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FILOSOFIA-DAS-CIÊNCIAS-SOCIAIS-1

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1 
 
 
FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS 
1 
 
 
 
 
Sumário 
 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................... 
INTRODUÇÃO... ...................................................................................... 2 
A FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS..................................................5 
 A filosofia pós - positivista das ciências sociais................................6 
 A filosofia como ciências sociais.......................................................8 
 A ciência como assunto da filosofia................................................12 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA................................................16 
SOCIOLOGIA: DEFINIÇÃO....................................................................23 
 O Pensamento de Maquiavel e a Ciência Moderna..........................28 
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
Introdução 
 
Tomando a Filosofia e sua história por objeto, a Sociologia pode oferecer 
uma contribuição ao esforço desta disciplina para se liberar dos limites que a 
determinam. A Filosofia tende a solucionar a antinomia da historicidade e da 
verdade procedendo, por meio do comentário, a uma atualização das obras 
passadas, o que supõe uma negação mais ou menos completa da historicidade. 
As três maneiras de tratar explicitamente esta antinomia – a revelação 
originária (Heidegger), a construção retrospectiva das filosofias passadas como 
possibilidades teóricas (Kant) e a dialética que ultrapassa e conserva (Hegel) – 
tem em comum a recusa da história. Uma verdadeira história social, que 
recolocasse a Filosofia no campo da produção cultural e no campo social em seu 
conjunto, permitiria compreender as filosofias e sua sucessão para além da 
"filosofia filosofante da história", ao mesmo tempo em que permitiria aos filósofos 
do presente liberar-se do impensado instituído que está inscrito em sua herança. 
 Uma das definições da Filosofia é a de que ‘’No âmbito das relações com 
o conhecimento científico, conjunto de princípios teóricos que fundamentam, 
avaliam e sintetizam as ciências particulares, contribuindo para o 
desenvolvimento de muitos destes ramos do saber. ’’ Já a Sociologia trata do 
‘’Estudo científico da organização e do funcionamento das sociedades humanas 
e das leis fundamentais que regem as relações sociais, as instituições etc.’’ Mas 
de que forma ambos os campos de saber contribuem para a formação 
educacional? 
 É comum ouvir que Filosofia não serve para nada ou que a Sociologia é a 
melhor aula para dormir. Regularizadas como disciplinas obrigatórias no Ensino 
Médio no ano de 2006 as matérias buscam a autonomia do pensamento e a 
visão crítica a respeito do mundo. Para o pós-doutorado e professora de Ciências 
Sociais, Elisabeth da Fonseca Guimarães, é um dos papéis da Sociologia a 
percepção diferenciada de situações que fazem parte da convivência do aluno. 
‘’Por exemplo, a falta de interesse do governo local em atender às demandas de 
4 
 
 
sua escola ou de seu bairro, ou ainda, a violência física, praticada, 
cotidianamente, no ambiente escolar. Provocar o estranhamento e a 
desnaturalização é desenvolver a sensibilidade do aluno para enxergar 
sociologicamente o mundo, a partir de diferentes questões que o cercam 
diariamente. ’’ 
 Já no âmbito filosófico é importante elucidar a sua contribuição nas 
descobertas. Como diz Araújo e Lima em seu artigo ‘’A relevância do ensino de 
Sociologia e de Filosofia para a formação dos jovens no século XXI‘’ a filosofia 
pode ser uma aliada na vida adolescente. ‘’Em outras palavras, se consideramos 
que os adolescentes são aqueles que estão numa fase de questionamentos e 
descobertas acerca dos sentidos de suas experiências cognitivas, afetivas, 
valorativas, etc., e, se tomamos a Filosofia em seu caráter dinâmico de atividade 
de questionamentos e elucidação conceitual sobre o sentido das coisas em 
geral, atividade a partir da qual é possível uma maior clareza a respeito dos 
fundamentos e princípios que constituem aquelas experiências humanas, então, 
desse modo, temos que admitir que a relevância do ensino de Filosofia na 
formação dos adolescentes consiste no fato de ela ser uma atividade capaz de 
levá-los a buscar e a adotar, de uma maneira consciente, livre e autônoma, os 
sentidos norteadores de suas vidas, dotando-os de instrumentos pelos quais 
eles possam fazer uma leitura do mundo de uma maneira crítica e não 
subserviente. ’’ 
 
 
 
 
A Filosofia das Ciências Sociais 
 
A filosofia das ciências sociais, quando concebida adequadamente, tem 
algo a oferecer aos cientistas sociais. Eles sempre adotam em suas pesquisas, 
ainda que de forma implícita, alguma filosofia de sua ciência. Mas, para evitar 
5 
 
 
impasses, é melhor explicitar essa filosofia e ser criticamente consciente de seus 
méritos. A filosofia das ciências sociais, por sua vez, não pode ser praticada sem 
um envolvimento íntimo com a pesquisa social. 
 Vive-se um novo momento histórico, de intensas transformações sociais. 
Palavras como pós-modernidade, pós-industrial, pós-capitalista, informacional, 
sociedade global, sociedade do conhecimento, passaram a fazer parte do 
cotidiano na Sociologia, nas demais Ciências Sociais e nos meios de 
comunicação de massa. Elas pretendem indicar as mudanças sociais que estão 
em curso. A discussão mais acirrada coloca em oposição modernidade e pós-
modernidade. Outro entendimento é de que o projeto da modernidade está em 
crise, mas as soluções estão ainda no próprio paradigma da modernidade. A 
Sociologia, no primeiro caso, está em questão junto com o projeto da 
modernidade; no segundo, ela precisa ser reformulada ou reconstruída. 
 As teorias sociológicas clássicas elaboraram uma compreensão da 
sociedade industrial nacional em que a ênfase em determinados princípios 
gerais apontava para a sociedade que atualmente encontra-se em formação. A 
constatação da lei histórica da “preponderam progressiva da solidariedade 
orgânica”, feita por Durkheim, indica a possibilidade do processo atual, se por 
globalização entendermos a ampliação da divisão do trabalho, mesmo que esta 
tenha diferenças importantes daquela estabelecida na sociedade industrial. Faz-
se a mesma afirmação sobre a tese de Weber da racionalização da sociedade 
ocidental e sobre as várias observações feitas por Marx em toda a sua obra 
sobre a tendência globalizante dos movimentos do capital para viabilizar o 
processo de acumulação. 
 
 A dimensão societária tem sido amplamente discutidapela Sociologia em 
todo o mundo. Pode-se assegurar que os conhecimentos que temos sobre a 
“sociedade informacional global” foram, em grande parte, produzidos pela 
Sociologia, mesmo que em muitas universidades os recursos para pesquisa em 
Ciências Sociais tenham sido bastante reduzidos. Este fato não se deve a uma 
perda de capacidade da Sociologia de explicar o mundo social. 
6 
 
 
 Pode-se dizer que a crise do Estado do Bem-Estar Social e a hegemonia 
do mercado na promoção do crescimento e da prosperidade foram fatores 
decisivos para definir um lugar “marginal” para a Sociologia na sociedade. Não 
é por acaso que hoje se observa um processo de aproximação dos movimentos 
e instituições sociais com o pensamento sociológico crítico. A rigor não há 
nenhuma novidade nisso, pois a Sociologia constituiu-se e se desenvolveu no 
âmbito das lutas sociais da modernidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Filosofia Pós-Positivista das Ciências Sociais 
 
 A filosofia da ciência positivista caracteriza-se por um conjunto de ideias 
inter-relacionadas. A filosofia da ciência analisa a lógica dos conceitos 
científicos. A lógica é uma atividade a priori e, assim, a filosofia da ciência pode, 
idealmente, indicar por meio da análise conceitual em que consiste a boa ciência. 
 A confirmação e a explicação têm uma lógica, e esta nos diz quais são as 
boas explicações e quais as ruins, além de quando uma evidência confirma uma 
7 
 
 
hipótese. A priori, há regras gerais de evidência que nos permitem passar das 
observações para o grau de confirmação de teorias rivais. A explicação diz 
respeito a deduções efetuadas com base em leis científicas. Estas são 
enunciadas universais que não fazem referência a coisas particulares. 
 A ciência diz respeito à produção de teorias, e as teorias são conjuntos 
axiomatizados de leis. 
 As origens sociais e psicológicas da ciência e as influências dessa ordem 
são irrelevantes para avaliar e entender a ciência, exceto nos casos de distorção 
e ciência malsucedida. 
 Se as ciências sociais são ou não realmente científicas é uma questão 
aberta que deve ser decidida avaliando se elas a priori satisfazem ou não os 
critérios de explicação e confirmação. 
 A ciência é neutra no que diz respeito a valores. Os valores podem estar 
envolvidos quando se trata de determinar quais projetos serão levados adiante, 
mas são irrelevantes para a explicação e a confirmação e causam distorções se 
estiverem envolvidos nesses processos. Há várias correntes pós-positivistas na 
filosofia da ciência. Uma delas adota a via niilista associada com algumas formas 
de construtivismo social, e sustenta que, como não há uma lógica da ciência e 
como é claro que os processos sociais são fundamentais para toda ciência, não 
há como falar em ciência boa e ruim. A ciência é apenas uma entre muitas outras 
instituições sociais e não tem nenhuma prerrogativa especial no que diz respeito 
ao conhecimento. Não endosso essa alternativa pós-positivista. Do fato de que 
não podemos estabelecer regras formais a priori para a confirmação e a 
explicação e de que a ciência é um processo social, não decorre que a ciência 
seja somente um processo social ou que não possamos apresentar argumentos 
convincentes sobre o que a evidência mostra. 
 A ciência é um processo muito mais complexo do que a visão positivista 
admite. A alternativa pós-positivista que apoio sustenta uma filosofia da ciência 
relevante para as ciências sociais baseada no naturalismo de Quine (1998; cf. 
Kitcher, 1995; Kincaid, 1996, 2012). 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Filosofia como Ciências Sociais. 
 
 É parte da própria ciência e está sujeita aos mesmos critérios amplos que 
a ciência. A filosofia da ciência não está acima ou fora da ciência, mas envolve 
um estudo científico de como a ciência funciona. Ela pode emitir juízos sobre a 
boa ciência, mas tais juízos são empíricos, baseados no estudo daquilo que 
promove as metas científicas. Essas são teses-chave das abordagens 
naturalistas ao conhecimento. 
 Avaliar a evidência e fornecer explicações é processos contextuais que 
exigem o comprometimento com um conhecimento de fundo, as questões 
formuladas, as metas explicativas etc. (cf. Kincaid, 1996). Dificilmente as regras 
lógicas poderão estabelecer por si só até que ponto os dados apoiam as 
hipóteses. Pretender que as regras lógicas possam fazer isso leva a resultados 
9 
 
 
indesejáveis e não confiáveis. Os dados não são “brutos”, mas refletem uma 
variedade de pressupostos teóricos implícitos. Para grande parte da ciência, a 
explicação não exige leis universais, que são poucas e dispersas. Em vez disso, 
as explicações consistem em citar causas que são, muitas vezes, investigadas 
caso a caso. 
 Teorias de amplo escopo dedutivamente organizadas são difíceis de 
encontrar na ciência, inclusive a física ( Wilson, 2008; Cartwright, 1983). São 
comuns, porém, os modelos de escopo restrito e as explicações causais 
isoladas. Além disso, há muito mais do que teorias na ciência. Há, por exemplo, 
os padrões da boa explicação e de confirmação, regras básicas para vincular os 
modelos à realidade e práticas sociais organizadas que possibilitam a pesquisa 
bem-sucedida. 
 A ciência é um processo inteiramente social, e compreender os processos 
sociais é parte importante da avaliação de quão bem uma determinada área está 
funcionando. As normas das revistas sobre a publicação de resultados 
negativos, por exemplo, precisam ser levadas em conta na avaliação do que a 
evidência mostra ou não. Os processos sociais podem causar distorção, mas 
também podem ser a base da confiabilidade, aprimorando o ceticismo 
organizado. 
 As ciências sociais podem incorporar os padrões mais amplos da ciência 
natural bem-sucedida e, nessa medida, as dúvidas relativas ao caráter científico 
das ciências sociais é um ceticismo sem fundamento. A dúvida sobre partes 
específicas das ciências sociais pode, é claro, ser fundada, mas julgar o estatuto 
das ciências sociais em geral em bases filosóficas é exigir da filosofia mais do 
que ela pode nos oferecer. 
 Os valores estão envolvidos de modo complexo em várias partes da 
ciência ( Kincaid, 2006), o que pode ou não ser um obstáculo à objetividade. O 
estudo minucioso dos pressupostos valorativos específicos e dos papéis que 
desempenham é essencial. Esse quadro da filosofia pós-positivista tem, 
obviamente, algumas implicações para a prática das ciências sociais, relativas, 
por exemplo, às distinções entre pesquisa qualitativa e quantitativa, entre 
10 
 
 
observação e experimento, entre ciência social objetivaste e interpretativa e à 
importância da sociologia do conhecimento. 
 As alegações de que as ciências “humanas” são fundamentalmente 
diferentes das ciências naturais – uma formulação clássica dessa posição é a de 
Taylor (1971) – por dependerem de processos interpretativos na coleta dos 
dados baseiam-se no falso pressuposto de que as ciências naturais não 
precisam empregar tais processos. Nenhuma ciência trabalha com dados 
inteiramente brutos ou não interpretados. 
 A questão é o grau e a amplitude em que argumentos fundamentados 
podem ser elaborados. Por exemplo, a pesquisa demográfica sobre as 
tendências da população exige, provavelmente, menos pressupostos 
interpretativos do que a pesquisa em etologia sobre os sinais dos animais. É 
claro que a pesquisa interpretativa nas ciências sociais pode enfrentar 
problemas substanciais para apoiar suas conclusões com argumentos 
convincentes. Mas o mesmo se dá com as tentativas de algumas pesquisas 
quantitativas de extrair conclusões de dados observacionais medidos de forma 
imperfeita e baseados em técnicas estatísticas que se apoiamem pressupostos 
duvidosos. 
 A distinção entre pesquisa quantitativa e qualitativa também parece menos 
fundamental para a visão pós-positivista. Se, em vez de tentar descrever regras 
a priori sobre a boa ciência, considerarmos como as ciências naturais realmente 
funcionam, perceberemos que muito da boa ciência natural é parcialmente 
qualitativa. A própria distinção é obscura e tem diferentes significados para 
diferentes audiências. Suponha-se que a distinção seja feita conforme a 
presença ou ausência de extensa mensuração ou de escalas de intervalo. 
 Nesse caso, muito de nossa melhor biologia – molecular celular e evolutiva 
– é em grande medida qualitativa. Técnicas como o bloqueio de uma via – de 
um receptor ou de um produto gênico – mostram o efeito causal sem que 
mensurações quantitativas desempenhem um papel importante. 
 Os argumentos de Darwin em favor da evolução pela seleção natural são 
em grande parte qualitativos. Além disso, como veremos a seguir, a mensuração 
quantitativa presente nos paradigmas de regressão múltipla não é eficaz para 
11 
 
 
identificar causas. Grande parte da ciência social e comportamental das décadas 
passadas aliou-se à ideia positivista de que a boa ciência consiste em 
generalizações quantitativas. Mas, para a visão pós- -positivista de que a ciência 
proporciona generalizações causais localizadas, as generalizações quantitativas 
são menos importantes, pois são de valor incerto para a identificação de causas. 
Por fim, os desenvolvimentos pós-positivistas na filosofia da ciência encorajam 
e apoiam outro caminho importante para a pesquisa social. 
 As investigações da sociologia do conhecimento a respeito das ciências 
naturais e sociais são necessárias e talvez promovam contribuições importantes 
para a compreensão das forças e das fraquezas de várias práticas e tradições 
de pesquisa. Há, por exemplo, uma crescente evidência de que a pesquisa 
biomédica não pode ser replicada e que talvez seja inteiramente fraudulenta. Os 
processos sociais de avaliação pelos pares, de publicação e de financiamento, 
que são parte dessa história, são bons alvos para a sociologia do conhecimento. 
Em economia, os dados com frequência são considerados exclusivos e não 
disponibilizados para o público. Quando disponibilizados, os resultados 
costumam ser de difícil reprodução. 
 A pesquisa sociológica sofisticada de tais fenômenos pode ser 
esclarecedora. Os estudos sociais sobre a ciência sempre foram uma parte 
essencial da ciência pós-positivista, mas seria bom se tivéssemos mais 
contribuições dos sociólogos e mais atenção dada às ciências sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Ciência como assunto da Filosofia 
 A filosofia, entendida como atitude humana e até como um modo de vida, 
consiste na tendência a examinar, para melhor compreender, tudo quanto é 
objeto da nossa experiência. Aristóteles caracterizou a atitude filosófica como 
um “admirar-se” ante aquilo que, para quem não filosofa, é trivial, insignificante 
ou já “sabido”. 
 Filosofar não quer dizer, é claro, que o ser humano deva dedicar-se a 
explorar literalmente tudo quanto vivencia, pois seria uma tarefa impraticável. 
Filosofa quem examina algo (ou melhor, o que acha que sabe sobre algo) por 
sentir que, sem esse exame, algo falta, por assim dizer, na sua vida, e que se 
ele chegar a uma melhor compreensão daquilo que motiva sua reflexão, viverá, 
de algum modo, “melhor”. Esta é uma forma de explicitar a palavra filosofia na 
sua etimologia. Como vocês já sabem, Philo-sophia 
significa literalmente “amor à sabedoria”. Pois bem, 
essa sabedoria diz respeito não a qualquer tipo de 
saber, mas a um saber viver. 
Quem filosofa o faz porque deseja 
viver de outra maneira que aquela 
em que até então vivia. Filosofia é, 
pois, desejo de saber para viver 
melhor. E esse viver “melhor” inclui poder dar uma razão 
Figura 1 Karl Jaspers 
13 
 
 
pessoalmente elaborada ou assumida de nossas crenças, 
valorações e ações. 
 Poder responder pelo que pensamos e praticamos, em vez de justificar-
nos alegando que “todo o mundo” pensa ou age assim, que é “normal” essa 
maneira de pensar, ou que uma determinada autoridade (que pode ser até a de 
um filósofo famoso!) explicou ou demonstrou que “assim são as coisas”. Por isso, 
à admiração ou estranheza como motiva para filosofar, devemos acrescentar 
outros dois, apontados pelo filósofo alemão Karl Jaspers (1883-1969). O ser 
humano filosofa não só quando se admira de algo, mas também quando duvida 
das suas crenças, ou quando se encontra em situações-limite, como o 
sofrimento, a presença da morte, a perda da fé ou uma catástrofe física ou social. 
A inquietação filosófica não é privilégio dos filósofos profissionais, certamente. 
 Qualquer ser humano filosofa, ainda que não use esta palavra e até 
ignorando que ela existe, toda vez que pratica aquele exame motivado pelo 
desejo de viver melhor. Em obras literárias encontramos reflexões filosóficas 
(como nos textos de Eurípedes, Shakespeare, Jorge Luis Borges ou Guimarães 
Rosa), e até de forma implícita em quadros (o “Guernica” de Picasso exprime um 
questionamento da guerra). Grandes cientistas (como Einstein) formularam 
questões filosóficas. Os filósofos, ou seja, os seres humanos reconhecidos como 
tais, são (ou foram) aquelas pessoas para as que essa vontade de examinar as 
convicções para melhor viver é constante, abrange diversos aspectos da sua 
existência e os leva a formular doutrinas que ficam para a posteridade. O filósofo 
é aquela pessoa que faz do filosofar a sua ocupação principal e permanente. 
 Entre os diversos assuntos que podem ocupar uma mente filosófica está 
como vocês já sabem o tema do conhecimento, mais especificamente, as razões 
ou critérios de que dispomos para distinguir entre o que “achamos” e o que 
verdadeiramente sabe-se um tema que vocês estudaram na disciplina Teoria do 
Conhecimento e que constitui sem dúvida uma questão filosófica central. Kant 
afirmou que a filosofia “em sentido mundano”, não “escolar”, reduzia-se a quatro 
questões: Que podemos conhecer?; Como devemos agir?; Que nos cabe 
esperar?; e: Que é o homem? Como não querer saber em que consiste saber? 
Mas o saber ou conhecimento tem como vocês já estudaram diversas 
14 
 
 
modalidades (conhecimento proposicional e perceptivo, direto ou indireto, saber 
enunciativo e saber-fazer). 
 A essas modalidades vamos acrescentar agora tipos ou classes de 
conhecimento tendo como pano de fundo a vida cultural. Como vocês 
provavelmente sabem, a palavra cultura designa, em seu sentido antropológico, 
o modo de vida de uma comunidade. Usado na sua máxima abrangência, 
“cultura” designa o modo de vida do ser humano, em geral, à diferença dos 
outros animais. A cultura inclui modos de pensar, de valorar e de agir, bem como 
os produtos, materiais ou abstratos, dessas atividades (tanto uma panela quanto 
um teorema são produtos culturais). 
 No que tange o âmbito do pensamento, isto é, da maneira como os seres 
humanos compreendem (ou acreditam compreender) o mundo, é possível 
distinguir entre o conhecimento vulgar, possuído por qualquer membro de uma 
dada sociedade, e conhecimentos específicos, vinculados a determinadas 
profissões ou ocupações. Na sociedade atual, cuja cultura resultou da 
universalização da cultura europeia moderna, o conhecimento científico tem, 
sabidamente, uma posição de privilégio. A referência à sociedade “atual” e à 
“universalização” da cultura “europeia” como se fossem expressões incontestes 
é provisória. 
 A ciência é praticada em determinadas organizações sociais e em locais 
específicos (institutos de pesquisa, universidades, laboratórios industriais), 
utilizando-se amiúde de instrumentos sofisticados e exigindodiversos recursos 
(financeiros, humanos, materiais e simbólicos). Dizer que a ciência é uma 
atividade, e social, implica reconhecer que a ciência é algo que fazem 
determinados seres humanos em conjunto e até em equipes. Até o pesquisador 
que trabalha em aparente isolamento depende para seu trabalho da informação 
e da opinião de colegas com os quais compartilha determinadas convicções e 
propósitos. 
 Os cientistas não apenas têm ideias acerca do seu objeto de pesquisa, 
mas também formulam, aceitam ou rejeitam ideias, utilizam instrumentos e 
julgam teorias, hipóteses ou dados como adequados, bem confirmados, 
confiáveis, duvidosos etc. 
15 
 
 
 A ciência é, pois, uma atividade, e essa atividade estão 
institucionalizadas, ou seja, configura uma estrutura social permanente (à 
maneira como são instituições o Estado, a família ou a educação), à qual cabe 
uma função na manutenção da sociedade. Cabe lembrar que isso nem sempre 
foi assim: em outras épocas e culturas não houve uma instituição dedicada à 
produção sistemática desse tipo de conhecimento que denominamos científico, 
considerado desejável e até imprescindível. Em outros tempos, a produção 
desse conhecimento foi casual, ou praticada por poucos homens, ou não 
considerada relevante, ou até hostilizada. 
 Na nossa sociedade ocorre o contrário: a ciência tem um lugar de 
destaque na cultura. Ela é considerada imprescindível, como forma de ampliar o 
saber confiável, como produtora de saber útil nas suas aplicações tecnológicas, 
como elemento precioso na educação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
 
História da Filosofia da Ciência 
 
 Nossa disciplina é, conforme o critério utilizado, muito antiga ou 
relativamente novo. Ela é antiga, pois já os filósofos gregos a cultivaram, de 
algum modo, ao refletirem sobre o conhecimento humano. Constituem um 
exercício embrionário de filosofia da ciência, bem como de metafísica, as 
doutrinas de Pitágoras (sobre os números) e dos atomistas. No entanto, o 
primeiro precursor da filosofia da ciência foi Aristóteles, que, principalmente na 
sua obra Segundos Analíticos (uma das partes do Organon), se ocupou de 
caracterizar a epistême, o saber seguro, obtido metodicamente, à diferença da 
mera opinião (doxa). 
 Para Aristóteles, uma autêntica epistême (palavra que podemos traduzir 
por ciência), consistia na obtenção de conclusões certas deduzidas de primeiros 
princípios auto evidentes como verdadeiros. Para Aristóteles, portanto, o 
conhecimento científico tinha o caráter de verdade necessário, uma noção de 
ciência que haveria de perdurar no Ocidente durante dois mil anos. De particular 
importância dentro do que podemos denominar a teoria aristotélica da ciência é 
a sua doutrina das quatro causas (material, formal, eficiente e final) 
imprescindíveis para a existência de qualquer coisa, outra noção que teve longa 
aceitação. 
 Apesar dessa contribuição, não existia no sistema aristotélico uma 
disciplina denominada filosofia da ciência, o que se compreende porque, para 
ele e para a generalidade dos filósofos antigos e medievais, o que nós 
denominamos ciências (por exemplo, a física) fazia parte da filosofia, a ciência 
primeira e mais importante. Isso explica que, até o século XVIII, as pesquisas de 
física fossem chamadas de “filosofia natural”. A ocupação dos filósofos com o 
saber científico durante a Antiguidade e a Idade Média coincidiu assim com suas 
reflexões ou teses sobre o conhecimento, subordinadas a questões de ontologia 
e metafísica. Na Idade Média, estavam subordinadas também a questões 
teológicas. 
17 
 
 
 O interesse filosófico pela ciência modificou-se grandemente quando do 
surgimento da ciência experimental moderna (séc. XVII), cujo modo de indagar 
a Natureza era diferente da maneira em que os filósofos procuravam 
compreendê-la. À medida que a prática da física e da astronomia, inicialmente, 
e da química e da biologia mais tarde, começou a produzir conhecimentos 
aceitos como verdadeiros e que se mostravam úteis (na mineração, na 
engenharia, na navegação, na guerra), o contraste entre filosofia e ciência 
instalou-se de um modo que perdura até hoje. 
 À parte o mérito da utilidade (o saber filosófico tinha sido sempre 
entendido como contemplação desinteressada da realidade), o novo tipo de 
conhecimento impressionava os filósofos pelo consenso que produzia entre os 
pesquisadores e pelo acúmulo de informações confiáveis sobre o mundo que ia 
gerando. Tudo isso, à diferença da filosofia, ou melhor, dos diversos sistemas 
filosóficos em perpétuo conflito entre si. 
 Esse conflito endêmico havia alimentado, desde a época dos gregos, 
posições céticas com relação ao conhecimento da Natureza (incluindo a 
natureza humana). Mas agora, isto é, no início do que denominamos Idade 
Moderna, um novo tipo de atividade gerava um conhecimento sobre o qual não 
parecia possível haver dúvidas. É verdade que a nova ciência foi sendo 
estimulada também por escritos de filósofos que criticavam a aparente 
esterilidade do saber cultivado nas Universidades, que se reduzia a conservar, 
repetir e comentar as obras de grandes mestres, a começar pelo próprio 
Aristóteles. 
 Esses filósofos reivindicavam um novo tipo de saber, procurando 
fundamentá-lo teoricamente. As duas figuras principais e emblemáticas desse 
período são as de Francis Bacon e René Descartes (1596-1650). O primeiro 
escreveu, entre outros livros, o Novum Organon (novo instrumento do saber), em 
explícita oposição ao Organon de Artistóteles. Bacon pregava a necessidade de 
que o cientista se pusesse em guarda contra os pré-conceitos (“ídolos”, na sua 
terminologia) que impediam alcançar autêntico conhecimento dos fatos naturais, 
pré-conceitos esses que incluíam a excessiva reverência com relação aos 
autores famosos. 
18 
 
 
 Bacon insistia também na importância de acompanhar as observações da 
Natureza com experimentos, ou seja, modificações 
sistemáticas dos fenômenos, que permitissem 
descobrir seu modo de produção. Já Descartes, em 
seu famoso Discurso do Método (de significativo 
subtítulo: “para bem conduzir a razão e encontrar a 
verdade nas ciências”), colocou as bases da atitude 
racionalista analítica da ciência moderna. Sem 
desdenhar a importância da observação, Descartes 
enfatizou a importância das matemáticas na ciência 
natural, uma importância reivindicada também (na 
teoria e na prática) pelo seu contemporâneo Galileu Galilei (1564-1642) ao 
afirmar que “o livro da Natureza está escrito em caracteres matemáticos”. 
 Enquanto reflexão sobre o conhecimento humano, vista como prévia ao 
tratamento de todo assunto filosófico, surgiu com a Idade Moderna e constitui 
um dos seus fenômenos culturais característicos. Pois bem, pode considerar-se 
que as reflexões epistemológicas modernas, enquanto inspiradas pela 
emergência da ciência moderna, representam um segundo antecedente da 
disciplina que atualmente denominamos filosofia da ciência. 
 De Descartes a Kant (séc. XVIII), os filósofos refletiram sobre a “ciência” 
(scientia, em latim), sobre um saber bem fundamentado em que queriam poder 
incluir a filosofia, ou mais precisamente a metafísica, o (desejado) conhecimento 
da realidade “em si mesma” e seus “primeiros princípios”. Essa tentativa, como 
vocês já estudaram, mostrou-se impossível, na medida em que Kant, ao explicar 
o sucesso das ciências empíricas pela razão de que as mesmas se limitam ao 
mundo “fenomênico” (isto é, à realidade tal como ela aparece condicionada pelas 
nossas estruturas “transcendentais”), mostrou que a tentativa da filosofia 
metafísica tradicional era inatingível. 
 A Crítica da Razão Pura (complementada pela Crítica da Razão Prática 
no que tange ao âmbito da moral) equivaleu adeclarar que tão somente as 
pesquisas matemático-experimentais mereciam ser reconhecidas como 
“ciência”, como autêntico saber. Essa conclusão foi 
endossada (ainda que rejeitando os argumentos 
Figura 2 Auguste Comte 
19 
 
 
kantianos no que diz respeito a uma “subjetividade transcendental”) pelo 
Positivismo, sobretudo na sua formulação por Auguste Comte (1798-1857). 
 Refiro-me também aqui a um assunto que vocês já estudaram, e devem 
lembrar que para Comte (conforme a sua pretensa “lei dos três estados” da 
evolução do conhecimento humano), a ciência empírica especializada, que 
renuncia à pretensão de um saber absoluto, totalizador e definitivo, dedicando-
se estabelecer fatos e leis que permitam explicá-los e predizer a sua ocorrência, 
representava a forma madura, adulta, do saber humano. A ciência, substituindo 
a religião e a metafísica, devia guiar e fundamentar a organização da sociedade, 
cada vez melhor graças ao progresso científico, técnico e industrial. 
 A filosofia de Comte (bem como a de outros positivistas como John Stuart 
Mill) constitui um terceiro momento significativo na evolução do que ainda não 
se denominava “filosofia da ciência”. É o momento de glorificação do saber 
científico, que não cessava de expandir-se (durante o século XIX, além do 
crescimento e diversificação interna das ciências naturais dá-se a constituição 
das ciências sociais tais como hoje as conhecemos: sociologia, história, 
antropologia, psicologia etc). 
 Mesmo sem ter essa denominação, a filosofia de Comte é já filosofia da 
ciência (embora não apenas isso). Comte não apenas situa o saber científico na 
evolução social da humanidade, como se detém em identificar os traços desse 
saber: a renúncia a especular sobre entidades não observáveis, o controle da 
imaginação pela observação, a substituição da noção de causa pela de lei e, 
sobretudo, o caráter relativo e progressivo de toda explicação científica. 
 Esses atributos davam razão, para Comte, da superioridade da ciência 
sobre o saber vulgar e a legitimidade com que devia tomar o lugar que 
ocupavam, ainda naquela época, as ilusões metafísicas e religiosas. Durante a 
segunda metade do século XIX e começo do século XX, fizeram contribuições 
isoladas à filosofia da ciência diversas cientistas e filósofos (de formação 
científica). Entre os primeiros podemos lembrar Claude Bernard (1813-1878), 
William Whewell (1794-1866) e Pierre Duhem (1861-1916). 
20 
 
 
 Entre os filósofos, Ernst Mach (1838-1916) (que ocupou uma cátedra de 
epistemologia), Hans Vaihinger (1852-1933) e Alfred North Whitehead (1861- 
1947). 
 A profissionalização da filosofia da ciência começou, no entanto, pelos 
esforços dos filósofos do “Círculo de Viena” (Rudolf Carnap, Otto Neurath, Moritz 
Schlick etc), sustentadores da posição filosófica conhecida como empirismo 
lógico ou neopositivismo, que já lhes foi apresentada na disciplina de 
epistemologia. 
Os empiristas lógicos tinham por objetivo substituir a 
filosofia tradicional, de cunho metafísico, por uma nova 
concepção da filosofia, entendida como a atividade de 
analisar a linguagem científica tendo como ferramenta de 
análise a nova lógica matemática. 
 Por isso, no coração da filosofia da ciência estavam para eles os 
problemas do significado das expressões linguísticas e da verificação das teorias 
(problemas que retomaremos no capítulo II). Esta maneira de filosofar, 
denominada “filosofia analítica”, tornou-
se dominante nesta disciplina e típica 
da filosofia da ciência em língua 
inglesa. Para isso contribuiu a 
dispersão dos pensadores do Círculo 
de Viena, vários dos quais eram judeus, 
quando da ascensão do Nazismo. Eles 
emigraram para Inglaterra, Escandinávia e os Estados Unidos. 
 Os empiristas lógicos e os filósofos da ciência por eles influenciados (como 
Carl Hempel e Ernst Nagel) cultivaram uma filosofia da ciência de caráter 
marcadamente lógico, independente de questões históricas e psicológicas. Ou 
seja, para eles o filósofo não se devia ocupar da evolução histórica da ciência ou 
com as circunstâncias sociais em que surgiram as teorias. Tampouco era 
assunto filosófico a maneira de pensar ou as crenças, motivações e atitudes dos 
cientistas produtores do conhecimento científico. Aos empiristas lógicos está 
associada por isso a noção de que a filosofia da ciência se propõe a reconstruir 
21 
 
 
a lógica da ciência (mediante a análise das expressões em que se formula o 
conhecimento científico). 
 Cabe mencionar que na França a filosofia da ciência teve um caráter 
diferente, mais ligado à consideração da história e da prática efetiva dos 
cientistas. O principal representante desta maneira de filosofar foi Gaston 
Bachelard (1884-1962). Simultaneamente aos esforços do Círculo de Viena 
foram surgindo as ideias de outro pensador austríaco, também ele emigrado da 
sua pátria por algum tempo: Karl Popper (1902-1994). 
 Este autor, ainda que em diálogo com os empiristas lógicos, criticava 
diversas teses dos mesmos, principalmente a convicção daqueles filósofos de 
que a ciência nada tinha a ver com a metafísica e que a filosofia da ciência 
consistia na análise da linguagem científica. Para Popper, a nossa disciplina 
tinha por missão identificar a lógica da pesquisa (esta expressão corresponde ao 
título da obra mais importante de Popper), concebendo 
a produção do conhecimento como um processo 
evolutivo movido pela interação das teorias propostas para explicar os eventos 
e o teste das mesmas, que pode resultar na sua rejeição – “Conjecturas e 
refutações” (o título de outro dos seus livros): eis a mola propulsora do “jogo” da 
ciência, segundo Popper. 
 As teorias científicas, por sua vez, ainda que diferentes das doutrinas 
metafísicas (conforme veremos melhor no capítulo IV) incluíam para Popper 
suposições metafísicas e/ou derivavam de doutrinas metafísicas. Dessa 
maneira, a filosofia da ciência, tal como praticada por Popper e seus seguidores 
(os que se autodenominaram “racionalistas críticos”), tornou-se uma disciplina 
mais abrangente da complexidade da ciência, extrapolando a pura análise da 
linguagem científica. 
 No entanto, Popper manteve a distinção entre a filosofia da ciência e 
outras disciplinas que tem por objeto a atividade científica: história, psicologia e 
sociologia da ciência. Isso fez com que, apesar das diferenças, o empirismo 
lógico e o racionalismo crítico compartilhassem a convicção de que a filosofia da 
ciência se ocupa exclusivamente com o “contexto de validação” (ou de 
“justificação”) das teorias, e não com o “contexto de descoberta”. 
Figura 3 Gaston Bachelard 
22 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Definição: Sociologia 
 
 Todos os dias as pessoas, em qualquer parte do mundo, realizam atos 
bastante simples, necessários à vida: consomem alimentos, cultivam a terra, vão 
e voltam do trabalho, levam os filhos à escola, conversam com os amigos, fazem 
exercícios físicos, enfrenta o trânsito caótico das metrópoles, a vida calma das 
pequenas cidades. São atos tão rotineiros que na maioria das vezes são 
executados de forma mecânica, como se não tivessem consciência de que os 
estão realizando. Por um momento apenas vamos nos colocar como 
observadores de tais cenas cotidianas. 
 Pode ser que a nossa reação fosse de simples registro das pessoas e dos 
seus atos. Assim, não perceberíamos nada de diferente no mundo dos homens. 
Pode ser, contudo, que por alguma razão nos motivássemos a ir além da 
percepção mais imediata das pessoas e dos seus atos. Por exemplo, perceber 
23 
 
 
que embora os atos realizados sejam semelhantes – ir ao trabalho – as pessoas 
que os realizam são diferentes; ou, ao contrário, que pessoas semelhantes 
realizam trabalhos diferentes. A partirdessa questão inicial pode-se ir além: 
perguntar o que faz as pessoas serem diferentes ou porque existem trabalhos 
diferentes. Mais ainda: 
 – As pessoas vão para o trabalho utilizando-se de transporte coletivo ou 
individual; 
– Elas estão vestidas de terno e gravata ou um simples macacão. 
 – Se uma pessoa vai ao trabalho de automóvel e usa terno e gravata pode ter 
alguma ideia da sua renda e assim relacionar o tipo de escola que os seus filhos 
frequentam, diferentemente da pessoa que veste um macacão e se utiliza de 
transporte coletivo. 
 
 A segunda postura, que vai além do simples registro dos atos observados, 
indica uma forma de pensar que pode ser identificada como sociológica. Pensar 
sociologicamente significa olhar os fatos humanos considerando as relações que 
eles mantêm entre si. Essas relações não são visíveis a um simples olhar; elas 
só podem ser vistas por meio de um olhar conduzido por regras determinadas. 
Desenvolve-se mais um exemplo: o ato de comer um pedaço de pão. Pode ser 
um ato simples de uma pessoa que precisa saciar a fome. Se avançarmos, 
porém, na busca das relações envolvidas nesse ato, a conclusão será 
surpreendente. 
 A primeira questão para construir a relação da pessoa com a coisa (pão) 
pode ser colocada pela pergunta sobre quem é a pessoa? A resposta pode ser: 
trabalhador, empresário, cristão, muçulmano, universitário, analfabeto, entre 
outras. As pessoas são diferentes pelo lugar que ocupam no processo de 
trabalho, pela identidade (visão de mundo), pelo grau de educação, etc. Se o 
pão é um produto do trabalho humano, podemos perguntar como ocorre a sua 
produção: é um processo artesanal ou industrial? No primeiro caso pode ser feito 
por um trabalhador autônomo; no segundo, por um trabalhador assalariado de 
um empresário capitalista. 
24 
 
 
 A matéria-prima – a farinha – é produzida em pequenos moinhos, pelas 
cooperativas ou por grandes empresas capitalistas globalizadas? E o trigo ou o 
milho? Qual o processo técnico adotado? Ele produz destruição do meio 
ambiente? As tecnologias empregadas na produção envolvem relações entre 
países? Em que período histórico elas ocorrem: na era do globalíssimo? Há 
outras possibilidades, no entanto: se o ato de comer um pedaço de pão tem um 
sentido simbólico (um ato religioso, por exemplo). 
 Atualmente muitos sociólogos insistem em que devemos considerar a 
identidade como categoria fundamental para explicarmos os comportamentos 
humanos. Uma análise mais cuidadosa, contudo, evidencia que a Sociologia 
nunca negligenciou esse aspecto. A diferença é que hoje, em razão da revolução 
informacional e da globalização, a identidade gerada tanto pelo trabalho quanto 
pela Nação, por exemplo, estão sofrendo um processo profundo de 
desconstrução. 
 A busca de uma identidade é um objetivo fundamental dos seres humanos 
no momento atual. Enfim, podemos a partir de um ato simples estabelecer o 
conjunto de relações sociais que estão contidas na pessoa e no pão. Como se 
pode depreender do exemplo, as relações econômicas, políticas e ideológicas 
de uma determinada época histórica estão contidas em todos os atos humanos. 
 Esta é a primeira manifestação da natureza do pensamento sociológico: a 
perspectiva da totalidade. As ações humanas não têm condições de existir 
isoladamente. Sempre que alguém realiza uma ação ela repercute sobre outros. 
Se ela aparentemente se dirige para apanhar uma fruta silvestre, por exemplo, 
este ato está carregado de um significado universal na medida em que 
incorporam de alguma forma, práticas humanas anteriores. Uma ação individual 
não existe fora da sociedade ou, dito de outra forma, a sociedade existe em cada 
ação singular. A reflexão feita até agora nos permite expor outra característica 
da Sociologia: a existência da sociedade. 
 A criação da Sociologia deu visibilidade à dimensão social da condição 
humana, portanto permitiu compreender o homem como ser social. O homem 
existe como ser social e não como um indivíduo que existe em si e para si. As 
implicações deste fato são óbvias: os atos de cada indivíduo singular repercutem 
25 
 
 
nos demais indivíduos, cada ação realizada por um indivíduo implica em sua 
responsabilidade social por aquilo que foi feito. A sociedade se torna, assim, o 
palco fundamental das ações humanas. 
 A Sociologia possibilita a compreensão das ações humanas como ações 
sociais, bem como as interações entre as diferentes ações humanas. Uma 
mesma pessoa pode agir como ser-que-trabalha (que faz o pão do nosso 
exemplo), como um ser-cidadão (membro de uma comunidade política), como 
um ser-que-produz-ideias (membro da comunidade científica, por exemplo). 
Podemos fazer a seguinte pergunta: essas dimensões têm a mesma importância 
na constituição do ser social ou há dimensões condicionantes das demais? 
 O desenvolvimento da Sociologia demonstrou que essa pergunta 
comporta diferentes respostas, que determinaram a formação de diferentes 
teorias sociológicas. Antes de aprofundarmos a problemática das teorias 
sociológicas cabe ainda a explicitação do papel mais profundo da Sociologia: o 
autoconhecimento (ou autoconsciência) da sociedade. A criação da Sociologia, 
ao mesmo tempo em que permitiu afirmar o caráter social da condição humana, 
constituiu-se como um conhecimento da sociedade que incide sobre ela, 
exercendo uma ação decisiva na reprodução da sociedade, no sentido da 
conservação ou da transformação das relações sociais vigentes. Obviamente, 
antes da criação da Sociologia havia outras formas de pensamento social, como 
é o caso do contratualíssimo. 
 A diferença fundamental é que o contratualíssimo parte do homem como 
ser natural (o animal racional) que pode estabelecer um pacto (contrato) entre 
todos, criando assim a sociedade civil ou sociedade política, enquanto para a 
Sociologia, como vimos anteriormente, o ser natural já é um ser social, portanto 
a sociedade existe independentemente do contrato. Também a Sociologia é um 
ato social porque os conceitos elaborados não serão conhecidos e empregados 
apenas pelo sociólogo. 
 O grande sociólogo brasileiro Florestan Fernandes denominou esse 
fenômeno de “a natureza sociológica da Sociologia”. Esses conceitos serão de 
alguma forma, disseminados para o conjunto da sociedade, tendo mais ou 
menos influência social. Mais adiante vamos nos referir aos autores que 
26 
 
 
fundaram a Sociologia e por isso os denominamos de “clássicos”. Muitos outros, 
no entanto, escreveram sobre a sociedade, elaborando ideias até mesmo 
originais, mas que não foram apropriadas pela sociedade como as ideias dos 
“clássicos”. Poderíamos formular a seguinte hipótese: além da profundidade da 
análise social feita apelos “clássicos”, ela foi apropriada pelas classes 
fundamentais da sociedade porque sistematizava os interesses das classes de 
forma mais coerente. 
 
O Pensamento de Maquiavel e a Ciência Moderna 
 A Ciência moderna começa a se constituir efetivamente a partir das 
reflexões feitas por Maquiavel (1469-1527) sobre o Estado e a política. As lições 
elaboradas por Maquiavel em O príncipe (1513) e nos Discursos sobre a primeira 
década de Tito Lívio (escritos entre 1513 e 1519) estabelecem uma nova 
maneira de produzir o conhecimento. Maquiavel abandona a ideia de 
estabelecer as coisas como elas deveriam ser, para analisar as coisas como elas 
são. Afirma ele (1998): Sendo meu intento escrever algo útil para quem me ler, 
parece-me mais conveniente procurar a verdade efetiva da coisa do que uma 
imaginação sobre ela. Muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais 
foram vistos e que nem se soube se existiram de verdade, porque há tamanha 
distância entre como se vive e como se deveria viver, que aquele que trocar o 
que se faz por aquilo que se deveria fazer aprendeantes sua ruína do que sua 
preservação. 
 Esta afirmação é confirmada pelo conteúdo dos dois livros citados. Na 
verdade Maquiavel, mediante a observação, estabelece princípios sobre o 
homem e a natureza do Estado, bem como das ações que levaram certos 
“príncipes” a serem vitoriosos e outros derrotados. O fato de os homens serem 
“ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de 
ganhar” determina a necessidade do Estado, como instituição capaz de 
estabelecer alguma ordem entre os homens, que obviamente se transformará 
em desordem, considerando as características imutáveis dos homens. Também 
justifica a necessidade do Estado o fato de existirem duas forças em confronto 
27 
 
 
nas sociedades: “o povo não quer ser comandado nem oprimido pelos grandes, 
enquanto os grandes desejam comandar e oprimir o povo” (1998). 
 A observação detalhada das ações dos grandes homens (governantes, 
chefes militares) e da sua própria, como dirigente da República de Florença, lhe 
permite construir um conjunto de regras necessárias para a conquista e 
manutenção do poder político. Por exemplo, uma regra fundamental para o bom 
governante é considerar que é mais adequado ser temido do que ser amado, 
posto que a condição preferível – uma combinação das duas – é muito difícil de 
ser alcançada. 
 O temor coloca a questão do uso da crueldade; o governante bem-
sucedido não deve ter o escrúpulo de empreender ações cruéis se elas forem 
necessárias para manter o poder do Estado. Deve, no entanto, proceder de 
forma adequada, “quando houver justificativa conveniente e causa manifesta”, 
evitando sempre “atentar contra os bens dos outros”. 
 A violência é, portanto, intrínseca ao governante e ao Estado. 
 Maquiavel emprega duas categorias analíticas para a compreensão das ações 
políticas: virtú e fortuna. Considerando que muitos defendem que as ações 
humanas são governadas pela fortuna e por Deus, Maquiavel posiciona-se da 
seguinte maneira: “já que o nosso livre-arbítrio não desapareceu, julgo possível 
ser verdade que a fortuna seja árbitro de metade de nossas ações, mas que 
também deixe ao nosso governo a outra metade, ou quase” (1998). A fortuna 
pode ser traduzida como sorte ou, mais precisamente, como a indeterminação, 
o acaso. 
 A virtú representa a ação determinada ou o conhecimento da situação. Se 
fôssemos inteiramente governados pela deusa fortuna pouco teria a fazer; como 
somos apenas em parte governados pela fortuna, podemos, por meio da virtú, 
dominá-la. Maquiavel cita o exemplo dos rios caudalosos, que durante as 
enchentes arrasam tudo o que está próximo. Quando volta a calmaria nada 
impede que os homens construam diques para controlar a fúria das águas na 
próxima enchente. O que isso significa? É a efetiva presença da virtú, ou seja, 
da capacidade dos homens observarem um fenômeno natural e inventarem 
estruturas de proteção. 
28 
 
 
 Assim, a fortuna é controlada pela virtú; os homens conquistam sua 
liberdade. A política é uma atividade humana, desvinculada dos deuses e da 
ética; ela é governada pela capacidade dos homens em conhecer e transformar 
o mundo. O governante vitorioso é aquele que é capaz de desenvolver a virtú, 
transformando-se num verdadeiro sujeito do conhecimento e da política. Ele 
precisa conhecer as diferentes forças sociais, a capacidade das mesmas em 
mobilizar recursos para a disputa pelo poder, as estratégias políticas tradicionais 
e novas e, principalmente, conhecer a si próprio, as suas próprias forças. 
 Na modernidade, o governante é o partido político, que tem um plano de 
ação administrativa (programa de governo), capaz de expressar os interesses 
da maioria da população, de tal modo que ela o assume como seu (hegemonia). 
O método de investigação adotado por Maquiavel o coloca como um dos 
precursores da Sociologia. Gérald Namer identifica-o como o fundador da 
Sociologia do conhecimento. É claro que as perspectivas são diferentes: o 
governante, o povo e, contemporaneamente, o sociólogo. O próprio Maquiavel 
adverte para esse problema: “para conhecer bem a natureza dos povos, é 
preciso ser príncipe, e, para conhecer a natureza dos príncipes, é preciso ser 
povo” (1998). 
 Como há sempre uma oposição na sociedade, os conhecimentos são 
relativos e respondem aos interesses concretos do povo ou do príncipe. Além 
disso, há uma dimensão fundamental a ser observado pelo príncipe, que 
sobrepõe o parecer ser ao ser. Essa falta de transparência se manifesta, por 
exemplo, em relação à palavra empenhada para o povo. Como ninguém é 
absolutamente bom, novas circunstâncias podem obrigar o príncipe a mudar de 
posição. 
 É nesse momento que deve aparecer uma habilidade inerente ao príncipe: 
saber disfarçar, ser um grande simulador e dissimulador. Por isso, não é 
necessário que o príncipe efetivamente tenha as qualidades que ele afirma ter, 
como a integridade, a humanidade, a piedade, a fé, a bondade, a convicção 
democrática, etc., “mas é indispensável parecer tê-las”. Por isso, precisa “não se 
afastar do bem, mas entrar no mal, se necessário” (1998). Há duas verdades: a 
do príncipe e a do povo. 
29 
 
 
 
 Poderíamos julgar, apressadamente, que este é o pior dos mundos, na 
medida em que ele nos impede de chegar a um conhecimento universal ou ao 
mundo do “bem absoluto”. 
 Lembremo-nos, porém, de que o príncipe (ou o Estado) é necessário para 
instaurar a ordem no mundo dilacerado pelos egoísmos e os conflitos inerentes 
ao homem. Maquiavel sentencia: 
Como não há tribunal onde reclamar das ações de todos os 
homens, e principalmente dos príncipes, o que conta por fim são os 
resultados. Cuide pois o príncipe de vencer e manter o estado: os 
meios serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque 
o vulgo está sempre voltado para as aparências e para o resultado 
das coisas (1998). 
 
Há várias passagens, no entanto, em que ele afirma o papel decisivo do 
povo na política. O povo aparece como o ator decisivo para a preservação da 
liberdade e da República (“a desunião entre o povo e o Senado de Roma foi a 
causa da grandeza e da liberdade da República”). Também quando afirma que 
um príncipe deve “valorizar os grandes”, ele não se descuida quanto ao papel do 
povo, pois o príncipe não pode “se fazer odiar pelo povo”. Talvez seja inútil o 
esforço intelectual no sentido de encontrar a verdadeira perspectiva teórica de 
Maquiavel. As suas lições indicam a relatividade das posições políticas. As teses 
de que os fins justificam os meios e da violência como instrumento do Estado 
transformaram Maquiavel no grande demônio da política, num símbolo do mal. 
 A obra de Maquiavel sobreviveu, sendo incorporada definitivamente na 
formação do pensamento ocidental. Uma obra nunca produz unanimidade de 
pensamento, por isso ela só pode se destacar pela sua capacidade de despertar 
o pensamento crítico. É assim que se desenvolve o pensamento de Maquiavel. 
A equação política maquiavelizada não tem solução. Mesmo que o povo se torne 
príncipe ele terá de oprimir aqueles que foram seus opressores. A modernidade 
engendrou novas equações políticas e novas soluções, como o Estado 
30 
 
 
democrático de direito, que tem oscilado entre uma forma liberal e outra social, 
e o socialismo. O Concílio de Trento encerra o movimento renascentista italiano. 
O Confronto entre Racionalismo e Empirismo A história da Ciência terá 
ainda novos confrontos importantes. A imagem do mundo construída de 
Copérnico a Newton abre novos confrontos, apesar da condenação de Galileu 
pela Igreja. Dois movimentos importantes vão se constituir: um deles vai colocar 
a necessidade de submeter a experiência ao domínio da razão – o racionalismo 
cartesiano; o outro vai afirmar a experiência como fundamento elimite do 
conhecimento – o empirismo. Descartes publicou, em 1637, uma obra que se 
tornou clássica no pensamento ocidental: o Discurso do Método – para conduzir 
bem sua razão e procurar a verdade nas ciências. 
 A questão que ele analisa refere-se à validade dos conhecimentos 
científicos. Por isso, a problemática do método como condição para buscar a 
verdade adquire um lugar central na reflexão cartesiana. Os conhecimentos 
adequados devem ser “úteis à vida”, considerando a perspectiva de os homens 
tornarem-se “como que senhores e possuidores da natureza”. Descartes para 
estabelecer um método que é o próprio processo de produção do conhecimento. 
Inspirado na Matemática, ele estabelece quatro regras para conduzir a res 
cogitans no seu propósito de conhecer. Na verdade, trata-se de suspender ou 
pôr em dúvida todos os conhecimentos existentes. São elas: 
Jamais aceitar alguma coisa como verdadeira que não 
soubesse ser evidentemente como tal, isto é, de evitar 
cuidadosamente a precipitação e a prevenção; dividir cada uma das 
dificuldades em tantas partes quantas possíveis; conduzir por ordem 
meus pensamentos, a começar pelos objetos mais simples e mais 
fáceis de serem conhecidos, para galgar, pouco a pouco, como que 
por graus, até o conhecimento dos mais complexos; fazer em toda a 
parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse 
a certeza de nada ter omitido (Descartes, 1989). 
Além disso, Descartes estabeleceu uma “moral provisória”, que define o 
contexto em que o pensamento deve operar. Essa questão é importante, pois 
31 
 
 
ela estabelece os limites políticos do conhecimento. Nem tudo o que existe será 
negado. São as seguintes as regras morais: 
Obedecer às leis e aos costumes de meu país, tendo presente 
constantemente a religião; ser eu o mais firme e o mais resoluto 
possível em minhas ações; procurar sempre vencer a mim próprio do 
que ao destino, e de modificar mais os meus desejos do que a ordem 
do mundo; aplicar toda a minha vida em cultivar a razão, avançando, 
o mais que pudesse, no conhecimento da verdade, segundo o método 
que me prescrevera (Descartes, 1989). 
 
Definidas as regras do método e a moral provisória, Descarte começa as 
suas “meditações”. O método adotado implica rejeitar tudo aquilo que é incerto. 
Os sentidos podem nos levar a enganos, ilusões, de modo que nada indica que 
uma coisa realmente exista. Mesmo os raciocínios matemáticos podem nos levar 
a erros. Se a existência de qualquer corpo ou pensamento pode ser posta em 
dúvida, então o que pode ser considerado verdadeiro? Descartes responde: 
Concluí que, enquanto eu queria pensar que tudo era falso, 
cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. 
E, notando que esta verdade “penso, logo existo” era tão firme e 
segura que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam 
capazes de abalá-la, julguei que podia aceitá-la sem escrúpulo como 
o primeiro princípio da Filosofia que procurava. 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
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