustrativo de organização é o Estado, a 
maior de todas as organizações, e seus organismos prestadores de serviços à 
população sem fins lucrativos.
A organização racional das empresas se expressa:
na divisão racional e tecnológica do trabalho, ou seja, na distribuição �
das tarefas segundo o critério único da competência profissional, da 
capacitação técnica, de seus membros;
nas diferentes formas de organização do processo de trabalho, �
fundadas na divisão do trabalho, e que, ao longo do século XX foram 
identificadas como taylorismo, fordismo e toyotismo;
na existência de normas racionalmente elaboradas que regulamentam �
o comportamento de seus membros e a execução das tarefas;
na estrutura de autoridade hierárquica, como princípio de coordenação �
das tarefas;
na aplicação dos métodos e dos conhecimentos científicos ao processo �
produtivo e de prestação de serviços;
na utilização da mais moderna e sofisticada tecnologia, produto de �
pesquisa permanente, muitas vezes por elas mesmas financiada;
no cálculo econômico permanente, cálculo matemático dos custos �
da produção, das tendências do mercado, das probabilidades de 
obtenção de lucros e mesmo das probabilidades de prejuízos;
na rápida e adequada reação às condições econômicas, políticas, sociais �
e culturais, nacionais e internacionais, determinantes das condições 
mercadológicas e de obtenção de lucros, como consequência da 
análise permanente do processo histórico.
Como grupo de pessoas, a empresa se apresenta como um microcosmos 
social, desenvolvendo os mesmos processos sociais que caracterizam a 
sociedade geral, apenas dela se diferenciando por realizarem uma ativida-
de específica para a qual foram socialmente preparados. Assim, tal como na 
sociedade geral, os membros da empresa desenvolvem ações sociais orienta-
das por uma cultura empresarial que se origina na cultura da sociedade como 
34
As sociedades industriais capitalistas
um todo; submetem-se à obediência das normas estabelecidas e à estrutura 
de autoridade hierárquica e, ao mesmo tempo, informalmente, elegem seus 
líderes; ocupam posições diferenciadas segundo a sua competência profis-
sional; colaboram e competem entre si; estão em conflito permanente com 
os seus empregadores; lutam por melhores condições de trabalho, de salário 
e de vida, e dependem da situação dos mercados de trabalho para a manu-
tenção de sua empregabilidade.
Por essas razões, o administrador, para tornar-se realmente competente, 
deverá adquirir os conhecimentos produzidos pelas Ciências Sociais 
para compreender o comportamento organizacional nas suas múltiplas 
determinações, a fim de promover, com a colaboração dos trabalhadores, 
os ajustamentos às condições econômicas, políticas, sociais e culturais, 
nacionais e internacionais, existentes.
Ampliando seus conhecimentos
O valor do trabalho
Devemos voltar agora à expressão “valor ou preço do trabalho”. Vimos que, na 
realidade, esse valor nada mais é que o da força de trabalho, medido pelos valores 
das mercadorias necessárias à sua manutenção. Mas, como o operário só recebe 
o seu salário depois de realizar o seu trabalho e como, ademais, sabe que o que 
entrega realmente ao capitalista é o seu trabalho, ele necessariamente imagina 
que o valor ou preço de sua força de trabalho é o preço ou valor do seu próprio 
trabalho. Se o preço de sua força de trabalho é 3 xelins, nos quais se materializam 
6 horas de trabalho, e ele trabalha 12 horas, forçosamente o operário considerará 
esses 3 xelins como o valor ou preço de 12 horas de trabalho, se bem que estas 12 
horas representem um valor de 6 xelins. Donde se chega a um duplo resultado:
Primeiro: O valor ou preço da força de trabalho toma a aparência do preço 
ou valor do próprio trabalho, ainda que a rigor as expressões de valor e preço 
do trabalho careçam de sentido.
Segundo: Ainda que só se pague uma parte do trabalho diário do ope-
rário, enquanto a outra parte fica sem remuneração, e ainda que esse traba-
lho não remunerado ou sobretrabalho seja precisamente o fundo de que se 
forma a mais­valia ou lucro, fica parecendo que todo o trabalho é trabalho 
pago.
As sociedades industriais capitalistas
35
Essa aparência enganadora distingue o trabalho assalariado das outras 
formas históricas do trabalho. Dentro do sistema do salariado, até o trabalho 
não remunerado parece trabalho pago. Ao contrário, no trabalho dos escravos 
parece ser trabalho não remunerado até a parte do trabalho que se paga. 
Claro está que, para poder trabalhar, o escravo tem que viver e uma parte de 
sua jornada de trabalho serve para repor o valor de seu próprio sustento. Mas, 
como entre ele e seu senhor não houve trato algum, nem se celebra entre 
eles nenhuma compra e venda, todo o seu trabalho parece dado de graça.
O lucro obtém-se vendendo uma mercadoria 
pelo seu valor
O valor de uma mercadoria se determina pela quantidade total de traba-
lho que encerra. Mas uma parte dessa quantidade de trabalho representa um 
valor pelo qual se pagou um equivalente em forma de salários; outra parte 
se materializa num valor pelo qual nenhum equivalente foi pago. Uma parte 
do trabalho incluído na mercadoria é trabalho remunerado; a outra parte, 
trabalho não remunerado. Logo, quando o capitalista vende a mercadoria 
pelo seu valor, isto é, como cristalização da quantidade total de trabalho nela 
invertido, o capitalista deve forçosamente vendê-la com lucro. Vende não só 
o que lhe custou um equivalente, como também o que não lhe custou nada, 
embora haja custado o trabalho do seu operário. O custo da mercadoria para 
o capitalista e o custo real da mecadoria são coisas inteiramente distintas. 
Repito, pois, que lucros normais e médios se obtêm vendendo as mercado-
rias não acima do que valem e sim pelo seu verdadeiro valor.
(MARX, Karl. Salário, Preço e Lucro. In: Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril 
Cultural, 1982.)
Atividades de aplicação
1. Leia e faça uma resenha do item do primeiro capítulo intitulado “O de-
senvolvimento do pensamento sociológico,” do livro de Anthony Gid-
dens, Sociologia.
2. Apresente e explique as características principais das sociedades in-
dustriais capitalistas segundo as perspectivas teóricas elaboradas pe-
los clássicos da Sociologia.
36
As sociedades industriais capitalistas
3. Qual o traço definidor de uma empresa e como se expressa?
4. Como se explica a desigualdade social de acordo com o pensamento 
de Marx?
Referências
DURKHEIM, Emile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Companhia 
Editora Nacional, 1971.
MARX, Karl; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Zahar, 
1978.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. O processo de produção do 
Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. v.1.
MARX, Karl. Salário, Preço e Lucro in Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril 
Cultural, 1982.
WEBER, Max. História Geral da Economia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Cole-
ção Os Pensadores).
39
As diferentes formas 
de administração do processo 
de trabalho no capitalismo moderno
A acumulação primitiva do capital
A estrutura econômica da sociedade capitalista tornou-se possível graças à 
acumulação primitiva do capital ainda na estrutura econômica da sociedade 
feudal, anterior,portanto, à acumulação capitalista, como resultado de “pro-
cessos idílicos” (aventureiros), sobretudo violentos, de obtenção de riquezas.
As descobertas de ouro e de prata na América, o extermínio, a escravização das populações 
indígenas, forçadas a trabalhar no interior das minas, o início da conquista e pilhagem das 
Índias Orientais e a transformação da África num vasto campo de caçada lucrativa são os 
acontecimentos que marcam os albores da era da produção capitalista. Esses processos 
idílicos são fatores fundamentais da acumulação primitiva. Logo segue a guerra comercial 
entre as nações europeias, tendo o mundo por palco. Inicia-se com a revolução dos Países 
Baixos contra a Espanha, assume enormes dimensões com a guerra antijacobina da 
Inglaterra, prossegue com a guerra do ópio contra a China etc.
Os diferentes meios propulsores da acumulação primitiva se repartem numa ordem mais 
ou menos cronológica por diferentes países, principalmente Espanha, Portugal, Holanda, 
França e Inglaterra. Na Inglaterra, nos fins do século XVII, são coordenados através de vários 
sistemas: o colonial, o das dívidas públicas, o moderno regime tributário e o protecionismo. 
Esses métodos se baseiam em parte na violência mais brutal, como é o caso do sistema 
colonial. Mas, todos eles utilizavam o poder do estado, a força concentrada e organizada 
da sociedade para ativar artificialmente o processo de transformação do modo feudal 
de produção no modo capitalista, abreviando assim as etapas de transição. A força é o 
parteiro de toda sociedade velha que traz uma nova em suas entranhas. Ela mesma é uma 
potência econômica. (MARX, 1971, livro I, v. II, p. 868-869)
Max Weber também se refere aos processos de acumulação da riqueza 
anteriores ao capitalismo moderno que caracterizaram as formas de capitalismo 
irracional. Dentre esses processos, 
[...] a ocupação e exploração de grandes regiões fora da Europa. As aquisições coloniais dos 
Estados europeus deram lugar, em todos eles, a uma gigantesca acumulação de riquezas 
dentro da Europa. O meio empregado para este acúmulo de riquezas foi o monopólio 
dos produtos coloniais, as possibilidades de colocação nas colônias, isto é, o direito de 
transportar-lhes as mercadorias, e, finalmente, as oportunidades de ganho que oferecia o 
transporte, mesmo entre a metrópole e as colônias, tal como foram asseguradas pela Ata 
de Navegação Inglesa, de 1651. Tal acumulação de riquezas ficou garantida, sem exceção, 
por todos os países, mediante o exercício do poder, o que se revestiu de várias formas, 
isto é, o Estado tirava das colônias lucros imediatos; administrando diretamente suas 
riquezas, ou cedendo-as a determinadas sociedades, em troca de certos pagamentos. 
(WEBER, 1980, p. 136)
40
As diferentes formas de administração do processo de trabalho no capitalismo moderno
Assim, se a acumulação primitiva do capital foi obtida mediante atividades 
aventureiras, como, por exemplo, as grandes navegações que permitiram a 
colonização, e/ou sobretudo mediante a violência cristalizada na escravidão e 
no extermínio dos povos indígenas, a acumulação do capital nas sociedades 
modernas resulta tão somente da eficácia e eficiência da administração 
empresarial, isto é, da capacidade de explorar ao máximo, racionalmente, 
todos os recursos e/ou meios e/ou fatores da produção. Resulta, portanto, 
da organização racional do trabalho no interior das empresas, do cálculo 
econômico permanente e da análise racional, probabilística em termos 
matemáticos, dos mercados nacionais e internacionais, frutos de múltiplas 
determinações: econômicas, políticas, sociais, culturais universais.
Neste capítulo, a atenção se volta para as implicações sociais e humanas 
do processo de racionalização do interior das empresas, isto é, das diferentes 
formas de organização racional do processo de trabalho que marcaram o 
século XX e determinaram, em grande parte, os mercados de trabalho.
A divisão tecnológica do trabalho
A primeira expressão da racionalização do interior das empresas indus-
triais foi a divisão do processo de trabalho em operações especializadas 
atribuídas a diferentes trabalhadores, já no século XVIII, conforme nos 
 demonstrou Adam Smith (1937, p. 4-5) em A Riqueza das Nações. 
Um homem estica o arame, outro o retifica e um terceiro o corta; um quarto faz a ponta e 
um quinto prepara o topo para receber a cabeça; a cabeça exige duas ou três operações 
distintas: colocá-la é uma função peculiar, branquear os alfinetes é outra e até alinhá-los 
num papel é uma coisa separada: e o importante na fabricação de um alfinete é deste modo 
dividido em cerca de dezoito operações que, em algumas fábricas, são executadas por 
mãos diferentes, embora em outras o mesmo homem às vezes execute duas ou três delas.
Os efeitos econômicos altamente positivos da divisão do trabalho, isto é, 
o aumento da produtividade do trabalho, devem-se, segundo Adam Smith, 
a três diferentes circunstâncias: 
Este grande aumento na quantidade de trabalho que, em consequência da divisão do 
trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de executar, deve-se a três diferentes 
circunstâncias: primeira, ao aumento da destreza de cada trabalhador individualmente; 
segunda, à economia de tempo que em geral se perde passando de uma espécie de 
trabalho a outra; e, finalmente, à invenção de grande número de máquinas que facilitam 
e abreviam o trabalho, e permitem que um homem faça o trabalho de muitos. (SMITH, 
1937, p. 7)
Ao longo do século XIX, a divisão do processo de trabalho acentuou-se e 
foi por Marx denominada divisão tecnológica do trabalho por conformar-se 
As diferentes formas de administração do processo de trabalho no capitalismo moderno
41
às exigências da introdução de novos instrumentais de trabalho, isto é, às 
exigências de um sistema de máquinas que, ao desenvolver-se, propiciou 
uma total reorganização do interior da fábrica.
No entanto, até o final daquele século, o trabalho industrial ainda era 
realizado por operários profissionais, conhecedores da matéria-prima e de 
todas as etapas de sua transformação num produto final. Seu conhecimento 
advinha da experiência vivida no chão da fábrica e lhes garantia autonomia 
profissional. Dada a inexistência de uma programação da produção, 
predominava a organização autônoma do trabalho do operário profissional 
ou qualificado, que Alain Touraine, sociólogo francês, qualificou de Sistema 
Profissional ou Fase A do processo de organização e de qualificação do 
trabalho. A qualificação do operário é, sobretudo, indicada por seu poder de 
comando e decisão sobre o próprio trabalho a partir do conhecimento da 
totalidade do processo produtivo.
Esta independência, essa liberdade profissional do operário em relação à empresa que 
o emprega é inseparável da unidade profissional das categorias operárias, num ofício 
determinado, unidade fundada na sucessão hierarquizada de níveis de aprendizagem e 
decisão. (TOURAINE, 1973, p. 449)
Nesta fase, a divisão tecnológica do trabalho, em estágio pouco avançado, 
preservava o trabalho profissional altamente qualificado.
Taylorismo e fordismo
Porém, nas últimas décadas do século XIX, Frederick Taylor, engenheiro 
norte-americano, desenvolveu um novo método de organização do processo 
de trabalho industrial, apresentado em sua obra Princípios de Administração 
Científica, publicada em 1911, com a qual ficou conhecido como o pai da 
 administração científica, também denominada “taylorismo”, para aumentar o 
volume de produção, a fim de atender a demanda crescente pela conquista 
de novos mercados e “assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao 
mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado.” (TAYLOR, 1966, 
p. 29), sendo esse o principal objetivo da administração. 
O ponto de partida da obra de Taylor é a sua constatação de que o traba-
lhador é, por princípio e definição, vadio, trabalhando muito menos do que é 
fisicamente capaz, tal como afirma nessa passagem extravagante que, com 
certeza,

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