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COMPLIANCE-LEGISLAÇÃO-PÁTRIA

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ESPIRITO SANTO 
COMPLIANCE-LEGISLAÇÃO PÁTRIA 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 
 
 
1 
 
SUMÁRIO 
1. CONCEITO E NOÇÕES GERAIS ................................................................ 3 
2. DEVERES DO COMPLIANCE ..................................................................... 5 
3. COMPLIANCE OFFICER ............................................................................. 7 
4. LEI 9.613/1998 ........................................................................................... 13 
5. LEI 12.683/2012 ......................................................................................... 17 
6. LEI 12.846/2013 ......................................................................................... 24 
6.1. Decreto nº 4954/13 do Estado de Tocantins ....................................... 28 
6.2. Decreto nº 60.106/14 do Estado de São Paulo ................................... 29 
6.3. Decreto nº 10.271/14 do Estado do Paraná ........................................ 29 
6.4. Decreto Municipal nº 55.107/14 do Município de São Paulo ............... 30 
6.5. Decreto Regulamentar nº 8420/15 da União ....................................... 31 
6.6. A Portaria 909/15 da CGU ................................................................... 36 
6.7. Decreto nº 46782/15 do Estado de Minas Gerais ................................ 38 
6.8. Decreto Municipal nº 7177/15 do Município de Santos ........................ 39 
6.9. Decreto Municipal nº 207/15 do Município de Macaé .......................... 40 
6.10. Decreto nº 3956/16 do Estado do Espírito Santo ................................ 41 
6.11. Decreto nº 37296/16 do Distrito Federal .............................................. 43 
6.12. Decreto nº 48.326/16 do Estado de Alagoas ....................................... 46 
7. ACORDO DE LENIÊNCIA .......................................................................... 47 
7.1. Parâmetros do Acordo de Leniência ................................................... 49 
7.2. Acordo de Leniência e a Responsabilidade Individual ......................... 53 
7.3. Acordo de Leniência e o Arrependimento Posterior. ........................... 55 
7.4. Acordo de Leniência e a relação entre sócio e administrador da empresa
 56 
7.5. Acordo de Leniência e o conflito de interesse entre sócio, administrador 
e a própria empresa. ................................................................................................... 58 
 
2 
 
7.6. Acordo de Leniência e o Direito Processual Penal .............................. 59 
7.7. Acordo de Leniência sem a Participação do Ministério Público - Aspectos 
Práticos. 62 
7.8. Acordo de Leniência e a improbidade administrativa. ......................... 63 
8. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 65 
 
 
 
3 
 
1. CONCEITO E NOÇÕES GERAIS1 
 
Fonte: images.adsttc.com 
Compliance vem do verbo em inglês “to comply”, que significa “cumprir”, 
“executar”, “satisfazer”, “realizar o que lhe foi imposto”, ou seja, Compliance é estar 
em conformidade, é o dever de cumprir e fazer cumprir regulamentos internos e 
externos impostos ás atividades da instituição. 
“Ser Compliance” é conhecer as normas da organização, seguir os 
procedimentos recomendados, agir em conformidade e sentir o quanto é fundamental 
a ética e a idoneidade em todas as atitudes humanas e empresariais. 
“Ser e estar Compliance” é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada 
colaborador dentro da instituição. 
“Risco de Compliance” é o risco de sanções legais ou regulamentos, perdas 
financeiras ou mesmo perdas reputacionais decorrentes da falta de cumprimento de 
disposições legais, regulamentares, código de conduta... 
Entretanto, o conceito de “Compliance” vai além das barreiras legais e 
regulamentares, incorporando princípios de integridade e conduta ética. 
 
1 Texto extraído de Compliance e Governança Corporativa - Marcella Blok 
 
4 
 
Portanto, deve-se ter em mente que, mesmo que nenhuma lei ou regulamento 
seja descumprido, ações que tragam impactos negativos para os “stakeholders” 
(acionistas, clientes, empregados etc.) podem gerar risco reputacional e publicidade 
adversa, comprometendo a continuidade de qualquer entidade. Para qualquer 
instituição, confiança é um diferencial de mercado. 
Em geral, as leis tentam estabelecer controles e maior transparência, mas estar 
em conformidade apenas com as leis não garante um ambiente totalmente em 
Compliance. A efetividade do Compliance está diretamente relacionada à importância 
que é conferida aos padrões de honestidade e integridade na instituição. 
O Compliance deve começar pelo “topo” da organização, com o apoio da alta 
administração para a disseminação da cultura de Compliance, com as atitudes dos 
executivos seniores, que devem “liderar pelo exemplo”, e com o comprometimento 
dos colaboradores, que devem se conduzir pela ética e idoneidade. 
Compliance pressupõe a existência de uma norma ou regulamento, é, pois, o 
conjunto de esforços para atuação em conformidade com leis e regulamentações 
inerentes ás atividades, assim como elaboração e compromisso com códigos de ética 
e políticas de conduta internas. 
Trata-se, em outros termos, do ato de cumprir, de estar em conformidade e 
executar regulamentos internos e externos, impostos às atividades da instituição, 
buscando mitigar o risco atrelado à reputação e ao regulatório/legal. 
Compliance é muito presente em instituições e empresas. Originada no 
mercado financeiro, tem se estendido às mais diversas organizações privadas e 
governamentais, especialmente àquelas que estão sujeitas à forte regulamentação e 
controle. 
As empresas que são fornecedoras ativas de governos, participantes de 
licitações e atuantes no comércio exterior devem estar cientes e se adequar em 
relação ao aperto nas regras anticorrupção. 
Nos âmbitos institucional e corporativo, Compliance é o conjunto de disciplinas, 
para fazer cumprir as normas legais e regulamentares, a política e as diretrizes 
estabelecidas para o negócio e para as atividades da instituição ou empresa, bem 
como evitar detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer. 
O termo Compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa 
agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou pedido. 
 
5 
 
Significa, pois, o ato ou procedimento para assegurar o cumprimento das normas 
reguladoras de determinado setor, conceito que provém da economia e que foi 
introduzido no direito empresarial, significando a posição, observância e cumprimento 
das normas, não necessariamente de natureza jurídica. 
2. DEVERES DO COMPLIANCE 
 
Fonte: posgraduacaofortaleza.com.br 
Os deveres de Compliance previstos na recente Lei de Lavagem de Dinheiro 
corporificam no direito pátrio a tendência internacional de privilegiar no combate à 
lavagem de dinheiro, a utilização de políticas preventivas ao invés da simples 
intimidação que possa ser causada pelo recrudescimento das penas. Desse modo, as 
obrigações administrativas introduzidas pela Lei 12.683/12 estabelecem o dever de 
colaboração das entidades privadas na persecução criminal no setor das instituições 
financeiras. 
Em outras palavras, com as alterações havidas na Lei de Lavagem, 
incorporaram-se ao ordenamento jurídico brasileiro os deveres de Compliance, que 
há muito faziam parte da legislação estrangeira, em especial a norte-americana. 
Assim, a nova redação dada ao inc. III do art. 10 da Lei 9.613/98 ao determinar que 
 
6 
 
as entidades e pessoas obrigadas pela Lei deverão adotar políticas, procedimentos e 
controles internos, compatíveis com seu porte e volume de operações, que lhes 
permitam atender ao disposto neste artigo e no art.11, na forma disciplinadapelos 
órgãos competentes, estabeleceu expressamente quais são os deveres de 
Compliance das instituições financeiras brasileiras. 
Doutro modo, importante frisar que em razão da Resolução do Banco Central 
2.554/98, declaradamente elaborada em atendimento às determinações do Comitê da 
Basileia, assim como, em consonância às tendências mundiais sobre o tema foi 
imposto às instituições financeiras que implantassem até 31 de dezembro de 1999, 
sistemas de controles internos para as atividades desenvolvidas e, por essa razão, 
desde o início do ano de 2000, os bancos brasileiros contam obrigatoriamente em 
seus quadros com, pelo menos, um Compliance officer. 
Relevante recordar que a globalização econômica obrigou o país a alinhar-se 
às preocupações do mercado mundial relativas às regras de segurança para o 
funcionamento das instituições financeiras. Com isso, essas entidades bancárias 
foram compelidas a iniciar um ciclo de mudanças que encontra destaque nos deveres 
de Compliance. 
Em razão desse quadro, mesmo antes da Lei 12.683/12 sobre os deveres de 
Compliance, de forma tácita, a redação original da Lei de Lavagem já contemplava 
essa necessidade. Isso porque a obrigação de armazenar informações sobre clientes 
(art. 9º), o dever de notificação das movimentações financeiras suspeitas de crime 
(art. 10º) e o dever de notificação das movimentações financeiras suspeitas de crime 
(art. 11º) estão presentes desde a redação original da Lei de Lavagem. 
Desse modo, se por um lado não havia a expressa previsão legal do inciso III 
do art. 10 da Lei 9.613/98, mas apenas a previsão normativa do Banco Central do 
Brasil determinando a existência de um programa de Compliance que atendesse aos 
rigores da lei, isso não seria exatamente uma novidade no universo das instituições 
financeiras. 
Contudo, saliente-se, há uma diferença significativa entre o primeiro e o 
segundo momento da Lei de Lavagem de Dinheiro. Antes das recentes alterações, 
apenas os bens provenientes de determinados crimes mais graves, como o tráfico de 
drogas, por exemplo, podiam dar azo ao crime; todavia, no atual estágio da lei, a 
ocultação do produto de qualquer crime ou até mesmo de contravenção penal típica 
 
7 
 
a lavagem de dinheiro. Nesse sentido, a observação que se faz é que a norma punirá 
com a mesma pena mínima aquele que lava o dinheiro decorrente da prática de um 
crime grave, ou de mera contravenção penal, o que pode em efeitos práticos acentuar 
a demanda quantitativa das obrigações do Compliance officer. 
3. COMPLIANCE OFFICER 
 
Fonte: www.kmblegal.com 
O Compliance officer é o profissional responsável pela avaliação dos riscos 
empresariais, incumbindo a ele a elaboração de controles internos com o objetivo de 
evitar ou diminuir os riscos de uma futura responsabilização, civil, administrativa ou 
penal. 
A contratação de Compliance officers passou a ser exigida pela Comissão de 
Valores Mobiliários dos Estados Unidos da América em 1960, para criar 
procedimentos internos de controles, treinamento e monitoramento de pessoas, a fim 
de auxiliar nas áreas de negócios supervisionadas. 
Desse modo, o Compliance Officer deverá impedir a prática das condutas 
associadas à corrupção, à subvenção da prática de atos ilícitos, e as fraudes nos 
procedimentos licitatórios, especialmente, por meio da implementação de um 
programa de Compliance efetivo. 
 
8 
 
Destarte, o Compliance Officer, ao assumir essa posição assume também uma 
função complexa e arriscada, exposto à responsabilização criminal por dolo, culpa ou 
omissão relevante em razão do assessoramento jurídico deficiente ou incompleto. 
As atividades inerentes à função desempenhada pelo Compliance Officer são 
imprescindíveis para o bom funcionamento das instituições que compõem o mercado 
financeiro. Mais do que isso, o ambiente normativo no qual os bancos estão inseridos 
torna obrigatória e indispensável a sua existência para o bom funcionamento 
empresarial, e ainda que perante os órgãos fiscalizadores, tais como Banco Central 
do Brasil e o COAF, não seja ele o representante oficialmente indicado, sua identidade 
facilmente será revelada. 
Conclui-se que Compliance officer desempenha uma função em evidência na 
instituição financeira, o que acaba por dificultar a omissão da identidade do verdadeiro 
garantidor. Dessa forma se perante os órgãos fiscalizadores um laranja ocupar 
ficticiamente a função de Compliance officer, buscando com isso ocultar sua real 
identidade, os conceitos doutrinários que envolvem a autoria mediata parecem ser 
suficientes para solucionar a questão. 
Importante esclarecer que a figura do sócio laranja melhor se encaixa no 
espaço ocupado pelas empresas de capital fechado nas quais o ambiente regulatório 
ainda não se faz presente. As empresas de capital aberto, por sua vez, especialmente 
as instituições financeiras, estão sujeitas à forte regulamentação e controle, tanto das 
autoridades públicas como também do próprio mercado financeiro. Assim, em razão 
dos princípios globalizados de governança corporativa estão obrigadas a impedir a 
prática do crime através dos mecanismos de controles internos necessariamente 
presentes na sua estrutura de funcionamento. Nesse contexto, seria um absoluto 
contrassenso que a função primordial no combate à lavagem de dinheiro neste tipo 
de empresa fosse justamente ocupada por um “testa de ferro”. 
Em contraponto, importante salientar que, dificilmente a significativa figura do 
sócio oculto no direito penal será atrelada a do Compliance officer. Em tal hipótese 
corriqueira na casuística, não raras vezes o verdadeiro sócio elege um sócio fictício, 
um laranja, para representa-lo formalmente na sociedade, com a finalidade única de 
que seja atribuída a essa pessoa eventual responsabilidade por práticas criminosas 
no âmbito empresarial. 
 
9 
 
Em regra, o sócio “laranja” não participa verdadeiramente da administração da 
empresa, e em alguns casos, pode até mesmo desconhecer o fato de que seu nome 
está sendo utilizado para fins criminosos, muito embora, não seja menos frequente 
que em outras hipóteses possa ser ele recompensado financeiramente para aquiescer 
com fraude, ou mais do que isso, para assumir perante as autoridades públicas a 
responsabilidade criminal, ocultando e mantendo na impunidade o verdadeiro 
responsável pela prática delitiva. No universo normativo do Compliance officer, 
entretanto, essa situação é pouco provável. 
Alinhados com a doutrina nacional e sua jurisprudência, infere-se que a 
responsabilidade penal do garantidor do Compliance officer atuante nas instituições 
financeiras, sempre deverá ser individualizada, sendo, nesse processo, todos 
princípios inerentes ao direito penal. 
Questão um tanto quanto heterodoxa é a seguinte; o Compliance officer pode 
ocupar posição de garante e ser responsabilizado por um crime omissivo impróprio? 
A ele podem ser imputados resultados lesivos ao ambiente? 
Essa preocupação com a determinação e a delimitação da responsabilidade 
daquele que atua como Compliance officer faz sentido, sobretudo, em razão da 
reinvenção estrutural e organizativa da atividade empresarial, que passa a assumir 
programas preventivos orientados a evitar delitos no âmbito da atuação empresarial 
e/ou a reparar os impactos produzidos por esses. 
A adoção de uma teoria formal do dever jurídico, nos moldes do art. 13 § 2.º, 
do Código Penal Brasileiro, aliada à previsão do art. 2º da Lei 9.605/1998, dispositivo 
legal esse que dispõe que quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos 
crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua 
culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão 
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, 
sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando 
podia agir paraevitá-la, deve impulsionar a doutrina a se posicionar acerca do tema, 
discutindo o verdadeiro papel do Compliance officer e a responsabilização desse 
como autor ou partícipe de um crime omissivo impróprio no âmbito da atividade 
empresarial. 
Nesse contexto, é preciso advertir que o agasalho de uma perspectiva 
exclusivamente formal da posição de garante pode comprometer uma delimitação 
 
10 
 
adequada da responsabilidade penal do sujeito. Por outro lado, contudo, tomar por 
base somente uma diretriz material pode conduzir a uma depreciação da legalidade 
necessária para assegurar a liberdade do sujeito ante a incidência da intervenção 
criminalizadora. 
Diante da possibilidade de atribuição da responsabilidade penal com a mera 
incidência da condição formal de garante, seria preferível a análise do domínio, porém, 
a saber, não como fundamento único para atribuir um resultado a alguém, mas para 
reforçar ou elidir a responsabilidade penal quando, embora formalmente ocupe a 
posição de garante, não tenha o domínio atual sobre a causa essencial ou sobre o 
fundamento do resultado. Assim, apenas quando figurar formalmente como garante e 
tiver o referido domínio, será possível promover uma equiparação lógico-objetiva entre 
ação e omissão. 
No que diz respeito ao Compliance officer, verifica-se que este, mediante ato 
de delegação do administrador empresário, assume os deveres de supervisão e de 
vigilância do foco de perigo oriundo das atividades empresariais, adquirindo, a 
princípio, o domínio por aquisição voluntária derivada. A responsabilidade do 
Compliance officer dependerá, assim das funções e deveres que tenha assumido em 
termos concretos. Logo, antes de se cogitar a atribuição automática de deveres de 
garante ao responsável pela fiscalização do cumprimento das normas, técnicas e 
procedimentos em determinada organização empresarial – traçados, 
especificamente, no programa de criminal Compliance – deve-se constatar como de 
fato ocorre a configuração material da posição do Compliance officer na empresa e 
quais competências lhe são efetivamente atribuídas. 
Infere-se que tal exame trará importantes reflexos para a exclusão de eventual 
responsabilidade penal do Compliance officer por crimes omissivos impróprios 
ambientais. Com efeito, embora o Compliance officer assuma formalmente deveres 
de fiscalização do cumprimento das medidas preventivas, não possui, em regra, 
capacidade executiva de evitar o resultado e tampouco possui o domínio atual sobre 
a fonte de perigo. 
Dessa forma, segundo o princípio do domínio, a suposta posição de garante do 
Compliance officer se torna bastante questionável, já que unicamente exerce um 
poder de fiscalização/controle, mas não influi nem está inserido no processo produtivo 
empresarial interno e, por isso, tampouco exerce domínio sobre ele. 
 
11 
 
Essas considerações se aplicam em parte às informações obtidas pelo 
Compliance officer no cumprimento de medidas de prevenção de riscos no âmbito das 
atividades empresariais por meio de inspeções e alertas para a eventual ocorrência 
de determinados perigos. Concretamente, o Compliance officer exerce um domínio 
informativo e, portanto, possui um dever com conteúdo delimitado: informar a 
autoridade competente a fim de que esta possa tomar as devidas decisões. Contudo, 
mesmo nesse cenário não seria cabível imputar-lhe a ocorrência de eventual resultado 
lesivo, já que em momento algum tinha o domínio sobre a fonte geradora de perigo. 
Ante a crise de validade e legitimidade presente nos crimes omissivos, cumpre 
delimitar com cuidado seu âmbito de incidência e afastá-los sempre que – como ocorre 
em relação aos Compliance officers- inexistam bases sólidas que permitam a 
imputação do resultado e, consequentemente, autorizem a responsabilização penal. 
Importante consignar que a atividade de Compliance officer, subsome-se em 
implementar controles internos tendentes a prevenir e evitar o cometimento de atos 
ilícitos, e essa função está hodiernamente vinculada às políticas de governança 
corporativa alinhadas a preceitos éticos e a boas práticas empresariais. A ideia de 
responsabilidade penal para alguns gestores, nesse contexto, parece ser um assunto 
distante de sua área de atuação. 
Nessa esteira, o que é preciso se atentar é que a principal função do 
Compliance officer é a da prevenção, inovando na lógica da persecução penal, que 
estava habituada a cuidar das condutas comissivas ou omissivas depois do direito 
tutelado violado e, talvez, esteja aí a grande importância do criminal Compliance de 
atuar no antecedente, mitigando riscos e evitando ilícitos. 
Contudo, isso repercute na empresa numa intricada cadeia de 
responsabilidades penais convergentes ao Compliance officer, mas, não findando 
dele. Os gestores da alta administração que possuem ascendência sobre Compliance 
officer também terão suas responsabilidades apuradas, pois a eles também cabe a 
incumbência do dever de vigilância. 
Ocorre que tal afirmativa não é pacífica e tampouco integralmente aceita pela 
doutrina nacional quando se imagina a figura ilustrativa da omissão imprópria do 
direito penal, que comete aquele que tem dever legal ou contratual de garantidor. No 
caso de um Compliance officer submetido a uma atividade complexa que a incidência 
 
12 
 
da norma penal não se faça clara e em que uma ação na mesma medida possa 
parecer ilegal, como exigir dele a certeza da conduta? Seria razoável? 
E mais: no caso de condutas que possam parecer ilegais e seja preferível 
abster-se de exercê-las, abrir-se-ia um paradoxo ao se pensar que elas também 
possam parecer legais e, assim sendo, haveria uma margem de conduta lícita sendo 
abdicada pela incerteza da incerteza da incidência de uma norma incriminadora. 
Portanto, poderia o Estado interferir nessa área cinzento de incerteza? 
Sendo a resposta de tal questão afirmativa ou negativa, um fato é notável: o 
Estado cada vez mais transfere ao particular as obrigações do policiamento do 
cumprimento da norma. Antes, tal ente se preocupava em munir-se de técnicas e 
possibilidades legais de fiscalizar a empresa de fora para dentro; agora não. Constata-
se uma clara estratégia inversa – a de iniciar a persecução de dentro para fora, e os 
exemplos evidentes disso são o Compliance officer e a figura do whistleblower, que é 
o denunciante das práticas ilícitas. Nos Estados Unidos, ele é premiado 
pecuniariamente por esse ato. No Brasil, no Distrito Federal, há um projeto de lei 
nesse mesmo sentido. 
Nos Estados Unidos, mais amadurecido com o tema, a Society of Corporate 
Compliance and Ethics, em seu código de ética destinado aos profissionais de 
Compliance, prescreveu que, ao tomar conhecimento de qualquer decisão de sua 
organização empregadora que, implementada, venha constituir má conduta, o 
profissional de Compliance deverá recusar a consentir com a decisão, encaminhar o 
assunto à alta administração e, se após tomar essas providências, a empresa 
continuar na prática da atividade irregular, deve considerar entregar o seu cargo e 
reportar a conduta para as autoridades públicas. 
No Brasil, a figura do Compliance officer vem angariando maior evidência, e 
teses que o incriminem também ganharão maior destaque. Portanto, a atividade deve 
ser encarada com retidão, seriedade e compromisso com as normas vigentes. 
Do exposto, conclui-se que a função de Compliance officer atrai a 
responsabilidade de natureza penal, porém isso ainda é uma área em 
desenvolvimento. 
 
13 
 
4. LEI 9.613/1998 
 
Fonte: www.omb.adv.br 
O Poder Legislativo Brasileiro apressou-se em criar, em 1997, a Lei Sobre 
Lavagem de Dinheiro, que foi publicada em março de 1998. Respondia ao clamor das 
comunidades econômicas e jurídicas internacionais e à necessidade de preservar o 
Sistema Econômico Nacional dos possíveis desequilíbrios causados pelos ‘lavadores’ 
de dinheiro, que, com simplesoperações por computador ou fax, transferem 
importâncias consideráveis para paraísos fiscais. 
Merece destaque o dado estatístico, que informa a respeito da existência de 
um trilhão de dólares em circulação em todo o mundo, proveniente da ‘lavagem de 
dinheiro’, importância que equivaleria ao oitavo P.I.B. do planeta, ou seja, ao do 
Canadá. Esses dados causam estupefação; no entanto, sua divulgação parece-nos 
precipitada, visto que o capital de procedência ilícita por certo é camuflado, o que nos 
permite antever a possibilidade de ser este número impreciso. 
Assim, evidencia-se a necessidade de integração de todos os países que 
possuem uma política econômica séria para combater o problema, coibindo-o. 
Analisando-se inicialmente o primeiro artigo da Lei 9.613/98, percebe-se a 
intenção do legislador de tipificar a conduta, definindo-a no caput como a prática de: 
 
14 
 
Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, 
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, 
direta ou indiretamente, de crime: 
I – de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins; II – de 
terrorismo; 
III – de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à 
sua produção; IV – de extorsão mediante sequestro; 
V – contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para 
outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou 
preço para a prática ou omissão de medidas administrativas; 
VI – contra o sistema financeiro nacional; 
VII – praticado por organização criminosa. 
Pena – reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos e multa. 
Destaca-se aí a presença de crime derivado, ou seja, aquele que depende da 
existência de outro crime precedente para existir. 
Abordando individualmente quais seriam os ilícitos precedentes ao do crime de 
lavagem de dinheiro, percebe-se a falha vestibular na elaboração do preceito, que 
aponta o terrorismo e as práticas patrocinadas por organização criminosa (Lei 
9034/95, que é uma verdadeira colcha de retalhos). Parece equivocada a alusão a 
estes dois tipos que tratam de assuntos não definidos de forma regular pelo 
ordenamento jurídico vigente, pois as leis existentes que atacam os temas dependem 
de regulamentação complementar, ou não estão devidamente pacificadas no que 
concerne à sua aplicabilidade. Ademais, os tipos relacionados nos incisos de I a VI 
são de natureza fechada, não permitindo exploração interpretativa abrangente; no 
entanto, o inciso VII, que aponta os delitos originários da atividade do crime 
organizado, indica uma tendência antagônica, que abre um leque extenso para o 
usuário e intérprete da Lei. 
A pena prevista também merece referência, pois aflora branda ao extremo, 
principalmente ao se tomarem como parâmetros outros delitos limitados pela Lei 
Penal que podem ser praticados individualmente, sem concorrência de outrem, com 
potencialidade ofensiva menor, embora apenados de forma mais severa. Este novo 
ilícito, que ocorre geralmente com a participação de diversos agentes componentes 
de quadrilhas com ramificações internacionais, originários de outras práticas 
criminosas, tem a pena prevista menor do que a do crime de furto, por exemplo. 
Não é adequado falar em pena de multa sem definição do quantum, pois corre-
se o risco de afundar no ridículo, com o arbitramento de valor irrisório, o que, em geral, 
acontece no Brasil. Dever-se-ia aproveitar a previsibilidade constitucional que aceita 
como modalidade de pena o confisco, perfeitamente adequado a esta situação. 
 
15 
 
Do artigo segundo ao sexto, são previstos os procedimentos processuais, 
desprovidos, em sua maioria, do merecido e necessário cuidado para evitar problemas 
graves na aplicabilidade do novo texto. Sem maiores problemas, nota-se que o 
procedimento escolhido para o processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei 
é o ordinário, como, aliás, não poderia deixar de ser, abrindo-se, dessa maneira, 
possibilidade para a apresentação da prova e o exercício da ampla defesa. 
É de capital importância perceber que o processamento do feito que apura a 
lavagem de dinheiro independe do julgamento dos crimes precedentes, praticados no 
país ou fora dele (Princípio de Autonomia do Processo Penal). Para isso, basta que a 
denúncia seja instruída com indícios do cometimento de qualquer dos ilícitos 
elencados como precedentes. A competência exclusiva é da Justiça Federal, o que 
se apresenta como a melhor, se não a única, solução, considerando-se que o crime 
macula o Sistema Financeiro Nacional. 
Somente se admite a modalidade dolosa no cometimento do ilícito, ao contrário 
do que acontece com a legislação comparada – a espanhola, por exemplo –, 
aceitando-se a figura do crime tentado, caso o ilícito seja praticado com a vontade 
livre e consciente. Resta aos administradores que deixarem de noticiar operações 
suspeitas – por negligência, imprudência ou imperícia –, depois de definido o limite 
das operações carentes de regulamentação complementar e posterior, receber 
punições no campo administrativo. 
O parágrafo segundo do artigo segundo faz referência expressa à 
inaplicabilidade do dispositivo previsto no artigo 366 do Código de Processo Penal, 
que trata da obrigatoriedade da citação pessoal do acusado para a continuidade da 
ação penal, nos atos que dependam da participação do réu. Por si só, isso representa 
inconstitucionalidade, visto que fere diretamente o Princípio da Ampla Defesa. 
Não bastasse esse primeiro conflito, ainda num arroubo para corrigir o erro 
anteriormente praticado, expressa-se o legislador, no parágrafo terceiro do artigo 
quarto, da seguinte forma: “Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o 
comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz determinar a prática de atos 
necessários à conservação de bens, direitos ou valores, nos casos do artigo 366 do 
Código de Processo Penal”. 
Ora, num intervalo de apenas dois artigos, em texto composto de dezoito, o 
legislador se contradisse, criando uma desconfortável insegurança na aplicação da 
 
16 
 
norma. A cada novo despautério desta espécie, descaracteriza-se o dogma vigente 
desde a Revolução Francesa, dos tempos de Robespierre e Rousseau, que diziam 
ser o legislador infalível como legislante, por ser dotado do sopro divino. 
Nova confusão de ordem acadêmica foi cometida no artigo terceiro, quando se 
previu: “Art. 3 – Os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de fiança e 
liberdade provisória e, em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá 
fundamentadamente se o réu apelar em liberdade”. No mínimo estamos diante de uma 
redundância: liberdade provisória é o gênero, e fiança, a espécie. A liberdade 
provisória pode ser concedida com ou sem pagamento de fiança. 
Também deveria ser atribuição do julgador dispor a respeito da possibilidade 
de conceder-se a liberdade provisória, indicando, nessa oportunidade, o arbitramento 
de fiança de considerável valor, de acordo com o volume das operações financeiras 
processadas. Para isso, as medidas assecuratórias serão levantadas se a ação penal 
não for iniciada no prazo de 120 dias, contados da data em que ficar concluída a 
diligência. 
Atenção redobrada deve ser dedicada ao parágrafo segundo do artigo quarto, 
que, interpretado sem a devida cautela, pode ser considerado uma aberração 
processual, caracterizando verdadeira inversão do ônus da prova. Assim se expressa 
o legislador: “O juiz determinará a liberação dos bens, direitos e valores apreendidos 
ou sequestrados quando comprovada a licitude de sua origem. ” Obviamente, não se 
quer aqui dizer que o acusado deva provar a ausência de sua culpa; o que se 
pretende, a despeito da falta de qualidade do texto, é prever a possibilidade da 
devolução dos bens bloqueados antes da sentença absolutória – seja ela 
fundamentada no que for – se o acusado interessado em liberar seus bens produzir 
provasuficiente e capaz de convencer o julgador da origem lícita de seus bens. Tal 
explicação foi prestada pessoalmente pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, 
Nelson Jobim – que, à época da edição da Lei, era Ministro da Justiça –, a mim e a 
outros operadores do direito que compareceram à reunião patrocinada pela 
FEBRABAN – Federação Brasileira dos Bancos. 
Outra passagem interessante e merecedora de registro é o ‘privilégio’ 
reservado ao delator, que terá sua pena reduzida de 1/3 a 2/3, devendo cumpri-la 
inicialmente em regime aberto, podendo o juiz, se assim julgar conveniente, deixar de 
aplicá-la, ou substituí-la por pena restritiva de direitos. 
 
17 
 
A eficácia preventiva do Direito Penal não pode exclusivamente ser garantida 
pela Lei; deriva de uma estrutura previamente montada, que dê condições de 
aplicabilidade à Lei, garantindo, desta forma, a preservação e certeza de sua eficácia. 
Do artigo quatorze ao dezessete da Lei 9613/98, dispõe-se a respeito da 
criação do órgão nominado e conhecido pela sigla COAF (Conselho de Controle de 
Atividades Financeiras), criado no Ministério da Fazenda, no âmbito de suas 
atribuições, que vão desde a prerrogativa de disciplinar e punir administrativamente 
até a de identificar ocorrências suspeitas de atividades ilícitas. 
5. LEI 12.683/2012 
 
Fonte: dominio.fm 
Em 10 de julho de 2012 foi publicada no Diário Oficial da União a Lei n. 12.683, 
de 09 de julho de 2012, editada para alterar a Lei n. 9.613, de 03 de março de 1998, 
que dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, sob 
o pretexto de tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de “lavagem de 
dinheiro”. 
Com o advento da predita Lei, a figura principal do crime de lavagem de dinheiro 
passou a ser definida do seguinte modo: 
 
18 
 
Art. 1º. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, 
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, 
direta ou indiretamente, de infração penal. 
O tipo penal em estudo é classificado como um “crime complexo”, vez que a 
objetividade jurídica tutelada pela norma penal incriminadora, continua sendo a ordem 
econômica, o sistema financeiro, a ordem tributária, a paz pública e a administração 
da justiça. 
Admite-se figurar como sujeito ativo do crime de “lavagem” ou ocultação de 
bens, direitos e valores, qualquer pessoa (“crime comum”), excluídos os autores ou 
partícipes dos crimes, sob pena de violação ao princípio do “non bis in idem” (dupla 
incriminação pela mesma circunstância). Em verdade, uma vez condenado por crime 
antecedente, não há que se falar em punição pela ocultação do produto ou proveito 
deste mesmo crime. Forçoso é concluir que, neste caso, a conduta de “lavagem” é 
atípica, tratando-se de mero exaurimento da empreitada criminosa, que deve ser 
entendida como única. 
Como sujeito passivo da conduta incriminada, se aflora o Estado, entendido 
como a pessoa jurídica de direito público titular dos bens jurídicos tutelados pela 
norma penal, e responsável pela ordem econômica, sistema financeiro, ordem 
tributária, paz pública e administração da justiça. 
Da análise objetiva do tipo penal em estudo, depreende-se que coexistem dois 
núcleos ou verbos, a seguir expostos: 
(i) “ocultar” – que significa esconder, tornar irreconhecível, encobrir; e 
(ii) “dissimular” – que remete à ideia de disfarçar o propósito, fingir a 
finalidade. Por se tratar de um tipo misto alternativo, de conteúdo 
múltiplo ou variado, se o agente, no mesmo contexto fático, praticar mais 
de uma das condutas previstas, ou seja, “ocultar” e “dissimular”, 
responderá por crime único, em homenagem ao princípio da 
alternatividade. 
A propósito, o crime de “lavagem” se desenvolve em três fases definidas: 
(i) ocultação ou conversão: trata-se da introdução no sistema financeiro, 
dos bens, direitos ou valores, por meio de depósitos bancários, contratos 
de câmbio de moeda estrangeira, aquisições de ações ou outros valores 
mobiliários, contratos de venda e compra de imóveis etc.; 
 
19 
 
(ii) dissimulação: entendida como a etapa em que são efetuados diversos 
negócios jurídicos ou operações financeiras (transferências de fundos, 
movimentações entre contas correntes etc.), com a finalidade de 
dificultar a identificação da origem destes bens, direitos ou valores 
provenientes de infração penal; 
(iii) integração: ocorre no momento em que estes bens, direitos ou valores 
retornam ao sistema financeiro, com aparência da legalidade de sua 
origem, exaurindo-se a empreitada criminosa. 
Prosseguindo no estudo do tipo objetivo, verifica-se que estas condutas devem 
recair sobre elementos normativos que guardam íntima relação com os objetos 
materiais do crime. Estes elementos normativos foram elencados na seguinte ordem: 
(i) natureza – qualidade, gênero ou espécie, o que caracteriza algo; 
(ii) origem – procedência, fato que de que provém outro fato, lugar de onde 
se vem; 
(iii) localização – determinado local onde algo pode ser encontrado; 
(iv) disposição – colocação, arranjo, emprego ou uso; 
(v) movimentação – circulação ou mudança de posição; 
(vi) propriedade – direito pelo qual um bem pertence a alguém. 
Com efeito, conforme acima afirmado, guardando relação com os elementos 
normativos supracitados, foram definidos três objetos materiais do crime de 
“lavagem”, a seguir pontuados: 
(i) bens – objeto material ou imaterial de determinada relação jurídica; 
(ii) direitos – situação jurídica que confere ao seu titular a faculdade de exigir 
a prestação ou abstenção de determinado ato; 
(iii) valores – grau de utilidade dos bens expressos em moeda corrente. 
Além disso, os “bens, direitos ou valores”, com vistas ao perfeito 
enquadramento típico, devem ser “provenientes” (vinculados), direta (sem 
intermediários) ou indiretamente (de forma dissimulada ou valendo-se de interposta 
pessoa), de “infração penal”. 
Na redação original da Lei n. 9.613, de 03 de março de 1998, para a 
configuração do crime de “lavagem”, se exigia a ocorrência de crime antecedente, que 
deveria encontrar-se listado no rol exaustivo previsto em seu artigo 1º. A Lei n. 12.683, 
de 09 de julho de 2012, rompe com este paradigma, ao revogar expressamente todos 
 
20 
 
os incisos que compunham o elenco taxativo que era previsto neste artigo (incisos I 
ao VIII). 
Comumente, as leis penais dos diversos países classificam as “infrações 
penais”, levando em consideração a gravidade em abstrato das condutas, em dois 
sistemas: tripartido e bipartido. 
O primeiro sistematiza “infração penal” como gênero, de que são espécies 
“crime”, “delito” e contravenção penal (Código Penal francês de 1791). O segundo 
sistema, adotado pela lei penal brasileira, divide o gênero “infração penal” entre duas 
espécies: “crime” e “contravenção penal”. 
A anterior construção típica do crime previsto no artigo 1º, caput, da Lei n. 
9.613, de 03 de março de 1998, exigia para a sua configuração que os bens, direitos 
ou valores, ocultados ou dissimulados, fossem provenientes de “crime”. Verifica-se 
que, a antiga redação do dispositivo era mais restrita, na medida em que exigia como 
requisito do enquadramento típico do crime de “lavagem” que os objetos materiais 
fossem provenientes de “crime”, espécie do gênero “infração penal”. É dizer: após o 
advento da Lei n. 12.683, de 09 de julho de 2012, admite-se para a configuração do 
crime de “lavagem”, a vinculação com qualquer crime ou contravenção penal. 
Quanto ao tipo subjetivo, o crime é punido somente a título de dolo, a vontade 
livre e consciente de ocultar ou dissimular bens, direitos ou valores, provenientes de 
infração penal. Segundo a doutrina tradicional, trata-se de dolo genérico, uma vez que 
o tipo não requer a presença de elemento subjetivo especial. 
O crime se consuma com a ocorrência do “branqueamento” ou “lavagem”, ou 
seja,com a efetiva ocultação ou dissimulação de bens, direitos ou valores 
provenientes de infração penal (crime material). A tentativa é tecnicamente admitida, 
vez que se trata de um crime comissivo (praticado por ação) e plurissubsistente (a 
conduta é composta de diversos atos), sendo a previsão de que “a tentativa é punida 
nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Penal”, prevista no parágrafo 
terceiro, do dispositivo em estudo, se revela totalmente desnecessária. 
O parágrafo primeiro, do artigo 1º, da Lei n. 9.613, de 03 de março de 1998, 
prevê uma série de figuras equiparadas, ao descrever em seus incisos, diversas 
modalidades de prática destas condutas. Ressalta-se que, a Lei n. 12.683, de 09 de 
julho de 2012, também alterou este parágrafo primeiro. Em sua primitiva redação, este 
dispositivo equiparava à “lavagem” de capitais a conduta de “quem, para ocultar ou 
 
21 
 
dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de qualquer dos 
crimes antecedentes referidos neste artigo”. Como visto acima, o rol de crimes 
antecedentes, que outrora era previsto no “caput” do artigo 1º, foi suprimido pela Lei 
n. 12.683, de 09 de julho de 2012. Assim sendo, com a finalidade de conferir coerência 
à Lei n. 9.613, de 03 de março de 1998, o legislador penal alterou o parágrafo primeiro, 
passando a ter a seguinte redação: “incorre na mesma pena quem, para ocultar ou 
dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal”. 
No inciso I, deste parágrafo primeiro, está descrita a conduta daquele que para 
ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração 
penal, “os converte em ativos lícitos”. O núcleo deste tipo consiste em “converter”, que 
significa mudar, transformar. O objeto material sobre o qual recai a conduta 
corresponde a “ativos lícitos”, bens, direitos, valores ou créditos adquiridos conforme 
a forma prescrita em lei. 
E no inciso II, foi tipificada a conduta daquele que para ocultar ou dissimular a 
utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal, “os adquire, 
recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, 
movimenta ou transfere”. Neste dispositivo foram previstas diversas modalidades de 
prática do crime, traduzidas nos seguintes verbos: 
(i) adquirir – comprar, obter; 
(ii) receber – aceitar em pagamento; 
(iii) trocar – permutar; 
(iv) negociar – firmar, celebrar acordo, ajuste ou contrato; 
(v) dar – transferir a posse de algo, gratuitamente, para outrem; 
(vi) receber em garantia – tomar, aceitar caução; 
(vii) guardar – ter sob vigilância e cuidado, pôr em lugar apropriado, reservar; 
(viii) ter em depósito – conservar ou reter a coisa à sua disposição; 
(ix) movimentar – circular ou mudar a posição; 
(x) transferir – transportar, levar de um lugar a outro. 
Já no inciso III, o legislador incriminou a conduta daquele que para ocultar ou 
dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal, 
“importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros”. Nesta 
figura equiparada, coexistem dois núcleos do tipo, a seguir expostos: 
(i) importar – fazer entrar no território nacional; 
 
22 
 
(ii) exportar - fazer sair do território nacional. O objeto material deste crime 
consiste em “valor não correspondente ao verdadeiro”, ou seja, 
hipóteses de superfaturamento ou subfaturamento de bens, que pode 
acarretar um aparente “prejuízo”, com a finalidade de “lavar” os valores 
obtidos de forma lícita. 
Ademais, o parágrafo segundo do artigo 1º, Lei n. 9.613, de 03 de março de 
1998, traz mais algumas figuras equiparadas, em seus dois incisos. 
No inciso I, se busca incriminar a conduta daquele que “utiliza, na atividade 
econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal”. O 
núcleo deste tipo penal consiste em “utilizar” (fazer uso). Além disso, o dispositivo 
emprega dois elementos normativos (i) atividade econômica – produção ou circulação 
de bens e serviços; (ii) atividade financeira – coleta, intermediação ou aplicação de 
recursos. 
Este inciso sofreu duas alterações pela Lei n. 12.683, de 09 de julho de 2012. 
A primeira alteração ocorreu justamente pela mesma razão da modificação do 
parágrafo antecedente, tendo em vista a supressão do rol que era previsto no “caput” 
do dispositivo em estudo. Assim, o legislador substituiu a expressão “provenientes de 
qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo” pela fórmula “provenientes 
de infração penal”. Já a segunda alteração deste inciso, se refere ao elemento 
subjetivo da conduta. Pela redação anterior do dispositivo era prevista textualmente a 
presença do elemento subjetivo “que sabem serem”, traduzindo a exigência de dolo 
direto para a responsabilização penal do agente. 
A Lei n. 12.683, de 09 de julho de 2012, ao suprimir esta expressão, reforçou a 
tese que o dolo indireto também estaria abarcado como elemento subjetivo típico, 
principalmente para os fatos praticados em momento posterior ao da sua edição. 
Recentemente, na Ação Penal n. 470, em trâmite no Supremo Tribunal Federal, o 
tema foi debatido por ocasião do julgamento do sétimo item da acusação, que versava 
justamente sobre os crimes de “lavagem” supostamente praticados pelos réus do 
processo. 
A Procuradoria Geral da República pugnou pela condenação dos réus pelo 
predito crime, fundamentando a pretensão acusatória na tese da ocorrência de dolo 
eventual. Ocorre que, sobre este item houve empate de votos (cinco a cinco), Com 
efeito, o Supremo Tribunal Federal deixou em aberto a possibilidade de que em futuros 
 
23 
 
processos que versem sobre o crime de “lavagem”, mesmo que não existam provas 
de que os réus tinham o conhecimento de que os valores recebidos eram provenientes 
de infração penal, possam haver condenações com base na tese do dolo eventual. 
Por outro lado, o inciso II, deste parágrafo segundo, prevê como típica a 
conduta daquele que participa (toma parte) de grupo (reunião de pessoas), 
associação (atividade organizada de pessoas para a realização de um objetivo 
comum) ou escritório (local onde são exercidas atividades profissionais), tendo 
conhecimento (dolo direto) de que sua atividade principal (atividade-fim) ou 
secundária (atividade-meio) é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei. 
O parágrafo quarto, do artigo 1º, da Lei n. 9.613, de 03 de março de 1998, prevê 
duas causas especiais de aumento de pena. A pena do crime de “lavagem” será 
aumentada de um a dois terços, se: 
(i) os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada: esta 
previsão, demasiadamente larga, diz respeito à habitualidade criminosa 
dos crimes antecedentes. Certamente por um lapso, o legislador penal, 
por ocasião da edição da Lei n. 12.683, de 09 de julho de 2012, deixou 
de alterar esta disposição, pelo que, como afirmado, o rol de crimes que 
era previsto no artigo 1º, da Lei n. 9.613, de 03 de março de 1998, foi 
expressamente revogado; 
(ii) por intermédio de organização criminosa: o artigo 2º, da Lei n. 12.694, 
de 24 de julho de 2012, definiu organização criminosa como: “a 
associação, de três ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com 
objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer 
natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou 
superior a quatro anos ou que sejam de caráter transnacional”. 
Por derradeiro, o parágrafo quinto, do artigo 1º, da Lei n. 9.613, de 03 de março 
de 1998, confere ao magistrado um leque de possibilidades despenalizadoras para o 
caso em que o acusado resolva colaborar com a comprovação da materialidade do 
crime, apuração de autoria, e solução das demais circunstâncias. Podem ser 
beneficiados com a aplicação destes institutos tanto os autorescomo partícipes. O 
legislador exige que a colaboração seja espontânea, não se satisfazendo com a mera 
voluntariedade. Além disso, esta colaboração deve conduzir “à apuração das 
 
24 
 
infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização 
dos bens, direitos ou valores objeto do crime”. No caso de colaboração espontânea 
de autor ou partícipe, que conduza a uma das hipóteses citadas, o magistrado poderá: 
(i) reduzir a pena de um a dois terços – causa especial de diminuição de 
pena –, e fixar o início de cumprimento de pena no regime aberto ou 
semiaberto; 
(ii) deixar de aplicar a pena – perdão judicial; ou 
(iii) substituir a pena privativa de liberdade imposta por pena restritiva de 
direitos. 
6. LEI 12.846/20132 
 
Fonte: www.amanha.com.br 
Ratificando, em 30 de novembro de 2000, a Convenção da OCDE, o Brasil 
assumiu o importante compromisso de coibir o suborno transnacional. Somando-se a 
esse compromisso, havia uma grande necessidade de atualização do sistema jurídico 
de responsabilização de pessoas jurídicas. Houve, portanto, determinada pressão 
 
2 Texto adaptado de A Lei 12.846/13 e os incentivos aos mecanismos de Compliance: uma 
análise da lei federal e seus regulamentos - Bruno Soares Santos Araújo. 
 
25 
 
para que o legislador brasileiro respondesse ao compromisso internacional assumido 
e também aos anseios sociais no que diz respeito à responsabilização das pessoas 
jurídicas. 
As Leis nºs 6.385/76, 9.613/98 e 12.529/11, que responsabilizavam as pessoas 
jurídicas por infrações econômico-financeiras, não previam sanções para o suborno 
de funcionários públicos nacionais. 
A Lei nº 8666/93, a despeito das importantes previsões de suspensão 
temporária para participar de licitações, impedimento de contratar com a 
Administração Pública e declaração de idoneidade, limitava as sanções ao valor dos 
contratos celebrados. Tal limitação possibilitava, em casos de empresas de grande 
porte, esvaziamento do conteúdo punitivo da sanção, vez que o custo da infração à 
lei poderia ser menor que o custo do cumprimento do contrato. 
A Lei nº 8429/93, tratando da responsabilização dos agentes públicos por atos 
de improbidade, trouxe a possibilidade de responsabilização da pessoa jurídica 
envolvida em ato de improbidade apenas se comprovado tal envolvimento. Previu, 
portanto, uma responsabilização subjetiva das pessoas jurídicas–tornando-se 
sobremaneira dificultosa a responsabilização da pessoa jurídica, devido à dificuldade 
de aproximar as ações do agente privado às intenções da pessoa jurídica. 
Na seara penal, a Lei nº9.605/98 trouxe a responsabilização penal das pessoas 
jurídicas por crimes ambientais. Entretanto, sendo moderna a discussão sobre a 
responsabilização por dano causado a coletividade social, a aplicação das sanções 
previstas pelo diploma é ainda precária. 
Somado o contexto de pressão internacional à incapacidade do sistema jurídico 
de responsabilizar objetivamente as pessoas jurídicas, a Lei nº12.846/13 encontrou 
terreno para seu nascimento, fertilizado pelas pressões sociais contra atos de 
corrupção. Daí a razão por ter sido chamada de Lei Anticorrupção, a despeito de ter 
trazido previsões que extravasam o assunto corrupção. 
Resultante, portanto, da série de fatores apresentados, a Lei nº12.846/13 
ingressou no ordenamento jurídico brasileiro trazendo, em sua redação, importantes 
inovações jurídicas. 
Assim dispõe o artigo 1º da Lei nº12.846/13: 
 
26 
 
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e 
civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, 
nacional ou estrangeira. 
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta Lei às sociedades empresárias e 
às sociedades simples, personificadas ou não, independentemente da forma 
de organização ou modelo societário adotado, bem como a quaisquer 
fundações, associações de entidades ou pessoas, ou sociedades 
estrangeiras, que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, 
constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente. (Brasil 2013) 
A Lei nº 12.846/13 previu a responsabilização objetiva das pessoas jurídicas 
por atos que ofendam a Administração Pública. As pessoas jurídicas não mais 
poderão se afastar da responsabilização alegando desconhecimento das ações das 
pessoas físicas que a compõe (Bittencourt, Comentários à Lei Anticorrupção: Lei 
12.846/13 2014, 21) A responsabilização objetiva estende seu alcance para 
responsabilizar a pessoa jurídica investigada pelos atos de seus parceiros, 
fornecedores e distribuidores, materializando cobrança comum no direito estrangeiro 
conhecida como due diligence. Sobre a responsabilização objetiva trazida pela lei, 
assim assevera Marçal Justen Filho: 
Há uma presunção absoluta de que, se o indivíduo envolveu a empresa numa 
prática de corrupção, isso foi resultado de defeitos organizacionais e 
gerenciais. (2013) 
Também previu a Lei nº 12.846/13 que tal responsabilização objetiva se 
estenderia para atos cometidos contra a Administração Pública nacional e estrangeira, 
consolidando preocupações internacionais contra o suborno que ultrapassa as 
fronteiras nacionais, explícitas em leis estrangeiras como os citados FCPA dos 
Estados Unidos e Bribery Act do Reino Unido. 
Quanto à multa a ser aplicada às pessoas jurídicas, a lei previu a possibilidade 
de quantificação máxima em 20% (vinte por cento), do respectivo faturamento bruto, 
ou R$ 60 milhões (sessenta milhões de reais), caso o critério do faturamento bruto 
não possa ser utilizado. Previu a lei federal outras modalidades de sanção como a 
publicação da decisão condenatória e a suspensão ou interdição das atividades, 
dentre outras. 
Previu a lei federal outras modalidades de sanção como a publicação da 
decisão condenatória e a suspensão ou interdição das atividades, dentre outras. 
A Lei nº12.846/13, indo ao encontro do objetivo do presente trabalho, inaugurou 
o incentivo à implementação, ao aprimoramento e à manutenção dos mecanismos de 
 
27 
 
Compliance no cenário das relações privadas. Tal contribuição retirou o Brasil de uma 
posição de inércia, diante do movimento internacional de políticas de Compliance, 
para a posição de incentivador de tais políticas em seu território. 
O incentivo trazido pelo legislador federal consolida o que, até aqui, vem se 
buscando relacionar: o Estado, por meio de seu aparato legal e em busca da 
preservação da ética nas relações comerciais, intervém, ainda que de maneira 
indutiva, para corrigir a falha sistêmica da corrupção – cujo custo envolve o 
desenvolvimento do próprio Estado. 
Desde a publicação da Lei nº 12.846, no dia 1º de agosto de 2013, aos 
legislativos federal, estaduais e municipais foi conferida a responsabilidade de 
regulamentar, adaptar e internalizar as diretrizes de combate à corrupção e 
responsabilização objetiva das pessoas jurídicas por atos contra a Administração 
Pública, fornecidas pela Lei nº 12.846. 
A lei é federal e encontra-se na função de estimular e inaugurar no direito 
interno diretrizes sobre os conceitos e procedimentos a serem observados nos 
processos administrativos de responsabilização das pessoas jurídicas cujos atos, 
direta ou indiretamente, atentem contra a Administração Pública. Serão apresentados, 
então, os dispositivos da lei que demonstrem incentivos à implementação, 
manutenção e melhoria das estruturas de Compliance. 
Importante dispositivo, inovando o ordenamento jurídico brasileiro, o artigo 7º 
da Lei 12.846, em seu inciso VIII, dispõe que: 
Art. 7o Serão levados em consideração na aplicação das sanções: [...] 
VIII - a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, 
auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de 
códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica; (Brasil,Lei 
nº12.846 2013) 
Este dispositivo desempenha funções de grande importância. Primeira função, 
cumpriu inaugurar no direito interno brasileiro o estímulo às políticas de Compliance 
nas empresas e garantir, como item a ser considerado da aplicação das penalidades 
constantes da lei, a existência de programas e mecanismos de Compliance. Segunda 
função, o dispositivo serviu de modelo para os decretos e demais regulamentos. 
Ainda em seu artigo 7º, em seu parágrafo único, a lei determinou que: 
Art. 7o Serão levados em consideração na aplicação das sanções: 
[...] 
 
28 
 
Parágrafo único. Os parâmetros de avaliação de mecanismos e 
procedimentos previstos no inciso VIII do caput serão estabelecidos em 
regulamento do Poder Executivo federal. (Brasil, Lei nº12.846 2013) 
Logo, competiria a Decreto Regulamentar dispor sobre os parâmetros a serem 
analisados para garantir que somente programas cujas características conferissem 
com as exigências legais pudessem ser considerados no momento de aplicação das 
sanções e penalidades da lei. 
Importante ressaltar, havia na lei dispositivo (artigo 16, inciso IV) com redação 
dada pela Medida Provisória 703 de 2015, cujo conteúdo tratava o compromisso de 
implementação e melhoria dos mecanismos de Compliance pela empresa como 
requisito do acordo de leniência. Entretanto, a vigência dessa Medida Provisória foi 
encerrada e achou melhor o legislador tratar do assunto no regulamento federal da 
lei. 
A lei traduziu o termo Compliance para o direito interno brasileiro como 
integridade ou conformidade, sendo chamadas as estruturas de “programas de 
integridade”, “programas de conformidade”, “mecanismos e procedimentos internos 
de integridade” e “mecanismos e procedimentos internos de conformidade”. 
6.1. Decreto nº 4954/13 do Estado de Tocantins 
O Estado do Tocantins, em 13 de dezembro de 2013, foi o primeiro a 
regulamentar a Lei 12.846/13 no âmbito estadual. O pioneirismo, entretanto, custou-
lhe a oportunidade de regulamentar o tema de maneira mais eficaz. Limitou-se a, 
usando o padrão da lei, prever a consideração quanto a existência de programas de 
Compliance para a aplicação de sanções. Assim dispõe seu artigo 6º, inciso VIII: 
Art. 6o Serão levados em consideração na aplicação das sanções: 
[...] 
VIII - a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, 
auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de 
códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica; e (Brasil 2013) 
Exemplo do custo do pioneirismo na iniciativa do Estado de Tocantins, o 
decreto sequer possui capítulo específico que trate da aplicação das sanções no 
processo administrativo de responsabilização. A função da regulamentação estatal de 
detalhar a consideração proposta pela lei federal ficou, portanto, prejudicada. 
 
29 
 
A despeito de não ter regulamentado com precisão o incentivo às áreas de 
Compliance, o pioneirismo da iniciativa cumpriu a função de despertar os demais 
Estados para a necessidade da internalização, no âmbito estadual, das diretrizes 
nacionais trazidas pela Lei 12.846/13. E tal resultado foi observado nos 5 meses 
seguintes, período em que foram publicados três novos decretos regulamentando a 
lei, dois estaduais e um municipal. 
6.2. Decreto nº 60.106/14 do Estado de São Paulo 
O decreto, de 29 de janeiro de 2014, possuindo apenas oito artigos, quanto às 
estruturas de Compliance, remeteu à redação do artigo 7º da lei federal e ao seu 
respectivo regulamento federal. 
Assim dispôs em seu artigo 6º: 
Art. 6º - Aplicar-se-á ao processo administrativo de que trata este decreto, no 
que couber, o disposto em regulamento do Poder Executivo federal acerca 
do artigo 7º da Lei federal nº 12.846, de 1º de agosto de 20l3. (Brasil 2014) 
Como ocorrido no Decreto do Estado de Tocantins, o pioneirismo legislativo 
custou, ao Estado de São Paulo, a oportunidade de aprimorar e adaptar ao âmbito 
estadual as diretrizes nacionais. Novamente, não houve detalhamento quanto à 
extensão da consideração, quando da aplicação das sanções, da existência de 
programas de Compliance. A opção do legislador estadual foi aguardar a edição do 
regulamento federal e suas disposições. 
6.3. Decreto nº 10.271/14 do Estado do Paraná 
O Decreto do Estado do Paraná, de 21 de fevereiro de 2014, trouxe redação 
que surpreendeu, negativamente, expectativas de regulamentação das diretrizes de 
Compliance. O Estado editou decreto em cujo conteúdo não se encontra menção a 
programas de compliance. 
A notável preocupação do legislador estadual foi determinar competente a 
Controladoria-Geral do Estado do Paraná para a instauração dos processos 
administrativos de responsabilização, no âmbito do Estado do Paraná. 
 
30 
 
6.4. Decreto Municipal nº 55.107/14 do Município de São Paulo 
O decreto de 13 de maio de 2014, cumpriu a importante função da 
regulamentação das diretrizes nacionais trazidas pela Lei nº 12.846/13. No que diz 
respeito à regulamentação do incentivo às estruturas e programas de compliance, o 
decreto limitou-se a copiar o padrão básico trazido pela lei e remeter, assim como a 
lei, ao regulamento federal os critérios de avaliação das estruturas e programas de 
compliance. 
Seguindo a redação proposta pela lei federal, em seu artigo 21, inciso VIII, o 
decreto dispõe que: 
Art. 21. Na aplicação das sanções, serão levados em consideração os 
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, bem como: 
[...] 
VIII - a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, 
auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de 
códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, nos termos do 
artigo 24 deste decreto; (Brasil 2014) 
Cumprindo tão somente a diretriz federal de considerar a existência de 
programas de Comliance na aplicação das sanções, o decreto também perdeu a 
oportunidade de detalhar as dimensões e extensões dessa consideração. 
Quanto a exigência da implementação, manutenção ou melhoria do programa 
de Compliance como resultado ou exigência dos acordos de leniência, o decreto não 
dispôs diretamente sobre o tema, deixando uma cláusula genérica a ser preenchida 
pelo Controlador Geral. 
Assim dispõem o artigo 31, inciso X, do decreto: 
Art. 31. Do acordo de leniência constará obrigatoriamente: 
[...] 
X - as demais condições que a Controladoria Geral do Município considere 
necessárias para assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil do 
processo. (Brasil 2014) 
Há possibilidade de preenchimento dessa cláusula com a exigência de 
programas e estruturas de Compliance. Entretanto, apenas se observado um 
comportamento geral de exigência de implementação de programas de Compliance, 
quando da celebração dos acordos de leniência, tal possibilidade se materializaria. 
Por fim, no que diz respeito à avaliação dos programas de Compliance e seus 
requisitos, em seu artigo 24, o decreto assim dispõe: 
 
31 
 
Art. 24. Os parâmetros de avaliação de mecanismos e procedimentos 
previstos no artigo 7º, inciso VIII, da Lei Federal nº 12.846, de 2013, serão, 
no que couber, aqueles estabelecidos no regulamento do Poder Executivo 
Federal a que alude o parágrafo único do mencionado artigo. 
 
Parágrafo único. Até a publicação, pelo Poder Executivo Federal, do 
regulamento a que se refere o “caput” deste artigo, considerar-se-á, única e 
exclusivamente, no âmbito da pessoa jurídica, a existência de mecanismos e 
procedimentos consistentes de integridade e monitoramento, a efetividade 
dos sistemas de controle interno, a utilização de códigos de ética e conduta 
para funcionários e colaboradores, a existência de sistemas de recebimento 
e apuração de denúncias que assegurem o anonimato, a adoção de medidas 
de transparência na relação com o setor público e a realização periódica de 
treinamentos com o intuito de promover a política interna de integridade.(Brasil 2014) 
Tendo sido publicado antes da edição do decreto regulamentar federal que 
disporia sobre tais parâmetros de avaliação, o decreto demonstrou preocupação, em 
seu parágrafo único, de propor critérios de avaliação até que o regulamento federal 
dispusesse sobre o tema. 
6.5. Decreto Regulamentar nº 8420/15 da União 
Editado em 18 de março de 2015, o Decreto Regulamentar nº 8420 se mostrou 
importante diploma na regulamentação das diretrizes nacionais trazidas pela Lei nº 
12.846. 
Importante, primeiramente, por fazer cessar o hiato legislativo que imperava 
desde maio de 2014, quando houve a iniciativa do município de São Paulo. Tal período 
serviu de reflexão e crítica diante das iniciativas estaduais e municipais anteriores, 
cujas conclusões serviram para que o texto do regulamento federal pudesse sanar 
alguns anseios dos aplicadores da Lei nº 12.846. 
Segundo, especificamente sobre a regulamentação do incentivo das políticas 
de Compliance, o decreto trouxe importante exposição dos quantitativos de redução 
da multa possíveis às empresas possuidoras de programas e mecanismos de 
Compliance, bem como a pormenorização dos critérios avaliativos a serem aplicados 
na consideração do Compliance como causa de redução de multa e como resultado 
do acordo de leniência. 
Assim dispõe o parágrafo 4º de seu artigo 5º: 
Art. 5º No ato de instauração do PAR, a autoridade designará comissão, 
composta por dois ou mais servidores estáveis, que avaliará fatos e 
 
32 
 
circunstâncias conhecidos e intimará a pessoa jurídica para, no prazo de 
trinta dias, apresentar defesa escrita e especificar eventuais provas que 
pretende produzir. 
[...] 
§ 4º Caso a pessoa jurídica apresente em sua defesa informações e 
documentos referentes à existência e ao funcionamento de programa de 
integridade, a comissão processante deverá examiná-lo segundo os 
parâmetros indicados no Capítulo IV, para a dosimetria das sanções a serem 
aplicadas. (Brasil 2015) 
Diferente da lei federal e dos decretos estaduais e municipais editados até 
então, o regulamento federal dispôs, em capítulo específico, sobre parâmetros de 
exame e dosimetria das sanções para empresas que possuíssem programas de 
Compliance em funcionamento. Por conseguinte, teve de desenvolver novo modelo 
de redação que, não apenas declarasse a consideração da existência dos programas 
para aplicação das sanções, mas também remetesse ao detalhamento dessa 
consideração. 
Dispositivo de expressiva importância para o ordenamento jurídico brasileiro, o 
artigo 18, em seu inciso V, trouxe, pela primeira vez no direito brasileiro, a previsão 
de redução da pena de multa para empresas que comprovem existência, e 
funcionamento, de programa de Compliance que atenda parâmetros determinados no 
próprio regulamento federal. 
Assim dispõe o dispositivo supracitado: 
Art. 18. Do resultado da soma dos fatores do art. 17 serão subtraídos os 
valores correspondentes aos seguintes percentuais do faturamento bruto da 
pessoa jurídica do último exercício anterior ao da instauração do PAR, 
excluídos os tributos: 
[...] 
V - um por cento a quatro por cento para comprovação de a pessoa jurídica 
possuir e aplicar um programa de integridade, conforme os parâmetros 
estabelecidos no Capítulo IV. (Brasil 2015) 
O dispositivo previu, portanto, a possibilidade de redução da sanção de multa 
de 1% (um por cento) a 4% (quatro por cento), trazendo diretriz básica para os 
regulamentos estatais que seriam a seguir editados. Representou o dispositivo 
materialização do incentivo às políticas e programas de Compliance numa esfera 
prática de estímulo, por meio da previsão da redução da multa aplicável. 
Outro importante dispositivo diz respeito ao estímulo às implementações de 
políticas e programas de Compliance nas empresas por meio dos acordos de 
leniência. 
 
33 
 
A saber, o artigo 37 do diploma, em seu inciso IV, assim dispõe: 
Art. 37. O acordo de leniência conterá, entre outras disposições, cláusulas 
que versem sobre: 
[...] 
IV - a adoção, aplicação ou aperfeiçoamento de programa de integridade, 
conforme os parâmetros estabelecidos no Capítulo IV. (Brasil 2015) 
A previsão da adoção, aplicação ou aperfeiçoamento dos programas de 
Compliance como cláusula obrigatória dos acordos de leniência traduz uma 
preocupação que vai para além do incentivo mitigatório da multa outrora observado. 
A empresa que deseja lançar mão de acordo de leniência é, obviamente, empresa 
cujos atos já, de alguma forma, atentaram contra a Administração Pública. 
Consequentemente, pode-se concluir ser tal fato falha dos mecanismos internos de 
prevenção da empresa, se existirem. 
Percebendo, o legislador, tal correlação – e trazendo, vez por todas, ao 
ordenamento jurídico brasileiro a preocupação da Medida Provisória 703/15, que dava 
redação distinta ao artigo 16, §1º, inciso IV da Lei nº12.846/13 – achou oportuno 
trazer, nos instrumentos de formalização dos acordos de leniência, a obrigação da 
implementação, manutenção ou melhoria das estruturas de Compliance. 
É notável a diferente postura do legislador quando da edição do regulamento 
federal. Em 2013, encontrava-se pressionado a dar uma resposta às inquietações 
sociais e aos compromissos adquiridos diante de organizações internacionais. 
Quando da edição do Decreto Regulamentar, então analisado, mostrando maturidade 
após o hiato reflexivo de maio de 2014 a março de 2015, trouxe redação que expressa 
uma nova preocupação bem mais positiva e ativa acerca da inserção das políticas e 
estruturas preventivas de Compliance. 
Por fim, e de igual importância, o diploma trouxe o esperado conjunto de 
critérios que define o que a lei considera como estrutura e programa de Compliance 
para a concessão dos benefícios das reduções de multa e dos acordos de leniência. 
Assim dispõem os artigos 41 e 42 do decreto: 
Art. 41. Para fins do disposto neste Decreto, programa de integridade 
consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e 
procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de 
irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, 
políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, 
irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, 
nacional ou estrangeira. 
 
34 
 
 
Parágrafo Único. O programa de integridade deve ser estruturado, aplicado e 
atualizado de acordo com as características e riscos atuais das atividades de 
cada pessoa jurídica, a qual por sua vez deve garantir o constante 
aprimoramento e adaptação do referido programa, visando garantir sua 
efetividade. 
Art. 42. Para fins do disposto no § 4o do art. 5o, o programa de integridade 
será avaliado, quanto a sua existência e aplicação, de acordo com os 
seguintes parâmetros: 
I - comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluídos os 
conselhos, evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ao programa; 
II - padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos de 
integridade, aplicáveis a todos os empregados e administradores, 
independentemente de cargo ou função exercidos; 
padrões de conduta, código de ética e políticas de integridade estendidas, 
quando necessário, a terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de 
serviço, agentes intermediários e associados; 
IV - treinamentos periódicos sobre o programa de integridade; 
V - análise periódica de riscos para realizar adaptações necessárias ao 
programa de integridade; 
VI - registros contábeis que reflitam de forma completa e precisa as 
transações da pessoa jurídica; 
VII - controles internos que assegurem a pronta elaboração e 
confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiros da pessoa jurídica; 
VIII - procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito 
de processos licitatórios, na execução de contratos administrativos ou em 
qualquer interação com o setor público,ainda que intermediada por terceiros, 
tal como pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou obtenção de 
autorizações, licenças, permissões e certidões; 
IX - independência, estrutura e autoridade da instância interna 
responsável pela aplicação do programa de integridade e fiscalização de seu 
cumprimento; 
X - canais de denúncia de irregularidades, abertos e amplamente 
divulgados a funcionários e terceiros, e de mecanismos destinados à 
proteção de denunciantes de boa-fé; 
XI - medidas disciplinares em caso de violação do programa de 
integridade; 
XII - procedimentos que assegurem a pronta interrupção de 
irregularidades ou infrações detectadas e a tempestiva remediação dos 
danos gerados; 
XIII - diligências apropriadas para contratação e, conforme o caso, 
supervisão, de terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de serviço, 
agentes intermediários e associados; 
XIV - verificação, durante os processos de fusões, aquisições e 
reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades ou ilícitos ou 
da existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas envolvidas; 
XV - monitoramento contínuo do programa de integridade visando seu 
aperfeiçoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência dos atos 
lesivos previstos no art. 5ºda Lei no 12.846, de 2013; e 
XVI - transparência da pessoa jurídica quanto a doações para candidatos 
e partidos políticos. 
§ 1º Na avaliação dos parâmetros de que trata este artigo, serão 
considerados o porte e especificidades da pessoa jurídica, tais como: 
I - a quantidade de funcionários, empregados e colaboradores; 
II - a complexidade da hierarquia interna e a quantidade de 
departamentos, diretorias ou setores; 
III - a utilização de agentes intermediários como consultores ou 
representantes comerciais; 
IV - o setor do mercado em que atua; 
 
35 
 
V - os países em que atua, direta ou indiretamente; 
VI - o grau de interação com o setor público e a importância de 
autorizações, licenças e permissões governamentais em suas operações; 
VII - a quantidade e a localização das pessoas jurídicas que integram o 
grupo econômico; e 
VIII - o fato de ser qualificada como microempresa ou empresa de pequeno 
porte. 
§ 2º A efetividade do programa de integridade em relação ao ato lesivo objeto 
de apuração será considerada para fins da avaliação de que trata o caput. 
[...] 
§ 4o Caberá ao Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral da União 
expedir orientações, normas e procedimentos complementares referentes à 
avaliação do programa de integridade de que trata este Capítulo. (Brasil 
2015) 
A transposição quase completa dos artigos acima se faz necessária por dois 
importantes motivos. 
Primeiramente, o texto do regulamento federal, já citado de maneira 
programática pelo Decreto do Município de São Paulo, serviu de modelo para as 
iniciativas regulamentares que o seguiram. Dessa forma, a transcrição dos artigos visa 
mostrar a estrutura básica dos programas de Compliance exigida pelo diploma. Tal 
transposição literal ocorrerá apenas neste momento deste trabalho, vez que serão 
feitas apenas referência ao modelo durante a análise dos demais diplomas. 
Também motivo para tal transposição, a redação do decreto demonstra que a 
iniciativa regulamentar federal, ainda que relativamente tardia, se preocupou em 
introduzir em suas exigências as novas preocupações daqueles que estruturam e 
aplicam as políticas e os mecanismos de Compliance. Tais novas características e 
preocupações envolvem: 
a) maior independência das funções de Compliance (auditoria interna, 
Compliance, administração de riscos); 
b) envolvimento da cúpula na política de aplicação e divulgação dos 
mecanismos de Compliance; 
c) abordagem baseada nos resultados da análise de riscos; 
d) desenvolvimento da função sempre baseada em dados de frequentes 
análises dentro da empresa; 
e) capacidade de desenvolvimento de estratégias de prevenção – e não apenas 
de detecção; 
f) implementação das políticas de Compliance nas áreas comportamental e 
cultural da empresa; 
 
36 
 
g) canal de denúncia de fácil acesso, independente e capaz de responder às 
denúncias de irregularidades. 
6.6. A Portaria 909/15 da CGU 
A Portaria da Controladoria Geral da União, de 07 de abril de 2015, cumpre 
função de grande importância com seu ingresso no ordenamento jurídico brasileiro, 
razão de estar elencada entre os dispositivos aqui analisados. 
Importante ressaltar, o cumprimento da redação programática do parágrafo 
único, do artigo 7º, da Lei nº12.846/13, foi dado pelo Decreto Regulamentar 8420 de 
2015. Entretanto, o regulamento federal não cumpriu de maneira completa, no que diz 
respeito ao detalhamento dos critérios de avaliação dos programas de Compliance, a 
programação da lei federal. Sua redação logrou êxito descrever o que seria 
considerado um programa de Compliance, em linhas gerais, para a lei. Não foi, no 
entanto, detalhado o processo de avaliação desse programa descrito no decreto – 
avaliação esta que permite o cálculo da multa a ser aplicada ou a confirmação do 
cumprimento da cláusula do acordo de leniência que exige a existência e o 
funcionamento do programa de Compliance. 
Visando, então, suprir a missão dada pela lei federal, um mês depois da 
publicação do decreto regulamentar federal, a Controladoria Geral da União editou as 
Portarias 909 e 910 – ambas de 2015. À Portaria 909 ficou a responsabilidade de 
dispor sobre os critérios e processo de avaliação da estrutura do programa de 
Compliance da empresa que busca ser beneficiada, ou na redução da multa, ou na 
celebração de acordo de leniência. 
Os artigos 1º e 2º da Portaria 909 assim dispõem: 
Art. 1º Os programas de integridade das pessoas jurídicas, para fins da 
aplicação do disposto no inciso V do art. 18 e no inciso IV do art. 37 do 
Decreto nº 8.420, de 18 de março de 2015, serão avaliados nos termos desta 
Portaria. 
Art. 2º Para que seu programa de integridade seja avaliado, a pessoa jurídica 
deverá apresentar: 
I - relatório de perfil; e 
II - relatório de conformidade do programa. (Brasil 2015) 
Os artigos 3º e 4º da portaria detalharam o conteúdo do relatório de perfil e do 
relatório de conformidade do programa, não importando a este trabalho a transcrição 
 
37 
 
e pormenorização dos critérios, vez que importa destacar os dispositivos cujo objetivo 
é o incentivo, o estímulo da política de Compliance no âmbito das empresas. 
Entretanto, cabe destaque aos artigos 5º e 6º, cujas redações reforçam a 
preocupação do legislador em estimular programas e estruturas de Compliance que 
sejam eficientes no combate aos riscos referentes às atividades da empresa. 
Assim dispõem os artigos citados: 
Art. 5º A avaliação do programa de integridade, para a definição do percentual 
de redução que trata o inciso V do art. 18 do Decreto nº 8.420, de 2015, 
deverá levar em consideração as informações prestadas, e sua 
comprovação, nos relatórios de perfil e de conformidade do programa. 
§ 1º A definição do percentual de redução considerará o grau de adequação 
do programa de integridade ao perfil da empresa e de sua efetividade. 
§ 2º O programa de integridade meramente formal e que se mostre 
absolutamente ineficaz para mitigar o risco de ocorrência de atos lesivos da 
Lei nº 12.846, de 2013, não será considerado para fins de aplicação do 
percentual de redução de que trata o caput. 
§ 3º A concessão do percentual máximo de redução fica condicionada ao 
atendimento pleno dos incisos do caput do art. 4º. 
§ 4º Caso o programa de integridade avaliado tenha sido criado após a 
ocorrência do ato lesivo objeto da apuração, o inciso III do art. 4º será 
considerado automaticamente não atendido. 
[...] 
Art. 6º Para fins do disposto no inciso IV do art. 37 do Decreto nº 8.420, de 
2015, serão consideradas as informações prestadas, e sua comprovação, 
nos relatórios de perfil e de conformidade do programa de

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