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Conforto Ambiental e Ecodesign - Unidade 1 Apresentação da Disciplina O que significa conforto ambiental e ecodesign? Neste livro, você vai entender os conceitos básicos desses temas, os quais estão relacionados com condições térmicas, luminosas e energéticas, tendo em vista os projetos arquitetônicos. Na primeira unidade, intitulada Noções de Conforto Ambiental e Ecodesign, vamos começar a tratar dos fatores que podem interferir no conforto dos indivíduos dentro e fora do edifício. Abordaremos os vários aspectos da reutilização de materiais e a importância da sustentabilidade ocorrer com o uso de matérias-primas sustentáveis, por exemplo. Serão tratadas a definição de ecodesign, a sua eficiência, as razões para o reuso de elementos e seu o uso consciente. Ainda, nesta unidade você estudará os benefícios, a relevância, as características e as certificações do design sustentável, bem como a construção de materiais renováveis e o uso do bambu, do ecomosaico e de ecoplacas. Relação homem e ambiente é o tema da segunda unidade, onde explicaremos a influência do clima na arquitetura e qual a importância de se conhecer o clima local para realizar um bom projeto. Abordaremos como essa relação vem se modificando e como é possível ao ser humano se adaptar às diferentes condições ambientais. Conheceremos também o processo de evolução urbana e como ela se relaciona com as noções de conforto e quais são seus impactos no consumo de energia. Além disso, conceitos-chave, como conforto, sustentabilidade e eficiência energética, serão apresentados também nessa unidade. Por sua vez, a terceira unidade vai tratar do Zoneamento e arquitetura bioclimática e as estratégias de controle ambiental, abordando alguns métodos de análise do clima, algumas ferramentas gráficas, o uso da carta solar e dos programas de simulação. Você terá um panorama quanto ao consumo energético gerado pelas edificações no Brasil e às conquistas já alcançadas com o uso da energia solar e dos sistemas fotovoltaicos. Será detalhada ainda nessa unidade a análise do conforto de várias cidades brasileiras, buscando estabelecer os critérios para proporcionar maior conforto nas edificações habitacionais. Para além disso, também serão abordados o papel da vegetação como um elemento significativo para o conforto ambiental e algumas vantagens e desvantagens da relação entre vegetação e arquitetura. E, finalmente, na quarta unidade, Soluções Ecológicas, será apresentado o uso do gesso ecológico na arquitetura de interiores. Você também aprenderá sobre o tijolo de solo cimento, bem como sobre a utilização de luminárias em LED e de materiais recicláveis e reutilizáveis, como tecido e cortiça, madeiras de demolição, garrafas PET e papelão. Por fim, será destacada novamente a importância da sustentabilidade ocorrer com o uso de matérias-primas sustentáveis. APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR JOSÉ STROESSNER SILVA CRUZ É graduado em Geografia na área de Urbanismo, pela a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em Educação Ambiental, pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE) e mestre em Geociêcias, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Além disso, possui experiência na área ambiental desde 2008, atuando em trabalhos de utilização e confecção de materiais ecologicamente corretos, palestras e análises de riscos ambientais. Ainda, leciona em cursos técnicos e superiores na área ambiental desde 2010. Presidente do Conselho de Administração: Janguiê Diniz Diretor-presidente: Jânyo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos: Joaldo Diniz Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Introdução Olá, estudante! Tudo bem? Bem-vindo(a) à Unidade 1: Noções de Conforto Ambiental e Ecodesign. Nos capítulos 1 e 2, você vai conhecer os conceitos básicos de conforto ambiental, relacionados às condições térmica, luminosa e acústica. Além disso, entenderá a relação entre o edifício e o seu entorno próximo, bem como a construção desse edifício, que pode interferir no meio ambiente e vice-versa. Posteriormente, nos capítulos 3 e 4, você vai estudar a respeito do modo como o ecodesign pode influenciar positivamente nos ambientes, trazendo baixo impacto ambiental e exclusividade. Nessa unidade, também serão tratados alguns materiais renováveis: o bambu, as ecoplacas e os ecomosaicos. Não se esqueça de participar das atividades, acessar os vídeos e os links disponíveis para aprimorar seus conhecimentos. Bons estudos! Objetivos da Unidade Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos. Conhecer os conceitos básicos de conforto ambiental. Aprender como as condições térmicas, lumínicas e acústicas interferem no bem-estar das pessoas. Compreender a importância do ecodesign para o desenvolvimento sustentável e a exclusividade dos produtos oferecidos pelo designer de interiores. Noções de Conforto Ambiental O estudo do conforto ambiental é essencial para alcançar propostas de projeto arquitetônico que sejam compatíveis com as condições ambientais locais. Veremos aqui alguns conceitos básicos e tipos de abordagens distintas. Nesse sentido, grande parte da bibliografia sobre o assunto define o conforto ambiental como uma avaliação relacionada à subjetividade, dependente de fatores físicos, fisiológicos e psicológicos. O termo também possui sentido amplo e costuma ser dividido em áreas específicas. 1.1 Conceitos básicos Muitos são os parâmetros usados na avaliação do conforto do homem. À vista disso, podemos dizer que o conforto ambiental está relacionado às sensações humanas, à qualidade de vida e ao bem-estar. Mas é algo difícil de se mensurar, pois se trata de uma avaliação pessoal e subjetiva e, portanto, apresenta várias dimensões diferentes de conforto. Os sentidos, o tato, o olfato, a visão e a audição, trazem ao ser humano as sensações térmicas, visuais e auditivas e, consequentemente, definem o grau de satisfação de uma determinada pessoa. Você já deve ter observado em um dado momento, dentro de uma sala ou de um ambiente qualquer, que algumas pessoas se queixam do calor enquanto outras estão satisfeitas ou até sentem frio. Por outro lado, às vezes, o som de uma música pode lhe atrapalhar num certa tarefa, já em outro momento, você deseja colocar aquela mesma música no ambiente. Isso acontece, porque conforto é uma avaliação pessoal e abstrata, então, dependendo da pessoa, momento e lugar, o resultado será diferente. Afinal, como já mencionado, essa subjetividade advém de fatores físicos, fisiológicos e psicológicos (LAMBERTS, 2016). O termo conforto ambiental, visto de maneira bastante ampla, inclui os fatores térmicos, visuais/lumínicos, acústicos, olfativos e de movimento. Para uma avaliação completa do conforto ambiental na arquitetura, consideramos diversos aspectos, como os relativos às sensações: · térmicas; · acústica; · de qualidade do ar; · e de ergonomia/movimento. Figura 1 - Aspectos trabalhados no conforto ambiental Fonte: https://br.pinterest.com/pin/289848926025236044/?d=t&mt=login O conforto antropodinâmico costuma ser abordado quando se fala em ergonomia e acessibilidade. No entanto, o conforto térmico e o conforto lumínico estão mais relacionados ao consumo energético. Por isso, o estudo desses dois tipos de confortose tornou uma premissa básica para se alcançar a arquitetura sustentável e com eficiência energética. O empenho dos estudiosos no assunto demonstra que é possível descrever e quantificar quais são os principais parâmetros de conforto que realizarão o diagnóstico em determinado local. Conscientes de tantas variáveis, os pesquisadores se esforçam na elaboração de estudos detalhados com medições lumínicas, acústicas e higrotérmicas em diversos ambientes, o que contribui para precisar os resultados das avaliações de modo cada vez melhor. Apesar disto, é possível encontrar abordagens e classificações distintas nos trabalhos de outros pesquisadores; mesmo assim, as maneiras de organizar os conceitos acabam sendo definidas de maneira semelhante. Os softwares existentes ajudam nos métodos e nas avaliações sobre os conceitos e parâmetros. No grupo cultural, incluem-se os fatores de ordem moral, social e histórica. Já no fisiológico, estão os fatores geológicos, luminosos, sonoros, térmicos, espaciais, de movimento e geográficos. Esses elementos ainda passam por outros fatores limitantes, por exemplo, os econômicos e as necessidades de cunho físico e emocional. É importante lembrar que as necessidades emocionais e psicológicas interferem na avaliação do conforto. (BARBOSA, 2002). Nesse sentido, o que de fato preocupa as pessoas é a sensação de desconforto, justamente porque ela incomoda e atrapalha a realização das tarefas do dia a dia. Buscando resolver essa questão, arquitetos e pesquisadores se dedicam a encontrar soluções que eliminem o problema ou, pelo menos, minimizem os seus danos. O desconforto afeta o bem-estar e reduz a produtividade do indivíduo, então, para controlar essa situação desagradável, as pessoas se utilizam de aparelhos de condicionamento do ar, por exemplo, o que se define como a ausência das condições mínimas necessárias ao bem-estar comum; isto também acaba interferindo na saúde, na disposição, na alegria, no humor, entre outros. Figura 2 - Desconforto témico Fonte: retirada do Facebook 1.2 Necessidades ambientais no conforto higrotérmico Desde os tempos mais remotos, no período Paleolítico, o homem busca um local para habitar e se proteger das intempéries e dos animais. Desse modo, as cavernas se tornaram locais de abrigo e conforto para aquela época. Com a busca pelo conforto e igualmente pelo uso do instinto de sobrevivência, hoje, contamos com medições e inúmeras técnicas disponíveis. Os estudos de conforto térmico na atualidade visam, principalmente, analisar e estabelecer as condições necessárias para a concepção de ambientes adequados ao homem nas suas diversas tarefas cotidianas. Contamos com métodos e princípios já estabelecidos para uma avaliação térmica detalhada de um ambiente. Nesse sentido, as trocas de calor ocorrem entre o homem e o meio ambiente e também entre as edificações e o seu entorno próximo. Por isso, segundo Frota et al. (2007), é necessário conhecer os fenômenos de trocas térmicas para melhor compreender o comportamento térmico das edificações. Dito isto, antes de seguirmos adiante, é importante diferenciarmos essas trocas térmicas: as trocas secas envolvem diferença de temperatura, como a convecção, a radiação e a condução; já as trocas úmidas envolvem mudança de estado, como a evaporação e a condensação. Por fim, as trocas térmicas entre os corpos acontecem por meio de uma destas duas condições básicas: a existência de corpos que estejam em temperaturas diferentes e a mudança de estado de agregação. Muitas vezes, utiliza-se o termo conforto higrotérmico no lugar de conforto térmico para expressar o elemento umidade como participante na avaliação do conforto térmico. A sensação de conforto depende não apenas da temperatura do ar, mas também é influenciada pela umidade relativa do ar e pelas trocas de calor do corpo com o ar em movimento. Segundo Lamberts (2016), a importância do estudo de conforto térmico se baseia essencialmente em três fatores: satisfação humana, performance e conservação de energia. Com isso, consegue-se ajustar as condições ambientais, proporcionando uma melhor qualidade de vida e um aumento na produtividade tanto em termos de atividades físicas como de raciocínio, além de haver uma redução do consumo energético que ocorreria com o uso equipamentos de aquecimento e refrigeração. A partir do momento em que determinadas construções aderiram e passaram a optar por desenvolver cômodos mais enclausurados, tentou-se solucionar o problema do desconforto térmico através desse uso de diversos equipamentos e máquinas de condicionamento. Entretanto, o uso desses sistemas mecanizados consumiam muita energia e, consequentemente, aumentavam as cargas térmicas e o custo energético. Desse modo, as variáveis arquitetônicas de conforto serão definidas com base no conhecimento das variáveis ambientais e variáveis humanas, ou seja, conhecendo bem o clima, as condições peculiares do microclima, o perfil dos usuários e função da edificação, teremos as informações necessárias para tomar as decisões construtivas cabíveis. E são essas decisões que determinarão a forma do edifício, os dispositivos de controle, os materiais de construção e acabamento, a cobertura do edifício e todo o tratamento da envoltória da edificação a serem empregues. A claraboia é um exemplo prático de elemento arquitetônico de controle ambiental; ela se trata de uma abertura no alto das edificações que é destinada a permitir a entrada de luz ou a passagem de ventilação e é formada por materiais transparentes que vedam o perímetro da construção por caixilho com vidro ou outro elemento para garantir essa iluminação do espaço interior. Figura 3 — Exemplos de claraboias Fonte: https://www.weg.net/tomadas/blog/decoracao/iluminacao-natural-com-claraboias/ É claro que a forma plástica e a aparência estética do projeto são uma parte importante, mas nem por isso o conforto ambiental deve ser ignorado. As soluções da arquitetura bioclimática não limitam a criatividade do arquiteto como alguns pensam. Saber utilizar técnicas compatíveis para prover o conforto ambiental e a sustentabilidade na arquitetura, considerando ainda a legislação e os fatores humanos envolvidos, exigirá do arquiteto muita reflexão e criatividade, sendo, assim, considerada até uma expressão de arte. Por ser um país de grande extensão territorial, o Brasil detém vários tipos climáticos que, segundo a classificação de Strahler, são: equatorial, tropical, semiárido, subtropical, tropical litorâneo e tropical de altitude. Além disso, uma extensa área tropical abrange os estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sudeste. Para o arquiteto projetar nessas regiões tendo como objetivo principal o conforto ambiental, será necessário se familiarizar com o clima tropical. Corbella et al. (2015) afirma que algumas estratégias de controle ambiental em regiões de clima tropical brasileiro permitem boas condições de habitabilidade. Figura 4 - Climas do Brasil Fonte: https://www.coladaweb.com/geografia-do-brasil/climas-do-brasil-2 Dica Ao se elaborar um projeto de conforto ambiental, é necessário se atentar a determinadas situações, como as apresentadas abaixo: · controle da radiação solar incidente no verão e aproveitamento do Sol no inverno; para isso, será preciso utilizar a carta solar e pesquisar as opções de brise-soleil e outros dispositivos; · redução das áreas envidraçadas nas coberturas e fachadas ou, pelo menos, sombreamento delas; esses elementos favorecem a entrada de luz natural no interior, no entanto, devem tanto ser aplicados com moderação quanto estar bem localizados para não gerar efeito estufa no edifício; · ventilação para reduzir a umidade, renovação do ar interno e resfriamento; prever, nesse caso, a abertura de entrada e saída do ar, preferencialmente de acordo com os ventos predominantes; · isolamento, quando o ambiente for climatizado artificialmente, impedindo a saída do ar interno por frestas ou qualquer outro tipo de abertura. · inserção de paredes com alta inércia térmica, quando fizer partedas estratégias recomendadas no zoneamento bioclimático para aquela cidade; materiais de alta inércia térmica atuam no amortecimento das variações da temperatura externa, assim, essa estratégia pode ser utilizada quando se pretende utilizar a ventilação noturna para resfriamento (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2013); · inserção de paredes com baixa inércia térmica, quando for utilizar o recurso da ventilação natural diurna. Nesse caso, os materiais da envoltória são mais leves. · adequação do projeto aos elementos do entorno, considerando as informações coletadas no diagnóstico microclimático: topografia, vegetação, presença de brisas marinhas, etc. A inércia térmica é uma propriedade dos materiais que está relacionada ao peso, ao calor específico e à condutividade térmica. Esses materiais têm a capacidade de gerar um atraso térmico na variação da temperatura e no amortecimento dessa variação. Por exemplo, o Método Fanger destaca-se entre as tentativas utilizadas na avaliação de conforto térmico. Através de experiências, Fanger elaborou uma equação geral de conforto considerando as variáveis ambientais: temperatura média radiante, velocidade do ar, umidade relativa, temperatura do ar, atividade física e vestimenta. É importante destacar que esse método é mais indicado para ambientes climatizados artificialmente. Durante a sua análise, Fanger avaliou o conforto em pessoas de diferentes nacionalidades, sexos, raças, obtendo o Voto Médio Predito (em inglês, Predicted Mean Vote — PMV) para determinadas condições ambientais. O PMV é um valor numérico que qualifica a sensação humana em relação ao frio e ao calor. Quando o PMV é zero, qualificamos como conforto; quando é negativo, sensação de frio; e quando é positivo, sensação de calor. (LAMBERT et al. 2013). Além do uso da equação, gráficos e tabelas também são usados nesse tipo de avaliação. Atualmente, utilizamos os programas de análise de simulação de conforto térmico: Analysis-BIO e Analysis-CST, os quais substituem esses cálculos. Esses softwares auxiliam no processo de adequação do projeto de arquitetura ao clima local. Para isso, o Analysis-BIO utiliza arquivos climáticos anuais e seus respectivos horários. Confortos lumínico e acústico Os confortos lumínico e acústico são parâmetros distintos de análise do conforto ambiental na arquitetura. Para se chegar a um bom projeto bioclimático, é preciso considerar todas as ações integradas. Não seria sensato prover um bom conforto hidrotérmico, se a proposta traz desconforto acústico ou lumínico. Os seres humanos sentem o ambiente como um todo, isto é, os parâmetros de conforto se fundem no processo avaliativo do usuário, e este traduz numa resposta pessoal de satisfação ou insatisfação naquele momento e naquele lugar. Essa divisão dos “confortos” é utilizada por causa das suas peculiaridades e para facilitar o entendimento. 2.1 Conforto lumínico Todo ser humano possui necessidades lumínicas. Não se vive sem a presença da luz por questões de saúde e de comunicação. O sentido da visão é intensamente solicitado pelas atividades cotidianas, pois traz a percepção de profundidade e a distinção de formas, cores, brilhos e volumes. A luz e as cores influenciam nossas experiências, nosso estado de ânimo e nosso comportamento no tempo e espaço, mesmo que seja de maneira inconsciente. Figura 5 — Diferença entre iluminância, fluxo luminoso e intensidade luminosa Fonte: https://clubarqexpress.com.br/blogs/clubarqexpress/o-que-e-luminancia. Em termos físicos, o espectro eletromagnético é definido como a distribuição das ondas eletromagnéticas a partir dos valores dos comprimentos de onda e da frequência das radiações. Tal distribuição é classificada em luz visível e luz não visível, o que se dá de acordo com a frequência e o comprimento de onda característico de cada radiação. A relação entre a luz e a arquitetura é fundada nos princípios da física. O olho humano capta as ondas luminosas e as transforma em impulsos nervosos que, através do nervo ótico, estimulam o cérebro, onde se processa a interpretação das diferentes intensidades de luz. Assim, a visão espacial depende da saúde dos olhos, do campo visual, da capacidade de acomodação e adaptação do olho e da mobilidade da cabeça. Essa capacidade visual, por sua vez, varia de pessoa para pessoa, podendo ser prejudicada por deficiências visuais, desgaste devido à idade e/ou mau uso da visão. Definição De acordo com Barbosa (2002), o conforto lumínico pode ser definido como resultado da criação de condições para o indivíduo exercer as atividades visuais no espaço arquitetônico com o menor esforço possível e o máximo de acuidade, para, assim, trabalhar com eficiência, rapidez e segurança e proporcionar um ambiente visual agradável. A expressão conforto visual geralmente é utilizada quando se quer avaliar as sensações de maneira mais abrangente, como a visão da paisagem, da composição das cores, das figuras e os fatores psicológicos, que são incluídos na avaliação, além das considerações quantitativas da luz. Os confortos visual e lumínico, portanto, estão relacionados ao bem-estar e à distinção clara dos elementos observados. O conforto lumínico é relativo à quantificação de luz necessária para cada tipo de atividade. Essa quantificação varia de acordo com a função do espaço, o tipo de tarefa, o tempo de execução e a idade das pessoas envolvidas. A orientação em projetos de iluminação e procedimentos para avaliação do conforto lumínico podem ser encontradas em normas. Nesse sentido, a ABNT dispõe de algumas normas que são utilizadas de acordo com o tipo de projeto que se necessita realizar, veja a seguir algumas delas que contemplam o tema da iluminação e do conforto lumínico: · NBR ISO/CIE 8995-1/2013 — Iluminação de ambientes de trabalho; · NBR 5461 – 1991 — Iluminação: terminologia; · NBR 5382 – 1985 — Verificação de iluminância de interiores: procedimento; · NBR 15215 – 2004 — Iluminação natural – Parte 1: conceitos básicos e definições; · NBR 15215 – 2004 — Iluminação natural – Parte 2: procedimentos de cálculo para a estimativa da disponibilidade de luz natural; · NBR 15215 – 2004 — Iluminação natural – Parte 3: procedimento de cálculo para a determinação da iluminação natural em ambientes internos; · NBR 15215 – 2004 — Iluminação natural – Parte 4: verificação e método de medição; · NBR 15575:2013 – Edificações habitacionais — Desempenho. A NBR 15575:2013 (ASSOSCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2013) é uma norma que trata do desempenho de edificações habitacionais com o objetivo de proporcionar o conforto, a acessibilidade, a higiene, a estabilidade, a vida útil da construção, a segurança estrutural e os contra incêndios. É uma norma bem detalhada e está dividida em seis partes: · requisitos gerais; · sistemas estruturais; · sistemas de pisos; · sistemas de vedações verticais internas e externas; · sistemas de coberturas; · sistemas hidrossanitários. A parte 1 da NBR 15575:2013 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2013) estipula níveis requeridos de iluminação natural e artificial visando o desempenho lumínico e estabelecendo alguns critérios. Quanto à luz natural, a norma exige uma quantidade mínima de iluminação no projeto. Todos os ambientes de permanência prolongada, como sala, quarto e cozinha, devem ter no mínimo 60 luxes de luz natural no centro do ambiente; caso tenha 90 luxes, considera-se um nível intermediário de luz natural; se tiver 120 luxes, considera-se um nível superior. A medição nos ambientes pode ser feita por simulações a partir da utilização de softwares, que fazem várias considerações, tais como: latitude, obstruções de sombreamento vindas do entorno, cores no ambiente interno, tipo de vidro nas janelas etc. Outra forma de medição é ir ao local e empregar um aparelho de medição chamado luxímetro. Nessa situação, a norma estabelece uma metodologia para esses procedimentos. A norma também traz recomendações mínimas para os níveis de iluminamento geral para iluminação artificial. Para ambientes como a de sala deestar, o dormitório, o banheiro e a área de serviço, a norma exige um mínimo de 100 luxes. Para a copa e a cozinha é exigido que haja, no mínimo, 200 luxes. Corredores, escadas e garagens cobertas devem ter, no mínimo, 75 luxes. Como premissas de projeto visando o desempenho lumínico, a NBR 15575:2013 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉNICAS, 2013) determina na parte 1, item 13.2.5: Os requisitos de iluminância natural podem ser atendidos mediante adequada disposição dos cômodos (arquitetura), correta orientação geográfica da edificação, dimensionamento e posição das aberturas, tipos de janelas e de envidraçamentos, rugosidade e cores dos elementos (paredes, tetos, pisos etc), inserção de poços de ventilação / iluminação, eventual introdução de domus de iluminação, etc; A presença de taludes, muros, coberturas de garagens e outros obstáculos do gênero não podem prejudicar os níveis mínimos de iluminância especificados; Nos conjuntos habitacionais integrados por edifícios, as implantações relativas dos prédios, de eventuais caixas de escada ou de outras construções, não podem prejudicar os níveis mínimos de iluminância especificados. Dica A falta de um bom projeto luminotécnico pode ocasionar numa quantidade excessiva de luz no ambiente ou aquém da necessária, o que também prejudicará o conforto e o desempenho das tarefas. O posicionamento das luminárias, bem como a escolha das fontes luminosas precisam ser feitas com consciência. Desse modo, para cada tipo de lâmpada e de sistema de iluminação existe uma aplicação recomendada. Aproximadamente 50% da radiação solar recebida na superfície da Terra é qualificada como luz visível, isto é, trata-se de radiação eletromagnética visível aos nossos olhos. A luz natural chega até nós de forma direta (diretamente do Sol), difusa (quando vem da abóboda celeste, não considerando a luz direta do solo) ou refletida (proveniente do reflexo do entorno, também chamado de albedo) (CORBELLA e CORNER, 2015). 2.2 Conforto acústico A audição é um dos sentidos mais importantes na percepção do espaço, na comunicação e no bem-estar. Os sons da natureza se somam aos sons produzidos pelo homem, pelas máquinas e pelos diversos equipamentos com uma série de variações de intensidade e tempo de propagação. O tema é bastante complexo, mas, através do desenvolvimento de pesquisas, já se consegue chegar a recomendações oportunas para a arquitetura, o design de interiores e a construção civil. Você Sabia? A acústica produz um forte impacto na caracterização de um lugar, e no estudo da acústica arquitetônica, encontramos duas áreas de estudo importantes. · Defesa contra o ruído: trata da eliminação ou do amortecimento dos ruídos indesejáveis, sejam de fontes internas, sejam de fontes externas. · Controle dos sons no recinto: visa melhorar a comunicação sonora no recinto e a preservação da inteligibilidade evitando defeitos acústicos comuns — ecos, ressonâncias, reverberação excessiva. O estudo do conforto acústico engloba os princípios básicos de emissão e propagação do som e a interferência das formas como o som no homem, considerando as propriedades acústicas dos materiais, forma e tamanho dos locais, disposição dos diferentes elementos etc. (BARBOSA, 2002). Assim como no conforto hidrotérmico a avaliação pode diferir de uma pessoa para outra, o mesmo acontece no conforto acústico. De acordo com o indivíduo, sua idade, tarefa e momento, a sensação acústica pode ser positiva ou negativa. Um determinado som, a voz humana, um som de pássaros ou uma música, por exemplo, pode ser motivo de prazer em determinado momento, mas em outro momento ser um fator incomodativo. A física define o som como uma perturbação que se propaga nos meios materiais e é capaz de ser detectada pelo ouvido humano. Portanto, o som é uma sensação auditiva gerada por uma onda acústica. A onda acústica, por seu turno, é resultado de uma vibração que gera uma série de compressões e rarefações em um meio elástico, como o ar, a terra ou qualquer tipo de material de construção (BARBOSA, 2002). Um local é considerado confortável acusticamente quando uma pessoa é capaz de realizar as tarefas sem incômodos auditivos e sem sons de interferência, além de ser um local possível de ouvir informações com clareza. Nesse cenário, as interferências sonoras no ambiente são consideradas ruído, e esses ruídos podem advir de fontes internas ou externas à edificação. Por isso, o primeiro passo em uma avaliação acústica, tendo como objetivo a defesa contra os ruídos, é identificar quais são as fontes perturbadoras e onde estão situadas, pois a melhor maneira de combater tais ruídos é na própria fonte, eliminando ou reduzindo a sua intensidade sonora. Quando não for possível, a correção é feita no percurso do som entre a fonte e o ouvinte. Figura 6 — Níveis de decibéis (NBR 15.575) Fonte: https://www.hafele.com.br/pt/info/servi-os/not-cias/desempenho-ac-stico/63843/ Saiba Mais · A ABNT NBR 16313:2014 Acústica — Terminologia estabelece termos e definições em acústica. · Já a ABNT NBR 10152:2017 — Acústica — Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações versa sobre os procedimentos para execução de medições de níveis de pressão sonora em cômodos internos a edificações, os valores de referência de níveis de pressão sonora para estudos e os projetos acústicos de ambientes internos a edificações, em função de sua finalidade de uso, etc. · Por fim, a ABNT NBR15575:2013 faz observações quanto ao desempenho acústico a partir da seguinte recomendação: A edificação habitacional deve apresentar isolamento acústico adequado das vedações externas, no que se refere aos ruídos aéreos provenientes do exterior da edificação habitacional, e isolamento acústico adequado entre áreas comuns e privativas. Além disso, é importante observar os ruídos urbanos e outras fontes externas existentes nas vizinhanças e definir as melhores ações corretivas a fim de dificultar a penetração desses ruídos externos no ambiente. Veja algumas recomendações a respeito de controle do ruído externo e interno. Como estratégias de controle dos ruídos externos, são orientadas algumas ações. · Ação na fonte: caso esteja em desacordo com a legislação local, pode-se procurar meios legais obrigando a reduzir a intensidade sonora. · Ação no percurso: na implantação, a construção deve ser posicionada o mais distante possível das fontes ruidosas urbanas. O tratamento pode ser feito no entorno da edificação, por meio de muros, taludes e vegetação, por exemplo. · Ação na envoltória da edificação: quando não for possível resolver o problema junto às fontes de ruído, pode-se utilizar materiais isolantes nas fachadas da edificação, nesse caso, as esquadrias também precisam ter propriedade isolante. Como a edificação receberá as ondas sonoras, é preciso empregar materiais isolantes que impeçam a entrada do ruído no interior. Pode-se usar materiais refletores de som, que devolvem a as ondas sonoras para fora, ou materiais absorventes, que reduzem a energia sonora incidente das paredes externas. · Ação no interior da edificação: priorizar os ambientes que necessitam de silêncio para o melhor posicionamento, os mais afastados possível das fontes de ruído. Certos ambientes de menores exigências acústicas poderão servir de filtro, sendo posicionados entre a fonte e os demais ambientes que requeiram silêncio. Já como estratégias de controle dos ruídos internos, outras ações são orientadas. · Ação na fonte: a prioridade é, sempre que possível, resolver o problema na fonte de emissão do ruído. A troca de um aparelho ruidoso por um silencioso ou o ajuste dos horários de uso podem resolver o problema. A indústria costuma informar a intensidade do ruído produzido pelos seus produtos, por isso, é necessário se familiarizar com essas medições para saber se o equipamento será ou não um elemento perturbador. O confinamento de máquinas é utilizado em indústrias para que a propagação não se espalhe por toda edificação. Neste caso, é importante ter o devido cuidado com o calor. · Açãono percurso: quando o ruído é produzido dentro da edificação, porém num outro ambiente, procura-se colocar anteparos entre os dois cômodos, por exemplo, corredor, vasos de plantas, jardins internos, armários, estantes com livros. · Ação no interior da edificação: quando o ruído é produzido dentro do próprio ambiente que se deseja ter conforto, é preciso utilizar materiais absorventes do som que irão abafar e reduzir a reverberação sonora. Tapetes, cortinas, almofadas, quadros e forros acústicos costumam resolver bem esse problema. Neste sentido, é importante lembrar que quando o som é absorvido pelo material há uma transformação da energia sonora em energia térmica, portanto, há mais calor no ambiente. É muito comum recorrer a projetos de acústica após a construção ter sido executada, o que gera tratamentos acústicos caros e muitas vezes inviáveis. Por isso, é interessante considerar a questão do conforto acústico desde o início do desenvolvimento projetual para proporcionar melhores resultados. A escolha da implantação, por exemplo, é definida no início, e o posicionamento de certos ambientes ruidosos distantes dos ambientes que necessitam de silêncio também precisa ser observado no estudo preliminar. As sacadas e varandas podem ser uma boa solução de redução sonora, funcionando como ambientes de transição entre o ruído externo e o espaço interno. Outro aspecto importante no conforto acústico é em relação a lei da massa. Quanto maior a massa, ou densidade de uma parede, melhor o seu desempenho acústico; massas maiores reduzem a ocorrência de vibrações e a transmissão sonora pelo sistema de vedação. Sendo assim, o isolamento sonoro de uma parede está ligado à sua massa. DICA É sabido que certos tipos de edificação, como teatro, auditórios, sala de cinema, sala de concerto, igrejas, casa de shows e estúdio de gravação, são projetos específicos, e, para realizá-los, recomenda-se um estudo mais aprofundado e, em alguns casos, com uso de softwares específicos de controle acústico. Entretanto, a definição da forma dos ambientes, o posicionamento em planta baixa e o volume de ar são questões básicas que não podem deixar de ser bem resolvidas no projeto arquitetônico. Nesse sentido, existem gráficos e tabelas próprios para o ajuste do tempo de reverberação nos ambientes e o controle da inteligibilidade. Para cada tipo de projeto, auditório, igreja, estúdio, sala de aula ou sala de reuniões, existe um valor do tempo de reverberação ideal (TR), e o controle se faz através dos ajustes na altura do pé direito e da colocação de materiais absorventes ou isolantes. Os valores de TR ideais estão disponíveis nas normas de acústica NBR 12179:1992 —Tratamento Acústico em Recintos Fechados (ASSOCIAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS, 1992). Noções Gerais de Ecodesign A terminologia do ecodesign surgiu na década de 1990 devido à imprescindibilidade de se conceber produtos que viabilizassem uma criação ecológica que reduzisse os impactos na natureza e aumentasse o ciclo de vida. Dessa maneira, o ambiente formaria elementos importantes dentro de critérios como qualidade, eficiência, estética e funcionalidade. Em face da problemática de concepção de novos produtos e desejos, o pensamento em torno da redução de custos econômicos, ambientais e sociais colocou em voga os benefícios do ecodesign, os quais foram transformados na objetificação de matérias-primas em sua ordem final, isto é, os produtos. Dentre os benefícios do ecodesign, podemos citar: • Produção eficiente (economia de energia e recursos naturais, menor uso de matéria-prima); • Redução das emissões de CO2 (meio de transporte e o consumo dos combustíveis); • Qualidade do produto (materiais duráveis e versáteis); • Consumidores satisfeitos (produtos atrativos para o púbico alvo); • Indústrias sustentáveis (empresas comprometidas com o meio ambiente e com capacidade de inovação tecnológica); • Competitividade no mercado (concorrência entre os fabricantes, resultando em agregação em qualidade nos produtos). Assim, percebemos a relevância do ecodesign por meio da produção, da distribuição e do consumo, de maneira a se adequar a critérios ecológicos. Para tanto, o ecodesign parte das ações da economia circular, a qual agrega valor ao produto e o isenta de resíduos, fazendo com que ele permaneça num circuito com ajustes e os bens sejam reciclados em novas condições. Já a economia linear, comumente vista no dia a dia, parte das ações de compra, uso e descarte. De acordo com Manzini et al. (2002), procurar o equilíbrio entre inovações culturais e tecnologia promove a integração máxima dos processos produtivos e do consumo aos ciclos naturais, o que é chamado de biocompatibilidade. Conforme toda a estrutura em que o design sustentável se encontra, percebemos algumas de suas características, por exemplo: 1. Facilitação do processo de reciclagem, evitando perda do tempo no processo de desmonte; 2. Prolongamento da vida útil do produto e redução do uso de materiais em prol da otimização de energia; 3. Utilização de materiais biodegradáveis; 4. Emprego de inovações tecnológicas; 5. Difusão do conceito de sustentabilidade. Em relação ao desenvolvimento econômico na sociedade, existe, atualmente, a chamada economia verde. Ela fornece os requisitos necessários para a criação de propostas de sustentabilidade, como a geração de materiais reaproveitados na produção, a otimização, a não acumulação e o retorno do material ao local de origem. Reconhecer as origens da cultura sustentável, identificar processos para obter materiais e desenvolver práticas sustentáveis em projetos são premissas para aplicar o reaproveitamento em materiais recicláveis. O grande impacto negativo causado pelo excesso de consumo abarca consigo um aspecto positivo: o desenvolvimento econômico. Por essa razão, é notável a utilização e a distribuição consciente dos recursos em seus vários ramos do progresso, o ecológico, o econômico ou o social. Numa sociedade, conquistar bases sólidas para prospectar um futuro para todos é saber equalizar os espaços e conservar a ética e os direitos ao acesso na mesma ordem sem distinguir qualquer tipo de classe. De acordo com Mazini et al. (2002), o ciclo do consumo sustentável é dividido em quatro etapas. · Pré-produção: obtenção de matéria-prima, produção e transformação dos materiais; · Distribuição: embalagem dos produtos, transporte e armazenamento; · Uso: consumo do produto e manutenção dele; · Descarte: reaproveitamento, reciclagem ou descarte correto. O uso deste ciclo visa melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas, por meio da redução da pobreza, do aumento da competitividade e da redução dos custos econômicos, ambientais e sociais. Na arquitetura e no design de interiores, uma das formas de realização disso é através da escolha pelo ecodesign. Segundo Papaneck (1990), o ecodesign é o desenvolvimento de produtos com baixo impacto ambiental, sem perda da funcionalidade, de modo a reduzir os impactos em toda a cadeia e focar no ciclo da vida. Veja a seguir alguns dos seus benefícios: · facilita a reciclagem; · é duradouro, ou seja, prolonga a vida útil do produto; · utiliza menos material, otimizando energia e o próprio material, além disso, protege recursos e reduz emissões de gases na atmosfera; · utiliza materiais biológicos de um só tipo, sendo ele biodegradável, mesmo sendo derivado do natural; · é multifuncional, reciclável e reutilizável, nesse sentido, um só produto é usado de variadas formas para variadas funções e é fabricado com materiais advindos da reciclagem; · utiliza a inovação no emprego da tecnologia, no intuito de melhorar a eficiência e promover a sustentabilidade; · reduz a emissão de dióxido de carbono (CO2); · transmite uma mensagem ecológica para o mundo, difundindo o conceito de sustentabilidade. Os produtos considerados como de design sustentável são credenciados de acordo com três certificações: Cradle to Cradle — C2C; ISO 14062 e ISO 14001. Essas certificações fornecem base para todo o plano do uso desses materiais dentro do eixo dasustentabilidade. Sendo assim, o tema sustentabilidade se delineia dentro de um sistema em que se conserva e se mantém algo, pretendendo prover uma cultura sustentável que estabeleça uma relação entre as pessoas e o planeta com vistas para a redução de impactos e conservação de recursos. Materiais renováveis e o design de interiores Reconhecer a origem da cultura sustentável, identificar processos para obter materiais e desenvolver práticas sustentáveis em projetos são premissas para a aplicação de materiais renováveis. Além disso, sabemos que o consumo em grande escala é o sustentáculo para o crescimento e desenvolvimento econômico. Porém, este consumo causa impactos negativos no planeta. Por isso, é de grande importância a distribuição consciente dos recursos tanto no âmbito ecológico como no âmbito econômico. Saber conviver com outros indivíduos no meio em que vivemos e, acima de tudo, procurar reduzir os impactos ambientais são as bases para a cultura sustentável, ou seja, é fundamental preceituar o princípio da equidade como um fator ético em que todos têm o direito ao acesso com a mesma ordenação de recursos naturais. Figura 7 — Os benefícios do ecodesign Fonte: https://www.iberdrola.com/compromisso-social/eco-design-produtos-sustentaveis Conforme se dão o caminhar e o desenvolvimento do crescimento econômico vinculados à proteção de recursos naturais e atrelados a questões sociais, como pobreza e segurança alimentar, surge a economia verde, que parte de quatro requisitos para se obter uma sociedade sustentável: 1. produção de recursos renováveis; 2. otimização de recursos não renováveis como o ar, o lixo e a água; 3. redução do acúmulo de lixo e retorno das substâncias aos seus devidos locais de origem; 4. garantia de que as diferentes classes sociais gozem do mesmo espaço ambiental disponível. Para tanto, é indispensável se atentar à chamada hierarquia dos 3 R’s. · Redução de consumo e serviço; · Reutilização do material descartado; · Reciclagem. Brandão (2007) afirma que a redução dos impactos ambientais são um conjunto de fatores sociais e de atuação. Por isso, é importante, diante da utilização de materiais recicláveis, valer-se, por exemplo, de tecnologia limpa, além de também reeducar a própria sociedade. Para o design, essa utilização de materiais recicláveis e reutilizáveis vai além de um projeto elementar: trata-se do planejamento de um sistema, visto que cabem estratégias que englobam fatores para extensão da vida de um produto. Como exemplos disso, temos o descarte correto, o consumo energético adequado, a não contemplação de processos industriais e de transformação e o envolvimento de atores principais na composição do material, como prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, entre outros. O profissional da decoração ou da arquitetura sustentável tem um considerável papel social ao criar um produto ou um serviço dentro de uma sociedade utilizando abordagens heterogêneas nas práticas sustentáveis, por exemplo, arquétipo na escolha de materiais mobiliários e objetos decorativos; além disso, ele faz girar a lógica da sustentabilidade econômica de forma cíclica. Diferentes etapas relacionadas às atividades do design para desenvolver produtos podem causar impactos ambientais, como a escolha de material, o processo de fabricação, a embalagem e o acabamento do produto, o transporte e a geração de resíduos. Confira abaixo os fatores relacionados à sustentabilidade no design e na construção de interiores. Mobiliária e decoração É por meio da reutilização de materiais feitos com artesanato ou produtos manufaturados que é reduzido o consumo no transporte e é fomentada a economia local. Reutilização de produtos descartados Ao reutilizar um material empregando criatividade nele, pode se apresentar uma nova roupagem e/ou outro tipo de uso para aquela peça ou objeto. As garrafas de vidro são amplamente utilizadas como luminárias, por exemplo. Concepção de um projeto Na fase inicial de um projeto de interiores, desenvolver maneiras que possibilitem o uso de algum espaço, de modo a economizar energia natural, é de grande valia, como a utilização de uma janela ou de uma esquadria para aproveitamento da luz natural, por exemplo. Seguir diretrizes de certificações ambientais Umas das certificações mais propagadas no meio do design sustentável se chama LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que significa Liderança em Energia e Design Ambiental; ou seja, é uma entidade que preconiza critérios ao consumo de energia e ao ciclo de vida sustentável dos materiais, assim sendo, cada certificação avança no nível de sustentabilidade em cada projeto, sendo Silver, Gold e Platinum. Abaixo exemplificamos dois grupos de materiais, mas no decorrer do texto citaremos vários outros. 4.1 Bambu O bambu, no que se refere às fontes renováveis e ao consumo consciente, tem uma ótima relação custo-benefício. Ele possui diversas aplicações, na construção civil, na arquitetura, no design e até na moda, e o seu uso se vincula à sua grande durabilidade. Conforme diz Recht (1994), o bambu possui um sistema de raízes, colmos e galhos abaixo da terra, e qualquer uma das três partes tem a mesma composição alternando entre nós. Cada nó é envolvido por uma folha de caule que protege e se fixa ao nó anterior e ao anel do caule. Devido à leveza, à resistência e à durabilidade, o bambu se torna um material excelente e renovável. No entanto, o conhecimento científico aprofundado em relação ao bambu se torna indispensável, pois a quantidade de espécies, o tratamento e as formas para a sua produção influenciam na inserção dele nessas temáticas. Além disso, temos normas técnicas que direcionam o uso adequado deste material para cada ocasião. Também é necessário alçar a interdisciplinaridade que o material dispõe, pois suas características fazem com que ele seja empregado tanto in natura como processado. Assim, a diversificação e a tecnologias são elementos que impulsionam o uso do bambu, principalmente, no que tange às áreas de arquitetura, construção e design, visto que ele tem um grande aproveitamento e potencial. Alguns autores informam que existem mais 1000 espécies de bambu, por isso há esta característica de rápido crescimento. O Brasil, por sua vez, possui uma ampla variedade de espécies, e nele também se verifica uma disseminação da cultura do bambu. No país, notamos que há uma formação de redes para divulgar o uso do bambu, como: · A Organização Mundial do Bambu (WBO); · A Rede Brasileira de Bambu (RBB) e os seus desmembramentos estaduais; · A Associação Americana de Bambu e a Associação Australiana de Bambu (ABS); · A Rede Internacional para o Bambu e Rattan (INBAR); · A Agência Bambu de Conhecimento (ABC). Ao estudarmos a respeito da cadeia de produção do bambu, descobrimos o seu ciclo de vida, que é dividido nestas etapas: 1. Silvicultura: plantio normalmente desenvolvido em solos arenosos e com boa drenagem. 2. Colheira: momento em que se extrai o bambu, de preferência nas épocas secas do ano. 3. Pós-colheita: processo de limpeza das varas (remove folhas e seca), com duração em trono de 4 meses; em seguida, ele é tratado contra pragas e novamente seca. 4. Processamento: transporte do bambu seco. 5. Industrialização: processo de transformação do bambu, no qual a matéria-prima é modificada para produção elaborada de industrialização. O bambu industrializado no design de interiores pode se mostrar em formato de lâminas ou de placas, que se distinguem em: placa de aglomerado, placas de OSB, placas de MDF, placas de bambu prensado, o compensado de bambu e a placa de bambu laminado colado. Esse uso do bambu se assemelha à produção da madeira, ou seja, são feitos os cortes, os tratamentos e a secagem do bambu e, logo em seguida, ocorre a colagem, a prensa, a montagem e o acabamento com verniz. Em relação à utilização do bambu na arquitetura e no design de Interiores, as tramas de bambu são largamente usadas em peças de decoração, desse modo, além de revestir o ambiente, com esse toque rústico, anaturalidade imposta pelo bambu traz aconchego ao ambiente. Já o laminado é usado na fabricação de piso, que lembra o piso de madeira, porém, apresenta menor custo e maior resistência contra a umidade e o risco. Existe também o uso do laminado para confeccionar imobiliários, pois o bambu dá elasticidade aos objetos e faz com que eles adquiram formas curvilíneas. Figura 8 — Ideias para usar o bambu Fonte: https://sustentarqui.com.br/ideias-sustentaveis-para-usar-o-bambu/. As alternativas para usar o bambu em projetos de interiores são variadas tanto em áreas residências quanto comerciais; a rusticidade que este material produz garante ao ambiente um toque sofisticado e moderno, além de transmitir naturalidade e conforto. Confira a seguir alguns dos seus usos. Bambu como divisória, parede ou muro: utilizado com o intuito de separar espaços, fazer parte de cômodos como o lavabo, separando a pia do vaso sanitário, ou estar em cima da pia da cozinha, separando-a da área externa. Bambu como cobertura: utilizado geralmente em ambientes externos como varandas. Bambu para a decoração de parede: misturado com uma iluminação amarela, cria um ar intimista. É comum vermos esse tipo de decoração em spa, pois fornece um ar de tranquilidade para o ambiente formando painéis entre um ambiente e outro. 4.2 Ecoplacas e ecomosaicos As ecoplacas e os ecomosaicos entram no rol de materiais que visam a redução dos impactos ambientais por serem provenientes de materiais reciclados. No caso das ecoplacas, normalmente usam-se plásticos, embalagens, alumínio, papel; tratam-se de placas que possuem dimensões e espessuras diferentes. Com isso, é possível fazer a moldagem conforme o tamanho no local onde serão inseridas. Figura 9 - Exemplo de utilização de ecoplacas Fonte: https://oglobo.globo.com/ela/decoracao/novos-revestimentos-ecologicos-exploram-texturas-materiais-reciclados-renovaveis-16951928. Este material é comumente usado como divisórias e forros; por ter resistência acústica e térmica, as ecoplacas são usadas como superfícies que vedam áreas, possuem baixa absorção da umidade. O método usado para construir é a seco, isso faz com que o consumo de água sejam baixo, reduzindo, consequentemente, outros materiais e o tempo, no caso de uma obra. Dica Como mencionado, as indicações de uso das ecoplacas são para divisórias, vedações, na confecção de mobiliário e algumas peças. A manipulação deste material se dá de maneira semelhante a de uma placa de madeira, podendo ser parafusada e cortada. Todo este aparato que envolve e constrói a ecoplaca é revestido por uma dupla de materiais: o plástico, dando um visual com transparência ao mostrar a coloração da ecoplaca, isto é, a matéria-prima, fazendo com que ela disponha de inúmeras colorações na mesma placa; e o revestimento com papel cartão duplo ou sanduíche, que possibilita outros tipos de acabamento, como pintura, textura, argamassa. Já o ecomosaico, é um material que é extraído do restante das pedras de grandes placas, como as rochas. Ao sofrer o beneficiamento ou o polimento da peça, a pedra bruta é transformada numa peça polida; logo, suas características se referem à própria matéria-prima e à similaridade entre ela e o produto final. Assim, as dimensões das pedras residuais se tornam irregulares, fazendo com que a peça transformada adquira um estilo rústico e uma variedade de cores e texturas. O manuseio do ecomosaico se dá de forma artesanal, com a reutilização dos materiais, e o processo manufaturado não chega a transformar a utilização do produto, pois o revestimento conceituado de início será empregado novamente. É para potencializar o uso do ecomosaico que as pedras são dispostas de maneira que formem um mosaico irregular. Além disso, a superfície a ser aplicada pelo ecomosaico deverá ser firme e resistente, pois o peso das pedras pode sucumbir a extensão, e para assentar, é necessário utilizar cimento com argamassa. O ecomosaico é ideal na utilização do revestimento de superfícies, como revestimento de pisos e paredes. Encontramos muito este tipo de revestimento em varandas antigas. Como o processo é manual e é um costume ter cautela ao inserir cada peça, o tempo para o produto final ficar pronto pode ser longo. Por isso, usar peças ortogonais pode ser uma boa solução, mas o repasse delas peças no mercado é pouco veiculado. Outra vertente desse uso é a confecção de objetos feita por meio do mesmo método de revestir superfícies, como bancos e mesas. Sintetizando A relação do meio ambiente fica muito clara quando percebemos que para haver um bom conforto não basta apenas ter um imóvel que respeite os padrões construtivos e um mobiliário moderno e confortável, mas é necessário também que as questões ambientais sejam consideradas. Assim, o imóvel terá um conforto ambiental que proporcionará um diferencial em termos de qualidade vida e valor aos seus moradores e ao planeta. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152:2017. Acústica — Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. São Paulo, 2017. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12179:1992 – Tratamento Acústico Em Recintos Fechados. São Paulo, 1992. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-3: Desempenho térmico de edificações. São Paulo, 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16313:2014. Acústica – Terminologia. São Paulo, 2014. ATENÇÃO, arquiteto! Conforto acústico é lei! Hafele. Disponível em:https://www.hafele.com.br/pt/info/servi-os/not-cias/desempenho-ac-stico/63843/.Acesso em: 15 de jul. de 2021. BARBOSA, A. L. G. M. Conforto e qualidade ambiental no habitat do idoso. 2002. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Rio de Janeiro, 2002. BARBOSA, A. L. G. M. Conforto Ambiental: Introdução ao Conforto Ambiental na Arquitetura. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/92632574/conforto-ambiental-material-ava-uni-01> Acesso: 31 de agosto de 2021. BRANDÃO, M. L. F. Design sustentável: o uso da matéria-prima renovável: um estudo de caso da produção do couro vegetal no norte do Brasil. 2007. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-28052010-150924/pt-br.php. Acesso em: 14 abr. 2020. 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Além disso, apreenderá alguns conceitos-chave, como os de conforto, de sustentabilidade e de eficiência energética, e conhecerá o processo de evolução urbana, sabendo como esta se relaciona com as noções de conforto e quais são seus impactos no consumo de energia. Bons estudos! Objetivos da Unidade Conhecer melhor a relação e a influência que há entre o clima e a arquitetura. Entender como o homem se adapta e se relaciona com o ambiente. Aprender sobre a evolução urbana e a relação dela com o conforto. Compreender conceitos-chave como sustentabilidade e eficiência energética. Introduzir o conceito de cartas bioclimáticas. Humanidade e ambiente O ser humano sempre dependeu do ambiente para sobreviver. Porém, com o passar do tempo, a interação com ele vem se modificando. De acordo com Mesquita et al. (2017), os povos primitivos consideravam a natureza como um sinônimo de Deus; enquanto no Antropocentrismo prevalecia o entendimento de que a natureza era um objeto que deveria satisfazer às necessidades humanas. Por último, já na visão mais atual, percebe-se que há uma dependência entre o ser humano e a natureza. No entanto, com a utilização e a exploração indiscriminada dos recursos ambientais, a humanidade gerou um grande desequilíbrio ecológico, resultando em diversas mudanças climáticas. Isso acentuou a preocupação com a preservação do meio ambiente, surgindo, então, estratégias a serem adotadas que visam mudar a relação do homem com o ambiente. Dentre essas estratégias, temos as seguintes: · redução do desperdício de comida; · economia da água; · diminuição da poluição; · utilização fontes renováveis de energia; · aumento da eficiência energética; · desenvolvimento de hábitos de consumo mais conscientes. A relação da humanidade com o ambiente também pode ser analisada numa escala mais próxima: o ser humano busca o conforto ambiental, que consiste num conjunto de condições que o permitam experienciar as sensações de bem-estar acústico, antropométrico, olfativo, visual e térmico. É importante ressaltar que, principalmente no que diz respeito ao conforto térmico, existe uma influência do ser humano, das questões fisiológicas e das ações dele no ambiente. Isso posto, urge a questão da sustentabilidade, que deriva da relação com o desenvolvimento sustentável. Esse desenvolvimento se estabelece na formação de um conjunto de ideias, estratégias e outras atitudes que, com frequência, dizemos ser ecologicamente corretas, socialmente justas e, até mesmo, economicamente praticáveis. De acordo com Claro et al. (2008, p. 289-290): O termo sustentabilidade está cada vez mais presente no ambiente empresarial. A definição de sustentabilidade mais difundida é a da Comissão Brundtland (...), a qual considera que o desenvolvimento sustentável deve satisfazer às necessidades da geração presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Essa definição deixa claro um dos princípios básicos de sustentabilidade, a visão de longo prazo, uma vez que os interesses das futuras gerações devem ser analisados. Ainda segundo Claro et al. (2008), a maioria dos estudos sobre sustentabilidade afirma que ela é composta por três dimensões que se inter-relacionam: a econômica, a ambiental e a social. Veja a seguir as suas definições. Dimensão econômica Inclui não só a economia formal, mas também as atividades informais que proveem serviços para indivíduos e grupos e que aumentam, assim, a renda monetária e o padrão de vida dos indivíduos. Dimensão ambiental Estimula empresas a considerarem o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente, pela forma de utilização dos recursos naturais, e contribui para a integração da administração ambiental na rotina de trabalho. Dimensão social Corresponde ao aspecto social relacionado às qualidades dos seres humanos, como suas habilidades, dedicação e experiências, abrangendo tanto o ambiente interno da empresa quanto o externo. À vista disso, a sustentabilidade é entendida como a conservação e, até mesmo, como a manutenção de um determinado cenário, que vai prevenir possíveis ameaças. Esse conceito é algo que ouvimos com frequência nos últimos trinta anos, e a cada período percebemos o quanto é necessário fazermos a nossa parte para a salvação do planeta. Nesse sentido, quando atrelamos a sustentabilidade a um projeto arquitetônico, estamos pensando na redução do esgotamento de recursos. De acordo com Sustentarqui (2018), um projeto arquitetônico sustentável deve: · reduzir, ou evitar completamente, o esgotamento de recursos críticos, como energia, água, terra e matéria-prima; · prevenir a degradação ambiental causada por instalações e infraestruturas; · construir ambientes que sejam habitáveis, confortáveis, seguros e produtivos. O pensamento sustentável é uma das preocupações mais decorrentes deste século, quando se trata da construção civil. Nos últimos anos, muitas empresas brasileiras e estrangeiras têm trabalhado investigando materiais sustentáveis. O objetivo desses centros é criar alternativas para a substituição dos plásticos em embalagens. Assim, a harmonia entre o meio ambiente e a indústria de construção é um grande desafio para a construção sustentável. Para tanto, o conceito de sustentabilidade deve guiar todas as etapas do projeto construtivo, incorporando, por exemplo, o uso de materiais sustentáveis que proporcionem menor impacto no meio ambiente. Sustentarqui (2018) também destaca os seis princípios fundamentais da sustentabilidade que devem orientar a arquitetura sustentável, princípios esses que veremos nos tópicos a seguir. Aperfeiçoar o potencial da edificação A criação de edifícios sustentáveis começa com a seleção adequada do local, considerando a reutilização e/ou a reabilitação de edifícios existentes. A localização, a orientação e o paisagismo de um edifício também afetam os ecossistemas locais, os métodos de transporte e o uso de energia. O local de um edifício sustentável deve reduzir e controlar o escoamento de águas pluviais. Otimizar o uso de energia Com o crescimento dos recursos de combustíveis fósseis e das preocupações a respeito da independência e da segurança energéticas, além do fato dos impactos das mudanças climáticas globais estarem se tornando mais evidentes, é importante encontrar maneiras de reduzir a carga de energia, aumentar a sua eficiência e maximizar o uso de fontes renováveis nos seus imóveis à venda. Proteger e preservar os recursos hídricos Como a construção modifica fundamentalmente as funções ecológica e hidrológica das terras não construídas, um edifício sustentável deve procurar minimizar a cobertura impermeável criada por meio de práticas que possam reduzir esses impactos. Por isso, a água deve ser consumida de maneira eficiente, reutilizando-a ou reciclando-a para uso local, quando possível. O esforço para levar água potável para as nossas torneiras domésticas consome enormes recursos energéticos nos processos de bombeamento, transporte e tratamento. Muitas vezes, substâncias químicas potencialmente tóxicas são empregadas para tornar a água potável, e, além disso, os custos ambientaise financeiros do tratamento de esgoto são muito significativos. Otimizar o espaço de construção e o uso de materiais Com o crescimento da população mundial, o consumo de recursos naturais continuará a aumentar e a demanda por bens e serviços adicionais continuará a reduzir os recursos disponíveis. Desse modo, os materiais utilizados em um edifício sustentável minimizam os impactos ambientais do ciclo de vida de um prédio, como o aquecimento global, o esgotamento de recursos e a toxicidade, reduzem os impactos na saúde humana e no meio ambiente e contribuem para a melhoria da segurança e da saúde dos trabalhadores e para redução dos custos de descarte. Melhorar a qualidade ambiental interna A qualidade ambiental interna de um edifício tem um impacto significativo na saúde, no conforto e na produtividade dos ocupantes. Dentre outros atributos, um edifício sustentável maximiza a iluminação natural, tem ventilação e controle de umidade apropriados, otimiza o desempenho acústico e evita o uso de materiais com emissão de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs). Otimizar as práticas operacionais e de manutenção Considerar questões operacionais e de manutenção de um edifício durante a fase de projeto preliminar de uma instalação contribui para a melhoria dos ambientes de trabalho, para uma maior produtividade, para a redução de custos de energia e de recursos e para a prevenção de falhas no sistema estrutural. É importante, também, incentivar os operadores de edifícios e o pessoal de manutenção a participar das fases de projeto e desenvolvimento, a fim de garantir as operações e as manutenções ideais do edifício e de seus recursos, como as instalações de águas pluviais, projetadas para reduzir o impacto do edifício sobre o solo. Segundo o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), a população urbana mundial, hoje em dia, já é cinco vezes maior, em relação aos anos de 1950, além do número de pessoas que vivem nas grandes cidades também já superar a quantidade de indivíduos no meio rural. Assim, a aglomeração populacional cresce aceleradamente nas grandes regiões metropolitanas, e a perspectiva, segundo a mesma instituição, é que o meio urbano reúna 75% dos indivíduos, em 2050 (ONU-HABITAT, 2018). De acordo com Dias (2016), as cidades são alvos de grandes processos migratórios, o que resulta em mudanças nos espaços urbano-arquitetônicos e em transformações nas suas características climato-geográficas. Consequentemente, as metrópoles se tornam cada vez mais inseridas em um crescimento insustentável. Por isso, para amenizar os impactos gerados no entorno urbano, seria necessário adotar, conforme o autor (2016, p. 15) diz, “o planejamento de uma boa arquitetura, adaptada ao local que está inserida”. Se o tema da sustentabilidade na Arquitetura tem influenciado novas abordagens, na Arquitetura de Interiores também marca presença tanto na parte estrutural como nos acabamentos internos e externos para revestimentos e luminotécnica. Saiba Mais O descarte de materiais é certamente um dos fatores que geram o aumento de resíduos que serão excretados nos aterros sanitários. Muitos deles vêm da construção civil, por isso, existe a necessidade de criar projetos com materiais duráveis e robustos, de modo que haja menos desperdício. 1.1 Evolução urbana Desde que os povos nômades resolveram se fixar, a evolução urbana começou a crescer (e continua) em um ritmo cada vez mais acelerado. A prática da arquitetura e do desenho urbano vem se modificando ao longo dos anos, tornando necessário o entendimento dessas transformações que compõem a evolução urbana para entender sua relação com o conforto e com a energia. Nos primórdios, não existia, ainda, a figura do arquiteto, de modo que eram utilizados conhecimentos empíricos, transmitidos de geração em geração para construir a chamada arquitetura vernacular. Romero (2001) afirma que, ao observar esse tipo de arquitetura, é possível notar como o ser humano fazia naturalmente o seu abrigo, tornando-o perfeitamente adaptado e em harmonia com o meio. Muitas vezes esse abrigo e a paisagem do ambiente se confundiam por estarem muito associados. Ferreira (1999), por sua vez, declara que essa arquitetura é genuína, pura, correta e livre de estrangeirismos. Já Lambertz et al. (2013) diz que ela ensina muitos conceitos, técnicas e princípios sustentáveis e bioclimáticos, os quais podem ser usados em edificações que buscam uma alta eficiência energética. Para eles, o primeiro desses princípios era, na maioria das vezes, aproveitar as características desejáveis do clima e evitar as indesejáveis. Figura 1 — Exemplo de arquitetura vernacular, oca indígena no Xingu (Brasil) Fonte: ugreen.com.br. De acordo com os mesmos autores, foi na Roma antiga que surgiu o primeiro sistema de aquecimento artificial conhecido. Nele, era utilizada a queima de madeira e carvão em fornalhas, porém, esse sistema era insustentável, visto que as reservas de madeira se esgotavam. Então, foi necessário que eles buscassem tecnologias mais sustentáveis para construir num local onde o sol era considerado a principal fonte de calor. No início desse processo, Plínio, um escritor da época, construiu sua casa utilizando a técnica solar dos gregos antigos, que consistia em priorizar a captação do sol durante todo o dia, uma técnica que ele batizou de Heliocaminus. Essa lei versava que qualquer objeto que obstruísse a passagem da luz solar em uma casa criaria sombra onde o próprio sol era absolutamente necessário, o que configuraria uma violação do direito ao sol do heliocaminus. Para se aprofundar um pouco mais nesse assunto, acesse o seguinte link: https://staticsshoptime.b2w.io/sherlock/books/firstChapter/6843657.pdf Já os arquitetos Paladio e Faventino, escreveram manuais de técnicas com enfoque sustentável, os quais hoje denominamos de técnicas de autoconstrução. Elas incluíam a reutilização da água, o aproveitamento do calor dos banhos quentes e do calor solar, além da utilização de cores escuras, para absorver o calor, e de cores claras, para refletir o calor. Lambertz et al. (2013) também fala sobre o que hoje é definido como a primeira legislação ambiental que se tem notícia: uma lei no século VI, que tratava da importância do acesso solar e foi registrada pelo imperador Justiniano. Lambertz et al. (2013) ainda cita outros povos que adaptavam suas construções ao clima, por exemplo, alguns povos no norte da China e na Tunísia, que construíam habitações subterrâneas para se proteger dos extremos de temperatura; ou os habitantes do deserto do Colorado, nos Estados Unidos, onde as habitações eram protegidas pelas encostas de pedra, evitando o sol no verão e garantindo o sol no inverno; ou em Sevilha, na Espanha, onde toldos sombreavam as ruas, um artifício que é utilizado até hoje em algumas ruas, durante o verão. Até o Período Gótico, o artesão e o arquiteto trabalhavam juntos, isto é, a concepção e a construção eram simultâneas. Nesse período, surgiram novas técnicas estruturais que permitiram mais aberturas nas paredes. No mesmo contexto, a partir do Renascimento, o arquiteto se desvinculou do artesão, o que afastou o projetista de um rico vocabulário de soluções arquitetônicas da época e limitou o conhecimento que, antes, na Arquitetura vernacular, era passado de pai para filho. Lambertz et al. (2013) mostra que a Revolução Industrial trouxe novos materiais, como o aço e o concreto armado, que desafiaram a tradição de construir em alvenaria de pedra, um costume que existia desde o Egito Antigo. Todavia, essa tradição construtiva persistiu até a Segunda Guerra Mundial e, a partir dela, grandes transformações econômicas, sociais e técnicas mudaram a arquitetura drasticamente. No período entre guerras, surgiu o Estilo Internacional, o que transformou totalmente os conceitos da arquitetura. Durante esse tempo, Le Corbusier lançou as ideias da planta livre, do esqueleto estrutural, do terraço-jardim, dos pilotis e do Modulor. Este último relaciona as proporções do homem ao espaço arquitetônico projetado.Entretanto, Lambertz et al. (2013) cita que, depois das ideias lançadas por Le Corbusier, os arquitetos passaram a apenas reproduzir as ideias se atentando para questões mais estéticas do que propriamente funcionalistas. Em paralelo, avanços em áreas particulares do processo de construção, como o conforto ambiental, já não eram mais assimilados pelos arquitetos. Nesse sentido, foi Mies van der Rohe quem trouxe as cortinas de vidro e criou um verdadeiro ícone de edifícios de escritórios. Figura 2 — Pavilhão de Mies van der Rohe, Barcelona (Espanha) Fonte: Miguel(ito), Shutterstock, 2020. O conforto é um fator extremamente importante e indispensável, por isso, para que o ser humano possa viver em um local, é necessário se adaptar ao clima. Para tanto, utilizam-se mecanismos como a arquitetura, que, ao longo do tempo, ganhou cada vez mais importância quando se trata de conforto. Cabe ressaltar a relevância do conforto não apenas nas edificações, mas também nos espaços abertos da cidade, incentivando, assim, o seu uso e gerando vitalidade urbana, que impacta na segurança, na economia e no bem-estar. Ao analisar a evolução da Arquitetura e das cidades, fica claro que a maioria das mudanças e evoluções surgiram da busca por mais conforto. No entanto, chegou um momento em que a internacionalização da arquitetura e a preocupação apenas estética fizeram com que o conforto ambiental não fosse mais uma premissa sem a adequação do edifício ao clima. Com isso, os sistemas artificiais passaram a ser largamente utilizados na busca pelo conforto que havia sido perdido, e, a partir daí, a relação da evolução urbana com o conforto passou a impactar no aumento desenfreado do uso da energia. Por fim, Lambertz et al. (2013) afirma que a consequência disso tudo é que o edifício-estufa foi exportado como símbolo de poder, com seus sistemas sofisticados de ar-condicionado e megaestruturas de aço e concreto; mas não foi readaptado para as características culturais e climáticas dos locais em que seriam implantados, dificultando, então, o conforto e aumentando muito o consumo energético. 1.2 Impacto da edificação no meio ambiente Atualmente, após um longo período de produção arquitetônica de alto consumo energético e momentos de crise a nível mundial, verifica-se que há precisão de mudança no sistema. Construir com o clima não é mais uma posição ideológica, mas uma necessidade quando se analisa o panorama mundial da evolução do consumo em relação à disponibilidade de energia. (MASCARÓ, 1991). Nesse sentido, a construção civil interfere, de modo direto, no meio ambiente. Os projetos arquitetônicos e urbanísticos, quando não bem planejados, podem causar um impacto ambiental negativo, prejudicando a qualidade de vida da população. Esse impacto ocorre tanto pelo consumo de recursos naturais e energéticos quanto pelos seus efeitos poluidores. (BARROSO-KRAUSE, C. et.al, 2012) Devido à crescente industrialização e aos costumes da sociedade contemporânea, as pessoas passam grande parte de suas vidas em ambientes fechados e condicionados artificialmente. Sendo assim, é fundamental conhecer os parâmetros relativos ao conforto térmico a fim de se evitar desperdícios com o uso do ar-condicionado para calefação ou refrigeração, muitas vezes desnecessários. (LAMBERTS, 2016). O sistema econômico, o estilo de vida contemporâneo e a evolução demográfica, relacionados ao crescimento de edificações residenciais, impactam de diversas maneiras no consumo energético do Brasil. Segundo Gonçalves et al. (2015), a ampliação dos recursos energéticos com utilização de fontes renováveis se tornou uma preocupação no mundo contemporâneo. A partir dos anos 1990, as discussões sobre o impacto ambiental de edifícios ganharam peso na agenda de muitos países. Atualmente, os edifícios procuram aproveitar e valorizar sua relação com o meio externo, pelo aproveitamento do ar fresco e da luz natural, pelo contato entre o ambiente interno/externo ou pela visão da paisagem. (GONÇALVES et al., 2015). A partir da conferência RIO 92 e da Agenda 21, a atenção ao desenvolvimento das cidades e as questões ambientais se tornaram temas de pesquisas e de políticas públicas em vários países. (BARROSO-KRAUSE et.al., 2012). Fruto da conferência internacional Eco-92 realizada no Rio de Janeiro e sistematizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Agenda 21 se caracteriza por ser um conjunto de resoluções. Nessa conferência, participaram 179 países, os quais se comprometeram a tomar medidas para conciliar o crescimento econômico e social com a preservação do meio ambiente. Cada país definiu quais seriam suas premissas, visando o desenvolvimento sustentável com esse compromisso de preservar o meio ambiente. Os objetivos da Agenda 21 e os temas abordados têm ligação com nossos estudos sobre o conforto ambiental e a arquitetura sustentável. Veja alguns exemplos: • Proteção da atmosfera; • Planejamento e ordenação no uso dos recursos da terra; • Combate ao desmatamento das matas e florestas, à desertificação e à seca; • Controle dos diversos tipos de resíduos; • Educação como forma de conscientização para as questões ambientais. Esse assunto vem sendo discutido até os dias de hoje, como pôde ser observado nos encontros e preparativos para a conferência Rio+20, ocorrida em 2012. A Rio+20 propôs uma agenda moderna, do século 21, com uma visão que apontou a intersecção entre o desenvolvimento sustentável e as áreas ambiental (clima, perda de biodiversidade), social (desemprego, desigualdade) e econômico-financeira. Nessa conjuntura, para superar a crise energética no Brasil, a produção de eletricidade teve que crescer muito. Esse cenário trouxe os inconvenientes do impacto ambiental causado por novas usinas, o que gerou, por sua vez, as inundações e o deslocamento da população para que houvesse a instalação de hidrelétricas. Somando-se a esses fatores, ocorreram altos investimentos do governo, aumento da poluição e dos riscos com a segurança pública (termoelétricas e nucleares). A partir de todas essas informações, é possível concluir que é mais barato economizar energia do que fornecê-la. Definição As decisões de projeto com propostas mais eficientes e sustentáveis incluem, por exemplo, o aproveitamento da iluminação natural, a ventilação, as energias solar e eólica, a vegetação na cobertura e no entorno da edificação, o reuso da água e a escolha de materiais abundantes na região para evitar gastos com transporte. É papel do arquiteto e do designer de interiores considerar esses aspectos a fim de propor uma arquitetura com conforto ambiental e eficiência energética. A concepção de projeto arquitetônico é responsável pelos índices de conforto térmico, lumínico, acústico, de qualidade do ar e de mobilidade. É preciso ter em mente como se dá a interdependência entre o edifício e o ambiente urbano e quais são as relações entre o interior e exterior na concepção dos edifícios (GONÇALVES et al., 2015). Outro importante aspecto no estudo da arquitetura e do meio ambiente está na escolha dos materiais de construção; tais materiais são processados antes de serem utilizados na obra e de se tornarem parte do edifício, e durante esse processamento, há um consumo de energia e geração de resíduos (ROAF et al., 2006.). É diante desse quadro de tomada de consciência a respeito das relações entre a edificação e o meio ambiente que renasce uma arquitetura preocupada com a integração ao clima local, que visa uma construção centrada no conforto ambiental do ser humano e na sua repercussão no planeta, a arquitetura bioclimática. 1.3 Efeito estufa e ilha de calor O efeito estufa, gerado na atmosfera e no interior das edificações, e a ilha de calor, gerada nas grandes metrópoles, representam sérios desafios para os dias atuais. Como arquitetos, urbanistas e profissionais da construção civil, precisamos estar atentos a esses fenômenos que são comuns no mundo contemporâneo. A princípio, o efeito estufa é um fenômeno natural que possibilita a vida humana na Terra; parte da energia solar que chegaao planeta é refletida e retorna ao espaço, enquanto outra parcela é absorvida pelas águas dos oceanos e pela superfície terrestre, promovendo o seu aquecimento. O problema disso decorre de mudanças que estão ocorrendo na concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, em função de ações humanas insustentáveis que elevam a emissão deles. Na arquitetura, o efeito estufa se refere à retenção de calor dentro das edificações, algo que é proveniente da produção de uma arquitetura hermética e da utilização de vidros captadores da radiação solar. O uso de materiais transparentes, como vidros e policarbonatos, nas fachadas de edificações, sem o devido cuidado com a quantidade de energia solar retida no ambiente interno, tem sido uma das grandes causas do desconforto térmico, principalmente em climas quentes como o do Brasil. A utilização descuidada dos vidros na envoltória da edificação é também um dos fatores que mais se destacam quanto ao consumo excessivo de energia para refrigeração e condicionamento do ar. Esses materiais se caracterizam por seu comportamento específico em relação à radiação solar. Sabe-se que a indústria de vidros evoluiu bastante, e já se produzem vidros com a capacidade seletiva de filtrar a radiação térmica, deixando entrar no meio interno um percentual maior de radiação visível e bloqueando a radiação de aquecimento térmico. No entanto, esses vidros são mais caros e nem sempre são compatíveis com a realidade econômica do consumidor. Definição Considera-se a envoltória da edificação, ou envelope construído, todo o material de conexão entre o meio externo com o interno do edifício, ou seja, são os vedos, as paredes das fachadas, as portas de entrada, as janelas, o telhado e os demais materiais utilizados na cobertura daquela construção. Por estarem em contato direto com as intempéries, eles são os que mais influenciarão no conforto interno, podendo ajudar ou prejudicar a qualidade ambiental. Para compreender o efeito estufa na arquitetura, vamos começar por uma introdução sobre o comportamento dos vidros simples e o seu desempenho térmico na construção. É importante saber que a radiação solar vinda do meio externo incide nesses materiais transparentes em ondas curtas. Essa radiação, por seu turno, é transmitida pelos vidros para o interior e, ao penetrar nos ambientes, é absorvida pelas superfícies internas, provocando elevação de sua temperatura e, consequentemente, emitindo uma radiação de onda longa. Já o vidro, por se tratar de um material opaco para a onda longa, não permite a devolução desse calor ao meio externo, a menos que se abram as janelas. A esse fenômeno de acúmulo de energia térmica no interior dos edifícios é que chamamos de efeito estufa. Já a ilha de calor, é um termo usado para se referir a determinadas áreas urbanas, nas quais há um aumento da temperatura das superfícies em comparação com o entorno da cidade. Esse fenômeno ocorre devido ao excesso de construções, à diminuição das áreas verdes nas cidades, ao cobrimento do solo pelo asfalto e ao alto índice de poluição, o que provoca esse aumento da temperatura nas áreas urbanas. Segundo alguns pesquisadores, o aquecimento urbano é um fenômeno regional cuja ocorrência depende das condições climáticas e das características do tecido urbano. A melhor forma de combater este efeito é plantando árvores por toda a cidade, arborizando as ruas e reservando algumas áreas para parques, praças e jardins. (RODRÍGUEZ-ÁLVAREZ, 2016). O plantio de árvores contribui de diferentes formas para a solução do problema térmico, como, por exemplo, ao propiciar o sombreamento. Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), as regiões sombreadas pelas árvores e pela vegetação em geral podem reduzir em até sete graus a temperatura, quando comparadas às áreas ensolaradas. Por essa razão, a arborização é um procedimento de enorme contribuição no combate ao fenômeno da ilha de calor nas cidades. Assim, com a redução do calor, consegue-se tanto diminuir a necessidade do uso de aparelhos para a refrigeração nos ambientes internos quanto a quantidade de energia gasta para o controle ambiental térmico, o que, consequentemente, diminui a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. A evapotranspiração das plantas é outro ponto positivo do combate à ilha de calor. Chamamos de evapotranspiração a soma da evaporação da água pela superfície do solo com a transpiração das plantas. Nesse processo, as árvores liberam vapor de água na atmosfera, interferindo no microclima local, e refrigeram naturalmente o ambiente, contribuindo, também, com a purificação da água e do ar atmosférico. Quanto ao ar, elas absorvem o óxido e o dióxido de nitrogênio, o dióxido sulfúrico e outros poluentes que costumam elevar a temperatura local e, ainda, têm a capacidade de limpar os poluentes atmosféricos. Quanto à purificação da água, ao envolver o solo, as plantas funcionam como um filtro natural e retentor de águas, ajudando no escoamento das águas e evitando o problema das enchentes. Logo, quanto mais árvores presentes nas cidades, melhor será o escoamento de água durante as tempestades. Um ciclo vicioso tem ocorrido no meio urbano, como é mostrado na figura abaixo. O modo desordenado de ocupação das grandes cidades ocasiona a elevação das temperaturas locais e, como consequência, entramos num ciclo vicioso. A elevação da temperatura incrementa o uso de equipamentos de ar-condicionado, assim, mais energia é utilizada, mais gases do efeito estufa são emitidos e mais produtos químicos são lançados. Além disso, também são destruídos a camada de ozônio e o próprio ozônio. Isso tudo resulta num aquecimento global e num aumento da temperatura, ou seja, resulta num ciclo contínuo e prejudicial ao meio ambiente. Em face dos desafios do aquecimento global e das ilhas de calor, indica-se que faça a edificação como um abrigo contra as mudanças climáticas e que se utilize fontes renováveis de energia, como as tecnologias solares e eólicas. A figura a seguir mostra uma sequência contínua dos quatro momentos do ciclo do efeito estufa. Figura 3 — Ciclo do efeito estufa Fonte: elaborada pelo autor (2020). Arquitetura e o Clima Antes de iniciar um projeto arquitetônico, é essencial fazer um estudo do local e do clima. Essa investigação fornece informações básicas para a elaboração do programa de necessidades. De acordo com Lambertz et al. (2013), um projeto arquitetônico bom deve, através das informações obtidas na análise climática e formuladas no programa de necessidades, atender à eficiência energética e ao conforto do usuário simultaneamente. À vista disso, a arquitetura deve ser cada vez mais sustentável e entender que a influência que o clima exerce sobre ela tem papel fundamental nessa busca por um desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, conforme Lambertz et al. (2013, p.71) diz, “os fatores climáticos atuam de forma intrínseca na natureza. A ação simultânea das variáveis climáticas terá influência no conforto do espaço arquitetônico construído.” Por essa ótica, a climatologia visa explicar o comportamento natural dos fenômenos atmosféricos, objetivando gerar o benefício do ser humano, ciente de que as irregularidades dos fenômenos fazem parte das regras gerais e não são consideradas exceções. (OLIVEIRA, 2008). Tempestades fortes ou vendavais repentinos, por exemplo, não são fenômenos regulares do cotidiano, mas também não são consideradas exceções naquele local. Para tanto, é necessário sabermos a diferença entre tempo e clima. 1. • Tempo: é o estado atmosférico num certo momento, considerado em relação a todos os fenômenos meteorológicos — temperatura, vento, umidade, etc. Esse estado é essencialmente variável. Um determinado dia pode amanhecer quente e ensolarado, porém, ao final dele, pode ocorrer uma tempestade com rajadas de vento e a diminuição da temperatura do ar, por exemplo. 2. • Clima: é a condição média do tempo (atmosférico) para uma região em medições feitas em longos períodos de tempo (cronológico), que devem ser maiores ouiguais há 30 anos. [s1] De acordo com Mascaró (1996), o clima pode ser definido como respostas que retratem as características permanentes do tempo num lugar em meio às suas oscilações comuns. Para Oliveira (2008), estuda-se os movimentos de rotação e translação, energia solar, latitude, altitude, ventos, topografia, presença de rios e mares, vegetação, entre outros aspectos. Com base nesta análise durante um longo período, pode-se definir o clima de determinada região quantificando os elementos: temperatura do ar (mínima, média e máxima), umidade do ar, movimentos das massas de ar e precipitações. Para a arquitetura, é importante observar duas situações climáticas: o que acontece com mais frequência ao longo do ano e os períodos críticos, isto é, próximos ao solstício de verão e inverno. Quando podemos nos beneficiar das condições climáticas locais tirando proveito do conforto ambiental, com pouco ou nenhum consumo energético, diz-se que estamos produzindo a arquitetura bioclimática. Desde épocas remotas, o homem procurava abrigo em cavernas para se proteger da radiação solar direta do verão e se utilizava da inércia térmica das rochas para capturar esse calor e manter o ambiente com temperaturas mais agradáveis durante a noite. Conforme os anos foram passando, novas técnicas foram sendo desenvolvidas de acordo com o clima e a cultura dos povos. Figura 4 — Arquitetura bioclimática Fonte: ecoficientes.com.br Muitos dos edifícios do século XX possuíam complexos programas arquitetônicos, que, frequentemente, foram construídos com uma série de ambientes fechados, sem iluminação e ventilação natural, o que prejudica os níveis de conforto térmico. Viu-se, então, que seria possível resolver o problema expelindo o calor armazenado no interior do edifício para fora dele através das janelas ou do telhado para que, assim, o nível de conforto pudesse ser restaurado. No entanto, com a complexidade desses programas arquitetônicos, as plantas baixas muito profundas dificultavam a abertura de janelas e o sistema adequado de ventilação natural em todos os ambientes. Somando-se a isso, a quantidade de pessoas nos edifícios crescia, e as máquinas, os equipamentos e a iluminação artificial passaram a fazer parte do funcionamento dos espaços, gerando uma maior carga térmica no interior. Para resolver o problema das construções herméticas com grande quantidade de calor armazenado, a indústria desenvolveu sistemas ativos de controle, ou seja, sistemas mecânicos, chamados de técnicas ativas de controle ambiental, como é o caso dos aquecedores elétricos e aparelhos de ar-condicionado. Contudo, esses sistemas consomem muita energia, o que trouxe uma série de agravantes à população. Se antes as técnicas de controle não usavam energia elétrica, isto é, eram técnicas passivas de controle ambiental, hoje, por outro lado, predominam construções herméticas que se utilizam de técnicas ativas de controle. Após a verificação dos malefícios dessa situação, surgiu a proposta da arquitetura bioclimática, a fim de resgatar os princípios naturais de observação das condições ambientais e tirar proveito disso para a elaboração do projeto arquitetônico. A arquitetura bioclimática é fundamentada na bioclimatologia, ciência que estuda as relações entre o clima e o ser humano com a finalidade de conhecer os dados climáticos de um local e, assim, definir as estratégias que devem ser adotadas no projeto arquitetônico para compensar as condições de desconforto. Essa análise, feita no início do desenvolvimento projetual, desde as primeiras visitas ao terreno, permite identificar os períodos de maior probabilidade de desconforto, os quais, consequentemente, prejudicariam o bem-estar e a produtividade das pessoas. Na proposta de controle ambiental baseada na arquitetura bioclimática, o projeto tem como objetivo atender conjuntamente à eficiência energética e às condições de conforto do usuário. Assim sendo, as soluções dadas pela arquitetura bioclimática incluem diversas técnicas passivas de controle ambiental sem o consumo de energia elétrica, como as que estão listadas abaixo. Sombreamento: é indicado, principalmente, para regiões de clima quente como em grande parte do território brasileiro; pode-se obter o sombreamento através de arborização, varandas, beirais, prateleiras refletoras de luz, cobogós e quebra-sóis em geral. Ventilação através das aberturas: é o dimensionamento e o posicionamento adequado das janelas, o que permite a fluidez do ar, a entrada do ar fresco e a saída do ar quente, libera o calor e renova o ar interno. Materiais adequados: a escolha de materiais de comportamento térmico adequado ao microclima local é muito importante, principalmente nas fachadas e na cobertura do edifício, as quais e contato direto com as condições externas, como sol, chuva, ventos, umidade do ar, poeiras, ruídos. Vegetação: o plantio de árvores e o uso da vegetação em geral reduz a temperatura e purifica o ar, além de proporcionar o sombreamento; a vegetação e a terra também contribuem com o conforto acústico, por absorver parte da energia sonora incidente. 2.1 Trocas térmicas do homem com o ambiente O ser humano é adaptável a diferentes ambientes e diferentes condições climáticas. Ele utiliza mecanismos culturais como vestimenta, arquitetura e tecnologia para essa adaptação. Muitos dos mecanismos são utilizados não apenas para que ele se adapte e consiga sobreviver, mas para que alcance uma sensação de conforto. A temperatura interna do organismo humano tende a permanecer constante em qualquer condição climática. No entanto, alguns processos, como o metabolismo, produzem calor no interior do corpo, gerando, assim, as trocas térmicas, que, segundo Lambertz et al. (2013, p.43), “podem ocorrer por condução, convecção, radiação, evaporação e respiração, processos que dependem de certas variáveis de conforto térmico.” Além disso, existem no organismo humano alguns mecanismos chamados de termorreguladores, que servem para manter a temperatura interna constante quando as condições térmicas do ambiente ultrapassam certas faixas. Se o organismo ganhar ou perder calor e a sua temperatura interna se alterar demais, pode haver riscos de danos à saúde e até a morte. De acordo com Lambertz et al. (2013), esses mecanismos são diferentes, dependendo se o ambiente está frio ou calor. Dentre os mecanismos termorreguladores no calor, podemos citar: · a vasodilatação periférica, isto é, quando os vasos capilares mais próximos à pele se expandem, aumentando a temperatura da pele e, como efeito, aumentando as perdas de calor por radiação e convecção; · o suor, que sempre é produzido pelos poros e vai sendo evaporado, o que faz aumentar a perda de calor do corpo. No entanto, quando a temperatura do corpo aumenta muito ou o ar está muito úmido, o suor não é totalmente evaporado e fica na superfície da pele; · e a redução do metabolismo, que consiste na diminuição da produção interna de calor. Dentre os mecanismos termorreguladores no frio, podemos citar: · a vasoconstrição periférica, em que os vasos capilares mais próximos da pele se contraem, enquanto os mais próximos aos órgãos internos se dilatam, assim, a pele se resfria, chegando a uma temperatura similar à do ambiente e evitando as perdas de calor por convecção e radiação; · o arrepio, que é um movimento muscular realizado que provoca o aquecimento da pele por atrito e, além disso, causa o aumento da rugosidade da pele evitando perdas de calor por convecção; · e o aumento do metabolismo, após o arrepio, se o frio ainda for intenso, o organismo aumentará o metabolismo entre 30% e 100%, que pode se manifestar pelo tremor dos músculos. Dessa forma, o calor produzido pelo organismo será maior e vai compensar as perdas para o ambiente. Todas essas trocas e mecanismos são uma forma do corpo humano buscar o conforto térmico. Segundo Ashrae (2005), trata-se de um estado de espírito que manifesta satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa. Para se dizer que o indivíduo está sentindo conforto térmico,o balanço das trocas de calor do corpo dele deve ser nulo e a temperatura da sua pele e o seu suor devem estar dentro de certos limites. 2.2 Variáveis climáticas Consideramos o conforto ambiental uma avaliação pessoal e subjetiva, mas que permite a possibilidade de análise de respostas de grande maioria da população. A partir dessa investigação, pode-se dimensionar os dados que vão definir o grau de satisfação dos usuários. Por isso, é fundamental que o arquiteto conheça as variáveis climáticas para obter soluções de projeto arquitetônico mais adequadas ao conforto dos ocupantes e energeticamente mais eficientes. As variáveis climáticas referem-se às características gerais de uma região, em relação à temperatura, à umidade, aos ventos, às chuvas, às nuvens e ao sol. Conhecer essas características é indispensável para elaborar projetos arquitetônicos com eficiência energética e conforto aos usuários. Lambertz et al. (2013) define algumas das variáveis climáticas que devem ser consideradas. Radiação solar É a principal fonte de energia do planeta e fornece luz e calor, de maneira que o Sol é um elemento muito importante nos estudos de eficiência energética na arquitetura. Ao se buscar o conforto térmico e visual dos ocupantes, bem como a economia de energia, pode-se utilizar ou evitar a luz e o calor do sol nos edifícios. Contudo, é difícil integrar os fenômenos térmicos e visuais em uma edificação, o que faz com que, muitas vezes, os arquitetos deem prioridade para apenas um deles, deixando o outro para ser resolvido com sistemas artificiais, o que potencializa o aumento no consumo de energia. Portanto, é extremamente importante a busca pela integração dos fenômenos térmicos e visuais, o que depende de uma maior compreensão a respeito deles. Vento Uma região climática pode ter variações significativas na direção e na velocidade do movimento do ar. Isso ocorre, especialmente, pelas diferenças de temperatura entre as massas de ar, o que provoca o deslocamento delas da área de maior pressão (ar frio e pesado) para a área de menor pressão (ar quente e leve). Nesse contexto, o movimento do ar sofre influência da rugosidade da superfície e o desenho urbano pode canalizar o fluxo de ar de maneira que evite o vento indesejável e aproveite o desejável. Umidade A umidade do ar é resultado da evaporação da água dos rios, lagos, mares e da terra, assim como da evapotranspiração dos vegetais, e a pressão de vapor é a variável climática mais estável ao longo do dia. Nesse caso, a umidade relativa tende a diminuir, quando a temperatura aumenta, e tende a aumentar, quando a temperatura diminui. Ainda, a umidade pode ser modificada na escala mais próxima da edificação, por meio da presença de água ou de vegetação. É importante que o arquiteto tenha pelo menos uma ideia do comportamento das variáveis climáticas ao longo do ano no local em que está projetando, pois, assim, conseguirá identificar os períodos com maior possibilidade de desconforto e aplicar estratégias em seu projeto para evitá-lo. 2.3 Estudo do clima Desde os tempos mais remotos, no período Paleolítico, o homem busca um local para habitar e se proteger das intempéries e dos animais. As cavernas eram locais de abrigo e conforto para aquela época. A busca pelo conforto, outrora pelo instinto de sobrevivência, conta, hoje, com medições e inúmeras técnicas disponíveis. A análise do clima, por exemplo, é feita inicialmente numa escala mais ampla, a macroclimática. Nela, observa-se dados gerais do clima daquela região ou cidade, e pode-se referir ao macroclima quando se pretende tratar do clima global, do clima zonal e do clima regional. No desenvolvimento de um projeto, essa análise deve ser feita logo nas etapas preliminares, coletando os dados correspondentes ao clima médio de um território amplo com relação ao sol, às nuvens, à temperatura, aos ventos, à umidade e às precipitações. É necessário lembrar, contudo, que esses dados não descrevem as condições do entorno imediato do edifício. Os dados do macroclima do Brasil são: De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que define Normais Climatológicas, estas são “valores médios calculados para um período relativamente longo e uniforme, compreendendo no mínimo três décadas consecutivas e padrões climatológicos normais como médias de dados climatológicos calculadas para períodos consecutivos de 30 anos”. Outras informações importantes a respeito do macroclima são encontradas na norma de desempenho térmico de edificações na ABNT, NBR 15575-3 parte 3: zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações de interesse social. A norma traz definições, informações sobre o zoneamento bioclimático do nosso pais, parâmetros, diretrizes construtivas para cada zona bioclimática e estratégias de condicionamento térmico. Posteriormente ao estudo do macroclima, observa-se a escala mesoclimática, que pode ser exemplificada pelas características do clima em determinado bairro. É importante ressaltar que o projeto urbano de um bairro ou de uma pequena cidade interfere nas condições climáticas do terreno. Por exemplo, podemos reunir as informações do macroclima da região Sudeste do Brasil ou mesmo de uma cidade como São Paulo e Rio de Janeiro, mas, dependendo das características do bairro escolhido para o projeto, haverá alterações nos dados de temperatura, ventos e umidade do ar, devido a um mesoclima específico. Isso, porque alguns bairros são mais arborizados do que outros, possuem ruas mais ou menos estreitas, gabarito de altura variável, podem ser próximos ou distantes do mar e podem ter também a permeabilidade do solo maior ou menor, enfim; nesse sentido, vários elementos interferem na condição daquele clima que foi coletado nas estações meteorológicas, e, assim, o macroclima de uma região pode ter vários mesoclimas distribuídos devido às distintas formas de ocupação. Dessa maneira, as particularidades macroclimáticas de uma região podem representar dificuldades adicionais ao projetista, que, por sua vez, tentará compensar com a implantação e a escolha de matérias favoráveis ao controle microclimático. Para cada tipo de clima, utilizam-se técnicas diferentes de controle ambiental. Desse modo, uma construção no litoral de Pernambuco não pode ter a mesma tipologia arquitetônica que Palmas, no Tocantins, que, por sua vez, será diferente da construção na serra gaúcha. Em suma, coletamos os dados do microclima, ou seja, os dados de temperatura, direção dos ventos e horários de insolação no terreno em questão. No estudo do microclima, são ponderados todos os aspectos ambientais próximos ao lote onde será feito o projeto, por exemplo, o tipo de solo, a arborização, as brisas marinhas, os elementos poluidores, as barreiras aos ventos, os elementos naturais e os construídos na vizinhança. Nessa escala, a observação é feita na visita ao terreno de projeto considerando a interferência dos elementos naturais próximos e das construções vizinhas. Diante de tudo isso, vale ressaltar que os climas são classificados de diferentes formas por diferentes autores ao redor do mundo, levando em consideração as variáveis climáticas de cada região. No Brasil, encontram-se climas bastante variados por seu imenso tamanho, além do fato de se localizar entre os trópicos. Baseados na classificação de Strahler, tais climas estão especificados a seguir. Figura 5 — Climas do Brasil segundo Strahler Fonte: suportegeografico77.blogspot.com. Clima subtropical As temperaturas médias são normalmente abaixo dos 20ºC, e a amplitude térmica anual varia de 9ºC a 13ºC. Chuvas fartas e bem distribuídas e inverno rigoroso nas áreas mais elevadas, onde pode ocorrer neve. Clima tropical atlântico Característico das regiões litorâneas do Brasil, com temperaturas médias entre 18ºC e 26ºC. Chuvas abundantes, se concentrando no verão, para as regiões mais ao sul, e no inverno e outono, para as regiões de latitudes mais baixas. A amplitude varia em cada região, mais ao norte as amplitudes são mais baixas ao longo do ano,e conforme a latitude aumenta, a amplitude anual também aumenta, diferenciando as estações. Clima tropical de altitude As temperaturas médias são normalmente na faixa de 18ºC a 22ºC. No verão, as chuvas são mais intensas e, no inverno, pode gear, devido às massas frias que se originam da massa polar atlântica. Clima tropical O verão é quente e chuvoso, e o inverno é quente e seco. Apresenta temperaturas médias acima de 20ºC e amplitude térmica anual de até 7ºC. Clima equatorial Compreende toda a Amazônia e possui temperaturas médias entre 24ºC e 26ºC, com amplitude térmica anual de até 3ºC. Com chuvas abundantes e bem distribuídas. Clima semiárido Clima característico da região climática mais seca do país, em parte do Nordeste, caracterizada por temperaturas médias muito altas, em torno de 27ºC, com amplitude térmica anual baixíssima, em torno de 5ºC e com chuvas muito escassas. O microclima é encontrado quando se chega mais perto do nível da edificação. Alguns fatores, como o tipo de solo, a vegetação, a topografia, a presença de barreiras naturais ou artificiais, influenciam as condições do clima local. De acordo com Lambertz et al. (2013), estudar as variáveis desta escala é primordial para lançar as ideias do projeto, afinal, as particularidades climáticas locais podem trazer soluções arquitetônicas mais adequadas em relação ao bem-estar das pessoas e à eficiência energética. Em vista disso, o microclima pode ser modificado e delineado pelo arquiteto. 2.4 Estudo do microclima O microclima corresponde a uma pequena variação de clima dentro de uma região muito específica espacialmente. Para um geógrafo, que trabalha com estudos de grandes regiões, por exemplo, o microclima pode se referir ao centro urbano de uma metrópole, local que apresenta suas particularidades climáticas diferentes da zona intermediária, arredores do centro urbano, e diferentes, também, da zona de periferia. Considera-se o centro urbano como uma determinada área onde há adensamento na ocupação, e não são, necessariamente, os centros físicos regionais. Geralmente, esses centros urbanos possuem temperaturas elevadas devido ao efeito da ilha de calor, muitas vezes com a temperatura de 5°C ou 6°C mais elevadas do que a temperatura da periferia. Dentro desse contexto, a grande concentração de edifícios, pessoas, asfalto, veículos e poluição atmosférica incrementam a temperatura. Na arquitetura, considera o microclima como as condições ambientais dentro do lote onde serão feitos o projeto e a futura construção. Numa visita ao terreno do projeto, quando chegamos na escala mais próxima ao nível da edificação, observamos os elementos de interferência imediata. Qualquer construção após edificada vai alterar o microclima daquele local. Até mesmo uma poda de uma árvore, a colocação do asfalto numa rua ou um revestimento na fachada trará alterações no conforto daquele lugar. Considerando que o arquiteto projeta tudo que está em volta e além do edifício, como acessos, jardins, passeios públicos e privados, ele interfere de maneira direta no microlima, ou seja, o microclima pode ser concebido e alterado pelo projeto do arquiteto. Além disso, é interessante dizer que quando falamos de microclima, podemos estar nos referindo, inclusive, a um ambiente interno que também terá suas condições de conforto relacionadas ao entorno da edificação, como o posicionamento de portas, janelas e aberturas em geral. Acesse: Vejamos o desempenho térmico das edificações: https://labeee.ufsc.br/sites/default/files/disciplinas/Aula%20-%20NBR15575%20-%20Diretrizes%20const%20para%20hab.pdf Vejamos um roteiro de estudo das variáveis ambientais: Inicialmente, o arquiteto precisa ter uma noção geral do clima brasileiro. Nosso país é bastante extenso, pois é localizado entre os dois trópicos com um clima bastante variado. Adota-se uma divisão do clima brasileiro conforme essas regiões: equatorial, tropical, tropical de altitude, tropical atlântico, semiárido e subtropical. A partir desse conhecimento panorâmico do clima, é preciso fazer uma análise bioclimática que considere os dados das variáveis do local. Pode-se utilizar as normas climatológicas ou o ano climático de referência que traga os valores horários. Outra etapa de análise diz respeito às sensações térmicas humanas, isto é, o estudo das variáveis humanas na avaliação de conforto ambiental, nela, é feita a coleta de dados relativos aos ocupantes do edifico, tais como: quantidade de pessoas, horários, idades, vestimentas, etc. Posteriormente, o arquiteto precisa ter o conhecimento das variáveis arquitetônicas, através da pesquisa e da escolha dos materiais mais adequados, considerando o comportamento térmico de cada um. É importante, ainda, conhecer a direção do norte geográfico e, a partir daí, compreender a trajetória aparente do sol vista de dentro daquele lote. Muitas vezes, os termos norte magnético e norte geográfico são confundidos. O norte geográfico é o norte verdadeiro, e é como se ele traçasse na Terra uma linha imaginária vertical, já o norte magnético é o que a bússola segue, é referente ao ângulo de inclinação (entre 20º e 30º) a esse norte verdadeiro que acontece por causa do campo magnético da Terra. Logo, o norte geográfico é um dos locais onde converge o eixo imaginário de rotação da terra, também chamado de Polo Norte. O outro local de convergência é no sul geográfico, o Polo Sul. Para entender o norte magnético, é preciso lembrar que existe, ao longo da Terra, um campo magnético que converge nos polos magnéticos norte e sul. A agulha de uma bússola é atraída por estes polos, dessa forma, o norte verdadeiro e o magnético raramente vão coincidir, e, ao invés disso, haverá um desvio entre essas direções, algo que chamamos de declinação magnética ou desvio magnético. Declinação magnética, portanto, é o ângulo entre o norte magnético e o norte geográfico. Figura 6 — Variação entre o polo geográfico e o magnético na Terra Fonte: conhecimentocientífico.r7.com. A declinação magnética atual no Rio de Janeiro, por exemplo, é próxima de 23°NO (noroeste), ou seja, o norte magnético está a 23° do norte verdadeiro no sentido anti-horário. A agulha da bússola pode ser influenciada por depósitos de minério de ferro, linhas de alta-tensão, vedações e outros objetos de ferro. Esses elementos provocam uma leitura errada, a menos que o campo magnético externo esteja exatamente em linha com o eixo de orientação (Norte-Sul) da bússola e de polaridade oposta, mas as possibilidades de isso acontecer são bem remotas. Além da verificação da direção do norte na planta de situação do terreno, coleta-se muitos outros dados que precisam ser analisados com muita cautela antes de definir o conceito e partido arquitetônico. Com o Norte colocado em planta baixa, pode-se determinar o sentido oposto, Sul, e o eixo perpendicular Leste-Oeste. Assim, será possível saber onde haverá a insolação pela manhã, à tarde e próximo do meio-dia. Com esses dados e com o uso da carta solar referente àquela determinada latitude, poderemos identificar mais detalhes, como os horários de insolação e o ângulo de incidência solar. Obstáculos naturais e construções vizinhas alteram a incidência solar no terreno, pois funcionam como barreiras de sombreamento e rugosidade aos ventos. Além disso, é importante observar se há presença do mar, do rio, das lagoas, dos ruídos, das poeiras e de outros agentes de poluição. O tipo de revestimento de solo no terreno e passeio público, arborização no local, enfim, todos os aspectos ambientais no lote onde será desenvolvido o projeto deverão ser registrados e analisados nessa etapa de diagnóstico microclimático. 2.5 Aplicação na arquitetura e no design de interiores: carta bioclimática Entender os fatores climáticos do local e seus efeitos na arquitetura possibilita projetos arquitetônicos com estratégias adequadas com o objetivo de integrar o usuário ao clima. Tirando ou evitando as variáveis climáticas no edifício, consegue-se construir ambientes que ofereçam conforto para as pessoas que vai utilizá-lo.Lambertz et al. (2013) ressalta que existem duas formas de fazer isso, a primeira, utilizando os sistemas de climatização e iluminação artificiais, e a segunda, de forma natural, incorporando estratégias de resfriamento, aquecimento e iluminação naturais. Os autores ainda salientam a importância de o arquiteto integrar o uso dos dois sistemas, o natural e o artificial, considerando os limites de execução e o custo/benefício de cada solução adotada. A Associação Brasileira de Normas Técnicas possui uma norma para o Desempenho Térmico das Edificações, a NBR 15220: 2005, e na parte 3 dela, uma das coisas que se encontra é o zoneamento bioclimático brasileiro, que divide o território brasileiro em 8 zonas relativamente homogêneas quanto ao clima; além disso, para cada uma dessas zonas, ela apresenta um conjunto de recomendações técnico-construtivas que otimizam o desempenho térmico das edificações, por meio de sua melhor adequação climática. Acesse: Para conhecer a parte 3, da NBR 15220: 2005, acesse este link: http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/files/projetos/normalizacao/Termica_parte3_SET2004.pdf A carta bioclimática é construída sobre o diagrama psicrométrico que relaciona temperatura do ar com a umidade relativa apresentando as estratégias que devem ser adotadas no desenho do edifício, conforme essas variáveis se modificam em cada região e período do ano. A carta apresenta nove zonas, sendo elas: zona de conforto, zona de ventilação natural, zona de ar-condicionado, zona de inércia térmica para resfriamento, zona de umidificação, zona de resfriamento evaporativo, zona de inércia térmica para aquecimento, zona de aquecimento solar e zona de aquecimento artificial. Cada uma das oito zonas bioclimáticas brasileiras pode utilizar uma ou mais das nove estratégias que são encontradas na carta bioclimática. Lambertz et al. (2013, p.98) descreve as oito zonas bioclimáticas brasileiras, como podem ser conhecidas a seguir. Figura 7 — Mapa das zonas bioclimáticas do Brasil Fonte: researchgate.net. Zona 1: inclui as cidades de Curitiba, Caxias do Sul, Lages, São Joaquim e Campos do Jordão, e as principais recomendações construtivas são usar aberturas para ventilação com dimensões médias, sombrear essas aberturas de forma que permita o sol no inverno e a utilizar paredes e cobertura com inércia térmica leve, com as coberturas idealmente isoladas. Sobre as estratégias bioclimáticas, as principais para esta zona são aquecimento solar e a grande inércia térmica nas vedações internas. Zona 2: possui as mesmas diretrizes construtivas da zona 1, porém, acrescenta-se a necessidade de ventilação cruzada no verão. As cidades incluídas nessa zona são: Laguna, Uruguaiana, Pelotas, Ponta Grossa e Piracicaba. Zona 3: inclui as cidades de Florianópolis, Camboriú, Chapecó, Porto Alegre, Rio Grande, Torres, São Paulo, Campinas, Pindamonhangaba, Sorocaba, Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Jacarezinho, Paranaguá e Petrópolis, e recomenda as mesmas diretrizes construtivas da zona 2, acrescentando paredes leves e refletoras de radiação solar. Zona 4: tem como principais recomendações construtivas o uso de aberturas médias, sombreamento necessário nas aberturas o ano todo, paredes pesadas e cobertura leve com isolamento térmico. As estratégias bioclimáticas principais são o resfriamento evaporativo, a inércia térmica para resfriamento, a ventilação seletiva no verão, o aquecimento solar e a grande inércia térmica das vedações internas para o período frio. As cidades Brasília, Franca, Limeira, Ribeirão Preto e São Carlos fazem parte desta zona. Zona 5: inclui as cidades de Niterói, São Francisco do Sul e Santos. As principais recomendações construtivas é o uso de janelas de tamanho médio com sombreamento, paredes leves e refletoras, coberturas leves e isoladas termicamente, ventilação cruzada no verão e vedações internas pesadas (com grande inércia térmica) no inverno. Zona 6: inclui as cidades de Goiânia, Campo Grande e Presidente Prudente, e as suas principais diretrizes bioclimáticas é o uso de aberturas médias sombreadas, paredes pesadas, coberturas leves com isolamento térmico, resfriamento evaporativo e ventilação seletiva no verão e vedações internas pesadas no inverno. Zona 7: as recomendações construtivas são o uso de aberturas pequenas e sombreadas o ano todo, paredes e coberturas pesadas, resfriamento evaporativo, inércia para resfriamento e ventilação seletiva no verão. Essa zona inclui as cidades de Cuiabá e Teresina. Zona 8: inclui as cidades de Belém, Corumbá, Fernando de Noronha, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Manaus, Natal, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Santarém, Salvador, São Luís e Vitória. As principais diretrizes construtivas são o uso de aberturas grandes e totalmente sombreadas, paredes e coberturas leves e refletoras e ventilação cruzada permanente durante o ano todo. Por meio das recomendações construtivas e das estratégias bioclimáticas, é possível entender um pouco melhor a grande influência que o clima de cada local tem sobre a arquitetura, assim como a importância de se conhecer sobre ele para fazer as escolhas corretas para cada projeto. O ser humano e o meio ambiente sempre estiveram interligados, e o entendimento das questões climáticas globais (macroclima) e das edificações (microclima) nunca estiveram tão em voga como atualmente. Logo, é imperativo entender como as variações climáticas ocasionadas pelas questões antrópicas devem ser estudadas para uma melhoria da relação homem e o ambiente. Referências Bibliográficas ASHRAE. Handbook of Fundamentals. Nova Iorque: American Society of Heating Refrigerating and Air Conditioning Engineers, 2005. BARROSO-KRAUSE, C. et al. Princípios de alta qualidade ambiental aplicados ao processo de seleção de projetos de arquitetura: o laboratório nutre. GTP - Grupo, Projeto, Arquitetura e Sustentabilidade, vol. 7, n. 1. São Carlos, p. 73-89, mai. 2012. CLARO, P. B. de O. et al. Entendendo o conceito de sustentabilidade nas organizações, Revista de Administração – RAUSP, Universidade de São Paulo, 2008. DIAS, Marcelo Arrais de Lavor Moreira. Soluções Sustentáveis na Arquitetura Contemporânea (1990-2010). 2016. Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016. FERREIRA. A. B. H. Dicionário Aurélio eletrônico – século XXI. 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SUSTENTARQUI. Sustentabilidade na arquitetura: o que ela pode representar para projetos arrojados?. Disponível em: https://sustentarqui.com.br/sustentabilidade- na-arquitetura-o-que/ Acesso em: 8 abr. 2020. Conforto Ambiental e Ecodesign - Unidade 3 Introdução Olá, estudante! Tudo bem? Bem-vindo(a) à Unidade 3: Zoneamento e arquitetura bioclimática. Aqui, você conhecerá alguns métodos de análise do clima e ferramentas gráficas, estudará sobre o uso da carta solar e de programas de simulação e também verá um panorama sobre o consumo energético exigido nas edificações no Brasil e as conquistas já alcançadas com o emprego da energia solar e dos sistemas fotovoltaicos. Além disso, entenderá o papel da vegetação enquanto um elemento importante para o conforto ambiental e algumas das vantagens e desvantagens da relação que existe entre vegetação e arquitetura. Dentro desse contexto, você vai se inteirar mais sobre a arquitetura bioclimática, o conceito dela e as principais características que são baseadas nele para a aplicação nos projetos. Por fim, você ainda verá como a Norma ABNT NBR 15220:2005 —Desempenho térmico de edificações realiza a análise do conforto de várias das cidades brasileiras e estabelece os critérios para proporcionar maior conforto nas edificações habitacionais. Para isso, você aprenderá um pouco sobre as estratégias de controle ambiental e a importância da escolha dos materiais utilizados na envoltória do edifício. Bons estudos! Objetivos da Unidade: · Aprofundar o entendimento sobre como se dá a influência do clima na arquitetura e vice-versa. · Entender a escolha de materiais de alto padrão tecnológico, como o vidro low-e. · Saber que a questão da sustentabilidade é um problema grave e que o papel do designer de interiores, neste cenário, é conceber projetos com o uso exclusivo de materiais orgânicos. · Compreender que o designer de interiores precisa considerar os aspectos climáticos, humanos e construtivos, a fim de propor um espaço com conforto ambiental e eficiência energética. · Conhecer melhor a influência da vegetação enquanto um elemento de conforto ambiental. · Aprender sobre diferentes estratégias bioclimáticas. · Compreender a importância da utilização desses conhecimentos nos projetos arquitetônicos. Zoneamento e Conforto Os métodos de análise de dados climáticos têm o propósito de apresentar estratégias bioclimáticas, dessa forma, são ferramentas fundamentais para a indicação das melhores soluções arquitetônicas em benefício do conforto. Assim, a análise do clima de uma cidade e as suas respectivas estratégias recomendadas pode se dar de várias maneiras, como por meio da consulta de gráficos, normas, tabelas e programas de informática. Nesse caso, o objetivo principal é identificar as exigências relativas ao conforto higrotérmico em cada localidade e, com isso, definir quais são as melhores estratégias. A exemplo disso, temos a Planilha de Mahoney e a Carta Bioclimática de Givoni, que são métodos manuais, e o Ano Climático de Referência ou Test Reference Year (TRY), método baseado em um ano representativo dos dados climáticos que é usado em programas de simulação computacional tanto para o cálculo de consumo de energia como para a definição das estratégias bioclimáticas indicadas para a cidade escolhida. Por sua vez, o Analysis BIO e o Sol-Ar, desenvolvidos pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LaBEE) (LaBEE), na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), são alguns desses programas. E, no Brasil, vale dizer também que temos a ABNT NBR 15220:2003 — Desempenho térmico de edificações, que é uma fonte de consulta indispensável para o estudo das recomendações e diretrizes construtivas no território nacional. 1.1 Zoneamento bioclimático brasileiro A norma ABNT NBR 15220:2003 — Desempenho térmico de edificações, na parte 3, intitulada Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social, visa criar uma divisão por zonas no território brasileiro e estabelecer uma série de recomendações apropriadas para residências unifamiliares de interesse social. Para cada zona, são atribuídas algumas estratégias de controle ambiental. Essa norma apresenta uma lista de 330 cidades com a classificação dos climas e a metodologia adotada na determinação do zoneamento. As recomendações propostas priorizam o uso de técnicas passivas de controle ambiental. Dessa forma, na formulação das diretrizes construtivas, foram considerados os seguintes parâmetros: · tamanho das aberturas para ventilação; · proteção das aberturas; · vedações externas (tipos de parede externa e de cobertura); · e estratégias de condicionamento térmico passivo. A classificação bioclimática de vários municípios brasileiros e suas diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social, conforme a ABNT NBR 15220:2005, podem ser visualizadas com o uso do programa ZBBR: Zoneamento Bioclimático Brasileiro. Tal programa indica a zona bioclimática a que a cidade pertence de acordo com a norma, o seu tipo de clima e as recomendações para a escolha dos materiais destinados às paredes e às coberturas, considerando as propriedades termofísicas deles. Ainda, apresenta informações quanto às áreas de abertura de janelas para ventilação e às estratégias bioclimáticas para inverno e verão. Figura 1 — Mapa brasileiro das zonas bioclimáticas Fonte: labeee.ufsc. É interessante dizer que essas pesquisas na área do conforto ambiental e da arquitetura bioclimática não são de hoje, pois já perduram há algumas décadas. Nos anos 1960, por exemplo, os irmãos Olgyay (1963) elaboraram um diagrama organizado em função da temperatura de bulbo seco e da umidade relativa do ar, referentes aos dados coletados durante o ano. A carta bioclimática dos irmãos Olgyay é bastante simples, se comparada ao que já alcançamos de informações nos dias atuais por meio das normas, dos mapas de zoneamento bioclimático e dos programas de computador, mas foi uma etapa necessária, sendo uma fonte de consulta básica para as pesquisas mais recentes. Já a carta bioclimática desenvolvida por Givoni (1992), pautou-se na ideia de que uma edificação possui uma massa e, portanto, um clima interno diferente do externo. Assim, ele corrigiu a limitação do método anterior, criou zonas de estratégias, considerando as propriedades dos materiais na envoltória da edificação. Foi a partir do seu diagrama, Comfort Climate Analysis and Building Design Guidelines: Energy and Building, que a norma ABNT NBR 15220-3 adaptou e definiu a Carta Bioclimática Brasileira. Figura 2 — Exemplo de carta bioclimática de Givoni Fonte: retirada do site Passei Direto (2020). As estratégias aplicadas são referidas por uma letra que varia de A até L, e as zonas da carta bioclimática correspondem às estratégias que podem ser vistas logo abaixo. Figura 3 — Estratégias para definir as zonas da carta bioclimática Fonte: elaborada pela autora (2020). O método de classificação bioclimática, apresentado na norma NBR 15220:2005, foi adaptado a partir da carta de Givoni. E, como você pode observar, a figura a seguir apresenta alguns exemplos extraídos da norma. Figura 4 — Cidade, estratégias e zona Fonte: elaborada pela autora (2020). A exemplo, veja a zona 8 no mapa do zoneamento bioclimático da norma ABNT NBR 15220:2003, parte 3. Essa zona abrange uma grande parte do território brasileiro com as indicações das estratégias F, I, J. Conclui-se, então, que as estratégias de ventilação e desumidificação (renovação do ar) são amplamente recomendadas, resolvendo o problema do desconforto pelo calor em grande parte dos casos. Acesse Para compreender melhor a respeito da parte 3, anteriormente mencionada, da Norma ABNT NBR 15220:2003 — Desempenho térmico de edificações: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivaspara habitações unifamiliares de interesse social, acesse o link: https://labeee.ufsc.br/sites/default/files/projetos/normalizacao/Termica_parte3_SET2004.pdf Neste breve estudo da norma, vimos a ampla abordagem quanto ao conforto no território brasileiro. Vale ressaltar que a norma apresenta dados para 330 cidades, e, nela, há a indicação das estratégias e do zoneamento a qual pertencem tais cidades. Considerando isso, a metodologia adotada na classificação dos climas utiliza dados referentes à temperatura e à umidade relativas para cada mês do ano, e os dados mensais de temperatura e umidade do ar são representados por uma reta no gráfico da Carta Solar. Segundo a ABNT NBR 15229:2005 (2005, p. 15), os dados de entrada são: 1. Tmin igual à temperatura média das mínimas; 2. Tmax igual à temperatura média das máximas; 3. UR igual à média mensal da umidade relativa. E o cálculo da temperatura média mensal e sequência se dá da seguinte maneira: Tmed = (Tmin + Tmax) / 2 Para conhecer a aplicação deste método, é importante consultar a norma e acompanhar os exemplos de análise e procedimentos. Tendo em vista que existem vários métodos de análise do conforto e da indicação das estratégias, convém analisar a situação em específico e escolher um dos métodos convenientes para definir a estratégia mais apropriada. 1.2 Estratégias de controle ambiental As estratégias de controle ambiental para cada cidade podem ser encontradas tanto pelo diagrama de Givoni como pelo uso de programas de computador ou mesmo em consulta à norma ABNT NBR 15220:2005. Tais estratégias, na verdade, representam maneiras de lidar com a situação, isto é, formas de intervenção que têm o objetivo de obter condições de conforto ambiental. Vejamos como exemplo de aplicação da norma e de análise das estratégias a cidade de Curitiba. De acordo com a Figura 4, extraída da norma, atribuem-se as estratégias ABCF. Consultando outra tabela, Zonas da carta bioclimática e indicação das estratégias, temos as seguintes informações: A = Zona de aquecimento artificial (calefação); B = Zona de aquecimento solar da edificação; C = Zona de massa térmica para aquecimento; F = Zona de desumidificação (renovação do ar). O projeto bioclimático na cidade de Curitiba, portanto, deverá prever essas quatro estratégias acima, a fim de prover o conforto ambiental térmico com baixo consumo de energia elétrica. Sabe-se, como exposto na unidade anterior, que Lamberts et al. (2013) descreve cada estratégia bioclimática com conceituações e exemplos, além de informar as características básicas de cada uma das 8 zonas bioclimáticas. A fim de lembrar tais conteúdos, seguem abaixo as descrições dessas zonas. Zona 1 Fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Curitiba, Caxias do Sul, Lages, São Joaquim e Campos do Jordão. As principais estratégias bioclimáticas para as cidades em questão são o aquecimento solar e a grande inércia térmica nas vedações internas. Como recomendações construtivas, têm-se: aberturas de dimensões médias para ventilação, aberturas sombreadas no verão, aberturas para a entrada do sol no inverno, paredes e coberturas com inércia leve e coberturas com matérias isolantes. Zona 2 Fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Laguna, Uruguaiana, Pelotas, Ponta Grossa e Piracicaba. Para ela, são indicadas as mesmas diretrizes construtivas da zona 1, adicionando-se, apenas, a ventilação cruzada no verão. Zona 3 Fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Florianópolis, Camboriú, Chapecó, Porto Alegre, Rio Grande, Torres, São Paulo, Campinas, Pindamonhangaba, Sorocaba, Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Jacarezinho, Paranaguá e Petrópolis. Recomenda-se as mesmas diretrizes construtivas da zona 2, incluindo-se paredes externas leves e refletoras da radiação solar. Zona 4 Fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Brasília, Franca, Limeira, Ribeirão Preto e São Carlos. Recomenda-se como diretrizes construtivas o uso de aberturas de dimensão média, devendo ser sombreadas durante todo o ano. Além disso, também são indicadas paredes pesadas e cobertura leve com isolamento térmico. As estratégias bioclimáticas recomendadas são: resfriamento evaporativo, ventilação seletiva no verão, aquecimento solar e alta inércia térmica das paredes internas no período frio. Zona 5 Fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Niterói, São Francisco do Sul e Santos. Recomenda-se como diretrizes construtivas: janelas de tamanho médio com sombreamento, paredes leves e refletoras, ventilação cruzada no verão, paredes internas pesadas com grande inércia térmica e coberturas leves com isolamento térmico. Zona 6 Fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Goiânia, Campo Grande e Presidente Prudente. As principais diretrizes bioclimáticas construtivas são: janelas de tamanho médio com sombreamento, paredes pesadas, coberturas leves com isolamento térmico, resfriamento evaporativo e ventilação seletiva no verão. Zona 7 Fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Cuiabá e Teresina. Recomenda-se estas diretrizes construtivas: aberturas pequenas e sombreadas durante todo o ano, paredes e coberturas pesadas, resfriamento evaporativo e ventilação seletiva no verão. Zona 8 Ela abrange uma ampla área do território brasileiro, de tal maneira, que fazem parte desta zona bioclimática as cidades de Belém, Corumbá, Fernando de Noronha, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Natal, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Santarém, Salvador, São Luiz e Vitória. Recomenda-se as seguintes diretrizes construtivas: aberturas grandes e totalmente sombreadas, paredes e coberturas leves e refletoras e ventilação cruzada permanente durante todo o ano. Você sabia? A escolha dos materiais é uma importante etapa de projeto, nela, o arquiteto e o designer de interiores precisam ter conhecimento a respeito do comportamento térmico dos materiais e de algumas propriedades físicas, tais como: a transmitância térmica (W/m²K), o atraso térmico (horas) e o fator solar para as superfícies opacas e transparentes (%). A forma da construção, a definição dos cheios e vazios do edifício e os materiais da envoltória (fachadas e cobertura) também são decisões de grande importância para o conforto interno do edifício, e elas consequentemente impactarão no consumo energético do edifício. Neste assunto, Corbela et al. (2015) faz algumas recomendações de estratégias da arquitetura bioclimática tropical, visando a redução de consumo energético. Dentre tais recomendações, estão as que distinguem os casos de edificações com climatização artificial e sem climatização artificial. À vista disso, em edificações sem climatização artificial, orienta-se: · controlar os ganhos de calor, minimizando a radiação solar que entra pelas aberturas, tendo cuidado com as paredes de cores escuras na face externa e com materiais de alta transmitância térmica; · não ventilar quando a temperatura externa for superior à temperatura interna; · ter cuidado com lâmpadas e motores que irradiam calor no ambiente; · dissipar a energia térmica do interior do edifício; · remover a umidade em excesso e promover o movimento de ar; · promover o uso da iluminação natural integrando a luz natural com a iluminação artificial; · controlar o ruído utilizando materiais de isolamento sonoro. Já em edificações com climatização artificial, orienta-se: · diminuir ao máximo as trocas térmicas com o exterior, permitindo somente a renovação de ar para higienização. A envoltória do ambiente climatizado deve ter uma difusividade pequena, ou seja, usar materiais isolantes e grande resistência térmica. É importante lembrar que a difusividade térmica é uma propriedade específica do material que se caracteriza quanto à condução do calor. Este valor representa o quão rapidamente um material reage às mudanças de temperatura. Como a arquitetura bioclimática prioriza o uso de técnicas passivas de controle ambiental, a estratégia com climatização artificial deve ser adotada apenas em situações indispensáveis ao uso do ar-condicionado. Ainda assim, não sedescarta a incorporação de algumas das estratégias passivas, tais como: fachadas e aberturas com sombreamento, cores claras nas fachadas, cobertura vegetal, ventilação noturna, inércia térmica, entre outros recursos. Arquitetura Bioclimática Além de conhecer os conceitos que a arquitetura bioclimática engloba, é preciso que os profissionais os considerem desde as primeiras etapas do projeto. Lamberts et al. (2013) enquadra cada elemento da arquitetura bioclimática em seu respectivo estágio de projeto, quando é mais relevante e onde seu estudo e sua análise poderão auxiliar de forma mais eficaz nas tomadas de decisão. Desse modo, fica mais fácil de enxergar a arquitetura bioclimática como um todo e entender como ela funciona na prática. O partido arquitetônico é um esquema inicial que norteia o desenvolvimento do projeto. Normalmente, ele surge nas primeiras etapas do processo de projetar. Os conceitos bioclimáticos deveriam aparecer já nessa fase e ser incorporados ao partido. Para que isso ocorra, existem algumas informações que devem ser obtidas, como análise do terreno, orientação solar e análise do clima local e dos dados relativos ao programa que devem ser respondidos pelo projeto. A análise do terreno deve incluir vários aspectos indispensáveis, como: · a legislação; · as dimensões; · a orientação solar; · a topografia; · a presença de vegetação, água e outros edifícios ou barreiras que possam obstruir o sol; · e o vento. Por meio da legislação, é possível saber quais determinações deverão ser atendidas quanto aos afastamentos presentes no edifício, o número máximo de pavimentos, os recuos do edifício e outros aspectos que podem influenciar diretamente no desempenho ambiental da construção. Mesmo respeitando os recuos e afastamentos, ainda podem existir sombras indesejáveis no entorno do edifício e faltar iluminação e ventilação natural nos ambientes internos, a depender dos elementos presentes nesse entorno. Aqui, o número máximo de pavimentos também não garante a insolação adequada dos ambientes nem o acesso solar nos edifícios vizinhos. A orientação solar, por seu turno, permite identificar quais as melhores fachadas para distribuir os ambientes, tendo como referência o acesso solar e a ventilação natural necessária ao longo do ano. Nesse caso, as proteções solares também devem ser utilizadas nesta etapa, dependendo da orientação de cada ambiente. Já os estudos da topografia, da presença de vegetação, de barreiras edificadas e de água nas proximidades possibilitam identificar que elementos podem ser explorados ou devem ser evitados como estratégias bioclimáticas a serem consideradas no projeto. Ainda, o clima fornece várias dicas de como o projeto deve ser conduzido. É por meio da análise do clima local que se obtém informações a respeito das estratégias bioclimáticas mais adequadas em função do clima local em cada período do ano. Ou seja, trata-se de um recurso poderoso na elaboração de projetos que visam o conforto e a eficiência energética. Além tudo isso, vale ressaltar que a análise dos usuários e dos horários de uso dos locais também é importante, pois define alguns parâmetros, como: · a vestimenta mais provável que os usuários utilizarão nos ambientes; · a sua atividade (metabolismo); · a geometria do ambiente, que pode gerar assimetria térmica e falta de conforto visual; · os horários críticos de uso. Tendo conhecimento das informações básicas definidas nos itens anteriores, o designer de interiores já pode montar o programa de necessidades do projeto, que deve incluir o que pode ser útil ao projeto bioclimático, como as necessidades de iluminação natural, ventilação natural, sol ou sombra, isolamento térmico, condicionamento artificial, entre outros. Essas informações serão uma ferramenta poderosa de auxílio na tomada de decisões durante todas as etapas do processo de projeto. Afinal, como pode-se perceber, a forma arquitetônica pode influenciar bastante no conforto ambiental de um edifício e no consumo de energia, pois ela interfere diretamente nos fluxos de ar interiores e exteriores e na quantidade de luz e de calor recebidos pelo edifício. Definição A função arquitetônica é um dos vértices do triângulo clássico vitruviano, pois interage com a forma e a eficiência energética do edifício. Se um mesmo projeto for destinado para diferentes funções, como comércio ou habitação, pode resultar em comportamentos energéticos diferentes. Portanto, estudar essa função é indispensável para que se escolha os critérios ou as estratégias bioclimáticas que serão usados. Em meio a esse contexto, ainda que o designer de interiores não trabalhe diretamente no processo construtivo de uma edificação, é importante que observe algumas características construtivas, de acordo com o que se deseja para o projeto. Dentre elas, estão: · a transmitância térmica do fechamento, que representa o seu desempenho em relação às trocas térmicas entre os ambientes internos e externos; · a transmitância visível, que representa a quantidade de luz que vai atravessar o elemento transparente em direção ao interior do ambiente e que proporciona iluminação natural e economia de energia; · a resistência térmica do material, que representa o isolamento térmico que cada material apresenta. · o fator solar, que representa a quantidade de radiação solar que efetivamente penetra no ambiente pelo fechamento. A inércia térmica do material pode ser estimada pela sua capacidade térmica, assim como o atraso térmico diz quanto tempo o calor levará para atravessar esse material. Outras características a serem observadas são: a absortividade, que representa o quanto de calor solar será absorvido e poderá ser emitido para o ambiente interior em forma de onda longa em função da cor do material; e a refletividade, que representa quanto do calor e da luz incidentes serão refletidos para fora ou para o interior da edificação, também em função da cor do material. Estas características podem evitar o aquecimento solar e favorecer a iluminação natural, respectivamente. No que diz respeito aos materiais, é necessário ter em mente que, em termos de sustentabilidade, é mais adequado utilizar materiais locais, pois estes exigem menos gastos com transporte, o que significa menos energia embutida. Dica As estratégias bioclimáticas podem se mostrar contraditórias: a ventilação natural pode significar um problema no inverno, enquanto é uma solução no verão. Já o aquecimento solar e o sombreamento, têm suas necessidades invertidas conforme os períodos do ano se alternam. A iluminação natural, por outro lado, pode significar incrementos indesejáveis no ingresso de calor solar ao ambiente interno, mas, mesmo que reduza os gastos com iluminação artificial, pode aumentar os custos com condicionamento de ar. Essas variáveis também devem levar em consideração os aspectos acústicos dos projetos, por exemplo, um ambiente com boa acústica pode depender da estanqueidade de seus fechamentos, o que entra em conflito com a ventilação e a iluminação naturais. Então, para se chegar a uma boa solução arquitetônica que responda a todas as necessidades dos ambientes, é proveitoso empregar as estratégias bioclimáticas de forma integrada, o que só é possível tendo conhecimentos teórico e empírico suficientes. Dentro desse cenário, deve-se entender, portanto, que as decisões projetuais influem diretamente na expressividade arquitetônica. Elementos utilizados para responder às questões bioclimáticas podem ser explorados também na sua expressividade formal, de textura e de cor. Uma parede de tijolos maciços pode, além da boa inércia térmica, dar um aspecto mais aconchegante, familiar e natural para a edificação, já um brise, pode participar dos ritmos de composição de fachadas, por exemplo. Assim sendo, todas as alternativas devem ser estudadas considerando também a expressividade arquitetônica. A definição dos elementos e das estratégias bioclimáticas a empregar nos projetos depende da análise bioclimática e do terreno, que é feita no início do processo de projeto.Na carta bioclimática, essas estratégias bioclimáticas são: ventilação natural, ar-condicionado, inércia térmica para resfriamento, umidificação, resfriamento evaporativo, inércia térmica para aquecimento, aquecimento solar e aquecimento artificial. E há algumas possibilidades de uso das estratégias bioclimáticas, como são exemplificadas logo abaixo. Ventilação: pode-se utilizar a forma e a orientação para melhor aproveitar a ventilação, projetar os espaços fluidos, promover a ventilação vertical e direcionar o fluxo de ar para o interior utilizando elementos. Resfriamento evaporativo: pode-se construir as áreas gramadas ou arborizadas e utilizar tanto a molhagem do telhado ou de superfícies pavimentadas quanto os telhados, as paredes verdes ou os telhados alagados. Umidificação: pode-se utilizar fontes e espelhos d’água. Inércia térmica para aquecimento: pode-se construir os isolamentos opacos e espessos, diminuir a área de aberturas e direcionar as aberturas para o sol. Inércia térmica para resfriamento: pode-se sombrear as aberturas, evitar a ventilação diurna e possibilitar a ventilação noturna seletiva. Aquecimento solar: pode-se permitir o acesso da radiação solar através de aberturas laterais e zenitais e utilizar alguns elementos transparentes, solários, jardins de inverno, paredes de acumulação. Além de ser possível usar as estratégias bioclimáticas apresentadas para diminuir o consumo de energia nas edificações, também se consegue fazer isso aplicando outras técnicas para aquecimento, refrigeração e iluminação, que serão descritas a seguir. · Cor: pode ser utilizada para melhorar o conforto térmico, além de atuar na estética e no conforto visual. As cores escuras podem incrementar os ganhos de calor, absorvendo mais radiação, enquanto as claras reduzem os ganhos de calor, por refletirem mais a radiação solar. E esta reflexão pode, inclusive, auxiliar os próprios sistemas de iluminação. · Sistema de aberturas: apresentam diversas funções, sendo muito importantes para o conforto, podendo fornecer ventilação, iluminação natural, calor solar e contato visual com o exterior. As aberturas devem estar bem posicionadas, de forma a garantir a ventilação e, dependendo de cada clima, a possuir ou não proteções solares externas ou internas e vidros especiais. · Vegetação como sombreamento: algumas vezes, apenas as proteções solares não garantem o sombreamento adequado de uma abertura. No Oeste, por exemplo, o brise adequado no verão em alguns casos bloquearia completamente a abertura, prejudicando, assim, a iluminação natural. O uso de árvores de folhas caducas pode ser uma solução para o problema, sombreando a janela sem bloquear a luz natural e permitindo a incidência do sol desejável do inverno, quando suas folhas caem. · Iluminação racional: a iluminação natural pode reduzir significativamente o gasto com energia. E, além do sistema de aberturas verticais, a iluminação zenital também pode ser bastante útil, de forma a iluminar locais sem paredes externas e valorizar ambientes mais nobres. Outros sistemas também podem ser empregados, como prateleiras de luz, átrios, dutos de iluminação espelhados, persianas reflexivas, paredes transparentes, poços de luz, refletores externos, etc. Com isso, os problemas na distribuição de luz natural são resolvidos. Logo, integrar a iluminação natural com a artificial é essencial e pode se dar de diversas maneiras, sendo necessário conhecer os dois sistemas para que haja um melhor resultado. · Aquecimento de água: como uma parcela bem significativa de energia elétrica é gasta para o aquecimento de água, principalmente no setor residencial, o arquiteto deve prever já no projeto tubulações de água quente como propiciar a instalação de sistemas de aquecimento a gás ou solar. Esta adoção permite que se reduza o consumo de energia elétrica. Iluminação artificial eficiente: neste caso, existem alguns sistemas de controle como sensores fotoelétricos e dimmers que auxiliam a reduzir o consumo na integração com a luz natural. Afinal, como mencionado, para haver uma iluminação artificial eficiente, é preciso que ela esteja integrada com a iluminação natural e seja corretamente dimensionada e distribuída pelos ambientes. Em suma, projetos que buscam reduzir o consumo de energia e ser mais sustentáveis devem procurar utilizar energias alternativas, como a eólica, a fotovoltaica, a biomassa, a solar, entre outras. Acesse Para entender um pouco mais sobre construções que aliam design com sustentabilidade, acesse este link: https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/10-construcoes-sustentaveis-que-aliam-design-e-ecoeficiencia/ A energia solar pode ser utilizada de diversas formas, como fonte de calor direto, através das janelas e aberturas, ou indiretamente, através da inércia térmica dos elementos construtivos. Outra forma indireta ocorre através de painéis de aquecimento solar, que aquecem a água para uso em chuveiros, torneiras, piscinas e, também, para o aquecimento de ambientes, quando a água circula por serpentinas no piso, por tubulações nos rodapés ou mesmo por radiadores sob as janelas. Ainda, a energia solar também pode ser convertida em energia elétrica através de painéis fotovoltaicos e pode ser utilizada como alternativa à energia fornecida pela concessionária. Atualmente, a implantação dessa alternativa em residências e comércios é crescente e promissora. Do mesmo modo que a energia fotovoltaica, a energia eólica representa uma alternativa promissora em relação à energia elétrica fornecida pelas concessionárias, pois é gratuita e disponível também à noite. Um gerador eólico pode ser construído para alimentar os gastos energéticos de uma residência ou, até mesmo, de uma comunidade inteira. Por sua parte, a água da chuva representa um potencial de economia no uso dos recursos naturais e é viável em quase todo o território nacional. Quando chove, normalmente essa água é captada nas edificações, porém, é logo direcionada por calhas ao sistema pluvial, que a dispensa nas redes públicas de esgoto. Se em algum ponto desse processo houvesse a instalação de filtros e reservatórios, essa mesma água poderia ser reutilizada para descargas sanitárias, lavagem de carros, rega de jardins e, se bem filtrada e purificada, poderia ser potável. Ou seja, a água que já foi usufruída também pode ser reutilizada, se tiver sido devidamente filtrada e purificada. Existem alguns sistemas de purificação de água, dentre eles, um dos mais sustentáveis é o sistema conhecido como zona de raízes. Lamberts et al. (2013) afirma que todos os conceitos de estratégias bioclimáticas devem ser aplicadas no projeto, pelo menos de forma qualitativa. Isso é mais fácil em edificações de porte pequeno ou residenciais, nas quais o número de variáveis é menor e as possibilidades de explorar a iluminação e o condicionamento naturais são maiores. Já nos setores comercial e público, a complexidade é muito maior, pois os sistemas artificiais quase sempre são a fonte principal de iluminação e de conforto e o uso do espaço por um número maior de pessoas demanda mais energia. Nesses casos, é ainda mais urgente integrar os sistemas naturais e artificiais e utilizar equipamentos mais eficientes, como também empregar a simulação como ferramenta de projeto. Com a aplicação da arquitetura bioclimática, é possível imaginar o crescimento de cidades com um impacto ambiental menor. Para cada clima diferente, existem diversas tipologias arquitetônicas que podem ser adotadas, por exemplo, onde se tem neve ou geada, como os telhados inclinados evitam o acúmulo de gelo, já em lugares muito quentes, as proteções solares são indispensáveis. Porém, cada local e cada edifício possuem suas peculiaridades e características diferentes, inclusive a orientação solar. Portanto, é crucial compreender o local e o clima dele para que se aplique as melhores estratégias existentes nas diferentes tipologias climáticas. Nesse sentido, é possível que alguns edifícios se tornem referências, devido às suas tipologias adaptadasao clima e/ou à utilização de estratégias inovadoras, considerando sempre aspectos como eficiência energética e conforto ambiental. 2.1 Consumo energético no Brasil O setor da construção civil tem grande peso no consumo de energia elétrica. Esse consumo de energia elétrica dado nas edificações residenciais, comerciais, serviços e edificações públicas no Brasil corresponde a aproximadamente 50% do total da eletricidade consumida no país. Segundo o Centro Brasileiro de Informação de Eficiência Energética (PROCELINFO), o potencial de consumo é grande, mas, por outro lado, a economia de energia na construção civil é expressiva atualmente. As novas edificações construídas de acordo com os padrões definidos pela Etiquetagem PBE Edifica podem obter uma economia de até 50%, já as edificações existentes que sofrerem grandes reformas, uma economia de até 30%. A oferta de energia no Brasil tem origem em diversas fontes, tais como: hidráulica, gás, carvão, óleo combustível, petróleo e óleo diesel, por exemplo. Segundo Lambert et al. (2013), em consulta à Empresa de Pesquisa em Energia Elétrica (EPE), em 2011, mais de 80% da produção de energia no Brasil veio de geração de hidrelétrica. Contudo, é importante ressaltar que esses dados podem variar de acordo com a fonte bibliográfica, mas, de maneira geral, pode-se concluir que a maior parte da energia em nosso país tem origem nas hidrelétricas. Ainda de acordo com Lambert et al. (2013), o consumo de energia elétrica no Brasil naquele mesmo ano alcançou 480,12 TWh, sendo que deste total as edificações representam 46,7% (224,20 TWh). Na figura abaixo, note os percentuais de consumo de energia, em 2011, ocorridos nos setores residencial, comercial e público. Figura 5 — Consumo de energia em edificações no Brasil Fonte: elaborada pela autora (2020). Observe que o consumo total pelas edificações chega próximo a 50%. Segundo Gonçalves et al. (2015), esses valores de energia consumida no setor das edificações variam consideravelmente de uma região ou país para outro, conforme são as condições climáticas, a economia, a tecnologia disponível e os padrões culturais daquele local. Sabe-se que, no Brasil, a distribuição do consumo de energia elétrica no setor residencial mostra a predominância dos eletrodomésticos somada à iluminação artificial, o que totaliza 60%, seguidos do aquecimento de água, com mais 30%. Por outro lado, em países desenvolvidos, em sua a maioria localizados em regiões de clima temperado e frio, o consumo predominante no setor residencial está relacionado ao aquecimento de ambientes internos, representando 60% do consumo energético, seguido pelo aquecimento de água com 18% (GONÇALVES et al., 2015). Exemplo: Não se pode culpar a arquitetura pelo consumo energético em todas as circunstâncias, visto que grande parte desse consumo é oriundo de eletrodomésticos, cabendo a conscientização do público em geral em prol de um consumo mais eficiente. Quanto aos edifícios comerciais, há predominância da demanda pelo resfriamento artificial, independentemente do contexto climático. Essa dependência dos sistemas ativos de climatização é característica marcante da cultura internacional nos ambientes de trabalho (GONÇALVES et al., 2015). Além disso, é imprescindível conhecer o uso da edificação. Isto, porque, por um lado, edificações com baixos níveis de uso, geram pouco calor interno. Portanto, suas necessidades de aquecimento ou refrigeração dependerão das características climáticas. Edificações com altos níveis de uso, por outro lado, tendem a necessitar de refrigeração devido à geração de calor interno no edifício dada pelas máquinas, pelas pessoas em suas atividades, pelos motores e pelos equipamentos diversos. Roaf et al. (2009) recorda que o ser humano, há milhares de anos, já precisava construir edificações mais resistentes que fossem capazes de o proteger do calor do deserto e do frio. O resultado desta grande imigração da humanidade é uma extraordinária diversidade de moradias construídas com materiais locais, concebidas de modo adequado ao clima e costumes da sociedade local. Veja na figura a seguir a ilustração esquemática dessas relações. Figura 6 — Interação de clima, pessoas e edificações Fonte: elaborada pela autora (2020). 2.2 Orientação solar das edificações Diante do que já foi discutido até aqui, acredita-se que a orientação solar é um dos elementos mais importantes a ser considerado quando se tem como objetivo o conforto dos usuários. A posição da edificação no lote deve ser definida de acordo com a posição do Norte e a quantidade de radiação que vai incidir em cada fachada. Nessa situação, a trajetória aparente do Sol influi no potencial de iluminação e no conforto térmico do edifício, por isso, um projeto com conforto e qualidade ambiental traz benefícios aos ocupantes, economiza energia e valoriza o imóvel. Portanto, o estudo de insolação no terreno de um projeto é fundamental antes do desenvolvimento das plantas baixas, cortes e fachadas. Nem sempre o cliente se dá conta da importância disso, e, muitas vezes, a orientação solar no projeto é subestimada. Ou seja, é preciso ter em mente que a análise da trajetória solar e a adequação do projeto com o entorno são determinantes para o conforto, a sustentabilidade e, até mesmo, a durabilidade dos materiais. 2.2.1 Movimentação aparente do Sol Considerando um observador situado na Terra, ao contemplar o trajeto feito pelo Sol da posição nascente (Leste) ao poente (Oeste), sabe-se que ele terá a impressão de que o Sol se movimenta ao redor da Terra, variando a inclinação dos raios em função do dia e horário observado. No movimento de rotação, a Terra gira em torno de seu próprio eixo e leva 24 horas para completar o percurso completo. Devido a esse movimento, um observador que esteja situado em determinada latitude terá a impressão de que a Terra é estática e que o Sol se movimenta ao redor da Terra. Já no movimento de translação, a Terra executa um deslocamento em torno do Sol de forma elíptica, e o tempo de duração para realizar o percurso completo é de aproximadamente 365 dias, ou seja, um ano. Em determinados meses do ano, um hemisfério receberá mais radiação do Sol do que o outro, definindo os períodos do verão e inverno. Nos dias de solstício, ocorre o recebimento de luz e calor de forma desigual nos hemisférios. Quando é verão no hemisfério sul é inverno no hemisfério norte. A título de estudo, costuma-se utilizar como referências as datas expressas na figura a seguir. Figura 7 — Datas-referência para o estudo do movimento aparente do Sol Fonte: elaborada pela autora (2020). A trajetória solar dada pelo movimento aparente do Sol tem variações pouco perceptíveis de um dia para o outro, mas se compararmos as datas específicas dos equinócios e solstícios que marcam o início das estações, conseguimos perceber as diferenças nos horários de insolação. Devido à inclinação de 23 ½º do eixo imaginário que une os polos Norte e Sul do planeta, temos as diferentes estações do ano durante o movimento de translação. As datas do equinócio determinam o começo do outono e da primavera. Neste período, os dois hemisférios recebem luz e calor de maneira equivalente, e característica desses dias é que as noites e os dias possuem o mesmo tempo de duração, ou seja, 12 horas. É importante destacar que tais datas são aproximadas, podendo variar um pouco de uma bibliografia para outra. Além disso, a trajetória aparente do Sol nas regiões dos polos Norte e Sul são muito peculiares: nessas latitudes, tem-se dias inteiros de Sol e, também, dias inteiros de noite. A análise do movimento aparente do Sol e dos horários de insolação nas fachadas são essenciais para o controle da radiação solar na arquitetura. Nos locais em que o clima é predominantemente quente, o estudo da geometria da insolação pode auxiliar no posicionamento e nos dimensionamentos dos dispositivos de proteção solar e prevenção dos ganhos excessivos de calor. O controle pode ser feito com quebra-sol horizontal, quebra-sol vertical, telas,fachadas duplas e ventiladas, sistemas de fachadas fotovoltaicas e, até mesmo, o uso da vegetação em diversas formas de aplicação. Nesse contexto, se considerarmos uma data e um horário determinado, ou seja, um instante fixo qualquer, a inclinação dos raios solares que chega a Terra é variável conforme a latitude onde se situa o observador. Por isso, na prática, as cartas solares são utilizadas, para que se determine o ângulo de incidência do Sol sobre as superfícies, como cobertura e fachadas. As cartas solares são representações gráficas das trajetórias aparentes do sol, projetadas no plano horizonte do observador, e variam mediante a latitude. Também, são representadas nos métodos estereográfico, equidistante e ortográfico, e, em todos estes, a abóboda celeste é representada por um círculo cujo centro é a posição do zênite do observador no plano horizontal. Normalmente, tais cartas apresentam as direções dos quatro pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste. E, para facilitar a leitura delas, podemos inserir os outros quatro elementos de orientação e localização: Nordeste, Sudeste, Sudoeste e Noroeste. Veja no exemplo a seguir a figura da carta solar para a latitude 21º sul. Figura 8 — Exemplo de carta solar e seus elementos Fonte: modificada de folhaazero (2021). Para a compreensão da carta solar, consideramos o observador situado no ponto central da figura olhando para o norte à sua frente. As trajetórias estão representadas na carta nos arcos horizontais, cada uma com suas respectivas datas como é mostrado na Figura 8. As datas mais importantes que usamos como referências são: solstício de verão (mais ao sul), solstício de inverno (mais ao norte), equinócios de primavera e de outono, que são duas trajetórias coincidentes. É necessário conhecer alguns elementos da carta solar para se fazer a leitura correta. Os azimutes são representados na carta solar por linhas irradiadas do centro partindo da posição norte em sentido horário variando de 0º a 360º. O azimute solar é o ângulo formado entre o Norte geográfico e a projeção do sol no plano horizontal. Essa medida angular deve ser feita no sentido horário. Segundo Lamberts et al., (2013), a altura solar consiste no ângulo formado entre o norte geográfico e a projeção do sol no plano horizontal, ambos os ângulos variam conforme a latitude, a hora e a data. As alturas solares são representadas nas cartas solares por círculos concêntricos variando de 0º (no plano do horizonte) a 90º (sol a pino). (FROTA, 2007). E a identificação da posição do Sol no céu é utilizada para prever a insolação nas aberturas, sombreamento das edificações e desenvolvimento de projetos de proteções solares. As cartas solares são projeções no plano horizontal das trajetórias aparentes do Sol durante todo o ano. Essas cartas variam conforme as latitudes, ou seja, a localização da cidade em estudo. Nas zonas polares, são as que recebem em menor intensidade os raios solares, portanto, apresentam as menores temperaturas do planeta. As trajetórias solares para a latitude 90° S não serão visíveis ao observador durante seis meses, e o Sol percorrerá a linha do horizonte subindo e descendo durante seis meses, ou seja, serão seis meses de dia e seis meses de noite. 2.2.2 Carta solar, horários de insolação e rosa dos ventos Atualmente, contamos com alguns programas que auxiliam no estudo da insolação, por exemplo, o estudo de sombras e de ventos predominantes. O SunPath 1.0 auxilia o entendimento da trajetória solar, e o programa gráfico Analysis Sol-Ar auxilia no projeto de dispositivos de proteção solar, além de apresentar dados relativos aos ventos e à temperatura para algumas cidades brasileiras. Ambos os softwares foram desenvolvidos pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LaBEE), na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Assim como o arquiteto e os designers de interiores, os engenheiros e os pesquisadores utilizam recursos de novos programas, cada vez mais sofisticados, e, desse modo, conseguem agilizar seus trabalhos. No entanto, as cartas solares ainda são adotadas em material impresso com instrumentos de desenho, trazendo informações básicas que auxiliam o projeto arquitetônico sem necessidade do uso da informática. A informação mais imediata que podemos obter de tais cartas são os horários de insolação nas respectivas fachadas. As cartas solares possibilitam as análises de insolação. Atualmente, são feitas, em sua grande maioria, com o auxílio de programas específicos em computadores. Essa técnica é empregada há algumas décadas pelos profissionais da área que as usavam para saber a posição do sol em determinada data do ano. Apesar de toda a tecnologia disponível, esta técnica ainda é considerada mais prática por muitos profissionais e pode ser adotada pelo menos no estudo preliminar do projeto. Assista Para entender a Carta Solar pelo Analysis Sol-Ar acesse o link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=cIwHqseDT2g&ab_channel=JosephStroessner 2.2.3 Penetração solar nos ambientes A análise gráfica da carta solar auxilia o estudo da penetração do sol em um ambiente interno para dias e horários específicos. Essa análise é útil quando se quer dimensionar uma marquise ou quebra-sol, por exemplo. O procedimento inicia com os dados da altura solar e do azimute solar, identificados na carta solar. Pode-se fazer o desenho da penetração do sol no cômodo nos dias e horários desejados. Recomenda-se, contudo, escolher dias e horários críticos no propósito de criar elementos que sirvam de anteparos à incidência solar. Por exemplo, supondo um projeto de escritório residencial onde há incidência solar em determinado horário provocando incômodo, com o auxílio da carta solar para a latitude em questão, podemos verificar o ângulo do azimute e a altura solar nesse horário crítico. Supondo, então, que, em consulta à carta solar, tenha sido encontrado o azimute de 295º e a altura solar 30º, o próximo passo será desenhar a planta baixa do cômodo em escala. Após desenhar o ambiente em planta com indicação do norte da fachada analisada, marca-se o ângulo de incidência solar definido pelo azimute. Neste exemplo, o azimute é de 295º. A dimensão dos dispositivos de sombreamento será definida em função da eficácia desejada. Um dispositivo de proteção é considerado eficaz quando consegue barrar toda a radiação solar direta indesejada (FROTA et al., 2007). Um método gráfico chamado traçado de máscaras pode ser aplicado para essa finalidade. Nesse método, utiliza-se ângulos de sombra resultantes de um dispositivo externo em relação a um determinado ângulo de incidência do Sol. Os elementos externos de proteção solar podem ser horizontais, verticais ou mistos — isto é, uma combinação dos dois. Esses elementos podem ser fabricados em diversos materiais, sendo fixos ou móveis; as proteções fixas exigem um projeto muito mais criterioso em relação às trajetórias solares para garantir a eficiência desejada. Devido ao grande número de variáveis, o trabalho manual para dimensionamento dos dispositivos de proteção solar demanda tempo e se torna mais complexo para os nossos dias. Mais uma vez nos deparamos com a simulação computacional acelerando o processo de trabalho. 2.3 Conforto térmico Até então, vimos que o conforto ambiental é uma avaliação pessoal e subjetiva, resultado de sensações advindas de um conjunto de variáveis ambientais, humanas e arquitetônicas. Nas variáveis arquitetônicas, a forma e a escolha dos materiais são pontos-chave no atendimento do conforto ambiental. Preocupados com o alto consumo energético, os profissionais da construção civil se esforçam para encontrar soluções de qualidade e eficiência do conforto para os usuários dos espaços. Nesse sentido, a escolha dos materiais aplicados nas fachadas e coberturas é de grande influência na captação de calor externo para dentro do edifício ou dissipadores de calor interno para o exterior. Sendo assim, a “pele” do edifício pode definir o conforto dos usuários na edificação, já que se trata das variáveis arquitetônicasde conforto. A configuração dos edifícios tanto na forma quanto na escolha dos materiais têm implicações diretas no conforto térmico. O material da cobertura, por exemplo, recebe insolação direta durante todo o dia ou pelo menos quase todo o dia, a menos que haja sombra projetada por outra edificação. Já as fachadas, nas regiões de clima quente, trazem calor para o interior do edifício, aumentando o consumo da energia elétrica com aparelhos de ar-condicionado. E as grandes janelas envidraçadas costumam estar presentes nos projetos contemporâneos como símbolo de beleza, leveza e requinte, porém, esses recursos têm preocupado os pesquisadores em razão do alto consumo energético nas edificações. Chamamos de envelope construído ou envoltória da edificação o elemento de ligação do exterior com o interior da construção. Paredes externas, janelas, portas de acesso ao edifício e coberturas são os elementos principais nesse estudo e que interferem nas sensações de conforto ou de desconforto interno. Ainda, devemos observar com atenção os materiais de construção utilizados com relação à radiação solar recebida, pois se comportam de maneira distinta. Definição O conceito de envoltória também pode ser definido como a pele do edifício, que é formada por materiais opacos e transparentes que compõem as fachadas e a cobertura. A forma, a orientação do edifício, os cheios e vazios, os elementos de sombreamentos nas fachadas, materiais utilizados são fundamentais. Não faz parte da envoltória a parcela construída no subsolo da edificação, nesse caso, consideramos apenas os elementos que estão acima do nível do solo e que possuem com contato com o exterior ou com outro edifício. Os materiais diferem entre si no comportamento térmico, considerando isso, a norma ABNT NBR 15.220-2 exemplifica os cálculos de resistência térmica de materiais homogêneos e heterogêneos, de capacidade térmica, de transmitância térmica, de fator solar e de atraso térmico. Para obtermos uma especificação adequada dos materiais construtivos, será preciso conhecer o comportamento térmico dos materiais e algumas propriedades físicas dos mesmos. Segundo Corbella et al. (2003), quanto às propriedades termofísicas dos materiais, são adotados alguns termos. Propriedades termofísicas dos materiais: · Massa específica: é a massa do material por unidade de volume; · Calor específico: é a quantidade de energia térmica necessária para elevar a temperatura em 1ºC à temperatura de 1kg do material; · Calor específico volumétrico: é a quantidade de energia térmica necessária para elevar a temperatura em 1ºC à temperatura de 1m³ do material; · Condutividade térmica: é a quantidade de energia térmica transmitida através de um corpo homogêneo de 1m de comprimento, por unidade de área perpendicular à transmissão e por segundo, quando a diferença de temperatura entre as duas faces é de 1ºC; · Resistência térmica: relacionada à oposição de um material, ou de um conjunto de materiais, é a transmissão de energia térmica. A resistência do material está diretamente relacionada à espessura dele e é inversamente proporcional à condutividade; · Difusividade: é a capacidade de um material em propagar uma onda de temperatura; · Efusividade: é a propriedade de um material relacionada à sua capacidade de absorver e restituir energia térmica do ar que rodeia sua superfície, por unidade de tempo; · Coeficiente geral de troca de calor: é a quantidade de energia térmica transmitida por segundo, através de um elemento da construção, considerando as resistências térmicas dos elementos considerados e as resistências superficiais interiores e exteriores. Esse valor é importante para edifícios que funcionam sempre com calefação ou ar-condicionado. Imagine a radiação solar incidindo na superfície externa em determinado material construtivo. Se o material for opaco, haverá uma parcela absorvida, e outra será refletida. Caso seja um material transparente ou translúcido, haverá também uma parcela transmitida diretamente para o ambiente interior. Ou seja, os valores dependerão da refletividade, da absortividade e da transmissividade do material, e a soma dessas três parcelas da radiação incidente corresponde a 100% do total (LAMBERTS et al, 2013): a + r + Ƭ = 1 A parcela da radiação solar será absorvida pelo material e o aquecerá, sendo parcialmente reemitida para fora e parcialmente emitida para o ambiente interno. A propriedade térmica que rege a emissão da radiação para o ambiente interno é a emissividade (e). É importante também compreender o comportamento da edificação com relação à radiação solar infravermelha incidente. A cor é um fator relevante nesse caso e está relacionada às propriedades óticas dos materiais. Cada cor tem um coeficiente diferente de absortividade da radiação solar incidente. Segundo Corbella et al. (2003), quanto às propriedades óticas dos materiais, são adotados alguns termos. Propriedades óticas dos materiais: · Coeficiente de absorção: é a fração da radiação solar incidente que é absorvida pela superfície. · Coeficiente de transmissão: é a fração da radiação solar incidente que é transmitida pela superfície por meio de fechamentos transparentes ou translúcidos (vidros ou plásticos). · Coeficiente de reflexão: é a fração da radiação incidente que é refletida pela superfície. · Coeficiente de emissão: é a relação entre a radiação infravermelha emitida por uma superfície e aquela emitida por um corpo negro padrão com as mesmas área e temperatura. As fachadas e cobertura dos edifícios utilizam materiais opacos (concreto, tijolos, aço, pedras) e transparentes (vidros, policarbonato). Em relação ao aspecto térmico desses materiais, os fechamentos opacos diferem dos transparentes, pois os primeiros não transmitem a radiação solar diretamente para o ambiente interno. O dimensionamento e o posicionamento das aberturas precisam ser vistos com cuidado, pois os vidros e demais materiais transparentes ou translúcidos são os principais responsáveis pela entrada da radiação solar e, consequentemente, pelo aumento da carga térmica. A transferência de calor através de fechamentos opacos ocorre quando há uma diferença de temperatura entre os ambientes externo e interno, e o sentido do fluxo acontecerá sempre da superfície mais quente para a mais fria. Há alguns materiais, como a cortiça, isopor, a lã de vidro e o concreto celular, que possuem propriedade isolante térmica, pois são materiais porosos, de baixa densidade. Além disso, a emissividade é a propriedade dos materiais que mensura a quantidade de energia térmica emitida por unidade de tempo, dessa forma, os metálicos possuem baixa emissividade e os não metálicos possuem emissividade acima de 0,85. A absortividade ou absortância (a) está relacionada à cor superficial. De maneira geral, as cores mais claras são mais refletivas e as mais escuras são mais absorventes. Na figura abaixo, vemos os valores da absortância (a), para radiação solar (ondas curtas), e da emissividade (e), para radiações a temperaturas comuns (ondas longas). Figura 9 — Absortância e emissividade dos materiais Fonte: elaborada pela autora (2020). A inércia térmica é uma característica importante dos fechamentos que também precisa ser considerada. Quando as diferenças de temperaturas entre a mínima e a máxima forem grandes, a inercia térmica pode ser uma boa solução. O pico da temperatura interna acontecerá algumas horas após o fechamento estar submetido ao pico da temperatura externa, ocorrendo, neste caso, um retardo na transferência de calor. É a inércia térmica que indica a tendência a uma constância na temperatura. A cor influencia bastante também, especialmente as cores escuras em fachadas ensolaradas durante longo período do dia, pois elas vão incrementar o fluxo de calor para o interior. Coberturas e paredes orientadas para oeste receberão a radiação solar da tarde somada à temperatura do ar já aquecida pela insolação de todo o período da manhã. Essas situações são propensas ao ganho de calor ao edifício. Analisemos agora quanto à conduçãodo calor através do fechamento: com a elevação da temperatura da superfície externa do fechamento, haverá diferença entre as temperaturas externa e a interna, de maneira que a troca térmica através da parede opaca será por condução. O fluxo de calor atravessa o material (parede) por condução, e a sua intensidade depende do grau de condutividade térmica do material. Logo, a condutividade térmica é uma propriedade do material que está relacionada com a densidade e representa a sua capacidade de conduzir maior ou menor quantidade de calor por unidade de tempo. A norma NBR 15220-2:2005 — Desempenho térmico de edificações traz muitos exemplos com uma margem de variação, pois, sabe-se que um mesmo tipo de material pode ter variações de comportamento térmico dependendo da fabricação. Vejamos mais algumas informações, extraídas da norma, sobre materiais opacos frequentemente utilizados na construção civil. · Blocos cerâmicos: são blocos de barro cozido, encontrados em vários tamanhos, e podem ser estruturais ou estarem apenas na função de vedação. Em geral, apresentam resistência térmica maior do que os tijolos maciços devido à presença de ar no interior do material. · Blocos de adobe: são confeccionados com colos que contenham 50% de argila e pelo menos 25% de areia. Diferem dos tijolos por não serem cozidos, pois são assentados e emboçados com barro e devem receber proteção contra umidade. Tem baixa condutividade térmica. · Blocos de concreto celular: são vazados e possuem a mesma utilização dos tijolos de barro. Apresentam uma resistência térmica maior do que o concreto devido à sua massa específica menor. · Concreto armado: possuem maior condutividade térmica devido aos seus elementos estruturais em ferro e são muito utilizados nas construções em geral, como em lajes, vigas, paredes portantes, painéis de vedação · Concretos leves: são utilizados quando se deseja tornar uma estrutura mais leve, substituindo a brita por agregados leves — argila expandida, isopor, vermiculita. No caso do concreto celular autoclavado, são fabricados a partir de uma ração química. Encontramos em alvenarias de vedação ou laje nervurada e para alvenaria estrutural. No que diz respeito aos materiais transparentes, as principais trocas térmicas em uma edificação acontecem através desses fechamentos, que podem ser janelas, claraboias e qualquer outro elemento transparente na arquitetura. As trocas por condução e convecção ocorrem de modo semelhante aos fechamentos opacos. Também existe, neste caso, a possibilidade da transmissão integral com a janela aberta ou a transmissão por radiação através do vidro, que dependeria da transmissividade do vidro. No projeto arquitetônico, as principais variáveis que podem alterar a entrada de calor pelas aberturas são: · a orientação e o tamanho das aberturas; · o tipo de vidro; · o uso de proteções solares internas e externas. Quanto aos materiais transparentes, hoje em dia se encontram inúmeros tipos de vidros disponíveis no mercado. O vidro incolor de espessura de 3 a 4mm é o mais conhecido e amplamente utilizado. O fator de ganho solar é variável nos vidros, o vidro incolor, por exemplo, costuma ser avaliado como o de pior desempenho térmico, com maior ganho de calor para o ambiente. Embora esse fator possa assustar no início, o vidro incolor possui algumas vantagens: baixo custo e boa visibilidade. Sabendo utilizar com equilíbrio, todos os vidros podem ser aplicados nos projetos. Depois do vidro simples incolor, temos os vidros com pigmentação bronze, cinza e verde. Os vidros refletivos metalizados apresentam melhores desempenho térmico. No objetivo minimizar o ganho de calor, recomenda-se o uso dos vidros seletivos, isto é, os vidros que filtram a radiação solar permitindo a passagem da radiação visível e filtrando a radiação térmica não visível. Conforme Corbella et al. (2003) traz, os tipos de vidros são os apresentados abaixo. · Plano: deixa passar quase totalmente a radiação solar para o interior, mas bloqueia a transmissão da radiação emitida pelas pessoas e superfícies internas; é o vidro mais usual. · Temperado: possui menor transparência que os vidros simples, porém são mais resistentes; deve ser utilizado em vãos pequenos. · Laminado: tem um desempenho térmico é variável de acordo com as propriedades óticas das películas e um bom desempenho acústico; são vidros em lâminas intercaladas por película plástica ou resina e são indicados para lugares que exigem mais segurança, como fachadas de edifícios. · Refletivo: também chamado de vidro espelhado, possui uma camada metalizada que reflete a radiação solar; o desempenho térmico dele é variável de acordo com a sua cor, o processo de metalização ou a lâmina aplicada. · Vidro duplo: constituído por duas lâminas de vidro e uma câmara de ar selada, possui ótimas propriedades termoacústicas, podendo inclusive haver persiana entre as lâminas; a fabricação precisa ser bem cuidadosa para o vidro não embaçar. · Vidro duplo refletivo: formado por duas lâminas, geralmente com uma do tipo low-e soft coat (camada macia) e outra low-e hard coat (camada dura), possui uma camada extrafina de metal, numa superfície interna, para refletir a radiação solar; o tipo soft coat só pode ser usado para compor o vidro duplo, nunca sozinho. · Aramado: tem uma malha metálica em seu interior que lhe confere alta resistência a impactos e retém, no caso de quebra, os cacos; é um vidro que absorve muita radiação solar. 2.3.1 Desempenho térmico dos edifícios O desempenho térmico dos materiais aplicados na construção dos edifícios está diretamente relacionado ao conforto internos dos usuários e consequentemente ao consumo energético. A importância do assunto é vista tanto pelo bem-estar e pela qualidade de vida quanto pela questão da economia durante a vida útil do edifício. Supondo uma edificação vertical, um edifício de apartamentos, por exemplo, entende-se que qualquer unidade habitacional ali sofrerá interferências térmicas com o meio externo pelos elementos das fachadas e cobertura do edifício, mas também pelo contato de uma unidade habitacional com seus vizinhos de cima e de baixo. O pavimento de cobertura receberá, nessa situação, maior contribuição térmica, pois terá contato com o meio externo pela própria cobertura, além da contribuição térmica através dos elementos das fachadas e ainda pelo contato com o pavimento inferior a ele. A análise térmica do apartamento de cobertura costuma ser utilizada como parâmetro de estudo, visto que esta unidade sofre mais com as contribuições térmicas da edificação. Em resumo, as contribuições térmicas nos apartamentos são oriundas de: elementos da cobertura, paredes e materiais das fachadas e pavimento contíguo. Os elementos que interferem no comportamento térmico do edifício são: · a geometria do edifício (forma e volume); · os dados climáticos; · e as propriedades térmicas dos materiais. Atualmente, o profissional de projeto e construção civil utiliza como meio de consulta nesse trabalho duas importantes normas técnicas: · NBR 15220:2005 — Desempenho térmico de edificações (prescritiva): apresenta definições, propriedades térmicas dos materiais, métodos de cálculo (transmitância, capacidade térmica, atraso térmico e fator solar), zoneamento bioclimático e diretrizes construtivas. · NBR 15575:2013 — Edificação habitacionais (desempenho): apresenta requisitos e critérios de classificação. Existem dois métodos distintos utilizados para análise do comportamento térmico do edifício: o método de procedimento simplificado e o método de aplicação e simulação computacional. No método de procedimento simplificado, são feitos cálculos com base nas características dos materiais construtivos que compõem as paredes externas e a cobertura do edifício, sendo um método mais simples e menos preciso. Já no método de simulação computacional, a investigação é feita a partir de softwares, programas específicos disponíveis gratuitamente na internet. Este método tem a grande vantagem de ser mais preciso, apresentando umaanálise detalhada da edificação com considerações sobre as condições climáticas da região, as propriedades térmicas dos materiais e os elementos construtivos utilizados. No caso da avaliação simplificada, importa calcular a transmitância térmica e a capacidade térmica dos elementos. Na cobertura, apenas a transmitância térmica, já nas fachadas, é necessário calcular a transmitância térmica e a capacidade térmica dos elementos. A fórmula básica é U = 1/R, sendo U = transmitância térmica e R = resistência térmica. A transmitância térmica é o inverso da resistência térmica. No cálculo da resistência térmica, considera-se a espessura da camada e a condutividade térmica do material. Portanto, temos a fórmula: R = e/λ Sendo: R = resistência térmica, e = espessura da camada e λ = condutividade térmica do material. A condutividade térmica ( λ ) é uma propriedade específica de cada material. De acordo com a condutividade, o calor que entra no edifício pode ser conduzido através dos materiais com mais ou menos facilidade dependendo da condutividade térmica de cada um. A tabela propriedades térmicas dos materiais apresenta os valores para a densidade, a condutividade térmica e o calor específico de muitos materiais de construção. Com base nessas três propriedades, pode-se calcular tanto a transmitância térmica quanto a capacidade térmica, que são os dados de referência para a avaliação do desempenho térmico simplificado. Quanto à investigação da capacidade térmica, multiplica-se a espessura da camada pelo calor específico do material e pela densidade de massa aparente do material. Portanto, temos a fórmula: CT = e . c. p Sendo: e = espessura da camada, c = calor específico do material e p = densidade de massa aparente do material No atendimento à norma NBR 15220:2005, a capacidade térmica (CT) dada em KJ/m²K deve ser ≥ 130 para as zonas bioclimáticas 1,2,3,4,5,6 e 7. Não há requisito para a zona bioclimática 8, segundo a norma. No caso da transmitância térmica, a norma apresenta as condições necessárias para cada tipo de zona bioclimática. Observando a tabela Transmitância térmica U, a transmitância térmica que será recomendada varia de acordo com a absortância. De acordo com a norma, é preciso ter requisitos e critérios. Esses critérios são a análise quantitativas desses requisitos. Vejamos os critérios de vedações verticais quanto à transmitância e capacidade térmica na sequência. Com relação à transmitância térmica, ela tem que ser menor do que 3,7 para as zonas bioclimáticas de 3 a 8, e menor do que 2,5 também para as mesmas zonas bioclimáticas. Nesse caso, o número vai variar de acordo com a absortância térmica do material, isto é, de acordo com a cor do material. De acordo com a zona bioclimática onde situa o projeto arquitetônico, busca-se ajustar os materiais de cobertura e fachadas do edifício a fim de atender os requisitos e critérios apontados pela norma de desempenho do edifício. Acesse Para saber mais sobre o Desempenho térmico de edificações, acesse este documento: https://labeee.ufsc.br/sites/default/files/disciplinas/ApostilaECV5161_v2016.pdf Sintetizando Em suma, o estudo das condições ambientais e estruturais de uma edificação proporcionam ao designer de interiores a possibilidade de entender, com mais precisão, quais são as melhores estratégias de controle ambiental em cada projeto. Por isso, não há como trabalhar em interiores sem entender as interferências das condições externas. Bibliografia ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-2: 2005: Desempenho térmico de edificações – Parte 2: Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de edificações. São Paulo, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-3:2005: Desempenho térmico de edificações — Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. São Paulo, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: 2013: Desempenho de edificações habitacionais. São Paulo, 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-3:2013: Edificações Habitacionais — Desempenho — Parte 3: Requisitos para sistemas de piso. São Paulo, 2013. BARROSO-KRAUSE, C. et.al. Bioclimatismo no projeto de arquitetura: dicas de projeto alguns fundamentos e instrumentos para concepção em clima tropical úmido para edificações previstas sem climatização ou com climatização mista. Rio de Janeiro: PROARQ/DTC/FAU/UFRJ, 2005. BARROSO-KRAUSE, C. et al. Princípios de alta qualidade ambiental aplicados ao processo de seleção de projetos de arquitetura: o laboratório nutre. GTP — Grupo, Projeto, Arquitetura e Sustentabilidade, v. 7, n. 1, São Carlos, p. 73-89, mai., 2012. BROWN, G. 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Desempenho térmico de edificações. Disponível em: https://labeee.ufsc.br/sites/default/files/disciplinas/Aula%20-%20NBR15220%20%20Diretrizes%20const%20para%20hab.pdf. Acesso em: ago. 2021. LAMBERTS, R. et al. Eficiência Energética na Arquitetura. São Paulo: PW Editores. 1997. E-book, Rio de Janeiro: Eletrobrás, PROCEL, 2013. Disponível em: http://www.labeee. ufsc.br/publicacoes/livros Acesso em: 16 mar. 2020 LAMBERTS, R. Conforto e Stress Térmico. Laboratório de Eficiência Energética em Edificações. Disponível em: www.labeee.ufsc.br. Acesso em: 16 mar. 2020 MACARÓ, L. R. Energia na edificação: estratégias para minimizar o seu consumo. 2 ed. São Paulo: Projeto, 1991. MARCO, C.S. Elementos de Acústica Arquitetônica. Ed. Nobel. São Paulo, 1990. MASCARÓ, L. R. de. Ambiência Urbana. 1. ed. Porto Alegre: Sagra – D.C. Luzzatto, 1996. NETO, P. C. de A. Análise da influência da área de abertura no conforto térmico de ambientes residenciais no contexto climático de Brasília. 2018. 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Aprenderá, ainda, como o conhecimento científico se associa ao design para estimular a fabricação, o emprego, o reuso, a renovação e o progresso de materiais em peças e objetos, que vão desde a moderada à notável escala. Nesse sentido, você vai considerar, por exemplo, que um detalhe na formação de um produto influencia na transformação da peça e faz diferença no seu resultado. Além disso, verá como os valores que fazem a inclusão de critérios ecológicos permeiam as concepções desenvolvimentistas acerca da reciclagem e do transporte de materiais. Aqui, você estudará a respeito das diversas possibilidades de uso do gesso ecológico aplicado à arquitetura de interiores, seja para residência, seja para salas comerciais; do tijolo de solo cimento e da sua implementação na construção civil com custo acessível e forte influência sustentável; das luminárias em LED, da sua durabilidade, da sua eficiência e das viabilidades para projetos de interiores; e da cortiça e dos tecidos de forma sustentável. Por fim, convidamos você a entrar em contato com as diversas possibilidades de utilização das madeiras de demolição e do papelão dentro da construção civil e do design de interiores, como também com o processo de recriação a partir de garrafas PET. Bons estudos! Objetivos da Unidade: · Conhecer os conceitos de sustentabilidade e a influência desta na arquitetura de interiores. · Identificar os métodos e os processos na obtenção de materiais recicláveis; · Conhecer o reaproveitamento de materiais recicláveis. · Analisar práticas no projeto de interiores com materiais recicláveis. · Aprender sobre a natureza do gesso ecológico e a aplicabilidade no design de interiores. · Conhecer os benefícios do tijolo ecológico. · Analisar a energia elétrica e os efeitos do CO2. · Conhecer a tecnologia LED e as suas possibilidades no projeto de interiores. · Conhecer os tipos de luminárias existentes comercialmente no mercado e as suas demandas. · Analisar as características, os atributos técnicos e a inserção da cortiça em projetos de interiores. · Analisar as características, os atributos técnicos e a inserção dos tecidos em projetos de interiores e ambientes. · Analisar a natureza da madeira de demolição, as implicações e a utilização dela. · Entender o processo de reciclagem de garrafas PET’s e as suas implementações na construção de objetos para arquitetura de interiores e na construção civil. · Conhecer as implementações do papelão reciclado. · Entender como o papelão pode ser usado para a construção de mobiliário. Design e Meio Ambiente A sustentabilidade deriva da relação com o desenvolvimento sustentável, que consiste na formação de um conjunto de ideias, estratégias e demais atitudes que dizemos ser ecologicamente corretas e, até mesmo, economicamente praticáveis e socialmente justas. De acordo com Claro et al. (2008, p. 289-290): O termo sustentabilidade está cada vez mais presente no ambiente empresarial. A definição de sustentabilidade mais difundida é a da Comissão Brundtland (...), a qual considera que o desenvolvimento sustentável deve satisfazer às necessidades da geração presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Essa definição deixa claro um dos princípios básicos de sustentabilidade, a visão de longo prazo, uma vez que os interesses das futuras gerações devem ser analisados. Segundo Claro et al. (2008), a maioria dos estudos sobre sustentabilidade afirma que ela é composta por três dimensões que se relacionam: a econômica, a ambiental e a social. Veja a seguir as suas definições. · Dimensão econômica: inclui não só a economia formal, mas também as atividades informais que proporcionam serviços para os indivíduos e para os grupos, aumentando, assim, a renda monetária e o padrão de vida das pessoas. · Dimensão ambiental: estimula empresas a considerarem o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente, na forma de utilização dos recursos naturais, e contribui para a integração da administração ambiental na rotina de trabalho. · Dimensão social: consiste no aspecto social relacionado às qualidades dos seres humanos, como suas habilidades, dedicação e experiências, abrangendo tanto o ambiente interno da empresa quanto o externo. Figura 1 — Dimensões da sustentabilidade Fonte: Sikdar (2003, p.1930). Logo, a sustentabilidade é entendida como a conservação e até mesmo a manutenção de um determinado cenário, pois previne o ambiente de possíveis ameaças. A sustentabilidade é um conceito que ouvimos com frequência nos últimos 30 anos, e, a cada período, percebemos o quanto é importante fazer a nossa parte para a salvação do planeta. Quando atrelamos a sustentabilidade a um projeto arquitetônico, estamos pensando na redução do esgotamento de recursos. De acordo com Sustentarqui (2018), como já comentado na Unidade 2, um projeto arquitetônico sustentável deve ter as seguintes características: · reduzir, ou evitar completamente, o esgotamento de recursos críticos, como energia, água, terra e matéria-prima; · prevenir a degradação ambiental causada por instalações e infraestruturas; · construir ambientes que sejam habitáveis, confortáveis, seguros e produtivos. O pensamento sustentável é uma das preocupações mais decorrentes deste século, quando se trata da construção civil. Nos últimos anos, muitas empresas brasileiras e estrangeiras têm trabalhado investigando materiais sustentáveis. O objetivo desses centros é criar alternativas para a substituição dos plásticos em embalagens. Assim, a harmonia entre o meio ambiente e a indústria de construção é um grande desafio para a construção sustentável. Para tanto, o conceito de sustentabilidade deve guiar todas as etapas do projeto construtivo, incorporando, por exemplo, o uso de materiais sustentáveis que proporcionem menor impacto no meio ambiente. Sustentarqui (2018) também destaca os seis princípios fundamentais da sustentabilidade que devem orientar a arquitetura sustentável, princípios esses veremos novamente nos tópicos abaixo. · Aperfeiçoar o potencial da edificação: a criação de edifícios sustentáveis começa com a seleção adequada do local, considerando a reutilização e/ou a reabilitação de edifícios existentes. A localização, a orientação e o paisagismo de um edifício também afetam os ecossistemas locais, os métodos de transporte e o uso de energia. O local de um edifício sustentável deve reduzir e controlar o escoamento de águas pluviais. · Otimizar o uso de energia: com o crescimento dos recursos de combustíveis fósseis e das preocupações a respeito da independência eda segurança energética, além do fato dos impactos das mudanças climáticas globais estarem se tornando mais evidentes, é importante encontrar maneiras de reduzir a carga de energia, aumentar a sua eficiência e maximizar o uso de fontes renováveis nos seus imóveis à venda. · Proteger e preservar os recursos hídricos: como a construção modifica fundamentalmente as funções ecológica e hidrológica das terras não construídas, um edifício sustentável deve procurar minimizar a cobertura impermeável criada por meio de práticas que possam reduzir esses impactos. Por isso, a água deve ser consumida de maneira eficiente, reutilizando-a ou reciclando-a para uso local, quando possível. O esforço para levar água potável para as nossas torneiras domésticas consome enormes recursos energéticos nos processos de bombeamento, transporte e tratamento. Muitas vezes, substâncias químicas potencialmente tóxicas são empregadas para tornar a água potável, e, além disso, os custos ambientais e financeiros do tratamento de esgoto são muito significativos. · Otimizar o espaço de construção e o uso de materiais: com o crescimento da população mundial, o consumo de recursos naturais continuará a aumentar e a demanda por bens e serviços adicionais continuará a reduzir os recursos disponíveis. Desse modo, os materiais utilizados em um edifício sustentável minimizam os impactos ambientais do ciclo de vida de um prédio, como o aquecimento global, o esgotamento de recursos e a toxicidade, reduzem os impactos na saúde humana e no meio ambiente e contribuem para a melhoria da segurança e da saúde dos trabalhadores e para redução dos custos de descarte. · Melhorar a qualidade ambiental interna: a qualidade ambiental interna de um edifício tem um impacto significativo na saúde, no conforto e na produtividade dos ocupantes. Dentre outros atributos, um edifício sustentável maximiza a iluminação natural, tem ventilação e controle de umidade apropriados, otimiza o desempenho acústico e evita o uso de materiais com emissão de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs). · Otimizar as práticas operacionais e de manutenção: considerar questões operacionais e de manutenção de um edifício durante a fase de projeto preliminar de uma instalação contribui para a melhoria dos ambientes de trabalho, para uma maior produtividade, para a redução de custos de energia e de recursos e para a prevenção de falhas no sistema estrutural. É importante, também, incentivar os operadores de edifícios e o pessoal de manutenção a participar das fases de projeto e desenvolvimento, a fim de garantir as operações e as manutenções ideais do edifício e de seus recursos, como as instalações de águas pluviais, projetadas para reduzir o impacto do edifício sobre o solo. Segundo o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), a população urbana mundial, hoje em dia, já é cinco vezes maior, em relação aos anos de 1950, além do número de pessoas que vivem nas grandes cidades também já superar a quantidade de indivíduos no meio rural. Assim, a aglomeração populacional cresce aceleradamente nas grandes regiões metropolitanas, e a perspectiva, segundo a mesma instituição, é que o meio urbano reúna 75% dos indivíduos, em 2050. (ONU-HABITAT, 2018). De acordo com Dias (2016), as cidades são alvos de grandes processos migratórios, o que resulta em mudanças nos espaços urbano-arquitetônicos e em transformações nas suas características climato-geográficas. Consequentemente, as metrópoles se tornam cada vez mais inseridas em um crescimento insustentável. Por isso, para amenizar os impactos gerados no entorno urbano, seria necessário adotar, conforme o autor (2016, p. 15) diz, “o planejamento de uma boa arquitetura, adaptada ao local que está inserida”. Se o tema da sustentabilidade na arquitetura tem influenciado novas abordagens, na arquitetura de interiores também marca presença tanto na parte estrutural como nos acabamentos internos e externos para revestimentos e luminotécnica. O descarte de materiais é certamente um dos fatores que geram o aumento de resíduos que serão excretados nos aterros sanitários. Muitos deles vêm da construção civil, por isso, existe a necessidade de criar projetos com materiais duráveis e robustos, de modo que haja menos desperdício. 1.1 Reciclagem Uma das práticas relacionadas ao ecodesign é a reciclagem. A reciclagem de material se pauta em um processo de renovação, chamado hierarquia dos 3 R’s: redução de consumo e serviço; reutilização do material descartado, isto é, dar uma nova função àquele material; e reciclagem, que diz respeito a transformar os resíduos em um novo material. Diante desses conceitos, podemos perceber que a reciclagem é uma prática que se relaciona ao ato de transformar um material que seria descartado, este é reaproveitado através da transformação que se dá no decorrer de processos que permitem a reutilização dele. Assim, o material reciclável é uma alternativa para o reaproveitamento de materiais e influi diretamente no ciclo de produção. Introduzir tais materiais no mercado, evitar o desperdício de matéria-prima e adotar os materiais que já foram disponibilizados são práticas de grande importância, ainda mais quando se tem conhecimento a respeito dos problemas ambientais. Dessa forma, passamos a influenciar na geração do produto e interferir na tomada de decisão, na escolha, na fabricação e na disposição do produto em sua fase final. Considerando isso, para Tischner (2000), as demandas do produto são: • a manufatura; • os custos e a viabilidade técnica; • a funcionalidade; • a estética; • a ergonomia e a usabilidade; • a qualidade; • a durabilidade; • a sustentabilidade. Porém, para saber mais sobre os materiais recicláveis, é necessário entender de onde vêm os resíduos que os originaram, como tais materiais foram transformados e decompostos fisicamente e geraram novos objetos, assim como atentar para as diferenças entre produtos reutilizáveis e produtos recicláveis. Dessa maneira, é importante saber que eles se diferenciam pelos tipos de produto que lhes deram origem, abaixo estão as suas definições. · Materiais reutilizáveis: aqueles aos quais são dadas novas funções para a sua forma e a sua estrutura. · Materiais recicláveis: aqueles que são transformados na forma química ou na forma física. Uma das características dos materiais recicláveis é os tipos de resíduo sólido que os compõem, sendo eles os resíduos úmidos, os restos de alimentos, o papel (guardanapos e filtros) e as folhas (árvore e plantas). Antes da sua reutilização, tais resíduos são separados de acordo com suas características. É em meio a esse contexto que se entende que a reciclagem está ligada aos resíduos e à disposição final do produto. Para que este processo aconteça, é necessário atribuir elementos físicos e químicos aos materiais, seguindo alguns parâmetros, conforme apresenta Bimbati et al. (2017), que estão expostos nos tópicos a seguir. · Composição dos materiais: são os tipos de material usados para incorporar aditivos químicos, como ligas e resinas. · Combinação dos materiais: é a junção de mais de um tipo de material aos produtos, sendo eles compostos ou com várias camadas. · União dos materiais: é a ligação de um produto ao outro, de forma adesiva ou conforme a montagem. No Brasil, temos a Lei nº 12.305/2010, que define a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e que preconiza instrumentos para prevenir e reduzir a geração de resíduos (BRASIL, 2010). Veja a seguir quais são esses instrumentos. · Redução, reutilização e tratamento de resíduos sólidos, destinando adequadamente os rejeitos; · Diminuição do uso dos recursos naturais, como água e energia, no processo de produção de novos produtos; · Intensificação de ações de educação ambiental e aumento da reciclagem no país; · Promoção da inclusão social, da geração de emprego e da renda para catadores de materiais recicláveis. Para garantir o sucesso no processo de reciclagem, deve-se, de início, providenciar a coleta seletiva, processo no qualse seleciona e se segrega os materiais por tipo. Em seguida, é feita a seleção, e esse procedimento, normalmente, é realizado em locais específicos para reciclagem, como os galpões. Depois dessa triagem, o material retorna para a indústria específica que o recicla, transformando-o em uma outra matéria. A partir daí, os materiais recicláveis vão se integrando a projetos em ambientes, mobiliários e peças com cunho sustentável. Nesse caso, desenvolver métodos e meios para a criação de materiais preconizará, assim, a proteção de recursos naturais sem desalinhar com o caráter estético. Por isso, o design deve considerar as condições para a aplicação da ergonomia, a otimização de espaço e os recursos, bem como a harmonia do ambiente, de forma equilibrada, para a concepção do projeto. Materiais e métodos construtivos devem ser analisados, de modo a se alicerçar em princípios ecológicos, pois o alto consumo e a busca por padrões conduziram para o desgaste do meio ambiente. À vista disso, a capacitação acadêmica e científica chega para equalizar a relação do consumo com produtos, sociedade e ambiente. Portanto, é primordial a atribuição do designer no processo de reestruturação na cultura do material, no descarte e no consumo. 1.2 Utilização de materiais reciclados em projetos de interiores e mobiliário Atualmente, a competência para inovar em algo que impacte positivamente na sociedade e que cause menor prejuízo ao meio ambiente é um desafio para o design de interiores. É por isso que desenvolver padrões e ter consciência, por meio de métodos e projetos que priorizam fontes e produtos renováveis, guiam para uma mentalidade de nova valorização e reinvenção. O emprego de materiais recicláveis vai além de um projeto elementar: é parte de um planejamento sistemático, pois, nele, cabem estratégias multidisciplinares que envolvam elementos para a prorrogação da vida útil de um produto, práticas sustentáveis e escolha de prestadores de serviços adequados à proposição ecológica. Segundo Lima (2006), temos alguns materiais específicos. Suas classificações ocorrem considerando o que oferecem, quais são as suas características e as necessidades do projeto ou cliente, aspectos esses que circundam a sustentabilidade no design e na construção de interiores. A seguir, há a classificação desses materiais. • Materiais cerâmicos: vidros e cerâmicas; • Metais: ferrosos e não ferrosos; • Naturais: minerais, fibras, madeiras e outros; • Polímeros: elastômeros, termofixos e termoplásticos; • Compósitos: materiais combinados. Figura 2 — Evolução do uso dos materiais Fonte: Callister (2002). Para fazer a análise do material quanto à sustentabilidade, é fundamental responder a alguns questionamentos, afinal: • onde o material foi fabricado? • que tipo de energia foi integrada à sua produção? • quais são os impactos ambientais gerados a partir da sua fabricação? • a embalagem do produto preconiza a sua origem ou desenvolvimento? • se este material for aplicado, serão gerados impactos negativos ao meio ambiente? • para realizar a manutenção será determinado o uso de produtos que agridem o meio ambiente? • este material poderá ser reutilizado ou reciclado? Na sequência, serão apresentados alguns exemplos de uso de materiais reciclados no design de interiores. · Reciclagem de madeira: ressignificar o uso da madeira através de seu descarte é uma possibilidade de desenvolver um mobiliário com design. · Cabeceira da cama: pode funcionar como estante de livros ou para apoio de objetos e quadros. · Utilização de pallets como estantes: ao abrigar objetos, livros de forma aparentemente desorganizada, fornece ao espaço um ar descontraído e moderno. · Utilização de baús: produz um efeito retrô e possui mais espaço de armazenamento, é uma opção para mesas laterais. Saiba mais Um dos maiores prêmios de design, o iF Design, foi conquistado por um brasileiro por um projeto em parceria com a prefeitura de Santos—SP. Devido ao descarte incorreto feito pelos marceneiros da cidade, o serviço de reciclagem da cidade promoveu o transporte até uma fábrica de reciclagem, lá, o material foi limpo e organizado, o que possibilitou aos designers desenvolver mobílias, através de instrumentação simples de marcenaria; isto agregou valor ao material, fornecendo outra roupagem ao produto, como mesas e bancos design inovadores. Materiais e Sustentabilidade 2.1 Tijolo ecológico O tijolo ecológico é um tipo de tijolo usado na construção e é feito a partir da mistura de terra, cimento e água, nesse caso, a proporção de cimento utilizada é de apenas 10%. Mas o que faz o tijolo ecológico ser ecológico, de fato, é a ausência de queima em seu processo de fabricação, ou seja, ele não libera CO2 na atmosfera. Desse modo, esses três elementos são misturados até formar um composto homogêneo onde, posteriormente, são moldados, prensados e compactados em prensas manuais ou hidráulicas. Após a prensagem, os tijolos passam por um processo de cura e secagem que dura cerca de 30 dias. Alguns tijolos ecológicos também recebem em sua composição bagaço de cano, pneus e rejeitos da construção, o que os tornam ainda mais sustentáveis. Figura 3 — Tijolo ecológico Fonte: bremenkampconstrucao.com.br. Dentre as vantagens do uso do tijolo ecológico, podemos citar (DECORFÁCIL, 2019): · a rapidez da obra; · a diminuição no acúmulo de entulho; · a redução no desperdício de materiais; · o melhor conforto térmico; · o menor custo, por dispensar o uso de acabamentos; · a melhor distribuição do peso da obra e, consequentemente, dos custos com infraestrutura; · a maior resistência; · e a contribuição para a redução da emissão de gás carbônico. Os tijolos ecológicos podem ser encontrados em três tipos de blocos: os tijolos inteiros, os meio tijolos e as canaletas, que podem ser utilizados em qualquer espaço da edificação. Um quesito também importante diz respeito à forma de produção padronizada desses tijolos: ela permite o encaixe perfeito entre as peças. Isto possibilita, como consequência, a redução da quantidade de argamassa necessária para a construção, já que a sustentação não precisa ser feita com cimento. Além disso, uma das possibilidades de uso do tijolo ecológico é o revestimento; existe no mercado o “tijolinho” que, basicamente, se resume em um revestimento atemporal, o qual pode ser utilizado em qualquer ambiente da edificação, seja na parte interna, seja na externa. Esse revestimento, por sua vez, assemelha-se ao tijolo original, dando um aspecto rústico e moderno, é ecologicamente sustentável e possui, em sua matéria-prima, o poliuretano, que é de fácil instalação e dispensa o uso de reboco ou cimento cola. 2.2 Gesso Ecológico O gesso é um material ecológico em todas as suas fases de aproveitamento, desde a mineração da gipsita, sua matéria-prima, até a aplicação final dos sistemas de construção a seco, baseados em chapas de gesso. Suas maiores jazidas estão localizadas no polo gesseiro de Araripe, no sertão de Pernambuco, sendo este polo responsável por 95% da produção nacional. Muito utilizado na construção civil, também é usado em grande proporção no design de interiores para revestimentos de paredes e forros. Figura 4 — Placa de gesso Fonte: Pinterest. Ainda, o gesso tem a capacidade de tornar os ambientes mais agradáveis e confortáveis, em razão das suas propriedades: · é regulador do clima, mantendo o grau de umidade do ambiente em equilíbrio; · é um isolante térmico e um acústico natural; · não é inflamável, proporcionando proteção contra o fogo; · é inodoro, livre de gases tóxicos; · não é agressivo à pele, daí ser aprovado para uso biológico. É preciso compreender que, da mesma forma que o gesso é encarado como um elemento totalmente sustentável, se a sua extração for realizada erroneamente, podem ser causados danos dos mais variados, como a contaminação do solo e de lençóis freáticos. O gesso é um elemento muito utilizado pelos arquitetos e designers de interiores especialmente no que diz respeito à criação de paredes, revestimentos, ornamentações,forros, etc. É um material de fácil modelagem sendo muito útil para a decoração. Com aparência lisa e branca, o acabamento resulta em melhor qualidade, eliminando em grande parte o uso de massa corrida para uma posterior pintura. Ainda, o gesso possui aderência, de modo que elimina a necessidade de chapiscos, com aplicação e secagem muito mais rápidas, permitindo uma finalização de pintura muito mais rápida. Ainda com relação ao design de interiores e ao uso de materiais sustentáveis, Rodrigues et al. (2017, p.27) defende que: O design de interiores, afeta o meio ambiente de diversas formas, sendo que muitos profissionais trabalham para mostrar como é possível incorporar princípios de sustentabilidade também aos ambientes internos. (...) O design industrial deve respeitar todos os condicionantes e inputs relevantes e aplicáveis: da ergonomia às disponibilidades técnicas de produção, da otimização dos recursos ao respeito pelo design de interiores afeta o meio ambiente de diversas formas, sendo que muitos profissionais trabalham para mostrar como é possível incorporar princípios de sustentabilidade também aos ambientes internos. E o uso do gesso na arquitetura de interiores pode ser aplicado de diferentes formas, conforme explica Tenório et al. (2017, p.140): No segmento decorativo, sua aplicação está relacionada à arquitetura de interiores, como o uso de rebaixamento de teto, não só pela função estética, mas também, muitas vezes, pela necessidade de se esconder uma tubulação hidro sanitária aparente no teto, ou o cabo de uma cortina. Para efeitos de iluminação pode ser usado liso para embutir luminárias discretas, ou em sancas que podem ser abertas ou fechadas. Para mais, o gesso adotado na construção de paredes recebe o nome de gesso acartonado, que é mais conhecido como drywall. Este nome é derivado do inglês, que significa “parede seca”, devido à não utilização de água para a moldagem. Em português, o gesso acartonado vem de outras matérias-primas: o gesso e o papel cartão. A placa, por sua vez, consiste em um elemento com resistência à compressão e à flexão de produtos. De acordo com Bertholido (2017), as vantagens do seu uso são: · velocidade na execução; · facilidade na adaptação a qualquer tipo de estrutura; · menor geração de entulho; · facilidade na instalação dos sistemas elétricos e hidráulicos; · resistência ao fogo; · desempenho acústico; · redução de cargas nas estruturas de fundação. As utilizações de gesso em ambientes internos são infindáveis devido às inúmeras possibilidades que podem ser geridas com base na modelagem, como nos desenhos originalmente desenvolvidos em projetos 3D, em que a luz é um forte aliado na concepção de finalização de projetos de interiores. Ainda, o gesso pode ser utilizado para esconder trilhos de cortinas evitando que o varão da cortina fique exposto e pode estar presente na criação de estantes, guarda-roupas e nichos, propiciando ambientes mais sofisticados em substituição à madeira. É de se saber que o gesso ganhou ainda mais notoriedade nos últimos 10 anos com a implementação nos revestimentos para interiores com as placas de revestimentos 3D em ambientes residenciais e comerciais; a estrutura se harmoniza facilmente com os mais diferentes estilos de decoração, uma vez que a placa de gesso 3D permite a criação de padrões e desenhos variados, trazendo textura, sofisticação e personalidade ao ambiente. Seja como revestimento de teto, seja como de parede, as placas, por serem de gesso, são leves, tornando o processo de fixação muito mais simples e rápido. No mercado, elas podem ser compradas por m² ou podem ser feitas por meio de moldes de silicone. Ou seja, o gesso pode ser considerado um grande aliado do arquiteto e do designer de interiores, devido à grande versatilidade que possui. E quando se fala de gesso ecológico é importante salientar as questões relacionadas à reciclagem. Para a instalação no forro, as placas são encaixadas umas nas outras, suspensas por arames e amarradas com massa de gesso e sisal. Muitas vezes, são chumbadas no forro com pequenos ganchos para serem amarradas ao arame, de modo a assegurar os esforços do peso do gesso. 2.3 Tecnologia LED Visando obter níveis satisfatórios de iluminação artificial com a diminuição dos gastos em energia, surgem tecnologias e novos equipamentos que emitem luz. Dentre essas tecnologias, destacam-se o Ligth Emitting Diode (LED). O LED é um componente eletrônico semicondutor, que utiliza a mesma tecnologia nos chips de computador, responsável na transformação de energia elétrica em luz. Seu processo é diferente do das lâmpadas convencionais e inclui a eliminação de gases, raios ultravioletas e o consumo de filamentos metálicos, além de outros componentes agressivos ao meio ambiente. O sistema LED possui em seu interior dois componentes bipolares: anodo e catado. À medida que ocorre a polarização, será permitido ou não o trânsito da corrente elétrica e, na sequência, a incidência ou não de luz. O chip semicondutor possui seu tamanho bem reduzido, mas é imprescindível para que tudo funcione. Graças aos avanços tecnológicos, a iluminação de LED é uma opção que possibilita alternativas de ordem sustentável, tendo em vista que é mais amigável ao ambiente, eficiente no consumo de energia e economicamente viável. Devido ao aumento do custo de energia no cenário mundial atual, a economia de energia e o desenvolvimento sustentável se tornaram algo fundamental, e, nesse contexto, a eficiência da tecnologia LED se mostrou expressiva na última década, pois, até então, eram usados somente como sinalização. Você Sabia? A luz de LED é um dos pontos mais importantes para qualquer decoração de interiores, pois interfere diretamente no modo como as pessoas percebem os espaços. Em comparação com as lâmpadas incandescentes, que são de uso mais comum, as LEDs consomem menos energia e têm tempo de vida útil maior. A tecnologia criada há quase trinta anos evoluiu e com as novas possibilidades de uso da LED, o visual dos ambientes parece mais moderno e diferenciado. Figura 5 — Luzes de LED em diferentes temperaturas Fonte: retirada do Pinterest. Para obtermos o bem-estar em uma determinada edificação, seja ela residencial, seja comercial, devemos muitas vezes mudar nossas atitudes, que estão diretamente ligadas à forma de decoração do ambiente. É importante decorar o ambiente de maneira que seja possível provocar essa sensação de bem-estar almejada nas pessoas que usufruem do espaço; a decoração também pode demonstrar a personalidade do usuário, por isso a decisão de como compor o ambiente com o qual teremos contato diariamente acaba tendo uma grande influência no nosso cotidiano. O uso da luz de LED com suas incidências de maior ou menor intensidade traz aconchego e originalidade a cada projeto, e o projeto luminotécnico elaborado com base nas necessidades do usuário final permite economia e criatividade. A iluminação em LED em forro de gesso, por exemplo, já é uma alternativa clássica de decoração, mas a ela podem ser adicionados o controle de intensidade e a combinação com spots de luz. A fita de LED, nesse caso, pode contornar cabeceiras de cama, espelhos em banheiros, closets e armários, nichos, contorno para painel de TV, dando destaque aos objetos e os tornando mais iluminados e agradáveis de ver. A cozinha também merece uma atenção especial com base em iluminação. São diversos os tipos de luminárias e spots que podem compor o espaço, de acordo com o seu estilo. Outra maneira de destacar os móveis da cozinha é com fitas de LED que podem contornar a bancada ou os armários. Dentro desse contexto, as luminárias também são elementos primordiais num projeto de iluminação, seja residencial, seja comercial. Sem elas, a decoração ficaria deselegante e não aconchegante a cada ambiente. Para tanto, podemos destacar alguns tipos de luminárias de LED disponíveis no mercado e que podem fazer parte de projetos, a depender da primazia empregada em cada um. · Painéis de LED: são considerados econômicos, por economizar até85% de energia, se comparados às lâmpadas convencionais; oferecem iluminação direta no ambiente e possuem foco fixo, além disso, existem em dois tipos mais comuns: o de sobrepor e o de embutir. · Luminárias de teto: são ideais para cozinhas, banheiros, área de serviço e espaços comerciais, esse tipo de luminária contribui para uma decoração mais bonita. A grande vantagem das luminárias de teto é a variedade, pois elas podem ser encontradas em diversos formatos e podem ser feitas de vários materiais, como os lustres para sala de jantar, por exemplo. · Arandelas decorativas: são recomendadas para complementar ambientes que já possuam outro tipo de iluminação, pois a luz gerada por essas luminárias vai ser indireta, e o efeito causado é mais suave e discreto. As arandelas articuladas, por exemplo, são perfeitas para o banheiro, pois podem ser direcionadas para garantir uma iluminação mais rica na hora de fazer a barba ou a maquiagem. · Plafons: são luminárias de instalação diretamente no teto; vem ganhando destaque na decoração por garantir estilo e personalidade aos ambientes, graças aos formatos modernos e variados. · Luminárias de mesa: são muito importantes, pois são utilizadas para ler, escrever, estudar e usar o computador; também são capazes de direcionar a luz e deixar as atividades mencionadas mais confortáveis, além disso, os modelos de LED iluminam bem, economizam energia e não esquentam o ambiente. · Luminárias de chão: são as que servem para enriquecer a iluminação dos ambientes ao mesmo tempo em que os decoram; ainda, são fáceis de deslocar e são comumente usadas em cantos. Ficam bem em quartos e salas de estar. A fita de LED possui algumas vantagens, tais como: ser sustentável, ter alta duração, economizar de energia e ser de fácil de instalação, além de unir funcionalidade à decoração e à estética dos ambientes. Ela é em diversas cores, mas na iluminação indireta a ênfase é as fitas que simulam lâmpadas fluorescentes nas cores branca e amarela. Nesse caso, a luz incide na superfície e só depois é refletida para iluminar outros cantos do local de forma uniforme. 2.4 Utilização da cortiça A cortiça é um material que se adapta da melhor forma em um ambiente, trazendo cores, muita resistência e texturas. Uma de suas características mais marcantes é o fato de ser um isolante térmico, além disso, ela é um material leve e impermeável e condensa milhares de possibilidades em seu uso. É um produto natural retirado de um ramo de árvore, chamado sobreiro, e o sobreiro garante grandes benefícios à natureza, pois, ao ser removida a capa da cortiça — o descortiçamento —, por exemplo, essa planta absorve até 5 vezes mais o dióxido de carbono do ar. A leveza da cortiça é fruto da quantidade de ar presente nas células por cm³, em torno de 40 milhões, ou seja, 50% do volume da cortiça é de ar. Para realizar o descortiçamento, deve ser respeitado o tempo da planta, de 20 a 35 anos, e a cada 9 anos a casca se renova com a mesma espessura. As suas propriedades químicas a qualificam como um produto 100% natural. À vista disso, de acordo com Allen et al. (2012), além da cortiça ser um material sustentável por prover de fontes enérgicas renováveis, não possui toxicidade, é durável, tem elasticidade e impermeabilidade a gases e líquidos. Figura 6 — 5 Different Types of Cork Flooring Fonte: retirada do Pinterest. Seguem algumas de suas características: · resistente ao desgaste com atrito e choque e resistente ao fogo; · hipoalérgica, pois não absorve poeira; · elástica, pois possui flexibilidade ao retornar à forma inicial após a aplicação de pressão; · impermeável; · isolante térmico e acústico. O processamento da cortiça ou descortiçamento ocorre em quatro etapas: · por meio do corte, é determinado o tamanho da prancha da cortiça; · é separada a prancha do entrecasco; · é removida a prancha da árvore, sem quebrá-la; · é marcada a data em que foi extraída a cortiça da árvore. Quanto maior a prancha da cortiça, maior valor comercial se dará ao material. Após a extração, as pranchas ficam em repouso para serem trabalhadas no caso de produzir rolhas e discos. Diante dessa produção natural, ainda existem alguns processos que são derivados da cortiça, que podem ser observados a seguir. Granulado: é a trituração da cortiça por meio de moinhos. É feita a limpeza e depois a secagem por ar quente; é usado como isolante térmico em paredes duplas e piso rústico. Aglomerado composto: é a junção do granulado da cortiça por meio de pressão, temperatura quente e agente aglutinador que agrega os elementos; é usado em revestimentos de interiores e mobiliário. Painel de piso flutuante: é o painel de aglomerado de cortiça em camadas, na parte superior o aglomerado é de alta densidade, no meio, há um aglomerado de fibras de madeira e, embaixo, existe outra camada de cortiça. Para colar todas as camadas, o processo é a prensagem. Aglomerado tipo rubbercork: é a tecnologia que mistura os aglomerados de cortiça com a borracha. Os materiais são prensados à temperatura quente, formando uma massa que irá ser moldada e cortada. Normalmente, usa-se este tipo de tecnologia da cortiça em revestimentos de locais com grande tráfego e pavimentação antiderrapante. Aglomerado de cortiça expandido: é o processo que se dá a partir das sobras de rolhas e outros cortes de cortiça, nele, usa-se uma substância que aglutina o material. Esse produto é o mais inserido em construções, suas aplicações são diversas, tais como: isolamento térmico e fachadas, além de painéis rígidos e divisórias em ambientes. Ou seja, a cortiça tem diversas aplicações em projetos de interiores e mobiliário; e a sua popularidade tem aumentado cada dia mais, pois, além de ser um material renovável, seus tons e texturas permitem desenvolver ambientes e mobiliários distintos, prezando pelo conforto e aconchego. Além de tudo isso, dentre os objetos e materiais derivados da cortiça, podemos citar: • revestimentos de pisos flutuantes e paredes; • placas de isolamento térmico e sonoro; • chapas decorativas; • mobiliários sustentáveis: bancos, mesas, poltronas; • elementos decorativos em formatos hexagonais feitos com aglomerado de cortiça em diferentes texturas; • estrutura para luminária, podendo ser com rolhas ou com formas através da cortiça prensada; • papel de parede. Acesse Para saber mais sobre a cortiça, um modelo da indústria sustentável e um material de construção eficiente, acesse: https://www.archdaily.com.br/br/886004/a-cortica-pode-ser-uma-resposta-as-nossas-necessidades-ambientais-e-de-construcao 2.5 Tecidos A utilização do tecido na história se iniciou na Antiguidade. Porém, com a Revolução Industrial, as técnicas de produção de tecidos se aperfeiçoaram, através do uso de máquinas. Isto possibilitou a substituição da produção artesanal pela industrialização, e, consequentemente, os usos do tecido se diversificaram para além da produção de roupas e de tapeçaria. Figura 6 — Tipos de tecido Fonte: retirada do Pinterest. A relação do tecido com o design de interiores se deu por meio de suas características versáteis e pelas possibilidades de se enquadrar a determinados ambientes de forma fluida. Com a leveza, a durabilidade, a maleabilidade, a forma de transporte e de estruturação que possui, o tecido se concilia a fatores como temperatura e conforto, difundindo através de seu corpo material essas informações. Mesmo com alternância cultural e lapsos temporais, a concretização do elemento têxtil no espaço se ajusta às pretensões e à criatividade de qualquer usuário, dispostos em qualquer área. A utilização deste material fornece um toque de beleza, e, por mais que seja uma prática antiga, é inovador usar os tecidos, pois a praticidade e a economicidade que esse material fornece conduz a uma estética arrojada e repaginada. As opções dadas através do têxtil fazem com que suas funcionalidades se multipliquem, ofertando ao projetista uma generosa gama de utilização com o material. Tendências em feiras internacionais e eventos nacionais comprovam essa ascensão,trazendo cada vez mais novidades na padronização, bem como novos acabamentos, texturas e possibilidades de inserção no ambiente. Ainda, o uso do tecido dá personalidade, atualmente como complemento a elementos estéticos e de revestimentos, como a pintura, mas servindo também como uma terceira camada da superfície. Desse modo, o cenário proporcionado com seu uso vai desde o clássico ao futurístico, dependendo do contexto e da criatividade. Curiosidade A palavra tecido deriva de outra palavra cuja origem é latina, “texere”, que significa tecer ou trançar. O material resultante é feito através do entrelaçamento de variados fios e fibras que podem ser composições naturais ou químicas. Cada tipo de tecido tem uma maleabilidade e secagem diferente. Com a alta demanda de tecidos, a escassez das fibras naturais foi se tornando mais notável, o que resultou no impulso da fabricação de tecidos sintéticos. Abaixo, estão listadas as diferenças de cada tipo de fibra. Fibras naturais: derivam de fontes orgânicas, proteicas ou de vegetais (celulose) e são encontradas na natureza. A seda e a lã, de origem animal e o algodão, o linho, o sisal e a rafia, de origem vegetal, são exemplos destas fibras. Fibras sintéticas: são produzidas quimicamente pelo homem; a exemplo, tem-se o poliéster. Estas fibras podem ser definidas ainda devido às suas propriedades físicas ou químicas: 1. propriedades físicas são relativas à natureza da fibra, ou seja, a matéria-prima, a dimensão, o brilho natural, a resistência, a cor, a capacidade de carga, a elasticidade, a resistência ao calor, a porosidade, a absorção e a resiliência da fibra. 2. propriedades químicas são relativas aos solventes orgânicos, ácidos e álcalis no tecido, ou seja, a forma como tecido muda conforme a presença de ácido na sua coloração, ou sua resistência. Outra classificação do tecido é quanto ao seu entrelaçamento de fios, que pode ser: · entrelaçamento horizontal e vertical; · entrelaçamento das laçadas, com mais de um tipo de fio, como nos tecidos de malha; · entrelaçamento de malha com tecelagem comum, como nos tecidos de laçada; · entrelaçamento de filamentos consolidados, como nos tecidos não tecidos, com estrutura plana e flexível; · entrelaçamento computadorizado, como os tecidos inteligentes, no qual sua estrutura é entrelaçada eletronicamente por meio digital. A utilização do tecido em mobiliários e interiores deve levar em conta a adequação do tecido para compor os espaços, fruto das suas qualidades estéticas e funcionalidade. A seguir, listamos alguns tipos de tecidos e suas utilizações mais comuns. Algodão: é um tecido com adaptabilidade climática, é macio, confortável e possui alta absorção. Aplicado em enxovais, capas paras sofás e tecidos decorativos, em geral é indicado para alérgicos. Seda: é um tecido confortável e de qualidade, porém não é muito resistente. É aplicado em enxovais, almofadas, paredes e até em cortinas. Ao usar cortina de seda, recomenda-se que ela não receba luz direta do sol, pois isto pode modificar a coloração da fibra. Linho: é um tecido com pouca elasticidade, bem resistente, porém amassa com facilidade; usado em estofados e cortinas. Lã: é um tecido grosso, de origem animal, indicado para locais frios, sua secagem é demorada; indicado para mantas e enxovais. Sisal: é um tecido originário de uma planta, mais precisamente da fibra de folha, muito resistente e durável; indicado para uso em tapetes. Viscose: é um tecido aplicado em ambientes internos, usado em estofados e toalhas de mesa. Couro sintético ou courino: é um tecido feito de poliuretano, nylon e poliéster, possui durabilidade e normalmente é usado em estofado. Nylon: é um tecido leve, não encolhe, possui ótimo caimento, e sua secagem é de rápida absorção; normalmente é usado em cortinas e almofadas e não é muito indicado para ambientes quentes, pois pode fornecer calor. Poliéster: é um tecido forte, não demanda muitos cuidados nem possui muito brilho; é bem indicado para cortinas, além disso, sua espécie Voil é amplamente utilizada em cortinas, pois possui transparência e leveza. Acrílico: é um tecido muito resistente a intempéries solares e pragas como traças, além disso, como é um tecido bem resistente, é indicado para uso em tapetes. Acetato: é um tecido que lembra a seda, porém sintética; sua característica marcante é, por não amassar, ser utilizado em almofadas e estofamentos de cadeiras; Ultrasuede: é um tecido que lembra a camurça, possui durabilidade e resiste a manchas; é utilizado bastante em poltronas e almofadas, também indicado para quem possui animais domésticos. Acesse: Para saber mais sobre os tecidos sustentáveis, acesse: https://all.accor.com/pt-br/brasil/magazine/one-hour-one-day-one-week/12-tipos-de-tecidos-sustentaveis-38838.shtml 2.6 Madeira de demolição No que tange aos materiais reciclados propensos ao reúso, podemos identificar a madeira de demolição. Esta, por sua vez, como o próprio nome se encarrega de definir, foi utilizada na construção civil, em ferrovias e para produzir móveis residenciais. De acordo com Miranda (2009, p. 57): Com a reutilização das madeiras de demolição, são evitados novos desmatamentos, contribuindo- se com a preservação da natureza. Além disso, o reaproveitamento torna possível a execução de projetos com uso de madeira nobre, não mais encontrada no mercado, algumas delas já extintas, como é o caso da peroba rosa. Proveniente do Sul do Brasil, a peroba rosa tinha seu uso bastante frequente no século passado, na construção civil e na estrutura de residências. Figura 7 — Rack com painel madeira peroba rosa de demolição Fonte: retirada do Pinterest. De acordo com Daldegan (2016), as formas de reutilização da madeira de demolição são inúmeras, ficando a cargo da criatividade e do conhecimento técnico do profissional encontrar o lugar adequado para empregá-la. Nos dias atuais, esse uso é algo muito comum, porém é preciso saber onde encontrar este material com qualidade e com custo acessível. Casas e casarões antigos abandonados podem ser fontes para se encontrar peças de madeira em bom estado de conservação, por exemplo; também é possível encontrar nas estruturas de telhados, nos esteios da edificação e na madeira utilizada em esquadrias, como portas e janelas. Até pouco tempo atrás a madeira era considerada um material abundante, não havia a preocupação com as questões de desmatamento. Mas, com o despertar de uma consciência ecológica e sustentável, o uso da madeira ficou restrito e com alto custo, isto em decorrência das leis e restrições que foram espedidas de modo a conservar o meio ambiente. É importante ressaltar, nesse cenário, que encontrar um bom móvel de madeira maciça é algo um tanto complexo e possui um custo bastante elevado. Boa parte dos móveis é fabricada com MDF, aglomerado, MDP, OSB ou compensado. Materiais esses fabricados industrialmente e que não possuem a mesma qualidade de uma peça de madeira maciça. Geralmente, um móvel de madeira de demolição é mais pesado em relação aos outros móveis de madeiras convencionais, e as madeiras possuem aspectos originais, o que dá um charme ao material, como os furos de prego, de parafusos, restos de tintas, frisos de madeira já trabalhada. Isso demonstra que, de fato, a pessoa está adquirindo um verdadeiro móvel de madeira de demolição. Para Daldegan (2016), é possível utilizar a madeira de demolição de diversas formas, como as que estão descritas logo abaixo. Parte da estrutura: é possível haver a reutilização de parte da madeira para a formação de uma nova estrutura. Esta poderá ser utilizada de diferentes modos, como na confecção de telhados para a construção civil, desde que esteja em perfeito estado de conservação. Esquadrias: é possível que se faça a utilização da madeira para portas e janelas ou, até mesmo, nos marcos das portas e batentes em geral. Móveis: é possível a sua implementação na confecção de móveis de interiores com ajuda de um profissional de marcenaria. A utilizaçãopode ser no móvel inteiro ou em apenas partes dele, como tampo de mesa, banco, aparador, etc. Pergolado: é possível que a reutilização ocorre de modo a evidenciar todas as propriedades da madeira de demolição. Jardis suspensos ou verticais: é eficaz a utilização da madeira de demolição para estruturas de jardins suspensos para suportar intempéries, como água e terra, além de possibilitar um ar aconchegante ao espaço. Pisos e revestimentos: é um uso bastante comum a madeira de demolição para entradas sociais ou para a composição de algum espaço com vegetação baixa. Obras de arte: é possível que a madeira seja utilizada na criação de obras de arte, ainda, é bastante comum a adoção de pequenos pedaços para criação de painéis decorativos dando um ar aconchegante em conjunto a outros elementos. Com relação à desmitificação da madeira de demolição para decoração, Leitão (2018) afirma que móveis neutros, com esse tipo de madeira, se encaixam em qualquer ambiente e se adaptam facilmente até nos mais sofisticados. Afinal, após a demolição, as madeiras são lavadas com produtos especiais, tratadas com cera e, a partir de então, começa a produção dos móveis de um a um, que podem ser entregues ao cliente em cinco tipos de acabamento: • rústico; • maquinado; • o que preserva a pintura original da demolição; • satiné; • provençal. Sabemos que a utilização da madeira de demolição tanto na construção civil quanto na arquitetura de interiores possui um aspecto sustentável que se deve considerar. Esse reaproveitamento nos permite poupar a demolição e, consequentemente, agrega valores notórios às suas imperfeições e marcas do tempo, o que torna muito mais atraente para o desenvolvimento de mobiliários. Na realidade, as imperfeições rústicas com pregos, buracos e marcas do tempo, trazidas pela madeira de demolição, são muito valorizadas, e isto não interfere na qualidade do produto final. A inserção da madeira de demolição em partes de um projeto torna o ambiente muito mais aconchegante e traz um tom de contemporaneidade. Em relação às madeiras de demolição, é muito provável que boa parte delas seja madeira de lei, as quais, por sua vez, encontram-se em extinção. Nesse meio, podemos destacar a peroba rosa e o seu grande diferencial, que está na sua própria textura que, após anos de exposição ao tempo, adquire características peculiares, e ela pode ser utilizada tanto em peças de marcenaria como em obras de arte em geral. Complementando isso, como diz Aquino (2000), as madeiras de lei são mais pesadas, densas e apresentam alta resistência ao ataque de fungos e insetos, por terem mecanismo de defesa que inibe esse ataque. Devido a isso, essas madeiras são muito cobiçadas nos mercados interno e externo. Em meio a tudo isso, Brandini (2013), por sua vez, afirma que existe uma demanda de profissionais capacitados no desenvolvimento de projetos que envolve a madeira de demolição; e o Brasil é um país reconhecido pela qualidade de seu trabalho em peças e design de ambientes utilizando a madeira de demolição e exportando sua mão de obra e seus produtos para variados mercados do mundo, como Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina. Saiba mais A madeira de demolição pode ser utilizada tanto na forma rústica como também com acabamento superficial de cera ou verniz. Estes, por sua vez, são elementos que sofisticam a madeira, mas, em compensação, fazem com que ela perca o seu aspecto característico. 2.7 Garrafa PET PET é a sigla utilizada para Polietileno Tereftalato, um polímero termoplástico desenvolvido por dois químicos britânicos, John Rex Whinfield e James Tennant Dickson, em 1941. Ele é utilizado, principalmente, na forma de fibras para a indústria têxtil e de embalagens para bebidas. Dentro da categoria dos poliésteres, o PET tem origem na polimerização por condensação entre o etilenoglicol (1,2-etanodiol) e o ácido tereftálico (ácido p-benzenodioico). Ele foi utilizado pela primeira vez para fins de tecelagem na empresa americana DuPont, no início da década de 1950. No entanto, foi apenas no início da década de 1970 que o composto químico começou a ser utilizado na fabricação de embalagens, após cuidadosa revisão dos aspectos de segurança e meio ambiente. Mais tarde, na década de 1990, o governo dos Estados Unidos autorizou o uso deste material reciclado para a produção de embalagens para alimentos. O surgimento da garrafa PET foi resultado da necessidade da produção de garrafas maiores, de peso leve e inquebrável para armazenar bebidas gaseificadas. Suas características estão relacionadas com sua transparência e sua resistência frente ao desgaste e à corrosão. O material possui baixa absorção de água e boa resistência às forças de tração, de modo que possui resistência similar à do filme de alumínio. Sendo assim, uma das maiores vantagens das garrafas PET é sua relação entre o peso de uma garrafa de dois litros e o seu conteúdo, pois pouco material é necessário para envasar uma grande quantidade de produto, garantindo um bom custo-benefício na sua produção. Com o uso indiscriminado das garrafas PET, principalmente a partir da década de 1990, um problema ambiental sério surgiu devido à forma incorreta que elas eram descartadas: em terrenos, rios, esgotos, mares e matas. É importante lembrar que este material pode demorar até 800 anos para se decompor, ou seja, o ambiente é poluído quando o material descartado dessa maneira. Além disso, na época, algumas pessoas costumavam queimar o material, liberando toxinas e gases, como monóxido e dióxido de carbono, acetaldeído, benzoato de vinila e ácido benzoico na atmosfera, o que contribuía para a poluição do ar e, consequentemente, para o efeito estufa. Diante disso tudo, sabe-se que a reciclagem da garrafa PET é vital para saúde de nosso ecossistema, pois, além dos impactos ambientais já mencionados que são evitados com a reciclagem desse material, existem também as vantagens econômicas que ela traz ao país. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), a Reciclagem do PET no Brasil possui uma estrutura única e pode ser considerada uma das mais desenvolvidas do mundo, mais de 90% das empresas têm mais de cinco anos de atividade. Além disso, existem, hoje, cerca de 500 empresas de reciclagem no Brasil, que, por sua vez, geram 11.500 empregos. Uma das soluções para remover as garrafas PET do meio ambiente foi, sem dúvida, começar a utilizá-las em projetos criativos para geração de inúmeros outros produtos. No campo do design, em especial o de interiores, é possível, sem necessariamente passar todo processo de trituração, utilizar garrafas na construção de jardins verticais, cortinas, vassouras, utensílios domésticos, pufes, poltronas e luminárias. A versatilidade se faz presente também na construção e na sustentação de casas flutuantes em estados da região Norte. De acordo com Silva et al. (2010), os móveis construídos com garrafas PET recolhidas (pufes, sofás, poltronas, etc.) são comercializados há aproximadamente uma década. Eles são similares aos tradicionais, exceto por usarem garrafas PET como estrutura, no lugar de madeira ou metal. Para esses autores, esta reutilização traz uma série de vantagens (SILVA, 2010, p. 12): A atividade de construir móveis com garrafas apresenta ganhos ambientais, ao estimular a coleta das garrafas mesmo em localidades onde não exista uma infraestrutura organizada de retorno para comercialização de PET como sucata. Além dos benefícios ambientais, aspectos sociais também se destacam. A produção de produtos em PET pode gerar trabalho e renda aos cidadãos de baixa escolaridade, justamente aqueles que têm mais dificuldade de encontrar colocação no mercado de trabalho formal. Isso é possível porque a técnica é bastante acessível e rapidamente repassada. Já a manufatura de mobiliários em madeira ou metal exige uma maior qualificação, como marceneiro ou serralheiro. Além disso, a produção de mobiliário em PET não exige tanto investimento em maquinário como o mobiliário tradicional. Figura 8 — Ideias de reutilizaçãocom garrafas PET Fonte: retirada do Pinterest, adaptada pelo autor. A partir dessas informações, é possível notar que o PET tem, então, uma forte influência na construção civil. Nesse sentido, o CREA-AL (2019) afirma que a construção civil, em conjunto com o desenvolvimento sustentável, vem buscando alternativas inovadoras e ecologicamente corretas para a reutilização do PET, pois esse plástico possui alta resistência mecânica e química à compressão, ao fogo e aos fenômenos naturais e capacidade isolante maior que a dos tijolos e blocos convencionais. Logo, o PET vem sendo utilizado como um insumo alternativo em edificações residenciais de baixo custo, uma possível solução para o deficit habitacional do mundo. Vale dizer que a utilização da PET para a fabricação de “garrafa tijolo” surgiu na Índia. A seguir, tem-se três tipos de aplicações das garrafas na construção civil ecológica: · substitutas da brita, na fabricação de cimento; · substitutas da areia, na produção de tijolos e blocos; · peças preenchidas com areia ou entulho de obra, intercaladas por argamassa ou barro e moldadas em formas de madeira, para a composição de paredes. 2.8 Papelão reciclado Para Fragmaq (2012), as vantagens da reciclagem do papelão são a redução no consumo de água, que passa a ser utilizada no processo de produção, e a diminuição de energia, que gera uma grande economia para a empresa que recicla o papelão e seus derivados. O processo de reciclagem ocorre através das seguintes etapas: 1. separação do papel; 2. trituração, em que o papel é lavado e centrifugado para que haja a separação de impurezas como areia, grampos, entre outros materiais que estejam presos no papelão; 3. e acréscimo de produtos químicos, que retira a tinta e clareia o papelão, sobrando apenas uma pasta, que será prensada e secada para dar origem a um novo papel. Aproximadamente 85% dos produtos consumidos no mundo inteiro utilizam embalagens de papelão. Apesar do tempo de decomposição deste material ser de cerca de seis meses, sua reciclagem é muito importante para o meio ambiente, pois o papel reciclado pode ser utilizado na fabricação de novas embalagens, o que economiza 98 mil litros de água e preserva de 10 a 12 árvores que seriam cortadas para a fabricação de papelão novo. No Brasil, as indústrias de embalagem já perceberam a importância de diminuir os impactos do seu processo produtivo no meio ambiente e, hoje, são responsáveis por aproximadamente 65% da utilização de todo o papelão reciclado no país. Figura 9 — Móvel de papelão Fonte: retirada do Pinterest. Apenas dois tipos de papelão podem ser reciclados de forma direta: o papelão do tipo corrugado ou ondulado e o papelão plano, que é bastante empregado pelo fato de ter laminação interna. No entanto, é preciso que seja separado dos demais papelões para uma reciclagem à parte. Em suma, o material utilizado para embalar produtos e que é descartado tão logo quando se abre e acomoda o produto principal em sua prateleira, mesa, etc., ganha excelência e criatividade quando falamos de móveis despojados e, ao mesmo tempo, resistentes. É possível associar o papelão à idealização de mesas de jantar, cadeiras e camas; suas adaptações vão da totalidade do móvel até parte deles. Na grande maioria, são adotadas técnicas de cortes, dobra e encaixe na fabricação de móveis de papelão, e esta nova frente tem conquistado um público mais jovem e reativo. A mudança de paradigma, portanto, está permitindo uma nova experiência com custo bem inferior ao MDF, por exemplo, e com acabamentos criativos. Segundo Tagliani (2020), quem começou a utilização do papelão em móveis foi o arquiteto Frank Gehry, entre as décadas de 1960 e 1970, na tentativa encontrar meios de criar peças mais econômicas, leves e fáceis de serem transportadas, empilhadas, desmontadas ou até dobradas. O primeiro experimento daquele arquiteto foi com a cadeira wiggle, mas a primeira coleção desenhada por ele e produzida foi a Easy Edges, em 1972, que eram 14 peças de linhas curvas e exploravam as qualidades do papelão ondulado de maneira bastante expressiva. Com o passar dos anos, essa tecnologia evoluiu, e o material pôde ser produzido em lâminas mais finas, com maior resistência e maleabilidade. Tagliani (2020) afirma, ainda, que no Brasil a pioneira na comercialização de produtos em papelão é a marca 100t, com cerca de 20 itens disponíveis. Segundo a autora, no âmbito internacional, a Cartone se destaca com uma lista variada de peças tanto para adultos quanto para crianças, todas feitas com matéria-prima certificada pela Forest Stewardship Council (FSC). Além das funções que já foram mencionadas, sabe-se que o papelão pode servir de abrigo aos moradores de rua, segundo Kawaji (2017, p. 106): O projeto de abrigo móvel temporário para a população em situação de rua com papelão em Foz do Iguaçu-PR se mostra viável e de cunho ecológico, uma vez que a disponibilidade do material, reciclado e reciclável, é grande na região da tríplice fronteira, e que o nomadismo caracteriza o modo de habitar da população em situação de rua da cidade. Este protótipo não tem a capacidade de solucionar a existência pobreza urbana e as desigualdades sociais e econômicas existentes atualmente. As vantagens em substituir o material feito em MDF, ou qualquer outro tipo de madeira na construção de móveis populares, por papelão, estão na facilidade de montagem e transporte. A montagem é realizada por meio de encaixes e dobraduras, dispensando, em muitos casos, a colagem. Assim, o papelão utilizado nesse design é diferente do papelão comumente encontrado no mercado. Para a criação de móveis, é necessário o uso de um papelão mais resistente e mais duro do que o comum, de modo a suportar os pesos de pessoas e objetos. São resistentes, mais baratos e sustentáveis, ou seja, os móveis de papelão reúnem o que muita gente procura na hora de decorar a casa. Além disso, os móveis e objetos de papelão podem ser customizados, criando, então, uma identidade própria por meio de tinta ou adesivos recortados, que podem ser aplicados e que transformam o mobiliário em algo ainda mais original. Sintetizando Atualmente, entender e aplicar o desenvolvimento sustentável é imprescindível, principalmente, quando nos deparamos com a escassez de matérias-primas e os descartes excessivo e incorretos de materiais que poderiam servir para outras finalidades. É função de todo ser humano pensar em soluções ecológicas e nas engenharias, na arquitetura e no design de interiores isso não seria diferente. Referências Bibliográficas A CORTIÇA pode ser uma resposta às nossas necessidades ambientais e de construção?. Archdaily. 2017. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/886004/a-cortica-pode-ser-uma-resposta-as-nossas-necessidades-ambientais-e-de-construcao. Acesso em: 18 ago. 2021. ALLEN, E. et al. Fundamentos da engenharia de edificações: materiais e métodos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. 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