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Canaã – Graça Aranha A obra “Canaã” de Graça Aranha é conhecido como o primeiro romance brasileiro ideológico, onde foi um dos grandes influenciadores do pré-modernismo na literatura brasileira. A obra tem como temática a nacionalização, o regionalismo e a preocupação com a realidade brasileira. Biografia de Graça Aranha Graça Aranha (ou José Pereira da Graça Aranha) nasceu em 21 de junho de 1868, em São Luís do Maranhão. Antes de completar 15 anos de idade, em 1882, conseguiu permissão governamental para cursar a faculdade de Direito. Nesse mesmo ano, começou o curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife. Durante a graduação, mostrava-se um defensor da abolição e da república. Após a formatura, em 1886, o jovem advogado se mudou para o estado do Rio de Janeiro, onde trabalhou na cidade de Campos. Depois, exerceu o Direito no estado do Espírito Santo, na cidade de Porto do Cachoeiro. Em 1897, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Em seguida, iniciou sua carreira diplomática, e, nas duas primeiras décadas do século XX, atuou em países europeus. De volta ao Brasil, em 1921, teve seu primeiro contato com os novos artistas de São Paulo, quando visitou a exposição Fantoches da Meia-noite, de Di Cavalcanti (1897-1976). Participou da organização da Semana de Arte Moderna, em 1922. Nesse mesmo ano, ocorreu uma revolta militar contra o candidato eleito à presidência Artur Bernardes (1875-1955). Assim, no dia 6 de julho desse ano, Graça Aranha foi preso, e ficou detido por quase um mês, como suspeito de conspiração. Depois de ser solto, foi convocado novamente pela polícia. Temendo nova prisão, fugiu para o interior de São Paulo. Dois anos depois, o escritor voltou a ser notícia ao pedir afastamento da Academia Brasileira de Letras, pois entendeu que ela não admitia reformas ou qualquer tipo de renovação. Graça Aranha, que morreu em 26 de janeiro de 1931, no Rio de Janeiro, casou-se, ainda na juventude, com Maria Genoveva de Araújo, porém, em 1928, separou-se dela, não oficialmente, para viver com Nazareth Prado, por quem era apaixonado. Parte da história desse relacionamento amoroso está no livro Cartas de amor, publicado em 1935, que reúne as cartas que ele enviou para ela entre 1911 e 1927. https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/abolicao-escravatura.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/rio-janeiro.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/espirito-santo.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/a-semana-arte-moderna.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/governo-artur-bernardes.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/governo-artur-bernardes.htm Características da obra de Graça Aranha Graça Aranha é um escritor do pré-modernismo, como ficou conhecido o período de transição, na literatura brasileira, entre o simbolismo e o modernismo. Desse modo, as obras publicadas entre 1902 e 1922 são classificadas como pré-modernistas. Portanto, os livros do autor possuem características do modernismo, como o nacionalismo e o regionalismo, mas também marcas do naturalismo, estilo literário de finais do século XIX. Sem idealizações, a visão do país é mais realista, de forma a mostrar os conflitos sociopolíticos. Como influência naturalista, questões raciais também são abordadas. Desse modo, a temática da imigração está presente em sua obra mais famosa — Canaã —, em que pensamentos racistas são expostos pelos personagens, de forma a colocar a miscigenação brasileira em questão. Contexto histórico Na virada do século XIX para o século XX apareceram tentativas diversas de compreensão da cultura e história, pautadas por uma concepção evolucionista. Nesse contexto, a identidade nacional surgia como debate fundamental para o desenvolvimento do país. Quem era o povo brasileiro? O período, ainda que não abandonasse completamente a causalidade mecanicista dos séculos XVII e XVIII, teve no modelo biológico o principal molde para explicação do mundo. Assim, a formação de um povo brasileiro emergia como a própria metáfora do desenvolvimento. O futuro, grande indagação da virada do século, é o tema de Canaã. A imigração de uma “raça” tida então por superior esmagaria a população nativa? Dissolver-se-ia nela? Quais seriam as consequências sócio históricas da miscigenação racial? Em Canaã, Milkau, Lentz e Paulo Maciel esboçam respostas a essas questões. A obra, publicada em 1902, é um registro polifônico de ideias, dialeticamente contrapostas. Dois jovens alemães, em grande medida atípicos pela origem social – o fidalgo Lentz e o erudito Milkau – se estabelecem como colonos no Espírito Santo. Em diálogos constantes com os habitantes locais, projetam o futuro – seu próprio e do país. O “romance sem história” ganha ares de melodrama quando a utopia de Milkau esbarra na história trágica de Maria. Grávida do filho dos patrões, fora expulsa da casa onde havia sido criada. Depois de vagar pelos campos e aldeias, deu à luz, sozinha, um bebê, e desmaiou após o parto. A criança foi devorada por porcos selvagens e Maria, presa por https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/premodernismo.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/modernismo.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/naturalismo.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/racismo.htm infanticídio. O romance termina quando Milkau liberta Maria e juntos vagam pelos campos, buscando a “terra da promissão”. Em Canaã, Graça Aranha buscou sintetizar as principais acepções do período sobre o povo brasileiro e o novo país que se tentava forjar. No mesmo ano, Euclides da Cunha celebrava, com “Os Sertões”, o crepúsculo da vida sertaneja. A apocalíptica batalha entre o “progresso” republicano e o Brasil profundo – agrário e patriarcal – é denunciada, ao mesmo tempo, como um crime e como inevitável. Mas a Nova Jerusalém de taipa erguida por Antônio Conselheiro não cederia sem lutar ao futuro na “Canaã” de Graça Aranha. Como Graça Aranha, Euclides da Cunha também serviu ao Itamaraty. A inevitabilidade do progresso, com o esmagamento do Brasil caboclo e rural, permeia o pensamento de ambos. O “hoje” de Canaã refere-se aos primórdios da República, sua instabilidade, e a decadência de tradicionais propriedades agrícolas. O “antigamente”, muitas vezes retomado com certo saudosismo em Canaã, remete à estabilidade do país no Segundo Reinado. Euclides da Cunha faz uma distinção entre o caboclo, que seria uma raça – ou sub-raça – já constituída e os “lamentáveis mestiços”. Em Canaã, a constituição de uma raça (ou sub-raça) nacional é tema frequente de especulações dos seus personagens. É neste “novo brasileiro” que Lentz e Paulo Maciel depositam a esperança no futuro do país. Nesse contexto, o racismo dito “científico” teorizava sobre as raças mais aptas à civilização. É verdade que o racismo em tempo algum constituiu uma novidade radical, de modo que seria inútil tentar traçar suas origens remotas. Entretanto, foi sobretudo no século XIX que a ideologia discriminatória ganhou credibilidade como concepção “objetiva” de mundo, oficialmente reconhecida, num processo que se intensificou na Europa até o início do século XX. Síntese da obra Canaã A primeira referência com o nome Canaã está citada na bíblia. Em comparação às terras próximas, Canaã, a terra prometida a Abraão e ao povo hebreu, era farta, produzia frutas, uvas, mel, entre outros elementos, que deram a esta terra uma referência de “terra que mana leite e mel”. Na literatura brasileira o romance Canaã divide com os Sertões, de Euclides da Cunha, o marco inaugural do Pré-Modernismo brasileiro. A obra Canaã representou a visão de um problema ainda não estudado”. Graça Aranha fixou-se por alguns meses em Porto do Cachoeiro, pequena comunidade do Espírito Santo, como juiz municipal. Predominava nessa região a presença de imigrantes alemães. “A observação da vida local, com seus patentes contrastes entre selva e cultura, trópico e mente germânica, era bem de molde a tentar um espírito propenso de jogo das ideiase, ao mesmo tempo sensível às formas e as cores da paisagem”. O romance tematizou a questão da imigração, motivo de muitas polêmica na época, retratado em duas visões. As duas visões são abordadas em relação “A imigração como fator indispensável ao processo de “branqueamento” da população e da imigração como ameaça à soberania brasileira e como expressão de relativo desprivilegio da população “brasileira”. As teses em conflitos são defendidas por dois amigos imigrantes: Milkau e Lentz. O romance tem início com a chegada de Milkau, alemão, a uma colônia de imigrantes europeus, no Espírito Santo. Ao chegar aluga um cavalo para ir do Queimado à cidade de Porto do Cachoeira, acompanhado por um guia de nove anos, filho de um alugador de animais. Graça Aranha relata a fascinação do imigrante pela nova paisagem “Os seus olhos de imigrante pasciam na doce redondeza do panorama. Nessa região a Terra exprime uma harmonia perfeita no conjunto das coisas”. Ao chegar em Cachoeira se dirige a casa do comerciante se dirige a casa do comerciante alemão Roberto Schultz. O imigrante é apresentado a outro alemão, Lentz para acompanhá-lo. Os imigrantes partem rumo ao Rio Doce, local em que arremataram o lote de terra e que iriam estabelecer sua colônia, guiados por Felicíssimo que era agrimensor. Pelo caminho, Lentz e Milkau discutem a paisagem e a raça brasileira. Lentz assume um lado racista, que opina fielmente dentro dos parâmetros racistas da degeneração do ser humano pela mistura de raças. “Não acredito que da fusão com espécies radicalmente incapazes resulte uma raça sobre que se possa desenvolver a civilização. Será sempre uma cultura inferior, civilização de mulatos, eternos escravos em revoltas e queda”(p.53). Milkau, porém, crê que o progresso só se dá quando os povos se misturam. Vê no Brasil o cumprimento de sua projeção de “paraíso”, no qual pretende renascer. “Sou um emigrado, e tenho a alma do repouso; este será o meu último movimento na terra...” (p.44) No trajeto do Rio Doce encontram-se com um velho colono alemão acompanhado de seus cães ferozes, mas fiéis. Em um acontecimento posterior encontrarão o mesmo homem morto na sua casa, guardado pelos animais e devorado pelos urubus. Canaã apresenta histórias isoladas como essa citada, porém a obra mantém uma unidade. No decorrer dos acontecimentos acontece uma festa em Jequitibá, local em que um novo pastor vai celebrar seu primeiro serviço. Milkau e Lentz se juntam aos colonos como forma de se familiarizar com os costumes do povo. Após o culto, Felicíssimo convida os imigrantes para festejarem no sobrado de Jacob Muller. Nesse dia Milkau conhece Maria Perutz, uma colona que não consegue mais esquecer o encontro com o rapaz. A história de Maria é triste e solitária. O pai morreu antes que ela pudesse conhecê-lo. A mãe viúva, criada na casa do alemão Augusto Kraus, logo falece e Maria fica sob os cuidados de Augusto, seu verdadeiro amigo. Moravam com o velho, seu filho, a nora Ema e o neto Moritz Kraus, repentinamente, Augusto Kraus faleceu e a situação na casa de Maria se modificou. Ema e o esposo decidem separar a moça do filho Moritz, e o enviam para longe de Jequitibá, temendo uma aproximação amorosa. O rapaz parte com certa alegria, deixando Maria desgostosa, pois os dois já eram amantes. A vida de Maria por essa época piora. Dia a dia teme que seu estado se revele, por isso aguarda desesperadamente o retorno de Moritz para lhe contar sobre o filho que espera. Os pais do rapaz não tardam e percebem o que se passa. Vendo-a mover-se pela casa languidamente, sentem ódio e temem pelo casamento do filho. Passam o dia tramando um jeito de se livrar dela. Uma manhã, trêmula e exausta deixa cair um prato. Encolerizada, Ema grita para que ela abandone a casa. O marido ameaça-lhe com um pedaço de madeira. Amedrontada sai da casa. Pede auxílio ao pastor, mas esse, dominado pela cunhada, docemente afasta Maria que parte para a vila em busca de abrigo. Ao verem a triste figura, os colonos tomam-na por louca, enxotando-a na floresta, seu único refúgio, cai prostrada e adormece. No dia seguinte, encontra uma estalagem, onde empenha a trouxa de roupa em troca de comida e abrigo. Certo dia, trabalhando na estalagem, encontra Milkau. Ao saber de sua história, prontifica-se a ajudá-la, levando-a para casa de uns colonos. A moça é aceita, mas tratada com desdém. Um dia ao trabalho começa a sentir as dores do parto. Temendo retornar a casa e ser maltratada, resiste até cair e, esvaindo-se em sangue, dá a luz ao bebê. Alguns porcos, que estavam nas proximidades, correm para lambê-los, mordendo o bebê que falece. A filha dos patrões chega nesse instante e, sem nada perguntar, volta a casa, dizendo que Maria tinha matado seu filho e dado a criança aos porcos. O episódio gera grande revolta nas colônias alemãs. Maria é presa e julgada. Em cada fase do julgamento é apontada culpada. Milkau acompanha todas as sessões, chegando a ficar amigo do juiz Paulo Maciel. Este lhe diz que o final não será feliz, pois os depoimentos não deixam brechas para a inocência. O imigrante e Maciel aproveitam os encontros para analisar a justiça brasileira, os brasileiros e seu patriotismo. Com o decorrer dos julgamentos, Maria continua presa. À medida que acompanha o definhar de Maria, Milkau vai se deixando tomar pela tristeza. Em uma noite, Milkau tira Maria da prisão e foge com ela, correndo pelos campos, em busca de Canaã. “a terra prometida”, onde os homens vivem em harmonia. COMENTÁRIO SOBRE CANAÃ Em Canaã, e por muitas décadas que se seguiram, imaginou-se um Brasil que se realizaria como encontro das três raças constitutivas de nossa nacionalidade. A perspectiva não se confirmou: eis o Brasil repetidamente diante do debate racial, de reinterpretações do passado e projeções de superação deste dilema no futuro. Passado um século da publicação de Canaã, a questão racial retorna com inquestionável força ao debate político brasileiro. Sabe-se hoje, com a decifração do genoma humano, da fragilidade da ideia de “raça” enquanto categoria biológica. O conceito é poderoso, porém, enquanto categoria social. A escandalosa desigualdade entre brancos, negros e pardos permanece; e a adoção de políticas afirmativas torna “raça”, mais uma vez, categoria instrumental quase inescapável. A hegemonia antirracista no Brasil e no mundo pós-segunda guerra mundial, tanto nos meios acadêmicos como na grande mídia, não parece ter produzido grande efeito nos valores coletivos, dada a persistência do racismo cotidiano – em maior ou menor grau presente em todas as partes do mundo. Assim, o debate contido em Canaã, embora datado, está longe de ser superado e traz contribuições significativas para se pensar o presente: Canaã é um sumário de visões de raça que forjaram as desigualdades atuais. Análise da obra Relação Título – Obra O pré-modernismo se deu início a partir da obra Canaã de Graça Aranha, o título se justifica de forma bíblica, pois, Canaã é a terra prometida aos judeus, o autor apresenta o Brasil como Canaã dos imigrantes alemães que migram em busca de trabalho e vida digna, com principal intuito de fugir da miséria europeia da época. A obra aborda a visão de dois imigrantes alemães diferentes, a primeira visão é a de Milkau, que vem ao Brasil para buscar a felicidade, e disposto a dividir conhecimentos, ensinar e também aprender. A segunda visão, é a de Lentz, que acredita na superioridade branca e vem ao Brasil para “se fazer senhor, em um país de mestiços”. Foco narrativo A obra é narrada em 3ª pessoa do singular e o narrador é onisciente, conhece os pensamentos das personagens e tudo o que está em sua volta, mas, não demonstra opinião e não se intromete na história, é possível perceber isso através dos trechos: “Sentia-se amparado por um fluido de esperança, de resignação, que, emanado do amor e das lembranças, o envolvia, dando-lhe uma armadura invencível”. "Este primeiro contato com os colonos era para ele uma crise, e, em vez de continuar desembaraçado o sermão , detinha-sea examinar o povo, a refletir sobre si e aos seus embaraços, e muitas vezes para distraído, outras ia tropeçando para adiante”. Temática As temáticas principais da obra, é a nacionalização, o regionalismo e a preocupação com a realidade brasileira, onde aborda a imigração alemã no estado do Espírito Santo, por intermédio do conflito entre dois personagens, Milkau e Lentz, que apresentam diferentes linhas filosóficas. Os temas de opressão feminina, imperialismo germânico, militarismo, corrupção dos administradores públicos, ostracismo, conflito de adaptação à nova terra são tratadas nesse romance. Problemática A problemática da obra é a relação entre a filosofia apresentada na obra e os materiais históricos. A crítica em geral, a abordagem do conteúdo sobre a fusão cósmica e o princípio do amor desarticulam a linha histórica do romance, rompendo sua estrutura. Tempo O tempo da narrativa retoma fatos anteriores ao que está sendo narrado, sendo dominado analepse. Um exemplo disso, é possível perceber isso quando as personagens da obra relatam suas vidas passadas, um ótimo exemplo disso é quando Milkau precisa retomar ao passado para responder algumas perguntas a um idoso. Apresentando de forma mais clara, e objetiva, através do trecho abaixo: “Comida sempre havia, e quando era sábado, véspera de domingo, ah! Meu sinhô, tambor roncava até de madrugada” “Ou também quando Milkau e Lentz conversam sobre suas vidas antes de chegar ao Brasil: “Vejo-me ao lado de meu pai, dia e noite ligados, como o corpo e as sombras... Ele era um professor de colégio, um desses universitários muito instruídos, mas como a maior parte deles, indeciso em sua vasta cultura escolar” Na duração da história e narrativa, há pausas frequentes, tanto que em alguns momentos parece que os espaços são intermináveis, porém são necessárias, principalmente para deixar a história mais real: “[...] tudo ia passado, rolando mansamente [...] a estrada se alargava, outras vinham aparecendo, desconhecidas, infinitas, como são os caminhos dos homens”. Psicológico – resultado de evasão dos personagens principais. Cronológico – há algumas datas do tempo. A ordem temporal da narrativa é marcada por análise, que consiste em retomar fatos anteriores ao da narrativa. Esse recurso pode ser percebido nas passagens em que os personagens de alguma forma relatam suas vidas passadas. O primeiro caso aparece logo no início da narrativa, quando Milkau dialoga com um senhor idoso e lhe faz algumas perguntas. Para responder algumas, o velho precisa retornar ao passado, usando um recurso chamado flash back “Comida sempre havia, e quando era sábado, véspera de domingo, ah! Meu sinhô, tambor roncava até de madrugada” (p.34). Outro caso que pode ser tomado como exemplo é a passagem de Milkau conversando com Lentz sobre suas vidas antes de chegar ao Brasil, relembra de como era seu relacionamento com seu pai. “Vejo-me ao lado de meu pai, dia e noite ligados como o corpo de sombra... Ele era um professor de colégio como, um desses universitários muito instruídos, mas, como a maior parte deles, indeciso em sua vasta cultura escolar” (p.63). No que se refere à duração do tempo, da história e da narrativa, há presença do recurso pausa e cena. As pausas são frequentes em toda a obra, tanto é que há momentos em que as descrições dos espaços e das pessoas parecem intermináveis, mas que são necessárias para a construção da narrativa, uma vez que elas dão à história um aspecto mais real. “[...] tudo ia passando, rolando mansamente [...] a estrada se alarga, outras vinham aparecendo, desconhecidas, infinitas, como são os caminhos dos homens”. (p.35). Pode ser considerada como cena da narrativa a passagem em que Maria foge da prisão com Milkau, para Canaã, terra que segundo pensava ele, seria um lugar de paz e felicidade, onde as pessoas não se odiavam e nem se destruíam uns aos outros, todos seriam iguais, seria ali o fim de todos os sofrimentos. Mas depois de tanto correr e nada encontrar, eles percebem que não existe a terra da promissão. Tudo não passa de um sonho, um desejo ardente de mudança de comportamento das pessoas, que são medíocres e desumanas. “Vendo assim a miséria da realidade ele disse, - não te canses em vão... Não corras... É inútil... A terra da Promissão, que ia te mostrar e também ansioso buscava, não vejo mais... Ainda não despertou a vida”. (p.209) Espaço A trama tem como cenário uma colônia de imigrantes em Porto de Cachoeiro no Espírito Santo (espaço físico: “Milkau cavalga molemente o cansado cavalo que alugara para ir do queimado à cidade do Porto de Cachoeira, do Espírito Santo” Quanto ao espaço social, podemos citar o armazém de Roberto
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